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Projeto Instrucional
Bruna Batista dos Santos
Pedagoga
Ariane Nogueira Cruz
Identidade Visual
Viviane Cláudia Paiva Ramos
Sérgio Oliveira Eugênio de Souza
Arte
Francisco Cristiano Lopez de Sousa
Programação Multimídia
Rafael Rodrigues de Moraes
Editoração
Régis da Silva Pereira
Revisão Gramatical
Janaína de Mesquita Bezerra
O trabalho Estágio I-Direito Penal: Inquérito Penal e Prisões Cautelares do Direito Penal de Centro
de Ciências Jurídicas, Núcleo de Educação a Distância da UNIFOR está licenciado com uma Licença
Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
SUMÁRIO
1. INQUÉRITO POLICIAL
Conforme conceitua o professor Aury Lopes Júnior (2017), inquérito policial é “o procedimento
administrativo preliminar de caráter informativo presidido pela autoridade policial (delegado: art. 144
CF c/c art. 3º da Lei 12830/13) que tem por objetivo apurar a autoria, a materialidade, as circunstâncias
do fato e eventuais fontes de prova (art. 2º, §1º, da Lei 12.830/13) e que tem por finalidade contribuir
na formação da opinião delitiva do titular da ação.”
Observe-se que o entendimento majoritário é de que se trata de peça meramente informativa e não
obrigatória, ou seja, não é obrigatório para a existência de uma futura ação penal.
b) escrito,
c) discricionário (existe uma margem de discricionariedade do delegado para melhor conduzir suas
investigações);
e) sigiloso (externamente, ou seja, terceiros estranhos à investigação não podem ter acesso a ela. Mas,
internamente, o sigilo é fragilizado, pois, por exemplo, o investigado, sabendo que há um inquérito
contra sua pessoa, pode ter acesso a tais autos. Aqui, destaca-se uma súmula extremamente importante:
Súmula Vinculante 14. Ela afirma que “é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso
amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por
órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa”);
f) unidirecional (o delegado não deve emitir sua opinião quanto à culpa ou não do suspeito);
g) temporário (tem prazo para acabar, e, segundo o artigo 10 do CPP, é de 10 dias estando o indiciado
preso e de 30 dias, estando solto, prazos estes que podem ser prorrogados);
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Contagem do prazo: exclui-se o dia do começo e inclui-se o último dia para o indiciado solto (art. 798,
§ 1º, CPP). Se preso, o dia da prisão já é computado no prazo (art. 10, CP).
h) indisponível (no sentido de que o delegado NÃO PODE ARQUIVAR INQUÉRITO. SÓ O JUIZ PODE
FAZER ISSO;
i) oficioso (é obrigatório ser instaurado quando a autoridade policial fica sabendo de crime de ação
penal pública incondicionada);
j) oficial (o órgão responsável para presidir o inquérito policial é o Delegado de Polícia) e dispensável
(não é um documento obrigatório para que o processo penal se instaure).
I MPPOORRTTAAN
IM NTT EE!!
1. Consultar o informativo 785 do STF, especificamente o RE 593727/MG, rel. orig. Min. Cezar
Peluso, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 14/5/2015 (repercussão geral), que
reconheceu a possibilidade de o Ministério Público também realizar atividades de investigação
de infrações penais, desde que se atenda a alguns requisitos: “O Ministério Público dispõe de
competência para promover, por autoridade própria, e por prazo razoável, investigações de
natureza penal, desde que respeitados os direitos e garantias que assistem a qualquer indiciado
ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, por seus agentes, as
hipóteses de reserva constitucional de jurisdição e, também, as prerrogativas profissionais de que
se acham investidos, em nosso País, os advogados (Lei 8.906/1994, art. 7º, notadamente os incisos
I, II, III, XI, XIII, XIV e XIX), sem prejuízo da possibilidade – sempre presente no Estado democrático
de Direito – do permanente controle jurisdicional dos atos, necessariamente documentados
(Enunciado 14 da Súmula Vinculante), praticados pelos membros dessa Instituição.”
2. O inquérito policial por si só não faz prova, mas elementos de informação. Essa é uma interpretação
feita pelo professor Fernando da Costa Tourinho Filho (2011), de acordo com o artigo 155 do CPP:
O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório judicial,
não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na
investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas.
...
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...
Com base no art. 155 do CPP, ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO são aqueles colhidos na fase
investigatória, se o necessário debate entre as partes, ou seja, não é obrigatória a observância
do contraditório e da ampla defesa, pois não há de se falar em ACUSADOS. Por mais que não se
tenha, nessa fase, o contraditório e a ampla defesa clássica, como se sabe, tais ELEMENTOS DE
INFORMAÇÃO SÃO DE SUMA IMPORTÂNCIA, pois, além de colaborar na formação do convencimento
do órgão acusatório, PARA DAR INÍCIO À AÇÃO PENAL, FUNDAMENTAR A DECRETAÇÃO DE MEDIDAS
CAUTELARES ou até mesmo LASTREAR UMA DECISÃO DE ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA.
JÁ AS “PROVAS” só podem ser usadas para se referir aos elementos de convicção produzidos,
EM REGRA, no curso do processo judicial, com a necessária participação dialética das partes, sob
a ótica do CONTRADITÓRIO (ainda que retardado) e da AMPLA DEFESA. Só se pode considerar
como PROVAS, portanto, os dados de conhecimento introduzido no processo na presença do juiz
e com a participação dialética das partes.
4. O inquérito policial é encerrado através de relatório exarado pelo Delegado de Polícia. Este
relatório é uma peça meramente descritiva, não devendo, portanto, conter opiniões acerca
da culpa do agente indiciado. Mas não se pode confundir: o encerramento do inquérito não
significa dizer arquivamento. Este ocorre por despacho judicial, após a oitiva do Ministério
Público. O órgão ministerial tem a opção, após o juiz encaminhar o inquérito policial, de: 1)
oferecer denúncia; 2) pedir arquivamento; 3) requisitar novas diligências.
2. PRISÕES PROCESSUAIS
Tratar de prisões processuais é discorrer acerca da possibilidade de, antes de uma condenação definitiva,
possibilitar-se o acautelamento do agente diante da necessidade de proteger-se outros bens da sociedade,
tais como o bom encaminhamento do processo e a futura aplicação da pena. Neste contexto, faz-se necessário
diferenciar a prisão pena da prisão processual, também denominada prisão cautelar /prisão provisória.
Prisão pena é aquela que decorre de condenação definitiva transitada em julgado, ou seja, após inexistir
qualquer possibilidade de manejo de recurso em favor do réu. É regra no ordenamento jurídico pátrio.
Já as prisões processuais são todas aquelas que ocorrem antes do trânsito definitivo, previstas
primordialmente na Constituição, no Código de Processo Penal e legislação extravagante.
Desde 2011, com a Lei nº 11.463/11, é preciso atentar que, no sistema processual penal atual, além
das prisões cautelares (flagrante, preventiva e temporária), tem-se as medidas cautelares diversas da
prisão, previstas, em rol taxativo, no artigo 319 do CPP.
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O BP S
IM OERRT V
AANÇTÃE O
!
A regra trazida pela Constituição Federal de 1988 é a liberdade. Com isso, só em alguns casos é que é
possível que, antes do término do processo, seja o jurisdicionado, acusado de alguma infração penal, seja
restringido em sua liberdade ampla. Destacam-se as seguintes regras constitucionais acerca do tema:
1) A prisão deve ser realizada por ordem escrita e fundamentada pela autoridade judiciária (exceto a
prisão em flagrante);
2) No artigo 5º, inciso LVII, da CF/88 aduz-se que se permanecerá solto até que haja o trânsito em julgado;
3) Nos incisos XLII, XLIII e XLIV do art. 5º, da CF/88, há os crimes tidos por inafiançáveis. São eles:
racismo, terrorismo, tortura, tráfico ilícito de entorpecentes, crimes definidos como hediondos e ação
de grupos civis ou militares contra a ordem democrática e o Estado);
4) Art. 5º, inciso LXV, da CF/88: toda prisão ilegal será imediatamente relaxada;
5) Art. 5º, inciso LXVI, da CF/88: ninguém será levado à prisão ou nela mantido se couber liberdade
provisória com ou sem fiança.
Antes de tratar das cautelares em espécies, recomenda-se a análise do artigo 282 do CPP. Este traz os
requisitos gerais para a decretação de qualquer cautelar (sejam prisões ou sejam as medidas cautelares
diversas das prisões). São estes: necessidade e adequação.
a) Periculum libertatis (ou o perigo que a liberdade do agente ocasiona ao processo, à futura aplicação
da pena etc);
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2.2.1) Prisão em Flagrante: neste caso, o crime ainda está sendo cometido ou acaba de sê-lo. Flagrante
é o delito que ainda “queima”, ou seja, é aquele que está sendo cometido ou acabou de sê-lo, auto-
rizando-se a prisão em flagrante do indivíduo mesmo sem autorização judicial em virtude da certeza
visual do crime. Funciona, desse modo, como um mecanismo de autodefesa da sociedade (art. 5º,
inciso LXI da CF).
I) Flagrante facultativo
De acordo com o art. 301 do CPP, qualquer do povo poderá prender em flagrante quem quer que
seja encontrado em flagrante delitivo. Desse modo, tanto a VÍTIMA como QUALQUER DO POVO tem a
faculdade de prender quem quer se seja encontrado em flagrante delito.
IDMIPCO
A !R T A N T E !
Para o particular, desse modo, a prisão em flagrante configura EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO!!
Da mesma forma do flagrante facultativo, no flagrante obrigatório, o art. 301 CPP dispõe que “AS
AUTORIDADES POLICIAIS E SEUS AGENTES DEVERÃO PRENDER quem quer que seja encontrado em
flagrante delito”. Desse modo, esses indivíduos (autoridades policiais e seus agentes) têm o dever
de efetuar a prisão em flagrante, não possuindo discricionariedade sobre a conveniência ou não
de efetivá-la. A prisão em flagrante, para as autoridades policiais e seus agentes, configura ESTRITO
CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL.
Lembre-se de que a lei faz menção apenas à autoridade policial, o que afasta as demais autoridades
como o JUIZ e o PROMOTOR, os quais, como qualquer cidadão, só terão a faculdade de prender o
agente em flagrante delito.
Prevista no artigo 302 do CPP, a prisão em flagrante apresenta-se com quatro espécies: a) Próprio
(incisos I e II do art. 302 do CPP); b) Impróprio (inciso III do artigo 302 do CPP) e c) Presumido (inciso IV
do artigo 302 do CPP).
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a) Flagrante próprio (real, verdadeiro, perfeito ou propriamente dito)
Há duas situações contempladas nesta modalidade, que são as hipóteses previstas nos incisos I e II do
art. 302 do CPP.:
• daquele que é preso quando da realização do crime, leia-se, ainda na execução da conduta delituosa;
• de quem é preso quando acaba de cometer a infração, ou seja, sequer se desvencilhou do local do
delito ou dos elementos que o vinculem ao fato quando vem a ser preso.
A TPEONRÇTÃAON
IM !TE!
Nesta modalidade de flagrante, o agente é PERSEGUIDO, LOGO APÓS a infração, em situação que faça
presumir ser o autor do fato. É a hipótese do art. 302, inciso III, do CPP. A expressão “logo após” abarca
todo o espaço de tempo que flui para a polícia chegar ao local, colher as provas do delito e iniciar a
perseguição do autor.
No flagrante presumido, o agente é preso, logo depois de cometer a infração, com instrumentos, armas,
objetos ou papéis que presumam ser ele o autor do delito (art. 302, inciso IV, CPP). Esta espécie não
exige perseguição. Basta que a pessoa, em situação suspeita, seja encontrada logo depois da prática
do ilícito, sendo que, o móvel que a vincula ao fato é a posse de objetos que façam crer ser a autora do
crime. O lapso temporal consegue ainda ter maior elasticidade, pois a prisão decorre do encontro do
agente com os objetos que façam a conexão com a prática do crime.
d) Flagrante esperado
O agente criminoso é induzido ou instigado à prática da infração penal, na expectativa de que seja
capturado em flagrante (ilicitamente). Neste sentido, o STF editou a Súmula nº 145: “Não há crime quando
a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua consumação”. Por consequência, eventual
inquérito ou processo iniciados devem ser trancados via habeas corpus, afinal, não houve infração.
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f) Flagrante prorrogado (ação controlada, retardado, postergado, diferido, estratégico)
Ocorre o RETARDAMENTO da ação policial para que a prisão se concretize no momento mais eficaz do ponto
de vista da formação de provas e fornecimento de informações. Segundo TÁVORA (2017), esta hipótese não
se confunde com o flagrante esperado, pois neste a polícia aguarda o início dos atos executórios, e, uma vez
iniciados, estará obrigada à realização da prisão. Já no flagrante diferido, a polícia deixa de efetivar a prisão,
mesmo presenciando o crime, pois, do ponto de vista estratégico, esta é a melhor opção.
Conduta ilícita, é aquele armado contra o agente. Ou seja, é aquele armado, fabricado, realizado para
incriminar pessoa inocente. É uma modalidade ilícita de flagrante, onde o único infrator é o agente
forjador, que pratica o crime de denunciação caluniosa (art. 339, CP), e sendo agente público, também
abuso de autoridade (Lei nº 4.898/65).
No auto de prisão em flagrante, a autoridade policial (delegado) deve entrevistar as partes (condutor,
testemunhas e conduzido), ratificando-o. Também deve ser entregue ao condutor o recibo de entrega
do preso. No interrogatório do flagranteado, deve relembrá-lo de seus direitos constitucionais, dentre
os quais o de permanecer em silêncio. Deve ser entregue a sua nota de culpa e ser comunicada ao juízo
responsável a sua prisão, bem como a família do preso e caso este não tenha advogado, a Defensoria
Pública. Todas essas comunicações devem ocorrer em até 24 horas, tudo em conformidade com o
artigo 306 e seguintes do CPP.
De logo, registre-se que, em um primeiro momento, a prisão em flagrante funciona com um mero
ATO ADMINISTRATIVO, pois dispensa autorização judicial. Nesse momento, reivindica-se apenas a
aparência da tipicidade, não se exigindo nenhuma valoração sobre ilicitude e a culpabilidade do agente.
De acordo com a organização do CPP, o flagrante se divide, nesse momento, em quatro atos distintos:
captura, condução coercitiva, lavratura do Auto de Prisão em Flagrante (APF) e recolhimento à prisão.
IDMIPCO
A!RTANTE!
A depender da fase do flagrante, haverá uma autoridade coatora para fins de impetração de
HABEAS CORPUS: enquanto a prisão em flagrante for um ato administrativo, a autoridade coatora
é o delegado de polícia, desse modo eventual HC deve ser impetrado perante juiz de primeiro
grau. No entanto, a partir do momento em que o juiz é comunidade da prisão em flagrante,
ficando inerte sobre a mesma, seja sobre seu relaxamento, concessão da liberdade provisória
etc., transforma-se em autoridade coatora, devendo o HC ser dirigido ao respectivo tribunal.
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O que o juiz pode fazer quando comunicado do flagrante?
Quando o juiz recebe o auto de prisão em flagrante deverá tomar os seguintes caminhos, conforme o
artigo 310 do CPP:
Ou
Ou
c) Conceder liberdade provisória, nos casos em que não é cabível a prisão preventiva.
O BP S
IM OERRT V
AANÇTÃE O
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Audiência de Custódia
Com a implantação das audiências de custódia em 2015, através de convênios do CNJ com os
Tribunais de Justiça dos Estados, hoje não apenas a comunicação do flagrante deve ser feita em
24 horas, mas o preso deve ser levado, sem demora, à presença da autoridade judiciária para que
se decida logo acerca de tal acautelamento. Para melhor entendimento do que é a audiência de
custódia, recomendamos a leitura da Resolução 213/2015 do CNJ que estabeleceu as regras de tal
procedimento.
Uma vez recebido o Auto de Prisão em Flagrante (APF), que deve ser finalizado em até 24 horas
após a captura do flagranteado, o juiz irá dispor de 48 horas para proceder à convalidação judicial
da prisão em flagrante, de regra.
Tal audiência de custódia está disposta no Projeto de Lei do Senado Federal de nº 554/11, que
tem o objetivo de alterar o §1º do art. 306 do CPP. Embora tal projeto não tenha sido ainda
aprovado pelo Congresso Nacional, o CNJ e alguns Tribunais de Justiça dos Estados já vêm
adotando resoluções e provimentos com o objetivo de implementá-la, já que se trata de garantia
convencional decorrente da própria Convenção Americana sobre Direitos Humanos. (Dec. 678/92).
Destaque-se, inclusive, que o STF JÁ SE PRONUNCIOU SOBRE A SUA CONSTITUCIONALIDADE.
O Objetivo da Audiência de custódia não é apenas a averiguação da legalidade da prisão em
flagrante, para fins de relaxamento, mas também conferir ao magistrado um instrumento mais
eficaz para verificar a possibilidade da prisão preventiva (ou temporária) ou a imposição isolada
ou cumulativa das medidas cautelares diversas da prisão (art. 319, CPP), sem prejuízo de possível
substituição da prisão preventiva pela domiciliar, se presentes os requisitos o art. 318 do CPP e a
liberdade provisória com ou sem fiança.
...
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...
Liberdade Provisória
Há dois tipos de liberdade provisória: com e sem fiança. A Constituição Federal elege os crimes
inafiançáveis: o racismo, o terrorismo, a tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes, os crimes
definidos como hediondos e a ação de grupos civis ou militares contra a ordem democrática e o
Estado de Direito, conforme o art. 5º, incisos XLII, XLIII e XLIV.
Nesse ponto, acerca da inafiançabilidade, em que pese existirem fortes divergências na doutrina,
o entendimento majoritário dos Tribunais Superiores é de que a inafiançabilidade não significa
prisão. Explicando melhor: não existiria, dentro do ordenamento jurídico, prisão ex lege, ou seja,
advinda apenas de disposição de lei. Assim, quando o constituinte atribui a inafiançabilidade a
tais crimes, não quis dizer que o agente ficaria preso, até porque existem dois tipos de liberdade
provisória - com e sem fiança. Observe-se, neste sentido, o inciso LXVI, também do artigo 5º
da Constituição Federal de 1988, que diz que “ninguém será levado ou mantido na prisão se
couber liberdade provisória com ou sem fiança”. Pode parecer estranho, mas se o sujeito praticar
qualquer dos crimes previstos na Constituição como inafiançáveis, se o juiz entender que não
cabe a manutenção da prisão, via prisão preventiva, deverá conceder a liberdade provisória sem
fiança. É importante lembrar que a prisão preventiva tem requisitos bastante rígidos (observar os
arts. 312 e 313 do CPP).
A liberdade provisória pode ser cumulada ou não com medidas cautelares diversas da prisão
previstas no artigo 319 do CPP, que apresenta um rol taxativo de medidas cautelares diversas.
O parágrafo único do mesmo artigo 310 do CPP traz uma modalidade de liberdade provisória obrigatória
(doutrina dominante): quando o agente pratica o ato abarcado por alguma excludente, prevista no artigo
23 do CP (estado de necessidade, legítima defesa, exercício regular do direito e estrito cumprimento do
dever legal). Para boa parte da doutrina, essa liberdade provisória é sem fiança.
Especificamente sobre a liberdade provisória, observa-se, a partir do art. 321 do CPP, disposições
que aprofundam a sua regulamentação. Se houver audiência de custódia, a liberdade provisória
deverá ser decidida imediatamente nesta audiência (e não no prazo das 48 horas como está na lei).
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Atenção ao art. 322 do CPP! Este traz a possibilidade de o delegado arbitrar fiança em crimes
cujas penas privativas máximas de liberdade não sejam superiores a 4 anos. Observe-se que não
se trata de uma obrigação, mas uma alternativa do delegado de polícia de, no caso concreto, na
ocorrência do flagrante verificando que a pena do ilícito praticado não ultrapassa os 4 anos, ele
mesmo arbitrar a fiança. Não quer dizer que os crimes cujas penas são maiores que 4 anos sejam
inafiançáveis.
Não confunda: o rol de crimes inafiançáveis está previsto no artigo 323 e no 324 do CPP. O 323
traz as hipóteses de inafiançabilidade absoluta (o racismo, o terrorismo, a tortura, o tráfico ilícito
de entorpecentes, os crimes definidos como hediondos e a ação de grupos civis ou militares
contra a ordem democrática e o Estado). Já o art. 324 do CPP dispõe sobre a inafiançabilidade
relativa:
I - aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida ou infringido,
sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os arts. 327 e 328 deste Código;
III - quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva (art. 312).
O artigo 322 do CPP apenas traz uma possibilidade de a autoridade policial arbitrar fiança, mas
nada impede que o juiz possa, nos casos determinados pela lei, arbitrar fiança nos crimes com
penas maiores que quatro anos. Quem pode o mais pode o menos!
Acerca da fiança, esta é uma garantia dada pelo agente que foi preso em flagrante que ele, estando
em liberdade, cumprirá todas as medidas determinadas pelo juízo, garantindo-se o andamento
do processo e o cumprimento de eventual pena. O art. 325 do CPP traz os valores da fiança:
crimes com penas de até 4 anos, de 1 a 100 salários mínimos; penas maiores que 4 anos, de 10 a
200 salários mínimos. Esta fiança pode ser dispensada (em casos de hipossuficiência do agente -
vide artigo 350 do CPP), ou diminuída em até 2/3 ou aumentada em até 1000 vezes a depender
da situação econômica do preso. O art. 326 do CPP complementa o art. 325, informando “que,
para determinar o valor da fiança, a autoridade terá em consideração a natureza da infração, as
condições pessoais de fortuna e vida pregressa do acusado, as circunstâncias indicativas de sua
periculosidade, bem como a importância provável das custas do processo, até o final julgamento”.
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CASO PRÁTICO DE APLICABILIDADE DO ARTIGO 310 DO CPP
CASO: Fulano, mediante grave ameaça, subtraiu a bolsa de Cicrana. No momento em que o
crime acontecia, a polícia o prendeu em flagrante delito pelo crime de roubo simples, previsto no
artigo 157 do CP. Fulano foi levado à delegacia.
Não! O crime ocorrido foi o roubo, previsto no artigo 157 do CP e tem pena máxima em
abstrato maior que 4 anos, logo, o delegado não pode arbitrar fiança. Vide artigo 322 do CPP!
Segunda pergunta: sendo então levado ao juiz (vale lembrar que, no caso de flagrante delito,
deverá o agente ser encaminhado para uma audiência de custódia, conforme Resolução 213 do
CNJ que trata das audiências de custódia), o que o juiz pode fazer?
Bem, neste caso, o magistrado deverá verificar se a prisão em flagrante foi legal ou ilegal.
Sendo ilegal, obrigatoriamente deverá relaxar a prisão (o que não significa dizer que o agente
estará livre do processo). Se a prisão não for ilegal, deverá observar se cabe a prisão preventiva
(se há os requisitos do 312 e 313 do CPP) e se não couber, deverá conceder liberdade provisória.
Terceira pergunta: Imagine, agora, que neste caso a prisão foi legal e não cabe a conversão
em preventiva porque não existem os requisitos. A liberdade provisória será com ou sem fiança?
Neste momento, há que se verificar se o crime cometido está no rol dos crimes inafiançáveis.
Veja os arts. 323 e 324 do CPP! Constataram que o roubo simples (artigo157 CP) não está neste
rol? Logo, caberá a liberdade provisória com fiança, já que o crime em espécie é afiançável.
Nesse caso, o juiz poderá diminuir ou até dispensar a fiança, conforme previsão nos arts.
325 e 350 do CPP.
Quinta pergunta: E se o crime do Fulano fosse, por exemplo, tráfico ilícito de drogas?
Se a prisão em flagrante fosse legal, se não coubesse preventiva, qual seria a liberdade
provisória? Neste caso, seria uma liberdade provisória sem fiança, pois este crime é inafiançável.
Onde está a prisão preventiva na lei? Encontra-se estampada nos arts. 311 a 316 do CPP.
Para ser aplicada num inquérito policial, ela deve ser requerida pelo Ministério Público ou por
representação de autoridade policial. Quando pedida dentro de uma ação penal criminal, pode ser
requerida pelo Ministério Público. Quando a ação penal é da área privada, como em casos de crimes
contra a honra, a prisão preventiva pode também ser requerida pelo querelante – que é quem prestou
a queixa para ação penal, o “ofendido”.
No Brasil, ninguém pode ser preso preventivamente em decorrência de crime culposo, salvo a exceção
disposta no art. 366 do CPP - o caso do réu citado por edital e que não comparece ao processo (neste
caso ocorre a prisão preventiva tanto nos crimes culposos quanto dolosos).
O BP S
IM OERRT V
AANÇTÃE O
!
O STF declarou inconstitucional a parte do art. 44 da Lei de Drogas (11.343/06), que veda a
liberdade provisória do traficante. O juiz decidirá, nos moldes do art. 312 do CPP, se cabe ou não
prisão preventiva.
a) delitos que tenham pena máxima, privativa de liberdade, igual ou inferior a 4 (quatro) anos;
b) se o réu tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado;
c) se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos da lei específica, para
garantir a execução das medidas protetivas de urgência;
d) havendo o magistrado decretado medida cautelar de menor gravidade ao acusado, tendo este
descumprido, será necessária a conversão para medida restritiva de liberdade (mais gravosa);
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A prisão preventiva, da mesma forma que é requerida, pode ser revogada se no decorrer do processo o juiz
entender que ela não é mais necessária, ou pode ser decretada mais de uma vez, se houver razões para tal.
Estabelece o art. 312 do CPP, como afirmado acima, os motivos que permitem a decretação, pelo juiz,
da prisão preventiva:
2) Ordem Econômica: nas palavras de Tourinho Filho (2017), “a lei 8.884, de 11 de junho de 1994,
fez incluir no art. 312 do CPP a expressão ordem econômica. Assim, segundo Paulo Rangel, quis
‘permitir a prisão do autor do fato-crime que perturbasse o livre exercício de qualquer atividade
econômica, com abuso de poder econômico, visando à dominação dos mercados, à eliminação
de concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros. A prisão para garantir a ordem econômica
somente poderá ser decretada se se tratar de crimes previstos nas leis nº 8.137/90, 8.176/91,
8.078/90 e 7.492/86 e demais normas que se referem à ordem econômica, como quer o art. 170
da Constituição Federal e seguintes c/c art. 20 da lei 8.884/94.”;
3) Conveniência da Instrução Penal: nesse motivo, percebe-se que o agente está impedindo que
se faça a instrução probatória, seja ameaçando a vítima, seja a testemunha ou mesmo os peritos
ou o próprio juiz;
4) Assegurar a Aplicação da Lei Penal: tem-se que o agente está efetivamente buscando se furtar
da aplicação da lei penal, do império da lei, de possível condenação; ele está envidando esforços
no sentido de promover fugas do distrito da culpa ou mesmo dilapidando o seu patrimônio. Neste
diapasão, Paulo Rangel (2017) disserta com maestria “a prisão preventiva deverá ser decretada
quando houver provas seguras de que o acusado, em liberdade, irá se desfazer (ou está se
desfazendo) de seus bens de raiz, ou seja, tentando livrar-se de seu patrimônio com escopo de
evitar o ressarcimento dos prejuízos causados pela prática do crime. Ou ainda, se há comprovação
de que se encontra em lugar incerto e não sabido com a intenção de se subtrair à aplicação da lei,
pois uma vez em fuga, não se submeterá ao império da justiça”.
A TPEONRÇTÃAON
IM !TE!
Tais requisitos representam o periculum libertatis (o periculum in mora norteador das medidas
cautelares)
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...
Ao par destes, e com o mesmo grau de importância, devem caminhar juntos e aplicados
cumulativamente com um dos requisitos acima referidos: a prova da autoria e os indícios da
materialidade. Representam o fumus comissi delicti (ou fumus boni iuris das outras cautelares
que não tratam de prisão).
Esclarece-se, ademais, que a prisão preventiva só pode ser decretada em face de delitos dolosos,
excluindo-se, assim, as contravenções penais e crimes culposos. Acrescente-se a isso, que o juiz
também poderá deixar de decretar a referida prisão cautelar, se o agente tiver agido amparado
por uma das causas justificantes previstas no art. 23 e seguintes do Código Penal (art. 314 CPP).
É, ainda, de bom alvitre, apontar nessas linhas que em se tratando de violência doméstica e familiar
contra a mulher, o juiz possa proferir decreto de prisão preventiva, para garantir o cumprimento das
medidas protetivas de urgência (acrescentado pela lei 11.340/06)
Ante a possibilidade de mudança do quadro fático processual, o instituto da prisão preventiva rege-
se pela cláusula REBUS SIC STANTIBUS (cláusula de imprevisão) o que possibilita que, à evidência
de se alterarem os motivos ensejadores da prisão preventiva, ser possível a sua revogação ou a sua
implementação inclusive de ofício pelo juiz. Veja o dispositivo do Código de Processo Penal que
corrobora a matéria: “art. 316. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no correr do processo,
verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se sobrevierem razões que
a justifiquem.”
O BP S
IM OERRT V
AANÇTÃE O
!
Não existe recurso exclusivo contra a decisão que decreta a prisão preventiva. A saída possível para
evitá-la é pedindo um Habeas Corpus. Habeas corpus é uma ação prevista na Constituição, nesse caso
inserido em um processo de caráter penal. Trata-se de uma medida que visa a proteger uma pessoa do
cerceamento do seu direito de ir e vir ou que pede para cessar a violência ou coerção que possa sofrer.
O advogado do réu pode pedir a revogação da prisão preventiva dentro dos autos do próprio
processo, anexando a documentação que achar necessária para a sua argumentação sobre a
razão pela qual a prisão preventiva não deveria acontecer. Na petição, normalmente o profissional
também se reporta à jurisprudência – casos similares em que o juiz teve uma decisão favorável a
ele – a fim de embasar a sua tese de que a prisão preventiva seria irregular.
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Como deve ser a apresentação de provas para que aconteça a prisão?
Dois princípios necessários para que seja realizada a prisão: prova material que dê certeza sobre a
existência do crime e a sua autoria. Apesar de não ser necessária a prova absoluta quanto à realização
do delito, os indícios devem sustentar a autoria do crime e a probabilidade de a pessoa ser indiciada por
isso. Há, porém, a ideia de que não é necessária a mesma certeza para realização de prisão preventiva
como a que deve haver para a condenação – não vale com tanto fervor a regra de “se na dúvida,
absolver” na prisão preventiva como na condenação. Porém, existem alguns excessos denunciados
pela área jurídica. Além disso, algumas interpretações da legislação que regula essas prisões são
consideradas arbitrárias.
Quais as razões pelas quais uma prisão preventiva pode ser considerada abusiva?
Existem teses que sustentam o apelo que prisões preventivas, principalmente pela sociedade civil.
Imagine o cenário: o presidente da Câmara de Vereadores da sua cidade é réu de um processo penal
e há a possibilidade de que ele seja preso preventivamente. É bastante provável que haja movimentos
favoráveis para que isso aconteça, por causa do senso de que isso fará justiça.
Porém, existem casos em que, por conta do clamor social pedindo uma ação da Justiça ou pressionando
um juiz para agir, que decisões são feitas de maneira equivocada. Isso ocorre também nos casos de prisão
preventiva, em que nem sempre existem as provas ou indícios básicos necessários para que ela ocorra.
Prisão preventiva deveria ser uma medida excepcional, essa é a ideia mais difundida entre os operadores
do Direito. Em muitos casos, porém, ela acaba sendo banalizada pela justiça, no sentido de ser usada
sem os crivos, os critérios e as premissas necessárias para que ocorra.
Nesses casos, pode acontecer o que é chamado de ativismo judicial, que é a ideia de atuação intensa,
de maior influência, da Justiça na concretização e defesa de valores constitucionais. Isso ocorre muitas
vezes, por exemplo, na defesa de direitos constitucionais fundamentais, como o direito de uma pessoa
receber medicamento do SUS, ou de uma criança ir à escola. Mais do que isso, trata-se da verdadeira
atuação de tribunais ao decidir sobre fatos e formar precedentes de jurisprudência – ou seja, dando
uma nova interpretação a um caso. Em certas situações, essas decisões se antecipam à própria lei.
Quando se trata das prisões preventivas, criar jurisprudência pode significar passar por cima do direito
de presunção de inocência, na qual a nossa Constituição se baseia.
Esse abuso pode ser constatado por dados recentemente divulgados. No Ceará, dois em cada três
presos ainda aguardam julgamento. Dados de 2015 e dos seis primeiros meses de 2016 apontam que
66,5% e 65,8%, respectivamente, dos detentos do Estado eram provisórios. Os índices são os mais altos
do País e estão muito acima das médias nacionais (37,5% e 40,2%). Os números são do Levantamento
Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), divulgados ontem pelo Ministério da Justiça e
Segurança Pública e pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen).
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2.2.3) Prisão temporária
A prisão temporária, assim como a preventiva, é uma espécie de prisão provisória, a qual, porém,
não tem previsão legal no CPP. Foi instituída pela Lei nº 7.960/89, com o propósito de assegurar a
eficácia das investigações criminais relacionadas a alguns crimes graves. Não se admite temporária em
contravenções e crimes culposos. A prisão temporária pressupõe a existência de um FATO CRIMINOSO
que seja alvo de investigação.
1) Só pode ser decretada durante a fase preliminar de investigação criminal, ou seja, somente na fase
pré-processual! Há autores defendendo a necessidade de interpretar extensivamente o art. 1, I, da
Lei nº 7.960/89 (Procedimento Investigatório Criminal - PIC). Não há que se falar, portanto, em prisão
temporária quando já deflagrado processo penal, com o oferecimento de denúncia!
2) É uma prisão com prazo certo: 05 dias, prorrogáveis por mais 05 dias, e 30 dias, prorrogáveis por
mais 30 dias, se o crime praticado for hediondo ou equiparado.
• Homicídio doloso;
• Roubo;
• Extorsão;
• Estupro (Lembrar que a doutrina, a exemplo do Renato Brasileiro, consideram possível a decretação
de temporária do agente responsável pela prática do estupro de vulnerável por ser este crime
hediondo (art. 2º, §4º, da Lei nº 8072/90);
• Rapto violento (revogado pela Lei 11.106/05);
• Genocídio;
• Tráfico de drogas;
19
Além disso:
a) a temporária deve se mostrar imprescindível para a obtenção dos elementos de informação a respeito
da materialidade e autoria de tais infrações graves. (Ex: ocultação de provas, ameaça de testemunhas,
impossibilidade de reconhecimento do indiciado por se encontrar em local incerto).
OU
Em resumo: para decretar a temporária, o juiz deverá observar se presente o Inciso I ou II e o inciso
III.
Assim como na prisão preventiva, a prisão temporária, exige a demonstração do fumus comissi delicti
(fumaça do cometimento do delito) e do periculum in libertatis (perigo da liberdade). Enquanto
medida cautelar de natureza pessoal, a temporária exige a demonstração do fumus (existência do fato
criminoso) e periculum (necessidade da prisão para o êxito da investigação)!
O BP S
IM OERRT V
AANÇTÃE O
!
Esse tema já foi objeto de prova dissertativa para concurso da magistratura. Fica a dica! A
questão exigiu do candidato: Aponte o fumus comissi delicti e o periculum in libertartis da prisão
temporária. Resposta: O fumus comissi delicti está previsto no art. 1º, III (demonstração de
que o indiciado praticou qualquer dos crimes lá apontados), e o periculum in libertartis está
consubstanciado no inciso I ou II do art. 1ºda Lei nº 7.960/89.
Compreendidas as exigências para se decretar a prisão temporária, quem pode decretar a temporária?
Quem pode requerer a decretação dessa prisão?
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O BP S
IM OERRT V
AANÇTÃE O
!
Se identificada que a prisão é ilegal, caberá requerer o relaxamento da prisão. Se, contudo, a prisão (em
flagrante) for legal, porém desnecessária ou não adequada, caberá requerer a liberdade provisória.
Por fim, estando o agente preso preventivamente/temporária, caso os motivos que subsidiaram a
prisão preventiva deixem de existir, caberá o pedido de revogação da prisão.
Com o propósito de facilitar a elaboração de petições, principalmente por parte dos alunos que não
dispõe de tempo ou oportunidade de prática, vamos partir de um “esqueleto” ou “estrutura padrão”
de peça, que pode ser utilizado, com as devidas adaptações, para toda e qualquer petição.
A peça será estruturada em 04 partes:
A 1ª parte, denominada “ENDEREÇAMENTO”, vai exigir conhecimentos acerca das regras de competência,
afinal, nesse momento, você deverá apontar qual o juízo ou qualquer outro órgão (Delegacia de Polícia
ou Promotoria de Justiça, por exemplo) que detém competência ou atribuição para apreciar o seu pleito.
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IDMI PC O
A !R T A N T E !
Evite usar abreviatura, pois prejudica o estilo solene da linguagem forense. Além disso, lembre-se
que o endereçamento deve ser impessoal!
Exemplos:
Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da ___ Vara Federal da Seção Judiciária do Ceará.
A 2ª parte, que eu intitulo de “INTRODUÇÃO”, para alguns autores de livros de prática denominada de
“PREÂMBULO”, deverá conter: o NOME da(s) parte(s) e a respectiva QUALIFICAÇÃO; a referência ao
ADVOGADO e, por consequência, à PROCURAÇÃO, quando for o caso; o VERBO adequado à peça, o
NOME DA PEÇA e o respectivo FUNDAMENTO LEGAL, ou seja, o dispositivo normativo que autoriza o
uso da peça.
Exemplo:
FULANO, brasileiro, solteiro, autônomo, CPF nº ___, RG nº ____, filho de CICRANO e BELTRANA,
residente na Rua X, s/n, Bairro Tal, cidade “X” OU nacionalidade, estado civil, profissão, CPF, RG,
filiação, endereço, por intermédio do advogado que esta subscreve, conforme procuração anexa,
vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento no art. 316 do Código de Processo Penal,
requerer a REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, consoante os fatos e fundamentos a seguir
delineados.
A 3ª parte vamos denominar de “EXPOSIÇÃO DOS FATOS” OU “DOS FATOS”, momento em que você vai
apresentar sucinta narrativa dos fatos. Nesse momento, costumo dizer: “quem nunca, ao retornar das
férias, fez uma narrativa?” Pois, agora, a narrativa diz respeito aos dados da situação fática tidos por mais
importantes para o desenvolvimento da fundamentação jurídica.
Assim, em qualquer das peças relacionadas à prisão, a narrativa necessariamente deve apontar as
circunstâncias da prisão, o motivo, o local, quando etc.
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Exemplo:
Ao oferecer denúncia em desfavor de FULANO, pela prática do crime de roubo majorado pelo
emprego de arma, o Ministério Público requereu a prisão preventiva deste, sob o argumento de
que testemunhas estavam sendo aliciadas pelo requerente. Diante disso, sua Excelência decretou a
preventiva em desfavor do denunciado, por entender que a citada cautelar é necessária para assegurar
a instrução criminal. Ocorre, Excelência, que a instrução já foi concluída, de modo que não mais se
justifica a prisão cautelar decretada em desfavor do requerente. É o que se mostrará a seguir.
A 4ª parte, conhecida por “DO DIREITO” é o momento destinado à demonstração de todo o conhecimento
jurídico que você possui, com a intenção de ver atendido o seu pleito.
Como sugestão de desenvolvimento do texto, tem-se o seguinte traçado: Primeiro, destaque o Direito,
seja através da indicação de dispositivo normativo, de entendimento doutrinário ou jurisprudencial.
Depois, apresente a situação concreta, o que levou você a peticionar. Em seguida, registre que a
situação concreta apresentada se ajusta, se amolda ao direito exposto.
Lembre-se: chegou o momento de você argumentar juridicamente com vistas a ver o seu pleito deferido.
Para finalizar, você pode usar, COMO REFORÇO DA SUA ARGUMENTAÇÃO, doutrina e jurisprudência.
Exemplo:
Consoante se observa do art. 212 do CPP, a prisão preventiva poderá ser decretada sempre que
necessária para …. conveniência da instrução criminal. No caso em comento, a prisão preventiva
foi decretada sob o único argumento de que seria necessária para garantir a instrução criminal,
visto que, segundo alegado pelo Ministério Público, o requerente estava aliciando testemunhas.
Ocorre que, conforme se comprova pela documentação em anexo, a instrução criminal já foi
finalizada, encontrando-se o processo na fase das últimas alegações. Considerando, portanto,
não mais existir qualquer risco para a instrução criminal, a revogação da preventiva é medida que
se impõe, ex vi o disposto no art. 316 do CPP. A propósito, nesse sentido já decidiu o Superior
Tribunal de Justiça. Veja-se (…)
Por fim, a 5ª parte da “estrutura padrão” proposta é o PEDIDO, momento em que você vai apresentar
todos os pleitos relacionados ao direito apontado. Lembre-se que, a depender da argumentação
utilizada e do procedimento que será adotado para se examinar o pleito apresentado, poderá existir
mais de um pedido.
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Exemplo:
Ante o exposto, requer, após manifestação do Ministério Público (PEDIDO 1), que seja revogada a
prisão preventiva (PEDIDO 2) e, por consequência, seja expedido o competente alvará de soltura
(PEDIDO 3).
Por fim, encerre a peça pedindo o deferimento do pleito, apontando local e data. Veja:
Pede deferimento
Local e data
O BP S
IM OERRT V
AANÇTÃE O
!
Procure desenvolver um texto organizado, que respeite as normas da língua portuguesa (utilize
elementos de ligação), que seja claro e objetivo.
Se a petição for elaborada para fins de aprovação em concurso, avaliação ou exame de ordem, cuidado
com a quantidade de linhas permitidas. Por fim, não esqueça: não é permitido qualquer forma de
identificação nas provas e nos exames da OAB.
Agora, segue a petição completa, levando-se em consideração a situação hipotética do Juiz da 10ª Vara
Criminal de Fortaleza ter decretado a preventiva de Fulano em razão da conveniência da instrução
criminal e ao fato de já haver encerrado a fase probatória:
Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da 10ª Vara Criminal da Comarca de Fortaleza- CE.
FULANO, nacionalidade, estado civil, profissão, CPF, RG, filiação, endereço, por intermédio do
advogado que esta subscreve, conforme procuração anexa, vem à presença de Vossa Excelência, com
fundamento no art. 316 do Código de Processo Penal, requerer a REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA,
consoante os fatos e fundamentos a seguir delineados.
Ao oferecer denúncia em desfavor de Fulano, pela prática do crime de roubo majorado pelo
emprego de arma, o Ministério Público requereu a prisão preventiva deste, sob o argumento de
que testemunhas estavam sendo aliciadas pelo requerente. Diante disso, sua Excelência decretou a
preventiva em desfavor do denunciado, por entender que a citada cautelar é necessária para assegurar
a instrução criminal.
Ocorre, Excelência, que a instrução já foi concluída, de modo que não mais se justifica a prisão
cautelar decretada em desfavor do requerente. É o que se mostrará a seguir.
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Consoante se observa do art. 212 do CPP, a prisão preventiva poderá ser decretada sempre que
necessária para aplicação da lei penal, garantia da ordem pública e da ordem econômica, bem como
por conveniência da instrução criminal.
No caso em comento, a prisão preventiva foi decretada sob o único argumento de que seria
necessária para garantir a instrução criminal, visto que, segundo alegado pelo Ministério Público, o
requerente estava aliciando testemunhas.
Ocorre que, conforme se comprova pela documentação em anexo, a instrução criminal já foi
finalizada, encontrando-se o processo na fase das últimas alegações.
Considerando, portanto, não mais existir qualquer risco para a instrução criminal, a revogação da
preventiva é medida que se impõe, ex vi o disposto no art. 316 do CPP.
Ante o exposto, requer, após manifestação do Ministério Público, que seja revogada a prisão
preventiva e, por consequência, seja expedido o competente alvará de soltura.
Pede deferimento
Local e data
Advogado/Defensor Público
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 3. ed. Bahia: Juspodivm, 2015.
LOPES JÚNIOR, Aury. Direito Processual Penal. São Paulo: Saraiva, 2017.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal. São Paulo: Revista dos Tribunais. 2017.
NUCCI, Guilherme de Souza. Prática forense penal. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016.
PACELLI, Eugênio. Curso de Processo Penal. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2014.
TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Prática de processo penal. 33. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
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