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DATA – 31/10/16
AULA – 06
Sumário
Atenção: a coordenação do Supremo concedeu mais uma aula ao professor Christiano Gonzaga,
que será ministrada no dia 21/11/16 (aula 07/07).
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14
(catorze) anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que,
por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática
do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
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Nos termos do artigo 217-A são vulneráveis os menores de 14 anos, os doentes mentais e
os indivíduos que, por qualquer causa, apresentem incapacidade de resistir.
Em relação ao doente mental, a presunção de violência não é absoluta. Deve ser realizada
perícia para verificar a capacidade de consentimento da vítima. Se o doente mental for capaz de
consentir não estará configurado o estupro de vulnerável. Isso ocorre, pois, o Código Internacional
de Doenças (CID) prevê inúmeras doenças mentais que não retiram a capacidade do seu
portador. Ex: autismo. Ademais, a liberdade sexual não pode ser retirada do doente mental.
O estupro de vulnerável cometido contra aquele que por qualquer outra causa está
impossibilitado de oferecer resistência, diz respeito a qualquer situação em que haja
impossibilidade de manifestação do consentimento por motivos alheios à doença mental e à
menoridade. Nesta hipótese a vítima é capaz, entretanto, por qualquer outra causa, está
temporariamente incapacitada de consentir com o ato sexual. Ex: embriaguez total, coma
alcoólico, coma induzido.
O STJ entende que a prática de qualquer ato libidinoso consuma o delito de estupro de
vulnerável (art. 217-A). Este entendimento está consubstanciado no informativo 533 do STJ.
Vejamos:
É cabível a aplicação do erro de tipo (art. 20, CP) ao crime de estupro de vulnerável. O
erro se trata da falsa percepção ou representação da realidade, o falso conhecimento de um
elemento do tipo. Ele será possível no crime de estupro de vulnerável quando o agente
desconhecer a elementar constitutiva do tipo “menor de 14 anos”. Desta forma, o agente maior
de idade que mantém relações sexuais consensuais com pessoa de 13 anos que diz ter 17 e
apresenta características físicas compatíveis tal idade, incorre em erro de tipo.
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5. Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual (art. 228, CP)
Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual,
facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone: (Redação dada pela Lei nº 12.015,
de 2009)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
Quem incorre no crime do artigo 228 é o cafetão. Se prostituir não é crime, entretanto,
induzir ou atrair alguém à prostituição é crime de favorecimento da prostituição ou outra forma de
exploração sexual.
ATENÇÃO: se a pessoa induzida a se prostituir for menor de 18 anos o crime praticado será o de
favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente
ou de vulnerável (art. 218-B, CP). Aquele que mantém relação sexual com a prostituta maior de 14
e menor de 18 anos também incorre no crime do artigo 218-B. Quem mantém relação sexual com
o menor de 14 anos responderá pelo crime de estupro de vulnerável (art. 217-A). O dono da casa
de prostituição ou cafetão continuará respondendo pelo crime do artigo 218-B.
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra
exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou
gerente: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.
Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou
fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Rufião é aquele que participa diretamente dos lucros da prostituição ou é sustentado pela
mulher que se prostitui.
Ele não induz a prática da prostituição, apenas participa dos lucros ou é sustentado pelo
dinheiro proveniente da prostituição.
Em relação aos crimes previstos nos arts. 227 a 230 do CP há um conflito entre os
princípios da adequação social e da legalidade.
Conforme a doutrina majoritária, os crimes destes artigos não devem mais ser
denunciados pois, são crimes aceitos pelos costumes sociais. Para a doutrina, há ausência de
tipicidade material.
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Art. 229 do CP e princípio da adequação social – não compete ao órgão julgador
descriminalizar conduta tipificada formal e materialmente pela legislação penal. Com esse
entendimento, a 1ª Turma indeferiu habeas corpus impetrado em favor de condenados
pela prática do crime descrito na antiga redação do art. 229 do CP [“Manter, por conta
própria ou de terceiro, casa de prostituição ou lugar destinado a encontros para fim
libidinoso, haja ou não intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente: Pena
- reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.”]. A defesa sustentava que, de acordo com
os princípios da fragmentariedade e da adequação social, a conduta perpetrada seria
materialmente atípica, visto que, conforme alegado, o caráter criminoso do fato estaria
superado, por força dos costumes. Aduziu-se, inicialmente, que os bens jurídicos
protegidos pela norma em questão seriam relevantes, razão pela qual imprescindível a
tutela penal. Ademais, destacou-se que a alteração legislativa promovida pela Lei
12.015/2009 teria mantido a tipicidade da conduta imputada aos pacientes. Por fim,
afirmou-se que caberia somente ao legislador o papel de revogar ou modificar a lei penal
em vigor, de modo que inaplicável o princípio da adequação social ao caso. HC
104467/RS, rel. Min. Cármen Lúcia, 8.2.2011. (HC-104467)
8. Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual (art. 231, CP)
Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha
a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá
exercê-la no estrangeiro. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
O artigo 231 será integralmente revogado pelo artigo 149-A da Lei 13.344/16. Por
enquanto a lei ainda está em prazo de vacatio legis, entretanto, a partir do dia 19 de novembro de
2016 entrará em vigor.
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A nova lei tipifica o tráfico de pessoas de forma mais abrangente que o artigo 231. Ela
dispõe sobre o tráfico não só para fins sexuais, mas também para fins de trabalho escravo, tráfico
de órgãos, adoção ilegal, etc.
Atenção: a Lei 13.344 revogará parcialmente o artigo 149-A do CP. O crime de redução a
condição análoga à de escravo subsistirá apenas em relação ao trabalho escravo cometido dentro
do território nacional. Ao trabalho escravo internacional será aplicada a Lei 13.344.
O único crime que não admite aplicação do artigo 286 é o crime de instigação ao suicídio,
no qual o agente responderá por crime específico, qual seja, artigo 122 do CP.
Nos termos deste artigo, constitui crime fazer apologia pública à fato criminoso.
Conforme entendimento do STF, a marcha da maconha não constitui crime desde que não
haja o uso efetivo da droga. Esse é o entendimento consubstanciado no informativo 631 do STF.
Vejamos:
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Liberdades fundamentais e “Marcha da Maconha” – 3: No mérito, ressaltou-se, de início,
que o presente feito não teria por objetivo discutir eventuais propriedades terapêuticas ou
supostas virtudes medicinais ou possíveis efeitos benéficos resultantes da utilização de
drogas ou de qualquer outra substância entorpecente. Destacou-se estar em jogo a
proteção às liberdades individuais de reunião e de manifestação do pensamento. Em
passo seguinte, assinalou-se que a liberdade de reunião, enquanto direito-meio, seria
instrumento viabilizador da liberdade de expressão e qualificar-se-ia como elemento apto a
propiciar a ativa participação da sociedade civil na vida política do Estado. A praça pública,
desse modo, desde que respeitado o direto de reunião, passaria a ser o espaço, por
excelência, para o debate. E, nesse sentido, salientou-se que esta Corte, há muito, firmara
compromisso com a preservação da integridade das liberdades fundamentais contra o
arbítrio do Estado. Realçou-se que a reunião, para merecer a proteção constitucional,
deveria ser pacífica, ou seja, sem armas, violência ou incitação ao ódio ou à discriminação.
Ademais, essa liberdade seria constituída por 5 elementos: pessoal, temporal, intencional,
espacial e formal. Ponderou-se que, embora esse direito possa ser restringido em períodos
de crise institucional, ao Estado não seria permitido, em período de normalidade, inibir
essa garantia, frustrar-lhe os objetivos ou inviabilizá-la com medidas restritivas.
ADPF 187/DF, rel. Min. Celso de Mello, 15.6.2011. (ADPF-187)
Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer
crimes: (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se
houver a participação de criança ou adolescente.
A redação do crime de associação criminosa foi dada pela Lei nº 12.850, de 2013.
Conforme exposto, a Lei 12.850 exigiu a reunião de um número menor de pessoas para a
consumação deste crime e, portanto, é uma lei prejudicial ao réu que não pode retroagir para
alcançar fatos anteriores à sua vigência.
O crime do artigo 288 é um crime permanente, ou seja, sua consumação perdura no tempo
e, portanto, pode haver flagrante a qualquer tempo.
É possível cumular o crime do artigo 121, §2º, I com o 288 do CP, já que os bens jurídicos
tutelados são diversos (vida e paz pública).
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Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer
crimes: (Redação dada pela Lei nº 12.850, de 2013)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Também é possível cumular o artigo 288, §único com o crime do artigo 157, §2º, I e II, já
que o crime de associação criminosa tutela a paz pública e o crime de roubo tutela o patrimônio.
Dessa forma, é possível somar as penas.
Art. 288, parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou
se houver a participação de criança ou adolescente.
Aos crimes societários cuja sociedade possua objeto lícito, entretanto os sócios também
pratiquem atividades criminosas não é possível aplicar o artigo 288.
O artigo 288 prevê que constitui crime de associação criminosa “associarem-se 3 (três) ou
mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes”. Desta forma, o STF entende que as
sociedades que pratiquem atividades lícitas e atividades criminosas não podem ser enquadradas
no crime do artigo 288, pois elas não possuem “fim específico de cometer crimes”. Para que
esteja configurado o crime de associação criminosa a finalidade da associação deve ser
exclusivamente criminosa. Esse é o entendimento manifestado no informativo 645 do STF.
Vejamos:
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Atenção: Art. 288, CP X Art. 1º ao 3º, Lei 12.850 X Art. 8º, Lei 8.072/90 X Art. 35, Lei 11.343
Art. 288, CP Art. 1º ao 3º, Lei 12.850 Art. 8º, Lei 8.072/90 Art. 35, Lei 11.343 (Lei
(associação criminosa) (Lei de Organização (Lei de Crimes de Drogas)
Criminosa) Hediondos)
Prevê a associação para Prevê a associação para Prevê a associação para Prevê a associação para
a prática de crimes prática de crimes cuja a prática de crimes a prática do crime de
comuns. pena máxima seja hediondos e tortura tráfico de drogas.
superior a 4 anos.
Obs: embora o tráfico seja crime equiparado a hediondo, aplica-se a lei 11.343, pois é lei
específica.
*Informativo 690, STF: no que concerne ao crime de lavagem de dinheiro (Lei 9.613/98,
art. 1º, V e VI), aludido no item VI.3 (c.2) da denúncia, no total de 7 operações,
estabeleceu-se a reprimenda em 4 anos, 3 meses e 24 dias de reclusão, acrescida de 160
dias-multa, na quantia já mencionada. Vencida a Min. Rosa Weber, que condenava o
acusado a 2 anos, 9 meses e 10 dias de reclusão. Sinalizava a ocorrência de 4 delitos de
lavagem e, em consequência, aplicava o aumento de 1/4 pela continuidade delitiva. Os
Ministros Revisor e Marco Aurélio não participaram da votação. Afastou-se o
reconhecimento da agravante prevista no art. 62, III, do CP, aplicada pelos Ministros
Relator e Celso de Mello. Por outro lado, admitiu-se a delação premiada (Lei 9.807/99: “Art.
14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o
processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime, na
localização da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no
caso de condenação, terá pena reduzida de um a dois terços”) para fins de redução da
pena, à exceção do Revisor. O Min. Luiz Fux distinguiu a delação do instituto da confissão.
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Assinalou que a confissão seria pro domo sua, ou seja, quem o faria teria ciência da
obtenção de atenuação da pena. Já a delação seria pro populo, em favor da sociedade,
porquanto a colaboração serviria para todo e qualquer delito, de modo a beneficiar a
coletividade. AP 470/MG, rel. Min. Joaquim Barbosa, 26 e 28.11.2012. (AP-470)
Tudo que foi estudado para o artigo 288 será aplicado ao 288-A.
A crítica do professor em relação a este artigo é a previsão de que somente haverá crime
de constituição de milícia privada quando os agentes constituírem, organizarem, integrarem,
mantiverem ou custearem milícia que tenha a finalidade de “praticar qualquer dos crimes
previstos neste Código”.
Nos termos deste artigo, a constituição de milícia para a prática de crimes previstos em leis
especiais não configura o crime do artigo 288-A.
É crime formal, ou seja, para sua consumação basta a falsificação. Colocar a moeda em
circulação é o fato mais grave que não precisa se consumar para configuração do crime do 289.
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O crime de moeda falsa é um crime mutilado de dois atos.
Crime mutilado é aquele cujo resultado não é necessário para sua configuração. É
sinônimo de crime formal. O crime mutilado de 01 (um) ato é aquele cujo primeiro ato é crime,
mas o segundo é um indiferente penal. Ex: extorção mediante sequestro (artigo 159, CP). O ato
de sequestrar constitui crime (artigo 148, CP), entretanto o resgate em si é um indiferente penal.
O crime mutilado de dois atos é aquele cujo primeiro ato é crime e o segundo também.
Este é o caso do crime em estudo, no qual tanto o ato de falsificar quanto o ato circular a moeda
falsa é crime.
O agente que pratica o ato de falsificar e circular a moeda comete crime único. O ato de
colocar a moeda em circulação é o pós-fato impunível (exaurimento do crime).
Art. 291 - Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou gratuito, possuir ou guardar
maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente destinado à
falsificação de moeda:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.
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Falsificação de documento particular
Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento
particular verdadeiro:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.
Falsificação de cartão
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o
cartão de crédito ou débito.
Falsidade ideológica
Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar,
ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o
fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente
relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um
a três anos, e multa, se o documento é particular.
Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do
cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se a
pena de sexta parte.
Conforme visto nos artigos 297, 298 e 299, a falsidade documental pode ser material ou
ideológica. Vejamos:
Falsidade material (arts. 297 e 298, CP) Falsidade ideológica (art. 299, CP)
Se o documento for público aplica-se o artigo 297; Sendo o documento público ou privado o agente
se o documento for particular aplica-se o 298 do CP. incorrerá no crime do artigo 299 do CP.
Obs: tanto o cheque emitido, por exemplo, pelo
Bradesco quanto pela Caixa Econômica são
documentos públicos. Cartões bancários são
sempre documentos particulares.
Se o agente falsifica documento público ou privado Se o agente falsifica documento público ou privado
com o intuito de obter vantagem, o agente com o intuito de obter vantagem, o agente
responderá apenas pelo crime de estelionato (art. responderá apenas pelo crime de estelionato (art.
171, CP) – súmula 17, STJ – princípio da 171, CP) – súmula 17, STJ – princípio da
consunção. consunção.
A falsidade material, em regra, admite somente a A falsidade ideológica pode ser cometida na
modalidade comissiva, salvo na hipótese do §4º do modalidade omissiva.
art. 297, CP.
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