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A PROMULGAÇÃO DA CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE DIREITO DOS TRATADOS PELO

BRASIL E SUAS IMPLICAÇÕES NO DIREITO INTERNO

BRAZIL'S PROMULGATION OF VIENNA CONVENTION ON LAW OF TREATIES AND ITS


IMPLICATIONS FOR NATIONAL LAW

ALEPH HASSAN COSTA AMIN


Marcela Ferreira Costa

RESUMO
Este artigo possuí como objetivo analisar a promulgação da Convenção de Viena de 1969 sobre Direito dos
Tratados pelo Brasil, fato que ocorreu em dezembro de 2009. Neste sentido, faz-se um relato do cenário
histórico que envolveu a assinatura da Convenção, bem como pontua-se a importância e destaca-se os
princípios que devem nortear os acordos internacionais. Procura-se compreender o processo de
internalização de um tratado no Brasil. As reservas aos artigos 25 e 66 e seus motivos serão analisados. Por
último, pontua-se os principais reflexos no direito interno ocasionados pela promulgação, especialmente nos
tratados de bitributação que o Brasil é signatário.
PALAVRAS-CHAVES: CONVENÇÃO DE VIENA; DIREITO DOS TRATADOS; BITRIBUTAÇÃO

ABSTRACT
The objecitve of this paper is to analyze the Brasil's promulgation of Vienna Convention on Law of Treaties,
fact which occurred in December 2009. In this sense, it is discussed the historical scenario that involved the
signing of the convention, also, it is punctuated, not only, is importance but highlighted the principles should
guide the international agreements. It seeks to understand the process of internalization of a treaty in Brazil.
The reservation to articles 25 and 66 and their motives will be also analyzed. Finally, it is highlightes the main
consequences in the national law occasioned by the promulgation, especially in those treaties of double-
taxation in which Brazil is a signatory.

KEYWORDS: VIENA CONVENTION; LAW OF TREATIES; DOUBLE TAXATION

1 INTROUDUÇÃO

“No aniversário de quarenta anos da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, nada mais
auspicioso do que o chamamento do Senado Federal para analisar esse monumento de codificação do direito
das gentes. Cuida-se de um dos tratados mais importantes celebrados no período pós Segunda Guerra
Mundial”. A grande importância deste ato pode ser observado nestas palavras proferidas pelo Senador
Cristovan Buarque, relator do Projeto de Decreto Legislativo nº 384/2009 (nº 214/92 nas Câmara dos
Deputados), as quais iniciam seu parecer favorável a promulgação da Convenção de Viena de 1969 sobre
Direito dos Tratados pelo Brasil.

Assim, a Convenção de Viena de 1969 sobre Direito dos Tratados pode ser considerada como um divisor de
águas no processo de elaboração dos tratados, já que positivou normas costumeiras aceitas e eficazes, e
buscou harmonizar os procedimentos de elaboração, ratificação, denúncia e extinção desses atos jurídicos
internacionais (ALCOFORADO, 2010).

Entretanto, apesar da grande importância deste tratado no direito internacional, foi apenas no dia 14 de
dezembro de 2009 que o Presidente da República, através do Decreto Nº 7.030, promulgou a Convenção de
Viena de 1969 sobre Direito do Tratados, o qual foi celebrado na cidade de Viena no dia 23 de maio de
desse ano. O projeto para sua promulgação transitava no Congresso Nacional desde 1992.

O texto convencional foi aprovado pelo Congresso Nacional através do Decreto Legislativo n° 496, de 17 de
julho de 2009. O deposito da ratificação ocorreu no dia 25 de setembro do mesmo ano perante o Secretário-
Geral das Nações Unidas em. Cabe frisar que a Convenção de Viena de 1969 encontra-se em vigor no plano
internacional desde 27 de janeiro de 1980

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 3814
Desta promulgação, que por muito tempo foi aguardado pela comunidade jurídica brasileira, decorre três
importantes efeitos: o tratado internacional é efetivamente promulgado; seu texto é publicado oficialmente e
sua executoriedade passa a vincular e a obrigar no plano do direito interno (ALCOFORADO, 2010).

Neste sentido, este artigo tem como finalidade traçar a importância da Convenção para o direito e as relações
internacionais e mensurar possíveis implicações ao ordenamento jurídico interno ocasionados pela sua
promulgação, assim como analisar as ressalvas feita pelo Congresso Nacional aos artigos 25 e 66 do tratado.

2 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A CONVEÇÃO DE VIENA DE 1969

2.1 HISTÓRICO DA CONVENÇÃO DE 1969

O direito internacional público, por muitos anos, foi essencialmente um direito costumeiro. As regras eram
de alcance geral e norteavam apenas uma restrita comunidade de nações e quase nunca se encontravam em
textos consolidados. Essas regras costumeiras eram reconhecidas com maior explicitude e eram apontadas
como obrigatórias. Este caráter costumeiro do direito internacional, demonstrava sua modéstia, já que os
tratados tinham uma posição subalterna em relação aos costumes (REZEK, 1984, p. 1).

Por esta razão, uma das prioridades, desde o início de seus trabalhos em 1949, da Comissão de Direito
Internacional (CDI) da Organização das Nações Unidas (ONU) foi inserir o Direito dos Tratados dentro de
seus temas prioritários para serem discutidos no pós-guerra (MAZZUOLI, 2009, pg.146). Assim, as
primeiras sessões da CDI daquele período foram voltadas a codificar de forma idônea a matéria relacionada
ao Direito de Tratados.

Durante dezesseis anos a Comissão de Direito Internacional (CDI) das Nações Unidas trabalhou arduamente.
Por quatro relatores, foram produzidas treze minutas. A obra foi de alguma forma facilitada pela base
consuetudinária existente sobre o assunto, bem como pelos exercícios de codificação que a antecederam,
como por exemplo o Projeto de Código de Direito Internacional Público, de 1911, de autoria do notável
Epitácio Pessoa; a Convenção de Havana, de 1928; e a minuta produzida pela Universidade de Harvard, de
1935. Percebe-se que todas essas iniciativas já indicavam a necessidade de se positivar o direito dos tratados
(REZEK, 1984, p. 16-17).

O texto final da CDI foi enviado para a Assembléia-Geral da Nações Unidas, que requereu ao Secretário-
Geral da Organização a instalação de conferência visando debatê-lo. Foram duas as sessões da Conferência
convocadas para esse fim. Ambas se realizaram — com destacado número de delegações representando mais
de 110 países — na capital austríaca, respectivamente em 1968 e 1969. A conclusão dos trabalhos da
Conferência resultou na adoção da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados em 23 de maio de
1969, com a ratificação de 32 países ao texto consolidado (REZEK, 1984, p.18).

Nesta mesma época, o Secretário-Geral da ONU, U Thant salientou a importância desse momento histórico
com as seguintes palavras: “a história certamente demonstrará que essa Convenção é uma das mais
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significativas jamais adotadas no campo do desenvolvimento progressivo e da codificação do direito
internacional”. O Brasil participou ativamente dos trabalhos da Conferência, tendo os Embaixadores Gilberto
Amado, em 1968, e Geraldo Eulálio do Nascimento e Silva, em1969, chefiado nossas delegações.

Apesar de ter sido finalizada em 1969, a Convenção só entrou em vigor no dia 27 de janeiro de 1980, data
do depósito do trigésimo-quinto instrumento de ratificação ou de adesão, requisito previsto no artigo 841.
Atualmente, ela conta com mais de cem Estados vinculados.

2.2 ESTRUTURA E PRINCÍPIOS DA CONVENÇÃO

A Convenção de Viena de 1969 é constituída de 85 artigos, oito partes e um tem um anexo incluído. O texto
resultante, contudo, não esgota o assunto. Isso é reconhecido pela própria Convenção, que dispõe em seu
preâmbulo que as regras do direito internacional costumeiro continuarão a reger as questões que não forem
reguladas em suas disposições (REZEK, 1984. p.19). Neste sentido, os tratados celebrados entre Estados e
demais sujeitos de direito internacional ou mesmo entre esses últimos, por exemplo, estão fora da
abrangência normativa da Convenção, de acordo com o que dispõe o artigo 1º2.

Dentro do seu texto, materializam-se cinco princípios, que são: livre consentimento; boa-fé; pacta sunt
servanda; rebus sic stantibus e favor contractus. Dentre este, dois princípios são considerados como mais
importantes, que são o livre consentimento e boa-fé, os quais obrigatoriamente sempre devem ser levados em
consideração pelos Estados no curso de uma relação um com o outro.

O princípio do livre consentimento encontra-se disposto no preâmbulo da Convenção. Segundo este


princípio os acordos internacionais vinculam as partes signatárias e exclusivamente elas. Assim, os Estados
não podem exigir ou criar obrigações nem direitos a Estados terceiros que não estejam envolvidos ou
vinculados a um tratado, sem o seu consentimento. Exceção a este princípio é o artigo 22, item 13, que trata
de retirada de reservas e de objeções às reservas. Outro implicação importante que pode ser deduzida a partir
do princípio do livre, é a regra lex posterior derogat legi priori. De acordo com esta regra, um tratado
posterior prevalece sobre uma anterior, quando dois tratados existentes que dizem respeito ao mesmo
objecto (artigo 304).

Bem como o livre consentimento, o princípio da boa-fé é de fundamental importância para a condução das
relações internacionais em geral e, portanto, reconhecido como um princípio internacional, segundo os
próprios termos da Convenção de Viena. Desta forma se algum Estado não agir de boa fé, a paz e a
segurança internacional, os objetivos supremos da Carta das Nações Unidas poderão, eventualmente, ser
postos em perigo.

É claro que, sendo um elemento subjetivo do comportamento, a presença ou ausência de boa-fé pode ser
difícil de provar. Entretanto, alguns acordos internacionais tentam delimitar o que seria a boa-fé, como por
exemplo uma resolução de julho de 2001 da Comissão Baleeira Internacional (CBI)5, elaborada em Londres
durante a reunião anual da organização, que diz no preâmbulo que “boa-fé exige equidade, razoabilidade,
integridade e honestidade no comportamento internacional”6.

Em relação ao princípio do pacta sunt servanda, além do fato da Convenção de Viena de 1969, em seu
preâmbulo, o listar juntamente com a boa-fé e o livre consentimento entre os princípios universalmente
reconhecidos, esta regra está também consagrada no artigo 26, com o seguinte texto: “todo tratado em vigor
obriga as partes e deve ser cumprida por elas de boa-fé."

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Neste contexto, conclui-se que um Estado não está autorizado a invocar as disposições de seu direito interno
como justificativa para a não execução de um tratado (artigo 277). De modo geral, esta ligação jurídica
mostra-se sólida, visto que não é enfraquecida nem mesmo em caso de rompimento de relações diplomáticas
entre as partes de um determinado tratado (artigo 638). O único limite para o pacta sunt servanda regra
encontra-se na noção de "norma imperativa de direito internacional geral" (ou jus cogens).

No que diz respeito ao princípio do rebus sic stantibus, tem-se que em determinadas circunstâncias
extraordinárias podem levar à extinção de um tratado. Estas circunstâncias podem consistir em uma violação
substancial de um tratado por um dos Estados (artigo 609), ou um desaparecimento definitivo de um objeto
indispensável para a execução do tratado (artigo 6110) ou em uma mudança fundamental de circunstâncias
(Artigo 6211). Uma mudança fundamental de circunstâncias também pode ocorrer no caso do início das
hostilidades entre os Estados Partes (artigo 7312).

Outra circunstância mais extraordinária prevista pela Convenção de Viena é o surgimento de "jus cogens",
ou seja, de uma nova norma imperativa de direito internacional geral. Esta circunstância é distinta daqueles
enumerados acima, pelo fato de ser de natureza normativa e não factual. A cláusula rebus sic stantibus pode
ser considerado como uma reserva implícita, geralmente afetando o consentimento expresso por um Estado
em ficar vinculado por um tratado.

Por sua vez, o princípio favor contractus expressa a preferência do direito internacional para a manutenção e
conclusão de tratados que expiraram por razões de forma. Assim, a menos que o tratado disponha
diversamente, um tratado multilateral não se extingue pelo simples fato de que o número de partes ficou
aquém do número necessário para sua entrada em vigor (artigo 5513).

A fim de manter a validade dos tratados, o artigo 68 permite às partes revogar a qualquer momento, antes
que tomem as notificações de efeitos ou instrumentos destinados a conduzir a nulidade, mesmo que isso seja
feito apenas em relação a uma única parte.

O princípio favor contractus pode ser encontrada no artigo 74, também. Esta disposição esclarece que a
demissão ou a ausência de relações diplomáticas ou consulares não impede que os Estados celebrem tratados
entre si.

3 PROCESSO DE INTERNALIZAÇÃO DE TRATADOS PELO BRASIL

Feitas as considerações iniciais a respeito da Convenção, passaremos a analisar o tratamento que o Brasil deu
ao documento. Para tanto, cumpre primeiramente abordamos, de maneira geral, como funciona o
procedimento pátrio de internalização de tratados internacionais.

Após as negociações internacionais e a assinatura do documento pelo Presidente da República ou por seus
representantes, o tratado deverá passar por um procedimento para que ele passe a produzir efeitos no país.
Como já mencionado, o Brasil assinou a Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados em 23 de maio
de 1969, data da abertura para assinaturas, porém, o processo de internalização se iniciou somente em 22 de
abril de 1992. Os trâmites do procedimento de internalização são os colocados a seguir.

A Constituição afirma, em seu artigo 49, inciso I, que os tratados firmados pelo Presidente da República ou
quem lhe represente devem ser submetidos à aprovação do Congresso Nacional1. Uma vez discutido, o
tratado é submetido à votação aos congressistas, que vêm adotando a posição de aprová-lo ou rejeitá-lo
integralmente, por ser inviável a aprovação de emendas a um documento internacional de caráter multilateral
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(ALCÂNTARA, 2001).

Uma vez aprovado, o tratado é promulgado por meio de Decreto Legislativo e publicado no Diário Oficial
da União. A Convenção de Viena foi aprovada pelo Congresso Nacional em 17 de julho de 2009, por meio
do Decreto Legislativo nº 496/2009.

Em seguida, o trâmite indica que o tratado deve ser submetido à avaliação do Presidente da República para
ratificação. Francisco Rezek (2008, p. 50) define ratificação como “ato unilateral com que a pessoa jurídica
de direito internacional, signatária de um tratado, exprime definitivamente, no plano internacional, sua
vontade de obrigar-se”.

A aprovação do tratado por parte do Congresso Nacional, contudo, não obriga o Presidente da República a
ratificá-lo. Porém, caso entenda pela ratificação, deverá formalizar o ato por meio da promulgação de
Decreto Executivo, a ser publicado no Diário Oficial da União. É a partir da promulgação que o tratado
passa a ter validade e executoriedade no ordenamento jurídico interno. O Decreto Executivo que promulgou
a Convenção de Viena foi o de nº 7.030/2009, em 14 de dezembro de 2009.

Há casos em que se faz necessário o depósito do instrumento de ratificação no órgão designado pelo próprio
tratado (REZEK, 2008). A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados é um desses casos, razão pela
qual o Brasil realizou o depósito do instrumento de ratificação em 25 de setembro de 2009.

Basicamente, este é o trâmite de internalização do tratado internacional. Quanto a esse assunto, entretanto,
devemos ressaltar que há a possibilidade de o tratado sofrer reservas por um Estado, de modo que este se
desobrigue em relação a certas disposições do documento internacional (MELLO, 1997, p. 225). Foi isso
que ocorreu na incorporação da Convenção de Viena pelo Brasil, sendo as reservas brasileiras a esse
documento o assunto dos próximos tópicos.

4 AS RESSALVAS A CONVENÇÃO DE VIENA DE 1969

A alínea “d” do artigo 1º da Convenção de Viena de 1969 define “reserva”como sendo “uma declaração
unilateral, qualquer que seja a sua redação ou denominação, feita por um Estado ao assinar, ratificar, aceitar
ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de excluir ou modificar o efeito jurídico de certas
disposições do tratado em sua aplicação a esse Estado”.

Desta maneira, qualquer Estado, diante de um tratado internacional, tem a opção de não fazer parte do
acordo ou aceitar, mesma que não concorde com todo o texto, podendo declarar que se exclui de
compromissos relacionados a disposições que não merecem a sua concordância. Por este razão, pode-se
dizer que o instrumento da reserva tem como finalidade facilitar as aceitações aos tratados, o que favorece o
alargamento de seu campo de aplicação (DINH; DAILLER; PELLET, 2003, p. 182-183).

O instituto da reserva sofre duras críticas, já que é acusado de modificar e violar a integridade e o equilíbrio
dos tratados. Entretanto, tem-se consciência de que é melhor para o mundo jurídico internacional ter uma
regulamentação, mesma que reduzida ou em partes, do não ter nenhuma (MAZZUOLI, 2009, p. 207).

Apesar da reserva ser um ato unilateral, que não necessita de aprovação por outro Estado, há limites que
devem ser observados. Assim, o próprio tratado pode estipular que estão proibidas as reservas a ele, ou pode

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permitir somente certos tipos de reservas, ficando sem efeito qualquer outra fora das hipóteses que o mesmo
formula. É vedado, também formular reservas incompatíveis com o objetivo ou finalidade do tratado
assinado.

4.1 A RESERVA AO ARTIGO 25

O artigo 2514 destaca as regras de aplicação provisória de um tratado, quando este o dispuser ou se os
Estados negociadores assim acordarem de outra forma. Pode-se citar como exemplo desta “outra forma” um
protocolo ou qualquer outra texto que não esteja incorporado com o tratado (DINH; DAILLER; PELLET,
2003, P. 166).

A aplicação provisória de um tratado é extremamente útil no momento em que este cria um mecanismo
institucional muito complexo. Assim, de acordo com critérios discricionários dos negociadores, pode ser que
haja certa urgência para aplicação do tratado e devido ao longo processo e ao tempo que pode levar para
que este documento internacional entre em vigor, a Convenção de Viena de 1969 criou este mecanismo que
auxilia na provisória efetividade do tratado.

A ressalva deste mecanismo pelo Estado brasileiro, fundamenta-se na incompatibilidade deste artigo com a
Constituição Federal de 1988. Os artigos 49, I 15 e 84, VIII 16 da CF/88 impõe que todos os tratados que
sejam celebrados pelo Presidente da República, devem ser submetidos à apreciação do Congresso Nacional.

Porém, parte da doutrina discorda desta ressalva. Estes entendem que o fato de caber ao Congresso Nacional
referendar (resolver definitivamente) os tratados assinados pelo Presidente da República, não afastaria a
aplicação provisória destes acordos. Isto porque, segundo Mazzuoli (2009, p. 221), se o Presidente da
República busca a aprovação do Congresso antes de ratificar o tratado ou a ele aderir, é pelo fato que de
outro modo, a eventual recusa da referendada parlamentar o deixaria no impasse de estar obrigado pela
ordem a interna a desvencilhar do acordo que foi rejeitado, e proibido, pelo direito internacional de voltar
atrás. Assim, conclui Mazzuoli (2009, p. 221) que “a aplicação provisória seria bastante para fazer cessar a
vigência do tratado entre o Estado que não obteve o referendum congressual necessário a sua ratificação e as
demais parte que dele também participam”

4.2 A RESERVA AO ARTIGO 66

No que tange o artigo 6617 da Convenção, este atribuí competência obrigatória da Corte Internacional de
Justiça, que é o principal órgão judicial das Nações Unidas para se manifestar, quando provocado, quanto
aplicação a ou interpretação dos artigos 5318 e 6419, ou seja, quando houver conflitos ou superveniência de
norma imperativa de direito internacional geral (jus cogens).

De acordo com o artigo 66, não é necessário a anuência da outra parte interessada, assim, caso não haja
solução ao processo relativo à nulidade, extinção, retirada ou suspensão da execução de um tratado e
também se não houver acordo entre as parte para submissão da causa à arbitragem, qualquer das partes
litigantes poderá, através de recurso unilateral , iniciar o procedimento na Corte. Vale ressaltar que a Corte
Internacional de Justiça não pode invalidar ou extinguir um tratado, sua competência limita-se apenas a
solucionar controvérsias quanto a aplicação e interpretação dos artigos acima citados.

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Desta maneira, quando provocada, a decisão da Corte Internacional de Justiça determinará se dada de
natureza cogente e se o tratado submetido ao questionamento é contrário a esta norma (MAZZUOLI, 2009,
p. 260). Destarte, a ressalva brasileira ao procedimento disposto no artigo 66, reside no fato da competência
obrigatória da Corte Internacional de Justiça para solucionar conflitos, mesmo que apenas em matérias de jus
cogens.

O fato de que caso se envolva em controvérsias judiciais por causa de tratados internacionais e ter que
obrigatoriamente cumprir decisão da Corte Internacional de Justiça, nas matérias que tangem processo de
nulidade, extinção ou suspensão de execução do tratado em controvérsia, não é aceita pelo Brasil, já que o
país não concorda com esta submissão à Corte. Sobre isso, o parecer do senador Cristovan Buarque diz que
é importante recordar que o Brasil está vinculado a inúmeros instrumentos internacionais com idêntica
prescrição.

Outro argumento para a ressalva ao artigo 66, consiste no fato de que o Brasil não está vinculado à “cláusula
facultativa de jurisdição obrigatória” consagrada no artigo 3620 do Estatuto da Corte Internacional de
Justiça. Isto permite que o Brasil só se submeta a um julgamento internacional caso concorde, o que vai de
encontro com o dispõe o artigo 66 da Convenção de Viena de 1969 (FAVARO; VALADÃO, 2008)

5 A CONVENÇÃO E O DIREITO INTERNO

Primeiramente, antes de adentrar nas implicações ao direito interno em decorrência da ratificação da


Convenção de Viena de 1969, é importante analisar brevemente as teorias que tratam da incorporação ou
transformação do direito internacional em direito interno, a teoria monista e dualista.

5.1 TEORIA MONISTA

De acordo com a teoria monista, deve-se sair do ponto de que há uma unidade entre o conjunto de normas
jurídicas. Assim o ordenamento jurídico interno e internacional devem coexistir, de maneira que um superpõe
a outro, formando uma escala hierárquica, onde o direito internacional irá subordinar o direito interno, ou
vice-versa. Por isto que nesta concepção há a formação de uma unidade jurídica entre dirito interno e
internacional, ou seja, uma só ordem jurídica que rege a coletividade mundial em suas relações recíprocas

Desta forma, para os doutrinadores monistas, se um Estado assina ou ratifica um tratado internacional, é
porque está se comprometendo juridicamente a assumir uma obrigação e se esta pode ser exigida dentro do
âmbito interno do Estado, não se faz necessário e edição de um novo texto legal, materializando
internamente o compromisso exterior.

O problema em relação a teoria monista surge quando se tenta estabelecer qual ordem deve prevalecer em
caso de conflito entre norma interna e internacional. A solução apresentada tem duas formas: dá-se ao direito

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internacional status hierárquico superior ao direito interno, que seria a corrente monista internacionalista, ou
dá-se ao direito interno a posição jurídica de prevalecer sobre o direito internacional, a qual é defendida pela
corrente monista nacionalista.

5.2 TEORIA DUALISTA

Por sua vez, a teoria dualista indica que o direito interno e o direito internacional são dois sistemas
independentes e distintos, não existindo ponto de convergência entre eles, apesar de serem igualmente
válidos.

Assim, a finalidade do direito internacional seria de regular as relações entre os Estados, enquanto a função
do direito interno seria de regular a conduta do Estado com os indivíduos.

Para a doutrina dualista, pelo fato de estes ramos do direito regularem matérias diferentes, não haveria
possibilidade de haver conflito entre eles, já que um tratado internacional jamais poderia regular uma questão
interna sem antes ser incorporado pelo ordenamento que o transforme em lei nacional.

Por este motivo, é que para os dualistas os compromissos internacionalmente assumidos não tem como
gerarem efeitos automáticos dentro da ordem jurídica interna de um Estado. Por isto que a norma
internacional só terá validade quando recebida pelo direito interno, não sendo a ratificação instrumento
suficiente para esta transformação.

Os conflitos entre normas, assim, não serão entre tratados internacionais e direito interno, mas sim entre duas
disposições nacionais, cuja uma delas será a norma internacional regulamentada.

5.3 A PROMULGAÇÃO DA CONVENÇÃO E OS REFLEXOS NO DIREITO INTERNO

Durante muito tempo, questionou-se a hierarquia entre os tratados e as leis internas, especialmente por causa
da falta de previsão constitucional. A partir do julgamento pelo STF do recurso extraordinário 80.004, que
perdurou de setembro de 1975 até junho de 1977, o Supremo concluiu que dentro do sistema brasileiro, os
tratados guardam estrita situação de paridade normativa com as leis ordinárias editados pelo Estado.

Então, a normatividade dos tratados internacionais estaria no mesmo plano e grau de eficácia da leis internas,
o que permite a aplicação do princípio lex posterior derogat priori. O tratado promulgado, passaria a ter
força de lei ordinária e desta maneira poderia perder sua eficácia perante lei posterior. Percebe-se que a
posição do STF daquela época está em desacordo com os princípios do direito internacional.

Recentemente, com relação aos tratados de Direitos Humanos, mas especificamente em 3 de dezembro de
2008, no RE 466.343-SP, onde se questionava a impossibilidade da prisão civil pela aplicação do Pacto de
San José, o voto vencedor do Ministro Gilmar Mendes alocou tais tratados de Direitos Humanos no nível
supralegal (abaixo da Constituição, mas acima de toda a legislação infraconstitucional). Porém, em relação
aos tratados que não tratassem de direitos humanos a posição permanecia a mesma.

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Com a promulgação da Convenção de Viena de 1969 sobre Direito do Tratados pelo Brasil, o seu texto
passe a vigorar no direito interno, por este motivo vale ressaltar a importância do artigo 27, que trata do
direito interno e a observância de tratados. Pelo disposto no artigo, o Estado que ratifica a Convenção,
outorga prioridade ao direito internacional sobre a jurisdição doméstica. Destarte, não pode um Estado
invocar as regras de direito interno para justificar possível inadimplemento de um tratado.

Assim, a partir da ratificação da Convenção fica claro que a interpretação de todos os tratados internacionais
de que o Brasil é parte, deve ser feita com base nos preceitos do direito internacional, e não do direito
interno. Ou seja, deve ser obstado o procedimento de o Estado celebrar um tratado e depois, por meio de
mera alteração em sua legislação interna, derrogar ou ab-rogar as regras convencionadas externamente
(ALCOFORADO, 2010).

5.3.1 A questão da bitributação

O propósito da Convenção foi de solucionar controvérsias e estabelecer parâmetros relativos à assinatura,


adesão, formulação e obrigações relativas aos tratados internacionais. Entretanto, apesar de ditar as regras
dos tratados em geral, em relação ao Brasil, um dos principais impactos poderá ocorrer no campo tributário,
principalmente na forma como serão cumpridos os acordos internacionais que o Brasil é signatário que
impedem a bitributação.

No plano internacional, a bitributação ocorre quando um Estado estrangeiro e um ente nacional tributam o
mesmo ato ou fato jurídico. Por este motivo, a bitributação é obstáculo considerável à circulação
internacional de mercadorias, serviços, capitais e pessoas, por isso que alguns Estados têm interesse em
limitar sua soberania fiscal, através de medidas unilaterais ou bilaterais.

O artigo 9821 do Código Tributário Nacional já estabelecia que tratado internacional teria hierarquia maior
em relação a uma lei interna. Entretanto, muito se discutiu se o citado artigo havia sido recepcionado pela
Constituição Federal de 1988, já que só esta poderia estabelecer hierarquia entre normas jurídicas.

Percebe-se que a intenção do artigo 98 do CTN foi afirmar que as convenções internacionais deveriam
sobrepor por toda a legislação tribuária interna, especialmente garantir proteção a bitributação, apenas
consolidam um dos preceitos do direito internacional público, que é a primazia do tratado sobre a legislação
interna doméstica.

A partir da promulgação da convenção, concluí-se que não cabe mais discutir a validade do artigo 98 do
CTN, pois este se encontra de acordo com o preceito do artigo 27 do tratado, o que é de grande importância
para aplicação do tratados que combatem a bitributação que o Brasil faz parte, como por exemplo o acordo
firmado entre o nosso país e o Governo da República Argentina, que foi promulgado pelo decreto nº 87.976
de 22 de dezembro de 1982, que se destina a evitar a dupla tributação e prevenir a evasão fiscal em matéria
de impostos sobre a renda.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 3822
A promulgação da Convenção de Viena de 1969 sobre Direito de Tratados pode ser considerada com um
grande avanço nas relações internacionais do Brasil, já que este momento foi por muito tempo aguardado
pela comunidade jurídica brasileira.

Observou-se, através de uma breve análise acerca do histórico da Convenção de Viena de 1969, que apesar
da regulação de tratados ter importância significativa dentro do direito internacional público, a convenção só
entrou em vigor em 1980, onze anos depois de sua assinatura.

Foram evidenciados os princípios consagrados pela Convenção de Viena de 1969, que possuem como
finalidade orientar a elaboração de tratados internacionais entre Estados, assim como a estrutura do texto da
convenção e seus principais aspectos.

O Brasil serve como exemplo para se perceber o tamanho da dificuldade enfrentada pela Convenção para que
esta fosse ratificada pelos Estados interessados. Em que pese o procedimento de internalização da convenção
ter se iniciado em 1992, os trâmites de aprovação pelo Congresso Nacional e de ratificação pelo Presidente
da República foram concluídos apenas em dezembro de 2009, com a promulgação do decreto executivo nº
7.030/2009, ou seja, houve uma espera de 17 anos para que o tratado pudesse ter validade e executoriedade
perante o ordenamento jurídico interno.

A partir do processo de internalização de tratados e do instituto das reservas, procurou-se expor os


principais motivos que levaram o Brasil a fazer ressalvas aos artigos 25 e 66 da Convenção de Viena, artigos
que tratam da aplicação provisória de tratados internacionais e do processo de solução judicial destes,
respectivamente.

Finalmente, foi evidenciado os principais reflexos ocasionados pela promulgação da Convenção de Viena de
1969 sobre Direito dos Tratados, especialmente no que diz respeito a hierarquia do norma constitucional
com o ordenamento jurídico interno. Vale lembrar, que este ato foi muito importante para a aplicação do
tratados internacionais que combatem a bitributação e também para a validade do artigo 98 do CTN.

BIBLIOGRAFIA

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DIREITO DOS TRATADOS DE 1969 E O PORQUÊ DE SUA NÃO RATIFICAÇÃO PELA
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<http://web.me.com/waltergehr/The_International_Law_of_treaties/Welcome.html>. Acesso em 10 de
março de 2010.

1“Artigo 84

Entrada em Vigor

1. A presente Convenção entrará em vigor no trigésimo dia que se seguir à data do depósito do trigésimo
quinto instrumento de ratificação ou adesão.

2. Para cada Estado que ratificar a Convenção ou a ela aderir após o depósito do trigésimo quinto
instrumento de ratificação ou adesão, a Convenção entrará em vigor no trigésimo dia após o depósito, por
esse Estado, de seu instrumento de ratificação ou adesão.”

2“Artigo 1

Âmbito da Presente Convenção

A presente Convenção aplica-se aos tratados entre Estados.”

3Artigo 22

Retirada de Reservas e de Objeções às Reservas

1. A não ser que o tratado disponha de outra forma, uma reserva pode ser retirada a qualquer momento, sem
que o consentimento do Estado que a aceitou seja necessário para sua retirada.

4Artigo 30

Aplicação de Tratados Sucessivos sobre o Mesmo Assunto

1. Sem prejuízo das disposições do artigo 103 da Carta das Nações Unidas, os direitos e obrigações dos
Estados partes em tratados sucessivos sobre o mesmo assunto serão determinados de conformidade com os
parágrafos seguintes.

2. Quando um tratado estipular que está subordinado a um tratado anterior ou posterior ou que não deve ser
considerado incompatível com esse outro tratado, as disposições deste último prevalecerão.

3. Quando todas as partes no tratado anterior são igualmente partes no tratado posterior, sem que o tratado
anterior tenha cessado de vigorar ou sem que a sua aplicação tenha sido suspensa nos termos do artigo 59, o
tratado anterior só se aplica na medida em que as suas disposições sejam compatíveis com as do tratado
posterior.
* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 3824
4. Quando as partes no tratado posterior não incluem todas a partes no tratado anterior:

a) nas relações entre os Estados partes nos dois tratados, aplica-se o disposto no parágrafo 3;

b) nas relações entre um Estado parte nos dois tratados e um Estado parte apenas em um desses tratados, o
tratado em que os dois Estados são partes rege os seus direitos e obrigações recíprocos.

5. O parágrafo 4 aplica-se sem prejuízo do artigo 41, ou de qualquer questão relativa à extinção ou
suspensão da execução de um tratado nos termos do artigo 60 ou de qualquer questão de responsabilidade
que possa surgir para um Estado da conclusão ou da aplicação de um tratado cujas disposições sejam
incompatíveis com suas obrigações em relação a outro Estado nos termos de outro tratado.

5 International Whaling Commission (IWC)

6“Resolution 2001-1

RESOLUTION ON TRANSPARENCY WITHIN THE INTERNATIONAL WHALING COMMISSION

(...)s

CONSCIOUS that, as set out in the pacta sunt servanda rule, “good faith” requires fairness, reasonableness,
integrity and honesty in international behaviour;”

7“Artigo 27

Direito Interno e Observância de Tratados

Uma parte não pode invocar as disposições de seu direito interno para justificar o inadimplemento de um
tratado. Esta regra não prejudica o artigo 46.”

8“Artigo 63

Rompimento de Relações Diplomáticas e Consulares

O rompimento de relações diplomáticas ou consulares entre partes em um tratado não afetará as relações
jurídicas estabelecidas entre elas pelo tratado, salvo na medida em que a existência de relações diplomáticas
ou consulares for indispensável à aplicação do tratado”.

9“Artigo 60

Extinção ou Suspensão da Execução de um Tratado em Conseqüência de sua Violação

1. Uma violação substancial de um tratado bilateral por uma das partes autoriza a outra parte a invocar a
violação como causa de extinção ou suspensão da execução de tratado, no todo ou em parte.

2. Uma violação substancial de um tratado multilateral por uma das partes autoriza:

a) as outras partes, por consentimento unânime, a suspenderem a execução do tratado, no todo ou em parte,
ou a extinguirem o tratado, quer:

i) nas relações entre elas e o Estado faltoso;

ii) entre todas as partes;

b) uma parte especialmente prejudicada pela violação a invocá-la como causa para suspender a execução do
tratado, no todo ou em parte, nas relações entre ela e o Estado faltoso;

c) qualquer parte que não seja o Estado faltoso a invocar a violação como causa para suspender a execução
do tratado, no todo ou em parte, no que lhe diga respeito, se o tratado for de tal natureza que uma violação
substancial de suas disposições por parte modifique radicalmente a situação de cada uma das partes quanto
ao cumprimento posterior de suas obrigações decorrentes do tratado.

3. Uma violação substancial de um tratado, para os fins deste artigo, consiste:

a) numa rejeição do tratado não sancionada pela presente Convenção; ou

b) na violação de uma disposição essencial para a consecução do objeto ou da finalidade do tratado.

4. Os parágrafos anteriores não prejudicam qualquer disposição do tratado aplicável em caso de violação.

5. Os parágrafos 1 a 3 não se aplicam às disposições sobre a proteção da pessoa humana contidas em


tratados de caráter humanitário, especialmente às disposições que proíbem qualquer forma de represália
contra pessoas protegidas por tais tratados”.

10“Artigo 61

Impossibilidade Superveniente de Cumprimento

1. Uma parte pode invocar a impossibilidade de cumprir um tratado como causa para extinguir o tratado ou
dele retirar-se, se esta possibilidade resultar da destruição ou do desaparecimento definitivo de um objeto
indispensável ao cumprimento do tratado. Se a impossibilidade for temporária, pode ser invocada somente
como causa para suspender a execução do tratado.

* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 3825
2. A impossibilidade de cumprimento não pode ser invocada por uma das partes como causa para extinguir
um tratado, dele retirar-se, ou suspender a execução do mesmo, se a impossibilidade resultar de uma
violação, por essa parte, quer de uma obrigação decorrente do tratado, quer de qualquer outra obrigação
internacional em relação a qualquer outra parte no tratado”.

11“Artigo 62

Mudança Fundamental de Circunstâncias

1. Uma mudança fundamental de circunstâncias, ocorrida em relação às existentes no momento da conclusão


de um tratado, e não prevista pelas partes, não pode ser invocada como causa para extinguir um tratado ou
dele retirar-se, salvo se:

a) a existência dessas circunstâncias tiver constituído uma condição essencial do consentimento das partes
em obrigarem-se pelo tratado; e

b) essa mudança tiver por efeito a modificação radical do alcance das obrigações ainda pendentes de
cumprimento em virtude do tratado.

2. Uma mudança fundamental de circunstâncias não pode ser invocada pela parte como causa para extinguir
um tratado ou dele retirar-se:

a) se o tratado estabelecer limites; ou

b) se a mudança fundamental resultar de violação, pela parte que a invoca, seja de uma obrigação decorrente
do tratado, seja de qua

lquer outra obrigação internacional em relação a qualquer outra parte no tratado.

3. Se, nos termos dos parágrafos anteriores, uma parte pode invocar uma mudança fundamental de
circunstâncias como causa para extinguir um tratado ou dele retirar-se, pode também invocá-la como causa
para suspender a execução do tratado”.

12“Artigo 73

Caso de Sucessão de Estados, de Responsabilidade de um Estado e de Início de Hostilidades

As disposições da presente Convenção não prejulgarão qualquer questão que possa surgir em relação a um
tratado, em virtude da sucessão de Estados, da responsabilidade internacional de um Estado ou do início de
hostilidades entre Estados”.

13“Artigo 55

Redução das Partes num Tratado Multilateral aquém do Número Necessário para sua Entrada em Vigor

A não ser que o tratado disponha diversamente, um tratado multilateral não se extingue pelo simples fato de
que o número de partes ficou aquém do número necessário para sua entrada em vigor.”

14“ Artigo 25

Aplicação Provisória

1. Um tratado ou uma parte do tratado aplica-se provisoriamente enquanto não entra em vigor, se:

a) o próprio tratado assim dispuser; ou

b) os Estados negociadores assim acordarem por outra forma.

2. A não ser que o tratado disponha ou os Estados negociadores acordem de outra forma, a aplicação
provisória de um tratado ou parte de um tratado, em relação a um Estado, termina se esse Estado notificar
aos outros Estados, entre os quais o tratado é aplicado provisoriamente, sua intenção de não se tornar parte
no tratado.”

15 “ Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:

I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou
compromissos gravosos ao patrimônio nacional”;

16“Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:

(…)

VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;”

17“Artigo 66

Processo de Solução Judicial, de Arbitragem e de Conciliação

Se, nos termos do parágrafo 3 do artigo 65, nenhuma solução foi alcançada, nos 12 meses seguintes à data
na qual a objeção foi formulada, o seguinte processo será adotado:

a)qualquer parte na controvérsia sobre a aplicação ou a interpretação dos artigos 53 ou 64 poderá, mediante
pedido escrito, submetê-la à decisão da Corte Internacional de Justiça, salvo se as partes decidirem, de
* Trabalho publicado nos Anais do XIX Encontro Nacional do CONPEDI realizado em Fortaleza - CE nos dias 09, 10, 11 e 12 de Junho de 2010 3826
comum acordo, submeter a controvérsia a arbitragem;

b)qualquer parte na controvérsia sobre a aplicação ou a interpretação de qualquer um dos outros artigos da
Parte V da presente Convenção poderá iniciar o processo previsto no Anexo à Convenção, mediante pedido
nesse sentido ao Secretário-Geral das Nações Unidas”.

18“Artigo 53

Tratado em Conflito com uma Norma Imperativa de Direito Internacional Geral (jus cogens)

É nulo um tratado que, no momento de sua conclusão, conflite com uma norma imperativa de Direito
Internacional geral. Para os fins da presente Convenção, uma norma imperativa de Direito Internacional geral
é uma norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados como um todo, como norma
da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma ulterior de Direito
Internacional geral da mesma natureza”.

19“Artigo 64

Superveniência de uma Nova Norma Imperativa de Direito Internacional Geral (jus cogens)

Se sobrevier uma nova norma imperativa de Direito Internacional geral, qualquer tratado existente que
estiver em conflito com essa norma torna-se nulo e extingue-se”.

20“Artigo 36

1. A competência da Corte se estende a todos os litígios que as partes a submetam e a todos os assuntos
especialmente previstos na Carta das Nações Unidas ou nos tratados e convenções vigentes.

2. Os Estados partes neste presente Estatuto que aceite a mesma obrigação, a jurisdição da Corte em todas
as controvérsias de ordem jurídica que tratem sobre:

3. a interpretação de um tratado;

4. qualquer questão de direito internacional;

5. a existência de todo feito que, se for estabelecido, constituirá violação de uma obrigação internacional;

6. a natureza ou extensão da reparação que seja feita pela quebra de uma obrigação internacional.

7. A declaração a que se refere este Artigo poderá ser feita incondicionalmente ou sob condição de
reciprocidade por parte de vários ou determinados Estados, ou por determinado tempo.

8. Estas declarações serão remetidas para seu depósito ao secretário Geral das Nações Unidas, que
transmitirá cópias delas às partes neste Estatuto e ao Secretário da Corte.

9. As declarações feitas de acordo com o Artigo 36 do Estatuto da Corte Permanente de Justiça


Internacional que estiverem ainda em vigor, serão consideradas, respeito das partes no presente Estatuto,
como aceitação da jurisdição da Corte internacional de Justiça pelo período que ainda fique em vigência e
conforme os termos de tais declarações.

10. Em caso de disputa sobre se a Corte tem ou não jurisdição, a Corte decidirá”

21“Art. 98. Os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna,
e serão observados pela que lhes sobrevenha.”

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