Você está na página 1de 15

CIV457 - Concreto Protendido

Prof. Gustavo de Souza Veríssimo

Universidade Federal de Viçosa


Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas
Departamento de Engenharia Civil
Setor de Estruturas

CIV457 - Concreto Protendido


Projeto Final – 2013:1

Cálculo de uma viga de ponte rolante pré-fabricada protendida

7000

5000 ponte rolante - capacidade 10 tf

viga de rolamento
4660

0,0

FIGURA 1 – Corte transversal do galpão

1
CIV457 - Concreto Protendido
Prof. Gustavo de Souza Veríssimo

O objetivo deste trabalho é elaborar um projeto estrutural completo de uma viga de rolamento em
concreto protendido pré-moldado em fábrica, desde o pré-dimensionamento até ao detalhamento final.

Cada grupo deverá dimensionar uma viga biapoiada com 12,0 m de vão livre entre apoios. Para
auxilar na elaboração dos itens preliminares do memorial de cálculo, é dado um exemplo de um
problema similar nas próximas páginas.

É dada a liberdade aos alunos para fazerem o projeto individualmente ou em grupo de no máximo três
pessoas.

Um dos objetivos é dimensionar a viga mais econômica possível para as condições dadas. Portanto, a
seção apresentada nas próximas páginas é apenas um exemplo. Cada aluno (ou grupo) deve procurar
dimensionar sua seção.

A seguir, enumeram-se as etapas do projeto para auxiliar na sequência de execução dos trabalhos.

Etapas do projeto:
1. Descrição do elemento estrutural
2. Descrição do processo de fabricação e montagem
3. Materiais
4. Características geométricas e mecânicas da seção transversal
5. Cálculo de esforços e tensões de referência
6. Cálculo da força de protensão e da armadura ativa
7. Verificação de tensões nas seções mais solicitadas -
Estados Limites de Utilização
8. Verificação das tensões ao longo do vão
9. Estados Limites Últimos - solicitações normais (incluindo ruptura no ato da protensão)
10. Estados Limites Últimos - solicitações tangenciais
11. Especificações e detalhes construtivos

Alternativas:
Você pode optar também por outro tipo estrutural, conforme as opções abaixo:
- viga calha protendida;
- dormente protendido.

Caso você tenha dúvida na definição de um desses elementos, consulte o professor.

2
CIV457 - Concreto Protendido
Prof. Gustavo de Souza Veríssimo

1. Descrição do elemento estrutural (exemplo)

1.1 Nome do elemento


Viga pré-moldada para apoio de ponte rolante.

1.2 Função e relação com outros elementos do sistema


Serve de apoio para os trilhos de uma ponte rolante em um galpão que será
utilizado como laboratório de estruturas. A viga em questão se apoia em consolos
engastados nos pilares conforme mostrado na FIGURA 1.

1.3 Dados da seção transversal e seção longitudinal

- seção transversal:

40,0 cm

6,7 7,3 12,0 7,3 6,7

20
22,5

5,0

6,0 6,0

cg 95,0
47,5

10,0

10,0

40,0 cm

(a) (b)

FIGURA 2 - Seção transversal da viga.

3
CIV457 - Concreto Protendido
Prof. Gustavo de Souza Veríssimo

Observações:

1. Em alguns pontos a seção transversal possui furos para fixação da ponte rolante,
como mostra a FIGURA 2a.

2. Para o cálculo do peso próprio, utiliza-se a seção transversal da FIGURA 2b e


para o cálculo das características geométricas da seção, considera-se a seção
transversal da FIGURA 2a.

12,0 m

FIGURA 3 – Unifilar do perfil longitudinal da viga.

1.4 Ações sobre o elemento


 carga permanente: peso próprio
 carga acidental: carga móvel da ponte rolante

A distância mínima entre rodas é de 3,6 m e a carga máxima por roda da ponte
rolante deve ser considerada conforme esquema abaixo:

F F
3600 mm

FIGURA 4 - Trem tipo.

4
CIV457 - Concreto Protendido
Prof. Gustavo de Souza Veríssimo

2. Descrição do processo de fabricação e montagem

2.1 Tipo de protensão utilizado

Para a produção de elementos pré-moldados em pistas de protensão utiliza-se


protensão com aderência inicial.

Será utilizada protensão limitada, uma vez que a viga está sujeita a cargas
móveis; a utilização de protensão completa levaria a situações críticas de "estado
em vazio". Essa medida está de acordo com a NBR 6118, que permite protensão
limitada em ambiente pouco agressivo.

2.2 Posicionamento da armadura e pré-tração


Os fios ou cordoalhas de aço especial são posicionados (normalmente próximos à
face inferior da peça), e estirados com o auxílio de macacos hidráulicos. As peças
são então concretadas

2.3 Lançamento e adensamento do concreto


O lançamento e adensamento do concreto é feito através de carros vibratórios.
Pode-se utilizar vibradores de imersão com diâmetro de 25 mm.

2.4 Cura do concreto


Será utilizada cura a vapor à pressão atmosférica. As peças recém-concretadas
são envoltas em lonas plásticas e injeta-se vapor no interior da lona.

A cura a vapor é efetuada em 3 etapas:

1a.) eleva-se a temperatura a uma taxa de 25 C/hora, até se atingir um patamar


de 80 C;

2a.) a temperatura é mantida constante por um período em torno de 15 horas;

3a.) o desaquecimento do ambiente é feito também de modo gradativo.

Com a cura a vapor e uso de cimento CP V - ARI (Alta Resistência Inicial) o


concreto chega a atingir, em um período de 24 horas, a cerca de 75% da
resistência aos 28 dias de cura normal.

5
CIV457 - Concreto Protendido
Prof. Gustavo de Souza Veríssimo

2.5 Transporte interno à fábrica


O transporte interno à fábrica é feito através de pontes rolantes, içando-se a peça
em pontos estratégicos de forma a não provocar esforços diferentes daqueles
previstos no projeto. Como a viga é projetada para trabalhar biapoiada, deve ser
içada pelas extremidades.

situação de serviço

transporte

FIGURA 5 - Transporte interno à fábrica

2.6 Estocagem
A estocagem pode ser feita utilizando-se travessas como suporte e que deverão
estar posicionadas como os apoios da peça em serviço.

FIGURA 6 – Estocagem
6
CIV457 - Concreto Protendido
Prof. Gustavo de Souza Veríssimo

2.7 Transporte externo à fábrica


O transporte externo à fábrica é feito através de carretas, respeitando-se as
recomendações do item 2.5 quanto ao içamento.

2.8 Montagem e fixação dos elementos


Na montagem deve-se respeitar também as recomendações do item 2.5. As vigas
devem ficar apoiadas sobre aparelhos de neoprene sobre os consolos.

3. Materiais

3.1 Concreto
 Resistência à compressão aos 28 dias e aos j dias de idade
Utiliza-se concretos com fck mais elevado devido aos seguintes fatores:
 a introdução da protensão pode causar tensões prévias muito elevadas;
 redução das dimensões das peças diminuindo seu peso próprio;
 maior módulo de deformação, o que implica em menor deformação lenta,
menor retração e menores perdas de protensão.

Valor adotado: fck = 45 MPa

Na data da protensão, devido à cura a vapor e ao uso de cimento ARI, pode-se


considerar que o concreto atingiu 75% da resistência aos 28 dias de idade.

fck = 0,75  45 = 33,75 MPa

 Resistência à tração aos 28 dias e aos j dias de idade

Para a determinação do momento de fissuração no ELS-F deve-se usar fct = fctk,inf,


ou seja, a tensão de tração máxima admissível no ELS-F deve ser

 ct,max   f ctk ,inf

2/3 2/3
Para seções T ou duplo T:  ct, max  1,2  0,7  0,3 f ck  0,252 f ck

 ct, max  1,2  0,7  0,3  452 / 3  3,19 MPa


2/3
Na data da protensão:  ct, max, j  1,2  0,7  0,3  33,75  2,63 MPa

7
CIV457 - Concreto Protendido
Prof. Gustavo de Souza Veríssimo

 Módulo de deformação longitudinal

Ecs _ 28  0,85  5600 f ck  0,85  5600 45  31931MPa

Ecs , j  0,85  5600 f cj  0,85  5600 33,75  27653MPa

3.2 Aço de protensão (armadura ativa)

 tipo CP 190 RB (catálogo Belgo Mineira)


fptk = 190 kN/cm2
fpyk = 171 kN/cm2
 forma de apresentação e cuidados com a estocagem
As cordoalhas são fornecidas em rolos com as seguintes dimensões:
diâmetro interno = 760 mm
diâmetro externo = 1270 mm

Estocar em área coberta, ventilada e sobre piso de cimento ou tablado de


madeira; em outras situações cobrir com lona plástica. Estocagem máxima = 2
alturas.

4. Características geométricas e mecânicas da seção transversal

4.1 Características da seção de concreto

área líquida: Ac = 1 994 cm2 (descontados os furos dos trilhos)

momento de inércia: I = 2 030 289 cm4

centro de gravidade: ycg = 46,40 cm

4.2 Características da seção homogeneizada (a ser atualizada após o


cálculo da armadura )

A rigor, a avaliação das tensões e deformações numa peça estrutural composta por
dois materiais com propriedades físicas diferentes deve ser feita a partir da
compatibilização dos materiais.

8
CIV457 - Concreto Protendido
Prof. Gustavo de Souza Veríssimo

Nos casos de estruturas de concreto armado ou protendido e estruturas mistas, deve-


se transformar um dos materiais em uma porção equivalente do outro. Por exemplo, no
caso de vigas mistas, a mesa de concreto é transformada numa porção fictícia
equivalente de aço.

No caso de peças de concreto armado/protendido, usualmente converte-se a armadura


numa porção equivalente de concreto.

A transformação da armadura numa quantidade equivalente de concreto é feita


multiplicando-se a área de aço Ap pela relação entre os módulos de elasticidade do aço
e do concreto, e = Ep / Ec . Como Ep, em geral, é maior que Ec , ao se multiplicar Ap  e
tem-se um aumento da seção transversal.

Se a armadura ativa é excêntrica, o baricentro da seção homogeneizada se desloca da


posição original em direção ao baricentro da armadura ativa. Isso resulta na diminuição
das tensões, uma vez que

N M
 e 
A W
Conclui-se, então, que utilizar as propriedades originais da seção (sem efetuar a
homogeneização) é um procedimento conservador e aceitável, uma vez que o aumento
da seção em geral é pouco significativo. Neste caso, obtém-se tensões ou pouco
maiores nos bordos da seção, o que, eventualmente, pode levar ao dimensionamento
de mais armadura e, ou, de um concreto mais resistente.

Supondo Ap = 4,0 cm2

Ac_liq = Ac - Ap = 1.994 - 4,0 = 1.990 cm2

Aci = Ac_liq + p Ap = Ac + ( p - 1 ) Ap

Ep 195 000
p    7,05
Ec 27653

Aci = 1994 + (7,05 - 1)4,0  2018 cm2

9
CIV457 - Concreto Protendido
Prof. Gustavo de Souza Veríssimo

Cálculo do centro de gravidade e do momento de inércia para a área


homogeneizada.

Ac . y1  A p . y p
y2 
Ac  A p

1994  46,4  4,0  5,0


y2 
1994  4,0
y2 = 46,32 cm
CG y = 0,08 cm
CGh y
Jh1 =J + (p - 1) Ap . (y1 - yp)2
Jh1 = 2030289 + (7,05-1)4,0(46,4-5,0)2
y1 Jh1 = 2 071 767 cm4
y2
Jh =Jh1 + Aci (y)2

yp Jh = 2 071 767 + 2018(0,08)2


Jh = 2 071 780 cm4

Jh1 = momento de inércia em relação a CG


Jh = momento de inércia em relação a CGh

5. Cálculo dos esforços e tensões de referência


O vão da viga será dividido em 10 partes iguais e as tensões serão avaliadas em
5 seções, uma vez que a viga é simétrica. No exemplo a seguir, os cálculos foram
feitos considerando um vão de 15 m.

10
CIV457 - Concreto Protendido
Prof. Gustavo de Souza Veríssimo

s1 s2 s3 s4 s5

150
300
450
600
750 cm

5.1 Esforços devido ao peso próprio

Área da seção transversal: Ac = 2259 cm2

g = 25 kN/m3  0,2259 m2 = 5,6475 kN/m

g = 5,6475 kN/m

15,00 m

Reações de apoio devido ao peso próprio:

Va = Vb = 5,6475  15 / 2 = 42,356 kN

Momento fletor devido ao peso próprio:


Mgs1 = 42,356  1,5 - 5,6475(1,5)2 / 2 = 57,181 kN.m
Mgs2 = 42,356  3,0 - 5,6475(3,0)2 / 2 = 101,654 kN.m
Mgs3 = 42,356  4,5 - 5,6475(4,5)2 / 2 = 133,421 kN.m
Mgs4 = 42,356  6,0 - 5,6475(6,0)2 / 2 = 152,481 kN.m
Mgs5 = 42,356  7,5 - 5,6475(7,5)2 / 2 = 158,834 kN.m

11
CIV457 - Concreto Protendido
Prof. Gustavo de Souza Veríssimo

Força cortante devido ao peso próprio:


Vgs1 = 42,356 - 5,6475  1,5 = 33,885 kN
Vgs2 = 42,356 - 5,6475  3,0 = 25,414 kN
Vgs3 = 42,356 - 5,6475  4,5 = 16,942 kN
Vgs4 = 42,356 - 5,6475  6,0 = 8,471 kN
Vgs5 = 42,356 - 5,6475  7,5 = 0,0 kN

Diagramas de esforços devido ao peso próprio

s1 s2 s3 s4 s5

DMF
57,181
101,654
133,421
152,481 158,834

42,356
33,885
25,414
16,942
8,471
DEC

5.2 Esforços devido às cargas móveis

Cargas admitidas para apoio de ponte rolante (exemplo):

12
CIV457 - Concreto Protendido
Prof. Gustavo de Souza Veríssimo

69 kN 69 kN

3,60 m

Linhas de influência para os momentos:


a b
ab

 L

13
CIV457 - Concreto Protendido
Prof. Gustavo de Souza Veríssimo

s1 s2 s3 s4 s5

3,6 m
L.I.M s1
1,35 0,99

3,6 m
L.I.M s2
2,40 1,68

3,6 m
L.I.M s3
2,07
3,15

3,6 m
L.I.M s4
2,16
3,60

3,6 m
L.I.M s5
1,95
3,75

Momento fletor devido à carga móvel:

Mqs1 = 69 (1,35+0,99) = 161,46 kN.m Mqs4 = 69 (3,60+2,16) = 397,44 kN.m


Mqs2 = 69 (2,40+1,68) = 281,52 kN.m Mqs5 = 69 (3,75+1,95) = 393,30 kN.m
Mqs3 = 69 (3,15+2,07) = 360,18 kN.m

Linhas de influência para a força cortante:

a b
a
1 
1 L

2 b
2 
L
L

14
CIV457 - Concreto Protendido
Prof. Gustavo de Souza Veríssimo

s1 s2 s3 s4 s5

3,6 m
0,10
L.I.Q s1
0,66

0,90

0,20
L.I.Q s2
0,56
0,80

0,30
0,46
L.I.Q s3
0,70

0,40

0,36
L.I.Q s4
0,60

0,50

L.I.Q s5
0,50 0,26

Força Cortante devido à carga móvel:

Vqs1 = 69 (0,90+0,66) = 107,64 kN Vqs4 = 69 (0,60+0,36) = 66,24 kN


Vqs2 = 69 (0,80+0,56) = 93,84 kN Vqs5 = 69 (0,50+0,26) = 52,44 kN
Vqs3 = 69 (0,70+0,46) = 80,04 kN Vq_apoio = 69 (1,00+0,76) = 121,44 kN

15

Você também pode gostar