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Artemisa Coimbra
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A partir de diferentes entendimentos de pobreza no feminino, definiram-se três conceitos de
pobreza distintos: pobreza monetária, privação e pobreza subjectiva (Pereirinha et al.,2007).
O primeiro conceito, pobreza monetária, assenta sobretudo na variável rendimento, indicador
usado para avaliar a posição das mulheres em termos de bem-estar face a um nível mínimo
estabelecido normativamente.
O segundo conceito, privação, entende-se como o estado de privação das mulheres face a um
mínimo de necessidades de bem-estar considerado aceitável para se viver em sociedade, por força
da escassez de recursos materiais e imateriais, onde os recursos económicos constituem somente
uma das dimensões.
O terceiro conceito, pobreza subjectiva, avalia o bem-estar social percepcionado pelas
mulheres, ou seja, a sua conscientização do grau de privação relativamente à situação considerada
desejável em termos de bem-estar.
A pobreza no feminino passa a ser entendida não só em termos de ausência ou falta de
rendimento(s), mas em função de muitos e variados outros aspectos do bem-estar que integram
especificidades associadas às mulheres. Pereirinha et al. (ibidem) esquematizam estas interligações
da seguinte forma:
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Não sendo possível explanar com mais profundidade esta questão, dado o contexto a que se
destina a presente reflexão, fiquemos com as inferências de algumas dessas dimensões, recorrendo
ao relatório de 2007 sobre a pobreza no feminio em Portugal, de Pereirinha et al (ibidem).
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• [quanto ao] rendimento, diferentes formas de obtenção e gestão dos recursos financeiros que
poderão existir dentro da família e que muitas vezes conferem uma posição desfavorável à
mulher;
• desenvolvimento de formas contratuais mais flexíveis e de vínculo precário, medidas que
incidem sobretudo nas mulheres, com repercussões inevitavelmente negativas nos anos
vindouros da reforma;
• as mulheres desempenham funções sobretudo nos sectores tradicionais do comércio, do
alojamento, da restauração e nos serviços sociais e pessoais;
• apesar de mais escolarizadas do que os homens, as mulheres portuguesas ocupam
geralmente posições hierárquicas inferiores relativamente aos homens, auferem menores
remunerações e detêm contratos de trabalho menos favoráveis, quer em termos de vínculo
como de horário;
• a taxa de desemprego feminino é superior à taxa de desemprego masculino, tanto em termos
de curto como de longo prazo;
• [no] agregado [familiar], as situações de pobreza ocultada de alguns membros da família,
nomeadamente daqueles que detêm tradicionalmente menor poder, como sejam as mulheres
e as crianças;
• em muitas famílias, as mulheres (…) são mais penalizadas pelas assimetrias de poder na
relação conjugal, que se traduz, no limite e num número considerável de casos, em violência
doméstica;
• situações de privação vivenciadas de forma diferenciada no seio da família, designadamente
pelas mulheres, que tradicional e culturalmente detêm um papel mais gregário do que o
homem e que, por isso, chamam preferencialmente a si as carências;
• do ponto de vista do ciclo de vida, a pobreza para as mulheres pode agravar-se no período
de transição da vida escolar para o mercado de trabalho e, mais tarde, na fase de reforma;
• as alterações na composição da família, em particular a ocorrência de divórcio ou separação,
reflectem-se de forma particularmente gravosa nas mulheres;
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• a monoparentalidade é crescente: em cerca de 80% das famílias o representante é do sexo
feminino. Estes agregados são particularmente vulneráveis à pobreza, uma vez que muitos
deles dependem exclusivamente do rendimento materno;
• a escassez de oferta de equipamentos públicos de apoio quer para crianças como para idosos
tem consequências particularmente negativas nas mulheres, uma vez que são estas quem
tradicionalmente se ocupam destes elementos do agregado;
• cumulativamente à profissão, é às mulheres que cabe preferencialmente o cuidado dos filhos
e as tarefas domésticas, os quais representam trabalho não pago.»
Quadro 1 – Tempo de trabalho semanal da população com emprego, por sexo (horas e minutos)
Estes dados, inseridos no Relatório do CITE de 2006-2008, mostram que, “em média, os
homens afectam, em cada semana, mais 2 horas e 24 minutos ao trabalho pago (emprego principal e
segundo emprego, quando este existe) do que as mulheres. No entanto, em relação ao trabalho não
pago – tarefas domésticas, prestação de cuidados a crianças e prestação de cuidados a familiares
idosos/as ou com deficiência - as mulheres despendem semanalmente mais 16 horas, por
comparação com os homens. Daqui decorre um tempo de trabalho total (no qual se contabiliza
também o tempo de deslocação casa-trabalho-casa) que é claramente superior para as mulheres,
num diferencial que, em cada semana, ultrapassa as 13 horas.”
Assim como a divisão sexual do trabalho gera formas de injustiça distributiva genderizada,
também o androcentrismo se reflecte em diversas áreas da vida: no direito (leis da família, código
penal), moldando as construções legais dos conceitos de privacidade, autonomia, igualdade, até às
políticas governamentais, incluindo as reprodutivas, na ciência e na cultura, contribuindo para a
estereotipia e para a aniquilação simbólica das mulheres. Estas são algumas questões que reclamam
reconhecimento e, como argumenta Nancy Fraser (2003), “a injustiça de género só pode ser
remediada por uma aproximação que inclua ambas as políticas de distribuição e reconhecimento”.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COIMBRA, Artemisa (2008) – Crónicas de mortes anunciadas – Violência doméstica, imprensa e
questões de género em articulação com a educação da cidadania, Dissertação de Mestrado,
Porto: FPCEUP
Declaração e Plataforma de Acção de Beijing (Pequim) (2010), Nova Iorque, Nações Unidas.
[Online], http://www.un.org/womenwatch/daw/beijing15/index.html, 22/03/2010
PEREIRINHA, J. A. [coord.], BASTOS, A., MACHADO, C., NUNES, F., FERNANDES, R.,
CASACA, S. F. (2007), Género e Pobreza: Impacto e Determinantes da Pobreza no Feminino –
relatório Final – Versão provisória sujeita a revisão. Mimeo