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XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.


Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

BLOCOS DE CONCRETO:
CARACTERÍSTICA DO PROCESSO DE
PRODUÇÃO NA REGIÃO
METROPOLITANA DO RECIFE
Carlos Wellington de Azevedo Pires Sobrinho (UPE - POLI)
carlos@itep.br
Gisele Porto Araujo (UPE - POLI)
rubiaval@hotmail.com
Larissa Marques (UPE - POLI)
rubiaval@ig.com.br
Maria Teresa Araújo de Lima (UPE - POLI)
mteresaal@hotmail.com
Rubia Valéria Rodrigues de Sousa (UPE - POLI)
rubia.valeria@gmail.com

Este trabalho apresenta as características do processo de produção e


qualidade dos blocos estruturais de concreto produzidos na região
metropolitana do Recife (RMR). Identifica pontos fracos e fortes em
cada etapa do processo de produção emm 12 empresas avaliadas.
Apresenta uma interpretação sobre a defasagem tecnológica da
empresas produtoras e da pouca ou quase nenhuma utilização do
sistema de alvenaria estrutural na construção de edifícios
habitacionais por parte das empresas construtoras na região
metropolitana do Recife.
Conclui sobre a necessidade de melhoria de processo, adequação de
equipamentos e implementação de controle de qualidade e
enquadramento dos produtos as normas técnicas NBR 12118 (2006) e
NBR 6136 (2006).

Palavras-chaves: : blocos de concreto, alvenaria estrutural, processo


de produção
XXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
A integração de cadeias produtivas com a abordagem da manufatura sustentável.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2008

1 INTRODUÇÃO

O sistema construtivo em alvenaria estrutural utilizado na construção de edifícios


habitacionais está largamente difundido no País, estados da região Sudeste e Sul e alguns da
região Nordeste tem este sistema como alternativo ao sistema construtivo convencional.
A alvenaria estrutural quando comparado ao sistema em estrutura aporticado em concreto
armado apresenta grandes vantagens na construção de edifícios habitacionais até 12
pavimentos, tanto no ponto de vista econômico global quanto no de produtividade.
Três são os requisitos do sistema construtivo em alvenaria estrutural:
• projetos compatibilizados, integrados e adequados ás características do sistema,
esboçado na forma de projeto executivo;
• família de componentes atendendo aos critérios de norma e dos projetos arquitetônico
e estrutural, além do controle e dosagem de argamassa e grautes ajustados às
características desses projetos; e
• utilização de procedimentos construtivos e equipamentos/ferramentas que facilitem a
boa prática da engenharia com racionalização e elevada produtividade.
Além desses requisitos, existem alguns gargalos que precisam ser vencido para provocar as
empresas do setor da construção adotar a alvenaria estrutural alternativo para construção de
edificações.
Um desses é a existência de um setor fabril que produzam blocos normalizados, com
qualidade e que atendam aos requisitos de projeto, sendo este o tema central deste artigo.
Um outro particular da região metropolitana do Recife, diz respeito aos acidentes que
provocaram a ruína de diversos edifícios construídos sob a técnica de alvenaria resistente em
período recente na RMR, técnica esta empírica sem qualquer fundamento normativo, PIRES
SOBRINHO e MELO (2002).
Diferentemente da região metropolitana do Recife, outras regiões metropolitanas do Nordeste,
como de Fortaleza, Natal, João Pessoa, Maceió e Salvador, a utilização do sistema em
alvenaria estrutural vem avançando e dividindo espaço com o sistema construtivo
convencional para edifícios com até 8 pavimentos.

2 OBJETIVO

Com o objetivo incentivar a pratica da construção de edifícios em alvenaria estrutural na


Região, foi desenvolvida uma pesquisa para identificar, caracterizar o sistema de produção e a
qualidade dos blocos produzidos nas principais empresas da fabricação de blocos pré-
moldados de concreto localizados na região metropolitana do Recife.
Para caracterizar a baixa prática da alvenaria estrutural na Região, apenas 12 Empresas
produtoras de blocos pré-moldados de concreto foram identificadas e caracterizadas, sendo
este o universo da pesquisa, algumas destas sem produção diária de blocos e direcionando
sua produção para outros tipos de artefatos de cimento.

3 METODOLOGIA DA PESQUISA

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Foram estudadas 12 empresas produtoras de blocos de concreto na RMR, na ocasião de uma


pesquisa científica fruto de parceria da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco
(FIEPE) e a Escola Politécnica de Pernambuco (POLI-UPE).

Desenvolvemos este trabalho nas seguintes etapas:

3.1 Elaboração do questionário

Para coleta de dados foi desenvolvido pelos autores um questionário, dividido em 5 etapas, e
busca coletar dados referentes à caracterização do bloco de concreto, são eles:

− dados da empresa;
− matérias-prima utilizadas;
− etapas de produção;
− controle de qualidade;
− atuação no mercado.

3.2 Aplicação do questionário

O questionário foi aplicado em canteiros de fábricas das 12 empresas produtoras dos blocos
de concreto. Somando a este, realizou-se um registro fotográfico dos aspectos observados e
por fim elaborado uma avaliação e entregue ao responsável técnico da empresa.

4. CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DAS EMPRESAS


A seguir serão apresentadas as características e os aspectos de produção identificadas nas 12
empresas visitadas:
4.1 Armazenamento dos agregados
Os agregados, areia natural e/ou pó de pedra, representam cerca de 75% a 85% do volume
total do mistura que compõe a massa dos blocos, a sua forma de armazenamento é importante
para evitar contaminação e possibilitar uma dosagem consistente em todo processo. Duas
foram a principais formas de armazenamento encontradas nas empresas:
a) em baias: possibilita um controle granulométrico e evita a contaminação dos agregados de
granulometria distinta ou mesmo de solos e resíduos de produção, além de demonstrar uma
organização maior do canteiro, Figura 1.
b) aos montes: apresenta difícil controle, ocupando áreas maiores e não evita a contaminação
e mistura com outros tipos de agregados, geralmente sem proteção de chuvas e em contato
direto com o solo, Figura 2.

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Figura 1 - Armazenamento de agregados em baias Figura 2 - Armazenamento de


agregados aos montes

O Gráfico 1 mostra o número de empresas que utilizam cada uma das formas de
armazenamento em sua produção.

Tipo de armazenamento dos agregados


9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
em baias 1 aos montes

Gráfico 1 - Tipo de armazenamento dos agregados nas empresas

4.2 Dosagem e forma de proporcionamento


Três são os procedimentos mais utilizados para medição dos materiais para confecção dos
componentes:
a) todo material é medido em peso, desta forma se evita a influência do inchamento do
agregado, tendo-se um controle maior;
b) o cimento em peso e agregado em volume, neste a influência do inchamento afeta a
dosagem da mistura;
c) todos os materiais em volume, o que provoca erros significativos no processo.
O Gráfico 2 mostra o número de empresas que utilizam cada um dos tipos de
proporcionamento relatado.

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Tipo de proporcionam ento


10
8
6
4
2
0
todo em peso agregado em
1 volum e tudo em volum e

Gráfico 2 - Tipo de proporcionamento para fabricação dos blocos

4.3 Equipamentos de mistura


Os equipamentos de mistura são muito importantes para permitir a homogeneização dos
materiais, três foram os tipos encontrados nas empresas vistoriadas:
a) planetário de eixo vertical são os mais eficientes, as palhetas percorrem toda área de
mistura garantindo uma maior homogeneização do material;
b) forçado de eixo horizontal, através de hélices, apresentam uma boa homogeneização;
c) basculante, por tombamento, não é projetado para massas secas, apresentam pouca
eficiência e baixa homogeneidade.
O Gráfico 3 mostra o número de empresas que utilizam cada um dos equipamentos acima.

Equipamentos de mistura
8

0
eixo vertical eixo horizontal eixo basculante
1

Gráfico 3 - Equipamentos utilizados na mistura

4.4 Equipamentos de conformação


Os equipamentos de conformação se constituem na alma da unidade fabril, equipamentos de
baixa eficiência não produzem blocos de qualidade. Três foram os principais tipos de
equipamentos encontrados na pesquisa:
a) vibro-prensas pneumáticas, dependem da capacidade de carga do compressor, mostraram
eficiência na conformação dos blocos;

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b) vibro-prensas hidráulicas, Figura 3, dependem da capacidade de pressão das bombas,


também mostraram eficiência na conformação dos blocos;
c) vibro-prensas mecânicas, Figura 4, são muito limitadas e não possibilitam a conformação
adequada dos blocos, os blocos produzidos apresentam porosidade elevada e baixa
resistência.

Figura 3 - Vibro-prensa hidráulica Figura 4 - Vibro-prensa mecânica

O Gráfico 4 mostra o número de empresas que utilizam cada um dos equipamentos acima.
Equipamento de conformação
Vibro-prensa
8
pneumática

6 vibro-prensa
4 hidráulica
2 vibro-prensa
0 1
mecãnica

Gráfico 4 - Tipos de equipamentos de conformação identificados nas Empresas

4.5 Matrizes de blocos


Por razão da pouca utilização de sistema construtivo em alvenaria estrutural, uma grande
quantidade de empresas ainda fabrica blocos com fundo, conforme mostrado nas Figuras 5 e
6.

Figura 5 - Blocos com furo (conforme) Figura 6 - Blocos sem furo (não conforme)

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O Gráfico 5 mostra o número de empresas que utilizam matrizes conformes e não conformes.

caracteristica das matrizes

8
S/fundo
6
conforme
S/fundo não
4 conf.
C/fundo não
2 conf.
S/padrão
normal.
0

Gráfico 5 - Características das matrizes na fabricação de blocos


4.6 Equipamentos e características do piso para transporte e estoque
É muito importante que nas primeiras idades, principalmente após a moldagem, os blocos
sofram menos impactos. Pisos regularizados e transportes sobre rodas com câmaras de ar
ajudam de sobre maneira à influência negativa dos impactos e vibrações, como ilustrado nas
Figuras 7 e 8.

Figura 7 - Carro de 2 rodas em piso irregular Figura 8 - Carro de 2 rodas em piso


irregular

O Gráfico 6 mostra o número de empresas que possuem equipamentos de transporte e as


características do piso

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transporte e características do piso


5
Empilhadeira/re
4 gular
Carros piso
3 regular
2 Carros piso
irregular
1
manual
0 1

Gráfico 6 - Tipos de transporte e características do piso

4.7 Câmaras e áreas destinadas à cura inicial


O vento e o sol roubam a água rapidamente da superfície, de um produto que já tem pouca
água, deixando-os quebradiços e com menor resistência e maior variabilidade. O ideal é
manter os blocos em ambiente úmido e sem ventilação por um maior período possível.

Figura 9 - Câmara controlada Figura 10 -


Câmara parcialmente controlada

O Gráfico 7 mostra o número de empresas que utilizam câmaras ou áreas apropriadas a cura
inicial dos blocos produzidos.

Condições de cura
8

6
Prot vento c/umid
4 N/pro vento c/umid
N/pro vento s/umid
2 exposto sol e vent

0
1

Gráfico 7 - Utilização de câmaras e áreas para cura inicial

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4.8 Rastreabilidade
Blocos identificados, e se possível paletizados, possibilitam a identificação, a caracterização
da produção e a origem de algumas não conformidades constatadas. Possibilita também o
acompanhamento dos ganhos de resistência e uma maior organização da empresa.

Figura 12 - Lote paletizado e etiquetado (rastreável) Figura 13 - Lote em estoque aos montes (sem
rastreamento).
O Gráfico 8 mostra o número de empresas que utilizam algum tipo de controle para
rastreamento dos estoques
R a s t r e a b ilid a d e
12
10
8
R a s t. c o m p a le tiz .
6 R a s t. a o s m o n te s
4 S e m r a s tre a b ilid a d e

2
0 1

Gráfico 8 - Tipo de rastreabilidade dos estoques


5 AVALIAÇÃO DO ENQUADRAMENTO ÀS NORMAS E DA QUALIDADE
Algumas das empresas pesquisadas não apresentavam blocos estruturais em estoque, a
avaliação do atendimento aos critérios de qualidade especificados na NBR-6136 (2006) –
Blocos vazados de concreto simples para alvenaria estrutural – Especificação, e NBR-12118
(2006) – Blocos vazados de concreto simples para alvenaria – Método de ensaio.
Os resultados dos ensaios dimensionais e de resistência à compressão, apresentados no
Gráfico 9, mostram o número de não conformidades (NC) encontradas em cada uma das
amostras ensaiadas.
28
26
24
22
20
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
1 2 3 4 5 6 7 8

NC dimensionais e forma Resistência em MPa Desvio padrão da resist.

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Gráfico 9 - Resultados dos ensaios dimensionais e de resistência à compressão


6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pouca demanda de blocos estruturais por parte das empresas construtoras provocam pouco
interesse nas empresas produtoras de blocos em investir em equipamentos e tecnologia na
fabricação dos mesmos. A não existência de estoque de blocos ou o não interesse na sua
fabricação compromete a utilização do sistema em alvenaria estrutural na região.
A julgar pela disseminação da alvenaria estrutural em quase todos os estados da região
Nordeste, é possível concluir que a componente cultural, decorrente dos acidentes em
edifícios construídos em alvenaria resistente (prédios tipo caixão), é um fator que interfere na
sua não adoção nesse Estado.

7 AGRADECIMENTOS

A FIEPE - Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco pelo financiamento da


pesquisa que possibilitou o desenvolvimento deste artigo e a ABCP-NE pelo apoio junto às
empresas produtoras de componentes pré-moldados na Região Metropolitana do Recife.

8 REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND, Pré-fabricados de Concreto,


material didático, São Paulo, 2006.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR 6136 - Blocos vazados de


concreto para alvenaria estrutural. Rio de Janeiro, 2006.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR-12118 – Blocos vazados de


concreto simples para alvenaria – determinação da absorção de água, do teor de
umidade e da área líquida, Rio de Janeiro, 2006.

OLIVEIRA, R.A e PIRES SOBRINHO, C.W.A- Acidentes com prédios em alvenaria


resistente na região metropolitana do Recife 4ª International Conference on the Behaviour
of Demaged Structures. João Pessoa, Brasil, 2005.

PIRES SOBRINHO, C. W. A e MELO, L.V.- Sistema construtivo em alvenaria utilizado


na região metropolitana do Recife, Nordeste do Brasil- razões técnicas de sua
inviabilidade, VII International Seminar on Structural masonry for Developing Countries,
Belo Horizonte, 2002.

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