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Universidade Federal de Pernambuco

Centro de Tecnologia e Geociências - Departamento de Engenharia Civil


Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil
Mestrado em Geotecnia

Ana Karine Santos Dantas


Bruno Diego de Morais

EMPUXO DE TERRA: DEFINIÇÃO E APLICAÇÃO

Recife - PE
2018
Ana Karine Santos Dantas
Bruno Diego de Morais

EMPUXO DE TERRA: DEFINIÇÃO E APLICAÇÃO

Relatório apresentado à disciplina de Estabilidade de


Taludes e Obras de Contenção, do Mestrado em Engenharia
Civil, como requisito parcial de avaliação.
Professor: DSc. Roberto Quental Coutinho

Recife – PE
2018
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - EMPUXOS DE TERRA ............................................................................... 5

1.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 5


1.2 EMPUXO NO REPOUSO – CONDIÇÃO GEOSTÁTICA .............................. 5
1.3 EMPUXO ATIVO X EMPUXO PASSIVO........................................................ 8
1.4 ESTADO DE EQUILÍBRIO PLÁSTICO .......................................................... 9
1.5 ESTADOS DE EQUILÍBRIO PLÁSTICO LOCALIZADO .......................... 12

CAPÍTULO 2 - TEORIA DE EMPUXO APLICADA A ESTRUTURAS RÍGIDAS –


MUROS DE CONTENÇÃO .................................................................................................. 15

2.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 15


2.2 MOBILIZAÇÃO DOS ESTADOS ATIVO E PASSIVO ................................ 15
2.3 TEORIA DE RANKINE (1857) ........................................................................ 15
2.3.1 FORMULAÇÃO GERAL ........................................................................................ 16
2.3.2 EMPUXO TOTAL .................................................................................................. 19
2.3.3 CASOS PARTICULARES........................................................................................ 24
2.3.3.1 Maciço com superfície inclinada ................................................................... 24
2.3.3.2 Superfície e face da estrutura de contenção inclinadas .................................. 26
2.3.3.3 Sobrecarga Uniforme ..................................................................................... 26
2.3.3.4 Maciços estratificados .................................................................................... 27
2.4 TEORIA DE COULOMB (1776) ...................................................................... 28
2.4.1 EMPUXO PASSIVO .............................................................................................. 28
2.4.2 INFLUÊNCIA DO ATRITO SOLO-MURO .................................................................. 29
2.4.3 HIPÓTESES E FORMULAÇÃO GERAL .................................................................... 30
2.4.4 EMPUXO ATIVO .................................................................................................. 32
2.4.5 SOBRECARGA ..................................................................................................... 36

CAPÍTULO 3 - TEORIA DE EMPUXO APLICADA A ESTRUTURAS ENTERRADAS


- CORTINAS ........................................................................................................................... 40

3.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 40


3.2 CÁLCULO DO EMPUXO ................................................................................ 40
3.2.1 ORIENTAÇÕES PARA ANTEPROJETO .................................................................... 40
3.2.2 CORTINAS EM BALANÇO ..................................................................................... 41
3.2.2.1 Análise drenada pelo método convencional ................................................... 42
3.2.2.2 Analise não drenada ....................................................................................... 44
3.2.3 CORTINAS COM UM NÍVEL DE APOIO ................................................................... 46
3.2.3.1 Método do apoio livre .................................................................................... 47
3.2.3.2 Método do apoio fixo ..................................................................................... 48
3.2.4 CORTINAS COM VÁRIOS NÍVEIS DE APOIO ........................................................... 50
3.2.4.1 Cortinas flexíveis ........................................................................................... 50
3.2.4.2 Cortinas rígidas .............................................................................................. 52

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................... 55


5

CAPÍTULO 1 -EMPUXOS DE TERRA

1.1 INTRODUÇÃO

Entende-se por empuxo de terra a ação horizontal produzida por um maciço de solo
sobre as obras com ele em contato. O empuxo pode ser entendido também como sendo a
resultante da distribuição das tensões horizontais atuantes em uma estrutura de contenção.
O empuxo de terra tem importância fundamental para obras como muros de arrimo,
cortinas de estacas-prancha, construção de subsolos, encontro de pontes, entre outras, pois a
partir da determinação de seu valor é possível realizar as análises necessárias para elaboração
do projeto. O valor do empuxo de terra, assim como a distribuição de tensões ao longo do
elemento de contenção, depende da interação solo-elemento estrutural durante todas as fases
da obra. O valor e a distribuição do empuxo, ao longo das fases construtivas da obra, varia
com a ocorrência dos deslocamentos horizontais.

1.2 EMPUXO NO REPOUSO – CONDIÇÃO GEOSTÁTICA

As tensões inicialmente são provocadas pelo peso próprio do maciço. A situação


geostática admite:

 Superfície do terreno horizontal;


 Subcamadas horizontais;
 Pouca variação das propriedades do solo na direção horizontal;
Casos de heterogeneidade e topografia irregular tornam complexo o cálculo do estado de
tensões.
As tensões cisalhantes nos planos vertical e horizontal não existem na condição
geostática, com isso eles correspondem aos planos principais. Esta situação corresponde ao
processo de deposição de solos sedimentares em que há acréscimo de tensões com a
deposição das camadas porém as deformações laterais são impedidas pelos elementos
adjacentes (h=0). Solos residuais ou solos que foram transformados pedologicamente
apresentam tensões horizontais que dependem das tensões internas da rocha ou do processo de
evolução da rocha.
O aparecimento de tensões cisalhantes nos planos vertical e horizontal pode ocorrer
quando estes requisitos não forem atendidos, como em casos de superfície inclinada e
deformação horizontal não nula.
6

Na situação de repouso (h=0), as tensões horizontais efetivas transmitidas aos grãos


que anulam os deslocamentos horizontais. Dado um semi-espaço infinito horizontal, a tensão
efetiva horizontal é produto da tensão efetiva vertical e do coeficiente de empuxo de empuxo
no repouso (k0) apresentado na Equação 1:
𝜎′ℎ
𝑘0 = (1)
𝜎′𝑣

O empuxo total depende da parcela efetiva e parcela da poro-pressão (u), como é


apresentado na Equação 2:
𝜎ℎ = 𝑘0 𝜎′𝑣 + 𝑢 (2)

Onde:
𝜎′𝑣 = tensão principal horizontal efetiva;
𝜎′𝑣 = tensão principal vertical efetiva;
𝑘0 = coeficiente de empuxo no repouso;
𝑢 = poro-pressão.

O ângulo de atrito, índice de vazios, razão de pré-adensamento, entre outros são


alguns dos vários parâmetros geotécnicos do solo que influenciam o valor de k0. A
determinação do coeficiente de empuxo no repouso pode ser feita a partir ensaios de
laboratório e ensaios de campo, teoria da elasticidade ou correlações empíricas
A determinação experimental pode ser feita através das seguintes técnicas de ensaio:

i. Ensaio com controle de tensões, tal que h=0. Este ensaio pode ser feito em uma
célula triaxial medindo-se as deformações axial e volumétrica e alterando as
tensões garantindo que axial=vol.
ii. Ensaios de campo: pressiométrico, ensaio dilatométrico e pelo ensaio piezocone
sísmico; Instrumentação de campo (células de pressão).
Observa-se, no entanto, amolgamento do solo pela introdução de elementos para
realizar o ensaio ou coletar as amostras, com isso o valor de k0 está sujeito a incertezas.
Bishop realizou ensaios triaxiais (com h=0) em areias uniformes (porosidade: n =
40%)q que mostraram que em solos normalmente adensados k0 é constante, já em solos pré-
adensados k0 varia com o valor de OCR (razão de pré-adensamento). Como pode ser visto na
Figura 1, no primeiro carregamento o k0 permaneceu constante e variou no descarregamento,
7

atingindo valores maiores que 1 (linha azul na figura). Assim, o coeficiente de empuxo varia
com o nível de tensões e a trajetória do carregamento.

Figura 1 – Variação de k0

Fonte: Gerscovich, 2010.

O quadro ilustrado na Figura 2 apresenta correlações empíricas para a estimativa de k0,


que valem para solos sedimentares.

Figura 2 – Correlações empíricas para a estimativa de k0.

Fonte: Gerscovich, (2010).


8

1.3 EMPUXO ATIVO X EMPUXO PASSIVO

Como mencionado anteriormente, o valor do empuxo de terra, assim como a


distribuição de tensões ao longo do elemento de contenção depende da interação solo-
estrutura. Nestes casos de estruturas que interagem por meio de forças horizontais, as
interações podem ser categorizadas de duas formas: ativa e passiva.
Na primeira categoria, o solo exerce uma força, “empurra” estrutura, tendendo a
afastar do maciço. Neste caso, as forças exercidas pelo solo sob a estrutura são de natureza
ativa, como os exemplos apresentados na Figura 3.

Figura 3 – Exemplos de empuxos de natureza ativa: (a) muro de gravidade; (b) muro de contenção.

Fonte: Gerscovich, (2010).

Já na segunda, a estrutura que é “empurrada” contra o solo, tendendo a comprimir o


maciço. A força exercida pela estrutura sob o solo é de natureza passiva. A Figura 4 apresenta
um caso de empuxo passivo, em que a fundação da ponte empurra o maciço com elevadas
componentes horizontais.
9

Figura 4 – Ponte em arco. Empuxos de natureza passiva.

Fonte: Gerscovich, (2010).

Há obras que a interação solo-estrutura pode incorporar as duas categorias. A


verificação da categoria do empuxo pode ser feita pela verificação do sentido do
deslocamento da estrutura: no caso do empuxo ativo, o deslocamento ocorre no mesmo
sentido que o empuxo atua, no caso passivo o empuxo atua no sentido contrário.
As tensões horizontais atuantes no solo são menores no estado ativo pois são aliviadas,
ao passo que no estado passivo são aumentadas quando comparadas as condições inicias ou
de repouso:
𝜎′ℎ𝑎 < 𝜎′ℎ0 = 𝑘0 𝜎′𝑣 < 𝜎′ℎ𝑝

A avaliação do valor mínimo e máximo é feita geralmente utilizando as teorias de


estado-limite.

1.4 ESTADO DE EQUILÍBRIO PLÁSTICO

O solo está sob equilíbrio plástico quando todos os pontos estão em situação de
ruptura.
Seja uma massa semi-infinita sob as condições a seguir:

 Condição geostática;
 Solo seco;
 Não coesivo.
As tensões atuantes em uma parede vertical, imaginária será calculada com base em:
𝜎′ℎ0 = 𝑘0 𝜎′𝑣0 + 𝑘0 𝛾𝑧 (3)

Em que:
𝜎′ℎ0 = tensão efetiva horizontal inicial;
10

𝜎′𝑣0 = tensão efetiva vertical inicial;


𝑘0 = coeficiente de empuxo no repouso;
𝛾 = peso específico do solo;
𝑧 = profundidade do ponto considerado.

A situação pode ser ilustrada como na Figura 5. Caso haja um deslocamento


diafragma para a esquerda, a tensão horizontal (𝜎ℎ ) irá reduzir, sem que haja alteração na
tensão vertical. Prosseguindo com o deslocamento do diafragma, a tensão horizontal pode
chegar até seu limite inferior na condição de ruptura. Neste momento, a região estará em
equilíbrio plástico ativo e a tensão total/efetiva horizontal (𝜎ℎ = 𝜎 ′ ℎ = 𝜎′ℎ𝑎 ) atingirá seu
limite inferior 𝜎3 na ruptura (condição ativa).
Caso o deslocamento do diafragma seja para a direita, a tensão horizontal irá aumentar
chegando ao seu limite superior na condição de ruptura. Neste momento, a região estará em
equilíbrio plástico passivo e a tensão total/efetiva horizontal (𝜎ℎ = 𝜎 ′ ℎ = 𝜎′ℎ𝑝 ) atingirá seu
limite superior 𝜎1 na ruptura (condição passiva), ocorrendo assim a rotação de tensões
principais (𝜎ℎ = 𝜎1 ; 𝜎𝑣 = 𝜎3 ).
No caso da presença de nível d’água, o comportamento é regido pelas tensões efetivas.

Figura 5 – Massa semi-infinita sob condição geostática e sem água.

Fonte: Gerscovich, (2010).

Na figura 6 esse conceito é apresentado na situação de um muro de arrimo. Quando o


anteparo se movimenta livremente para a esquerda ou direita como na Figura 6, as condições
extremas de empuxo passivo e ativo são estabelecidas. Estes dois casos definem os limiares
de ruptura do solo e são chamados de estado de equilíbrio-limite. Nos intervalos entre estas
condições, onde os deslocamentos são insuficientes para chegar a ruptura, tem-se um estado
de equilíbrio elástico.
11

Figura 6 – Condição ativa e passiva; 𝑘0 em função dos deslocamentos do anteparo.

Fonte: apostila UFPR.

A Figura 7 mostra os estados-limite em termos de círculos de Mohr e a Figura 8 a


trajetória de tensões efetivas correspondendo aos estados limites ativo e passivo.

Figura 7 – Estados-limite em termos de círculos de Mohr.

Fonte: Gerscovich, (2010).


12

Figura 8 – Estados-limite em termos de trajetória de tensões efetivas.

Fonte: Gerscovich, (2010).

Como pode ser observado nas figuras acima, mantendo-se a tensão efetiva vertical
constante e diminuindo-se progressivamente a tensão efetiva horizontal chega-se ao estado
ϕ′⁄
limite ativo e a ruptura ocorre em superfícies planas com inclinação de 45º + 2; e
mantendo-se a tensão efetiva vertical constante e aumentando-se progressivamente a tensão
efetiva horizontal atinge-se o estado limite passivo e a ruptura ocorre em superfícies planas
ϕ′⁄
com inclinação de 45º − 2.

1.5 ESTADOS DE EQUILÍBRIO PLÁSTICO LOCALIZADO

No caso apresentado anteriormente considerou-se uma massa de solo semi-infinita e a


movimentação do diafragma gerava um estado limite plástico simultaneamente em todo o
ϕ′⁄
solo, formando superfícies de ruptura planas com inclinação de 45º + 2. No entanto, o que
ocorre são movimentos localizados com mudanças apenas nas vizinhanças da estrutura.
O tipo de deformação e o nível de rugosidade da estrutura irão influenciar a
mobilização das tensões (magnitude e distribuição) na região afetada. Resultados de estudos
em muros lisos mostraram que o estado de equilíbrio plástico é atingido quando o
deslocamento do muro é por translação ou por rotação pela base. Nesses casos a ruptura é
13

𝜙′⁄
aproximadamente plana com inclinação de 45º ± 2. No caso da rotação ser pelo topo a
superfície de ruptura não é plana e os pontos de plastificação estão localizados ao longo da
superfície de ruptura, internamente a massa não atinge o limite de plastificação.

Figura 9 – Estados Plásticos: (a) translação (b) rotação pela base (c) rotação pelo topo – estruturas lisas

Fonte: Gerscovich, (2010).

As Figuras 10 e 11 apresentam diagramas de empuxo para deslocamentos de estruturas


lisas em solos não coesivos. Sendo a superfície de plastificação plana, a distribuição de
empuxo será linear. No caso de rotação pelo topo, a distribuição de empuxo é parabólica.

Figura 10 – Distribuição de empuxo estrutura lisa – rotação pela base

Fonte: Gerscovich, (2010).


14

Figura 11 – Distribuição de empuxo estrutura lisa – rotação pelo topo.

Fonte: Gerscovich, (2010).

A condição de muro liso raramente ocorre na prática. Com o muro deslocando, acunha
de solo também é deslocada gerando tensões cisalhantes entre o solo e o muro. No caso ativo,
o peso gera empuxo que é resistido pela resistência ao longo do contato solo-muro e pela
resistência na superfície de ruptura. Com isso, o valor do empuxo considerando a situação de
repouso é reduzido. No caso passivo ocorre o inverso.
15

CAPÍTULO 2 - TEORIA DE EMPUXO APLICADA A ESTRUTURAS RÍGIDAS –


MUROS DE CONTENÇÃO

2.1 INTRODUÇÃO

Muros são soluções utilizadas em desníveis pequenos, abaixo de 5 metros, e trabalham


a partir do seu peso próprio.

2.2 MOBILIZAÇÃO DOS ESTADOS ATIVO E PASSIVO

A mobilização dos estados de plastificação presume a ocorrência de deslocamentos da


estrutura com alívio ou amento das tensões, sendo esta uma condição ativa ou passiva
respectivamente. A magnitude dos deslocamentos necessários para a mobilização dos estados
ativo e passivo dependerá não só da trajetória de tensões, mas também do tipo de solo.
O movimento necessário para atingir a condição de plastificação ativa é muito
reduzido, no entanto a mobilização da condição ativa requer deslocamentos
significativamente maiores. Esta situação é entendida pelo fato de na condição ativa o solo
sofrer solicitações de tração, já no estado passivo o solo é comprimido. A resistência do solo à
tração é mínima, com isso já em pequenas deformações ocorre a ruptura. Todavia, os solos
possuem resistência à compressão.

2.3 TEORIA DE RANKINE (1857)

Os métodos de equilíbrio-limite são procedimentos clássicos utilizados para


determinação dos empuxos de terra. Nesses métodos é admitido que que a cunha de solo em
contato com a estrutura esteja em um dos estados de plastificação, podendo ser ativo ou
passivo. As análises de equilíbrio são aplicadas sob esta cunha.
A Teoria de Rankine baseia-se no equilíbrio de tensões entre os campos externos e
internos da cunha plastificada. Todos os pontos da superfície de deslizamento são supostos
em estado-limite e o critério de ruptura Mohr-Coulomb relaciona as tensões às resistências
mobilizadas. As equações de equilíbrio são definidas para um elemento infinitesimal e
estendida para toda a massa plastificada por integração. A solução de Rankine foi dada para
solos granulares e estendida por Resal, em 1910, para solos coesivos.
16

2.3.1 Formulação Geral

Na teoria de Rankine admite-se que o deslocamento mobiliza os estados-limite de


plastificação em todo o maciço, formando-se superfícies potenciais de ruptura planas.
A teoria de Rankine admite as seguintes hipóteses:

 O solo é homogêneo;
 O solo é isotrópico;
 A superfície do terreno é plana;
 A ruptura acontece em todos os pontos do maciço simultaneamente;
 A ruptura ocorre sob o estado plano de deformação;
 O contato da estrutura de contenção com o solo é perfeitamente liso, isto é, não há
mobilização de resistência no contato solo-muro: δ= 0; essa hipótese acarreta que a
direção do empuxo de terra é paralela à superfície do terreno;
 A parede da estrutura de contenção é vertical.
O solo atinge a condição ativa de equilíbrio plástico quando no caso de deslocamento
de afastamento, as tensões horizontais são reduzidas ao valor da tensão principal menor (σ’ha)
sem alteração da tensão vertical. Quando esta tensão é atingida, por maiores que sejam os
deslocamentos não é possível reduzir mais o valor da tensão. Nesse caso, o coeficiente de
empuxo ativo, ka, representa a relação entre a tensão efetiva horizontal e vertical:
𝜎′ℎ𝑎
𝑘𝑎 = (4)
𝜎′𝑣

O deslocamento da parede na direção do maciço provocará um acréscimo as tensões


horizontais. No instante em que a tensão horizontal se igualar à tensão vertical, o maciço
apresenta um estado de tensões hidrostático ou isotrópico. Na sequência, a tensão principal
maior passa a ser horizontal, ou seja, ocorre uma rotação das tensões principais. Com a
continuidade do movimento, a tensão horizontal aumentará até que atinja o limite superior
(𝜎′ℎ𝑝 ) e, consequentemente, a ruptura. Neste caso, o solo terá atingido a condição passiva de
equilíbrio plástico. Nesta condição, o coeficiente de empuxo passivo, kp, a razão entre a
tensão efetiva horizontal e a tensão efetiva vertical:
𝜎′ℎ𝑝
𝑘𝑝 = (5)
𝜎′𝑣
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A Figura 12 permite determinar as direções das superfícies de ruptura dos estados de


equilíbrio-limite (ativo e passivo). Nos casos ativo e passivo as superfícies de ruptura fazem
um ângulo de (45º- ϕ’/2) com a direção da tensão principal máxima (que no caso ativo é a
tensão vertical e no caso passivo é a tensão horizontal).

Figura 12 – Teoria de Rankine – Estados limite

Fonte: Gerscovich, (2010).

No caso de solos coesivos temos o círculo de Mohr (Figura 13) e as expressões a


seguir:

Figura 13 – Círculo de Mohr para solo coesivo

Fonte: Gerscovich, (2010).


18

𝜎1 −𝜎3
𝜏𝑓 = cos 𝜙′ (6)
2

𝜎1 +𝜎3 𝜎1 −𝜎3
𝜎𝑓 = − sen 𝜙′ (7)
2 2

Substituindo na equação da envoltória de Mohr-Coulomb:


𝜏 = 𝑐 ′ + 𝜎′𝑡𝑔𝜙′ (8)

Temos:
𝜎1 −𝜎3 𝜎1 +𝜎3 𝜎1 −𝜎3
cos 𝜙′ = 𝑐 ′ + ( − sen 𝜙′) tg 𝜙′ (9)
2 2 2

Para o estado ativo (𝜎′𝑣 = 𝜎′1 𝑒 𝜎′ℎ = 𝜎′3 ), tem-se:


𝜎′ℎ𝑎 = 𝜎′𝑣 𝑘𝑎 − 2𝑐′√𝑘𝑎 = 𝜎′𝑣 𝑘𝑎 − 2𝑐′𝑘𝑎𝑐 (10)

Em que:
1−𝑠𝑒𝑛 𝜙′ 𝜙′
𝑘𝑎 = = 𝑡𝑔2 (45˚ − ) (11)
1+𝑠𝑒𝑛 𝜙′ 2

𝑘𝑎𝑐 = √𝑘𝑎 (12)

Para o estado passivo (𝜎′𝑣 = 𝜎′3 𝑒 𝜎′ℎ = 𝜎′1 ), tem-se:

𝜎′ℎ𝑝 = 𝜎′𝑣 𝑘𝑝 + 2𝑐 ′√𝑘𝑝 = 𝜎 ′ 𝑣 𝑘𝑝 + 2𝑐′𝑘𝑝𝑐 (13)

Em que:
1+𝑠𝑒𝑛 𝜙′ 𝜙′
𝑘𝑝 = 1−𝑠𝑒𝑛 𝜙′ = 𝑡𝑔2 (45˚ + ) (14)
2

𝑘𝑝𝑐 = √𝑘𝑝 (15)

A Tabela 1 apresenta em resumo.


19

Tabela 1 – Equações da Teoria de Rankine


Caso Equações Planos
1 − 𝑠𝑒𝑛 𝜙′ 𝜙′
𝑘𝑎 = = 𝑡𝑔2 (45˚ − ) 𝜙′
Ativo 𝜎′ℎ𝑎 = 𝜎′𝑣 𝑘𝑎 − 2𝑐′𝑘𝑎𝑐 1 + 𝑠𝑒𝑛 𝜙′ 2 𝜃 = 45˚ +
2
𝑘𝑎𝑐 = √𝑘𝑎
1 + 𝑠𝑒𝑛 𝜙′ 𝜙′
𝑘𝑝 = = 𝑡𝑔2 (45˚ + )
1 − 𝑠𝑒𝑛 𝜙′ 2 𝜙′
Passivo 𝜎′ℎ𝑝 = 𝜎′𝑣 𝑘𝑝 + 2𝑐′𝑘𝑝𝑐 𝜃 = 45˚ −
2
𝑘𝑝𝑐 = √𝑘𝑝

Fonte: Gerscovich, (2010).

No caso de tensão total (𝜙 = 0), os coeficientes de empuxo são iguais a 1 e as equações são:
𝜎ℎ𝑎 = 𝜎𝑣 𝑘𝑎 − 2𝑆𝑢 (16)

𝜎ℎ𝑝 = 𝜎𝑣 𝑘𝑎 + 2𝑆𝑢 (17)

Em que Su é a resistência não drenada.

2.3.2 Empuxo total

Solo não coesivo


O empuxo total é calculado com base na integral do diagrama distribuição de tensões
horizontais:
𝑧
𝐸 = ∫0 𝜎ℎ 𝑑𝑧 (18)

Considerando:

 Solo homogêneo;
 Solo seco;
 c'=0.

Os empuxos ativos e passivos podem ser obtidos pelas expressões:


ℎ 𝛾ℎ2 𝑘𝑎
𝐸𝑎 = ∫0 𝑘𝑎 𝛾𝑧𝑑𝑧 = (19)
2
20

ℎ 𝛾ℎ2 𝑘𝑝
𝐸𝑝 = ∫0 𝑘𝑝 𝛾𝑧𝑑𝑧 = (20)
2

Na Figura 14 observa-se a distribuição de empuxos (c=0).

Distribuição de empuxos (c=0): (a) ativo; (b) passivo.

Figura 14 – Distribuição dos Empuxos (c=0): (a) ativo e (b) passivo

Fonte: Gerscovich, (2010).

Nos dois casos o ponto de aplicação é situado a uma profundidade de 2/3h (para
maciço homogêneo).

Solo Coesivo
Em solos coesivos, as tensões efetivas horizontais incorporam uma parcela constante
de -2𝑐′𝑘𝑎𝑐 para o caso ativo e de 2𝑐′𝑘𝑝𝑐 para o caso passivo.
𝜎′ℎ𝑎 = 𝜎′𝑣 𝑘𝑎 − 2𝑐′𝑘𝑎𝑐 (21)

𝜎′ℎ𝑝 = 𝜎′𝑣 𝑘𝑝 + 2𝑐′𝑘𝑝𝑐 (22)

No caso ativo, a parcela negativa faz com que a distribuição de empuxos se anule a
uma determinada profundidade (𝑧0 ). Acima dessa profundidade as tenões efetivas horizontais
são negativas como mostra a Figura 15.
21

Figura 15 – Distribuição de Empuxos ativos (c’≠0) em caso de solo sem água e sem sobrecarga

Fonte: Gerscovich, (2010).

𝜎′ℎ𝑎 = 𝜎′𝑣 𝑘𝑎 − 2𝑐′𝑘𝑎𝑐 = 𝛾′𝑧0 𝑘𝑎 − 2𝑐′𝑘𝑎𝑐 = 0 (23)

Com isso:
2𝑐′
𝑧0 = 𝛾′√𝑘 (24)
𝑎

Em que:
𝛾′ é em termos efetivo, ou seja, na presença do nível d’água 𝛾 ′ = 𝛾𝑠𝑢𝑏 .

O empuxo ativo é dado pela resultante das tensões horizontais:


𝐻 𝛾′𝐻 2 𝑘𝑎
𝐸𝑎 = ∫0 (𝑘𝑎 𝜎′𝑣 − 2𝑐′𝑘𝑎𝑐 )𝑑𝑧 = − 2𝑐′𝐻𝑘𝑎𝑐 (25)
2

Escavações até uma profundidade hc, correspondente ao dobro de 𝑧0 , a escavação


poderá ser considerada estável (caso o solo seja capaz de resistir a tensões de tração).
𝛾ℎ𝑐 2 𝑘𝑎
− 2𝑐′ℎ𝑐 𝑘𝑎𝑐 = 0 (26)
2

4𝑐′
ℎ𝑐 = 𝛾′√𝑘 (27)
𝑎
22

As deformações devido à descompressão acarretam superfícies não planas. Assim, a


teoria de estado-limite de Rankine não é mais válida. Além disso, com os esforços de tração
muitos solos sofrem trinca.
Assumindo que a profundidade da trinca se iguale a região de tração (𝑧𝑡 = 𝑧0 ), tem-se
que:
2𝑐′ 𝜙′
𝐻𝑐 = 𝑡𝑔 (45˚ + ) (28)
𝛾 2

Terzaghi (1943) considerando que a profundidade da trinca geralmente não ultrapasse


a metade da altura da região de tração, sugeriu que a altura crítica seja definida por:
2,67𝑐′
ℎ𝑐 = (29)
𝛾√𝑘𝑎

Em termos de tensão total:


2,67𝑆𝑢
ℎ𝑐 = (30)
𝛾

A região de tração não deve ser considerada em projeto, reduzindo a tensão horizontal.
Ao contrário, deve-se assumir que a sua existência pode acarretar num possível
preenchimento por água na trinca. Neste caso a presença da água gera um acréscimo de tensão
horizontal igual a 𝛾𝑤 𝑧0 .
Recomenda-se nestes casos, duas alternativas de distribuição de empuxo. A primeira
opção considera um diagrama aproximado eliminando a região de tração. A outra opção
combina diagrama aproximado com o empuxo da água preenchendo a trinca de tração.

Figura 16 - Distribuição de Empuxos ativos sugeridos para projeto (c’≠0)

Fonte: Gerscovich, (2010).


23

No caso de empuxo passivo


𝐻 𝛾′𝐻 2 𝑘𝑝
𝐸𝑝 = ∫0 (𝑘𝑝 𝜎′𝑣 + 2𝑐′𝑘𝑝𝑐 )𝑑𝑧 = + 2𝑐′𝐻𝑘𝑝𝑐 (31)
2

As equações são válidas para solo homogêneo e o empuxo total é calculado por metro
linear.
Maciço com nível freático
No caso de existência de um nível freático, o problema pode ser resolvido
adicionando-se a parcela da água:
𝐻 𝐻
𝐸𝑎 = ∫0 (𝑘𝑎 𝜎′𝑣 − 2𝑐′𝑘𝑎𝑐 )𝑑𝑧 + ∫0 𝑢(𝑧)𝑑𝑧 (32)

𝛾′𝐻 2 𝑘𝑎 2
𝛾𝑤 𝐻𝑤
𝐸𝑎 = ⌊ − 2𝑐′𝐻𝑘𝑎𝑐 ⌋ + (33)
2 2

No caso de condição passiva:


𝐻 𝐻
𝐸𝑝 = ∫0 (𝑘𝑝 𝜎′𝑣 + 2𝑐′𝑘𝑝𝑐 )𝑑𝑧 + ∫0 𝑢(𝑧)𝑑𝑧 (34)

Outra alternativa seria admitir a existência de dois estratos, um acima do nível


freático, de peso específico , e outro abaixo do nível freático, de peso específico sub. A
Figura 17 esquematiza o processo de cálculo.

Figura 17 – Aplicação do método Rankine (1) Diagrama referente ao solo acima do nível freático; (2) Diagrama
referente ao solo abaixo do nível freático; (3) Diagrama das pressões hidrostáticas.

Fonte: Gerscovich, (2010).


24

O diagrama (1) refere-se ao solo acima do nível freático. A tensão horizontal cresce
com a profundidade até a altura do nível d’água. A partir daí, o diagrama permanece
constante, já que o estrato superior pode ser considerado como uma sobrecarga
uniformemente distribuída de valor k(h-hw). O diagrama (2) é referente ao solo abaixo do
nível freático. O diagrama (3) é o das pressões hidrostáticas. Ressalta-se que, uma vez que se
trata do mesmo solo, o diagrama resultante apresenta uma quebra no nível freático, mas não
uma descontinuidade.

2.3.3 Casos particulares

2.3.3.1 Maciço com superfície inclinada


Considere um maciço não coesivo com uma superfície inclinada de um ângulo  em
relação à horizontal. Supondo um elemento a uma determinada profundidade (z), com os
lados verticais e topo e base inclinados de assume-se que a tensão vertical e os empuxos
ativo e passivo atuam também a uma inclinação , conforme mostra a Figura 18. Como estas
tensões não são normais aos seus próprios planos elas não são tensões principais.

Figura 18 – Aplicação do método de Rankine a maciços com superfície inclinada.


25

Fonte: Gerscovich, (2010).

Coeficiente de empuxo ativo:


𝐻 𝐻
𝐸𝑝 = ∫0 (𝑘𝑝 𝜎′𝑣 + 2𝑐′𝑘𝑝𝑐 )𝑑𝑧 + ∫0 𝑢(𝑧)𝑑𝑧 (35)

cos 𝛽−√𝑐𝑜𝑠2 𝛽−𝑐𝑜𝑠2 𝜙


𝑘𝑎𝛽 = (36)
cos 𝛽+√𝑐𝑜𝑠2 𝛽−𝑐𝑜𝑠2 𝜙

cos 𝛽−√𝑐𝑜𝑠2 𝛽−𝑐𝑜𝑠2 𝜙


𝑘𝑎𝛽 = (37)
cos 𝛽+√𝑐𝑜𝑠2 𝛽−𝑐𝑜𝑠2 𝜙

Coeficiente de empuxo passivo:


cos 𝛽+√𝑐𝑜𝑠2 𝛽−𝑐𝑜𝑠2 𝜙
𝑘𝑝𝛽 = (38)
cos 𝛽−√𝑐𝑜𝑠2 𝛽−𝑐𝑜𝑠2 𝜙

As distribuições de empuxo ativo e passivo atuando paralelamente ao talude são dados


por:
𝐸𝑎 = 𝛾𝑧𝑘𝑎𝛽 (39)
26

𝐸𝑝 = 𝛾𝑧𝑘𝑝𝛽 (40)

Para solos coesivos, a solução não pode ser expressa analiticamente.

2.3.3.2 Superfície e face da estrutura de contenção inclinadas


As equações apresentadas nos itens anteriores são válidas para situações em que o
empuxo atua em superfícies verticais; isto é, estruturas de contenção com face interna vertical.
Caso esta face não seja vertical, a componente do empuxo terá seu valor e direção afetados.
Assumindo a inclinação λ com a vertical, chegam-se as seguintes expressões (Craig, 1974):
√1+𝑠𝑒𝑛2 𝜙−2𝑠𝑒𝑛𝜙′𝑐𝑜𝑠𝜃𝑎
𝑘𝑎𝛽λ = 𝑐𝑜𝑠𝛽 (41)
cos 𝛽+√𝑠𝑒𝑛2 𝜙′−𝑠𝑒𝑛2 𝛽

√1+𝑠𝑒𝑛2 𝜙−2𝑠𝑒𝑛𝜙′𝑐𝑜𝑠𝜃𝑝
𝑘𝑝𝛽λ = 𝑐𝑜𝑠𝛽 (42)
cos 𝛽+√𝑠𝑒𝑛2 𝜙′−𝑠𝑒𝑛2 𝛽

𝐸𝑎 = 𝛾𝑧𝑘𝑎𝛽λ (43)

𝐸𝑝 = 𝛾𝑧𝑘𝑝𝛽λ (44)

Em que:
𝑠𝑒𝑛 𝛽
𝜃𝑎 = 𝑠𝑒𝑛−1 (𝑠𝑒𝑛 𝜙′) − 𝛽 + 2𝜆 (45)

𝑠𝑒𝑛 𝛽
𝜃𝑎 = 𝑠𝑒𝑛−1 (𝑠𝑒𝑛 𝜙′) − 𝛽 + 2𝜆 (46)

2.3.3.3 Sobrecarga Uniforme


Se existe uma sobrecarga uniformemente distribuída, Δq, aplicada na superfície do
terreno (Figura 19), a tensão vertical em qualquer ponto do maciço aumenta naturalmente de
igual valor.
𝐻 𝛾′ℎ2 𝑘𝑎
𝐸𝑎 = ∫0 (𝑘𝑎 (𝛾 ′ ℎ + 𝛥𝑞) − 2𝑐′𝑘𝑎𝑐 )𝑑𝑧 = − 2𝑐′ℎ𝑘𝑎𝑐 + 𝑘𝑎 𝛥𝑞ℎ (47)
2

𝐻 𝛾′ℎ2 𝑘𝑝
𝐸𝑝 = ∫0 (𝑘𝑝 (𝛾 ′ ℎ + 𝛥𝑞) + 2𝑐′𝑘𝑝𝑐 )𝑑𝑧 = + 2𝑐′ℎ𝑘𝑝𝑐 + 𝑘𝑝 𝛥𝑞ℎ (48)
2
27

Conclui-se então, que a existência de uma sobrecarga uniformemente distribuída na


superfície do terreno implica, em uma situação de equilíbrio limite de Rankine, a existência
de um diagrama retangular de pressões. A tensão horizontal será definida pelo produto da
sobrecarga aplicada pelo coeficiente de empuxo correspondente ao estado de equilíbrio limite
em questão. O efeito da sobrecarga pode ser também considerado como uma altura
equivalente de aterro.

Figura 19 - Aplicação do método de Rankine a casos com sobrecarga uniforme (c’=0)

Fonte: Gerscovich, (2010).

2.3.3.4 Maciços estratificados


Considere o maciço estratificado apresentado na Figura 20. Cada estrato apresenta um
valor de peso específico () e ângulo de atrito (’), consequentemente, cada estrato apresenta
um valor de coeficiente de empuxo (K) distinto.
A tensão horizontal no ponto imediatamente acima da superfície de separação dos
estratos é calculada por 𝜎′ℎ = 𝑘1 𝛾1 ℎ1 . No cálculo das tensões para as profundidades
correspondentes ao estrato 2, o estrato 1 pode ser considerado como uma sobrecarga
uniformemente distribuída de valor 𝑘2 𝛾1 ℎ1, dando origem a um diagrama retangular. Este
diagrama soma-se ao das tensões associadas ao estrato 2, que, a uma profundidade h2 valem
𝑘2 𝛾2 ℎ2 .
𝜎′ℎ = 𝑘2 𝛾1 ℎ1 + 𝑘2 𝛾2 ℎ2 (49)
28

Ressalta-se que, pelo fato de os coeficientes de empuxo serem diferentes, o diagrama


resultante apresenta uma descontinuidade à profundidade de separação dos estratos. Neste
caso, o ponto de aplicação do empuxo deve ser calculado a partir do equilíbrio das forças
resultantes de cada um dos diagramas.

Figura 20 - Aplicação do método de Rankine a maciços estratificados (c’=0)

Fonte: Gerscovich, (2010).

2.4 TEORIA DE COULOMB (1776)

2.4.1 Empuxo Passivo

No empuxo passivo, os sentidos dos deslocamentos relativos entre a cunha e o restante


do maciço e entre a cunha e o muro são invertidos. Neste caso, as forças Ep e R situam-se do
outro lado da normal à superfície de deslizamento e da normal à parede, como pode ser
observado na Figura 21.

Figura 21 – Empuxo passivo (poropressão nula)


29

Fonte: Gerscovich, (2010).

Na cunha de solo ABC, atuam 3 forças: W, P e R. A força W engloba o peso do solo e


de eventuais sobrecargas no terreno.

Chega-se a:
𝑠𝑒𝑛2 (𝛼−𝜙)
𝑘𝑝 = 2 (50)
𝑠𝑒𝑛 (𝜙+𝛿)𝑠𝑒𝑛(𝜙+𝛽)
𝑠𝑒𝑛2 𝛼𝑠𝑒𝑛(𝛼+𝛿)[1−√ ]
𝑠𝑒𝑛 (𝛼+𝛿)𝑠𝑒𝑛(𝛼+𝛽)

1
𝐸𝑝 = 2 𝛾𝐻 2 𝑘𝑃 (51)

Se ==0 e =90˚ , a equação simplifica-se e iguala-se a de Rankine.

Caso a superfície do terrapleno é horizontal ou apresenta uma inclinação constante e


não há sobrecarga, a distribuição de empuxos pode ser considerada triangular.

2.4.2 Influência do atrito solo-muro

A hipótese de não haver atrito entre o solo e o muro, adotada pela teoria de Rankine,
raramente ocorre na prática. Com o deslocamento do muro, a cunha de solo também se
desloca, criando tensões cisalhantes entre o solo e o muro.
No caso ativo, o peso da cunha de solo causa empuxo no muro e este será resistido
pelo atrito ao longo do contato solo-muro e pela resistência do solo ao longo da superfície de
ruptura. Com isso, ocorre uma redução no valor do empuxo se considerada a condição em
repouso. No caso passivo, ocorre o processo inverso.
30

Haverá, portanto rotação das tensões principais, que antes atuavam nas direções
vertical e horizontal e a resultante do empuxo terá uma inclinação δ, relativa ao ângulo de
atrito solo-estrutura. Adicionalmente, a superfície de ruptura passa a ser curva, como mostra a
Figura 22. Nesta figura, observa-se que a curvatura é mais acentuada para situação passiva,
isto é a rugosidade do contato da parede pouco afeta a condição ativa, com isso a superfície de
ruptura pode ser admitida como reta.

Figura 22 – Curvatura da superfície de ruptura: (A) caso ativo; (B) caso passivo

Fonte: Gerscovich, (2010).

2.4.3 Hipóteses e formulação geral

A solução de um problema de previsão do empuxo de terra e de deformação deve


considerar as condições iniciais de tensões, a relação tensão-deformação do solo e as
condições de contorno que descrevem a interação solo-estrutura. A solução deste problema é
extremamente complexa, sendo utilizados, na prática, métodos simplificados.
A Teoria de Coulomb (1776) de empuxo de terra baseia-se na teoria de equilíbrio
limite; isto é, na existência de uma superfície de ruptura, e, ao contrário da teoria de Rankine,
admite a existência de atrito solo muro, denominado  e não apresenta restrições quanto
condições irregulares de geometria do muro e superfície do terreno. Em resumo são
consideradas as seguintes hipóteses:

 Solo homogêneo e isotrópico;


 A ruptura ocorre sob o estado plano de deformação.
 Pode existir atrito solo-muro (); ou seja, em qualquer ponto da parede haverá a
mobilização de resistência ao cisalhamento, por unidade de área
 Postula-se um mecanismo de ruptura, isto é, estabelece-se a forma da superfície de
ruptura. O método assume superfície de ruptura plana. No caso ativo o erro é pequeno,
no caso passivo o erro só é pequeno para valores de δ<ϕ/3;
31

 Uma pequena deformação da parede é suficiente para mobilizar estado limite


 A ruptura se dá como bloco rígido sob o estado plano de deformação;
 A ruptura ocorre simultaneamente em todos os pontos ao longo da superfície de
ruptura;
 A estabilidade da cunha de solo adjacente à parede é analisada exclusivamente com
base no equilíbrio de forças atuantes na cunha de solo (despreza equilíbrio de
momentos);
 A superfície que define a cunha de empuxo é, a princípio desconhecida. Desta forma é
necessário determinar, por tentativas, qual superfície corresponde ao valor limite de
empuxo;
 O material é considerado rígido plástico e não se tem informação sobre os
deslocamentos.

No estado limite as forças mobilizadas no contato solo-estrutura são calculadas a partir de


uma envoltória de resistência. Analogamente à envoltória de Mohr-Coulomb, a resistência no
contato solo estrutura produz uma envoltória de reta definida pelos parâmetros adesão (cw) e
ângulo de atrito da interface solo-estrutura (δ).
𝜏𝑠𝑚 = 𝑐𝑤 + 𝜎′𝑡𝑔δ (52)

Figura 23 – Cunha de solo: adesão (cw) e ângulo de atrito da interface solo-estrutura (δ).

Fonte: Gerscovich, (2010).


32

Na ausência de dados experimentais, dependendo do tipo de solo, do material do muro


e do deslocamento relativo entre solo e muro, é usual adotar valores de δ e cw da ordem de um
terço a dois terços dos valores de ϕ’ e c’, respectivamente.
Na realidade, o valor do ângulo δ não influencia significativamente a magnitude do
empuxo ativo e sim sua direção (linha de ação), influenciando no dimensionamento da largura
da base de estruturas quando se faz a verificação da estabilidade.
Em geral a consideração da mobilização da resistência no contato solo-muro reduz o
valor do empuxo em cerca de 7%. No entanto, esta diferença é ainda maior no caso passivo.
Adicionalmente por considerar superfícies de ruptura planas, em geral se subestima o valor do
empuxo para o caso passivo. Quando o ângulo δ é elevado, a curvatura da superfície é
bastante acentuada e, nesse caso, o erro pode ser significativo contra a segurança.
Em resumo, o método de Coulomb determina que sejam propostas diversas
superfícies de ruptura e que a partir do equilíbrio das forças horizontal e vertical, sejam
calculados valores de empuxos associados às diversas cunhas de ruptura. No caso ativo, o
empuxo de projeto será o maior valor obtido entre as superfícies analisadas; já o empuxo
passivo será representado pelo menor valor obtido.
É importante observar que nesse método se propõe a determinar a resultante do
empuxo. Assim sendo, como não se conhece a distribuição de tensões, o ponto de aplicação
do empuxo também é indeterminado. Entretanto, se a superfície é horizontal ou possui
inclinação constante e não há sobrecarga, a distribuição de empuxos pode ser considerada
triangular.
No caso da inexistência de atrito solo-muro, o método de Coulomb fornece resultado
idêntico a teoria de Rankine, para o caso de parede vertical e superfície do terrapleno
horizontal.

2.4.4 Empuxo ativo

Para determinar os empuxos, arbitra-se uma superfície de deslizamento, que delimita


uma cunha de solo adjacente à parede que tende a destacar-se da cunha de solo restante.
Dependendo dos deslocamentos, originam-se cunhas de empuxo ativo. Com base no
equilíbrio das forças atuante na cunha de solo, calcula-se o valor da reação que a estrutura
deve exercer para se opor ao deslizamento da cunha. Como a cunha crítica é desconhecida, o
processo deve ser repetido para determinação da situação mais desfavorável.
33

A Figura 24 e Figura 25 esquematizam a aplicação do método de Coulomb para a


determinação do empuxo ativo de um maciço de ângulo de atrito ϕ’ e coesão nula, atuando
sobre a parede AB, sendo δ o ângulo de atrito solo-paramento. Na cunha de solo ABC, atuam
três forças: W, P e R.

Figura 24 – Método de Coulomb, caso ativo, c’=0; (a) esforços atuantes; (b)equilibrio de forças

Fonte: Gerscovich, (2010).

Figura 25 - Método de Coulomb, caso ativo, superfície crítica

Fonte: Gerscovich, (2010).

A força W engloba o peso do solo e de eventuais sobrecargas no terreno e pode ser


estimada a partir de:
A direção e o sentido das forças P e R são conhecidos, mas desconhece-se suas
magnitudes. A resultante atuante na superfície potencial de deslizamento apresenta inclinação
34

e a resultante de empuxo ativo inclina-se do ângulo . Sendo assim, a partir de um simples


polígono de forças pode-se determinar o valor da força P que o paramento tem que exercer
para evitar o escorregamento da cunha ABC. O empuxo deve ser calculado para diferentes
inclinações BC, até que se determine o máximo valor de Ea.
𝑠𝑒𝑛2 (𝛼+𝜙)
𝑘𝑎 = 𝑠𝑒𝑛(𝜙+𝛿)𝑠𝑒𝑛(𝜙−𝛽) 2
(53)
𝑠𝑒𝑛2 𝛼𝑠𝑒𝑛(𝛼−𝛿)[𝑎+ ]
𝑠𝑒𝑛(𝛼−𝛿)𝑠𝑒𝑛(𝛼+𝛽)

1
𝐸𝑎 = 2 𝛾𝐻 2 𝑘𝑎 (54)

Se ==0 e =90˚, a equação simplifica-se e iguala-se a de Rankine.

Solo Coesivo
A teoria de Coulomb pode ser estendida para solos coesivos, introduzindo a parcela de
adesão cw. Assume-se que trincas de tração possam se desenvolver até uma profundidade Zo,
a qual é estimada de acordo com a teoria de Rankine (Equação 24) e as superfícies potenciais
de ruptura se desenvolvem conforme mostra a Figura 26. As forças atuantes na cunha ABCD
são:

I. Peso da cunha W;
II. Reação entre a parede e o solo (P), com inclinação ;
III. Força devido a componente de adesão: Cw  cw EB;
IV. Reação R no plano potencial de deslizamento, atuando a um ângulo  em relação à
normal;
V. Força no plano potencial de deslizamento devido a parcela de coesão C  c' BC .

As direções de todas as componentes são conhecidas, assim como as magnitudes de


W, Cw e C. Com o traçado do polígono de forças, determina-se o valor de P. Se a trinca for
preenchida por água, esta parcela deve ser acrescida ao polígono de forças.
35

Figura 26 - Método de Coulomb, caso ativo, solo seco, c’>0: (a) esforços atuantes; (b) diagrama de forças

Fonte: Gerscovich, (2010).

Presença de água
No caso de existir nível freático, o problema pode ser resolvido adicionando-se a
parcela de água. Uma superfície potencial de ruptura plana e a distribuição de poro pressão
atuante ao longo do plano AB, determinada pela rede de fluxo. Os esforços atuantes na cunha
são originados por:

I. Peso da cunha W;
II. Reação entre a parede e o solo (P), com inclinação ;
III. Reação R no plano potencial de deslizamento, atuando a um ângulo  em
relação à normal ao plano;
IV. Resultante das pressões de água atuante ao longo da linha AB.

Figura 27 - Método de Coulomb, caso ativo, presença de água, c’=0: (a) rede de fluxo; (b) esforços atuantes e
diagrama de forças
36

Fonte: Gerscovich, (2010).

2.4.5 Sobrecarga

A sobrecarga uniformemente distribuída é incorporada ao peso da cunha. Caso a


sobrecarga seja aplicada em linha, está só será computada caso a superfície de ruptura se
estenda além da linha (Figura 28). O acréscimo de tensão horizontal será feito com base nas
soluções da teoria da elasticidade (Figura 29, Figura 30, Figura 31).
37

Figura 28 – Sobrecarga em linha

Fonte: Gerscovich, (2010).

Nas figuras são apresentadas equações da teoria da elasticidade para o cálculo da


distribuição de empuxos, para carregamentos pontuais e distribuídos em linha, incorporando o
fato de a parede ser rígida.
38

Figura 29 – Carga concentrada

Fonte: Gerscovich, (2010).

Figura 30 - Carga concentrada distribuída em linha

Fonte: Gerscovich, (2010).


39

Figura 31 – Carregamento uniforme distribuído em linha

Fonte: Gerscovich, (2010).


40

CAPÍTULO 3 - TEORIA DE EMPUXO APLICADA A ESTRUTURAS


ENTERRADAS - CORTINAS

3.1 INTRODUÇÃO

As estruturas de contenção enterradas são estruturas esbeltas denominadas cortinas,


sendo elas sujeitas a deformações por flexão. São aplicadas em locais que possui área
insuficiente para abrigar a base do muro de contenção e/ou quando é necessário conter
desníveis superiores a 5 metros. Essa técnica também é bastante aplicada em centros urbanos,
em projetos de fundações, devido à falta de espaço, já que nesses locais existe uma grande
concentração de edificações muito próximas (Gerscovich, Danziger e Saramago (2016).
A escavação e/ou reaterro presentes na construção da cortina, causa modificações do
estado de tensões originais, fazendo a massa de solo adjacente sofrer deslocamentos que irão
orientar o cálculo da distribuição das tensões nas estruturas enterradas.

3.2 CÁLCULO DO EMPUXO

O cálculo do empuxo compõe uma das etapas do projeto de contenções e deve


considerar cada estágio da escavação e levar em consideração o tipo de execução prevista
para a obra.

3.2.1 Orientações para anteprojeto

 Quando não existe construções vizinhas à obra, o empuxo é calculado com o


coeficiente de empuxo ativo da teoria de Rankine (ka). Admite-se nesse caso o
deslocamento das paredes;
 Quando existe construções vizinhas, o empuxo é calculado com o coeficiente de
empuxo no repouso (k0). Não sendo permitido o deslocamento das paredes nessa
condição;
 Quando a ficha (trecho enterrado), não é suficiente para garantir a estabilidade, faz-se
uso de tirantes e estroncas. Porém, nessa condição, os deslocamentos não atendem as
hipóteses das teorias de Rankine e Coulomb, sendo esses calculados com métodos
baseados em monitoramento de obras.
41

3.2.2 Cortinas em balanço

De acordo com Medeiros (2005), a estrutura de contenção em balanço resiste ao


empuxo devido ao seu engastamento no solo, logo, é necessário existir uma “ficha” mínima
capaz de garantir o equilíbrio da parede.

Figura 32 – Tipo de deslocamento da cortina em balanço

Fonte: Gerscovich, Danziger e Saramago (2016).

Esse tipo de cortina é utilizado em obras que necessitem escavações de pequena


profundidade. Para o cálculo do empuxo admite-se que o empuxo ativo atuante no trecho
livre, cause a rotação da cortina. A rotação ativa o empuxo passivo a frente do trecho
enterrado até o ponto de rotação. Abaixo desse ponto, as condições de empuxo se invertem,
logo atrás da cortina o solo passa apresentar empuxo passivo e na frente da cortina passa a
apresentar empuxo ativo, como mostrado na Figura 32.
As analises devem ser feitas separando as condições drenadas e não drenada. O
Quadro 1 apresenta de forma sucinta qual condição de analise deve ser adotada levanto em
conta o tipo de escavação (permanente ou provisória), o tipo de solo (areia, argila
normalmente adensada ou pré-adensanda) e a condição crítica (relacionado ao menor valor de
tensão efetiva) prevista para cada um dos casos.

Quadro 1 – Condições de análise


Escavação Tipo de solo Condição crítica Tipo de análise
Permanente Areia Longo prazo Drenada
Argila normalmente adensada ou levemente pré-adensada
Argila pré-adensada Final de construção Não drenada
Provisória Argila normalmente adensada ou levemente pré-adensada Final de construção Não drenada
Argila pré-adensada
Fonte: Gerscovich, Danziger e Saramago (2016).
42

3.2.2.1 Análise drenada pelo método convencional


A cortina sofre rotação por efeito do empuxo ativo, que resulta no surgimento de
zonas ativas e passivas ao longo da mesma. Consequentemente, surge uma distribuição de
empuxo não linear, como mostrado na Figura 33.b.
Nesse contexto, o método convencional, propõe-se a calcular o diagrama simplificado
(mostrado na Figura 33.c) através método de Rankine

Figura 33 - Cortina em balanço; (a) Deformada da cortina; (b) distribuição das tensões obtidas da teoria da
elasticidade e plasticidade; (c) Diagrama simplificado.

Fonte: Medeiros (2005).

Para fins de cálculo, as descrições das dimensões utilizadas estão apresentadas na


Figura 34.

Figura 34 – Diagrama de empuxos.

Fonte: Gerscovich, Danziger e Saramago (2016).


43

A tensão horizontal efetiva ativa na base da escavação (P’a), na areia é dada por:
𝑃′𝑎 = [𝛾ℎ1 + (𝛾𝑠𝑎𝑡 − 𝛾𝑤 )ℎ2 ]𝑘𝑎 (55)

A resultante da tensão efetiva horizontal (passiva - ativa) na base da cortina (P’p) é


dada por:
[𝑃̅′𝑝 ] = [(𝛾𝑠𝑎𝑡 − 𝛾𝑤 )(𝑎 + 𝑦)](𝑘𝑝 − 𝑘𝑎 ) − 𝑃′𝑎 (56)

A distância da base da escavação até o ponto de tensões nulas (Ponto O) fica definido
como (a):
𝑃′𝑎
𝑎= (57)
(𝛾𝑠𝑎𝑡 − 𝛾𝑤 )(𝑘𝑝 − 𝑘𝑎 )

Mobilização da condição passiva à direita da cortina e da ativa à esquerda, na região


abaixo da escavação é dada por:
𝑃′𝑝 = [𝛾ℎ1 + (𝛾𝑠𝑎𝑡 − 𝛾𝑤 )(ℎ2 + 𝑎 + 𝑦)]𝑘𝑝 − (𝛾𝑠𝑎𝑡 − 𝛾𝑤 )(𝑎 + 𝑦)𝑘𝑎 (58)

O valor de z fica determinado como:


𝑃̅′𝑝 𝑦 − 2𝑅𝑎
𝑧= (59)
(𝑃̅ ′𝑝 − 𝑃′𝑝 )

Em que:
𝑅𝑎 = resultante do empuxo ativo atuante acima do ponto de tensões nula (ponto O).

A profundidade da ficha (D) fica determinada como:


𝐷 =𝑦+𝑎 (60)

Aspectos de projeto

i. Devido às incertezas associadas ao perfil de distribuição de empuxos e parâmetros


geométricos, recomenda-se, após o cálculo da ficha (D), realizar algumas “correções”
de projeto, como:
 Acréscimo no comprimento da ficha da ordem de 20% a 40%; ou
 Minoração do valor de Kp em 1,5 a 2 vezes;
44

ii. O dimensionamento estrutural é feito com base no cálculo do momento fletor máximo,
o qual ocorre na profundidade, onde o cortante é nulo.

3.2.2.2 Analise não drenada


Podem ser realizadas em termos de tensão total, empregando os parâmetros não
drenados (c=Su e ɸ=0). Com essa abordagem, o diagrama de tensões calculado pela teria de
Rankine, tona-se mais simples, pois ka = kp = 1.
A Figura 35 ilustra o diagrama de empuxo.

Figura 35 – Distribuição de empuxo em cortina em solo argiloso.

Fonte: Gerscovich, Danziger e Saramago (2016).

A tensão horizontal total ativa no ponto A, na base da escavação (pa), na argila é dada
por:
[𝑝𝑎 ]𝐴 = 𝑞 − 2𝑆𝑢 (61)

À esquerda da cortina atua o passivo e, como a sobrecarga é nula, tem-se no nível do


ponto A:
[𝑝𝑝 ]𝐴 = 2𝑆𝑢 (62)

Assim, a resultante da tensão horizontal na base da escavação, na argila, é dada por:


[𝑝𝑝 − 𝑝𝑎 ]𝐴 = 4𝑆𝑢 − 𝑞 (63)
45

Na base da cortina, as regiões ativa e passiva se invertem e, com isso, tem-se, no caso
não drenado:
[𝑝𝑝 − 𝑝𝑎 ]𝐵 = 𝑞 + 4𝑆𝑢 (64)

Calculadas as tensões a ficha é determinada pela resolução das equações de equilíbrio


de forças e momentos atuantes na cortina.
A altura z, acima do pé da cortina corresponde à posição do ponto de rotação, onde há
uma inversão na mobilização dos empuxos ativo e passivo é dada pela equação abaixo.
[𝐷(4𝑆𝑢 − 𝑞) − 𝑅𝑎 ]
𝑧= (65)
4𝑆𝑢

Em que:
𝐷 = ficha;
𝑅𝑎 = resultante do diagrama de pressões acima do nível de escavação;
𝑞 = tensão vertical ao nível da escavação;
𝑆𝑢 = resistência não drenada do solo;

Aspectos de projeto

iii. Devido às incertezas associadas ao perfil de distribuição de empuxos e parâmetros


geométricos, recomenda-se, após o cálculo da ficha (D), realizar algumas “correções”
de projeto, como:
 Acréscimo no comprimento da ficha da ordem de 20% a 40%; ou
 Minoração do valor de 𝑆𝑢 em 1,5 a 2 vezes;
iv. O dimensionamento estrutural é feito com base no cálculo do momento fletor máximo,
o qual ocorre na profundidade h’, onde o cortante é nulo. A distância h’ é dada por:

𝑅𝑎
ℎ′ = (66)
4𝑆𝑢 − 𝑞

O momento fletor máximo é definido pela equação:


ℎ2
𝑀𝑚á𝑥 = 𝑅𝑎 (𝑦 ′ + ℎ′ ) − (4𝑆𝑢 − 𝑞) (67)
2

Em que:
46

𝑦′ = localização da resultante em relação ao nível de escavação;

3.2.3 Cortinas com um nível de apoio

As cortinas com um nível de apoio foram criadas com o intuito de superar as


limitações das cortinas em balanço, já que essas não são adequadas a escavações com
desníveis muito elevados, pois para aplica-las nessas condições seriam necessários excessivos
comprimentos de fichas para estabilizar a cortina.
Além disso, as teorias de Rankine e Coulomb ainda são aplicáveis para cortinas com
um único nível de apoio. Essa solução é apresentada em duas condições diferentes,
conhecidas como condição do apoio livre, sendo a alternativa mais econômica, e condição do
apoio fixo, que apresenta momentos fletores mais reduzidos em relação a primeira solução.

Figura 36 – Método do apoio livre (Free Earth Support).

Fonte: Magalhães (2015).

Na condição do apoio livre (free earth support), a ficha é pequena e a ação passiva do
solo sobre a ficha não é capaz de promover uma restrição efetiva às deformações (e rotação)
na cortina como mostrado na Figura 36. Dessa maneira, o empuxo (Ra) é equilibrado pela
reação (empuxo passivo) ao longo da ficha (esforço P’) e pela reação do apoio (T).

Figura 37 – Método do apoio livre (Free Earth Support).

Fonte: Magalhães (2015).


47

Na condição do apoio fixo (fixed earth support), a ficha é longa o suficiente para
exercer uma restrição efetiva às deformações (e rotação) da cortina como mostrado na Figura
37. Tem-se apenas um esforço adicional (P’) que também auxilia no equilíbrio, acarretando a
redução dos esforços de flexão na parede quanto dos esforços transmitidos ao apoio.

3.2.3.1 Método do apoio livre


Admite-se que a cortina tenha rigidez suficiente para girar em torno do ponto de
ancoragem, desenvolvendo-se tensões passivas na frente da cortina e ativa atrás da cortina.

Figura 38 – diagrama resultante de empuxos.

Fonte: Gerscovich, Danziger e Saramago (2016).

São utilizadas as mesmas equações apresentadas no método convencional para


cortinas em balanço na condição drenada para calcular p’a e p’p e a.
A resultante do empuxo passivo abaixo do ponto O é dada por:
𝑦2
𝑅𝑝 = (𝛾𝑠𝑎𝑡 − 𝛾𝑤 ) (𝑘 − 𝑘𝑎 ) (68)
2 𝑝

O comprimento da ficha (D) fica determinado por:


𝐷 =𝑎+𝑦 (69)

O dimensionamento do sistema de apoio é feito com base no cálculo da força na


ancoragem (Fa), por meio do equilíbrio de forças horizontais:
𝐹𝑎 = 𝑅𝑎 − 𝑅𝑝 (70)
48

3.2.3.2 Método do apoio fixo


Nesse método a ficha é longa o suficiente para prover uma restrição efetiva às
deformações e rotação da cortina. Consequentemente, o momento fletor atuante na base
inferior da cortina e negativo.

Figura 39 – Cortina com um nível de apoio – método do apoio fixo: (A) linha elástica; (B) distribuição de
momentos; (C) distribuição de empuxos.

Fonte: Gerscovich, Danziger e Saramago (2016).

A linha elástica (E(y)) muda a curvatura no ponto de Inflexão I. Nesse ponto de


inflexão, tem-se:
𝑑2 𝐸(𝑦) (71)
=0
𝑑𝑦 2

Logo, o momento fletor se anula nesse ponto, já que:


𝑑2 𝐸(𝑦) 𝑀 (72)
= −
𝑑𝑦 2 𝐸𝐼

Em que:
𝑀 = momento fletor;
𝐸 = módulo de elasticidade;
𝐼 = Momento de inércia;

O dimensionamento das cortinas de apoio fixo, pode ser calculado no pelo método da
viga substituta. Nesse método considera-se que o ponto de inflexão (profundidade onde as
tensões horizontais são nulas) corresponde a um apoio fictício (rótula).
49

Figura 40 – Método da viga substituta

Fonte: Gerscovich, Danziger e Saramago (2016).

Como mostrado na Figura 40, a cortina é subdividida em dois tramos AB e BD, ambos
considerados vigas isostáticas.
Considera-se que o empuxo resultante no pé da cortina, é concentrado no ponto D. A
ficha deve ser determinada de modo a prover uma reação R. no nível B da viga substituta
inferior, que supere a reação, nesse mesmo nível importa pela viga superior.
Para esse método, os autores sugerem uma redução no coeficiente de empuxo passivo
(Ep) de até 1,3, para ɸ ≥ 25º, e de até 1,6, para ɸ ≤ 25º.
O cálculo da carga no apoio, T, pelo equilíbrio de momentos em torno do ponto B da
viga substituta superior (AB).
𝑇(ℎ𝑡 + 𝑎) = 𝑅𝑎 𝑦′ (73)

Em que:
𝑅𝑎 = resultante do diagrama de empuxo ativo;
𝑦′ = ponto de aplicação dessa resultante em relação ao ponto B;

O cálculo da reação fictícia R pelo equilíbrio de esforço horizontal da viga substituta


AB.
𝑅 = 𝑅𝑎 − 𝑇 (74)

Calculo da profundidade (y – a) é dado por meio da equação abaixo:


50

(75)
6𝑅
𝑦−𝑎 =√
(𝑘′𝑝 − 𝑘𝑎 )𝛾

Em que:
𝑘′𝑝 = é o coeficiente de empuxo passivo minorado;

3.2.4 Cortinas com vários níveis de apoio

No caso de cortinas com vários níveis de apoio, as pressões de terra não podem ser
calculadas pelas terias de Rankine e Coulomb, uma vez que o padrão de deslocamentos não
satisfaz as hipóteses dessas teorias.
Nessa modalidade a medida que as estroncas vão sendo instaladas, elas restringem os
deslocamentos do solo junto a parede, consequentemente os maiores movimentos ocorrem
nos trechos inferiores, ainda não escorados.
Dessa maneira, os empuxos na parte superior da cortina desenvolvem tensões
horizontais que se aproximas da condição de empuxo no repouso, ou mesmo a superam,
gerando tensões mais elevadas. A restrição ao deslocamento no trecho superior da parede
provoca uma redistribuição das pressões de terra por arqueamento vertical.
As cortinas escoradas ao contrário dos muros de gravidade estão sujeitas a influência
de heterogeneidades local, dessa forma, qualquer estronca pode romper-se individualmente,
sobrecarregando as estroncas vizinhas, desencadeando um processo de ruptura progressiva.
Atualmente, divide-se os escoramentos em dois tipos:

i. Escoramentos flexíveis: casos de cortinas de estacas-pranchas e perfis


metálicos com pranchadas;
ii. Escoramento rígidos: casos de paredes diafragma de espessura robusta e
paredes moldada in loco.

3.2.4.1 Cortinas flexíveis


Os diagramas de pressões utilizados para a análise de cortinas flexíveis resultam da
coletânea dos trabalhos de instrumentação e medição in loco, portanto, de natureza empírica.
51

3.2.4.1.1 Areias
Para fins de cálculo, adota-se a base da escavação como sendo também uma estronca,
e os resultados de várias obras, mostraram haver uma distribuição de pressões de terra
aproximadamente parabólica, sendo o valor máximo localizado em torno da meia altura da
escavação.

Figura 41 – Envoltória de empuxo aparente em areias.

Fonte: Gerscovich, Danziger e Saramago (2016).

Tentando incorporar todos os registros de diagramas de empuxo aparente disponíveis


na época. Terzaghi e Peck (1967), chegaram a uma envoltória retangular para as areias,
estabelecida em função do KaγH, sendo o Ka o coeficiente de empuxo ativo de Rankine.
Os momentos fletores reais na cortina e na viga de solidarização serão, em geral,
inferiores aos valores calculados, sendo um diagrama meramente um artificio que permite o
cálculo dos esforços nas estroncas e dos momentos fletores na cortina.

3.2.4.1.2 Argilas
Nas argilas, Terzaghi e Peck (1967), identificaram que o intervalo de tempo entre a
escavação e a instalação da estronca causam variação nos diagramas aparentes de pressões de
terra.
Além disso, também foi constatado que o valor individual de cada nível de estronca
pode variar bastante em cada seção como resultado das heterogeneidades locais. Dessa
maneira, não se deve basear o projeto no registro de uma única estronca.
A resultante de empuxo (Pa) em uma cortina estroncada em argila mole a média, sob
condição não drenada (ɸ=0), pode ser determinada por:
52

1 2 (76)
𝑃𝑎 = 𝛾𝐻 𝑘𝑎
2

Em que:
4𝑆𝑢 (77)
𝑘𝑎 = 1 −
𝛾𝐻

Essa equação é válida desde que 𝑁 = 𝛾𝐻/𝑆𝑢 < 4. Porém, devido a variação no
diagrama de empuxo aparente entre diferentes verticais de uma escavação e entre escavações
de diferentes regiões Terzaghi e Peck (1967), recomendam o emprego de uma envoltória de
empuxo aparente mostrada na Figura 9, em que:
4𝑆𝑢 (78)
𝑘𝑎 = 1 − 𝑚
𝛾𝐻

Sendo m =1, exceto para argilas normalmente adensadas, quando N > 4; nesses casos,
m < 1.

Figura 42 – Envoltória de empuxo aparente em argilas: (A) argilas moles a média; (B) argilas rijas.

Fonte: Gerscovich, Danziger e Saramago (2016).

3.2.4.2 Cortinas rígidas


Para o cálculo das cortinas rígidas, inicialmente estende-se o método do apoio livre e
do apoio fixo para o caso de cortinas com vários níveis de apoios. Em seguida, o método do
apoio fixo seria aplicado aos estágios iniciais de escavação enquanto a ficha se apresenta
longa. Nos últimos estágios de escavação situação em que a ficha costuma ser curta, aplica-se
o método do apoio livre.
O método adequado para cada situação é feito por tentativas. Inicialmente determina-
se o comprimento da ficha necessária para garantir a estabilidade pelo método do apoio fixo,
53

em seguida verifica-se se o comprimento remanescente da ficha atende a medida mínima


necessária para manter a estabilidade, caso essa condição não for atendida, o cálculo é refeito
aplicando para essa ocasião o método do apoio livre.

3.2.4.2.1 Ficha longa – método do apoio fixo


Como visto anteriormente, nos estágios iniciais da escavação, a estabilidade da cortina
é calculada com base no método do apoio fixo, considerando o diagrama de empuxo
retangular, em face da existência de mais de um apoio.

Figura 43 – Método do apoio fixo: (A) deslocamento; (B) empuxo; (C) diagrama de momentos.

Fonte: Gerscovich, Danziger e Saramago (2016).

Para realização desse cálculo, aplica-se o método da viga substituta, seguindo os


passos apresentados a seguir:

i. Determinar o diagrama de empuxo ativo e passivo segundo a teoria de Rankine;


ii. Calcular as reações de apoios (A, B, C) da viga superior, por meio de soluções da
hiperestática;
iii. Calcular o comprimento necessário de ficha a partir do equilíbrio da viga
substituta inferior.

3.2.4.2.2 Ficha curta – método do apoio livre.


Nesse caso, o apoio fictício muda de posição, passando a ser considerado na posição
do centro de gravidade do empuxo passivo disponível.
54

Figura 44 – Posição do apoio fictício (ponto C) do método do apoio livre: (A) deslocamento; (B) empuxo; (C)
diagrama de momentos.

Fonte: Gerscovich, Danziger e Saramago (2016).

Os cálculos devem seguir os seguintes passos:

i. Desprezar o diagrama passivo, substituindo seu efeito por uma resultante (RC);
ii. Calcular as reações de apoios (A, B, C) da viga superior, por meio de soluções
da hiperestática;
iii. Comparar o valor calculado de Rc com a resultante do diagrama passivo
disponível [Rc]d:
a) Se Rc ≤ [Rc]d – o método do apoio livre se aplica;
b) Se Rc > [Rc]d – o método do apoio livre não se aplica. Nesse caso, o cálculo deve
ser refeito considerando o trecho inferior, em balanço, e o diagrama de empuxo
aparente, retangular, abrangendo toda a extensão da cortina. A área desse diagrama
equivale à área resultante da soma dos diagramas ativo e passivo disponíveis.
55

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

GERSCOVICH, D.; DANZIGER, B. R.; SARAMAGO, R. Contenções: teoria e aplicações


em obras. 1. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2016. 319 p.

MEDEIROS, A. G. B. (2005). Análise Numérica de Estruturas de Contenção em Balanço


e Grampeadas do Tipo “Estaca Justaposta” Assentes em Solo Poroso do DF. Dissertação
(Mestrado). Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília,
Brasília, DF, 135 p.

MAGALHÃES, M. S. Dimensionamento de estruturas de contenção atirantadas


utilizando os métodos de equilíbrio limite e de elementos finitos. 2015. 192 f. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil)- Departamento de Engenharia Civil, Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015.

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