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agraciados com “privilégios” e “cartas de foral” que asseguravam maior autonomia em relação
ao Senhor, maiores garantias contra arbitrariedades e menor exploração do seu trabalho.
Esse “acordo” entre Senhores e Servos aprofundou as divisões sociais nas áreas rurais, pois
tornou os servos com mais terras, ainda mais ricos, pois sem precisar deixar suas terras,
podiam aumentar sua produção, pagando as exigências senhoris e ainda tendo “sobras” que
lhes permitiam contrarar outros servos ou até “comprar seu sangue” (acceder a um título de
nobreza).
Com isso os servos não só perderam os parâmetros para avaliar o valor de seu trabalho,
quando ele passou a ser valorado como dinheiro, como também foram cindidos entre os mais
ricos que teriam a possibilidade de arrendar suas terras ou contratar terceiros para nelas
cultivarem e os mais pobres que cada vez mais se endividavam para pagar os valores cobrados
pelos Senhores em troca do não cultivo em suas propriedades.
Ao lado dos servos pauperizados por essas mudanças, a autora aponta ainda impactos
negativos também para os Judeus, que eram pereguidos pela Igreja Católica e serviam como
“bode espiatório” dos servos empobrecidos que neles enxergavam as consequencias negativas
que a monetização da economia lhes havia causado.
Nesse processo de ocupação das cidades durante a Baixa Idade Média, as mulheres passaram cada
vez mais a ocupar postos de trabalho antes masculinos, chegando a trabalhar em ocupações de
prestígio, como médicas e cirurgiãs. Entretanto, “à medida que as mulheres ganhavam mais
autonomia, sua presença na vida social passou a ser mais constante nos sermões dos padres que
repreendiam sua indisciplina” (FREDERICCI, p. 64). Ao lado dessa reação eclisástica havia ainda
sátiras misógenas, que identificavam a luta pela sobrevivência das mulheres no espaço urbano como “
a luta pelas calças”
O endividamento dos servos mais pobres já descrito, levou a perda de suas posses e a
formação de uma massa de pobres sem-terra que eram acompanhados por outros indivíduos
socialmente marginalizados, como prostitutas, padres afastados do sacerdócio, além
trabalhadores urbanos e rurais.
Nesse cenário de pobreza, falta de trabalho, pregação inflamada do clero e lançamento das
cruzadas, surgem os movimentos Milenaristas, que mesclam formas de protesto com crenças
na iminência do apocalípse. Nos protestos associados ao Milenarismo encontra-se forte
espontaneísmo, liderança de alguma figura profética e pouco sucesso em suas propostas, pois
eram usualmente combatidos com grande violência.
No que se refere à posição das mulheres dentro do Movimento Herético, é econtrada outra
forte contraposição ao que se verificava na sociedade feudal. As mulheres eram consideradas
em igualdade, por vezes adquirindo status de superioridade espiritual em determinadas seitas
presentes dentro do Movimento. Ao lado disso, a sexualidade eram exercida de forma mais
livre, principalmente em relação à mulher que não carregava a obrigação da maternidade ou
do casamento, pois encontrava-se tanto uma valorização da abstinência sexual, como também
o seu livre exercício, atrelado à possibilidade práticas sexuais que não levassem à concepção
ou ao aborto.