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RESUMO
O referido estudo apresenta como objetivo analisar as relações existentes entre o curso de
Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo, ofertado da Universidade Federal de
Campina Grande no Centro de Desenvolvimento Sustentável do Semiárido – UFCG – CDSA,
e as bases epistemológicas da teoria Freireana. Para sua materialização foram realizadas
consultas em documentos oficiais como o Projeto Pedagógico do Curso, os Marcos
Normativos da Educação do Campo e suas vinculações com pensamento de Paulo Freire e as
implicações destas na formação docente.
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Destacamos que as contribuições teórico-pedagógicas de Paulo Freire incidem diretamente sobre a
proposta e projeto de Educação do Campo pautada em nível nacional, porém, este trabalho tem como
espaço territorial e institucional o curso de Licenciatura Interdisciplinar em Educação do Campo,
ofertado na Universidade Federal de Campina Grande no Centro de Desenvolvimento Sustentável do
Semiárido – UFCG-CDSA, Campus de Sumé, Paraíba.
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo enfatizar a contribuição de Paulo Freire para a
Educação do Campo, como também refletir a importância da sua metodologia de pensar-fazer
educação. Freire investiu em um método de alfabetizar, letra e conscientizar diferente,
atingindo a uma grande quantidade de adeptos de suas concepções de ensino-aprendizagem.
Inclusive, tencionou esforços para que os sujeitos fossem os promotores/autores dos e nos
processos de transformação social, cultural, econômico e educacional. Tornando-se senhores
de seus destinos.
Entre os principais conceitos abordados em sua obra podemos destacar: a Perspectiva
da Educação bancária; a dialogicidade, Formação Humana dos sujeitos, Autonomia,
Esperança, Indagação, Libertação, Experiência, Práxis, Revolução Cultural, Alfabetização de
Adultos, Transformação, Trabalho, Mudança Social, Docência, Criticidade, Ética, Utopia, o
conceito / categoria analítica de Conscientização e as questões que envolvem o contexto onde
os sujeitos estão inseridos.
Freire direcionou suas análises para um modus operandi de fazer-pensar educação,
realizando críticas às condições em que indivíduos encontravam-se inseridos num contexto de
opressores e, na outra extremidade dessa situação, outro grupo se caracterizava como os
oprimidos. Destacamos que na época de seus primeiros escritos, os sujeitos do campo eram os
mais afetados pela falta de igualdade e subalternização, tendo como referência, o dito “espaço
urbano”, nas décadas de 60 e 70. Fato que em determinados territórios perdura-se até os dias
que seguem, com a vinculação do espaço camponês ao sinônimo de atraso. Situação esta que
merece nossa dedicação para um processo de desconstrução desta concepção de campo
construída historicamente.
Vale salientar que nessa perspectiva de opressão, a população camponesa foi afetada
economicamente, por conta das desigualdades sociais, mas um fator de extrema importância
que acabou sendo atacado foi à cultura desse povo, tornando-se seres restritos e que deveriam
seguir o que era imposto pela sociedade “urbanizada”, assim, perdendo parte de sua
identidade construída em sua trajetória de vida.
A relação dos povos campesinos com a educação, urbanocêntrica e
descontextualizada da realidade destes territórios, ainda é marcada por imposições, pois, os
currículos que estão sendo inseridos nas escolas são amplamente desconexos da realidade.
Para tanto, faz-se necessário rever tais práticas curriculares, sendo importantíssimo o
desenvolvimento de reflexão a respeito destas provocações, para que haja uma reformulação
curricular e que os povos do campo, tenham suas formas de se fazer-pensar educação
respeitadas e, que suas culturas e práticas sejam valorizadas. Sobre o conceito de Educação do
Campo, Caldart et al (2012, p. 13) ressalta que
Mas para que este Marco Normativo, assegurado via decreto, venha a ser respeitado,
outras medidas legais devem ser adquiridas, onde uma das mais representativas trata da
formação de professores para atuarem nestes territórios, que historicamente foram
invisibilizados e inferiorizados.
Trazemos ainda, como elemento importante deste pensar-fazer Educação do Campo
a partir das concepções Freireanas, a participação efetiva dos sujeitos campesinos na
organização dos processos que regem as práticas educativas, os conteúdos programáticos, o
currículo e as formas de avaliação.
Corroboramos com o entendimento de Freire (1979a, p. 14) quando o mesmo
discorre que “O homem deve ser o sujeito de sua própria educação. Não pode ser o objeto
dela.” Assim, torna-se imperativo sua participação e autonomia nas tomadas de decisões que
envolva as práticas educativas que os mesmos vivenciam.
A partir destas questões iniciais apresentaremos nos tópicos seguintes nosso
referencial teórico que estabelece a relação entre as concepções da Educação do Campo e as
contribuições existentes na vasta obra de Paulo Freire que dialogam diretamente com esta
forma de pensar e fazer educação.
REFERENCIAL TEÓRICO
Baseando-se no que foi exposto, Freire (1979b) mostra que a conscientização precisa
está relacionada a práxis para que isso aconteça, pois, nós seres humanos só conseguimos nos
desenvolver se entramos em conjunto com esse dois meios: teoria e prática.
Outro ponto que merece ser destacado nesta discussão diz respeito a forma como
Freire (1979b) enfatiza é: “Quanto mais refletir sobre a realidade, sobre sua situação concreta,
mais emerge, plenamente consciente, comprometido, pronto a intervir na realidade para
mudá-la.” Endossando as palavras de Freire, trazemos as contribuições de Caldart (2004, p. 2)
quando a autora ressalta que “(...) a Educação do Campo como processo de construção de um
projeto de educação dos trabalhadores e das trabalhadoras do campo, gestado desde o ponto
de vista dos camponeses e da trajetória de luta de suas organizações.” Noutras palavras, os
sujeitos camponeses devem participar diretamente do processo de construção de suas
propostas pedagógicas.
De acordo com a perspectiva citada, destacamos que tal concepção instiga os sujeitos a
pensarem e observarem a realidade do mundo o qual vivem, para que tenham a consciência e
opinião própria, com intuito de querer mudança e de não se esquivar para os parâmetros que a
sociedade impõem, assim, tendo como total liberdade para sua vida.
Por outro lado, a contextualização que se pretende não é aquela que é sempre
feita pelos mesmos “intelectuais” ligados a narrativas hegemônica e a sua
indústria editorial, que quando pensa está “contextualizando” acaba por
produzir adaptações que resultam em caricaturas [...] a questão do contexto,
é muito mais ampla. (MARTINS, 2006, p.44).
E, sobre o último termo da citação, Freire e Shor (1986) ressaltam que a alienação é
um dos maiores problemas, desafios a serem enfrentados nas instituições de ensino, e só pode
ser superada, a partir da práxis, do processo de ação – reflexão / reflexão – ação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CALDART, Roseli Salete. et al. Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro, São
Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, 2012.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 12ª Edição. Paz e Terra. Rio de Janeiro, 1979a.
FREIRE, Paulo; SHOR, Ira. Medo e Ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1986.
MARTINS, Josemar da Silva. Anotações em torno do conceito de educação para a
convivência com o Semiárido. In: Educação para a Convivência com o Semiárido: reflexões
teórico-práticas. Juazeiro (BA): Secretaria Executiva da Rede de Educação do Semiárido
Brasileiro, Selo Editorial-RESAB, 2006.
SILVA, Maria do Socorro. As práticas pedagógicas das escolas do campo: a escola na vida
e a vida como escola. 2009. Tese (Doutorado). Programa de Pós-Graduação em Educação,
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2009.