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Constitucionalidade do ressarcimento ao SUS previsto no

art. 32 da Lei 9.656/98


Direito Constitucional Direitos e garantias fundamentais Saúde
Origem: STF

Resumo do julgado
É constitucional o ressarcimento previsto no art. 32 da Lei nº 9.656/98, o qual
é aplicável aos procedimentos médicos, hospitalares ou ambulatoriais
custeados pelo SUS e posteriores a 4.6.1998, assegurados o contraditório e
a ampla defesa, no âmbito administrativo, em todos os marcos jurídicos.
O art. 32 da Lei nº 9.656/98 prevê que, se um cliente do plano de saúde
utilizar-se dos serviços do SUS, o Poder Público poderá cobrar do referido
plano o ressarcimento que ele teve com essas despesas.
Assim, o chamado “ressarcimento ao SUS”, criado pelo art. 32, é uma
obrigação legal das operadoras de planos privados de assistência à saúde
de restituir as despesas que o SUS teve ao atender uma pessoa que seja
cliente e que esteja coberta por esses planos.
STF. Plenário.RE 597064/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 7/2/2018
(repercussão geral) (Info 890).

Comentários do julgado

Ressarcimento ao SUS
O art. 32 da Lei nº 9.656/98 prevê que, se um cliente do plano de saúde utilizar-se dos
serviços do SUS, o Poder Público poderá cobrar do referido plano o ressarcimento que ele
teve com essas despesas. Veja:
Art. 32. Serão ressarcidos pelas operadoras dos produtos de que tratam o inciso I e o § 1º do
art. 1º desta Lei, de acordo com normas a serem definidas pela ANS, os serviços de
atendimento à saúde previstos nos respectivos contratos, prestados a seus consumidores e
respectivos dependentes, em instituições públicas ou privadas, conveniadas ou contratadas,
integrantes do Sistema Único de Saúde - SUS. (Redação dada pela Medida Provisória nº
2.177-44/2001)

Assim, o chamado “ressarcimento ao SUS”, criado pelo art. 32 da Lei nº 9.656/98, é uma
obrigação legal das operadoras de planos privados de assistência à saúde de restituir as
despesas que o SUS teve ao atender uma pessoa que seja cliente e que esteja coberta por
esses planos.

1
Passo-a-passo
Apenas a título de curiosidade, na prática funciona assim:
1) O paciente é atendido em uma instituição pública ou privada, conveniada ou contratada,
integrante do SUS;
2) A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) cruza os dados dos sistemas de
informações do SUS com o Sistema de Informações de Beneficiários (SIB) da própria Agência
para identificar as pessoas que foram atendidas na rede pública e que possuem plano de
saúde;
3) A ANS notifica a operadora informando os atendimentos que realizou relacionados com
seus clientes;
4) A operadora pode contestar isso nas instâncias administrativas, dizendo, por exemplo, que
aquele serviço utilizado pelo seu cliente no SUS não era coberto pelo plano, que o paciente já
havia deixado de ser usuário do plano etc.
5) Não havendo impugnação administrativa ou não sendo esta acolhida, a ANS cobraos
valores devidos.
6) Caso não haja pagamento, a operadora será incluída no CADINe os débitos inscritos em
dívida ativa da ANS para, em seguida, serem executados.
7) Os valores recolhidos a título de ressarcimento ao SUS são repassados pela ANS para o
Fundo Nacional de Saúde.
Sobre o tema:
As operadoras de plano de saúde que estejam em débito quanto ao ressarcimento de valores
devidos ao SUS podem, em razão da inadimplência, ser inscritas no Cadin.
STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 307.233-RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em
6/6/2013 (Info 524).

Tese dos planos de saúde


As operadoras privadas de plano de saúde comumente ingressam com ações judiciais
questionando a validade do art. 32 da Lei nº 9.656/98 sob o argumento de que a sua
participação na saúde tem caráter suplementar, uma vez que o dever primário de assegurar o
acesso à saúde é atribuído pela Constituição Federal aos entes políticos.
Logo, defendem que o Poder Público possui sim obrigação de prestar saúde a quem procurar,
não devendo os planos de saúde ser obrigados a ressarcir tais despesas.
Além disso, tais operadoras aduziram que esse art. 32 representa a instituição de uma nova
fonte de custeio para a seguridade social, o que somente poderia ocorrer por meio de lei
complementar, nos termos do art. 195, § 4º, da CF/88:
Art. 195 (...)
§ 4º A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da
seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I.

Art. 154. A União poderá instituir:


I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam
não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados
nesta Constituição;

2
A tese dos planos de saúde foi aceita pelo STF? O art. 32 da Lei nº 9.656/98 é
inconstitucional?
NÃO. O STF entendeu que o art. 32 da Lei nº 9.656/98 é válido.
O art. 32 não representa a criação de uma nova fonte de receitas para seguridade social, nos
termos do art. 195, § 4º, da CF/88. Trata-se apenas de um desdobramento do contrato
firmado entre as operadoras de saúde e seus clientes. As operadoras de saúde atuam em um
serviço regulado pelo Poder Público, devendo cumprir as condições impostas.
O tratamento em hospital público não pode ser negado a nenhuma pessoa, considerando que
o acesso aos serviços de saúde no Brasil é universal (art. 196 da CF/88). Porém, se o Poder
Público atende um usuário do plano de saúde, o SUS deve ser ressarcido, assim como
ocorreria caso esse usuário do plano de saúde tivesse sido atendido em um hospital particular
(não conveniado ao SUS).
Esse art. 32 impede o enriquecimento ilícito das empresas de plano de saúde.
O STF fez, contudo, uma ressalva: a regra do art. 32 somente é aplicável aos procedimentos
ocorridos após 04/06/1998, data em que foi publicada a Lei nº 9.656/98.

Resumindo:
É constitucional o ressarcimento previsto no art. 32 da Lei nº 9.656/98, o qual é
aplicável aos procedimentos médicos, hospitalares ou ambulatoriais custeados pelo
SUS e posteriores a 4.6.1998, assegurados o contraditório e a ampla defesa, no âmbito
administrativo, em todos os marcos jurídicos.
STF. Plenário RE 597064/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 7/2/2018 (repercussão
geral) (Info 890).

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Como citar este texto


CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Constitucionalidade do ressarcimento ao SUS
previsto no art. 32 da Lei 9.656/98. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/4275f89744278864da88c2
fda68ec4e9>. Acesso em: 12/06/2018

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