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INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO I

1.º Ano – Turma C | Ano Letivo 2023/2024

Caso 1

⎯ Comente, de modo crítico e fundamentado, a seguinte afirmação: «Não existe Direito


sem sociedade, nem sociedade sem Direito».
⎯ Identifique e distinga as fontes imediatas e mediatas no nosso Direito

Caso 2

Suponha que, certo dia, os veículos de Bento e de César colidiram. Bento considera
que a culpa é de César porque este não cedeu a passagem a quem vinha da direita, como resulta
da regra constante do Código da Estrada, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 114/94, de 3 de maio.
César, por sua vez, refuta a argumentação de Bento, alegando que todas as pessoas sabem que,
na verdade, quem vem da “via principal” – independentemente de vir da direita ou da esquerda
– tem prioridade sobre quem se desloca numa “via secundária”.

Quid juris?

Caso 3

Admita que os acórdãos do Tribunal da Relação de Lisboa, de 28 de abril de 2011, e do


Supremo Tribunal de Justiça, de 30 de outubro de 2018, decidiram que a denominada fiança
omnibus é nula, nos termos do artigo 280.º, n.º 1, do Código Civil, por ser indeterminável.

Confrontado com um litígio referente a essa figura jurídica, Armando, juiz num
tribunal de 1.ª instância, está convencido que, atendendo ao ordenamento jurídico português, a
fiança omnibus não é nula, porquanto é suficientemente determinável. Quid juris?

Sub-hipótese: A resposta seria diferente se tivesse sido o Acórdão de Uniformização


de Jurisprudência n.º 3/2006, de 5 de fevereiro, a pronunciar-se acerca da nulidade dessa
modalidade de fiança?

Caso 4
Durante mais de 50 anos, os tribunais superiores portugueses tiveram por obrigatória a
redação dos acórdãos por um relator, ao qual o processo havia sido distribuído.

Em 2 de abril de 2019, surgiu a Lei n.º A/2019, a qual, no seu artigo 5.º, dispunha do
seguinte modo: «Os acórdãos dos tribunais superiores devem ser redigidos por todos os juízes
aos quais caiba a incumbência do julgamento».

Todavia, os juízes dos tribunais superiores continuaram a proceder como sempre tinham
feito nos últimos 50 anos, até que um juiz do Tribunal Relação do Porto se recusa a redigir
sozinho o acórdão, alegando que os demais juízes que participaram no julgamento têm o dever
de auxiliar na redação do mesmo.

Quid juris?

Caso 5

Suponha que o artigo 300.º, n.º 1, da Constituição da República Portuguesa, tem a


seguinte redação: “As nacionalizações de empresas de transporte são proibidas”.

Em 2020, o Estado Português aderiu à Convenção Internacional sobre Transporte


Europeu, a qual dispõe, no seu artigo 2.º, que: “Os Estados signatários ficam autorizados a
nacionalizar as empresas de transporte aéreo em que possuam, pelo menos, 10% do capital
social”.

O Presidente da República, ao abrigo do mecanismo de fiscalização preventiva,


requereu ao Tribunal Constitucional que se pronunciasse acerca da (in)constitucionalidade da
referida Convenção Internacional e da sua receção no ordenamento jurídico nacional. Quid
juris?

Caso 6

Tendo presente os diversos tipos e classificações de situações jurídicas, identifique e


caracterize as que se encontram contempladas nos seguintes preceitos normativos:

a) Artigos 916.º e 917.º do Código Civil.


b) Artigo 1409.º, n.º 1, do Código Civil.
c) Artigo 2156.º do Código Civil.
d) Artigo 580.º, n.º 2, do Código de Processo Civil: o caso julgado e a litispendência “têm
por fim evitar que o tribunal seja colocado na alternativa de contradizer ou de
reproduzir uma decisão anterior”.

Caso 7
i. Distinga, sumariamente e exemplificando, princípios de regras jurídicas.
ii. Identifique a previsão e a estatuição das seguintes normas:
• Artigo 22.º, n.º 1, CC;
• Artigo 432.º, n.º 1, CC;
• Artigo 483.º, n.º 1, CC;
• Artigo 1308.º, CC.

Interpretação da lei e integração de lacunas

Orientações gerais para a interpretação

i. Identificar a situação concreta cuja regulação se quer encontrar;


ii. Identificar o enunciado normativo do qual se pondera extrair, através da interpretação,
a norma aplicável à situação concreta;
iii. Analisar os elementos da interpretação: referir base legal no CC; definir cada um deles;
justificar porque é que um dos elementos poderá pesar mais para regular o caso;
iv. Identificar como se deve interpretar o enunciado: definir a modalidade de interpretação
para fixar o sentido real da lei; especificar o resultado da interpretação.

Caso 1

Certo dia, Carlos e a sua amiga de infância, Damiana, ambos estudantes de Direito,
passaram a tarde no Bar Velhíssimo a discutir o disposto no artigo 36.º, n.º 1, da Constituição.

Para Carlos, essa norma não tutela o casamento entre pessoas do mesmo sexo porque
não era essa a ratio do legislador nem do ordenamento jurídico em 1976. Damiana, por sua
vez, entende que se deve fazer uma análise à luz dos valores atualmente dominantes,
abrangendo igualmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Analise os entendimentos acima referidos à luz das teses referentes à finalidade da
interpretação.

Caso 2

Armando, adepto fervoroso do Benfica e sócio nº 999, desde longa data assiste aos
jogos do seu “Glorioso” com o grande amigo, Nélio. Em dia de derby na Luz, com a emoção
do jogo, sentiu-se mal e foi-lhe diagnosticada uma doença grave, tendo os médicos previsto
que teria apenas 3 meses de vida. Ao saber desta notícia, Armando decidiu fazer um
testamento público em Janeiro de 2009, do qual constava uma disposição a favor de Nélio com
o seguinte teor:

“Lego ao meu amigo Nélio a minha camisola autografada pelo Nuno Gomes, no caso
de o Benfica ser campeão nacional este ano.”

Armando faleceu em Março de 2009. O Benfica não ganhou o campeonato de futebol,


mas obteve o primeiro lugar no campeonato nacional de andebol. Nélio, consternado com a
morte do amigo que sempre o acompanhou nos jogos do “Glorioso”, e fã incondicional do
Nuno Gomes, diz que só a ele pertence a camisola.

Quid iuris?

Caso 3

Eunice celebrou um contrato de compra e venda de uma valiosa pintura com ao seu
bisneto Frederico, em janeiro de 2022. Gabriela, neta de Eunice, pede em tribunal a anulação
da venda, com fundamento na falta do seu consentimento, nos termos do artigo 877.º, n.ºs 1 e
2, do Código Civil.

Frederico alega que a norma não abrange a venda a bisnetos e que Gabriela não goza
de legitimidade para requerer a anulação da venda, porquanto a norma apenas se aplica a
“filhos” ou “netos” do vendedor.

Considere que a norma em causa visa tutelar a harmonia familiar e a igualdade entre os
descendentes, para além de evitar possíveis negócios simulados ou situações de fraude à lei.
Quid juris?
Sub-hipóteses: (a) E se Eunice tivesse vendido a valiosa pintura a Helena, cônjuge de
Frederico, tendo estes casado no regime de comunhão geral de bens? (b) Ou se tivesse vendido
à sociedade ABC, Unipessoal, Lda., cujo sócio único era Frederico? Quid juris?

Caso 4

Suponha que o Parlamento, pretende proteger a maternidade desvalida, e para tal cria
um pacote de normas, entre as quais se inclui o Decreto-lei nº 21058 que contém uma
disposição com o seguinte teor:

“As mães solteiras beneficiam de uma redução de 50% no seu horário de trabalho nos
seis meses posteriores ao parto”

Imagine que Sara, recém divorciada e mãe de uma criança de um mês, solicita à sua
empresa idêntica redução.

Quid juris?

Caso 5

Certo dia, André estava a passear na rua, até que se confronta com um edifício a arder,
sendo que no segundo andar se encontravam duas crianças a chorar de pânico. A poucos metros
de distância, André repara que está um escadote abandonado e apropria-se do mesmo,
utilizando-o para subir ao segundo andar e salvar as crianças.

Sucede que o escadote era de Bartolomeu, eletricista que estava a fazer reparações num
estabelecimento ali perto e que apresentou queixa-crime à polícia pela prática do crime de furto.

André consultou um advogado, que lhe disse que a sua conduta não se enquadraria no
âmbito do estado de necessidade, pois o artigo 339.º, n.º 1, do Código Civil não abrange o ato
de apropriação de bem alheio, mas apenas o ato de “destruir ou danificar coisa alheia”.

Quid juris?

Caso 6

Face aos recentes ataques de animais selvagens, que sentiam os seus habitats
ameaçados com a mera presença de humanos, foi aprovado o Decreto-Lei n.º 2/2022, de 2 de
fevereiro, o qual estipula que: “É proibido caminhar em zonas florestais que estejam
assinaladas como «zona ambiental protegida» ou «zona de acesso reservado»”.

Porém, Daniel considera que nada o proíbe de fazer corridas ou andar de bicicleta
nessas zonas.

Quid juris?

Caso 7

Em Fevereiro de 2022, violentos distúrbios no estádio do Dragão conduziram a


ferimentos graves de alguns espectadores que foram agredidos com paus e pedras. Na
sequência de tal acontecimento, publicou-se o Decreto-Lei n.º 11367 com o seguinte teor:

“É absolutamente proibida a entrada em recintos desportivos com quaisquer objectos


contundentes”

Num jogo entre o Benfica e o Naval, dois elementos da PSP armados com pistolas e
bastões, pretendem entrar no Estádio da Luz para cumprir o seu dever legal de vigilância de
eventos desportivos, Ricardo, que transportava 2 garrafas de vidro de seven up com capacidade
de 1 litro cada, queria entrar porque dizia que tinha sede e que a seven up era cara.

Quid iuris?

Caso 8

Suponha que o Decreto-Lei n.º Y/2021, de 30 de dezembro, veio fixar o regime jurídico
das operações e serviços bancários à distância e do acesso remoto a conta bancária
(homebanking). Do preâmbulo constava o seguinte:

“O crescente uso da Internet e da prestação de serviços à distância na atividade


bancária revelou-se fonte de vantagem, mas também deu origem a um conjunto de perigos e
riscos para o cliente bancário, ausentes nos serviços e contratos bancários celebrados ‘ao
balcão’. Além disso, a natureza duradoura da relação bancária e a multiplicidade dos serviços
bancários à distância diferenciam esta atividade de outros serviços e contratos celebrados à
distância, através da Internet. Neste contexto, o presente regime jurídico visa criar uma
disciplina adequada a estas especificidades, intensificando mecanismos de tutela do cliente
bancário”.
Por sua vez, o Artigo 1.º dispõe o seguinte: “O cliente e o Banco podem celebrar um
contrato de acesso remoto a conta bancária, devendo fazê-lo por escrito e ficando o Banco
obrigado a comunicar ao cliente os riscos associados à atividade em causa, sob pena de
nulidade”.

Imagine que António celebrou um contrato de homebanking com o Banco Bom, mas
não lhe foram explicados quaisquer riscos, pois António, sendo engenheiro informático,
conhece bem os riscos da atividade bancária à distância.

Quid juris?

Caso 9

José Francisco passeava alegremente no jardim zoológico quando, ao olhar para uma
jaula de tigres, lhe veio à ideia de que a vida dentro de uma jaula deve ser muito triste
e aborrecida. Foi assim, que com pena dos tigres, se lembrou de comprar uma garrafa de
aguardente para dar aos animais. Pelo menos por alguns momentos sob efeito da aguardente,
os tigres poderiam esquecer o cativeiro!

André, tratador de animais, deparou-se com José Francisco a dar de beber a aguardente
aos tigres num balde que arranjara para esse efeito. Alertou então José Francisco para uma
placa colocada ao lado da jaula na qual se podia ler o seguinte: “É proibido dar comida aos
animais”. José Francisco respondeu-lhe que tinha lido a placa, mas que ela não lhe dizia
respeito, uma vez que não estava a dar comida, antes estava a dar-lhes uma bebida.

i. André não sabe o que responder a José Francisco, e pede-lhe a si o seu conselho.
ii. Imagine que na referida placa se pode ler o seguinte: é proibido dar comida aos
animais, excepto por visitantes do Jardim Zoológico e por tratadores de animais.
Quid iuris?

Caso 10

Paula, a mais recente vencedora do euromilhões, decidiu realizar um dos sonhos da sua
vida, que era adquirir um automóvel da marca porsche. Para tal, dirigiu-se ao stand de
automóveis, e escolheu o descapotável vermelho porsche boxster S.

O vendedor do automóvel, Silvino, insistiu na necessidade de escritura pública para a


concretização da venda, atendendo a que os automóveis são bens sujeitos a registo e
também muitos deles são mais caros que muitos bens imóveis. Paula, considera haver um
excesso de forma se a celebração deste contrato de compra e venda for feita através de escritura
pública, à luz do disposto nos artigos 875 e 219 do CC.

Quid juris?

Caso 11

Apercebendo-se do estado degradado em que se encontrava o seu automóvel, Faustino


decidiu comprar uma viatura nova. Quando se decidiu, finalmente, pela compra de um Audi
A5, o vendedor insistiu na necessidade de escritura pública para a concretização da venda, sob
pena de invalidade, atendendo a que os automóveis são bens móveis sujeitos a registo.

Faustino considera, perante o teor do artigo 875.º do Código Civil (cf. ainda o artigo
219.º do Código Civil), haver um excesso de forma se a celebração deste contrato de compra e
venda for feita através de escritura pública.

Quid juris? (Nota: resolva esta hipótese pressupondo a inexistência do artigo 205.º, n.º
2, do Código Civil).

Caso 12

Dispõe o artigo 397.º, n.º 2 do Código das Sociedades Comerciais que: "São nulos os
contratos celebrados entre a sociedade e os seus administradores, diretamente ou por pessoa
interposta, se não tiverem sido previamente autorizados por deliberação do conselho de
administração, na qual o interessado não pode votar, e com o parecer favorável do conselho
fiscal ou da comissão de auditoria".

António e Bento são ambos gerentes da sociedade XPTO, Lda. (sociedade por quotas)
e estão saturados de não serem beneficiados financeiramente. Por isso, ambos negoceiam um
esquema, no qual António, em representação da sociedade XPTO, Lda., vende um imóvel a
Bento por um preço muitíssimo inferior ao seu valor real, para posteriormente venderem-no a
terceiros pelo preço normal de mercado.

Em sede de assembleia geral, Carlos informa os demais sócios que teve conhecimento
deste negócio e que o pretende invalidar, apesar de não saber qual será a base legal aplicável.

Considere os seguintes aspetos:


(i) O artigo 397.º, n.º 2 do CSC insere-se no Título IV, referente às sociedades
anónimas, não existindo norma semelhante para as sociedades por quotas;

(ii) O artigo 397.º, n.º 2 do CSC é uma norma especial face ao artigo 261.º, n.º 1 do CC,
que estabelece a anulabilidade do negócio consigo mesmo ("É anulável o negócio celebrado
pelo representante consigo mesmo, seja em nome próprio, seja em representação de terceiro,
a não ser que o representado tenha especificadamente consentido na celebração, ou que o
negócio exclua por sua natureza a possibilidade de um conflito de interesses");

(iii) O Código Civil é subsidiariamente aplicável ao Código das Sociedades Comerciais.

(iv) O artigo 261.º, n.º 1 do CC, contrariamente ao artigo 397.º, n.º 2 do CSC, não
abrange os casos de co-representação, i.e., situações de pluralidade de representantes, em que
o co-representante (António) emite a declaração negocial representativa e o representante surge
como contraparte no negócio (Bento).

(v) Os poderes de administração e de representação das sociedades por quotas não


incumbem a um conselho de administração (como nas sociedades anónimas), mas sim a um ou
mais gerentes. Muitos dos poderes deliberativos que incumbem ao conselho de administração
nas sociedades anónimas são conferidos à assembleia geral de sócios nas sociedades por
quotas.

(vi) As sociedades por quotas não estão obrigadas a ter um conselho fiscal na sua
estrutura orgânica, bastando, em certos casos, a designação de um revisor oficial de contas (cf.
artigo 261.º, n.ºs 1 e 2 do CSC).

(vii) O artigo 397.º, n.º 2 do CSC consubstancia um corolário do dever de lealdade dos
administradores (artigo 64.º, n.º 1, alínea b) do CSC), que impõe uma conduta de acordo com
a boa fé, proibindo o aproveitamento de oportunidades de negócios em detrimento do interesse
societário e atuações em conflito de interesses.

(viii) Ao estabelecer como consequência a nulidade (ao invés da anulabilidade), o artigo


397.º, n.º 2 do CSC visa estabelecer um regime de tutela mais reforçada do tráfego jurídico e
da confiança de terceiros (e.g., credores e trabalhadores da sociedade) na solvência financeira
da sociedade, face ao regime estabelecido no artigo 261.º, n.º 1 do CC.

Quid juris?

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