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05/09/2017 DO-

GRANDE-

PODER-

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Boaventura: a esquerda sem imaginação


 SET 5, 2017  Revista Diálogos do Sul  0 (http://operamundi.uol.com.br/dialogosdosul/boaventura-a-esquerda-sem-imaginacao/05092017/#res
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Por não ousar novas formas de Democracia, Estado e Economia; e por não enfrentar articuladamente as três
faces da dominação, a esquerda tem sido incapaz de deter a ofensiva brutal do sistema.
Boaventura de Sousa Santos*

(http://i1.wp.com/operamundi.uol.com.br/dialogosdosul/wp­content/uploads/BdeSousaSantos3.png)A  dominação  so
política e cultural é sempre o resultado de uma distribuição desigual do poder, nos termos da qual quem não tem po
ou tem menos poder vê as suas expectativas de vida limitadas ou destruídas por quem tem mais poder. Tal limitação
destruição manifesta­se de várias formas, da discriminação à exclusão, da marginalização à liquidação física, psíquica
cultural,  da  demonização  à  invisibilização.  Todas  esta  formas  podem  se  reduzir  a  uma  só  –  opressão.  Quanto  m
desigual é a distribuição do poder, maior é a opressão.

As  sociedades  com  formas  duradouras  de  poder  desigual  são  sociedades  divididas  entre  opressores  e  oprimidos
contradição  entre  estas  duas  categorias  não  é  lógica,  é  antes  dialéctica,  já  que  as  duas  categorias  são  ambas  parte  da  mesma  unid
contraditória. Os fatores que estão na base da dominação variam de época para época. Na época moderna, digamos, desde o século XVI
três  fatores  principais  têm  sido:  capitalismo,  colonialismo  e  patriarcado.  O  primeiro  é  originário  da  modernidade  ocidental,  enquanto
outros  dois  existiam  antes  mas  foram  reconfigurados  pelo  capitalismo.  A  dominação  capitalista  se  assenta  na  exploração  do  traba
assalariado por via de relações entre seres humanos formalmente iguais. A dominação colonial assenta na relação hierárquica entre gru
humanos por uma razão supostamente natural, seja ela a raça, a casta, a religião ou a etnia. A dominação patriarcal implica outro tipo
relação de poder mas igualmente assente na inferioridade natural de um sexo ou de uma orientação sexual. 
As  relações  entre  os  três  modos  de  dominação  têm  variado  ao  longo  do  tempo  e  do
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espaço,  mas  o  fato  de  a  dominação  moderna  assentar  nos  três  é  uma  constante.  Ao
contrário  do  que 
LEA EN ESPAÑOL vulgarmente  se  pensa,  a  independência  política  das  antigas  colônias
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europeias não significou o fim do colonialismo, significou apenas a substituição de um tipo
de  colonialismo  (o  colonialismo  de  ocupação  territorial  efetiva  por  uma  potência () (HTTP://OPERAM
estrangeira)  por  outros  tipos  (colonialismo  interno,  neocolonialismo,  imperialismo,
BOLIVIANA-
racismo,  xenofobia,  etc.).  Vivemos  hoje  em  sociedades  capitalistas,  colonialistas  e
patriarcais. Para ter êxito, a resistência contra a dominação moderna tem de assentar em
DO-
lutas  simultaneamente  anti  capitalistas,  anti  coloniais  e  anti  patriarcais.  Todas  as  lutas
têm  de  ter  como  alvo  os  três  fatores  de  dominação,  e  não  apenas  um,  ainda  que  as GRANDE-
conjunturas possam aconselhar que incidam mais num fator que noutro.
PODER-
O  século  XX  foi  dos  séculos  mais  violentos  da  história,  mas  também  se  caracterizou  por
muitas  conquistas  positivas:  dos  direitos  sociais  e  econômicos  dos  trabalhadores  à GERA-

libertação e independência das colônias, dos movimentos dos direitos civis das populações
MOVIMENTO-
afro descendentes nas Américas às lutas das mulheres contra a discriminação sexual. No
entanto,  apesar  dos  êxitos,  os  resultados  não  são  brilhantes.  Nas  primeiras  décadas  do ECONOMICO-
século  XXI  atravessamos  mesmo  um  período  de  refluxo  generalizado  de  muitas  das
conquistas dessas lutas. O capitalismo concentra a riqueza mais do que nunca e agrava a (http://i1.wp.com/operamundi.uol.com.br/dialogos MILIONARIO/23
desigualdade  entre  países  e  no  interior  de  cada  país;  o  racismo,  o  neocolonialismo  e  as ul/wp-content/uploads/poder-2.jpg)
guerras  imperiais  assumem  formas  particularmente  excludentes  e  violentas;  o  sexismo,
As sociedades com formas duradouras de poder
apesar de todos os êxitos dos movimentos feministas, continua a causar a violência contra desigual são sociedades divididas entre opressore
as mulheres com uma persistência inabalável.
oprimidos.

Um  diagnóstico  correto  é  a  condição


necessária  para  sairmos  deste
aparente  curto­circuito  histórico.
Sugiro  vários  componentes  principais
do  diagnóstico.  O  primeiro  reside  em
que,  enquanto  a  dominação  moderna
articula  sempre  capitalismo  com
colonialismo e patriarcado, a esquerda,
as  organizações  e  os  movimentos  que
vêm  lutando  contra  ela  têm  sempre
estado  divididas,  cada  uma  delas
privilegiando  um  dos  modos  de
dominação  e  negligenciando,  ou
mesmo  ignorando,  os  outros,  e  cada
uma delas defendendo que a sua luta e
o  seu  modo  de  luta  é  o  mais
importante. Não surpreende assim que
muitos  partidos  de  esquerda  –
(http://i1.wp.com/operamundi.uol.com.br/dialogosdos
socialistas e comunistas ­, que lutaram
ul/wp-content/uploads/Sin-título2.png)
(quando  lutaram)  contra  a  dominação
capitalista,  tenham  sido  durante  muito Um diagnóstico correto é a condição necessária para
tempo colonialistas, racistas e sexistas. que sairmos deste aparente curto-circuito histórico.
Do  mesmo  modo,  não  surpreende  que
movimentos nacionalistas, anticoloniais e anti racistas tenham sido capitalistas ou pró­capitalistas e sexistas, e que movimentos femini
tenham sido coniventes com o racismo, o colonialismo e o capitalismo. Deste fato histórico resulta claro que os avanços serão escassos s
dominação continuar unida e a oposição a ela, desunida.

O segundo componente tem a ver com o modo como se organizaram as esquerdas nas resistências anti capitalistas, anti colonialistas e 
patriarcais. Trabalhadores, camponeses, mulheres, escravizados, povos colonizados, povos indígenas, povos afro descendentes, populaç
discriminadas  pela  deficiência  ou  pela  orientação  sexual  recorreram  a  muitas  formas  de  luta,  umas  violentas,  outras  pacíficas,  um
institucionais  outras,  extra­institucionais.  Ao  longo  do  século  passado  essas  múltiplas  formas  foram  se  condensando  em  partidos  políti
movimentos  de  libertação  e  movimentos  sociais,  e,  com  algumas  exceções,  foram  dando  preferência  à  luta  institucional  e  não  violenta
regime  político  que  se  impôs  como  dando  a  melhor  resposta  a  estas  opções  foi  a  democracia  de  origem  liberal,  a  democracia  atualme
existente.  Acontece  que  a  potencialidade  deste  tipo  de  democracia  para  corresponder  às  aspirações  das  populações  oprimidas  sempre
muito limitada e as limitações foram­se agravando em tempos mais recentes.

O tipo que mais desenvolveu essa potencialidade foi a social­democracia européia, e o seu melhor momento (conseguido, em boa medid
custa do colonialismo e neocolonialismo, ou seja, das relações econômicas desiguais com as colônias e as ex­colônias), está hoje sob ataq
não  só  na  Europa,  como  também  em  todos  os  países  que  procuraram  imitar  o  seu  espírito  moderadamente  redistributivo  para  reduzi
enormes desigualdades sociais (Argentina, Brasil, Venezuela). Por todo o lado, a democracia de baixa intensidade que ainda existe está se 
cercada  por  forças  anti  democráticas  e,  nalguns  países,  vai  transitando  para  ditaduras  atípicas,  muitas  vezes  assentadas  na  destruição
separação dos poderes (do Brasil à Polônia e à Turquia) ou na manipulação dos sistemas majoritários (fraude eleitoral sistemática, como
México,  sistemas  eleitorais  que  não  garantem  a  vitória  ao  candidato  mais  votado,  como
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nos  EUA).  Sabíamos  que  a  democracia  se  defende  mal  dos  antidemocratas  pois,  doutro
modo, Hitler não teria ascendido ao poder por via de eleições. Mas note­se que, ainda que
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de modo fraudulento, o seu partido ostentava a palavra “socialismo” no seu nome.
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Hoje,  a  democracia  está  sendo  sequestrada  por  forças  econômicas  poderosas  (Bancos
Centrais,  Fundo  Monetário  Internacional,  agências  de  avaliação  de  risco)  não  sujeitas  a BOLIVIANA-

qualquer deliberação democrática. E as imposições podem ser legais (e legítimas?): juros
DO-
de dívida pública, imposição de tratados de “livre” comércio, políticas de austeridade, rules
of engagement das multinacionais, controle corporativo dos grande meios de comunicação GRANDE-
social;  e  ilegais:  corrupção,  tráfico  de  influência,  abuso  de  poder,  infiltração  nas
organizações democráticas, incitamento à violência. A democracia é hoje subserviente aos PODER-
interesses imperiais, senão mesmo um dos seus instrumentos. Para a impor destroem­se
países  inteiros,  sejam  eles  o  Iraque,  a  Líbia,  a  Síria,  o  Iêmen.  Está  bem  documentada  a GERA-

intervenção  imperialista  para  desestabilizar  processos  democráticos  dotados  de  algum


MOVIMENTO-
ânimo  redistributivo  e  animados  de  algum  defensismo  nacionalista  para  proteger  do
mercado  internacional  predador  de  recursos  estratégicos,  sejam  eles  petróleo,  minérios ECONOMICO-
ou, crescentemente, terra ou água. Esta desestabilização nutre­se sempre dos erros, por (http://i1.wp.com/operamundi.uol.com.br/dialogos
vezes graves, dos governos nacionais (alguns de esquerda ou considerados progressistas) ul/wp-content/uploads/charge_esquerda-e-
MILIONARIO/23
e  conta  com  a  ativa  cumplicidade  das  oligarquias  que  dominaram  estes  países.  A direita_Angeli.jpg)
descaracterização  da  democracia  é  tal  que  já  se  fala  hoje  de  pós­democracia,  um  novo
regime  político  assente  na  conversão  dos  conflitos  políticos  em  conflitos  mediáticos A democracia é hoje subserviente aos interesses
imperiais, senão mesmo um dos seus instrumento
minuciosamente  geridos  por  técnicos  de  publicidade  e  comunicação  e  ultimamente
apoiados pela pós­verdade midiática das fake news.

O  terceiro  componente  do  diagnóstico  diz  precisamente  respeito  aos  erros  dos  governos  nacionais.  Porque  erram  tão  frequenteme
sobretudo  quando  considerados  de  esquerda  ou  progressistas?  São  muitos  os  fatores:  não  há  alternativas  anticapitalistas  críveis  e
conquistas contra o colonialismo, o racismo ou o sexismo parecem depender de não interferirem com a dominação capitalista; uma vez 
poder de governo, as forças de esquerda e progressistas comportam­se como se tivessem, além dele, o poder econômico, social e cult
que se reproduz na sociedade em geral, e com isso deixa de se reconhecer a gravidade ou mesmo a existência de antagonismo de classes
raças e de sexos. As lutas contra o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado são sempre concebidas como visando eliminar os “exces
destes modos de dominação, e não a sua fonte. Desta “autocontenção”, voluntária ou imposta, decorrem duas consequências fatais.

A primeira é tolerar ou mesmo promover um sistema de educação que promove os valores e as subjetividades que sustentam o capitalism
as  relações  coloniais,  racistas  e  sexistas.  A  segunda  é  recusar  imaginar  (ou  ignorar  quando  ocorrem)  formas  alternativas  de  organiza
economia, conceber a democracia ou organizar o Estado, praticar a dignidade humana e dignificar a natureza, promover formas de sent
de ser solidárias, substituir quantidades e gostos infinitos pela proporcionalidade, deixar de lado euforias desenvolvimentistas em benefício
limites justos e fruições comedidas, promover a diferença e a diversidade com a mesma intensidade com que se promove a horizontalida
Ao  apresentarem­se  como  fatais,  estas  duas  consequências  são  desumanas.  Pela  simples  razão  de  que  ser  humano  é  não  ser  ai
plenamente humano. É não ter de ser para sempre o que se é num dado contexto, tempo ou lugar.

*Original de Outras Palavras

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Memorial da Resistência lança livro sobre imóvel que abriga o museu (http://operamundi.uol.com.br/dialogosdosul/memorial­da­resistencia­lanca­livro­sobre­
imovel­que­abriga­o­museu/25052017/) MOVIMENTO-
 mai 25, 2017  Revista Diálogos do Sul  0 (http://operamundi.uol.com.br/dialogosdosul/memorial-da-resistencia-lanca-livro-sobre-imovel-que-abriga-o-museu/25052017/#res
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A agenda da Reforma Urbana viveu um ciclo no período da redemocratização e da Nova República que parece ter se esgotado. E os caminhos e instrumentos que construímos não
conseguiram nos levar a cidades mais justas e sustentáveis.

()

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 DITADURA No 1o de abril o Cordão da Mentira volta as ruas (http://operamundi.uol.com.br/dialogosdosul/no-1o-de-abril-o-cordao-da-mentira-volta-as-ruas/22032017/)

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