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O “CREDIT SCORING” A LUZ DO CDC

O “Credit scoring”, também conhecido de “credscore”, trata-se de um método


desenvolvido para avaliação do risco de concessão de crédito, com base em
modelos estatísticos matemáticos, considerando diversas variáveis, com
atribuição de uma pontuação ao consumidor avaliado.

Tal método permite aos credores estabelecerem certo um perfil de crédito em


relação ao consumidor.

Referida prática, não encontra obstáculo na legislação pátria, ficando a critério


dos credores a sua utilização dentro dos parâmetros estabelecidos, revestindo-
se, portanto de licitude, conforme autoriza o art. 5º, IV e art. 7º, I, da Lei n°
12.414/2011 (Lei do Cadastro Positivo), que, ao tratar sobre os direitos do
cadastrado nos bancos de dados, menciona a possibilidade de existir a análise
de risco de crédito.

Vejamos:

Art. 5º São direitos do cadastrado:


IV - conhecer os principais elementos e critérios considerados para a análise de
risco, resguardado o segredo empresarial;
(...)
Art. 7º As informações disponibilizadas nos bancos de dados somente poderão
ser utilizadas para:
I - realização de análise de risco de crédito do cadastrado; ou

Muito embora sua licitude seja inquestionável, e até certa medida necessária
aos negócios dentro do mercado capitalista, sua prática encontra regras
básicas, sendo necessário que respeite os limites estabelecidos pelo sistema de
proteção do consumidor no sentido da tutela da privacidade e da máxima
transparência nas relações negociais, conforme previsão do CDC.

Dessa forma, a empresa/instituição que for realizar qualquer a análise do


crédito não precisa de autorização do consumidor para utilizar o “credit
scoring”, porém, este poderá solicitar que lhe sejam fornecidos
esclarecimentos sobre as fontes dos dados que foram considerados, isto é, o
chamado histórico de crédito, bem como sobre as suas informações pessoais
valoradas.

Em outras palavras, o consumidor pode exigir quais os dados que compõe o


histórico de crédito que fundamentam o parecer do credor.
Por outro lado, em virtude do sigilo que permeia as decisões da atividade
empresarial, o consumidor terá direito de interpelar em relação à metodologia
de cálculo, ou seja, qual foi a fórmula matemática e os dados estatísticos
utilizados no “credit scoring”.

Além dessas regras, importa destacar aquelas em relação aos limites


temporais as informações a serem consideradas, conforme estabelece o CDC e
a Lei n.° 12.414⁄2011, as quais, fixaram o prazo de 05 anos para os registros
negativos e de 15 anos para o histórico de crédito.

Nesse sentido, configura abuso de direito a inobservância de tais regras,


podendo ensejar, a responsabilização objetiva do fornecedor do serviço ou
responsável pelo banco de dados da fonte e do consulente, gerando danos
morais.

Da mesma forma, nas hipóteses de utilização de informações excessivas,


dados incorretos ou desatualizados, que incorram na recusa indevida de
crédito.

Para tanto, nota-se os dispositivos da Lei n.° 12.414/2011 que, inclusive,


conceitua o que sejam informações excessivas e sensíveis:

Art. 3º (...)
§ 3º Ficam proibidas as anotações de:
I - informações excessivas, assim consideradas aquelas que não estiverem
vinculadas à análise de risco de crédito ao consumidor; e
II - informações sensíveis, assim consideradas aquelas pertinentes à origem
social e étnica, à saúde, à informação genética, à orientação sexual e às
convicções políticas, religiosas e filosóficas.

Art. 16. O banco de dados, a fonte e o consulente são responsáveis objetiva e


solidariamente pelos danos materiais e morais que causarem ao cadastrado.

Posto isto, não há dúvidas quanto a legalidade e mesmo legitimidade do uso


do crdscore, quando ao passo que este busca viabilizar de forma segura a
análise de crédito as relações entre credor e devedor, ao mesmo tempo impõe
um regramento bem estabelecido e determinado, a fim de se evitar abusos e
ilegalidades aos consumidores.

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