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CONCEITO DE VULNERABILIDADE
O artigo 217/A do CP traz a tona quem são os vulneráveis, termo não utilizado
pelo legislador pelo revogado artigo 224 do mesmo diploma normativo.
Jesus (2010) explica que vulnerável é a pessoa mais fraca e nesse ponto se
localiza como violência presumida. Deste modo, é considerado vulnerável o menor de
14 anos, bem como aqueles que possuem enfermidade ou deficiência mental, e não
possuem o necessário discernimento para a prática do ato sexual, ou sequer oferecer
resistência.
Um caso analisado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais foi considerado o réu
absolvido, onde após a verificação de se tratar de um caso onde a vítima além de mentir
a sua idade, estava envolvida com o réu em um relacionamento sério com o
consentimento de seus pais. Após o término deste relacionamento, por motivos de
vingança a vítima acusa o réu de ter mantido relações sexuais mesmo ela sendo menor.
Porém o analisar o caso entendeu o relator não se tratar de situação em que a vítima foi
violentada de sua inocência, e sim um relacionamento que evoluiu para a prática sexual,
ficou entendido que este agiu sob erro de proibição. (TJMG, 2013)
Porém, Jesus (2010, p. 161) esclarece que não é qualquer déficit intelectual que
leva o indivíduo a ser considerado como vulnerável. É necessário que o atraso psíquico
seja capaz de comprometer o discernimento para a prática do ato sexual.
O autor ainda acrescenta que “se a debilidade mental não era perceptível desde
logo, o fato é atípico”.
Assim, deve ser realizada a análise do caso em concreto, auferindo a real situação
do enfermo, sendo perfeitamente escusável o erro de proibição.
Após o exame pericial, foi constatado que, no que pese a vítima ser surdo muda
não possuía a mesma nenhuma patologia que a impedisse de manifestar o seu
consentimento de forma válida.
Por haverem provas nos autos (depoimento do réu, das testemunhas e da
própria vítma) de que a ofendida tenha consentido com a prática da relação sexual e
não sendo ela vulnerável, não houve de se falar em manutenção do decreto
condenatório.
Assim, havendo dúvida, mínima que seja, acerca da prática da conduta típica,
deve-se decidir em favor do agente em respeito ao princípio in dúbio pro reo. (TJMG,
2013)
Neste caso, o relator entendeu não se tratar de prática de crime de estupro de
vulnerável, visto que a vítima não estava na condição de vulnerável expressa em lei,
sendo absolvido o réu.
O relator ainda colocou que este caso merece destaque não só pela gravidade
ínsita ao delito imputado, mas também a gravidade revelada pelos meios concretos de
sua execução, considerando as severas circunstâncias fáticas descritas nos elementos
indiciários do processo. A prova inquisitorial demonstra ainda que após o abuso sexual,
o menor foi encontrado dormindo e sem nenhum tipo de assistência. (TJRS, 2012)
Jesus (2010) alerta para que o interprete da lei diferencie do crime de violação
sexual mediante fraude, que decorre do emprego de meios que impeçam ou dificultem
a manifestação de vontade da vítima.
Nucci (2010) defende que tal diferenciação deve considerar o grau de resistência
da vítima. Se a resistência for relativa, há alguma condição de haver consciência do ato
sexual, será considerado como crime de violação sexual mediante fraude. Porém, se a
resistência for nula, sem nenhuma condição de entender o que se passa, trata-se do
crime de estupro de vulnerável.
Jesus (2010) ensina que no que pese a nítida intenção do legislador de considerar
o menor de 14 anos como um indivíduo absolutamente vulnerável, a vulnerabilidade
não pode assim ser considerada, admitindo prova em contrário quando se tratar de
adolescentes.
Justifica, outrossim, com situações em que menor de 14 anos possui vida ativa,
e voluntariamente pratica atos sexuais, não há ofensa ao bem jurídico tutelado, ou seja,
a dignidade sexual.
Se nesses casos do imputado o crime ora analisado, seria uma evidente violação
ao Princípio da Dignidade da Pessoa Humana.
Em suma, como bem lembra o ministro Jorge Mussi “se absoluta ou relativa, se
deve ou não ser levado em consideração às particularidades do caso concreto, bem
como da vítima e do autor. (STJ, 2010)