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Celebrar o dia e/ou semana da consciência negra nas e com as escolas do país tem se tornado uma prática
constante na atualidade, após algumas conquistas recentes, como a lei que trata da obrigatoriedade do ensino
da história e cultura afro-brasileira e indígena e da adoção de livros didáticos e material de apoio que contam a
real história de nosso invadido país, onde os índios foram desrespeitados, assim como os negros foram
maltratados e explorados.
A Lei nº 9.394, que estabeleceu as diretrizes e bases da educação brasileira, traçou algumas obrigatoriedades
dos conteúdos programáticos ministrados nas escolas país afora. Algumas metas foram estabelecidas e
prazos estipulados para que se efetivassem etapas importantes da quali cação do ensino.
Posteriormente, com o país governado por uma gestão democrática que garantiu conquistas aos menos
favorecidos, a população negra vibrou com o respeito recebido por intermédio da implantação da Lei nº
10.639, de 9 de janeiro de 2003, que “estabelece as diretrizes e bases da educação nacional para incluir no
currículo o cial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”, alterando a
Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996”.
Dessa forma, em seu Art. 1o, a Lei no 9.394 passou a vigorar acrescida dos Arts. 26-A, 79-A e 79-B:
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§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da
África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da
sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política
pertinentes à História do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o
currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.
Também complementa a lei em seu Art. 79-B, determinando que “o calendário escolar incluirá o dia 20 de
novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’”. Estabelecida no calendário escolar e tornada
obrigatoriedade de ensino, a temática da consciência negra vem à tona e levanta questionamentos variados
sobre nossas raízes culturais e históricas.
Mais tarde, a Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008, aponta o reforço ao estudo da história da cultura afro-
brasileira e a inclusão da história da cultura indígena. Em seu Art. 1o,faz oArt. 26-A da Lei no 9.394passar a
vigorar com a seguinte redação:
§ 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da
cultura que caracterizam a formação da população brasileira a partir desses dois grupos étnicos, tais
como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil,
a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando
as suas contribuições nas áreas social, econômica e política pertinentes à história do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão
ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de
literatura e história brasileiras.
Respaldados legalmente, começamos a re exão de como a temática poderia ser tratada na modalidade de
Educação de Jovens e Adultos – EJA e convidamos o leitor para conhecer nosso relato de experiência com
sequência didática.
Como fortalecer a identidade cultural sem ter conhecimento dela? Como se identi car e orgulhar por ser negro
quando o que impera é a humilhação sofrida pela cor da pele? Como nos orgulharmos do que temos da cultura
afrodescendente se não sabemos as origens? Sobre isso, Vicente (2015, p. 158) a rma que
negro é identidade, e identidade é aceitação. No Brasil, a pessoa é tachada de negra pela tonalidade de
sua pele. Mas ser negro é descendência, é herança. Como forma de amenizar esse rótulo, o IBGE abre a
possibilidade de cada um se intitular negro. Sou negro porque eu quero ser.
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Quanto da herança afrodescendente temos em nossa cultura? Brincadeiras, hábitos, vocabulários, alimentos,
religiosidades, músicas, en m, são muitas as áreas em que o povo brasileiro se constitui a partir das origens
miscigenadas que nos formam, sobretudo, das bases afrodescendentes.
Concordamos em“resgatar de forma heroica o que foi destruído de forma covarde. Pensar na contribuição da
luta desses grupos étnicos dentro da história da humanidade é entender o que é resistência” (Vicente, 2015, p.
153).Assim pautamos nosso fazer pedagógico. O ponto de partida para a prática foi a re exão sobre o que de
negro somos e temos para que possamos valorizar e fortalecer nossa identidade cultural.
Assim, o aparelho celular participou ativamente das etapas de planejamento pedagógico, e a internet veiculou
a possibilidade de acessar conceitos, trocar ideias, fortalecer consensos e realizar os registros das ações
desenvolvidas.
Na Semana da Consciência Negra, com ênfase no dia 20 de novembro, as escolas geralmente se mobilizam na
realização de atividades festivas que celebrem a data. Pensando nisso, um trio de educadoras que ministram
as disciplinas Artes Cênicas, Educação Física e História na rede pública da cidade de João Pessoa/PB, no
Ensino Fundamental II e na EJA planejaram coletivamente ações que abrangessem a temática com
embasamento teórico e experimentação prática.
Nossa sequência didática diretamente realizada na escola teve início no nal do mês de outubro e como data
de culminância 24 de novembro de 2016. No primeiro momento, com aproximadamente oito horas-aula em
cada disciplina participante, totalizando24horas-aula de embasamento teórico interdisciplinar, somadas às
4horas-aula da execução do cronograma na culminância, as atividades desenvolvidas nas duas modalidades
de ensino buscaram promover a integração das práticas e teorias no momento de encerramento.
Por ser EJA, são adultos. Por serem adultos não podem ser lúdicos? Podem sim. No terceiro momento, nosso
fazer pedagógico pontuou a ludicidade da confecção da abayomi, com o explicito carinho do instinto materno,
tão amplamente conhecido na comunidade da EJA, constituída em sua maioria por mulheres, mães, avós.
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Nossa sequência didática partiu do desejo de executar alguma ação diferenciada junto aos estudantes para
um planejamento que teve como marco inicial do quarto momento a tempestade de ideias sobre a temática,
seguida da seleção das propostas viáveis de execução, que corresponde ao quinto momento.
Listadas as ideias passíveis de aplicabilidade, partimos para o sexto momento,a divisão dos temas entre as
educadoras envolvidas, de acordo com as suas áreas de atuação. Como sétimo momento, realizamos as
pesquisas individuais sobre cada possibilidade pontuada. Após as pesquisas executadas, fomos
compartilhando na rede social umas com as outras o descarte de alguns dos tópicos e o fortalecimento do
desejo na execução de outros, o que representou o oitavo momento de nossa sequência didática.
Assim, partimos para o nono momento, a elaboração de um cronograma de execução que teve como marco a
construção da abayomi, boneca negra artesanal, feita com nós em retalhos de tecidos por mães negras que
presenteavam suas crianças, viajantes em navios negreiros, na época da escravidão;elas rasgavam pedaços
de suas saias para, com carinho maternal, confeccionar o brinquedo.
Para acalentar seus lhos durante as terríveis viagens a bordo dos tumbeiros – navio de pequeno porte
que realizava o transporte de escravos entre África e Brasil –, as mães africanas rasgavam retalhos de
suas saias e a partir deles criavam pequenas bonecas, feitas de tranças ou nós, que serviam como
amuleto de proteção. As bonecas, símbolo de resistência, caram conhecidas como abayomi, termo que
signi ca ‘Encontro precioso’, em ioruba, uma das maiores etnias do continente africano, cuja população
habita parte da Nigéria, Benin, Togo e Costa do Mar m (Vieira, 2016, p. 2).
A história da abayomi por si só, já fornece material para muitas discussões re exivas em sala de aula.
Confeccioná-la, mediante explanação teórica crítica sobre a prática, fortaleceu nossa identidade cultural com
riqueza ampla de herança negra.
Iniciamos nossa culminância com a fala da gestora geral, que é historiadora e situou o tema com a
sensibilidade ideal para o debate orescer. Em seguida, a professora de História que participou do
planejamento das etapas da ação relembrou aspectos anteriormente abordados em sala de aula,
complementando e fortalecendo as colocações iniciais.
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Em seguida, convidamos uma estudante para fazer a leitura do termo “negro” no dicionário, o que vivenciamos
na o cina que cursamos na Maré e, como na o cina, tal leitura levantou surpresas e debates variados, diante
do preconceito explicito de forma registrada por escrito; num livro onde buscamos conceitos, percebemos que
inclusive nele o negro é apontado como inferior, ruim, obscuro, perverso, entre outros adjetivos negativos.
Após o debate sobre a leitura no dicionário e a distribuição dos folders, realizamos a apresentação
coreográ ca com estudantes do 8º ano com base na canção Nossa cor, interpretada por Léo Santana, seguida
de roda de capoeira de angola, com estudantes do 7º ano.
A exposição ilustrativa confeccionada por estudantes do Ensino Fundamental II compôs o painel de fundo das
atividades e mostrou em desenhos individuais a compreensão da temática sobre a cultura africana.
O jogo africano ioruba-picula, atualmente conhecido como toca, também foi executado com a orientação da
educadora física, segunda professora a participar do planejamento interdisciplinar virtual. Logo após
realizamos a contação de histórias sobre a abayomi, utilizando como empréstimo o livro confeccionado para a
o cina da Maré, o que tornou o momento mais lúdico.
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Para nalizar nossa ação, confeccionamos individualmente as abayomis e nos rendemos aos encantos
mágicos do passo a passo ao ver em nossas mãos o tecer constitutivo de bonecas repletas de cultura de raiz,
nossa negritude se moldando ao mesmo tempo que nossa identidade se fortalecia.
Ao som de músicas que retratam o fortalecimento identitário como negros, nalizamos nossa ação e
convidamos os envolvidos a presentear seus entes queridos com as bonecas confeccionadas, explicando a
história ouvida e divulgando características da cultura afrodescendente para valorizá-la.
Sendo a abayomi um presente precioso, assim como é a educação, objetivamos por meio deste registro
re exivo acerca da prática educacional partilhar nosso fazer pedagógico com os leitores, que se tornam agora
nosso presente precioso.
Referências
BRASIL. Maré Produções Artísticas e Educacionais. Projeto Compartilhando Saberes. Disponível
emhttp://mareproducoes.blogspot.com.br/ (http://mareproducoes.blogspot.com.br/). Acesso em 6 dez. 2016.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subche a para Assuntos Jurídicos. Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm (https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm).
Acesso em 06 dez. 2016.
BRASIL.Presidência da República. Casa Civil. Subche a para Assuntos Jurídicos. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro
de 2003.Estabelece a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10.639.htm). Acesso em 6 dez. 2016.
http://educacaopublica.cederj.edu.br/revista/artigos/construindo-abayomi-e-fortalecendo-a-identidade-cultural 6/7
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BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subche a para Assuntos Jurídicos. Lei nº11.645, de 10 de março
de 2008. Estabelece a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Disponível
em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11645.htm#art1
(https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11645.htm#art1). Acesso em 6 dez. 2016.
CANANÉA, Fernando A. Abath L. C. Educação popular e identidade cultural. João Pessoa: Imprell, 2016.
VIEIRA, Kauê. Bonecas abayomi: símbolo de resistência, tradição e poder feminino. Afreaka. Disponível em
http://www.afreaka.com.br/notas/bonecas-abayomi-simbolo-de-resistencia-tradicao-e-poder-feminino/
(http://www.afreaka.com.br/notas/bonecas-abayomi-simbolo-de-resistencia-tradicao-e-poder-feminino/).
Acesso em 6 dez. 2016.
(http://twitter.com/educacaopublica)
(http://cederj.edu.br/fundacao/)
(http://www.rj.gov.br/web/seeduc) (http://www.faperj.br/)
(http://teca.cecierj.edu.br/)
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