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A RELAÇÃO ENTRE A CULTURA POP JAPONESA E A JUVENTUDE

BRASILEIRA

A CULTURA POP JAPONESA

A chamada cultura pop japonesa é um conjunto de mídias voltadas ao

público jovem. Ela inclui mangá, anime, games, tokusatsu, trilhas sonoras
relacionadas, cosplay e muitos outros termos que têm ficado cada vez mais
populares entre os jovens, não apenas do Japão, mas em várias partes do
mundo. (NAGADO, Alexandre; 2008)

Os termos “anime” e “mangá”, normalmente desconhecidos ao cidadão brasileiro

comum, hoje fazem parte do vocabulário de milhares de adolescentes, jovens e
adultos, unidos por um interesse comum: a admiração pelos personagens dos
universos ficcionais das histórias japonesas.

Breve histórico da cultura pop japonesa no Brasil

Segundo Gusman (2001, p. 12), o contato do público brasileiro com as produções

audiovisuais japonesas começa já na década de 1960, com séries como “National
Kid” e outras produções similares que eram exibidas na TV aberta. O número de
obras nipônicas inseridas na programação da TV brasileira cresceu na década de
70, incluindo sucessos como “Ultraman” e animações clássicas como “A Princesa e
o cavaleiro” e “Speed Racer”, chegando ao ápice na década de 80 com os famosos
“Jaspion” e “Changeman”, fenômenos de audiência que abriram as portas para que
na década de 90, uma nova safra de produções japonesas dominasse uma
considerável porção do mercado televisivo brasileiro, fazendo com que todas as
emissoras de TV aberta investissem na importação de animações, como “Os
Cavaleiros do Zodiaco”, “Sailor Moon”, “Sakura Card Captors” e “Pokemon”. Nos
anos 2000, “Naruto” e “Dragon Ball” despontaram como os mais populares entre os
expectadores brasileiros.

Cenário atual da cultura pop japonesa no Brasil

Entretanto, o cenário atual é diferente. Com as facilidades proporcionadas pela

internet, os fãs não dependem mais das emissoras para terem acesso aos episódios
de seus mangás e animes preferidos. Nas madrugadas, equipes de tradutores
amadores (fansubs) se organizam e criam legendas para os episódios poucas horas
após serem exibidos no Japão, em poucos minutos e de maneira colaborativa, os
capítulos ficam disponíveis para serem assistidos ou baixados gratuitamente de
servidores espalhados pelo mundo. O conteúdo de cada episódio é debatido
posteriormente em comunidades e fóruns, gerando verdadeiros embates de idéias,
envolvendo temas com relativa complexidade.

Diferenças entre os animes e as animações tradicionais

Uma das principais diferenças entre as animações tradicionais e as animações

japonesas está na continuidade e seqüenciamento dos episódios. Ao contrário dos
desenhos animados, os episódios dos animes dependem de uma cronologia, por
exemplo: se um personagem morre em um determinado momento, ele continuará
morto no próximo episódio, não é como quando uma bigorna cai e esmaga um
protagonista que mesmo dilacerado, continuará vivo no próximo capítulo. Nos
animes as histórias são mais realistas e muitas vezes retratam situações cotidianas,
como as que se passam no ambiente escolar ou familiar.
Um detalhe que deixa confusos os expectadores ocidentais é o fato de sempre
vincularem o consumo de desenhos animados ao público infantil. No Japão, existem
animes voltados para todos os públicos e grande parte das animações é destinada
ao público adulto e exibida no horário nobre da TV japonesa.
Os animes são divididos por categorias, focadas na temática e no público alvo. Há
animes para todos os gostos: romances inocentes, disputas esportivas, batalhas
épicas, comédia, drama, terror e toda uma infinidade de temas, que oferecem ao
expectador a oportunidade de refletir sobre assuntos complexos, como o
preconceito, a profundidade das relações humanas, os laços de amizade, a
perseverança, a superação de obstáculos, a honra e a família.

O ELO ENTRE FICÇÃO E REALIDADE

Portes e Haig (2013) publicaram um artigo na Revista Matrizes relacionando a

influência exercida pelos animes sobre a formação da identidade dos jovens
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brasileiros aos arquétipos estudados na Psicologia Analítica. Os autores realizaram

uma pesquisa com quatro voluntários e puderam observar diversos elos de
identificação entre os entrevistados e as situações vividas nos enredos das histórias,
e perceberam que muitos aspectos se apresentavam similares no ambiente escolar,
familiar e social desses indivíduos.

Exemplos de temáticas de animes e suas influências

Animações como “Another” (Yukito Ayatsuji, 2012), oferecem ao expectador a

oportunidade de refletir sobre o sofrimento da exclusão em um grupo social, sofrida
pela protagonista da história que é ignorada voluntariamente por todos os colegas da
classe e tratada como se não existisse. O expectador é incentivado a desenvolver
uma profunda empatia com a personagem e envolvido neste contexto, questiona a si
mesmo, questiona suas próprias atitudes e a forma como vê o mundo.
Em “Death Note” (Takeshi Obata, Tsugumi Oba, 2007) alguns temas polêmicos
como a pena de morte, ética e justiça são trazidos á tona e oferecem ao sujeito a
oportunidade de desenvolver seu senso crítico e desenvolver seus próprios
julgamentos. No Brasil, há casos de professores que já utilizaram o referido anime
como tópico de discussão, em disciplinas como “Ética e Moral”.
Naruto (Masashi Kishimoto, 1999) é um dos animes mais assistidos na atualidade,
em Naruto, conceitos como construir e manter laços de amizades, proteger as
pessoas que amamos, desenvolver a superação pessoal, lutar para conseguir os
seus objetivos, são muitas das características que justificam a extrema popularidade
desta produção.

Influência dos animes no comportamento dos indivíduos

Muitos jovens influenciados pela cultura pop japonesa assumem novos

comportamentos que vão desde o uso de palavras em japonês inseridas em seu
vocabulário cotidiano até a famosa prática do cosplay. Luyten (2004) define cosplay
como o “momento em que os fãs encarnam os heróis de suas aventuras prediletas
usando os trajes dos personagens”.
O fascínio que a cultura pop japonesa exerce sobre os jovens é tão grande que
eventos são realizados periodicamente visando a socialização, a confraternização e
a troca de experiências. Os eventos contam com atrações que também incluem
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elementos da cultura pop americana, como os personagens de quadrinhos

americanos, de jogos famosos, filmes e séries televisivas.
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CONCLUSÃO

Neste breve trabalho acadêmico, relacionamos o histórico da expansão da cultura

pop japonesa no Brasil analisando sua influência no comportamento dos indivíduos,
principalmente adolescentes e jovens.
O fenômeno pode ser observado em todas as cidades brasileiras, onde grupos de
otakus (forma como os fãs de animes são conhecidos no Brasil) se reúnem em
praças, shoppings, clubes, escolas e outros espaços com o objetivo de socialização,
lazer e entretenimento. Cabe mencionar que é no Brasil que acontece o “Anime
Friends”, maior evento de cultura pop japonesa da América Latina, movimentando
milhares de pessoas anualmente.
Diante de dados tão relevantes, cabe à comunidade científica estudar o fenômeno,
visando compreendê-lo, incentivando a mudança de paradigmas e buscando
continuamente a desmistificação de conceitos equivocados sobre o tema e
promovendo assim a dissolução dos inúmeros preconceitos que cercam o assunto
em nossa sociedade atual.
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REFERÊNCIAS

NAGADO, Alexandre. Cultura pop japonesa. Nippo Jovem. 03, 2008. Disponível
em <http://www.nj.com.br/especial/especial_20080325.php>. Acesso em 07 jul.
2014.

PORTES, G. ; Haig, EDWARD. Busca por uma metodologia da influência dos

animês em jovens brasileiros – uma perspectiva pós-junguiana. Revista Matrizes,
São Paulo, v.7, n.1, p. 247-262, 2013.

LUYTEN, Sonia Bibe. O tripé japonês. Revista Bravo!, Nov. 2004, v. 5, n.86.