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SISTEMA EDUCACIONAL BRASILEIRO: uma análise sócio-histórica1

RESUMO Eraldo Francisco Barbosa Costa2

O processo de construção da sociedade brasileira sempre foi apresentado de um ponto de


vista que negava a participação ativa das camadas populares constituídas em sua maioria de
índios, negros e seus descendentes, nesse processo eles foram as principais vítimas dessas falsas
doutrinas3. Teóricos como Gilberto Freire e Raimundo Nina Rodrigues, sem negar as suas
contribuições em termos descritivos, cunharam falsas ideias sobre os negros, principalmente, com
relação ao seu comportamento durante o longo período de escravidão, doutrinas estas, reforçadas
nos currículos e nas práticas escolares.
Palavras-chaves: Conhecimento; Escola; Professor.

The construction process of the Brazilian society was always presented from a point of
view which denied the active participation of the popular classes consist mostly of Indians, blacks
and their descendants in the process they were the main victims of these false doctrines. Theorists
such as Gilberto Freire and Raimundo Nina Rodrigues, without denying their contributions in
descriptive terms, coined false ideas about blacks, especially with regard to their behavior during
the long period of slavery, these doctrines, reinforced in the curriculum and school practices.
Keywords: Knowledge, School, Teacher.

1. INTRODUÇÃO

No Brasil desde a década de 1960 o movimento negro, fomenta cada vez mais o debate
sobre a origem e persistência do racismo. (Moore; 2003, pag. 24). Na mesma esteira os estudos
sobre as desigualdades sociorraciais feitos por organizações internacionais, como (ONU) assim
como os estudos do (IBGE) e o (IPEIA) vieram reafirmar o que os intelectuais negros dos anos de
1930 formularam.

Nesse sistema de dominação, os não europeus, (outros) foram sistematicamente


segregados e tratados como inferiores, uma ideologia que serviu como legitimação da escravidão,

1
Trabalho apresentado à disciplina Psicologia da Educação para obtenção de nota.
2
Graduando do 9º período do curso de Ciências Sociais na universidade Federal do Maranhão UFMA.
3
Segundo Nina Rodrigues a inferioridade do negro e das raças não brancas seria fenômeno de ordem
natural, produto da macha desigual do desenvolvimento filogenético. Para Gilberto Freire os negros
escravizados aceiram de forma passiva a sua condição.
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da exploração e da marginalização. Essa violência no Brasil provocou e ainda vem provocando em


negros e índios uma representação social negativa sobre si mesmo. A escola, os materiais
pedagógicos, as representações que professores/as, funcionários, colegas, têm do seu outro não
assemelhado, podem contribuir, em grande parte, para a internalização de estigmas, preconceitos,
juízos, que vão formar no indivíduo uma percepção negativa de si, do seu grupo e dos seus
valores, bem como o preconceito, a discriminação e a exclusão no grupo dele diferenciado.
Partindo de que o Sistema Educacional brasileiro é incapaz dar conta das diferentes
realidades sociais e econômicas, existentes em nosso contexto, numa perspectiva de superação das
mesmas e tendo como pano de fundo a condição social do negro, buscaremos de maneira não
aprofundada, uma reflexão sobre a realidade educacional no país, diante forte crença de que a
educação formal que um estudante recebe é um benefício para ele e sua família, além de ser um
fator indispensável para o desenvolvimento de sua qualidade de vida e do próprio país. Do ponto
de vista teórico buscaremos as contribuições de Émile Durkheim e Lev Vygotsky.

2. POPULAÇÃO NEGRA E APRENDIZAGEM

No Brasil, segundo a Fundação Getulio Vargas, 51% da população é formada por


negras e negros. No entanto, as informações levantadas para o banco de dados4 mostram que,
apesar dos avanços, ainda existe uma grande desigualdade no país. Exemplo disso é que as
negras (os) representam apenas 20% dos brasileiros que ganham mais de dez salários mínimos.
A população negra também representa apenas 20% dos brasileiros que chegam a fazer pós-
graduação no país.

De acordo com o quadro está sendo montado, com base em dados da PNAD (Pesquisa
Nacional de Amostragem Domiciliar), 13% dos negros com idade a partir de 15 anos ainda são
analfabetos. Somando todas as raças, o total de pessoas que não sabem ler nem escrever no País
chega a 10% da população. O maior percentual de analfabetismo entre a população negra está
registrado no Nordeste, 21%. Depois vêm o Norte e o Sul, abaixo da média, cada um com 10%,
seguidos da região Centro Oeste, 9% e do Sudeste, com 8%.

Esses estudos mostram também que, maior concentração de negros analfabetos por
faixa etária está registrada a partir de 65 anos: 45% desse grupo em todo o País. No Nordeste
esse percentual se agrava e 57% da população negra com idade a partir de 65 não sabem ler nem

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A Secretaria de Assuntos Estratégicos - SAE, em parceria com a Faculdade Zumbi dos Palmares, com a Secretaria
de Políticas de Promoção da Igualdade Racional e a Fundação Getúlio Vargas deram inicio na produção do primeiro
banco de dados nacional sobre a população negra no Brasil. Disponível em: http://www.sae.gov.br/site/?p=11130
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escrever. Nas outras regiões as taxas são menores do que a registrada no Nordeste e ainda assim
podemos considerá-las elevadas. No Centro-Oeste, 43% da população negra com idade a partir
de 65 anos são analfabetos. No Norte, 42%, no Sul, 39% e no Sudeste 33%.

Considerando todos os segmentos raciais, no total do País, 31% das pessoas com 65
anos ou mais são analfabetos, incluídos aí os que se declaram negros. A maior concentração está
no Nordeste, onde 51% das pessoas nessa faixa etária não sabem ler nem escrever. Entre os mais
jovens, com idade que vai de 15 a 29 anos, as taxas de analfabetismo na população negra caem
consideravelmente. Fica em 6% no Nordeste, 2% no Norte, no Centro Oeste e na Região Sul e
1% no Sudeste. Na soma do país, 3% dos negros com idade de 15 a 29 anos não sabem ler nem
escrever. Na faixa de 30 a 64 anos o percentual sobe para 15%.

A partir da análise A Lei n.º 2040 de 28 de setembro de 1871 poderemos a ampliar o


entendimento acerca desses dados iniciais da pesquisa. Também conhecida como lei do Ventre
Livre quando promulgada não representou nenhuma mudança significativa na situação de vida
dos escravos, tendo em vista a libertação lenta e gradual. Isto incluía a situação de vida daqueles
que a lei fizera nascer livres.

Segundo Lauro Cornélio da Rocha aponta em sua dissertação Nenhuma medida fora
tomada para possibilitar a educação das crianças livres, sobre esse assunto são esclarecedoras as
palavras do deputado André Augusto de Pádua Fleury, no discurso de 10 de maio de 1882,
insuspeito de tendências abolicionistas afirmou. (Apud. ROCHA 1999, pag. 111)

“Não deve ser objeto de nossas reflexões a posição desses menores desprotegidos cujo número
aumenta todos os dias, que aí crescem sem educação intelectual, religiosa ou profissional, entre seus
pais escravos, e a sociedade, que os declarou livres, a eles, pobres órfãos; mas não os prepara para
um dia ocuparem a posição que lhes compete, esquecer a injúria que recebem na violência mantida
contra aqueles que o nascimento?” O advento da - que supostamente beneficiava os escravos -
contentou apenas a minoria intelectualizada. Afinal, para eles, o país entrava na era de humanidade e
civilização.

Consequências da forma marginal como foi tratada população negra ao longo da sua
história no Brasil pode ser percebida nas diversas esferas da vida, hoje em dia, salvo algumas
exceções, é que em todas as esferas da vida social. Na educação estudos mostram que estudantes
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negras (os) têm, em média, menor rendimento de aprendizado em relação a estudantes brancas
(os); e quanto mais alto o patamar econômico, maior a diferença entre essas (es) estudantes5.
O antropólogo Kabengele Munanga destaca que além da tardia inclusão das negras e
negros no sistema escolar a importância dos livros didáticos com conteúdos textuais e imagéticos
que muitas depreciam as negras e negros como ferramenta fundamental de formação de
estudantes – negras (os) ou não – e as relações no ambiente escolar. Munanga afirma que “o
preconceito incutido na cabeça do professor e sua incapacidade em lidar profissionalmente com a
diversidade, somando-se ao conteúdo preconceituoso dos livros e materiais didáticos e às
relações preconceituosas entre alunos de diferentes ascendências étnico-raciais, sociais e outras,
desestimulam o aluno negro e prejudicam seu aprendizado”.

3. VYGOTSKY E A ZDP

Para Durkheim, através da educação as crianças aprendem comportamentos, modos de


sentir, valores, representações (lenda, mitos, concepções religiosas, crenças morais, etc.) e
conceitos dos membros dos grupos dos quais participam. Pela educação os fatos exteriores ao
indivíduo precisam ser por ele internalizados desde a infância para que ele possa crescer em
sociedade. Durkheim aponta que os conteúdos escolares que devem ser transmitidos nas escolas,
de modo a assegurar as mudanças necessárias em uma sociedade em crise. No contexto
educacional brasileiro onde livros e matérias didáticos representam em grande medida formas de
pensar a realidade brasileira como homogenia. Considerando que o processo de aprendizagem
não acontece apenas na escola, a relação aluno-aluno, professor aluno é fator importante para
uma proposta educacional transformadora.
Para Vygotsky a construção do conhecimento se dará coletivamente, sendo assim a
relação aluno-aluno deve ser levada em consideração, cabendo ao docente formar, junto dos
colegas, um conjunto de mediadores da cultura. Para o pensador o desenvolvimento intelectual é
conceituado em dois níveis: um real e outro potencial. O real é aquele que já foi consolidado, ou
seja, o indivíduo já possui habilidade e competência suficiente para desempenhá-lo. Já o
potencial é formado pelos conhecimentos não aprendidos, mas que possuem uma grande
proximidade de aprendizado, sendo necessária, apenas, uma pequena ajuda externa para a sua
consolidação.

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Dados levantados pelo Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb), entre 1995 e 2001.
Ensino Básico (Saeb), entre 1995 e
5

Com base na distância entre o nível real e o potencial, Vygotsky desenvolveu um de


seus principais conceitos, a ZDP (Zona de Desenvolvimento Proximal). Segundo ele a distância
entre o nível de desenvolvimento que se costuma determinar através da solução independente de
problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinando através da solução de
problemas sob a orientação de um adulto ou de companheiros mais capazes. (Apud. ARAÚJO,
2012).
Dessa forma esse conceito aponta para o papel fundamental do professor na
aprendizagem, pois traz a perspectiva da busca do conhecimento, diferente da busca de respostas
corretas. Para a construção de novos conhecimentos será preciso a ajuda do professor e também
a interação com outros colegas, pois assim a Zona de Desenvolvimento Proximal será
favorecida. (Apud. ARAÚJO, 2012). Esse fato justifica a exigência de uma nova perspectiva do
professor para com os alunos. Para Vygotsky isso acontece quando os professores usam o bom
senso na preparação de suas aulas.

4. CONCLUSÕES

Do mesmo modo que a situação atual não se estabeleceu do dia para a noite, sua
superação não acontecerá num piscar de olhos. Embora haja carência de resultados palpáveis, o
primeiro passo foi dado há mais de três décadas com a nova Lei das Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, (LDB) que oferece as educadoras e educadores possibilidades de adequação
do currículo em função de enfoques educativos mais voltados para a formação humana, dos
conteúdos às necessidades dos seus alunos.
Sendo o Brasil um país de realidades tão diversas, é inevitável que tenha também
escolas muito diferentes e mesmo classes muito heterogêneas numa mesma escola. Respeitar
essas especificidades deve fazer parte das rotinas das escolas e das educadoras e educadores.
Nesse sentido, é necessário chamar a atenção para qualificação de professoras e professores, pois
a educação na era da informação não pode mais se fechar num único parâmetro curricular.
Novas propostas de ensino, baseadas na busca coletiva do saber e na possibilidade do
aluno fazer a própria construção do conhecimento. O segundo veio com a Lei 10.639/2003 e
11.645/2008. Tornando obrigatório no Ensino Básico a história afro-brasileira e indígena
resgatando suas contribuições na formação de nossa sociedade.
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REFERÊNCIAS:

BOURDIEU, Pierre e PASSERON, Jean-Claude, "A reprodução. Elementos para uma


teoria do sistema de ensino", Lisboa, 1970
DURKHEIM, Emile. A evolução pedagógica. Trad. Bruno Charles Magne. Porto Alegre, 1995.
FERNANDES, Florestan. Educação e sociedade no Brasil. São Paulo: Dominus Editora;
Editora da Universidade de São Paulo, 1986.
VYGOTSKY, L. S. (1998) A formação Social da Mente. São Paulo: Martins
Fontes. (Psicologia e Pedagogia).
Cotas Raciais: por que sim? / uma publicação do Ibase. – 3.ed. –Rio de Janeiro : Ibase, 2008.
Outras Referências:
ARAÚJO, Diego Rocha Braga de. A Importância da Interação entre Professor e Aluno
na Graduação. Monografia apresentada à Faculdade Candido Mendes. Rio de
Janeiro. 2012. Disponível em: http://www.slideshare.net/DiegoRBAraujo/a-importncia-da-interao-
entre-professor-e-aluno-na-graduao.
ROCHA L. Cornélio da. A EXCLUSÃO DO NEGRO - 1850-1888: UMA
INTERPRETAÇÃO HISTÓRICA DAS LEIS ABOLICIONISTAS: dissertação apresentada à
Universidade de São Paulo, 1999. Disponível em: http://www.slideshare.net/culturaafro/a-excluso-
do-negro-1850-1888

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