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2. O ARTIGO 166 DO CÓDIGO CIVIL.

Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:

I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;

II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;

III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;

IV - não revestir a forma prescrita em lei;

V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;

VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;

VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

O artigo acima descreve os casos de defeitos graves em que ocorre a nulidade absoluta de um
negócio jurídico.

2.1 Defeitos graves

O defeito é todo vício que macula do negócio jurídico, tornando-o passível de anulação, podendo ser graves ou leves.
Os defeitos graves são aqueles que atingem os próprios requisitos de validade dos negócios jurídicos. Assim, são graves
os previstos no art. 166, bem como a simulação.

2.2 Conceito de nulidade

É a sanção imposta pela norma jurídica, que determina a privação dos efeitos jurídicos do ato negocial praticado em
desobediência ao que prescreve.

2.3 Efeitos: nulidade de pleno direito ou absoluta

É nulo o ato jurídico quando, em razão de defeito grave que o atinge, não produz os efeitos que deveria produzir. Pode
até produzir efeitos, mas não àqueles efeitos desejados pelas partes interessadas, aqueles efeitos que deveria produzir.
Por exemplo, se uma pessoa com 14 anos, vende um imóvel seu sem a devida interveniência de seu representante legal,
o negócio será nulo, não produzindo seu principal efeito, qual seja, o de transmitir a propriedade do imóvel ao comprador.
O único efeito que tal ato poderá produzir é o reembolso a que o comprador faz jus, se já tiver pagado o preço do imóvel
ao vendedor. Este deverá restituir-lhe o dinheiro. Mas esse não é efeito normal da compra e venda.

Mas se, por falha do cartório, a escritura de compra e venda for registrada, a propriedade do imóvel, aparentemente, se
transmite ao comprador, apesar do defeito grave do ato. Posteriormente, poderá ser anulado, a qualquer tempo, seja a
requerimento de algum interessado ou, de ofício, pelo juiz. Afinal, o defeito é grave, e a propriedade só aparentemente se
transferiu para o comprador. Mas se ninguém requerer a anulação, o ato perdurará como se fosse perfeito. De fato, então
terá havido transmissão da propriedade.

2.4 Exemplos:

2.4.1 Negócio jurídico celebrado (pessoalmente) por pessoa absolutamente incapaz.

As pessoas absolutamente incapazes estão relacionadas no artigo 3º do Código Civil. Estão proibidas de praticar o
negócio jurídico pessoalmente. São os menores de 16 anos, os portadores de enfermidade ou deficiência mental, que não
tiverem o necessário discernimento para a prática dos negócios jurídicos (caso dos loucos) ou pelas pessoas que não
puderem exprimir sua vontade, mesmo que seja de causa transitória (caso dos surdos-mudos que não puderem exprimir
a sua vontade).
"Em se tratando de menores impúberes, são absolutamente incapazes para a outorga de procuração, tanto por
instrumento particular, como por instrumento público, eis que inibidos de emitir consentimento como requisito integrativo à
validade do respectivo ato jurídico." (RT 709/168)

2.4.2 Negócio jurídico cujo objeto é ilícito, impossível ou indeterminável.

2.4.2.1 Objeto ilícito.

É aquele proibido pela lei. Como exemplo, se alguém receber um cheque dado em garantia por ter feito um empréstimo,
o credor age, como instituição financeira, está infringindo uma lei, é nulo de pleno direito a emissão do cheque, bem como
o negócio jurídico que lhe deu origem, por ilicitude do objeto, pois somente pode agir como instituição financeira aquele
autorizado pelo Banco Central, conforme estipula o § 7º do art. 44, da Lei nº 4.595/64 "qualquer pessoa física ou jurídica
que atue como instituição financeira, sem estar autorizada pelo Banco Central do Brasil, fica sujeita à multa definida neste
artigo e detenção de um a dois anos."

2.4.2.2 Objeto Impossível ou Indeterminável

Sendo impossível de realizar-se, então não existe e, não havendo negócio jurídico sem que haja um objeto é plenamente
nulo. Exemplos: a compra e venda sem objeto; um cheque sem assinatura, falta a expressão da vontade de quem o emitiu;
um testamento em vídeo falta a forma escrita, requisito essencial para a sua existência.

2.4.3 Quando o motivo determinante, comum a ambas s partes, for ilícito.

Como exemplo, obter financiamento da casa própria ou carro para financiar a compra de drogas, o financiamento
conhecido de ambas as partes, com a finalidade de adquirir objeto ilícito ingressa no motivo determinante que tornará o
negócio nulo.

2.4.4 Negócio Jurídico não revestido da forma prescrita em lei

O negócio jurídico que desprezou a forma prescrita em lei é nulo. Por exemplo, a renúncia da herança deve ser por
escritura pública, ou por termo nos autos (art. 1806, CC); se gerada por instrumento particular, não gerará qualquer efeito.
Outro exemplo "impossível considerar-se válido o testamento particular se a assinatura do testador não foi reconhecida
por nenhuma das testemunhas, não tendo sido aposta em sua presença, ou sem que o testador o tenha lido perante elas."
(art. 1876, §1º e §2º do CC) (RT 703/133)

2.4.5 Negócio jurídico que tenha sido preterida alguma solenidade que a lei considera essencial para a sua
validade.

Como exemplo, um testamento público, mesmo regularmente lavrado, mas que deixou de ser lido ao testador e às
testemunhas desrespeita a solenidade imposta pela lei (art. 1.864, § II do CC) Outro exemplo "A assinatura do vendedor
é requisito da própria existência da escritura de venda e compra. Sem ela, a escritura não será título hábil à transmissão
da propriedade imobiliária. Se assim mesmo for levada a registro, este será nulo em decorrência da imprestabilidade do
título registrado com preterição daquela solenidade" (RT 707/143)

2.4.6 Negócio jurídico que tiver objetivo de fraudar lei imperativa.

Quando objetivo do negócio jurídico for fraudar dispositivo expresso de lei, a nulidade opera-se de pleno direito. Como
exemplo, a lei do FGTS, permite o saque para a compra de casa própria, então realiza a compra e venda de um imóvel
para poder sacar o dinheiro, mas não a compra de fato, não vai morar, os primeiros proprietários moram no imóvel. E,
mais à frente do tempo o "comprador" do imóvel, através de uma procuração, vende ou doa para os "vendedores".

2.4.7 Negócio jurídico declarado nulo de modo taxativo pela própria lei.

A própria lei, em muitos casos, dita expressamente a nulidade, como se pode observar:

Art. 1.548 do CC: "É nulo casamento contraído: I – pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos
da vida civil; II – por infringência de impedimento."

Art. 548 do CC: "É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do
doador".

3. O ARTIGO 167 DO CÓDIGO CIVIL

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.
§ 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:

I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;

II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;

III - os instrumentos particulares forem ante-datados, ou pós-datados.

§ 2º Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.

Na simulação não há um vício de consentimento, porque o querer do agente tem em mira, efetivamente, o resultado que
a declaração procura realizar ou consentir. Há um defeito no negócio jurídico que a doutrina chama de simulação como
vícios sociais que é um desacordo intencional entre a vontade interna declarada para criar, aparentemente, um ato negocial
que inexiste ou para ocultar, sob determinada aparência o negócio querido, enganando terceiro, acarretando a nulidade
do negócio. Têm-se a simulação absoluta e a simulação relativa.

3.1 A simulação absoluta.

Ocorre quando a declaração enganosa da vontade exprime um negócio jurídico bilateral ou unilateral, não havendo a
intenção de realizar ato negocial algum. Como exemplo o marido, antes da separação judicial, emite um título de crédito
que na verdade não representa qualquer negócio, mas tem por fim prejudicar a mulher na partilha (RT 307/376, 317/155,
441/276) ou como esclarece certo acórdão assim ementado: "Ocorre vício de negócio jurídico na iminência de processo
de separação, ou de fazer desaparecer o patrimônio do casal, para que não tenha de entregar, assim, a meação da
esposa" (RT 574/87)

3.2 A simulação relativa

É a que resulta no intencional desacordo entre a vontade interna e a declarada. Ocorrerá sempre que alguém, sob a
aparência de um negócio fictício, realizar outro que é o verdadeiro, diverso, no todo ou em parte, do primeiro, com o escopo
de prejudicar terceiro. Apresentam-se dois contratos: um real e outro aparente. Os contratantes visam ocultar de terceiros
o contrato real, que é o querido por eles. A simulação relativa está relacionada nos incisos I, II e III do art. 167, CC.

3.4 Exemplos de simulação relativa

3.4.1 Aparentarem conferir ou transmitir direito a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou
transmitem.

É uma simulação relativa subjetiva, pois a parte contratante não tira proveito do negocio, por ser sujeito aparente.

O homem casado, que pretendendo doar um imóvel à concubina, simula a venda a um amigo, o qual, por sua vez e mais
tarde, transfere o bem a ela. (RT 556/203)

O que sucede na venda realizada a um terceiro para que ele transmita a coisa a um descendente do alienante, a quem se
tem a intenção de transferi-la desde o inicio, burlando o disposto no art. 496 do CC, mas tal simulação só se efetivará
quando se completar com a transmissão dos bens ao real adquirente. (Súmulas do STF 152 e 494)

3.4.2 Contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira.

É uma simulação relativa objetiva, porque respeita à natureza do negócio pretendido, ao objeto ou a um de seus elementos
contratuais.

Como exemplo, é o que ocorre em que as partes na escritura de compra e venda declaram preço inferior ao convencionado
com a intenção de burlar o fisco, pagando menos imposto. Neste caso, se aplica a 2ª parte do caput do art. 167, CC, sendo
nulo apenas a declaração de preço inferior, mantendo-se válido a compra e venda (a substância e a forma).

Outro exemplo mais freqüente é quando o marido, às portas da separação judicial, emite nota promissória de alto valor a
favor de um amigo, simulando a existência de dívida, visando lesar a mulher na partilha dos bens do casal. (RT 619/129)

3.4.3 Os instrumentos particulares forem antedatados ou pós-datados.

As partes ao colocarem no instrumento particular a antedata ou pós-data, constante no documento, não aquela em que o
mesmo foi assinado, a falsa data indica discordante da verdade.
3.5 Efeitos da Invalidação do Negócio Jurídico: Direitos de terceiro de boa-fé.

Havendo decretação da invalidação do negócio jurídico simulado, os direitos de boa–fé em face dos contratantes deverão
ser respeitados.

3.6 Diferença entre dissimulação e simulação.

Não há que confundir a simulação com a dissimulação. A simulação provoca falsa crença num estado não real; quer
enganar sobre a existência de uma situação não verdadeira, tornando nulo o negócio. A dissimulação oculta ao
conhecimento de outrem uma situação existente, pretendendo, portanto, incutir no espírito de alguém a inexistência de
uma situação real. No negócio jurídico subsistirá o que se dissimulou se válido for na substância e na forma(2ª parte do
art. 167, CC)

4. ART. 168 DO CÓDIGO CIVIL.

Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público,
quando lhe couber intervir.

Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos
e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes.

4.1 Argüição da nulidade absoluta.

A nulidade absoluta poderá ser argüida por qualquer interessado, pelo Ministério Público, quando lhe caiba intervir, e
pelo órgão judicante de ofício, quando conhecer do ato ou de seus efeitos e a encontrar provada.

4.1.1 Qualquer interessado.

Interessado não é qualquer pessoa, mas aquela que tenha proveito e legitimidade para apontar a nulidade. No despejo,
por exemplo, parte interessada (legítima ativa) é o dono do imóvel e a outra parte interessada (legítima passiva), é apenas
o inquilino, e não qualquer outra pessoa.

4.1.2 Ministério Público.

Segundo o art. 1º da Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público) "o Ministério
Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica,
do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis."

A atuação do Ministério Público na área cível dar-se-á como agente ou como interveniente. Como agente, nos casos
expressos em lei, o MP é titular da ação civil pública (art. 81 do Código de Processo Civil), como, por exemplo, na ação
de nulidade de casamento em virtude de bigamia, na ação de extinção de fundação ou na ação de reparação de danos
ecológicos. Como órgão interveniente funciona o Ministério Público na qualidade de fiscal da lei. Intervem nas causas em
que há interesses de incapazes, nas causas concernentes ao estado da pessoa, pátrio poder, tutela, curatela, interdição,
casamento, declaração de ausência e disposição de última vontade, bem como todas as demais causas em que há
interesse público, evidenciado pela natureza da lide (causa) ou qualidade da parte interessada.

4.1.3 Órgão Judicante de ofício

O juiz tomado conhecimento de nulidade absoluta deve pronunciá-la de ofício, sem isso, o negócio jurídico não será
invalidado. A sentença que declara nulo um ato tem caráter constitutivo negativo, isto é, visa desconstituir relação ou
situação jurídica.

4.2 Proibição de suprimento judicial

A nulidade absoluta não poderá ser suprida pelo juiz, ainda que a requerimento dos interessados, sendo também
insuscetível de ratificação ou e confirmação.
5. ART. 169 DO CÓDIGO CIVIL

Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo.

5.1 Efeitos da nulidade negocial

O negócio nulo não poderá ser confirmado nem convalescerá pelo decurso do tempo. Isto quer dizer que basta o negócio
jurídico estar viciado com ato nulo e ser ele apontado pela parte interessada ao juiz para ser decretado sua nulidade de
ofício, não merecendo confirmação de outra parte, bem como a nulidade absoluta ou de pleno direito não se restabelece
ao tempo que se passa, ela deve ser suscitada a qualquer momento, existindo os atos imprescritíveis como o estado ou
capacidade das pessoas e os direitos não patrimoniais.. Como exemplo tem-se "tratando-se de ação relativa de pessoa,
como é o caso da anulação do registro civil de nascimento, não há falar-se em prescrição (RT 459/196). "A ação de
contestação de filiação, não prescreve em tempo algum" (RT 429/96)

Os negócios jurídicos patrimoniais, como exemplo, a venda de uma casa por um louco, quando este pratica,
pessoalmente, o negócio jurídico da alienação, está eivado de nulidade absoluta. Porém, enquanto o juiz não toma
conhecimento de sua existência, ele prevalece e, se durante 10 anos (prazo prescricional art. 205 do CC), ninguém levar
ao conhecimento do magistrado, tal nulidade desaparecerá definitivo, adquirindo eficácia jurídica. Pode se dizer que não
declarada a sua nulidade o ato nulo se torna eficaz.

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