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Cristiana Costa Direito Internacional Público 2017/2018

Direito Internacional Público

1. O Conceito de Direito Internacional Público:


O conceito de DIP comporta duas realidades: sujeitos e objeto do Direito
Internacional. Os sujeitos constituem a comunidade internacional, e o objeto revela
as relações internacionais estabelecidas entre os diferentes sujeitos.

 Sujeitos originários: Estados.


 “Sujeitos derivados e supervenientes”: As Organizações Internacionais; A Igreja
Católica, a Ordem de Malta e a Cruz Vermelha.
 Sujeitos passivos: Indivíduos que não cooperam ativa e diretamente com os
demais sujeitos na criação de normas de Direito Internacional.
No que se refere ao objeto do DI, este é constituído pelas relações sociais e
internacionais dos mais diversos tipos – económica, social, militar, cultural, etc. –
que as comunidades jurídicas estabelecem entre si e com os indivíduos.

Assim, o Direito Internacional surge como um mecanismo regulador.

 Em sentido amplo: regula as relações entre os Estados e as outras


comunidades soberanas.
 Em sentido restrito: regula as outras realidades jurídicas internacionais, ou
seja, as relações entre as comunidades soberanas e os indivíduos.
Assim, podemos definir DIP como conjunto de normas e princípios jurídicos
reguladores das relações internacionais entre os sujeitos da comunidade internacional.

2. Fundamento sociológico do Direito Internacional:

a. Existência de uma pluralidade de Estados:


O DI positivo “surge e desenvolve-se preferentemente por obra e cooperação dos
estados” (Verdross), havendo, assim uma pluralidade de Estados.
Assim, o DI surge para dar resposta à necessidade de cooperação intraestatal e
intergrupal.

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b. Soberania
Para Bodin , o monarca é o detentor de um poder absoluto que não conhece limites –
soberania absoluta – “O poder que acima de si e afora Deus, não admite outro e que,
por natureza, é em si mesmo limitado e permanente” Bodin.
Com isto, os interesses específicos de cada Estado começam a produzir dificuldades
nas relações internacionais. Contudo, o avanço da Revolução Industrial fez com que se
abandonasse esta ideia de soberania absoluta para ser substituída pela de soberania
relativa – é criada ideia de interdependência (abertura entre os estados),
reestabelecendo-se a compatibilidade entre o DI e a soberania.
A obediência às normas internacionais continua a depender da aceitação voluntária
de cada Estado, no entanto, estes já não podem negar o DI.
c. Relações económicas internacionais
Com o desenvolvimento económico das nações, as relações internacionais,
industriais, financeiras, etc., tornaram-se cada vez mais complexas, gerando uma
comunidade internacional onde predomina a interdependência.

d. Guerras
As relações internacionais sempre foram perturbadas pelas guerras, criando-se uma
consciência da necessidade de paz e de instituições capazes de garantir a cooperação
entre estados (daqui, advém a SDN).
e. Consciência e aceitação dos Princípios Jurídicos fundamentais por
diversos povos
Os princípios jurídicos vão sendo introduzidos na consciência dos povos e,
posteriormente, expressos em textos legais.
Assim, esta consciência jurídica torna-os parte integrante da Organização Jurídica
Internacional.
No nosso Direito contamos com princípios como: boa-fé; pacta sunt servanda;
proibição do abuso do direito; liberdade dos mares, etc.

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3. Evolução histórica do Direito Internacional

a. Grécia
A existência de várias Pólis soberanas levou à necessidade de um Direito Diplimático.
b. Roma
O Imperador dominava o Imperium e ditava as leis, inclusive as dos povos dominados.

 Ius fetiale: conjunto de regras que devia ser observado antes de se começar
uma guerra – bellum justum.
 Ius gentium: uma parte do Direito Interno Romano, que Roma impõe aos
povos dominados.

c. Respublica Cristiana
É um grupo de comunidades políticas com autodeterminação unidas por uma ligação
comum – o Cristianismo – e submetidas a um poder diárquico: Papa + Imperador.
Criaram conflitos com os Estados Islâmicos, surgindo a necessidade de uma rede de
Relações Diplomáticas.

d. A paz de Vestefália
No século XVI assistimos à divisão da Europa Cristã em duas partes: católica e
protestante, o que trouxe guerras sanguinárias, sendo a mais conhecida a Guerra dos
30 Anos.
Estas vão terminar com o Tratado de Vestefália, que consagra a coexistência entre os
Estados Protestantes e Católicos, permitindo o Principio do Equilíbrio Europeu.

4. O Direito Internacional desde a Paz de Vestefália até ao Congresso de Viena


A Paz de Vestefália foi o ponto de partida para uma série de Tratados com vista a
manter o equilíbrio Europeu.
O Principio do Equilíbrio Europeu procurava evitar a criação de Estados muito
poderosos.
O Congresso de Viena acabou por gerar um sistema (reuniões) de congressos, sendo
que nele se definiu:

 Hierarquia e categoria dos representantes;


 Condenação do tráfico de negros/escravos;
 Princípio da legitimidade monárquica: não eram reconhecidos governos
resultantes da revolução e admitia-se a intervenção dos outros Estados sempre
que a legitimidade do Rei fosse posta em causa.

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O sistema de congressos procurava resolver problemas políticos e vai ser substituído


pelo Concerto Europeu.
Este baseava-se em conferências diplomáticas e apenas se reunia quando surgiram
grandes problemas.

5. O Direito Internacional entre as duas Guerras Mundiais


Após a I Guerra Mundial, importava a criação de uma organização capaz de manter a
Paz, tal como colocou o Presidente Wilson nos seus Catorze Pontos – SDN.
A SDN acaba por fracassar devido a:

 Recusa dos EUA de a integrar;


 Não reconhecimento da URSS;
 Privilégio para os vencedores (da I Guerra);
 Não existência de sanções.
Assim, esta não conseguiu evitar a eclosão da II Guerra Mundial, sendo que no final
da mesma, os vencedores (URSS, EUA, Grã Bretanha, China e França) decidem rever o
sistema internacional e criar uma nova ordem – a Organização das Nações Unidas
(ONU).

 Conclusão
Da breve análise histórica podemos concluir que o Direito Internacional desenvolve-se
sob a influência de três fatores essenciais: os conflitos bélicos; as relações económico
culturais; o desenvolvimento cientifico-tecnológico.
Três fatores que estão interligados, embora em cada momento u deles seja
dominante, e todos sejam sobre determinados pela política internacional.
Três fatores que bem poderiam ser reduzidos a dois, os político-económicos e os
culturais-tecnológicos, e que têm dado o impulso ao aperfeiçoamento e ao
alargamento do âmbito do Direito Internacional, até à sua universalização, obrigando-
o a adaptar-se à nova realidade internacional. São também essas questões, em
especial as político-económicas, que produzem a instabilidade desse direito, não o
permitindo garantir com segurança a paz, por fazê-la depender das relações de forca
em cada momento histórico concreto.

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6. Evolução das Correntes Doutrinais

a. Correntes Canonistas
Com base no Antigo Testamento e na Tese de S. Paulo, segundo os quais os povos
primitivos têm as suas próprias leis, vão-se criando condições para o nascimento do
Jusnaturalismo Cristão.

 Santo Agostinho: Teoria da Guerra Justa (aquela que visa restabelecer a justiça
violada);
 S. Tomás de Aquino: a guerra é um tema moral.
 S. Raimundo de Penaford: quem será a autoridade competente para declarar
Guerra Justa? O Papado ou o Príncipe?

b. Escola Espanhola do Direito Internacional


A sociedade internacional surge como resultado da natural sociabilidade da natureza
humana e tem como fundamento o Direito Natural.
Francisco Vitória:

 O Direito Natural é comum a toda a humanidade, a qual não pode ser


concebida sem uma organização social e política. Conduz-nos à ideia de DI
comum, válido para todos os povos;
 Legitimidade da colonização: desde que traga o bem e a prosperidade aos
indígenas;
 Não existência de limites à autonomia dos Estados.
Assim, o Direito Internacional é um ius inter gentes.

Francisco Suarez:

 Distingue os fundamentos jusnaturalistas e positivistas do DI.


 As normas do Direito Natural são absolutas e invariáveis, enquanto o DI
positivo resulta de convenções ou costumes.
 Teoriza a solidariedade da humanidade, pois entende que nenhum Estado é
auto suficiente, tendo que se se relacionar com os outros. Estas relações
devem ser regidas pelo DI positivo para que haja paz e justiça.

c. Hugo Grócio e a sua Escola


Na teoria de Grócio, a racionalidade do Direito torna-o acessível à mente humana
sem necessidade de qualquer revelação pelo que a validade das normas assenta
racionalidade.
Logo, por serem racionais, tais normas são obrigatórias - Direito como esfera
autónoma da moral e da fé.

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Agora, o Direito das “gentes” está baseado na vontade dos Estados. Deste dualismo,
resultam duas escolas:

Jusnaturalismo Positivismo
Para Hobbes, o Estado de Natureza é um Segundo esta escola, o Direito Natural é
Estado de Guerra Permanente pois o diferente do Direito Positivo.
Homem pensa apenas e unicamente no Para os positivistas, a Lei é o Direito.
seu próprio interesse.
Por outro lado, Pufendorf defende o Moser, vai projetar a Teoria da
Estado de Sociedade surge pela razão Experiencia Pura do Direito, segundo a
humana (leis para controlar). qual o Direito Internacional deve saber
E desenvolve três pactos. quais as regras que se observam nas
1. O Estado vem impor a relações entre os Estados, devendo
segurança e a paz; estudar os materiais diplomáticos para
2. Estabelecer a forma de daí extrair as regras positivas.
Governo;
3. Submissão dos Homens ao
soberano.

7. As características do Direito Internacional

a. Direito Internacional como moral positiva internacional


Estamos perante uma corrente de cariz jusnaturalista, que admite a existência do DI
com a natureza de uma moral internacional.
Hobbes defende que os Estados vivem no Estado de Natureza e que acima deles não
existe nenhuma autoridade superior que lhes possa impor as normas estando estes
apenas vinculados a normas morais.
John Austin afirma que o Direito é um mandato de um superior cujos destinatários
são os súbditos. Para que haja Direito, tem de haver um legislador e um poder capaz
de impor as normas.
Hegel diz que o Direito Internacional é produto de várias vontades soberanas, logo,
não tem natureza jurídica. Assim, não havendo um superior, um legislador o DI não
pode ter caracter jurídico, por efetivamente serem usos sociais que o público aceita e
respeita.
b. O caracter incompleto do Direito Internacional
Estamos perante um Direito onde a produção e execução exigem colaboração e a
cooperação ativa entre os Estados.
Para que as normas sejam válidas e eficazes, é necessária essa colaboração, logo, tal
Direito só se completa através dos órgãos internos dos Estados que o executam (o
Direito).
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c. A inexistência de órgãos centrais na aplicação do Direito Internacional


Na sociedade internacional não há legislação nem juízes para que se produza uma
norma/sanção.
Estando o poder repartido entre os diversos Estados, nenhum vai impor a sua vontade
aos demais. Deste modo, as normas dependem só da cooperação entre os Estados.
A sociedade internacional tem feito esforços para se dotas de órgãos centrais (SDN,
ONU).
d. O Direito Internacional como Direito de coordenação e sobreposição
É necessário o equilíbrio entre as diferentes potências para que o Direito produzido por
elas seja aceite por todos.
As principais fontes do DI são, então, Tratados ou Convenções, o que exige
coordenação e sobreposição.

8. O fundamento de obrigatoriedade do Direito Internacional

a. Doutrina voluntarista
O Direito Internacional é um Direito Estatal Externo. Tal significa que é a projeção
exterior do Direito Interno dos Estados. Assim, as convenções internacionais aceites
pelos Estados só podem adquirir força interna obrigatória após a receção pelo
ordenamento jurídico interno, e uma vez recebidas passam a ser parte integrante
desse ordenamento. O Direito Internacional é um Direito Infralegal.
b. Fundamentação Normativista
Para Kelsen, a validade de uma norma depende da sua conformidade com uma outra
hierarquicamente superior – a Grundnorm (topo da pirâmide).
Assim, as normas de DI só podem ser jurídicas se integrarem a ordem jurídica.
c. O Jusnaturalismo moderno e a fundamentação do Direito Internacional
Os jusnaturalistas fundamentam o DI em normas que resultam da natureza racional e
social do Homem.
Para Le Fur, o Direito aparece como algo racional que se destina a realizar o bem
comum. Para ele, do Direito Natural resultam duas regras: respeitar os compromissos
assumidos e reparar os prejuízos causados. Verdross defende a regra Pacta Sunt
Servanda.

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9. As Relações do Direito Internacional com o Direito Interno dos Estados

a. Doutrina dualista
Von Triepel que o Direito Internacional e o Direito Interno dos Estados são dois sistemas
jurídicos autónomos e separados e, por isso, nunca se confundem. As suas diferenças
são:

 Fontes: Direito Interno – vontade unilateral do Estado; Direito Internacional –


vontade dos diversos Estados;
 Destinatários: Direito Interno – os indivíduos; Direito Internacional – os Estados
e as Organizações Internacionais;
 Factos: No Direito Interno existem órgãos judiciais e executivos permanentes;
as normas internas conservam a sua força obrigatória interna mesmo que
estejam em colisão com as de Direito Internacional.
Como consequência desta teoria resultaria que os Estados produziriam as suas normas
internas sem atender à sua conformidade com o Direito Internacional, uma vez que
seriam sempre válidas.
Sendo assim, qual é a validade do Direito Internacional?
As normas internacionais só poderão ser válidas e eficazes quando aceites e
transformadas em Direito Interno. Assim, deverá haver uma receção plena das normas
do Direito Internacional pelo Direito Interno.
Contudo, existem críticas:

 Ambos os Direitos têm a mesma fonte (costume);


 Na mesma ordem jurídica podem existir normas com destinatários diferentes;
 Neste contexto, a única ordem jurídica seria a nacional.

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b. Doutrina monista
Todas as normas estão subordinadas umas às outras (hierarquia de normas), o que
implica a sua supra-infra ordenação no quando de um único sistema jurídico:

Monismo com primado do Direito Monismo como primado do Direito


Interno (defendida na Alemanha e Internacional
URSS)
Defende que o Direito Internacional Segundo Kelsen, a ordem jurídica interna
deriva do Direito Interno, e, como tal, é deriva do Direito Internacional, sendo
inferior. que as normas internas que contrariem o
Isto deve-se a: Direito Internacional são nulas.
 Inexistência de uma autoridade
supraestatal que dê força ao Se um Estado aplicar um Direito Interno
Direito Internacional. (norma) contrário ao Direito Internacional
Criticas: Então porque continua (norma, também), pode incorrer em
este Direito Internacional responsabilidade internacional.
 O Direito Internacional dá origem
vigente? Já assistimos a
ao Direito Interno.
alterações constitucionais e isso
não pôs em causa o Direito
Internacional.

 Fundamento constitucional das


normas do DI;
 O Direito Interno dá origem ao
Direito Internacional.

As críticas ao monismo, em geral, são:

 Suprime a distinção entre Direito Interno e Direito Inernacional;


 Gera a ideia de que primeiro apareceu o Direito das Gentes e só depois o Direito
Interno (contrário à História);

10. Sistema de incorporação do Direito Internacional no Direito Interno


Os mecanismos de incorporação tem como finalidade permitirem que as normas de
Direito Internacional possam ser aplicadas diretamente na ordem jurídica interna de
cada Estado.

 Clausulas gerais de receção


O Direito Internacional é recebido e fica automaticamente incorporado no Direito
Interno.

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 Sistema de transformação
O legislador reproduz numa lei interna a norma de Direito Internacional, de modo a
que esta seja aplicada na esfera jurídica interna.

11. A receção do Direito Internacional na ordem jurídica portuguesa (CRP)

 Artigo 8º, nº1, CRP – as normas e os princípios do Direito Internacional têm uma
receção plena, passando a fazer parte do ordenamento jurídico interno nos
seus exatos termos – Direito Consuetudinário.
 Artigo 8º, nº2, CRP – para que as convenções internacionais sejam recebidas, é
necessário que:
1. Sejam ratificadas (pelo Presidente da República) ou
aprovadas (pela Assembleia da República ou pelo
Governo);
2. Vigorem na ordem internacional;
3. Tenham sido publicadas no Diário da República.
A não publicação das convenções leva à sua ineficácia – Direito Convencional.

 Artigo 8º,nº3, CRP – As normas emanadas por Organizações Internacionais com


que Portugal esteja vinculado, vigoram diretamente na ondem interna. Por
exemplo, a União Europeia.

12. Hierarquia das normas internacionais na ordem interna:


O Direito Internacional é infra constitucional, isto é, a CRP está acima de qualquer
norma, como consta no artigo 277, nº1 da Constituição da República Portuguesa.

13. Fontes de Direito Internacional Público


No Direito Internacional temos dois tipos de fontes: as materiais e as formais.

 Materiais: conjunto de situações reais que dão origem a certas normas, ou seja,
questões que irão impor a necessidade de uma determinada norma. (Relações
sociais que estão na origem das normas);
 Formais: conjunto de fontes que, independentemente das situações da vida real,
dão sempre origem a certas normas, como costumes, tratados, Princípios Gerais
de Direito, etc. (Processo como as normas se exteriorizam)
Há princípios que não estão positivados em norma, mas influenciam a criação de
Direito, como, por exemplo, os Princípios Gerais de Direito. Da mesma forma, existem
fontes secundárias, como a doutrina e a jurisprudência.

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O Estatuto do Tribunal Internacional de Justiça estabelece, no seu artigo 38º, como


fontes de Direito Internacional:
1. Convenções Internacionais;
2. O costume internacional;
3. Os Princípios Gerais de Direito reconhecidos pelas nações
civilizadas;
4. A jurisprudência;
5. A Doutrina (Hugo Grócio, etc);
6. A equidade.
O Costume é a fonte mais antiga que há no Direito Internacional.
Desde que existem grupos humanos constituídos em territórios, desde que existe uma
relação social entre esses grupos, existem, evidentemente, regras estabelecidas pela
prática para estas relações.
O Costume é uma prática repetida (reiterada) constantemente com a convicção da sua
obrigatoriedade jurídica. Para que se torne jurídica, para além da reiteração, a prática
deve ser uniformizada, para se ter a ideia de que, como é tão obrigatória, se não for
cumprida dará origem a sanção jurídica.
A diferença entre o uso e o costume é que o uso não tem a convicção da sua
obrigatoriedade jurídica.
Contudo, o problema reside na natureza do Costume. Grócio dizia que era um acordo
tácito (silencioso), ou seja, havia um acordo em que as pessoas consentiam tacitamente.
Contudo, os juristas defendem que se for acordo, não poderá ser Costume.

 O Costume não é um pacto, logo a tese grociana não pode ser aceite;
 O Costume resulta de uma prática, que implica uma ideia de temporalidade
longa;
 É uma prática reiterada e uniforme em que os seus autores estão convencidos
da sua obrigatoriedade jurídica.
Quando é que o costume entra, então, em vigor?
O Costume é positivado nas Convenções Plurilaterais. Como abrange uma série de
Estados, eles passam o costume a lei positivada. No entanto, isso não implica que a
norma deixe de vigorar enquanto Costume?
Durante décadas não existiu nenhum artigo redigido sobre as relações diplomáticas, ou
seja, era tudo Costume, até que no século XX foram, então, positivadas por alguns
Estados.
No entanto e mesmo assim, não deixou de valer enquanto Costume, porque os Estados
que não estão vinculados a esse tratado, regem-se, igualmente, pelos mesmos
Costumes.

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Quando, no século XIX, se começou a positivar o Costume, os positivistas afirmaram que


o Costume deixava de ter valor, pois deixava de ter sentido, ou seja, desaparecia.
Outra questão igualmente importante era provar que o Costume existe/existiu. Através
de análise de documentos jurídicos, vendo a jurisprudência (decisões judiciais e
jurisdicionais), arquivos diplomáticos (onde se encontram as instruções dadas pelo
Estado ao órgão competente para procederem segundo costume). Todos estes atos
oficiais.
É, talvez, a única fonte de natureza universal, porque todos os Estados no mundo o
aceitam. Ao vincular todos eles, cria-se uma regra jurídica internacional que dá
propensão para a Paz Internacional.
Turkin afirmava que o costume se impõe a partir do momento em que o Estado se
vincula a uma sociedade internacional e aceitam tacitamente o costume. Estas são a
regras mínimas para a convivência internacional, pois preexistem a qualquer tratado.
[Fontes do Direito são no fundo uma imagem simbólica do nascimento das normas. O
estatuto internacional de justiça não estabelece uma hierarquia rígida, o que interessa
é numera-las pela importância. Contudo, não significa que não haja uma hierarquia.
Essas fontes não esgotam todas as fontes de direito para que possam ser utilizados.
Veio-se se descobrir que os atos unilaterais são importantes. Quando se refere aos
princípios de direito (civilizações civilizadas), entendia-se que as potências colonizadoras
eram civilizadas e todo o resto não o era.
Hoje já ninguém se refere a estes termos. NO direito internacional: Costume, tratados,
princípios gerais do direito (os princípios ressaltam de normas), doutrina e
jurisprudência (fontes secundárias).
Costume é efetivamente a fonte de direito mais antiga, aquela relativamente à qual
praticamente todo o direito emergiu. Originariamente é a fonte mais ampla, mais geral,
que deu origem sob o ponto de vista jurídico à origem do direito internacional. É de
facto uma norma que tem a maneabilidade suficiente para ter perdurado ao longo dos
séculos. O que é o costume? O costume é uma prática que é reiterada (continuada),
uniforme, e aceite por todos os estados com convicção de que essa prática é
obrigatória. Quem pratica essa prática, pratica-a porque se não a fizer pode sem
sancionado. Algo que os Estados criaram e que entendem que devem obedecer àquela
sequência (vs. Uso- não há obrigatoriedade). Corpus – usos é a prática, aquilo que a
gente pode ver e perceber.
Animus – convicção da obrigatoriedade.
Se temos dois elementos eles têm que estar bem articulados para nos darem um
resultado final, o costume. Alguns autores, como Kelsen, não é possível haver animus
(como posso fazer a prova dessa psicologia dos estados?); Põem em causa a ideia da
existência d segundo elemento do costume, o animus, porque não conseguia comprovar
a sua convicção.

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Manter nas suas relações, pois os Estados estão em permanente em relação diária,
fazendo acordos, protocolos, etc. (ex.: Ásia, África, Europa), é relações contínuas.
O problema que se coloca é que de facto hoje a teoria dominante o costume tem
animus, porque sem ele acabaria de ser uma prática voluntarista (quero fazer, faço, não
quero, não faço).
A norma impõe seguramente uma coisa: o dever de a cumprir.
Há um direito mas não há nada escrito, estamos perante um costume, há uma memória
do tempo (mas ninguém consegue determinar uma data).
Hugo Grócio: o costume é um acordo tácito entre os Estados
Quando houve a Revolução Bolchevique (estados socialistas – URSS) levantaram
problemas sobre costumes dos estados capitalistas e dominantes. Depois veio as
descolonizações que também não aceitavam os costumes.
Hoje a ideia dominante: Não há um acordo tácito, mas sim a dominação de uma prática
que se foi implementando. Séc. XIX, os Estados adquirem uma força que monopolizam
poda a vida internacional. Quando emergem com força política entendem que deveriam
começar a fazer acordos escritos, que criavam regras, onde as questões ficavam mais
claras. (os costume para se tornar costume demora muitos anos, então criavam os
tratados para que fosse mais fácil). OS positivistas diziam que o mundo internacional
seria regido, dominantemente, pelos tratados. (Os tratados vão acabar com os
costumes, contudo não foi isso que se verificou. Continuaram a existir costumes! – Não
podemos fazer afirmações absolutas). Alguns tratados, na sua execução prática, incluem
o costume.
Há uma articulação muito boa entre os costumes e os tratados, porque um leva ao outro.

 Como determinamos que um costume existe?


Ex: imunidade diplomática
Através da atividade diplomática, conseguimos perceber se determinados
Estados consagram as regras costumeiras
Outras vezes, na prática judicial administrativa também se consegue perceber se
o Estado aceita os costumes, o dever de proteger a embaixada. Ninguém pode lá entrar
sem autorização. Mesmo os Estados que não assinaram o Congresso de Viena cumprem
isto porque é o costume.
Nos julgamentos os juízes podem também invocar o costume como fundamento
da sua decisão. Isto acontece quando o Estado aceita o costume.
Temos aqui a prática (corpus) e o animus. Essa relação corpus e animus estão
permanentemente articulados e é assim que se determina a existência de um costume.

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Como classificamos os costumes?


1. Costume de natureza geral: que vinculam todos os Estados do planeta
(maior parte dos países) – liberdade dos mares, por exemplo. Estes
costumes têm uma enorme força jurídica. (por outro lado só a OMC e a
ONU é que são os tratados que conseguem chegar a todo o mundo, os
tratados vinculam só em certas partes, o costume internacional não,
expande-se)
2. Costume regional – Aqui o costume só vincula essa mesma região.
Não existem grandes divisões entre estas duas, contudo, prevalece o costume de
natureza geral.
A validade do costume é espacialmente válida nos espaços em que o costume existe e é
vinculado. O espaço territorial pertence aos estados que fazem parte desse costume. Já
sobre o tempo de vigência de um costume, este tem vigência sempre que o Estado o
cumprir, caso contrário perde a sua validade. Por exemplo, podem chegar à conclusão
que certa prática já não faz sentido. Por vezes a perda da consciência desse costume é
feita de forma inconsciente. Tudo depende das grandes mudanças tradicionais que vão
contribuindo para a perda e criação de novos costumes (o costume como também é um
conjunto de normas também têm validade e vigência).
A plasticidade do costume para sobreviver: por vezes os estados aceitam uma
prática coletivamente que deixa reger o povo e criam um costume quase
instantaneamente. O costume tem essa vantagem enorme de que sendo algo que esta
na origem da formação da criação do direito internacional, acaba por permanecer
sempre.]

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A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS – ONU


A ONU surgiu como uma espécie de substituta da Sociedade das Nações Unidas.
Em 1919, aquando do término da I Grande Guerra Mundial, foi celebrado o Tratado de
Versalhes, onde residia, como primordial objetivo, a Paz entre os países vencedores
da guerra e a Alemanha.
Neste período, foi necessário reorganizar a Carta Política da Europa e estabelecer um
novo equilíbrio de forças que garantisse a convivência pacífica entre os Estados.
O primeiro problema resolveu-se com base no princípio da nacionalidade, que levou o
império Austro-húngaro a dividir-se e que a Polónia se reunificasse. O segundo
objetivo foi alcançado através da criação da SDN, que teve como objetivos principais
subordinar as relações dos Estados ao Direito Internacional, para que os recursos à
Guerra e o uso da força fossem deprimidos.
Para resolver conflitos, o pacto da SDN previas dois mecanismos:

 O Tribunal Permanente de Justiça Internacional, criado em 1920;


 Recurso à arbitragem.
Apesar dos esforços, nada disto teve realização prática. O sistema falhou devido à
composição da SDN, que mais se assemelhava uma coligação de países vencedores
que tentavam impor as suas vontades à Sociedade Universal; devido aos Estados
Unidos da América que, embora tivessem assinado a Paz, não assinaram o Tratado
de Versalhes, o que levou à falta de prestígio da SDN; devido à falta de capacidade de
resolver os conflitos que se seguiam – a II Grande Guerra Mundial – pois exigiam
unanimidade nas decisões da Assembleia e do Conselho, e tal nunca foi possível por
consequência dos demais conflitos de interesses aí existentes. Não cumprindo os seus
objetivos principais, a SDN não conseguiu impedir a eclosão da II Grande Guerra
Mundial.
Assim, e após a II Grande Guerra Mundial, na Conferência de S. Francisco, foi aprovada
a Carta das Nações Unidas (CNU), em junho de 1945, tendo entrado em vigor em
outubro desse mesmo ano.
Portugal foi admitido como membro em 1955, mas a CNU só foi publicada em Diário
da República em 1991.
1. Os objetivos da Carta não diferem muito dos objetivos da SDN e estão
consagrados no artigo 1º da Carta:
 Manutenção da paz e da segurança internacional;
 Descolonização e promoção das relações baseadas no princípio da
autodeterminação dos povos;
 Promoção dos Direitos Humanos;
 Resolução de problemas económicos, etc.

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É importante não confundir descolonização com independência. Descolonização não


significa independência. No fundo, é dar possibilidade aos povos de decidirem sobre o
seu estatuto político. Em teoria, não impede que com esta possibilidade os países não
se mantenham sob alçada de outra potência.
2. O artigo 2º da CNU estipula os princípios da ONU e dos Estados Membros
necessários para a prossecução dos objetivos previstos no artigo 1º.

Artigo 2º, nº1: Princípio da igualdade soberana dos Estados,


“A Organização é baseada no princípio da que não está 100% consagrado porque, se
igualdade soberana de todos os seus analisarmos a Assembleia Geral e o
membros” Conselho Económico e Social vemos que
para casa membro há um voto, mas no
Conselho de Segurança já não existe esta
igualdade, porque existem membros
permanentes e membros não permanentes.
Não obstando o artigo 2º, na verdade o
Principio da igualdade soberana dos
Estados é afastado no Conselho de
Segurança.

Artigo 2º, nº2: Princípio da Boa-fé ou Princípio da Pacta


“Os membros da Organização, a fim de Sunt Servanda, que visa o cumprimento das
assegurarem a todos em geral os direitos e obrigações da CNU, aos membros
vantagens resultantes da sua qualidade de signatários (uma vez que a assinaram, têm
membros, deverão cumprir de boa fé as que a cumprir).
obrigações por eles assumidas em
conformidade com a presente Carta”
Artigo 2º, nº3 Princípio da resolução pacífica de
“Os membros da Organização deverão controvérsias, que afirma que os Estados
resolver as suas controvérsias internacionais devem procurar solucionar os seus conflitos
por meios pacíficos, de modo a que a paz e a de forma pacífica, de forma a evitar guerras
segurança internacionais, bem como a e sem recurso à força.
justiça, não sejam ameaçadas” Contudo, a CNU não o proíbe totalmente em
todas as circunstâncias (artigo 51º da CNU).
Este artigo pode-se, ainda, ver-se mais
explicado no artigo 33º da CNU

Artigo nº2, nº4 Princípio da proibição da ameaça ou do uso


“Os membros deverão abster-se nas suas da força, que é isso mesmo.
relações internacionais de recorrer à ameaça (exceção: artigo 42)
ou ao uso da força, quer seja contra a
integridade territorial ou a independência
política
de um Estado, quer seja de qualquer outro
modo incompatível com os objectivos das
Nações Unidas”

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Artigo 2º, nº5 Princípio da cooperação e da assistência


“ Os membros da Organização dar-lhe-ão mútua, também designado como “Soft Law”.
toda a assistência em qualquer acção que Ou seja, os Estados não podem providenciar
ela empreender em conformidade com a assistência a qualquer Estado contra o qual a
presente Carta e abster-se-ão de dar ONU esteja a atuar.
assistência a qualquer Estado contra o qual
ela agir de modo preventivo ou coercitivo”
Artigo 2º, nº6 Princípio da universalidade da atuação da
“A Organização fará com que os Estados que Organização.
não são membros das Nações Unidas ajam
de acordo com esses princípios em tudo
quanto for necessário à manutenção da paz
e da segurança internacionais”
Artigo 2º, nº7 Princípio do domínio reservado ou da não
“Nenhuma disposição da presente Carta ingerência dos Estados, onde se consagra
autorizará as Nações Unidas a intervir em que a ONU não pode intervir na ordem
assuntos que dependam essencialmente da interna dos Estados.
jurisdição interna de qualquer Estado, ou
obrigará os membros a submeterem tais (exceção: artigo 41)
assuntos a uma solução, nos termos da (“porém” tudo o que está para trás pode ser
presente Carta; este princípio, porém, não invalidado devido ao artigo 41)
prejudicará a aplicação das medidas
coercitivas constantes do capítulo VII.”

3. Membros

a. Na ONU estão presentes cinco membros permanentes, sendo eles os


Estados Unidos da América, a França, a China, a Rússia e o Reino
Unido.
b. Contudo, há dois tipos de membros: os membros originários, e os
membros eleitos.
Os membros originários (56), são aqueles que assinaram/ratificaram a
Carta das Nações Unidas na conferência de S. Francisco.
Os membros eleitos são aqueles que, posteriormente à Conferência,
foram/são admitidos pela Assembleia Geral, sempre com base nas
recomendações do Conselho de Segurança.
c. Os membros eleitos têm que preencher certos requisitos para que se
possam vincular à ONU (artigo 4º, nº1 a 5):
i. Tem que ser um Estado;
ii. Tem que ser um Estado pacífico;
iii. Tem que aceitar as obrigações da Carta;
iv. Tem que cumprir as obrigações da Carta;
v. Tem que ter vontade/disposição para
cumprir as obrigações da Carta.
Note-se que a vontade de cumprir as obrigações é diferente da
capacidade de cumprir as mesmas.

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Uma eventual alteração da CNU implica, sempre, o acordo dos cinco


membros permanentes.

d. As línguas oficiais da ONU são o Inglês, o Francês, o Mandarim, o


Espanhol, o Russo e o Árabe.
e. Os membros podem, ainda, ser expulsos ou suspensos, sempre por
recomendação do Conselho de Segurança e a decisão de 2/3 (maioria
absoluta) da Assembleia Geral.

4. Órgãos

 A Assembleia Geral – artigos 9º a 22º - é o fórum de discussão da política mundial. A


AG pode discutir todas as matérias dos seus objetivos e pode formular
recomendações, que não têm forma vinculativa para os Estados.

Cada estado dispõe de um voto (artigo 18, nº1), mas pode ser perdido sempre que um
Estado membro se atrasar na contribuição financeira à ONU (artigo 19º da CNU)
A eleição de membros não permanentes do Conselho de Segurança (pela Assembleia
Geral) realiza-se nos termos previstos do artigo 23º, nº2.
A eleição de membros está prevista no artigo 4º, nº2, e os privilégios e membros estão
previstos no artigo 5º da CNU (remissão para os artigos 18, nº 2 e 23, nº2).
O artigo 12º da Carta fala-nos da separação de poderes entre a Assembleia Geral e o
Conselho de Segurança. Este artigo prevê a suspensão temporária do exercício de
competências (a menos que o Conselho de Segurança o recomente)
As suas resoluções não têm carácter obrigatório;
Em questões importantes tem que haver uma maioria de 2/3;
Em questões não importantes ganha a maioria simples.

 Competências da Assembleia Geral


Tem competências conjuntas com o Conselho de Segurança (artigo 4º, nº1; artigo 5º;
artigo 6º; artigo 93, nº2; e artigo 97º da CNU).

Tem competências específicas exclusivas: artigos 13º, 15º, 16º, 17º, 22º, 23º, nº2
(teste), 61º, nº1; 63º, 96º, nº2; 101º, nº1 e 2; 108º; artigo 109.

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 O Conselho de Segurança – artigos 23º a 51º -é o órgão executivo político central de


decisão da ONU, que tem como objetivo a manutenção da paz e da segurança
internacional. Por força do artigo 25º os Estados membros têm que aceitar e realizar
as decisões deste.

O Conselho de Segurança é composto por 15 membros, 5 permanentes e 10 não


permanentes (estes últimos eleitos pela Assembleia Geral).
Os membros não permanentes são escolhidos de dois em dois anos segundo critérios
geográficos, como comprova o artigo 23º, nº1.
O Conselho de Segurança funciona de forma permanente, em reuniões periódicas e
reuniões extraordinárias. A votação é feita de acordo com o previsto no artigo 27º da
CNU. No nº1 deste artigo, estabelece-se que um membro tem direito a um voto. No
nº2, podemos observar a votação relativamente às questões procedimentais.
A votação nos termos do artigo 27, nº2 não prevê o Direito de Veto, sendo apenas e só
necessários os votos afirmativos de 9 membros.
Exemplo que questões de procedimento: aprovação de regimentos internos; criação
de órgãos subsidiários; eleição de novos membros para a ONU (artigo 4º, nº2).
Na votação de questões não procedimentais, ou seja, questões de fundo (artigo 27,
nº3), há o Direito de Veto por parte dos membros permanentes. Continuam a ser
necessários 9 votos afirmativos/favoráveis.

A abstenção conta como voto, no entanto, não é um voto nem


afirmativo (sim) nem negativo (não).
Formou-se um costume internacional que alterou a Carta sem uma emenda formal
(um costume contra legem) - “The Spanish Question – 1947”

 Competências do Conselho de Segurança: três tipos de competência


1. Competência conjunta com a Assembleia Geral
Artigos 4, nº2; 5º; 6º; 93º,nº2 e 97º da CNU.
2. Competência partilhada com o Tribunal Internacional de
Justiça;
Artigo 24, nº2 com remissão ao artigo 36º do Estatuto Internacional de Justiça
3. Competência exclusiva da natureza sancionatória e
preventiva.
Competência de natureza preventiva encontra-se plasmada no capítulo VI da CNU,
dos artigos 33º a 38º. Já as competências de natureza sancionatória encontram-se no
capítulo VII da CNU, dos artigos 39º a 51º.

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No caso das competências de natureza preventiva, as partes são convidadas a


resolverem pacificamente o diferendo.
No caso das competências de natureza sancionatória, existem dois tipos de sanções:
as menos gravosas – previstas no artigo 41º da CNU – e as mais gravosas – previstas
no artigo 42º da CNU.

Preventivas Artigos 33º a 38º


Sancionatórias Artigos 39º a 51º
Sancionatórias gravosas Artigo 42º
Sancionatórias menos Artigo 41º
gravosas

 Conselho Económico e Social – artigos 61º a 72º - é composto por 54 membros e


elabora relatórios, projetos e convoca conferências. Este Conselho dirige
recomendações à Assembleia Geral.

 Conselho de Tutela - artigos 86º a 91º - está desativado desde 1994 e foi criado para
auxiliar os Estados que necessitavam de tutela depois, por exemplo, da desunificação
da URSS. Colabora, também, com a Assembleia Geral.

 Tribunal Internacional de Justiça – artigos 92º a 96º, restante no Estatuto do TIJ. Os


artigos 92º a 96º preveem as competências fundamentais/básicas.
O TIJ tem dois tipos de competência: jurisdicional (artigo 92º da CNU) e consultiva
(nos termos do artigo 96º da CNU).

Podemos notar, na competência jurisdicional:

a) Dirige-se exclusivamente aos estados – artigo 34º do ETIJ;


b) Estados que não sejam membros da ONU poderão tornar-se parte no estatuto
– artigo 93º, nº2 da CNU;
c) A jurisdição do Tribunal é voluntária/facultativa, isto é, este Tribunal só pode
julgar um litígio se as partes tiverem declarado aceitar a sua jurisdição –
Princípio da Reciprocidade;
d) No exercício das suas funções, o Tribunal profere acórdãos (decisões jurídicas,
dirigidos à solução dos litígios que lhe são submetidos);
e) Uma vez aceite a jurisdição, as decisões são de carácter obrigatório para ambas
as partes – artigo 94º, nº1 da CNU;
f) No caso de incumprimento do acórdão, a parte pode recorrer ao Conselho de
Segurança – artigo 94º, nº2 da CNU.
Na competência consultiva, cabe ao Tribunal emitir pareceres a pedido da Assembleia
Geral, Conselho de Segurança ou outros órgãos.

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