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RECURSO EXTRAORDINÁRIO 1.038.

357 SÃO PAULO

RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI


RECTE.(S) : EDISON LEITE DE MORAES
ADV.(A/S) : FRANCISCO DE GODOY BUENO
RECDO.(A/S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DA FAZENDA NACIONAL

DECISÃO:
Vistos.
Trata-se de recurso extraordinário interposto contra acórdão do
Tribunal Regional da Terceira Região, assim ementado:

“DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO TRIBUTÁRIO.


ITR. LEI 9.393/96. ALÍQUOTA PROGRESSIVA. FUNÇÃO
SOCIAL DA PROPRIEDADE. LEGITIMIDADE DA
COBRANÇA. SENTENÇA MANTIDA.
1- A Lei nº 9.393/96, ao dispor sobre o Imposto sobre a
Propriedade Territorial Rural - ITR, instituiu progressividade
em função do grau de utilização da terra (GU) e do tamanho da
propriedade rural, determinando a forma de apuração do valor
do imposto.
2- Com a alteração promovida pela EC n° 42/2003 no art.
154, § 4º, não há dúvida que a Constituição passou a albergar a
progressividade fiscal. Antes estipulava ‘terá suas alíquotas
fixadas de forma a desestimular a manutenção de propriedades
improdutivas’ e passou a estipular ‘será progressivo e terá suas
alíquotas (...), anteriormente ao ano-base em questão, sabendo-se
que a lei, especialmente a Carta Magna, não contém palavras
inúteis.
3- Firmada a jurisprudência no sentido da validade da
progressividade de alíquota, nos termos da Lei 9.393/96,
consoante o disposto no artigo 154, § 4º, da CF/88.
4- Apelação improvida.”

A parte recorrente alega contrariedade ao art. 153, § 4º da


Constituição Federal, o qual determinaria que a progressividade do

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RE 1038357 / SP

imposto territorial rural (ITR) deve ser estabelecida para desestimular a


manutenção de propriedades improdutivas. Sustenta a impossibilidade
de se estabelecer alíquotas progressivas em razão do tamanho da
propriedade.
Decido.
A irresignação não merece prosperar.
No presente caso, o Tribunal de origem concluiu pela
constitucionalidade da progressividade da alíquota do ITR (presente na
Lei nº 9.393/96) em função da área do imóvel. Verifica-se que o
posicionamento da Corte a quo não destoa do entendimento do Supremo
Tribunal Federal.
No exame do RE nº 562.045/RS, Relatora para o acórdão a Ministra
Cármen Lúcia, DJe de 27/11/13, submetido à sistemática da repercussão
geral, o Tribunal Pleno firmou orientação no sentido de que todos os
impostos, sejam eles de caráter pessoal ou real, devem observar a
capacidade contributiva, nos termos do art. 145, § 1º, da Constituição
Federal, e consignou que a progressividade fiscal seria apta para dar
concretude a isso. Naquela ocasião, a Corte concluiu pela validade da
progressividade fiscal de determinado imposto (ITCMD) cujo texto
constitucional específico não previa, de modo expresso, a adoção dessa
técnica.
Sobre o assunto, destaco a seguinte passagem do voto do Ministro
Eros Grau proferido no julgamento daquele recurso extraordinário:

‘(…) todos os impostos podem e devem guardar relação


com a capacidade contributiva do sujeito passivo e não ser
impossível aferir-se a capacidade contributiva do sujeito
passivo do ITCD. Ao contrário, tratando-se de imposto direto, a
sua incidência poderá expressar, em diversas circunstâncias,
progressividade ou regressividade direta. Todos os impostos ---
repito --- estão sujeitos ao princípio da capacidade contributiva,
especialmente os diretos, independentemente de sua
classificação como de caráter real ou pessoal; isso é
completamente irrelevante.”

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Eis a ementa daquele julgado:

“RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL.


TRIBUTÁRIO. LEI ESTADUAL: PROGRESSIVIDADE DE
ALÍQUOTA DE IMPOSTO SOBRE TRANSMISSÃO CAUSA
MORTIS E DOAÇÃO DE BENS E DIREITOS.
CONSTITUCIONALIDADE. ART. 145, § 1º, DA
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. PRINCÍPIO DA
IGUALDADE MATERIAL TRIBUTÁRIA. OBSERVÂNCIA DA
CAPACIDADE CONTRIBUTIVA. RECURSO
EXTRAORDINÁRIO PROVIDO.” (RE nº 562.045/RS, Tribunal
Pleno, Relatora para o acórdão a Ministra Cármen Lúcia, DJe de
27/11/13).

Corroborando o entendimento, cito o seguinte precedente, em que a


Corte analisou caso idêntico ao dos presentes autos.

“AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. ITR. PROGRESSIVIDADE
DE ALÍQUOTAS EM PERÍODO ANTERIOR À EC 42/2003. LEI
8.847/1994. INEXISTÊNCIA DE CONTRARIEDADE À
REDAÇÃO ORIGINAL DO 153, § 4º, DA CF. ART. 145, § 1º, DA
CF. NECESSIDADE DE TODOS OS IMPOSTOS GUARDAREM
RELAÇÃO COM A CAPACIDADE CONTRIBUTIVA DO
SUJEITO PASSIVO, INDEPENDENTEMENTE DE POSSUIREM
CARÁTER REAL OU PESSOAL. IMPOSTOS DIRETOS.
UTILIZAÇÃO DE ALÍQUTOAS PROGRESSIVAS.
CONSTITUCIONALIDADE. AGRAVO REGIMENTAL A QUE
SE NEGA PROVIMENTO. I – Nos termos do art. 145, § 1º, da
CF, todos os impostos, independentemente de seu caráter real
ou pessoal, devem guardar relação com a capacidade
contributiva do sujeito passivo e, tratando-se de impostos
diretos, será legítima a adoção de alíquotas progressivas.. II –
Constitucionalidade da previsão de sistema progressivo de
alíquotas para o imposto sobre a propriedade territorial rural
mesmo antes da EC 42/2003. III – Agravo regimental a que se

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RE 1038357 / SP

nega provimento.” (RE nº 720.945/SP-AgR, Segunda Turma,


Relator Ministro Ricardo Lewandowski, DJe de 18/9/14)

Ante o exposto, nos termos do artigo 21, § 1º, do Regimento Interno


do Supremo Tribunal Federal, nego seguimento ao recurso.
Publique-se.
Brasília, 29 de maio de 2017.

Ministro DIAS TOFFOLI


Relator
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