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Efeitos da oclusão vascular parcial no ganho de

força muscular
The effects of partial vascular occlusion on gaining muscle
ARTIGO DE REVISÃO

strength

Gabriela Perpétua Neves da Costa1, Valéria Perpétua Moreira1, Amir Curcio dos Reis2,
Saulo Nani Leite3, Samuel Straceri Lodovichi3

RESUMO
Objetivo: Investigar os efeitos do exercício resistido de baixa intensidade associado à oclusão vas-
cular no ganho de força e volume muscular. Método: Foi realizada uma busca sistematizada nos
bancos de dados eletrônicos: Science Direct, PEDro e Pubmed, onde foram revisados somente
ensaios clínicos randomizados e com pontuação acima de 50% de acordo com a escala de PEDro.
Resultados: Durante a pesquisa foram pré-selecionados e analisados 440 artigos e ao final da
seleção, sete artigos preencheram todos os critérios de inclusão e especificações estabelecidas.
Conclusão: Conclui-se que o exercício de baixa intensidade com oclusão sanguínea é uma alter-
nativa eficaz na indução de hipertrofia muscular, sendo vista como uma nova possibilidade de
treinamento muscular orientado para jovens e idosos saudáveis. No entanto, há necessidade de
realizar novos estudos, pois ainda existem pontos que permanecem sem explicação, como dor e
desconforto durante o treinamento.
Palavras-chave: exercício, força muscular, hipertrofia

ABSTRACT
Objective: To investigate the effects of low-intensity resistance exercise associated with vascular
occlusion in strength and muscle volume. Method: We performed a systematic review in elec-
tronic databases: Science Direct, PEDro, and Pubmed, in which were reviewed only randomized
clinical trials with a score over 50% according to the PEDro scale. Results: During the survey 440
articles were pre-selected and reviewed, but in the final selection only seven articles met all inclu-
sion criteria and specifications set. Conclusion: We conclude that low-intensity exercise with blood
occlusion is an effective alternative in inducing muscle hypertrophy and is seen as a new possibility
of targeted muscle training for young people and seniors. However, we need more studies, for
there are still points that remain unclear, such as pain and discomfort during training.

Keywords: exercise, hypertrophy, muscle strength

1
Fisioterapeuta, Centro Universitário da Fundação
Educacional de Guaxupé - (UNIFEG).
2
Fisioterapeuta, Mestrando em Ciências da
Reabilitação pela Universidade Nove de Julho -
(UNINOVE).
3
Fisioterapeuta, Docente do Centro Universitário da
Fundação Educacional de Guaxupé - (UNIFEG).

Endereço para correspondência:


Amir Curcio dos Reis
E-mail: amircurcio@yahoo.com.br

Recebido em 16 de Maio de 2012.


Aceito em 21 de Novembro de 2012.

DOI: 10.5935/0104-7795.20120030

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Acta Fisiatr. 2012;19(3):192-7 Costa GPN, Moreira VP, Reis AC, Leite SN, Lodovichi SS
Efeitos da oclusão vascular parcial no ganho de força muscular

INTRODUÇÃO do fluxo sanguíneo pode induzir ao mesmo moderados de confiabilidade entre exami-
aumento do volume muscular quando com- nadores têm sido demonstrados pela escala
A redução do fluxo sanguíneo muscular parado com exercícios de alta carga de trei- PEDro.12 No caso de discordância entre os
durante o exercício resistido tem se mostrado namento.7,9 Entretanto, esse pensamento não avaliadores, ambos se reuniam e chegavam
benéfico no ganho de hipertrofia muscular e é unânime, uma vez que alguns estudos não a um consenso. A nota de corte utilizada
força, similares ao ganho com exercício resis- encontram diferença entre o fortalecimento para análise dos trabalhos foi de cinco, que
tido tradicional de alta intensidade, porém convencional e o fortalecimento com a corresponde a 50% da escala, uma vez que es-
utilizando menor intensidade.1 oclusão parcial.10 tudos com escores de 6 em diante são conside-
O fluxo sanguíneo é um importante com- rados com uma boa qualidade metodológica e
ponente no transporte de oxigênio para o estudos com escores menores do que seis são
músculo durante sua atividade. No exercício OBJETIVO considerados falhos em sua metodologia
submáximo, é necessário aumentar e manter
o fluxo de sangue para suprir a demanda de O objetivo deste estudo é investigar
oxigênio suficiente e remover subprodutos e através de revisão sistemática da literatura RESULTADOS
resíduos dos músculos ativos.2 atual os efeitos do exercício resistido associado
Segundo Wernbom et al.3 na prescrição à oclusão vascular no ganho de força e volume Após a seleção inicial com base no título e
de exercícios de resistência, a intensidade de muscular e determinar se exercícios resistidos palavras chave, um total de 440 artigos foram
treinamento ou carga utilizada é considerada de baixa intensidade com redução do fluxo de encontrados. Ao final da seleção, somente
a variável mais importante. A intensidade sanguíneo aumentaria a capacidade muscular sete artigos preencheram todos os critérios
do treinamento de resistência é muitas ve- quando comparado ao mesmo exercício sem de inclusão e especificações estabelecidas
zes quantificada em função do peso máximo oclusão. (Figura 1).
que pode ser levantado em uma única vez, Dos sete estudos encontrados, 4 deles
chamado de repetição máxima (1 RM). Os avaliaram uma população idosa e 3 avaliaram
mesmos acreditam que a carga deve ser pelo MÉTODO jovens, apenas um estudou o efeito do
menos 60% de 1 RM, a fim de estimular o au- fortalecimento isquêmico no pós operatório e
mento da força. Para a hipertrofia muscular, No período de agosto de 2010 a março a maioria deles escolheu para estudo o sexo
cargas de 6-12 RM são geralmente recomen- de 2011 foi realizada uma revisão sistemática masculino. Um deles teve a sua amostra mista,
dadas, que correspondem de 70 a 80% de 1 da literatura nas bases de dados eletrônicas misturando ambos os sexos para avaliação.
RM. Entretanto, no cenário clinico, muitas PEDro, Science Direct e PubMed por dois revi- O resumo dos dados obtidos em cada ar-
vezes é difícil e também contraindicado usar sores independentes, que selecionavam para tigo encontra-se na Tabela 1, que mostra que
cargas máximas, como por exemplo, reabilita- estudo apenas os trabalhos publicados na lín- a pressão utilizada para realizar a oclusão
ção precoce após uma lesão esportiva. gua inglesa. Durante a coleta dos trabalhos, vascular (OV) variou entre 0 e 250 mmHg.
Rooney4 e Schott5 afirmaram que o au- não houve restrição em relação ao ano de pu- No que diz respeito à mensuração de forças,
mento da resistência e o ganho de massa mus- blicação dos estudos, já que se trata de uma todos os ensaios clínicos presentes em nossa
cular tem uma ligação direta com a fadiga da forma relativamente nova de fortalecimento. revisão utilizaram a dinamometria para essa
musculatura e o acúmulo de metabólitos em As palavras chave utilizadas para encontrar os avaliação e todos eles obtiveram aumento
seu interior. Resultados semelhantes foram trabalhos nas bases de dados foram: muscle significativo da força muscular nos grupos de
encontrados utilizando torniquetes com strengthening, ischemia, resistence training e pacientes que realizaram exercícios associa-
restrição parcial do fluxo sanguíneo muscular muscle dos à oclusão quando comparado aos grupos
durante o treinamento com baixa resistência, A revisão foi ampliada buscando as refe- que realizaram os mesmos exercícios da forma
visando o aumento de força muscular.1 rencias bibliográficas dos estudos relevantes, convencional.
Acredita-se que a restrição do fluxo sanguí- solicitação de estudos publicados a especialistas Um dado importante que foi avaliado em
neo durante o exercício de baixa intensidade e buscas em outras fontes. quatro ensaios clínicos incluídos na revisão foi
aumenta a resistência, fosforilação e síntese à área de secção transversa do músculo estuda-
proteica muscular, além de promover o incre- Avaliação dos estudos do. Em 3 deles os resultados finais apontaram
mento de sua força, tanto quanto o exercício A metodologia de cada ensaio clínico um aumento dessa área nos grupos que rea-
de resistência convencional com altas cargas. randomizado (ECR) selecionado foi pontuada lizaram o exercício associado à OV e apenas
No entanto, o mecanismo celular responsável usando a escala de PEDro para avaliar a um deles não apontou aumento da área de
pelo ganho de força e hipertrofia induzida pela qualidade de ensaios clínicos randomiza- secção transversa, esse aumento não ocorreu
restrição do fluxo sanguíneo (REFR) ainda não dos, instrumento este altamente utilizado em nenhum dos grupos estudados.
são conhecidos completamente.6 Sugere-se para pontuar a característica dos ensaios
que com a oclusão vascular ocorra um estímu- clínicos.11 A escala é composta por 11 itens,
lo do metabolismo local, o que por sua vez es- cada item satisfatório (exceto o item um, o DISCUSSÃO
timula um subsequente aumento nos fatores qual, ao contrário de outros itens da escala,
de crescimento, recrutamento primário das é pertinente à validade externa) contribui com Essa revisão sistemática incluiu 7 RCTs
fibras de contração rápida e síntese protéica um ponto no total da nota (de 0 a 10). Dois que examinaram os benefícios da oclusão
aumentada.7,8 avaliadores pontuaram os estudos separada- vascular isquêmica no trabalho de ganho de
Estudos recentes mostram que o trei- mente com relação à presença ou ausência força muscular. Com os dados obtidos nos
namento muscular com restrição moderada dos indicadores de qualidade da escala. Níveis estudos podemos afirmar que a isquemia se

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nível de pressão arterial sistólica dos indiví-


duos ou a um nível tolerável subjetivamente.
O programa teve duração de 8 semanas e
os pacientes foram instruídos a realizar 6 movi-
mentos diferentes com os membros inferiores
(MMII). Após esse período, notaram-se
melhorias, mas não foi encontrado nenhuma
diferença nos grupos quanto desempenho e
equilíbrio. Já a força muscular nos MMII foi
significativamente maior no grupo de LIO em
relação ao grupo EED. O hormônio de cres-
cimento foi notadamente aumentado após
o exercício de oclusão. Segundo os autores,
estes resultados sugerem que o LIO deve
ser visto como um dos mais promissores
programas de treinamento físico orientado
para idosos saudáveis.
Ohta et al.4 investigaram os efeitos dos
exercícios de treinamento muscular com
moderada restrição do fluxo sanguíneo
durante as 16 primeiras semanas após
reconstrução do ligamento cruzado anterior
(LCA) a partir do tendão dos flexores do joelho
em 44 pacientes (25 homens e 19 mulheres).
O processo de reabilitação nos dois grupos foi
exatamente igual, diferenciando-se apenas no
que diz respeito à restrição parcial do fluxo
sanguíneo com uma pressão de 180 mmHg
em um dos grupos durante um exercício de
fortalecimento em cadeia cinética fechada.
Figura 1. Fluxograma de seleção dos estudos
Após as 16 semanas de tratamento houve
um aumento significativo na força da muscu-
tornou um recurso importante no trabalho eficazes na indução de hipertrofia muscular, latura flexora e extensora do joelho dos indiví-
de fortalecimento muscular, principalmente associado ao aumento da força, quando com- duos que realizaram a isquemia, além do au-
do quadríceps - músculo avaliado em 6 dos 7 binado com oclusão vascular. mento significativo da área de secção tranversa
RCTs - todos eles com resultados satisfatórios Resultados semelhantes foram encontra- desses músculos em relação ao grupo que fez
em relação ao ganho de força. dos no estudo de Yokokawa et al.14 também o trabalho de fortalecimento tradicional.
Takarada et al.13 avaliaram os efeitos realizado em idosos, com o intuito de comparar Trinta e sete idosos saudáveis do sexo
do exercício resistido associado à oclusão os efeitos do LIO com o exercício de equilíbrio masculino foram divididos em 3 grupos por,15
vascular parcial na melhora da força e no dinâmico (EED) em 51 indivíduos divididos em sendo o grupo 1 submetido a alta intensida-
ganho de trofismo muscular nos flexores do dois grupos: grupo LIO (n = 24) e grupo EED de de treinamento de resistência, o grupo 2
cotovelo de mulheres idosas. Para isso os indi- (n = 27). Tanto desempenho, equilíbrio e força exercícios de baixa intensidade de treina-
víduos foram divididos em dois grupos: baixa muscular, foram avaliados em ambos os gru- mento de resistência associado a oclusão
intensidade com oclusão (LIO) entre 50 à 30% pos. Além disso, foi realizado coleta sanguí- vascular e grupo 3, controle. Para a restrição
de uma repetição máxima; e de baixa intensi- nea de 11 participantes de LIO e analisados sanguínea, cintos de elástico foram posicio-
dade sem oclusão (LI). A pressão de oclusão da para taxa do hormônio de crescimento (GH) nados na porção proximal da coxa a fim de
média durante todo o período de treinamento e lactato, pois a redução do fluxo sanguíneo aplicar pressão pneumática na superfície in-
foi 110,0 (grupo LIO) e 17,1 mmHg (grupo LI). muscular é considerado susceptível a induzir a terna conectada a um sistema de controle
Os exercícios duraram 4 meses e foram secreção de hormônio de crescimento. eletrônico de pressão de ar inflado até atin-
realizados duas vezes por semana. Em cada Através de um par de cintas elásti- gir a pressão máxima de 160 mmHg. Amos-
sessão os sujeitos realizavam três series de cas especiais foi feita aplicação de pressão tras de sangue foram coletadas antes e após
fortalecimento, separadas por um intervalo adequada nas partes proximais da coxa duran- seis semanas de treinamento de resistência
de um minuto. te o treinamento de baixa intensidade. O nível para medir as mudanças na formação óssea
Ao término do experimento foi observa- de pressão aplicada durante o treinamento foi (fosfatase alcalina óssea e colágeno tipo I).
do que no grupo LIO houve um aumento da determinada de acordo com a pressão arterial Após os 4 meses de acompanhamento houve
área transversal e força isocinética da muscu- inicial e idade. Nas coxas foi fixado um nível um aumento significativo nos percentuais de
latura flexora do cotovelo em relação ao gru- de pressão onde o fluxo de sangue periférico fosfatase alcalina, sendo 21% para o grupo
po LI. Tais resultados sugerem que exercícios não fosse prejudicado, em torno de 70 mmHg. de baixa intensidade de treinamento com
de resistência menor que 50% de 1 RM são A pressão máxima foi fixada em 1,2 vezes o restrição vascular e 23% para o grupo de alta

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Tabela 1. Ensaios clínicos randomizados selecionados para o estudo


Score
Estudo Amostra (n) Grupo muscular Programa Avaliação Desfecho
PEDro

Fluxo sanguíneo arterial Os resultados mostraram aumentos


Um grupo realizou exercícios de
(ultrassom Doopler), lactato significativos da força isocinética e
BIO (0-100 mmHg) com carga de
sérico (amostra sanguínea), área de secção transversa muscular
Takarada 24 idosas (média de Flexores do 50% de 1 RM e o outro realizou
7 força muscular (dinamômetro (hipertrofia) do grupo que realizou
et al. (2000) idade 58 anos) cotovelo exercícios de BIS com a mesma
isocinético), área de exercícios de BIO em comparação
carga realizados 2 vezes por
secção transversa muscular com o grupo que realizou exercícios
semana durante 16 semanas
(ressonância magnética) de BIS

Performance através de 4
Um grupo realizou exercícios de
testes funcionais (reaction Não houve diferença significativa
BIO (70-150 mmHg) e o outro
time, timed up and go test, entre os grupos quanto desempenho
realizou exercícios de equilíbrio
ten-meter walking time, maxi- e equilíbrio. Já força muscular e
Yokokawa 51 idosos (idade dinâmico. O treinamento foi reali-
6 Quadríceps mum step distance), equilíbrio, taxa de GH, no grupo que realizou
et al. (2008) superior a 65 anos) zado 2 vezes por semana durante
força muscular (dinamômetro) exercícios com BIO houve aumento
8 semanas onde os idosos foram
e dosagem sérica de hormônio significativo em relação ao grupo de
designados a realizar 6 tipos de
de crescimento (GH) e lactato equilíbrio dinâmico
exercícios para os MMII
(amostra sanguínea)

Os resultados mostraram que no


44 pacientes de Um grupo realizou série de Força muscular (dinamômetro
grupo que realizou exercícios de BIO
ambos os sexos no exercícios de BIO (180 mmHg) isocinético), área de secção
Flexores e houve aumento significativo da força
Ohta et al. pós-operatório de e o outro grupo exercícios de transversa muscular (ressonân-
7 extensores do muscular e hipertrofia, porém, não
(2003) ligamento cruzado BIS, 2 vezes por dia, 6 dias por cia magnética), diâmetro da
joelho houve diferença significativa no au-
anterior (média de semana, durante 8 semanas de fibra muscular por tipo de fibra
mento do diâmetro da fibra muscular
idade 29 anos) pós-operatório do vasto lateral (biópsia)
do vasto lateral entre os dois grupos

As concentrações séricas de
fosfatase alcalina óssea, colágeno
tipo I e força muscular melhoraram
Os idosos foram divididos em
significativamente em ambos os
3 grupos: um grupo realizou Força muscular (dinamômetro
protocolos de treinamento de resis-
exercícios de BIO (40-240 mmHg), isocinético), densidade mineral
37 homens adultos tência. Portanto, apesar do uso de
Karabulut o 2º grupo realizou exercícios de óssea volumétrica (tomogra-
7 (média de idade Quadríceps carga mecânica baixa, o exercício
et al. (2011) resistência de alta intensidade e fia quantitativa periférica),
56,8 anos) de baixa intensidade com oclusão
o outro grupo foi controle. O pro- marcadores ósseos (amostra
sanguínea é uma alternativa eficaz
grama foi realizado 3 vezes por sanguínea)
comparado ao tradicional exercício
semana durante 6 semanas
resistido de alta intensidade para
melhorar a saúde óssea em homens
idosos

Um grupo realizou caminhada


em esteira com oclusão vascular
(120-200 mmHg) e o outro grupo De acordo com os resultados, o
Área de secção transversa
realizou o mesmo protocolo, grupo que realizou a caminhada
e volume muscular
porém sem oclusão vascular associado à oclusão vascular
(ressonância magnética),
(controle). O treinamento foi apresentou aumento significativo da
Ozaki et al. 18 idosas (média de força muscular (dinamometria
7 Quadríceps realizado 4 vezes por semana, área de secção transversa, volume e
(2011) idade 68 anos) isocinética), estimativa do
durante 10 semanas onde ambos força muscular em relação ao grupo
pico de VO2 máx, habilidade
os grupos realizaram 20 min de controle. Em relação ao pico de VO2
funcional (Up and go test,
caminhada na esteira em uma máx, os dois grupos apresentaram
chair-stand test)
intensidade de exercício de resultados semelhantes
45% da frequência cardíaca de
reserva (FCR)

O exercício foi realizado 3 vezes


por semana durante um período
de 8 semanas, onde o primeiro Os resultados apontaram aumento
grupo realizou o exercício sem significativo da força muscular e tra-
Força muscular e trabalho
21 jovens saudáveis oclusão (0 mmHg); o segundo balho muscular total dos grupos com
muscular total (dinamômetro
Sumide do sexo masculino grupo realizou os exercícios oclusão em relação ao grupo que
7 Quadríceps isocinético), área de
et al. (2009) (média de idade com oclusão de 50 mmHg; no não realizou oclusão. Porém, não
secção transversa muscular
22,1 anos) terceiro grupo os exercícios foram houve aumento na área de secção
(ressonância magnética)
realizados com uma pressão de transversa muscular em nenhum dos
150 mmHg e no quarto grupo os grupos
exercícios foram realizados com
uma pressão de 250 mmHg

Os indivíduos foram divididos em Os autores sugerem que a fadiga


2 grupos: um grupo de exercícios neuromuscular durante a sessão de
de BIO (120 mmHg) e o outro restrição vascular pode ser devido a
exercícios de BIS. Cada partici- uma combinação de fadiga central
14 jovens saudáveis pante realizou duas contrações Força isométrica máxima e periférica, sendo que no grupo
Karabulut do sexo masculino isométricas voluntárias máximas (dinamômetro isocinético), CON houve quedas no pico dos va-
6 Quadríceps
et al. (2010) (média de idade (CMV), antes e depois de cinco ativação muscular voluntária lores de contração, mas um aumento
23,9 anos) séries de 20 repetições com uma (eletromiografia) em VA% do pré e pós-exercício,
resistência externa dinâmica apontando que a fadiga periférica
constante durante os exercícios seria provavelmente o principal fator
de extensão da perna, sendo 20% responsável pela diminuição dos
de uma repetição máxima valores de CVM
* BIO: Baixa intensidade com oclusão; ** BIS: Baixa intensidade sem oclusão

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intensidade de treinamento de resistência, correlacionado com o pulso de oxigênio em Karabulut et al.17 investigaram os mecanis-
quando comparado ao grupo controle, o que ambos os grupos. Em conclusão, os autores mos responsáveis pela fadiga neuromuscular
indica um aumento na taxa de formação óssea relatam melhora significativa no grupo RFS durante exercícios de baixa intensidade com
e esta associada com aumento da densidade nos quesitos força e volume muscular em restrição do fluxo sanguíneo. Quatorze homens
mineral óssea (DMO). mulheres idosas. participaram de dois ensaios experimentais,
As concentrações séricas de fosfatase Sabe-se que, programas de exercícios sendo que um grupo realizou exercícios de
alcalina óssea e colágeno tipo I melhoraram são frequentemente associados a dor, baixa intensidade de resistência com restrição
em ambos os protocolos de treinamento de principalmente quando indivíduos idosos são vascular (grupo RV), e outro sem RV, sendo
resistência, favorecendo a formação óssea. submetidos a um treinamento resistido de considerado grupo controle (CON). Cada par-
Portanto, apesar do uso de carga mecânica alta intensidade (> 65% 1 RM). Porém esses ticipante realizou duas contrações isométricas
baixa, o exercício de baixa intensidade com exercícios estão relacionados com o aumento voluntárias máximas (CMV), antes e depois de
oclusão sanguínea é uma alternativa eficaz da pressão arterial sistêmica e o risco de cinco séries de 20 repetições com uma resis-
comparado ao tradicional exercício resistido lesões. Com base nesses achados, exercícios tência externa dinâmica constante durante
de alta intensidade para melhorar a saúde de baixa intensidade de resistência combinado os exercícios de extensão da perna, sendo
óssea em homens idosos, além disso, como com oclusão vascular pode ser um método útil 20% de uma repetição máxima com descanso
se trabalha com uma resistência diminuída, e seguro para reforçar a hipertrofia muscular. de 30s. O grupo RV utilizou um cinto elástico
esse fato estressa menos a articulação, Sumide et al.16 realizaram um estudo para colocado na porção proximal da coxa para
sobrecarregando-a menos e proporcionando investigar a pressão ideal de compressão restringir o fluxo sanguíneo.
os mesmos benefícios. necessária para reduzir o fluxo sanguí- Os participantes foram instruídos a rea-
Ozaki et al.1 examinaram o aumento no neo muscular durante os exercícios de lizar extensão e flexão de joelho a uma velo-
volume da coxa e força muscular através do resistência com o objetivo de ganho de força cidade constante, tendo cerca de 1,5s para
treinamento de baixa intensidade associado e resistência muscular sem causar descon- cada ação concêntrica e excêntrica. A eletro-
à restrição do fluxo sanguíneo (RFS) da perna forto aos pacientes. Vinte e um indivíduos miografia de superfície (EMG) foi utilizada
durante a caminhada, visando o ganho de foram divididos aleatoriamente em quatro para investigar os mecanismos subjacentes à
trofismo muscular em indivíduos idosos e o grupos de acordo com as diversas aplica- fadiga neuromuscular do músculo Vasto La-
aumento do volume no consumo de oxigênio ções da pressão de oclusão vascular na re- teral, antes, durante e depois de cinco séries
(VO2). Dois grupos foram formados: o primeiro gião proximal da coxa: no primeiro grupo de 20 repetições realizado a 20% 1 RM. Os
realizando caminhada com restrição do fluxo os exercícios foram realizados sem pressão autores relataram uma maior diminuição sig-
sanguíneo, formado por 10 indivíduos com (Grupo de pressão 0); no segundo grupo os nificativa em CVM (13%). Além disso, o CON
idade média de 64 anos, e o outro grupo exercícios foram realizados com uma pres- resultou em aumentos na amplitude EMG
controle composto por 8 indivíduos com ida- são de 50 mmHg (Grupo de pressão 50); no (3%) e no percentual de ativação voluntária
de média de 68 anos. Ambos realizaram 20 terceiro grupo os exercícios foram realizados (VA% = 3,5%), a condição de restrição vascu-
minutos de caminhada na esteira em uma com uma pressão de 150 mmHg (Grupo de lar causou reduções significativas nos valores
intensidade de exercício de 45% da frequência pressão 150) e no quarto grupo os exercícios de VA% do pré e pós-exercício (13% p = 0,04)
cardíaca de reserva (FCR), que foi determinada foram realizados com uma pressão de 250 e alterações do pré ao pós- exercício da am-
para cada participante através da frequência mmHg (Grupo de pressão 250). plitude EMG (12% p = 0,03). Reduções signi-
cardíaca máxima. As sessões de treinamen- Foram avaliados a força muscular ficativas na amplitude EMG e VA% no grupo
to foram realizadas quatro dias por semana, isocinética em velocidades angulares de 60° RV pode indicar uma inibição das unidades
durante 10 semanas. e 180° por segundos, a resistência muscular motoras centrais, resultando em declínio
Uma semana antes do início do estu- e a área de secção transversal dos múscu- adicional da capacidade de geração de força
do, a velocidade da caminhada foi ajustada los extensores dos joelhos. O exercício foi após exercícios de RV. Os autores sugerem
para cada participante durante um teste de realizado três vezes por semana durante um que a fadiga neuromuscular durante a sessão
caminhada submáxima, e a carga de exercí- período de oito semanas a uma intensidade de RV pode ser devido a uma combinação
cio de cada participante foi determinada e de cerca de 20% de uma repetição máxima ao de fadiga central e periférica, sendo que no
manteve-se constante durante todo o período levantar a perna estendida juntamente com grupo COM houve quedas no pico dos valores
de treinamento. O grupo com RFS usava adução do quadril. de contração, mas um aumento em VA% do
cintos de pressão (160-200 mmHg) em ambas Um aumento significativo na força de 180° pré e pós-exercício, apontando que a fadiga
as pernas durante o treino e o manguito de por segundos foi observado após o exercício periférica seria provavelmente o principal
pressão de ar foi liberado imediatamente após em todos os indivíduos associado à oclusão vas- fator responsável pela diminuição dos valores
a realização da sessão. Após o fim do treina- cular. O trabalho muscular também aumentou de CVM.
mento, foi realizada ressonância magnética da significativamente nos exercícios dos grupos de Frente a tais estudos encontrados na
coxa para avaliar se houve aumento da área pressão de 50 mmHg e 150 mmHg (p < 0,05; literatura, sugere-se que a oclusão parcial
de secção transversa (3,1%, p < 0,01) e volume p < 0,01). Não houve aumento significativo na isquêmica pode se tornar um importante
muscular (3,7%, p < 0,01), bem como a força área transversal do músculo extensor do joelho recurso no ganho de força muscular. Quando
isométrica (5,9%, p < 0,05) isocinética (acima em nenhum grupo. Em conclusão, o exercício pensamos em um treino de força sem so-
de 22% p < 0,05). Houve também aumento resistido associado com oclusão vascular e a brecarregar a articulação, esse ganho parece
da força no grupo RFS, mas não no grupo pressão relativamente baixa são potencialmen- ser impossível, mas quando fazemos uso da
controle. O pico de VO2 estimado durante te úteis para aumentar a força muscular e resis- isquemia, onde o músculo trabalha entre 20
teste ergométrico aumentou (p < 0,05) e foi tência sem causar desconforto. e 30% de sua resistência máxima e os mesmos

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Efeitos da oclusão vascular parcial no ganho de força muscular

7. Loenneke JP, Wilson GJ, Wilson JM. A mechanistic


resultados de um treino de fortalecimento com oclusão sanguínea é uma alternativa
approach to blood flow. Int J Sports Med.
convencional são encontrados, essa se torna eficaz na indução de hipertrofia muscular, 2010;31(1):1-4.
uma alternativa promissora no trabalho de sendo vista como uma nova possibilidade de 8. Yasuda T, Abe T, Brechue WF, Iida H, Takano H, Meguro
reabilitação dos pacientes. tratamento, utilizada não só na reabilitação K, et al. Venous blood gas and metabolite response to
Outro fato importante é que o fortaleci- pós-operatória, mas também como programa low-intensity muscle contractions with external limb
compression. Metabolism. 2010;59(10):1510-9.
mento isquêmico vem se mostrando eficaz na de treinamento físico orientado para jovens,
9. Ohta H, Kurosawa H, Ikeda H, Iwase Y, Satou N,
reabilitação dos pacientes no que diz respeito atletas e idosos saudáveis. No entanto, apesar Nakamura S. Low-load resistance muscular training
ao ganho de força e trofismo muscular, en- de ser um método útil e seguro para ganho de with moderate restriction of blood flow after anterior
tretanto, vários problemas permanecem sem volume e força muscular, há a necessidade de cruciate ligament reconstruction. Acta Orthop Scand.
explicação, como dor e desconforto durante o realizar mais estudos, pois vários pontos ain- 2003;74(1):62-8.
10. Laurentino G, Ugrinowitsch C, Aihara AY, Fernandes
treinamento e os possíveis efeitos sobre a cir- da permanecem sem explicação, como dor e
AR, Parcell AC, Ricard M, et al. Effects of strength
culação, incluindo trombose e edema, o que desconforto durante o treinamento devido ao training and vascular occlusion. Int J Sports Med.
exige maior atenção durante a execução de manguito e os possíveis efeitos sobre a circu- 2008;29(8):664-7.
tais exercícios.9 lação devido à oclusão, incluindo trombose e 11. Herbert RD, Gabriel M. Effects of stretching before
O fato de limitarmos as pesquisas apenas edema, sendo necessária uma maior atenção and after exercising on muscle soreness and risk of
injury: systematic review. BMJ. 2002;325(7362):468.
à língua inglesa e apenas em três bases de quanto à segurança desse treinamento.
12. Maher CG, Sherrington C, Herbert RD, Moseley AM,
dados caracteriza um viés no presente estudo, Elkins M. Reliability of the PEDro scale for rating
entretanto, ressaltamos que fizemos essa es- quality of randomized controlled trials. Phys Ther.
colha por acharmos que a língua inglesa é a REFERÊNCIAS 2003;83(8):713-21.
aquela onde atualmente temos um maior 13. Takarada Y, Takazawa H, Sato Y, Takebayashi S, Tanaka
Y, Ishii N. Effects of resistance exercise combined with
numero de publicações de pesquisadores de 1. Ozaki H, Sakamaki M, Yasuda T, Fujita S, Ogasawara
R, Sugaya M, et al. Increases in thigh muscle volume moderate vascular occlusion on muscular function in
diferentes países e as bases de dados que humans. J Appl Physiol. 2000;88(6):2097-106.
and strength by walking training with leg blood flow
escolhemos são aquelas que julgamos como reduction in older participantes. J Gerontol Abiol Sci 14. Yokokawa Y, Hongo M, Urayama H, Nishimura T, Kai
mais importantes dentro da área da saúde. Med Sci. 2011;66A(3):257-63. I. Effects of low-intensity resistance exercise with
Outro fator que deve ser analisado com 2. Yasuda T, Brechue WF, Fujita T, Shirakawa J, Sato Y, vascular occlusion on physical function in healthy
elderly people. Biosci Trends. 2008;2(3):117-23.
bastante cautela é o fato de termos encontrado Abe T. Muscle activation during low-intensity muscle
contractions with restricted blood flow. J Sports Sci. 15. Karabulut M, Bemben DA, Sherk VD, Anderson
nos estudos selecionados uma grande varieda- MA, Abe T, Bemben MG. Effects of high-intensity
2009;27(5):479-89.
de de amostra (indivíduos idosos, jovens, pes- 3. Wernbom M, Augustsson J, Raastad T. Ischemic resistance training and low-intensity resistance
soas saudáveis e pessoas acometidas), o que strength training: a low-load alternative to heavy training with vascular restriction on bone markers in
faz com que haja uma necessidade de rigorosa resistance exercise? Scand J Med Sci Sports. older men. Eur J Appl Physiol. 2011;111(8):1659-67.
16. Sumide T, Sakuraba K, Sawaki K, Ohmura H, Tamura Y.
avaliação metodológica desses estudos, ava- 2008;18(4):401-16.
4. Rooney KJ, Herbert RD, Balnave RJ. Fatigue Effect of resistance exercise training combined with
liando também os seus resultados, antes de ex- relatively low vascular occlusion. J Sci Med Sport.
contributes to the strength training stimulus. Med Sci
trapolarmos tais achados para a nossa prática Sports Exerc. 1994;26(9):1160-64. 2009;12(1):107-12.
clínica, uma vez que a resposta fisiológica de 5. Schott J, McCully K, Rutherford OM. The role of 17. Karabulut M, Cramer JT, Abe T, Sato Y, Bemben
cada grupo se dá de forma diferente. metabolites in strength training. II. Short versus long MG. Neuromuscular fatigue following low-intensity
isometric contractions. Eur J Appl Physiol Occup dynamic exercise with externally applied vascular
Physiol. 1995;71(4):337-41. restriction. J Electromyogr Kinesiol. 2010;20(3):440-7.

CONCLUSÃO 6. Fujita S, Abe T, Drummond MJ, Cadenas JG, Dreyer


HC, Sato Y, et al. Blood flow restriction during
low-intensity resistance exercise increases S6K1
Através do presente estudo podemos phosphorylation and muscle protein synthesis. J Appl
concluir que o exercício de baixa intensidade Physiol. 2007;103(3):903-10.

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