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CASOS PRÁTICOS SOBRE INTERPRETAÇÃO

- Identificaçao do problema
- Enquadramento teorico e legal
- Soluçao

1- Adilson, adepto e socio fervoroso do Benfica desde longa data, assiste aos jogos de
futebol do seu “glorioso” com o seu amigo Bento. em dia de Dervy Daluz, com a emoção
do jogo Adilson sentiu-se mal e foi prontamente socorrido, tendo sido diagnosticado. Os
médicos diagnosticaram-lhe uma doença grave e que ele teria apenas dois meses de
vida. Ao receber desta notícia Adilson decidiu fazer um testamento publico do qual
constava uma disposição a favor de Bento com o seguinte teor:” lego ao meu amigo
Bento a minha camisola autografada pelo Eusébio, no caso de o Benfica ser campeão
nacional neste ano”.
Adilson veio de facto a falecer dois meses depois. O Benfica não ganhou o campeonato
nacional de futebol naquele ano, mas ficou em primeiro lugar no campeonato nacional
de basquetebol.
Bento consternado com a morte do amigo, que sempre acompanhou nos jogos de futebol
do “glorioso” e fã incondicional de Eusébio, afirma que: só a min e a mais ninguém
pertence a camisola do grande Eusébio. Quid Iuris?
Nota: na resolução deste caso Práctico admitam que não existe o art 2112º CC que diz
respeito a interpretação dos testamentos.

Problematica:
pretende-se saber se Bento deve ficar com a camissola assinada pelo Eusebio.

-Esta em causa a interpretaçao da deixa testamentaria onde se dispoe “ no caso de o Benfica


se campeao nacional”, Bento ficara com a camissola assinada pelo Eusebio. o Benfica foi
campeao nacional de basquetebol, mas nao foi de futebol. e portanto vai-se colocar a questao,
sera que este facto preenche o disposto na deixa testamentaria?

Enquadramento :

Bento faz uma interpretaçao literal da norma e diz que sim, ele diz “ so a min e a mais
ninguem pertence a camisola do grande Eusebio” , pois da letra da lei refere-se a “Benfica ser
campeao nacional” sem especificar se é campeao nacional de futebol, de andebol ou de
qualquer outra modalidade.

Importa analisar os elementos da interpretaçao:


-temos um elemento literal que aponta para : Benfica campeao nacional que qualque
modalidade
-Elemento logico:
1-Do elemento sistematico nao temos dados.
2-Do elemento historico previsto no art 9ºn.º1CC “as circunstancias em que a lei foi
elaborada” resulta que Miguel acompanhou durante largos anos o seu amigo Adilson aos
jogos de futebol do Benfica o que é revelador pelo uso da expressao “derby” e “glorioso”. o
elemento historico aqui é importante porque tudo rodeia a volta do futebol, porque as
circunstancias que levaram a que Adilson fizesse essa deixa era o facto de o Bento
acompanhar sempre nos jogos de futebol, nao era nos jogos de basquetebol, e do eusebio ser
conhecido como jogador do futbol.
3-Elemento teleologico previsto no art 9ºn-º3 do CC que corresponde á ratio legis ou fim
concreto que a deixa testamentaria visa satisfazer, verifica-se que Adilson pretende partilhar
com o seu amigo, e depois da sua morte, a alegria do Benfica ser campeao mundial de futebol
nesse ano, dando-lhe a camisola do Eusebio conhecido jogador da equipa de futebol do
Benfica.
< Entao temos aqui uma discrepancia entre a letra e depois o espirituo da deixa
testamentaria, ja que enquanto elemento literal aponta para o benfica campeao em qualquer
modalidade desportiva, o elemento logico aponta para p Benfica acmpeao de futebol. dito de
outra forma, o elemento logico parece resultar que a expressao “benfica campeao nacional”
se refere a benfica campeao nacional de futebol. todavia do elemento literal parece que basta
o Benfica ser campeao nacional de qualquer modalidade desportiva.
do exposto parece que Adilson foi traido pelas palavras e disse mais do que efectivamente
queria dizer. existe uma desarmonia entre o elemento logico, que aponta para a verificaçao da
condiçao no caso de o Benfica ser campeao nacional de futebol, e o elemento literal que
aponta para que tal aconteça no caso de o benfica ser campeao nacional de qualquer
modalidade esportiva.
Soluçao:
por isso fazendo a inerpretaçao restritiva da deixa testamentaria, isto é, limitando a letra da lei
por consideraçao do elemento logico, chegamos ao sentido real da lei que consiste na
verificaçao da condiçao no caso de o Benfica ser campeao nacional de futebol.

logo bento nao tem razao e a camisola do Eusebio nao deve ficar para ele dado que o Benfica
nao ganhou o campeonato de futebol.

2-Admita que a correta interpretação de um certo artigo ambíguo do código de registo


civil, dá direito aos advogados a requererem quaisquer certidões relativas aos seus
clientes. O problema é que o artigo é, de facto, ambíguo e a direção-geral dos registos e
notariado, é excessivamente preocupada com uma certa proteção da privacidade da
vida dos cidadãos, imitiu uma circular determinando que “ os conservadores e
funcionários do registo civil só passassem certidões a pedido dos advogados quando
estes apresentassem procuração ou autorização dos seus clientes que especificamente
lhes dessepoderes para requerer o tipo de certidão em causa” . António, desprovido de
qualquer autorizaçao, advogado, insiste com o funcionário para que lhe passe a devida
certidão. O funcionário respondeu:” eu até concordo com o senhor doutor, mas ordens
são ordens, não posso passar ao lado de uma circular da direção-geral” . Quid Iuris?

ambiguo: algo que tem ou pode ter mais do que um sentido.


Problemática:
temos uma situaçao em que uma circular (regulamento) interpreta uma lei, limitando o seu
conteudo. assim, a lei que de cuja interpretaçao resulta que os advogados podem requerer
quaisquer certidoes relativas aos seus clientes é interpretada no sentido de os funcionarios so
poderem passar certidoes se apresentada autorizaçao dos clientes. a questao que se coloca
aqui, é a de saber o valor que tem tal interpretaçao por parte da administraçao.

Enquadramento :
estamos diante de uma interpretaçao oficial ou administrativa, aquela que é feita por uma
norma de valor inferior á interpretada, o que se verifica no caso, pois um regulamento
interpreta uma lei. esta modalidade de interpretaçao quanto á fonte ou valor nao tem um
caracter vinculativo ou eficacia externa, isto é nao vale apenas no ambito da hierarquia
administrativa (tem eficacia interna). neste caso o funcionario do Registro Civil, deve
respeitar a circular da Direcçao Geral. Todavia, tal facto, nao impede o advogado de contestar
a circular hierarquicamente ou contenciosamente.
Soluçao:
logo o funcionario tem razao e o advogado Antonio devera recorrer hierarquicamente ou
contenciosamente da circular.

3-Suponha que o governo pretende proteger a maternidade desvalida, e para isso cria
um pacote de medidas entre as quais se inclui o decreto-lei número x se inclui desculpa o
decreto-lei número X que contém uma disposição com o seguinte teor: “as mães
solteiras beneficiam de uma redução de 50% no seu horário de trabalho nos 12 meses
posteriores ao parto “. Imaginem que Ana recém-divorciada e mãe tinha uma criança
de 1 mês solicita a empresa onde trabalha idêntica redução. Quid Iuris?
Problemática:
coloca-se a questao de saber se Ana , mae divorciada, deve beneficiar de reduçao no seu
horário de trabalho.
esta em causa a interpretaçao da expressao “maes solteiras” previsto no Decreto -lei.
Enquadramento :
importa analisar os elementos da interpretaçao:

começando pelas literal: maes solteiras sao aquelas que nunca se casaram, pelo que fazendo
uma interpretaçao literal da norma Ana nao teria direito a reduçao.
quanto ao lemento logico: releva o elemento teleologico previsto no art 9ºn.º3 CC, , pois o
governo pretende proteger a maternidade desvalida com a criaçao desta norma, isto é permitir
que maes com filhos recem-nascidos e que nao tenham um companheiro que as ajude a tratar
dele /todas as mulheres que estejam sos no momento da maternidade ), possam beneficiar de
uma reduçao no seu horario de trabalho para cuidar da criança. note-se que esse elemento
logico tem como limite a letra da lei (art 9n.º2).
assim, verifica-se uma desarmonia entre o elemento logico e o literal, o legislador disse
menos do que efectivamente queria dizer, queria referir-se a todas as mulheres sem
companheiro depois do parto, mas referiu-se apenas as solteiras.
Soluçao:
por isso, devemos fazer uma interpretaçao extensiva do preceito ou seja estender a letra da
lai, de molde a abranger tambem as maes divorciadas, o que ainda tem um minimo de
correspondencia na letra da lei pois muitas vezes usa-se a expressao solteira no snetido de
decomprometida.
Logog Ana tem razao em solicitar a reduçao.
…..
< se fosse no caso das maes viuvas iríamos pelo art 10ºCC

porem se nao quisermos a interpretaçao extensiva evaomos para a analogia tambem esta
certo.
NOTA: temos uma situaçao tratana da doutrina e jurisprudencia alemas onde se discutia se se
deveria utilizar a interpretaçao extensiva ou fazer uma aplicaçao analogica deste preceito do
analogia legis. a deciso deve passar pela consideraçao da maior ou menor proximidade da
situaçao á letra da lei.
se entendermos que a expressao “maes solteiras” comporta as situaçoes de maes sozinhas,
fazemos uma interpretaçao extensiva e aplicamos a lei a situaçao.
se considerarmos que a expressao “maes solteiras” apenas comportam situaçoes de maes que
nunca se casarm entao teremos de recorrer á analogia legis. e neste sentido podemos ainda
suscitar o facto de estarmos diante de uma norma excepcional, cuja aplicaçao analogica é
vedada pelo art 11 do CC. a este proposito devemos distinguir os casos de excepcionalidade
formal dos casos de excepcionalidade material pois so estes ultimos, de acordo com a posiçao
do Oliveira ascençao, estariam vedados pelo art 11 do CC. na hipotese a excepcionalidade era
formal, razao pela qual a sua aplicaçao analogica nao estaria vedada.

a)Se Eu falasse aqui que em vez de Ana Se Eu falasse aqui que o senhor António é pai
solteiro de um filho de um mês, tem a custódia dele. vamos por interpretação extensiva
ou não?
nao,porque sehun o art 9n.º2 do CC nao ha o minimo de correspondencia, mas neste caso
podriamos ir pela analogia.

temos três nivea d elacunas, e temos aquela que é a de segundo nível a das Rationes legis(em
razão da lei) a teleologia imanente às normas de direito positivo e dentro desta, das raciones
legis, da razão da lei ,que é de facto uma das mais importantes senão a mais importante que
são portanto lacunas de segundo nível, portanto em face desta ratio legis, é o interesse da
criança a teleologia imanente a àquele complexo normativo nós percebemos que deverá
abranger não apenas as mães mas também os pais.
a doutrina alemã faz de facto esta separação entre lacunas patentes e nas lacunas latentes, e
vai falar ou a doutrina portuguesa caso do professor Oliveira ascensão fala de facto em lacuna
oculta( latente ou oculta) quer dizer porque a lei contem uma regra aplicável a certa categoria
de casos mas quando nós olhamos para o sentido e para a finalidade da lei verifica-se que
essa categoria abrange uma subcategoria com determinadas particularidades ou
especialidades e que é valorativamente relevante e não foi considerada, ora aqui nós não
temos uma subcategoria por isso é que é patente, nós percebemos então que se trata de uma
lacuna patente porque esta lei segundo a sua própria teleologia imanente é ser coerente
consigo própria deve conter esta regulamentação.
nós podemos suscitar o facto de estarmos diante de uma norma excepcional porque se por
quê porque ela se vai dirigir um número restrito de pessoas que são as mais solteiras e isso
contraria o regime que é o regime do artigo 11º por isso é que a doutrina fala depois na
chamada excecionalidade formal excecionalidade material, excecionalidade formal que
dizem diz apenas respeito à técnica legislativa usada e a excecionalidade material que
contraria um princípio ínsito na regra geral, e portanto de acordo com alguma doutrina e aqui
temos uma questão de direito de direito comparado porque por exemplo no Brasil se diz se
outra não for a intenção do legislador, portanto aqui o que o que se diz é bom estamos perante
neste caso estaríamos neste caso perante uma excecionalidade meramente formal . vejam esse
propósito aquilo que NOS diz por exemplo o professor Oliveira Ascensão só NOS casos de
excecionalidade material é que estariam vedados pelo artigo 11º. nesta hipótese Como Seria
uma excecionalidade meramente formal, não se verifica qualquer contradição com o princípio
a razão da aplicação da norma do decreto-lei número X permanece e não estaria
vedado e, portanto, por aí a Antonio teria razão impedir ou em solicitar a redução do seu
período de trabalho.

4- Alexandre passeava alegremente no jardim zoológico quando, ao olhar para uma jaula de
tigres, lhe veio à ideia de que a vida dentro de uma jaula deve ser muito triste e aborrecida.
Foi assim, que com pena dos tigres, se lembrou de comprar uma garrafa de aguardente para
dar aos animais. Pelo menos por alguns momentos sob efeito da aguardente, os tigres
poderiam esquecer o
cativeiro! Pedro Nuno, tratador de animais, deparou-se com Alexandre a dar de beber a
aguardente aos tigres num balde que arranjara para esse efeito. Alertou então Alexandre
para uma placa colocada ao lado da jaula na qual se podia ler o seguinte: “ É proibido dar
comida aos animais”. Alexandre respondeu-lhe que tinha lido a placa, mas que ela não lhe
dizia respeito, uma vez que não estava a dar comida, antes estava a dar-lhes uma bebida.
1. Pedro Nuno não sabe o que responder a Alexandre, e pede-lhe a si o seu conselho.
2. Imagine que na referida placa se pode ler o seguinte: é proibido dar comida aos animais,
excepto por visitantes do Jardim Zoológico e por tratadores de animais.
Quid iuris?
Problemática:
1. Está em causa, interpretar a placa que contém a regra: é proibido dar comida aos
animais.

A expressão que aqui suscita dúvidas de interpretação é a palavra comida

Enquadramento :
Importa analisar os elementos da interpretação:
- Elemento literal: comida significa alimentos (que podem ser sólidos ou líquidos)
- Elemento lógico: Dos elementos sistemático e histórico não temos dados. Do elemento
teleológico previsto no art. 9 no3 do CC, que corresponde à ratio legis ou fim concreto que a
lei visa satisfazer, decorre que com esta norma se pretende evitar que os visitantes
prejudiquem os animais do Zoológico, dando-lhes alimentos pouco adequados que possam
perturbar a sua dieta alimentar.
E assim sendo, parece que do elemento lógico da interpretação, em particular do
elemento teleológico, resulta que é proibido dar qualquer tipo de alimentos aos animais,
que podem ser de todo o género quer sólidos quer líquidos.
A questão que se coloca é a de saber se podemos entender a aguardente e as bebidas
alcoólicas em geral como uma comida ou alimento. De acordo com a definição gramatical
alimento é o que serve para conservar a vida aos animais e vegetais. Não há dúvidas que a
aguardente
dá energia, de qualquer das formas parece excessivo incluir as bebidas alcoólicas em geral e
a aguardente em particular no âmbito dos alimentos e comidas. Geralmente faz-se uma
separação entre comidas e bebidas (alcoólicas).
Deste modo, verifica-se uma desarmonia entre o elemento lógico e o literal, o legislador
disse menos do que efectivamente queria dizer, queria referir-se a todos os alimentos e
bebidas (incluindo as alcoólicas) e referiu-se apenas a comidas Por isso, devemos fazer uma
interpretação extensiva do preceito ou seja estender a letra da lei de molde a abranger

também as bebidas alcoólicas e a aguardente, o que ainda tem um mínimo de


correspondência na letra da lei (art. 9 no2 do CC) pois como já verificamos os alimentos
podem ser sólidos e líquidos e a verdade é que a aguardente não deixa de dar energia e
permitir desse modo a conservação da vida tal como os alimentos em geral.

Soluçao:
Assim, Alexandre não tem razão.

2. Se a placa tivesse esta norma, haveria uma proibição sem qualquer sentido, dado
que a excepção (visitantes e tratadores) contraria a regra geral da proibição de dar comida
aos animais. A proibição tem como destinatários os visitantes que muitas vezes dão comida
imprópria aos animais, ora, se a eles não se aplica, não conseguimos perspectivar qualquer
destinatário da norma, e, assim sendo, chegamos à conclusão de que a norma é desprovida
de sentido.
Devemos por isso fazer uma interpretação abrogante lógica (admitida dentro dos
limites do art. 9 no3 do CC que consagra o principio do aproveitamento das leis) e concluir
que
da análise dos elementos literal e lógico da interpretação, não se pode retirar efectivamente
qualquer regra ou critério de conduta.

5-Luís Maria, arguido em sede de processo penal, invocou a nulidade do depoimento de


uma testemunha, Ana João, com fundamento em esta ter recebido 1000 euros para o
incriminar.
O juiz decidiu que tal facto não era motivo de nulidade do depoimento, pois o n.o 1 e a
alínea e) do n.o2 do art. 126.o do Código de Processo Penal consideram ofensivas da
integridade moral das pessoas, e portanto nulas, as provas obtidas mediante “Promessa de
vantagem legalmente inadmissível”, e, no caso concreto, houvera recebimento efectivo do
dinheiro e não mera promessa.
Quid iuris?

Resolução:
Problematica:

Está em causa obter a nulidade do depoimento duma testemunha com base no art. 126 no2
alínea e) do CPC. Discute-se se o recebimento efectivo de dinheiro cabe no referido
Enquadramento:

preceito que apenas contempla a situação da “promessa de vantagem”. O juiz que decidiu o
caso fez uma interpretação literal do artigo afastando a sua aplicação, sem explorar todas as
virtualidades do elemento lógico da interpretação.
Efectivamente da análise dos elementos literal e lógico dentro ainda dos limites literais
possíveis que a interpretação impõe (art. 9 no2 do CC), promessa (significa dar esperanças/
criar expectativa de algo) não contempla as situações de recebimento efectivo de vantagens
legalmente inadmissíveis. Todavia, da regra que contempla a nulidade do depoimento da
testemunha quando haja a promessa de vantagem inadmissível, pode-se retirar uma outra
regra implícita de acordo com argumentos lógico-jurídicos, neste caso o argumento a minori
ad maius, ou seja o que proíbe o menos também proíbe o mais. E assim sendo se, se proíbe
o depoimento quando haja promessa, também se devera proibir quando haja recebimento
efectivo de vantagens legalmente inadmissíveis.
Soluçao:
Conclui-se assim, que Luís Maria tem razão, porque devemos fazer uma interpretação
enunciativa do preceito ou uma inferência lógica de regras implícitas, dado que o espírito da
lei permite tal concretização.

6- Afonso vem sendo, há longas semanas acordado a meio da noite por chamadas telefónicas
feitas por alguém que invariavelmente lhe pergunta se consegue dormir bem.
1. Tendo reconhecido a voz de uma colega da Faculdade, Afonso pretende saber se
pode apresentar queixa - crime com fundamento no art. 190 n.o1 do Código Penal
aprovado pelo Decreto-Lei n.o 48/95, de 15 de Março, nos termos do qual “Quem, sem
consentimento, se introduzir na habitação de outra pessoa ou nela permanecer depois de
intimado
a retirar-se, é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa até 240 dias. “
2. Suponha que é consultado um professor catedrático de Direito Penal que sobre a
questão emite um parecer. Que valor deve ser atribuído a este parecer no que
concerne à interpretação do citado preceito do Código Penal?
3. Suponha que o Governo, a pretexto de algumas dificuldades de interpretação do
referido artigo, faz um decreto regulamentar onde vem esclarecer que ali a
expressão “ introduzir na habitação” deve ser entendida como toda a violação de
privacidade do domicílio, haja ou não presença física por parte do agente.”
Quid iuris?
Problematica:
Art. 190 n.o1 do Código Penal :

Inserido no Cap VII – Dos crimes contra a reserva da vida privada


Tem como epígrafe – “ Violação de domicílio ou perturbação da vida privada”

1. Está em causa interpretar a expressão do art. 190 n.o1 do CP “ introduzir na habitação


de outra pessoa” para determinarmos se este preceito se aplica ao colega de Roberto
que lhe telefona ao meio da noite.
Enquadramento:
Quanto ao elemento literal: verifica-se que a palavra introduzir significa entrar/ meter
dentro e no seu sentido gramatical comum implica presença física
Quanto ao elemento lógico: releva o elemento sistemático (art. 9 no1 CC) pois o art. 190
n.o1 CP está inserido no capitulo dos crimes contra a reserva da vida privada ou
perturbação da vida e tem como epigrafe violação de domicilio ou perturbação da vida
privada razão pela qual parece abranger todas as situações de perturbação quer impliquem
presença física ou não. Releva também o elemento teleológico (art. 9 no3 do CC), sendo a
finalidade da lei sancionar quem perturba a vida privada de outrem. Por isso, atendendo ao
elemento lógico da interpretação, a norma parece abranger presença física ou não da
pessoa que perturba outrem.
Soluçao:
Do exposto resulta uma desarmonia entre a letra e espírito da lei, pois o legislador disse
menos do que queria dizer (queria dizer introduzir fisicamente ou não). Deste modo,
fazendo uma interpretação extensiva do preceito, isto é estendendo a letra da lei por
consideração do elemento lógico, devemos entender que o art. 190 no1 do CP se aplica à
situação em causa, razão pela qual Afonso pode apresentar queixa contra o colega.

NOTA:
Temos uma situação tratada na doutrina e jurisprudência alemãs onde se discutia se se
deveria utilizar a interpretação extensiva ou fazer uma aplicação analógica deste preceito do
CP (analogia legis). A decisão deve passar pela consideração da maior ou menor
proximidade da situação à letra da lei.
Se entendermos que a expressão “introdução” também comporta as situações de presença
não física, fazemos uma interpretação extensiva e aplicamos a lei à situação.
Se considerarmos que a expressão “ introdução” apenas comporta situações de presença
física então teremos de recorrer à analogia legis e como está em causa uma norma de
direito penal positivo (define os crimes e medidas das penas), a sua aplicação analógica é
vedada pelos artigos 29 da CRP e 1 no 3 do Código Penal. Neste caso nunca poderíamos
aplicar o art. 190 no1 do CP a esta situação.

2. O Professor Catedrático faz uma interpretação doutrinal do preceito. Esta


modalidade de interpretação quanto à fonte ou valor não tem qualquer valor
vinculativo para os outros (sem eficácia externa), vale apenas pela força dos
argumentos invocados e pelo prestígio da pessoa que o emite.
3. O Governo através do decreto regulamentar faz uma interpretação oficial ou
administrativa, aquela que é feita por uma norma/fonte de valor inferior à norma
interpretada. Neste caso existe um regulamento que interpreta uma lei. Esta
modalidade de interpretação não tem eficácia externa (para todos os aplicadores do
direito), produz apenas efeitos internos no seio da hierarquia administrativa.

7- Em Abril de 2009, violentos distúrbios no estádio do Dragão, conduziram a ferimentos


graves de alguns espectadores que foram agredidos com paus e pedras. Na sequência de tal
acontecimento, publicou-se o Decreto-Lei n.o 21863 com o seguinte teor:
“ é absolutamente proibida a entrada em recintos desportivos com quaisquer objectos
contundentes”
Num jogo entre o Benfica e o Naval, dois elementos da PSP armados com pistolas e
bastões, pretendem entrar no Estádio da Luz para cumprir o seu dever legal de vigilância
de eventos desportivos
Sérgio Joaquim, que transportava 2 garrafas de vidro de seven up com capacidade de 1 litro
cada, queria entrar porque dizia que tinha sede e que a seven up era cara.
Da mesma forma, Fernanda queria levar para o estádio o seu guarda-chuva vermelho e
branco, lembrança do seu avô, pois dizia que “estava meio adoentada e não queria apanhar
mais uma molha!”
Quid iuris?

Resolução:
Problematica:

Temos uma norma que impede a entrada em recintos desportivos com objectos contundentes.
É esta expressão que importa interpretar para as três situações em causa.
Atendendo à letra da lei, contundente significa: qualquer objecto duro e pesado que
possa causar contusão e ferimentos.
Enquadramento:
- PSP: caso típico de redução teleológica
A letra da lei :refere-se a objectos contundentes.
O elemento lógico:, neste caso o histórico (“na sequencia de distúrbios...”) e o teleológico,
pretende evitar que haja ferimentos entre os adeptos na sequência de eventuais desacatos
entre eles.
-A situação em causa cabe perfeitamente na letra da lei, pois não se duvida que as pistolas e
bastões transportados pelos elementos da PSP sejam objectos contundentes. Todavia,
verifica-se que se, se, impedisse a entrada da PSP o fim da norma mais facilmente seria
posto em causa, pois estes visam precisamente com as suas armas por fim aos desacatos
entre os adeptos. Trata-se de uma situação que o legislador certamente por lapso não
salvaguardou, o fim da lei não está pensado para estas hipóteses. Por isso, deve-se fazer
uma redução teleológica da regra que decorre do Dec- lei 11367 e não o aplicar a esta
situação, dado que só assim se respeitará a finalidade da norma em causa.
- Quanto à situação de Sérgio Joaquim, espectador, não se coloca a questão anterior, pois
da letra e espírito da lei decorre que lhe está vedada a entrada, desde que leve objectos
contundentes. E é precisamente esta situação que importa indagar. As garrafas de seven up
de um litro são objectos contundentes? Ora significando objectos contundentes no seu
sentido mais amplo: objectos duros / pesados/ que causam contusão, não se duvida que
tais garrafas são susceptíveis de causar contusão, ainda com a agravante de que se podem
partir e causar desse modo graves ferimentos. Por isso, fazendo uma interpretação
declarativa da norma, chega-se à conclusão que esta se aplica sem mais a esta situação. O
legislador exprimiu-se de modo adequado a abranger estes objectos.

- Quanto à situação de Fernanda, os termos da questão colocam-se como a anterior. Com


a possibilidade de se questionar o tipo de guarda-chuva em causa, para saber se,
efectivamente, se pode considerar um objecto contundente. Se considerarmos que assim é,
devemos também aqui fazer uma interpretarão declarativa.

8- A 10 de Maio de 2010, Maria Matilde vendeu a Ibrahima, a sua casa de férias em


Albufeira (um T3 com 5 ano), pelo valor de 150.000 euros.
Dois meses depois, a vendedora intentou uma acção judicial contra Ibrahima, pedindo a
anulação do contrato com fundamento em usura, invocando para tal que o comprador se
tinha aproveitado do seu estado mental de enorme alegria, (dado que na noite anterior o
seu grande Benfica se tinha sagrado campeão nacional ao vencer o Rio Ave) para conseguir
que o preço acordado fosse bastante mais baixo que o valor de mercado do imóvel.
Ibrahima contestou a acção invocando que a referencia a “estado mental” prevista no art.
282 n.o1 do CC, não comporta os estados mentais positivos, mas somente os negativos.
Quid iuris?

Resolução:
Problematica:
Maria Matilde vendeu a sua casa de férias a Ibrahima por um preço baixo, e pretende anular
o negócio com fundamento em usura, porque quando celebrou o negócio se encontrava
num estado mental de grande alegria.
Enquadramento:

Discute-se a interpretação do art. 282 no1 do CC, concretamente a expressão “ estado


mental”. Ibrahima faz uma prévia interpretação do preceito, entendendo que a expressão
só comporta estados mentais negativos ou depressivos e não qualquer outro tipo de estado
mental.
Para fazer uma correcta interpretação do preceito importa analisar os elementos da
interpretação. Começando pelo elemento literal que constitui o ponto de partida da
interpretação (art. 9 no1 CC), estado mental define-se como a situação psicológica ou o
modo como a pessoa se encontra psicologicamente. Esta definição abrange toda uma
multiplicidade de estados mentais que vão desde o deprimido, nervoso, irritado,
preocupado, lúcido, firme, etc. A palavra estado mental abrange todos estes estados. Será
que a expressão no art. 282 no1 quer ter esta amplitude? Para a resposta a esta questão
teremos de analisar o elemento lógico. Importa analisar o elemento sistemático previsto no
art. 9 no 1 CC onde a inserção da expressão no seio do artigo “ situação de necessidade,
inexperiência, ligeireza, dependência, estado mental ou fraqueza de carácter de outrem”
parece determinar que o estado mental que aqui está em causa não é qualquer um, mas
somente um estado mental negativo ou depressivo. Da mesma forma, o elemento
teleológico ou finalidade da lei previsto no art. 9 no3 do CC, parece também apontar para
um estado mental depressivo, pois não faria sentido que se viesse a anular um negocio por
quem o tivesse celebrado tendo um estado mental firme e lúcido. E assim sendo, chegamos
à conclusão que o elemento lógico da interpretação remete para o sentido de estados
mentais negativos e depressivos.
Soluçao:
Qual a melhor interpretação a adoptar? Verifica-se uma desarmonia entre a letra que se
refere a todo o tipo de estados mentais e o espírito da lei que apenas respeita a estados
mentais negativos, por isso deve-se limitar a letra da lei para retirar o real sentido da norma
e fazer assim uma interpretação restritiva da lei. E assim sendo tem razão Ibrahima e não
a Maria Matilde.

9- Margarida, uma aficionada pelas novas tecnologias, enquanto pesquisava na internet, viu
uma mega promoção do novo Iphone4. Dado que já há algum tempo pensava em trocar de
telemóvel e estava sem dinheiro, decidiu pedir emprestados 250 euros à sua amiga Ana
Paula para adquirir o aparelho, entregando-lhe em penhor a sua bicicleta violeta que ficou
na arrecadação da mutuante. Chegada a altura de pagar, Margarida continuava sem
dinheiro e Ana Paula passou a dar umas voltas na bicicleta, pois como estava a chegar o
Verão queria recuperar a sua boa forma física e perder os quilinhos que havia ganho no
Inverno. Perante a indignação de Margarida, Ana Paula disse-lhe: “ quem pode vender,
pode usar e eu posso nos termos do art. 675 do CC!”2
Quid iuris?

Resolução:
Problematica:

Foi celebrado um contrato de mútuo (art. 1142 do CC) entre Ana Paula e Margarida, nos
termos dos quais a primeira empresta 250 euros à segunda. Para garantir o pagamento da
dívida de 250 euros as partes decidiram constituir um penhor (garantia real sobre bens
móveis previsto no art. 669 e ss do CC) sobre a bicicleta violeta de Margarida.
Visto que Margarida não devolveu o dinheiro no prazo acordado, coloca-se a questão de
saber se Ana Paula (mutuante/ que empresta; e credora pignoratícia) pode usar a bicicleta
de Margarida (mutuaria/ a que recebe; e devedora pignoratícia) atendendo ao art. 675 do
CC que permite vender o bem no caso de o devedor não pagar o que deve.
Enquadramento:
Ana Paula faz uma interpretação enunciativa do preceito ao usar o argumento a maioria d
minus, segundo o qual se, se permite o mais também se permite o menos. De acordo com esta
modalidade de interpretação retiram-se regras implícitas de normas através de argumentos
lógicos.
Atendendo a este argumento lógico, parece que Ana Paula tem razão, pois se a finalidade da
lei é a possibilidade da venda do bem objecto de penhor para o credor pignoratício (neste
caso Ana Paula) se poder compensar do dinheiro emprestado e não devolvido, é como se
ele tomasse o bem como seu, dado o incumprimento. E se tomar o bem como seu,
parece evidente que também o possa usar.
Soluçao:
Logo, Ana Paula tem razão ao fazer uma interpretação enunciativa da norma para dela
retirar outras regras implícitas, no caso, de regra pode vender, retira a regra usar.

10- Enunciado

I. A 1 de abril de 2020, foi publicado o Decreto-Lei x/2020, de 1 de abril, o qual estabelecia


um conjunto de medidas que visavam combater a pandemia de Covid-19.

Esta compreendia, entre outros, os seguintes preceitos:

«Artigo 1.o As pessoas com sintomas de Covid-19 devem permanecer em casa até ao
desaparecimento dos sintomas ou até à realização de teste negativo ao SARS-CoV-2.
< Artigo 2.o Não sendo possível a realização de testes domiciliários pelo SNS, as pessoas
com sintomas de Covid-19 devem deslocar-se a um posto de testes oficial num dos cinco
primeiros dias em que tenham sintomas.
<Artigo 3.o 1 – É proibido o funcionamento de cafés, restaurantes, cantinas e outros
estabelecimentos de restauração. 2 – É ainda proibida a abertura ao público de todos os
estabelecimentos cujo comércio implique uma permanência continuada dos respetivos
clientes.
<Artigo 4.o É permitida a realização dos jogos da primeira liga de futebol profissional, não
podendo, porém, ser vendidos quaisquer ingressos para assistir aos mesmos.

II. Na versão do grupo de trabalho que preparou a redação inicial do diploma que veio a ser
aprovado como Decreto-Lei n.o x/2020, o preceito correspondente ao artigo 3.o, n.o 1, tinha a
seguinte redação: «é proibido o funcionamento de cafés, restaurantes, cantinas e outros
estabelecimentos de restauração, salvo para preparação de refeições para entrega ao domicílio
ou takeaway».

III. No preâmbulo do Decreto-Lei n.o x/2020 era declarado que «não obstante os perigos que
essa atividade pode resultar para a saúde dos envolvidos, atento aos elevados valores
envolvidos no funcionamento da Liga NOS, é permitida a realização dos jogos necessários à
conclusão da primeira liga de futebol masculino».
IV. O artigo 12.o da Lei 12/2002, de 3 de março, a qual regula o funcionamento dos estádios
de futebol e outros recintos desportivos estabelece que «compete à Federação Portuguesa de
Futebol Profissional determinar qual o número máximo de ingressos que pode ser vendido
para cada jogo».

1. António, residente no Porto, estava hospedado num quarto de hotel em Lisboa quando
começou a ter sintomas de covid-19. Quer agora regressar à sua residência e permanecer nela
até ao desaparecimento desses sintomas. Pode?

2. Bernardo, residente na ilha do Corvo, é informado pelo SNS de que não é possível a
realização de testes domiciliários à covid-19. Com receio de estar infetado e contaminar os
seus conterrâneos, Bernardo decide trancar-se em casa e não sair até que os seus sintomas
desapareçam, a não ser que os mesmos se agravem. Fica, assim, em casa durante três
semanas. É lícito o seu comportamento?
3. Pode o restaurante Belocanto preparar refeições para entrega ao domicílio?
4. Podem realizar-se os jogos de futebol necessários à conclusão da primeira liga de futebol
feminino?
5. Pode a final da Liga dos Campeões jogar-se em Lisboa? É válida a decisão da Federação
Portuguesa de Futebol Profissional de admitir a venda de 20.000 ingressos para esse jogo?
Critérios de correção

1. O examinando deve enquadrar a resposta à questão como um problema de interpretação do


artigo 1.o. A teleologia da norma decorrente desse preceito deve ser identificada na promoção
da reclusão das pessoas potencialmente infetadas, de forma a evitar o contágio de outras
pessoas. Essa teleologia exige que a pessoa com sintomas permaneça na habitação em que se
encontra no momento em que revela sintomas, de forma a não contaminar outras pessoas ao
movimentar-se para outro local. Perante isto, o examinando deve indagar se a referência a
«casa» no enunciado em análise pode ser interpretada como abrangendo também hotéis. Caso
responda negativamente, deve indagar se existe uma lacuna correspondente às situações em
que a pessoa sintomática não se encontra na sua residência habitual, integrando-a.

2. O examinando deve identificar a existência de um conflito entre a norma decorrente do


artigo 2.o e a norma decorrente do artigo 1.o. Aquela prevalece sobre esta última por força da
sua especialidade. É, assim, cominado a B o dever de se deslocar a um posto oficial de testes.
A sua omissão é ilícita.

3. O examinando deve enquadrar a questão como um problema de interpretação do artigo 3.o,


n.o 1, mais precisamente de apuramento do significado da palavra «funcionamento». O
examinando deve identificar que os trabalhos preparatórios do DL x/2020 apontam no sentido
de que o artigo 3.o, n.o 1, deve ser interpretado como impedindo também que os restaurantes
preparem refeições para entrega ao domicílio: numa versão de trabalho do diploma previa-se
expressamente essa exclusão tendo o legislador, antes da sua aprovação, eliminado essa
ressalva. O examinando deve também identificar um elemento sistemático resultante da
concatenação do artigo 3.o, n.o 1, com o n.o 2, do mesmo preceito: o artigo 3.o diferencia
entre «abertura ao público» e «funcionamento», sendo este último conceito mais amplo que o
primeiro. Daqui resulta um elemento sistemático no sentido da interpretação da referência ao
«funcionamento» de estabelecimentos de restauração como abrangendo também atividades
que não envolvem a abertura ao público. Por outro lado, o examinando deve identificar que a
teleologia da norma visa evitar aglomerações de pessoas em estabelecimentos de restauração,
as quais propiciem situações de contágio. Essa teleologia justifica o encerramento dos
estabelecimentos de restauração ao público, mas não justifica que estes sejam proibidos de
preparar refeições para entrega ao domicílio. O elemento teleológico de interpretação aponta,
assim, se individualmente considerado, no sentido da interpretação de «funcionamento» num
sentido mais restrito, que não abranja atividades que não envolvam abertura ao público.
Identificados os elementos de interpretação colidentes, o examinando deve analisar o
problema da existência de uma hierarquia entre os elementos de interpretação, respondendo à
questão interpretativa colocada pelo artigo 3.o, n.o 1, em coerência com a posição que adotar
a esse propósito.

4. O examinando deve indagar se a permissão estabelecida pelo artigo 4.o abrange também os
jogos de futebol feminino. Na interpretação desse preceito deve ser tomado em consideração
o preâmbulo do diploma, o qual explicita qual foi a intenção do legislador histórico: permitir
a realização dos jogos da primeira liga de futebol masculino. O examinando deve verificar
que a razão justificativa que subjaz à permissão da realização desses jogos (os valores
movimentados pela realização desses jogos) não procede relativamente aos jogos de futebol
feminino. Interpretado o artigo 4.o, o examinando deve apurar se desse preceito resulta a
contrario sensu a proibição da realização dos demais jogos de futebol profissional, que não os
jogos da primeira liga de futebol masculino.

5. O examinando deve discutir se existe uma lacuna relativamente à realização em Lisboa da


final da Liga dos Campeões. Respondendo afirmativamente, deve integrá-la mediante a
aplicação analógica da primeira parte do artigo 4.o, n.o 1. O examinando deve, em segundo
lugar, analisar se existe uma lacuna relativamente à admissibilidade da venda de ingressos
para esse jogo. A este propósito, o examinando deve, por um lado, considerar a analogia entre
a venda de ingressos para este jogo e as situações reguladas pela norma decorrente da
segunda parte do artigo 4.o, discutindo a relevância dos juízos analógicos no domínio da
constatação de lacunas. Por outro lado, o examinando deve reconhecer a existência no
ordenamento da norma decorrente do artigo 12.o da Lei 12/2002, da qual decorre um critério
regulador da questão acerca da admissibilidade da venda de ingressos para cada jogo, o qual
não leva, porém, em conta, as especificidades da venda de ingressos para jogos de futebol
realizados no contexto de uma pandemia. Mais precisamente, o examinando deve discutir se
a existência da norma decorrente do artigo 12.o da Lei 12/2002 prejudica a existência de uma
lacuna. Respondendo negativamente, o examinando deve integrar essa lacuna, aplicando
analogicamente a norma resultante da segunda parte do artigo 4.o, após discutir se esta
reveste carácter excecional, para os efeitos do artigo 11.o.

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