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CLASSIFICAÇÃO DA POSSE

1. Quanto aos vícios objetivos da posse: posse justa e injusta.

 Posse INJUSTA:

Violenta Clandestina Precária


- Obtida com violência, física ou - Obtida furtivamente, às escondidas, - Obtida com abuso de confiança.
moral, contra pessoa. Esbulho. sem publicidade em relação ao - Retém a coisa além do prazo
possuidor atual. avençado para devolução.
- Somente há posse após o - Somente há posse após o término da - Há posse justa anterior.
término dos atos de violência. clandestinidade. - Ex: contrato de comodato de
Até então, há mera detenção. imóvel, em que o comodatário se
- A clandestinidade termina quando recusa a desocupar o bem ao
- Associa-se ao roubo. houver condições reais de que o término do prazo.
possuidor possa tomar ciência do
Obs: Contrato viciado com esbulho. - Associa-se à apropriação
coação não vicia a posse obtida indébita.
por seu intermédio. Será posse - Até então, há mera detenção.
justa e de má-fé. Obs: o detentor (fâmulo da posse)
Ex: invasão de imóvel de veraneio não pode obter posse precária,
fora de temporada; alteração de pois jamais teve posse justa. Será
divisas às escondidas. clandestina ou violenta, cabendo
contra ele a autotutela (desforço
- Associa-se ao furto. imediato). Ex: carro da empresa.

Obs: aquele que ocupa coisa - Contra o precarista não cabe a


abandonada não comete esbulho, autotutela, pois ele detinha posse
pois não há posse anterior. justa anteriormente.
 Posse justa: por exclusão, a que não foi obtida com violência, clandestinidade ou coação.

Observações:
1. A posse obtida de maneira violenta ou clandestina poderá gerar usucapião extraordinária. A posse
obtida com precariedade pode gerar usucapião por meio da interversão (inversão) da posse, a partir de
quando há animus domini, embora a posse continue sendo injusta. Deve haver mudança perceptível no
comportamento do possuidor (pagamento de tributos, realização de acessões, comportamento de
proprietário), não apenas de ânimo, e sem oposição do proprietário por longo período [não é pacífico].

2. Os vícios objetivos são relativos, não produzindo efeitos erga omnes. A posse somente é injusta perante
o esbulhado. Aquele que tem posse injusta pode se valer dela perante terceiros (perante quem é justa),
tanto por meio de ações possessórias quanto pela autotutela.

3. A “posse injusta” do art. 1.228 é diferente. Diz respeito àquele que não é proprietário ou não possui um
fundamento jurídico atualmente válido para a posse. Cabe ação reivindicatória mesmo contra posse que
não seja violenta, clandestina ou precária.

4. Após ano e dia da cessação da violência e da clandestinidade, o esbulhado não mais poderá se valer dos
interditos possessórios.

5. Enunciado n. 237 (III Jornada DC): “É cabível a modificação do título [caráter] da posse – interversio
possessionis – na hipótese em que o até então possuidor direto demostrar ato exterior inequívoco de
oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização do animus domini.”
 Possibilita a usucapião pelo possuidor precarista.
 Não torna a posse justa.
2. Quanto aos vícios subjetivos da posse: posse de boa-fé e de má-fé.

 Posse de boa-fé: quando o possuidor ignora a ilicitude no fundamento jurídico de sua posse ou os vícios
que lhe impedem de adquirir a coisa, ou quando ele tem um justo título (causa/fundamento jurídico)
que embase a sua posse.
o Justo título: contrato de locação; contrato verbal de comodato por quem aparenta ser
proprietário.
o Enunciado n. 303 (III Jornada): “considera-se justo título para presunção relativa da boa-fé do
possuidor o justo motivo que lhe autoriza a aquisição derivada da posse, esteja ou não
materializado em instrumento público ou particular.

 Posse de má-fé: quando o sujeito sabe do vício que macula a origem de sua posse, em violação a
direito de outrem. Sempre é sem justo título. Pode se valer dos interditos possessórios, desde que a
posse seja justa.

Observações:
1. A posse pode ser justa e de má-fé: Ex1: sujeito que compra imóvel sabendo ser de terceiro. Ex2: venda
de imóvel com dolo, erro ou coação. O alienante não poderá se valer de interdito ou da autotutela; pois,
embora de má-fé, a posse do comprador é justa (sem violência, clandestinidade ou precariedade).
2. A posse pode ser injusta e de boa-fé: compra de um bem furtado, sem saber ser produto de crime. Os
vícios objetivos (a “injustiça”) da posse se transmitem, cfe. art. 1.203 do CC: “Salvo prova em contrário,
entende-se manter a posse o mesmo caráter com que foi adquirida.”
3. A posse de boa-fé com justo título somente se converte em de má-fé após a citação, a partir de quando
se presume a ciência sobre a ilicitude. Sem justo título, pode ser reputada de má-fé desde o início,
retroagindo os efeitos da sentença até então.
4. Ao possuidor sem justo título incumbe o ônus de provar sua boa-fé.

3. Quanto aos efeitos:

 Posse ad interdicta: aquela que pode ser defendida por ações possessórias diretas ou interditos
possessórios.
o Requisito: desde que seja justa perante quem se opõe.

 Posse ad usucapionem: posse usucapível. Pode ser justa ou injusta, não importa. Deve ser mansa,
pacífica, contínua, ininterrupta, duradoura por lapso previsto em lei e com animus domini.
o Cessada a violência e a clandestinidade, havendo animus domini, passa a correr o prazo da
usucapião.
o Posse precária: admite usucapião desde que haja a interversão da posse, com animus
domini [não é pacífico].

* Ius possidendi (posse civil): decorre da propriedade


* Ius possessionis (posse natural): posse “pura”.

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