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Na faculdade de teologia, no meio de tantos autores bons, muitos dos meus colegas

preferiam ler Augusto Cury – que nem teólogo é, mas tinha uma coleção de livros
chamada “Análise da inteligência de Cristo”. Teologicamente fraco demais, mas a
galera gostava. Fazer o quê?

Na faculdade de Direito, o que eu mais via era gente falando de Capez. Era o querido da
maioria. Eu nunca gostei. E nem estou dizendo isso só porque ele foi denunciado pelo
crime de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ou porque ele é do PSDB. Não.
Nunca gostei porque ele é ruim mesmo!

Queria entender o prazer que esse povo tem por literatura ruim. Deviam seguir o
conselho do Schopenhauer:

“A arte de não ler é muito importante. Consiste em não sentir interesse algum por aquilo que está a atrair a

atenção do público numa determinada altura. Quando um panfleto político ou eclesiástico, um romance ou um

poema estão a causar grande sensação, não devemos esquecer-nos de que quem escreve para tolos tem sempre

grande público. Uma condição prévia para ler bons livros é não ler os maus: a nossa vida é curta.”

Os livros do Capez são horríveis, pois não passam de compilação. É um amontoado de


coisas que outros já disseram. Nem dá para chamar o Capez de doutrinador, pois, dado
o perfil compilatório das obras, fica difícil saber o que ele acha das coisas.
Entretanto, falemos do Fernando Capez, o deputado

Depois de ter ido às ruas vestido de camisa amarela, protestar contra a corrupção, pedir
o impeachment de uma presidente legítima e sem ter cometido crime, eis que o
deputado foi denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

E então, como fica? Vamos relativizar a presunção de inocência agora, porque o


importante é tirar logo os corruptos de circulação? Está vendo aí como é complicado
levantar uma bandeira hoje que amanhã não tem condição de sustentar? Minha avó era
sábia: “quem tem teto de vidro não pode jogar pedra na casa do vizinho…”

O Capez é dono de um projeto que visa acabar com festa Open Bar. Segundo ele –
tomado por seu (falso) moralismo – é ruim para a sociedade ter festas onde o álcool é
liberado. Deveria se preocupar com a merenda de pessoas pobres que ele, supostamente,
desviava. Segundo a denúncia, a lei do Capez era: “quanto menos propina, menos
merenda”. Deixa o Open Bar em paz, Capez!
Enfim! No mais, só um desejo: que ele não seja julgado conforme as coisas que escreve
e fala. Que tenha, muito embora tenha demonstrado desgosto, direito à ampla defesa e
ao contraditório.
Então, o que a denúncia contra o Fernando Capez nos ensina? Que hipocrisia não
compensa e que a máscara dura pouco. E que o direito que a gente quer arrancar do
nosso inimigo hoje, amanhã não existirá para nós.

E muito embora ele seja da turma do “condenar sem devido processo legal”, e tenha
vestido camisa amarela para tirar a Dilma do poder e pedido a condenação do Lula, não
vou chamá-lo, agora, de ladrão de merenda!

Wagner Francesco é bacharel em Teologia e Direito.

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