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DIRECTRIZES DE ELEGIBILIDADE DO ACNUR PARA A 

AVALIAÇÃO DAS NECESSIDADES DE PROTECÇÃO 
INTERNACIONAL DOS REQUERENTES DE ASILO DA SOMÁLIA 

Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) 
05 de Maio de 2010 
HCR/EG/SOM/10/1 
NOTA 

As Directrizes de Elegibilidade do ACNUR são emitidas pelo Escritório para ajudar os


tomadores de decisão, incluindo o pessoal do ACNUR, os Governos e os profissionais
privados, a avaliar as necessidades de protecção internacional dos requerentes de asilo. Estas
são interpretações legais autorizadas dos critérios de refugiados em relação a grupos
específicos, com base na avaliação objectiva dos direitos sociais, políticos, econômicos, de
segurança, direitos humanos e as condições humanitárias no país/território de origem, em
causa. As necessidades de protecção internacional pertinentes são analisadas em detalhe e são
feitas recomendações sobre a forma como os pedidos em questão deverão ser resolvidos em
consonância com os princípios e critérios apropriados do direito do refugiado conforme,
nomeadamente, o Estatuto do ACNUR, a Convenção de 1951 e seu Protocolo de 1967, e de
instrumentos regionais importantes, tais como a Declaração de Cartagena, a Convenção da
OUA de 1969 e da Directiva de Qualificação da União Europeia. As recomendações podem
também aflorar, como importantes regimes de protecção, complementares ou subsidiários.

O ACNUR emite Directrizes de Eligibilidade para promover a interpretação e aplicação


corretas dos critérios do refugiado acima mencionados, de acordo com sua responsabilidade
de fiscalização constante do parágrafo 8 º do seu Estatuto, conjugado com o artigo 35 da
Convenção de 1951 e Artigo II do seu Protocolo de 1967, e com base nos conhecimentos que
desenvolveu ao longo dos anos em assuntos relacionados à elegibilidade e determinação do
estatuto de refugiado. Espera-se que as posições e orientações contidas nas Diretrizes serão
cuidadosamente ponderadas por parte das autoridades e do sistema judiciário na tomada de
decisões sobre pedidos de asilo. As Directrizes são baseadas em pesquisa rigorosa, provas
factuais fornecidas pela rede global do ACNUR de escritórios de campo e informações de
especialistas nacionais independentes, pesquisadores e outras fontes, rigorosamente revistos
para a confiabilidade. As Directrizes são publicadas no site Refworld do ACNUR em
http://www.refworld.org.

1
Indice 
DIRECTRIZES DE ELEGIBILIDADE DO ACNUR PARA A AVALIAÇÃO DAS
NECESSIDADES DE PROTECÇÃO INTERNACIONAL DOS REQUERENTES DE
ASILO DA SOMÁLIA..............................................................................................................0 
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) ...............................0 
05 de Maio de 2010...................................................................................................................0 
HCR/EG/SOM/10/1 .................................................................................................................0 
NOTA ........................................................................................................................................1 
I.  Introdução ........................................................................................................................4 
II.  Tendências do deslocamento e tipos de pedidos de asilo Somális................................5 
III.  Informação de fundo e Desenvolvimentos .....................................................................6 
A.  Sul e Centro da Somália.....................................................................................................7 
B.  Puntland ...........................................................................................................................11 
C.  Somalilândia ....................................................................................................................11 
IV.  Elegibilidade para protecção internacional.................................................................12 
A.  Abordagem Geral............................................................................................................12 
B.  Principais Grupos de Risco com Base no artigo 1(a) da Convenção de 1951 e/ou do
artigo I(1) da Convenção da OUA ...........................................................................................14 
1.  Sul e Centro da Somália ..................................................................................................14 
a)  Indivíduos Percebidos como Apoiando TFG, AMISOM ou FNDE................................14 
b)  Indivíduos Tidos como Desrespeitando Leis ou Decretos Islâmicos ..............................15 
c)  Atores da sociedade civil (Defensores de Direitos Humanos e Trabalhadores
Humanitários) e Jornalistas......................................................................................................17 
d)  Os membros de Clãs Minoritárias....................................................................................19 
e)  Indivíduos recrutados à força...........................................................................................20 
f)  Os membros de grupos de minorias religiosas ................................................................21 
g) Mulheres e Raparigas ………………………………......………………………………22
h)  Crianças............................................................................................................................24
i) Lésbicas, Gays, Bissexuais e Individuos Transgêneros (LGBT) ....................................25
j) Indivíduos Pertencentes a Clãs Envolvidos em Contenda de Sangue.............................25
k) Vítimas de Tráfico Humano ............................................................................................26 
2. Puntland ..............................................................................................................................27
a) Indivíduos Percebidos como Críticos ou Opositores das Autoridades de Puntland,
Incluindo Jornalistas e Membros de Grupos Islâmicos ...........................................................27
b)  Indivíduos percebidos como adversários dos islâmicos ..................................................27 
c)  Membros de Grupos Religiosos Minoritários..................................................................28 
d)  Indivíduos Pertencentes a um Clã Envolvido em Contenda de Sangue ..........................28 
e)  Mulheres e Raparigas.......................................................................................................28 
f)  Pessoas LGBT..................................................................................................................29 
3.  Somaliland .......................................................................................................................29 
a)  Indivíduos Vistos como Críticos e Adversários das Autoridades de Somaliland............29 
b)  Membros de Grupos Religiosos Minoritários..................................................................30 
c)  Mulheres e Raparigas.......................................................................................................31 
d)  Indivíduos Pertencentes a um Clã Envolvido em Contenda de Sangue ..........................31 
e)  Pessoas LGBT..................................................................................................................32 
f)  Vítimas de Tráfico ...........................................................................................................32 
C.  Agentes da Perseguição ...................................................................................................32 

2
1.  Grupos militantes islâmicos.............................................................................................33 
2.  Criminalidade na Sequência da Falha de Protecção de Cla em Mogadíscio.................33 
3.  Governo Federal de Transição e AMISOM.....................................................................34 
D.  Existência Efectiva de um Estado ou Protecção De Facto na Somália, Somaliland e
Puntland ...................................................................................................................................36
1. Protecção de Estado …....................................................................................................36
2.  Protecção de Clã..............................................................................................................36 
3.  Tribunais Sharia em Áreas Controladas por Insurgentes Islâmicos...............................37 
4.  AMISOM ..........................................................................................................................37 
E.  Fuga Interna ou Alternativa de Realocação (IFA/IRA)...................................................38 
1.  Considerações Gerais......................................................................................................38 
2.  Sul e Centro da Somália...................................................................................................39
3. Somalilândia e Puntland ..................................................................................................40
F. Exclusão da Protecção Internacional para Refugiados .......................................................41
G. Elegibilidade Sob um Prolongado/Amplo Criterio de Refugiados, ou sobre uma Base de
Formas Complementar/Subsidiaria de Proteccao numa Situacao de Violencia Generalizada44
1. Conflito armado no Sul e Centro da Somália...........................................................45
2. Conflito Armado em Puntland e Somaliland............................................................47
V. Anexo: Clãs Somalis, Lei Consuetudinária, Normas e Estruturas Sociais..................48
A. Estruturas Sociais Dominantes............................................................................................48
B. Lei Consuetudinária (Xeer) ................................................................................................49
C. Interação com outros grupos étnicos...................................................................................50
D. Protecção de Clã e Justiça Legal Consuetudinária..............................................................52

3
I. Introdução  
Há já alguns anos, os cidadãos Somalis buscam protecção no seu próprio país, como
refugiados em países vizinhos e muito mais longe em grandes números. Estas Directrizes
contêm informações sobre a situação actual na Somália e grupos em risco de perseguição ou
graves danos1 e avalia suas necessidades de protecção internacional no âmbito dos critérios
de refugiado ao abrigo da Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos Refugiados
(Convenção de 1951) e seu Protocolo de 1967, da Convenção que Rege os Aspectos
Específicos dos Problemas dos Refugiados em África (Convenção da OUA)2, do mandato do
ACNUR3 e formas complementares /subsidiárias de protecção, tais como as disposições
pertinentes da Directiva de Qualificação da União Européia4 e outros instrumentos
internacionais e regionais5. As Directrizes destinam-se para uso pelo ACNUR e Estados
adjudicantes para decidir correctamente sobre os pedidos apresentados por requerentes de
asilo somalis.6 Estes substituem o "Conselho de ACNUR sobre o regresso de nacionais
somalis para Somália"7 datado de 2005.

As Directrizes estão divididas em quatro Secções e um Anexo, incluindo esta Introdução


(Secção I). A Seção II apresenta as linhas gerais das tendências nas causas do deslocamento
de somalis na Somália, para os países vizinhos e para além dos países vizinhos, e destaca
algumas tendências gerais dos tipos de pedidos de Somalis a serem tratados pelo ACNUR e
pelos Estados. A Secção III fornece em último plano, informações relevantes para os
principais tipos de pedidos de asilo Somalis apresentados na Seção II. A Seção IV descreve a
abordagem aconselhada pelo ACNUR sobre a forma como os pedidos devem ser tratados.
Este contém a informação relevante do país de origem, a análise de acompanhamento legal e
conclusões para fins de inclusão e exclusão do estatuto de refugiado, tendo em conta os tipos
de pedidos mais comuns. Além disso, apresenta as recomendações do ACNUR sobre as
necessidades de protecção internacional de Somalis sob os regimes complementar/subsidiário
no contexto de conflito armado e considerações de direitos humanos fora do quadro do re

1
O ACNUR obtem seu mandato para promover a interpretação precisa e aplicação de critérios de refugiados da sua
responsabilidade de fiscalização constante do parágrafo 8 º do seu Estatuto
(http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6b3628.html) , tal como consta na Resolu;ao 428 (V), da Assembleia Geral de de 14
de Dezembro de 1950, conjugado com o artigo 35 da Convenção de 1951
(http://www.unhcr.org/refworld/docid/3be01b964.html ) e Artigo II do seu Protocolo de 1967
(http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6b3ae4.html ).
2
Organização da Unidade Africana, Convenção que Rege os Aspectos Específicos dos Problemas dos Refugiados em África,
10 de setembro de 1969, 1001 UNTS 45, http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6b36018.html.
3
O mandato do ACNUR compreende, como estabelecido em seu Estatuto, os critérios de refugiado ao abrigo da Convenção
de 1951, bem como a definição mais ampla de refugiado desenvolvido através de sucessivas resoluções da Assembléia Geral
e do direito internacional consuetudinário.
4
Conselho da União Europeia, Conselho Directivo 2004/83/EC de 29 de abril de 2004 sobre Normas Mínimas para a
Qualificação e Estatuto dos Cidadaos de terceiros países ou apátridas como refugiados ou como pessoas que de alguma
maneira necessitem de protecção internacional e da satisfacao da protecção concedida , 2004/83/EC de 19 de Maio de 2004,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4157e75e4.html
5
O ACNUR, no exercício de sua função de advocacia,tem levado a cabo uma série de atividades para fortalecer os vínculos
entre o direito internacional do refugiado eo direito internacional dos direitos humanos, a fim de assegurar a melhor protecção
possível para os refugiados. O ACNUR pode, assim, cumprir uma função subsidiária relativa à aplicação de provisos em
tratados de direitos humanos que fazem referência explícitamente aos refugiados ou aplicar-lhes implicitamente. A este
respeito, a orientação do ACNUR no que se refere à aplicação dos tratados de direitos humanos devem ter a devida atenção
por parte das autoridades apropriadas e deveria ser dado o peso significativo na determinação das políticas de asilo, direitos
humanos e as reivindicações humanitárias. Veja Volker Türk , "a responsabilidade de advocacia do ACNUR",Revista
Québécoise de Direito Internacional, Volume 14.1, 2001. Veja também Narracao15 da Directiva de Qualificação, que prevê
que as consultas com o ACNUR "podem fornecer orientações úteis para os Estados-Membros na determinacao do estatuto de
refugiado em conformidade com o artigo 1 da Convenção de Genebra".
6
Estas orientações são baseadas em informações disponíveis para o ACNUR, até abril de 2010, salvo indicação em contrário.
7
ACNUR, o ACNUR Consultivo sobre o regresso dos cidadãos somalis na Somália, 2
http://www.unhcr.org/refworld/docid/437082c04.html de Novembro de 2005.

4
fugiado/requerente de asilo. Orientação é também fornecida na avaliação da disponibilidade
de deslocamento interno ou realocação alternativa.

II. Tendências em deslocamento e tipos de pedidos de asilo somális 

O deslocamento interno e externo de Somalis devido às violações dos direitos humanos,


conflitos, catástrofes naturais e crises econômicas têm sido comuns na Somália desde o
colapso do Estado Somali no início de 1990. Neste período, a Somália tem sido, e continua a
ser, um país de origem que gera requerentes de asilo e refugiados. A tendência sofreu uma
redução constante do número total de requerentes de asilo e refugiados, de 637.000 em 1995
para 396.000 em 2005.8 No entanto, a partir do final de 2006, o número de refugiados e
requerentes de asilo Somalis tinha aumentado para cerca de 485.000,9 para 503.000 até o
final de 2007,10 e mais de 700.000 até o final de 2009. Os refugiados Somalis registados pelo
ACNUR nos campos de Dadaab na fronteira Queniana aumentaram de 152.868 em 2006 para
252.202 em 2.009.11 Ao longo de 2009, cerca de 7.000 novos requerentes de asilo chegavam
mensalmente em Dadaab.

O fluxo de Somalis que se deslocam para o norte através Puntland e Somalilândia, para
Djibuti e atravessando o Golfo de Aden para o Iêmen e adiante, continuou como resultado de
Somalis que fogem do conflito e do colapso econômico no sul e centro da Somália. Entre os
anos 2006 e 2009, o número de Somalis no Iêmen registados com o ACNUR aumentou de
23.477 em 2006 para 161.468 em 2.009.12 Em 2009, 31.980 Somalis foram registrados no
país.13

A carga de trabalho relativamente estável e prolongada de pessoas deslocadas internamente


(PDIs), acomodadas principalmente nos arredores de centros urbanos, foi estimada em
400.000 no início 2006.14 Desde então, porém, o número aumentou consideravelmente. Um
número adicional de 600.000 PDIs foram registrados em 2007, resultando num número
estimado de 1 milhão de PDIs na Somália até o final desse ano. Até o final de 2009, e apesar
de alguns retornos de pequena escala para Mogadíscio no início de 2009, quando a situação
parecia ter melhorado, o número total de PDIs na Somália aumentou para um número
estimado de 1.55 milhões (104.000 em Puntland, 67.000 na Somália e 1.380.000 no sul e
centro da Somália).15

As causas do deslocamento e tipos de perseguições na Somália são complexas e muitas vezes


de locais específicos. No entanto, várias tendências de deslocamento e tipos de pedidos de
asilo podem ser identificados.

8
ACNUR, Anuário Estatístico do ACNUR de 2005, Country Data Sheet - Somália, 30 de abril de 2007,
http://www.unhcr.org/4641bec20.html. A redução no total de refugiados somalis e requerentes de asilo durante este período
foi em grande parte devido aos programas de repatriamento voluntário de dentro da região para Somaliland, mas a redução
também refletia uma menor taxa de novos pedidos de asilo.
9
ACNUR, Anuário Estatístico do ACNUR de 2006 - Anexo,Country Data Sheets, 15 de janeiro de 2008,
http://www.unhcr.org/cgi-bin/texis/vtx/search?page=search&docid=478ce34a2&query=2006% 2% 20Yearbook 0Somalia.
10
ACNUR, Anuário Estatístico do ACNUR de 2007, Dezembro de 2008, Capítulo II, página 27,
http://www.unhcr.org/statistics/STATISTICS/4981b19d2.html; ACNUR, Anuário Estatístico do ACNUR de 2007, dezembro de
2008, capítulo I, página 9, http:/ / www.unhcr.org/statistics/STATISTICS/4981b19d2.html, ACNUR, Anuário Estatístico do
ACNUR de 2007, Dezembro de 2008, capítulo I, página 9, http://www.unhcr.org/statistics/STATISTICS/4981b19d2.html.
11
ACNUR Quenia, Projecto de Relatório Estatístico Anual, 2009.
12
ACNUR Yemen, Projecto de Relatório Estatístico Anual, 2009.
13
ACNUR Yemen, Projecto de Relatório Estatístico Anual, 2009.
14
Centro de Monitoria de Deslocados Internos (IDMC), Somalia, Janela de Oportunidade para Abordagem de Uma das Piores
Crises de Deslocamentos Internos do Mundo. O perfil da Situacao de Deslocamento Interno, 10 de janeiro de 2006,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/44031be04.html.
15
Nações Unidas, Apelo Consolidado da Somália 2010, p. 6
http://ochaonline.un.org/Default.aspx?alias=ochaonline.un.org/somalia.

5
Em primeiro lugar, o conflito armado na Somália é uma das principais causas do
deslocamento. Os últimos três anos têm sido marcados por uma incapacidade persistente de
todas as partes em respeitar os princípios básicos do direito humanitário internacional,
resultando regularmente que civis sejam pegos no fogo cruzado. Bombardeamentos
indiscriminados e ofensivas militares realizadas em áreas civis, com pouco ou nenhum
respeito pelas regras da guerra, bombas carregadas ao longo das ruas e em veículos, ataques
com granadas em áreas civis, e ataques deliberados contra alvos civis têm sido muito
freqüentes. Os requerentes de asilo na região, mas também no Iêmen, Jordânia, Egito e
Europa mencionaram o combate entre o Governo Federal de Transição (TFG) e grupos
insurgentes, incluindo bombardeios de áreas residenciais e de ataques com bombas em ruas
movimentadas, como as razões específicas para a sua fuga, assim como a destruição de
propriedades e da falta de acesso à alimentação, serviços médicos e de subsistência.

Há fortes evidências de violência generalizada resultando em danos indiscriminados,16


incluindo relatórios da Rede de Monitoria de Protecção do Comitê Permanente Inter-Agência
(IASC) e entrevistas com PDIs que confirmam que a principal razão para a sua deslocação é a
situação de segurança em seus respectivos locais de origem.17 Também, as informações
colhidas pela Rede de Monitoria de Proteccao do IASC indica que existe um nexo causal
entre o deslocamento súbito em grande escala e incidentes de segurança reportados no local
de origem.18

Além disso, houve aumento do número de somalis que fogem por medo de perseguição
associada à recente situação dos direitos políticos e humanos. Outros podem temer
perseguição devido à transgressão real ou percebida das práticas e normas sociais Somalis
tradicionais. Estes incluem membros de clãs minoritárias, as mulheres com perfis específicos,
vítimas de contendas de sangue; cristãos convertidos e lésbicas, gays, bissexuais e indivíduos
transexuais.

Os grupos em risco e os critérios de refugiado aplicáveis contidos na Convenção de 1951, na


Convenção da OUA e no Estatuto do ACNUR, variam, no entanto, entre Somalilândia,
Puntland e sul e centro da Somália e as Directrizes avaliam cada região separadamente.

III. Informação de fundo e Desenvolvimentos 

O território da Somália está de facto dividido em três áreas administrativas distintas: Somália,
Puntland e a zona sul da cidade de Galkacyo denominada sul e centro da Somália. Cada área
é caracterizada por diferentes situações políticas, direitos humanos e de segurança. Por estas
razões, as Directrizes fazem recomendações específicas sobre as necessidades de protecção
internacional dos indivíduos provenientes das referidas áreas.

16
Os detalhes são fornecidos nas secções seguintes do trabalho
17
A metodologia aplicada para avaliar a dinâmica de deslocamento do grupo através de uma amostra não representativa da
entrevista não é científica. A definição de "insegurança" podem incluir a insegurança geral ou ameaças específicas contra o
grupo, como previsto, percebida ou experimentada pelos entrevistados Somália IDP. Respondentes a distinção entre conflito
localizado ou clãs, e da insegurança decorrente do conflito a nível nacional da insurgência e contra-insurgência na Somália
meridional e central. Para uma desagregação mais detalhada dos dados, consulte IASC Somália PMN e relatórios PMT 2007-
2010, http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/Default.aspx.
18
A metodologia aplicada para avaliar a dinâmica de deslocamento do grupo através de uma amostra não representativa da
entrevista não é científica. A definição de "insegurança" podem incluir a insegurança geral ou ameaças específicas contra o
grupo, como previsto, percebida ou experimentada pelos entrevistados Somália IDP. Respondentes a distinção entre conflito
localizado ou clãs, e da insegurança decorrente do conflito a nível nacional da insurgência e contra-insurgência na Somália
meridional e central. Para uma desagregação mais detalhada dos dados, consulte IASC Somália PMN e relatórios PMT 2007-
2009, http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/Default.aspx.

6
A. Sul e Centro da Somália 

A Somália não tem governo em exercício desde Janeiro de 1991, quando o ex-Presidente
Siad Barre foi deposto. Desde então, os combates entre os senhores de guerra da Somália, as
forças governamentais e diversas alianças de islâmicos insurgentes têm resultado em baixas
significativas entre combatentes e civis e grandes deslocamentos da população dentro da
Somália e fora das suas fronteiras.19

As origens da actual crise política estendem há mais de uma década, mas a crise agravou-se
notavelmente desde a formação do Governo Federal de Transição (TFG) no final de 2004.20
O TFG foi percebido por alguns na época como uma entidade que favoreceu alguns clãs
(especificamente, os Darod/Majerteen do presidente do TFG) e os interesses políticos em
oposição aos outros.21 Competições de facções facilitaram a ascensão da União dos
Tribunais Islâmicos (UTI)22 no início de 2006, que preencheram o vazio de governação e
segurança, mas provocaram a intervenção das Forças de Defesa Nacional da Etiópia (FDNE)
em apoio ao TFG. Inicialmente, a coligação TFG / FDNE foi militarmente bem sucedida e
até o final de 2006 tinha conquistado Mogadiscío.23 No entanto, a intervenção das tropas
Etíopes provocou a disseminação da mais organizada insurgência armada de islâmicos
radicais.24

O desaparecimento da UTI, a partir de Dezembro de 2006, criou uma lacuna de poder que o
TFG não foi capaz de preencher. Por conseguinte, de facto a autoridade política caiu para os
líderes de clãs e, em certa medida, resultou num reavivamento das milícias de clãs locais.
Esta situação conduziu a crescentes conflitos entre clãs em todo Centro e Sul da Somália.
Além disso, o deslocamento massivo de Mogadíscio, saturou a capacidade de absorção de
recepção nas províncias e os conflitos aumentaram sobre os recursos escassos.25

Até o final de 2008, grupos insurgentes – formados por numerosos grupos armados contrários
ao TFG com variados níveis de coordenação, de liderança, de estruturas organizacionais e
constituintes26 - estavam na realidade no controle da maior parte do sul e centro da Somália,
enquanto o TFG e a presença das tropas Etíopes era restringida às partes de Mogadíscio e
Baydhaba.

19
Rede de Informacao Regional Integrada (IRIN), Somália: a cronologia do conflito desde 2000, de 29 de Junho de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a4c81b22c.html
20
O TFG foi formado nos termos do artigo 1 º da Carta de Transição da Somália. Veja Carta Federal de Transição da
República da Somália, Fevereiro de 2004, http://www.unhcr.org/refworld/docid/ 4795c2d22.html
21
O TFG foi formado nos termos do artigo 1 º da Carta de Transição da Somália. Veja Carta Federal de Transição da
República da Somália, Fevereiro de 2004, http://www.unhcr.org/refworld/docid/ 4795c2d22.html
22
Em dezembro de 2004, apenas dois meses após a formação do TFG, um grupo de tribunais clãs que estavam a operar em
Mogadíscio durante anos se uniram para lançar a UTI. Sheikh Sharif Sheikh Ahmed, um professor de Mogadíscio, foi
nomeado presidente da aliança. Em 2005 haviam 11 Tribunais Islâmicos de diferentes clãs diferentes a operar em Mogadíscio
sob Sharia. Em junho de 2006 a UTI conduziu de Mogadiscio os senhores da guerra. Human Rights Watch, Somália:
Shell/Shocked – Civilian under Siege in Mogadishu, 13 de agosto de 2007, Volume 19, No.12 (a),
http://www.unhcr.org/refworld/docid/46c17a5b2.html
23
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, S/2007/115, 28 de fevereiro de
2007, p. 2, http://www.unhcr.org/refworld/docid/45ffad782.html.
24
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália abrigo dos paragrafos 3 e 9 da
Resolução 1744 do Conselho de Segurança (2007), 20 de abril de 2007. S/2007/204, p.5,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/46404eb22.html; WRITENET, Somália: A National and Regional Disaster?, Abril de 2009,
p.3; http:// www.unhcr.org/refworld/docid/49f180d82.html
25
IASC Somália, Relatório Anual PMT de 2007, http://ochaonline.un.org/somalia/
Clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/Default.aspx
26
Para uma descrição dos principais grupos insurgentes em dezembro de 2008, ver Conselho de Segurança da ONU,
Relatório do Grupo de Monitoria sobre a Somália, em conformidade com Resolução 1811 do Conselho de Segurança (2008),
S/2008/769, 10 de dezembro de 2008, pp.17 - 22, http://www.unhcr.org/refworld/ docid/494900240.html

7
Em janeiro de 2009, em conformidade com os compromissos mais importantes assumidos no
âmbito do Acordo de Djibuti entre o TFG e a Aliança para a Libertação da Somália (ARS)27,
concluída em 09 de junho 2008,28 as forças Etíopes retiraram-se da Somália. Além disso,
após a demissão de Abdullahi Yusuf como Presidente da TFG no final de Dezembro 2008,29
Sharif Ahmed foi eleito como o novo presidente TFG em Janeiro de 2009. O novo
Presidente, foi, contudo, rejeitado pelos líderes da ala do Asmara dos ARS, al-Shabaab30 e as
administrações Islâmicas do Baardheere (Gedo), Kismaayo e Marka, todos estes prometeram
continuar a lutar contra o TFG. A nomeação de Omar Abdirashid Sharmarke como Primeiro-
Ministro restabeleceu o equilíbrio entre as clãs Darod/Majerteen e Hawiye/Abgal, o
Presidente da clã, ao mesmo tempo que garantia o apoio da administração de Puntland para o
governo de transição.31

Em Janeiro e Fevereiro de 2009, apesar da condenação por oposição de grupos islâmicos


insurgentes,32 o novo TFG aparecia beneficiar-se de apoio popular. A Ex-União de Tribunal
Islâmico (UTI)/Hawiye Milicias Afiliadas (que controlam grande parte do Hiran, incluindo
Beletweyne e Médio Shabelle, incluindo Jowhar) também manifestaram seu apoio ao novo
TFG. Durante este período, foram registadas as primeiras levas de pessoas deslocadas
internamente (PDIs) voltando para Mogadíscio, com PDIs citando a retirada das tropas
Etíopes e a esperança de paz como razões para o regresso. O novo TFG também tomou uma
série de iniciativas as quais desarmaram politicamente a oposição islâmica remanescente. Em
primeiro lugar, o Presidente Sharif Ahmed apelou para que sejam tomadas medidas para
aplicar a Lei Sharia em toda a Somália – acção aprovada mais tarde pelo Gabinete e
Parlamento Federal de Transição.33 Ao fazê-lo, duas das principais reivindicações dos
insurgentes - a retirada das forces Etíopes e a implementação da Lei Sharia - foram
cumpridas, enfraquecendo por conseguinte, a justificação para a continuada insurgência, aos
olhos do público em geral.

27
Alguns líderes da UTI constituíam a Aliança para a Relibertacao da Somália (ARS). Em 2008, a ARS dividiu-se durante o
processo de paz do Djibout patrocinado pela ONU, com o grupo liderado pelo Sheikh Sharif Sheikh Ahmed (a ARS-Djibouti)
atraido nas conversações de paz com o TFG e outro grupo liderado pelo Sheikh Hassan Dahir Aweys (a ARS Asmara)
rejeitando o processo de Djibouti. Amnesty International, Somália: Assistência de policiamento e militar deve ser revisto, 21 de
Janeiro de 2010, AFR 52/001/2010, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b5822312.html
28
Acordo de Djibouti, 09 de junho de 2008, http://unpos.unmissions.org/Portals/UNPOS/Repository% 20UNPOS/080818% 20 -
% 20Agreement.pdf% 20Djibouti.
29
Conselho de Segurança das Nações Unidas, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, S/2009/132, 09 de
marco de 2009, p. 2, http://www.unhcr.org/refworld/docid/49ba27f72.html
30
30 "Al-Shabaab é um ramo radical da União dos Tribunais Islâmicos, a milícia apoiada coligação que dominou em
Mogadíscio durante parte de 2006 antes de ser encaminhado por uma intervenção militar da Etiópia na Somália. Alguns dos
líderes da Al-Shabaab de ter ligações com a Al-Qaeda, e os Estados Unidos, a União Europeia, e muitos governos regionais
têm visto a sua origem com alarme. Hoje ele é o mais poderoso única facção armada na Somália, controla mais território do
que qualquer outro grupo. Em muitas áreas, a regra al-Shabaab trouxe uma relativa paz e da ordem, que contrasta
drasticamente com o caos em Mogadishu. Moradores de algumas dessas áreas, disse à Human Rights Watch que al-Shabaab
de crédito com termina uma constante ameaça de extorsão, roubo e assassinato de bandidos e milícias freelance. Mas mesmo
que isto é verdade, a segurança vem em um preço exorbitante, especialmente para as mulheres .... Al-Shabaab não é uma
entidade monolítica, mas sim uma aliança de facções que se reuniu sob a sua bandeira. Na medida em que diversos líderes
do grupo têm uma agenda comum, que consiste em derrotar AMISOM ea TFG e prorroga medidas extremas justifica como
Sharia, o sistema islâmico de leis e conduta diária, em toda a Somália. Através de uma grande parte do sul da Somália, as
administrações locais que se identificam como al-Shabaab parecem responder às autoridades com base em Kismayo. Mas em
outras áreas ", disse al-Shabaab" administrações podem ser pouco mais do que as estruturas de poder preexistentes clãs
assumindo um nome diferente. "Human Rights Watch, Harsh Guerra, Harsh Paz, 19 abr 2010, 1-56432-621-7,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html.
31
WRITENET, Somália: A National and Regional Disaster?, Abril de 2009, p. 8,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/49f180d82.html; Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Secretário-Geral sobre a
situação na Somália, S/2009/132, 09 de marco de 2009, p.2, http://www.unhcr.org/refworld/ docid/49ba27f72.html
32
O guarda-chuva ASR-Asmara de grupos e al-Shabaab.
33
Conselho de Segurança das Nações Unidas, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, S/2009/373, 20 de
julho de 2009, p. 2, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a71600b2.html; AlJazeera.net, Somália to Get Sharia-Based Law, 11
de março de 2009, http://english.aljazeera.net/news/ africa/2009/03 / 2009311043552606.html; Reuters, Somali Cabinet Votes
to Implement Sharia Law, 10 de março de 2009, http://www.reuters.com/article/africaCrisis/idUSLA575453; Garowe Online,
Somalias Cabinet Endorses Islamic Law, 10 de março de 2009,
http://www.garoweonline.com/artman2/publish/Somalia_27/Somalia_s_Cabinet_endorses_Islamic_law.shtml

8
As forças insurgentes, entretanto, repetiram a sua exigência para a retirada da forças de
manutenção de paz desdobradas pela Missão da União Africana na Somália (AMISOM).34 A
última presença na Somália, retratada como uma "invasão estrangeira", serviu como sua
principal justificação para continuar a lutar. Os novos gestos do TFG para a implementação
da Lei Sharia, por outro lado, foram classificados como uma desleal "conspiração contra o
Mujahideen".35 A presença crescente de combatentes estrangeiros,36 alguns com experiência
de batalha, aumentou a capacidade militar de grupos tais como Al-Shabaab. Os insurgentes
fizeram avanços significativos territoriais, e a ocupação de Bayhdaba, a sede temporária do
Governo Federal de Transição, por Al-Shabaab no final de janeiro de 2009, após a retirada
das forças Etíopes, marcou um importante ganho simbólico.37

Essa mudança na dinâmica militar para os insurgentes foi claramente refletida numa nova e
importante campanha no início Mogadíscio em 07 de Maio 2009.38 Numa tentativa para
remover o TFG e as forças AMISOM de Mogadíscio e assumir o controle da totalidade de
Banadir, Al-Shabaab, Hizbul Islam39 e outros grupos insurgentes fizeram um ataque conjunto
sobre o TFG e os seus aliados.40 O combate foi o pior nos últimos meses, com ataques e
contra-ataques, com civis a serem novamente pegos no fogo cruzado.

Desde Janeiro de 2007, mais de 16.000 civis foram mortos nos combates em curso. Só em
Maio de 2009, cerca de 200 pessoas foram mortas e quase 700 feridos em Mogadíscio, a
maioria dos quais civis.41 Bombardeamentos com morteiros em áreas densamente povoadas
por civis levaram à morte de famílias inteiras e ao desalojamento de cerca de 70.000 pessoas
em Maio.42 Relatorios sugerem que cerca de 1.38 milhões de somalis foram deslocados

34
Declaração da missão AMISOM: AMISOM dirige uma operação de apoio à paz na Somália para estabilizar a situação de
segurança, incluindo tomar posse das forças Etíopes, e criar um ambiente seguro e livre de perigo em preparação para a
transição para a ONU, http://www.africa-union.org/root/AU/AUC/Departments/PSC/AMISOM/amisom.htm.
35
Xinhua, oficial de segurança Somali morto no ataque do grupo islâmico na Capital, 12 de Março de 2009,
http://news.xinhuanet.com/english/2009-03/12/content_10994685.htm.
36
Conselho de Segurança das Nações Unidas, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, 20 de Julho de
2009, S/2009/373, p.3 http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a71600b2.htm
37
Conselho de Segurança das Nações Unidas, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, 09 de março de
2009, S/2009/132, p 3. http://www.unhcr.org/refworld/docid/49ba27f72.html ; VOA, da União Africana Condena Takeover Al-
Shabaab do edifício do Parlamento da Somália, 27 de Janeiro de 2009, http://www.voanews.com/english/Africa/ 2009-01-27-
voa2.cfm ; Reuters, os islamistas da Somália para governar segundo a Lei Sharia em Baidoa, 27 de Janeiro de 2009,
http://www.reuters.com/article/homepageCrisis/idUSLR224194-CH-2400 ; Associated Press , os insurgentes aproveitar sede
do Parlamento da Somália, 28 de Janeiro de 2009, http://www.google.com/hostednews/ap/article/ALeqM5g7OaI4_kjeHA-
o4UhlmP7vlWmrrwD95VITAG0 .
38
IASC, IASC Protection Cluster Monthly Report, Maio de 2009
http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/Default.aspx .
BBC, Somalis Fleeing Renewed Bloodshed, 12 de maio de 2009, http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/8045491.stm ; VOA News,
AU Mission Blames Weekend Fighting on Anti-Peace Forces, 11 de maio de 2009,
http://www.voanews.com/english/Africa/2009-05-11-voa4.cfm ; Reuters, Rival Fighters Clash islâmicos na Somália, 13 de maio
de 2009; http://www.reuters.com/article/africaCrisis/idUSLD817364
39
"como Al-Shabaab, Hizbul Islam (" Partido de Islao ") é um grupo armado que defende uma agenda Shari'a e pretende
expulsar AMISOM e TFG de Mogadíscio. Ele nasceu sob a liderança de Hassan Dahir Aweys, o ex-líder da UTI que rompeu
com o Sheikh Sharif, quando os dois homens estavam no exílio. Enquanto Sharif estava em Djibouti, Aweys passou o seu
exílio em Asmara e estreitou os laços com o Governo da Eritreia. 13 Aweys regressaram a Mogadíscio no início de 2009 e ao
invés de se aliar com o governo de Sharif, juntou-se com al-Shabaab para retomar a luta. A aliança tênue de Islam Hizbul com
al-Shabaab terminou em outubro de 2009 durante a luta dos dois grupos por Kismayo. Um mês depois da derrota de Kismayo,
Hizbul Islam também perdeu a chave da cidade fronteiriça Dhobley para as forças de al-Shabaab, do quais os dois grupos
anteriormente tinham ocupado juntos. "Human Rights Watch, Harsh War, Harsh Peace, 19 de Abril de 2010, 1-56432 - 621-7,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html.
40
Conselho de Segurança das Nações Unidas, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, 20 de julho de
2009, S/2009/373, p.3 http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a71600b2.html
41
IASC, IASC Protection Cluster Monthly Report, Maio de 2009,
http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/Default.aspx
42
IASC, IASC Protection Cluster Monthly Report, Maio de 2009
http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/Default.aspx , Reuters, Milhares
fogem de Mogadíscio, Death Toll Hits 113, 12 de Maio de 2009; http://www.reuters.com/article/latestCrisis/idUSLC789496 NB
este total aumentou posteriormente em Junho de 2009.

9
internamente no Sul e Centro da Somália,43 enquanto centenas de milhares de refugiados
encontram-se acollhidos em países vizinhos, incluindo Quénia e Etiopia.44

Em Abril de 2010, o Grupo de Contacto Internacional (ICG)45 condena veementemente as


acções violentas de extremistas que levaram ao sofrimento contínuo entre a população civil e,
em particular os ataques sobre os trabalhadores de direitos humanos, juízes, jornalistas e
organizações não-governamentais (ONGs).46

Actualmente, as partes principais do conflito no Sul e Centro da Somália são o TFG,


AMISOM, Ahlu Sunna Wal Jama'a (ASWJ),47 al-Shabaab, e a ARS-Asmara compreendido
por Hizbul Islam, Ras Camboni,48 Al Muqawama Islamiya,49 da Somália Frente Islâmica
(Jabathul Islamiya ou JABISO)50 e Anole51 Camp.52 Em fevereiro de 2010, o TFG, com o
apoio da AMISOM, tem mantido o controle de distritos estratégicos do sul de Mogadíscio,
bem como o aeroporto e o porto marítimo. Al-Shabaab está no controle de Hiraan, Shabelle
Dhexe, Bakool, Bay, Shabelle Hoose, Gedo, Juba Dhexe, Juba Hoose e partilha o controle do
Norte de Mohadishu com Hizbul Islam.53 Hizbul Islam54 controla Belet Weyne, Luuq e
43
Uma área fora de Mogadíscio, conhecida como o corredor de Afgooye, contém a maior densidade de PDIs no mundo.
44
Amnistia Internacional, Relatorio da Amnistia Internacional 2009 - Somália, 28 de Maio de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a1fadc140.html
45
O ICG consiste de Argélia, Áustria, Bélgica, Canadá, China, Dinamarca, Djibuti, Egipto, Etiópia, Finlândia, França, Itália,
Japão, Quénia, Líbia, Malásia, Noruega, Omã, Qatar, Rússia, Arábia Saudita, Somália, África do Sul, Espanha, Sudão, Suécia,
Turquia, Reino Unido, Estados Unidos, Iémen, a União Africana, a União Europeia, o Banco Islâmico de Desenvolvimento,
IGAD, Liga dos Estados Árabes, a Organização da Conferência Islâmica, Organização das Nações Unidas e o Banco Mundial,
Servicos de Noticias da ONU, grupo apoiado pela ONU apoia aberturas de Paz do Governo Somali para os rivais, 22 de Abril
de 2010, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bd53fb61d.html
46
The Washington Post, US to Hold International Meeting on Somalia, 10 de Junho de 2006,
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2006/06/09/AR2006060901713.html
47
"Ahlu Sunna Waljamaca (traduzido mais ou menos como "adeptos à Sunnah e a Congregação") é muitas vezes descrita
como um grupo islamita radicado no Sufismo Somali tradicional, que professa apoiar uma "agenda "moderada", em oposição à
visão de al-Shabaab e Hizbul Islam. É a única facção Somali que tem gozado de um sucesso military considerável contra a Al-
Shabaab e tem também estado envolvido em confrontos com as forças Hizbul Islam. O grupo existe principalmente na região
central da Somália, onde conseguiu manter o controle sobre grandes áreas do território, predominantemente em regiões de
Galgadud e Hiran. A Etiópia tem também prestado apoio a Ahlu Sunna Waljamaca e até início de 2010 alguns de seus
combatentes foram reportadas como estando em formação na Etiópia. "Human Rights Watch, Harsh War, Harsh Peace, 19 de
abril de 2010, 1-56432-621-7, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html
48
Ras Kamboni (nomeado após o promontório), liderado por Hassan Turki, principalmente Ogadeni, Africa Confidencial, The
Sheik Sharif Show, 20 de fevereiro de 2009, http://www.africa-confidential.com/article/id/2986/The-Sheik-Sharif-show
49
Muqawama Al Islamiya (Resistência Islâmica), todos os Hawiye, principalmente a partir da Ayr e Duduble, com parte de
Gugundhabe, Confidencial África, The Sheik Sharif Show, 20 de fevereiro de 2009,
http://www.africa-confidential.com/article/id/2986/The-Sheik-Sharif-show
50
Jabhat al Islamiyya (Frente Islâmica), liderado por Abdulqader 'Kumandos (Ajuran) e recrutamento entre principalmente os
Garre e Jecel Gaal (todos os grupos Hawiye, com uma tradição guerreira), África Confidencial, The Sheik Sharif Show, 20 de
fevereiro de 2009, http://www.africa-confidential.com/article/id/2986/The-Sheik-Sharif-show
51
Mu'askar Anole (Campo Anole), principalmente Majerteen e Lelkasse da área de Kismayo, Africa Confidential, The Sheik
Sharif Show 20 de fevereiro de 2009, http://www.africa-confidential.com/article/id/2986/The-Sheik-Sharif-show
52
Amnesty International, Somália: Assistência Policial e militar Internacional deve ser revisto, 21 de Janeiro de 2010, AFR
52/001/2010, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b5822312.html
53
"Al-Shabaab é um ramo radical da União dos Tribunais Islâmicos, a coligacao da milícia apoiada que dominou em
Mogadíscio durante parte de 2006 antes de ser encaminhado pela intervenção militar Etiope na Somália. Alguns dos líderes
da Al-Shabaab tem ligações com Al-Qaeda, e os Estados Unidos, a União Europeia, e muitos governos regionais têm visto a
sua origem com alarme. Presentemente é única facção armada mais ponderosa na Somália, que controla a maior parte do
território do que qualquer outro grupo. Em muitas áreas, a regra de al-Shabaab tem trazido uma relativa paz e ordem, que
contrasta drasticamente com o caos em Mogadishu. Os Residentes de algumas dessas áreas, disseram à Human Rights
Watch que reconhecem al-Shabaab com o fim de constante ameaça de extorsão, roubo e assassinato dos bandidos e milícias
freelance. Mas mesmo que seja verdade, a segurança tem custado um alto preço, especialmente para as mulheres .... Al-
Shabaab não é uma entidade monolítica, mas sim uma aliança de facções que se reuniu sob a sua bandeira. Na medida em
que líderes de diversos grupos têm uma agenda comum, que consiste em derrotar AMISOM e a TFG e prorrogar medidas
extremas, isso justifica como Sharia, o sistema islâmico de leis e conduta diária, em toda a Somália. Através de uma grande
parte do sul da Somália, as administrações locais que se identificam como al-Shabaab aparecem para responder às
autoridades baseadas em Kismayo. Mas em outras areas as administracoes "al-Shabaab" podem ser pouco mais do que as
estruturas de poder baseadas em clãs preexistentes assumindo um nome diferente. "Human Rights Watch, Harsh War, Harsh
Peace, 19 abr 2010, 1-56432-621-7, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html
54
"Like al-Shabaab, Hizbul Islam (" Party of Islam ") é um grupo armado que defende a agenda Shari'a e procura expulsar
AMISOM e a TFG de Mogadíscio. Ele nasceu sob a liderança de Hassan Dahir Aweys, um ex-líder da UTI que rompeu com o
Sheikh Sharif, quando os dois homens estavam no exílio. Enquanto Sharif estava em Djibouti, Aweys passou o seu exílio em
Asmara e estreitar os laços com o governo da Eritreia.13 Aweys regressaram a Mogadíscio no início de 2009 e ao invés de se

10
Banadir e ASWJ controla Glagaduud. Outras partes do sul e centro da Somália são
controladas por várias administrações, incluindo o Galmadug, Him/Heem e Xarardheere que
estão sob control pirata de clãs.55 É, no entanto, importante ter em mente que o controle do
território pelas diferentes facções não é estática no sul e centro da Somália e que mudanças
no controle territorial são uma ocorrência comum no conflito que decorre.

Um acordo de cooperação foi assinado entre a TFG e ASWJ em 21 de Junho de 2009. Em


Fevereiro de 2010, ASWJ assinou a partilha de poder e um pacto de unificação militar com o
TFG.56 Contudo, os outros grupos insurgentes islâmicos têm recusado a juntar-se ao TFG,
como parte de uma administracao inclusiva.57

B. Puntland 

Confrontos militares entre as forças de Puntland e Somalilândia ocorreram em Las Anod,


uma cidade disputada, na fronteira dos dois territórios, na província de Sool, em Abril e
Outubro de 2007. Os confrontos resultaram na captura da cidade por forças da Somalilândia,
com várias vítimas civis. Em dezembro de 2007, o ACNUR estimou que o conflito em Sool
causou o deslocamento de 22.000 a 54.000 pessoas. As tensões entre Puntland e Somalilândia
continuaram com ambos reivindicando soberania sobre Sool e Sanaag, com a ameaça de
Puntland de atacar para recapturar Las Anod. No entanto, não tem havido recentes surtos de
violência entre Somalilândia e Puntland sobre as regiões disputadas.58

As instituições governamentais, particularmente o judiciário e a polícia, permanecem fracas


em Puntland.59 Enquanto as autoridades de Puntland expressam seu compromisso para com
os direitos humanos, os observadores notaram que a pena de morte foi aplicada sob
circunstâncias em que o processo judicial foi considerado como injusto.60 O acesso limitado à
justiça, especialmente para as mulheres, a falta de capacidade do sistema
judiciário e, às vezes, a aplicação discriminatória de mecanismos tradicionais de resolução de
conflitos são algumas das outras questões de interesse.61

C. Somalilândia 

A auto-declarada República de Somalilândia, que não foi reconhecida pela comunidade

aliarem com o governo de Sharif, juntaram-se com al-Shabaab para retomar a luta. A aliança tênue Hizbul Islam com al-
Shabaab terminou em outubro de 2009 durante a luta dos dois grupos de Kismayo. Um mês depois da derrota de Kismayo,
Hizbul Islam também perdeu a chave da cidade fronteiriça Dhobley para as forças de al-Shabaab, ambos os grupos tinham
anteriormente ocupados juntos. "Human Rights Watch, Harsh War, Harsh Peace, 19 de Abril de 2010, 1-56432 - 621-7,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html
55
Conselho dos Direitos Humanos, o relatório do perito independente sobre a Situação dos Direitos Humanos na Somália,
Shamsul Bari, A/HRC/12/44, 17 de setembro de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4acb4abc2.html
56
Human Rights Watch, Harsh Guerra, Harsh Paz, 19 de abril de 2010, 1-56432-621-7,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html
57
Conselho de Segurança das Nações Unidas, Relatório do Secretário-Geral sobre a Somália nos termos da Resolução 1872
do Conselho de Segurança (2009), S/2009/503, 02 de outubro de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4acddae92.html
58
Departamento de Estado dos Estados Unidos, 2009 Relatórios Nacionais sobre Práticas de Direitos Humanos - Somália, 11
de Marco de 2010, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b9e52bdc.html
59
Andre Le Sage, Stateless Justice in Somalia: Formal and Informal Rule of Law iniciatives, Centre for Humanitarian Dialogue,
Julho, 2005, pp. 28-32, http://www.hdcentre.org/files/Somalia.report.pdf
60
Conselho de Segurança das Nações Unidas, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, S/2009/373, 20 de
julho de 2009, p. 12, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a71600b2.html
61
Conselho de Segurança das Nações Unidas, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, S/2009/373, 20 de
julho de 2009, p. 12, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a71600b2.html.

11
internacional como um estado independente e soberano, tem sido relativamente pacífica e
segura, com excepção do processo das eleições presidenciais problemático.62

A Somalilândia realizou eleições parlamentares em 2005, as primeiras eleições deste tipo


desde 1969. No entanto, a grave crise política provocada pelas repetidas remarcações de
eleições presidenciais teve um impacto desestabilizador. O terceiro mandato do Presidente
Rayale deveria ter expirado em 15 de Maio de 2008. A eleição deveria, entretanto, ter sido
realizada, pelo menos, um mês antes. No entanto, as cinco tentativas para agendar as eleições
foram infrutíferas, a última, devido à decisão unilateral da Comissão Nacional Eleitoral
(CNE) de não utilização de uma lista de recenseamento eleitoral alegadamente por fraudes
sistemáticas e massivas, o que fez com que ambos os partidos da oposição, declararem um
boicote à eleição e suspender a cooperação com a Comissão. A crise foi desativada no final
de setembro de 2009, quando os partidos - sob forte pressão externa e interna - aceitaram um
memorando de entendimento concordando com uma mudança na composição e liderança da
NEC e da utilização de um refinado recenseamento eleitoral. A nova Comissão Nacional de
Eleições (CNE) agendou as próximas eleições de Junho de 2010 e foi estabelecido um
sistema de voto eletrônico.63 A CNE começou a emitir cartões de registo de voto para os
cidadãos. No entanto, os progressos alcançados na transformação democrática, a
implementação da regra de direito e paz e estabilidade pode estar em risco se as eleições
livres e justas, e a governação eficaz não se materializarem.64

IV. Elegibilidade de protecção internacional 
A. Abordagem Geral 

Tendo em conta as violações graves e generalizadas dos direitos humanos e do conflito


armado e insegurança na maior parte do sul e centro da Somália e em algumas partes da
Somalilândia e Puntland, o ACNUR considera que muitos requerentes de asilo da Somália
necessitam de protecção internacional. Somalis do sul e centro da Somália, Somalilândia e
Puntland podem se qualificar, dependendo das circunstâncias da sua fuga, como refugiados,
na acepção do artigo 1A (2) da Convenção de 1951 e / ou do artigo I (1) da Convenção da
OUA.

Em países onde os requerentes de asilo Somalis tem chegado em grande número, representam
um modelo evidente e análogo na natureza das suas reivindicações, as quais demonstram a
necessidade de protecção internacional, e onde a determinação do estatuto de refugiado numa
base individual excederia as capacidades locais, o ACNUR encoraja a adopção de uma
abordagem de proteção baseada em grupo. As abordagens baseadas em grupo incluêm a
aplicação de reconhecimento prima facie do grupo, aplicada pelo ACNUR e pelos Estados
para situações de influxo em massa, e de protecção temporária concedidos pelos Estados.

Devido às violações da lei dos direitos humanos e do direito internacional humanitário


reportadas por vários actores, algumas das reivindicações apresentadas por requerentes de
asilo Somalis podem suscitar preocupações sobre uma possível exclusão do estatuto de
refugiado. Em casos apropriados, os motivos de exclusão do reconhecimento e proteção

62
Amnistia Internacional, Relatório da Amnistia Internacional 2009 - Somália, 28 de Maio de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a1fadc140.html
63
Afrol, Somalilândia finalmente prepara eleições presidenciais, em 14 de Abril de 2010, http://www.afrol.com/articles/35929
64
64 International Crisis Group, Somaliland: A Way out of the Electoral Crisis, 7 de dezembro de 2009,
http://www.crisisgroup.org/home/index.cfm?id=6420

12
como refugiado devem ser avaliados com base nas cláusulas de exclusão estabelecidas no
artigo 1F da Convenção de 1951 e o artigo I(5) da Convenção da OUA. As abordagens de
protecção baseadas em grupo precisam, por conseguinte, de incluir mecanismos de triagem
adequados para identificar potenciais reivindicações excluíveis.

O ACNUR considera que nenhuma fuga interna (ou realocação) alternativa (IFA/IRA) está
disponível no sul e centro da Somália. Onde o reconhecimento como refugiado se baseia nos
critérios de refugiado nos termos do artigo I(2) da Convenção da OUA, o teste IFA/IRA não
é aplicável. Onde o exame de um IFA/IRA é uma exigência da legislação nacional, deve ser
examinado caso a caso, tomando em consideração as circunstâncias específicas do requerente
de asilo, no quadro do teste de relevância e razoabilidade e das orientações fornecidas neste
documento.

Quer exista em Puntland ou em Somalilândia, um IFA/IRA, dependerá das circunstâncias


individuais de cada caso. Por diferentes razões, como elaborado sob os termos da secção E,
nem Puntland nem Somalilândia aceitam o direito de regresso para ou residir no seu
território, excepto para as pessoas capazes de demonstrar que são originários desses
territórios. Tal origem é principalmente estabelecida por meio da inscrição de uma clã
considerada originária de Puntland ou Somalilândia.65 As pessoas incapazes de estabelecer tal
ligação podem estar sujeitas à detenção e/ou a deportacão para os territórios onde suas vidas e
liberdade podem estar ameaçadas, incluindo o sul e centro da Somália. O conflito entre
Puntland e Somalilândia sobre Sool e Sanaag, a erupção frequente de violência ao longo da
fronteira sul de Puntland (com o sul e centro da Somália), a insuficiência de proteção
tradicional baseada em clãs e as generalizadas más condições de vida das pessoas deslocadas
em Puntland e Somalilândia sugerem que um IFA / IRA, geralmente não é disponível.

Os Somalis requerentes de asilo e de proteção do sul e centro da Somália, devido à situação


de violência generalizada e conflito armado nos seus lugares de origem ou residência habitual
e cujas declarações são consideradas como não satisfazendo os critérios de refugiado ao
abrigo do artigo 1A(2) da Convencao de 195166 ou do Artigo I(1) da Convenção da OUA,67
devem ser concedidos protecção internacional no âmbito da definição de refugiado sob os
termos do artigo I(2) da Convenção da OUA. Nos Estados em que a Convenção da OUA não
se aplica, a forma complementar/subsidiária de protecção deve ser concedida sob quadros
jurídicos nacionais e regionais aplicáveis. O desrespeito generalizado das obrigações ao
abrigo do direito internacional humanitário por todas as partes no conflito e a escala reportada
de violações dos direitos humanos torna claro que qualquer pessoa que retornou ao sul e
centro da Somália, poderia, exclusivamente por conta de sua presença no sul e centro da
Somália, enfrentar um risco real de danos graves.

No que diz respeito a pessoas originárias de Puntland ou Somalilândia, que não têm
necessidade de protecção internacional, na sequência da determinação dos seus pedidos em
procedimentos justos e eficazes, o ACNUR recomenda que os Estados exerçam cautela
quando se considera o seu regresso. Como já mencionado, Puntland e Somalilândia não

65
Kenneth Menkhaus, Somalia: A Situation Analysis and Trend Assessment, WRITENET, 01 de Agosto de 2003, p. 27,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/3f7c235f4.html
66
Assembléia Geral da ONU, Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, 28 de Julho de 1951, Series de Tratados da
ONU, vol. 189, p.137, http://www.unhcr.org/refworld/docid/3be01b964.html (doravante "Convenção de 1951")
67
Organização de Unidade Africana, Convenção que Rege os Aspectos Específicos dos Problemas dos Refugiados em África,
10 de Setembro de 1969, 1001 U.N.T.S. 45, http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6b36018.html (doravante"Convenção da
OUA).

13
aceitarão o retorno de Somalis que não possam provar de que sejam originários dos
territórios. Por isso, indivíduos que afirmam ser de Puntland e Somaliland que são incapazes
de estabelecer que de facto sao originários desses territórios não devem retornar.

Indivíduos já reconhecidos como refugiados, quer de uma abordagem de proteção baseada


em grupo ou na sequência de processos de determinação individual do estatuto, devem
manter esse estatuto. O estatuto de refugiado de tais pessoas deve ser revisto apenas se
houver indicações que, no caso individual, existem motivos para o cancelamento do estatuto
de refugiado, que foi indevidamente concedido na primeira instância; a revogação do estatuto
de refugiado com base na artigo 1F da Convenção de 1951 ou do artigo I(5)(a), (c) ou (d) da
Convenção da OUA; ou a cessação do estatuto de refugiado com base no artigo 1C (1-4) da
Convenção de 1951 ou do artigo I(4) (a-d), da Convenção da OUA.

B. Principais Grupos de Risco com Base no artigo 1(a) da Convenção de


1951 e/ou do artigo I(1) da Convenção da OUA 

O ACNUR considera que os grupos estabelecidos nesta secção enfrentam um risco particular
de perseguição ou ofensas graves na Somália, nomeadamente através de actos
discriminatórios cumulativos. A lista não é necessariamente exaustiva, por isso, uma
reivindicação não deveria ser considerada automaticamente sem mérito, porque esta pode não
se enquadrar dentro de qualquer destes grupos.

1. Sul e Centro da Somália  
a) Indivíduos Percebidos como Apoiando TFG, AMISOM ou
FNDE
Os membros do TFG, incluindo suas tropas e forças de segurança, são regularmente alvos de
ataques pelos grupos al-Shabaab e Hizbul Islam.68 No entanto, desde 2008, os civis
percebidos como tendo ligações com o TFG e/ou com o FNDE, até a sua retirada, incluindo
tradutores e mulheres que vendem comida para os soldados, enfrentaram também
retaliação.69 O início de 2009 conheceu um aumento notável nos pedidos recebidos pelos
escritórios do ACNUR em países vizinhos de funcionários de TFG e seus familiares, bem
como colaboradores com as tropas etíopes tais como intérpretes que foram obrigados a fugir
por grupos insurgentes, tomando o território que a TFG já havia controlado. A perda de
território resultou na perda de protecção para os funcionários do TFG pelas forças Etíopes,
após a sua retirada em Janeiro de 2009. Assassinatos e tentativas de assassinato, de pessoas
ligadas ao TFG continuam.70

Defensores dos direitos humanos, trabalhadores de ajuda humanitária e jornalistas continuam,


segundo informações, a serem ameaçados, atacados, sequestrados ou mortos no sul e centro
da Somália e, muitas vezes, porque eles têm sido percebidos como apoiando o TFG,
68
CNN, Extremistas violentos chamando combatentes para Somália, em 27 de Abril de 2010,
http://edition.cnn.com/2010/WORLD/africa/04/27/somalia.al.shabaab/index.html?hpt=T1
69
Conselho de Segurança das Nações Unidas, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, S/2009/132, 09 de
Marco de 2009, p. 18, http://www.unhcr.org/refworld/docid/49ba27f72.html.
70
Conselho de Segurança das Nações Unidas, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, S/2009/132, 09 de
Marco de 2009, p. 17, http://www.unhcr.org/refworld/docid/49ba27f72.html. Veja também IRIN, Somália: equipe para investigar
Mogadíscio, 7 de Dezembro de 2009, http://www.irinnews.org/Report.aspx?ReportId=87350, descrevendo o bombardeamento
de uma cerimônia de graduacao de 3 de Dezembro de 2009, que matou dezenas de pessoas, incluindo três ministros. Veja
também dos Estados Unidos Departamento de Estado de 2009 Relatórios Nacionais sobre Práticas de Direitos Humanos -
Somália, 11 de Março de 2010, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b9e52bdc.html

14
AMISOM ou FNDE durante a sua presença no Somália.71 Da mesma forma, têm sido alvos,
estudantes de medicina e médicos72. Além disso, o conflito tem forçado as organizações não-
governamentais e agências da ONU na Somália a reduzir ou suspender suas actividades.73 Al-
Shabaab anunciou a proibição de atividades pelo PNUD, do Departamento de Protecção e
Segurança das Nações Unidas e do Escritorio Político das Nações Unidas para a Somália no
sul e centro da Somália acusando as agências de serem inimigas do Islão.74 Devido às
constantes ameaças, tentativas de extorsão e intimidação de seus funcionários, o Programa
Mundial de Alimentos teve de suspender a distribuição de alimentos na maioria das regiões
do sul e centro da Somália no início de 2010.75

O ACNUR considera que as pessoas pertencentes ao TFG ou que tenham ligações com o
TFG e/ou FNDE ou que tenham prestado assistência técnica ou serviços para o TFG, FNDE
ou AMISOM, estão em risco devido a sua (ou imputada) opinião política, com a etnia/raça e
religião como factores de composição possíveis.76 No entanto, no que diz respeito aos
membros da TFG e, em especial aos que pertencem as forças militares ou de segurança,
requer-se um exame cuidadoso quanto à exclubilidade.77

b) Indivíduos Tidos como Desrespeitando Leis ou Decretos


Islâmicos
Os Somalis, no sul e centro da Somália, vivem supostamente com medo de serem vistos
como opositores aos decretos de Al-Shabaab.78 Al-Shabaab instituiu tribunais Sharia e emitiu
decretos para restringir comportamento social que considera por violar a lei islâmica,
incluindo a proibição de música, dançar em público79 e khat,80 e o encerramento de cinemas.
Os períodos de oração devem ser tambem respeitados e as mulheres são instruídas a vestir-se
com vestuário apropriado, que inclui o hijab.81 Há relatos de que os jovens são ameaçados

71
Outras razões que conduziram a estes grupos a tornarem-se o alvo de perseguição são elaboradas ao abrigo da secção
E.1.c).
72
Integrated Regional Information Networks (IRIN), na Somália: "É como se eles quisessem matar todas as esperanças de um
futuro melhor", 3 de Dezembro de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b1e0e061e.html , refere-se ao atentado suicida
no hotel Shamo ibid [ ], onde três ministros TFG e perto de cinquenta pessoas foram mortas num ataque suicida durante uma
cerimônia de graduação para estudantes de medicina na Universidade Benadir em Mogadishu. Amnistia Internacional,
nenhum fim em vista: O sofrimento contínuo de civis na Somália, 25 de março de 2010 p.5,
http://www.amnesty.org/en/library/asset/AFR52/003/2010/en/6d0c975e-c16e-4974-a9ec-645d9a6aa5f2/afr520032010en.pdf
descrevendo uma declaração de Al-Shabab, que se refere às mortes de médicos na sequência do bombardeamento de um
hospital de campo ANIMSOM como "um ataque bem-sucedido" e afirma que considera os médicos ANISOM como medicos
"inimigos". Veja também CNN, Extremistas violentos chamam lutadores para a Somália, 27 de Abril de 2010,
http://edition.cnn.com/2010/WORLD/africa/04/27/somalia.al.shabaab/index.html?hpt=T1 , Na base da União Africana abriram o
hospital militar para o público em resposta à falta de instalações médicas da cidade. Quando estes ficam sem medicamentos e
em vez de passar prescrições, mesmo os desesperadamente doentes, mandam-lhes embora, conhecendo os riscos de serem
pegos com as provas de "conluio".
73
Freedom House, Liberdade no Mundo 2009 - Somália, 16 de Julho de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a645283c.html .
74
BBC News, os islamistas somalis proibem agências da ONU, http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/8159574.stm.
75
Rádio das Nacoes Unidas, o PMA é forcado a suspender as operações na Somália, 05 de Janeiro de 2010,
http://www.unmultimedia.org/radio/english/detail/88510.html.
76
Houve também um exemplo recente, em Outubro de 2009, onde dois homens foram acusados de espionagem e
apedrejados até a morte, em Merka, http://www.news.bbc.co.uk/2/hi/8347216.stm+stoning+somalia+
spying&cd=2&hl=en&ct=clnk&gl=uk.
77
Ver a secção sobre Exclusão para mais detalhes.
78
CNN, os extremistas violentos chamando combatentes na Somália, em 27 de Abril de 2010,
http://edition.cnn.com/2010/WORLD/africa/04/27/somalia.al.shabaab/index.html?hpt=T1.
79
IASC Protection Cluster Monthly Report, Abril de 2009, http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/
IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/Default.aspx
80
Reuters, Somalis protest against Al-Shabab, Kenyans Taken, 25 de Março de 2009,
http://www.reuters.com/article/homepageCrisis/idUSLP972817._CH_.2400; IASC Protection Cluster Monthly Report, março de
2009, http://ochaonline.un.org/Somália/clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/Default.aspx.
81
Em muitas áreas, os funcionários da Al-Shabaab exigem que as mulheres usem um tipo particularmente pesado de abaya,
uma forma tradicional de vestido islâmico, que cobre tudo, excepto o rosto, mãos e pés. As mulheres que não o fazem são
muitas vezes presas, açoitadas publicamente, ou ambos. Human Rights Watch, Harsh War, Harsh Peace, 19 de Abril de 2010,
1-56432-621-7, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html.

15
por al-Shabaab para se engajarem em atividades como jogar futebol ou outros jogos.82 Os
sinos da escola foram declarados serem muito cristãos e foram proibidos.83 Al-Shabaab
anunciou que qualquer pessoa que nao cumpra estas leis será punida.84 Os procedimentos85
do tribunal Sharia, e as punições têm sido geralmente duros e inconsistentes,86 por exemplo,
de amputações por roubo feitas em diferentes locais.87 Além disso, algumas interpretações da
lei Sharia têm sido seriamente questionáveis. Alguns exemplos flagrantes incluem a
condenação à morte por apedrejamento de uma menina de 14 anos em Kismaayo acusada de
adultério, embora ela tivesse sido violada por uma quadrilha, e a execução de um comandante
militar em Kismaayo como um "Murtadiin" (apóstata) por trabalhar com o TFG e, por
extensão, os Etíopes "Cristãos".88

Além de decisões formais pelos tribunais Sharia, os decretos comportamentais são muitas
vezes impostos por milícias. Por exemplo, em Bayhdaba, pessoas foram multadas ou
alvejadas a tiro por terem sido encontradas a não participar da oração ou não cumprindo a
oração obrigatória cinco vezes por dia.89

Em Abril de 2010, 14 estações de rádio privadas de Mogadíscio pararam de tocar música


após as ameaças de Hizbul al-Islam e al-Shabaab.90

A obrigação de usar o hijab tem sido imposta com medidas extremas. Por exemplo, duzentas
mulheres foram recentemente presas e açoitadas em Mogadíscio por alegadamente não terem
usado o véu, enquanto uma flagelação separada ocorria no norte de Mogadíscio, tendo como
alvo as mulheres que usavam sutiãs, por violar o Islam.91 Em Jowhar, as mulheres casadas
cujos maridos ou pais não conseguiram pagar o hijab, foram forçadas a divorciar e voltar a
casar com membros do Al-Shabaab. Tais práticas não foram sancionadas pelo mais alto
82
Human Rights Watch, Harsh War, Harsh Peace, 19 de abril de 2010, 1-56432-621-7,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html
83
CNN, Extremistas violentos chamando combatentes para Somália, 27 de Abril de 2010,
http://edition.cnn.com/2010/WORLD/africa/04/27/somalia.al.shabaab/index.html?hpt=T1
84
IASC Protection Cluster Monthly Report, Abril de 2009
http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/Default.aspx.
85
Conselho de Segurança das Nações Unidas, Relatório do Secretário-Geral sobre a Somália nos termos da Resolução 1863
do Conselho de Segurança (2009), S/2009/210, 16 de Abril de 2009, p. 5 http://www.unhcr.org/refworld/docid/49f1723c2.html,
segundo a qual, "prisoes [a]rbitrarias e detencoes, incluindo detenção prolongada antes da aparicao inicial no tribunal, e
execucoes na sequência de processos por parte dos tribunais islâmicos terem sido documentados em algumas partes do
país."
86
No início de Abril de 2009, as forces de al-Shabaab supostamente decapitaram um combatente da milícia local em Jamame,
Baixo Juba, e pendurou sua cabeça para exibição pública. Isto ocorreu depois dos confrontos entre o Al-Shabab e as milícias
locais, que recusaram cumprir a proibição de khat, armas, música, dança e público, entre outros. Pelo menos outras duas
pessoas foram mortas e outras cinco ficaram feridas. Veja Mareeg News, Al-Shabab decapita um homem no sul da cidade, 05
de Abril de 2009, http://www.mareeg.com/fidsan.php?sid=11343&tirsan=3; Garowe Online, Armed Youngsters Reject Al-
Shabab Order, Fighting Erupts, 5 de Abril de 2009,
http://www.garoweonline.com/artman2/publish/Somalia_27/Somalia_Armed_youngsters_reject_Al_Shabab_order_fighting_eru
pts.shtml .
87
Amnistia Internacional, as amputações realizadas em quatro jovens na Somália, 25 de Junho de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a48858ca.html, Amnistia Internacional, grupo armado somali Al-Shabab não deve
realizar amputações, 22 de Junho de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a433c8cc.html.
88
IRIN, Analysis: Quem esta a combater a quem na Somália, 25 de Setembro de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4aa0c1955.html
89
Em 17 de Abril, um homem teria sido morto por homens da milícia al-Shabaab alegadamente também por nao cumprir com
a sua lei. Veja IASC Somália PMN, 24 de Abril de 2009, http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/
IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/Default.aspx; Garowe Online, Al Shabab deteve 25 jovens em Baidoa, 15 de
Abril de 2009, http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5jpfM3BENxHqZITDuzNsPHTQJPWkg.
90
CNN, Estacoes Somalis difundem ruidos de animais para protestar contra a proibição de musica pelos extremistas, 13 de
Abril de 2010, http://edition.cnn.com/2010/WORLD/africa/04/13/somalia.radio/index.html?hpt=T2.
91
Sem fim à vista: Sofrimento de civis Somalis em curso na Somália, 25 de Março de 2010 p.10
http://www.amnesty.org/en/library/asset/AFR52/003/2010/en/6d0c975e-c16e-4974-a9ec-645d9a6aa5f2/afr520032010en.pdf ,
detalha estas flagelações em Outubro de 2009.

16
escalão de al-Shabaab, e eventualmente pararam, mas estes exemplos destacam como, devido
a sua implementação pelos combatentes juniores de al-Shabaab, tais decretos aparecem cada
vez mais extremos e abusivos no seu cumprimento.92 Em algumas áreas, os editais de al-
Shabaab têm provocado a formação de milícias contra-insurgência, tais como ASWJ,93
resultando em confrontos armados entre as milícias de contra-insurgência e Al-Shabaab.

Face ao exposto, o ACNUR considera que as pessoas que se desviam das normas religiosas
impostas pelos grupos militantes islâmicos nas áreas sob seu controle (todas as áreas fora das
partes controladas por TFG/AMISOM de Mogadíscio), especialmente se o seu perfil
individual sugere que a violação não tenha sido coincidência/involuntária, estariam em risco
por conta da sua (imputada) opinião política e/ou crença religiosa.

c) Atores da sociedade civil (Defensores de Direitos Humanos


e Trabalhadores Humanitários) e Jornalistas

Para além das razões supra mencionadas na Secção (a), jornalistas, atores da sociedade civil
ou trabalhadores humanitários conhecidos por compartilharem informações sobre o conflito
com o mundo exterior, ou por expressarem opiniões criticando a situação dos direitos
humanos na Somália, têm sido alvos no sul e centro da Somália pelos grupos militantes
islâmicos, incluindo al-Shabaab e Hizbul Islam. Reportagens em notícias sobre o conflito e as
questões de segurança foram realmente consideradas como uma forma de traição por todas as
partes do conflito e a mídia independente foi continuamente alvo tanto por al-Shabaab como
Hizbul Islam.94

Os jornalistas enfrentam intimidação, prisão arbitrária, detenção e condenação sem o devido


processo.95 Apenas em 2008, foram mortos dois jornalistas.96 Em 2009, foram mortos sete
jornalistas como resultado directo de seu trabalho.97 As Estações de rádio e outros meios de
comunicação também continuam a enfrentar ameaças e intimidações.98 Uma série de estações
de rádio encerraram ou foram pressionados a modificar suas reportagens,99 por exemplo, na

92
Com relação ao uso obrigatório do véu pelas mulheres, algumas mulheres deslocadas que não podia dar ao luxo de
comprar um véu (preço estimado de 400 mil xelins somalis), no prazo determinado foram alegadamente presas e detidas até
que um parente do sexo masculino fosse socorrê-las. Veja IASC Somália PMN, 24 de Abril de 2009,
http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/Default.aspx.
93
Ahlu Sunna Waljama é uma seita sufi, considerada mais moderada na sua interpretação do Islão do que al-Shabaab. Esta
juntou-se na luta no final de dezembro de 2008, expulsando al-Shabaab das cidades de Guri-Eil e Dusamareb na região
Galgadud. Agora controla toda Galgadud no centro da Somália. Veja IRIN, Análise: Quem luta contra quem na Somália, 2 de
Setembro de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4aa0c1955.html.
94
Federação Internacional dos Direitos Humanos, Observatório para a Proteção dos Defensores dos Direitos Humanos,
Relatório Anual 2009 - Somália, http://www.unhcr.org/cgi-
bin/texis/vtx/refworld/rwmain?page=search&amp.docid=4a5f300f23&amp.skip=0&amp.query=human%20rights%20activists%2
0in%20Somalia
95
Conselho de Segurança das Nações Unidas, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, S/2009/132, 09 de
Marco de 2009, p. 17, http://www.unhcr.org/refworld/docid/49ba27f72.html .
96
Comite para Protecção de Jornalistas, 42 jornalistas mortos em 2008, http://cpj.org/killed/2008/ .
97
Comite para Protecção de Jornalistas, ataques à imprensa 2009: Somália, 16 de Fevereiro de 2010,
http://cpj.org/2010/02/attacks-on-the-press-2009-somalia.php. Este relatório detalha também informacoes sobre o ex-ministro
da Informação declarando '[insurgentes] matariam o jornalista, simplesmente por ser jornalista. Veja também a Amnistia
Internacional, jornalista Somali capturado por Al-Shabab deve ser libertado, 23 Fevereiro de 2010,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4ba9d83ec.html .
98
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Secretário-Geral sobre a Somália nos termos da Resolução 1872 (2009) do
Conselho de Segurança, S/2009/503, 02 de Outubro de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4acddae92.html. Veja
também Comite para Proteccao de Jornalistas, ataques à imprensa 2009 - Somália, 16 de fevereiro de 2010,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b7bc2de37.html e Comite para Proteccao de Jornalistas, Somália: Al-Shabaab sequestra
repórter, 22 de Fevereiro de 2010, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b9658f91a.html.
99
União Nacional dos Jornalistas Somalis, Estação de Radio privada encerrada, 09 de Abril de 2009,
http://www.nusoj.org/223/private-radio-station-closed-down. AFP Media, Somalia Hardline Group Detains Three journalists, 27
de Abril de 2009, http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5iDefBSQq7CUxfk6WKdTvu8_Hl_PQ; AFP News,
Milícia islâmica Detem Jornalista, 19 de Abril de 2009,
http://www.google.com/hostednews/afp/article/ALeqM5g1_crhBugCtAQRPEYBjX8TPQsf6w. Garowe Online, Somália:
Jornalista detido por Al-Shabab libertado ileso, 19 de Abril de 2009

17
sequência de um decreto de al-Shabaab, em Setembro de 2009. O decreto proibia a
veiculação de informações contra a Al-Shabaab em duas cidades da região de Gedo e
impunha a pena de morte sobre qualquer jornalista ou órgão de comunicação que o violou.100

O ACNUR considera que os jornalistas que são considerados politicamente tendenciosos são
os mais susceptíveis de ser alvo de várias facções. Mesmo ao entrevistar ou fazer contato com
uma das partes no conflito pode ser suficiente para se criar percepção.101

Desde 2008, a situação dos trabalhadores humanitários Somalis tem piorado. Houve
sequestros de dois funcionários nacionais e internacionais, incluindo o Representante do
escritório do ACNUR em Mogadíscio em Junho de 2008.102 O Representante do PNUD em
Mogadíscio foi assassinado a 06 de julho 2008.103 De acordo com o Escritório do
Coordenador de Ajuda a Emergência das Nações Unidas, 47 activistas dos direitos humanos e
trabalhadores humanitários foram mortos entre 2008 e 2009.104 Assassinatos de pessoas
ligadas à sociedade civil continuaram em 2009.105 Desde Janeiro de 2009, sete trabalhadores
humanitários foram mortos e sete sequestrados.106 Um total de 16 trabalhadores humanitários
ainda estão em cativeiro, alguns desde 2008.107 ONGs Somalis tem estado cada vez mais sob
pressão, e alguns foram forçados a encerrar suas actividades108 por al-Shabaab sob acusações
de serem agentes dos governos ocidentais, especialmente as ONGs engajadas em monitoria,

http://www.garoweonline.com/artman2/publish/Somalia_27/Somalia_Journalist_detained_by_Al_Shabab_released_unharmed.
shtml. Garowe Online, Somália: Al Shabab Liberta jornalistas, excepto Música Buan e Raparigas Trabalhadoras, 28 de Abril de
2009,
http://www.garoweonline.com/artman2/publish/Somalia_27/Somalia_Al_Shabab_release_journalists_but_ban_music_and_girl_
workers.shtml.
100
Sem fim à vista: o sofrimento contínuo de civis Somalis, 25 de Março, 2010 p.6
http://www.amnesty.org/en/library/asset/AFR52/003/2010/en/6d0c975e-c16e-4974-a9ec-645d9a6aa5f2/afr520032010en.pdf,
detalha estes anúncios em Belet-Hawo e na cidade de Bardhere, veja a secção intitulada "Ameaças aos Jornalistas".
101
Comite para Proteccao de Jornalistas, Repórter morre ferido por arma de fogo; quarta fatalidade deste ano, 26 de Maio de
2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a840bc32d.html. Veja também Comite para Protecao de Jornalistas, Repórter
Morto em Mogadíscio, Terceira fatalidade Somali este ano, 22 de Maio de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a1d5d7d28.html. IRIN, Somália: Ninguém ficou para contar a história, 10 de junho de
2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a3b589b2.html; Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Secretário-Geral
sobre a situação na Somália, S/2009/373, 20 de julho de 2009, p. 11, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a71600b2.html;
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, S/2009/132, 09 de março de
2009, p. 17, http://www.unhcr.org/refworld/docid/49ba27f72.html. Relatórios recebidos de diversos parceiros de IASC
Protection Cluster e maiores casas de comunicação, incluindo Garowe Online, segundo diretor assassinado de Horn Afrik
desde 2007, 04 de Fevereiro de 2009,
http://www.garoweonline.com/artman2/publish/Somalia_27/Somalia_HornAfrik_s_second_director_assassinated_since_2007.s
html; União Nacional dos Jornalistas Somalis, Jornalista Somali Proeminente Assassinado em Mogadíscio, 4 de Fevereiro de
2009, http://www.nusoj.org/211/prominent-somali-journalist-assassinated-in-mogadishu. Relatórios de diversas fontes da mídia,
incluindo Garowe Online, Diretor de rádio somali esfaqueado; segundo jornalista atacado em quatro dias, 09 de Fevereiro de
2009,
http://www.garoweonline.com/artman2/publish/Press_Releases_32/Somali_radio_director_stabbed_second_journalist_attacke
d_in_four_days.shtml; All Africa, Provincial Director da Estação de Radio Provincial gravemente ferido por esfaqueamento Por
Membro de Clã Rival, 09 de Fevereiro de 2009, http://allafrica.com/stories/200902091404.html; Mareeg, Jornalista Somali
esfaqueado; segundo ataque numa semana, 8 de Fevereiro de 2009, http://www.mareeg.com/fidsan.php?sid=10408&tirsan=3;
Integrated Regional Information Networks (IRIN), Somália: Jornalistas sob fogo, 21 de Abril de 2010,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bd53f871a.html.
102
Hassan Mohammed Ali foi libertado em 28 de Agosto de 2008, ver: ACNUR, Sequestradores libertam ileso o chefe do
escritorio do ACNUR de Mogadíscio, 28 de agosto de 2008, http://www.unhcr.org/news/NEWS/48b6ca512.html.
103
IASC, IASC Somália PMN, 11 de julho de 2008; http://ochaonline.un.org/OchaLinkClick.aspx?link=ocha&docId=1092094.
104
Amnistia Internacional, Insegurança mortal: Ataques a trabalhadores de ajuda humanitária e defensores dos direitos
humanos na Somália, 06 de Novembro de 2008, p. 1, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4913f9ce2.htm. Veja também
Human Rights Watch, Harsh War, Harsh Peace, 19 de Abril de 2010, 1-56432-621-7,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html.
105
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, S/2009/132, 09 Março de
2009, p. 17, http://www.unhcr.org/refworld/docid/49ba27f72.html. Veja também IRIN, Somália: equipa para investigar
Mogadíscio, 7 de Dezembro de 2009, http://www.irinnews.org/Report.aspx?ReportId=87350, descrevendo o bombardeamento
numa cerimonia de graduacao em 3 de Dezembro de 2009, que matou dezenas de pessoas , incluindo três ministros.
106
Ver, por exemplo, a Human Rights Watch, Harsh War, Harsh Peace, 19 de Abril de 2010, 1-56432-621-7,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html.
107
Conselho dos Direitos Humanos da ONU, Relatório de Especialista Independente sobre a Situação dos Direitos Humanos
na Somália, Shamsul Bari, A/HRC/12/44, 17 de setembro de 2009 http://www.unhcr.org/refworld/docid/4acb4abc2.html.
108
Sem fim à vista: O sofrimento contínuo de civis Somalis, 25 de Março, 2010 p.9
http://www.amnesty.org/en/library/asset/AFR52/003/2010/en/6d0c975e-c16e-4974-a9ec-645d9a6aa5f2/afr520032010en.pdf.

18
comunicação e advocacia pelos direitos humanos.109 Devido a ameaças contínuas, as
tentativas de extorsão e intimidação de seus funcionários, o Programa Mundial de
Alimentacao teve de suspender a distribuição de alimentos na maior parte dos regiões do sul
e centro da Somália no início de 2010.110

Face ao exposto, o ACNUR considera que os jornalistas, os actores da sociedade civil e os


trabalhadores humanitários estão em risco com base na sua (imputada) opinião politica, mas
fatores como raça/etnia e religião poderiam também desempenhar um papel relevante em
casos individuais.

d) Os membros das Clãs Minoritárias

A descrição das clãs minoritárias no contexto da Somália é fornecida na secção C do anexo.


A posição de um Somali, face ao sistema da clã da etnia 'dominante' associada com os grupos
de pastoreiros do norte (Samaal) continua a ser o factor determinante principal nas relações
sociais da pessoa, ao seu acesso à justiça e demais direitos civis e políticos.111 O estatuto de
um indivíduo como membro de uma clã minoritária112 pode, portanto, aumentar o seu risco
de maus-tratos.113 No entanto, a disponibilidade de protecção da clã tem também sido
reduzida grandemente para os membros das clãs maioritarias, conforme descrito na secção D.

Os membros das clãs minoritárias no sul e centro da Somália incluem o Ashraf,114 Midgan,
Bantu,115 Bravenese,116 Bajuni,117 Rerhamar, Eyle, Galgala, Tumal, Yibir, Gaboye,118 Hamar
Hindi e Oromos.119 Estas clãs minoritárias são vulneráveis porque não têm capacidade militar
para se defender e geralmente não beneficiam de protecção dos senhores da guerra e milícias
das maiores clãs.120 Eles estão, portanto, expostos a um risco maior de violação, ataque, rapto
e ter seus bens reais e pessoais confiscados num ambiente ilegal do sul e centro da

109
Relatorio Mensal do IASC Protection Cluster, abril de 2009,
http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/Default.aspx. Veja também Human
Rights Watch, Harsh War, Harsh Peace, 19 de Abril de 2010, 1-56432-621-7,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html.
110
Rádio da ONU, a WFP é forcada a suspender as operações na Somália, 05 de Janeiro de 2010,
http://www.unmultimedia.org/radio/english/detail/88510.html.
111
G.Prunier, Somália: guerra civil, intervenção e retirada (1990-1995), Pesquisa Trimestral de Refugiados Vol. 15(1), 1996, p.
36.
112
Ver Anexo: Clãs Somalis, Direito Consuetudinário, Normas e Estruturas Sociais
113
Recurso do Refugiado nºs 76335 e 76364, Autoridade de Recurso de Estatuto de Refugiado de Nova Zelândia, 29 de
Setembro de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4ad4a5c92.html.
114
Salah Sheekh v. Holanda, Conselho da Europa: Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, 11 de Janeiro de 2007,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/45cb3dfd2.html, o Tribunal decidiu que os membros da clã minoritaria tinha sido alvo
porque eles pertenciam a uma minoria e por isso era sabido que eles não tinham meios de protecção.
115
Recurso de Refugiados n º 76062, Autoridade de Recurso de Estatuto de Refugiado de Nova Zelândia, 15 de Outubro de
2007, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4742c1312.html: "A Autoridade conclui que o recorrente, como pessoa de origem
Bantu cujo grupo é filiado a uma clã minoritaria somali, teria pouca capacidade de obter protecção de qualquer discriminação
que poderia encontrar por causa de sua origem Bantu. Esta discriminação tem assumido a forma de assassinatos, tortura,
sequestro e confiscacao de propriedade com impunidade. Embora nenhuma dessas coisas tenham acontecido ao recorrente
no passado, porque deixou a Somália em tenra idade, a prevalência destas violações dos direitos humanos ao longo das
últimas duas décadas é de tal ordem que eles já estão fixos nos alicerces da estrutura em si da clã da sociedade somali."
116
Ver caso MN de orientação nacional (Town Tunnis Regarded as Bravanese) Somália CG [2004] UKIAT 00224, United
Kingdom Immigration Apellate Authority, 16 de Agosto de 2004, http://www.unhcr.org/refworld/docid/46836b140.html.
117
Os Bajuni são uma clã minoritaria. Vivem geralmente em comunidades de pesca nas zonas costeiras do sul de Kismaayo
na Somalia, incluindo as ilhas, tais como Koyama e nordeste do Quênia. Eles não são capazes de oferecer protecção com o
uso de milícias e estão sujeitos a perseguição significativa. Dado o estado sem lei do sul e centro da Somália, os Bajuni
Somalis beneficiarao normalmente do estatuto de protecção ao abrigo da Convenção dos Refugiados. Veja, AA v. Secretário
de Estado para o Departamento Interno, [2009] CSIH 78, Court of Session (Scotland), 12 de Outubro de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4ae1736c2.html.
118
Centro de Documentação de Refugiados (Irlanda), Somália: Informações sobre o tratamento da clã Bajuni na Somália,
Q11219, 13 de Novembro de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b029f96f.html.
119
Autoridade Fronteirica do Reino Unido, Relatorio de informacao do país de origem: Somália, 13 de Novembro de 2009, p94
e 96, http://www.ecoi.net/file_upload/1226_1259238050_somalia-161109.pdf.
120
Veja Anexo.

19
Somália.121 Casamentos de famílias entre membros das clãs minoritárias e clãs maioritárias é
declaradamente restrito. É ainda informado que aqueles que representam as clãs minoritárias,
tais como activistas de direitos humanos, tem sido alvos de ameaças.122

PDIs de clãs minoritárias em todas as partes da Somália enfrentam diariamente abusos tais
como homicídios, agressões físicas, roubo e violações, sem recurso legal, quer através da
justiça oficial ou do sistema jurídico consuetudinário - o resultado é que eles podem sofrer
abusos com impunidade.

Os membros das clãs minoritárias, como Midgan, Tumal e Yibir, que anteriormente residiam
perto ou com as clãs maioritárias, podem ser capazes de solicitar protecção das clãs
maioritárias se existe uma relação histórica.123Contudo, dado que a quebra nos mecanismos
de protecção da clã, devido ao persisitente conflito, resulta em que membros das clãs
maioritárias podem não ser capazes de invocar tal protecção, daí que a situação dos membros
das clãs minoritárias convivendo com clãs maioritárias seja cada vez mais precária.124

O ACNUR considera que os membros das clãs minoritárias no sul e centro da Somália estão
em maior risco devido a sua origem étnica/raça (especialmente as clãs fora da casta).

e) Indivíduos recrutados à força

Há relatos de um número crescente de jovens Somalis do sexo masculino estarem a


abandonar o sul e centro da Somália, devido à possibilidade de serem recrutados à força para
as fileiras dos vários grupos das milícias envolvidas no conflicto.125

O recrutamento forçado, incluindo de crianças, tem sido relatado regularmente.126 O UNICEF


tem documentado o recrutamento e treinamento extensivo de crianças, principalmente por
grupos de oposição armada islâmicos, tais como al-Shabaab e Hizbul Islam, mas também por
TFG ou forças aliadas ao TFG, alguns tão jovens com nove anos de idade.127 Rapazes que
chegam na fronteira com o Quénia têm afirmado que temiam o recrutamento forçado para as
fileiras das milícias Islâmicas como razão da sua fuga.128 O recrutamento, treinamento e
utilização de crianças na luta, tem alegadamente levado os pais a mudar para outras áreas ou
procurar refúgio nos países vizinhos.129

121
Grupo Internacional deDireitos Minoritarios, State of the Worlds Minorities 2008 - Somália, 11 de Marco de 2008,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/48a7ead82.html.
122
Grupo Internacional deDireitos Minoritarios, State of the Worlds Minorities and Indigenous People 2009 - Somália, 16 de
Julho de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a66d9a64b.html.
123
Certas clas são referidas como "castas profissionais" que realizam determinadas tarefas e trabalho em nome das clãs
maioritarias e, portanto, era do interesse das clãs maioritarias proteger os membros dos clãs minoritárias,. Veja MA (Galgale -
Sab Clan) Somália CG [2006] UKIAT 00073, United Kingdom Immigration Apellate Authority, 17 de Julho de 2006,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/467f8d9c2.html.
124
Veja também HH & Others (Mogadíscio: Conflito Armado: Risco) Somália CG [2008] UKAIT 00022, Tribunal de Imigracao e
Asilo do Reino Unido, 28 de janeiro de 2008, http://www.unhcr.org/refworld/docid/47dfd9172.html.
125
IRIN, Somalia: Rapazes fugindo do recrutamento das milícias, 9 de Julho de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a5aff9e1a.html.
126
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, S/2009/132, 09 Março de
2009, p. 18, http://www.unhcr.org/refworld/docid/49ba27f72.html; IASC PMN Monthly Report, Janeiro, Fevereiro de 2009,
http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/default.aspx.
127
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, 20 julho 2009, S/2009/373, p.
11, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a71600b2.html; IASC Protection Cluster Monthly Report, Abril de 2009
http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language / en-US/Default.aspx.
128
IRIN, Somália: Rapazes fugindo do recrutamento das milícias, 9 de Julho de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a5aff9e1a.html. Veja também Refugee Appeal n º 76311, New Zealand Refugee Status
Appeals Authority, 18 de Junho de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a5ddbc22.html.
129
Conselho dos Direitos Humanos da ONU, Relatório de Especialista Independente sobre a Situação dos Direitos Humanos
na Somália, Shamsul Bari, A/HRC/12/44, 17 de setembro de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4acb4abc2.html.

20
Há relatos de que al-Shabaab matou familiares de desertores que não cooperam nos seus
esforços para tentar localizar o desertor.130 Além disso, há relatos de pais, que sairam em
busca de seus filhos recrutados à força, sendo mortos pelas milícias.131

O ACNUR considera que a recusa de indivíduos em aderir ou permanecer nas milícias


islâmicas seria percebida como expressão de opinião político-religioso (oposição a crença
islamica fundamentalista e/ou apoio ao TFG) e portanto, poderia colocá-los em risco.

f) Os membros de Grupos Religiosos Minoritários

A Somália é uma das signatárias do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos
(ICCPR) e, assim, limitada pelas disposições relativas à liberdade de religião, tal como
estipulado no artigo 18. O artigo 14 da Carta Federal de Transição Somali estabelece ainda
que a Somália irá reconhecer e executar todas as convenções e tratados dos quais é Parte.132
O artigo 15 estabelece que todos os somalis são iguais perante a lei, sem distinção de raça,
nascimento, língua, religião, sexo ou afiliação política.133 No entanto, o artigo 8 da Carta de
Transição da Somália parece estar em conflito com outras das suas disposições e outros
artigos pertinentes do ICCPR que lida com a liberdade de religião, uma vez que prevê que o
islamismo é a religião oficial na Somália e Sharia é uma fonte de direito nacional.

Além disso, o Artigo 71(2) da Carta estipula que a Constituição da Somália e demais
legislação nacional devem aplicar-se "em respeito a todas as matérias não abrangidas e que
não sejam inconsistentes com a presente Carta".134 Artigo 29 da Constituição da Somália
afirma: "Todas as pessoas têm o direito à liberdade de consciência e de professar livremente a
própria religião e de prestar culto, sujeito a quaisquer limitações que podem ser prescritas por
lei, a fim de salvaguardar a moral, a saúde pública, [e] ordem".

Em 10 de maio de 2009, o TFG passou a legislação para implementar a lei Shari’a em todo o
país. Porém, na prática, o TFG não têm capacidade ou mecanismos para fazer cumprir a
legislação de modo uniforme em toda Somália.135 O poder judiciário, na maioria das regiões
adere a uma combinação de Shari'a, tradicional e lei consuetudinária (xeer), e do código penal
do governo de Siad Barre pre-1991.136

Ao longo dos últimos anos, uma série de ameaças foram feitas por grupos radicais islâmicos
na Somália contra Cristãos Somalis e, especialmente, os Somalis que se converteram do Islão
para o Cristianismo.137 Embora, em muitos casos, a afiliação religiosa seja o principal factor
para os maus-tratos,138 a opinião política é cada vez mais ligada à afiliação religiosa.

130
Human Rights Watch, Harsh War, Harsh Peace, 19 de Abril de 2010, 1-56432-621-7,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html.
131
Idem.
132
Artigo 14 da Carta de Transição da Somália, nota de rodape nr. 20.
133
Artigo 15 da Carta de Transição da Somália, nota de rodape nr. 20.
134
Secretaria de Estado dos EU, Relatório sobre Liberdade Religiosa Internacional de 2009 - Somália, 26 de Outubro de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4ae8610ac.html.
135
Idem.
136
Idem.
137
Militant Islam Monitor, os islamistas somalis declaram: "nós vamos abater os cristãos" - "Somalis são 100% muçulmanos e
vao permanecer assim para sempre", 17 de outubro de 2006, http://www.militantislammonitor.org/article/id/2474.
138
Veja ACNUR,Directrizes sobre Protecção Internacional N º 6: Religion-Based Refugee Claims no âmbito do artigo 1A(2) da
Convenção de 1951 e/ou do Protocolo de 1967 relativo ao Estatuto dos Refugiados, HCR/GIP/04/06, 28 de Abril 2004,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4090f9794.html.

21
Cristãos e Somalis que se converteram ao Cristianismo no sul e centro da Somália são
susceptíveis de serem submetidos a maus-tratos nas mãos de grupos insurgentes islâmicos.
Há relatos de assassinatos de tais pessoas, incluindo decapitações139 e tiroteios, pelos
militantes de al-Shabaab.140 Os insurgentes islâmicos não parecem fazer distinção entre
apóstatas ou cristãos por toda a vida, já que ambos parecem ser mortos como punição por não
ser muçulmano.141

Nas áreas controladas por grupos insurgentes islâmicos, tais grupos têm alegadamente
encerrado sistematicamente cinemas, queimado quiosques de venda de narcóticos, raspado a
cabeça de pessoas usando cortes ocidentais, ordenado que as mulheres estejam totalmente
cobertas de veu, instituído a proibição total do tabaco e música, banido estritamente o
comportamento que considera não-islâmico, destruído igrejas, executado pessoas
consideradas de ter cometido adultério e assassinado Sufis e clerigos proeminentes.142 Estes
actos não parecem ser, de acordo com as informação disponível, perpetrada apenas contra as
minorias religiosas, mas também contra os muçulmanos que violam as noções percebidas
pelos grupos insurgentes islâmicos de comportamento islâmico aceitável.

O ACNUR considera indivíduos não-muçulmanos ou aqueles que se tenham convertido do


islamismo para o cristianismo em risco por conta de sua religião. Muçulmanos Somalis que
residem em áreas controladas por grupos islâmicos estão em risco se eles estão envolvidos
em actividades proibidas por tais grupos.

g) Mulheres e Raparigas
As mulheres continuam a enfrentar discriminação e maus-tratos no sul e centro da Somália.143
Punição de mulheres por não-conformidade com os decretos de al-Shabaab, por exemplo, por
usar o hijab em Jowhar, Bayhdaba e Kismaayo, tornaram-se particularmente acentuadas no
final de 2008 e 2009, conforme supra-mencionado na secção (b). As organizações de

139
International Christian Concern, extremistas islâmicos decapitaram quatro trabalhadoresde orfanato Cristão na Somália, 11
de agosto de 2009, http://www.persecution.org/suffering/newsdetail.php?newscode=10638.
140
Compass Direct, convert from islam dead, 20 de julho de 2009,
http://www.compassdirect.org/english/country/somalia/4496/. Veja também As vozes dos Mártires, Sete cristãos decapitados,
10 de julho de 2009, http://www.persecution.net/so-2009-07-15.htm; AGI, Al Qaeda ligado a Shabaab decpits sete cristãos, 10
de julho de 2009 , http://www.agi.it/english-version/world/elenco-notizie/200907101221-cro-ren0027-
somalia_al_qaeda_linked_shabaab_beheads_7_cristãos, cf. Reuters, extremistas islâmicos somalis decapitam sete pessoas,
10 de julho de 2009, http://www.reuters.com/article/latestCrisis/idUSLA469466, alegando que algumas eram cristãs, mas
outros foram acusados de espionagem a favor de TFG.
141
International Christian Concern, extremistas islâmicos decapitam quatro trabalhadores de orfanato cristão na Somália, 11
de agosto de 2009, http://www.persecution.org/suffering/newsdetail.php?newscode=10638. Veja também Compact Direct,
Muslim Militants Slay Long-Time Christian in Somalia, 18 de setembro de 2009,
http://www.compassdirect.org/english/country/somalia/9494/. Um homem idoso,de 69 anos, teria sido baleado e morto por
militantes leais a Al Shabaab em 15 de setembro de 2009 num posto de controle em Merka, depois que foi descoberto com 25
Bíblias somalis. Veja também Compass Direct, Cristão Somali morto a tiros perto de fronteira do Quênia, 22 de agosto de
2009, http://www.compassdirect.org/english/country/somalia/4893/.
142
Secretaria de Estado dos EU, Relatório de 2009 sobre Liberdade Religiosa Internacional - Somália, 26 de Outubro de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4ae8610ac.html.
143
Ver Recurso de Refugiados nºs 76335 e 76364, New Zeland Status Appeals Authority, Setembro de 2009, paras. 63 e 29,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4ad4a5c92.html, onde a Autoridade considera que:
"A prevalência da violência de gênero contra as mulheres na Somália, juntamente com a falta de protecção dada as mulheres
e da imposição em ………. de sanções Sharia severas contra mulheres criar circunstâncias em que as mulheres podem ser
correctamente consideradas um determinado grupo social". Veja também HM (Mulheres Somalis – Grupo Social Particular)
Somalia [2005] UKIAT 00040, Tribunal de Imigracao e Asilo do Reino Unido, 26 de janeiro de 2005,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/42c949ca4.html: " Mulheres na Somália formam PSG nao só porque são mulheres, mas
porque elas são amplamente discriminadas. Segundo, as medidas de discriminação das quais as mulheres na Somália estão
expostas incluem discriminacao legislativa, judiciária e da polícia ou de milícias na forma como as mulheres podem obter e
sofrem em busca de protecção das autoridades baseadas na clã (regionalizada ou local). Em terceiro lugar, os ferimentos
graves que enfrentam dos homens surgem no contexto da capacidade muito limitada por essas autoridades para protegê-los.
Finalmente, as medidas de discriminação que enfrentam são extensas, intensas e persistentes ".

22
mulheres também foram encerradas por al-Shabaab, na tentativa de impedir que as mulheres
trabalhem.144

A violência sexual e baseada no género (SGBV) é reportada como generalizada para a


população em geral, em termos de casamento precoce e forçado, violência doméstica e
mutilação genital feminina, e para as mulheres deslocadas, que para além disso, podem ter
sido vítimas de estupro regularmente, especialmente se forem membros de uma clã
minoritária. Como com a maior parte da violência baseada no género, os números exatos são
difíceis de obter, em parte devido à insipiente quantidade de notificações.145 Em Bossaso,
vários exemplos de casamentos forçados foram relatados na comunidade PDIs de mulheres e
raparigas desacompanhadas que tinham ficado com famílias sem parentesco.146 Mulheres
deslocadas internamente (PDI) em Bossaso e Bayhdaba relataram que tinham sido forçadas a
prostituir-se quer, no caso das mulheres acompanhadas, pelas famílias com as quais ficavam,
quer, no caso das mulheres casadas, por seus maridos para pagar dívidas para khat147 ou
outras propostas.148 Casos de estupro ainda são reportados regularmente embora alguns
parceiros da Rede de Monitoria e Protecção têm declarado que, em áreas controladas por al-
Shabaab, o medo da punição reduziu o número de estupros cometidos contra as clãs
minoritárias de PDI.149

A mutilação genital feminina (MGF) é amplamente praticada, 98% das mulheres com idade
entre 15 e 49 anos foram circuncidadas, com 78% tendo experimentado a forma extrema da
MGF. A MGF aumenta a incidência de hemorragia, trabalho de parto prolongado e obstruído,
infecções e eclampsia, que contribue para a morte materna. Além de cuidados de saúde
pobres, esta é a razão porque as mulheres Somalis continuam entre os grupos de risco mais
elevado do mundo para mortalidade materna. Somente um terço dos partos são atendidos por
técnicos de saúde.150

As mulheres enfrentam desigualdades e discriminação frente aos homens na sociedade somali


tanto na esfera do sector público como na privada.151 Sob o direito consuetudinário (xeer) e as
práticas comuns, as mulheres não são incluídas ou consultadas sobre as decisões tomadas
pela clã. Uma série de práticas xeer são claramente problemática a partir de uma perspectiva
dos direitos humanos. Dumaal, onde uma viúva é feita para casar com um parente de seu
falecido marido, acontece numa base voluntária, embora podem também ser forçadas.152 As
mulheres violadas também podem ser forçadas a casar com o criminoso - baseado na idéia de
que é mais importante para proteger a honra da clã e das mulheres e para recuperar o dote da

144
ReliefWeb, rebeldes Somalis fecham organizações de mulheres, 02 de novembro de 2009,
http://www.reliefweb.int/rw/rwb.nsf/db900SID/VVOS-7XEQ9V?OpenDocument&RSS20=02-P.
145
ACNUR, Avaliação Participativa do ACNUR, Gaalkacyo, fevereiro a março de 2007, (não publicado on-line, disponível a
partir do ACNUR na Somália). Veja também exemplos de de casos SGBV relatados em IASC Protection Cluster Monthly
Reports, janeiro a junho de 2009, http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-
US/Default.aspx.
146
IASC Somália PMN, 7 de dezembro de 2007, http://ochaonline.un.org/OchaLinkClick.aspx?link=ocha&docId=1096476.
147
Folha suavemente narcótica mas viciante, mastigada em toda a Somália, principalmente pelos homens.
148
IASC Somália PMN, 23 de novembro de 2007, http://ochaonline.un.org/OchaLinkClick.aspx?link=ocha&docId=1096433;
Bay Women's Development Network, Avaliação Participativa em Campos PDI, Bayhdaba, Dezembro de 2008 (ainda não
publicado online, disponível a partir do ACNUR na Somália).
149
IASC Protection Cluster Monthly Reports, março, abril, maio de 2009
http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/Default.aspx.
150
Todos os números a partir deste ponto são tomados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Multiple
Indicator Cluster Survey (MICS), 2006, http://www.childinfo.org/files/Nationallaunch_Presentation_MICS2006.ppt
151
Banco Mundial/Nações Unidas, Avaliacao das necessidades Conjunta Somali: Serviços Sociais e protecção de grupos
vulneráveis, agosto de 2006, pp. 81-82, http://www.somali-
jna.org/index.cfm?module=ActiveWeb&page=WebPage&s=social_services.
152
Joakim Gundel, The Predicament of the "Oday': O papel das estruturas tradicionais em Segurança, Direitos,Legalidade e
Desenvolvimento na Somália, Conselho Dinamarquês para os Refugiados/Oxfam Novib, Novembro de 2006, pp. 55-56,
http://siteresources.worldbank.org/INTJUSFORPOOR/Recursos/ThePredicamentoftheOday.doc.

23
clã do atacante, que de outra forma seria difícil adquirir. Às mulheres são tradicionalmente
negado o direito de herança de propriedade, especialmente se isso significar a transferência
da propriedade do marido para fora da sua clã, e está ligada à prática de herança da viúva de
um irmão do falecido marido (dumaal).153

Há uma prevalência da violência sexual e de gênero perpetrada contra as mulheres e a falta de


protecção concedida as mulheres, agravada pela imposição da lei Sharia rigorosa na maior
parte do sul e do centro da Somália.

O ACNUR considera que muitas mulheres Somalis, com os perfis específicos acima
mencionados e provenientes do sul e centro da Somália estão em risco em razão da sua
pertença a um grupo social particular.154

h) Crianças155  

Muitas crianças continuam em risco na Somália, devido a uma série de factores. A violência
contra crianças, incluindo prostituição infantil, é um problema grave, embora não existam
estatísticas disponíveis. As crianças estão entre as principais vítimas da permanente violência
social na Somália.156

Membros de várias milícias que operam na Somália são acusados de estuprar crianças
durante os confrontos e na fuga que se segue. Todas as partes do conflito têm supostamente
recrutado e crianças exploradas como soldados.157

Existe também um relatório de crianças sendo feitas reféns por fazendeiros num campo de
PDIs em Galkacyo até que seus tutores sejam capazes de pagar o aluguer para sua cabana
para garantir sua liberdade.158

Vários ataques têm sido registados contra alunos na Somália. As escolas têm sido atacadas
pelas forças TNG / ENDF e grupos insurgentes islâmicos, resultando em desastres.159

Desde 2007, tem havido relatos consistentes de crianças mortas e feridas como consequência
das lutas.160 Todas as partes do conflito têm usado crianças combatentes, e isso tem
aumentado o risco de crianças serem atacadas no pressuposto de que elas representam uma
ameaça.161 Forças insurgentes estiveram particularmente activas no recrutamento de crianças

153
Joakim Gundel, The Predicament of the "Oday': O papel das estruturas tradicionais em Segurança, Direitos,Legalidade e
Desenvolvimento na Somália, Conselho Dinamarquês para os Refugiados/Oxfam Novib, Novembro de 2006, pp. 55-56,
http://siteresources.worldbank.org/INTJUSFORPOOR/Recursos/ThePredicamentoftheOday.doc.
154
ACNUR, Directrizes sobre a Protecção Internacional No. 2: Inscricao de um grupo social particular, Maio de 2002,
http://www.unhcr.org/cgi-bin/texis/vtx/refworld/rwmain?page=search&docid=3d36f23f4&amp.skip=0&amp.query=Guidelines%
20on%20particular%20social%20group.
155
Consulte a seção anterior para avaliação das reivindicações FGM.
156
Departamento de Estado dos Estados Unidos, Relatórios Nacionais de 2009 sobre Práticas de Direitos Humanos - Somalia,
11 de Marco de 2010, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b9e52bdc.html.
157
Idem.
158
ReliefWeb, Rapist, Huger e Hyenas stalk displaced Somali women, em 23 de Outubro de 2009,
http://www.reliefweb.int/rw/rwb.nsf/db900SID/SNAA-7X48NJ?OpenDocument&RSS20=02-P
159
Departamento de Estado dos Estados Unidos, Relatórios Nacionais de 2009 sobre Práticas de Direitos Humanos - Somália,
11 de Marco de 2010, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b9e52bdc.html .
160
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Secretário-Geral sobre crianças e conflito armado na Somália, S/2008/352,
30 de maio de 2008, p. 1, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4850fe4e2.html; Conselho de Segurança da ONU, Relatório do
Secretário-Geral sobre a situação na Somália, S/2009/132, 09 de março de 2009, p. 3,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/49ba27f72.html.
161
Isso inclui ataques a escolas pelas forcas de seguranca do TFG de segurança e, no final de junho de 2008, pelo SPF e
atirando em crianças jogando futebol perto de posto da polícia em julho de 2008; ver IASC Somália PMN, 4 de Julho de 2008,
http://ochaonline.un.org/OchaLinkClick.aspx?link=ocha&docId=1091913.

24
para as suas milícias, especialmente desde o segundo semestre de 2008 e cada vez mais em
2009 - uma campanha, acompanhada muitas vezes de intimidação aos pais e às escolas.162

Pedidos de asilo apresentados por crianças precisam ser cuidadosamente avaliados contra os
antecedentes supracitados e à luz das Directrizes do ACNUR sobre Pedidos de Asilo de
Crianças.163

i) Lésbicas, Gays, Bissexuais e Indivíduos Transgêneros


(LGBT)

A relação sexual com uma pessoa do mesmo sexo está prevista como crime nos termos do
artigo 409 do Código Penal Somali com pena consistindo de prisão variando de três meses a
três anos. O Código Penal ainda estipula, que qualquer "ato de luxúria"outro senão a relação
sexual, é punido com pena de prisão de dois meses a dois anos. O TFG é incapaz de aplicar o
código penal no sul e centro da Somália dada a sua incapacidade para exercer sua autoridade
no território fora das áreas de Mogadíscio. Entretanto, na maioria das áreas do sul e centro da
Somália, a lei Shari'a impõe a morte ou flagelação, como pena por "conduta homossexual".
Têm sido relatados casos tanto de homens como de mulheres executados por "conduta
homossexual".164

O ACNUR considera que as pessoas LGBT do Sul e Centro da Somália estão em risco em
função da sua associação a um determinado grupo social, por exemplo, sua orientação
sexual,165 uma vez que que estes não estão, ou não são percebidos como, agindo em
conformidade com as normas sociais e culturais legais vigentes.166

j) Indivíduos Pertencentes a Clãs Envolvidos em Contenda de


Sangue
A contenda de sangue envolve membros de uma família matando membros de outra família
em atos de vingança retaliatórias que são realizadas de acordo com um antigo código de
honra e de comportamento.

162
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, S/2009/132, 09 março de
2009, p.18, http://www.unhcr.org/refworld/docid/49ba27f72.html. Ver também Conselho de Seguranca da ONU, Relatório do
Secretário-Geral sobre a Somália nos termos da Resolução 1872 (2009) do Conselho de Seguranca, S/2009/503, 2 de outubro
de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4acddae92.html.
163
Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, Directrizes sobre a Protecção Internacional N º 8: Exigencias de Infantarios
em relação aos artigos 1(A)2 e 1F da Convenção de 1951 e/ou do Protocolo de 1967 acerca do Estatuto dos Refugiados, 22
de dezembro de 2009, HCR/GIP/09/08, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b2f4f6d2.html.
164
Ministerio do Interior do Reino Unido, país de origem do Relatorio de Informação - Somália, 12 de novembro de 2007. para.
21.01, http://www.unhcr.org/refworld/docid/473c0c162.html.
165
Ver ACNUR, Nota orientadora sobre as Exigencias dos Refugiados relativas à Orientação Sexual e Identidade de Gênero,
21 de Novembro de 2008, http://www.unhcr.org/refworld/docid/48abd5660.html, Alto Comissariado da ONU para os
Refugiados, Directrizes sobre Protecção Internacional nr. 2: "A adesão a um grupo social específico" no contexto do artigo
1A(2) da Convenção de 1951 e/ou seu Protocolo de 1967 relativo ao Estatuto dos Refugiados, 7 de maio de 2002,
HCR/GIP/02/02, http://www.unhcr.org/refworld/docid/3d36f23f4.html. Muitos países têm reconhecido que os homossexuais
possam constituir um "grupo social especifico". Veja, por exemplo, a Matéria de Toboso-Alfonso, 20 de I & N. Dec 819,
Câmara de Peticoes de Imigração dos EU, 12 de Março de 1990, http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6b6b84.html; Re GJ,
Peticao dos Refugiados n º 1312/93, Autoridade das Peticoes de Estatuto de Refugiado da Nova Zelândia, 30 de agosto de
1995, http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6b6938.html; Apelante S395/2002 v. Ministro dos Negocios Estrangeiros e de
Imigração, S396/2002 v. Ministro dos Negocios Estrangeiros e Imigração [2003] HCA 71, Tribunal da Austrália, 9 de dezembro
de 2003, http://www.unhcr.org/refworld/docid/3fd9eca84.html.
166
ACNUR, Nota orientadora sobre as Exigencias dos Refugiados Relativas a Orientacao Sexual e Identidade de Genero, ver
supra nota 165, parág. 7. Ver também ACNUR, Directrizes sobre a Proteccao Internacional No. 1:Perseguicoes Relacionadas
com Genero, ver supra nota 165, parag. 6-7, e ACNUR, Conselho Consultivo do ACNUR para a Associação de Advogados de
Tokyo concernentes as Exigencias dos Refugiados relativas a Orientacao Sexual, 3 de setembro de 2004. Parag. 3,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4551c0d04.html.

25
Mulheres e homens podem estar em risco de se tornarem vítimas de uma contenda de sangue
na Somália se pertencerem a uma clã envolvida em tais mecanismos de vingança coletiva.167
As contendas de sangue são normalmente o resultado de conflitos entre clãs adversárias e
continuam comuns no sul e centro da Somália, Puntland e Somaliland. É importante
identificar cuidadosamente o grupo em causa nestes casos, os quais normalmente requerem a
identificação da clã mais baixa de vingança colectiva.168

O ACNUR considera que contendas de sangue podem constituir uma perseguição uma vez
que implicam uma violação do direito à vida, que inclui o direito de não ser privado
arbitrariamente da vida e o direito à liberdade de tortura.169 Ao determinar o risco e se está
vinculado a um terreno da Convenção de 1951, a natureza da contenda de sangue, as
experiências de outros membros da família ou da clã envolvidos na disputa (por exemplo, se
algun membro da família ter sido morto ou ferido pela família ou clã adversária), e o contexto
cultural precisa ser tomado em consideração.

k) Vítimas de Tráfico
Avaliações feitas pela Organização Internacional para Migração (OIM) indicaram a
existência de tráfico humano interno generalizado de mulheres e crianças Somalis que são
atraídas para a prostituição forçada em algumas áreas da Somália.170 Mulheres e crianças
Somalis são também alegadamente traficadas para destinos no Oriente Médio, incluindo o
Iraque, Líbano e Síria, assim como para África do Sul, para trabalho doméstico e, em menor
medida, para exploração sexual. Mulheres refugiadas Somalis residindo no Iêmen, são
alegadamente traficadas por homens Somalis para a prostituição nos prostíbulos de Aden e
Lahj. Alguns na diáspora somali alegadamente utilizam ofertas falsas de casamento para
seduzir as vítimas inocentes, alguns dos quais são, alegadamente, parentes, para a exploração
sexual na Europa.171 Homens Somalis são supostamente traficadas para exploração laboral
como pastoreiros e trabalhadores domésticos nos Estados do Golfo.172

O ACNUR considera que os Somalis vítimas de tráfico, e em particular as mulheres e


crianças, podem estar em risco em razão da sua pertença a um grupo social particular.173

167
ACNUR, posição do ACNUR em relação as exigências pelo estatuto dos refugiados nos termos da Convenção de 1951
relativa ao Estatuto dos Refugiados Baseado no Temor da Perseguição devido a Adesão Individual de uma Família ou Clã
Envolvido numa Disputa de Sangue, 17 de Marco de 2006, http://www.unhcr.org/refworld/docid/44201a574.html.
168
Ver Anexo
169
Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, Posição do ACNUR sobre Exigências de Estatuto de Refugiados nos
termos da Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos Refugiados Baseado no Temor da Perseguição devido a Adesão
Individual de uma Família ou Clã Envolvidos numa Disputa de Sangue, 17 de Março de 2006,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/44201a574.html.
170
UNOCHA, Somália: Aumento de Tráfico de Seres Humanos, 12 de Abril de 2010,
http://www.irinnews.org/report.aspx?ReportID=88668
171
Secretaria de Estado dos EU, Relatório de Tráfico de Pessoas 2008 - Casos Especiais – Somália, 4 de junho de 2008,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/484f9a4f2d.html , 4 de Junho de 2008.
172
Ibid
173
ACNUR, Directrizes Sobre a Protecção Internacional no. 7, Aplicação do Artigo 1A(2) da Convenção de 1951 e/ou do
Protocolo de 1967 relativo ao Estatuto dos Refugiados às Vítimas do Tráfico de Pessoas e de Pessoas em Risco de Serem
Traficadas, abril de 2006, http://www.unhcr.org/cgi-
bin/texis/vtx/refworld/rwmain?page=search&amp.docid=443679fa4&amp.skip=0&query=Guidelines%20on%20trafficking. Veja
também Directiva de Qualificação da UE, Artigo 9(2), que afirma que os atos de perseguição podem, nomeadamente, assumir
a forma de “(a) actos de violência física ou mental, incluindo actos de violência sexual".. e “(f) actos de natureza genero-
especificos e infanto-especificos." O Artigo 9(3) prevê ainda que questões ‘relacionadas com género poderiam ser
consideradas’ em relação a um determinado grupo social.

26
2. Puntland 
a) Individuos Percebidos como Críticos ou Opositores das
Autoridades de Puntland, Incluindo Jornalistas e Membros de
Grupos Islâmicos
Existem alguns relatos de ataques contra jornalistas em Puntland, mais recentemente, em
Julho de 2009.174 Alguns relatos afirmam que os jornalistas que cobrem as ligações entre as
autoridades e os envolvidos na pirataria são escolhidos para maus tratos175, assim como são
os jornalistas a comentar sobre a situação política em Puntland.176 Além disso, jornalistas
reportando ou analisando conflitos e facções das clãs também podem ser alvo de várias clãs
em Puntland.177

Membros de grupos islâmicos têm supostamente sido alvejados na sequência dos atentados
suicidas em Hargeysa Bosaso no final de 2008. Militantes islâmicos suspeitos com alegadas
ligações à Al-Shabaab foram presos, detidos e mortos.178

O ACNUR considera que os jornalistas em Puntland envolvidos em reportagens que sejam


críticas das autoridades, da situação política ou facções de clã ou estão em risco devido à sua
percepção ou opinião política real. Membros ou membros suspeitos de grupos islâmicos,
submetidos a uma avaliação de possibilidade exclusão, podem igualmente estar em risco se
forem suspeitos de envolvimento em atividades anti-governamentais.

b) Indivíduos percebidos como adversários dos islâmicos


Foi relatado que grupos insurgentes islâmicos iniciaram actividades em Puntland e vários
incidentes violentos foram registados, incluindo vários envolvendo assassinatos de Oficiais
de Puntland.179

O ACNUR é da opinião que, devido à escassa informação disponível, a extensão e perfil das
pessoas em risco sob este grupo de requerentes não pode ser determinadamente estabelecida.
O ACNUR recomenda que seja conduzida uma análise aprofundada de todas essas petições à
luz da situação de deterioração global em Puntland.

174
Comite para a proteccao de Jornalistas, jornalista espancado no Tribunal Puntland, 17 de julho de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a840beb23.html.
175
Ibid. Veja também Comite para a proteccao de jornalistas, quatro jornalistas sequestrados em Puntland, 26 de Novembro
de 2008, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4947cb2728.html.
176
Repórteres sem Fronteiras, jornalista freelance fica detido durante dois anos na prisão de Puntland por difamacao, 31 de
março de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/49dafc915.html. Veja também Secretaria de Estado dos Estados Unidos,
Relatorios Nacionais de 2009 sobre Práticas de Direitos Humanos - Somália, 11 de marco de 2010,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b9e52bdc.html de Março de 2010.
177
Comite para a proteccao de jornalistas, Diretor de Rádio esfaqueado, segundo jornalista a ser atacado em 4 dias, 9 de
fevereiro de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/49b7be61c.html.
178
Grupo de Crise Internacional (ICG), Somália: Inquietacao em Puntland, 12 de Agosto de 2009, Africa Briefing N ° 64,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a829a072.html. Veja também VOA News, Pregadores Muçulmanos Mortos em Puntland
de Somália, 12 de agosto de 2009, http://www1.voanews.com/english/news/a-13-2009-08-12-voa50-
68806002.html?rss=human+Direitos+e+lei. Veja também VOA News, O temor das revoltas aumenta sobre os insurgentes na
Somalia ameacando Puntland, 22 de janeiro de 2010, http://www1.voanews.com/english/news/africa/Fears-Increase-over-
Insurgents-in-Somalia-Threatening-Puntland-82401292.html
179
VOA, Grupo Terrorista Somali Suspeito de Assassinar Juiz de Puntland, 13 de novembro de 2009,
http://www1.voanews.com/english/news/LCRRyu-PuntlandAlShabab-69960072.html. O juiz era conhecido por executar
vigorosas sentencas contra os membros da Al-Shabab, traficantes de humanos e piratas. Ver também Conselho de Seguranca
da ONU, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, 31de dezembro de 2009 S/2009/684,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b66f4e10.html. Veja também Secretaria de Estado dos Estados Unidos, Relatorios
Nacionais sobre Práticas de Direitos Humanos 2009 - Somália, 11 de marco de 2010,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b9e52bdc.html

27
c) Membros de Grupos Religiosos Minoritários
A Constituição de Puntland garante a cada pessoa a liberdade de culto, mas também afirma
que os Muçulmanos não podem renunciar à sua religião, proibindo explicitamente a
apostasia.180 O Artigo 8 da Constituição proíbe a promoção de qualquer outra religião que
não seja o Islão.181 O Artigo 12 determina que os não-muçulmanos são livres para praticarem
a sua religião e não podem ser forçados a converter-se ao Islão. As forças de segurança de
Puntland supostamente acompanham de perto as actividades religiosas.182

Houve relatos de cristãos alvejados em Puntland, incluindo mulheres que não usavam o
véu.183

O ACNUR considera que os Cristãos de Puntland envolvidos em atividades que são vistas
como sendo contrárias às normas islâmicas podem estar em risco por conta de sua religião. 

d) Indivíduos Pertencentes a um Clã Envolvido em Contenda


de Sangue
No dia 5 de agosto de 2009, o Ministro da Informação foi assassinado por pistoleiros
desconhecidos em Galkacyo, a cidade de comércio que liga Puntland as regiões sul e central.
O ministro foi nomeado pelo Presidente de Puntland para facilitar as conversações entre as
partes interessadas e outras figuras de lideranca da região Mudug tendo em vista a formação
da administração regional. De acordo com relatos da região, o assassinato foi um crime de
vinganca dos sub-clãs e não uma morte politicamente motivada.184Como mencionado
anteriormente, contendas de sangue são comuns em todas as partes da Somália.

O ACNUR considera que contendas de sangue podem constituir perseguição uma vez que
elas implicam a violação do direito à vida, que inclui o direito de alguém não ser
arbitrariamente privado da vida e do direito da liberdade de tortura.185 Ao determinar o risco e
se ela está ligada ao campo da Convenção de 1951, têm de se ter em conta a natureza da
contenda de sangue, as experiências de outros membros da família ou clã envolvidos na
disputa (por exemplo, se qualquer membro da família tenha sido morto ou ferido pela família
ou clã adversária), e o contexto cultural.

e) Mulheres e Raparigas
A mutilação genital feminina é quase universalmente predominante na Somália, incluindo em
Puntland.186 SGBV é declaradamente comum nos campos de PDIs em Puntland.187

180
Constituição de Transição do Governo Regional de Puntland [Somália], 1 de julho de 2001,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bc589e92.html de Julho de 2001.
181
Ibid
182
Secretaria de Estado dos EU, Relatório sobre Liberdade Religiosa Internacional 2009- Somália, 26 de Outubro de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4ae8610ac.html .
183
Circulo Directo, Cristao na Somália que recusou usar o véu foi morta, 27 de Outubro de 2009,
http://www.compassdirect.org/english/country/somalia/11061/
184
Conselho dos Direitos Humanos da ONU, Relatório do perito independente sobre a Situação dos Direitos Humanos na
Somália, Shamsul Bari, A/HRC/12/44, 17 de setembro de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4acb4abc2.html.
185
Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, Posição do ACNUR sobre as exigencias de estatuto de refugiado sob a
Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos Refugiados Baseado no Temor a perseguição devido a Adesão Individual de
uma Familia ou Clã Envolvido em Disputa de Sangue, 17 de Março de 2006,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/44201a574.html
186
Conselho dos Direitos Humanos da ONU, Relatório do perito independente sobre a Situação dos Direitos Humanos na
Somália, Shamsul Bari, A/HRC/12/44, 17 de setembro de 2009 http://www.unhcr.org/refworld/docid/4acb4abc2.html.
187
IRIN, Somália: Ao invés de um refúgio seguro, medo e estupro em Galkacyo, 23 de setembro de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4abb2d9d1a.html.

28
O ACNUR considera que mulheres de Puntland, com perfis específicos supra mencionados,
podem estar em risco, em razão da sua pertença a um particular grupo social.188

f) Pessoas LGBT
O Artigo 409 do código penal da Somália (que proíbe e criminaliza a "conduta
homossexual") é aplicado em Puntland. Como o assunto sobre a orientação sexual é
considerado tabu em toda a Somália, incluindo Puntland e Somaliland, existe pouca
informação disponível sobre o abuso e maus-tratos de pessoas LGBT.

No entanto, o ACNUR considera que as pessoas LGBT de Puntland estão em risco em


virtude de pertencerem a um determinado grupo social, ou seja, sua orientação sexual,189 se
estes nao se adaptam ou sejam vistos como não adaptando a dominantes normas sociais e
culturais legais.190

3. Somaliland  

Embora as violações dos direitos humanos na Somaliland não sejam nem sistemáticos nem
difundidos, existem problemas bem confirmados com os serviços administrativos, policiais e
judiciais do território.

As violações mais comuns incluem detenções sem mandado e detenção sem julgamento dos
críticos do governo, activistas de direitos humanos e jornalistas. O domínio do sistema xeer
significa que os estrangeiros, bem como os membros dos clãs que não sejam originários de
Somaliland, não têm acesso efectivo à justiça através de mecanismos habituais, deixando-os
vulneráveis a abusos. Nesse contexto, são reportados vários incidentes de violações, assaltos,
maus tratos físicos e perseguições a partir dos campos PDIs em Hargeysa.

a) Indivíduos Vistos como Críticos e Adversarios das


Autoridades de Somaliland
Desde outubro de 2008, quando um ataque suicida alvejou o complexo presidencial em
Hargeysa, foram realizadas prisões e detenções cada vez mais fora do processo judicial
normal. Os Comitês de Segurança que operam fora do quadro constitucional, alegadamente
responsáveis pelas prisões e detenções de mais de 25% de todos os presos em Somaliland.191
Há relatórios sobre presos que foram detidos sem acusação por períodos acima de três anos.

188
ACNUR, Directrizes sobre a Protecção Internacional No. 2: a adesao de um grupo social particular, Maio de 2002,
http://www.unhcr.org/cgi-
bin/texis/vtx/refworld/rwmain?page=search&docid=3d36f23f4&skip=0&amp.query=Guidelines%20on%20particular%
20social%20group
189
Ver ACNUR, Nota de Orientação do ACNUR sobre as Exigencias dos Refugiados relativas à Orientação Sexual e
Identidade de Gênero, 21 de novembro de 2008, http://www.unhcr.org/refworld/docid/48abd5660.html; ACNUR, Directrizes
sobre a Protecção Internacional n º 2: Adesão de um Grupo Social Particular, na supra nota de 2007. Muitas jurisdicoes têm
reconhecido que os homossexuais podem constituir um "grupo social". Veja, por exemplo, a Matéria de Toboso-Alfonso, 20
I&N. Dec 819, Câmara de Peticoes de Imigração dos EU, 12 de Março de 1990,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6b6b84.html; Re GJ, Peticao dos Refugiados n º 1312/93, Autoridade das Peticoes de
Estatuto dos Refugiados da Nova Zelândia, 30 de agosto de 1995, http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6b6938.html;
Apelante S395/2002 v. Ministro para os Negocios Estrangeiros e Imigração, S396/2002 v. Ministro para os Negocios
Estrangeiros e Imigração [2003] HCA 71, Tribunal Supremo da Australia, 9 de dezembro de 2003,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/3fd9eca84.html.
190
ACNUR, Nota de Orientação sobre Peticoes de Refugiados relativos à Orientação Sexual e Identidade de Gênero, ver
supra nota 165, parág. 7. Veja também ACNUR, Directrizes sobre Protecção Internacional No. 1: Perseguicao relacionada com
o género, ver supra nota 165, par. 6-7, e ACNUR, Parecer Consultivo do ACNUR para Associacao de Advogados de Tokyo
Concernente a Peticoes de Refugiados baseadas na orientação sexual, 3 de setembro de 2004. p. 3,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4551c0d04.html.
191
Amnistia Internacional, Desafios de Direitos Humanos: Somaliland enfrentando Eleições, 17 de março de 2009
http://www.unhcr.org/refworld/docid/49c897d42.html.

29
A liberdade de expressão e de imprensa são garantidas pela Constituicao de Somalilândia.192
No entanto, alguns casos de prisões e espancamento193 de jornalistas percebidos como sendo
críticos das políticas de governo ou por veicularem informação sobre eventos relacionados
com o conflito, têm sido reportados.194 Enquanto que todos acabaram libertados, o ataque a
jornalistas e outros que são vistos como críticos do governo continua.195

Foram também relatadas as detenções de figuras políticas e religiosas da oposicao e aqueles


vistos como uma ameaça política pela administracao Riyale.196 Enquanto que alegadamente
sujeitos a detenção e julgamentos que não respeitam as defesas constitucionais, a maioria
eventualmente era libertada após protestos públicos.197

Face ao exposto, o ACNUR considera que os indivíduos vistos como críticos ou opondo-se as
autoridades da Somalilândia podem estar em risco devido à sua opinião política real ou
percebida.

b) Membros de Grupos Religiosos Minoritários


Artigo 5 (1-2) da Constituição de Somaliland estabelece o Islão como religião oficial e proibe
a promoção de qualquer outra religião.198 O artigo 313 do código penal Somalilândia
descreve sanções para os muçulmanos que mudam sua religiao.199 Os artigos 41 e 82
estatuem que candidatos à Presidência, Vice-Presidência ou da Câmara dos Deputados devem
ser Muçulmanos.200 O artigo 15 estipula que a educação islâmica é obrigatória em todos os
níveis e que a promoção do ensino do Alcorão é da responsabilidade do Estado. A
Constituição estabelece ainda que as leis dopaís devem derivar do e não contradizer ao Islão.
Há relatos de Cristãos convertidos distribuindo literatura religiosa que foram presos e detidos
pelas autoridades.201

Dado que, na lei, a Somalilândia discrimina os grupos religiosos minoritários, e na prática, há


indícios de maus-tratos de certos grupos religiosos minoritários, o ACNUR considera que os
grupos religiosos minoritários da Somalilândia envolvidos em actividades que sejam

192
Artigo 32 da Constituição de Somaliland afirma que cada cidadão deve ter a liberdade, em conformidade com a lei, para
expressar suas opiniões, oral, visual e artísticamente ou por escrito de qualquer outra forma.
193
Alguns foram presos e acusados, enquanto outros detidos e libertados. Veja Committee to Protect Journalists, Governo de
Somaliland aumenta ataques à imprensa, 22 de Julho de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a840beec.html. Veja
também Repórteres sem Fronteiras, perseguicao a jornalistas na Somália continua com dois presos e um espancado, em 19
de agosto de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a8d54601e.html.
194
Freedom House, Liberdade no Mundo 2009 - Somaliland, 16 de Julho de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a64528232.html.
195
Conselho de Segurança das Nações Unidas, Relatório do Secretário-Geral sobre a Somália nos termos da Resolução do
Conselho de Segurança 1872 (2009), S/2009/503, 02 de Outubro de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4acddae92.html.
196
Human Rights Watch, "Hostage to Peace": Ameaças para os Direitos Humanos e Democracia em Somalilândia, 13 de
Jjulho de 2009. http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a5b28772.html. Veja também Departamento de Estado dos Estados
Unidos, Relatórios Nacionais sobre Práticas de Direitos Humanos 2009 - Somália, 10 de Marco de 2010,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b9e52bdc.html.
197
Amnistia Internacional, Desafios de Direitos Humanos: Somalilândiaenfrenta Eleições, 17 de Março de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/49c897d42.html . Ver também Conselho de Seguranca da ONU, Relatório do Secretário-
Geral sobre a Somália nos termos da Resolução do Conselho de Segurança 1872 (2009), S/2009/503, 2 de Outubro de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4acddae92.html . Veja também Departamento de Estado dos Estados Unidos, Relatórios
Nacionais sobre Práticas de Direitos Humanos 2009- Somália, 11 de Marco de 2010,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b9e52bdc.html , que detalha vários exemplos de percepção de opositores políticos
presos e detidos sem acusação. Além disso, várias mortes foram registradas depois que as autoridades utilizaram força
excessiva para dispersar manifestações pacíficas em Setembro de 2009. Foram registados mais de 100 detenções e duzias
de condenações por envolvimento nos protestos.
198
Constituição da República de Somaliland [Somália], 31 de Maio de 2001,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bc581222.html.
199
Ibid
200
Ibid
201
Compact Direct, Cristao Preso em Somaliland em greve de fome, 16 de outubro de 2009,
http://www.compassdirect.org/english/country/somalia/10593/

30
contrárias às disposições legais ou normas islâmicas podem estar em risco por conta de sua
religião.

c) Mulheres e Raparigas
Segundo relatos, a MGF é praticada sobre a vasta maioria de mulheres na Somaliland202
apesar do facto desta prática ser ilegal. A proibição legal desta prática é supostamente não
forçada203 e aproximadamente 90 por cento de raparigas passam pelo procedimento visto que
atitudes da sociedade ainda incentivam a prática, especialmente para preparar as raparigas
para o casamento.204

A violência sexual, incluindo o aumento no número de casos denunciados de violações por


gangs, a raparigas adolescentes (e menores), tem sido reportados em campos de PDIs.205
Supostamente os agressores contavam com a impunidade para as suas acções. A maioria dos
casos não foi reportada, e quando foi, varias vezes, estes foram resolvidos através de
mecanismos de clã, não envolvendo a punição direta do criminoso.206 Exemplos de LGBT em
campos de PDIs têm sido tambem relatados como estando a aumentar.207

O ACNUR considera que as mulheres de Somaliland, com perfis específicos supra


mencionados, estão em risco, em razão de pertencerem a um particular grupo social.208

d) Indivíduos Pertencentes a um Clã Envolvido em Contenda


de Sangue
Vários confrontos eclodiram em 2009 entre clãs em Somalilândia. É relatado que os ataques e
represálias estão arraigados em conflitos pela terra que remonta os anos1990.209 Estes
conflitos entre clãs colocaram os membros do clan em situação de risco, enquanto que
pessoas não pertencentes aos clãs em causa também fogem da luta devido a um temor pelo
seu salvamento e segurança. Os clãs Hared e Nour estão implicados em pelo menos um
conflito relacionado com as terras em disputa.210

O ACNUR considera que contendas de sangue podem constituir perseguição uma vez que
elas implicam a violação do direito à vida, que inclui o direito de alguém não ser
arbitrariamente privado da vida e do direito da liberdade de tortura.211 Ao determinar o risco e
se ela está ligada ao campo da Convenção de 1951, têm de se ter em conta a natureza da
contenda de sangue, as experiências de outros membros da família ou clã envolvidos na
202
Freedom House, Liberdade no Mundo 2009 - Somaliland, 16 de Julho de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a64528232.html.
203
Departamento de Estado dos Estados Unidos, Relatórios Nacionais sobre Práticas de Direitos Humanos 2009 - Somália, 11
de Marco de 2010, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b9e52bdc.html.
204
IRIN, Somália: "Uma mensagem" sobre FGM/C em Somaliland, 3 de Novembro de2008,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4917f25ac.html.
205
Conselho dos Direitos Humanos da ONU, Relatório do Perito Independente sobre a Situação dos Direitos Humanos na
Somália, Shamsul Bari, A/HRC/12/44, 17 de Setembro de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4acb4abc2.html.
206
Ibid
207
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, 31 de Dezembro de 2009,
http://www.ecoi.net/file_upload/1226_1263217042_n0965340.pdf.
208
ACNUR, Directrizes sobre a Protecção Internacional No.2: afiliação de um Grupo Social Particular, Maio de 2002,
http://www.unhcr.org/cgi-
bin/texis/vtx/refworld/rwmain?page=search&amp.docid=3d36f23f4&skip=0&query=Guidelines%20on%20particular%20soc
ial%20group
209
IRIN, Somália: Centenas fogem dos confrontos entre clãs em Somaliland, 08 de Abril de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/49ddfa651e.html.
210
IRIN, Somália: Clãs Somaliland em cessar-fogo sobre disputadas terras, 20 de Maio de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a1b97a7c.html.
211
Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, Posicao do ACNUR sobre Pedidos de Estatuto de Refugiado nos termos
da Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos Refugiados Baseada no Medo de Perseguição Devido a Filiacão Individual, de
Familia ou Clan Envolvido em Contenda de Sangue, 17 de Março de 2006,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/44201a574.html.

31
disputa (por exemplo, se qualquer membro da família tenha sido morto ou ferido pela família
ou clã adversária), e o contexto cultural.

e) Pessoas LGBT
O Artigo 409 do código penal da Somália, que proíbe e criminaliza a "conduta homossexual"
é aplicado em Somalilândia. Como o assunto sobre a orientação sexual é considerado tabu em
toda a Somália, incluindo Puntland e Somalilândia, existe pouca informação disponível sobre
o abuso e maus-tratos de pessoas LGBT. Os doentes de HIV e de SIDA sao alegadamente
maltratados, rejeitados pela familia e em risco de discriminacao e despedimento no local de
trabalho.212

O ACNUR considera que as pessoas LGBT de Somalilândia estão em risco em virtude de


pertencerem a um determinado grupo social, ou seja, sua orientação sexual,213 se estes nao se
adaptam ou sejam vistos como não se adaptando a normas sociais e culturais legais
dominantes.214

f) Vítimas de Tráfico
O Ministro para a Familia e Assuntos Sociais da Somalilândia declarou em Abril de 2010 que
o tráfico de seres humanos, particularmente de crianças, ocorre em Somalilândia e tende a
aumentar.215 Embora a informação disponível sobre o tráfico em Somalilândiae limitada, o
ACNUR considera que as vítimas do tráfico necessitam de protecção internacional por causa
da sua associacao a um determinado grupo social, resolvido com base em cada caso.216

C. Agentes da Perseguição 

Esta secção se concentra sobre a situação nas regioes sul e central da Somália, de onde a
maioria dos requerentes de asilo são originários. Para Puntland e Somaliland, os agentes
relevantes de perseguição são identificados nas Secções C.2. C.3 e dentro das categorias
específicas de petições.

No sul e centro da Somália os actores não-estatais são os principais agentes de perseguição. O


controle do territorio de insurgentes islâmicos, foi consolidado, embora ainda muito
fragmentado e regionalizado, em termos de estruturas de comando e de fidelidade. Foram
criadas administrações islâmicas em centros urbanos, incluindo cidades como Bayhdaba e

212
Secretaria de Estado de EUA, Relatórios Nacionais sobre Práticas de Direitos Humanos 2008 - Somália, 25 de Fevereiro de
2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/49a8f153c.html.
213
Ver ACNUR, ACNUR Nota de Orientação sobre Pedidos dos Refugiados Relativos à Orientação Sexual e Identidade de
Gênero, 21 de Novembro de 2008, http://www.unhcr.org/refworld/docid/48abd5660.html; ACNUR, Directrizes sobre Protecção
Internacional n º 2: Filiacao de um grupo social particular, nota de rodape anterior 2007. Muitos países têm reconhecido que os
homossexuais podem constituir um "grupo social particular". Veja, por exemplo, Matéria de Toboso-Alfonso, 20 I & N. Dec 819,
Câmara de Petições de Imigração dos EUA, 12 de Março de 1990, http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6b6b84.html; Re
GJ, Recurso de Refugiado n º 1312/93, Autoridade de Peticoes de Estatuto de Refugiado de Nova Zelândia, 30 de Agosto de
1995, http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6b6938.html; Requerente S395/2002 v. Ministro de Imigração e Assuntos
Multiculturais, Requerente S396/2002 v. Ministro para a Imigração e Assuntos Multiculturais [2003] HCA 71, Tribunal Supremo
da Australia, 9 de Dezembro de 2003, http://www.unhcr.org/refworld/docid/3fd9eca84.html.
214
ACNUR, Nota de Orientação sobre Pedidos dos Refugiados Relativos à Orientação Sexual e Identidade de Gênero, ver
nota de rodape 165, parág. 7. Veja também ACNUR, Directrizes sobre Protecção Internacional No. 1: Perseguicao
Relacionada com o Género, ver supra nota 165, par. 6-7, e ACNUR, Parecer Consultivo do ACNUR para a Associacao de
Advogados de Tokyo Referente a Peticoes de Refugiados Baseadas na Orientação Sexual, 3 de Setembro de 2004. Parag. 3,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4551c0d04.html.
215
OCHA, Somália: Tráfico de Seres Humanos a Aumentar, 12 de Abril de 2010,
http://www.irinnews.org/report.aspx?ReportID=88668.
216
ACNUR, Directrizes sobre a Protecção Internacional no.7, A Aplicação do Artigo 1A (2) da Convenção de 1951 e/ou do
Protocolo de 1967 Relativo ao Estatuto dos Refugiados para Vítimas de Tráfico e Pessoas em Risco de Serem Traficadas,
Abril de 2006, http://www.unhcr.org/cgi-
bin/texis/vtx/refworld/rwmain?page=search&amp.docid=443679fa4&amp.skip=0&amp.query=Guidelines%20on%20trafficking.

32
Jowhar. Embora muitos dos soldados e cabos das milícias islâmicas provirem de clãs locais,
os líderes de alta patente - especialmente os 'Walis' ou governadores regionais - são
supostamente nomeados propositadamente para governar áreas que não sao de seu clã.217

1. Grupos militantes islâmicos  

Os principais grupos militantes islâmicos no centro e sul da Somália que procuram derrubar o
TFG e seus aliados sao Al-Shabaab e Hizbul Islam.218 No contexto do conflito, tanto al-
Shabaab e Hizbul Islam foram acusados, e eles admitiram, de terem usado a população civil
como escudo humano durante as suas operações militares.219

Al-Shabaab e Hizbul Islam conduziram uma campanha sistemática de intimidação e


assassinato de civis que trabalhavam ou estavam associados ou percebidos como estando a
colaborar com o TFG, AMISOM ou ENDF.220 Al-Shabaab e Hizbul Islam tem também
ameaçado civis ou conduzido assassinatos a alvos. De todos os lados têm recrutado jovens e
crianças para as suas fileiras, muitas vezes com ameaças ou violence.221 Al-Shabaab estava
também implicado nos ataques suicidas contra alvos do TFG, resultando frequentemente em
vítimas civis.222

O número crescente de administrações islâmicas criaram Tribunais Sharia e emitiram


decretos para restringir o comportamento social.223 As violações destas normas são
severamente punidas por tribunais Sharia, inclusivamente com base em interpretações
duvidosas da Sharia,224 e a execução dos decretos comportamentais é frequentemente
rigorosa e abusiva.225

2.  Criminalidade  na  Sequência  da  Falha  de  Protecção  de  Clã  em 
Mogadíscio 

217
Por exemplo, em Julho de 2009, os governadores islamicos de Bayhdaba foram Dir; de Kismaayo foram Isaaq; de Merka
foram Darod/Ogadeni, e de Jowhar foram Rahanweyne.
218
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Grupo de Monitoria sobre a Somália, em conformidade com a Resolução do
Conselho de Segurança 1811 (2008), S/2008/769, 10 de Dezembro de 2008, pp.17-22,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/494900240.html.
219
Human Rights Watch, Harsh War, Harsh Peace, 19 de Abril de 2010, 1-56432-621-7,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html.
220
Human Rights Watch, "So Much to Fear": Crimes de Guerra e de Devastação da Somália, Dezembro 2008, pp. 67-71,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/493e374b2.html.
221
Human Rights Watch, Harsh War, Harsh Peace, 19 de Abril de 2010, 1-56432-621-7,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html.
222
Ibid
223
Reuters, Somalis Protestam Contra Al-Shabab, Kenyans Taken, 25 de Março de 2009,
http://www.reuters.com/article/homepageCrisis/idUSLP972817._CH_.2400; IASC Protection Cluster Monthly Report, Março de
2009 http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/Default.aspx
224
No início de Abril de 2009, forças de Al-Shabab supostamente decapitaram um combatente de uma milícia local em
Jamame, Baixo Juba, e pendurou sua cabeça para exibição pública. Isto ocorreu depois dos confrontos entre o Al-Shabab e
as milícias locais, que se recusaram a cumprir com a proibição sobre khat, armas, música, dança pública, entre outros. Pelo
menos outras duas pessoas foram mortas e outras cinco ficaram feridas. Mareeg News, Al-Shabab Decapita um Homem no
Sul da Cidade, 5 de Abril de 2009, http://www.mareeg.com/fidsan.php?sid=11343&tirsan=3; Garowe Online, Rapazes Armados
Rejeitam Ordem de Al Shabab, Lutas Irrompem, 05 de Abril de 2009,
http://www.garoweonline.com/artman2/publish/Somalia_27/Somalia_
Armed_youngsters_reject_Al_Shabab_order_fighting_erupts.shtml. Veja também Human Rights Watch, Harsh War, Harsh
Peace, 19 de Abril de 2010, 1-56432-621-7, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html.
225
Com relação ao uso obrigatório do véu pelas mulheres, algumas mulheres PDI que não conseguem adquirir um véu
(400.000 Shilings Somalis e o preço estimado), no prazo determinado eram alegadamente presas e detidas até que um
parente do sexo masculino fosse pagar a caução. IASC PMN Update 24 de Abril de 2009,
http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/Default.aspx. Veja também Human
Rights Watch, Harsh War, Harsh Peace, 19 de Abril de 2010, 1-56432-621-7,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html.

33
A Criminalidade em Mogadíscio aumentou desde 2008, refletida na onda de assaltos à mão
armada, pilhagem, assassinatos e sequestros por resgate.226 Em risco estavam particularmente
homens de negócios e personalidades da sociedade civil.227

Várias são as razões atribuídas ao recrudescimento da criminalidade. Em primeiro lugar, no


início de 2007, o TFG e FNDE reforçou a colecção de armas das milícias de clãs, de grupos
de vigilantes comunitários e de negócios de segurança de grupos de vigilantes, eliminando
assim um impedimento importante para as actividades criminosas. Em segundo lugar, desde
2008, o TFG foi incapaz de impor a lei e a ordem em face de crescentes ataques militares de
insurgentes, não obstante os grupos insurgentes também não garantirem a segurança eficaz a
empresas e a civis, deixando os civis altamente expostos a ataques criminosos. Em terceiro
lugar, os elementos dentro do TFG e as forças insurgentes, têm supostamente cometido actos
criminais.228 Em quarto lugar, o poder dos anciãos tradicionais do clã e ate mesmo a
capacidade dos clas maioritários em fornecer protecção para os seus membros foi minada
pelo conflito. Apesar de não controlar totalmente o território, nem o TFG nem os insurgentes
permitiriam competir o poder dos líderes do clã.

3. Governo Federal de Transição e AMISOM 

O TFG foi formado em 2004 e instalado em Mogadíscio no início de 2007 e é reconhecido


como governo legítimo da Somália pela Organização das Nações Unidas. O GFT oferece, se
houver, poucos serviços públicos e as suas forças estão focalizadas em manter o controle que
sobre a capital.229 As forças de segurança do TFG são compostas pela Força Policial Nacional
da Somália (SPF), a Agência de Segurança Nacional (NSA) e o Exército Nacional Somali
(SNA). Em Dezembro de 2008, o Grupo de Monitoria de Armas das Nações Unidas
descreveu estas forças como "desorganizadas e indisciplinadas, e em grande parte da sua
função, como milícias semi-autónomas."230 As unidades tendem a ser divididas em linhas de
clã, refletindo a filiação política e do clã dos seus comandantes.231

Em 2008, a SPF foi acusada de ser uma força militar, envolvida em pilhagem de propriedade,
e de usar o seu poder de aprisionar, para deter e manter refens civis.232 A NSA foi

226
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Grupo de Monitoria sobre a Somália, em conformidade com Resolução do
Conselho de Segurança 1811 (2008), S/2008/769, 10 de Dezembro de 2008, p.10,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/494900240.html.
227
IASC Somália PMN, 11 de Janeiro de 2008, http://ochaonline.un.org/OchaLinkClick.aspx?link=ocha&docId=1086635,
segundo a qual "um empresário foi morto a tiro, alegadamente por forças insurgentes, no distrito de Yaaqshiid, Mogadíscio",
veja também IASC Somália PMN, 4 de Julho de 2008,
http://ochaonline.un.org/OchaLinkClick.aspx?link=ocha&docId=1091913, segundo a qual "o director do aeroporto internacional
de Mogadíscio, foi alvejado por uma bomba que explodiu na Wadajir, ferindo gravemente vários dos seus guarda-costas". Veja
também Amnistia Internacional, regularmente visados: ataques sobre Civis na Somália, 6 de Maio de 2008, pp.13-14,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4821614e2.html.
228
Human Rights Watch, "So Much to Fear": Crimes de Guerra e de Devastação da Somália, Dezembro 2008, p.75,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/493e374b2.html; Kenneth Menkhaus, Somália: um país em Risco, um Pesadelo Político,
ENOUGH Strategy Paper, Setembro de 2008, p. 4, http://www.enoughproject.org/somalia_report_090308.
229
Human Rights Watch, Harsh War, Harsh Peace, 19 de Abril de 2010, 1-56432-621-7,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html.
230
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Grupo de Monitoria sobre a Somália, nos termos da Resolução do Conselho
de Segurança 1811 (2008), S/2008/769, 10 de Dezembro de 2008, p. 11, http://www.unhcr.org/refworld/docid/494900240.html.
231
Ibid
232
Human Rights Watch, "So Much to Fear": Crimes de Guerra e a Devastação da Somália, Dezembro de 2008, pp 51-53;
http://www.hrw.org/sites/default/files/reports/somalia1208web.pdf; Entrevistas conduzidas pelo ACNUR em Nairobi, Abril,
Agosto de 2008 (nomes dos entrevistados não revelados). Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Grupo de Monitoria
sobre a Somália conforme a Resolução do Conselho de Segurança 1766 (2007), S/2008/274, 24 de Abril de 2008, p. 7,
http://www.un.org/sc/committees/751/mongroup.shtml. "[A] Força Policial Somali não difere de outros actores no conflito
armado, apesar do facto de que muitos de seus membros receberam formação em conformidade com as normas
internacionais. Há uma certa confusão nas ruas sobre quem faz parte da Força Policial Somali, já que opera em conjunto com
a milícia de Mohamed Omar Habeeb "Dheere" e o Exército Nacional Somali. Os ex-líderes da milícia foram também integrados
no comando da Forca Policial Somali, juntamente com alguns de seus homens. A forca Policial Somali comprou armas no

34
supostamente responsável por vários bloqueios no fornecimento de ajuda humanitária e por
planejar a detenção do Representante do Escritorio do Programa Mundial para Alimentacao
em Mogadíscio, em outubro 2007.233 Também organizou varios centros de detenção nao
oficiais, incluindo um dentro de uma estrutura chamada Villa Somalia e outro no antigo
presídio NSS, Hisbiga Barista, em Mogadiscio.234

Um entrevistado explicou ao ACNUR como fora interrogado pelos SPF/Departamento de


Investigação Criminal e Oficiais Etíopes contra-terrorismo dentro de Barista Hisbiga,
oferecendo um testemunho que sustenta ao de outros ex-detidos pela Human Rights Watch,
em 2008, incluindo alegações de que os detidos foram feitos refens para garantir a sua
libertacao.235 A Human Rights Watch documentou também a detenção e o resgate pela SPF
na esquadra policial a nível do distrito.236

A SNA, alegadamente pouco disciplinada e organizada,237 é dita ser dominada por líderes
Darod e ter recebido apoio adicional das milicias (Darod) de Puntland.238

Houve também denúncias de saques e outras actividades criminosas contra pessoas fardadas
ou de pessoas posando talvez como soldados do TFG ou membros da SPF. Além disso,
existem relatos firmes de saques pelas forças de segurança do TFG durante as buscas de casa
em casa.239 Os uniformes das Forcas Armadas e da polícia estão disponíveis no mercado, por
isso, é difícil determinar quem exatamente foi responsável pelos incidentes atribuídos ao
TFG/SPF.240

O registro de direitos humanos do TFG tem melhorado desde 2009. Nota-se que o TFG não
foi responsável por assassinatos, execuções e desaparecimentos politicamente motivados. As
alegações contra o TFG e seus órgãos diminuiu, e geralmente, a polícia e o pessoal prisional
eram sensíveis aos problemas dos direitos humanos.241

Iêmen, em violação do embargo de armas, não tendo solicitado a isenção do Comite. Os comandantes da polícia actuam
também como compradores e vendedores de armas nos mercados de armas de Mogadíscio".
233
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, S/2007/658, 7 de Novembro
de 2007, p. 9, http://www.unhcr.org/refworld/docid/473967e22.html.
234
Human Rights Watch, "So Much to Fear": Crimes de Guerra e a Devastação da Somália, Dezembro de 2008, pp 51-53;
http://www.hrw.org/sites/default/files/reports/somalia1208web.pdf; Entrevistas conduzidas pelo ACNUR em Nairobi, Abril,
Agosto de 2008 (nomes dos entrevistados nao revelados). Para uma análise crítica do General Darwish e as entrevistas com o
ex-exilado Barista Hisbiga, consulte Channel 4 Dispatches, Warlord Next Door?, Broadcast 23 de Maio de 2008;
http://www.channel4.com/news/articles/dispatches/warlords+next+door/2243452.
235
Human Rights Watch, "So Much to Fear": Crimes de Guerra e a Devastação da Somália, Dezembro 2008, pp.51-53,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/493e374b2.html, Entrevistas conduzidas pelo ACNUR em Nairobi, Abril, Agosto de 2008
(nomes dos entrevistados não revelados).
236
Ibid
237
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Grupo de Monitoria sobre a Somália conforme a Resolução do Conselho de
Segurança1766 (2007), S/2008/274, 24 de Abril de 2008, p.10, http://www.un.org/sc/committees/751/mongroup.shtml;
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Grupo de Monitoria sobre a Somália, conforme a Resolução do Conselho de
Segurança 1811 (2008), 10 de dezembro de 2008. S/2008/769, pp. 11-12;
http://www.unhcr.org/refworld/docid/494900240.html.
238
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Grupo de Monitoria sobre a Somália nos termos da Resolução 1766 (2007)
do Conselho de Seguranca, S/2008/274, 24 de abril de 2008, pp.10-11, http://www.un.org/sc/committees/751/mongroup.shtml.
239
Human Rights Watch, "So Much to Fear": Crimes de Guerra e a Devastação da Somália, Dezembro 2008, pp. 53-55;
http://www.unhcr.org/refworld/docid/493e374b2.html; IASC Somália PMN, 20 de Junho de 2008,
http://ochaonline.un.org/somalia/Clusters/IDPsandProtection/tabid/2832/language/en-US/Default.aspx, e IASC Somália PMN,
13 de Julho de 2007, http://ochaonline.un.org/OchaLinkClick.aspx?link=ocha&docId=1096477; IASC Somália PMN, 28 de
Setembro de 2007, http://ochaonline.un.org/OchaLinkClick.aspx?link=ocha&docId=1096435.
240
Human Rights Watch, "So Much to Fear": Crimes de Guerra e a Devastação da Somália, Dezembro de 2008, p. 43,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/493e374b2.html
241
Departamento de Estado dos Estados Unidos, Relatórios Nacionais sobre Práticas de Direitos Humanos 2009 - Somália, 11
de Marco de 2010, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b9e52bdc.html.

35
A AMISOM é desdobrada em Mogadíscio para reforçar o TFG.242 Ela consiste de um
número estimado de 5.300 tropas Ugandesas, Burundesas e Djibutianos. As forças da
AMISOM sofreram dois ataques suicidas a bomba em 2009 que custou a vida de pelo menos
21 pessoas, incluindo o comandante adjunto das forças.243

O TFG e a AMISOM sao acusados de bombardear indiscriminadamente areas civis de


Mogadiscio em represalia aos ataques de morteiros lançados pelas forcas da oposicao.244 Este
bombardeamento resultou em grandes perdas humanas, sobretudo entre a populacao civil,
assim como na destruição de propriedade. As forças do TFG e da AMISOM foram também
acusadas de disparar indiscriminadamente sobre civis.245

D. Existência Efectiva de um Estado ou Protecção De Facto na Somália, 
Somalilândia e Puntland 

1. Protecção de Estado  

A protecção do Estado é inexistente no sul e centro da Somália, dada a situação de conflito


armado e a incapacidade das autoridades do governo para ampliar o controle sobre qualquer
território fora de alguns distritos em Mogadiscio.

Em Puntland e Somaliland, nas regiões não afetadas pelo conflito, a protecção efectiva por
parte das autoridades governamentais pode existir contra actos de perseguição, proveniente
de agentes não-estatais. Em regiões que foram afetadas pelo conflito, tais como Sool, Sanaag
e Mudug, a existência de protecção efectiva deve ser directa baseada em cada em cada caso,
tomando em conta o nível de cumprimento da regra da lei, da tranquilidade pública, e
segurança.

2. Protecção de Clã 

A identidade e filiação ao cla na Somália têm sido historicamente importante em determinar


se os indivíduos poderiam contar com a protecção efectiva quando a protecção do Estado não
fosse disponível. A protecção de Clan foi reforçada e apoiada pelo direito consuetudinário
(xeer).246Antes de 2007, a protecção efectiva poderia ser contada pelos membros das clãs

242
Conselho de Segurança da ONU, Resolução do Conselho de Segurança 1910 (2010) [sobre a renovação da autorização
dos Estados-Membros da União Africana para manter a Missão da União Africana na Somália (AMISOM)], 28 de janeiro de
2010, S/RES/1910 (2010), http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bb1b3cb2.html.
243
Human Rights Watch, Harsh War, Harsh Peace, 19 de Abril de 2010, 1-56432-621-7,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html.
244
Ibid
245
Departamento de Estado dos Estados Unidos, Relatórios Nacionais sobre Práticas de Direitos Humanos 2009 - Somália, 11
de Marco de 2010, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b9e52bdc.html.
246
O xeer Somali ou lei consuetudinária, sao acordos nao escritos, transmitidos oralmente de geração em geração. Em
primeiro lugar em relacao a gestão de questões cotidianas dentro de um clã, o xeer pode e tem sido expandido para gerir as
relações entre clãs, incluindo o casamento, a hospitalidade, as regras de utilização dos recursos e compensações por crimes
cometidos por membros de um clã contra o outro. O xeer mantem todo o grupo mag-paying colectivamente responsável por
um crime cometido por um ou mais dos seus membros. Se o mag não é pago, então o clã prejudicado pode optar por matar os
criminosos ou outros membros do clã dessa pessoa - uma forma de responsabilidade criminal coletiva que em actos teoricos
como um impedimento contra os crimes cometidos no primeiro lugar, e como forma de implementar o pagamento de
compensação. O não pagamento e subsequentes ataques pode desencadear um ciclo de vingança de sangue entre dois clãs
até os que os anciaos concordem uma resolucao através de negociações de paz e um mag-payment adicional. Veja Joakim
Gundel, The predicament of the "Oday ': O Papel das Estruturas Tradicionais em Segurança, Direitos, Lei e Desenvolvimento
na Somália, Conselho Dinamarquês para os Refugiados OXFAM/Novib, Novembro de 2006, p. 9,
http://siteresources.worldbank.org/INTJUSFORPOOR/Resources/ThePredicamentoftheOday.doc.

36
maioritárias.247 Desde 2007, a proteção do clã tem sido destruida em Mogadíscio, como
também e cada vez mais em outras regiões do sul e centro da Somália pelo conflito em curso
e da diminuição dos sistemas de justica de clã tradicional, devido as bem vistas interpretações
severas da Lei Sharia implementadas pelo grupo islâmico Al-Shabaab e Hizbul Islam nas
áreas sob o seu control.248

A ausência da protecção do Estado aliado ao enfraquecido mecanismo de protecção de clã


levaram a um aumento da insegurança, criminalidade e impunidade. Contrariamente ao
passado, a protecção da clã já não pode ser racionalmente invocada para fornecer uma
protecção efectiva uniforme e sistemática aos somalis em qualquer parte do sul e centro da
Somalia.249

O anexo destas Directrizes contém informaçao importante sobre a estrutura de clãs, de


Somalis que não são membros de nenhum clã, o sistema xeer e que proteccao os membros do
clã podem fornecer para certos Somalis.

3. Tribunais  Sharia  em  Àreas  Controladas  por  Insurgentes 


Islâmicos 

Em todas as áreas do sul e centro da Somália, actualmente controladas por grupos islâmicos,
as decisões Sharia são supostamente aplicadas de forma inconsistente e, em alguns casos, são
influenciadas pelas considerações do clã.250 Por exemplo, em Junho de 2009, uma mulher
Darod que vive em Rahanweyne - dominada Bayhdaba foi condenada à morte por
apedrejamento por adultério por um tribunal de Sharia al-Shabaab. Embora a punição tenha
sido tomada em consideração a vários factos considerando também novas elementos de
provas apresentados, , os anciãos Rahanweyne supostamente aconselharam cautela que se a
mulher Darod foi executada, entao, os Rahanweyne em Puntland poderiam ser mortos em
vinganca.251

O ACNUR considera que as inconsistências na aplicação da Lei Sharia aliadas a


possibilidade de punições severas para certas infrações exclui a confianca sobre a Sharia
como um mecanismo de protecção efectivo, em vez de protecção do Estado.

4. AMISOM 
No dia 20 de Fevereiro de 2007, o Conselho de Segurança da ONU, na Resolução 1744
(2007), aprovou a instituição da Missão da União Africana para a Somália (AMISOM).252
 
A AMISOM tem enfrentado uma série de críticas e acusações. Em primeiro lugar, porque
AMISOM está mandatada para apoiar as instituições federais de transição, tem sido cada vez

247
Os principais clas de famílias incluem os Darod, Hawiye, Dir e, discutivelmente, o Isaaq. Veja Joakim Gundel, The
predicament of the "Oday ': O Papel das Estruturas Tradicionais em Segurança, Direitos, Lei e Desenvolvimento na Somália,
Conselho Dinamarquês para os Refugiados OXFAM/Novib, Novembro de 2006, p.5,
http://siteresources.worldbank.org/INTJUSFORPOOR/Recursos/ThePredicamentoftheOday.doc.
248
Grupo Internacional de Crises, Somália: To move Beyond the Failed State, 23 Dezembro 2008, p. 4,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4950e75f2.html.
249
"No passado, eram somente os clãs minoritários que eram perseguidos em Mogadishu. Agora somos todos clãs
minoritários. Não basta ser Hebr Gedir ou Abgal – ao contrário, você tem que ser Al-Shabab ou TFG. Não há meio termo ... As
ruas agora estão desertas, as pessoas evitam falar uns com os outros - existe uma suspeita constante de que um amigo ou
irmão pode ser um informante de Al-Shabab ou do TFG." Entrevistas Conduzidas pelo ACNUR em Nairobi, Abril de 2008.
250
A partir do texto, os grupos militantes islâmicos controlam todas as áreas do sul e centro da Somália excluindo aquelas
áreas de Mogadiscio, sob o controlo das forces do TFG e da AMISOM.
251
ACNUR, Relatorio de Missão da Somalia, Bayhdaba, Junho de 2009, disponível no arquivo com o ACNUR na Somália.
252
Conselho de Segurança da ONU, Resolução 1744 (2007) A Situação na Somália, S/RES/1744 (2007), 21 de Fevereiro de
2007, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4600f97e2.html.

37
mais, vista como apoiando ao governo que é tido como bastante fraco. Esta percepção de
fraqueza está relacionada com a luta que decorre com a Al-Shabaab, mas também às
actividades dos agentes seniores de segurança dentro do TFG que estão envolvidos na venda
de grandes quantidades de armas e munições para os mercados de armas, algumas das quais
são resgatadas por al-Shabaab para serem usadas contra o TFG.253 Em segundo lugar, o
Grupo de Monitoria de Armas das Nações Unidas, acusou os membros Ugandeses da
AMISOM de venda de armas em Mogadíscio, que indirectamente chegaram nas mãos de
grupos insurgentes.254 Em terceiro lugar, as forças da AMISOM têm sido cada vez mais
vistas como alvos legítimos para os insurgentes,255 referida como uma "força estrangeira" por
grupos militantes islâmicos.256 Além disso, as forças de AMISOM atacadas por insurgentes,
em especial desde Setembro de 2008, teriam alegadamente respondido com força excessiva e
fogo indiscriminado, no qual resultaram mortes de civis.257 Esta situação minou a sua
credibilidade aos olhos da população local. Tem sido sugerido que a al-Shabaab tem tentado
provocar deliberadamente a AMISOM matando civis como parte da estratégia antiga para
ganhar a opiniao pública.258 Pelas razões expostas, o ACNUR considera que a AMISOM é
incapaz de fornecer uma protecção efectiva aos Somalis nas áreas onde está a operar.

E. Fuga Interna ou Alternativa de Acomodacao (IFA/IRA)259  

1.  Considerações Gerais 

Um quadro analítico detalhado para avaliar a disponibilidade de alternativa de fuga interna ou


alternativa de acomodação interna (IFA/IRA), está contido nas "Orientações sobre a
Protecção Internacional: a "Fuga Interna ou Alternativas de Acomodação" no contexto do
artigo 1A(2) da Convenção de 1951 e/ou do Protocolo de 1967 relativo ao Estatuto dos
Refugiados", do ACNUR de 2003.260

De modo a avaliar a possibilidade de aplicar a IFA/IRA, devem ser empreendindos dois


conjuntos de análises principais, nomeadamente, se a transferência interna é (i) relevante e,
em caso afirmativo, se é (ii) racional. Na avaliacao de um pedido de asilo no qual foi
provado um receio de perseguição bem fundamentado em algumas partes localizadas do país
de origem, a determinação se a proposta de fuga interna ou area de realocação proposta é uma
alternativa adequada no caso concreto exige uma avaliação extra, tomando em consideracao
não apenas as circunstâncias que deram origem à temida perseguição, e da fuga pontual da
área de origem, mas também se a área proposta oferece uma alternativa significativa. As

253
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Grupo de Monitoria sobre a Somália conforme a Resolução do Conselho de
Segurança 1766 (2007), S/2008/274, 24 de Abril de 2008, p. 31, http://www.unhcr.org/refworld/docid/494900230.html.
254
Ibid
255
IASC Somália PMN, 16 de Novembro de 2007, http://ochaonline.un.org/OchaLinkClick.aspx?link=ocha&docId=1096433.
256
Elizabeth Kennedy, Aviso para a força Somali da ONU, The Independent, 26 de Julho de 2008,
http://www.independent.co.uk/news/world/africa/warning-to-un-somalia-force-877900.html.
257
IASC Somália PMN, 26 de Setembro de 2008, http://ochaonline.un.org/OchaLinkClick.aspx?link=ocha&docId=1094816.
258
Nacoes Unidas, Perito Independente sobre a situação dos direitos humanos na Somália denuncia a morte de civis, apela
para a calma e cessar-fogo imediato, 23 de Abril de 2008,
http://www.unhchr.ch/huricane/huricane.nsf/view01/D429ADDA2D1F2368C1257434002D98EB?OpenDocument.
259
IFA/IRA não é relevante no contexto de determinar a elegibilidade para o estatuto de refugiado nos termos dos artigos I(1) e
I(2) da Convenção da OUA. IFA/IRA é relevante no contexto de determinar a elegibilidade do estatuto de refugiado ao abrigo
da Convenção de 1951 e seu Protocolo de 1967, o Mandato RSD do ACNUR (incluindo a definição ampla de refugiado), bem
como a determinação de elegibilidade, sob certas formas complementar/subsidiaria de protecção, como previsto nos
instrumentos regionais.
260
Ver, ACNUR em geral, Directrizes sobre a Protecção Internacional: "Fuga Interno ou Reassentamento Alternativo" no
contexto do artigo 1A(2) da Convenção de 1951 e/ou do Protocolo de 1967 relativo ao Estatuto dos Refugiados,
HCR/GIP/03/04, 23 de julho de 2003, http://www.unhcr.org/refworld/docid/3f2791a44.html (Doravante "ACNUR, Fuga Interno
ou Orientações de Relocacao Alternativa").

38
circunstâncias pessoais do requerente individual e as condições no país de origem precisam
ser consideredadas.261

2. Sul e Centro da Somália 

Em virtude da indisponibilidade geral de protecção por parte do Estado no sul e centro da


Somália devido ao fato de que o Estado perdeu o controle efectivo sobre grandes áreas do
território, a situação no sul e centro da Somália não satisfaz o teste de "relevância" para a
aplicação do conceito IFA/IRA. Além disso, os sistemas da lei consuetudinária, não podem
ser considerados como fontes de proteccao efectiva e durável,262 devido à sua natureza
fragmentada, a recente queda dos mecanismos tradicionais de proteção do clã, inclinando-se
para a maioria dos clãs e as contradições entre o direito consuetudinário e a lei internacional
dos direitos humanos, particularmente em relação aos direitos das mulheres.

Na ausência do risco de perseguição ou outras ofensas graves a mudança, deve ser também
"razoável" para o requerente deslocar. Tal avaliação deve levar em conta os elementos de
tranquilidade publica e segurança, respeito pelos direitos humanos e opções para a
sobrevivência económica, por forma a avaliar se o indivíduo seria capaz de viver uma vida
relativamente normal, sem dificuldades indevidas dada a sua situação.263

À luz dos riscos de tranquilidade e segurança, os conflitos armados em curso e as frentes


armadas de deslocamento e as violações generalizadas dos direitos humanos decorrentes, ,
não pode ser considerado razoável para qualquer somali, independentemente de ser originário
do sul ou centro da Somália, de Somalilândia ou de Puntland, deslocar-se dentro ou para o sul
e centro da Somália.

O acesso à terra, água, serviços e segurança no sul e centro da Somália, é geralmente definida
pela adesão a clã. Em tais situações, não seria racional esperar que alguém estabeleça a sua
residência numa área ou comunidade onde as pessoas com um contexto diferente do clã são
acomodados, ou onde de outra forma seriam considerados estrangeiros. Há evidências de
assentamentos de PDIs nas zonas urbanas da Somália, incluindo Puntland e Somaliland, de
abuso diários enfrentados por membros de clãs que não são considerados "originários" da
área na qual se encontram deslocadas.

Além disso, não seria razoável tambem, para as pessoas que têm um receio fundado de
perseguição para deslocar dentro ou par o sul e centro da Somália, devido ao deslocamento
massivo de Mogadíscio, que drenou a capacidade de absorção das comunidades de
acolhimento na maioria das áreas do sul e centro da Somália - mesmo que as pessoas
deslocadas sejam do mesmo clã, como membros da comunidade de acolhimento. O colapso
econômico e deslocamento massivo saturaram o apoio social e economico a clã em áreas de
origem da clã. Em Galgaduud, que recebeu um dos maiores números de PDIs em 2007, foi
uma das poucas regiões que também testemunhou o regresso para Mogadíscio. Entrevistados
relataram ao ACNUR que tinham atingido o nível de desespero tão grave que preferiam a
miséria e a insegurança em Mogadiscio.

Com base no exposto, o ACNUR considera que não há fugas internas ou realocações
alternativas disponiveis em qualquer parte do sul e centro da Somália.

261
ACNUR, Fuga Interno ou Orientações de Relocacao Alternativa, p. 3.
262
Ibid, parag. 16-17.
263
Ibi, p. 3.

39
3. Somalilândia e Puntland 

Somalilândia e Puntland já acolheu dezenas de milhares de PDIs, excedendo de longe, a sua


capacidade de absorção. Além disso, como explicado, ambas as autoridades de Somalilândia
e de Puntland implementaram políticas rígidas com relação aos Somalis considerados não
originários destas áreas. Em Somalilândia, tais pessoas são consideradas como "estrangeiras"
nos termos da Constituição do auto-declarado Estado independente e, em Puntland,
preocupações de segurança nacional contra as pessoas do sul e centro da Somália, na
sequência do suicídio bombista264 de 2008 levaram à detenção e deportação para o sul e
centro da Somália e para Somalilândia e Puntland, respectivamente.

Além disso, na ausência de apoio e protecção do clã, um Somali originário de outra região da
Somália enfrentaria o destino geral das PDIs, incluindo a falta de protecção, acesso limitado a
educação e serviços de saúde, vulnerabilidade à exploração sexual ou a violações,265 trabalho
forçado, ameaça perpétua de despejo e destruição ou confisco de bens.

Um grande número de pessoas deslocadas vindas do sul e centro da Somália vive em


Puntland, recolhidos em favelas urbanas nas principais cidades de Bossaso, Galkacyo e
Garoowe. Enquanto muitos dos deslocados são do clã Darod e, portanto, tem possibilidade de
alguma protecção ao abrigo do sistema xeer do direito consuetudinário, os clãs minoritários
ou clãs que não constituem uma maioria em Puntland tem sofrido uma série de abusos em
campos de PDI e estão, essencialmente, sem recurso a justiça, quer através de mecanismos
legais formais ou informais. Os abusos relatados incluíam em grande numero, violência
sexual e baseada no género, detenção arbitrária, tomada de reféns por parte dos senhores de
terras privadas até que os pagamentos de renda, reais ou supostos tivessem sido feitos,
trabalho infantil forçado, incêndio criminoso e assassinato. Além disso, em várias ocasiões
nos últimos anos as autoridades de Puntland tem deportado um grande número de pessoas
consideradas não originarias de Puntland, incluindo pessoas que fogem da violência no sul e
centro da Somália. Há relatos de que muitas mulheres que fogem da violência no sul e centro
da Somália e que procuram protecção em Galkacyo são sujeitas a violência sexual. As
mulheres são supostamente alvos mesmo nos campos de PDIs visto que os agressores vêm à
noite e levam-nas para fora.266

Ainda, em dezembro de 2009, cerca de 1.700 PDIs no norte Galkacyo fugiram de ataques por
multidões que tinham como alvo seus negócios, suas casas e seus abrigos sobre as suspeitas
de que as PDIs estavam envolvidas em explosões na cidade. Casos de assassinatos e
explosões, aumentaram nas semanas anteriores, com rumores atribuindo esta tendência a
comunidade de deslocados, ainda que os rumores foram confirmados serem infundados pelo
Presidente do Municipio de Galkacyo Abdirahman Mahamud Haji.267
.
Quer exista um IFA/IRA em Puntland ou em Somaliland dependerá das circunstâncias do
caso concreto, compreendendo se o indivíduo é membro de um clã maioritario ou
minoritario, e se o indivíduo é originario do território onde IFA/IRA está sendo considerado.
As condições de vida geralmente deploráveis, de pessoas deslocadas em Puntland e
264
The New York Times, 5 atentados suicidas atinge Somália, 29 de Outubro de 2008,
http://www.nytimes.com/2008/10/30/world/africa/30somalia.html.
265
IRIN, Somália: Ao invés de um refúgio seguro, o medo e violacao em Galkacyo, 23 de Setembro de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4abb2d9d1a.html.
266
Ajuda de Asilo, Women’s Asylum News: Edição No. 87 de Outubro de 2009, edição n º 87 de 15 de Outubro de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4ad8231c2.html.
267
Rede de Informacao Regional Integrada (IRIN), Somália: PDIs sob ataque durante a violência em Galkayo, 21 de Dezembro
de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b39caec1e.html.

40
Somalilândia, no entanto, indicam que um IFA/IRA, geralmente não é disponível para
pessoas do sul e centro da Somália nesses territórios.

F. Exclusão da Protecção Internacional dos Refugiados 

À luz da longa história dos conflitos armadas da Somália, graves violações dos direitos
humanos e transgressões da lei humanitaria internacional, considerações de exclusão no
âmbito do artigo 1F da Convenção de 1951 podem surgir em relação aos pedidos individuais
de asilo por requerentes de asilo Somalis. Estudos da exclusão podem ser desencadeadas em
qualquer caso individual, se houver elementos no pedido do requerente em que sugerem que
ele ou ela pode ter estado associado ou envolvido com actos criminosos que se inserem no
âmbito do artigo 1F da Convenção de 1951.

No contexto da Somália, estudos de exclusão podem surgir nos casos de requerentes de asilo
Somalis com determinadas origens e perfis, incluindo pessoas que tenham estado envolvidas
em hostilidades e conflitos armados. Em particular, uma atenção cuidadosa deve ser dada aos
seguintes perfis: (1) membros do anterior regime de Barre e suas forças armadas,
especialmente sefor activo no conflito com grupos da oposição tais como na Somalilândia,268
(2) membros do anterior regime de Barre associado com a polícia, o aparelho de segurança e
inteligência, principalmente pessoas ligadas ao Serviço de Segurança Nacional, Tribunais de
Segurança Nacional,269 polícia militar (que também serviu como guarda presidencial), o
serviço de inteligência militar, os Pioneiros da Vitória das milícias de estilo;270 (3) membros
de grupos armados de oposição ao regime Barre, que participaram na competição
subsequente para o controle da Somália, após a queda do Estado, incluindo o Congresso
Unido Somali (USC), Movimento Nacional Somali (SNM), Frente Democrática para
Salvação Somali (SSDF), Al-Itihaad al-Islamiya (AIAI), Resistência Armada Rahanweyn
(RRA),271 (4) membros de grupos armados, que continuaram a competir pelo poder ou
268
O regime de Siad Barre (1969-1991), proibiu o clanismo e enfatizou a lealdade às autoridades centrais. Veja Metz, Helen C.
(1992), Medidas Repressivas de Siad Barre. Somália: Estudo do Pais, Washington, D.C.: Library of Congress,
http://lcweb2.loc.gov/cgi-bin/query/r?frd/cstdy:@field(DOCID+so0039).
269
I.M Lewis, A História Moderna da Somália: Nação e Estado no Corno de África, Rocha Arredondada: Westview Press,
1988, p. 212
270
O regime de Barre supostamente utilizou assassinatos sumarios, prisões arbitrárias, tortura, violacoes e execuções
simuladas, como realizadas pelo Servico de Seguranca Nacional de Barre (NSS). A unidade de elite de Barre, os boinas
vermelhas (Duub Cas) e a unidade paramilitar chamada Victory Pioneers alegadamente levaram a cabo uma violência
sistemática contra os clas de Majeerteen, de Hawiye, e Isaaq a partir do final dos anos 1970 em diante. Veja Metz, Helen C.
(1992), Medidas Repressivas de Siad Barre, Somália: Estudo do Pais, Washington, DC: Biblioteca do Congresso,
http://lcweb2.loc.gov/cgi-bin/query/r?frd/cstdy:@(DOCID+so0039). Veja também I.M Lewis, A História Moderna da Somália:
Nação e Estado no Corno de África, Rocha Arredondada: Westview Press, 1988, p. 213.
271
Todas as facções armadas seguintes foram fundadas antes da queda de Siad Barre: (i) O USC (Congresso Unido da
Somália), fundado por membros do clã Hawiye, em resposta aos massacres de Hawiye pelo regime de Barre, é uma das
principais organizações politicas e paramilitares na Somália. Este forçou Barre ao exílio por alegadamente invadir o palácio
presidencial em Mogadíscio em 1991 e, em seguida, assumir o controle da capital,
http://66.102.9.132/search?q=cache:lhgK7mpmEf8J:www.state.gov/r/pa/ei/bgn/2863.htm+USC+SOmalia&cd=3&hl=en&ct=clnk
&gl=uk; (ii) o SNM (Movimento Nacional Somali) foi fundado por dissidentes Isaaq em Londres em 1981 e iniciou suas
operações de guerrilha dentro da Somália, a partir da Etiópia desde 1982. Isto foi fundamental para a criação de Somaliland,
http://www.unhcr.org/cgibin/texis/vtx/refworld/rwmain?page=search&amp.docid=3ae6ab4a70&amp.skip=0&amp.query=USC,
(iii) SSDF (Frente Democratica de Salvacao Somali) tem a sua base de poder no clã Majerteen e tem sido uma importante
organização política e paramilitar desde a sua fundação em 1981, tentativa de golpe em 1982 e ajudar a proclamar o Estado
de Puntland, em 1998, http://www.unhcr.org/cgi-
bin/texis/vtx/refworld/rwmain?page=search&docid=4b0bde4e2&skip=0&query=somali%20Salvation%20Democr
atic%20Front&searchin=title&display=10&sort=date; (iv) AIAI (Al-Itihaad al-Islamiya), diminuiu
consideravelmente em termos de sua importância ao longo dos anos. Diz-se de ter tido vínculos com Al-Qaeda e ter tido seus
bens bloqueados pela administração Bush após o 11 de Setembro, Anexo D, http://www.unhcr.org/cgi-
bin/texis/vtx/refworld/rwmain?page=search&docid=486a53780&skip=0&query=Al-Itihaad%20al-Islamiya, (v) O
Exercito de Resistência Rahanweyn (RRA), também conhecido como Exército de Resistência Reewin, é um grupo militante
autonomista que operam nas duas regiões do sudoeste da Somália, Bay e Bakool. Foi a primeira facção armada Reewin a
surgir durante a guerra civil Somali. O objetivo declarado da RRA é a criação e reconhecimento de um estado independente
do sudoeste da Somália. Ele está atualmente sob a autoridade do Governo Federal de Transição, http://www.unhcr.org/cgi-

41
exercer de fato o controle sobre o território desde a instalação do Governo Nacional de
Transição (TNG), criado em outubro de 2000272 e TFG, incluindo a Aliança para a
Restauração da Paz e Contra o Terrorismo (APRPLCT) fundada em fevereiro de 2006,273
ICU,274 ARS,275 Al-Shabaab,276 Hizub Islam277 e outros grupos insurgentes, (5) membros do
TFG Executivo, Exército, Agência de Segurança Nacional, Polícia ou Administração
Benadir, em funcionamento desde o início de 2007, especialmente se exercendo funções
ligadas a operações militares e de segurança; (6) membros das milícias baseadas no clã no
controle ou tendo influência sobre determinadas áreas;278 (7) membros de quadrilhas
criminosas, especialmente as que operam no Centro-Sul da Somália desde 2007.279

Uma investigacao particularmente cuidadosa deve ser dada aos pedidos de asilo de indivíduos
associados ou envolvidos com actos que tenham ocorrido tanto antes como depois da queda
do regime de Barre, incluindo os conflitos entre facções armadas e os ataques a grupos civis.
Além disso, o recente período de conflito entre as forças do TFG/ENDF e os vários grupos

bin/texis/vtx/refworld/rwmain?page=search&docid=486a53780&skip=0&query=Al-Itihaad%20al-Islamiya. De
acordo com o relatório do Secretário-Geral sobre Crianças e Conflito Armado S/2005/72, a USC, o Exercito de Resistência
Rahanweyn e o SSDF, todos recrutam ou utilizam crianças em conflitos armados. Veja Assembléia Geral da ONU, Crianças e
conflito armado: relatório do Secretário-Geral, 9 de Fevereiro de 2005, A/59/695-S/2005/72,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/49997ae55.html.
272
O mandato do TNG acabou oficialmente em 12 de Agosto de 2003, consulte Seguranca Global,
http://www.globalsecurity.org/military/world/war/somalia-south.htm
273
Para mais detalhes veja Source Watch
http://www.sourcewatch.org/index.php?title=Alliance_for_the_Restoration_of_Peace_and_Counter-Terrorism (ARPCT).
274
ICU ou União dos Tribunais Islâmicos foi um grupo de tribunais Sharia, que se uniram para formar uma administracao rival
para o TFG. Eles controlaram a maior parte do sul da Somália e da grande maioria da população até o final de 2006 quando
radicais islâmicos romperam as fileiras da ICU e formaram outros grupos militantes tais como a Al-Shabaab e Hizbul Islam,
para continuar a guerra contra o governo. Os tribunais aderiram a uma interpretação estrita da Sharia que inclue a proibição
da música e da aprovação das punições hudud. Veja BBC News, Perfil: Tribunais Islâmicos da Somália,
http://news.bbc.co.uk/2/hi/5051588.stm
275
ARS ou Aliança para a Re-Libertação da Somália foi criado em Setembro de 2007 para combater o TFG. Esta baseado na
Eritreia e seus membros incluem islamitas somalis e os membros da antiga ICU, bem como ex-membros do TFG. O seu
objectivo declarado é o de remover o TFG através da negociação ou de guerra, Delegação da Comissão Europeia na Unidade
de Operacoes Quenia Somália, Análise Operacional Anual de Cooperação entre o povo da Somália e a Comunidade Europeia
em 2007, 2007, http://ec.europa.eu/development/icenter/repository/jar07_so_en.pdf.
276
Al-Shabab ou Harakat al-Shabaab Mujahideen ("Movimento da Juventude Guerreira") é um renovo do ICU acima e impõe
uma forma particularmente severa da lei sharia. É relatado ter começado em 2006. O grupo é dito para controlar a maioria do
sul e centro da Somália e é relatado ter declarado guerra sobre o TFG, AMISOM, a ONU e sobre organizações não-
governamentais ocidentais de distribuição de ajuda alimentar. Ela já matou 42 trabalhadores de ajuda nos últimos dois anos e
tem sido designado como uma organização terrorista com ligações à Al-Qaeda, http://www.unhcr.org/cgi-
bin/texis/vtx/refworld/rwmain?page=search&docid=4a1fadc140&skip=0&query=Al%20Shabab%20background e
tambem http://www.unhcr.org/cgi-
bin/texis/vtx/refworld/rwmain?page=search&docid=4913f9ce2&skip=0&query=al%20shabab%20aid%20workers
. Veja a secção "Principais Categorias de Peticoes" para obter informações sobre Al-Shabab administrar punições como
chicotadas, amputações e apedrejamentos.
277
Hizbul-Islam foi formado em 2009 após quatro grupos islâmicos fundirem-se para lutar contra a nova TFG e as forças da
União Africana em Mogadiscio. Os quatro grupos foram ARS Eritreia de Hassan Aweys, Jabhatul Islamiya ("Frente Islâmica"),
Hassan Abdullah Hersi al-Turkis Mu'askar Ras Kamboni (Ras Kamboni Brigade) e Muaskar Anole.
http://209.85.129.132/search?q=cache:rXL-
JdLmHcMJ:www.longwarjournal.org/archives/2009/07/somalias_shabaab_hiz.php+Hizbul-
Islam+who+are+they%3F&cd=2&hl=en&ct=clnk&gl=uk. No dia 1 de Outubro de 2009, conflito armado entre Hizbul Islam e Al-
Shabaab começou sobre quem estava no controle da cidade portuária de Kisimayo. Na batalha que se seguiu Hizbul Islam foi
expulso da cidade e foi expulso da maior parte do sul da Somália nos meses seguintes. Sua presença só permanece na região
de Gedo, do Hiraan e da capital, BBC News, Por trás da rivalidade de islâmicos da Somália, 01 de Outubro de 2009,
http://news.bbc.co.uk/2/hi/8284958.stm.
278
Milícias baseadas no Clã são as milícias que pertencem a muitos dos clãs Somalis para proteger suas terras e parentes.
Muitos são agora geridos por senhores de guerra. O TFG tentou desarmar as milícias do país no final de 2006. Segundo a
secretaria de coordenacao de Avaliacao de Necessidades Conjuntas (JNA) da ONU/Banco Mundial, "o número total estimado
de milícias [membros de milicias], a serem desmobilizados [era] 53.000",
http://escolapau.uab.cat/img/programas/desarme/mapa/somaliai.pdf. As milicias do clã continuam a lutar fortemente em
Mudug, região de Somália, que causaram mortes, ferimentos e perdas de propriedades a partir de abril 2010,
http://allafrica.com/stories/201004020594.html. Consulte a secção sobre Principais Categorias de Petições para obter mais
informações sobre o sistema de clãs.
279
Relata-se que as quadrilhas criminosas na Somália são muitas vezes ex-milícias atraídas para as actividades criminosas de
recompensas financeiras de atividades, tais como sequestro e negocio lucrativo de embarque de navios no Golfo de Aden ou
o Indiano e prendê-los, suas tripulações e cargas para resgates. Algumas dessas quadrilhas sao também lideradas por ex-
oficiais da marinha Somali http://www.nationaldefensemagazine.org/archive/2010/April/Pages/SomaliPiracyTacticsEvolve.aspx.

42
insurgentes que operam no sul e centro da Somália são motivo de preocupação. Relatórios e
testemunhos de refugiados, Pessoas deslocadas internamente e outras fontes alegam que os
grupos rebeldes violaram a lei humanitária internacional, levando intencionalmente o conflito
para áreas povoadas ou frequentadas por civis.280280 Da mesma forma, outros atos que
possam suscitar estudos de exclusão incluem aqueles cometidos durante os seguintes
períodos:

• 1988: os bombardeamentos indiscriminados de Hargeysa pelo Exército Nacional


Somali, e supressão da Issaq liderado pelo Movimento Nacional Somali em
Somaliland, bem como sequestro, tortura e assassinato de civis,281

• 1988-1991: detençao arbitrária e tortura de prisioneiros de consciência, tortura


sistemática de presos políticos pelo serviço de segurança nacional no sul da Somália
pelo regime de Barre;282

• 1989-1990: actos cometidos tanto pelo Congresso da Somália Unida (USC) como
pela Frente Patriótica Somali (SPF) em sua oposição inicial à desintegração do
"exército nacional" em Hiraan e Galgaduud e Bay e Baixo Juba, respectivamente;283

• 1991-1992: ataques violentos em Mogadíscio por Hawiye contra todos os não-Hawiye


(mais especificamente, contra membros do clã Darod);284

• 1991-1994: ataques de varias facções contra o Bantu em Juba e vales Wabi Shabelle,
incluindo incendio de aldeias, violacoes e pilhagem de bens, seguida pela ocupação de
escravos pelos senhores da guerra da Região Central;285

• 1999: assassinatos e destruição de aldeias pelas forças leais ao Hussin Mohammed


Aideed e do Exército de Resistência Rahanweyn em Baydhaba;286

• 2002-2003: assassinatos de civis durante os conflitos nos arredores de Baydhaba entre


facções do Exército de Resistência Rahanweyn (RRA),287

• 2007-2009: operacoes militares por TFG, ENDF eas forces insurgents,


particularmente em Mogadiscio, e ainda nas provincias de Galgaduud, Bay, Bakool,
Hiraan, Gedo, Shabelles e Juba.

280
Conselho dos Direitos Humanos da ONU, Relatório de Perito Independente sobre a Situação dos Direitos Humanos na
Somália, Shamsul Bari, A/HRC/12/44, 17 de setembro de 2009 http://www.unhcr.org/refworld/docid/4acb4abc2.html.
281
Para as contas detalhadas da situação de 1988, no Noroeste, ver Robert Gersony, porque Somalis fogem: Uma Síntese da
Experiencia do Conflito no Norte da Somália, por Refugiados Somalis, Pessoas Deslocadas e Outros, Departamento de
Estado dos Estados Unidos, Gabinete de Programa para os Refugiados, 1989 , também publicado no International Journal of
Refugee Law, vol. 2 No. 1, 1990, http://ijrl.oxfordjournals.org/cgi/reprint/2/1/4-a, e Human Rights Watch (África Watch),Um
Governo em Guerra contra seu próprio povo: Depoimentos Sobre a Assassinatos e do conflito no Norte, Londres, 1990.
282
Ver, por exemplo, Catherine Besteman, A Luta pela Terra no Sul da Somália: The War Behind the War, Boulder, Colorado,
1996.
283
Para breve histórico sobre as operações da USC e da SPM, veja Gérard Prunier, Somália: Guerra Civil, Intervenção e
Retirada, Estudo Trimestral de Refugiados, vol. 15, No. 1, 1996, http://rsq.oxfordjournals.org/cgi/reprint/15/1/35.
284
Ver, por exemplo, Said S. Samatar, Somália: Uma Nação em Crise, Grupo Internacional dos Direitos das Minorias, 20 de
Junho de 1991.
285
Quase todas as milícias baseados em clãs que operam no sul estavam envolvidos em violações contra o grupo amplamente
descrito como bantu.
286
Veja Reuters, Cautious Welcome for Peace Deals at OUA Meet, 8 de Julho de 1999.
287
Veja Relatórios de IRIN, incluindo Baidoa uneasy as RRA leaders wrangle, 27 de Junho de 2002,
http://www.irinnews.org/report.aspx?reportid=32707.

43
G. Elegibilidade  Sob  um  Prolongado/Amplo  Critério  de  Refugiados,  ou 
sobre uma Base de Formas Complementar/Subsidiária de Protecção numa 
Situação de Violência Generalizada 

Esta secção de Directrizes tem por objetivo fornecer orientação para a determinação da
elegibilidade de Somalis que afirmam ter fugido da Somália, devido aos perigos associados
com o conflito armado ou de violência generalizada reinante na Somália.

É importante notar que as pessoas que fogem do seu país de origem em situações de conflitos
armados e violência generalizada podem ter um receio fundado de perseguição com base num
ou mais dos motivos descritos no artigo 1A(2) da Convenção de 1951 e/ou do Artigo I(1) da
Convencao da OUA.288 Os critérios para o estatuto de refugiado ao abrigo destas duas
disposições devem ser interpretadas de tal modo que indivíduos ou grupos de pessoas que
satisfaçam esses critérios são devidamente reconhecidos e protegidos ao abrigo destes
instrumentos. Isto é particularmente relevante onde, como no sul e centro da Somália, o
conflito armado interno está enraizado nas disputas religiosas, étnicas e/ou políticas, e onde
determinados grupos ou indivíduos estão sendo alvos. Tendo em conta as violações
generalizadas dos direitos humanos contra pessoas com perfis específicos, pode-se esperar
que muitos requerentes de asilo do sul e centro da Somália, incluindo os provenientes de
áreas onde o conflito armado está a ser sustentado, serão elegíveis para a protecção de
refugiados ao abrigo das disposições supra mencionadas.289

O prolongado/amplo critério de refugiado consagrado em vários instrumentos regionais


relativos aos refugiados (Declaração de Cartagena de 1984 e a Convenção da OUA de 1969)
e do mandato do ACNUR, são fundamentais para responder às necessidades de protecção
internacional das pessoas que não satisfaçam os critérios da Convenção e que estão fora do
seu país de origem devido a grave ameaça às suas vidas, liberdade ou segurança, como
resultado da violência generalizada ou acontecimentos que perturbem gravemente a ordem
pública.290

Em outras regiões, a definição de refugiado da Convenção de 1951 não tem sido prorrogado,
mas complementada atraves da criação de mecanismos desenhados especificamente para
oferecer uma forma de protecção internacional a pessoas consideradas estar em necessidade
de protecção internacional, mas que não se enquadram no âmbito da Convenção de 1951. Na
União Europeia, por exemplo, uma "protecção subsidiária"291 deve ser concedida a pessoas
que tenham sido encontradas nao satisfazendo os critérios para o estatuto de refugiado ao
abrigo da Convenção de 1951, mas correndo o risco de danos graves por força de violência
indiscriminada em situações de conflito armado interno ou internacional.

Além do exposto, as formas complementares/subsidiária de protecção, como resultado de


obrigações do direito internacional e regional de direitos humanos estão disponíveis para

288
Manual do ACNUR, parág. 164.
289
Ao examinar a ligacao com do campo da Convenção de 1951 nas petições de pessoas que fogem de uma situação de
conflito armado, não há exigência de que o indivíduo seja conhecido e procurado pessoalmente pelo(s) agente(s) de
perseguição. Comunidades inteiras podem arriscar ou sofrer perseguição por motivos da Convenção de 1951, e não há
exigência de que um indivíduo sofra uma forma ou grau de prejuízo que é diferente do que a sofrida por outras pessoas com o
mesmo perfil. Além disso, muitos civis comuns podem estar em risco de dano de bombas, bombardeamentos, ataques
suicidas, e dispositivos explosivos improvisados. Estes métodos de violência podem ser usados contra alvos ou em áreas
onde os civis de perfis politicos e étnicos especificos predominantemente residem ou se reunem, e por este motivo, podem
estar ligados ao campo da Convenção de 1951.
290
ACNUR, Nota sobre Proteccao Internacional (apresentado pelo Alto Comissariado), A/AC.96/830, 7 de Setembro de 1994,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/3f0a935f2.html .
291
Art. 15(c) da Directiva de Qualificação, ver nota de rodape 4.

44
atender às necessidades de protecção resultantes de outros perigos para a vida ou a
integridade física dos individuos.292

1. Conflito armado no Sul e Centro da Somália 

As partes do conflito em Mogadíscio, e noutros lugares do centro e sul da Somália, parecem


falhar consistentemente no respeito aos princípios básicos da lei humanitário internacional, e
constituem séria ameaça para a vida de civis.293 A população civil sofre as consequências dos
combates no centro e sul da Somália, que provocou ondas de deslocados dentro da região,
bem como de fluxos externos para, por exemplo, Quénia e Iémen. Os combates no sul e
centro da Somália continuam entre as forças pró e anti-governamentais, embora haja também
relatos de lutas corpo-a-corpo em alguns areas294 entre al-Shabaab, Hizbul Islam e Ahlu
Sunna Wal Jama.295 Estas lutas tem resultado num número significativo de mortes entre os
civis e deslocamentos de grande escala. O coordenador humanitário da ONU para a Somália
comentou sobre os níveis muito elevados de civis mortes durante os combates em
Mogadíscio em abril de 2010 e tomou conhecimento de relatórios de hospital que mostram
mais de 900 vítimas civis para o período entre março e abril 2010.296 Ameaças serias à vida
são as principais razões porque 36.000 Somalis procuraram refúgio no Quénia, no primeiro
semestre de 2009, enquanto cerca de 12.000 pessoas encontraram abrigo temporário na
cidade de Bossaso em Puntland, entre maio e setembro de 2009.297 O assassinato ou
ferimento de civis durante combates entre todas as partes no conflito continuam a ser
consistentemente relatados, incluindo através de intercambios de fogo de morteiro repetido,
imprecise e indiscriminado,298 disparos indiscriminados de artilharia pesada em mercados e
áreas residenciais,299 bermas das estradas e veículo suporte de bombas, e posterior trocas de
fogo de armas leves.300

Em Mogadíscio, onde sao registados os mais frequentes relatórios de violência e conflito,


civis e combatentes são igualmente mortos e feridos em números significativos, estimados
292
ACNUR, EXCOM, Conclusão sobre a Provisão de Protecção Internacional, incluindo através de Formas de Protecção
complementar, No. 103 (LVI) - 2005, 7 de Outubro de 2005, http://www.unhcr.org/refworld/docid/43576e292.html . Formas
complementares de protecção podem ser procuradas pelos cidadãos do Kosovo sob diversos instrumentos internacionais,
incluindo, designadamente, a Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos Degradantes ou Desumanos ou Cruéis ou
Punicao, resolução adoptada pela Assembleia Geral, entrada em vigor a 10 de Dezembro de 1984, A/RES/39/46,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/3b00f2224.html; Pacto sobre Direitos Civis e Políticos, Resolucao da Assembleia Geral
2200A (XXI), 21 U.N. GAOR Supp. (No.16) em 52, U. N. Doc. A/6316 (1966), 999 U.N.T.S. 171, em vigor desde 23 de Março
de 1976, do Conselho da Europa, Convenção Europeia para a Protecção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais, 4
de Novembro de 1950, ETS 5, http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6b3b04.html.
293
IRIN, Somália: "As pessoas podem estar morrendo em suas casas e não sabemos sobre isso", 9 de Junho de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a3b58991a.html . Veja também Amnistia Internacional, Somália: Alegações das forces de
destacamento da UA sobre a investigacao das necessidades de civis, 05 de Fevereiro de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/498fe0671e.html, e VOA News, Exercito de Manutencao da Paz da Somalia Acusados de
disparar contra areas civis, Alisha Ryu, 22 de Outubro de 2009, http://www.voanews.com/english/2009-10-22-voa11.cfm , a
comunicação afirma que as tropas da AMISOM usam excessiva e indiscriminada forca quando atacado por grupos insurgentes
islâmicos na capital causando baixas significativas entre a população civil.
294
IRIN, Somália: Civis fogem das lutas em Kismaayo, 01 de outubro de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4acaea871e.html.
295
OCHA, Somália: Redução de abrigo e pouca água, 13 de Abril de 2010,
http://www.irinnews.org/report.aspx?ReportID=87977.
296
Rádio das Nações Unidas, o Chefe Humanitário está preocupado com a condição de civis em Mogadíscio, 14 de Abril de
2010, http://www.unmultimedia.org/radio/english/detail/93864.html.
297
Conselho dos Direitos Humanos da ONU, Relatório de Perito Independente sobre a Situação dos Direitos Humanos na
Somália, Shamsul Bari, A/HRC/12/44, 17 de Setembro de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4acb4abc2.html.
298
Amnistia Internacional, Somália: Fim de bombardeamento indiscriminado em Mogadíscio, 19 de Junho de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a56080d2.html .
299
BBC News, Somália: MSF condena os ataques indiscriminados, 4 de Fevereiro de 2010,
http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/8497981.stm .
300
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Secretário-Geral sobre a situação na Somália, S/2009/132, 9 de Março de
2009, p. 18, http://www.unhcr.org/refworld/docid/49ba27f72.html; Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Secretário-
Geral sobre a Somália nos termos da Resolução do Conselho de Segurança 1863 (2009), S/2009/210, 16 de Abril 2009, p. 5
http://www.unhcr.org/refworld/docid/49f1723c2.html.

45
entre 20 a 50 mortes por semana.301 Devido aos tipos de munições e táticas empregadas por
todos os lados no conflito, incluindo bombardeamento indiscriminado na própria cidade, os
civis302 são capturados regularmente no fogo cruzado.303 No Dia Nacional do Exército em 13
de Abril de 2010, 18 pessoas foram mortas por bombardeamentos ou por uma bomba na
berma da estrada em Mogadiscio.304

Em Setembro de 2009, 145 pessoas foram mortas e outras 285 ficaram feridas em pesados
confrontos por todo o sul e centro da Somália, principalmente em Kismaayo e Mogadishu.305
A MSF observou uma total falta de consideração pela tranquilidade pública dos civis na
sequência da admissão no Hospital de Daynile em Mogadiscio, de 66 mulheres e crianças
feridas nos combates no início de 2010 num periodo de 72 horas, e destaca que em 2009
pouco menos da metade dos 1.137 pessoas admitidas neste hospital eram mulheres e crianças
com menos de 14 anos.306

O controle territorial sobre Mogadishu é dividido entre as forcas pró e anti-governamentais e


esta luta para o controle é refletida nos frequentes surtos de luta, resultando em mortes e
feridos civis, e muitas vezes resultando em paralizacao territorial.307 Enquanto Mogadíscio
tem estado constantemente no centro do conflito, em outras partes do sul e centro da Somália
estao também a ser afetadas pela violencia,308 incluindo áreas em Galgadud e Hiraan.309 Há
relatos de deslocacoes da população à violência de Jowhar de Harardhere. As lutas entre o
Hizbul Islam e ASWJ ao redor das cidades centrais de Dhusamareb Beletweyne provocaram
a deslocacao de mais de 25.000 pessoas no início de 2010.310

Agravando a situação de deslocamentos populacionais em grande escala devido ao conflito


em curso, ha insegurança alimentar. A suspensão da distribuição de alimentos pelo PMA para
a maior parte das regiões do sul e centro da Somália é misturada a seca que assola muitos
campos de PDIs e as comunidades de acolhimento. O conflito também está a tomar grande
parte da capacidade logística das organizações de ajuda para fazer chegar a tão necessária

301
Conselho de Segurança da ONU, Relatório do Secretário-Geral sobre a Somália nos termos da Resolução do Conselho de
Segurança 1872 (2009), S/2009/503, 2 de Outubro de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4acddae92.html.
302
Amnistia Internacional, Somália: civis pagam o preço dos intensos combates em Mogadíscio, 4 de Março de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/49b668732.html.
303
IRIN, Somália: Explosão mata grupo de veteranos de Guerra incapacitados em Mogadíscio, 14 de Setembro de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4ab892252.html. Veja também IRIN, Somália: Crianças vulneráveis duramente atingidas
nas lutas em Mogadíscio, 14 de Julho de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a5d996d1e.html . Veja também Amnistia
Internacional, Somália: Fim do bombardeamento indiscriminado em Mogadíscio, 19 de Junho de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a56080d2.html. Veja BBC News, bombardeamento “mata civis somalis", 22 de Outubro
de 2009, http://news.bbc.co.uk/2/hi/africa/8319917.stm . Veja também, Elman Peace Centre, fogo com granadas mata pelo
menos 30 pessoas em Mogadíscio, 22 de Outubro de 2009, http://www.elmanpeace.org/news-2009-Oct-
22/13/shell_fire_kills_at_least_30_in_mogadishu.aspx.
304
CNN, Combates na Somália matam 18, ferem duzias, 13 de Abril de 2010,
http://edition.cnn.com/2010/WORLD/africa/04/12/somalia.fighting/index.html?hpt=T2.
305
ACNUR, Novos combates irrompem na Somália, número de vítimas aumenta, Briefing Notes, 1 de Outubro de 2009,
http://www.unhcr.org/4ac5d8ed9.html.
306
MSF, 66 mulheres e crianças feridas por bombardeamentos indiscriminados, foram admitidas no Hospital Daynite em
Mogadíscio, Somália, http://www.msf.org/msfinternational/invoke.cfm?objectid=93C50769-15C5-F00A-
25CF88378425ACDB&component=toolkit.article&method=full_html, O Chefe da Missão da MSF afirmou que todas as partes
são culpadas por bombardeios indiscriminados.
307
IRIN, Somália: a batalha de Mogadíscio "marcas do ponto de viragem", 15 de Julho de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a642a0d2c.html.
308
IRIN, Somália: Número recorde de 1,5 milhões de deslocados, 7 de Setembro de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4aae3fa71a.html.
309
OCHA, Somália: Redução de abrigo e pouca água, 13 de Abril de 2010,
http://www.irinnews.org/report.aspx?ReportID=87977, pelo menos, 29.000 fugiram de Dusamareb em Galgadud, enquanto
25.000 fugiram de repetidos confrontos em Beled Weyne em Hiraan,disse o ACNUR em Fevereiro de 2010.
310
Human Rights Watch, Harsh War, Harsh Peace, 19 de Abril de 2010, 1-56432-621-7,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4bcd64c82.html.

46
assistência às populações necessitadas visto que o conflito afecta as principais arterias
rodoviarias311 e devido a ameaças contra os trabalhadores humanitários.

Face ao exposto, o ACNUR considera que a situação prevalecente no sul e centro da Somália,
com a relatada alta frequência de baixas significativas entre a população civil representa
acontecimentos que perturbam seriamente a ordem pública no sentido amplo da definição de
refugiado do artigo I(2) da Convencao da OUA ou - no contexto europeu - uma situação de
violência indiscriminada em situações de conflito armado interno na acepção do artigo 15(c)
da Directiva de Qualificação Directiva da UE.312 Além disso, o ACNUR considera que não
existem zonas confiáveis de seguranca nas regiões Sul e centro da Somália, dada a evolução
imprevisível do conflito, caracterizada por luta constante pelo controle territorial pelas partes
do conflito e erupção da violência em áreas não afectadas anteriormente e, portanto, qualquer
indivíduo presente no território estaria em risco de danos graves.

2. Conflito Armado em Puntland e Somaliland 

As disputas territoriais entre Puntland e Somalilândia e dentro de cada entidade, nos últimos
anos, tem resultado em violentos confrontos. As regiões Sool e Sanaag são reivindicados
tanto por Puntland como por Somalilândia. As tropas Somalilândiatomaram o controle das
regiões de Sool Sanaag e Somaliland governa os três territorios.313 Há relatos de que de vez
em quando as tropas Somaliland continuam a lutar contra a milícia leal a Puntland nestas
áreas e há relatos esporádicos de ataques, assassinatos e danos a civis.314 Muitas das pessoas
deslocadas provenientes destas zonas estão alegadamente muito receosas de voltar,
especialmente os que apoiaram as forças de Puntland as quais perderam o controle dos
territories.315

Entretanto, o ACNUR considera que nao existe uma situação de violência generalizada ou
acontecimentos que perturbem gravemente a ordem pública ao ponto de um indivíduo
presente em Puntland ou em Somalilândia estar em risco de danos graves.

V. Anexo:  Clãs  Somalis,  Lei  Consuetudinária,  Normas  e  Estruturas 


Sociais  

Este anexo visa fornecer uma preparacao sobre clãs e lei consuetudinária, que continuam a
expor certos perfis para as violações dos direitos humanos. Esta secção não pretende cobrir o

311
IRIN, Somália: Milhões permanecem em necessidade de auxílio, diz a agência, 21 de Julho de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a682441c.html. Veja também Centro de Monitoria de Deslocamento Interno (IDMC),
Somália: Crises políticas e de segurança, Limites de Acesso e Cortes de Doadores Aumenta a Vulnerabilidade de PDI, 10 de
Dezembro de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b20f2df2.html.
312
AM e AM (Conflito Armado: Categorias de Risco), Somália CG [2008] UKAIT 00091, Tribunal de Imigração e Asilo do Reino
Unido, 27 de Janeiro de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4934f7542.html, que substitui orientação do país em HH &
Outros (Mogadíscio: Conflito Armado: Risco) Somália CG [2008 UKAIT] 00022 com a seguinte extensão:
"(I) Existe actualmente um conflito armado interno na acepção da Lei Humanitária Internacional (IHL) e o artigo 15(c) da
Directiva de Qualificação dos Refugiados em todo o sul e centro da Somalia, não apenas em redor de Mogadíscio. O conflito
armado ocorrendo em Mogadíscio ascende actualmente a violência indiscriminada a tal nível de gravidade que coloca a
grande maioria da população em risco de um padrão consistente de violência indiscriminada ".
313
Somaliland Press, presidente de Puntland promete recapturar Sool, Sanaag e Cayn de Somaliland, 2 de Agosto de 2009,
http://somalilandpress.com/7827/puntland-president-vows-to-recapture-sool-sanaag-and-cayn-from-Somaliland /.
314
Somaliland Press, Forcas Somaliland avançam para Puntland, 24 de abril de 2009
http://somalilandpress.com/4647/somaliland-forces-advance-towards-puntland/. Veja também Departamento de Estado dos
Estados Unidos, Relatórios Nacionais sobre Práticas de Direitos Humanos 2009 - Somália, 11 de Marco de 2010,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4b9e52bdc.html.
315
IRIN, Somália: Ao invés de um refúgio seguro, medo e violacoes em Galkacyo, 23 de Setembro de 2009,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/4abb2d9d1a.html.

47
assunto de forma abrangente, porém, são destacados alguns pontos centrais que são
relevantes durante os procedimentos de asilo, enquanto são fornecidas referências para
análise posterior.

Os Somalis não são uma população etnicamente homogênea, e há muitas variações na cultura
e na língua, especialmente entre as comunidades no sul e centro da Somalia.316 Há, contudo,
uma etnia "dominante" associada com os grupos pastoralists do norte, o Samaal, cujas
estgruturas sociais tornaram-se subtis na sociedade da Somali durante vários séculos. A
história da expansão de Samaal nos dias modernos do centro e sul da Somália tem sido uma
das interaçoes com, senao eventualmente dominação de outros grupos étnicos, incluindo os
agro-pastoreiros sedentarios na zona inter-fluvial, bem como outros grupos minoritarios ou
"fora de casta".317 Os últimos grupos não-Samaal, tem sido permitidos ou a adaptar-se à
cultura Samaal, ou a enfrentar a exclusão social, discriminação e, em alguns casos, a
perseguição.

A. Estruturas Dominantes Sociais318 

A posição de um Somali, face ao sistema do clã dos Samaal continua a ser um factor
fundamental de definição nas relações sociais, no acesso à justiça e outros direitos civis e
políticos e lealdade política dessa pessoa.319

A estrutura do clã é baseado num "sistema de linhagem segmentaria orientada


verticalmente"320 no qual, a identidade de um indivíduo do clã é transmitida através da linha
paterna. O sistema de linhagem segmentaria pode ser diferenciado em categorias de família-
cla, clã, sub-clã, linhagem primária e grupos de “mag-paying” (viganças) como divisões de
tamanho variável.

Espaco para estrutura do Cla

Embora as linhagens de Samaal podem estar unidas por uma genealogia comum a partir de
um antepassado místico, a familia clã da família é geralmente o maior grupo que define a
identidade do clã.321 As principais familias clãs incluem os Darod, Hawiye, Dir e,
316
Banco Mundial, Conflitos na Somália: Drivers and Dynamics, janeiro de 2005, p. 7,
http://siteresources.worldbank.org/INTSOMALIA/Resources/conflictinsomalia.pdf. Cf.I.M. Lewis, Uma Democracia Pastoral:
Estudo de Pastoralismo e Políticas Entre os Somalis do Norte do Corno de África, James Currey, 1961; Lee Cassanelli,
Formação da Sociedade Somali (1600 a 1900), Philadephia, Pennsylvanisa Press, 1982 e Ahmed Jimale Ahmed, A Invenção
da Somália, Lawrenceville, Red Sea Press, 1995.
317
Joakim Gundel, a situação de "Oday ': O Papel das Estruturas Tradicionais em Segurança, Direitos, Lei e Desenvolvimento
na Somália, Conselho Dinamarquês para os Refugiados/ Oxfam Novib, Novembro de 2006, p. 4,
http://siteresources.worldbank.org/INTJUSFORPOOR/Resources/ThePredicamentoftheOday.doc. Veja também I.M Lewis, A
História Moderna de Somalis, Estudos Africanos Orientais, James Currey, 4a. edição rev., 2002, pp. 27-32, sobre a expansão
da Somália a partir do litoral norte no que é hoje o sul e central da Somália.
318
A seguinte secção é resumido de Joakim Gundel, A situação de "Oday': O Papel das Estruturas Tradicionais em Segurança,
Direitos, Lei e Desenvolvimento na Somália, Conselho Dinamarquês para os Refugiados/Oxfam Novib, Novembro de 2006, p.
2, http://siteresources.worldbank.org/INTJUSFORPOOR/Resources/ThePredicamentoftheOday.doc, o qual fornece uma
descrição concisa da estrutura social de pastores nómadas. Veja também Guido Ambroso, Relacionamento entre clas, Conflito
e Refugiados: Somalis no Corno de África, Inéditos/Manuscritos, Bruxelas, Março de 2002, com base no I.M Lewis, Uma
Democracia Pastoral: Estudo de pastoralismo e Políticas Entre os Somalis do Norte da Somália no Corno de África, James
Currey de 1961.
319
G. Prunier, Somália: Guerra civil, Intervenção e Retirada (1990-1995), Estudo Trimestral de Refugiados Vol. 15(1), 1996,
p.36.
320
Joakim Gundel, a situação de "Oday ': O Papel das Estruturas Tradicionais em Segurança, Direitos, Lei e Desenvolvimento
na Somália, Conselho Dinamarquês para os Refugiados/ Oxfam Novib, Novembro de 2006, p. 5,
http://siteresources.worldbank.org/INTJUSFORPOOR/Resources/ThePredicamentoftheOday.doc.
321
Ibid

48
discutivelmente, o Isaaq.322 O Rahanweyn,323 habitando actualmente partes das regiões de
Bay, Bakool e Gedo, são distintos dos pastores Somalis, e tem uma genealogia diferente,
embora reivindiquem uma descendencia mitológica semelhante ao Qurayshi. As familias clãs
são muitas vezes tão grandes que elas raramente funcionam como unidades políticas, no
entanto, as identidades de família-clã tem sido mobilizados e explorados por líderes
políticos,324 e o quadro das identidades de família cla excedem as linhas de conflito.325

As famílias-clã, por sua vez, estao divididos em clãs e sub-clãs, mais uma vez ligados
verticalmente a um ancestral comum, geralmente mais de 15 a 20 gerações. Os clãs e sub-clãs
estão divididos em linhagens primária e secundária, geralmente entre 10 e 15 gerações desde
um clã ou sub-cla individual.326

Possivelmente a relação social imediatamente mais evocada é, no entanto, o "diya" ou


"mag" paying groups, uma unidade composta de algumas centenas a alguns milhares de
parentes patrilineares próximos (conhecidos como "tol"). Este grupo assume a
responsabilidade colectiva de pagar e receber uma indemnização de sangue para uma série de
infracções, mais comumente onde o membro do grupo é ferido ou morto.327

B. Lei Consuetudinária (Xeer) 

O xeer Somali, ou lei consuetudinário, os acordos não escritos, transmitidos oralmente de


geração em geração. Primeiramente, em matéria de gestão de questões quotidianas dentro do
clã, o xeer pode e tem sido expandido para gerir as relações entre clãs, incluindo o
casamento, a hospitalidade, as regras de utilização dos recursos, e compensaçao para os
crimes cometidos por membros de um clã contra o outro. O xeer mantem todo o grupo mag-
paying colectivamente responsável por um crime cometido por um ou mais de seus membros.
Se o mag é pago, então o clã prejudicado pode optar por matar o criminso ou outros membros
do clã dessa pessoa - uma forma de responsabilidade criminal colectiva que nos actos teoricos
como um impedimento contra os crimes cometidos em primeiro lugar, e como forma de
reforçar o pagamento de compensação. O não pagamento e ataques subsequentes pode
desencadear um ciclo de vinganças de sangue entre dois clãs ate que os mais velhos aceitem a
resolução através de negociações de paz e “mag-payment” adicionais.328

322
Nota extraída de Joakim Gundel, a situação de "Oday ': O Papel das Estruturas Tradicionais em Segurança, Direitos, Lei e
Desenvolvimento na Somália, Conselho Dinamarquês para os Refugiados/ Oxfam Novib, Novembro de 2006, p. 5,
http://siteresources.worldbank.org/INTJUSFORPOOR/Resources/ThePredicamentoftheOday.doc
"Já em 1961, I.M Lewis descreveu o Isaaq como um clã familiar em si mesmo, porque o Isaaq assim se consideram, nao
obstante outros Somalis agrupa-os com os Dir. Além disso, eles actuam como uma familia cla separada. De acordo com o I.M
Lewis (1961) o pedido de Isaaq para descer a partir de Ali Bin Abi-Talib, e não seu irmão Aqiil como o pedido dos outros clãs.
Contudo, esta é uma questão polêmica que também poe em jogo as percepçoes do direito do Isaaq para reivindicar a
independência, em Somaliland versus a percepção dos outros sobre pertencer à Dir e, portanto, dever de se juntar à família de
uma grande união Somali."
323
Rahanweyn são muitas vezes referidos como Digil/Mirifle. Para os fins deste artigo, os distintos nomes de família clãs de
Digil, Digil/Mirifle e Rahanweyn são todos referidos como "Rahanweyn”, embora profissionais RSD devem observar que os
somalis podem usar estes nomes de forma reciproca.
324
Para um exemplo de utilização do Absame como um grupo "ponte" para tentar reunir os clas Ogadeen com Bartere para
fins políticos, ver Peter D. Little, Somália: Economia sem o Estado; Assuntos Africanos, Indiana University Press, Novembro de
2003 , pp. 48-50.
325
Banco Mundial, Conflito na Somália: Drivers and Dynamics, janeiro de 2005, p. 18,
http://siteresources.worldbank.org/INTSOMALIA/Resources/conflictinsomalia.pdf.
326
Guido Ambroso, associação de clas, Conflito e Refugiados: Somalis no Corno de África, Inéditos/Manuscritos, Bruxelas,
Março de 2002, p. 4.
327
Guido Ambroso, associação de clas, Conflito e Refugiados: Somalis no Corno de África, Inéditos/Manuscritos, Bruxelas,
Março de 2002, p. 4.
328
Joakim Gundel, a situação de "Oday ': O Papel das Estruturas Tradicionais em Segurança, Direitos, Lei e Desenvolvimento
na Somália, Conselho Dinamarquês para os Refugiados/ Oxfam Novib, Novembro de 2006, p. 9,
http://siteresources.worldbank.org/INTJUSFORPOOR/Resources/ThePredicamentoftheOday.doc.

49
C. Interação com outros grupos étnicos 

Um número significativo de somalis não são membros de nenhum clã ou são largamente
agrupadas como "Sab" ou "não-Samaal". Estes incluem os pessoas descendentes de árabe-
persas nas cidades costeiras, pessoas de herança escrava falantes de Somali, e pessoas de
ascendencia nao-somali falantes do Somali ao longo do rio Shabelle. A definição de "grupos
minoritários" variam entre as fontes, mas geralmente são realizadas de modo a incluir
Bantu/Jareer (incluindo Gosha, Makane, Shiidle, Shabelle Reer, Mushunguli); Bravenese,
Rerhamar, Bajuni, Eeyle, Jaaji/Reer Maanyo, Barawani, Galgala, Tumaal, Yibir/Yibro,
Midgan/Gaboye (Madhibaan; Muuse Dhariyo, Howleh, Hawtaar).329 Outros grupos são
considerados minoritários, mas estão intimamente associados aos clãs maioritarios
específicos, tais como Biymaal com o Dir, e Sheikhaal com o Hawiye; enquanto o
Rahanweyn são considerados "não-Samaal", mas domina e constitue a maioria nas suas
regiões de origem. A posição destes grupos em relação ao sistema de clãs Samaal e xeer varia
e tem mudado ao longo do tempo, assim como o acesso à segurança, justiça e outros
direitos.330

As minorias podem ter origens étnicas diferentes de Samaal, tais como os povos Bantu de
herança escrava, e como o Gosha, que vivem na área de inter-fluvial. Eles são chamados de
vários nomes depreciativos por outros clãs Somalis, tais como boon (pessoa de baixa
condição) e addoon (escravo), para rotular e identificar os descendentes de escravos do vale
Juba. Junto com outros Bantu, são também referidos como Jareer (de tiin Jareer – que
significa 'cabelo duro').331

Alguns grupos "fora de castas", incluindo o Yibir, Tumal e Midgan, podem parecer
fisicamente semelhantes ao Samaal, mas a sua condicao inferior ou "intocáveis" é reforçada
pela sua associação com determinadas ocupações 'inferior' e sua exclusão do convívio social
com Samaal, incluindo a proibição de um membro do clã maioritario casar-se com uma
pessoa de um tal group for a de casta.332 Os Tumaal são serralheiros tradicionais, fazendo
lanças, facas, pontas de flechas e espadas. Os Yibir e Midgan são tradicionalmente caçadores
e tecelões. Os Midgan também são referidos colectivamente como Mahdiban, Boon, ou
Gaboye, dependendo do local.333 Estas castas tradicionalmente profissionais não podem

329
UNOCHA Somália, Estudo sobre as Minorias na Somália, UNCU/UNOCHA Somália, Julho de 2002,
http://somraf.org/downloads/SOMALIA%20-%20COUNTRY%20OF%20ORIGIN%20INFORMATION%20REPORT-
%20UK%202008.pdf, ver também Lee Casanelli, Vítimas e Grupos Vulneráveis no Sul da Somália, Imigração e Conselho de
Refugiados de Canada, 1995,
http://somraf.org/downloads/VICTIMS%20AND%20VULNERABLE%20GROUPS%20IN%20SOUTHERN%20SOMALIA%20by
%20Lee%20Casanelli%20%201995.pdf, ver também Gundel, Joakim, clãs na Somália, ACCORD Workshop, Viena, 15 de
Maio de 2009 [inédito, disponível através de ACCORD ou ACNUR].
330
Catherine Besteman, Unravelling Somália: Raça, Violência e o legado da escravidão, University of Pennsylvania Press,
1999, p. 21, ver também Direitos das Minorias Somalis e Aid Forum website for minority clan lists,
http://www.somraf.org/clans.htm; Minority Rights Group International, Estado das Minorias do Mundo e Povos Indígenas 2009 -
Somália, 16 de julho de 2009 , http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a66d9a64b.html.
331
Catherine Besteman, Unravelling Somália: Raça, Violência e o legado da escravidão, University of Pennsylvania Press,
1999, p. 115.
332
Serviço de Imigração Dinamarquês, Relatório sobre política, segurança e desenvolvimento dos direitos humanos no sul e
centro da Somália, incluindo Sudoeste Estado da Somália, e Puntland Estado da Somália: Conjunto britânico - Missão de
averiguação Dinamarquesa à Nairobi (Quénia) e Baidoa e Belet Weyne (Somália) (20 de maio a 1 de junho 2002), 25 de julho
de 2002, sul e central. p. 55, http://www.unhcr.org/refworld/docid/3df8c0ec2.html, ver também Professor Asha A. Samad,
Declaração para o Comité sobre a Eliminação da Discriminação Racial, Agosto de 2002, Breve Revisão de Grupos For a de
Casta Somalis, http://www.madhibaan.org/news/news-post-02-08-1.htm/.
333
Centro Austríaco para o País de Origem e de Pesquisa e Documentação de Asilo (ACCORD), Etiópia: Tratamento de
Madhiban/Midgan/Medigan clã minoritário provenientes da zona de Ogaden por forças Etíopes na área e por membros de clãs
maioritarios, 20 de Maio de 2009, a-6754, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a16a50b2.html.

50
possuir gado ou cavalos, ou ter outras possessoes "nobres" e as suas oportunidades de
trabalho foram principalmente limitados a trabalhos braçais comercios específicos.334

Os Rahanweyn nas regioes de Bay, Bakool e Gedo diferem dos Samaal nas suas práticas, sua
cultura e sua língua. Como agricultores sedentários, os Rahanweyn desenvolveram estruturas
sociais mais hierárquicas e estáticas anteriores à migração dos Samaal para o sul.335 Através
da interação gradual com Samaal, o Rahanweyn adaptou e desenvolveu linhagens mistas, e
actualmente estão divididos em dois agrupamentos principais de sub-clãs conhecido como
"Sieed' e 'Sagaal" (os oito e os nove), que se refere ao número de sub-clãs de cada clan.336
Embora seja um clã relativamente forte, os Rahanweyn podem enfrentar a mesma
discriminação e/ou perseguição de grupos minoritários quando fora de suas regiões de
origem.

Podem ser feitas tambem distinções entre os grupos por diferenças de idioma. Por exemplo,
os Benadiri, falam um dialeto diferente do padrão Af-Mathiri Somali. Os Benadiri de
Mogadíscio falam um dialeto chamado Af-Reer Hamar, o dialeto falado por Benadiri em
Merka chama-se Af-Merka, e para os que estao em Brava, o dialeto é Af-Brava. Os dois
primeiros sub-dialetos, Af-Merka e AF-Hamar, são quase semelhantes e podem ser
compreendidos por outros Benadiri.337 Os grupos Eeyle, Madhibaan, Tumal e Yibir, falam o
dialeto Somali do clã ao qual estão ligados, embora os Midgan e Yibir também têm um
dialeto especial que os clãs somalis grandes não compreendem. Os Rahanweyn falam um
dialeto Somali separado chamado Af-May, que foi ignorado quando foi adoptado o Somali
"padrão" como a língua oficial do Pais.338 Enquanto alguns grupos "Bantu' tem mantido o seu
próprio dialeto, com uma forte influência do Suaíli, muitos dialetos tem estado a perder.
Muitos dos grupos, no entanto, falam o Somali padrão e outros dialetos Somalis. Os
Mushunguli de Baixa Juba falam "Kizigua ', enquanto outros falam a língua dos seus
antepassados que vieram originalmente da Tanzânia, Malawi e Mocambique.339

D. Protecção de Clã e Justiça Legal Consuetudinaria 

A discriminação contra grupos minoritários está implantada na história da Somália. Muitos


grupos têm enfrentado exclusão esferas econômica, social e política dominadas por
Samaal.340 Num extremo, sendo membro de um grupo for a de casta, tem sido descrito como
a "sofrer afrontas ao longo da vida, para ser considerado impuro, infeliz, pecaminosa,
poluente e, portanto, merecedores de desprezo, afastamento e abuso de outros."341 Tal
tratamento continua até hoje. As discussões do ACNUR com Eeyle em Bayhdaba no início
de 2009 revelaram que suas mulheres não foram sequer autorizados a recolher a água do

334
Serviço de Imigração dinamarquês, Relatório sobre os Grupos Minoritários na Somália, 24 de Setembro de 2000, p. 52,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6a5fa0.html.
335
Joakim Gundel, a situação de "Oday': O Papel das Estruturas Tradicionais em Segurança, Direitos, Lei e Desenvolvimento
na Somália, Conselho Dinamarquês para os Refugiados/ Oxfam Novib, Novembro de 2006, p.32,
http://siteresources.worldbank.org/INTJUSFORPOOR/Resources/ThePredicamentoftheOday.doc.
336
Ibid. Veja também I.M Lewis, A História Moderna da Somália, Estudos Africanos Orientais, James Currey, 4a. edição rev.,
2002, pp. 13-14. Para uma análise detalhada do Rahanweyn, consulte Bernhard Helander, Rahanweyn Sociability: Um Modelo
para o Outros Somalis?, Voz e Poder, ed. R.J. Hayward & I.M.Lewis, Suplemento 3 de Línguas e Cultura Africanas, 1996, pp.
195-204.
337
Serviço de Imigração Dinamarquês, Relatório sobre os Grupos Minoritários na Somália, 24 de Setembro de 2000, p. 42,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6a5fa0.html.
338
Ibid, p. 57.
339
Ibid, p. 33.
340
UNOCHA Somália, Estudo sobre as Minorias na Somália, UNCU/UNOCHA Somalia, Julho de 2002, p. 3,
http://somraf.org/downloads/SOMALIA%20-%20COUNTRY%20OF%20ORIGIN%20INFORMATION%20REPORT-
%20UK%202008.pdf.
341
Professor Asha A. Samad, Declaração para o Comité sobre a Eliminação da Discriminação Racial, Agosto de 2002, breve
revisão de Grupos For a de Casta Somalis, http://www.madhibaan.org/news/news-post-02-08-1.htm.

51
mesmo poco que do dominante Rahanweyn, Enquanto que, não obstante a sua pobreza
desesperadora, Eeyle pediu o ACNUR para que não fosse fornecida assistência humanitária
por receio que pudessem ser saqueados pelos membros do clã dominante como resultado.342

Foi a guerra civil da década de 1990 e o aumento da violência de clãs a nível nacional, que
expôs muitos grupos minoritários a abusos de direitos humanos massivos e generalizados.343
O papel de alguns grupos minoritários dentro do governo de Barre, de quem receberam
protecção limitada, ataques exacerbados sobre tais grupos, quando o Estado fracassou.344 A
subsequente violência entre clãs levou a massacres, limpeza étnica, e um êxodo massivo de
pessoas deslocadas em todas as direcções. Centenas de milhares de Somalis cruzou as
fronteiras do Quénia e da Etiópia. No sul, as batalhas armadas varreram as regioes rurais
entre as facções de Clas Darod e Hawiye.345 No meio da luta, as comunidades de agricultores
não-Samaal na região de Bay, o Baixo Shabelle e o vale de Juba, foram repetidamente
saqueadas e atacadas por todos os lados, ao ponto de morrerem a fome346

Embora os abusos contra as minorias têm reduzido em escala desde a década de 1990, a
violência de baixa intensidade contra as minorias continua a caracterizar a sociedade somali
hoje, principalmente porque as mesmas estruturas sociais salientadas ainda são activas.
Enquanto a exclusão social das minorias, incluindo a proibição sobre o casamento e
desigualdade dos direitos políticos e sociais, pode ter sido baseada no ódio pela sua origem
étnica, as violações dos direitos das minorias ocorrem principalmente porque não possuem a
ameaça das forças militares.347

A resolução de litígios entre os membros de clãs maioritarios, por exemplo, sobre um


assassinato, depende da negociação entre os idosos pelo uso do xeer estabelecido, a
subsequente fixação de compensação e pagamento num determinado espaço de tempo. Este
processo é iniciado e implementado pela ameaça de força - vingança de sangue é a opção de
reserva para o clã prejudicado se não forem preenchidas pelos termos da resolução. A
capacidade militar é, portanto, um fator crucial para dissuadir ataques e execução de
compensacao.348 Os grupos minoritários, muitas vezes não tem capacidade militar suficiente,
o que, por sua vez, significa que os clãs maioritarios não tem interesse em negociar ou pagar
compensação às minorias, quando um de seus membros atacam o grupo minoritario.349 Isto
permite efectivamente que os membros dos clãs maioritários abusem os minoritarios com
impunidade.350
342
Relatório da Missão do ACNUR, Bayhdaba, Região de Bay, Março de 2009 [nao publicado]. Os últimos resultados são
apoiados pela descrição do Eeyle no Serviço de Imigração Dinamarquês, Relatório sobre Grupos Minoritários na Somália, 24
de Setembro 2000, pp. 47-48, http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6a5fa0.html.
343
Serviço de Imigração Dinamarquês, Relatório sobre Grupos Minoritários na Somália, 24 de Setembro de 2000, p. 9,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6a5fa0.html.
344
Serviço de Imigração Dinamarquês, Relatório sobre política, segurança e desenvolvimento dos direitos humanos no sul e
centro da Somália, incluindo Sudoeste Estado da Somália, e Puntland Estado da Somália: Junta britânica - Missão de
averiguação Dinamarquesa para Nairobi (Quénia) e Baidoa e Belet Weyne (Somália) (20 de Maio a 1 de junho 2002), 25 de
julho de 2002, 21 http://www.unhcr.org/refworld/docid/3df8c0ec2.html.
345
John Prendergast, A Agenda Esquecida na Somália, Review of African Political Economy, vol. 21, No. 59. Marco de 1994,
pp. 67- 68.
346
Banco Mundial, Conflito na Somália: Drivers and Dynamics, Janeiro de 2005, p. 11,
http://siteresources.worldbank.org/INTSOMALIA/Resources/conflictinsomalia.pdf.
347
Departamento de Estado dos Estados Unidos: Relatórios Nacionais sobre Práticas de Direitos Humanos 2008 - Somália, 25
de Fevereiro de 2009, Seccao 5, http://www.state.gov/g/drl/rls/hrrpt/2008/af/119024.htm.
348
Joakim Gundel, clãs na Somália: Um relatório sobre a palestra por Joakim Gundel, COI Workshop, ACCORD, Áustria, 15
de Maio de 2009, p. 19 http://www.ecoi.net/news/190134::somalia/79.report-based-on-coi-workshop-clans-in-somalia.htm.
349
Departamento de Estado dos Estados Unidos: Relatórios Nacionais sobre Práticas de Direitos Humanos de 2008 - Somália,
25 de Fevereiro de 2009, Seção 5 http://www.state.gov/g/drl/rls/hrrpt/2008/af/119024.htm; Andre Le Sage, Stateless Justiça in
Somalia: Regra Formal e Informal de iniciativas legislativas, Centre para o Dialogo Humanitario, Julho, 2005, p. 36,
http://www.hdcentre.org/files/Somalia.report.pdf.
350
Departamento de Estado dos Estados Unidos, Relatório Nacional sobre Práticas de Direitos Humanos 2006, 6 de Março de
2007, http://www.state.gov/g/drl/rls/hrrpt/2006/78757.htm, secção sobre Minorias Nacionais/Raciais/Étnicas; Andre Le Sage,

52
A extensão desta impunidade varia dependendo da localização e se a relação cliente-patrono
foi obtida entre as clas minoritaria e a maioritaria. Em meados da década de 1990, em suas
regiões de origem, sobretudo onde vivem em comunidades homogêneas longe de clãs
maioritarias, alguns grupos minoritários desenvolveram algumas capacidades militares para,
pelo menos, evitar os ataques das milicias do clã maioritario.351 Por exemplo, embora não
seja estritamente uma minoria,352 os clãs Rahanweyn são militarmente fortes em suas regiões
de origem, e seria uma força para ajustar contas com os clãs Samaal que vivem dentro ou
próximo a essas áreas. Entretanto, quando os Rahanweyne são deslocados fora das suas zonas
de origem, por exemplo, para Puntland e Somaliland, a falta de efectivo militar nessas áreas
deixa-os com pouco auxilio ou impedidos.353

Por comparação, para alguns clãs maioritarios, a protecção do clã pode estender-se para áreas
onde outros clãs maioritarios são mais dominantes, ainda que o primeiro necessite de efectivo
militar naquela área. Por exemplo, se um Darod/Marjerteen foi morto em Somaliland por um
Isaaq, a compensação pode não ser imediatamente pagos pelo ofensor sub-clã Isaaq, dado que
Darod/Majerteen estão fora da sua área de origem de Puntland. No entanto, se nenhuma
compensação é proporcionada, é muito provável que um Isaaq vivendo em Puntland seria por
vingança alvo de Majerteen/Darod. Há, por conseguinte, algum incentivo para prestar o
devido processo para os clãs maioritarios fora de sua área de origem, embora dependendo do
relacionamento entre os clãs maioritarios, e se outros factores politicos entram em jogo, tais
como o conflito Somaliland-Puntland.

Arelação cliente-patronato entre clãs minoritarias e maioritarias clãs tem actuado também
como um meio de protecção para os grupos minoritários. O clã maioritario pode expander a
sua protecção para o grupo minoritário por mútuo acordo, embora as opções disponíveis ou a
capacidade para negociar o acordo para os grupos minoritários, seria naturalmente, muito
limitada. Por exemplo, através da adopção ("sheegad '), um grupo minoritário pode ser
autorizado a assumir a linhagem do clã maioritario, na medida em que o clã maioritario ira
proteger a minoritario e ainda pagar 'mag'/compensação, caso entrem em conflito com outro
cla.354 Outros mecanismos envolve minoria pagando a maioria em troco de protecção, mas
estas disposicoes parecem ser mais instáveis e/ou explorativas. Por exemplo, no início dos
anos 2000, os grupos jareer Shiidle' em Jowhar pagaram a um local senhor da guerra
Hawiye/Abgal impostos sobre a sua producao agrícola, em troca de garantia de segurança.355
Tais acordos são intrinsicamente instáveis, especialmente no turbulento sul da Somália e
central, onde súbitas mudanças no poder e controle do território entre os clãs maioritarios
pode deixar os acordos de protecção invalidados ou supostos "protectores" deixaram de poder
cumprir sua parte do contrato.356

Stateless Justice in Somalia: Regra Formal e Informal de Iniciativas Legislativas, Centro para Dialogo Humanitario, Julho,
2005, p. 36, http://www.hdcentre.org/files/Somalia.report.pdf.
351
Serviço de Imigração Dinamarquês, relatório sobre Grupos Minoritários na Somália, 24 de Setembro de 2000, p. 22,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6a5fa0.html.
352
Ibid, p.56.
353
Inter-Agency Standing Committee, migração mista através da Somália e do outro lado do Golfo de Aden, Abril de 2008, p.
12, http://www.unhcr.org/refworld/docid/484d44ba2.html; ACNUR, Avaliação Participativa do ACNUR, Gaalkacyo, Fevereiro a
Março de 2007; ACNUR, Avaliacao Rapida ACNUR/DRC, Bossaso, Novembro de 2007 (não publicado online, disponível a
partir do ACNUR na Somália).
354
Joakim Gundel, a situação de "Oday': O Papel das Estruturas Tradicionais em Segurança, Direitos, Lei e Desenvolvimento
na Somália, Conselho Dinamarquês para os Refugiados/ Oxfam Novib, Novembro de 2006, p. 57,
http://siteresources.worldbank.org/INTJUSFORPOOR/Resources/ThePredicamentoftheOday.doc.
355
Ibid, pp. 40 e 57-58.
356
Por exemplo, a dominância Marehan de Kismaayo, foi repentinamente deitada abaixo pelas milícias islâmicas em Agosto
de 2008; ver IASC Somália PMN, 22 de Agosto de 2008,
http://ochaonline.un.org/OchaLinkClick.aspx?link=ocha&docId=1093670.

53
Os casamentos inter clãs entre os clãs maioritarios ou seus sub-clãs são incentivados através
das negociações de compensação mag, e às vezes são parte do acordo real.357 As mulheres
mantem a sua original identidade de clã de familia, embora todas as crianças resultantes terão
o clã do pai. Tais ligações de clã materno podem injectar nas relações de clã a flexibilidade
"flexibilidade essencial para indivíduos dirigindo negócios ou em busca de segurança atraves
das linhas de clãs".358 A identidade da mãe do clã não oferece sistematicamente garantias de
protecção do clã para seus filhos ou seu marido, mas os laços de sangue adicionam um
incentivo extra para a busca de negociação e de compromisso antes do conflito.359
Novamente, a maioria dos grupos minoritários especialmente clãs fora de casta não
realizavam inter-casamentos com clãs maioritarios, embora algumas minorias são mais
aceitáveis para o casamento do que outros.360

A dinâmica política nacional interage com as relações do clã a nível nacional e local e vice-
versa. Somalilândia, o auto-proclamado ainda que Estado não reconhecido, definiu a
cidadania Somalilândia principalmente através da associação de clãs considerados originários
do território de Somalilândia, e oficialmente o governo trata as pessoas de Puntland ou sul e
centro da Somália como "estrangeiros".361 A animosidade contra os clas do Sul e Centro da
Somália veio à tona depois de um atentado suicida em Hargeysa em outubro de 2008,
supostamente por islâmicos provenientes do sul e centro da Somalia. A identidade e
segurança nacional forjou quaisquer considerações de proteção do clã, com o governo da
Somalilândia e grupos civis de assediando e atacando pessoas dos clas do sul e centro da
Somália.362

O nível de sub-clã do candidato a ser identificado durante os procedimentos de asilo é aquele


que é mais relevante, qualquer factor, como o gatilho, atenuante ou exacerbante, da
perseguição aos olhos do agente da perseguição. Por exemplo, se um candidato tem fugido
para evitar uma contenda de sangue, entao, o grupo “mag-paying” do requerente, e aquele do
clã adversária, deve ser estabelecido. A contenda de sangue em Gaalkacyo, por exemplo,
significa pouco ao nível da família do clã do candidato.

Outras ameaças podem ser desencadeadas pelo mais alto niveis do clã do requerente, por
exemplo, um Darod/Majerteen encontrados em Mogadishu hoje pode ser morto por um
Hawiye/Hebr Gedir simplesmente fora de vingança por actos cometidos pelo
Darod/Majerteen - dominado TFG contra civis Hawiye em Mogadíscio em 2007 e 2008. A

357
Joakim Gundel, a situação de "Oday': O Papel das Estruturas Tradicionais em Segurança, Direitos, Lei e Desenvolvimento
na Somália, Conselho Dinamarquês para os Refugiados/ Oxfam Novib, Novembro de 2006, p. 55,
http://siteresources.worldbank.org/INTJUSFORPOOR/Resources/ThePredicamentoftheOday.doc. Joakim Gundel, clãs na
Somália: Relatório sobre a palestra por Joakim Gundel, COI Workshop, ACCORD, Áustria, 15 de Maio, 2009, p. 14
http://www.ecoi.net/news/190134::somalia/79.report-based-on-coi-workshop-clans-in-somalia.htm.
358
Serviço de Imigração Dinamarquês, Relatório sobre Grupos Minoritários na Somália, em 24 de Setembro 2000, pp. 8-9,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/3ae6a5fa0.html.
359
Joakim Gundel, a situação de "Oday ': O Papel das Estruturas Tradicionais em Segurança, Direitos, Lei e Desenvolvimento
na Somália, Conselho Dinamarquês para os Refugiados/ Oxfam Novib, Novembro de 2006, p. 55,
http://siteresources.worldbank.org/INTJUSFORPOOR/Resources/ThePredicamentoftheOday.doc.
360
Um exemplo sendo "Golcade' minoritario, fora de casta, de dentro da familia cla Darod/Ogadeni. Seu estatuto fora de casta
não é amplamente conhecido por outros clãs Samaal, assim, por exemplo, Golcade ter sido conhecido por casar com Isaaq, e
viver com relativa segurança em Somaliland. Um músico Somali bem conhecido e popular de Golcade mudou positivamente a
percepção do seu clã. Correspondência Somali do ACNUR com o Alto Comissariado do Canadá, Nairobi, 3 de Julho de 2009,
em arquivo com o ACNUR na Somália. Veja também Grupo Internacional de Direitos Minoritarios, Estado das Minorias do
Mundo e Povos Indígenas 2009 - Somália, 16 de Julho de 2009, http://www.unhcr.org/refworld/docid/4a66d9a64b.html .
361
Kenneth Menkhaus, Somália: Análise da Situação e Avaliação da Tendencia, WRITENET, 1 de Agosto de 2003, p. 27,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/3f7c235f4.html.
362
IRIN, Somália: Bombardeiro suicida ataca Bossaso, Hargeisa, matando duzia, 29 de Outubro de 2008,
http://www.unhcr.org/refworld/docid/490ad4cdc.html, ver também IASC Somália PMN, 16 de Novembro de 2008,
http://ochaonline.un.org/OchaLinkClick.aspx?link=ocha&docId=1096207.

54
vítima do grupo “mag-paying” é irrelevante, o agente de perseguição só estava interessado
em atacar um membro do ex-presidente do agrupamento mais amplo do clã.

Mesmo quando a principal razão para temer perseguição parece ser, por exemplo, a opinião
política, a identidade do clã do candidato ira influenciar o grau ou o impacto da perseguição.
Por exemplo, um candidato pode ser um jornalista a trabalhar em Mogadishu preso pela
Agência de Segurança Nacional no início de 2008, devido a radiodifusão de detalhes de
mortes de civis ocorridos durante os confrontos na capital. Se, além disso, ele pertencia ao
sub-cla Hawiye/Hebr Gedir/Ayr sub-clã, que foi percebida por a estar associado com a
insurgência, ele poderia ser suspeito de ligações insurgentes, enfrentar o mais intenso
interrogatório e tortura, e ser detido por um período mais longo. Se ele fosse do sub-cla
Hawiye/Hebr Gedir/Sa'ad, como chefe de polícia Qeybdid, ele poderia ter evitado a prisão,
em primeiro lugar, ou sido capaz de recorrer a um membro familiar na polícia para garantir a
sua libertação. Dito isto, mesmo se ele não fosse Sa'ad, mas tinha ligações de clã materno
para alguém da polícia ou da NSA, ele pode ter sido capaz de desenhar sobre estas ligações
também para reduzir a duração da sua detenção.

A identidade de cla como um factor que pode agravar ou atenuar contra a perseguicao por
motivos de opiniao politica do requerente, reflete a interaccao entre os interesses politicos a
nivel nacional com os interesses locais e principalmente baseadas em clas. Durante esta
interação, o agente de perseguição a nível nacional avalia se o seu interesse político em
perseguir os candidatos supera as consequências que ele enfrentaria desencadeada pela
identidade do clã requerente e a proteção que este proporciona. Antes de 2007, a protecção
conferida pela identidade de clã maioritaria, poderia muitas vezes falsear o interesse nacional
político em perseguir o requerente. Contudo, desde 2007 particularmente, em Mogadíscio,
mas cada vez mais em outras regiões do sul e centro da Somália, esta relação tem
parcialmente revertida. A protecção do clan tem sido prejudicada e as razões políticas ou
ideológicas a nivel nacional para a perseguição são menos propensos a ser desviado pela
identidade de clã maioritaria.

55

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