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PROCESSO Nº: 0805191-26.2014.4.05.

0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO


AGRAVANTE: CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF
AGRAVADO: MARIA EDILENE DA SILVA
ADVOGADO: GLAUBER TIAGO GIACHETTA
RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL CONVOCADA HELENA DELGADO FIALHO
MOREIRA - 2ª TURMA

RELATÓRIO

Trata-se de agravo de instrumento interposto pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL,


contra decisão que, em sede de ação ordinária que pretende o pagamento de
indenização para fins de reparação de imóvel adquirido através do Programa Minha
Casa Minha Vida, rejeitou as preliminares de ilegitimidade passiva e incompetência
absoluta arguidas pela empresa pública, determinando ainda a integração do Fundo
Garantidor da Habitação Popular (FGHAB) ao polo passivo da lide, em virtude de
solidariedade quanto aos eventuais vícios de construção decorrente de contrato de
mútuo.

Sustenta, em suma, a agravante, que é responsável por gerir e responder


judicialmente pelo FGHAB, cujas garantias prestadas abrangem riscos de morte e
invalidez permanente, perda de renda e danos físicos no imóvel, previstos no art. 19, §
1º, de seu Estatuto, o que não incluem danos decorrentes de vícios de construção.

Ademais, afirma a CEF ter exercido apenas o papel de agente financeiro no referido
contrato, tendo em vista que apenas concedeu empréstimo para aquisição da casa
própria, de modo que só cabe à empresa responder nos limites do contrato de mútuo e
jamais pelos contratos de seguro de compra e venda.

Por fim, a agravante apresenta intenção de denunciar a lide à construtora, alegando


que, caso haja condenação na presente demanda, é indiscutível o direito de regresso
da CEF em relação à construtora responsável pelas obras do imóvel discutido.

Fora ofertado pedido de reconsideração pela agravante contra decisão que recebeu o
agravo de instrumento em seu efeito meramente devolutivo.

Não foram apresentadas contrarrazões pela parte agravada, apenas réplica ao pedido
de reconsideração.

É o relatório.

ID

PROCESSO Nº: 0805191-26.2014.4.05.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO


AGRAVANTE: CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF
AGRAVADO: MARIA EDILENE DA SILVA
ADVOGADO: GLAUBER TIAGO GIACHETTA
RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL CONVOCADA HELENA DELGADO FIALHO
MOREIRA - 2ª TURMA

VOTO

Quanto à preliminar de ilegitimidade passiva suscitada, penso que não assiste razão à
CEF.

É que o Egrégio STJ já vem trilhando a seguinte senda acerca da matéria: (grifo
nosso)

"RECURSO ESPECIAL. SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. VÍCIOS NA


CONSTRUÇÃO DE IMÓVEL CUJA OBRA FOI FINANCIADA. LEGITIMIDADE DO
AGENTE FINANCEIRO.

1. Em se tratando de empreendimento de natureza popular, destinado a mutuários


de baixa renda, como na hipótese em julgamento, o agente financeiro é parte
legítima para responder, solidariamente, por vícios na construção de imóvel cuja
obra foi por ele financiada com recursos do Sistema Financeiro da Habitação.
Precedentes.
2. Ressalva quanto à fundamentação do voto-vista, no sentido de que a legitimidade
passiva da instituição financeira não decorreria da mera circunstância de haver
financiado a obra e nem de se tratar de mútuo contraído no âmbito do SFH, mas do fato
de ter a CEF provido o empreendimento, elaborado o projeto com todas as
especificações, escolhido a construtora e o negociado diretamente, dentro de programa
de habitação popular.

3. Recurso especial improvido."

(REsp 738.071/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 09/08/2011, DJe 09/12/2011)

Do exposto, constata-se que a legitimidade da CEF só restaria afastada caso sua


atuação se desse apenas na qualidade de operador do financiamento, no que estaria
agindo como agente financeiro em sentido estrito, mas este não é o caso dos autos.

A instituição financeira atuou como gestor/executor do Programa Nacional de


Habitação Popular integrante do Programa Minha Casa, Minha Vida, consoante
explanado no decisum recorrido.

Sendo assim, a legitimidade da CEF decorre da Lei nº 11.977/09, que dispõe sobre o
Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV, que em seu art. 24 prevê, in verbis:

"Art. 24. O FGHab será criado, administrado, gerido e representado judicial e


extrajudicialmente por instituição financeira controlada direta ou indiretamente pela
União, com observância das normas a que se refere o inciso XXII do art. 4 o da Lei n o
4.595, de 31 de dezembro de 1964."

Também determina o art. 5º do Estatuto do Fundo Garantidor da Habitação Popular-


FGHab, ipsis litteris:

"Art. 5º O FGHab será administrado, gerido e representado judicial e extrajudicialmente


pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, instituição financeira federal, inscrita no CNPJ/MF
sob no 00.360.305/0001-04, com sede em Brasília - DF, no Setor Bancário Sul, Quadra
04, lotes 03 e 04, por meio da Vice-Presidência de Fundos de Governo e Loterias,
doravante designada, simplesmente, Administradora.
§ 1o Compete à Administradora:

I - administrar e dispor dos ativos do FGHab em conformidade com as diretrizes fixadas


neste Estatuto;

II - representar o FGHab, ativa ou passivamente, judicial ou extrajudicialmente;"

Demais disso, é possível vislumbrar a culpa in vigilando, pois, nesses casos, a


fiscalização realizada pela agravante não ocorre apenas em função de seu interesse
em que o empréstimo seja utilizado para os fins descritos no contrato de mútuo, mas
também para zelar pela correta execução do programa destinado a construção de
imóveis para a população de baixa renda.

Assim, não há razão para afastar a legitimidade da CEF para responder pelo processo
em questão.

De resto, esta Corte já se pronunciou neste sentido (grifei):

"PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. SFH. PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA. VÍCIOS
DE CONSTRUÇÃO. LEGITIMIDADE PASSIVA DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL.

1. Cuida-se de agravo de instrumento da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF aviado


contra decisão que, nos autos de ação ordinária promovida por ALZINEIDE ALVES DE
ARAÚJO e HELIO ALVES DE ARAÚJO em face da CEF, indeferira o pleito antecipatório
que pretendia a suspensão de depósitos mensais realizados pelos agravados, a fim de
resguardar eventual indenização a ser deferida, bem como almejava a condenação da
agravante e de mais dois réus (alienante e construtora) ao ressarcimento dos autores
pelos danos ocasionados por vícios na construção de imóvel pertencente ao programa
Minha Casa Minha Vida. Apesar disso, o Juízo de piso considerou a CEF agravante parte
legítima para ocupar o pólo passivo do feito, em virtude de sua atuação transcender a de
mero agente financeiro e englobar também a de executor de programas governamentais.

2. Caso em que a CEF atuou como gestora/executora do Programa Nacional de


Habitação Popular, integrante do Programa Minha Casa Minha Vida, o que a
legitima para responder por vícios em construção de imóvel, consoante Lei nº
11.977/09 e estatuto do Fundo Garantidor de Habitação Popular - FGHab.
Precedentes desta Corte e do STJ.

3. Demais disso, é possível vislumbrar a culpa in vigilando, pois, nesses casos, a


fiscalização realizada pela CEF não ocorre apenas em função de seu interesse em que o
empréstimo seja utilizado para os fins descritos no contrato de mútuo, mas também para
zelar pela correta execução do programa destinado a produção de imóveis para a
população de baixa renda.

4. Agravo de instrumento desprovido."

(PJE 0802731-66.2014.4.05.0000, Relator: Desembargador Federal Convocado PAULO


MACHADO CORDEIRO, Órgão Julgador: Segunda Turma, TRF-5, Data: 30/10/2014)

Doutra banda, quanto ao pedido de denunciação da lide à construtora, impõe-se o seu


deferimento, posto que, caso a CEF venha a ser condenada a pagar a indenização
pleiteada em função dos vícios de construção nos imóveis financiados, estará
assegurado seu direito de regresso contra a construtora responsável pelas obras.

Neste sentido, seguem os seguintes precedentes deste Tribunal: (sem grifos no


original)

"CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. SFH. VÍCIOS DE CONSTRUÇÃO. RISCO DE


DESABAMENTO. INTERDIÇÃO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO FEDERAL. LEGITIMIDADE
PASSIVA DA CEF, DA SEGURADORA E DA CONSTRUTORA. NÃO OCORRÊNCIA DA
PRESCRIÇÃO. SÚMULA 194 DO STJ. RESPONSABILIDADE DA CEF. MULTA
DECENDIAL. DANOS MORAIS.
I. Embora o Superior Tribunal de Justiça tenha decidido em sede de recurso repetitivo
que nos feitos em que se discute a respeito de contrato de seguro adjeto a contrato de
mútuo, por envolver discussão entre seguradora e mutuário, não comprometer recursos
do SFH e não afetar o FCVS (Fundo de Compensação de Variações Salariais), inexiste
interesse da Caixa Econômica Federal a justificar a formação de litisconsórcio passivo
necessário, sendo, portanto, da Justiça Estadual a competência para o seu julgamento
(REsp. 1.091.393-SC, Carlos Fernando Mathias - Juiz Federal Convocado -, Segunda
Seção, DJE 25/05/2009), no âmbito do referido julgamento restou ressalvado o
entendimento da Corte quanto à existência de responsabilidade solidária entre a
seguradora e o agente financeiro nos casos de vício na construção do imóvel, seja para
cobrança do seguro, seja visando ao pagamento de indenização.
II. Na hipótese, inclusive, a Apólice de seguro é do Ramo 66, garantidas pelo Fundo de
Compensação de Variações Salariais - FCVS, sendo a Justiça Federal competente para
apreciar o caso.
III. Tem-se por inquestionável a responsabilidade da construtora, em razão da
demonstração dos vícios de construção do imóvel em questão. A empresa
seguradora incumbe a cobertura pactuada, ressalvada a possibilidade de ação
regressiva contra a causadora do dano.
IV. Nos termos da Súmula 194 do STJ prescreve em 20 (vinte) anos o direito de ação de
indenização contra o construtor, por defeitos que atingem a solidez e a segurança da
construção. A imposição de exigência da reparação do dano somente surge a partir do
momento da constatação dos defeitos do imóvel (princípio da actio nata).
V. Restou comprovada a existência de vícios na construção do imóvel, que se encontra
sob risco de desabamento, conforme laudo pericial e Termo de Interdição.
VI. A jurisprudência dos tribunais já se posicionou no sentido de ser aplicável ao contrato
em questão, regido pelo Sistema Financeiro da Habitação, as disposições do Código de
Defesa do Consumidor. Precedentes: AGRESP 1073311, RESP - 643273, AgRg no
Resp 1223685/SC.
VII. Os contratos mútuos quitados também têm direito à indenização pelos danos
causados, tendo em vista que os mutuários tiveram que desocupar o imóvel, não
havendo que se falar em extinção da responsabilidade da seguradora.
VIII. Cabe aos réus arcarem com a indenização correspondente aos valores necessários
às reformas estruturais nos blocos residenciais em que se encontram os imóveis
indicados nestes autos, em razão da indivisibilidade do objeto e da obtenção do resultado
prático correspondente, bem como das unidades residenciais, em face do lapso temporal
em que se encontram abandonadas, conforme determinado na sentença.
IX. É devida a multa decendial prevista no contrato de seguro habitacional, haja vista o
inquestionável atraso no pagamento da respectiva indenização securitária, não se
olvidando que, in casu, mais que atraso, houve a negativa de cumprimento da referida
obrigação. É de observar-se, contudo, que o montante apurado a este título não poderá
ultrapassar o valor da obrigação principal.
X. A Constituição Federal em seu art. 5º, V, garante a indenização da lesão moral,
independente de estar, ou não, associada a prejuízo patrimonial.
XI. O dano moral se configura sempre que alguém, injustamente, causa lesão a interesse
não patrimonial relevante.
XII. Não resta dúvida sobre a existência do dano moral, no caso, os quais foram
suportados pelos autores, consubstanciados no constrangimento e desespero de se
verem obrigados a abandonar subitamente a sua moradia, por causa do risco de seu
desmoronamento em decorrência de vícios estruturais.
XIII. É atribuído ao juiz fixar o valor dos danos morais, não devendo causar o
enriquecimento da parte. Assim, reduz-se o valor da indenização para a quantia de R$
10.000,00 (dez mil reais).
XIV. Cabível a denunciação à lide da construtora, com sua condenação ao
ressarcimento dos prejuízo suportados pela Caixa Econômica.
XV. Apelações parcialmente providas, para reduzir o valor da indenização por danos
morais para o montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais) para cada autor."

(PROCESSO: 200783000163461, AC554694/PE, RELATORA: DESEMBARGADORA


FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI, Quarta Turma, JULGAMENTO: 22/03/2013,
PUBLICAÇÃO: DJE 01/04/2013 - Página 210)

"PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. VÍCIOS DE CONSTRUÇÃO.


ALVENARIA AUTOPORTANTE ("PRÉDIO CAIXÃO"). DENUNCIAÇÃO À LIDE.
CITAÇÃO DOS LITISCONSORTES NÃO PROMOVIDA. NULIDADE DA SENTENÇA.
MEDIDA LIMINAR MANTIDA.
1. "Há litisconsórcio necessário, quando, por disposição de lei ou pela natureza da
relação jurídica, o juiz tiver de decidir a lide de modo uniforme para todas as partes; caso
em que a eficácia da sentença dependerá da citação de todos os litisconsortes no
processo" (art. 47, caput, do CPC).
2. Muito embora a CAIXA atue no mercado imobiliário, fomentando, com recursos
do SFH, a construção de unidades habitacionais ou financiando a aquisição de
imóveis, ela não o faz da mesma forma que agem as instituições bancárias
privadas, as quais, juntamente com as construtoras e empresas de seguro, têm a
obtenção de lucro como o único propósito.
3. Dessa forma, se for considerada a CAIXA a única responsável na hipótese em
apreço, a própria sociedade é quem estará pagando o preço final, em benefício dos
bancos particulares, das construtoras e até mesmo das empresas seguradoras, os
quais, a despeito de terem atuado nas relações de direito material em estudo,
sairão isentos de qualquer responsabilidade, obtendo lucro com a prestação de
serviços defeituosos.
4. Necessário, portanto, que sejam integrados à lide os sujeitos denunciados pelos
apelantes. Assim, deverá ser intimado o MPF no Juízo a quo, a fim de que qualifique e
requeira a citação das construtoras e dos demais agentes financeiros que atuaram na
construção dos citados imóveis, bem como das respectivas seguradoras, sendo
permitido, desde já, o desmembramento do processo em outros, por blocos de
empreendimentos, no intuito de se evitar tumulto processual e não se prolongar ainda
mais a tramitação deste feito.
5. Nada obstante, sendo evidente o interesse social desta ação civil pública, promovida
não só para evitar a construção de novos imóveis com alvenaria autoportante ("prédio
caixão"), como também para garantir a integridade física e a segurança dos mutuários
que residem nas unidades habitacionais que já apresentaram vícios, entendo que deve
ser mantida a medida liminar concedida pelo Juízo a quo, dado o preenchimento, na
hipótese em apreço, dos requisitos previstos no art. 273 do CPC (fumus boni iuris e
periculum in mora).
6. Acolhida a preliminar de denunciação à lide para anular a sentença recorrida. Mantida
a medida liminar concedida no primeiro grau."

(PROCESSO: 200583000089872, AC529865/PE, RELATOR: DESEMBARGADOR


FEDERAL EDÍLSON NOBRE, Quarta Turma, JULGAMENTO: 18/12/2012,
PUBLICAÇÃO: DJE 24/01/2013 - Página 461)

"CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANOS EM IMÓVEL OBJETO DE


FINANCIAMENTO NO ÂMBITO DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA. VÍCIOS
DE CONSTRUÇÃO. LEGITIMIDADE PASSIVA DA CAIXA. ATUAÇÃO NA CONDIÇÃO
DE AGENTE FINANCEIRA, REPRESENTANTE DO FHAB E INCORPORADORA.
DENUNCIAÇÃO À LIDE DA CONSTRUTORA. NULIDADE DO LAUDO PERICIAL.
AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DA PARTE AUTORA. SENTENÇA ANULADA. APELAÇÃO
DA CEF PROVIDA. APELAÇÃO DA PARTE AUTORA PREJUDICADA.

1. Apelação interposta pela Caixa Econômica Federal contra sentença que julgou
procedente ação indenizatória onde se discute a cobertura securitária e
responsabilização por danos decorrentes de vícios de construção em imóvel objeto de
contrato de financiamento firmado no âmbito do Programa Minha Casa Minha Vida.

2. Esta E. Quarta Turma vem se posicionando no sentido de reconhecer a inexistência de


responsabilidade da CEF e do FGHab, e a consequente ilegitimidade passiva ad
causam, por danos decorrentes de vícios de construção no imóvel, quando a Caixa se
limita a financiar a compra do imóvel, sem a participação em nenhuma etapa da
respectiva edificação, e quando expressamente excluída, pelo respectivo contrato de
financiamento, a cobertura securitária pelo reportado fundo (AC
00081365320114058300, Desembargador Federal Edílson Nobre, TRF5 - Quarta Turma,
DJE:29/11/2012). Na verdade, na linha do que vem decidindo o Superior Tribunal de
Justiça, a legitimidade da CEF para responder por danos decorrentes de vícios na
construção do imóvel não decorre da mera circunstância de haver financiado a obra, nem
pelo fato de se tratar de mútuo contraído no âmbito de programa de habitação popular,
configurando-se, apenas, quando promove o empreendimento e o negocia diretamente
de acordo com as normas de regência do programa (REsp 738071/SC, Rel. Ministro
LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 09/08/2011, DJe 09/12/2011).

3. Hipótese em que, de acordo com o contrato de financiamento acostado aos autos, a


Caixa, além de agente financeira e representante do FGHab, figura, na condição de
incorporadora, como responsável por toda a articulação do empreendimento imobiliário,
razão por que não se sustenta a preliminar de ilegitimidade passiva e de incompetência
absoluta da Justiça Federal.

4. Acolhida a pretensão de inclusão da Construtora Celi na ação como litisconsorte


passiva necessária, haja vista o entendimento firmado por esta E. Quarta Turma no
sentido de admitir a denunciação à lide da construtora nas demandas
indenizatórias por vícios de construção em imóveis objeto de financiamento
habitacional firmado com a Caixa (AC 200583000089872, Desembargador Federal
Edílson Nobre, TRF5 - Quarta Turma, DJE - Data:24/01/2013; AC 200783000163461,
Desembargadora Federal Margarida Cantarelli, TRF5 - Quarta Turma, DJE:
01/04/2013).

5. Evidente a nulidade da perícia judicial, porquanto realizada sem a prévia intimação da


parte autora acerca da data designada pelo perito, em flagrante afronta ao disposto no
art. 431-A, do CPC e ao princípio do contraditório e ampla defesa. Em que pese o
julgador de primeiro grau tenha determinado a realização de perícia nos autos, bem
como a intimação das partes para apresentar quesitos e indicar assistente técnico, a data
fixada para a realização dos trabalhos periciais não foi observada pelo perito designado,
inexistindo, nos autos, prova da intimação dos demandantes acerca da data em que de
fato fora realizada a perícia.

6. Não bastasse a ausência do assistente técnico da Caixa na data da efetiva realização


da perícia, o que se percebe, ao menos em todos os oito processos que tratam desta
mesma questão e trazidos a julgamento nesta sessão, é a completa identidade entre os
termos dos respectivos laudos, diferenciando-se apenas quantos às fotos, que, em todos,
não se mostram suficientes à comprovação de danos compatíveis com os vícios de
construção relatados. Outro fato a se ressaltar é a provável exorbitância do quantum
apontado como necessário à recuperação dos danos (R$ 38.522,50), tendo em vista o
valor total do imóvel (R$ 52.775,00), mormente se considerado que este valor, além do
custo da construção, engloba o preço do terreno, a margem de lucro da construtora, além
de outros custos inerentes ao empreendimento.

7. Além da nulidade decorrente da inobservância do disposto no art. 431-A, do CPC, em


flagrante afronta ao princípio do contraditório e ampla defesa, o laudo contido nos autos
não se mostrou seguro, completo e suficiente para o convencimento acerca da natureza
e extensão dos danos efetivamente existentes no imóvel, pelo que se impõe a renovação
da prova pericial.

8. Apelação da CEF provida, para, acolhendo as preliminares de denunciação à lide e de


nulidade do laudo pericial, anular a sentença recorrida, determinando o retorno dos autos
ao Juízo de origem, a fim de que seja providenciada a citação da Construtora Celi, bem
como realizada nova perícia com a intimação prévia das partes. Apelação da parte autora
prejudicada."

(PJE 0800180-73.2013.4.05.8302, TRF5, Quarta Turma, Relator DESEMBARGADOR


ROGÉRIO FIALHO MOREIRA, Data: 31/03/2015)
Mercê do exposto, DOU PARCIAL PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO
da CEF, para deferir a denunciação da lide à construtora.

É o meu voto.

HELENA DELGADO FIALHO MOREIRA

Desembargadora Federal Convocada

MCSS

PROCESSO Nº: 0805191-26.2014.4.05.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO - PE


AGRAVANTE: CAIXA ECONOMICA FEDERAL - CEF
AGRAVADO: MARIA EDILENE DA SILVA
ADVOGADO: GLAUBER TIAGO GIACHETTA
RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL CONVOCADA HELENA DELGADO FIALHO
MOREIRA - 2ª TURMA

EMENTA

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. SISTEMA


FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA. VÍCIOS NA
CONSTRUÇÃO DE IMÓVEL CUJA OBRA FOI FINANCIADA. LEGITIMIDADE DO
AGENTE FINANCEIRO. DENUNCIAÇÃO DA CONSTRUTORA À LIDE. CABIMENTO.
1. Trata-se de agravo de instrumento interposto pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL,
contra decisão que, em sede de ação ordinária que pretende o pagamento de
indenização para fins de reparação de imóvel adquirido através do Programa Minha
Casa Minha Vida, rejeitou as preliminares de ilegitimidade passiva e incompetência
absoluta arguidas pela empresa pública, determinando ainda a integração do Fundo
Garantidor da Habitação Popular (FGHAB) ao polo passivo da lide, em virtude de
solidariedade quanto aos eventuais vícios de construção decorrente de contrato de
mútuo.
2. O Egrégio STJ já vem trilhando a seguinte senda acerca da matéria: "Em se
tratando de empreendimento de natureza popular, destinado a mutuários de baixa
renda, como na hipótese em julgamento, o agente financeiro é parte legítima para
responder, solidariamente, por vícios na construção de imóvel cuja obra foi por ele
financiada com recursos do Sistema Financeiro da Habitação. Precedentes." (REsp
738.071/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
09/08/2011, DJe 09/12/2011).
3. Diante disso, constata-se que a legitimidade da CEF só restaria afastada caso sua
atuação se desse apenas na qualidade de operador do financiamento, no que estaria
agindo como agente financeiro em sentido estrito, mas este não é o caso dos autos.
4. A instituição financeira atuou como gestor/executor do Programa Nacional de
Habitação Popular integrante do Programa Minha Casa, Minha Vida, consoante
explanado no decisum recorrido.
5. Sendo assim, a legitimidade da CEF decorre da Lei nº 11.977/09, que dispõe sobre
o Programa Minha Casa, Minha Vida - PMCMV, que em seu art. 24 prevê, in verbis:
"Art. 24. O FGHab será criado, administrado, gerido e representado judicial e
extrajudicialmente por instituição financeira controlada direta ou indiretamente pela
União, com observância das normas a que se refere o inciso XXII do art. 4 o da Lei n o
4.595, de 31 de dezembro de 1964."
6. Demais disso, é possível vislumbrar a culpa in vigilando, pois, nesses casos, a
fiscalização realizada pela agravante não ocorre apenas em função de seu interesse
em que o empréstimo seja utilizado para os fins descritos no contrato de mútuo, mas
também para zelar pela correta execução do programa destinado a construção de
imóveis para a população de baixa renda.
7. Doutra banda, quanto ao pedido de denunciação da lide à construtora, impõe-se o
seu deferimento, posto que, caso a CEF venha a ser condenada a pagar a
indenização pleiteada em função dos vícios de construção nos imóveis financiados,
estará assegurado seu direito de regresso contra a construtora responsável pelas
obras.
8. Agravo de instrumento parcialmente provido, para deferir a denunciação da lide à
construtora.

MCSS/ID

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que figuram como partes as
acima indicadas.

DECIDE a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, à unanimidade,


DAR PARCIAL PROVIMENTO AO AGRAVO DE INSTRUMENTO, nos termos do voto
da Relatora e das notas taquigráficas, que passam a integrar o presente julgado.

Recife, 19 de maio de 2015.

HELENA DELGADO FIALHO MOREIRA


Desembargadora Federal Convocada

ID

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