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Editorial
A Associação Brasileira de Engenharia Ambiental (ABES) vem ampliando nos últimos anos suas atividades
apresentando um perfil amplo e multidisciplinar incorporando não apenas a visão da Engenharia Sanitária, mas
expandindo a área de conhecimento, passando a abranger a Engenharia Ambiental. Essa nova inserção se reflete
no aumento de artigos relacionados à temática ambiental que vem sendo submetidos e publicados nos Congressos
nacionais e regionais, bem como na Revista de Engenharia Sanitária e Ambiental (ESA).
No cenário atual, de grandes pressões antrópicas sobre os ecossistemas brasileiros, é importante conduzir estudos que
incentivem e trabalhem com a ideia de uso sustentável dos recursos naturais, bem como pesquisas que abrangem
diferentes áreas do conhecimento voltadas a um mesmo objetivo de desenvolvimento sustentável do país.
Os avanços tecnológicos e sociais vivenciados no Brasil e no exterior dos últimos anos tem refletido em mudanças de
paradigmas e direcionamentos da ciência voltados para incorporação de novos temas relevantes e atuais como a gestão
de recursos naturais, mudanças climáticas, governança ambiental, prestação de serviços ecossistêmicos, gestão de
conflitos, entre outros.
Diante desta demanda significativa de artigos na área de meio ambiente pela comunidade científica acadêmica, bem
como pelos atores governamentais e empresariais, a ABES decidiu contribuir para a produção e divulgação do
conhecimento científico relacionado às ciências ambientais, com a preocupação crescente, advindas da utilização
racional dos recursos naturais e suas relações com o desenvolvimento tecnológico de forma sustentável.
Neste contexto, a ABES passa a partir desta edição a incorporar a Revista Brasileira de Ciências Ambientais - RBCiamb,
editada em parceria com o Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável - ITCR, que
vinha assumindo essa revista desde sua criação em 2005.
Durante esses dez anos de existência, a RBCiamb recebeu cerca de 800 artigos submetidos, dos quais 218 foram
publicados em 32 edições. Além disso, o grande volume de submissões, de mais de 2090 (dois mil e noventa) artigos
submetidos à revista Engenharia Sanitária e Ambiental, sendo mais de 300 na área de meio ambiente, desde que a
Revista ESA foi incorporada ao Sistema de submissão online do Scielo, estimularam também esta iniciativa de
incorporação desta nova revista com visão interdisciplinar da temática ambiental, que contou com a discussão e adesão
de todo Conselho Editorial e Diretoria.
A revista RBCiamb seguirá com grandes temas voltados à Área Ambiental: Políticas e Gestão Ambiental; Recursos
Naturais e Ambientais; Controle da Poluição; Gestão de Recursos Hídricos; Tecnologias Ambientais; Mudanças
Climáticas e Poluição do Ar; Gestão de Resíduos Sólidos e Governança; Percepção e Educação Ambiental. A revista ESA
seguirá com temas mais focados na Engenharia Sanitária, como: Água, Sistema de Abastecimento e Tratamento, Águas
Residuárias, Coleta e Transporte, Tratamento de Esgoto Sanitário, Tratamento de Efluentes Industriais, Reúso de Águas,
Lodo de Estação de Tratamento, Resíduos Sólidos Urbanos e Industriais.
Esta nova Revista da ABES é direcionada para profissionais de diversas áreas de conhecimento com atuação
interdisciplinar e visões distintas que convergem para a temática ambiental. Esta medida se enquadra na estratégia de
atendimento às demandas do público alvo da ABES que vem se expandindo da academia e profissionais relacionados à
engenharia sanitária e ambiental, para incluir também os envolvidos nos programas de Pós-Graduação de Ciências
Ambientais, além de profissionais dos Órgãos Públicos, Consultorias e Organizações não governamentais que atuam na
temática ambiental.
Acreditamos que esta nova iniciativa propiciará a ampliação dos espaços de atuação e divulgação da ABES, contribuindo
para o desenvolvimento sustentável do país, Contamos com a participação ativa de todos os senhores que fazem da
ABES uma das maiores e mais consolidadas associações profissionais brasileiras.
ÍNDICE
01-COMPARAÇÃO ENTRE OS PROCESSOS DE 45-GESTÃO INTEGRADA EM UNIDADES DE
COMPOSTAGEM CONVENCIONAL E MECANIZADA NO CONSERVAÇÃO: ESTUDO DE CASO DO PARQUE
TRATAMENTO DE RESÍDUOS DE RÚMEN BOVINO ESTADUAL DE PORTO FERREIRA
Comparison between conventional and mechanized Integrated management in protected areas: case study
composting process in bovine rumen and waste of Porto Ferreira State Park
treatment Mayra Cristina Prado de Moraes
Priscila Ribeiro dos Santos Kaline de Mello
Marcela de Felicio Moreira Rogério Hartung Toppa
Maria Cristina Rizk
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INTRODUÇÃO
O segmento industrial da cadeia produtiva de carne A compostagem consiste num processo biológico de
bovina contribui sistematicamente para a geração de decomposição controlada da fração orgânica
grandes quantidades de resíduos líquidos e sólidos, biodegradável contida nos resíduos, caracterizando-se
produzidos desde a extração da matéria-prima até as pela produção de CO2, vapor de água, liberação de
etapas do processo industrial, como o resíduo ruminal substâncias minerais e formação de um composto
bovino. orgânico estável denominado húmus (SOUZA, 2005;
BERNAL et al., 1998). Assim, ela permite a agregação de
Este resíduo é um dos resíduos gerados em matadouros valor devido à transformação de resíduos
frigoríficos de bovinos que requer especial atenção no potencialmente poluidores em composto orgânico e
que se refere ao seu gerenciamento, devido à elevada ainda contribui para um saneamento eficaz.
umidade do material e a dificuldade de destino do
mesmo (ROSA, 2009). Este processo é desenvolvido por uma colônia de
microrganismos, o qual é afetado por qualquer fator
De acordo com Ferreira (1997) apud Morales (2006), o que atinja a atividade microbiológica, dentre estes
resíduo ruminal, retirado dos animais logo após o abate, fatores, os mais importantes são: aeração, temperatura,
consiste em alimentos parcialmente digeridos, sendo
teor de umidade, concentração de nutrientes e pH
que um animal de 400 kg produz em média 25 kg deste (VERAS e POVINELLI, 2004; COSTA, 2005).
resíduo.
O processo de compostagem pode ocorrer por dois
Segundo Zimmermann e Eggersglüβ (1986) apud Tritt e métodos: método natural – a fração orgânica é disposta
Schuchardt (1992), o conteúdo ruminal não tratado em pilhas (leiras) de formato variável. A aeração é
deve ser considerado como um risco epidemiológico, já conseguida por revolvimentos periódicos, com o auxílio
que pode conter raros tipos de salmonela, assim como de equipamentos apropriados. O tempo para que o
bactérias, vírus e parasitas em números alarmantes, do
processo de complete varia de três a quatro meses, e,
ponto de vista epidemiológico. E ainda a destinação método acelerado – a aeração é forçada por tubulações
inadequada de tal resíduo, sem que se conheçam suas perfuradas, sobre as quais se colocam as pilhas de
características agronômicas, pode levar a alterações das resíduos em reatores, dentro dos quais são colocados
características dos solos e a outras degradações os resíduos, avançando no sentido contrário ao da
ambientais (TRAUTMANN-MACHADO et al., 2009). corrente de ar. O tempo total de compostagem varia de
Sua composição é basicamente de forrageiras (capim) dois a três meses (D’ALMEIDA e VILHENA, 2000).
parcialmente digeridas, utilizadas na alimentação
Dos métodos de compostagem apresentados, o de
animal, e ainda sal mineral, fornecido como leiras revolvidas é o mais simples e se dá geralmente ao
complemento alimentar aos animais. Assim, por ser ar livre. Elas se caracterizam principalmente pelo baixo
material basicamente orgânico, é passível de ser investimento inicial, simplicidade de operação, uso de
tratado por meio de processos como a compostagem. equipamentos simples, e possibilidade de rápida
Já a casca de café é basicamente um resíduo vegetal diminuição do teor de umidade das misturas devido ao
ligninocelulósico da agroindústria (FERNANDES e SILVA, revolvimento; porém o efeito do revolvimento é
1997), além de ser rica em matéria orgânica e ser fonte limitado (FERNANDES e SILVA, 1999).
natural de potássio e nitrogênio (TONACO et al., 2010). Já a compostagem realizada em reatores, oferece a
Fernandes e Silva (1999) relatam os resíduos vegetais possibilidade de maior controle sobre todos os fatores
como os mais importantes resíduos estruturantes importantes para o processo e menor influência dos
utilizados na compostagem, e dentre eles está a casca fatores climáticos. Além disso, devido à homogeneidade
de café, com as funções de conferir integridade do meio, inclusive com relação à temperatura, a
estrutural à mistura a ser compostada, absorver o compostagem em reatores também é tida como mais
excesso de umidade e ainda equilibrar a relação C/N da eficiente no controle dos patógenos. Outra
mistura. característica desta alternativa é a maior facilidade para
controlar odores, pois o sistema é fechado e a aeração
controlada (FERNANDES e SILVA, 1999).
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OBJETIVOS
O presente estudo teve como objetivo estudar o processo de compostagem para o tratamento de rúmen bovino,
utilizando-se os métodos manual e mecanizado, a fim de se conhecer a qualidade do composto produzido em cada um
dos tratamentos.
MATERIAIS E MÉTODOS
O resíduo ruminal bovino foi coletado no setor da “linha verde” de um frigorífico. Em função de sua elevada umidade
para o início do tratamento por compostagem, houve a necessidade de incorporação de outro resíduo para adequação
de tal parâmetro, optando-se pelas cascas de café, que foram coletadas numa cooperativa agrária de cafeicultores.
O rúmen foi coletado em tambores metálicos de 200 litros, as cascas de café em sacos de aproximadamente 25 kg e
encaminhados para o local de tratamento.
Compostagem convencional
O sistema de compostagem convencional foi realizado diversos pontos, o que permitiria uma aceleração do
numa leira com 175 quilos de resíduos, que foram processo de decomposição aeróbia da matéria
dispostos em camadas. A proporção da mistura de orgânica. Além disso, o reator possuía em sua base uma
resíduos foi de 85% de rúmen e 15% de casca de café. torneira plástica para a retirada do possível chorume
Essa proporção foi determinada após ensaios formado durante o processo.
experimentais preliminares que variaram a
A Figura 2 apresenta uma foto do processo estudado
porcentagem de rúmen e de casca de café, visando a
adequação da mistura em termos de umidade para o em reator mecanizado.
início do tratamento por compostagem. A proporção da mistura de resíduos no reator também
A Figura 1 apresenta uma foto do processo estudado foi de 85% de rúmen e 15% de casca de café,
em leira de compostagem. totalizando 50 Kg de resíduos que foram dispostos em
camadas no interior do reator.
A leira de compostagem foi construída sobre uma lona
plástica com 1,20 metros de comprimento x 0,90 Monitoramento dos processos
metros de largura x 0,50 metros de altura A leira e o reator foram monitorados a cada 15 dias por
(aproximadamente), caracterizando um processo em meio da análise de pH, umidade, carbono orgânico,
pequena escala. nitrogênio e relação C/N. As amostras foram coletadas
por meio de amostragem composta.
A aeração foi realizada por meio de revolvimento
manual com auxílio de pás. No início do processo a O tempo total de tratamento do rúmen bovino
aeração era feita todos os dias; após 15 dias de incorporado à casca de café foi de 105 dias, quando se
compostagem, o revolvimento passou a ser feito a cada verificou a estabilização do processo.
quatro dias, e posteriormente, com 50 dias de
compostagem, semanalmente. O pH foi determinado em solução de cloreto de cálcio
(CaCl2), conforme procedimento estabelecido por Kiehl
Nos dias de precipitações pluviométricas, a leira era (1985) e as medidas de pH foram realizadas num
coberta com lona plástica a fim de evitar a penetração pHmetro de bancada, marca HANNA – modelo HI-221.
descontrolada de água e a perda de material.
A determinação da umidade e carbono orgânico foi
Compostagem mecanizada realizada pelo método de calcinação proposto por Kiehl
O sistema de compostagem mecanizada foi constituído (1985).
por um reator aerado construído em bombona plástica O nitrogênio Kjeldahl (nitrogênio orgânico e amoniacal)
de 200 litros com tampa. A aeração ocorria cinco vezes foi determinado pela metodologia descrita pelo
por semana, três vezes ao dia durante 15 minutos, para Instituto Adolfo Lutz (IAL, 1985).
isso o reator possuía uma série de furos laterais por
onde passavam mangueiras ligadas a um compressor de
ar. Assim era possível a aeração do composto em
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Tabela 1 estão apresentados os resultados da compostagem atinge sua temperatura máxima (> 40 ºC)
caracterização da mistura dos resíduos de rúmen e e é degradado mais rapidamente, é acompanhada de
casca de café. rápida elevação do pH que se explica pela hidrólise das
proteínas e liberação de amônia. Assim, normalmente o
O valor do pH da mistura de resíduos mostrou-se pH se mantém alcalino (7,5-9,0) durante essa fase.
neutro, e, portanto, dentro da faixa considerada ótima
para o desenvolvimento da maioria das bactérias, Mesmo com o passar da fase termófila o pH da leira
contribuindo para uma degradação acelerada do continuou apresentando elevações até os 45 dias,
material orgânico e favorecendo a compostagem porém de maneira mais suave, atingindo valores
(PEREIRA NETO, 2004). próximos a 10,0. Até os 105 dias de compostagem, este
parâmetro se manteve sem variações significativas
Quanto à umidade, pode-se observar que a mistura finalizando o tratamento na leira com valor de pH 9,7.
apresentou valor elevado de 76,1%. Elevados teores de
umidade, superiores a 65%, fazem com que a água Por sua vez, o reator apresentou certa estabilidade nos
ocupe os espaços vazios do meio, impedindo a livre seus valores de pH desde os 15 dias de compostagem,
passagem do oxigênio, o que poderá provocar permanecendo todos os resultados numa faixa entre
aparecimento de zonas de anaerobiose (FERNANDES e 8,9 e 9,6.
SILVA, 1999). Assim, pode-se dizer que a mistura dos
materiais não proporcionou um ajuste adequado para Estudando a compostagem com vários tipos de
início do tratamento, porém esperava-se que a resíduos, incluindo a casca de café, Paiva (2008) relata
realização de uma aeração mais intensa no início da que durante a maior parte do tempo de compostagem
compostagem provocasse um ressecamento da massa o pH se manteve alcalino com máximo de 9,0, e, ainda
de compostagem (TSUTIYA et al., 2002) e esse afirma que esse resultado pode indicar formação de gás
amônia o qual pode ser perdido por volatilização.
parâmetro se ajustasse rapidamente.
Porém, ao longo do processo de compostagem deste
Kiehl (1985) considera os teores de matéria orgânica estudo não foram observadas quantidades baixas de
superiores a 61% como “alto nível”. Assim, as altas nitrogênio, indicando que não houve perdas
concentrações de matéria orgânica e carbono orgânico significativas desse elemento.
presentes na mistura favorecem seu tratamento por
meio da compostagem, por ser basicamente um Com a estabilização do composto a ser produzido
processo biológico de decomposição de materiais espera-se que o valor de pH esteja entre 8,0 e 9,0
(KIEHL, 1998). Apesar disso, o pH final de ambos os
orgânicos por microrganismos.
sistemas de tratamento se mostraram um pouco acima
É desejável que o teor de nitrogênio inicial esteja entre de 9,0.
1,2 e 1,5% e o valor encontrado (1,5%) estava dentro
dessa faixa. A Figura 4 apresenta o monitoramento da umidade ao
longo do processo de compostagem na leira e no
Como os microrganismos absorvem o carbono e o reator.
nitrogênio numa proporção de 30/1, essa é a proporção
ideal para os resíduos (OLIVEIRA et al., 2008), e também Durante o monitoramento houve formação de
a proporção encontrada na mistura dos resíduos chorume, com presença de larvas na leira e no reator,
estudados neste trabalho. devido à elevada umidade dos resíduos no início do
experimento. Porém, com a redução acentuada da
A Figura 3 apresenta o monitoramento do pH ao longo umidade o chorume cessou durante os 10 primeiros
do processo de compostagem na leira e no reator. dias. Morales (2006), também observou a formação de
Verifica-se que houve uma rápida elevação de pH nos chorume na primeira semana de compostagem,
15 primeiros dias. O pH saiu da condição de decorrente da alta umidade do resíduo ruminal visto
neutralidade e atingiu um valor alcalino que as leiras foram manejadas em pátio coberto, e,
(aproximadamente 9,5) durante o período em que portanto, ficavam protegidas da chuva.
predominou a fase termófila na leira e no reator.
Como observado na Figura 4 esse parâmetro sofreu
De acordo com Fernandes e Silva (1999) a passagem reduções acentuadas, assim a leira e o reator
para a fase termófila, fase inicial em que o material em apresentaram umidade de 48,2% e 61,4 %,
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respectivamente, aos 30 dias. Ou seja, ambos já se Ao fim do processo, o reator apresentava valor superior
encontravam próximos da faixa considerada ideal para de carbono orgânico do que aquele apresentado pela
desenvolvimento da compostagem, entre 40 e 60% leira, sendo de 43,5 %.
(MARAGNO et al., 2007).
Resíduos com grande teor de celulose e lignina podem
Foi necessária a adição de água a leira aos 45 dias de influenciar na velocidade de compostagem e nas
tratamento, pois esta alcançou valor próximo de 40%. características físicas e químicas do produto obtido
Após a adição, pôde-se observar um pico no valor de (BRITO, 2008). Portanto, a redução lenta e baixa de
umidade e posteriormente, nova queda, requerendo carbono tanto no método manual, quanto no método
assim outra intervenção na umidade. Aos 105 dias foi mecanizado, pode ser devido aos elevados teores de
obtido o valor 58,0% de umidade na leira. celulose e lignina do rúmen e da casca de café.
Por ser um sistema fechado, mais preservado das No estudo de compostagem de rúmen de Morales
condições ambientais e climáticas, os resíduos (2006), é possível observar que a redução de carbono
perderam umidade mais vagarosamente no reator do orgânico do resíduo ao fim do processo (105 dias) foi de
que na leira, assim foi necessário o ajuste desse 7%, já o presente estudo teve uma redução de
parâmetro (adição de água) após 60 dias de aproximadamente 10% na leira e 6% no reator.
tratamento. E ao fim do tratamento o reator alcançou
valor de 49% de umidade. O monitoramento do nitrogênio na leira e no reator
pode ser visto na Figura 6.
A Figura 5 apresenta o monitoramento do carbono
orgânico na leira e reator ao longo do estudo. A leira apresentou diminuição no teor de nitrogênio aos
15 dias, variando de 1,5 para 1,2%. Após isto, a
No período inicial da compostagem (fase de degradação quantidade de nitrogênio sofreu pequenos acréscimos
rápida) a atividade microbiana é mais intensa, assim os durante o tratamento, exceto entre 60 e 75 dias que
microrganismos termofílicos predominam e atacam as permaneceu estável em 1,6%. Próximo ao fim do
substâncias mais facilmente degradáveis, como tratamento, entre 90 e 105 dias, notou-se os maiores
carboidratos simples e nitrogenados solúveis. valores de nitrogênio na leira, atingindo 2,4%.
Posteriormente, a intensidade das reações químicas e a
atividade microbiana diminuem, pois as substâncias de Já o reator apresentou certa estabilidade em suas
rápida degradação vão se esgotando (BRITO, 2008; concentrações de nitrogênio nos primeiros 45 dias. Até
FERNANDES e SILVA, 1999). os 75 dias, houve quedas na quantidade de nitrogênio,
chegando a valores abaixo de 1%. Porém, próximo ao
Dessa maneira, durante o início do processo de final do processo de compostagem, os teores de
compostagem (fase termofílica) na leira, houve a nitrogênio começaram a aumentar chegando ao valor
redução mais acentuada de carbono partindo de de 2%, comportamento semelhante ao ocorrido na
valores próximos a 49 e atingindo 45,5%. Em seguida, leira.
notaram-se reduções mais suaves de carbono ao longo
De acordo com Veras e Povinelli (2004), o nitrogênio
da compostagem, e ao fim do processo, o valor de
carbono orgânico da leira foi de 39,1%. pode apresentar maior variabilidade em seu conteúdo
quando comparado a outros nutrientes como fósforo e
Da mesma forma que na leira, o reator apresentou potássio. É o elemento que mais facilmente se perde
reduções muito suaves de carbono orgânico ao longo por volatilização, e aumentos também podem ocorrer
do processo de compostagem, e praticamente nula nos pela conversão por organismos especializados, do N2
primeiros 15 dias. Em sistemas mecanizados, a umidade gasoso em compostos utilizáveis. Apesar da
superior a 65% pode causar aglomeração do material variabilidade nas concentrações de nitrogênio, não
em compostagem e, assim, restringir a injeção do fluxo foram percebidas perdas significativas a ponto de se
de ar pela massa (SWEETEN e AUVERMANN, 2008). gerar prejuízos à compostagem.
Portanto, essa estabilidade inicial do carbono orgânico
do reator pode ser explicada pela falta de oxigênio no Ainda segundo Veras e Povinelli (2004), a presença de
sistema, já que nos primeiros 15 dias a umidade água ajuda na retenção da amônia (NH3), pois esse gás
manteve-se superior a 65%. combinando-se com a água, produz o elemento químico
hidróxido de amônio ou amoníaco. E como observado à
umidade manteve-se alta na maior parte do processo.
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O monitoramento da relação C/N da leira e do reator A Tabela 2 apresenta os valores dos compostos
pode ser visto na Figura 7. produzidos na leira e no reator, bem como os
parâmetros estabelecidos no Anexo III da Instrução
Os microrganismos necessitam de nutrientes para seu Normativa n° 25 de 23/07/2009 do Ministério da
crescimento, prioritariamente de carbono, que serve Agricultura, Pecuária e Abastecimento que estabelece
como fonte de energia para a oxidação metabólica; e as especificações dos fertilizantes orgânicos mistos e
nitrogênio, essencial na síntese de proteínas, ácidos compostos (BRASIL, 2009).
nucléicos, aminoácidos e enzimas (SILVA et al., 2003).
O pH estabelecido pela Instrução Normativa deve ser no
A leira teve um pequeno aumento na sua relação C/N mínimo 6,0. Tanto na leira como no reator, os valores
aos 15 dias de tratamento, atingindo seu valor mais alto obtidos foram em torno de 9, estando assim dentro do
de 36,8/1. Após esse dia, a relação começou a reduzir estabelecido.
lentamente, e aos 60 dias uma maior redução pôde ser
notada. A relação C/N da leira aos 105 dias de O valor final de umidade da leira se apresentou acima
tratamento foi de 16,7/1. Na fase de bioestabilização ou dos valores estabelecidos pela Instrução Normativa n°
sem cura, a relação C/N do composto deve ser de 18/1 25 de 23/07/2009, que determina valor máximo de
ou mais estreita (SILVA, 2008). Logo, o valor obtido se 50%. Porém, como percebido no estudo, o resíduo pode
encontra nesta fase. perder sua umidade facilmente atingindo valores
menores que o padrão. No reator a umidade de 49,0%
O reator apresentou leves acréscimos e reduções da estava adequada.
relação C/N até os 45 dias de compostagem. Em
seguida, aumentos consecutivos fizeram com que a A Instrução Normativa n° 25/2009, estabelece que o
relação C/N fosse de 53,7/1 aos 75 dias. Aos 90 dias, o parâmetro carbono orgânico seja no mínimo 15%, com
valor reduziu drasticamente para 22,3/1. Aos 105 dias isso, verifica-se que a leira e reator estão em acordo
de tratamento, a relação permaneceu praticamente com a normativa.
constante de 21,5/1.
Quanto aos valores de nitrogênio, estes também se
Apesar da relação C/N no início da compostagem estar encontram em acordo (mínimo de 0,5%).
entre 30 e 40/1, considerada uma faixa ideal para
Pereira Neto e Mesquita (1992), a relação C/N da leira e Com relação ao parâmetro C/N, a leira atingiu valor
do reator variou muito ao longo dos 105 dias do inferior (16,7/1) ao máximo estabelecido (20/1),
processo. Ainda assim, os valores da relação C/N entrando em conformidade com a norma. O valor de
atingidos por ambos os sistemas estão bem próximos C/N obtido no reator está próximo a esse limite,
(reator) e dentro da faixa considerada ideal (leira) para podendo atingir o limite desejável em pouco tempo.
o fim da compostagem.
CONCLUSÕES
Após a realização deste estudo, pode-se dizer que porém a leira apresentou uma degradação um pouco
devido à presença de compostos de difícil degradação maior do que a do reator; o nitrogênio e a relação C/N
no rúmen bovino, como lignina e celulose, assim como mostraram grandes variações, mas com resultados
nas cascas de café, a degradação do carbono orgânico satisfatórios ao fim do tratamento. Além disso, os
não foi tão eficiente como esperado, mesmo com a sistemas mecânico e convencional produzir um produto
microbiota natural favorável ao processo. final passível de ser usado como adubo orgânico.
Em relação à adoção do sistema manual e mecanizado, Conclui-se, também, que os resultados obtidos com
verificou-se que não houve diferenças significativas nos este estudo revelaram que os compostos produzidos
resultados ao longo do monitoramento do processo. pela leira e pelo reator se encontram dentro ou bem
Como pode ser notado em ambos os sistemas o pH se próximos dos valores estabelecidos pela Instrução
manteve alcalino durante praticamente toda a Normativa n° 25 de 23/07/2009. Sendo que apenas os
compostagem; a umidade apresentou quedas parâmetros umidade da leira e relação C/N do reator
significativas ao longo do processo, e assim, houve a estão pouco acima do regulamentado pela norma.
necessidade de ajustes neste parâmetro; o carbono
orgânico foi degradado de maneira suave e lenta,
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Assim, o processo estudado pode ser considerado uma aproveitamento desse tipo de resíduo gerado em
das alternativas para tratamento do rúmen bovino, frigoríficos.
promovendo um saneamento eficaz e viabilizando o
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo apoio financeiro.
TABELAS
Tabela 1 – Caracterização da mistura dos resíduos Tabela 2 – Valores finais dos compostos produzidos na leira e
Mistura de Resíduos: reator e os valores de referência da Instrução Normativa n° 25 de
23/07/2009
Parâmetros 85% Rúmen;
15% Casca de Café. I. N. n
pH 7,0 Parâmetros Leira Reator
25/2009
Umidade (%) 76,1
Matéria Orgânica (%) 88,2 pH 9,7 9,6 Mín. 6
Resíduo Mineral (%) 11,8
Umidade (%) 58,0 49,0 Máx. 50%
Carbono Orgânico (%) 49,0
Nitrogênio (%) 1,5 Matéria Orgânica (%) 70,3 78,3 ---
Relação C/N 32,0 Resíduo Mineral (%) 29,7 21,7 ---
Carbono Orgânico (%) 39,1 43,5 Mín. 15%
Nitrogênio (%) 2,4 2,0 Mín. 0,5%
Relação C/N 16,7 21,5 Máx. 20/1
FIGURAS
Figura 1 – Compostagem convencional em leira
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12
10
8
pH
0
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo de compostagem (dias)
Figura 4 – Monitoramento da umidade na leira e reator
100
90
80
70
Umidade (%)
60
50
40
0
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo de compostagem (dias)
8
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60
50
40
30
20
10
0
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo de compostagem (dias)
3,0
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo de compostagem (dias)
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60
Relação C/N
50
40
30
20
10
0
0 15 30 45 60 75 90 105
Tempo de compostagem (dias)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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(Mestrado em Agronomia) – Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu.
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12
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
13
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
INTRODUÇÃO
Os municípios brasileiros ainda têm longo caminho a Assim, o gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos
percorrer para que a Política Nacional de Resíduos (GRSU) apresenta-se como um dos desafios a serem
Sólidos, estabelecida pela Lei 12.305/10, torne-se uma enfrentados pelos responsáveis na gestão do território.
realidade sustentada. Como se sabe, essa Lei prevê a Consequentemente, torna-se necessário desenvolver
elaboração de planos municipais (e também para metodologias que tenham como objetivo o auxílio à
grandes produtores) de resíduos sólidos, os quais tomada de decisão nos processos inerentes ao GRSU, os
devem observar, dentre outros princípios, a prevenção quais envolvem o processamento e análise de dados
e a precaução, o poluidor-pagador e a visão sistêmica distribuídos espacialmente (ORNELAS, 2011).
na gestão, tudo isso considerando variáveis ambientais,
sociais, culturais, econômicas, tecnológicas e de saúde A questão da produção de RSU vem ganhando espaço
pública, além do desenvolvimento sustentável (BRASIL, nas discussões políticas e econômicas, articulando-se
2010). com temas como a saúde, o planejamento urbano e a
ocupação do solo urbano (BARROS, 2012) 2. No âmbito
Um dos objetivos a ser explicitado como conteúdo da cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, a Companhia
mínimo era que não existissem mais lixões a céu aberto Municipal de Limpeza Urbana (COMLURB), pertencente
até o ano de 2014 1 . Porém, segundo a Pesquisa à prefeitura do município, já tem adotado
Nacional do Saneamento Básico, em 2012 mais da procedimento sistemático para acompanhamento da
metade das cidades ainda destinava seus resíduos aos produção de seus resíduos sólidos na cidade. Segundo
chamados “lixões” (IBGE, 2012). informações divulgadas pela COMLURB, percebe-se um
aumento da produção de resíduos sólidos pelas
Resíduos sólidos são subprodutos inevitáveis das comunidades, aliado a uma expansão na cobertura da
atividades humanas. No entanto, o desenvolvimento população atendida pelo serviço público de coleta
econômico e social brasileiro tem favorecido a elevação convencional (COMLURB, 2010).
dos padrões de consumo por parte das populações das
regiões metropolitanas, resultando em um crescimento A visão do GRSU no Brasil ainda está calcada em
na quantidade e complexidade dos resíduos sólidos preocupações higienistas, que continuam decerto
urbanos (RSU) gerados, sobretudo em áreas urbanas. válidas, mas que são limitadas diante das imposições
Esse aumento da geração de resíduos pode ocasionar que a problemática ambiental traz. Como já
graves problemas sanitários e ambientais, mencionado, a Lei nacional 12.305/10 traz princípios e
principalmente nos países em desenvolvimento, nos diretrizes modernas e sintonizadas com entendimentos
quais ainda se observa pouca capacidade por parte do aceitos em países avançados, que esbarram em
poder público – notadamente de prefeituras municipais dificuldades práticas de tempo, de recursos financeiros
- e participação incipiente da população em se lidar e humanos, além de maus hábitos da população
adequadamente com esse tipo de problema (RATHI, (BRASIL, 2010).
2007).
Imaginar que o simples fato de construir aterros, ainda
Aliada a uma crescente urbanização, que ultrapassou que sanitários, vá resolver a questão dos RSU é
84% da população do país em 2010 (IBGE, 2012), a privilegiar o lado corretivo da gestão, quando o ideal é
geração de RSU nos principais centros urbanos atuar na prevenção. A destinação adequada é apenas
brasileiros manifesta-se em médias que superam 1,2 uma parte do processo do equacionamento da questão,
kg/hab.dia. Essa quantidade é equivalente à verificada devendo ser cada vez mais reduzida, sendo que a não
em alguns países desenvolvidos e revela hábitos de geração ou minimização da geração deveria ser
consumo e descarte que ainda não refletem políticas ou prioridade, seguidas do imperativo da reciclagem.
campanhas voltadas ao consumo racional ou redução
do volume de resíduos gerados (ABRELPE, 2010). Assim, muito mais que corresponder e responder às
constatações da realidade, a boa gestão dos resíduos
sólidos é aquela que pondera e equilibra, de modo
1
O estado de Minas Gerais criou em 2003 o programa “Minas sem
lixões”, objetivando erradicar os lixões de seus 853 municípios até
2
2010. Ainda que haja avanços significativos (em 2013 mais de 67% Dentre os fatores que influenciam a produção de RSU estão o
da população estadual já estava servida por aterros sanitários e aumento da renda per capita em paralelo à diminuição relativa de
controlados) - principalmente ao se considerar os números nacionais custos de produção, às modificações comportamentais da população,
-, por inúmeras razões os prazos ainda têm sido dilatados (FIP, 2013). aos apelos consumistas e às facilidades do descarte.
14
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
3
Ressalta-se aqui a hierarquia da gestão: não produzir, reduzir,
reciclar, tratar e dispor.
4
Os objetivos do milênio constituem em acabar com a fome e a
miséria; educação básica de qualidade para todos; igualdade entre
sexos e valorização da mulher; redução na mortalidade infantil;
melhoria da saúde de gestantes; combate a AIDS, malária e outras
doenças; qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; trabalho
pelo desenvolvimento (PNUD, 2013).
15
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
O serviço de coleta convencional de RSU é realizado RSU, a qual é atrelada ao imposto de propriedade
pela COMLURB no Rio de Janeiro, que utiliza caminhões territorial urbano (IPTU) e baseada na frequência
compactadores com capacidades de carga, em peso e semanal de realização deste serviço. Ressalta-se que o
em volume, definido e regulado pela Agência Nacional IPTU usualmente incorpora componentes como
de Transportes Terrestres (ANTT). Além dos caminhões, tamanho, padrão de acabamento, localização da
caçambas estacionárias são empregadas nos casos de edificação para atribuição de seu valor. Considerando
vilas e comunidades de difícil acesso O instrumento de essa modalidade de custeio, uma análise no sentido da
controle da quantidade de RSU produzidos e coletados aplicação da tarifa por volume ou por massa de RSU
é a balança rodoviária. Ao entrarem nos aterros ou coletada e sua possível evolução tarifária fica em
áreas de deposição, os caminhões são pesados antes da segundo plano, uma vez que a taxa de coleta é cobrada
descarga e após a descarga. Por diferença, apura-se o de forma única, independentemente do quantitativo de
quantitativo de resíduos sólidos descarregado em RSU produzidos em cada domicílio individualmente.
massa. É considerada ainda a coleta seletiva de papel,
Os dados da COMLURB foram obtidos em relatórios
metal, plástico, vidro e de resíduos orgânicos realizadas
anuais de atividades que especificam quantitativos
em feiras e sacolões, além de outros resíduos
mensais coletados em todas as regionais
específicos (COMLURB, 2010).
administrativas do município e posteriormente foram
Algumas variáveis usadas na determinação da taxa de confrontados com a renda média das populações
coleta ou limpeza pública, em vários países, são o apurada segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME)
tamanho e o padrão do acabamento construtivo de divulgada mensalmente pelo IBGE (IBGE, 2010). Desta
cada unidade residencial, sua região de localização, o forma, a partir de regressões estatísticas, realizadas
consumo de água, o número de moradores por sobre uma dispersão de pares de dados renda per
domicílio e a disponibilidade de equipamentos urbanos capita (R$/hab.mês) versus massa de resíduo sólido per
que auxiliam os serviços públicos, como lixeiras, etc. capita coletada (kg/hab.dia), obteve-se o modelo
(BARROS, 2012). matemático, conforme mostrado pela Figura 1, que
relaciona os quantitativos coletados de RSU com a
No tocante ao custo do serviço de coleta de resíduos
população e seus respectivos níveis de renda auferidos
sólidos para o contribuinte brasileiro, cabe ressaltar
por habitante (DIAS, 2012).
que, nos principais municípios brasileiros, cada imóvel
cadastrado na prefeitura paga uma taxa de coleta de
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Figura 1 – Modelo de geração de RSU obtido por regressão a partir da dispersão de renda per capita
versus geração per capita de resíduos sólidos
1,30
kg/hab.dia
1,20
1,10
1,00
0,90
0,80
0,70
y = -5E-08x2 + 0,0006x + 0,2848
0,60
R² = 0,8525
0,50
0,40
R$/hab.mês
0,30
100 400 700 1.000 1.300 1.600 1.900 2.200
Portanto, para que se estime um quantitativo de geração de resíduos sólidos em um ambiente urbano, deve-se
alimentar o modelo com os dados da população estabelecidos segundo um cenário socioeconômico futuro, de acordo
com as variáveis descritas na equação (1).
n
na qual,
C = quantitativo total produzido de resíduo sólido domiciliar por dia (kg/dia).
x = renda per capita mensal média de cada extrato socioeconômico arbitrado (R$/mês).
P = população existente em cada extrato socioeconômico arbitrado na região considerada.
i = quantidade de faixas socioeconômicas arbitradas, variando de 1 a n.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente, destaca-se o coeficiente de correlação Figura 2- Evolução da população do Rio de Janeiro
(R2) da equação (1) que se mostra satisfatoriamente Evolução populacional - Município do Rio de Janeiro
elevado, denotando boa aderência entre a dispersão
7.000.000
dos pares de variáveis e a curva ajustada por regressão
matemática. Para um horizonte temporal de curto
6.000.000
prazo, devem-se considerar aspectos da dinâmica
demográfica em decurso na capital carioca nos
5.000.000
próximos anos desta década. Dados do Censo de 2010
dão conta de significativa redução nas taxas de 4.000.000
fecundidade (IBGE, 2012): desta feita, a partir da y = -711,97x 2 + 3E+06x - 3E+09
R2 = 0,9941
observação da Figura 2, pode-se projetar o tamanho da 3.000.000
população carioca. Esse exercício mostra que para o
ano de 2015 a população do Município do Rio de 2.000.000
Janeiro alcançará um montante em torno 6.495.000 1945 1955 1965 1975 1985 1995 2005 2015
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Figura 3 – Proporção percentual das classes socioeconômicas no Rio de Janeiro, em cada ano.
No tocante à economia, programas e políticas Aliado a isso, era meta governamental manter o PIB
governamentais vêm sendo aplicados no sentido de se brasileiro em ritmo de crescimento de pelo menos 4%,
alcançar uma melhor distribuição de renda e redução no período 2011-2014, resultando em um aumento real
da pobreza das populações, a exemplo, dentre outros, acumulado de renda da ordem de 21,6%, se
do Programa Bolsa Família, que transfere diretamente considerada a data base do ano de 2010. No entanto, os
renda, beneficiando famílias em situação de pobreza e resultados econômicos ao longo de 2013 baixaram essa
extrema pobreza em todo o país (MDS, 2014). expectativa, mas mesmo assim constatou-se ganho de
Acrescenta-se a isso a estabilidade monetária derivada renda acumulada no período de 2010 a 2013 de 10,15%
do Plano Real, lançado a partir de 1994, aportando (BACEN, 2014).
ganhos de renda a estratos menos favorecidos da
população que se manifestam, entre outros aspectos, Assim, diante do crescimento da população e do
num incremento da produção de resíduos sólidos esperado aumento da renda, dentro dos parâmetros
superior ao crescimento vegetativo da população (SLU, mencionados anteriormente, pode-se projetar um
2013). cenário socioeconômico conforme apresentado na
Tabela 2. Ressalta-se que o cálculo do número médio de
Portanto, se mantido o atual nível de mobilidade moradores dos domicílios de cada estrato
socioeconômica entre classes sociais no Brasil, torna-se socioeconômico foi obtido seguindo a respectiva
natural esperar evoluções nos padrões de estratificação das faixas de renda domiciliar, apuradas
comportamento e de consumo das pessoas, copiando pelos dados do IBGE (2010).
fenômenos semelhantes à realidade de outros países.
Tabela 2 – Rendas familiares mensais médias e distribuição da população entre cada faixa de corte
do CCEB no Rio de Janeiro, projetadas para o ano de 2015.
18
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Cabe ressaltar ainda que, nesse caso, considera-se que consumo supérfluos, como produtos ligados à moda e à
a mobilidade entre as classes sociais ficará dentro das beleza, tenham suas presenças incrementadas, gerando
mesmas taxas de crescimento e tendência observadas o descarte de embalagens e recipientes.
no interstício 2000-2010, conforme mostra a Figura 3.
Nota-se um aumento das classes C1 e C2, em particular A partir da aplicação da equação (1), diante da
no período considerado, e uma diminuição das classes realidade projetada, pode-se calcular o impacto na
D e E. Isso causa impacto evidente no consumo de produção dos RSU domiciliares no Rio de Janeiro,
determinados produtos, com os bens duráveis, que conforme mostra a Tabela 3. Em 2009, segundo a
atualmente tem vida útil cada vez mais curta, tornando- Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro (RIO, 2012), a
se rapidamente “rejeito” a ser gerenciado de modo COMLURB contabilizou uma média mensal de
adequado. Além disso, permite-se inferir que bens de 132.445,33 toneladas de resíduos sólidos domiciliares
urbanos coletados.
Tabela 3 – Apuração do quantitativo futuro de geração de resíduos sólidos domiciliares no município do Rio de Janeiro para o ano de 2015
Classe socioeconômica População projetada Renda média mensal per Massa produzida (kg/dia)
capita projetada (R$)
A1 58.456 5.656,21 121.522,58
A2 331.248 3.362,88 575.404,14
B1 889.823 1.854,60 1.090.552,57
B2 1.253.546 898,74 982.349,78
C1 2.065.428 549,45 1.237.960,65
C2 1.363.962 396,88 702.514,60
D 519.604 279,5 233.091,87
E 12.990 198,5 5.221,10
Total 6.495.056 1.806.245 t/ano
A projeção da produção de RSU utilizando a equação (1) Ainda que esta simulação se concentre no atendimento
para o ano de 2015 ficou em 1.806.245 toneladas. consequente do incremento da demanda, ressalta-se
Portanto, o impacto a ser absorvido representa 13,6% que se torna necessária uma gestão com caráter além
de acréscimo no quantitativo de RSU coletado na do operacional, colocando-se em pauta discussões
Capital em 2009. Esse percentual deve ser previsto no sobre a adoção de estratégias que privilegiem a
dimensionamento de toda a infraestrutura operacional redução da produção de resíduos sólidos. A
de coleta, manejo e disposição dos resíduos sólidos. problemática ambiental vai além, impondo a aplicação
Estaria a cidade preparada para este impacto de de princípios como o da precaução, da proximidade e
tamanha grandeza? do poluidor-pagador. Do contrário, imaginar que
aterros gigantescos resolvem a questão pode
Apresentam-se três linhas de raciocínio para equacionar configurar-se em uma ação insuficiente.
a questão, relativamente óbvias, porém não
excludentes. Primeira, aperfeiçoar as capacidades Conforme mencionado na introdução deste texto, este
existentes das instalações, equipamentos e mão-de- estudo limitou-se a analisar variáveis socioeconômicas,
obra, melhorando sua administração. Segunda, investir que não são as únicas influenciam a produção e gestão
em uma ampliação gradual dos sistemas, aumentando de resíduos sólidos, mas que se constituem como
os equipamentos e instalações. Terceira, uma maiores intervenientes na gestão do RSU. Portanto, em
combinação das anteriores. Em qualquer dessas caso de sofisticação deste estudo, devem-se incorporar
hipóteses, a participação ativa da população no sentido mais variáveis no equacionamento proposto pelo
da diminuição da produção sob a forma de consumo modelo.
consciente, perpassando pelo adequado
condicionamento ou colaboração individual ao se fazer
triagem na fonte, torna-se imprescindível.
19
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CONCLUSÕES
Assim, caso o montante dos investimentos na Espera-se que a Política Nacional de Resíduos Sólidos
infraestrutura de todas as etapas de gerenciamento do consiga fazer valer seus conceitos, salientando a
RSU não seja adequado, o crescimento econômico pode racionalização da produção e a valorização da produção
impactar a sociedade negativamente por deficiências dos RSU. Se de fato houver uma gestão eficiente,
no serviço de coleta dos resíduos sólidos. Por se tratar mesmo que a produção de RSU cresça a fração
de serviço essencial, o gerenciamento da produção de destinada a aterramento tenderá a diminuir.
resíduos sólidos deve ser incorporado à gestão pública
A metodologia desenvolvida neste trabalho pode ser
continuamente, independente da esfera e dos períodos
usada por gestores públicos nos níveis municipal,
de mandatos políticos.
estadual e federal para planejar ações de investimento.
As projeções derivadas deste estudo mostram Com a ferramenta é possível realizar acompanhamento
necessidades de ampliação e de melhor eficiência de sistemático e conjuntural, para garantir o atendimento
todos os serviços de limpeza, notadamente as coletas estrutural prazo relativamente longo.
convencional e seletiva, que naturalmente não podem
acontecer sem um aumento da reciclagem e das
capacidades dos aterros sanitários.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pelo apoio dispensado à realização desta
pesquisa.
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RESUMO
Gerciene de Jesus Miranda Esse estudo objetiva avaliar as relações existentes entre saúde e meio
Lobato ambiente por meio das DRSAI, com base nos Indicadores de
Discente do Programa de Pós- Desenvolvimento Sustentável (IDS). Trata-se de pesquisa com
Graduação em Ciências fundamentação bibliográfica, onde as discussões foram validadas pelos
Ambientais – Mestrado. indicadores do IBGE nos anos de 2002, 2004, 2008, 2010 e 2012. Excluiu-se
Universidade do Estado do Pará. 2006, porque não houve publicação referente. Na Região Norte houve
Belém/Pará. evolução dos percentuais relacionados ao saneamento de 2002 a 2012,
contudo o Pará apresenta percentuais mais baixos de população abastecida
E-mail: gercienelobato@hotmail.com por rede geral de água nas áreas urbanas (59,9%), de atendimento por rede
coletora de esgoto nos domicílios (2,7%) e maior número de internações por
DRSAI, em que as doenças de transmissão feco-oral foram as principais
Mário Augusto Gonçalves causas de internações. Portanto, ainda persistem na Região Norte problemas
Jardim relacionados à falta ou deficiência do abastecimento de água, ocasionando
Doutor em Ciências Biológicas. ônus aos serviços de saúde, já que tal região detém altas taxas de
Museu Paraense Emílio Goeldi. internações hospitalares.
Belém/ Pará. Palavras-chave: Doenças; Internações hospitalares; Região Norte.
E-mail: jardim@museu-goeldi.br
ABSTRACT
This study aims to evaluate the relationship between health and the
environment through DRSAI based on Sustainable Development Indicators
(IDS). This is research with bibliographic reasoning, where discussions were
validated by IBGE indicators in the years 2002, 2004, 2008, 2010 and 2012.
2006 was excluded because there was no publication concerning. In the
northern region there was an increase in the percentages related to
sanitation from 2002 to 2012, yet the Pará has the lowest percentage of
population served by general water supply in urban areas (59.9 %), care for
the sewage disposal system in households (2.7 %) and a higher number of
hospitalizations for DRSAI, in which diseases of fecal-oral transmission were
the main causes of hospitalizations. Therefore persist in the Northern Region
problems related to lack or deficiency of water supply, causing burden to
health services, as this region has high rates of hospitalizations.
Keywords: Diseases; Hospitalizations; Northern Region.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
INTRODUÇÃO
Tem-se observado que a finalidade dos projetos de Os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável aqui
saneamento tem saído de sua concepção sanitária analisado são publicações produzidas pelo Instituto
clássica, recaindo em uma abordagem ambiental que Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Esses
visa promover a saúde do homem relacionada à indicadores permitem acompanhar a sustentabilidade
conservação do meio físico e biótico. Assim, o conceito do padrão de desenvolvimento brasileiro nas
de saneamento compreende os sistemas de dimensões ambiental, social, econômica e institucional,
abastecimento de água e esgotamento sanitário, a fornecendo um panorama abrangente de informações,
coleta e disposição de resíduos sólidos, a drenagem para subsidiar decisões em políticas para o
urbana e o controle de vetores (SOARES; BERNARDES & desenvolvimento sustentável.
NETTO, 2002).
Tais indicadores trazem em seu arcabouço teórico o
A saúde humana é um processo que pode ser medido saneamento na dimensão ambiental, abordando o
pela avaliação do maior ou menor sucesso do homem acesso ao serviço de coleta de lixo doméstico; a
em suas diferentes interações com o meio ambiente destinação final do lixo; o acesso a sistema de
(DIBOS, 1989). A maioria dos problemas sanitários que abastecimento de água; o acesso a esgotamento
afetam a população mundial está intrinsecamente sanitário e o tratamento de esgoto (IDS, 2002). Essa
relacionada com o meio ambiente, por exemplo, a água dimensão pode ser relacionada à dimensão saúde,
servida à população pode ser um veículo de especialmente com as DRSAI que foi inserida somente
disseminação rápida de agentes infecciosos, causando no IDS a partir do ano de 2004.
surtos, principalmente quando o sistema de
abastecimento distribui água fora dos padrões As Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental
bacteriológicos de potabilidade (BARCELLOS & Inadequado (DRSAI) são relevantes para o
QUITÉRIO, 2006). desenvolvimento sustentável. Abrangem diversas
patologias, como as diarreias, a febre amarela, a
As condições de vida e ambiente peculiares à região leptospirose, as micoses e outras, que têm diferentes
amazônica influenciam cotidianamente o desempenho modos de transmissão. A presença de tais doenças
das populações residentes, que coexistem com a falta como indicadores de desenvolvimento sustentável,
de saneamento básico e suas consequências, com as permite visualizar a precariedade nos sistemas de
endemias locais incluindo, as hepatites e a malária. abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta e
Convivem ainda com as doenças que são decorrentes destino final dos resíduos sólidos, drenagem urbana e
das circunstâncias penosas do trabalho na roça, no higiene inadequada, o que se constituem risco para a
garimpo, no rio ou na floresta (CÂMARA & COREY, saúde da população, sobretudo para as pessoas mais
1992). pobres vivendo em condições insalubres (IBGE, 2012).
Uma das formas de se avaliar como as questões de O objetivo deste trabalho foi avaliar as relações
saneamento influenciam na saúde humana, é por meio existentes entre a saúde e o meio ambiente por meio
de indicadores, que são ferramentas constituídas por das Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental
uma ou mais variáveis, que associadas através de Inadequado (DRSAI) com base nos Indicadores de
diversas formas, revelam significados mais amplos Desenvolvimento Sustentável.
sobre os fenômenos a que se referem.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de pesquisa bibliográfica e documental, na qual A edição relativa ao ano de 2002 constituiu um ponto
se buscou analisar os Indicadores de Desenvolvimento de partida, lançando para amplo debate um trabalho
Sustentável (IDS) produzido pelo Instituto Brasileiro de pioneiro de elaboração dos Indicadores de
Geografia e Estatística (IBGE) dos anos de 2002, 2004, Desenvolvimento Sustentável para o Brasil, e, provocou
2008, 2010 e 2012. o intercâmbio de ideias, buscando alcançar especial
comunicação com o público não especializado. As
Com exceção da edição do ano de 2006 - que não foi edições dos anos de 2004, 2008 e 2010 ampliaram e
avaliada porque não houve publicação dos indicadores - aprimoraram o rol de indicadores. E a edição de 2012
foi realizados levantamento e coleta de informações de atualiza os indicadores já publicados e introduzem
todos os outros indicadores publicados em que diz novos, reafirmando assim, os objetivos inicialmente
respeito à dimensão ambiental – saneamento e estabelecidos (IDS, 2012).
dimensão social - saúde.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Região Norte no que diz respeito ao saneamento na dimensão ambiental, nota-se que houve evolução nos anos de
2002 a 2012 (Figura 1). Resíduos sólidos, abastecimento de água e esgotamento sanitário fazem parte da infraestrutura
urbana, sendo necessários ao ordenamento e planejamento das cidades por condicionar um ambiente de pior, ou
melhor, qualidade (LIMA, 2013). Estes indicadores relacionam-se e contribuem para a promoção da saúde.
Figura 1 - Saneamento na Região Norte para área urbana segundo os IDS (2002, 2004, 2008, 2010, 2012).
Nos anos de 2010 e 2012, não houve referência a dados do lançamento de esgotos em corpos d’água. Resíduos
para destino final do lixo coletado na Região Norte. Em não coletados ou dispostos em locais inadequados,
2012 há dados apenas para as Unidades da Federação, favorecem a proliferação de vetores de doenças, e,
onde o Pará apresenta um dos menores percentuais podem contaminar o solo e os corpos d’água. Além
(2,7%) de atendimento por rede coletora de esgoto nos disso, a decomposição da matéria orgânica presente no
domicílios. E em 2010, a Região Norte não é lixo, por sua vez, origina gases associados ao efeito
mencionada quanto ao esgoto coletado tratado. estufa. Segundo Santos et al. (2014), o lançamento
indiscriminado dos resíduos no meio ambiente
A coleta dos esgotos domésticos por si só, não é capaz mantém-se como prática comum, podendo levar a um
de eliminar os efeitos ambientais nocivos decorrentes desequilíbrio do ecossistema.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
O tratamento do esgoto coletado é condição essencial Norte (36,1%), Nordeste (44,3%) e Centro-Oeste
para a preservação da qualidade dos corpos d’água (29,5%).
receptores, para a proteção da população e das
atividades que envolvem outros usos dessas águas, As cidades, independente do tamanho e número de
como, por exemplo, abastecimento humano, habitantes, produzem uma quantidade muito grande de
dessedentação de animais, irrigação, aquicultura e lixo, que é consequência do padrão de vida urbano
recreação. (LIMA, 2013). Por isso, o tratamento e a destinação
adequados do lixo coletado, são condições essenciais
De modo geral na Região Norte, o Pará é um dos para a preservação da qualidade ambiental e da saúde
estados que apresenta percentuais mais baixos de da população, facilitando o controle e a redução de
população abastecida por rede geral de água nas áreas vetores, e, por conseguinte, das doenças causadas por
urbanas (59,9%). Em relação ao tratamento de esgoto eles.
em 2005, o percentual no Brasil foi de 61,6% e a Região
Norte apresentou percentual inferior (50,7%). De 2002 A disposição inadequada de resíduos sólidos às margens
a 2005, se observa que a proporção de esgoto tratado de ruas ou cursos d’água, são práticas habituais que
em relação ao total coletado nessa região apresenta podem provocar, entre outras coisas, contaminação de
menores percentuais em comparação as outras corpos d’água, assoreamento, enchentes, poluição
visual, mau cheiro e proliferação de vetores
unidades da Federação. Por outro lado de 2006 a 2008,
a Região Norte possui percentuais mais elevados de transmissores de doenças, tais como cães, gatos, ratos,
esgoto tratado do que a Região Sudeste. baratas, moscas, vermes (MUCELIN & BELLINI,2008).
A disponibilidade de água facilita ou contribui para o Analisando esses percentuais para Região Norte
desenvolvimento urbano, que leva em conta os depreende-se que já houve avanços, mas, ainda a
recursos hídricos para a edificação das cidades dimensão ambiental no que diz respeito ao
(MUCELIN & BELINI, 2008). Toda água fornecida à saneamento, precisa de melhorias. Os serviços de
população por rede de abastecimento geral tem de ser saneamento precisam ser implementados de forma que
tratada e apresentar boa qualidade, porém em áreas sejam acessíveis a todos, pois as lacunas existentes
urbanas nem sempre é satisfatória, pois o risco de geram consequências para os serviços de saúde a
contaminação de nascentes, poços, rios e lençóis exemplo das internações por doenças relacionadas ao
freáticos é muito grande. saneamento ambiental inadequado.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Figura 5 - Internações hospitalares por DRSAI por 100 000 habitantes – 2010. IDS (2012)
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
CONCLUSÃO
Os serviços de saneamento possuem relação direta com drenagem, construção de aterros sanitários de forma
a saúde e geram impactos para o meio ambiente, além clandestina e em local inapropriado. Atrelado a isso há
de fornecer indicativos importantes sobre a qualidade insuficiência de recursos físicos e humanos, hospitais
de vida da população. Os indicadores analisados com contingente populacional superior a demanda
sinalizam que a Região Norte apresenta os menores estabelecida, unidades de saúde que priorizam o
percentuais, o que consequentemente contribui para atendimento ambulatorial em detrimento das medidas
elevação do número de doenças, interferindo assim nas de prevenção e controle de doenças e recursos
taxas de internações hospitalares. financeiros mal direcionados.
Em termos de atenção à saúde, persistem nesta Região A saúde é entendida como política de governo e não de
questões não solucionadas, como o desrespeito por estado, pois a cada nova eleição agenda, e, planos são
parte da população com a educação ambiental e a falta modificados baseados em interesses e negociações
de conhecimento sobre o saneamento básico partidárias, o que resulta em falta de compromisso com
culminando, entre outras coisas, no lançamento de as políticas públicas implementadas.
resíduos sólidos nos rios, portos de embarque e
desembarque de pessoas e produtos, ruas e canais de
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Persiste a falta de atuação dos cidadãos como agentes Os processos de gestão, educação e sistemas de
ativos a buscar respostas coerentes quanto ao não informação precisam ser aprimorados e atualizados, e
cumprimento das ações, a começar pela participação as ações de vigilância sanitária, epidemiológica e
das reuniões do conselho e conferências de saúde e ambiental necessitam ser fortalecidas, considerando as
meio ambiente. especificidades regionais, de modo a possibilitar a
qualidade de vida e a conservação ambiental.
Projetos de integração entre universidades, escolas e
secretarias municipais que envolvam a população na Nesse sentido, os indicadores de desenvolvimento
produção do conhecimento e na execução de medidas sustentável devem servir como instrumentos essenciais
precisam ser efetivados. Tais projetos podem versar para guiar a ação, e, subsidiar o acompanhamento e a
sobre o reaproveitamento da água da chuva e do lixo, avaliação do progresso alcançado rumo ao
ou sobre a criação de sistemas produtivos em locais desenvolvimento sustentável, devendo ser vistos como
propícios ao acúmulo de resíduos e entulhos. ferramentas de análise e implementação de políticas
públicas mais coerentes com a realidade local.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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31
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
RESUMO
Melba Garcia Velasco A predição de impactos das inovações tecnológicas se constitui em elemento
de essencial importância para a tomada de decisões para sua implantação
Mestre PRODEMA/UESC. nos marcos do desenvolvimento sustentável. O presente trabalho objetivou
Universidade Estadual de Santa desenvolver novos indicadores que permitam avaliar os impactos
Cruz. Ilhéus. Bahia. Programa de socioambientais da implantação de novas tecnologias em agroindústrias de
Pós-graduação em nova geração, cuja matéria-prima fundamental são resíduos agroflorestais. O
Desenvolvimento Regional e Meio trabalho coloca em foco inovações tecnológicas ligadas ao aproveitamento
Ambiente. de resíduos de coco: na produção de adsorventes naturais de metais, tóxica
em água e na produção de materiais de construção, e objetiva fazer a
avaliação (“ex-antes”) dos impactos socioambientais da implantação destas
novas tecnologias. É proposta e utilizada uma ampliação da metodologia
Francisco H. Martinez
AMBITEC, da EMBRAPA, com a introdução de novos indicadores. Os
Luzardo
resultados obtidos dos coeficientes de impacto e o Índice Geral de Impacto,
PhD, Professor Adjunto no âmbito ambiental e social nos cenários estudados, indicam a viabilidade
DCET/UESC. Universidade Estadual da implementação das novas tecnologias estudadas.
de Santa Cruz. Ilhéus. Bahia.
Programa de Pós-graduação em
Desenvolvimento Regional e Meio Palavras-chave: Impactos ambientais e sociais, Inovação tecnológica, Resíduos
Ambiente. Autor correspondente. de coco.
E-mail: fmartinezluzardo@gmail.com
ABSTRACT
Fermin G. Velasco The impact prediction of technological innovations constitutes key element
for making decisions for its implementation as part of the sustainable
PhD, Professor Pleno DCET/UESC. development. This study aimed to develop new indicators to measure the
Universidade Estadual de Santa social and environmental impacts of new technologies implemented in new
Cruz. Ilhéus. Bahia. Programa de generation of agro industries, whose main raw material is agroforestry waste.
Pós-graduação em The work focuses on technological innovations related to coconut waste use:
Desenvolvimento Regional e Meio in the production of natural adsorbents of toxic metals in water and in the
Ambiente. production of building materials, and it aims to make the evaluation ("ex-
ante") of the possible socio-environmental impacts that can be caused from
the implementation of these new technologies. It’s proposed and used an
extension of the AMBITEC methodology, from EMBRAPA. The results
obtained from the impact factors and General Index of Impact, in the
environmental and social context for the studied scenarios; indicate the
feasibility of implementing the cited new technologies.
Keywords: Environmental and social impacts, Technological innovation,
Coconut residues.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
INTRODUÇÃO
Encontrar estratégias de superação da crise ambiental, Pesquisa Agropecuária - RODRIGUES, 1998). A base
sem abandonar a trajetória da modernização, constitui conceitual e metodológica do Sistema AMBITEC,
atualmente um desafio para a sociedade. Vários autores encontra-se reportada numa ampla literatura e
colocam em destaque a Teoria da Modernização publicada nos trabalhos de Rodrigues e colaboradores
Ecológica, que justamente preconiza que a inovação (RODRIGUES, 1998; RODRIGUES et al., 2000, 2002,
tecnológica constitui a ferramenta fundamental para 2003a e 2003b; IRIAS et al., 2004). Um elemento
solucionar os problemas da crise ambiental atual (MOL fundamental que confirma o sistema citado é a sua
A. e SPAARGAREN 2002; HUBER J., 2000; JACOBS identificação com a avaliação dos impactos em todos os
KLAUS, 2008). estágios dos processos sob avaliação, desde o
planejamento e seleção do projeto até sua
Por outro lado, na história existem inúmeros exemplos implementação (RODRIGUES et al., 2003b). É
da introdução de tecnologias de grande relevância para importante destacar que, diferentemente dos métodos
a sociedade moderna, mas que vêm acompanhados de de Avaliação de Impactos Ambientais EIA/RIMA, este
significativos impactos socioambientais negativos. tipo de ferramenta, como o Sistema AMBITEC, foca sua
Nesta lista podem ser elencadas: as tecnologias ligadas
atenção nos efeitos que uma inovação tecnológica pode
à geração de energia a partir de combustíveis fósseis provocar em diversos níveis de abrangência (não
que são responsáveis pelas emissões de gases de efeito necessariamente apenas em um objeto econômico a ser
estufa; a invenção do plástico, ligada ao aumento do implantado). Esta metodologia constitui uma valiosa
tempo de degradação de resíduos; a questão da ferramenta que subsidia estudos de projetos ou
indústria eletrônica no que se refere ao “e-waste” (lixo programas de pesquisas relativas à implantação de
eletrônico) e o aumento da poluição de metais tóxicos; novas tecnologias.
e também a tecnologia nuclear, presente em armas
devastadoras e também na geração de energia, com O Sistema AMBITEC/EMBRAPA original tem seu sistema
seus conhecidos riscos de acidentes e problemas com o de indicadores direcionado para unidades produtivas
lixo nuclear, ainda sem uma solução técnica definitiva. agropecuárias, produção animal e para a agroindústria,
Mais recentemente, a indústria biotecnológica tem geralmente no setor alimentar. Este tipo de unidade
trabalhado para definir seus limites a fim de não afetar produtiva contemplada no Sistema AMBITEC, da
os ecossistemas naturais, e assim surge a EMBRAPA, tem como entrada (insumos): matéria-prima
nanotecnologia emergente, com grande potencial em padrão, produtos químicos (agrotóxicos), água e fontes
soluções, mas sem conhecimento preciso das de energia. A agroindústria, objeto do presente estudo,
consequências sociais e ambientais da presença das apresenta um fluxo diferenciado de insumos devido à
novas nanopartículas no ambiente (PLAGLIARO, 2011; matéria-prima utilizada ser constituída por resíduos
HUNT et al., 2006). agrícolas. Assim, como será exposto em detalhes no
item 2.2 a seguir, é possível verificar que o sistema
Estes elementos acima apontam para a importância de AMBITEC/EMBRAPA original não inclui indicadores
realizar estudos de impactos prévios à introdução de capazes de avaliar adequadamente o tipo de
projetos de inovações tecnológicas. Por isto a criação, agroindústria “verde” cuja matéria-prima fundamental
aperfeiçoamento e aplicação de ferramentas para são resíduos agroflorestais. Justamente esta questão é
avaliar estes impactos, constituem-se em um elemento um dos focos principais do presente trabalho.
básico para a tomada de decisão referente à
implementação das inovações tecnológicas com base na Por outro lado, um dos problemas ambientais mais
análise de seus possíveis danos e/ou benefícios marcantes da sociedade moderna está ligado à
ambientais e sociais. produção e gerenciamento de resíduos em decorrência
dos padrões atuais de consumo. Com uma população
Alguns dos mais importantes métodos de avaliação de de cerca de 192 milhões de habitantes (estimativa do
impactos de inovações tecnológicas no setor agrícola Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE
(AMBITEC) foram desenvolvidos no Brasil por grupos de 2010]), o Brasil produz, em média, 90 milhões de
pesquisadores da EMBRAPA (Empresa Brasileira de toneladas de lixo por ano, de acordo com os dados do
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Ministério do Meio Ambiente. No que se refere à e internacionais, onde se têm demonstrado resultados
disposição final, segundo dados de IBGE, 63,6% dos de suas potencialidades. Visando a resolução do
municípios brasileiros depositam seus resíduos sólidos problema da contaminação dos recursos hídricos,
em lixões. É evidente que o panorama da atual diversos autores concluíram que a casca de coco verde
realidade do país, quanto à disposição final dos resíduos pode ser uma alternativa viável de bioadsorção de baixo
sólidos, exige a transformação das práticas ambientais custo, para tratamento de efluentes industriais
tradicionais. Nesse particular, as pesquisas científicas e contaminados por metais pesados (SOUZA et al., 2007;
tecnológicas são fundamentais para o desenvolvimento ALMEIDA, 2009). Por outro lado, a utilização dos
e aprimoramento de tecnologias limpas. resíduos vegetais na elaboração de materiais de
construção é outra opção que reduz o volume de
Um exemplo da viabilidade do aproveitamento de
resíduos descartados e aumenta suas potencialidades
resíduos sólidos por meio de tecnologias inovadoras é a de aproveitamento. Pesquisas feitas demonstram que
reciclagem do grande volume de resíduos orgânicos tratamentos com as fibras de coco são recomendáveis
gerados nos processos agrícolas. O Brasil é o quarto para a construção de painéis não estruturais de
maior produtor mundial de coco, com uma produção cimento/fibra de coco (MENDEZ, J. F., 2011; FILHO,
aproximada de 2,8 milhões de toneladas, em uma área 2004). A utilização de resíduos de coco para os fins
colhida de 287 mil hectares de coqueiros. Por sua vez, citados acima pode ser enquadrada dentro daquelas
constata-se que a liderança da produção é do Estado da soluções desejáveis, com tecnologias que podem
Bahia (MARTINS et al., 2011). Em cidades como Ilhéus e contribuir ao mesmo tempo para resolver distintos
Itabuna, a produção de coco alcançou, no ano de 2011, desafios enfrentados na sociedade atual: diminuir o
uma cifra de 8 milhões e 20.000 frutos (SEI, 2011), o volume de resíduos gerados; reduzir a níveis toleráveis
que equivale a uma grande geração de resíduos de a contaminação dos recursos hídricos; e satisfazer a
casca de coco, cujo destino final é o lixão. demanda habitacional da sociedade.
No caso específico dos resíduos de coco, inúmeros
trabalhos têm sido publicados em periódicos nacionais
OBJETIVOS
O primeiro objetivo deste trabalho é aprimorar as ferramentas atuais de avaliação dos impactos da inovação tecnológica
no setor agroindustrial, incluindo novos indicadores que permitam avaliar de forma integral e coerente estes impactos
para o caso de agroindústrias “verdes”, cuja matéria-prima principal é constituída por resíduos de outra atividade
econômica. O segundo objetivo mais específico é aplicar as ferramentas desenvolvidas para estimar os impactos
ambientais e sociais da introdução das tecnologias para a produção de adsorventes naturais e materiais de construção a
partir do aproveitamento de resíduos da industrialização de coco.
MATERIAIS E MÉTODOS
O sistema de avaliação de impactos ambientais e avaliação será descrito resumidamente nos itens 2.1 e
sociais, será utilizado no presente trabalho para 2.2.
mensurar os impactos “ex-antes” da possível aplicação
das duas tecnologias alternativas de reaproveitamento Mediante uma análise detalhada, identificou-se cada
de resíduos de coco, tem como base o sistema de elemento que integra o sistema de avaliação de
avaliação da inovação tecnológica AMBITEC - impacto da inovação tecnológica AMBITEC, da
Agroindústria da EMBRAPA (IRIAS, L. J. M., RODRIGUEZ, EMBRAPA, nas dimensões ambientais e sociais, e
G. S. et al., 2004) e AMBITEC - Social (RODRIGUES, G. S., realizou-se uma análise crítica dos indicadores e
CAMPANHOLA, C., KITAMURA, P. C., et al., 2005) com componentes que deveriam ser modificados, omitidos
adequações necessárias propostas e aplicadas no ou incorporados ao sistema de avaliação de impacto
presente trabalho em uma agroindústria de citado. Para isto, foram considerados fatores associados
beneficiamentos de resíduos de coco. Este sistema de às especificidades das tecnologias, às condições reais da
localidade onde se aplicarão as tecnologias e à
34
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Por sua vez, para a avaliação do impacto social da A aplicação do Sistema AMBITEC inclui, além disso,
introdução da inovação tecnológica, são abarcados outro fator de ponderação que se refere à importância
quatro aspectos gerais de avaliação: emprego; renda; do componente na conformação do indicador. Os
saúde; e gestão e administração. Estes, por sua vez, se valores dos fatores de importância variam com o peso e
dividem em quatorzes indicadores, organizados em um o número de componentes que formam um
sistema de matrizes escalares, onde é inserido, para determinado indicador, sendo que a soma dos pesos de
cada indicador, um conjunto de componentes (que todos os componentes estará normalizada no valor de
chegam a somar setenta e nove desses) (RODRIGUES et (1) ou (-1), podendo assumir valores positivos ou
al., 2005). negativos, definindo a direção (favorável ou
O método aplica-se tanto para o caso da avaliação de desfavorável) do impacto para o indicador dado.
impactos "ex-ante", no estágio de formulação do O cálculo do coeficiente de impacto ambiental/social,
projeto, quanto para a avaliação dos impactos ex-pós, para cada indicador, é obtido pela equação (1), segundo
observados, em campo, com a adoção da tecnologia. a metodologia AMBITEC (EMBRAPA).
Um elemento importante no procedimento de
avaliação do Sistema AMBITEC é a indicação da direção
35
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Finalmente, o Índice Geral de Impacto da Inovação Segundo: no aspecto Qualidade do Produto, é proposta
Tecnológica no âmbito ambiental ou social é obtido a inclusão de novos componentes (Tabela 2). Os
pela equação (1), segundo a metodologia AMBITEC componentes adicionados no quadro abaixo justificam-
(EMBRAPA). se pelo fato de que as produções resultantes das
alternativas tecnológicas, em estudo, partem do
reaproveitamento de uma biomassa orgânica natural
𝑚 biodegradável e que, conjuntamente com esta
𝑖𝑚𝑝 𝑖𝑚𝑝 característica, esses produtos usados e despejados
𝐼𝑡𝑒𝑐𝑛 = ∑ 𝐶𝑖 . 𝑃𝑖 (2) podem ser novamente processados para seu
𝑗=1 reaproveitamento.
Onde: Vale ressaltar a diferença conceitual das questões
avaliadas pelo indicador: Geração de Resíduos Sólidos
Iimp tecn. : índice de impacto ambiental ou social da
(incluídas no Sistema AMBITEC original) e o novo
tecnologia;
indicador RRR proposto no presente trabalho. Na
Ci imp.: coeficiente de impacto do indicador i; Geração de Resíduos Sólidos, geralmente de natureza
negativa, verificam-se os resíduos da própria produção,
Pi: fator de ponderação segundo a importância do onde é aplicada a nova tecnologia. Por exemplo, no
indicador i para composição do caso estudado, seriam os resíduos gerados no processo
índice de impacto da tecnologia; de produção de adsorventes ou de materiais de
construção. Já o indicador RRR foca sua atenção na
m: número de indicadores. origem dos insumos, valorizando o aproveitamento e
reuso de resíduos de outras atividades econômicas
Modificações ao Sistema AMBITEC
(neste caso, resíduos de coco) no processo produtivo da
O Sistema de Avaliação de Impactos da agroindústria estudada nos três cenários apresentados.
AMBITEC/EMBRAPA tem seu sistema de indicadores
Como se representa na Figura 1, o potencial de
direcionado para unidades de produção agropecuária,
reaproveitamento de resíduos é avaliado por cada um
animal e para a agroindústria, geralmente alimentar.
dos três indicadores envolvidos (Geração de Resíduos,
Este tipo de unidade produtiva, contemplada no
RRR, Qualidade do Produto) em diferentes etapas do
Sistema EMBRAPA, tem como entrada (consumo):
processo. Na variável Geração de Resíduos, focaliza-se a
matéria-prima padrão, produtos químicos (agrotóxicos),
capacidade de reciclagem dos resíduos gerados no
água e fontes de energia. A agroindústria, objeto do
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
processo produtivo (saída); no RRR, refere-se à origem AMBITEC (EMBRAPA). Este sistema, em essência, obtém
dos insumos (entrada) do processo produtivo; e na um índice integrado de impactos composto por uma
Qualidade do Produto, trata-se da capacidade de ser soma ponderada de indicadores onde, por sua vez, cada
reaproveitado o próprio produto após o uso. um é uma soma ponderada de componentes. No
cálculo de cada indicador são considerados o fator de
Além das modificações acima, referentes à inclusão de ponderação da importância do componente (Pij), o
novos indicadores, o Sistema de avaliação de impactos coeficiente de alteração do componente (Aij) e o fator
tecnológicos (que foi efetivamente utilizado no de escala de ocorrência espacial (Eij).
presente trabalho) manteve toda a sua estrutura de
cálculo similar à do Sistema EMBRAPA atual, ou seja, Assim, a nova tecnologia é avaliada de forma integral
foram utilizadas, para os cálculos dos coeficientes de pela composição do Índice de Impacto Ambiental e
impacto do índice geral de impacto, as fórmulas (1) e (2) Social respectivamente, considerando o peso que lhe é
como aparecem reportadas na metodologia do Sistema conferido ao indicador de acordo com sua importância
de Avaliação de Impactos da Inovação Tecnológica relativa na composição do impacto final da tecnologia.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Agroindústria de beneficiamento de coco ambiental foram motivos da decisão de escolher essa
agroindústria para desenvolver o presente estudo.
A região de interesse do estudo foi o Sul do Estado da
Bahia, justificada pela produção expressiva de coco e O sistema de avaliação de impactos, já modificado, foi
seus resíduos. A partir de dados levantados (SEI, 2011), aplicado a duas alternativas tecnológicas que estão
verificou-se que o município de Una é um dos mais sendo objeto de investigação na Universidade Estadual
representativos quanto à área plantada de coco. O de Santa Cruz (UESC): a produção de adsorventes
município de Una, distante de Salvador 503 km, tem naturais de metais tóxicos em água; e a produção de
aproximadamente 1200 km2 de território, e uma materiais de construção, a partir de resíduos da
população estimada em 25 mil habitantes (IBGE, 2010). comercialização da água de coco, na área da
Sua economia baseia-se principalmente na agricultura Agroindústria estudada no município de Una.
(Coco da Baía, Cacau, Seringa, Dendê, e outros) e
turismo. Os cálculos dos impactos correspondentes dos
Coeficientes de Impacto e do Índice Geral de Impacto,
Em geral, a produção de resíduos de coco pode ser no âmbito social e ambiental, foram realizados nos
muito dispersa, como acontece nos pontos de venda de seguintes três cenários: Cenário 1: agroindústria com
água de coco nas cidades, ou, de forma mais unidade produtiva de adsorventes naturais; Cenário 2:
concentrada, como na agroindústria de coco. No agroindústria com unidade produtiva de materiais de
presente trabalho foi escolhido o segundo cenário de construção; e Cenário 3: a agroindústria sem aplicações
maior concentração de resíduos, o qual não precisa de das alternativas tecnológicas.
estudos de logística de transporte para concentração e
armazenamento dos resíduos. O estudo foi aplicado na Ilustram-se, nas tabelas 3 e 4, sinteticamente, os
fazenda Santa Tereza, localizada no município Una, no resultados finais da avaliação ambiental e social dos
Sul da Bahia. Esta fazenda possui uma área total de 990 impactos da inovação tecnológica analisados para os
hectares, com 130 ha de área plantada de coco. Nela diferentes cenários estudados.
encontra-se instalada a Plancomar Companhia Agrícola Impactos ambientais
Ltda., fábrica na qual são processados os derivados do
coco verde: água e polpa para fins alimentares e a casca Como é apresentado na tabela 3, o estudo realizado na
triturada para produção da fibra e substrato agrícola. A agroindústria, sob as condições atuais, sem aplicação de
estimativa da produção de resíduos de coco tecnologias para o aproveitamento dos resíduos
concentrada é de 5 a 6 ton./diárias. A subutilização de gerados (cenário 3), mostra um resultado desfavorável
grande parte dos resíduos produzidos nessa no âmbito ambiental. O fato explica-se pela ocorrência
agroindústria e a necessidade de viabilizar uma solução de eventos adversos que estão comprometendo a
qualidade do meio ambiente. A situação atual da
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
agroindústria caracteriza-se por um aumento da incluindo a fibra de coco. Ainda influi também, neste
produção e exportação do produto principal (água de indicador, o consumo de combustível diesel em função
coco). Em decorrência desse fato, se desencadeia maior do gerador de calor, no caso das duas alternativas
consumo de energia, maior consumo de aditivos, tecnológicas. O mesmo é necessário para alcançar a
causados pelo uso de conservantes na água de coco temperatura indicada no processo de lavagem dos
engarrafada, além do elevado consumo da água resíduos, requerimento associado ao processo
utilizada na lavagem dos cocos. Assim, é gerada uma tecnológico.
maior quantidade de água residual. Este líquido se
deposita em uma lagoa, perto da área de trabalho, o No que se refere ao indicador Uso de Água, obteve-se
que constitui um agravo ao ambiente, gerando poluição um índice de impacto negativo de valor igual a -0,06 no
caso da produção dos adsorventes naturais, e valor -
hídrica.
0,125 para a produção dos materiais de construção.
Esses resíduos líquidos contêm elevadas quantidades de Esse fato deve-se à necessidade do consumo da água na
açúcares, fenóis, sais e outras impurezas contidas nas etapa de lavagem da fibra de coco, no início dos
cascas de coco, o que acarreta o surgimento de processos produtivos. Neste segmento, pode-se
condições favoráveis para a proliferação de focos de perceber que, especificamente para a produção de
vetores, fato que contribui para a transmissão de materiais construtivos, o efeito negativo aumenta
doenças que afetam a saúde humana. Nas estimativas devido não só à utilização da água para a lavagem da
da avaliação de impacto ambiental da introdução das fibra, mas também porque será preciso consumir certa
tecnologias alternativas, o índice total de impacto geral quantidade adicional de água ao ser incorporada no
direciona-se em sentido positivo, contendo alguns próprio processo de elaboração do produto.
indicadores com variações de efeitos negativos e a
maioria com efeitos de maiores benefícios nos Foi obtido, para o indicador Atmosfera, um índice de
parâmetros avaliados. No aspecto integral de Eficiência impacto negativo de valor igual a -0,0125 no caso da
Tecnológica, os indicadores que causam efeito negativo alternativa tecnológica para a produção dos
ao impacto ambiental, nas duas tecnologias citadas, adsorventes naturais, e nula no caso da tecnologia para
a produção dos materiais de construção. Essa alteração
foram: uso de energia, uso de água, qualidade da água
no sentido negativo será motivada pela introdução de
e, para o indicador atmosfera, só apresentou efeito
negativo para a tecnologia da produção de adsorventes um moinho para a trituração da casca de coco até
naturais. transformá-la em pó, para a produção dos adsorventes,
o qual gerará uma mudança no que se refere ao nível
Para o indicador Uso de Energia, percebeu-se um índice de ruído existente.
de impacto negativo de valor igual a -0,125 no caso da
aplicação das duas alternativas tecnológicas. Isso se O item relativo ao consumo da água, exposto
justifica pelo aumento gradativo de operações anteriormente, relaciona-se com a sua qualidade, visto
mecanizadas, nas futuras instalações, para o que quando se realizar a lavagem da fibra, a água usada
funcionamento nas unidades produtivas previstas com ficará poluída, independentemente que ainda agregue-
as novas tecnologias. Aspecto esse que introduz o se à mesma o líquido extraído do resíduo de coco, o
consumo de energia, devido à utilização de maquinários qual contém um alto teor de fenóis, açúcares, entre
e equipamentos elétricos e que são imprescindíveis outras impurezas. Essas atividades, provenientes do
para o andamento das linhas de produções. Pode-se processo tecnológico, atribuem, a este recurso natural,
citar, por exemplo, no caso da produção de adsorventes certo grau de turbidez e um nível moderado de sólidos
naturais, as esteiras móveis responsáveis pelo dissolvidos. Isso explicita o resultado negativo nos casos
transporte das cascas de cocos; o moinho de lâminas das duas inovações analisadas, resultando em valor
fixas, onde é triturada a biomassa de resíduos; e a igual a -0,06 para ambas as tecnologias alternativas.
máquina dosadora, na qual se efetuará a dosagem do Dentre os impactos positivos, o que ganha destaque é o
pó de coco para a embalagem. Quando se considera o indicador Qualidade do Produto. Este indicador aponta
caso da produção dos materiais construtivos, encontra- os impactos que a aplicação da nova tecnologia terá na
se a betoneira, um equipamento utilizado para misturar qualidade ambiental medida pelos atributos que o
os materiais na proporção e textura adequadas, produto apresenta favoráveis à conservação ambiental.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Verificou-se um impacto positivo, nas duas tecnologias, devido à utilização de um moinho de lâminas fixas para
com valor de 0,05. De fato, o novo adsorvente e os o processo de trituração das cascas de coco.
blocos que serão obtidos com a introdução das
tecnologias alternativas terão maior biodegradabilidade Os indicadores que mais influenciaram positivamente
e, além disso, no caso do adsorvente, este adquire a no Índice Geral de Impacto foram: Geração de Rendas e
capacidade de reaproveitamento em outros setores Valor da Propriedade. Nesses casos, considerou-se o
produtivos, como o de materiais de construção. valor agregado do resíduo do coco ao ser transformado
em produtos para a purificação da água e materiais de
Impactos Sociais construção. Condicionado pelos benefícios dessa
produção poderá haver um aumento de renda, o qual
Na Tabela 4 são apresentados os resultados obtidos
estimulará a sua distribuição, de acordo com o
para os impactos estudados no âmbito social. Os efeitos
montante, em salários pagos. Verifica-se uma
negativos que influem no índice de impacto geral no
contribuição nos índices de impactos de 0,2075, nas
âmbito social encontram-se no aspecto geral Saúde,
duas tecnologias alternativas, e nos dois indicadores.
apontando aos indicadores Saúde Ambiental e Pessoal e
Soma-se a esse fato o investimento das novas linhas de
Segurança e Saúde Ocupacional.
produção, devido à introdução das tecnologias, que
No caso do indicador Saúde ambiental e Pessoal, contribuirá de forma positiva, aumentando o valor da
consideraram-se, nas estimativas, algumas alterações propriedade localizada na área da agroindústria de
advindas da adoção das novas tecnologias, na existência aproveitamento dos resíduos de coco.
de emissão de poluentes hídricos. Isso é devido à
A introdução das tecnologias em avaliação proporciona
lavagem dos resíduos de coco para a sua utilização no
um impacto geral positivo no âmbito ambiental e social.
processo produtivo, os quais geram contaminantes que
Este resultado indica que, tanto a tecnologia para a
ficam na água. Esse indicador alcançou um índice de
produção de adsorventes naturais quanto à de
impacto negativo de valor -0,016 para as duas
produção de materiais de construção são benéficas ao
tecnologias.
meio ambiente e contribuirão para o melhoramento
Entretanto, no indicador Segurança e Saúde das condições de vida dos moradores dessa
Ocupacional, foi abordada a exposição dos comunidade. Diante disso, pode-se deduzir que as
trabalhadores quanto à alteração do nível de ruído; no referidas tecnologias podem ser amplamente utilizadas
caso somente da produção de adsorventes naturais, em setores agroindustriais de produção de água de
produziu-se uma alteração negativa com um índice de coco para alavancar o desenvolvimento local de forma
impacto com valor de -0,0083. Essa situação explicita-se sustentável.
CONCLUSÕES
Aproveitando praticamente todos os elementos Como a metodologia da AMBITEC – EMBRAPA não
presentes da metodologia AMBITEC – EMBRAPA, o conta com todos os elementos necessários para a sua
presente trabalho desenvolveu uma proposta para sua aplicação em agroindústria de beneficiamento de
ampliação e a aplicou na avaliação de uma resíduos, em particular no que se refere ao
agroindústria de reaproveitamento de resíduos do coco. aproveitamento dos resíduos de coco, o principal
entrave observado encontra-se no nível da definição do
O resultado da estimativa do Índice Geral de Impacto indicador de reaproveitamento de resíduos, seja por
Ambiental e Social obtido mediante a aplicação do
reutilização ou por reciclagem dos mesmos.
Sistema de Avaliação de Impacto EMBRAPA-UESC, nos
três cenários escolhidos (implantação da unidade No caso dos impactos ambientais nas duas tecnologias,
produtiva de adsorventes naturais; implantação da o novo indicador RRR (Redução, Reutilização e
unidade produtiva de materiais de construção; e Reciclagem) influiu significativamente pelo fato de
cenário atual com descarte de resíduos in natura) foi de potencializar o gerenciamento de resíduos na entrada
especial importância para considerar a possibilidade da de insumos; e o indicador Qualidade do Produto foi
possível implantação das alternativas tecnológicas. redimensionado para considerar especificamente os
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), por todo o apoio integral à pesquisa; à empresa
Plancomar Companhia Agrícola Ltda “Coco Comandatuba”, pela sua participação, receptividade ao projeto e pela
disponibilização de dados e amostras de resíduos de coco; e também ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), pelo apoio recebido através da bolsa de estudos de mestrado.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
TABELAS
Tabelas 1 - Componentes do novo indicador “Redução, Reutilização e Reciclagem” (RRR) incorporados ao sistema de avaliação de impacto
ambiental adaptado ao caso estudado.
Aspecto Geral Indicador Componentes incorporados
Reciclagem da água
Reciclagem de resíduos sólidos
Conservação Ambiental RRR
Reciclagem de resíduos perigosos
Eficiência Energética
Tabela 3 - Coeficientes de Impacto Ambiental e Índice Geral de Impacto Ambiental, nos casos estudados,
com a aplicação da metodologia adaptada
Tecnologia para a produção de Tecnologia para a produção de Sem aplicação das Tecnologias
Adsorventes Naturais Materiais de Construção alternativas
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Tabela 4 - Coeficientes de Impacto Social e Índice Geral de Impacto Social, nos casos estudados, com a aplicação da metodologia adaptada
Tecnologia para a produção de Tecnologia para a produção de Materiais
Sem aplicação das alternativas tecnológicas
Adsorventes Naturais de Construção
Indicadores de Impacto Social
Peso do Coeficiente de Peso do Coeficiente de Peso do Coeficiente de
Ci x Pi Ci x Pi Ci x Pi
Indicador Impacto Indicador Impacto Indicador Impacto
Capacitação 0, 083 0,6 0, 0498 0, 083 0,35 0, 0291 0, 083 0 0
Oportunidade de emprego local
0, 083 0,75 0, 06225 0, 083 0,75 0, 0623 0, 083 0 0
qualificado
Oferta de emprego e condição do
0, 083 0,7 0, 0581 0, 083 0,7 0, 0581 0, 083 0 0
trabalhador
Qualidade de emprego 0, 083 0,45 0, 03735 0, 083 0,45 0, 0374 0, 083 0 0
Geração de Renda 0, 083 2,5 0, 2075 0, 083 2,5 0, 2075 0, 083 0 0
Valor da propriedade 0, 083 2,5 0, 2075 0, 083 2,5 0, 2075 0, 083 0 0
Saúde ambiental e pessoal 0, 083 -0,2 -0, 0166 0, 083 -0,2 -0, 0166 0, 083 -4 -0, 332
Segurança e saúde ocupacional 0, 083 -0,1 -0, 0083 0, 083 0 0 0, 083 -0, 15 -0, 01245
Dedicação e perfil do responsável 0, 083 1,7 0, 1411 0, 083 1,3 0, 1079 0, 083 1,7 0,1411
Condição de comercialização 0, 083 2,25 0, 18675 0, 083 2,25 0, 1868 0, 083 2,25 0, 18675
Reciclagem de resíduos 0, 083 1,2 0, 0996 0, 083 1,2 0, 0996 0, 083 0,4 0, 0332
Relacionamento Institucional 0, 083 1,8 0, 1494 0, 083 1,25 0, 1038 0, 083 1,8 0, 1494
Materiais de Construção Sem aplicação das inovações
Índice Geral de Impacto Social Adsorventes Naturais 1, 17 1, 08 0, 16
tecnológicas.
FIGURAS
Figura 1 - Esquema da área de avaliação das variáveis de reaproveitamento
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
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e-mail: toppa@ufscar.br
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
INTRODUÇÃO
A efetividade da gestão em Unidades de Conservação desenvolvimento, onde regiões conservadas convivem
(UC) é um tema de grande interesse no Brasil e no com populações humanas (LYNAGH; URICH, 2002). A
mundo, visto que as suas estratégias e ações visam à política que estabelece as ZA ao redor das áreas
integração das áreas protegidas com o seu entorno protegidas ao longo dos países é similar, com diferenças
(BRASIL, 2000). Essa temática se fundamenta em nas características geográficas, legais e de gestão
abordagens aplicadas a gestão integrada de territórios, (STRAEDE; TREUE, 2006). Entretanto, apenas a criação
incorporando em seu processo de planejamento da ZA não atende necessariamente às necessidades das
diretrizes de diferentes instrumentos voltados ao UC, pois não há abrangência das particularidades de
ordenamento do uso e ocupação da terra, como Planos cada unidade ou a implantação das ações que garantam
de Manejo, Planos Diretores, Planos de Bacias, a eficácia da ZA (MARETTI, 2001). O Parque Estadual de
Zoneamento Ecológico-Econômico e o Código Florestal Porto Ferreira (PEPF) é uma unidade na categoria de
(SANTOS 2003). proteção integral do interior do estado de São Paulo
que ilustra esse problema.
Um importante instrumento de planejamento da
conservação da biodiversidade no Brasil, procurando A ZA do PEPF apresenta uma situação bastante
atender os acordos internacionais, foi a criação do conflitante entre uso da terra e a conservação da
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da biodiversidade. O parque faz divisa com a Rodovia SP
Natureza (SNUC). O SNUC foi instituído pela Lei n° 215 e apresenta diversas atividades no seu entorno
9.985/2000 que foi regulamentada posteriormente pelo conflitantes com a proteção da UC, destacando-se a
Decreto n° 4.340/2002 (BRASIL, 2002). O SNUC foi extração de argila, monoculturas, pastagens, caça e
criado após um longo processo de discussão, com a tráfego intenso de veículos. Além disso, o centro
finalidade de proteger a fauna, flora, micro-organismos, urbano do município de Porto Ferreira encontra-se
corpos d’água, solo, clima, paisagens, e amostras muito próximo ao parque, e observa-se o crescimento
significativas dos ecossistemas existentes e de seus da zona urbana em sua direção. No entorno há vários
processos ecológicos por meio das UC (SIMÕES et al., cursos d’água importantes, inclusive para o
2008). abastecimento da cidade, dentre eles, o rio Mogi-
Guaçu, que possui uma das poucas matas ciliares
A principal ferramenta de gestão e planejamento de remanescentes dentro do PEPF (SÃO PAULO, s/d). Essas
uma UC previsto no SNUC é o Plano de Manejo. Esse atividades antrópicas provocam a fragmentação da
documento técnico é fundamentado nos objetivos paisagem, isolando cada vez mais as manchas florestais
gerais da UC, e estabelece o seu zoneamento, bem do PEPF.
como as normas que devem presidir o uso da área e o
manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação Segundo Geist; Lambim (2001), a expansão agrícola e a
das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade exploração dos recursos naturais aliados ao aumento da
(BRASIL, 2000). Dentre as suas orientações, os Planos de infraestrutura em áreas urbanas, representam as
Manejo estabelecem a área do entorno das UC, principais causas do desmatamento das florestas.
denominadas Zonas de Amortecimento (ZA) Sendo assim, os conflitos presentes na ZA que ameaçam
(MORSELLO, 2001). Essa área tem por finalidade, a integridade ecológica e a biodiversidade da UC,
diminuir os efeitos dos impactos negativos exercidos necessitam ser analisados de forma a proporcionar um
pelas atividades antrópicas externas às unidades, entendimento dos padrões de uso e ocupação da terra,
funcionando como uma espécie de filtro ou até mesmo bem como da dinâmica socioeconômica que rege esses
impedindo o efeito de borda ocasionado pela padrões, para a proposição de estratégias de
fragmentação das áreas naturais (ISHIHATA, 1999; planejamento e gestão integrada da ZA. As estratégias
BENSUAN, 2001). para a conservação necessitam ser balizadas por dados
que permitam a interação entre perspectivas de fatores
Na concepção mundial, o estabelecimento das ZA pode biológico-ecológicos e socioeconômicos (ALEXANDRE et
ter o objetivo tanto de conservação quanto de al., 2010).
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Considerando que a revisão do Plano de Manejo do PEPF se encontra em tempo hábil para ser iniciada, os padrões de
uso e ocupação da terra do seu entorno podem subsidiar políticas ambientais que conciliem as necessidades sociais com
a integridade ecológica da paisagem, garantindo assim, a sustentabilidade da paisagem, que é, sem dúvida, o maior
desafio do planejamento ambiental. Frente a esses aspectos, o presente trabalho teve como principal objetivo analisar o
uso e ocupação da terra da Zona de Amortecimento do Parque Estadual de Porto Ferreira, com a finalidade de subsidiar
uma discussão sobre a gestão integrada da ZA para se atingir o cumprimento dos objetivos da área protegida.
MATERIAIS E MÉTODOS
Área de Estudo solos do tipo Latossolos nos topos, Argissolos nas
vertentes e Neossolos Flúvicos e Gleissolos nas planícies
O PEPF possui 611,55 ha e localiza-se ao Nordeste do
(SÃO PAULO, 2003). O PEPF localiza-se na unidade
Estado de São Paulo, no município de Porto Ferreira,
morfoestrutural da Bacia Sedimentar do Paraná,
Rodovia SP - 215, Km 89, que liga Porto Ferreira a Santa
unidade morfoescultural da Depressão Periférica
Cruz das Palmeiras. A UC fica no fuso 23S, entre as
Paulista, e unidade morfológica da Depressão do Mogi-
coordenadas geográficas a UTM 7.579.500 à 7.583.500
Guaçú (AB’SABER, 1969).
e 245.000 a 251.000 (Figura 1).
Em relação à cobertura florestal, o PEPF tem sua
A temperatura máxima é de 37°C, com mínima de 16°C
formação composta por dois hotspots globais: a Mata
e temperatura média de 21°C (ROSSI et al. 2005a). A
Atlântica (378 ha) e o Cerrado (169 ha), com
litologia é composta basicamente por arenitos finos,
predomínio de Floresta Estacional Semidecidual (ROSSI
arcóseos, argilitos, siltitos, calcários e folhelhos, e os
et al., 2005a, b).
Em 06 de novembro de 1962 a UC foi criada pelo 1987). O Plano de Manejo do PEPF foi elaborado em
Decreto Estadual n° 40.991, e classificada como Reserva 2003 e aprovado pelo CONSEMA em 2007,
Estadual (SÃO PAULO, 1962). Posteriormente, em 02 de completando em 2012 cinco anos de sua elaboração,
março 1987, por meio do Decreto Estadual n° 26.891, período em que se pode iniciar a sua revisão (BRASIL,
foi transformada em Parque Estadual (SÃO PAULO, 2000).
Figura 1. Localização da Zona de Amortecimento do Parque Estadual de Porto Ferreira (PEPF),
município de Porto Ferreira, estado de São Paulo, Brasil.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A configuração do uso da terra do entorno do PEPF é predominantemente agrícola, com as culturas de cana-de-açúcar e
citricultura ocupando 3.805,64 ha, o que corresponde a 63,38% da área total da ZA. As áreas de floresta correspondem
a terceira maior classe de uso e ocupação (Tabela 1), com um total de 760,27 ha (12,66%). A Figura 2 apresenta o
mapeamento do uso e ocupação da terra na Zona de Amortecimento da UC.
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Tabela 1. Uso e ocupação da terra da Zona de Amortecimento do Parque Estadual de Porto Ferreira.
Classe de uso e ocupação Área (ha) Área (%)
Área Alagável 213,13 3,55
Batata 578,69 9,63
Cana-de-açúcar 2776,30 46,24
Citricultura 1029,34 17,14
Corpo d’água 85,43 1,42
Eucalipto 95,27 1,60
Instalações rurais e industriais 166,76 2,78
Pastagem 153,07 2,55
Floresta 760,27 12,66
Outras Culturas 54,72 0,91
Outras Atividades 91,34 1,52
Figura 2 - Uso e ocupação da terra na Zona de Amortecimento (ZA) do Parque Estadual de Porto Ferreira (PEPF), município de Porto Ferreira,
estado de São Paulo, Brasil. Mapeamento elaborado com base em imagem ALOS do ano de 2008.
Frente aos objetivos de gestão da área protegida, que 01 ha, 19 tem área entre 01 a 05 ha, 10 entre 05 a 10
se enquadra como uma UC de proteção integral, os ha, 07 entre 10 e 50 ha e apenas 03 fragmentos são
remanescentes de floresta tem papel fundamental na maiores que 50 ha, sendo que a maior mancha de
manutenção da biodiversidade local. Nesse sentido, floresta na ZA possui 96,97 ha. Esse resultado revelou
vale destacar que na ZA foram mapeados 60 que 83,3 % dos fragmentos da ZA do PEPF são menores
fragmentos de floresta, sendo que 21 são menores que do que 10 ha, indicando uma fragilidade para a gestão
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integrada entre a área do parque e a ZA, quando Grande parte da degradação ambiental das florestas
correlacionada a estratégias de manejo e conservação tropicais está associada à expansão das fronteiras
da fauna e da flora locais. Ribeiro et al. (2009) agrícolas, juntamente com a intensificação de métodos
consideraram em estudo na Mata Atlântica, que de cultivo (BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2008; FAO, 2010;
fragmentos menores que 50 ha são pequenos, sendo MULITZA et al., 2010). Em estudo realizado por Ellis;
assim, com base nesse referencial, 95% dos fragmentos Ramankutty (2008) foi indicado que 14 dos 21 tipos de
de floresta da ZA apresentam esse enquadramento. Os biomas mundiais são afetados pela agricultura, e há
fragmentos maiores do que 50 ha se encontram estudos prevendo a expansão desse uso sobre as
associados aos corpos d’água, enquanto que os florestas no futuro (HOCKLEY et al., 2008; PEREIRA et
menores estão dispersos na matriz agrícola, o que de al., 2010; WWF, 2010). Esse é o caso do bioma Mata
certa forma, essa configuração espacial pode ser Atlântica, que cada vez mais perde área para pastagens
considerada positiva, pois na estrutura da paisagem e cultivos agrícolas. No estado de São Paulo, nos anos
pode-se planejar e efetivar uma estratégia de gestão 2010/2011, foi registrada uma média anual de
para a formação e/ou análise de corredores que desmatamento de 14.090 ha de Mata Atlântica (SOS
poderão integrar a UC e a sua ZA. MATA ATLÂNTICA; INPE, 2012).
A configuração florestal da ZA em pequenos fragmentos Vale salientar que a gestão da UC possui ainda dois
pode afetar a permanência e deslocamento de algumas grandes desafios para integração da ZA com área do
espécies animais que não conseguem se adaptar a parque, quando considerados aspectos para a
pequenas manchas de habitat. O PEPF possui um total conservação da biodiversidade: i) nos limites da área
de nove espécies ameaçadas e quatro provavelmente protegida encontram-se a rodovia SP 215 ao norte; e ii)
ameaçadas de mamíferos não voadores. Dentre as o rio Mogi-Guaçu ao sul, criando uma barreira de
espécies ameaçadas estão o Chrysocyon brachyurus travessia para diversos grupos da fauna. Souza et al.
(lobo-guará) e a Puma concolor (onça-parda) (SÃO (2010) registraram 70 atropelamentos no entorno do
PAULO, 2003), que necessitam de grandes áreas PEPF, sendo que 60 % eram mamíferos, 23 % aves, 12 %
florestadas para sobreviverem. Chiarello (2000) répteis, 1 % anfíbios e 4 % não foram determinados.
concluiu que apenas fragmentos maiores ou iguais a Dentre as espécies atropelas destacam-se as
20.000 ha são capazes de manter populações viáveis de ameaçadas, como o veado catingueiro (Mazama
mamíferos de médio e grande porte, uma condição que gouazoubira), lobo-guará (Chrysocyon brachyurus),
não ocorre no município de Porto Ferreira. A área mais jaguatirica (Leopardus pardalis) e o gato mourisco
próxima que apresenta esse tipo condição abrange a (Puma yagouaroundi) (SOUZA et al., 2010).
Estação Ecológica de Jataí, no município de Luiz
Antônio, com uma distância de aproximadamente 30 As UC em si não asseguram que os objetivos de
km em linha reta para o PEPF. conservação sejam atendidos, devido, principalmente,
às pressões externas exercidas sobre elas. Essas áreas
O predomínio de monoculturas de cana-de-açúcar e necessitam ser geridas não somente dentro de seus
citricultura na configuração da paisagem da ZA (63% de limites, mas também além deles. As ZA servem para
toda a área) representa uma ameaça à conservação da preencher essa lacuna e assegurar que o entorno das
biodiversidade, em especial a cana-de-açúcar. Os UC não prejudiquem o bom funcionamento da área
problemas ambientais se referem à poluição e protegida (RIBEIRO et al., 2010).
contaminação das águas a partir do
lançamento/vazamento do vinhoto nos corpos d’água A organização não governamental The Nature
no entorno das usinas, aos problemas de exaustão do Conservancy (TNC) assumiu como estratégia um
solo pela utilização de adubação química em grandes programa para 27 países, incluindo o Brasil,
áreas de monocultura, e principalmente a queima dos denominado “Planejando uma Geografia da Esperança”,
canaviais (MORAES; MELLO; TOPPA, 2013). A queima no qual previa um planejamento não só da UC, mas das
libera gás carbônico, ozônio, gases de nitrogênio e de áreas externas a ela (TRESSINARI, 2002). No Brasil, a
enxofre, além da fuligem da palha formada pela legislação mais adequada ao planejamento da ZA de
queimada (RICCI, 1994; SZMRECSANYI, 1979). uma UC é o SNUC (artigo 25) (BRASIL, 2000). Iniciativas
anteriores ao SNUC, na década de 60, já buscavam
normatizar o uso e ocupação dessas áreas de entorno
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(RIBEIRO et al., 2010). Em 1967, no artigo 10 da Lei n° 2009). Outros países passaram a adotar essa largura
5.197, foi estabelecido que em terrenos adjacentes as para suas ZA, como é o caso Brasil. Como aspectos
UC fossem proibidas as atividades de destruição e caça regionais (físicos, socioculturais, econômicos e
de espécimes de fauna silvestre (VIO, 2001). ambientais) não foram levados em consideração
quando o Brasil internalizou um modelo de outro país,
Com o Decreto n° 99.274/1990, foi a primeira vez que o com contexto totalmente diferente, roteiros
termo “áreas circundantes” apareceu para como uma metodológicos estão sendo testados para discutir e
proposta de ZA. Era previsto nesse decreto que toda desenvolver os melhores critérios para o
atividade que pudesse afetar a biota, dentro de um raio estabelecimento do tamanho dessas zonas (GALANTE et
de dez quilômetros, ficaria subordinada às normas al., 2002; FERNANDES et al., 2011).
editadas pelo CONAMA (VIO, 2001). Foram tomadas
algumas iniciativas para regulamentar as atividades que Os critérios para o estabelecimento de uma ZA, bem
estivessem nas ZA, e que fossem geradoras de como usos e normas que as regulam, devem estar
significativo impacto ambiental para as UC. A Resolução contidos no Plano de Manejo da UC. Esse plano deve
CONAMA n° 13/90 (BRASIL, 1990) apresentou os possuir caráter preventivo e necessita levar em
primeiros dispositivos legais que regulamentam os consideração as peculiaridades de cada UC, e analisa-las
procedimentos para o licenciamento ambiental nessas individualmente (VASQUES, 2008). As atividades
condições. As interfaces dessa norma foram supridas humanas realizadas no entorno das UC devem estar
com a aprovação da Resolução CONAMA nº 428/10, sujeitas a normas e restrições específicas. Embora seja
que revoga, dentre outras, a Resolução nº 13/90. A essencial que existam pesquisas para identificar e
Resolução nº 428/10 prevê que atividades impactantes diagnosticar as áreas de entorno das UC, poucos são os
às UC que não possuem Plano de Manejo estabelecido, Planos de Manejo que efetivamente definem a ZA e a
em um raio de três mil metros a partir de seus limites, consideram no processo de planejamento e gestão de
devem sofrer o processo de licenciamento ambiental, e seus recursos naturais (COSTA et al., 2009). De acordo
não mais em um raio de dez mil metros (VITALLI, 2009) com Vio (2001), as ZA devem auxiliar na: a) Formação
como previa a CONAMA 13/90 (BRASIL, 2010). Vale de uma área de amortecimento no entorno da UC, que
salientar que as fragilidades das ZA, na maioria das diminua os efeitos de borda gerados pelas atividades
vezes, não são totalmente levadas em consideração, e antrópicas; b) Proteção de mananciais, mantendo o
os possíveis impactos que atingem diretamente ou padrão e a qualidade da água; c) Manutenção da
indiretamente as UC não são previstos (MARETTI, paisagem do entorno da UC; d) Contenção da
2001). urbanização contínua e não planejada; e) Consolidação
de usos adequados e de atividades complementares à
Há certa controvérsia com relação ao tamanho pré- proposta do plano de manejo da UC.
estabelecido para as ZA. Cada área protegida tem uma
necessidade diferente quando se planeja estabelecer A implementação de uma ZA que cumpra seu papel de
sua ZA. São necessárias pesquisas com metodologias fiscalizar e estabelecer diretrizes para o entorno de uma
definidas para cada caso em específico, de maneira que UC, é um instrumento de extrema importância para a
a escolha do tamanho da ZA minimize os impactos do redução das pressões sobre a conservação ambiental.
entorno sobre a UC (LI et al., 1999). Esse mesmo autor Porém, para a implementação efetiva dessa
sugere a largura de uma ZA na China a partir de um ferramenta, as ações conservacionistas necessitam de
modelo de Processo Hierárquico Analítico (AHP). O um aparato de informações econômicas, ambientais
modelo AHP hierarquiza cada fator e sua potencialidade (METZGER et al., 2008) e socioculturais, sendo
em influenciar negativamente a UC. necessário um diagnóstico preciso do contexto em que
a UC está inserida, principalmente no que se refere aos
Em outros países como a França, não há critérios para usos e ocupação de terras estabelecidas em sua ZA.
delimitar as ZA, e nos Estados Unidos os limites
estabelecidos para essas zonas não coincidem com os As medidas adotadas para o planejamento do uso da
limites dos ecossistemas (OLIVA, 2003). A Suíça foi o terra, principalmente nas ZA, foram, até recentemente,
primeiro país a adotar a faixa dos dez quilômetros para tomadas com base em informações fragmentadas de
o entorno das áreas protegidas para proteger a efeitos desses usos no ambiente, em razão de não
biodiversidade de seus parques nacionais (VITALLI, haver registros seguros sobre as práticas adequadas de
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uso da terra, não se podendo avaliar, portanto, as Paisagens e suas aplicações para traçar as ações
alterações antrópicas nessas áreas (COSTA et al., 2009). prioritárias.
O monitoramento do uso da terra nas ZA pode Segundo Bursztyn; Bursztyn (2006), para o sucesso das
favorecer a compreensão dos padrões de organização UC, é preciso uma gestão correta dessas áreas. Essa
do espaço, pois o solo sempre está em processo de gestão deve ser integrada, ou seja, envolvendo ações
mudança devido às ações humanas. O uso da terra nas atreladas a políticas públicas, setor produtivo e a
ZA, na maioria das situações, é realizado sem a comunidade, visando o uso sustentável e racional dos
preocupação com o meio ambiente. A queimada, recursos ambientais. Uma gestão integrada não é tarefa
desmatamento, o uso de agrotóxicos e a caça ilegal são simples, pois deve estar articulada com os diferentes
alguns exemplos desses usos maléficos (RAMOS, 2008). atores e níveis de atuação, com conhecimentos em
Esse uso inadequado das ZA coloca em risco as UC, e áreas diversificadas. Os gestores das UC possuem a
nesse contexto devem-se buscar soluções educativas, difícil tarefa de lidar com as questões políticas e
legais ou científicas para esses problemas relacionados institucionais que podem ameaçar ou beneficiar essas
com o entorno das áreas protegidas, a fim de viabilizar áreas. Para o sucesso dessa tarefa, é preciso conhecer e
alternativas efetivas para identificação e mitigação dos compreender as políticas públicas que regem a ação do
conflitos existentes nesses espaços limítrofes Estado nas áreas protegidas, e principalmente em seu
(DRUMMOND et al., 2009). entorno. Devem-se conhecer as dinâmicas e tendências
de ocupação e as políticas de desenvolvimento que
A gestão dos diferentes tipos de áreas protegidas com interferem no uso da terra, na proteção e na gestão
suas ZA deve incorporar um planejamento conjunto dos dessas UC e suas ZA. Desta maneira a gestão da área
diversos setores do desenvolvimento socioeconômico protegida poderá ser articulada com as demais ações e
do país, incluindo estrategicamente a conservação da estratégias desenvolvidas em um dado território (WWF;
biodiversidade e de seus recursos naturais, com base IPÊ, 2012).
em diretrizes que permitam que todas as UC e suas ZA
se integrem no que diz respeito às tomadas de decisão, Apesar da importância do entendimento dessas
e concomitantemente, que estejam incorporadas aos políticas norteadoras, há divergências entre a forma de
principais planos de gestão territorial previstos na implementação de tais políticas no território e as bases
Agenda 21: Plano Nacional de Recursos Hídricos, conceituais e formais sobre as quais estão formuladas.
Zoneamento Ecológico-Econômico, Planos de Bacias A “posição” do Estado não é necessariamente a que
Hidrográficas e os Planos Diretores (FREITAS, 2009). está nos documentos oficiais. Torna-se fundamental
compreender que as políticas públicas vão além da ação
O Plano Nacional de Áreas Protegidas tem como um dos governamental de coordenar os meios à disposição do
seus princípios a cooperação entre municípios, Estados Estado e as atividades privadas, para a realização de
e Federação para o estabelecimento e gestão das UC e objetivos socialmente relevantes e politicamente
de suas ZA, bem como a articulação das ações de gestão determinados (BUCCI, 2002).
das áreas protegidas com as políticas públicas dessas
três esferas de governo e com os grupos de interesse da Uma das formas de construir estratégias integradas de
sociedade. Para atrelar o planejamento das ZA aos desenvolvimento e conservação é a implementação de
demais planos de abrangência local e regional, as áreas planos interministeriais, que agreguem diferentes
protegidas devem ser apoiadas por um sistema de setores em uma mesma abordagem ou território.
práticas de manejo sustentável dos recursos naturais, Exemplos disso foram a tentativa do Plano de Ação para
integrado com a gestão de bacias hidrográficas. Essa Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia
concepção traz uma nova dimensão ao planejamento (PPCDAM) e o Plano BR-163 Sustentável. A criação
do território, conectando os planos setoriais e desses instrumentos possibilitou um avanço ao
estimulando o diálogo entre políticas locais, construídas tratamento do tema no governo federal, evidenciando a
pelos municípios e organizações de apoio, que são os importância da participação social nos problemas
grandes responsáveis por definir o uso e ocupação da (WWF; IPÊ, 2012).
terra nas mais diversas paisagens (FREITAS, 2009). Essa
visão de planejamento pode ser aliada a Ecologia de O estabelecimento de processos participativos na
gestão das UC surge como consequência da
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necessidade de incluir os mais variados aspectos as demandas locais, ou qualquer outro tipo de
socioculturais e econômicos no processo decisório para participação de populações residentes, continuam
a conservação ambiental. Entende-se que quando a sendo colocados em segundo plano no monitoramento
sociedade é envolvida, principalmente as populações das UC.
localizadas nas ZA, espera-se uma maior garantia de
apoio para a unidade. O desenvolvimento de processos Os sistemas de gestão estratégica estão ligados à teoria
participativos contribui com a minimização de conflitos das organizações, sistemas de informação e à gestão da
em conjunto com todos os atores sociais envolvidos tecnologia e inovação (VAN KROGH, 1998). Além de
nessas zonas, de forma que, por meio do diálogo aberto medidas inovadoras para a geração de conhecimento
e da compreensão dos diferentes pontos de vista, se aplicado e na apropriação tecnológica para a
implementação de áreas protegidas, o sucesso em sua
consiga o apoio das populações e instituições regionais
para o planejamento e manejo das UC. O processo gestão dependerá de qualificação e fixação de capital
participativo do planejamento deve envolver todos os humano e integração institucional; gestão (inclusão
grupos relevantes para o manejo da unidade, como os social, promoção da preservação e manejo sustentável,
residentes locais, moradores, usuários dos recursos, efetividade das ações e adequação às realidades
organizações não governamentais ambientalistas, regionais); e governança (articulação federal
outros tipos de organizações não governamentais e juntamente com o Poder Judiciário e o Ministério
associações de base, prefeituras, setor privado, Público) (WWF; IPÊ, 2012).
comunidade acadêmica, administrações regionais e Os resultados obtidos nesse trabalho evidenciaram a
instituições federais (WWF; IPÊ, 2012). necessidade de proposições para alcançar a
A gestão integrada adequada à implementação de áreas sustentabilidade da paisagem do entorno do Parque
protegidas, além de envolverem o processo Estadual de Porto Ferreira, e a situação atual dos
participativo, deve ser embasada por um diagnóstico da remanescentes de floresta provavelmente não
área em questão. Os diagnósticos de UC têm como sustentarão espécies de fauna e flora em um futuro não
principal objetivo a geração de informação para muito distante. A gestão integrada entre o PEPF e sua
ZA, deve envolver a participação dos diversos atores
identificar objetos e agentes de manejo, e áreas
sociais, mas em especial, a participação dos produtores
prioritárias para o desenvolvimento de ações de
conservação. Esse processo deveria ocorrer durante a rurais do entorno. Uma proposição justa seria o
fase que antecipa a criação de uma UC, mas a realização Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) aos
de diagnósticos posteriores está cada vez mais comum. agricultores que possuem as suas propriedades no
Esses diagnósticos tardios são voltados à geração de interior da ZA. O PSA consiste em um incentivo
informação básica para complementar conhecimento econômico para quem gerir de forma adequada
insatisfatório para elaboração ou a revisão de planos de determinado recurso natural, ou seja, é a recompensa
gestão (BERNARD, 2008). àquele que deixa de se apropriar de um recurso natural
para assegurar sua preservação (WUNDER, 2009).
Após a implementação de uma UC, é necessário um
monitoramento para assegurar uma gestão efetiva A articulação da UC junto aos órgãos competentes é
dessas áreas. Esses monitoramentos necessitam trazer essencial, inclusive com o município de Porto Ferreira.
propostas inovadoras, gerando conhecimento O próprio Plano Diretor Municipal traz que: “o
socioambiental, e ainda permitir o entendimento de planejamento ambiental do município” deverá ser
processos e causas de vulnerabilidades e ameaças a sua elaborado de forma integrada com todas as áreas da
sustentabilidade, de forma que intervenções sejam administração pública local, em especial a Divisão de
prevenidas antes de tornarem-se fatores de pressão. Planejamento, devendo considerar também, as
Ressalva as raras iniciativas participativas ligadas ao uso diretrizes estabelecidas pelo “Plano Diretor do Comitê
de recursos naturais, como é o caso do Programa de da Bacia Hidrográfica do rio Mogi-Guaçu” e do “Plano
Monitoramento da Biodiversidade e do Uso de de Manejo do Parque Estadual de Porto Ferreira”
Recursos Naturais em Unidades de Conservação (PORTO FERREIRA, 2007). Estabelecida essa diretriz, é
Estaduais do Amazonas - ProBUC - (MARINELLI et al., essencial que o gestor, grupos de interesse e a
2007), os saberes tradicionais, a opinião pública sobre população em geral cobrem isso perante a gestão
municipal. Visto que o planejamento ambiental
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municipal se baseará também no Plano de Manejo do ajuda a compreender e a vislumbrar cenários futuros da
PEPF, esse documento necessita ser o mais detalhado paisagem. Essa pode ser considerada como uma
possível para atender a todas as necessidades da UC e ferramenta chave para a melhor gestão da paisagem e
de seu entorno. No processo de revisão do Plano de para melhorar a porcentagem de áreas florestadas na
Manejo, demanda do PEPF, deve-se discutir a ZA do PEPF. Além disso, devem-se estabelecer áreas
proposição de uma nova delimitação de zonas, prioritárias para a conservação, visto que elas permitem
incluindo e/ou excluindo certas áreas. o direcionamento dos esforços e recursos para
conservação, e subsidia a elaboração de políticas
Segundo a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei públicas de ordenamento territorial (TABARELLI; SILVA,
n°9433), em seu artigo 3°, fica estabelecido que deve 2002). As estratégias de conservação para a ZA do PEPF,
haver a “articulação do planejamento de recursos
depois de implementadas, necessitarão de programas
hídricos com o dos setores usuários e com os específicos de gestão integrada ao manejo do Parque e
planejamentos regional, estadual e nacional” e ainda a a aplicação de técnicas de monitoramento baseadas em
compatibilização da “articulação da gestão de recursos indicadores de desempenho ambiental de acordo com
hídricos com a do uso do solo” (BRASIL, 1997). Essa os objetivos e metas da UC. Essa fase é muito
diretriz deve ser tomada, levando em consideração a importante para a efetividade da gestão, pois, é por
importância de que o rio Mogi-Guaçu é um recurso meio dela que se pode ter o envolvimento da
hídrico que percorre e abastece várias cidades, não só população local e de grupos de apoio no processo da
do estado de São Paulo, mas também de Minas Gerais. manutenção da sustentabilidade no entorno da UC.
Em 2002, houve um grande impacto para a ictiofauna
devido à eutrofização em um trecho do rio próximo ao Dentre os programas de gestão integrados ao manejo
Parque, onde foi detectada a morte de cerca de 30 da UC, deve-se considerar a possibilidade de se
toneladas de peixes (SÃO PAULO, 2003). trabalhar com os agricultores para o desenvolvimento
de práticas agrícolas sustentáveis, incorporando
No Plano de Manejo do PEPF foi diagnosticado que os técnicas fundamentadas na Agroecologia, assim como
afluentes do rio Mogi-Guaçu sofrem com o deve-se implementar um programa de Educação
assoreamento devido ao uso intensivo e a falta de
Ambiental direcionado especificamente para as pessoas
conservação do solo por técnicas aplicadas nas
residentes ou de interação direta com a ZA da UC. Além
propriedades, em alguns pontos do percurso natural disso, deve-se considerar a presença da Rodovia
das águas. Esse sedimento é carreado dos córregos Anhanguera (SP 215), que isola o Parque da maior
presentes na ZA (Água Parada e ribeirão dos Patos) e porção da ZA, sendo fundamental o desenvolvimento
chega ao rio Mogi-Guaçu, decaindo sua qualidade (SÃO de pesquisas específicas para avaliar as consequências
PAULO, 2003). Assim, é importante que a política desse cenário na conservação da biodiversidade do
municipal fundamentada na coletividade e no PEPF. O manejo da fauna e da flora de ocorrência na UC
desenvolvimento sustentável de Porto Ferreira, como deve estar integrado a essas questões, sendo que a
previsto em seu plano diretor, seja cumprida e revisão do Plano de Manejo deverá considerar
associada à Política Nacional de Recursos Hídricos, para propostas que ultrapassam os limites do Parque, com a
uma gestão efetiva desses recursos, incorporando uma finalidade de conectar as áreas naturais próximas para
maior atenção para as diretrizes estabelecidas no Plano manutenção da variabilidade genética da UC,
de Manejo do PEPF. considerando as características do meio físico e
Outro aspecto fundamental para a gestão integrada de socioeconômico da ZA.
UC é o estudo dos ciclos econômicos da região, que
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Parque Estadual de Porto Ferreira apresenta-se na paisagem como uma mancha de habitat imersa em uma matriz
antrópica, com diversas atividades que ameaçam a sua conservação, como a proximidade com o centro urbano,
monoculturas de cana-de-açúcar, eucalipto e citricultura, extração de argila e circulação intensa de veículos. Os
fragmentos florestais em sua ZA apresentam-se esparsos e em pequenos tamanhos, representando apenas 12% da
paisagem. Por outro lado, o PEPF exerce grande importância para a conservação de remanescentes de transição entre
Mata Atlântica e Cerrado, abrigando espécies ameaçadas de ambos os biomas e que possuem funções ecológicas
essenciais para a conservação da biodiversidade.
Programas e ações devem ser incorporados ao Plano de Manejo para que a ZA exerça sua função de dirimir os impactos
negativos sobre o PEPF. O aumento da conectividade da paisagem do entorno por meio da recomposição de APP e
estabelecimento de reservas legais, bem como práticas agrícolas sustentáveis, devem ser metas para minimizar os
impactos das monoculturas existentes atualmente na ZA e aumentar a cobertura florestal do entorno. A presença da
rodovia limítrofe ao PEPF deve ser melhor estudada para analisar os seus impactos sobre a biodiversidade.
O estabelecimento de propostas de manejo na ZA deve ser tão importante quanto os programas de gestão para a UC.
Para tanto, é imprescindível que a população e os representantes governamentais participem da reformulação do Plano
de Manejo com a compreensão das problemáticas que envolvem o uso da terra no entorno da UC sobre a conservação
da biodiversidade, e para o estabelecimento de metas para a gestão integrada da ZA, objetivando a melhoria da
qualidade ambiental da unidade de conservação.
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INTRODUÇÃO
Os manguezais são sistemas abertos, no que se refere processo de decomposição anaeróbia dos altos
ao fluxo de matéria e energia, recebendo um grande conteúdos de matéria orgânica presentes nos solos e
aporte de água doce, sedimentos e nutrientes do sedimentos. Essas inundações também provocam
ambiente terrestre e exportando água e matéria alterações físico-químicas nos solos de manguezais,
orgânica para o mar, águas estuarinas e ambientes causando a diminuição do potencial redox, a elevação
costeiros adjacentes (LEMOS, 20111). dos valores de pH, mudanças drásticas no equilíbrio de
Frequentemente, as florestas de mangue exportam minerais e na dinâmica de elementos como o ferro e o
carbono e nutrientes sob a forma de serapilheira e enxofre (PONNAMPERUMA, 1972).
carbono orgânico particulado para a zona costeira,
O substrato do manguezal é rico em material orgânico
sendo a precipitação um fator importante que
semi decomposto incompletamente e constituído de
influencia na exportação de carbono através da
matéria orgânica morta de origem animal e vegetal.
serapilheira. Por sua vez, esta exportação é maior em
Este material é decomposto por bactérias anaeróbias,
regiões de baixa precipitação anual e temperaturas
resultando na produção de ácido sulfídrico responsável
médias anuais elevadas do que em locais com elevada
pelo odor característico de manguezais lodosos
precipitação e baixas temperaturas. Entretanto,
(SANT’ANNA, et. al, 1981).
algumas vezes esses materiais são exportados e outras
vezes importados de ecossistemas adjacentes (ADAME A evolução de manguezais está vinculada aos fluxos de
et. al, 2011). matéria e energia, associados aos processos
hidrodinâmicos proporcionados pelas variações das
As condições climáticas (pluviosidade, temperatura, marés, estabelecendo trocas por meio da interação e
ventos e outras) e morfológicas em manguezais interdependência entre os componentes do manguezal
justificam progressivo e contínuo desenvolvimento dos e ecossistemas próximos ou adjacentes, como o
sedimentos e solos desse ecossistema e suas
apicum. Este ambiente é encontrado próximo a
diferenciações, que por sua vez, estão relacionadas ao
manguezais, em locais de topografia mais elevada, nas
regime hídrico, composição da água superficial e
regiões intertropicais, com presença de solos com alta
periodicidade de inundação. Portanto, as
salinidade ou acidez (HADLICH, 2010). Entretanto, nem
transformações e interações que ocorrem nesse
sempre apresentam salinidade elevada ou solos muito
ecossistema, físicas (perda de água, aeração, oxidação,
ácidos, devido às características próprias de cada
estruturação), químicas (perda da salinidade,
ambiente.
dessaturação, lixiviação) e geoquímicas, são processos
que acontecem simultaneamente (TURENNE, 1997). Os apicuns ocorrem em locais onde a maré atinge com
uma frequência bem menor (marés de sizígia) ou onde
Pesquisas realizadas na costa nordeste do estado do
há pouca influência de água doce vinda de rios e/ou
Pará sugerem que as modificações ocorridas nos
chuvas, contribuindo para a hipersalinidade do solo,
sedimentos/solos e águas intersticiais, como a oxidação uma vez que longos períodos de exposição ao processo
total ou parcial da superfície dos sedimentos,
de evaporação concentram os sais em superfície,
modificações na mineralogia e nas características impossibilitando o desenvolvimento da vegetação de
químicas e físico-químicas das águas intersticiais, são
mangue (LEMOS, 2011).
resultado da curta, porém marcante sazonalidade da
região, da distribuição anual das chuvas, da Diante das diversas interações que se estabelecem em
evapotranspiração, do regime de marés e das manguezal e entre esse ecossistema e outros
características morfológicas e sedimentológicas dos adjacentes, este estudo pretende analisar os atributos
manguezais (BERRÊDO et. al,2008). químicos do solo sob condições de variação sazonal,
verificando as diferenças no teor de nutrientes do solo
As constantes inundações nos manguezais, em função entre os manguezais estudados, na região do Salgado,
da ação das marés, criam condições favoráveis ao nordeste paraense.
61
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
MATERIAL E MÉTODOS
Descrições do sítio experimental perfil, que recebe influência de água doce proveniente
de igarapés que atingem o local, resultante da água da
Este estudo foi conduzido no município de Salinópolis,
chuva, principalmente durante o período chuvoso,
na zona costeira do nordeste do Estado do Pará. O sitio
favorecendo o aparecimento de uma vegetação de
experimental do projeto Mudanças Climáticas está
pequeno porte, composta principalmente de
localizado na Ilha de Itarana (0°39'23.76" S e
Rhizophora mangle, que não consegue se desenvolver
47°14'35.58" W), e em São João de Pirabas, na
devido a pouca umidade e salinidade elevada.
comunidade Caranã, (0°41'9.60" S e 47°15'59.82" W) a
sudoeste da Ilha de Itarana. Os dois sítios experimentais Este sítio apresenta características de manguezais
escolhidos para este estudo também representam, em típicos de intermaré, com solo mais lodoso e úmido,
pequena escala, estas variações de unidades com grande quantidade de pneumatóforos (raízes que
paisagísticas. crescem verticalmente em direção à superfície e que na
maré baixa ficam expostas ao ar), sendo que a espécie
Sítio experimental da Ilha de Itarana R. mangle se manifesta de forma mais abundante do
que outras espécies, com ocorrência de algumas
A Ilha de Itarana está a leste da península de Cuiarana e Avicennia germinans com aproximadamente 30 m de
a sudeste da península de Salinópolis, entre as baías de altura, e Laguncularia racemosa com altura de
Inajá (a leste) e Arapepó (a oeste), se interligando aproximadamente 12 metros.
através do Furo Grande. É um ambiente costeiro sob
forte influência do regime de marés, intercalado por Frequência e período sazonal amostrado
canais de maré, furos e córregos, com presença de
A coleta de solo e folhas de serapilheira ocorreu no
manguezais com relativo grau de preservação.
período menos chuvoso (setembro/2011) e no período
A ilha (parte central: 0º39’11" S e 47º13’32’’ W)
chuvoso (abril/2012), nos três perfis de manguezal
abrange uma área com cerca de 91km2 e faz parte do
selecionados, para verificar a dinâmica dos atributos
município de São João de Pirabas e está separada de
químicos do solo e de nutrientes em folhas de
Cuiarana por um sistema de grandes canais estuarinos,
serapilheira, sob condições de precipitação elevada e
sendo o maior deles, o Furo Grande. A área
baixa.
experimental é um segmento da Ilha de Itarana,
caracterizada como manguezal de intermaré, devido Coletas dos dados de precipitação
sofrer constantes inundações, que ocorrem em função
da variação das marés, como também por apresentar pluviométrica
uma área topograficamente mais baixa, possuir um Em fevereiro de 2012, foi instalado próximo a área de
porte arbóreo maior e ser colonizada por mangues estudo (0°42'41.44" S e 47°18'2.54" W) um pluviômetro
jovens que margeiam a planície costeira, adaptados às confeccionado de garrafa pet (pluviômetro PET), de
inundações e à elevada salinidade. acordo com a figura 1, para fornecer informações da
A condição natural da floresta, com estrutura bastante quantidade de precipitação no período chuvoso e
diferenciada, formada por árvores de mais ou menos 30 menos chuvoso. Este pluviômetro foi instalado em São
m de altura. Apresenta uma colonização de bosque de João de Pirabas, na comunidade Pindorama, no quintal
mangue composto em sua maioria por Rhizophora de uma casa situada próxima a rodovia PA-124, em local
mangle, indivíduos jovens, e espécies do gênero livre de qualquer interferência externa. A distância
Laguncularia, em alguns pontos existem a presença de aproximada do pluviômetro para área 1 e 2 é de,
árvores mais altas e bosque mais fechado. respectivamente, 8,8 km; 4,73 km.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Figura 1: Pluviômetro adaptado com garrafa pet Figura 2: Pluviômetro automático basculante da torre
micrometeorológica
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Figura 3: Valores mensais de precipitação pluviométrica de setembro de 2010 a novembro de 2012, coletada pelo pluviômetro automático
basculante, da torre micrometeorológica do LBA, em Cuiarana
Procedimentos de Campo Nas coletas com trado calador, o material foi colocado
sobre uma calha e revestido com papel filme e,
posteriormente papel alumínio, com objetivo de
Seleção dos pontos amostrais manter as características originais das amostras e inseri-
Em cada perfil de manguezal foi realizado um transecto, las em sacos plásticos, com as devidas identificações.
seguindo a mesma orientação do gradiente de transição Logo após a coleta de solo com trado holandês e em
ecológico típico de áreas ecótonas, ao longo do qual trincheiras, todas as amostras foram inseridas em sacos
determinaram-se os pontos de coleta de solo. Na Área plásticos, devidamente identificados, e acondicionadas
1, estabeleceram-se 5 pontos de coleta de solo em um em caixas de isopor com gelo. Em seguida as amostras
transecto de 150 m de comprimento. Na Área 2, foram transportadas até o Campus de Pesquisa do
selecionaram-se 6 pontos de coleta de solo ao longo do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém (PA), onde
transecto de 136 m de comprimento. foram protocoladas e enviadas aos laboratórios de
Todos os pontos de coleta, bem como outros pontos análises químicas, ficando armazenadas em freezer a
importantes foram marcados com GPS marca Garmin, uma temperatura abaixo de 0°C, até a realização dos
modelo GPSmap 76C5x. procedimentos analíticos.
Importante destacar que as coletas de solo ocorreram
Coleta e acondicionamento das amostras de solo na maré vazante e de quadratura, que acontece quando
As amostras de solo foram coletadas com trado tipo as forças de atração do sol e da lua se opõem duas
calador, indicados para solos argilosos e saturados, e vezes em cada lunação, devido ao quarto crescente e ao
com trado holandês, indicados para solos mais duros, quarto minguante da lua, produzindo as marés de
fibrosos e com grande quantidade de raízes. quadratura, ou marés de águas mortas, com preamares
mais baixas e baixa-mares mais altas (MIGUENS, 1996).
Na área 1, nos pontos (P1,P2,P3,P4,P5), as amostras
foram coletadas com trado calador, nas profundidades Medidas de Salinidade da água intersticial (Sal),
0-5 cm, 5-10 cm, 10-20 cm, 20-40 cm e 40-60 cm. Na
área 2, nos pontos (P1 e P2), as amostras foram pH do solo em campo e Potencial Redox (Eh) do
coletadas com trado holandês e nos pontos solo
(P3,P4,P5,P6) foram coletados com trado calador, nas
profundidades 0-50 cm.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
No campo, as medidas de salinidade da água intersticial modelo AA 904, equipado com corretor de fundo com
realizaram-se com um refratômetro de campo (ATAGO), lâmpada de deutério.
mediante a extração sobre pressão, de um pequeno
volume (gotas) de água intersticial. O Eh (mV) e o pH Para as análises de cálcio e magnésio, utilizou-se o
foram medidos através da inserção direta (em cada método com solução extratora de KCl, a 1N, pH 7 e as
amostra de solo) do eletrodo de platina (Eh) e do leituras foram feitas no mesmo Espectrômetro de
eletrodo de vidro (pH) de alta precisão. Absorção Atômica com Chama.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Não foi possível realizar a ACP do potencial redox (Eh), apicum da Área 2, devido o solo encontrar-se muito
do pH de campo e da salinidade da água intersticial Menos chuvoso. Sendo assim, para esses parâmetros,
(Sal), pois esses parâmetros não foram medidos em utilizou-se a análise estatística descritiva. As análises
todas as amostras da Área 1, no período de estiagem, estatísticas deste trabalho foram realizadas através do
bem como nos pontos P1 e P2 situados na zona de software R, versão 2.15.2.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados de pH em água destilada (pH H2O) e dos nutrientes do solo (Na, K, Ca, Mg, C, N, S, P e Fe) na Área 1 e 2,
com as respectivas profundidades (0-20 cm, 20-40 cm, 40-60 cm), na estação chuvosa e menos chuvosa, estão
representados no gráfico de ACP (Figura 4), através do qual foram geradas informações relevantes acerca das variáveis
em estudo. Na área 1, o Na e K apresentaram maior correlação com o pH na época menos chuvosa e os nutrientes Ca,
Fe e Mg maior correlação na época chuvosa.
Figura 4: Gráfico de ACP (com as componentes principais 1 e 2) dos parâmetros químicos do solo, com as profundidades coletadas,
nas áreas 1 e 2, durante a época chuvosa e menos chuvosa
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Figura 5: Gráfico de ACP (com as componentes principais 1 e 2) dos parâmetros químicos do solo,
com as profundidades coletadas, nas áreas 1 e 2
A componente principal 1 explica 56,21% dos dados e a sazonal são os fatores que mais explicam a distribuição
componente principal 2 (comp. 2) 21,59 %, totalizando dos dados.
77,8% dos dados. As variáveis que estão associadas à
componente 1 são os elementos C, N, S, Ca, Mg, Al, Fe, Os nutrientes Na e o K são variáveis que mais
P e a componente 2 são Na, K e pH. representam a formação do agrupamento no período
de estiagem na Área 1, que estão correlacionadas. Esse
As variáveis do período sazonal (chuvoso e menos resultado coincide com as elevadas concentrações
chuvoso), das áreas 1 e 2, profundidades (0-20 cm, 20- desses nutrientes neste período, que atingiram uma
40 cm, 40-60 cm) e nutrientes do solo (Na, K, Ca, Mg, P, média de 520,23 cmoc/dm3 e 163,48 cmoc/dm3,
C, N, S e Fe) e o pH medido pelo método em água respectivamente. Durante a estação chuvosa, essas
destilada (pH H2O), foram resumidas em um gráfico concentrações foram bem mais baixas, com média de
que expressa a importância das variáveis para os 11,27 cmoc/dm3 de Na e 4,07 cmoc/dm3 de K na Área
resultados obtidos, explorando também a correlação 1, em função da diluição desses nutrientes pelas águas
entre essas variáveis. da precipitação pluviométrica durante o período
chuvoso.
A formação dos agrupamentos em função de dois
fatores principais (área e período sazonal) está Os aportes de Na, K, Ca e Mg sugerem contribuições das
apresentada na figura 4. Do lado direito do plano das marés, os maiores valores desses cátions encontram-se
componentes principais, situam-se as amostras da Área no perfil 1 (Tabela 1), que está sob constante influência
1, e do lado esquerdo as amostras da Área 2. O período dos canais de maré que entrecortam a Ilha de Itarana.
de estiagem está representado pelo agrupamento das
amostras no plano superior do gráfico e o período O período sazonal foi importante para a grande
chuvoso no plano inferior. A formação desses variação de Na e K nas áreas de estudo 1 e 2. Durante a
agrupamentos indica que a profundidade não tem estiagem, as concentrações foram maiores,
muita influência nos resultados e que a área e o período principalmente no manguezal de intermaré, enquanto
que no período chuvoso, a diluição provocada pela água
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
das chuvas, assim como a lixiviação dos nutrientes do dos teores de Na, K, Ca, Mg e SO4-2 reflete o período da
solo provocou uma redução significativa nos teores estiagem e a presença das águas oceânicas no estuário
desses nutrientes. Resultados semelhantes foram do rio Marapanim.
encontrados por (BERRÊDO, 2008), no qual o aumento
Tabela 1: Valores médios dos parâmetros químicos sódio (Na), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), aluminio (Al) e ferro (Fe) na Área 1 e na
Área 2, durante a época menos chuvosa (estiagem) e chuvosa, nas profundidades coletadas (0-20 cm, 20-40 cm, 40-60 cm).
Profundidade ÁREA 1 ÁREA 2
(cm) Estiagem Chuvoso Estiagem Chuvoso
0-20 551,46 Aa 9,46 Ba 130,57 Aa 4,53 Ba
Na (cmolc/kg) 20-40 508,21 Ab 11,28 Ba 145,7 Aa 5,50 Ba
40-60 501,01 Ab 13,05 Ba 157,36 Aa 5,52 Ba
0-20 169,45 Aa 4,03 Ba 35,91 Aa 1,25 Ba
K (cmolc/kg) 20-40 165,28 Aab 4,15 Ba 31,86 Aa 1,40 Ba
40-60 155,69 Ab 4,04 Ba 39,66 Aa 1,33 Ba
0-20 4,43 Ba 8,55 Ab 1,69 Ba 3,08 Aa
Ca (cmolc/kg) 20-40 5,35 Ba 9,47 Aab 1,61 Ba 3,70 Aa
40-60 4,86 Ba 9,93 Aa 1,73 Ba 4,00 Aa
0-20 15 Aa 16,48 Ab 4,07 Aa 5,53 Aa
Mg (cmolc/kg) 20-40 16,29 Ba 21,35 Aa 3,77 Ba 7,22 Aa
40-60 14,60 Ba 22,32 Aa 4,00 Ba 8,09 Aa
0-20 2,89 Ab 2,50 Aa 2,22 Aa 1,85 Ab
Al (cmolc/kg) 20-40 5,85 Aa 3,61 Ba 3,51 Aa 2,52 Aab
40-60 5,81 Aa 3,11 Ba 3,52 Aa 3,45 Aa
0-20 2,08 Bb 3,43 Aa 0,79 Aa 1,05 Aa
Fe
20-40 2,55 Ba 2,94 Ab 0,89 Aa 1,13 Aa
(g/Kg)
40-60 2,38 Bab 3,02 Aab 1,17 Aa 1,55 Aa
Com base na figura 4, as variáveis C, N, S, P, Ca, Mg, Al e de 40,95g/kg e 21,23 g/kg na Área 1 e 2,
Fe explicam a separação dos grupos em Área 1 e 2, respectivamente, na época de estiagem, e 38,47 g/kg e
situados do lado direito e esquerdo, respectivamente, 21,04 g/kg na Área 1 e 2, respectivamente, na época
do plano das componentes principais, assim como o Na chuvosa.
e o K, citados anteriormente, que exercem maior
influência sobre os resultados. Essa distribuição das O acréscimo de material orgânico ao substrato de
variáveis do lado direito do eixo da componente 2 pode manguezal é o principal processo de adição que se
ser muito bem explicada pela elevada concentração observa nesse ecossistema, resultante do material de
desses nutrientes na Área 1, em comparação com a origem vegetal, como folhas, galhos e raízes em
Área 2, que representam manguezais de intermaré e decomposição. Esse processo é evidenciado pela
supramaré, respectivamente. Sendo assim, a Área 1 distribuição dos valores de carbono orgânico nos
apresenta mangues desenvolvidos, maior contribuição substratos, que são mais elevados em superfície e, na
de matéria orgânica transportada pela maré e maior medida em que a profundidade aumenta, esses valores
quantidade de serapilheira, enquanto que a Área 2 vão diminuindo, enfatizando a importante contribuição
possui uma vegetação de porte menor e menos denso, da vegetação no aporte de matéria orgânica para o solo
menor influência da maré e, portanto, menor aporte de (VIDAL-TORRADO et. al, 2005).
matéria orgânica. Além das diferenças nas características ambientais
A diferença no teor de matéria orgânica entre as áreas entre as áreas 1 e 2, ainda existem diferenças dentro de
pode é observada pelos teores de carbono, com média cada área. A área 2 se inicia em uma zona de apicum,
com presença de Rhizophora mangle com altura de até
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
3 m e solo mais Menos chuvoso e arenoso. Ao final pelo aspecto mosqueado encontrado em algumas
desta área, ocorre a presença de mangues de maior amostras coletadas no início da área 2, que constitui
porte, em sua maioria de R. mangle (altura média de zona de apicum, apesar disso, os valores de ferro nesta
9,81m), solo mais argiloso e úmido, indicando área foram muito inferiores no apicum, em relação ao
contribuição da água e nutrientes nesse manguezal, com médias de 0,10 g/kg (ponto P1) e 1,88
desenvolvimento. Essas diferenças observadas explicam g/kg (ponto P5), no período de estiagem, e médias de
o aumento na concentração de carbono ao final da área 0,57 g/kg (ponto P1) e 2 g/kg (ponto P5), no período
2. chuvoso.
Os teores de nitrogênio, de forma geral, foram maiores A concentração mais elevada de fósforo na área 1 pode
na área 1 em comparação com a área 2, nos dois ser devido o transporte pelas águas dos canais de maré
períodos sazonais (Tabela 2). Nesta área, o teor de até os sedimentos na forma de fosfato (PO43-), pelas
nitrogênio diminui na medida em que se aproxima da espécies vegetais e maior densidade arbórea nessa
zona de apicum, na parte mais interna do manguezal. área, produzindo mais serapilheira. Na área 1 o teor
médio de fósforo foi de 29,97 mg/kg no período menos
Os teores de enxofre também foram mais elevados no chuvoso e 26,5 mg/kg no chuvoso, e na área 2 teor de 8
manguezal de intermaré, com média de 11,50 g/kg na mg/kg e 9,37 mg/kg, evidenciando uma grande
área 1 e 3,18 g/kg na área 2, durante a época menos
diferença entre as áreas.
chuvosa e, na época chuvosa, a área 1e 2 apresentaram
valores médios de 10,41 g/kg e 3,76, respectivamente. Segundo (MENDOZA et. al, 2012), a interação de
Observou-se um aumento da concentração de enxofre diferentes características físico-químicas entre água
com a profundidade, com valores médios intersticial e o regime de inundação pode controlar a
significativamente mais elevados na área 1 em relação a concentração de fósforo na fase líquida disponível para
área 2 (Tabela 2). os manguezais. A maior variação redox (ΔEh) e maior
oxidação foram encontradas na zona de raízes de A.
A zona de oxidação gradativamente se torna zona de germinans, em comparação com a de R. mangle, em
redução com a profundidade, mudando a coloração de região de baixa variação de marés, o que pode estar
marrom amarelada na matriz e aspecto marrom escuro, controlando a disponibilidade de fósforo. A maior
para coloração cinza clara a cinza escura dos oxidação na zona de raízes de sedimentos sob A.
sedimentos, representando o aumento da matéria germinans limita a disponibilidade de P e sua
orgânica, a ocorrência da pirita (FeS2) e a presença de distribuição, e o gradiente vertical redox mais baixo sob
H2S dissolvidos, explicando o aumento do enxofre com as árvores de R. Mangle resultam em condições
a profundidade. redutoras, favorece a formação de fósforo extraível,
A variação da condição reduzida-oxidada na zona de podendo ser considerada uma resposta adaptativa à
apicum, que é exposta por longos períodos nas marés absorção de nutrientes sob condições de alagamento.
baixas e submersa sob condições de marés muito Os teores de alumínio (Al) não apresentaram grandes
elevadas (marés de sizígia), favorece a concentração de variações entre os períodos sazonais, e apresentaram
ferro através da mobilização e precipitação deste metal maiores concentrações na estiagem, provavelmente por
(HADLICH et. al, 2010). Este processo é evidenciado influência do processo de lixiviação (Tabela 2).
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Tabela 2: Valores médios dos parâmetros químicos sódio (Na), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e ferro (Fe) na Área 1 e na Área 2,
durante a época menos chuvosa (estiagem) e chuvosa, nas profundidades coletadas (0-20 cm, 20-40 cm, 40-60 cm).
Profundidade ÁREA 1 ÁREA 2
(cm) Estiagem Chuvoso Estiagem Chuvoso
0-20 551,46 Aa 9,46 Ba 130,57 Aa 4,53 Ba
Na (cmolc/kg) 20-40 508,21 Ab 11,28 Ba 145,7 Aa 5,50 Ba
40-60 501,01 Ab 13,05 Ba 157,36 Aa 5,52 Ba
0-20 169,45 Aa 4,03 Ba 35,91 Aa 1,25 Ba
K (cmolc/kg) 20-40 165,28 Aab 4,15 Ba 31,86 Aa 1,40 Ba
40-60 155,69 Ab 4,04 Ba 39,66 Aa 1,33 Ba
0-20 4,43 Ba 8,55 Ab 1,69 Ba 3,08 Aa
Ca (cmolc/kg) 20-40 5,35 Ba 9,47 Aab 1,61 Ba 3,70 Aa
40-60 4,86 Ba 9,93 Aa 1,73 Ba 4,00 Aa
0-20 15 Aa 16,48 Ab 4,07 Aa 5,53 Aa
Mg (cmolc/kg) 20-40 16,29 Ba 21,35 Aa 3,77 Ba 7,22 Aa
40-60 14,60 Ba 22,32 Aa 4,00 Ba 8,09 Aa
0-20 2,89 Ab 2,50 Aa 2,22 Aa 1,85 Ab
Al (cmolc/kg) 20-40 5,85 Aa 3,61 Ba 3,51 Aa 2,52 Aab
40-60 5,81 Aa 3,11 Ba 3,52 Aa 3,45 Aa
0-20 2,08 Bb 3,43 Aa 0,79 Aa 1,05 Aa
Fe
20-40 2,55 Ba 2,94 Ab 0,89 Aa 1,13 Aa
(g/Kg)
40-60 2,38 Bab 3,02 Aab 1,17 Aa 1,55 Aa
O pH (H2O) e o Ca são duas variáveis independentes e com exceção da zona de apicum no perfil 2. A
inversamente proporcionais, o pH (H2O), a variável que característica redutora dos sedimentos de manguezais
mais influencia o agrupamento da área 2 na época está associada à baixa declividade, que favorece a
menos chuvosa, com diminuição do pH (H2O) em influência das águas por um período de tempo maior.
comparação com a época chuvosa, com médias de 4 e Em consequência, os sedimentos são
3, respectivamente. Os valores de pH (H2O) assumem predominantemente redutores, fracamente ácidos a
uma escala decrescente na medida que aumenta a neutros, com salinidade elevada, principalmente
profundidade (Tabela 3), diferente dos resultados durante o período menos chuvoso (BERRÊDO et. al,
encontrados por (HADLICH et. al, 2010), em solos sob 2008).
condições anaeróbicas, como no caso de manguezais
sob forte influência das marés, em que o pH fica em A salinidade intersticial (Sal) está associada à intrusão
torno de 6,7 a 7,2. O pH de campo indica valores mais salina pelas águas dos estuários, precipitação
altos, tendendo a neutralidade assemelhando-se ao pluviométrica e processo de evaporação (CRUZ, 2009)
trabalho de (HADLICH et. al, 2010). uma vez que no período Menos chuvoso a evaporação
favorece a concentração de sais na superfície do
A análise descritiva permitiu inferir que, de forma geral, terreno e, no período chuvoso, as águas pluviais
o Eh foi redutor na área 1, com média de – 300 mv na propiciam a diluição desses sais (Tabela 3).
estiagem e -305 mv na estação chuvosa, verificando
que o período sazonal não alterou os valores para este Para BERRÊDO (2006) a influência da curta, porém
parâmetro. Na área 2, o Eh apresentou características marcante sazonalidade climática do nordeste paraense
oxidantes no início do perfil, onde se encontra a zona (especialmente a precipitação pluviométrica e a
de apicum, ficando cada vez mais redutor quanto mais temperatura), sobre os sedimentos lamosos do estuário
próximo do manguezal, no final deste perfil. Nas duas do rio Marapanim, onde os efeitos do clima sobre a
áreas amostradas, o Eh apresentou características cunha salina resultou na concentração ou na diluição da
fortemente redutoras com a profundidade (Tabela 3), salinidade intersticial na superfície do sedimento. No
presente estudo, a sazonalidade climática foi fator
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
determinante para as oscilações de salinidade. Em acordo com a topografia, marés (baixas ou altas) e
geral, a salinidade varia em diferentes ecossistemas de aporte de água doce (Palanisamy et. al, 2009).
Tabela 3: Valores médios de carbono total, pH com água destilada (pH-água), pH em campo (pH-campo), potencial de redox (Eh) e Salinidade
intersticial (Sal) na Área 1 e na Área 2, durante a época menos chuvosa (estiagem) e chuvosa, nas profundidades coletadas
(0-20 cm, 20-40 cm, 40-60 cm)
ÁREA 1 ÁREA 2
Profundidade (cm)
Estiagem Chuvoso Estiagem Chuvoso
0-20 4,52 3,69 4,53 3,44
pH (água) 20-40 3,66 3,00 4,02 2,99
40-60 3,57 2,79 3,72 2,74
0-20 6,15 6,71 6,45 6,51
pH (campo) 20-40 6,68 6,73 6,57 6,23
40-60 6,76 6,78 6,63 6,08
0-20 -232,75 -263,10 -339,58 -67,07
Eh
20-40 -335,60 -317,60 -374,33 -107,80
(mV)
40-60 -330,60 -335,73 -193,33 -35,33
0-20 41,60 19,75 19,75 15,57
Sal 20-40 35,2 29 21 22,27
40-60 33,6 32,27 28,33 23,47
CONCLUSÃO
A sazonalidade no clima exerceu maior influência sobre possivelmente devido a não inclusão de outros
os resultados de Na, K e salinidade intersticial, por meio parâmetros que podem está influenciando nesses
dos processos de evaporação, na estação seca e de resultados, como o Eh e a salinidade, que são medidas
diluição, na estação chuvosa, comportamento importantes para a caracterização de manguezais.
observado nas duas áreas amostradas.
Em manguezais, vários fatores inter-relacionados
Existe diferença entre as áreas 1 e 2 com relação ao devem ser levados em consideração, como o regime de
teor de nutrientes, os quais apresentaram valores mais marés, a topografia e a sazonalidade climática, visando
elevados no manguezal de intermaré (área 1), um melhor entendimento dos processos de troca que
considerando a totalidade dos nutrientes. A formação ocorrem dentro do manguezal e entre este e
de alguns agrupamentos não foi bem explicada nos ecossistemas adjacentes.
gráficos de análises de componentes principais (APC),
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao projeto Rede de Mudanças Climáticas/Edital 014/2009/CNPq/FAPESPA, ao Conselho Nacional
de Desenvolvimento e Pesquisa/ CNPq pela bolsa concedida à aluna do curso de Ciências Ambientais/UFPA, e ao Museu
Paraense Emílio Goeldi/MPEG pelo auxílio no desenvolvimento da pesquisa e infraestrutura de campo e laboratório.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
73
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
INTRODUÇÃO
A Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) surge como intergovernamentais como, por exemplo, o Princípio 10
uma nova perspectiva de avaliação ambiental por ser da Declaração do Rio e da Convenção de Aarhus sobre o
uma ferramenta proativa, incorporando a variável acesso à informação, participação pública na tomada de
ambiental nos níveis estratégicos de decisão, contudo, decisão e acesso à justiça em matéria de meio
de forma flexível e adaptada ao planejamento corrente ambiente, e na Diretiva Européia de Avaliação
para trazer a decisão sobre o contexto de Ambiental Estratégica - Diretiva 42/2001/CE (CRNČEVIĆ,
sustentabilidade, permitindo o envolvimento da 2007).
sociedade na tomada de decisão (PARTIDÁRIO, 2004;
FISCHER, 2007; BINA, 2008). A maioria dos documentos internacionais de orientação
e enquadramentos legais sobre AAE recomenda ou
Segundo Therivel (2004), o objetivo principal da AAE é exige a adoção de alguma forma de participação pública
alcançar a integração das componentes de em seu processo de avaliação. Organismos como a
desenvolvimento sustentável no processo de United Nations Economic Commission for Europe
planejamento de Política, Planos e Programas (PPPs). (UNECE, 2003), a International Association for Impact
Assessment (IAIA, 2002) e a Comissão Europeia (CEC,
A ocorrência da participação pública no nível mais alto
2001), estabelecem princípios e critérios para a
de tomada de decisão, ou seja, nas PPPs que precede a realização da participação pública em processos de
fase de projetos específicos, estabelece mecanismos de tomada de decisão.
participação pública em discussões relevantes para a
sustentabilidade, permitindo ao público manifestar seus Conforme Partidário (2008), o conceito de AAE
pontos de vista ainda no processo de planejamento preconiza que a sua direção deve ser feita com a
(DALAL-CLAYTON; SADLER, 2005). participação dos diversos atores envolvidos, direta ou
indiretamente com o objeto a ser avaliado. A prática da
Dentro da pressão existente para a gestão ambiental participação pública oferece legitimidade e
participativa, a AAE proporciona uma sistemática transparência ao processo de tomada de decisão e
considerável quanto aos aspectos socioambientais, e melhora a capacidade de resposta das instituições
também um vasto espaço para a participação social se públicas (THERIVEL, 2004).
comparada à avaliação de impacto ambiental (COSTA;
BURSZTYN; NASCIMENTO, 2008). Segundo a IAIA (2002) uma Avaliação Ambiental
Estratégica de boa qualidade passa por um processo
A participação pública pode ser definida como o que deve atender a vários critérios de desempenho.
envolvimento de indivíduos e grupos que são positiva Entre esses critérios, a AAE deve ser participativa. A
ou negativamente afetados por uma intervenção participação pública, pelo menos em teoria, é uma
proposta (por exemplo, uma política, um plano, um questão importante, pois está presente na maior parte
programa e um projeto), sujeita a um processo de dos sistemas de AAE propostos pela literatura ou
decisão, ou que estão interessados na mesma (ANDRÉ estabelecidas em legislação.
et al., 2006). Conforme estes autores, os objetivos da
participação pública são essenciais para a boa A escolha dos métodos utilizados para abranger o
governança, pois fortalecem as comunidades locais, público é um importante fator na determinação da
obtêm reações do público e contribuem para melhorar qualidade da participação, pois às vezes ele apenas
a análise de propostas e para a aprendizagem mútua informa e não permite que a comunidade interaja e
entre as partes interessadas. A Associação Internacional exponha suas opiniões. A participação do público
para Participação Pública - International Association for engloba uma série de procedimentos e métodos
Public Participation (IAP2) cita que “participação pública concebidos para informar, consultar, envolver e
significa envolver aqueles que são afetados por uma colaborar, a fim de permitir que aqueles que seriam
deliberação no processo de tomada de decisão” (IAP2, potencialmente afetados por uma decisão ou política,
2005). possam ser ouvidos no processo (IFC, 2007).
Além de ser baseada nos princípios de democracia, a
participação pública é abordada em vários acordos
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
A Figura 1 apresentada a seguir ilustra os níveis de participação pública desenvolvidos pela Associação Internacional de
Participação Pública (IAP2, 2000)
Figura 1. Níveis de participação pública. Fonte: IAP2 (2000)
Conforme mostrado na Figura 1, cada nível de Existem várias técnicas de participação pública
participação pública tem um aumento correspondente disponíveis, como audiências públicas, reuniões,
na medida da intensidade de envolvimento público e de workshops, oficinas, comitês consultivos,
sua participação no processo de avaliação ambiental. levantamentos (construir um perfil dos atores
envolvidos), mala direta, artigos na mídia local e site
De acordo com CEAA (2008), a informação e a consulta eletrônico (web) (ANDRÉ et al., 2006). Cada método
podem ser entendidas como a participação no sentido apresenta uma finalidade específica e, quando aplicado
mais restrito. A informação é um processo em que o de forma adequada, pode trazer benefícios
público recebe informações, mas não pode fazer significativos para a organização patrocinadora do
quaisquer declarações sobre as mesmas. Neste nível, a programa ou implementação de políticas (HILLIKER;
oportunidade para a participação do público foi KLUZ, 2001). Conforme Bisset (2000) a consulta pública
classificado como nenhuma. A consulta é uma é provavelmente a forma mais comum de envolver o
abordagem bilateral, uma forma de diálogo, onde as
público na avaliação ambiental.
autoridades oferecem informações sobre o projeto ou
outra ação para o público e em seguida, o público A Constituição Brasileira de 1988 instituiu, no âmbito
realiza comentários sobre as informações fornecidas. das políticas públicas, a participação social como eixo
Este nível é classificado como baixo. No terceiro nível é fundamental na gestão e no controle das ações do
fornecida a oportunidade de diálogo e interação. A governo (Beghin; Jaccoud; Silva, 2002). Com isto, foram
oportunidade para a participação do público foi implementados novos mecanismos nos processos de
classificada como média. No quarto nível é fornecido ao tomada de decisões, o que fez emergir um regime de
público a oportunidade de parceria ou trabalhar em ação pública descentralizada, no qual são criadas
conjunto com os tomadores de decisão. Neste caso, a formas inovadoras de interação entre governo e
oportunidade para a participação pública foi classificada sociedade.
como alta. No quinto nível é fornecida a capacitação do
público, colocando em suas mãos a tomada de decisão A partir de 1990 a participação da sociedade civil na
final (IAP, 2000). A oportunidade para a participação do gestão pública ganhou novos contornos e dimensões,
público é classificada como alta. sendo uma delas a ambiental, com a inclusão de vários
atores sociais no processo de deliberação pública,
tornando-a um mecanismo para a democracia na
75
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
promoção da coesão social entre o governo e os Para o Ministério do Meio Ambiente (2010), o processo
cidadãos (ROCHA, 2009). de AAE deve prever os momentos, as formas e os canais
de comunicação, além do envolvimento e inclusão da
No Brasil a AAE não é obrigatória, mas tem sido opinião dos atores, em função da dinâmica de cada
realizada de forma voluntária, contando com a ausência setor e do respectivo processo de decisão, de modo a
total de exigências legais na sua aplicação (SÁNCHEZ, criar uma cultura de participação.
2008). Portanto, não existem orientações oficiais
específicas para a sua realização. Nesse sentido, este artigo tem por objetivo apresentar
uma avaliação da participação pública em processos de
As AAEs são realizadas algumas vezes para facilitar o Avaliação Ambiental Estratégica no Brasil, com a
processo de licenciamento ambiental, outras vezes para averiguação do conteúdo de relatórios de AAE e da
atender às exigências do Banco Interamericano de consideração, no decorrer desses processos, das
Desenvolvimento (BID), para que conceda o diretrizes estabelecidas pelo critério participativo de
financiamento de programas e projetos. Nos últimos 15 boas práticas preconizado pela IAIA (2002), a fim de
anos foram elaborados no Brasil, cerca de trinta AAEs verificar se as referências brasileiras atenderam de
(OPPERMANN, 2012). forma apropriada ao mesmo.
METODOLOGIA
A metodologia do estudo envolveu a revisão Através dos relatórios ambientais das AAEs foram
bibliográfica do tema em questão, com a finalidade de levantados os atores, métodos aplicados para o
constituir um referencial conceitual acerca das envolvimento destes, a fase em que ocorreu a
possibilidades de participação pública na AAE nos participação pública e, ainda, se as sugestões foram
diversos níveis de tomada de decisão, verificando, para consideradas no relatório final da AAE. Em seguida, foi
tanto, os métodos e as práticas nacionais e estrangeiras realizada uma análise crítica do processo de
existentes. participação pública nessas AAEs.
Para atender ao objetivo da pesquisa foi realizada uma Para a avaliação das práticas do processo de
análise crítica qualitativa dos métodos e práticas de participação pública, foi realizada uma análise
participação pública em AAEs brasileiras, a qual foi comparativa com o critério participativo, estabelecido
aplicada ao conteúdo de diferentes relatórios pela IAIA (2002), que faz parte de um conjunto dos seis
ambientais. Para este propósito foi utilizada um critérios de desempenho, considerados essenciais para
conjunto de dez estudos de caso, em diferentes setores um processo de AAE.
de atividades. Como contextualizado por Lee e Colin,
(2006), a análise do conteúdo dos relatórios ambientais No critério participativo de boas práticas de AAE deve-
se baseia na leitura de textos de forma sistemática, se considerar se a mesma obedece aos os seguintes
como forma de interpretá-los e fazer suposições sobre procedimentos:
os processos que descrevem, sendo estes fontes Informa e envolve o público interessado e
facilmente acessíveis de conhecimentos relevantes, afetado, assim como os órgãos governamentais
embora esses relatórios não contemplem de forma ao longo de todo o processo de decisão;
exaustiva a complexidade dos processos de Considera as sugestões e preocupações da
planejamento e a dinâmica de governança. sociedade na documentação da AAE e na
Os critérios para a escolha dos relatórios ambientais tomada de decisão;
foram os seguintes: Apresenta requisitos de informação claros e
facilmente compreensíveis, assegurando acesso
Disponibilidade na Internet dos relatórios suficiente a toda a informação relevante.
ambientais;
Processos que se encontravam concluídos, uma Com base em uma escala pré-definida foi realizada uma
vez que se pretendia analisar os relatórios finais análise comparativa a fim de averiguar o cumprimento
de cada AAE. dos três itens para o critério participativo, conforme
estipulado pela IAIA (2002), para cada AAE analisada.
De acordo com a escala, o símbolo S representa que a
76
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
AAE analisada atende Satisfatoriamente os três itens do que o emprego da AAE deve seguir os princípios de bom
critério. O símbolo RS representa que atende desempenho reconhecidos por organizações
Razoavelmente Satisfatório, com dois itens; NS internacionais de desenvolvimento profissional,
representa que atende de forma Não Satisfatória, cooperação técnica e de apoio ao desenvolvimento
constando somente um item e NE Não Encontrado. econômico.
A utilização desse critério estipulado pela IAIA é
reforçada e apoiada pelo MMA (2010), o qual menciona
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No Quadro 1 estão relacionadas e analisadas de forma Observa-se que em todas as AAEs o processo de
sintética as dez AAEs consideradas neste estudo, bem participação pública adotou formas distintas de atender
como o setor de atividade e nível de governo, a as partes interessadas, como as agências
localização (site) dos seus relatórios, e os atores governamentais e especialistas, através de reuniões
envolvidos, além de apresentar a síntese dos métodos técnicas, e o público em geral, por meio de consultas e
e práticas de participação pública e as fases em que audiências públicas.
ocorreram.
Somente a AAE da Mata Branca aplicou o quinto nível
Por meio da análise apresentada no Quadro 1 pode-se de participação pública configurada pela IAP (2000),
verificar que a participação pública é mencionada em que é a capacitação do público. Foi realizado um curso
todos os relatórios ambientais, sendo que foram sobre AAE com o objetivo de proporcionar um
utilizados diversos métodos de envolvimento das partes nivelamento para as partes interessadas e comunidade
interessadas, conforme se segue: e foi promovido um ciclo de palestras que abordavam
temas relevantes sobre a importância da preservação
Reuniões técnicas e seminários; da Caatinga. Este procedimento é importante, pois
Sessões públicas de apresentação e discussão; conforme Arbter (2005), no planejamento estratégico é
Consulta pública (reuniões com a comunidade mais difícil envolver os vários grupos que compõem a
afetada e audiências públicas); parte afetada. Excluindo os especialistas, o público
Comitês de acompanhamento; geralmente não se interessa por planejamento por
Disponibilização na web ─ que ocorreu através conter propostas abstratas que requerem
de site próprio da agência ambiental onde o conhecimentos específicos.
estudo está inserido ou no site dos
elaboradores da AAE; A síntese dos resultados obtidos, conforme análise
Workshop com oficinas; crítica realizada segundo o critério de desempenho
Realização de cursos sobre AAE; participativo da IAIA (2002) é apresentada no quadro
Divulgação da informação escrita (folders). seguinte.
Mediante os dados disponíveis e analisados, identificou- Conforme pode ser visualizado a partir do Quadro 2, a
se que a consulta através de audiências públicas foi participação pública ocorreu nos estudos de caso (AAEs)
utilizada em 90 % (noventa por cento) das AAEs, fato selecionados pelo presente trabalho. Observa-se que
este já constatado em outros estudos (BISSET, 2000). para o Item a do Critério Participativo da IAIA (2002),
três casos foram considerados satisfatórios, sete casos
Além das audiências públicas, observaram-se também foram razoavelmente satisfatórios e nenhum foi
outros métodos, como as reuniões técnicas, que foram considerado não satisfatório. Para o Item b, não houve
verificadas em sete AAEs; o comitê de nenhum caso satisfatório, houve seis casos
acompanhamento, em quatro; seminários e oficinas, razoavelmente satisfatórios e quatro não satisfatórios.
em três; site eletrônico, em duas e curso, em apenas Por fim, com relação ao Item c, três casos foram
uma AAE. Somente a AAE da Mata Branca dispõe de um satisfatórios, cinco se apresentaram razoavelmente
site próprio para a participação do público satisfatórios e dois não satisfatórios.
(http://aaebiomacaatinga.webnode.com.br/).
77
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Com os dados obtidos no Quadro 2 nota-se que, das trinta possibilidades encontradas, cinco foram consideradas
satisfatórias (16,67%), 18 razoavelmente satisfatórias (60%), três não satisfatórias (10%) e quatro não encontradas
(13,33%) (vide Figura 2 a seguir).
Figura 2 ─ Classificação da participação pública nas AAEs
70,00%
60%
60,00%
S (5)
50,00%
RS (18)
40,00%
NS (3)
30,00%
0,00%
S (5) RS (18) NS (3) NE (4)
Desta forma, pode-se interpretar que a deficiência fase de prospecção (screening), conforme preconizado
maior é verificada no Item b, que não foi encontrado pelo Critério Participativo de Boas Práticas (IAIA, 2002).
em quatro AAEs, evidenciando a não incorporação das
ações ou decisões tomadas em resposta à participação Somente em um caso a participação pública foi
pública, com relação às questões que foram levantadas realizada na fase da elaboração do Termo de Referência
e sugeridas ao relatório ambiental final. (AAE do Extremo Sul da Bahia), onde ainda é possível a
comunidade influenciar no escopo de uma AAE.
Analisando o Critério Participativo de Boas Práticas da
IAIA (2002), verifica-se que apenas quatro dos relatórios Em relação à realimentação (feedback) que deveria
ambientais citam que as sugestões ocorridas durante o ocorrer entre os responsáveis pela elaboração das AAEs
processo de participação pública foram incorporadas e os atores chave durante o processo de participação
nas AAEs. É reconhecido que, no contexto das boas pública, constatou-se a existência de poucas
praticas de participação pública, que os participantes informações nos relatórios, que somente citam que as
saibam como sua contribuição foi considerada na sugestões foram incorporadas.
decisão final. Outra questão relevante constatada é a falta de
conclusões sobre a participação pública nos relatórios
Outro fato observado é que a participação pública,
embora ocorrendo em algumas das etapas das AAEs, ambientais, por exemplo, explicitando o modo como as
não foi viabilizada logo no início desses processos, na opiniões recebidas foram avaliadas.
78
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
CONCLUSOES E RECOMENDAÇÕES
Esta pesquisa identificou lacunas centrais relacionadas Proporcionar diversas formas e oportunidades
aos critérios necessários à realização das boas práticas de participação pública e implementar
de participação pública em AAE no Brasil. Foi abordagens para o alcance de opiniões
constatada a necessidade de aprofundamento das diferentes, empregando variados meios de
questões teóricas relacionadas aos procedimentos e divulgação e comunicação, em função das
teorias substanciais à realização de AAE, para o diversidades culturais;
processo de participação. A abordagem de envolver o público através da
disponibilização das informações na Internet
Com a análise dos relatórios foi possível verificar que a
restringe a participação pública apenas a
participação pública na AAE no contexto brasileiro vem
pessoas com acesso a ela. Mesmo em casos em
sendo praticada, de um modo em geral, apenas com o
que a consulta realizada via internet alcance um
cumprimento mínimo recomendado. Tal fato se
grande número de pessoas, este processo
constata quando o método mais utilizado para envolver
deverá ser complementado com a utilização de
os atores chave é a consulta através da audiência
formas presenciais de participação, para que as
pública, percebendo-se, portanto, que ainda se pratica
questões e dúvidas que surjam possam ser
esta participação nos moldes do Estudo de Impacto de
discutidas de forma mais dinâmica e interativa;
Ambiental (EIA), que esta prática ocorre principalmente
As informações devem ser disponibilizadas por
no final do processo, não oportunizando aos atores uma
um tempo adequado, ou seja, a tempo das
real contribuição para o mesmo, tornando-o mais
pessoas poderem analisa-las adequadamente e
transparente, legítimo e eficaz. Em relação ao método
dar sugestões. Prazos demasiadamente curtos
através da disponibilização dos relatórios de AAE na
podem reduzir o número de pessoas a serem
web, através do site eletrônico, restringe-se o
informadas e de terem a possibilidade de se
envolvimento e a participação e das pessoas sem
manifestar;
acesso à Internet.
As informações disponibilizadas devem ser
Percebe-se que a prática da participação pública no textos não longos e de fácil compreensão,
Brasil precisa ainda avançar no que diz respeito aos sendo interessante a elaboração de um sumário
métodos e práticas nos processos decisórios, visto que não técnico para ser amplamente divulgado a
as AAEs consideradas neste estudo atenderam apenas a população interessada e afetada;
alguns critérios estabelecidos pela IAIA e pela literatura Fornecer sempre retorno (feedback) em relação
pertinente. Contudo, apesar dessa constatação, às sugestões recebidas durante o processo de
observa-se que em algumas AAEs foram adotadas participação pública. Informar se as sugestões
alguns métodos de participação, numa tentativa de foram ou não aceitas na versão final da AAE, o
abranger os atores chave envolvidos, o que pode ser que reforça a responsabilidade e credibilidade
considerado um ponto positivo nesse processo. do processo.
A AAE deve ser regulamentada no Brasil, com
Assim, conclui-se que a participação pública, da forma
dispositivo prevendo a obrigatoriedade da
como vem sendo praticada, atende apenas
consulta pública e de outros mecanismos
parcialmente aos requisitos mínimos exigidos pelos
pertinentes que fomentem a participação de
organismos internacionalmente conceituados sobre a
todos os interessados ou envolvidos no
matéria em questão.
processo, por exemplo, com a elaboração de
Desta forma, algumas recomendações podem ser feitas guias ou diretrizes correlatas e com a realização
para que a participação pública na AAE se torne mais de audiências publicas nas regiões ou locais
eficaz no Brasil, tais como: objeto das PPPs avaliadas.
79
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Ressalva-se que a análise crítica realizada teve por base outros instrumentos, como entrevistas com os
somente os relatórios ambientais das AAEs, não se responsáveis pela sua elaboração, comunidade
fazendo uso de outros documentos e instrumentos. científica e os atores chave envolvidos, principalmente
Recomenda-se que, para futuros estudos, as análises os representantes das comunidades a serem afetadas.
envolvam documentos que embasaram as AAEs e
- Internet
(relatórios e
documentos)
- Consultas Públicas
através de
audiências públicas
http://www.transp (dez) nos trechos
ortes.mg.gov.br/in - Usuários e
atingidos pela
dex.php?view=artic operadores dos
rodovia, realizadas - Não informa se as
2) Programa le&catid=47:geral& serviços de
pela COPAM. considerações da
Rodoviário de Transportes/ id=747:avaliacao- transportes
rodoviários de - Reuniões, a partir participação
Minas Gerais Estadual (MG). ambiental-
cargas e de solicitação, com pública foram
(PRMG) (2006). estrategica-
passageiros; associações, inseridas na AAE.
aae&tmpl=compon
ent&print=1&page entidades
- Sociedade local
= ambientalistas e
organizações da
sociedade civil das
áreas de influência.
- Na elaboração do
- Representantes
http://idbdocs.iadb RAAE foram
3) Programa da de ONG, da
.org/wsdocs/getdo realizados contatos
Qualidade comunidade - Não informa se as
Meio ambiente/ cument.aspx?docn e promovidas
Ambiental Urbana envolvida com o sugestões foram
Estadual (AP). um=724751 reuniões com os
do Amapá - GEA- programa, demais inseridas na AAE.
órgãos executores
BID (2006). representantes da
e de controle
sociedade civil e
ambiental. As
lideranças
consultas públicas
80
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Métodos de
Relatório de AAE
AAE Setor/ Nível Atores Participação Observações
(acesso)
Pública/ Fases
empresariais. ocorreram em
diferentes
momentos da fase
de preparação.
- Reuniões de
consulta pública
(Laranjal do Jari,
Santana e Macapá).
- Consulta
institucional e
pública, nas etapas
- Mapeamento de do escopo e nas
instituições fases de - As informações e
governamentais, caracterização, dados levantados
4) Plano de http://lima.coppe.u privadas e identificação dos por intermédio de
Turismo frj.br/aaeturismoco organizações não planos e programas pesquisa e de
Turismo/Federal. stanorte/ governamentais e e para o consulta aos atores
Sustentável na universidade. diagnóstico. sociais relevantes
Costa Norte (2007). foram
- Empresários do - Relatórios considerados na
turismo e disponibilizados AAE.
pescadores. eletronicamente e
posterior discussão
na Consulta
Pública.
- Reuniões técnicas;
- Consulta pública
(audiência pública)
- Atores das esferas foi realizada,
sustentada por - Sugestões e
federal e distrital
documentação recomendações
de governo, da
apropriada, com a por parte do
5) Programa de http://www.st.df.g sociedade civil, do
participação de público, foram
Transporte Urbano ov.br/sites/100/16 setor produtivo e
Transportes/ representantes da avaliadas e
do Distrito Federal 7/00000390.PDF do terceiro setor,
Distrito Federal. sociedade civil, das incorporadas aos
e Entorno - Brasília populações de
comunidades, de relatórios para
Integrada. (2007). ambulantes,
lideranças locais e elaboração da
motoristas e
ONGs. Não se versão definitiva do
cobradores de
verifica a RAAE.
ônibus.
participação dos
outros municípios
envolvidos pelo
programa.
81
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Métodos de
Relatório de AAE
AAE Setor/ Nível Atores Participação Observações
(acesso)
Pública/ Fases
pescadores, finalização de cada AAE final.
instituições de etapa), só
pesquisa, entidades informou.
ambientalistas,
órgãos públicos de - Seminários de
saúde, Consulta Pública
empreendedor. com distribuição de
um folder com
informações
básicas
(apresentou
resultados
preliminares da
AAE).
- Audiências
- Representantes
públicas e
dos órgãos
seminários (três)
públicos;
realizados pelo
população da
Conselho de
região do entorno
Planejamento,
de Anchieta.
Avaliação e
Disponibilizado - Conselho de Monitoramento de
7) Polo Industrial e pelo Instituto Acompanhamento - Políticas Públicas - Não cita se as
Minero-industrial /
de Serviços de Estadual de Meio Fórum da para a Região do sugestões foram
Estadual (ES).
Anchieta (2009). Ambiente do Companhia Polo – COPLAM, inseridas na AAE.
Espírito Santo. Siderúrgica Ubu e com intuito de
Comitê de Bacia do informar à
Rio Benevente. população acerca
(composto por dos investimentos
representantes da e projetos para a
comunidade civil região.
organizada).
- Comitê de
http://www.inema. Acompanhamento;
ba.gov.br/estudos-
ambientais/avaliac - Grupo de - As sugestões e
ao- Trabalho observações do
ambiental/porto- Governamental; Comitê e da
8) Programa - Desenvolvimento
sul - Atores sociais da Consulta foram
Complexo Porto minero-industrial / - Disponibilização
região de estudo. avaliadas e
Sul (2010). Estadual (BA). http://www.lima.c do relatório incorporadas no
oppe.ufrj.br/files/a preliminar da AAE relatório final da
aeportosul/aae_su no momento da AAE.
mario_executivo.p consulta pública.
df
82
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Métodos de
Relatório de AAE
AAE Setor/ Nível Atores Participação Observações
(acesso)
Pública/ Fases
AAE. sociedade civil. resultados); Críticos de Decisão
(FCD).
- Ciclo de palestras,
oficinas; seminários
(descrição da
situação atual de
cada fator crítico
de decisão);
- Disponibilidade de
um site eletrônico
para expressar
opiniões.
- Reuniões técnicas
(elaboração do
Termo de
Referencia e na
http://www.seia.ba fase resultados do - Os resultados das
.gov.br/sites/defaul diagnóstico) fases finais
t/files/other/Produ (cenários e
to%203%20- - Comitê de
avaliação
%20AAE- - Técnicos da acompanhamento
Indústria, energia e ambiental) não
10) Extremo Sul da Extremo%20Sul.pdf INEMA, SEMA e com a participação
agricultura / foram
Bahia (2011). representantes da dos setores da
Estadual (BA). http://www.lima.c apresentados e
comunidade local. sociedade (fase dos
oppe.ufrj.br/files/a validados em
cenários e
aeextremosul/aae_ consulta pública
discussão dos
sumario_executivo. aos atores sociais
resultados).
pdf da região.
- Consulta pública
(apresentou os
resultados da fase
de diagnóstico).
83
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Legenda:
S – satisfatório
RS – razoavelmente satisfatório
NS – não satisfatório
NE – não encontrado.
84
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
85
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
INTRODUÇÃO
Os cemitérios, como qualquer outra instalação que Segundo Campos (2008), o produto da decomposição
afete as condições naturais do solo e das águas dos corpos humanos, conhecido como necrochorume, é
subterrâneas, são classificados como atividade com liberado pelo corpo durante seis a oito meses, sendo
risco de contaminação ambiental. A razão disso é que o que cada cadáver pode gerar de 30 a 40 litros.
solo em que estão instalados funciona como um filtro Composto de 60% de água, 30% de sais minerais e 10%
das impurezas depositadas sobre ele (KEMERICH; de substâncias orgânicas tóxicas (putrescina e
UCKER; DE BORBA, 2012). cadaverina), o necrochorume apresenta, ainda, carga
patogênica. Essa substância é mais viscosa que a água,
A falta de medidas de proteção ambiental no de cor acinzentada ou acastanhada, odor forte e
sepultamento de corpos humanos em covas abertas no desagradável. Se o solo dos cemitérios for poroso e
solo, ao longo de muitas décadas, fez com que a área de permeável, o necrochorume pode vir a se mover e
muitos cemitérios fosse contaminada por diversas misturar com a água subterrânea, podendo tornar-se,
substâncias, orgânicas e inorgânicas, e por micro- assim, veículo de doenças, caso haja micro-organismos
organismos patogênicos. Por economia, é comum os patogênicos.
municípios elegerem áreas de baixo ou quase nenhum
valor de mercado para os sepultamentos. Geralmente Os metais pesados presentes no necrochorume podem
terrenos grandes e íngremes em regiões mais afastadas ter sua origem do próprio corpo humano, como
do centro, ignorando critérios como formação geológica resíduos de tratamentos hospitalares, como a
e hidrogeológica (FELICIONI et al., 2007). quimioterapia, produtos utilizados no preparo do corpo,
como cosméticos, dentre outros. Segundo Barros
Segundo Kemerich et al. (2012c), a partir de 2003, com (2008), as partes metálicas dos caixões são
a implementação da Resolução do Conselho Nacional consideradas as principais fontes de contaminação dos
de Meio Ambiente (CONAMA) número 335 (CONANA solos de cemitério pelos metais pesados.
335/2003), observou-se a péssima situação dos
cemitérios no Brasil. Nos terrenos destinados à implantação de cemitérios, a
espessura da zona não saturada e o tipo de material
A escolha do local para instalação dos cemitérios deve geológico são fatores determinantes para a filtragem do
ser feita com critério, observando as características do necrochorume. A porcentagem ideal de argila no solo
meio. Embora o solo seja uma barreira natural de para que isso ocorra situa-se na faixa de 20% a 40%, a
proteção aos aquíferos subterrâneos, a contaminação fim de que os processos de decomposição aeróbica e as
das águas subterrâneas pode ocorrer da mesma condições de drenagem do necrochorume sejam
maneira. favorecidos (SILVA, 1995).
Kemerich et al. (2012b) dizem que a implantação de A toxicidade química do necrochorume diluído na água
cemitérios sem levar em consideração os critérios freática relaciona-se aos teores anômalos de compostos
geológicos (características litológicas e estrutura do das cadeias do fósforo e do nitrogênio e aminas. O
terreno) e hidrogeológicos (nível do lençol freático) necrochorume no meio natural decompõe-se e é
constitui uma das causas de deterioração da qualidade reduzido a substâncias mais simples e inofensivas, ao
das águas subterrâneas. longo do tempo (ROMANÓ, 2005).
OBJETIVO
Esse trabalho tem como objetivo determinar as alterações nas propriedades químicas de um solo ocupado por
cemitério, por meio de análises dos parâmetros Amônia, Nitrato, Nitrito e Potencial Hidrogeniônico, em diferentes
profundidades e pontos de amostragem.
86
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
MATERIAIS E MÉTODOS
Caracterização da área de estudo amostra coletada foi armazenada em sacos plásticos e
recebeu identificação correspondendo à localização do
“O local de estudo está situado no noroeste do estado
ponto de amostragem e à profundidade da coleta. Nos
do Rio Grande do Sul, Brasil, na latitude 27º 28’ 4” S e
pontos analisados, foram coletadas amostras a cada 50
longitude 53º 24' 09" O, com altitude de 546 metros do
cm de profundidade, iniciando-se com a amostra
nível do mar, abrangendo uma área de 301 km2 e com
superficial em 0 cm até a profundidade de 300 cm,
população de 11098 habitantes (IBGE, 2009). Esta
totalizado 7 amostras por ponto. Antes da coleta de
unidade territorial pertence à bacia hidrográfica do Rio
cada amostra, o trado foi lavado com água destilada e
Uruguai com clima subtropical úmido.
deionizada (KEMERICH et al., 2012b).
A classificação do solo do município é determinada
Preparo das amostras, espacialização dos
como Latossolo, Vermelho distroférico típico, gerado
pelo processo de latolização; são solos profundos, dados e análise estatística
minerais, não-hidromórficos, com cores que variam de
O preparo das amostras seguiu procedimento descrito
vermelhas escuras a amareladas (SOUSA; LOBATO,
por Kemerich et al. (2012a). As determinações de
2007).
Amônia (NH3), Nitrato (NO3-), Nitrito (NO2-) e pH foram
O cemitério municipal São João Batista está situado a realizadas por metodologias e equipamentos ilustrados
520 m de altitude e foi fundado no ano de 1930, na Tabela 1.
contendo atualmente cerca de 3 mil sepulturas,
O Destilador de Nitrogênio utilizado neste estudo para a
recebendo em média 7 corpos por mês em uma área de
determinação de NH3 e NO3- tem como Limite de
1,2 hectares (KEMERICH et al., 2012b).
Detecção (L.D.) de 0,35 mg kg-1, já para o NO2- o L. D. é
Localização dos pontos de amostragem e de 0,002 mg kg-1.
87
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A tabela 2 ilustra a variação das concentrações dos parâmetros Amônia, Nitrato, e Nitrito e os valores de pH do solo na
área ocupada pelo cemitério municipal São João Batista, nos 10 pontos de amostragem com suas respectivas
profundidades. Já a tabela 3, destaca os valores mínimos, máximos, médios e seus respectivos desvios padrões para a
área de estudo.
88
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
cidade de Seberi-RS, encontraram concentrações kg-1. Já Cardoso Neto (2006), no município de Tibau- RN,
variando entre 15,5 e 294,5 mg kg-1, em profundidade encontrou as maiores concentrações na camada de 30 a
de 0 a 150 cm, com isso é possível verificar os altos 45 cm de solo.
valores, comparando aos identificados na presente
área, evidenciando a possível alteração dessa A figura 6 ilustra a variação da concentração de Nitrito
propriedade causada pelo uso de cemitério. no solo da área de estudo nas profundidades de 0 (a),
50 (b), 100 (c) e 150 cm (d).
A figura 5 ilustra a variação da concentração de Nitrato
Barros et al. (2008) encontraram baixos teores de NO2-
no solo da área de estudo nas profundidades de 200 (a),
250 (b) e 300 cm (c). acumulados no solo, sendo que a presença de amônia,
proveniente das fontes amoniacais, associada a valor
Vários trabalhos têm mostrado que o NO3-, por ser um inicial do pH do solo, 7,3, pudesse ter inibido a oxidação
ânion, é facilmente lixiviado no perfil do solo, sendo do nitrito a nitrato pelas nitro bactérias. Em contato
levado para fora do alcance das raízes das plantas e com os recursos hídricos (superficiais e subterrâneas),
podendo atingir as águas subsuperficiais. Oliveira et al. esses compostos se tornam fontes de problemas
(2001) verificaram um aumento com a profundidade, relacionados à saúde pública, sendo que o mesmo pode
enquanto que Cardoso Neto (2006) obteve diminuição reagir com o Ferro II e ser fonte de uma doença
do nitrato com a profundidade, tendo a maior conhecida como methemoglobina, conhecida também
concentração na camada superficial, sabendo-se que as como “síndrome do bebê azul”.
perdas de nitrato por lixiviação dependem da
ocorrência de excedente hídrico. O mesmo Chan et al. (1992) apud Zychowski (2012) encontraram
comportamento foi identificado no presente trabalho, concentrações baixas de Nitrito em águas subterrâneas
onde as maiores concentrações ocorreram nas de cemitérios. Já Dent e Knight (1998) apud Zychowski
amostras superficiais. (2012) encontraram concentrações de Nitrito elevadas
na água subterrânea do cemitério em Melbourne.
Estudos realizados, em diferentes contextos geográficos
e climáticos em diferentes cemitérios (Ziychowski, A figura 7 ilustra a variação da concentração de Nitrito
2012), demonstram que as alterações das águas no solo da área de estudo nas profundidades de 200 (a),
subterrâneas nestas áreas resultam da presença de 250 (b) e 300 cm (c).
níveis elevados de vários contaminantes. No Brasil, Potencial hidrogeniônico (pH)
estudos como o realizado por Zychowski (2012)
mostram a presença de contaminação por nitrato perto O pH varia na amplitude de 0 a 14 e é definido como a
das sepulturas, além de outros contaminantes não acidez ou alcalinidade relativa de uma solução, sendo o
levados em consideração para a área do Cemitério valor 7 é definido como neutro, valores abaixo são
Municipal São João Batista (RS) no presente estudo. classificados como ácidos e os acima de 7 são
classificados como alcalinos. Nos solos este varia de 3 a
Nitrito (NO2-) 9.
O Nitrito presente no ambiente, em determinadas Conforme Silva (2011), o pH constitui-se um importante
condições, podem combinar-se com aminas regulador da fertilidade do solo, por manter uma
secundárias, formando nitrosaminas, sendo estas relação com a disponibilidade de cátions e influência
altamente cancerígenas e mutagênicas (REYES et al., nos diferentes processos e atividades no solo, tais
1987). Esse mesmo autor afirma que o Nitrito apresenta como, adsorção, precipitação, solubilidade, formação
relação com o aparecimento de metemoglobinemia em de agregados, infiltração de água, atividade microbiana,
crianças, o que evidencia a importância do estudo de tal entre outros (PAVAN; MIYAZAWA, 1996).
elemento no meio.
A figura 8 ilustra a variação da concentração de pH no
Com relação as concentrações de Nitrito no solo da solo da área de estudo nas profundidades de 0 (a), 50
área de estudo, valores de ordens diferentes foram (b), 100 (c) e 150 cm (d).
encontrados por Kemerich et al. (2012a) em um solo na
cidade de Seberi-RS, entre as profundidades de 0 a 150 Como pode ser observado na figura 8, os menores
cm, cujos valores de NO2- variaram de 0,183 a 21,7 mg valores de pH estão presentes nos pontos de menor
89
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
cota, já as maiores concentrações foram evidenciadas Como pode ser observado, os maiores valores de pH
nas menores cotas topográficas. Foi possível observar estão presentes nos pontos de menores cotas
que o pH variou em função da profundidade, onde os topográficas, evidenciando a relação do parâmetro com
valores maiores foram encontrados na amostra o fluxo superficial e subsuperficial da água.
superficial.
Segundo Dent et al. (2004), as condições adequadas
O pH do solo também influencia na velocidade de para a formação de nitrito e nitrato por bactérias
decomposição da matéria orgânica. Kemerich et al. nitrificantes, incluem valores favoráveis de pH no meio,
(2012a), na cidade de Seberi-RS, em solo ocupado por devido as mesmas serem muito sensíveis a este
aterro sanitário, encontraram valores semelhantes, parâmetro. As Nitrobacter spp. preferem um pH entre 5
variando de 4,12 a 7,9. e 8, enquanto as Nitrossomonas spp. preferem pH entre
7 e 9. Portanto, o pH é um elemento importante
Tem-se admitido que a acidez do solo e as condições também na decomposição pelas bactérias nitrificantes.
fisiológicas que o acompanham resultam da ausência de
cátions metálicos permutáveis. A quantidade destes
cátions absorvidos exerce controle sobre a
porcentagem de saturação de base e, assim, Correlação estatística entre os parâmetros
indiretamente determina a concentração dos íons de analisados
hidrogênio da solução do solo (OLIVEIRA, 2001).
O coeficiente de correlação Pearson (r) varia de -1 a 1,
Oliveira et al. (2008) afirmam que os caixões de metal sendo que o sinal indica direção positiva ou negativa do
podem causar contaminação do solo por diversos relacionamento e o valor sugere a força da relação
elementos, tais como: Ferro, Cobre, Chumbo e Zinco, entre as variáveis (FIGUEIREDO FILHO; SILVA JÚNIOR,
durante vários anos, especialmente em solos com baixo 2009).
pH, o que se aplica à realidade do presente estudo, em
que foram registrados valores baixos de pH. Segundo A tabela 3 ilustra a correlação estatística entre os
Cardoso Neto (2006) o pH pode ser influenciado pelas parâmetros Altitude, Amônia, Nitrato, Nitrito e pH. Os
alterações da temperatura e atividades biológicas. valores destacados na cor vermelha apresentaram
correlação significativa com p<0,05.
A maior ou menor mobilidade dos metais pesados será
determinada pelos atributos do solo, como teores e Com base na tabela 3, seguindo o critério adotado por
tipos de argila, pH, capacidade de troca de cátions, teor Dancey e Reidey (1988), o parâmetro Altitude
de matéria orgânica entre outros, que influenciarão as apresentou correlação negativa moderada (-0,45) e
reações de adsorção/dessorção, Fraca (-0,33) com os parâmetros Amônia e Nitrato,
precipitação/dissolução, complexação e oxirredução respectivamente. A análise dos dados indica que tais
(BARROS et al., 2008). parâmetros apresentaram seus maiores valores nas
cotas mais baixas, ou os menores valores ocorreram nas
A figura 9 ilustra a variação do pH nas profundidades de cotas mais altas. Já a Amônia e Nitrato apresentaram
200 (a), 250 (b) e 300 cm (c). uma correlação positiva moderada (0,55). Os demais
valores não apresentaram correlação significativa.
CONCLUSÕES
Embora não existam valores de referência na legislação nacional para os elementos estudados, alguns destes
apresentaram valores superiores e comportamento similar a estudos semelhantes realizados. Sendo assim, há indícios
de que a área apresenta um potencial de contaminação do solo e da água subterrânea, requerendo mais estudos
específicos, como o monitoramento contínuo de alguns parâmetros. Isso pode ser observado através correlação direta
apresentada entre as variáveis estudadas.
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Tabela 01: Equipamentos e metodologias utilizadas para determinação de Amônia, Nitrato, Nitrito e pH.
Parâmetro Equipamento Metodologia
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Tabela 02: Concentrações de Amônia, Nitrato, Nitrito e valores de pH no solo do Cemitério Municipal São João Batista, Seberi-RS.
Concentrações (mg kg-1) Concentrações (mg kg-1)
Profundidade Profundidade
(cm) NH3 Nitrato Nitrito pH (cm) NH3 Nitrato Nitrito pH
0 273,44 361,93 2,28 5,97 0 303,41 148,61 1,25 7,9
0-50 326,84 19,51 2,98 5,45 0-50 324,65 17,78 4,64 7,7
50-100 337,52 3,49 2,98 5,55 50-100 308,72 32,86 0,18 7,4
1 100-150 337,52 13,47 3,68 5,56 6 100-150 292,79 14,97 2,14 6,7
150-200 284,12 12,42 4,74 5,52 150-200 314,03 17,96 4,46 6
200-250 311,89 9,96 7,19 5,46 200-250 38,99 30,49 2,68 6,2
250-300 289,46 4,62 7,19 5,51 250-300 49,67 17,15 <L.D 5,6
0 174,61 46,74 0,00 7,17 0 340,58 10,91 0,89 7
0-50 163,93 <L.D 0,24 7,37 0-50 155,98 47,05 2,14 6,2
50-100 137,23 <L.D 0,48 6,41 50-100 308,72 42,05 1,61 5,1
2 100-150 131,89 <L.D 2,50 6,1 7 100-150 33,65 33,17 0,00 5,1
150-200 121,21 <L.D 0,95 5,87 150-200 28,31 25,87 1,96 5,2
200-250 121,21 <L.D 0,00 5,46 200-250 314,03 22,42 <L.D 5,4
250-300 131,89 <L.D 0,71 5,31 250-300 319,34 33,04 <L.D 5,3
PONTOS DE AMOSTRAGEM
PONTOS DE AMOSTRAGEM
Tabela 03: Concentrações mímimas, máximas, médias e o desvio padrão dos parâmetros Amônia, Nitrato,
Nitrito e valores de pH, do solo na área do Cemitério Municipal São João Batista, Seberi-RS.
Parâmetro Valor Mínimo Valor Máximo Média Desvio Padrão
Amônia* 580,08 17,63 272,27 139,74
Nitrato* <L.D.** 361,93 58 80,24
Nitrito* <L.D.** 7,19 2,09 1,87
pH 4,8 7,9 6,06 0,68
* Concentrações em mg kg-1
** Valores menores que o Limite de Detecção (L.D.) do método utilizado.
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Figura 02: Variação da concentração de Amônia do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,
Seberi-RS, nas profundidades de 0 (a), 50 (b), 100 (c) e 150 (d) cm
Figura 03: Variação da concentração de Amônia do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,
Seberi-RS, nas profundidades de 200 (a), 250 (b) e 300 (c) cm.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Figura 04: Variação da concentração de Nitrato do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,
Seberi-RS, nas profundidades de 0 (a), 50 (b), 100 (c) e 150 (d) cm.
Figura 05: Variação da concentração de Nitrato do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,
Seberi-RS, nas profundidades de 200 (a), 250 (b) e 300 (c) cm.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Figura 06: Variação da concentração de Nitrito do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,
Seberi-RS, nas profundidades de 0 (a), 50 (b), 100 (c) e 150 (d) cm.
Figura 07: Variação da concentração de Nitrito do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,
Seberi-RS, nas profundidades de 200 (a), 250 (b) e 300 (c) cm.
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Figura 08: Variação do pH do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista, Seberi-RS, nas
profundidades de 0 (a), 50 (b), 100 (c) e 150 (d) cm
Figura 09: Variação do pH do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista, Seberi-RS, nas
profundidades de 200 (a), 250 (b) e 300 (c) cm.
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Tabela 03: Matriz de correlação de Pearson entre os parâmetros: altitude, Amônia, Nitrato, Nitrito e pH do solo no Cemitério Municipal São
João Batista, Seberi-RS.
Altitude Amônia Nitrato Nitrito pH
Altitude 1,00
Amônia -0,45* 1,00
Nitrato -0,33* 0,55* 1,00
Nitrito 0,07 0,15 -0,14 1,00
pH -0,06 0,14 0,14 -0,09 1,00
*Correlação significativa para p < 0,05000, N=70
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
RESUMO
Marcelo de Oliveira Soares Os fósseis no Brasil têm adquirido valor econômico junto à população local, o
Doutor em Geociências. Docente que leva a um tráfico ilegal, sobretudo internacional. Nesse contexto, a
do Instituto de Ciências do Mar educação patrimonial possibilita o acesso ao conhecimento necessário para
(LABOMAR-UFC). que a sociedade adquira o hábito de preservar este importante patrimônio.
Vice-coordenador do Curso de Assim, foram desenvolvidas atividades em um sítio fossilífero de importância
Graduação em Ciências mundial (Chapada do Araripe, NE Brasil) para capacitar a população a gerar
Ambientais (UFC). renda através de réplicas de fósseis, analisar a percepção ambiental quanto
ao patrimônio paleontológico e conscientizar a comunidade quanto à
E-mail: marcelosoares@ufc.br importância dos fósseis. Foram realizadas etapas distintas de atividades, que
incluíram oficina de réplicas, produção de “mapas mentais” e aplicação de
Wedja Suhelen Paes da Silva questionários. Ressalta-se entre os resultados, o reconhecimento da
Graduanda em Ciências
importância da fabricação de réplicas como uma alternativa sustentável ao
Ambientais (UFC)
tráfico, o reconhecimento do paleoambiente pela população e a necessidade
Luana Kelly Ferreira da de propagar o conhecimento adquirido, voltado à conservação ambiental dos
Silva fósseis. O estudo de caso analisado pode servir de exemplo para a discussão
Graduanda em Ciências mundial do desenvolvimento sustentável em áreas de significativo
Ambientais (UFC) patrimônio geológico.
100
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
INTRODUÇÃO
Patrimônio fossilífero e conservação fósseis parece ter se intensificado a partir da década de
70 e curiosamente era relativo aos peixes fósseis ou
ambiental ictiólitos. Segundo o senso geral dos comerciantes na
Fossil Lagerstätten são sítios fossilíferos extraordinários época, somente estes fósseis tinham valor. Quando se
que geram grande quantidade de informações sobre a descobriu que tetrápodes (dinossauros, anfíbios,
história ambiental do Planeta, sendo imprescindível a pterossauros, etc..) também eram bastante visados por
sua conservação para o entendimento das alterações instituições e outros compradores do Japão, Estados
ambiental e modificações da vida ao longo do tempo Unidos e Europa, fósseis desse grupo ganharam preços
geológico. A Bacia do Araripe é a mais extensa das ainda mais altos do que os dos nódulos contendo
bacias interiores do Nordeste do Brasil (Peulvast et al., peixes. No entanto, esta é uma prática ilegal segundo a
2008), se estendendo pelo Vale do Cariri com Constituição Brasileira (CARVALHO & SANTOS, 2005),
aproximadamente 11.000 km2. Possui a maior área de com aspectos negativos claros, como a concentração de
exposição de rochas cretáceas (aproximadamente 110 holótipos em instituições de pesquisa estrangeiras, e
milhões de anos) dentre as bacias intracratônicas do positivos no mínimo questionáveis (MARTILL, 2007).
Nordeste. Sua grande diversidade fossilífera varia desde
A educação ambiental surgiu como uma nova forma de
pequenos ostracodes até grandes dinossauros e
encarar o papel do ser humano no mundo, propondo
pterossauros. Esta bacia sedimentar representa um dos
novos modelos de relacionamentos mais harmônicos
mais importantes sítios fossilíferos da Gondwana
com a natureza, novos paradigmas e novos valores
devido à excepcional qualidade e diversidade dos
éticos (DEL RIO & OLIVEIRA, 1996; BONIFACIO & ABILIO,
fósseis (Martill, 2007; CUPELLO et al. 2012).
2010). Carvalho (2008) afirma que a educação acontece
A Bacia do Araripe é um verdadeiro museu, devido a como parte da ação humana de transformar a natureza
sua alta complexidade geológica e paleontológica. em cultura, atribuindo-lhes sentidos, trazendo-a para o
Desde a época do Brasil colônia até a atualidade, campo da compreensão e da experiência de estar no
estudos realizados tanto por pesquisadores nacionais mundo e participar da vida. Neste sentido, é importante
quanto por estrangeiros, admitiram seu alto potencial ressaltar que a sensibilização por meio de instrumentos
paleontológico. Esta bacia sedimentar é bem conhecida educacionais que estimulem a valorização dos bens
no Brasil e no restante do mundo pelos excepcionais ambientais da sociedade, materiais e imateriais,
fósseis que nela são encontrados, chamando a atenção contribui para aprimorar a gestão do patrimônio,
de colecionadores e de cientistas. Assim, ela tem sido fortalecendo a memória de seu povo e consolidando as
alvo de pesquisas e investigações científicas desde idéias presentes no âmbito das políticas públicas em
antes da Independência brasileira. Os primeiros desenvolvimento no país. A Educação Patrimonial
cientistas a terem contato com os fósseis de peixes tão fortalece a relação das pessoas com suas heranças
característicos da bacia foram J. B. von Spix e C. F. P. culturais, estabelecendo um melhor relacionamento
von Martius. Desde então, muitos paleontólogos e destas com estes bens, percebendo sua
geólogos brasileiros e estrangeiros têm se dedicado ao responsabilidade pela valorização e preservação do
estudo dos fósseis dessa bacia (CARVALHO & SANTOS, Patrimônio, fortalecendo a vivência real com a
2005). cidadania (NOELLI, 2004; XAVIER, 2011).
Com o passar dos anos o patrimônio paleontológico, tão A missão principal da educação patrimonial é
valorizado por leigos e pela comunidade científica, possibilitar o conhecimento, o acesso à informação, à
adquiriram um valor econômico junto à população fruição dos bens culturais, para que a sociedade possa
local, principalmente nos municípios de Santana do habituar-se a importância de sua cultura e educação, e
Cariri, Porteiras e Jardim no Estado do Ceará. Eles possa escolher, no passado e no presente, que objetos,
passaram a ser extraídos e comercializados como forma signos, tradições e lugares se quer preservar (NOELLI,
de complementar a renda de populações de baixa 2004). Os fósseis constituem importante patrimônio
renda, principalmente no período de entressafras ou de para a região em questão e devem ser objeto de
secas duradouras, quando as atividades agropecuárias constantes estudos para a sua preservação (XAVIER,
ficavam prejudicadas (MARTILL, 2007). O comércio de 2011). Apesar da importância da conservação ambiental
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
disso houve a realização do “Primeiro Simpósio sobre a originadas desta ação e a infraestrutura de apoio ainda
Bacia do Araripe e Bacias Interiores do Nordeste”, na em consolidação proporcionam um processo natural e
cidade do Crato, com a apresentação de trabalhos desejável de inclusão social, onde a participação da
sobre a geologia, estratigrafia, sedimentologia, e sociedade deve se constituir em um pilar importante
paleontologia destas bacias (CAMPOS et al., 1990) e para o funcionamento pleno do Geopark Araripe
posteriormente, em 1997, foi realizado novamente na (NASCIMENTO et al., 2007; SABADIA, 2009).
mesma cidade o “Segundo Simpósio sobre a Bacia do
Araripe e Bacias Interiores do Nordeste” (BARROS et al.,
2001). A Técnica de Réplicas de Fósseis: Uma
103
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
O objetivo deste trabalho é realizar atividades de ambiental dos jovens quanto ao patrimônio
educação patrimonial na região da Chapada do Araripe, paleontológico, visando o delineamento de ações para a
visando à conscientização da importância da preservação ambiental e (c) Conscientizar a
preservação do patrimônio paleontológico. Constituem comunidade quanto à importância dos fósseis para a
objetivos específicos: (a) Formar multiplicadores na sociedade. Espera-se que este estudo possa servir de
técnica de moldes e réplicas de fósseis visando exemplo para a discussão mundial do desenvolvimento
capacitar a população a gerar renda, a partir da sustentável em áreas de significativo patrimônio
preservação dos fósseis; (b) Analisar a percepção geológico.
METODOLOGIA
Área de Estudo complementada através de uma visita guiada nas
coleções científicas do Museu de Paleontologia. Em
A cidade de Santana do Cariri, localizada no estado do
seguida, foi explicado aos participantes qual o propósito
Ceará, distante cerca de 550 km da capital Fortaleza
de realizar o minicurso de moldes e réplicas e transmitir
(Figura 2), faz parte da Bacia Sedimentar do Araripe,
a eles a idéia de que eles seriam multiplicadores. Esta
localizada no extremo sul do estado, e nela está um dos
etapa teve sua parte prática feita em três dias e compôs
mais importantes sítios paleontológicos do mundo, com
a oficina de réplicas de fósseis (Figura 3 e 4). Ao fim
fósseis em destaque pela sua excelente preservação e
desta etapa, foi sugerido que os alunos levassem os
importância científica (FARA et al., 2005), inclusive
moldes para as suas escolas, reafirmando os seus
contando com vários geossítios preservados no
papéis de multiplicadores.
contexto do Geopark Araripe.
Na etapa II foi realizada uma abordagem diferenciada: A
Público-Alvo Percepção Ambiental aplicada ao patrimônio
O estudo foi conduzido no Museu de Paleontologia de paleontológico. Foi requerido aos participantes que eles
Santana do Cariri no ano de 2010 e foi direcionado a um representassem, através de desenhos, do tipo “mapas
grupo de 30 estudantes de escolas da região, com faixa mentais”, a visão deles sobre o passado e o presente da
etária de 9 a 18 anos. Este ocorreu por meio de sua cidade. A percepção ambiental é uma corrente
minicurso de Introdução à Paleontologia, Técnicas de teórica relativamente nova e que pode ser aplicada em
Moldes e Réplicas de Fósseis, com intuito de formar Educação Patrimonial (DEL RIO, 1996).
multiplicadores da técnica de réplicas de fósseis e da
Na etapa III foi realizado um questionário estruturado
conscientização ambiental, Análise da Percepção
com perguntas abertas, para verificar a percepção e
Ambiental e aplicação de questionários. Os
uma possível mudança de conscientização (Figura 5 A).
multiplicadores possuem a missão de influenciar e
Nesta etapa realizou-se, após o minicurso, a aplicação
ensinar seus familiares e outros cidadãos a fazer as
de questionários (n=30) para verificar a percepção
réplicas para estudos e venda e a não degradar este
quanto ao patrimônio fossilífero, o museu de
patrimônio cultural. Assim, tornam-se grandes aliados
Paleontologia e uma possível mudança de
do museu e da cidade no combate a venda ilegal de
conscientização. As perguntas do questionário foram as
fósseis.
seguintes:
Procedimentos Metodológicos 1) Qual a importância dos fósseis para a sua cidade?;
As atividades de educação ambiental e patrimonial
2) Qual o papel do museu na sua cidade?;
foram realizadas a partir de diferentes ações. Na etapa
inicial esclareceu-se o que é paleontologia, como se 3) Se você visse alguém vendendo um fóssil da sua
desenvolvem os trabalhos paleontológicos em campo e região, o que você faria? e
em laboratório, sua importância para o conhecimento e
para preservação do patrimônio. Esta etapa foi 4) Qual a importância de fazer réplicas?.
Os resultados foram agrupados em categorias e submetidos ao teste do Qui-Quadrado (X2) ao nível de significância de
5%. Por fim, foi realizada na cidade uma exposição das réplicas dos fósseis feitos pelos participantes do minicurso,
durante a qual eles puderam fazer uma conscientização popular (Figura 5B).
104
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Moldes e Réplicas de fósseis da Paleontologia nas Escolas na região da Bacia do
Araripe no Nordeste do Brasil. Torres et al. (2007)
Os participantes argumentaram que a curiosidade sobre
abordou que as réplicas são úteis em termos científicos,
a temática os levou a realizar o curso de moldes e
havendo a possibilidade do estudo da réplica,
réplicas de fósseis; o que reforça a necessidade de
conservando assim o material original e possibilitando o
ampliação dessas capacitações para educação
intercâmbio entre museus e universidades. Além disso,
patrimonial na Bacia do Araripe. A retirada dos moldes
também se mostram úteis em termos didáticos e
de silicone é uma parte fundamental no processo,
ilustrativos, possibilitando aos alunos um aprendizado
tendo em vista a possibilidade de ocorrer injúrias no
construtivista de diversos conceitos paleontológicos,
molde; o que prejudicara a réplica. Os alunos retiraram
tais como Evolução, Paleoecologia, Paleogeografia,
cuidadosamente os moldes gerando uma grande
Sistemática, entre outros. Professores de Ensino
quantidade de formas prontas para a geração de
Fundamental e Médio têm ainda a possibilidade de
réplicas (Figura 6). Os multiplicadores foram
relacionar os fósseis e a Biosfera, podendo focar em
capacitados para que levassem os moldes para as suas
suas aulas um determinado ramo de estudo da
escolas, tendo em vista a possibilidade de ensinar aos
Paleontologia (Paleobotânica, Paleovertebrados,
colegas e realizar atividades conjuntas de exposição,
Paleoicnologia).
como em semanas culturais comumente realizadas ao
longo do ano na cidade de Santana do Cariri e nos Percepção ambiental
municípios de entorno. Junto aos multiplicadores
levantou-se uma importante questão relacionada à A aplicação dos conceitos para avaliação da percepção
sustentabilidade: De que com um único molde de quanto ao patrimônio paleontológico e as mudanças
ambientais no tempo geológico foram extremamente
silicone pode-se realizar dezenas ou centenas de cópias
relevantes junto aos estudantes na cidade de Santana
de fósseis com uso de gesso (material abundante e
barato na região do Cariri), contribuindo para a do Cariri. Um dos estudantes apresentou um panorama
economia solidária sustentável. interessante sobre o passado e o presente de Santana
do Cariri (Figura 8). No passado, ressalta-se no Céu a
Como resultado das atividades averiguou-se que foram presença de um pterossauro e um grande corpo d’água
confeccionadas peças de alto padrão com réplicas sem junto ao terreno desenhado. Esta interpretação ressalta
bolhas e de pintura adequada. Peixes, Libélulas, que os pterossauros (mais de 25% das espécies do
Pterossauros, Gimnospermas, Besouros, Anuros, dentre mundo foram descritas a partir de espécimes da
outros foram alguns dos fósseis do Período Cretáceo Chapada do Araripe; sendo famosos junto ao público
que foram replicadas (Figura 7) constituindo mais de em geral e a comunidade científica) e o grande “Lago
100 peças. Estas réplicas foram sujeitas a pintura com Araripe” que se formou no Cretáceo a partir da
tinta guache. Ressaltou-se que se deve buscar colorir o fragmentação da Gondwana são conceitos comuns para
material de acordo com a coloração do fóssil original, o autor do referido desenho. Atualmente, ressalta-se o
por isso se optou pela tonalidade amarelada e cinzenta, simbolismo e a relevância do Museu de Paleontologia e
respectivamente, características dos Membros Crato e o Pontal da Santa Cruz (com a Cruz e a Igreja) situado
Romualdo da Formação Santana. Estas peças foram no platô da chapada tem para o autor do desenho
envolvidas em plástico para poderem ser expostas nas (“mapa mental”). Bonifacio & Abílio (2010) abordaram
praças de Santana do Cariri, no fim do mês de que dentre os paradigmas formulados nas últimas
novembro. Tais peças, após a exposição, foram levadas décadas, a Teoria das Representações Sociais destaca-
para as residências dos participantes visando se como nova maneira de interpretar o comportamento
compartilhar as experiências vividas, com os demais dos indivíduos e dos grupos sociais. Esta importância
amigos e membros das famílias. figura-se na leitura dos desenhos que desvendam fatos
e conhecimentos percebidos. Relativo à questão
Uma coleção de réplicas dos fósseis de maior interesse ambiental, os desenhos traz à tona, significados, valores
científico é imprescindível para preservar o material existentes no imaginário por aqueles que convivem e o
original depositado em museus (VIEIRA et al. 2007), vínculo que criam com aquilo que os rodeiam, como o
bem como réplicas que possam ser usadas na difusão observado para a área de estudo.
105
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Outro estudante apresentou um panorama importante para a compreensão desta vida pretérita
interessante: Na paisagem pretérita apresentou que existiu e das transformações ambientais ocorridas.
dinossauros herbívoros, aves, vulcões e outros Vieira et al. (2007) abordaram que os museus têm papel
elementos no ecossistema aquático como peixes e algas importante na difusão e sensibilização da comunidade,
(Figura 9). Apesar do relato no desenho, fósseis de sobre os fósseis e sua importância científica e social. Os
dinossauros herbívoros não foram encontrados na desenhos das Figuras 8, 9 e 10 tem em comum o
Chapada do Araripe. Existem diversos relatos de ecossistema aquático do grande “Lago Araripe”; um
dinossauros carnívoros que não estão representados no ecossistema lagunar de grandes proporções que gerou
desenho. Na paisagem atual reforça-se o forte o preenchimento da Bacia Sedimentar do Araripe e que
simbolismo que o Pontal da Santa Cruz e o relevo estão de acordo com os modelos científicos (Figura 11).
acidentado da Chapada do Araripe representam. Outro
ponto interessantíssimo é a presença da ictiofauna e de Mabesoone & Tinoco (1973) abordam que a deposição
relações ecológicas como predação; ambos os aspectos do Membro Crato ocorreu em lagos rasos e ambientes
são muito comuns no registro fóssil do Membro pantanosos em um clima quente e seco. Apesar das
Romualdo e Crato (FARA et al. 2005). Registros de Aves temperaturas quentes, dados dendrológicos indicam
também foram encontrados, porém restritos a penas que o clima pode ser caracterizado por ciclos alternados
(MARTINS-NETO & KELLNER, 1988). de períodos secos e chuvosos influenciados pela
precipitação periódica (PIRES & SOMMER, 2009). O
No desenho exposto na Figura 10 o estudante membro Crato pode ter sido depositada sob condições
representa o relevo da mesma forma (no passado e no salinas, representando um corpo d’água com possível
atual) demonstrando desconhecimento do fenômeno estratificação térmica e salina, com entradas de água
da subsidência, de processos denudacionais e de doce a partir da drenagem superficial. Martill et al.
preenchimento sedimentar (temas complexos que (2007) aborda que as condições hipersalinas
normalmente não são vistos ao nível de Ensino prevaleceram durante as deposições dos carbonatos
Fundamental) que resultaram no relevo atualmente laminados. Neumann & Cabrera (2002) abordam que o
observado em Santana do Cariri. Ressaltam-se sistema lacustre cretáceo experimentou amplas
tartarugas e peixes na paleofauna aquática, a variações de salinidade. Os autores observam que em
representação do Pontal da Santa Cruz e um item alguns setores do lago ocorria um ambiente aqüífero
inédito importante para o patrimônio ambiental da dulcícola (próximo às desembocaduras flúvio-deltaicas).
área, possivelmente o Rio Cariús (recurso hídrico Indícios de salinidade elevada também foram
superficial) que passa no núcleo urbano da cidade de encontrados por Martill et al. (2007) o que influenciou
Santana do Cariri (Ceará). nos processos tafonômicos.
Ainda na década de 70, diversos trabalhos A corrente teórica que emprega a percepção ambiental,
demonstraram a grande diversidade biológica nos em seus esforços de compreender as relações
paleoambientes existentes na região durante o comportamento-ambiente, vem experimentando
Cretáceo (120-105 milhões de anos) (o que concorda crescentes reconhecimentos. No Brasil, principalmente
com os táxons existentes nos “mapas mentais” a partir de década de 80, o tema vem suscitando maior
elaborados). Foram descritos fósseis de vegetais atenção, e a percepção, como área cientifica, têm
(DUARTE & JAPIASSU, 1971), peixes como Microdon assumido papel cada vez mias destacado nas atividades
penalvai, Paraelops cearensis, Enneles audax e Notelops que envolvem análise e projeção ambiental, com alguns
Brahma (SANTOS, 1970, 1971; TAVERNE, 1974, 1976; autores investigando mais detidamente sua eventual
WENZ, 1977), a primeira tartaruga Araripemys barretoi aplicabilidade no campo do planejamento e
e os pterossauros Araripesaurus castilhoi e conservação do patrimônio ambiental e cultural
Araripedactylus dehmi (PRICE, 1971, 1973; (FERRARA, 1993; DEL RIO, 1996). Para Bonifácio & Abílio
WELLNHOFER, 1977), além de trabalhos sobre (2010), a percepção ambiental é definida como a
paleoecologia (MABESOONE & TINOCO, 1973). operação que expõe a lógica da linguagem que organiza
os signos expressivos dos usos e hábitos de um lugar. É
A presença de organismos (nos mapas mentais) uma explicitação da imagem de um lugar, veiculada nos
existentes no acervo do Museu reforça que o signos que uma comunidade constrói em torno de si.
patrimônio paleontológico depositado na Instituição é
106
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Nesta acepção, a percepção ambiental é revelada artística, arquitetônica etc. de uma comunidade.
mediante uma leitura semiótica da produção discursiva,
a economia e em auxiliar no estudo do passado. Estes
atributos tiveram percepções semelhantes (teste do X²,
Questionários e percepção da importância da P>0,05) (Figura 13). Este aspecto denota que a
preservação patrimonial instalação e operação de museus em regiões carentes
(longe das capitais brasileiras), é algo a ser incentivado
As respostas quanto aos questionamentos realizados pelo poder público. A geração de renda relativa à
estão sumarizadas nas Figuras 12 a 15. Na figura 12, visitação do turismo científico, a divulgação das
relativa ao primeiro questionamento, houve diferença informações sobre o patrimônio existente na região e as
estatisticamente significante (teste do X², P<0,05), na atividades de sensibilização da população para a
qual ressaltou-se a importância dos fósseis para preservação demonstram a importância da promoção
embelezar a cidade, melhorar a economia e trazer dos museus, no território nacional. A maioria dos
visitantes para Santana do Cariri (52%). Outros 38% participantes (teste do X², P<0,05) observou que, se
ressaltaram a importância para a compreensão da acaso visse alguém vendendo fósseis, denunciaria o ato
história e do que ocorreu no passado em Santana do ilegal (Figura 14). Infelizmente, esta prática é
Cariri. Cerca de 10% das respostas demonstraram o disseminada na região (Martill, 2007) o que demonstra
reconhecimento de que os fósseis fazem parte da importância do tema desta pesquisa e a necessidade de
cultura da cidade, como um patrimônio cultural. Este ações sustentáveis é urgente. Os dados sugerem que a
aspecto é relevante, pois demonstra que o patrimônio conscientização da ilegalidade do tráfico é existente nas
fossilífero é um importante atributo da cultura da pessoas entrevistas. Entretanto, os estudantes
população, seja em aspectos científicos, mitológicos ou pertencem a uma camada mais jovem e alfabetizada.
de histórias contadas de geração em geração sobre sua Atualmente, não existem dados na literatura sobre esta
origem. Martins (2009) abordou que a educação conscientização em camadas de maior idade. Os
patrimonial pode contribuir para estimular o estudantes também compreenderam que as réplicas
sentimento de pertencimento com aspectos culturais tem função econômica, na preservação do patrimônio e
do patrimônio, investigando a memória da cidade e o no estudo científico (Figura 15), sobretudo para a
valor que tem em si e na representação para a compreensão de uma alternativa sustentável de
comunidade. Xavier (2011) também considerou a geração de renda. Torres et al. (2007) relatou
educação patrimonial como um importante importância semelhante para as réplicas de fósseis em
instrumento para a conservação, sobretudo no estudo feito no Rio de Janeiro. Vieira et al. (2007)
semiárido. Apesar destes dados, é fundamental que abordaram que as réplicas têm um papel fundamental
sejam ampliadas as pesquisas referente à percepção na difusão do conhecimento sobre o patrimônio
ambiental, devido o baixo número de artigos referente paleontológico e compreensão da necessidade de sua
a relação dos fósseis e da sua conservação como conservação. Assim, a pesquisa realizada e as ações
patrimônio da população, principalmente em regiões feitas com os jovens da região, podem levar a sua
carentes. atuação como multiplicadores da técnica de réplica de
O museu de Paleontologia foi ressaltado pela fósseis e, sobretudo junto aos seus familiares para fins
importância na preservação do patrimônio fossilífero; de divulgação da necessidade de conservação do
em trazer visitantes, na beleza arquitetônica, estimular patrimônio fossilífero na região.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
CONCLUSÕES
Atividades de Educação Patrimonial e Percepção referente a inadequação da venda dos fósseis, e que as
Ambiental foram realizadas em Santana do Cariri. Estas réplicas são uma alternativa interessante para a
ações envolveram a formação de multiplicadores nas geração de renda com a conservação do patrimônio
técnicas de moldes e réplicas de fósseis, análise da existente.
percepção ambiental quanto ao patrimônio fossilífero e
exposição na cidade de Santana do Cariri (Ceará). Os As atividades realizadas visarão sensibilizar e formar
desenhos confeccionados pelos estudantes pessoas da comunidade com o foco na conservação dos
demonstraram a compreensão dos processos recursos patrimoniais (patrimônio fossilífero) e sua
geomorfológicos e dos ambientes (marinho, lagunar) valorização sociocultural. O projeto foi bem visto pela
que existiram no passado geológico nesta área do comunidade e pelas escolas que tem interesse em
sertão nordestino. Estes desenhos também aumentar o conhecimento sobre esta técnica que é
demonstraram elementos importantes da paisagem economicamente e ambientalmente sustentável, pois
natural e cultural da região (a morfologia da chapada, o preserva o patrimônio fossilífero, ao mesmo tempo em
museu e o pontal da santa cruz na cidade de Santana do que gera renda para uma comunidade de baixa renda
Cariri). Os dados referentes aos questionários localizada na Chapada do Araripe. Espera-se aumentar
demonstraram que os estudantes reconhecem o papel este projeto (em parceria com o GEOPARK Araripe)
do patrimônio fossilífero na promoção do turismo, da agora em conjunto com as escolas da cidade e dos
beleza cênica e do seu papel em reconstruir a história municípios do entorno para poder aumentar a
do planeta. Estas informações dos questionários conscientização e a preservação dos fósseis em uma
sugerem que existe uma conscientização destes jovens região que contém alguns dos sítios paleontológicos
mais importantes do mundo.
Figura 1 - Réplicas de peixes fósseis confeccionadas pelo Museu de Paleontologia para venda aos turistas em visita a Santana do Cariri, CE.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Figura 2 - Mapa da região da Chapada do Araripe (NE Brasil), destacando a cidade de Santana do Cariri e municípios do entorno com grande
potencial fossilífero (Modificado de FARA et al., 2005)
Figura 3 - Fabricação de caixas de papelão para colocar os fósseis originais e produzir os moldes de silicone (A), (B) e (C); (D) Aplicação de
paralóide em toda a caixa
Figura 4 - Preparação dos moldes. Para fabricação do molde de silicone utiliza-se silicone industrial (A), (B) e (C); Fóssil imerso no silicone
industrial (D)
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Figura 5 - (A) Estudante respondendo a questionário apresentado pela equipe. (B) Exposição das réplicas de fósseis na praça da cidade e
conscientização popular realizada pelos alunos das atividades de educação patrimonial.
Figura 6 - Moldes de silicone de peixes, pterossauros, ossos e insetos preparados pelos multiplicadores participantes das atividades de educação
patrimonial.
Figura 8 - Lado esquerdo (paisagem pretérita) e direito (atual) apresentam riqueza de detalhes e forte simbolismo de bens culturais (fósseis,
museu e Pontal da Santa cruz).
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Figura 9 - Lado esquerdo do desenho (paleopaisagem) apresenta dinossauros herbívoros, vulcões, árvores de porte e paleoecossistema aquático
com vegetais e tubarões (ou peixes de grande porte) realizando predação em pequenos peixes. Certos fósseis do Cariri reforçam esta possível
interação. Lado direito ressalta o verde das encostas da Chapada do Araripe, Aves, o Sol e novamente o Pontal da Santa Cruz com a Cruz e a
Igreja.
Figura 10 - Paisagem pretérita (lado esquerdo) e presente (lado direito), referente a percepção ambiental. Observa-se o paleoecossistema
aquático com tartarugas e peixes (lado esquerdo) e atualmente representa o rio de baixa vazão que corta a cidade e o pontal da Santa Cruz.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Figura 11 – Reconstrução hipotética científica do paleoambiente na região de estudo. Adaptado dos dados de paleoflora de Neumann et al.
(2003).
Figura 12 - Resultados relativos ao questionamento: “Qual a importância dos fósseis para a sua cidade?”.
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Figura 14 - Resultados relativos ao questionamento (Se você visse alguém vendendo um fóssil da sua região, o que você faria?).
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o apoio do Museu de Paleontologia de Santana do Cariri pelo apoio concedido.
114
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
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117
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RESUMO
Christian Luiz da Silva O presente artigo tem como principal objetivo comparar a gestão dos
Pós-doutor em administração, bolsista resíduos sólidos de dez capitais brasileiras, destacando seus aspectos
produtividade CNPq, Professor do negativos e positivos. Muitos municípios brasileiros possuem dificuldades
mestrado e doutorado em Tecnologia em fazer uma gestão adequada dos resíduos sólidos urbanos devido a
(PPGTE) e do mestrado em vários fatores, como: falta de capacidade financeira e administrativa, pouca
planejamento e governança pública capacidade técnica na gestão dos serviços de limpeza pública, além do
(PGP) pela Universidade Tecnológica tema não ser uma prioridade em muitos casos para a gestão pública. Trata-
Federal do Paraná – UTFPR, Curitiba, se de uma pesquisa qualitativa e de análise de conteúdo, que busca
PR, Brasil. compreender melhor a forma de gestão dos resíduos sólidos desde o
planejamento até a aplicação. Com os resultados observam-se que a
E-mail: christiansilva@utfpr.edu.br maioria dessas capitais possui uma gestão que contempla a coleta seletiva,
tratamento, pontos de transbordo, cooperativas de catadores de papel,
Gabriel Massao Fugii
além da parceria da prefeitura com programas e projetos específicos
Mestre em Tecnologia pelo Programa
envolvendo os resíduos sólidos. Entretanto, problemas básicos ainda
de Pós-Graduação em Tecnologia
persistem, como o não atendimento da coleta a 100% da área urbana em
(PPGTE) da Universidade Tecnológica
alguns municípios e a demanda por mais aterros pela exaustão dos atuais e
Federal do Paraná (UTFPR), Curitiba,
pelo crescente volume de novos resíduos destinados.
PR, Brasil.
Palavras-chave: Meio Ambiente, Resíduos Sólidos, Planejamento e Capitais
E-mail: gabrielfugii@hotmail.com
brasileiras.
Alain Hernández Santoyo
Pós-doutor em Tecnologia (PPGTE), ABSTRACT
bolsista CAPES, Professor da This article aims to compare the management of solid waste ten capital
Universidad Piñardel Rio - Pinar delRío, cities, highlighting its positive and negative aspects. Many municipalities
Cuba. have difficulties in making a proper urban solid waste management due to
various factors, such as lack of financial and administrative capacity, little
E-mail: santoyocu@upr.edu.cu
expertise in the management of public sanitation services, and the theme
Nadia Solange Bassi is not a priority in many cases public management. This is a qualitative
Doutoranda em Tecnologia (PPGTE), research and content analysis, which seeks to better understand the
Universidade Tecnológica Federal do management of solid waste from planning to implementation. With the
Paraná – UTFPR, Curitiba, PR, Brasil. results it is observed that most of these capital has a management that
includes the selective collection, treatment, transfer points, paper recycling
E-mail: sbnadia@gmail.com
cooperatives, and on cooperation with the city government programs and
Marta Chaves Vasconcelos specific projects involving solid waste. However, But basic problems still
Graduanda do curso de administração persist , such as the non-compliance of collecting 100 % of the urban area
da Universidade Tecnológica Federal in some municipalities and the demand for more landfills by exhaustion of
do Paraná, (UTFPR), Curitiba, PR, Brasil. the current and the growing volume of new waste.
E-mail: martacvasconcelos@hotmail.com Keywords: Environment, Solid Waste, Planning and Brazilian Capitals.
118
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
INTRODUÇÃO
A problemática acerca dos resíduos sólidos é uma populacional, caracterizando uma produção diária de
preocupação global e ela é trabalhada e discutida mais de um quilo de resíduos por habitante por dia
constantemente em simpósios, encontros, congressos e (ASSOCIAÇÃO..., 2010, 2011, 2012). Esta situação se
outros eventos, porque os problemas gerados pela falta agrava em municípios cujo Produto Interno Bruto (PIB)
de gerenciamento e gestão de resíduos é um dos é maior e consequentemente geram maior volume de
maiores desafios para a sustentabilidade urbana. resíduos (MELO; SAUTTER e JANISSEK, 2009). Portanto,
a sustentabilidade urbana passa pela resolução dos
Segundo a OCDE - Organização para a Cooperação e problemas causados pelos resíduos sólidos que é de
Desenvolvimento Econômico (2008), a gestão de responsabilidade municipal.
resíduos nos países em desenvolvimento ainda
necessita grande atenção devido a dificuldades Neste contexto, a consciência do processo de
fundamentais em âmbito da gestão municipal, tais aproveitamento, tratamento ou destino dos resíduos
como, déficit na capacidade financeira e administrativa, urbanos é de primordial importância, assim como a
pouca capacidade técnica na gestão dos serviços de elaboração de estudos que objetivem o seu
limpeza pública, coleta seletiva e tratamento dos aproveitamento (SOUSA, GAIA, RANGEL, 2010),
resíduos (JACOBI e BESEN,2011). buscando a redução efetiva da quantidade de resíduos
potencialmente recicláveis dispostos em aterros ou
Além dos problemas de ordem administrativa, os lixões (JACOBI e BESEN, 2011), além de potencializar o
municípios não possuem áreas livres suficientes para a aproveitamento de subprodutos como a compostagem
construção de novos aterros sanitários ou instalações e o aproveitamento energético.
físicas para tratamento dos resíduos. Locais adequados
para a implantação de novos sistemas de tratamento de Logo, trabalhar as questões dos resíduos sólidos, requer
resíduos estão cada vez mais distantes, devido à reforçar e fortalecer a importância de questões
existência de áreas ambientalmente protegidas e aos ambientais, bem como, de aspectos legais e políticas
impactos negativos sobre a vizinhança próxima, públicas, objetivando a construção de espaços urbanos
decorrentes das crescentes urbanizações nas capitais democráticos, socialmente justos e com condições
brasileiras (JACOBI e BESEN, 2011). físico-ambientais seguras (ROSSETTO, ORTH E
ROSSETTO, 2006). Além disso, deve-se contribuir para a
A falta de atenção pelo poder público está aplicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos e ao
comprometendo cada vez mais a saúde da população, Plano Nacional de Resíduos Sólidos.
os recursos naturais e, principalmente, o solo e os
recursos hídricos (MONTEIRO et al., 2001). A Apesar da rede urbana brasileira ser formada por
insuficiência de gerenciamento causa outros impactos cidades com características bastante diferentes, estas
socioambientais, como o assoreamento de rios, o possuem com maior ou menor intensidade, problemas
entupimento de bueiros e o aumento de enchentes, intraurbanos que afetam sua sustentabilidade e
mau-cheiro, proliferação de insetos e vetores que gerenciamento (ROSSETTO, ORTH E ROSSETTO, 2006).
afetam diretamente ou indiretamente a saúde, além de Contra estes problemas, os municípios acabam
concorrer com o aquecimento global e as mudanças desenvolvendo soluções para as questões que afligem a
climáticas (JACOBI; BESEEN, 2011; GOUVEIA, 2012; sociedade em suas diversas dimensões, como a social,
GOUVEIA, 1999). econômica, físico-espaciais e ambientais, que fazem
parte desse complexo emaranhado de relações e
Problemas que são intensificados pelo crescimento demandas (ROSSETTO, ORTH E ROSSETTO, 2006).
populacional e sua longevidade, obsolescência
programada e descartabilidade dos produtos, mudanças Assim, o objetivo deste artigo é demonstrar o atual
nos padrões de consumo caracterizado por ser modelo de gestão de resíduos sólidos urbanos
supérfluo e excessivo. Nos últimos três levantamentos brasileiro, a partir da análise de algumas capitais,
realizados pela Associação Brasileira de Empresas de destacando seus aspectos negativos e positivos. A
Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) nos hipótese é que a partir da identificação dos pontos
anos de 2010, 2011 e 2012, a quantidade de resíduos positivos e negativos sobre a gestão de resíduos sólidos
aumentou, superando a taxa de crescimento urbanos em diferentes municípios, seria possível
119
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
promover melhorias em suas atuais gestões, com a Este artigo está dividido em seis seções, incluindo esta
aplicabilidade de alternativas que já são realizadas e introdução. As próximas três seções abordam
outras capitais. Estas mudanças poderiam representar respectivamente a fundamentação sobre as políticas
melhoria nas esferas econômica, social e ambiental, públicas, sobre a gestão de resíduos sólidos urbanos e
estimulando o desenvolvimento da região. apresenta-se a metodologia de pesquisa. As duas
últimas seções tratam dos resultados e discussões e,
por fim, são feitas as considerações finais.
Políticas Públicas
O planejamento é a base para as demais ações, virtude de sua capacidade de universalização, coerção e
determinando antecipadamente quais são os objetivos regulamentação; as políticas somente se realizam
e o que realizar para alcançá-los. Trata-se, de um quando os atores sociais (do Estado e da sociedade civil)
modelo teórico para a escolha da melhor ação futura envolvidos na sua implementação interagem e se
para chegar aos objetivos desejados (CHIAVENATO, integram entre si (SILVA; BASSI, 2012).
2000).
Para Frey (2000), os conceitos: policy, politics, polity,
Porém repensar a gestão, a governabilidade e o policy network, policyarena’epolicycycle, são
planejamento urbano, a partir de um considerável fundamentais para a compreensão de políticas públicas,
contingente de limitações, não é fácil, mas é essencial. quanto para a estruturação de um processo de
Como possível solução para equacionar essas questões pesquisa. A polity denomina as instituições políticas, a
encontra-se a priorização na elaboração de politics retrata os processos políticos e a policy aborda
instrumentos que viabilizem, a realização de ações os conteúdos da política. A policy network são as redes
públicas para o desenvolvimento sustentável de interação de diferentes grupos e instituições e que
(ROSSETTO, ORTH E ROSSETTO, 2006). Desta forma as vem ganhando importância em processos decisórios nas
políticas públicas são fundamentais para que projetos democracias modernas, por gerarem e implementarem
sejam feitos com o intuito de alcançar futuros uma policy. A policy arena retrata os processos de
desejáveis. conflitos e de consenso dentro das várias áreas da
política. Por fim, a policycycle realiza uma análise da
Segundo Souza (2006), a política pública não possui vida de uma política pública, sendo segundo Frey
uma única, nem a melhor definição. Ela pode ser (2000), divididas nas seguintes fases: percepção e
entendida como um conjunto de atividades definição dos problemas, agenda-setting, elaboração de
desenvolvidas pelo Estado, que concebem e programas e decisão, implementação de políticas e,
programam ideias relevantes aos problemas da finalmente, a avaliação de políticas e a eventual
sociedade. E, apesar do Estado ser o responsável por correção da ação. A definição destas fases pode ser
estabelecer as regras e mecanismos de punição, em observada na tabela 1 abaixo (SILVA; BASSI, 2012).
120
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Assim, pode-se afirmar que a política pública busca “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação, propondo
quando necessárias mudanças no rumo ou curso dessas ações (SOUZA, 2006). Daí a importância do monitoramento e
avaliação, pois as políticas públicas refletem na sociedade (SOUZA, 2006). Assim, as tomadas de decisões devem ser
realizadas, levando em conta a minimização das incertezas e riscos futuros. Logo, compreender alternativas para uma
gestão adequada, serve como base para futuras tomadas de decisões, bem como, para aplicação de modelo melhorado,
representando a redução dos problemas, além de representar ganhos ambientais, sociais e econômicos.
121
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
adequada dos rejeitos. Poderão ser utilizadas alternativas, pode-se destacar os materiais recicláveis
tecnologias visando à recuperação energética dos separados na fonte, sendo reutilizados ou reciclados. Os
resíduos sólidos urbanos, desde que tenha sido resíduos sólidos urbanos (RSU) misturados podem ser
comprovada sua viabilidade técnica e ambiental e com tratados tanto anaerobicamente como aerobicamente
a implantação de programa de monitoramento de pelo tratamento mecânico-biológico, desta forma
emissão de gases tóxicos aprovado pelo órgão obtendo materiais recicláveis, energia e
ambiental, assim como a adoção, desenvolvimento e bioestabilizados orgânicos resíduos inertes devem estar
aprimoramento de outras tecnologias limpas como aterrados.
forma de minimizar impactos ambientais.
Como meio de produção de combustível, os resíduos
A gestão integrada de resíduos sólidos pode ser podem ser processados por instalações de incineração e
definida como, a seleção e aplicação de técnicas, em quantidades limitadas por fornos na indústria do
tecnologias e programas de gestão adequados, que cimento. O RSU misturados podem ser processados,
busquem específicos objetivos e metas. A Agência de juntamente com a geração de combustível, em
Proteção Ambiental dos Estados Unidos identificou instalações de incineração de resíduos, após a
quatro estratégias básicas para a gestão integrada de recuperação de alguns materiais recicláveis. A energia
resíduos. São elas, a redução na fonte, reciclagem e pode ser exportada sob a forma de eletricidade e / ou
compostagem, combustão e destinação em aterros calor para o aquecimento do lugar ou utilização
sanitários. A proposta da agência americana é que industrial. Os resíduos que contém substâncias tóxicas
todas estas estratégias estejam conectadas devem ser eliminados em instalações apropriadas. O
(TCHOBANOGLOUS e KREITH, 2002). RSU misturados também podem ser pré-tratados em
instalações de secagem biológica, após a recuperação
Para Economopoulos (2012, p. 42-43) as alternativas de do material reciclável. Existem outros tratamentos além
gestão podem ser baseadas nas tecnologias de destes citados e demonstrados no diagrama, como por
tratamentos, representadas na figura 1. Entre as exemplo, a gaseificação e a pirólise.
122
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
dispostos em aterros. Proposta que é priorizado pela matérias-primas que possibilita para o mercado, através
Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010. Além de da separação dos produtos reutilizáveis
pensar em outras dimensões como a social, a cultural, a (TCHOBANOGLOUS e KREITH, 2002), além de promover
educacional entre outras, que são fundamentais para o a inclusão social em instalações, associações ou
sucesso deste complexo sistema. cooperativas que fazem o beneficiamento destes
produtos. É vista também como uma forma de
Dentre essas etapas, a reciclagem é uma das formas promover o desenvolvimento local.
vista como mais positiva, devido ao retorno das
A compostagem é o processo de conversão aeróbia da geralmente constituídos de gases, como o anidrido
matéria orgânica, tendo por produto final um carbônico (CO2), o anidrido sulfuroso (SO2), o
condicionador do solo, denominado composto. Outra nitrogênio (N2), o oxigênio (O2) proveniente do ar em
forma de tratamento biológica é a digestão anaeróbia excesso que não foi queimado completamente, água
que estabiliza a matéria orgânica e produz biogás, (H2O), cinzas e restos constituídos de metais ferrosos e
constituído principalmente por gás metano e dióxido de inertes, como vidro e pedras (SCHLACH et al, 2002).
carbono (ZANTA e FERREIRA, 2003). O processo de Entretanto, suas restrições estão atreladas ao seu custo,
compostagem aeróbia pode ser dividido em duas fases, e o alto grau de sofisticação necessária para operá-los
a primeira chamada de "bioestabilização", caracteriza- de forma segura (TCHOBANOGLOUS e KREITH, 2002).
se pela redução da temperatura da massa orgânica. A
segunda fase, chamada de "maturação", na qual ocorre Aterros sanitários são a opção para os resíduos que não
a humificação e a mineralização da matéria orgânica. puderam ser aproveitados nas etapas anteriores à
disposição final (TCHOBANOGLOUS e KREITH, 2002). Os
Na compostagem anaeróbia a decomposição é realizada aterros sanitários contam com controle de gás, sistema
por microrganismos que podem viver em ambientes de coleta de chorume (líquido proveniente da
sem a presença de oxigênio, com baixa temperatura, decomposição da matéria orgânica, de cor escura e
com período maior de tempo para que a matéria odor desagradável, com alta capacidade de poluição),
orgânica se estabilize (MONTEIRO et al., 2001). Porém, monitoramento de águas subterrâneas e estão
a utilização de seus subprodutos deve ser tratada com localizados estrategicamente para tirar proveito das
cautela, pois pode ocorrer contaminação da água por condições naturais de geologia. Além disso, os aterros
pesticidas e resíduos de fertilizantes (TCHOBANOGLOUS podem contribui na recuperação de gás metano e de
e KREITH, 2002). dióxido de carbono.
A incineração é um tratamento eficaz para reduzir o Considerando as diferentes estratégias existentes e
volume do lixo, tornando o resíduo inerte em pouco etapas realizadas dentro do gerenciamento dos
tempo, se realizada de forma adequada (MONTEIRO et resíduos sólidos urbanos, é importante investigar os
al. 2001). Consiste na combustão controlada através de atuais sistemas de gestão de resíduos sólidos, tanto
equipamentos especiais denominados incineradores, para aprimoramento quanto para servir de exemplo
tratando tanto de resíduos sólidos, semissólidos e para tantas outras cidades que não os possuem de
líquidos. Com a queima os remanescentes são forma adequada.
MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa realizada é qualitativa e descritiva. Busca públicas, sistemas de gerenciamento, tratamento e
compreender melhor a forma de gestão dos resíduos disposição final de resíduos e aspectos legais referentes
sólidos tanto no aspecto de gestão, aplicação e a gestão de resíduos sólidos. A segunda etapa foi a
planejamento dos municípios e descreve o realização de entrevistas a partir de um questionário
funcionamento da gestão de resíduos sólidos em cada semiestruturado. Elas foram realizadas nas cidades de
município. Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Florianópolis,
Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e
A pesquisa consolidou-se em 3 etapas, primeiramente a Vitória com gestores das secretarias municipais
compreensão teórica dos termos para análise do responsáveis pelo gerenciamento e gestão dos resíduos
gerenciamento dos resíduos, tais como políticas sólidos durante os meses de fevereiro a novembro de
123
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
2012. O questionário semiestruturado abordava as última etapa consistiu na análise qualitativa das
seguintes perguntas: quantidade diária coletada de informações por meio da comparação dos modelos de
resíduos, composição gravimétrica, possuem coleta gestão por item relacionado no roteiro de entrevista e
seletiva, compostagem e reciclagem, utilizam aterro corroborando com dados secundários coletados nos
sanitário, se possuem aproveitamento energético, sites dos próprios municípios ou das empresas que
estação de transbordo, trabalham com associações ou executam o serviço de limpeza pública.
cooperativas de reciclagem, ações e/ou projetos. A
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As dez capitais trabalhadas neste artigo, ou possuem mais de um milhão de habitantes ou são importantes para a
economia da região e para a composição do Produto Interno Bruto brasileiro conforme demonstrado pelo IBGE em 2012
(Tabela 2).
Tabela 2 - Produto Interno Bruto dos Municípios das Capitais estudadas,
por posição em relação às outras capitais e municípios brasileiros no ano de 2010
Posição em relação a
Valor Posição em relação a outras
Município outros municípios
(1000 R$) capitais brasileiras
brasileiros
São Paulo/ SP 443 600 102 1° 1°
Rio de Janeiro/RJ 190 249 043 2° 2°
Brasília/DF 149 906 319 3° 3°
Curitiba/PR 53 106 497 4° 4°
Belo Horizonte/MG 51 661 760 5° 5°
Porto Alegre/RS 43 038 100 7° 7°
Salvador/BA 36 744 670 9° 10°
Vitória/ES 24 969 295 11° 20°
Belém/PA 17 987 323 13° 27°
Florianópolis/SC 9 806 534 20° 55°
FONTE: INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTATÍSTICA E GEOGRAFIA (2012)
O Produto Interno Bruto (PIB) é um fator que segundo Melo, Sautter e Janissek (2009) está relacionado diretamente
com a geração de resíduo.
Tabela 3 - Informações sobre a população e quantidade coletada de RSU nas capitais selecionadas - 2010
Quantidade RSU Quantidade RSU
Unidade da Federação População
Coletada (t/dia) Coletada (Kg/hab/dia)
Belém Pará 1.390.780 1.788,6 1,286
Belo Horizonte Minas Gerais 2.385.639 2.990,8 1,254
Brasília Distrito Federal 2.521.692 4.031,0 1,599
Curitiba Paraná 1.764.540 2.175,4 1,233
Florianópolis Florianópolis 421.203 450,1 1,095
Porto Alegre Rio Grande do Sul 1.413.094 1.635,5 1,157
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 6.323.037 8.263 1,300
Salvador Bahia 2.692.869 3.679,5 1,366
São Paulo São Paulo 11.244.369 14.261,3 1,274
Vitória Espírito Santo 325.453 342,0 1,035
FONTE DOS DADOS BRUTOS: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS (2011)
124
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
A tabela 3 foi construída a partir de dados da De forma geral, todas estas capitais possuem um
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e sistema de coleta de resíduos sólidos urbanos que
Resíduos Especiais (2011) e apresenta dados sobre a contemplam em partes a Lei Federal nº. 12.305/2010,
população dos municípios estudados, além da que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em
quantidade de resíduos coletados diariamente e a partes, porque algumas cidades possuem mais ações e
quantidade em quilos de resíduos produzidos por outras menos, mas que são voltadas para a busca de
habitante/dia. Calculando-se a média produzida entre soluções para os resíduos sólidos, levando em conta
os municípios obtém o seguinte resultado 1,260 dimensões política, econômica, ambiental, cultural e
Kg/habitante/dia. Sendo que os municípios de São social, com controle social e com a premissa do
Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador e Belém estão desenvolvimento sustentável. Porém nem todas estas
acima desta média. A justificativa dos três primeiros capitais e diversas outras cidades do país
municípios pode estar ligada ao PIB, influenciando uma (ASSOCIAÇÃO..., 2011) possuem todas as etapas do
maior geração de resíduo. Já o município de Salvador gerenciamento, que se caracteriza pelo conjunto de
sofre com uma grande geração de resíduos ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de
principalmente na época de Carnaval, além de ser uma coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação
cidade turística. A justificativa de Belém pode ser dada final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e
como a falta de programas sociais, culturas, ambientais, disposição final ambientalmente adequada de forma
educacionais, entre outros, que contemplem a não que estejam interconectadas. Cabe reforçar, como
geração, além da ausência significativa de carrinheiros explicitado na metodologia, que todas as informações
(coletores informais ou não de matérias possivelmente obtidas a partir da pesquisa de campo foram obtidas de
recicláveis) ou de associações estruturadas que fevereiro a novembro de 2012.
recolham o material e que deixam de entrar nas
estatísticas. Justificativas que também podem estar
relacionadas aos municípios citados acima.
Tabela 4 - Dados sobre a gestão de resíduos sólidos urbanos das capitais selecionadas
Cooperativa de
Cidade Tratamentos Forma de disposição final Transbordo Biogás
Reciclagem
Belém Reciclagem, Coleta seletiva Aterro do Aurá Sim Sim Sim
Reciclagem, compostagem, Aterro - Centro de Tratamento em
Belo Horizonte Sim Sim Sim
coleta seletiva Resíduos Macaúbas em Sabará
Coleta seletiva,
Brasília compostagem, reciclagem e Aterro do Jóquei Sim Sim Não
usinas de tratamento de lixo
Aterro- Centro de Gerenciamento de
Curitiba Coleta seletiva, reciclagem Sim Não Não
Resíduos Iguaçu em Fazenda Rio Grande
Coleta seletiva, reciclagem e
Florianópolis Aterro na cidade de Biguaçu Sim Sim Não
compostagem
Coleta seletiva, Reciclagem,
Porto Alegre Aterro - Central de Resíduos Recreio Sim Sim Não
compostagem,
Coleta seletiva, reciclagem e Sanitário Gericinó e Aterro Sanitário
Rio de Janeiro Sim Sim Não
compostagem. Seropédica
Coleta seletiva, Reciclagem, Aterro Metropolitano Centro e Aterro
Salvador Sim Sim Sim
compostagem. controlado de Canabrava
Aterros privados Centro de Disposição de
Coleta seletiva, Reciclagem, Resíduos - CDR Pedreira (Estre Ambiental)
São Paulo Sim Sim Sim
compostagem. e a Central de Tratamento de Resíduos -
CTR Caieiras (Essencis),
Coleta seletiva e reciclagem,
Vitória Aterro Sanitário de Cariacica Sim Sim Sim
compostagem
125
Revista Brasileira de Ciências Ambientais
Nota-se, a partir da Tabela 4, que todas as capitais catadores. Neste papel, o poder público incentiva o
estudadas possuem como destinação final o aterro cooperativismo do grupo, não só cedendo três galpões
sanitário, além de possuírem coleta seletiva e na região central, que são utilizados como depósitos,
possuírem associações e ou cooperativas de reciclagem. mas também apoiando um conjunto de iniciativas que
Com exceção do município de Curitiba, todas as demais envolvem capacitação profissional, educação e
possuem estação de transbordo sendo importante para empenho em garantir os elementos necessários ao
logística de transporte e estratégias, justificado pela resgate da cidadania. Quanto ao aterro sanitário, possui
distância das instalações de tratamento dos resíduos, tratamento adequado, conta com um sistema de
bem como, a disposição final em aterros. Metade dos tratamento de chorume em duas estações já
municípios estudados possuem usinas que aproveitam a construídas e a sua interligação a um sistema de células
energia gerada pelos resíduos. de tratamento biológico dos resíduos, também há a
utilização de bactérias para acelerar o processo de
Belém destaca-se com a coleta noturna em roteiro decomposição do lixo. Esse sistema gera um composto
extra, isto é, a remoção de lixo programada para que pode ser utilizado na recuperação de solos
complementar os roteiros diurnos de coleta especial e degradados pela ação de mineradoras.
de varrição; além da coleta domiciliar nas principais vias
da cidade e o destino final do lixo coletado. O Com a estação de transbordo os resíduos coletados por
tratamento do lixo é feito através da coleta seletiva e meio de caminhões compactadores, são transferidos
de reciclagem. Na cidade há uma associação de para carretas com maior capacidade e assim
catadores que ajuda na coleta seletiva, entretanto é transportados para o aterro, economizando viagens.
necessário maior investimento porque a estrutura para Possuindo também usina de Biogás. Algo a ser
reciclagem a partir da cooperativa ainda é precária destacado é uma parceria entre das Secretarias de
quanto a instalações e logística do material reciclável. Educação e do Meio Ambiente, por meio da qual as
Para a localização do aterro foram observadas as escolas são mobilizadas e desenvolvem-se atividades
condições favoráveis de solo, topografia, cobertura educativas que despertam a consciência ambiental. As
vegetal, cursos de água, ventos dominantes e ausência Secretarias de Saúde e Cultura utilizam-se do Projeto
de vizinhança. Ponto Verde, que visa à eliminação de lixões e
recuperação de áreas degradadas pelo despejo irregular
Em Belo Horizonte, o lixo é coletado por meio da coleta de resíduos sólidos. Com o fim dos vetores de poluição
seletiva, reciclagem e compostagem. Há um consórcio e da queima de lixo, os espaços estão sendo
entre a prefeitura e uma empresa terceirizada para a apropriados pela população local. Os caminhões
coleta do lixo. Há duas alternativas para os moradores: convencionais que antes faziam a coleta foram
além do porta a porta, o ponto a ponto distribui substituídos por caminhões compactadores – o que só
contêineres específicos disponíveis na cidade para a foi possível com a colaboração da população, que
coleta do lixo. As associações de catadores também passou a dispor o lixo de forma adequada nos pontos
contribuem no processo de limpeza urbana. A de coleta.
prefeitura começou a trabalhar ativamente com os
Em Brasília, o tratamento dos resíduos sólidos é compactadoras. Em áreas de difícil acesso e não
realizado por meio de coleta seletiva, compostagem, urbanizadas a prefeitura realiza a coleta convencional
reciclagem e usinas de tratamento de lixo. Assim, todos indireta, através de caçambas estacionárias.
os resíduos coletados têm o seu tratamento adequado.
Até o final do ano de 2012 ainda não possuía um A coleta seletiva é realizada através do Programa “Lixo
consórcio confirmado para a coleta e transporte dos que não é Lixo” e em pontos de trocas, denominado
resíduos sólidos, porém há um projeto para sua Programa Cambio Verde. A coleta dos recicláveis é
implementação. Possui associações de catadores que realizada por caminhões baús e destinados às Unidades
contribuem na triagem dos resíduos sólidos, porém a de Valorização de Recicláveis – UVR, que é administrada
organização ainda é incipiente. pelo Instituto Pró- Cidadania de Curitiba – IPCC e está
localizada no Município de Campo Magro, cidade que
Curitiba possui um sistema de coleta porta a porta de compõem a Região Metropolitana de Curitiba. O IPCC é
RSU, realizada manualmente por catadores e que responsável pela triagem e comercialização dos
despejam os resíduos em caminhões com caçambas resíduos recicláveis coletados no Programa “Lixo que
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Revista Brasileira de Ciências Ambientais
não é Lixo” e Câmbio Verde. Ou, ainda, os recicláveis remove resíduos/entulhos em qualquer parte da
são destinados ao Projeto Reciclagem Inclusão Total – cidade. Destaque também para as ações de educação
ECOCIDADÃO, que é realizado nos Parques de Recepção ambiental e mobilização comunitária exercida pela
de Recicláveis, caracterizados por possuírem espaços Companhia de Melhoramentos da Capital (COMCAP).
dotados de infraestrutura física, administrativa e
gerencial para recepção, classificação e venda do Porto Alegre possui coleta seletiva e usinas de
material coletado pelos catadores organizados em compostagem e unidades de reciclagem. Foi a pioneira
sistema de associações e cooperativas. Apesar da na atividade de associações de catadores. Uma das
organização da coleta seletiva e no reaproveitamento particularidades destas associações foi a oportunidade
de recicláveis, o modelo de gestão do município não de participação de ex-dependentes químicos, pessoas
contaminadas com o vírus da imunodeficiência humana
avança na geração de energia pelo biogás e no reuso
pela compostagem. A lei municipal de 11268 de 16 de ou com baixa escolaridade e que não conseguiram
dezembro de 2004 autoriza o Município de Curitiba a colocação em outra área. Outro projeto é o Programa
conceder o uso do Aterro Sanitário da Caximba para de Reaproveitamento de Resíduos Orgânicos via
exploração do Biogás, porém isso não ocorreu. Suinocultura. Outra iniciativa importante foi a
construção da Estação de Transbordo Lomba do
Florianópolis possui uma associação com os demais Pinheiro para otimização dos serviços de coleta e
municípios da região metropolitana, para o tratamento transporte dos resíduos sólidos do município de Porto
e disposição final de resíduos da região. Além de Alegre. Também possui uma unidade de alimentação
possuir coleta seletiva que alcança todos os bairros da dos recicláveis por gravidade das mesas de triagem:
cidade, o material reciclável é selecionado por seus esse sistema inovador cuja ação por gravidade dispensa
associados, que não necessitam coletar os materiais nas a necessidade de esteira transportadora de materiais
ruas. Com a matéria orgânica é feita a compostagem para separação dos recicláveis, economizando energia
que servirá de adubo para hortas comunitárias. elétrica. Possui centrais de
Destaque para o programa De Olho na Sujeira que
beneficiamento de resíduos arbóreos. Outro projeto em cascas de coco, garantindo também que esse tipo de
desenvolvimento é o Ecoparque, quem tem o intuito de resíduo tenha destinação ambientalmente adequada.
promover estudos para prospecção de novas formas de Em 2012, aproximadamente 1.000 t de cascas de coco
tratamento e valorização dos resíduos sólidos, verde deixaram de ser encaminhadas aos aterros
maximizando a reciclagem e o aproveitamento sanitários municipais.
energético das diversas frações do resíduo sólido
urbano gerado no município de Porto Alegre e para o Salvador possui coleta seletiva, reciclagem e
ECOPONTOS que são o conjunto de unidades que serão compostagem. A matéria orgânica e rejeitos são
estrategicamente espalhadas pela cidade e se destinam coletados e transportados para o Aterro Sanitário
a atender pequenos geradores de materiais Metropolitano Centro, diretamente ou através da
reaproveitáveis. estação de transbordo. O aterro possui usina geradora
de biogás. Grande parte da coleta seletiva é realizada
Rio de Janeiro possui coleta seletiva e os recicláveis são por catadores, porta a porta, na origem, organizados
triados por associações de catadores. Possui uma usina em associações e cooperativas, reconhecidas em sua
de queima, porém, não há aproveitado de seu potencial maioria pela Prefeitura, como parte integrante do
energético. Não possui um consórcio intermunicipal. É sistema de gestão de resíduos sólidos do município.
realizado a compostagem que serve de adubo para o Conta também com Postos de Entrega Voluntária (PEVs)
reflorestamento da cidade, oriundo de resíduos sólidos que estão distribuídos estrategicamente em pontos na
urbanos– FERTILURB, produzido pela SECONSERVA, cidade. Já a coleta alternativa é realizada por Agentes
através da Companhia Municipal de Limpeza Urbana – Voluntários, barco, balsa e pelo sistema de "lixoduto"
COMLURB. Destaque também para o Projeto Coco quando o sistema de coleta convencional possui difícil
Verde, que em articulação com a acesso. O aterro possui tratamento adequado e o
SECONSERVA/COMLURB e parceiros da iniciativa chorume é coletado e transportado por veículo do tipo
privada, no trecho de praias entre o Arpoador e o carro-pipa, para ser tratado da forma adequada.
Leblon, incentivou a cadeia produtiva da reciclagem das Quanto aos gases provenientes da decomposição da
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matéria orgânica são captados e queimados. Já os coleta seletiva é realizada somente em Pontos de
compostos orgânicos são tratados por compostagem Entrega Voluntária (PEVs), localizados em condomínios,
assim, esses compostos, servem para enriquecimento estabelecimentos comerciais, escolas, instituições
do solo das praças e jardins das cidades. Opera em públicas e também em vias e praças, duas vezes por
parceria com a Superintendência de Parques e Jardins semana, não sendo realizada nos morros e encostas.
(SPJ) e há a gestão dos novos geradores de resíduos, Também há o auxílio dos catadores de papel que
por meio de um avanço institucional, similar a uma ajudam na reciclagem dos resíduos. Para esses a
licença ambiental. Como quesito de funcionamento, os Prefeitura Municipal de Vitória oferece treinamentos,
novos estabelecimentos, especialmente comerciais, capacitações, equipamentos de segurança e uniformes
devem apresentar um plano de gerenciamento e para os catadores. O aterro sanitário dispõe de um
reaproveitamento dos resíduos para obtenção da sistema de aproveitamento de biogás e a
licença. comercialização de créditos de carbono, esse efetua a
incineração de resíduos hospitalares. Em Vitória a
São Paulo possui coleta seletiva, reciclagem e compostagem de resíduos não é realizada em grande
compostagem. A coleta seletiva acontece através de um escala, sendo efetuados apenas os provenientes de
consórcio com empresas privadas e a prefeitura, e podas de árvores e galhos mais finos.
também tem o auxílio das organizações de catadores,
dessa forma, o que não é reciclado é levado para dois Quanto aos projetos, destacam-se o programa Praia
aterros privados. Um fator que interfere de forma Limpa que possui campanhas educativas sobre a
negativa na coleta seletiva na cidade é a coleta qualidade das praias; o Programa Mangueando na
clandestina realizada por caminhões em mau estado de Educação, que possui ações de educação ambiental
manutenção e sem segurança no trabalho. Essa coleta referentes aos manguezais; o Programa Comunidades
clandestina reduz o rendimento das cooperativas de Conscientes que oferece cursos de preservação
catadores. A cidade possui um sistema de captação e ambiental e manutenção dos ecossistemas e o evento
recuperação de metano nos aterros públicos, Pode-se Feira do Verde, realizado anualmente, com a
concluir que existe um crescente investimento na participação de instituições públicas e privadas,
construção de aterros sanitários e recuperação de institutos de pesquisa e de membros da sociedade em
energia, centrais de triagem e de compostagem, geral, com o intuito de promover um evento de
infraestrutura e capacitação para organizações de relevante impacto na comunidade sobre as temáticas
catadores. Um dos avanços na gestão de resíduos de educação ambiental e sustentabilidade.
sólidos na cidade de São Paulo foi a implantação de
sistemas de captação e recuperação de metano nos A tabela 5 traz de forma comparativa os pontos
aterros públicos Bandeirantes e São João para geração positivos e negativos da gestão de resíduos sólidos
de elétrica. utilizados nas capitais mencionadas anteriormente.
Cabe destacar que os pontos positivos referem-se as
Vitória possui coleta seletiva e reciclagem. Existe um ações existentes e não se são suficientes para lidar com
consórcio entre a prefeitura e uma empresa a questão. Por exemplo, verificou-se se tem a coletiva
terceirizada para realizar a coleta dos resíduos sólidos, a seletiva, e não se é feita de maneira otimizada, ou seja,
qual é realizada porta a porta em todos os bairros da se atingi todo o potencial de reciclagem. Inclusive
cidade. Os resíduos que não são reaproveitados são porque a expansão da escala dos programas existentes,
levados ao aterro sanitário. A coleta convencional é especialmente na questão dos recicláveis, é um ponto a
realizada por coletores nos locais de morros e encostas, melhorar em todos os municípios.
onde os veículos são impossibilitados de chegarem. A
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Tabela 5 - Comparação dos pontos positivos e negativos na gestão RSU das capitais selecionadas
CONCLUSÕES
Este artigo demonstrou que as capitais estudadas em pelo crescente volume de novos resíduos destinados.
sua maioria possuem alternativas para o tratamento Por outro lado, o sistema de reaproveitamento existe,
dos resíduos antes de ser depositado no aterro mas normalmente em uma escala insuficiente para
sanitário, o que representando uma redução da diminuir a pressão nos aterros e que varia conforme o
quantidade de resíduos destinados de forma perfil e a capacidade de coleta e tratamento dos
equivocada aos aterros, prolongando a vida útil dos reciclados nos municípios, por exemplo.
mesmos. Além de proporcionar o reaproveitamento de
materiais e possibilitar a geração de emprego, renda e A despeito do percentual de reaproveitamento ser
inclusão social. São as ações e projetos que alavancam a baixo, as ações trabalhadas, por exemplo, na coleta e
gestão dos resíduos colocando os municípios em reaproveitamento de reciclado têm o enfoque da
evidência, sendo modelo de referência para a inclusão social, como ocorre em Porto Alegre, Curitiba e
apropriação de modelos de gestão e planejamento para São Paulo, além de projetos voltados para a educação
outros municípios. Entretanto, a produção per capita de social e conscientização ambiental dos moradores,
resíduos é maior que 1 kg por habitante por dia, o que como os praticados em Vitória e Florianópolis. Outros
torna todo o esforço necessário, mas não suficiente municípios possuem uma gama de alternativas para a
para diminuir a pressão sobre novos aterros. coleta como é o caso de Salvador, que utiliza meios de
transportes terrestres e aquáticos para o transporte de
Assim, problemas básicos ainda persistem, como o não resíduos ampliando assim a área de abrangência do
atendimento da coleta a 100% da área urbana e a serviço prestado. Ainda em Salvador há um avanço
demanda por mais aterros pela exaustão dos atuais e institucional de controle dos grandes geradores de
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