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O art. 12 da Lei nº 10.

826/03 pune, com detenção de um a três anos, as


condutas de possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou
munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou
regulamentar, no interior de sua residência ou dependência desta, ou ainda no
seu local de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do
estabelecimento ou empresa.
Trata-se de crime de perigo, que dispensa a efetiva lesão ao bem jurídico
tutelado, configurando-se com sua simples exposição a risco. O perigo, na posse
de arma, munições ou acessórios, é aliás abstrato, em razão do qual a própria
lei presume perigosa a ação, dispensando-se sequer a comprovação de que
houve efetivo risco de lesão ao bem jurídico.
Em virtude da natureza do delito, são recorrentes as decisões afastando
o princípio da insignificância, pois, se a lei afasta a necessidade mesmo de
apurar se houve risco concreto de lesão, não é possível afastar a tipicidade
material em virtude da inexistência de relevante lesão ao bem jurídico. O STJ,
por exemplo, decide reiteradamente pela inaplicabilidade da bagatela nos crimes
relativos às armas de fogo:
“É pacífico nesta Corte Superior o entendimento no sentido de que é
inaplicável o princípio da insignificância aos crimes de posse e de porte de arma
de fogo e ou munição, ante a natureza de crimes de perigo abstrato,
independentemente da quantidade de munição ou armas apreendidas” (AgRg
no AREsp 1.098.040/ES, DJe 24/08/2017).
“A teor dos precedentes desta Corte, o porte ilegal de munição, ainda
que não associado a arma de fogo de calibre compatível, é lesivo à segurança
pública e compromete a paz social. Por tal razão, em princípio, é incabível a
aplicação do princípio da insignificância ao crime previsto no art. 12 da Lei n.
10.826/2003. 2. A sentença descreve a apreensão em poder do acusado de seis
munições de uso permitido, em desacordo com a determinação legal ou
regulamentar, o que é suficiente para caracterizar a tipicidade material da
conduta, pois a natureza dos projéteis não estava descaracterizada mediante
utilização em obra de arte, para confecção de chaveiro etc.” (AgRg no REsp
1.621.389/RS, DJe 01/08/2017).
Não obstante, o STF decidiu recentemente que a tipicidade material
pode ser afastada na posse de munição se, no caso concreto, a conduta não se
revela perigosa, como no caso da posse, na própria residência do agente, de um
projétil desacompanhado de arma de fogo:
“Não é possível vislumbrar, nas circunstâncias, situação que exponha o
corpo social a perigo, uma vez que a única munição apreendida, guardada na
residência do acusado e desacompanhada de arma de fogo, por si só, é incapaz
de provocar qualquer lesão à incolumidade pública” (RHC 143.449/MS, j.
26/09/2017).

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