Você está na página 1de 3

CONCEITO NORMATIVO – SOCIAL DE AÇÃO

Commented [MOU1]: Para FIGUEIREDO DIAS:

- o conceito de ação perde autonomia e


capacidade para se arvorar em pedra-base do
sistema, não sendo algo de previamente dado ao
Para Taipa de Carvalho, o conceito normativo-social da conduta ou comportamento tipo mas apenas um elemento que a par de
outros é integrante do cerne dos tipos de ilícito.

humano que compreende tanto a ação como a omissão é um conceito pré-jurídico - assinala ao conceito de ação o desempenho de
um papel secundário no sistema teleológico,
que desempenha adequadamente as funções negativa de exclusão e positiva de correspondendo a uma função de delimitação ou
função negativa de excluir da tipicidade
ligação, sendo portanto o conceito base de toda e qualquer modalidade de crime comportamentos jurídico penalmente
irrelevantes;
(ativo, omissivo, doloso ou negligente) suscetível das qualificações jurídico-penais da
- a primazia deve ser ao invés conferida ao
tipicidade, ilicitude e culpa. conceito de realização típica do ilícito e à
função por ele desempenhada na construção
Este autor defende que só pode servir e ser assumido como conceito base da teoria teleológica do facto punível.

geral do crime um conceito de ação que desempenhe simultaneamente uma função Para Figueiredo Dias na linha de Jescheck, para

negativa ou de exclusão, isto é, o conceito de ação deve poder funcionar como critério
se chegar, o que não se chega para ele, a um
conceito geral de ação o mesmo deve cumprir as
funções de classificação ( o conceito tem de ser
de exclusão dos factos que devam ser considerados jurídico penalmente irrelevantes, um tal que assuma o caráter de conceito
superior abrangendo todas as formas possíveis
não podendo ser objeto de uma valoração jurídico-penal e não podendo ser de aparecimento do comportamento punível e
representando o elemento comum a todas elas;
tipificados legalmente (estão neste caso as meras decisões interiores, os atos reflexos, uma função de definição e ligação, ele tem de
possuir capacidade de abranger todas as
os atos executados em absoluta inconsciência e os atos realizados sob força predicações posteriores (ação típica. Ilícita,
culposa e punível) possuindo em si o mínimo de
irresistível), ao que acresce uma função positiva ou de ligação a qual se traduz no facto substância ou materialidade indispensáveis a
suportar essas predicações posteriores sem

de o conceito de ação se assumir como denominador comum de todo e qualquer um


todavia as pré – determinar, ou seja, sem
antecipar o significado material específico que
anima cada uma delas. Por último, uma função
dos crimes da parte especial do CP e da legislação avulsa e que ao ter um sentido que de delimitação, o conceito tem de permitir que
logo se excluam todos os comportamentos que
embora pré-jurídico, seja comum tanto aos tipos de crime dolosos como aos tipos de ab initio e independentemente das predicações
posteriores não podem nem devem constituir
crime negligentes, tanto aos tipos de crime ativos como aos tipos de crime omissivos. acções relevantes para o direito penal e para a
construção dogmática do conceito do facto
Para T.C. só realiza esta dupla função o conceito normativo-social de ação ou conduta punível (acontecimentos naturais ou
comportamentos de animais, meras cogitações
humana. A sociedade não considera relevantes não valorando negativamente, os atos ou pensamentos, atos reflexos).

que são absolutamente incontroláveis pela vontade humana, tal como não censura os
atos praticados pelos animais ou os danos causados por fenómenos naturais, apenas
lamenta seus eventuais resultados socialmente nocivos e procura remediá-los e
prevenir a sua repetição.
O que é absolutamente incontrolável pela vontade humana não é objeto da norma
jurídica de determinação, não podendo ser objeto da norma jurídico-penal.
A incapacidade absoluta de ação exclui a reprovação social da omissão e uma vez
excluída fica excluída a reprovação jurídica em geral e em especial da omissão.
O mesmo se aplica aos casos de ações absolutamente incontroláveis pela vontade
como os puros atos reflexos, os atos praticados em estado de inconsciência (v.g. Commented [MOU2]: Para Figueiredo Dias:

sonambulismo) e os atos sob coação absoluta ou força irresistível (vis phisica absoluta).
- Nos crimes de omissão, o conceito social de
ação falha, já que a ação esperada só o é através
de uma imposição jurídica de ação que nasce do
Tanto nas omissões como nestas “ações” trata-se de atos de homem e não de atos tipo e daí que o conceito social de ação que
pretenda englobar também a omissão perderia a
humanos dado que não estamos diante de comportamentos humanos. sua função de ligação na medida em que
também aqui se operaria a sua pré-tipicidade.
O princípio da adequação social também é um argumento a favor da relevância e
- para este autor, o conceito social de ação
prestabilidade do conceito normativo-social de ação ou conduta humana e ele visa perde a sua neutralidade e o seu caráter prévio
e autónomo perante a doutrina da tipicidade
demonstrar que é pressuposto mínimo da tipificação jurídico penal (da tipicidade) a não cumprindo a sua função de ligação no caso
de ao nível da ação geral só poder relevar como

inadequação social da conduta (ativa ou omissiva) isto é, a sua reprovação social. Ou


critério de imputação do resultado à conduta, a
doutrina das condições equivalentes, mas uma
tal doutrina deve ser recusada por estranha à
seja, não podem ser consideradas como abrangidas pela norma penal e não podem realidade da vida. Torna-se necessário
fazer intervir critérios mais apertados de
ser qualificadas como típicas as condutas (ações ou omissões) que não tenham imputação que só podem provir do âmbito e do
fim de proteção da norma incriminadora e
relevância social negativa. assim da ordenação jurídico penal dos tipos não
de uma qualquer ordenação extra jurídica
Este conceito social de ação em sentido amplo ( o qual abrange também a omissão) mesmo que esta seja a ordenação social.

é aplicável a qualquer modalidade de crime (ação, omissão, doloso ou negligente) e


cumpre a função positiva ou de ligação que se exige a um conceito pré jurídico de
ação para que possa ser considerado e assumido como conceito básico da construção
categorial da infracção penal ou crime.
A inadequação social da conduta é pressuposto e denominador comum da
qualificação tipificação jurídico penal de toda e qualquer conduta e realiza portanto a
função positiva ou de ligação .
O princípio político-criminal da exigência da dignidade penal vai no sentido da Commented [MOU3]: Para Taipa de Carvalho, o
tipo legal nem é autónomo ou desvinculado do

relevância do conceito social da ação. A tipificação legal de uma conduta pressupõe


conceito pré-jurídico social de ação nem é uma
mera expressão ou mostração do ilícito. É sim
condicionado pelo critério ético-normativo-
uma valoração social negativa. A decisão legislativa criadora do tipo legal apenas vai social da reprovação da ação ou conduta
humana.
selecionar de entre as condutas negativamente relevantes isto é socialmente O tipo legal pressupõe não apenas a dignidade
penal do bem jurídico e da respetiva conduta
inadequadas, aquelas que em função da importância do bem jurídico e da gravidade que o lesa ou põe em perigo mas também a
necessidade penal, donde resulta que a decisão
da modalidade da conduta devem ser tipificadas criminalmente. legislativa criadora do tipo legal é co
constitutiva do ilícito penal.
A afirmação de Figueiredo Dias de que a primazia cabe ao tipo legal negando-se Não basta a ilicitude in se de uma conduta é
necessária ainda a decisão legislativo-

qualquer autonomia e consistência ao conceito normativo-social de ação parece a


tipificadora da conduta.
O tipo legal não é apenas a ratio cognoscendi da
ilicitude penal nem é a ratio essendi da
Taipa de Carvalho, que pode gerar o equívoco de se aceitar um conceito positivista- ilicitude, mas é coconstitutivo do ilícito penal.
Não partilha das afirmações de F. Dias que o
legalista de crime. tipo desempenha apenas uma função de
garantia individual do cidadão ou de que o tipo
legal é um posterius relativamente ao ilícito ou
de que o tipo se reduz à mera tipicização ou
mostração do ilícito.

Você também pode gostar