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Alocação do Capital
A possibilidade de diversificação dos investimentos pelos alocadores de recursos (ou
financiadores internacionais) é um dos aspectos mais importantes da abertura financeira, e
também é fundamental para a redução do custo de captação das empresas.
Antes da abertura financeira, existia muita dificuldade em acessar mercados externos, devido
à excessiva regulamentação e restrições à mobilidade dos capitais, impedindo os gestores de
fundos a procurar alternativas mais rentáveis em economias de maior risco. Com isso, as
corporações não podiam diversificar suas fontes de financiamentos.
A livre mobilidade de capitais possibilita aos gestores e às empresas diversificar suas fontes de
aplicação e captação. Investidores de portfolio localizados em economias de baixo risco podem
montar carteiras compostas parcialmente por ações de seu próprio país e de países
emergentes, otimizando risco e retorno.
Neste cenário, fundos mais agressivos alocarão elevado percentual de seus recursos em ativos
de países com maior taxa de risco, enquanto que os mais conservadores aplicarão a maior parte
de seus recursos em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, classificados como
investment grade.
As empresas, nacionais ou multinacionais, localizadas em países desenvolvidos ou emergentes
terão melhoria no quadro de liquidez para a colocação de seus títulos e ações. Com maiores
alternativas globais, há uma redução da probabilidade de que a emissão de novos ativos
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pressione os preços para baixo, pois há uma enorme diversidade de compradores e vendedores,
aumentando o giro dos títulos e equilibrando a oferta e a demanda.
Novos mercados reduzem o Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) das empresas. O CMPC
é uma média dos custos do capital próprio e de terceiros.
A empresa resolveu diversificar sua fonte de financiamento lançando ações no mercado norte-
americano, conhecidas como American Depositary Receipts (ADR) e eurobônus, denominados
em reais.
Ao emitir ADR a empresa, além de estar mais transparente, diluirá a responsabilidade de seu
capital não somente entre bancos e acionistas externos, mas também externos, reduzindo seus
riscos financeiros.
A remuneração da poupança no Brasil (Krf) é de 12% ao ano, o retorno do ADR (Km(ADR)) é de 20%,
a medida de risco dos ADR (Βempresa(ADR)) é 0,65 e o custo de emissão dos eurobônus é de 14,75%
ao ano, em reais.
Teremos o seguinte custo de capital próprio:
𝐾𝑒 = 𝐾𝑟𝑓 + (𝐾𝑚(𝐴𝐷𝑅) − 𝐾𝑟𝑓 ) 𝑥 𝛽𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑎 (𝐴𝐷𝑅)
Ke = 12% + (20% – 12%) x 0,65 = 17,2%
Considerando que a participação do endividamento junto a terceiros tenha permanecido em
40% do capital total, o novo Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) será de:
𝐸 𝐷
𝐶𝑀𝑃𝐶 = 𝐾𝑒 𝑥 + 𝐾𝑑 𝑥 (1 − 𝑡) 𝑥
𝑉 𝑉
CMPC = (17,2% x 0,6) + [14,75% x (1 – 0,25) x 0,4] = 14,75%
A inserção da empresa no mercado financeiro global melhorou significativamente sua estrutura
de capital, reduzindo seus custos de financiamento. Isto resulta em maior disponibilidade de
recursos para investimento, agregando valor à companhia pela geração futura de caixa,
tornando-a mais rentável e competitiva internacionalmente.
Se não houvesse segmentação de mercado, os custos internos deveriam ser equivalentes aos
custos externos em mesma moeda. Se uma empresa brasileira obtém empréstimos no Brasil a
19% ao ano, em reais, e a expectativa de que o dólar suba 12% no ano, então, de maneira
simplificada, o custo interno em dólar seria de 7%. O custo externo, se os mercados fossem
igualmente líquidos, também seria de 7%.
Na prática, as grandes empresas brasileiras, classificadas como investment grade, conseguem
colocar títulos no exterior a custos bem inferiores ao equivalente no mercado doméstico. Isto
porque o mercado brasileiro é parcialmente segmentado, beneficiando as empresas mais
renomadas no exterior, normalmente ligadas ao setor exportador. Estas empresas exportadoras
têm fontes naturais de divisas e maior interação com empresas estrangeiras, não
comprometendo sua capacidade de conversão da dívida contraída e facilitando a divulgação de
sua marca.
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Renda variável
Uma empresa de capital aberto atuante em mercados de menor liquidez e apta a listar e emitir
suas ações no exterior tem no ADR o principal e também o mais líquido instrumento financeiro.
Os ADRs – American Depositary Receipts ou Recibos de Depósito Americano são certificados,
denominados em dólar norte-americano e equivalentes a ações estrangeiras negociadas nos
Estados Unidos, tanto no mercado de balcão quanto na Bolsa de Nova York (NYSE) e Bolsa
eletrônica Nasdaq. Os seus preços são geralmente estabelecidos entre US$ 20 e US$ 50,
independentemente do valor resultante da conversão do preço em moeda estrangeira para
dólares.
Uma ação brasileira no valor de R$ 40,00 teria um valor em dólares, considerando o cambio de
R$/US$ 2,50, de US$ 16,00, abaixo do mínimo de US$ 20,00. Neste caso, a empresa faria um
agrupamento de 2 ações por ADR, resultando em uma ação de US$ 32,00. Na situação na qual a
conversão resulte em uma ação de valor superior a US$ 50,00 seria feito um split, dividindo cada
ação em duas ou mais ações.
Os ADRs representam um conjunto de ações de uma empresa estrangeira, depositadas em um
banco custodiante do país de origem e transferidas para os Estados Unidos, onde um banco
daquele país fará a conversão dos recibos de depósito para dólares e seu respectivo registro,
completando o processo de listagem (ou emissão) na Bolsa local.
Esse registro é feito pela Securities and Exchange Comissions (SEC), órgão equivalente à
Comissão de Valores Mobiliários, responsável pela regulação e fiscalização do mercado
acionário local.
Para uma empresa estrangeira, a emissão de ADR representa a oportunidade de reduzir custos.
Para acionistas norte-americanos, além da possibilidade de diversificação do portfólio, o ADR
apresenta outras vantagens. Os dividendos distribuídos em qualquer país são repassados para
o banco custodiante, que repassa para o emitente do ADR, que converte o valor para dólares e
faz o depósito na conta do investidor, numa operação que traz comodidade ao investidor. Além
desta comodidade, a transferência de posse do ADR é realizada em conformidade com a
legislação norte-americana, o que evita complicações legais. Os custos de negociação também
são mais baixos do que se a transação fosse feita no mercado doméstico de origem. A liquidez
também é mais rápida nos Estados Unidos, gerando maior liquidez ao ADR. Finalmente, os
impostos retidos na fonte não possuem burocracia, são retidos pelo banco depositário, sem
qualquer preocupação adicional por parte do aplicador.
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Caso uma empresa faça uma emissão ou listagem de ações fora dos Estados Unidos, será
adotado o mesmo procedimento do ADR, porém receberá o nome de Global Depositary Receipts
ou Recibos de Depósito Global (GDR).
Os ADR poder ser classificados em patrocinados e não-patrocinados. No primeiro caso, a própria
empresa é que deseja ter suas ações listadas e negociadas nos Estados Unidos, entrando em
contato com a SEC e com um banco norte-americano para registrar e emitir o ADR, arcando com
todos os custos, patrocinando a emissão. No segundo caso, algum investidor norte-americano é
que tem interesse na empresa, tomando todas as providencias para sua emissão, assumindo os
custos da emissão, desde que haja consentimento da empresa em questão.
Além dos altos custos envolvidos com o registro na SEC, há também a exigência por parte da SEC
de que a empresa se adapte aos padrões contábeis locais, ajustando todos os seus balanços e
demonstrativos financeiros ao U.S.GAAP.
Existem três tipos de programas de negociação desses papéis (níveis I, II e III), que são
diferenciados pelas vantagens de negociação.
No nível I, a empresa tem a possiblidade de não efetuar o registro na SEC, desde que transacione
no mercado de balcão, também conhecido por pink sheet. Este nível é o mais barato e também
o menos liquido, onde apenas os investidores menos qualificados (pessoas físicas ricas, grandes
bancos e corretoras) têm acesso. Seu custo é inferior a US$ 25 mil.
O nível II é o mais tradicional, onde a empresa faz o registro na SEC e contrata um banco emissor.
Apesar do alto custo, apresenta ampla liquidez, com a emissão feita diretamente na Bolsa (Nova
York ou Nasdaq), aberta a todos os investidores, qualificados ou não. Suas despesas situam-se
entre US$ 200 mil e US$ 700 mil.
O nível III é o mais líquido, pois permite à empresa fazer uma emissão primária de ADR e não
somente atuar no mercado secundário. Além das exigências da SEC, a empresa deve elaborar
um prospecto minucioso, o que torna este nível o mais caro (entre US$ 500 mil e US$ 2 milhões).
À medida que o nível de comprometimento aumenta, também aumentam a liquidez dos ativos,
as exigências e as despesas de colocação.
Bolsa de Valores
As Bolsas de Valores são instituições em que se negociam títulos e ações. As Bolsas de Valores
são importantes nas economias de mercado por permitirem a canalização rápida das poupanças
para sua transformação em investimentos. E constituem, para os investidores, um meio prático
de jogar lucrativamente com a compra e venda de títulos e ações, escolhendo os momentos
adequados de baixa ou alta nas cotações.
Em suas origens, as Bolsas de Valores confundiam-se com as Bolsas de Mercadorias, mas a partir
do século XVIII, com o extraordinário aumento das transações com valores mobiliários e,
sobretudo, com o surgimento e posterior desenvolvimento das sociedades por ações, iniciou-
se um processo de especialização do qual resultou o aparecimento de Bolsas dedicadas
exclusivamente a operações com títulos e ações.
Na atualidade, as mais importantes Bolsas de Valores do mundo são as de Nova York, Londres,
Paris e Tóquio.
A Bolsa de Valores de Nova York é a maior e mais importante Bolsa de Valores do mundo,
localizada no nº 11 da Wall Street, em Nova York. Também conhecida como Big Board, inclui as
trinta empresas que formam o Dow Jones. Ela é auto-regulada por um conselho de 20 membros
que acompanha e regula as atividades comerciais de seus 1 300 membros.
O termo Wall Street termo designa a comunidade financeira de Nova York, concentrada na rua
do mesmo nome, em Manhattan, onde se encontram a Bolsa de Valores (Nyse – New York Stock
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Norma 144A
A Norma 144A, aprovada pela SEC, é uma alternativa para que as empresas estrangeiras possam
negociar títulos de dívida privada (bônus ou ADR) nos Estados Unidos sem se sujeitar às pesadas
exigências de registro.
Esta norma permite aos emissores estrangeiros o acesso ao mercado norte-americano,
negociando com investidores multinacionais qualificados (grandes companhias de seguros e
bancos de investimentos) localizados dentro e fora dos Estados Unidos, sem precisar manter um
registro no SEC.
Trata-se de um mercado restrito, onde as transações não são dirigidas ao público geral, e sim a
grandes investidores interessados em investimentos de longo prazo. Este mercado apresenta
menor liquidez do que em uma emissão tradicional.
Euroações
Apesar do nome, as euroações são ações emitidas e negociadas em qualquer parte do mundo e
não apenas na Europa. As euroações são títulos ao portador, não precisam estar sob custódia
de um banco; as instituições financeiras apenas atuam no mercado coordenando a emissão.
As euroações podem ser emitidas simultaneamente no mercado doméstico e no restante do
mundo, apresentando liquidez global e proporcionando total flexibilidade ao investidor, que
pode negociar o titulo em qualquer parte do mundo.
O mercado de euroações tem sido muito utilizado pelos governos de países europeus e
economias emergentes nas privatizações de grandes empresas estatais. Os exemplos mais
conhecidos e bem-sucedidos envolvem a British Telecom (telecomunicações em 1984) e a British
Steel (siderurgia em 1988) na Inglaterra e Deustsche Telecom (telecomunicações em 1996) na
Alemanha. Nos países emergentes destacam-se os exemplos da Teléfonos de México (telefonia
em 1991) no México e a YFP (petrolífera em 1994) na Argentina.
As euroações foram eficazes nas privatizações, garantindo ampla liquidez internacional para as
empresas recém-privatizadas, ao mesmo tempo em que melhorou sua performance no novo
mundo globalizado, aumentando sua lucratividade, eficiência e distribuição de dividendos, além
de atrair mais investimentos e gerar mais empregos.
Private equity
Os private equity são fundos privativos de ações mantidos por pessoas físicas ricas e grandes
instituições privadas, que levantam capitais em seus países de origem, usualmente
desenvolvidos. A finalidade destes fundos é investir em empresas familiares sólidas, localizadas
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em países emergentes, que não teriam acesso ao mercado internacional de capitais por serem
pouco conhecidas pelos investidores globais.
Através do private equity, grandes fundos de pensão mundiais e pessoas físicas detentoras de
grandes fortunas, se unem, comprando participações em diversos empreendimentos sediados
em países emergentes que apresentem forte potencial de crescimento e de geração de lucro.
Esta estratégia beneficia ambas as partes envolvidas. As empresas emergentes conseguem
maior disponibilidade de capital, internacionalizam suas atividades, obtendo maior reputação e
redução do custo de capital. Os grandes investidores privados diversificam sua carteira,
maximizando sua relação risco/retorno.
Alianças estratégicas
Na aliança estratégica uma empresa maior se une a outra menor, que tenha boas perspectivas
de crescimento e retorno, adquirindo parte da menor e formando uma aliança que favoreça as
duas partes.
Esta aliança pode consistir desde apoio tecnológico e de marketing até venda de ações para a
firma menor a preço abaixo do negociado em mercado ou financiamento de dívida.
A aliança estratégica atende ao interesse de ambas as partes. A empresa de menor porte reduz
seu custo de capital, enquanto que a empresa de maior porte participa das atividades e do lucro
da empresa de menor porte, justificando o investimento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MADURA, Jeff. Finanças Corporativas Internacionais. Cengage Learning, 2008.
SANDRONI, Paulo. Novíssimo Dicionário de Economia. Best Seller, 1999.
FORTUNA, Eduardo. Mercado Financeiro: Produtos e Serviços. Qualitymark, 2005
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