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Faculdade de Ciências da Educação e Saúde – FACES

História
Milena Gabriel Nunes - 21602296

O fenômeno político denominado populismo, cuja representação – sobretudo na


América Latina – é largamente estudado, trouxe à historiografia um intenso questionamento
acerca da conceituação da palavra. Assim como qualquer outra investigação conceitual é
fundamental que se analise o período e espaço nos quais tal conceito está inserido, mas, se
tratando de “populismo”, há uma percepção geral de que sua conceituação já está muito bem
consolidada e engessada. Nesse sentido o termo é amplamente usado sem que antes se pense
nas problemáticas conceituais que o cercam quanto a temporalidade e espaço.

Admitindo o populismo como “movimento de aproximação das lideranças às massas,


sendo essa liderança personificada em um indivíduo carismático” é necessário que haja
contextualização para maior compreensão da palavra como conceito. Em se tratando da
primeira metade do século XX, e denominando essa aproximação como populismo tradicional,
as demandas desejadas pelas ditas massas configuram determinado comportamento nesse ser
carismático que é o populista. Diferente do espectro personalista caudilhista, o populista
tradicional não cria sua rede de influência através do poderio latifundiário ou de proteção bélica,
muito menos satisfaz-se com o alcance estritamente local; mas através do cativo emocional, do
pai protetor dos interesses nacionais desenvolvimentistas apoiado, principalmente, na classe
trabalhadora e na burguesia industrial, o populista cria sua persona sob uma ótica nacional. Guy
Hermet, citando Hélio Jaguaribe, afirma:

Preocupados por cautivar su auditorio presentándose como autores de milagros


inmediatos, los líderes populistas desarrollan un estilo de comunicación
política que apunta a satisfacer las esperanzas y a ganar la confianza de una
clientela de masa sobre la base de la afirmación absoluta de una “realización
de [sus] expectativas sociales si [lograran adquirir] un poder suficiente”.

Nesse sentido, a aproximação simbólica do populismo com o Cristianismo é inegável,


uma vez que é atribuída ao populista a imagem de herói salvador operador de estratégias
milagrosas. Essa aproximação não se perde quando a temporalidade considerada aproxima-se
mais do presente. Pensando o neopopulismo do século XXI e as demandas por ele requeridas,
o aspecto paternalista admitido pelo populista segue alguns padrões já estabelecidos pela
tradição, mas, ao valorizar o contexto inserido, as vias democráticas e a percepção de um mundo
globalizado irão guiar seus movimentos, assim como se modifica também o público alvo do
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discurso salvador. Se antes a burguesia industrial e a classe trabalhadora organizada eram os


principais interessados, agora há uma massa urbana marginalizada motivada através dessa fala.

Assumindo como característica do neopopulismo o respeito pelo constitucionalismo e


pela democracia, e apontando o bolivarianismo como um representante paternalista do mesmo
contexto temporal, é necessário que se ressalve alguns aspectos que os diferem. Dentro da
lógica bolivariana admitida por, por exemplo, Hugo Chávez, as vias democráticas não são
permanentemente exaltadas, assim como não tende a avançar num espectro liberal – ambas as
características se veem como fortes expressões do neopopulismo.

Nesse sentido fica claro que no decorrer da História a América Latina se viu permeada
por sentimentos paternalistas, tanto no campo político quanto no campo religioso, que por
(muitas) vezes se misturam. Na busca de um suporte para a condição subalternizada na qual foi
submetida, a figura segura de um “pai” salvador foi tida como a alternativa mais cômoda a se
seguir sendo então repetidas incessantemente.

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