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Caso 1
Caso 2
Suponha que, certo dia, os veículos de Bento e de César colidiram. Bento considera
que a culpa é de César porque este não cedeu a passagem a quem vinha da direita, como resulta
da regra constante do Código da Estrada, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 114/94, de 3 de maio.
César, por sua vez, refuta a argumentação de Bento, alegando que todas as pessoas sabem que,
na verdade, quem vem da “via principal” – independentemente de vir da direita ou da esquerda
– tem prioridade sobre quem se desloca numa “via secundária”.
Quid juris?
Caso 3
Confrontado com um litígio referente a essa figura jurídica, Armando, juiz num
tribunal de 1.ª instância, está convencido que, atendendo ao ordenamento jurídico português, a
fiança omnibus não é nula, porquanto é suficientemente determinável. Quid juris?
Caso 4
Durante mais de 50 anos, os tribunais superiores portugueses tiveram por obrigatória a
redação dos acórdãos por um relator, ao qual o processo havia sido distribuído.
Em 2 de abril de 2019, surgiu a Lei n.º A/2019, a qual, no seu artigo 5.º, dispunha do
seguinte modo: «Os acórdãos dos tribunais superiores devem ser redigidos por todos os juízes
aos quais caiba a incumbência do julgamento».
Todavia, os juízes dos tribunais superiores continuaram a proceder como sempre tinham
feito nos últimos 50 anos, até que um juiz do Tribunal Relação do Porto se recusa a redigir
sozinho o acórdão, alegando que os demais juízes que participaram no julgamento têm o dever
de auxiliar na redação do mesmo.
Quid juris?
Caso 5
Caso 6
Caso 7
i. Distinga, sumariamente e exemplificando, princípios de regras jurídicas.
ii. Identifique a previsão e a estatuição das seguintes normas:
• Artigo 22.º, n.º 1, CC;
• Artigo 432.º, n.º 1, CC;
• Artigo 483.º, n.º 1, CC;
• Artigo 1308.º, CC.
Caso 1
Certo dia, Carlos e a sua amiga de infância, Damiana, ambos estudantes de Direito,
passaram a tarde no Bar Velhíssimo a discutir o disposto no artigo 36.º, n.º 1, da Constituição.
Para Carlos, essa norma não tutela o casamento entre pessoas do mesmo sexo porque
não era essa a ratio do legislador nem do ordenamento jurídico em 1976. Damiana, por sua
vez, entende que se deve fazer uma análise à luz dos valores atualmente dominantes,
abrangendo igualmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Analise os entendimentos acima referidos à luz das teses referentes à finalidade da
interpretação.
Caso 2
Armando, adepto fervoroso do Benfica e sócio nº 999, desde longa data assiste aos
jogos do seu “Glorioso” com o grande amigo, Nélio. Em dia de derby na Luz, com a emoção
do jogo, sentiu-se mal e foi-lhe diagnosticada uma doença grave, tendo os médicos previsto
que teria apenas 3 meses de vida. Ao saber desta notícia, Armando decidiu fazer um
testamento público em Janeiro de 2009, do qual constava uma disposição a favor de Nélio com
o seguinte teor:
“Lego ao meu amigo Nélio a minha camisola autografada pelo Nuno Gomes, no caso
de o Benfica ser campeão nacional este ano.”
Quid iuris?
Caso 3
Eunice celebrou um contrato de compra e venda de uma valiosa pintura com ao seu
bisneto Frederico, em janeiro de 2022. Gabriela, neta de Eunice, pede em tribunal a anulação
da venda, com fundamento na falta do seu consentimento, nos termos do artigo 877.º, n.ºs 1 e
2, do Código Civil.
Frederico alega que a norma não abrange a venda a bisnetos e que Gabriela não goza
de legitimidade para requerer a anulação da venda, porquanto a norma apenas se aplica a
“filhos” ou “netos” do vendedor.
Considere que a norma em causa visa tutelar a harmonia familiar e a igualdade entre os
descendentes, para além de evitar possíveis negócios simulados ou situações de fraude à lei.
Quid juris?
Sub-hipóteses: (a) E se Eunice tivesse vendido a valiosa pintura a Helena, cônjuge de
Frederico, tendo estes casado no regime de comunhão geral de bens? (b) Ou se tivesse vendido
à sociedade ABC, Unipessoal, Lda., cujo sócio único era Frederico? Quid juris?
Caso 4
Suponha que o Parlamento, pretende proteger a maternidade desvalida, e para tal cria
um pacote de normas, entre as quais se inclui o Decreto-lei nº 21058 que contém uma
disposição com o seguinte teor:
“As mães solteiras beneficiam de uma redução de 50% no seu horário de trabalho nos
seis meses posteriores ao parto”
Imagine que Sara, recém divorciada e mãe de uma criança de um mês, solicita à sua
empresa idêntica redução.
Quid juris?
Caso 5
Certo dia, André estava a passear na rua, até que se confronta com um edifício a arder,
sendo que no segundo andar se encontravam duas crianças a chorar de pânico. A poucos metros
de distância, André repara que está um escadote abandonado e apropria-se do mesmo,
utilizando-o para subir ao segundo andar e salvar as crianças.
Sucede que o escadote era de Bartolomeu, eletricista que estava a fazer reparações num
estabelecimento ali perto e que apresentou queixa-crime à polícia pela prática do crime de furto.
André consultou um advogado, que lhe disse que a sua conduta não se enquadraria no
âmbito do estado de necessidade, pois o artigo 339.º, n.º 1, do Código Civil não abrange o ato
de apropriação de bem alheio, mas apenas o ato de “destruir ou danificar coisa alheia”.
Quid juris?
Caso 6
Face aos recentes ataques de animais selvagens, que sentiam os seus habitats
ameaçados com a mera presença de humanos, foi aprovado o Decreto-Lei n.º 2/2022, de 2 de
fevereiro, o qual estipula que: “É proibido caminhar em zonas florestais que estejam
assinaladas como «zona ambiental protegida» ou «zona de acesso reservado»”.
Porém, Daniel considera que nada o proíbe de fazer corridas ou andar de bicicleta
nessas zonas.
Quid juris?
Caso 7
Num jogo entre o Benfica e o Naval, dois elementos da PSP armados com pistolas e
bastões, pretendem entrar no Estádio da Luz para cumprir o seu dever legal de vigilância de
eventos desportivos, Ricardo, que transportava 2 garrafas de vidro de seven up com capacidade
de 1 litro cada, queria entrar porque dizia que tinha sede e que a seven up era cara.
Quid iuris?
Caso 8
Suponha que o Decreto-Lei n.º Y/2021, de 30 de dezembro, veio fixar o regime jurídico
das operações e serviços bancários à distância e do acesso remoto a conta bancária
(homebanking). Do preâmbulo constava o seguinte:
Imagine que António celebrou um contrato de homebanking com o Banco Bom, mas
não lhe foram explicados quaisquer riscos, pois António, sendo engenheiro informático,
conhece bem os riscos da atividade bancária à distância.
Quid juris?
Caso 9
José Francisco passeava alegremente no jardim zoológico quando, ao olhar para uma
jaula de tigres, lhe veio à ideia de que a vida dentro de uma jaula deve ser muito triste
e aborrecida. Foi assim, que com pena dos tigres, se lembrou de comprar uma garrafa de
aguardente para dar aos animais. Pelo menos por alguns momentos sob efeito da aguardente,
os tigres poderiam esquecer o cativeiro!
André, tratador de animais, deparou-se com José Francisco a dar de beber a aguardente
aos tigres num balde que arranjara para esse efeito. Alertou então José Francisco para uma
placa colocada ao lado da jaula na qual se podia ler o seguinte: “É proibido dar comida aos
animais”. José Francisco respondeu-lhe que tinha lido a placa, mas que ela não lhe dizia
respeito, uma vez que não estava a dar comida, antes estava a dar-lhes uma bebida.
i. André não sabe o que responder a José Francisco, e pede-lhe a si o seu conselho.
ii. Imagine que na referida placa se pode ler o seguinte: é proibido dar comida aos
animais, excepto por visitantes do Jardim Zoológico e por tratadores de animais.
Quid iuris?
Caso 10
Paula, a mais recente vencedora do euromilhões, decidiu realizar um dos sonhos da sua
vida, que era adquirir um automóvel da marca porsche. Para tal, dirigiu-se ao stand de
automóveis, e escolheu o descapotável vermelho porsche boxster S.
Quid juris?
Caso 11
Faustino considera, perante o teor do artigo 875.º do Código Civil (cf. ainda o artigo
219.º do Código Civil), haver um excesso de forma se a celebração deste contrato de compra e
venda for feita através de escritura pública.
Quid juris? (Nota: resolva esta hipótese pressupondo a inexistência do artigo 205.º, n.º
2, do Código Civil).
Caso 12
Dispõe o artigo 397.º, n.º 2 do Código das Sociedades Comerciais que: "São nulos os
contratos celebrados entre a sociedade e os seus administradores, diretamente ou por pessoa
interposta, se não tiverem sido previamente autorizados por deliberação do conselho de
administração, na qual o interessado não pode votar, e com o parecer favorável do conselho
fiscal ou da comissão de auditoria".
António e Bento são ambos gerentes da sociedade XPTO, Lda. (sociedade por quotas)
e estão saturados de não serem beneficiados financeiramente. Por isso, ambos negoceiam um
esquema, no qual António, em representação da sociedade XPTO, Lda., vende um imóvel a
Bento por um preço muitíssimo inferior ao seu valor real, para posteriormente venderem-no a
terceiros pelo preço normal de mercado.
Em sede de assembleia geral, Carlos informa os demais sócios que teve conhecimento
deste negócio e que o pretende invalidar, apesar de não saber qual será a base legal aplicável.
(ii) O artigo 397.º, n.º 2 do CSC é uma norma especial face ao artigo 261.º, n.º 1 do CC,
que estabelece a anulabilidade do negócio consigo mesmo ("É anulável o negócio celebrado
pelo representante consigo mesmo, seja em nome próprio, seja em representação de terceiro,
a não ser que o representado tenha especificadamente consentido na celebração, ou que o
negócio exclua por sua natureza a possibilidade de um conflito de interesses");
(iv) O artigo 261.º, n.º 1 do CC, contrariamente ao artigo 397.º, n.º 2 do CSC, não
abrange os casos de co-representação, i.e., situações de pluralidade de representantes, em que
o co-representante (António) emite a declaração negocial representativa e o representante surge
como contraparte no negócio (Bento).
(vi) As sociedades por quotas não estão obrigadas a ter um conselho fiscal na sua
estrutura orgânica, bastando, em certos casos, a designação de um revisor oficial de contas (cf.
artigo 261.º, n.ºs 1 e 2 do CSC).
(vii) O artigo 397.º, n.º 2 do CSC consubstancia um corolário do dever de lealdade dos
administradores (artigo 64.º, n.º 1, alínea b) do CSC), que impõe uma conduta de acordo com
a boa fé, proibindo o aproveitamento de oportunidades de negócios em detrimento do interesse
societário e atuações em conflito de interesses.
Quid juris?