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Luta na Normandia

Cai o porto vital

A batalha de Cherburgo
Luta em Caen

Vinte e quatro de junho de 1944. Avançando velozmente rumo ao norte, se deslocam as colunas do 7 o Corpo
de Exército americano. Seu objetivo é Cherburgo, porto vital que permitirá aos Aliados abastecer os
exércitos que lutam na França e que, até esse momento, foram abastecidos através das praias de invasão. A
conquista de Cherburgo significará um golpe mortal para as forças alemães que procuram,
desesperadamente, conter; o avanço dos exércitos aliados.

Até aquele momento o Alto-Comando alemão acreditava que o principal esforço das tropas anglo-americanas
seria, dirigido contra Caen. Por isso, os alemães haviam concentrado ali o maior número de unidades,
especialmente as blindadas.

Contudo, a operação decisiva na primeira fase da invasão seria a ocupação de Cherburgo.

A 9 de junho, o General Bradley, chefe do 1 o Exército americano, ordenara ao General Collins, chefe do 7 o
Corpo, que avançasse rapidamente com as suas tropas e cortasse pela base a península de Cotentin, paro
isolar Cherburgo.

O objetivo havia sido atingido na tarde de 17 de junho. Collins se comunicou com Bradley e, cheio de
alegria, anunciou que suas unidades de vanguarda haviam alcançado a costa oeste da península de Cotentin.
Em Cherburgo ficavam isoladas, sob o comando do General Schlieben, unidades alemães com mais de
30.000 homens. Collins, sem dar descanso às suas tropas, ordenou o avanço convergente, em três colunas,
das divisões 4a, 79a e 9a de Infantaria. Às três da madrugada de 19 de junho iniciou-se o avanço.

Dois dias mais tarde, o porto estava cercado. Da direita para a esquerda, as forças alemãs que defendiam o
último perímetro eram as seguintes: o 922° Regimento de Granadeiros, localizado no reduto denominado
Westeck; em seguida, o 919° Regimento de Granadeiros, com um batalhão de metralhadoras; no centro da
linha, o 739° Regimento de Granadeiros; no extremo oriental, o Regimento de Granadeiros 729°, com um
grupo de combate organizado com tropas de diferentes unidades agregadas.

O posto de comando estava localizado num reduto subterrâneo nos subúrbios de Cherburgo. Lá estava o
General von Schlieben e também o Almirante Hennecke, comandante de todas as forças navais alemães na
Normandia.

Nas galerias subterrâneas e abrigos do posto de comando se apinhavam mais de 1.000 homens, artilheiros
navais, tripulantes de torpedeiros, trabalhadores da organização Todt, soldados da Luftwaffe. Os homens se
amontoavam ali, num ambiente onde o ar era deficientemente renovado, pelo mal funcionamento dos
exaustores.

Inicia-se o assalto

Ao chegar aos subúrbios de Cherburgo, na noite de 20 de junho, o General Collins dirigiu um ultimato ao
General von Schlieben, intimando-o, sob a ameaça de empregar totalmente suas forças, à rendição.
Schlieben, porém, não aceitou o ultimato. Ao mesmo tempo, distribuiu uma ordem às suas tropas, seguindo
as determinações de Hitler. "A retirada das atuais posições será castigada com a morte", dizia o texto. E
prosseguia: "Todos os chefes das diversas unidades ficam autorizados a fuzilar aquele que abandone o seu
posto".

O ataque planejado por Collins se desencadearia às 12h 40m de 21 de junho.


Seria precedido por um devastador bombardeio aéreo, destinado a amaciar as defesas de Cherburgo. Essa
operação foi a primeira do seu tipo realizada pelos Aliados na França. Vindo da Inglaterra, transferiu-se para
as imediações de Cherburgo, o General da aviação americana Spaatz, para presenciar o desenvolvimento da
operação.

À hora pré-fixada, aproximaram-se, em vôo rasante, dez grupos de aviões Mustang e caças lança-foguetes
Typhoon, da RAF. Atrás deles, voavam para o objetivo 500 caça-bombardeiros americanos, apoiados por 387
bombardeiros médios. Ao todo, mais de 1.000 aparelhos se lançaram sobre as posições alemãs em
Cherburgo.

O resultado do ataque foi esmagador. O terreno ficou semeado de crateras, e a cidade, reduzida a escombros.
Simultaneamente, a artilharia americana desatou um vendaval de fogo, apoiando a ação dos bombardeiros.

Avançando atrás dessa cortina de fogo, os tanques americanos se movimentaram em direção às linhas
inimigas.

Embora parecesse incrível, entre as montanhas de escombros surgiram combatentes alemães, armados com
suas metralhadoras e Panzerfaust. Travou-se então o choque. Combatendo furiosamente, e apoiados por
algumas baterias que haviam escapado à destruição, resistiram a pé firme ao ataque americano. O
rompimento, no entanto, não pôde ser impedido. Foram arrojadas à luta companhias de pára-quedistas,
integradas por combatentes de pouca idade, e, praticamente, sem treinamento de combate.

Em poucos minutos, as fileiras dos defensores começaram a rarear. Ao cair da tarde, os americanos haviam
penetrado profundamente pelo flanco esquerdo das posições alemãs, isolando por completo uma unidade de
artilharia que manteve a resistência colocando em círculo os seus canhões.

Ocorreu então uma dramática reação dos combatentes alemães. Um batalhão do 729° Regimento de
Granadeiros, sob o comando de um tenente, se lançou ao contra-ataque para resgatar os artilheiros cercados.
Apesar do ardor combativo dos homens, o objetivo não foi alcançado. Ao longo de toda a linha, os forças
americanas abriam brechas, aniquilando um por um os postos defensivos alemães.

A 24 de junho, as tropas do General Collins haviam já irrompido através do anel exterior das defesas de
Cherburgo.

Os batalhões que defendiam os redutos alemães estavam praticamente dizimados, com exceção de pequenos
grupos que ainda resistiam desesperadamente. Eram destacamentos de oitenta a cem homens, exaustos e
quase sem munições.

No seu posto subterrâneo de comando, o General von Schlieben compreendeu que o fim estava próximo. No
entanto, era necessário prolongar a resistência para levar a cabo a demolição total das instalações de
Cherburgo.

A rendição

Os Aliados já estavam bem próximos de seu objetivo. No dia 25 de junho, suas forças invadiram o interior
das últimas posições defensivas alemães. No baluarte de Fort de Roule, que dominava o campo de batalha,
os alemães continuavam resistindo, disparando, intermitentemente, os seus grandes canhões de 150
milímetros.

Von Schlieben, nessa emergência, enviou uma desesperada mensagem ao Alto-Comando. Dizia: "A
superioridade material do inimigo e o domínio do ar exercido por ele são esmagadores. A maior parte de
nossas baterias não tem mais munições. As tropas se encontram completamente esgotadas, escorraçadas, de
costas para o mar. O porto e as instalações mais importantes já foram dinamitados. A queda da cidade é
iminente. O inimigo já penetrou nos subúrbios.

Temos 2.000 feridos sem possibilidade de receber atenção médica. Existe a necessidade, nestas
circunstâncias, de as forças que nos restam serem inteiramente exterminadas? Requeiro instruções urgentes".
Nesse momento, as forças americanas rodeavam o reduto subterrâneo onde estava instalado o posto de
comando. O Fort de Roule já caíra, canhoneado a queima-roupa pelas baterias autopropulsadas americanas.
No interior do posto de comando de von Schlieben reinava uma enorme confusão. Centenas de homens
amontoados continuavam com uma resistência que já não oferecia nenhuma esperança. Nas entradas do
reduto explodiam os projéteis dos americanos, pressagiando o final. Pouco depois das três da tarde chegou a
von Schlieben a resposta do Alto-Comando. A mensagem continha apenas uma lacônica frase, assinada pelo
Marechal Rommel: "De acordo com as ordens do Führer, o senhor deverá continuar a luta". Schlieben
compreendeu que tudo estava perdido. Sabia que qualquer resistência seria inútil e que somente conduziria à
morte algumas centenas de homens mais. Porém sabia, também, que devia obedecer àquela ordem.

Na colina sob a qual estava construído o reduto de von Schlieben já estavam, a essa altura dos
acontecimentos, os sapadores americanos colocando grandes cargas de explosivos.

As detonações abalavam o terreno, e a fumaça e os gases produzidos por elas se infiltravam no interior do
refúgio, tornando irrespirável a atmosfera.

Nessas circunstâncias, um tenente alemão se aproximou do Almirante Hennecke e lhe propôs um plano
desesperado. "Podemos varrer os americanos de cima da colina", lhe disse. "Nossas próprias baterias podem
disparar sobre a colina... " O almirante se dirigiu então ao seu ajudante e o interrogou: "Ainda estamos em
contato com as baterias de Cap de la Hague?" "Sim, senhor", foi a resposta. O almirante não vacilou. Com
voz firme, ordenou: "Então que disparem sobre nós, com seus canhões de 200 e 250 milímetros".

A ordem foi transmitida imediatamente. Os disparos, no entanto, não se produziram. As baterias haviam sido
desmanteladas pelos bombardeios aliados. Já nada poderia deter a ação dos grupos de assalto americanos.

Von Schlieben, entrementes, havia resolvido enviar às linhas inimigos um capitão americano capturado, a
fim de obter remédios para as centenas e centenas de feridos que agonizavam sem nenhuma assistência.

Às cinco da tarde, o capitão voltou. Atrás dele, entraram no reduto dois soldados alemães, carregando dois
volumosos pacotes: eram os remédios destinados aos soldados alemães feridos. O capitão americano trazia,
também, uma intimação de rendição do General americano Collins. Estava assim redigida: "O senhor e seus
homens resistiram firme e valentemente. Encontram-se agora numa situação desesperadora. Chegou o
momento da capitulação. Envie suo resposta pelo rádio na freqüência de 1.520 quilociclos e levante uma
bandeira branca ou dispare bengalas brancas".

Schlieben, não respondendo ao ultimato, repeliu-o tacitamente. Ao contrário, deu ordens terminantes para
acelerar a destruição de Cherburgo. Nas últimas horas da tarde, mais de trinta e cinco toneladas de dinamite
fizeram voar as últimas instalações portuárias e alguns pontos vitais da cidade.

Pouco depois das sete da tarde, os sapadores americanos chegaram às proximidades das entradas do refúgio,
disparando suas armas. No interior, von Schlieben deu uma última ordem, determinando a destruição dos
documentos. Em seguida, mandou transmitir ao Alto-Comando a seguinte mensagem: "Começou a
derradeira fase da luta". Depois, tomando em suas mãos um fuzil, marchou, junto com o Almirante
Hennecke, para unir-se com seus homens que defendiam as últimos posições.

Centenas de projéteis de morteiro e de artilharia caíam incessantemente sobre o reduto alemão. Os gases das
explosões se infiltravam através das fendas. Os feridos morriam asfixiados pelas emanações e pela fumaça
dos incêndios.

Nessas circunstâncias, e consciente da inutilidade da luta, von Schlieben decidiu pôr um fim a ela. Um pano
branco foi atado na ponta de um fuzil e foram feitos sinais, na direção das linhas americanas.

Às 14 horas do dia 26 de junho cessou o fogo.

Von Schlieben e o Almirante Hennecke foram conduzidos imediatamente ò presença do chefe das forças
atacantes, General Collins.

A notícia da captura do posto do comando de Cherburgo e a rendição dos seus chefes foi transmitida de
imediato ao General Bradley. Este se encontrava em companhia de um dos seus assessores, o Major-General
Hughes. Reproduzimos, das Memórias de Bradley, o diálogo mantido entre ambos: "Apanhamos o homem
importante de Cherburgo, porém ele não quer ordenar a rendição do resto das suas tropas". Hughes fez um
gesto desgostoso e disse: "O senhor vai convidá-lo a jantar?" Olhei Hughes fixamente: "Você acha que eu
devo?" "Claro que não!", gritou: "Bom", respondi, "se esse bastardo tivesse se rendido há quatro dias podia
tê-lo convidado, mas desde então já nos custou muitas vidas. Agora; espero que lhe sirvam uma ração K, e
que o enviem para o outro lado desse canal turbulento numa barcaça!"

A rendição de von Schlieben não marcou o fim da resistência, pois, como salientou Bradley, o chefe alemão
negou-se a ordenar ao resto das forças que ainda combatiam que depusessem as armas.

No extremo oeste da frente de Cherburgo, os restos de dois regimentos de granadeiros e unidades da


Luftwaffe e da artilharia continuaram combatendo até 30 de junho. No extremo oriental, o poderoso reduto
fortificado, denominado Osteck, suportou o investida inimiga até às primeiras horas do tarde de 28 de junho.

Dessa forma, os Aliados entraram definitivamente de posse de Cherburgo. O porto, contudo, fôra objeto de
um devastador trabalho de destruição; cais, guindastes, pátios de manobras, pontes, tudo estava praticamente
reduzido a escombros. Além disso, a baía ficara interditada por dezenas de barcos afundados. Centenas e
centenas de minas, também, tornavam impossível a navegação.

A engenharia americana se entregou imediatamente à tarefa de deixar o local em condições de ser utilizado.
O trabalho, tremendamente duro e arriscado, foi levado a bom termo, graças ao imenso cabedal de homens e
maquinarias de que dispuseram os sapadores americanos. Vinte dias depois, o êxito coroou seus esforços e os
primeiros barcos entraram no porto.

Por volta de novembro de 1944, mais de 15.000 toneladas diárias eram desembarcadas no porto de
Cherburgo.

A nova ofensiva aliada

A conquista de Cherburgo marcou o fim da primeira fase da invasão aliada do continente europeu, na França.
Surgiam agora novos problemas a serem enfrentados, representados, principalmente, pela adversa
conformação do terreno sobre o qual teriam de se desenrolar as futuras operações. De fato, na elaboração dos
planos da operação Overlord, todos os esforços foram concentrados na solução dos problemas referentes ao
assalto inicial das costas. Não se havia, portanto, prestado suficiente atenção às dificuldades que surgiriam
nos passos posteriores ao desembarque.

Os chefes britânicos, como o Marechal Alan Brookes e o Tenente-General Morgan, este último autor do
projeto inicial da invasão, já haviam salientado que a posterior penetração na Normandia apresentaria sérias
dificuldades, principalmente em virtude das famosas cercas vivas.

Com exceção da zona de planícies, que se estendia no flanco esquerdo da cabeça-de-ponte, na região de
Caen, o resto da frente do invasão era dominado, numa ampla extensão, por sucessivos e intermináveis
barreiras de sebes que serviam de separação aos terrenos semeados. Cada pequena parcela de terreno
individual, não importando quão pequeno fosse, estava demarcada por essas barreiras divisórias.

A base dessas sebes era formada por um muro de terra que variava entre trinta centímetros a um metro de
espessura, com uma altura que oscilava entre noventa centímetros a um pouco mais de três metros. Essa
murada era encimada por arbustos e árvores. Em seu conjunto, constituíam uma vala quase intransponível. A
irregularidade do terreno, também, fazia com que as sebes formassem um verdadeiro labirinto.

Do ponto de vista combativo, as sebes da Normandia representavam, para os alemães, uma posição defensiva
natural escalonada em profundidade, com sua massa de vegetação frondosa que fornecia às tropas uma
barreira de camuflagem.

Por sua vez; as muradas obstruíam a observação do inimigo, debilitando o uso da artilharia e das armas
pesadas e limitando em grande escala a utilização dos blindados.

Seria, porém, nessa região recortada pelas sebes, que os americanos levariam a cabo a sua principal ofensiva.
Depois do queda de Cherburgo, Eisenhower se viu diante da possibilidade de dirigir sua ação diretamente
para o leste, em direção ao rio Sena, a fim de ocupar os portos de Le Havre e Rouen, ou marchar rumo ao sul
e conquistar Saint Nazaire, Lorient e Brest, portos do Atlântico.

A ofensiva rumo ao Sena representava o movimento mais audacioso, pois implicava num golpe direto contra
a fronteira alemã. No entanto, o chefe supremo aliado considerou que o poderio alemão nesse setor era
demasiado forte e que a operação exigiria um excessivo dispêndio de vidas. Optou, portanto, como mais
lógico e eficaz, que o avanço americano se deslocasse rumo ao sul, diretamente através do difícil terreno das
sebes. Montgomery, com suas forças britânicas e canadenses, paralelamente, se encarregaria de cobrir o
flanco oriental, golpeando os alemães concentrados na zona de Caen. Este chefe havia; até aquele momento,
realizado esforços menores para desalojar o inimigo de Caen. Sua principal missão havia sido manter um
bloco defensivo em torno das praias da invasão. Durante o mês de junho, as tropas do 2 o Exército britânico,
sob seu comando, haviam-se limitado a efetuar ataques reduzidos, impedindo que os alemães agrupassem as
unidades blindadas que possuíam por ali, e as lançassem contra a frente de invasão.

Pôde-se assim estabelecer uma espécie de equilíbrio no setor de Caen. Isso era o que Eisenhower necessitava
para desenvolver seu novo plano ofensivo, que definiu da seguinte forma: "O General Bradley atacará rumo
ao sul, enquanto Montgomery agarra o inimigo pela garganta no leste".

Fracassa o ataque a Caen

Enquanto o 1o Exército de Bradley desenvolvia o seu ataque contra Cherburgo, Montgomery punha em
marcha um ataque no setor de Caen, para conseguir, segundo suas palavras, "cercar o grosso das forças
blindadas inimigas.

O assalto fôra planejado originalmente para 18 de julho. No entanto, teve que ser adiado até 22, em vista das
dificuldades de abastecimento. As forças inglesas se deslocariam em um movimento de flanco pelo sul de
Caen, envolvendo assim o cidade e estabelecendo uma cabeça-de-ponte na margem oriental do rio Orne.

Na data assinalada, 22 de junho, e depois de estender uma infernal barreira de fogo artilheiro, ingleses e
canadenses se lançaram ao assalto. Nesse setor estava localizada a divisão Panzer SS Hitlerjugend que
ofereceu desesperada resistência ao ataque aliado.

As divisões blindados de Montgomery se deslocaram debaixo do fogo dos Panzerfaust, sofrendo fortes
perdas. Ao norte de Caen, os tanques da 21a Divisão Panzer resistiram aos violentos embates das unidades
blindadas.

Na noite de 22 de junho, as forças de assalto inglesas, depois de um canhoneio que pulverizou o terreno,
irromperam nas posições defensivas do 122° Regimento de Panzergrenadier e avançaram resolutamente
sobre a cidade.

Os alemães lançaram um imediato contra-ataque, com um batalhão de tanques. A situação, então, pôde ser
em parte restabelecida. Enquanto se sucediam essas lutas em torno de Caen, Rommel planejava um contra-
ataque. Nessa operação interviria o 2 o Corpo SS Panzer, transferido apressadamente da frente russa.
Integravam essa unidade, três divisões blindadas, a 9 a, 10a e 1a SS Panzer, comandadas pelo
Obergruppenführer Hausser.

Rommel dispunha, agora, com esse reforço, de oito divisões blindadas nos arredores de Caen. Duas delas, a
Hitlerjugend e a 21a, haviam sofrido grandes baixas na luta defensiva e se encontravam sumamente
diminuídas em seu poder combativo. O marechal alemão, por isso, pensava substituir essas duas divisões
com outras duas de infantaria, que já se achavam em marcha rumo à frente.

A 26 de junho, Rommel recebeu um informe dizendo que os britânicos penetravam profundamente pelo sul
de Caen, no setor da divisão Hitlerjugend, alcançando as imediações do posto de comando dessa unidade.

Na sua marcha, os ingleses se dirigiam para a colina 112, ponto estratégico que dominava o campo da ação.

Foi imediatamente emitida uma ordem categórica: a colina 112 deve ser mantida até ao fim.
Rommel aguardava, ansiosamente, a chegada dos tanques da SS, para descarregar o contra-golpe; esperava,
assim, deter a investida inglesa.

No noite de 28 de junho, os unidades de Hausser, finalmente, chegaram. Mais de 250 tanques e 100 canhões
autopropulsados se concentraram sobre o flanco da cunha inglesa. Todas as esperanças ficaram, então,
depositadas nos veteranos tanques calejados nas lutas da Rússia.

Amanheceu 29 de junho. Do mar, os barcos da frota inglesa descarregaram seus canhões sobre Caen. No ar,
enxames de caça-bombardeiros sobrevoavam o local da ação, lançando-se sobre qualquer elemento alemão
que se pusesse em movimento. A artilharia de campanha inglesa, por sua vez, bombardeava incessantemente
a colina 112.

O topo da colina logo desapareceu, envolto na fumaça das explosões. Às sete do manhã, os tanques alemães
abandonaram suas posições camufladas e se movimentaram rapidamente em formação de combate. Minutos
depois, os aviões aliados se arrojaram sobre eles, lançando suas bombas e semeando o destruição. Outras
vezes tentaram os tanques alemães reagrupar-se para a luta. E sempre, do alto, eram detidos pelo dilúvio de
fogo vomitado pelos aviões inimigos.

Entrementes, os tanques da 2a Divisão Blindada britânica convergiram sobre a colina 112. Contra eles nada
puderam fazer os Panzer SS anulados pelos aviões aliados.

Pouco depois das nove da manhã, as baterias de Nebelwerfer alemães, que cobriam os posições da
retaguarda da colina 112, receberam um dramático apelo das forças que combatiam no topo. O soldado que
transmitiu o mensagem informou que os Sherman se encontravam a cinco metros do seu posto... Pouco
depois o comunicação se interrompia de chofre. O chefe da bateria de Nebelwerfer deu uma ordem: todo o
pessoal, com exceção de seis homens, deveriam atuar como combatentes de infantaria. A colina tinha de ser
reconquistada...

Os artilheiros se lançaram ao ataque e chegaram a poucas centenas de metros da elevação. Ali, no entanto,
foram contidos e varridos pelo fogo das metralhadoras e canhões dos britânicos. A colina 112 estava perdida.
Com a captura dessa posição, os ingleses dominavam um amplo setor de combate. Nenhum movimento
alemão podia escapar à sua observação direta. Enquanto isso, os tanques das divisões SS eram aniquilados
pela aviação aliada.

Em meio às explosões ininterruptas das bombas, os veículos eram destruídos, um após outro. Na metade da
jornada, 120 tanques alemães estavam fora de combate. Os que restavam, tratavam de escapar ao cerco,
porém tombaram sob o fogo da artilharia britânica, que se somou ao ataque da aviação. Assim, o contragolpe
de Rommel foi desbaratado antes que os tanques pudessem atuar com todo o seu rendimento. A luta pela
posse da colina 112 se converteu então no centro da batalha.

Na manhã de 30 de junho, toda a artilharia disponível alemã concentrou seu fogo sobre o colina. Da frente
inglesa, simultaneamente, foi enviado um relatório a Montgomery: "Os alemães não cedem em sua
resistência. As observações aéreas e os informes obtidos da gente da Resistência indicam que eles reagrupam
novamente seus tanques na retaguarda da frente".

Os tanques alemães, efetivamente, já marchavam sobre a colina 112. Apoiados pelo fogo concentrado dos
Nebelwerfer, os blindados se empenharam no combate.

Em meio à confusão causada pelo ribombar dos projéteis, que sulcavam o ar com silvo aterrador, os alemães
conseguiram alcançar as posições britânicas, antes que estes pudessem reagir. A colina 112 estava novamente
em suas mãos. Caen estava, momentaneamente, salva.

Nesse momento, o chefe inglês tomou uma resolução destinada a interromper a ação dos inimigos.
Colocando-se em comunicação direta com Eisenhower, solicitou o emprego dos bombardeiros pesados. O
ataque dos aviões seria lançado sobre o núcleo de comunicações de Villers-Bocage.

Tratava-se de executar, em curto espaço de tempo, um bombardeio '"de tapete", que arrasasse por completo
esse ponto de confluência, interrompendo o tráfego dos Panzer rumo à frente.
Ao mesmo tempo, os tanques aliados, aproveitando a surpresa causada pelo ataque dos quadrimotores, se
lançariam sobre essa zona.

Nessa mesma jornada teve lugar o ataque. Era a primeira vez que se empregavam os grandes bombardeiros,
com bases na Inglaterra, apoiando diretamente as tropas de terra. Dos seus refúgios, e covas de atirador, os
soldados aliados viram aproximarem-se os gigantescos Lancaster e Halifax. O rugido dos seus motores
estremecia o solo. Villers-Bocage, atingida por mais de 1.000 toneladas de bombas, foi praticamente riscada
da superfície em menos de vinte minutos.

Quase simultaneamente, os tanques ingleses avançaram sobre a localidade, envolta pelas chamas e pela
fumaça.

Muitos tanques alemães, que haviam conseguido escapar à ação dos bombardeiros, enfrentaram o assalto dos
ingleses e os paralisaram com o fogo dos seus canhões.

A luta em torno a Caen caiu assim, então, em ponto morto. Montgomery, porém, não estava disposto a largar
a presa. Ao receber o relato do fracasso das operações contra a colina 112 e Villers-Bocage, declarou a seus
assessores: "Quero Caen e a tomarei. Sei que os alemães lançarão nesse setor tudo quanto puderem
empenhar. Estrategicamente, é isso justamente o que queremos"

Entrevista com o Führer

A 29 de junho, enquanto as forças alemãs lutavam desesperadamente para manter suas posições em torno de
Caen, Rommel e von Rundstedt viajavam velozmente pelos caminhos da Baviera, rumo o Berchtesgaden.
Haviam solicitado e obtido do Führer a realização de uma nova reunião, para discutir a crítica situação na
frente ocidental. Ambos os chefes consideravam impossível prosseguir a luta nas condições em que elas se
estavam desenrolando.

Às 11 horas, os dois marechais chegaram à residência alpina de Hitler. O Führer, contudo, não os recebeu de
imediato. Passaram as horas sem que o ditador se fizesse presente. Finalmente, às seis da tarde, Rommel e
Rundstedt foram encaminhados à sua presença.

Hitler não estava só. Com ele se encontravam Keitel, Jodl e mais de dez chefes do Exército e da SS.
Rundstedt, aborrecido com o evidente menosprezo demonstrado, não lhes sendo concedida uma entrevista
privada, solicitou a Hitler que os recebesse a sós; dada a gravidade dos informes que deveria prestar-lhe.

O Führer lhe respondeu de forma terminante que não era necessário, acrescentando: "Além disso, não tenho
tempo a perder..."

Em seguida ordenou a Rommel que, como chefe da frente de batalha, fizesse, em primeiro lugar, o seu
relato. As idéias do chefe alemão foram as mesmas que externara numa reunião anterior: "Maior liberdade de
ação, abandono de Caen e retirada para o leste do Orne"; "envio das forças do 15 o Exército, ainda
imobilizado... " Todas essas medidas tinham que ser decididas imediatamente, pelo aspeto crítico que
tomavam os acontecimentos. Hitler, apesar dos argumentos de Rundstedt em apoio de Rommel, explodiu
numa furiosa crítica: "Não autorizarei jamais a guerra de movimentos que o senhor me propõe. Além disso,
os anglo-saxões dispõem de uma aviação tão superior, como afirma, que o senhor não poderia realizar
semelhante tipo de guerra. O senhor deve bloquear o inimigo em sua cabeça-de-ponte e desgastá-lo. Deve
empregar todos os métodos da guerrilha".

Rommel, totalmente abatido, respondeu: "Até para defender o terreno de forma tão desesperada não teremos,
dentro de mais alguns dias, efetivos suficientes".

Hitler, reagindo violentamente, retrucou: "Eu lhe enviei três divisões e para isso as retirei da frente oriental".

Rommel, impassível, insistiu: "Devemos dispor do 15o Exército". Hitler, arrebatado pela cólera, exclamou:
"Nunca!... Não posso desguarnecer o Passo de Calais... Não posso desguarnecer todas as frentes para
satisfazer suas exigências... O senhor pode-se manter com o que tem. Além disso trata-se de agüentar um
pouco mais... O curso da guerra será, em breve, mudado... "
Ao concluir suas palavras, Hitler se pôs de pé, disposto a abandonar a sala. De súbito disse: "A vitória será
uma vitória total". Rommel, então, o interrompeu: "Não podemos acreditar numa vitória total... A Alemanha
está, em todas as frentes, reduzida a uma resistência desesperada... Os bombardeios aliados logo nos privarão
de todo o material de guerra... Devemos tratar de conseguir a paz no ocidente e manter a luta na frente
oriental... " Rundstedt apoiou Rommel e pediu a Hitler que pusesse fim à guerra. O Führer encerrou a
entrevista com as seguintes palavras: "Tudo andaria muito melhor se os senhores se dedicassem a combater
com mais tenacidade".

Assim concluiu-se a dramática reunião.

Os dois chefes retornaram à França. No dia seguinte, Keitel telefonou a von Rundstedt, paro solicitar-lhe
informes sobre a situação. Este lhe comunicou que o contra-ataque dos blindados em Caen havia fracassado
e que Cherburgo fôra conquistada pelos americanos. Keitel inquiriu, então, ao velho marechal: "Que
podemos fazer?" Rundstedt respondeu, incontinenti: "Que podemos fazer!? Pedir a paz, idiota!"

No dia seguinte, chegou ao QG de Rundstedt, em Saint Germain, um enviado de Hitler. Ao ser recebido pelo
marechal, lhe entregou, da parte do Führer, uma nova condecoração: as folhas de carvalho para sua cruz de
cavalheiro. Depois, deu-lhe uma carta do ditador. Continha uma ordem para sua destituição "por motivos de
saúde". Dessa maneira, no momento crítico da luta na França, Rundstedt, pela sua ousadia, era afastado do
comando.

O novo chefe, Marechal von Kluge, no entanto, nada poderia fazer para uma batalha que já estava perdida. E
óbvio que os altos comandantes alemães, Rommel e Rundstedt, neste caso particular, tropeçaram com um
chefe supremo que mantinha uma posição rígida, inflexível. Diante das manifestações deles, conseqüência da
vivência direta da guerra, o Führer sempre opôs, corno único argumento, duas palavras: resistir e contra-
atacar. Baseava-se para isso nas investigações que os cientistas alemães efetuavam no campo das novas
armas. E, indiscutivelmente, confiava demasiadamente nelas, a ponto de nem considerar a situação real e
concreta que atravessavam suas unidades, nas diferentes frentes. Acreditava cegamente na eficiência das
armas V e nos novos modelos de aviões e, mesmo quando as primeiras já estavam em condições de serem
utilizadas, ignorou as sugestões dos seus chefes em relação ao seu emprego, preferindo lança-las sobre alvos
não militares, carentes de significação prática. É possível, efetivamente, que se tivesse retardado
consideravelmente a campanha aliada na Normandia se as bombas V tivessem sido arrojadas sobre os portos
onde a invasão foi montada, na Inglaterra, ou sobre as cabeças de praia na Normandia. Além disso, novos
modelos de aviões, revolucionários em sua concepção, foram aperfeiçoados, de fato; porém, tarde, muito
tarde, para causar uma reviravolta no curso da guerra.

É curioso, também, o cego sentido do dever que impulsionou militares profissionais, da competência de
Rommel e Rundstedt, a obedecer cegamente a ordens que sabiam errôneas, custando, dessa forma, à
Alemanha milhares de milhares de baixas e, em última instância, a derrota na Normandia. Uma força
considerável, o 15o Exército, poderia ter mudado inteiramente a situação. Mais até, poderia ter provocado,
muito possivelmente, a derrota aliada na Normandia. E se este episódio houvesse ocorrido, as conseqüências
para o futuro da guerra teriam sido imprevisíveis.

Anexo
Graduações
Equivalências entre as graduações militares do exército dos EUA, do exército alemão e das forças da SS.

Exército alemão
SS
Exército americano
Reichsmarschall

Generalfeldmarschall
Reichsführer SS
General-de-exército
Generaloberst
Oberstgruppenführer
General
General der infanterie
Obergruppenführer
Tenente-general
Generalleutnant
Gruppenführer
Major-general
Generalmajor
Brigadeführer
Brigadeiro-general

Oberführer

Oberst
Standarteführer
Coronel
Oberstleutnant
Obersturmbannführer
Tenente-Coronel
Major
Sturmbannführer
Major
Hauptmann
Hauptsturmführer
Capitão
Rittmeister

Capitão (cavalaria)
Oberleutnant
Obersturmführer
Primeiro-tenente
Leutnant
Untersturmführer
Segundo-tenente

Guerra Psicológica
A guerra psicológica, que empenharam com entusiasmo ambas as partes, deu lugar a uma verdadeira rivalidade que se
traduziu em dezenas de tentativas para desmoralizar o inimigo. Os americanos, peritos em publicidade, lançavam sobre
as linhas alemães milhares de volantes onde ofereciam aos combatentes inimigos a possibilidade de salvar a vida e
afastar-se definitivamente da frente de batalha. Os impressos, ao final de uma curta exortação onde os alemães eram
convidados a passar para as linhas aliadas, terminavam com a frase: “E não se esqueçam dos talheres para comer...”
Paralelamente à propaganda impressa, caminhões americanos munidos de alto-falantes percorriam as cercanias da
frente, transmitindo valsas de Strauss. No final de cada trecho, que já era por si só um apelo à deserção, pois trazia à
mente de cada soldado alemão a lembrança da pátria distante, uma voz, em alemão, dizia, em tom conciliador: "Vocês
lutaram bem e se portaram honrosamente ante seus compatriotas. Porém já não há mais razão alguma para continuar
combatendo. Nossos bombardeiros destruíram suas cidades. Vocês estão enfrentando uma esmagadora superioridade.
Rendam-se agora e poderão regressar sãos e salvos aos braços dos seres amados que ficaram esperando vocês. Caso
vocês não se renderem, não passarem para as nossas linhas, não nos restará outra alternativa senão martelá-los mais, e
cada vez mais, com isto..."
E imediatamente a artilharia disparava sobre as posições alemãs várias salvas dos seus canhões.
Os alemães, por sua vez, lançavam sobre as posições americanas volantes cujo texto dizia: "Jovem dos Estados Unidos:
você faz parte do lado sujo da rua? (Expressão americana que significa "protegidos ou buchas prá canhão?"). Os filhos
de FDR (Franklin D. Roosevelt) estão no exército, desfilando pelas ruas de Londres, com uniformes e botões de
fantasia; fazem parte do lado limpo da rua..." A guerra psicológica contribuiu, de certo modo, para diminuir as baixas de
ambos os lados. Participaram nela especialistas na matéria: psicólogos e jornalistas especializados em publicidade.

Equipamento
Vestimenta e material utilizado pelos soldados americanos na frente da Normandia:
Uniforme:
1 cinturão
1 cueca de lã
1 camiseta de lã
1 par de meias de lã
1 par de calças de lã
1 camisa de flanela
1 gandola de campanha
1 par de botinas regulamentares
1 par de polainas de lona 2 lenços
1 par de luvas de algodão
1 capacete de aço
2 chapas de identificação
Armamento:
1 fuzil "Garand"
1 baioneta
Equipamento:
1 cinturão de munições
1 cantil
1 jarra
1 mochila
1 conjunto de primeiros socorros
Na mochila:
1 lata de carne em conserva
2 lenços
4 cápsulas combustíveis
1 lata de inseticida
1 faca
1 capa impermeável
3 pares de meias de lã
1 colher
1 toalha
artigos sanitários
1 frasco de comprimidos para purificar água

4 de Julho
O aniversário da independência americana é celebrado nos Estados Unidos com solenidades em que intervêm também
as forças armadas. Estas cumprem diversas cerimônias, e uma delas é o tradicional disparo das salvas dos canhões. Ao
meio-dia de 4 de julho, 48 canhões disparam simultaneamente, saudando a data pátria.
A 2 de julho de 1944, num almoço entre o General Eisenhower e o General Gerow, aquele sugeriu que as forças
americanas seguissem a tradição, disparando uma "vibrante saudação" sobre as linhas inimigas.
Gerow, compreendendo a intenção do chefe supremo, perguntou sorrindo a Eisenhower se a salva devia ser de
"quarenta e oito canhões". A resposta do chefe americano foi uma exclamação e um soco na mesa: "Diabos, não! Vamos
disparar com todos os canhões do Exército!"
Instantes depois, o comandante da artilharia do 1o Exército emitiu uma ordem terminante: a 4 de julho, às 12 horas
exatamente, deveria ser efetuada uma saudação TSA (Tempo Sobre o Alvo: cada canhão deverá disparar de maneira que
todos os projéteis caiam sobre o inimigo ao mesmo tempo).
No dia 4 de julho, às 12 em ponto, centenas de alemães se precipitaram em seus refúgios, ao serem atingidas suas
posições por uma salva de 1.100 granadas, disparadas por 1.100 canhões americanos. Posteriormente, o General Omar
Bradley disse, referindo-se ao episódio: "Foi essa a maior e a mais proveitosa saudação que o exército já fez.. "

Ike
Entre todos os grandes chefes da Segunda Guerra Mundial, o General Dwight Eisenhower se destaca como uma figura
peculiar. Sua atuação não foi a de um condutor combatente, no estilo de um Rommel, um Patton ou um Montgomery,
que marchavam para o combate junto com seus homens. Eisenhower destacou-se noutro terreno, menos espetacular,
porém muito mais difícil: o de organizar e coordenar o gigantesco esforço bélico dos exércitos anglo-americanos, na
fase decisiva de invasão da Europa. Poucos homens na história da guerra tiveram sob suas ordens uma força de poderio
tão extraordinário. Eisenhower, porém, se manteve afastado de qualquer ostentação, e continuou, ao longo de sua
carreira, sendo o mesmo homem simples, admirado e respeitado por estadistas, generais e soldados. “Ike” não encarna a
figura clássica do soldado profissional. Para ele, a guerra foi uma "cruzada"... uma missão penosa que devia ser
cumprida para assegurar a definitiva liberação dos países subjugados pelo nazismo. Foi por essa causa que trabalhou
incansavelmente solucionando todas as enormes dificuldades inerentes à tarefa de organizar a maior força de invasão
que a História já conheceu. O êxito alcançado pelas tropas aliadas na jornada decisiva do Dia D, nas praias da
Normandia, constitui o testemunho imorredouro do real valor de Eisenhower como chefe militar. Milhões de homens e
milhares de aviões e veículos foram lançados sobre o território inimigo, numa manobra coordenada minuciosamente,
em seus mínimos detalhes. Fiel à velha máxima castrense de que "o suor economiza sangue", Eisenhower submeteu
seus soldados a duro treinamento. A vitória aliada foi assim conseguida ao menor custo possível em vidas humanas.
Dwight David Eisenhower nasceu em Denison, Texas, a 14 de outubro de 1890. Filho de pais humildes, de
descendência alemã, "Ike" conseguiu ingressar na academia militar de West Point. Corria então o ano de 1910. Ali
demonstrou, então, aquelas que viriam a ser suas principais características: uma extrema simplicidade, uma grande
força de vontade e uma extraordinária capacidade para o trabalho intenso. Graduado em 1915, quando os EUA
intervieram na Primeira Guerra Mundial, serviu como oficial instrutor das tropas destinadas a combater em ultramar. Ao
término do conflito foi designado para a guarnição da zona norte-americana do Canal de Panamá, onde permaneceu até
1924. Passou depois a realizar estudos na Escola de Estado-Maior do Exército, onde obteve as primeiras classificações
entre mais de 200 oficiais. Aí nasceu o seu prestígio de organizador. Foi depois designado ajudante no Corpo do Estado-
Maior-Geral, cuja chefia era exercida pelo General Douglas Mac Arthur. Junto com esse chefe, partiu para as Filipinas,
em 1935. Lá trabalhou intensamente na organização da defesa das ilhas. Fundou uma academia militar e organizou e
adestrou um exército nacional filipino. Regressou posteriormente aos EUA onde foi promovido a coronel em 1941.
Nesse ano chegou finalmente a sua oportunidade. O brilhante trabalho que realizou como chefe do Estado-Maior do 3 o
Exército nas grandes manobras realizadas no Estado de Louisiana lhe valeram o reconhecimento do chefe do Exército,
General Marshall. Promovido a brigadeiro-general, passou então a servir no Alto-Comando do Exército, em
Washington, na seção de planejamento. Nesse cargo pôde expor seus pontos de vista acerca do desenvolvimento da
guerra contra o Eixo. Converteu-se, então, num dos principais promotores da concentração do esforço bélico aliado na
luta contra a Alemanha, considerando o Japão um inimigo secundário. Em 1942, Marshall o nomeou chefe das forças
expedicionárias americanas que, com bases na Inglaterra, haveriam de levar a cabo a invasão. Em Londres conquistou
logo a simpatia e o apoio dos comandantes britânicos e americanos e deu mostras de sua eficiência como coordenador
do esforço conjunto aliado. Dirigiu depois as operações militares na África do Norte, que culminaram com a derrota
definitiva do Afrika Korps, na Tunísia, e organizou, a seguir, a invasão da Sicília e do sul da Itália. Em janeiro de 1944
retornou a Londres e assumiu ali, finalmente, o comando de todas as forças aliadas encarregadas de concretizar a
invasão da França. Graças ao seu esforço, o plano "Overlord" pôde ser desenvolvido com pleno êxito, bem como as
operações posteriores, que culminaram com a derrota total dos exércitos alemães no ocidente da Europa. A 7 de maio de
1945, recebeu a rendição incondicional da Alemanha, na cidade francesa de Reims. Ao término da guerra, Eisenhower
foi alvo de uma recepção triunfal em seu país, e converteu-se em uma das figuras mais populares dos EUA. Essa
condição o levaria, fatalmente, ao campo da política. Em 1951, foi designado comandante da NATO, organização
militar criada para enfrentar a ameaça de uma agressão comunista na Europa. O ápice da sua carreira foi atingido com
seu triunfo como candidato presidencial pelo partido Republicano, em 1952. Reeleito em 1956, ao terminar esse
período, quatro anos mais tarde retirou-se da vida pública.

“Divisão Blindada”
No fim do mês de junho, Montgomery procurou facilitar o avanço das unidades do General Bradley para Coutances.
Faria isso por meio de um ataque das suas forças. Ao estudar a estratégia a seguir, Monty constatou a existência de
unidades de três divisões Panzer alemãs, concentradas contra uma vertente existente na sua frente, entre a franja dos
Estados Unidos e a cidade de Caen. Também teve notícias de outras três divisões blindadas inimigas que se
aproximavam da linha de batalha. Destas seis grandes unidades, cinco eram SS. Visto que, nesse momento,
Montgomery estava também empenhado em um ataque a leste do rio Orne, começou a preocupar-se ante a possibilidade
de um contra-ataque. De imediato, se pôs em comunicação com Bradley e lhe solicitou o empréstimo da 3 a Divisão
Blindada, como reserva. Bradley compreendeu a necessidade que Montgomery tinha dessas tropas, porém compreendeu
também a sua própria necessidade delas para escorar a extensa frente a seu cargo. Por outro lado, como o próprio
Bradley declarou mais tarde, "sabia que, uma vez passado o perigo, teríamos dificuldades muito grandes para recuperá-
las". Assim, quando Bradley partiu para o posto de comando de Montgomery, com o objetivo de discutir a cessão da
divisão pedida, sua posição estava tomada. Não haveria tal transferência. Levava outra solução que Monty aceitou.
Posteriormente, quando Bradley foi interrogado pelo General Gerow, respondeu dizendo que se comprometera com
Montgomery a enviar-lhe uma brigada de tanques. Bradley relatou posteriormente o episódio, dizendo: "Para escorar
este Corpo (o 5o) e aliviar as preocupações de Gerow a respeito de seu flanco descoberto, coloquei sob suas ordens uma
“divisão de borracha”. Constava de tanques de borracha, que se inflavam, e uma rede de comunicações que simulava o
trânsito de rádio de uma divisão verdadeira". Gerow se inteirou da existência das "divisões de borracha" quando um
jovem oficial se apresentou no comando do 5o Corpo, perguntando onde se deveria colocar uma "divisão blindada".
"Esse moço deve ter pensado que eu estava louco - declarou Gerow posteriormente - porém eu não tinha a menor
notícia dos seus falsos tanques..."

Champanha
O General Omar Bradley relata assim os momentos posteriores à ocupação de Cherburgo:
"Entre as tropas que estavam na Normandia, o valor estratégico de Cherburgo passou logo a segundo plano ante a
riqueza da presa de guerra capturada... As forças de von Schlieben, demonstrando uma sábia previdência, haviam
enchido os abrigos subterrâneos, esperando uma campanha prolongada... Enquanto cumpriam escrupulosamente as
ordens de demolir as instalações portuárias, seus corações de soldados se rebelavam diante do sacrifício de ter que
destruir ou derramar o bom vinho ou o bom conhaque. Como resultado disso, nós herdamos não somente um porto
transatlântico, como também uma adega subterrânea.
"A notícia do prêmio conquistado se espalhou antes que a luta tivesse terminado, e os aproveitadores se colocaram em
posição, numa corrida tendente a adquirir direitos sobre essas adegas. Aí, tive que enfrentar um problema para o qual a
escola de Leavenworth não me havia preparado, e recorri a Ike em busca de conselho. Ele aprovou nossa proposta de
que a presa fosse trancada e depois distribuída de forma eqüitativa entre todas as divisões. Se tivéssemos deixado a
distribuição à vontade, os escalões da retaguarda ter-se-iam apossado de todos esses bens, enquanto que as divisões que
as haviam conquistado teriam ficado em seco. Por uma vez, as tropas combatentes participaram da gratidão da França
em pé de igualdade com a retaguarda. Minha parte da presa foi meia caixa de champanha... que guardei para levar para
casa e bebê-lo no batismo do meu neto..."

Um "Sherman" ao Ataque
A 26 de junho, um comunicado anunciou que as forças do 1 o Exército americano haviam começado a penetrar em
Cherburgo, pela rota de Coteville às 10h e 15m.
No arsenal alemão, onde ainda resistiam os destacamentos sediados no local, o comandante estava pronto para resistir
"até o último cartucho". Eram estes os termos da ordem de von Rundstedt que assim substituíra os termos da de Hitler,
que eram, textualmente, "até a última gota de sangue".
Quando as tropas americanas chegaram até às proximidades do arsenal, foi enviado um taxativo ultimato ao
comandante alemão. Este, de acordo com as ordens recebidas, respondeu imediatamente, negando-se à rendição. Em
torno da fortaleza, tudo era ruína e morte. A posição dos defensores alemães do local era indiscutivelmente desesperada.
Era tudo, em última análise, uma questão de tempo. Os alemães teriam que render-se, inevitavelmente, ao se esgotarem
suas munições. Isso, no entanto, ocasionaria uma grande quantidade de baixas totalmente inúteis. De fato, a resistência
da fortaleza um, dois ou três dias mais, não mudaria em nada a situação das tropas alemães no resto da península.
Tampouco atrasaria a penetração aliada. O local, em resumo, ficaria isolado e submetido a um bombardeio incessante
por parte da aviação e artilharia aliadas. Seria uma matança sem conseqüências favoráveis para ninguém. Tinham
consciência disso os comandantes aliados e também o chefe alemão do arsenal.
Um novo pedido de rendição foi feito. O comandante alemão, ao responder, o fez em termos que provocaram suspiros
de alívio nos chefes aliados: "Se eu capitulasse, ficaria desonrado. Não poderia resistir a um assalto de vossos
blindados, porque não tenho peças antitanque, porém ainda posso deter vossa infantaria..."
O oficial americano que levou a resposta às linhas aliadas sabia que aconteceria o que, de fato, aconteceu.
Uma breve ordem foi dada, e um Sherman avançou, fazendo ranger suas lagartas. Era um só tanque, isolado e quase
inofensivo, porém significava o fim da luta...
A vista do blindado, o comandante alemão içou a bandeira branca e solicitou o fim do ataque.
Aos blindados não podia resistir, dissera. E agiu coerentemente. Seu gesto salvara a vida de muitos homens. Muitos
homens que morreriam numa resistência sem sentido.

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