Você está na página 1de 2

CHILDS, Peter; WILLIAMS, Patrick. An introduction to post-colonial theory. London: Prentice Hall, 1997.

QUANDO É O PÓS-COLONIAL?

A implicação óbvia do termo pós-colonial é que este se refere a um período posterior ao


colonialismo. Contudo, esse sentido de fim, de completude de um período da história e a
emergência de outro é difícil de manter. (1)

O desmantelamento das estruturas do controle colonial, que começa no fim dos anos 50 e atinge
seu auge na década de 60, constituiu um momento histórico marcante, à medida que vários
países foram conquistando sua independência, um após o outro. O fato de tantos milhões de
pessoas viverem atualmente em um mundo formado pela descolonização é uma justificativa
para o uso do termo pós-colonial. (1)

O pós-colonialismo deve então referir-se em parte ao período após o colonialismo, mas algumas
questões surgem: após o colonialismo de quem? após o fim de qual império colonial? Não seria
inaceitavelmente anglocêntrico ou eurocêntrico pôr em primeiro plano a metade do século XX
e particularmente o fim dos impérios britânico e francês? O que dizer, por exemplo, do início do
século XIX na América Latina e o fim do controle espanhol e português? Ou do fim do século
XVIII e a independência dos Estados Unidos? (1)

Claramente, não houve somente um período de colonialismo na história do mundo – o poder


colonizador pode já ter sido uma colônia. No entanto, embora possa haver maneiras pelas quais
a América Latina e os Estados Unidos possam se encaixar no modelo de pós-colonialismo
proposto, certamente há problemas em se alargar demais o quadro histórico ou conceitual. (2)

Há artigos, por exemplo, que deslocam o termo “colonialismo” para trás, aplicando-o a
sociedades como os incas, os otomanos e os chineses, em um período muito anterior ao início
dos impérios europeus, e para a frente, utilizando-o para todos os tipos de opressões nacionais.
“Colonialismo” se torna, assim, uma coisa trans-histórica, sempre presente (...) e todos ganham
o privilégio de ser, cedo ou tarde, colonizadores, colonizados ou pós-coloniais. (2)

Um forte argumento nos estudos pós-coloniais é que o desenvolvimento sobreposto do


conjunto dos impérios coloniais europeus – britânico, francês, holandês, espanhol, português,
belga, italiano, alemão – do século XVI em diante (mas especialmente no XIX) e o seu
desmantelamento na segunda metade do século XX constituem um fenômeno sem
precedentes, com repercussões globais no mundo contemporâneo, o que faz com que uma
resposta à pergunta “Quando é o pós-colonial?” seja “Agora”. (2)

Outra resposta, muito mais controversa e que complica o senso simples de períodos históricos
que acabamos de assinalar, é oferecida pelos autores de The empire writes back: (3)

“Nós usamos o termo ‘pós-colonial’, contudo, para englobar todas as culturas afetadas pelo
processo imperial do momento da colonização até hoje. Isso se deve a uma continuidade de
preocupações ao longo de todo o processo histórico iniciado pela agressão imperial europeia.”

Dificuldades – identificar essa continuidade de preocupações – perda de especificidade

O crítico canadense Stephen Slemon formula a questão de uma maneira diferente:

“As definições de ‘pós-colonial’ podem variar muito, mas para mim o conceito se mostra mais
útil não quando usado como sinônimo de um período histórico pós-independência, mas sim
quando situa uma aquisição discursiva especificamente anti- ou pós-colonial na cultura, que
começa no momento em que o poder colonial se inscreve no corpo e no espaço dos Outros e
CHILDS, Peter; WILLIAMS, Patrick. An introduction to post-colonial theory. London: Prentice Hall, 1997.

que permanece como uma tradição oculta no moderno teatro das relações neo-colonialistas
internacionais.” (3)

Nessa formulação, “continuidade de preocupações” se torna um processo mais substancial de


práticas culturais anti-coloniais (o que reforça o sentido de resistência implicado no prefixo). (3)

Outro sentido do “pós” é aquele compartilhado com outras teorias que o empregam,
especialmente com o pós-estruturalismo, em que a ênfase não deve estar tanto no
“subsequente cronológico”, mas / na transcendência conceitual ou superação dos parâmetros
do outro termo. Nessa perspectiva, textos que são anti-coloniais, que rejeitam as premissas da
intervenção colonialista (a missão civilizatória, o rejuvenescimento de culturas estagnadas)
devem ser consideradas pós-coloniais na medida em que “foram além” do colonialismo e de
suas ideologias, libertando-se do seus enganos a ponto de montar uma crítica ou contra-ataque.
(3-4)

- Outra complicação da periodização: a persistência do colonialismo. (...) No período posterior à


descolonização, tornou-se rapidamente aparente que embora os exércitos coloniais e suas
burocracias tenham se retirado, os poderes ocidentais continuavam mantendo o máximo de
controle indireto possível sobre antigas colônias, por meios políticos, culturais e sobretudo
econômicos: um fenômeno que se tornou conhecido como neocolonialismo (5)

CONCLUSÕES

Opiniões dos autores:

O pós-colonialismo não é uma abstração anacrônica / a-histórica;

não é um adjunto de algum projeto hegemônico de pós-modernismo;

nem é constituído pelas ações de um grupo de intelectuais “demonizado”.

Ele é um período histórico, melhor entendido como uma fase do imperialismo, que por sua vez
é a globalização do capitalismo (mas não simplesmente ou em qualquer lugar). Isso significa que
o pós-colonialismo tem uma dimensão global inevitável, mas não quer dizer que as teorias pós-
coloniais sejam inevitavelmente totalizadoras num esforço para dominar e explicar tudo.

A totalização “boa”, definida por Fredric Jameson como não mais do que “estabelecer conexões
entre fenômenos”, é, certamente, um ponto a se reter. Macro e microanálise caminham juntas.

Em termos de produção cultural, as análises pós-coloniais variam de varreduras panópticas


como Cultura e Imperialismo de Said até leituras que se concentram em apenas um texto, ou
em um aspecto de um texto.

As teorias estão em diálogo entre si – às vezes colaborativo, às vezes crítico – com todas as
principais áreas da teoria crítica contemporânea: feminismo, Marxismo, pós-estruturalismo, e,
sim, pós-modernismo (junto) e seus próprios debates internos e complexidades também têm
impacto no pós-colonialismo. (21)

O trabalho pós-colonial é – deve ser – interdisciplinar. (22)

Você também pode gostar