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A crise mais prolongada e profunda do emprego formal no Brasil

“Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições
justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego”
Artigo 23 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (10/12/1948)

O Brasil continua decepcionando na geração de emprego, especialmente no mercado formal. O


desemprego e o subemprego continuam afetando milhões de brasileiros que desejam trabalhar
mas não encontram vagas no mercado. O resultado do Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged) ficou negativo em 661 vagas no mês passado, de acordo com dados
divulgados pelo Ministério do Trabalho na última sexta-feira. O mês de Junho apresentou o
primeiro corte de vagas formais do ano. No total de 2018, o saldo é positivo em pouco menos
de 400 mil vagas. Mas considerando os últimos 3 anos e meio o dados são desastrosos e
desanimadores.

Considerando os números desde as últimas eleições presidenciais, o desempenho do mercado


formal de trabalho, do Caged, no conjunto, está no vermelho há 43 meses, pois as demissões
superaram as contratações em mais de 3 milhões de postos entre dezembro de 2014 e junho de
2018. Os números são assustadores, pois, na média, a perda é de cerca de 75 mil vagas por mês
ou 2,5 mil vagas por dia.

A crise econômica brasileira fechou um grande número de postos de trabalho com carteira
assinada em dezembro de 2014 (ainda no primeiro mandato de Dilma-Temer) e em 2015 e 2016,
os piores momentos da recessão. Em 2017, houve saldo positivo na geração de emprego durante
8 meses, mas no conjunto do ano o saldo foi negativo. No primeiro semestre de 2018, o saldo

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na geração de emprego é positivo, mas está longe de recuperar o que foi perdido desde
dezembro de 2014. O nível do emprego formal em junho de 2018 estava, aproximadamente, no
mesmo nível do emprego do final de 2010. O Brasil teve um octênio perdido no mercado de
trabalho formal.

Segundo dados da PNAD Continua do IBGE, o desemprego aberto está em torno de 13%
(representando cerca de 13 milhões de pessoas) e a taxa de subutilização da força de trabalho
chegou à impressionante taxa de 25%, no 1º trimestre de 2018, o que representa cerca de 27
milhões de trabalhadores “jogados na rua da amargura do desemprego”.

Este desperdício do potencial de trabalho humano acontece no instante em que o Brasil vive o
seu melhor momento demográfico da história, quando a razão de dependência demográfica
(que mede o percentual de pessoas em idade ativa em relação as pessoas dependentes) está
em seu menor valor. No passado, a razão de dependência era alta por conta de uma estrutura
etária jovem e, no futuro, a razão de dependência voltará a subir por conta do envelhecimento
populacional.

O desperdício do bônus demográfico equivale a jogar fora uma oportunidade única para dar um
salto na qualidade de vida da população. Todo país com alto IDH passou pelo bônus demográfico
e soube aproveitar esta chance singular. Mas a crise brasileira (com queda do PIB e do emprego)
e a lenta recuperação (com baixo crescimento do PIB e do emprego) estão fazendo o Brasil ter
a sua segunda década perdida e não haverá condições demográficas tão propícias jamias nos
séculos vindouros.

A crise do mercado de trabalho na presente década significa a perda do futuro do país e do


futuro não só da juventude atual (que sofre mais que proporcionalmente com a escassez de
oportunidades de trabalho) mas do futuro das gerações que ainda vão nascer e que vão herdar
mais problemas do que soluções.

O Brasil está emparedado e o passo fundamental para mudar esta triste página da história é
possibilitar que cada cidadã e cidadão brasileiro possa ter orgulho de estar trabalhando para si
sustentar e para garantir a sustentabilidade econômica e ambiental da nação. O trabalho é a
base da riqueza das nações e o pleno emprego e o trabalho decente devem ser a prioridade
número 1, pois é o direito humano mais desrespeitado atualmente no Brasil.

José Eustáquio Diniz Alves


Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População,
Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE;
Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

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