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Seminário IV – Imunidade e normas gerais de Direito Tributário

Aluno: Luis Eduardo de Santana Vicente

1. Que é imunidade tributária? Diferençar imunidade, isenção, não-incidência e incidência tributária. O


conceito de imunidade tributária pode ser aplicável às taxas e às contribuições de melhoria?
Atualmente, pela doutrina majoritária, o conceito de imunidade tributária é previsto como uma
limitação ao poder de tributar, porém, esta mera definição não se basta, pelo contrário, ela se faz de forma
superficial e defasada. Orientado por Paulo de Barros, a imunidade tributária seria uma classe de normas
finitas constitucionais que estabelecem a incompetência das pessoas políticas de direito constitucional interno
para instituir tributos que possam alcançar as situações ali previstas.
A imunidade, a priori, pode-se dizer que está prevista na Constituição Federal, ademais, é regra de
estrutura, em luz da previsão constitucional, irradia seus efeitos, sua consequência mediata, em forma da não-
incidência tributária, mas imediata pela previsão do Texto Supremo de impedir o exercício da competência
tributária dos entes federados.
A isenção encontra-se no território infraconstitucional, sendo exercitada pelo poder de tributar,
atuando como normas que reduzem o campo de abrangência dos critérios de hipótese ou da consequência da
regra matriz do tributo.
A não-incidência está relacionada na não-tributação por falta de disposição legal, ou seja, não ocorre
enquadramento da conduta em nenhuma norma tributária.
A ocorrência da incidência tributária se dará no mundo dos fatos quando aquilo que fora previsto de
forma abstrata em lei, em todos os aspectos necessários à ocorrência do fato gerador do tributo.
Quanto a aplicação do conceito de imunidade tributária perante às taxas e às contribuições de
melhorias, sim, ele pode ser aplicado, visto que a Constituição Federal não se limita apenas aos impostos.
Importante salientar que não existe na Carta Magna, implícita ou explicitamente, a disposição da
inaplicabilidade da imunidade às taxas e contribuições de melhoria, confirmando ao que foi exposto, se
observa no art. 5º XXXIV, LXXIII, LXXVI, “a” e “b” da CONSTITUIÇÃO FEDERAL, referentes ao direito
do cidadão a obtenção de certidões em repartições públicas, o direito de petição, gratuidade da ação popular, e
registro civil de casamento e certidão de óbito, sem o pagamento de taxas.

2. As imunidades são cláusulas pétreas na Constituição Federal? Uma Emenda Constitucional pode
revogar alguma das imunidades dispostas na Carta Magna? As normas constitucionais que veiculam
imunidades são autoaplicáveis ou dependem de regulamentação infraconstitucional?
As imunidades tributárias devem ser compreendidas como uma garantia individual do contribuinte,
relacionando-se aos direitos fundamentais do cidadão, sendo assim ela é considerada como uma cláusula
pétrea.
O art. 60, §4°, IV da CONSTITUIÇÃO FEDERAL, dispõe que não será objeto de deliberação a
proposta de emenda tendente a abolir, os direitos e garantias individuais, considerado que as imunidades são
vistas como direitos fundamentais, as cláusulas pétreas não podem ser objeto de deliberação de emenda
constitucional.
As normas que dispunham sobre imunidades denotam autoaplicabilidade, com exceção, para
havendo no próprio dispositivo constitucional, de forma expressa, a necessidade de regulamentação, devendo
esta ser feita por instrumento normativo de Lei Complementar.

3. Na sua opinião, são imunes: (a) quanto ao ISS: os serviços de guarda e estacionamento de veículos
automotores prestados por entidades religiosas (vide anexos I e II); (b) quanto ao IPTU: o imóvel
destinado à locação, pertencente à mesma entidade (vide anexo III); e os cemitérios particulares (vide
Anexo IV); (c) quanto ao ITR: as áreas de reserva indígena (vide STF, Petição n. 3388, DJ 04/02/2014);
(d) os serviços prestados por empresas públicas, p. ex.: Correios, Infraero e Casa da Moeda (vide
anexos V, VI e VII) e (e) as sociedades de economia mista prestadoras de serviço público (vide anexo
VIII). Justifique sua resposta.
(a) A imunidade que abrange as entidades religiosas deve atentar-se exclusivamente as atividades
essenciais e serviços relacionados, a imunidade está relacionada a atividade consagrada pelo legislador, no
caso a exploração de serviços de guarda e estacionamento de veículos automotores foge da seara principal de
atuação de uma entidade religiosa, denotando um aspecto econômico, sendo, portanto, inaplicável a
imunidade tributária, devendo haver a incidência do ISS, contudo, existe uma posição contrária no qual
destaca que caso os serviços automotores prestados pelas entidades religiosas destinem à atividade-fim da
entidade, haveria, portanto, imunidade. Conforme o entendimento jurisprudencial colacionado nos Anexos I e
II, verifica-se que em caso da eventual renda obtida pela instituição de assistência social mediante cobrança de
estacionamento, for destinada ao custeio das atividades desta, estará abrangida pela imunidade. Portanto, em
minha opinião, caso haja o intuito de lucro, deverá ocorrer a incidência do ISS, com a não imunidade
tributária, porém, caso haja apenas o interesse na manutenção da entidade religiosa, deverá estar imune.
(b) Respondendo relacionado à resposta anterior “(a)”, em caso do imóvel destinado a locação,
pertencente à mesma entidade, estar relacionado às finalidades essenciais da instituição religiosa, obtendo
rendas para a sua própria manutenção, deverá incidir a imunidade tributária, conforme decisões jurisdicionais
já pacificadas pelo STF, a exemplo o Anexo III.
Quando à questão do cemitério possuir imunidade tributária ou não, é cristalino informar que na
presente questão, o cemitério é particular, sendo o contribuinte pessoa física ou jurídica, proprietária de
terrenos urbanos, que possivelmente possui fins lucrativos, desta forma, não tendo qualquer ligação com
alguma entidade religiosa, não haverá a imunidade tributária.
(c) As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios são bens da União, porém, os índios têm a
posse permanente, a título de usufruto especial, sendo essas terras inalienáveis e indisponíveis, e os direitos
sobre elas imprescritíveis, conforme disposto nos arts. 20, XI e 231, §§ 2º e 4º, da CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. Por fim, essas áreas são imunes do ITR. Cabe à União, por intermédio da FUNAI, declarar essas
áreas para efeito do ITR, pois a imunidade não elide o cumprimento de obrigação acessória, assim, ordenada a
existência de Reserva Indígena por meio de Decreto Federal, não se vê maiores formalidades a possibilitar a
desconstituição do lançamento de ITR.
(d) As empresas públicas prestadoras de serviço público distinguem-se das que exercem atividade
econômica. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos é prestadora de serviço público de prestação
obrigatória e exclusiva do Estado, motivo pelo qual está abrangida pela imunidade tributária recíproca,
disposta no art. 150, VI, a, da CONSTITUIÇÃO FEDERAL. Conforme a decisão prevista no anexo V.
Quanto à Infraero, ela é empresa pública, e executa como atividade fim, em regime de monopólio,
serviços de infraestrutura aeroportuária constitucionalmente outorgados à União Federal, qualificando-se, em
razão de sua específica destinação institucional, como entidade delegatária dos serviços públicos a que se
refere o art. 21, XII, c, da Lei Fundamental, o que exclui essa empresa governamental, em matéria de
impostos, por efeito da imunidade tributária recíproca, também prevista no art. 150, VI, a, da
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, do poder de tributar dos entes políticos em geral. Em consonância com a
decisão do anexo VII.
Por fim, a Casa da Moeda, também faz jus a imunidade, visto que é organizada sob a forma de
empresa pública, portanto, tem o seu patrimônio, rendas e serviços excluídos, em matéria de impostos, do
poder de tributar dos entes políticos em geral, pois a Casa da Moeda do Brasil presta típico serviço público
cuja execução submete-se, constitucionalmente, a regime de monopólio. Sendo, desta forma, o regime de sua
atividade o de Direito Público, está incluído, dentre outras prerrogativas, o direito à imunidade fiscal, em
consonância com a decisão prevista no anexo VI.
(e) Pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a imunidade tributária prevista no art. 150, VI,
a, da Constituição Federal, alça as sociedades de economia mista delegatárias de serviços públicos que não
atuem em ambiente concorrencial. Com razão, é forçoso reconhecer que a imunidade tributária em questão
alcança as sociedades de economia mista quando exercentes das atividades públicas retro referidas. Embora
sujeitas ao regime de direito privado, as sociedades de economia mista sofrem influxos do direito público e
quando exercentes de tais atividades públicas devem gozar de todos os privilégios e prerrogativas atribuíveis a
entidades estatais centralizadas.
4. Como deve ser interpretado o disposto no art. 150, VI, “d” da CONSTITUIÇÃO FEDERAL: “livro,
jornais e periódicos e o papel destinado a sua impressão”. Pode-se dizer que livros e periódicos
eletrônicos, bem como o material utilizado para sua produção são imunes com fundamento neste
dispositivo? (vide anexos IX, X e XI). E quanto aos insumos e equipamentos utilizados na produção de
livros e periódicos impressos em papel?
O art. 150, inc. VI, d , da Constituição Federal, prevê imunidade objetiva, vez que alcança
determinados bens ou meios materiais, em comento, o livro, o jornal, o periódico e o papel, que viabilizam a
disseminação de valores ponderados de grande valia pela Constituição. A imunidade prevista no artigo
destacado acima tem o condão de preservar e incentivar a livre manifestação de pensamento e de expressão
artística, cultural e científica, e o acesso irrestrito à informação e à comunicação.
Em razão do sentido finalístico que deve repousar sobre a imunidade do livro, do jornal e do
periódico, os livros e periódicos eletrônicos devem estar abrangidos pela imunidade do art. 150, VI, d, da
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, vez que a interpretação da norma constitucional tem o condão de assegurar a
máxima efetividade, ademais, a sua interpretação é extensiva.
Por fim, com base na jurisprudência já pacificada, O Ministro Relator Carlos Madeira, destacou que
o livro, como objeto da imunidade tributária, não é apenas o produto acabado, mas o conjunto de serviços que
o realiza, desde a redação, até a revisão da obra, sem restrição dos valores que o formam e que a Constituição
protege. Ou seja, a edificação jurisprudencial deu-se no sentido de interpretar amplamente a imunidade, de
modo a que salvaguardou valores especiais e essenciais ao Estado Democrático de Direito, como a livre
manifestação do pensamento, o amplo acesso à cultura.

5. No caso da imunidade para as instituições de assistência social sem fins lucrativos, o cumprimento do
art. 14 do CTN é suficiente para garantir a sua aplicação ou ainda é necessária a comprovação do
caráter assistencial e filantrópico previsto no art. 203 da CONSTITUIÇÃO FEDERAL/88? É possível
que Lei Ordinária garanta sua aplicação? (Vide anexo XII).
As instituições de assistência social sem fins lucrativos devem atender aos requisitos do artigo 14 do
CTN, para assim garantir a sua aplicação, observado de que o art. 150, VI, c, § 4º da Constituição Federal,
também trata sobre o tema, o qual, dispõe que a vedação à instituição de impostos sobre o patrimônio, a renda
e os serviços relacionados com as finalidades essenciais nelas mencionadas. Estas que tem por objetivo
garantir os direitos sociais designados no art. 6º, da Constituição Federal, os quais: a educação, a saúde, a
alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados.
Sendo assim, é notório pela majoritária doutrina que a assistência social deverá ser prestada a todos
que necessitarem e de forma gratuita, garantindo os requisitos da generalidade e gratuidade, requisitos estes
para as instituições que ensejam o benefício da imunidade tributária. Na via de concordância deste
posicionamento, a jurisprudência do STF, delimita que o art. 203, da Constituição Federal, pode ter
interpretação extensiva, sendo possível incluir como objetos de assistência social, os setores de educação e
saúde. Portanto, o dispositivo do art. 203, da Constituição Federal, evidencia os objetivos da assistência social
que, uma vez atendidos, estarão, por consequência, promovendo os direitos sociais do art. 6º, da Constituição
Federal, desde que sem fins lucrativos, e garantindo a imunidade tributária.
Quanto a aplicabilidade da imunidade por via de Lei Ordinária, vejo como inconstitucional, visto
que a imunidade por se tratar de uma limitação ao poder de tributar, tais requisitos devem ser fixados apenas
por Lei Complementar, nos termos do art. 146, II, da Constituição Federal, tal qual está disposto que cabe à
Lei Complementar regular as limitações constitucionais ao poder de tributar. A jurisprudência do Anexo XII
entende pelos mesmos argumentos destacados acima.

6. Explicar as diferenças entre as correntes dicotômica e tricotômica na aplicação das normas gerais de
direito tributário. Precisar o sentido da expressão “normas gerais de direito tributário”, diferenciando
Lei Complementar nacional e Lei Complementar federal.
A corrente dicotômica que restringe a amplitude das normas gerais àquelas que dispõem sobre
conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios,
bem como àquelas que regulam as limitações constitucionais ao poder de tributar. A corrente
tricotômica considera que para a Lei Complementar cabem as três funções elencadas nos incisos do artigo
146, da Constituição Federal, obedecendo a uma interpretação literal, porém não consegue de forma concisa
definir o que sejam as normas gerais, deixando, portanto, para a União Federal, a quem cabe elaborar as leis
complementares, uma grande margem de intervenção no domínio sobre o qual outras pessoas políticas tem
competência.
Seguindo a orientação do mestre Paulo de Barros Carvalho, as normas gerais em matéria tributária
consistem nas que dispõem sobre conflitos de competência entre as entidades tributantes e também as que
regulam as limitações constitucionais ao poder de tributar, concluindo ser essa a única forma de interpretar o
dispositivo e ao mesmo tempo prestigiarmos a Federação, a autonômica dos Municípios e o princípio da
isonomia das pessoas políticas de direito constitucional interno. Quanto a diferenciação entre as leis
complementares, a Lei Complementar nacional dispõe sobre matéria que deverá ser observada por todos os
entes políticos, a exemplo, art. 146, da Constituição Federal, enquanto que a Lei Complementar federal, trata
de um assunto referente à União Federal, apenas, a exemplo, art. 148, da Constituição Federal.

7. O art. 146, inciso III, da CF, autoriza a lei complementar a definir os fatos geradores, bases de
cálculo e contribuintes dos impostos já discriminados na Constituição? Isso não violaria o princípio da
autonomia das pessoas políticas?
O art. 146, III, da Constituição Federal, para a corrente dicotômica, está autorizada a Lei
Complementar a definir fatos geradores, base de cálculo, e contribuinte para dispor sobre conflito de
competência e limite ao poder de tributar. Quanto a corrente tricotômica, esta autoriza a Lei Complementar
para os casos já descritos no art. 146, III, a, da Constituição Federal.
O artigo 146, da Constituição Federal, que prescreve a produção de lei complementar para introduzir
as normas gerais de direito tributário, é um caso de lei nacional. A referida norma não pode trespassar a
competência dos entes políticos, de maneira que transgrida a sua própria autonomia. Vez que, observa-se a
necessidade da interpretação do art. 146, da Constituição Federal, estar em ordem e obediência aos princípios
constitucionais, tendo como referência o princípio da autonomia dos entes políticos, em razão do pacto
federativo.
As competências dos entes políticos estão previstas na Constituição Federal, não podendo haver
qualquer alteração das competências por normas infraconstitucionais. Mesmo se houver alguma mudança de
competência por meio de Emenda constitucional, ainda sim tal alteração somente será constitucional se não
existir supressão de autonomia de nenhum dos entes políticos

Data de entrega: 30 de abril de 2016.

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