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novembro 24, 2010juliomorenoblogDeixe um comentário

O mundo moderno é metropolitano. É com essa frase curta, mas convincente, que o governador eleito Geraldo
Alckmin justifica sua intenção de criar um organismo estadualque se dedique às três regiões metropolitanas do
estado – Grande São Paulo, Baixada Santista e Grande Campinas. Elas somam um PIB de R$ 607 bilhões e
concentram cerca de 60% da população de São Paulo.

O formato do novo órgão ainda não está definido. Em sua campanha, Alckmin chegou a dar ideia de que
poderia ser uma Secretaria de Gestão e Desenvolvimento Metropolitano. Mas agora especula-se sobre outras
possibilidades. Uma seria um órgão específico dentro da Secretaria de Planejamento para traçar as políticas
para as metrópoles; outra, a formação de um comitê e uma secretaria executiva, com a participação direta de
todos os prefeitos na elaboração das políticas comuns em favor de suas regiões.

Mobilidade, saneamento e habitação são três setores vistos como prioritários. O maior avanço, porém, será a
adoção de uma visão urbanística global das metrópoles paulistas de maneira a eliminar as desigualdades e
garantir a sustentabilidade de suas cidades.

No passado, a Grande São Paulo já teve uma Secretaria dos Negócios Metropolitanos, fruto de uma política do
governo federal que fomentou a criação, pelos estados, de algumas empresas de desenvolvimento
metropolitano e órgãos de planejamento. “Eu diria que não foi feita muita coisa, mas havia algum nível de
gestão metropolitana. A partir da redemocratização do País, o pouco que existia caiu por terra, já que os
municípios ganharam muito mais autonomia”, avalia a urbanista Raquel Rolnik, consultora da ONU. No caso da
Grande São Paulo, apenas o setor de transportes continuou com uma secretaria metropolitana.

Nesse contexto, cada município cuida de seu “quintal” e problemas que exigiriam políticas mais amplas,
envolvendo ações conjuntas, só se agravam. Soluções isoladas nunca são satisfatórias e, como há
superposição de investimentos, os gastos públicos são maiores.

Precisamos ser mais unidos, seguindo a dinâmica da vida cada vez mais interdependente de nossas cidades.
Tentativas inovadoras, é certo, aconteceram. No ABC funciona há 20 anos o consórcio de municípios para tratar
de problemas comuns. A urbanista Nadia Somekh, que participou por cinco anos da Ação Regional do ABC, diz
que a experiência é exemplo a ser seguido: prefeitos de partidos diferentes trabalham em conjunto pelo
interesse comum, o desenvolvimento da região.

Em Minas, o governo estadual criou uma agência de desenvolvimento para articular as ações públicas na região
metropolitana de Belo Horizonte, mas suas ações são incipientes.

O que Alckmin se propõe a fazer é algo mais ousado, por articular secretarias estaduais e prefeituras de três
regiões metropolitanas, não só a da Capital. A obra, porém, estará incompleta se não se cuidar também da
macrometrópole São Paulo-Rio, que provoca a contínua conurbação das cidades do Vale do Paraíba.

Essa é uma tarefa que o governo federal deveria assumir, no âmbito de um Plano Nacional de Desenvolvimento
Urbano que sistematize a governabilidade de nossas metrópoles. O que a presidente eleita Dilma Roussef pensa
disso é uma incógnita.

Júlio Moreno
(Publicado no “Diário do Comércio”, de São Paulo, em 19 de novembro de 2010 e em “O Diário de Mogi” de 24
de novembro de 2010))

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