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Introdução
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Mestranda em Educação pela FAED/UFGD, na linha de pesquisa em Políticas e Gestão da Educação.
Email: verônica@uems.br. Fone: 0xx67-3426-3284
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Vicentini e Lugli (2009) retratam que as bancas de seleção eram compostas por
representantes do poder central, e ninguém podia lecionar para o ensino público ou
privado sem a obtenção dessas aprovações por essas bancas. A falta de interesses de
professores portugueses de deslocarem-se para o Brasil e também de pessoas habilitadas
no Brasil, fez com que fossem atribuídas aulas a professores substitutos brasileiros que
já no século XVIII, eram a maioria.
No século XIX, houve mudanças nos critérios de seleção, principalmente
quanto aos aspectos morais. Antes era exigido apenas um documento do pároco local ou
do juiz de paz que comprovasse boas condições morais dos candidatos. Nesse século,
houve denúncias de má qualidade dos professores selecionados, uma vez que conheciam
apenas superficialmente o conteúdo apresentado que deveriam ensinar. Nos concursos
de seleção, apresentavam-se pessoas que mal sabiam ler e escrever. Os candidatos
tratavam de aprender com os professores régios, os quais lhes forneciam o certificado de
aprendizagem, o mínimo para concorrer perante a banca: algum conhecimento de
gramática, aritmética e geometria. A banca era composta por esses mesmos professores
que ensinavam, sendo assim, a aprovação era praticamente certa. (VICENTINI e
LUGLI 2009).
No limiar do século XX, por volta de 1930, houve alteração nos processos de
seleção para os professores, tornando-se mais profissional, sem os apadrinhamentos,
havendo uma grande diminuição das forças políticas locais nos processos de nomeação
e seleção para as vagas do magistério. Nessa época, o início da carreira docente deveria
ocorrer em uma escola rural, e após um ano de exercício nessa região, o professor
poderia se candidatar a uma vaga em escolas urbanas, grupos escolares, ou mesmo na
capital. As escolas de difícil acesso eram assumidas por professores leigos. Até o final
de 1960, os concursos eram realizados por cadeiras, ao invés de vagas por disciplinas.
Muitas vezes, as aulas aconteciam na própria casa do professor ou em um
cômodo alugado por ele com seu salário. Na época de colheitas, plantio e seca, era
comum os alunos abandonarem a aula, ocasionando uma grande dificuldade para manter
as escolas em funcionamento, uma vez que havia um número mínimo de aluno para que
a escola funcionasse e dessa forma, o professor ficar empregado.
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Vicentini e Lugli (2009) retratam que uma das maneiras de medir o nível de
satisfação salarial é de acordo com os movimentos de grupo de professores por
melhores salários, como também nos momentos de escassa procura pela profissão.
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docente, uma vez que as verbas vinham direcionadas para o pagamento salarial dos
professores.
Visando à qualidade de ensino principalmente na Educação Básica, e com ênfase
na valorização e formação docente, foi apresentado pelo MEC em abril de 2007, através
do Decreto n° 6.094/2007, o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), um
compromisso do Plano de Metas Compromisso Todos Pela Educação. De maneira geral,
foram lançadas 28 metas, entre elas a criação do FUNDEB (Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação),
instituído através da Lei Nº 11.494, de 20 de Junho de 2007, substituindo o FUNDEF. O
FUNDEB terá a duração de 14 anos (2006-2019), com o intuito de atender aos alunos
da educação infantil, do ensino fundamental e médio e da educação de jovens e adultos.
O FUNDEB é um recurso federal repassado mensalmente para as prefeituras do país e
destina-se 80% de seus recursos para a valorização dos professores e dos demais
profissionais da educação. Nesse plano, constam como propostas de urgência, a
valorização docente, com a ampliação do acesso dos educadores às Universidades
Públicas, e a criação de um piso salarial nacional dos professores, a ser regulamentado
por lei específica.
Em 2008, através da Lei Nº. 11.738, foi instituído o piso salarial profissional
nacional (PSPN) para os profissionais do magistério público da Educação Básica. Sua
aprovação representou uma profunda alteração na política salarial dos professores, pois
até então, cada estado e município, além do Distrito Federal e da própria União,
tratavam a questão com autonomia, ocasionando em milhares de valores diferenciados
pagos aos docentes de todo o Brasil.
A lei citada acima fixa o pagamento de um salário mínimo de 950 reais para
professores com diploma de Ensino Médio, na modalidade normal e uma carga horária
de 40 horas semanais; estabelece que 1/3 da carga horária do trabalho do professor seja
destinado para o planejamento das aulas. Governadores de cinco estados brasileiros
recorreram ao Supremo Tribunal Federal – STF através de uma ADIN (Ação Direta de
Inconstitucionalidade) contra a lei, alegando inconstitucionalidade, e o STF atendeu
parcialmente a reivindicação, mantendo o piso e suspendendo a parte da lei que trata da
questão da carga horária. Os ministros alegaram que, ao determinar a carga horária
destinada ao planejamento das atividades de sala de aula, a lei invade uma competência
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dos estados e municípios para tratar de carga horária. A ADIN ainda não foi julgada
pelo STF, e é motivo de muitos governadores e prefeitos não terem implantado em
muitos estados o Piso.
Muitos municípios alegam não poderem arcar com o valor do Piso Nacional, e
por isso a Lei nº 11.738 tem uma regra de transição que os autorizava a pagar até dois
terços do piso nacional, em 2009, obrigando-os, no entanto, a pagar o salário mínimo
completo dos docentes (piso nacional) a partir de 2010. Para os municípios que não
conseguem ter fundos para o pagamento do piso, a Lei prevê que a União deverá fazer
uma complementação orçamentária.
Piso é um valor abaixo do qual não poderão ser estabelecidos vencimentos
iniciais de carreira. Portanto, um referencial de reconhecimento profissional. “Em
qualquer lugar do Brasil, a proposta é de que haja um patamar de valorização salarial
semelhante a tantos já obtidos por diversas categorias, a exemplo dos militares” [...].
“Portanto, a questão de mérito é exatamente esta: o Piso implica reconhecimento da
profissão” (Vieira, 2007, p.38).
Na pesquisa intitulada “Professores do Brasil: Impasses e Desafios”, publicado
pela Unesco em 2009, Gatti e Barreto retratam a dimensão da importância cultural e
política dos professores. Segundo esses autores, os professores se encarregam dos
processos de socialização e de formação cada vez mais prolongados por intermédio da
escolaridade. Afirmam também que a carreira e os salários dos docentes da educação
básica não são atraentes nem recompensadores e sua formação está longe de atender às
necessidades e exigências feitas às escolas e seus profissionais e que, em termos de
salário, a profissão docente está entre as menos valorizadas, pois a profissão não é
atrativa, não dá oportunidade de ascensão social e cultural (Gatti; Barreto, 2009). O
salário não é determinante da valorização do professor. Mas ele expressa, simboliza,
manifesta como que um grau de valorização. E o “sustenta materialmente”
(MONLEVADE, 2000, p.269).
De acordo com Abicalil (2007), a baixa remuneração da profissão docente,
principalmente da educação básica, faz com que os docentes procurem outros ramos de
atividades, ocasionando o déficit de professores do ensino médio, e também a grande
quantidade de abandono dos cursos de licenciatura.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
______. Lei Nº. 11.738, de 16 de Julho de 2008. Regulamenta e Institui o Piso Salarial
Profissional Nacional para os profissionais do magistério público da educação básica. 2008
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11738.htm. Acesso
em 20 out 2010.
MONLEVADE, João Antonio Cabral de. Valorização salarial dos professores: o papel do
piso salarial profissional nacional como instrumento de valorização dos professores da educação
pública básica. 307 p. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Estadual de Campinas,
Campinas – São Paulo. 2000.
OLIVEIRA, Dalila Andrade. El trabajo docente y la nuvea regulación em América Latina. In:
Políticas educativas y trabajo docente: nuevas regulaciones, nuevos sujetos? p. 17-32. Buenos
Aires: Ediciones Novedades Educativas, 2006.
OLIVEIRA, Dalila Andrade. Las reformas educacionales y sus repercusiones sobre el trabajo
docente. In: Políticas Educativas y trabajo docente em América Latina. Fondo Editorial,
2008b, p. 19-54.
VICENTINI, Paula Perin; LUGLI, Rosario Genta. História da profissão docente no Brasil:
representações em disputa. São Paulo: Cortez, 2009.
VIEIRA, Juçara Dutra. Piso Salarial Nacional dos Educadores: dois séculos de atraso.
Brasília: (s.n.), 2007.