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A deposição de Dilma foi chamada por alguns de “golpe parlamentar”. Mas o STF
avalizou todo o encaminhamento do casuístico processo de impeachment, desde a
autorização pela Câmara até sua conclusão no Senado, abençoando essa decisão-
chave, de legalidade altamente controversa. O insuspeito ex-presidente da instância
máxima do poder judiciário, Joaquim Barbosa, assim se posicionou ao abordar o
impedimento: “É como se o país estivesse reatando com um passado na qual éramos
considerados uma República de Bananas”. A grande mídia, liberada pelas
Organizações Globo, e o mercado (grandes investidores) também apoiaram o
impedimento, bem como as elites do aparato repressivo (juízes, promotores, delegados
da Polícia Federal) e a maioria da classe média tradicional. Nesse sentido, o golpe
parlamentar inseriu-se em uma ofensiva de reconquista do Estado em condições mais
favoráveis para o conjunto dos socialmente privilegiados, por lhes propiciar os
recursos de poder necessários para redefinir o pacto de dominação à imagem e
semelhança de seus interesses de classe e frações de classe.
Como tem sido praxe desde a deposição de Dilma, o mercado comemorou a derrota
recursal de Lula da mesma forma que tem comemorado todas as vitórias da direita
contra a esquerda, sejam elas no campo jurídico-político, na competição política ou
nas políticas públicas: valorizando as ações da bolsa e a moeda nacional, o real. Como
nunca antes na história recente do Brasil, as decisões do Estado encarnam o interesse
das oligarquias, a começar pela plutocracia, que abrem seu caminho de poder. A
histérica campanha contra a cleptocracia conduziu ao governo plutocrático, que extrai
a renda dos pobres, por diversas políticas, e a direciona aos ricos.
Mas, enfim, qual o custo das duas cruzadas da austeridade? Há um país dividido,
perda abissal de legitimidade do Estado, avanço da desigualdade, uma economia fraca,
enfraquecimento da importância do Brasil na cena internacional e por aí vai. Aliás,
cabe um parêntese: fosse mesmo o Poder Judiciário realmente comprometido com a
moralidade pública, e não com seus privilégios de casta, cortaria a própria carne, ao
invés de pleitear a indecente Loman (Lei Orgânica da Magistratura Nacional), cujo
objetivo é exclusivamente ampliar suas regalias bilionárias de casta parasitária dos
cofres públicos. Arrematando, parece que a polarização veio para ficar, pois as elites e
a maioria da classe média tradicional, mas não o eleitorado, rejeitam sectariamente o
grande líder que, em passado recente, mais avançou na unificação da imensa nação
desigual. Vitória de Pirro!