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05/08/2017 A revolução de Aquenáton, o faraó que acabou com 2 mil deuses e instaurou o monoteísmo no Egito | Mundo | G1

MUNDO

A revolução de Aquenáton, o faraó que acabou com 2 mil deuses e instaurou o


monoteísmo no Egito
Quiseram apagá-lo da história por ter abalado tradição do grande império egípcio. mas o que cou demonstrava modernidade. O que aconteceu
durante seus 17 anos no trono?

Por BBC
15/07/2017 15h32 · Atualizado 15/07/2017 15h32

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Desde o início de seu reinado, o faraó Aquenáton e sua mulher Nefertiti decidiram desa ar todo o sistema religioso do
Antigo Egito. Dispostos a sacudir as bases de sua sociedade, eles criaram ideias que levariam o império à beira do abismo.

O casal começou a reinar durante os anos dourados da civilização egípcia, por volta de 1.353 a. C., quando o império era o
mais rico e poderoso do mundo —as colheitas eram abundantes, a população, bem alimentada, os templos e palácios
reais estavam cheios de tesouros e o exército obtia inúmeras vitórias contra todos os inimigos. Todos acreditavam que o
sucesso vinha por conseguirem manter os deuses felizes.

Foi então que Aquenáton chegou ao trono com o ímpeto de modi car uma religião de 1,5 mil anos de idade.

Somente o sol
A ideia era revolucionária: pela primeira vez na história, um faraó queria substituir o panteão de deuses egípcios por uma
única divindade — o deus Sol, ou Atón, o criador de todos.

A proposta era considerada uma heresia. Mas como o faraó era considerado um deus na terra, tinha poderes ilimitados
para modi car o que quisesse. Ele decretou que os 2 mil deuses que eram adorados no Egito havia mais de um milênio
estavam extintos. Suas aparências humanas e animalescas foram substituídas pela forma abstrata do Sol e de seus raios.

Para os poderosos sacerdores tradicionais, que haviam dedicado suas vidas inteiras aos deuses antigos, a mudança de
doutrina era uma catástrofe. Eles praticamente haviam governado o Egito, agora eram dispensáveis — e formavam um
grupo perigoso de inimigos para Aquenáton.

No quinto ano de seu reinado, o faraó decidiu que deixaria a cidade de Tebas e se instalaria ao norte do rio Nilo.

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Gravuras que retratam a vida íntima da família real eram uma novidade (Foto: BBC)

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Rumo ao futuro
Àquela altura, era evidente que Aquenáton queria romper com o passado. Ele deu a Nefertiti igualdade de poderes e o
título de Grande Esposa Real. Juntos eles viajam 320 quilômetros e mandaram construir uma cidade no local onde hoje ca
o município de Amarna.

Sobre uma rocha que ainda existe nas colinas da região, está escrita uma proclamação pública composta por Aquenáton
que explica o motivo que o levou a escolher precisamente aquele lugar. Ele teria sido comandado pelo próprio deus Sol,
que o mandava edi car ali.

A comunicação teria sido feita por meio de um sinal: a região é cercada de colinas, e em certas épocas do ano o Sol se põe
entre elas, criando a forma do hieróglifo do horizonte. Aquenáton interpretou isso como um sinal.

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Sol se pondo entre colinas e formando o símbolo do horizonte (Foto: BBC)

Horizonte de Atón
Millhares de pessoas de Tebas foram trazidas para construir, decorar e administrar a nova capital, que chegou a ter
população de 50 mil pessoas.

A cidade tinha poços, árvores e jardins orescendo no meio do deserto. Casas, palácios e templos ao deus único foram
criados em tempo recorde.

O local foi batizado de Ajetatón —horizonte de Aton— e se tornou o novo coração político e religioso do império, e o centro
de um novo culto.

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Não só a capital e a religião mudaram. A revolução iniciada pelo casal real trouxe outras novidades: nos costumes.

Gravuras cheias de detalhes encontradas em Amarna mostram momentos íntimos da vida da família real, como
Aquenáton e Nefertiti abraçando suas lhas. Até então, nenhuma família real egípcia havia sito retratada em
demonstrações de carinho.

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São obras espontâneas e cheias de vida se comparadas com a arte egípcia anterior, que tende a ser mais estática e
monumental.

As estátuas do faraó que ainda existem possuem as mesmas qualidades. A sua postura, de pé, com os braços cruzados
sustentando insígnias reais, é comum. Mas sua sionomia é completamente diferente da dos soberanos que vieram antes
e depois, que costumam ter semblantes fortes e viris.

Aquenáton, ao contrário, tem um rosto comprido, com um nariz grande que aponta para sua barba. Seus inusitados lábios
carnudos, seus quadris largos e sua barriga um pouco proeminente remetem a uma sensualidade feminina.

Oração ao ar livre
A arquitetura do período também demonstra um desejo de romper com o passado. Os templos tradicionalmente
fechados se afunilavam, com o piso levemente levantado e o teto caído, e pouquíssima entrada de luz.

O culto ao Sol trouxe santuários ao ar livre, algo que nunca havia sido feito em grande escala.

Em certo momento, os únicos éis autorizados a entrar nos templos eram o faraó e sua mulher. A partir de textos
encontrados nos dias de hoje, os estudiosos teorizam que Aquenáton e Nefertiti passaram a acreditar que somente eles
podiam se comunicar com Aton. O faraó seria lho de Deus e Nefertiti também seria divina - os súditos deveriam adorá-los.

Foi o ápice de sua revolução religiosa.

Queda
No entanto, as coisas começaram a desandar. Os súditos não haviam de fato abandonado a adoração aos outros deuses,
então Aquenáton ordenou que todas as imagens dos deuses antigos fossem destruídas, especialmente as do deus maior
do panteão, Amon-Rá.

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Também mandou seus soldados apagarem a memória de todos os deuses em suas terras. No m de seu reinado, sua
revolução se enfraqueceu - como ele se recusava a sair da nova cidade, era visto como fraco e o império como vunerável a
invasões.

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Tábuas de argila encontradas em Amarna revelam a natureza do problema enfrentado pelo faraó (Foto: BBC)

Tábuas de argila encontradas em Amarna mostram o estado em que se encontrava o império. Uma delas foi enviada pelo
governante de um dos países vizinhos protegidos pelo faraó. Ele pedia que o Egito enviasse tropas para ajudá-lo a manter
os hititas, inimigos do império, sob controle.

"Já pedi, mas não fui respondido. Não me enviaram a ajuda de que preciso", se queixava o governante. Aquenáton nunca
enviou tropas e o Estado vizinho caiu nas mãos dos hititas — o exército estava tão ocupado em missões de perseguição
religiosa que o Egito perdeu territórios, poder, posses e status no continente.

Muitas tragédias
Nas paredes do túmulo de Aquenáton está gravado o drama da família.

Apesar de estar muito dani cada, é possível ver uma cena de luto. Umas das princesas morreu e seus pais aparecem
chorando - algo sem precedentes, já que as famílias reais jamais demonstravam emoções em público.

Outras evidências indicam que Aquenáton perdeu mais de uma lha, provavelmente por causa da peste, que arrasava a
região na época.

Epidemias do tipo podiam matar até 40% da população, e, como era faraó, Aquenáton era considerado pessoalmente
responsável pela desgraça. Para os súditos, a catástrofe era resultado de uma ofensa feita aos antigos deuses.

No pico da crise, a rainha Nefertiti morreu e o soberano perdeu a mulher que o havia acompanhado desde o princípio.

Paraíso perdido
O paraíso de Aquenáton estava à beira do colapso. O Egito estava perdendo sua riqueza e poder.

Treze anos depois da fundação de sua cidade, Aquenáton morrreu. Há quem acredite que ele tenha sido assassinado para
que seu reinado terminasse.

A cidade foi abandonada e, mais tarde, sistematicamente destruída e apagada dos registros. Também foram esquecidos o
culto à Atón e o próprio Aquenáton, que durante muito tempo só foi lembrado por ser, segundo indicam os registros, o pai
do grande Tutancâmon, seu sucessor.

Foi Tutancâmon quem resgatou os antigos deuses e restaurou o poder e a prosperidade do Egito. Os sacerdotes voltaram
a ter seu antigo poder, e a vida voltou à normalidade.

Nenhum outro faraó egípcio voltou a tentar mudar a ordem estabelecida e desa ar a religião tradicional. Os que vieram
após Aquenáton se esforçaram por destruir todos os registros de seu culto herege.

Suas estátuas foram derrubadas e as pedras dos templos usadas como material para a construção de novos prédios. As
rochas esculpidas foram escondidas que ninguém voltasse a vê-las.

Isso acabou preservando-as para a posteridade: na década de 1920, elas começaram a reaparecer. Muito do que sabemos
de Aquenáton e do culto a Atón vem delas.

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