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1. INTRODUÇÃO.
Por outro lado, há aqueles que entendem que a restrição do artigo 977 do CC
está restrita a sociedades formadas por apenas os cônjuges nos regimes específicos citados
entre si e por ambos com terceiros em uma mesma sociedade.
Tal posicionamento é adotado pelo Departamento Nacional de Registro do
Comércio (DNRC), órgão vinculado à Secretaria do Desenvolvimento da Produção do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que através do Parecer
Jurídico DNRC nº 50/03, exarado por sua Coordenadora Jurídica, Rejanne Darc B. de
Moraes Castro, expôs seu entendimento, conforme abaixo transcrito:
“EMENTA: Impedimento constante do art. 977 do Código
Civil, restringe-se aos cônjuges entre si ou de ambos com terceiros em uma
mesma sociedade.
(...) entendemos, por ser no mínimo razoável em face do
princípio da autonomia da vontade vigente no direito brasileiro, que a
restrição da norma ali inserta, limita tão-somente a constituição de sociedade
entre os cônjuges casados no regime da comunhão universal de bens ou no
da separação obrigatória ou desses conjuntamente com terceiros, não indo
tão longe ao ponto de proibir que pessoas bastando serem casadas nesses
regimes de bens, estariam impedidas de individualmente contratarem
sociedade, ainda que sem qualquer vínculo entre si.”
De acordo com o prazo legal estabelecido pelo citado artigo 2.031, CC, todas
as sociedades, associações e fundações, têm 02 (dois) anos a partir da vigência do Novo
Código Civil para adequarem seus contratos e estatutos sociais às novas regras do novo
diploma civilista.
A partir desse dispositivo, surge a discussão acerca de as sociedades
constituídas por pessoas casadas em regime de comunhão universal ou de separação
obrigatória de bens serem impelidas, ou não, a adequarem seus atos constitutivos de
maneira a atender os ditames do artigo 977, CC.
Assim, a defesa da tese da desnecessidade de adequação dos atos
constituídos de sociedades anteriormente à vigência do atual Código Civil em respeito ao
instituto do “ato jurídico perfeito” encontra abrigo no inciso XXXVI do artigo 5.º da
Constituição Federal de 1988 (CF/88) e o artigo 6.º da LICC, normas estas que passamos a
transcrever respectivamente:
“Art. 5.º (...)
(...)
XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada”.
“Art. 6.º A lei em vigor terá efeito imediato e geral,
respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada”.
Nesse sentido, trazemos a opinião do Ministro Néri da Silveira, do STF,
exposta em voto proferido nos Autos de Recurso Extraordinário2:
“(...) Essa liberdade de o legislador dispor sobre a sorte dos
negócios jurídicos, de índole contratual, neles intervindo, com modificações
decorrentes de disposições legais novas não pode ser visualizada, com
idêntica desenvoltura, quando o sistema jurídico prevê, em norma de
hierarquia constitucional, limite à ação do legislador, de referência aos atos
jurídicos perfeitos. Ora, no Brasil, estipulando o sistema constitucional, no
art. 5.º, XXXVI, da Carta Política de 1988, que a lei não prejudicará o
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada, não logra
assento, assim, na ordem jurídica, a assertiva segundo a qual certas leis estão
excluídas da incidência do preceito maior mencionado”.
Acompanhando o mencionado entendimento jurisprudencial do STF, temos
o DNRC que, mediante o Parecer Jurídico DNRC/COJUR n.º 125/03, assinado por sua
citada Coordenadora Jurídica, emite louvável opinião na seguinte forma abaixo:
“ASSUNTO: Sociedade empresária entre cônjuges
constituída antes da vigência do Código Civil, de 2002.
De outro lado, em respeito ao ato jurídico perfeito, essa
proibição não atinge as sociedades entre cônjuges já constituídas quando da
entrada em vigor do Código, alcançando, tão somente, as que viessem a ser
constituídas posteriormente. Desse modo, não há necessidade de se
promover alteração do quadro societário ou mesmo da modificação do
regime de casamento dos sócios-cônjuges, em tal hipótese”.
5. CONCLUSÕES.
Não obstante as conclusões finais expostas abaixo, acreditamos que a
aprovação e sanção do Projeto de Lei n.º 6.960/2002, de autoria do Deputado Federal
Ricardo Fiúza, que visa suprimir a restrição abordada neste trabalho é a melhor solução
para os questionamentos aqui expostos, pois evitaria a discussão da matéria em nossos
Tribunais, poupando tempo tanto ao Judiciário quanto às partes que vierem a buscar o
reconhecimento do direito restringido pelo artigo 977 do CC.
Ao final deste estudo, diante dos fundamentos expostos neste trabalho,
entendemos que (a) a restrição do artigo 977 do CC, se considerada constitucional, deve
atingir tão-somente as hipóteses de cônjuges casados em regime de comunhão universal ou
de separação obrigatória de bens que contratarem sociedade entre si, ou quando os dois
cônjuges constituam sociedade com terceiro(s); e (b) as sociedades constituídas antes da
vigência do CC que estiverem em desacordo com o citado artigo 977 não necessitam ser
adequadas, pois as mesmas estão cobertas pelo manto do “ato jurídico perfeito”.
Outrossim, concluímos que a restrição do artigo 977 do Código Civil não
deve ser aplicada, em virtude de, como exposto, violar a CF/88, visto ser inaceitável
restrição de os cônjuges constituírem sociedade com entre si ou entre ambos e terceiros, por
serem simplesmente casados em um dos regimes elencados no mencionado artigo 977 do
CC, ferindo o princípio constitucional da isonomia sem um motivo plausível.
NOTAS.
1 - Redação dada pela Lei n.º 10.838, de 30.01.2004
2 - STF, RExtr. n.º 198.993-9, Rel. Min. Néri da Silveira.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA.
CASTRO , Rejanne Darc B. de Moraes. Parecer Jurídico DNRC n.º 50/03.
Departamento Nacional de Registro do Comércio. 2003.
________. Parecer Jurídico DNRC n.º 125/03. Departamento Nacional de
Registro do Comércio. 2003.
FIUZA, Ricardo [Coord]. Novo Código Civil Comentado. 3. ed. São Paulo :
Saraiva. 2004.
LUCENA, José Waldecy. Das Sociedades Limitadas. 5. ed., Rio de Janeiro :
Renovar. 2003.
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