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Como resultado da lutas servis descritas nos tópicos anteriores alguns dos sevos foram

agraciados com “privilégios” e “cartas de foral” que asseguravam maior autonomia em relação
ao Senhor, maiores garantias contra arbitrariedades e menor exploração do seu trabalho.

Entrentanto, o resultado mais significativo do conflito entre senhores e escravos “foi a


substituição dos serviços laborais por um pagamento em dinheiro (arrendamentos em
dinheiro, impostos em dinheiro) que colocava a relação feudal sobre uma base mais
contratual” (FREDERICCI, p. 60). Assim, ao invés de se trabalhar por certo período semanal nas
terras do Senhor, como exigiam a XXXX, os Servos podiam produzir em suas próprias e
entregar um montante estipulado.

Esse “acordo” entre Senhores e Servos aprofundou as divisões sociais nas áreas rurais, pois
tornou os servos com mais terras, ainda mais ricos, pois sem precisar deixar suas terras,
podiam aumentar sua produção, pagando as exigências senhoris e ainda tendo “sobras” que
lhes permitiam contrarar outros servos ou até “comprar seu sangue” (acceder a um título de
nobreza).

Com isso os servos não só perderam os parâmetros para avaliar o valor de seu trabalho,
quando ele passou a ser valorado como dinheiro, como também foram cindidos entre os mais
ricos que teriam a possibilidade de arrendar suas terras ou contratar terceiros para nelas
cultivarem e os mais pobres que cada vez mais se endividavam para pagar os valores cobrados
pelos Senhores em troca do não cultivo em suas propriedades.

Ao lado dos servos pauperizados por essas mudanças, a autora aponta ainda impactos
negativos também para os Judeus, que eram pereguidos pela Igreja Católica e serviam como
“bode espiatório” dos servos empobrecidos que neles enxergavam as consequencias negativas
que a monetização da economia lhes havia causado.

Ao final do tópico, são abordadas as consequências de tais transformações na estrutura


econômica para as mulheres. Com a “crescente comercialização da vida” foi reduzido ainda
mais seu acesso à propriedade e à renda, especialmente quando eram solteiras ou viúvas. Em
tais condições de pauperização, encabeçaram movimentos de Êxodo rural, pois encontravam
nas cidades, ainda que em ocupações precarizadas, a possibilidade de viverem sozinhas, como
chefes de familia com seus filhos ou ainda em conjunto a outras mulheres em mesma situação.

Nesse processo de ocupação das cidades durante a Baixa Idade Média, as mulheres passaram cada
vez mais a ocupar postos de trabalho antes masculinos, chegando a trabalhar em ocupações de
prestígio, como médicas e cirurgiãs. Entretanto, “à medida que as mulheres ganhavam mais
autonomia, sua presença na vida social passou a ser mais constante nos sermões dos padres que
repreendiam sua indisciplina” (FREDERICCI, p. 64). Ao lado dessa reação eclisástica havia ainda
sátiras misógenas, que identificavam a luta pela sobrevivência das mulheres no espaço urbano como “
a luta pelas calças”

OS MOVIMENTOS MILENARISTAS E HERÉTICOS

O endividamento dos servos mais pobres já descrito, levou a perda de suas posses e a
formação de uma massa de pobres sem-terra que eram acompanhados por outros indivíduos
socialmente marginalizados, como prostitutas, padres afastados do sacerdócio, além
trabalhadores urbanos e rurais.
Nesse cenário de pobreza, falta de trabalho, pregação inflamada do clero e lançamento das
cruzadas, surgem os movimentos Milenaristas, que mesclam formas de protesto com crenças
na iminência do apocalípse. Nos protestos associados ao Milenarismo encontra-se forte
espontaneísmo, liderança de alguma figura profética e pouco sucesso em suas propostas, pois
eram usualmente combatidos com grande violência.

Em paralelo a essa primeira forma de manifestação, desenvolveram-se também Movimentos


Heréticos, que apresentavam maior capacidade organizativa e um programa claro de mudança
social. Nas palavras da autora:

os movimentos heréticos foram uma tentativa consciente de criar uma


sociedade nova. As principais seitas hereges tinham um programa
social que reinterpretava a tradição religiosa e, ao mesmo tempo,
eram bem organizadas do ponto de vista de sua disseminação, da
difusão de suas ideias e até mesmo de sua autodefesa. Não foi por
acaso que, apesar da perseguição extrema que sofreram, persistiram
durante muito tempo e tiveram um papel fundamental na luta
antifeudal. (FREDERICCI, p. 68)

No movimento herético alguns traços extremamente combativos ao Regime Feudal merecem


destaque. De início, a forte oposição à Doutrina da Igreja Católica e à seu poder. Os “hereges”
defendiam que a palavra de Deus não era intermediava pela Igreja e que a sua verdadeira defesa
é aquela que está ao lado da justiça social e ao amparo aos pobres. É bastante interessante o
paralelo feito pela autora entre essa ideia e a Teologia da Libertação.

Além do enfrentamento no campo regilioso, havia ainda uma proposta de “estrutura


comunitaria alternativa”, que a autora entende ser a primeira internacional proletária da
historia e que se baseava em uma:

estrutura comunitaria alternativa de dimensao internacional,


permitindo aos membros das seitas viverem suas vidas com maior
autonomia, ao mesmo tempo que se beneficiavam da rede de apoio
constituida por contatos, escolas e refugios com os quais podiam
contar como ajuda e inspiracao nos momentos de necessidade.

No que se refere à posição das mulheres dentro do Movimento Herético, é econtrada outra
forte contraposição ao que se verificava na sociedade feudal. As mulheres eram consideradas
em igualdade, por vezes adquirindo status de superioridade espiritual em determinadas seitas
presentes dentro do Movimento. Ao lado disso, a sexualidade eram exercida de forma mais
livre, principalmente em relação à mulher que não carregava a obrigação da maternidade ou
do casamento, pois encontrava-se tanto uma valorização da abstinência sexual, como também
o seu livre exercício, atrelado à possibilidade práticas sexuais que não levassem à concepção
ou ao aborto.

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