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Ano LI

111
JUL-SET | 2023

& Construções ISSN 1809-7197


www.ibracon.org.br

NORMAS TÉCNICAS

PROJETO E EXECUÇÃO DE ESTRUTURAS


DE CONCRETO À LUZ DAS NORMAS
RECÉM-REVISADAS

PERSONALIDADE
ENTREVISTADA ENCONTROS E NOTÍCIAS ENTENDENDO O CONCRETO
ALIO KIMURA: MEDIDAS PARA A MÓDULO DE ELASTICIDADE:
DESENVOLVIMENTO DE NEUTRALIDADE DO CARBONO POLÊMICAS E SOLUÇÕES
SOFTWARES PARA ANÁLISE NA CADEIA DO CONCRETO
E PROJETO DE ESTRUTURAS
2 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções
& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 3
Sumário
INDUSTRIALIZAÇÃO Ano LI

111
DA CONSTRUÇÃO
JUL-SET | 2023

& Construções ISSN 1809-7197


www.ibracon.org.br

43 Aplicativo on-line para verificação de


alvenaria estrutural armada de acordo com
NORMALIZAÇÃO TÉCNICA
NORMAS TÉCNICAS

a nova NBR 16868 em muros de arrimo PROJETO E EXECUÇÃO DE ESTRUTURAS

14
DE CONCRETO À LUZ DAS NORMAS
Aplicação dos critérios e métodos da RECÉM-REVISADAS

NBR 15421:2023- projeto de estruturas PESQUISA E DESENVOLVIMENTO


resistentes a sismos
55 Dimensionamento de vigas de concreto

20 Um olhar crítico sobre o procedimento


simplificado das forças horizontais da
armado com barras de FRP segundo a
Prática Recomendada IBRACON/ABECE 2021
e ACI 440.1R (2015)
NBR 15421:2023

61
PERSONALIDADE

25 Projeto de Revisão Análise numérica de ENTREVISTADA


ALIO KIMURA:
DESENVOLVIMENTO DE
ENCONTROS E NOTÍCIAS
MEDIDAS PARA A
NEUTRALIDADE DO CARBONO
ENTENDENDO O CONCRETO
MÓDULO DE ELASTICIDADE:

vigas de CRFA com base


POLÊMICAS E SOLUÇÕES
SOFTWARES PARA ANÁLISE NA CADEIA DO CONCRETO

2023 da ABNT NBR


E PROJETO DE ESTRUTURAS

15200: mais clareza na ABNT NBR 16935


(2021) Créditos de Capa
nos procedimentos e Arte-final produzida por Alio Kimura
atualização textual

ESTRUTURAS EM DETALHES 68 Desenvolvimento de concreto drenante


com resíduo de borracha de pneu
Seções
35 Coretec Tools – Concreto
Armado: uma plataforma
73 Durabilidade de concretos com agregado graúdo
reciclado frente a ação do dióxido de carbono 5 Editorial
7 Coluna Institucional
online para auxílio
no projeto de vigas
de concreto armado
78 Comparativo entre CAA com fíler calcário
e CAA com resíduo de beneficiamento de 8 Converse com o IBRACON
mármore e granito 9 Personalidade Entrevistada:
conforme as prescrições Alio Kimura
da NBR 6118 ENTENDENDO O CONCRETO 32 Entidades da Cadeia
53 Normas Técnicas
84 Polêmicas em torno do módulo
de elasticidade do concreto e as 91 Encontros e Notícias
soluções possíveis 97 & Construções
Acontece nas Regionais

Concreto
REVISTA OFICIAL DO IBRACON
Revista de caráter científico, tecnológico e informativo para o setor produtivo da construção civil,
Ano LI
para o ensino e para a pesquisa em concreto.
111
JUL-SET | 2023
ISSN 1809-7197
& Construções ISSN 1809-7197
Tiragem desta edição: 2.500 exemplares | Publicação trimestral distribuida gratuitamente aos associados
www.ibracon.org.br

EDITOR-CHEFE PROJETO GRÁFICO E DTP I B R A C O N


à Prof. Oswaldo Cascudo à Gill Pereira Av. Queiroz Filho, 1.700 — sala 407 / 408, Torre D — Villa Lobos Office Park
gill@ellementto-arte.com 05319-000 – Vila Hamburguesa — São Paulo – SP — Tel. (11) 3735-0202
JORNALISTA RESPONSÁVEL
à Fábio Luís Pedroso — MTB 41.728
NORMAS TÉCNICAS
ASSINATURA E ATENDIMENTO
fabio@ibracon.org.br office@ibracon.org.br
PROJETO E EXECUÇÃO DE ESTRUTURAS PRESIDENTE DO COMITÊ à Oswaldo Cascudo à Gibson Rocha Meira
PUBLICIDADE E PROMOÇÃO
DE CONCRETO GRÁFICA
À LUZ DAS NORMAS
à Arlene Regnier de Lima Ferreira Elyon EDITORIAL (concreto e durabilidade) (Instituto Federal de Educação,
RECÉM-REVISADAS
arlene@ibracon.org.br Preço: R$ 12,00 Oswaldo Cascudo (Editor-chefe) à Paulo Helene Ciência e Tecnologia da Paraíba)
(concreto e estruturas) à Gláucia Maria Dalfré
As ideias emitidas pelos entrevistados ou em artigos assinados são de responsa-
bilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, a opinião do Instituto. COMITÊ EDITORIAL à Pedro Teodoro França (Universidade Fed. de S. Carlos)
MEMBROS (obras subterrâneas)
© Copyright 2023 IBRACON à José Julio de Cerqueira Pituba
Alio Kimura à Paulo Fernando Araujo da Silva

C
à
(UFCat)
Todos os direitos de reprodução reservados. Esta revista e suas partes não po- (pavimentos)
dem ser reproduzidas nem copiadas, em nenhuma forma de impressão mecâni- (informática no projeto estrutural) à Maria del Carmen A. Perdrix
ca, eletrônica, ou qualquer outra, sem o consentimento por escrito dos autores à Arnaldo Forti Battagin à Vinicius Caruso
e editores. (Universitat Politècnica
(cimento e sustentabilidade) (saneamento)
de Catalunya)
INSTITUTO BRASILEIRO DO CONCRETO à Bernardo Fonseca Tutikian
Fundado em 1972 PRESIDENTE DO à María Josefina Positieri
(cimentos especiais)
PERSONALIDADE Declarado de Utilidade Pública Estadual COMITÊ CIENTÍFICO (Universidad Tecnológica
ENTREVISTADA Lei 2538
ENCONTROS de 11/11/1980
E NOTÍCIAS ENTENDENDO O CONCRETO à Cláudio Vicente Mitidieri Filho
Gláucia Maria Dalfré Nacional)
ALIO KIMURA:
DESENVOLVIMENTO DE Declarado
MEDIDAS PARA A
NEUTRALIDADE de Utilidade
DO CARBONO
MÓDULO DEPública Federal
ELASTICIDADE:
POLÊMICAS E SOLUÇÕES (qualidade e desempenho)
SOFTWARES PARA ANÁLISE
Instituto
DEBrasileiro do Concreto Decreto 86871 de 25/01/1982
NA CADEIA DO CONCRETO à Maria Teresa Paulino Aguiar
E PROJETO ESTRUTURAS
à Emílio Minoru Takagi
COMITÊ CIENTÍFICO (Universidade Federal de
PAULO HELENE (aditivos e adições)
Diretor Presidente MEMBROS Minas Gerais)
à Ercio Thomaz
à Alessandra Castro à Pedro Castro Borges
JULIO TIMERMAN ROBERTO CHRIST (sistemas construtivos)
Diretor 1º Vice-Presidente / 1º Tesoureiro Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento (Universidade de São Paulo) (Centro de Investigación y
à Fabiana Lopes Oliveira
à Andrielli Morais de Oliveira de Estudios Avanzados)
ENIO JOSÉ PAZINI FIGUEIREDO GUILHERME ARIS PARSEKIAN (arquitetura e projeto)
Diretor 2º Vice-Presidente Diretor de Publicações (Universidade Federal de Goiás)
à Pedro Garcés Terradillos
à Frederico Falconi à Eduardo Cabral
CLÁUDIO SBRIGHI NETO ALEXANDRE AMADO BRITEZ (Universidad de Alicante)
Diretor 1º Secretário Diretor de Eventos (fundações) (Universidade Federal do Ceará)
Guilherme Parsekian à Rafael Alves de Souza
à à Eduardo Moraes Rêgo Fairbairn
CARLOS JOSÉ MASSUCATO EMÍLIO MINORU TAKAGI (UEM)
Diretor 2º Secretário Diretor de Cursos (alvenaria estrutural) (Univ. Federal do Rio de Janeiro)
à Íria Lícia Oliva Doniak à Enio Pazini Figueiredo à Rodrigo de Melo Lameiras
JESSIKA MARIANA PACHECO MISKO PATRÍCIA BAUER L. GASPARIAN
Diretora 2º Tesoureira Diretora de Certificação de Pessoal (industrialização da construção) (Universidade Federal de Goiás) (Universidade de Brasília)
à Lydio dos Santos B. de Mello à Fernando Branco à Selmo Kuperman
CARLOS AMADO BRITEZ BERNARDO FONSECA TUTIKIAN
Diretor Técnico Diretor de Marketing (normalização técnica) (Universidade de Lisboa) (Desek)
à Mauricio Linn Bianchi à Fernanda G. da Silva Ferreira à Sérgio H. Pialarissi Cavalaro
CÉSAR H. SATO DAHER JÉSSICA ANDRADE DANTAS
Diretor de Relações Institucionais Diretora de Atividades Estudantis (sistemas construtivos) (Universidade Fed. de S. Carlos) (Loughborough University)

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Editorial
Desmaterializar as estruturas
de concreto

A
utilização do reduzir o CO2 da energia usada no processo de produção e
concreto arma- armazenar ou utilizar as emissões restantes de CO 2 .
do é a alternativa O Brasil vem fazendo a sua lição de casa nas últimas déca-
mais econômica das e tem um dos menores índices de emissões específicas
e ambientalmente correta de CO2 no cimento do mundo.
em comparação com outros
materiais de construção. O O IBRACON vem pautando a sustentabilidade desde o fi-
concreto armado é indis- nal da década de 80, com ações efetivas sobre a disse-
pensável para a construção minação do conhecimento, de tecnologia e das melhores
de edifícios e obras de in- práticas para a reciclagem e usos de resíduos de constru-
fraestrutura nos países em ção e demolição, com a introdução do conceito de rendi-
desenvolvimento, como o mento ou eficiência ambiental através do índice de kg de
Brasil, para melhorar a qua- cimento/MPa, e com a alteração das prescrições da norma
lidade de vida da população. ABNT NBR 6122 — Projeto e Execução de Fundações.

Todavia, as estruturas de concreto atingiram mais de No compromisso assumido com a sociedade na Declaração
1,7 Gt de emissões antropogênicas de CO2 em 2020, res- IBRACON sobre a Sustentabilidade do Concreto, entende-
pondendo por 5-6% das emissões globais. A perspec- mos que o IBRACON é a entidade técnica aglutinadora
tiva é a demanda global por cimento e aço aumentar de todos os segmentos da cadeia produtiva do concreto:
12% a 23% e 14% a 40%, respectivamente, até 2050 em compa- o IBRACON está em posição privilegiada para promover
ração a 2014. Por isso, é urgente e necessário encarar o desafio uma visão de sustentabilidade sistêmica e integradora de
para limitar o aquecimento global e as suas consequências. todas as etapas do processo construtivo. A desmaterializa-
ção deve ser ampliada. Temos que: reduzir a quantidade de
A recomendação do Painel Intergovernamental de Mudanças clínquer no cimento (kg de CO2 /ton de cimento), reduzir
Climáticas (IPCC), para que o balanço entre as emissões e re- a quantidade de cimento no concreto (kg de CO2 /m³ de
moções de CO2 seja igual a zero até 2050, é reduzir as emis- concreto) e reduzir a quantidade de concreto nas obras
sões de CO2 e compensar as emissões remanescentes — com (kg de CO2 /m² construído). Desta forma, o indicador a ser
aumento de cobertura florestal e com captura e estocagem otimizado será outro: kg de CO2 /m² construído.
de carbono. O Brasil, sendo signatário do Acordo de Paris, que
limita o aquecimento global a 1,5 °C, se comprometeu com Em 2022, o IBRACON retomou as ações do CT 101
as metas de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (Comitê Técnico IBRACON/ABCIC/ABECE de Sustentabili-
(GEE) em até 50% até 2030 e a neutralidade em 2050. dade do Concreto), trabalhando de uma forma estruturada
com toda cadeia da construção. Para 2023, 6 Grupos de
Recente pesquisa do McKinsey Global Institute estimou em Trabalhos (GTs) foram estruturados com profissionais da
cerca US$ 275 trilhões o investimento em ativos fixos até academia, associações, projetistas, arquitetos, produtores
2050 para a transição para o net-zero. Para a América Lati- e construtores altamente qualificados e trabalhando de
na, região mais suscetível a choques relacionados ao clima, forma voluntária no desenvolvimento das atividades distri-
a estimativa é de US$ 20 trilhões. buídas nos seguintes temas: Normalização, Projeto, Mate-
riais, Recarbonatação, Pré-fabricados e Concepção.
O Fórum Econômico Mundial de 2023 anteviu que a des-
carbonização da cadeia de valor da indústria do cimen- Para avaliar o desempenho ambiental de materiais cimen-
to virá de reduzir a quantidade de clinquer no cimento, tícios e de estruturas de concreto armado, por meio de

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indicadores de desempenho ambiental objetivos e quan- gases de efeito estufa, necessário para a estruturação do
titativos, com base na abordagem do ciclo de vida e foco roadmap do concreto brasileiro, os GTs de Projeto, Mate-
nos principais aspectos ambientais relacionados ao con- riais e Concepção trabalham de forma coordenada entre
creto, está sendo elaborada a Prática Recomendada — si nas propostas das ações e com os trabalhos desenvolvi-
Avaliação do Desempenho Ambiental de Materiais Cimen- dos pelo CT 304 — Comitê Técnico IBRACON/ABCIC de
tícios e Estruturas de Concreto Armado. Esta iniciativa está Pré-Fabricados de Concreto.
alinhada com os esforços firmados no acordo de coopera-
ção entre o IBRACON e o CBCS — Conselho Brasileiro de Todo o esforço que está sendo realizado será necessário
Construção Sustentável para termos uma ferramenta que para mobilizar a cadeia da construção para concebermos,
permita calcular indicadores de desempenho ambiental de projetarmos e construirmos com a menor pegada de CO2 .
produtos de construção a partir de bases nacionais e dos Estudos demonstraram que as emissões de CO2 por m²,
conceitos de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). Do acordo com a adoção de dados nacionais para edifícios de múlti-
de cooperação firmado com o GLOBE Consensus (RILEM, plos andares e residências variaram de 60 kg CO2 eq/m² a
CIB, ECCS, fib e IABSE), o CT 101 está participando efetiva- 100 kg CO2 eq/m², ou seja, temos muito o que fazer.
mente do desenvolvimento do Benchmarking of Resource
Use and Embodied CO2 in Buildings, com o apoio de profis- Desmaterializar é o compromisso assumido pelo IBRACON
sionais brasileiros nesta iniciativa global. No campo da Re- para atingirmos os nossos objetivos da sustentabilidade:
carbonatação, está sendo proposta uma metodologia para Fazer mais com menos!
quantificar o CO2 fixado por recarbonatação, bem como a
determinação do potencial de fixação de CO2 . CARLOS MASSUCATO
diretor 2º secretário do IBRACON e coordenador do

Para definirmos as ações de mitigação das emissões dos CT 101 Comitê Técnico de Sustentabilidade do Concreto

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Coluna Institucional
Pavimentando o futuro
das próximas gerações

R
ealizar um congres- nossa bandeira “Concretizando a inovação e a sustentabili-
so após o sucesso do dade”, estamos pensando nos mínimos detalhes: até a nossa
congresso do Jubileu famosa “mochila IBRACON” está mais moderna e inovadora,
em Brasília é um grande permitindo o acoplamento de um carregador e conexão de
desafio! Brasília foi um mar- um cabo para o smartphone.
co e elevou a régua para
os eventos subsequentes. Desde 2020 também iniciamos uma campanha forte em todas
Para manter a excelência as mídias sociais, o que refletiu na captação de mais associa-
dos congressos brasilei- dos, expositores e patrocinadores. O 64CBC2023 já está com
ros do concreto (CBC — recorde de inscritos. Praticamente todos os estandes já estão
IBRACON), a Diretoria de locados e com os patrocínios já contemplados, fruto do esfor-
Eventos está focada no que ço de todas as diretorias e da Secretaria Executiva.
há de melhor em Florianó-
polis — SC e no Brasil, para Teremos surpresas em todos os eventos de confraternização,
proporcionar uma experiência única. como na abertura, almoços e jantar de encerramento, com
muita interação e cultura, para realmente proporcionar uma
Os eventos começam a ser discutidos mais de um ano antes, experiência inesquecível. Só quem já esteve em um congresso
a diretoria se reúne frequentemente com a Presidência, espo- do IBRACON é que sabe da energia e sinergia reinante!
radicamente com o conselho e mensalmente com os diretores.
Durante o ano do Jubileu, junho de 2022 a junho de 2023, o Todo esse esforço vale quando vemos centenas de jovens de-
IBRACON promoveu diversos eventos para comemoração do dicando semanas, meses, para apresentar trabalhos, participar
Cinquentenário na maioria das Regionais, sempre com conte- de eventos e concorrer com as equipes nos diversos concursos
údo técnico de altíssima qualidade, que é marca do Instituto. do IBRACON. E tem mais surpresa, teremos verdadeiras obras
em inovação e ultra high performance concrete presentes nes-
O 64º Congresso Brasileiro do Concreto será no Centro de se ano, desde o acesso, e durante todo o evento.
Convenções de Florianópolis (CentroSul), local amplo, bem lo-
calizado, com infraestrutura funcional e tecnologia de ponta. Participe do 64CBC 2023 IBRACON, de 18 a 21 outubro de
A diretoria regional está cuidando de todos os detalhes, para 2023, em Florianópolis — SC. Confira a programação completa
transformar a área em um verdadeiro “canteiro de eventos”. em nosso site: https://concreto.org.br/64cbc/, que conta com
Lá teremos espaço para todas as atividades, como palestras, os principais profissionais da área acadêmica e profissional do
seminários, cursos e concursos, além de ter as áreas de con- Brasil e de várias partes do mundo, ministrando palestras, cur-
vivência, como nossa feira de expositores e patrocinadores, sos e seminários.
a FEIBRACON, e restaurante com capacidade para atender
todo público presente, tipo “all inclusive” (coquetel, almoços, O IBRACON “Concretizando a inovação e sustentabilidade”
coffee-breaks). tem a missão de pavimentar um futuro brilhante para as pró-
ximas gerações!
Nesse ano teremos uma melhoria para o acesso ao Congres-
so, contanto com tecnologia de ponta, para que o ingres- Venha fazer parte desse movimento.
so nas diversas áreas seja ágil e seguro. Tudo está sendo
preparado com carinho pelos diversos membros da Direto- ALEXANDRE BRITEZ
ria, sempre atentos às sugestões dos congressistas. Com a diretor de eventos (2021/2023)

& Construções
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Converse com o IBRACON
1 — Como a variabilidade na composição do posto, de alto
cimento interfere na qualidade do concreto? forno e pozolâ-
nico.
As características e propriedades do con- Quando um ci-
creto vão depender da qualidade e pro- mento apresenta
porções dos materiais com que é compos- escória ou ma-
to, a saber: cimento, agregados graúdos, teriais pozolâni-
agregados miúdos, água de amassamento cos na sua com-
etc. Dentre eles, entretanto, o cimento é posição, estes
o mais ativo, do ponto de vista químico, modificam a mi-
podendo-se afirmar que ele é o princi- croestrutura do
pal responsável pela transformação da concreto, dimi-
mistura dos materiais componentes dos nuindo a perme-
concretos no produto final desejado (uma abilidade, a difu-
laje, uma viga, um pilar etc.). sibilidade iônica e
Definir qualidade do concreto é algo a porosidade ca-
abstrato (sem trocadilhos), mas se con- pilar, aumentando
siderarmos qualidade como o atendi- a estabilidade e a Cinza volante observada sob microscópio eletronico de varredura
mento das propriedades desejadas es- durabilidade do
pecificadas no projeto estrutural para o concreto. Tais fa-
concreto, através de um estudo de dosa- tores repercutem
gem, podemos afirmar que a composi- diretamente no
ção do cimento, em igualdade de outras comportamento
condições, tem influência no desempe- do concreto, me-
nho mecânico, reologia e durabilidade lhorando seu de-
de um concreto. sempenho ante a
O cimento Portland é composto de clín- ação de sulfatos
quer e de adições (escórias granuladas e da reação álca-
de alto forno, materiais pozolânicos e li-agregado. Ou-
fíleres calcários). O clínquer é o compo- tras propriedades
nente obrigatório presente em todos os são também al-
tipos de cimento Portland. As adições teradas, incluindo
podem variar de tipo e quantidade, de a diminuição do
um cimento para outro e são elas que calor de hidrata-
definem os diferentes tipos de cimento, ção, o aumento
a saber cimento Portland comum, com- da resistência à

Escória granulada de alto forno observada sob microscópio de luz transmitida

compressão em ida- materiais podem apresentar, em igualdade


des avançadas, a me- de condições, menor desenvolvimento ini-
lhor trabalhabilidade cial de resistência. Entretanto, na prática,
entre outras. O fíler verifica-se que as resistências efetivamente
calcário, que pratica- alcançadas pelos cimentos brasileiros em
mente não possui pro- todas as idades superam os limites míni-
priedades hidráulicas, mos estabelecidos pela norma técnica da
contribui para a me- ABNT NBR 16697, que especifica os valo-
lhoria da reologia do res mínimos necessários às aplicações mais
concreto. Dado o fato usuais, mas há exceções. Daí a importân-
de as escórias granula- cia dos consumidores atentarem para os
das de alto-forno e os cimentos com Selo da Qualidade, conferi-
materiais pozolânicos dos pela Associação Brasileira de Cimento
terem menor taxa de Portland e outras entidades.
hidratação em relação ARNALDO BATTAGIN
ao clínquer, os cimen- Membro do Comitê Editorial e chefe dos
Fíler calcário estocado tos com adição desses laboratórios da ABCP

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Personalidade Entrevistada
Alio Ernesto
Kimura
A
lio Kimura é engenheiro civil pela Universidade
Estadual Júlio de Mesquita Filho (Unesp-Bauru), que
se apaixonou pelo desenvolvimento de softwares
para análise e projeto estrutural desde a graduação, em 1993.
Durante o curso de mestrado em estruturas na Escola de
Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo
(EESC-USP), conheceu o diretor da TQS Informática,
Eng. Nelson Covas, em 1999, que o convidou a trabalhar na
empresa, onde atualmente é sócio-diretor.

Alio é secretário da Comissão de Estudo da ABNT NBR 6118,


desde 2012, que acabou de lançar o texto da norma.
“Novas reuniões da comissão serão realizadas assim que a
revisão da norma for publicada, com vistas à publicação de
uma emenda cujo conteúdo se baseará exclusivamente nas
ótimas sugestões recebidas durante a Consulta Nacional”,
informou Kimura na entrevista, realizada anteriormente ao
lançamento da norma, em 28 de agosto.

Saiba mais novidades sobre a revisão e o desenvolvimento de


sistemas computacionais para cálculo de estruturas
de concreto.

IBRACON Quais as circunstâncias e motivações o levaram a passei a usar os primeiros computadores disponíveis na
cursar engenharia civil?
faculdade! Cursar a disciplina opcional de análise matricial
| ALIO KIMURA | Sinceramente, eu tive muita sorte nesta foi marcante. Não me esqueço quando consegui traçar o
escolha do curso. Saí do sul de Minas Gerais, onde nasci, primeiro diagrama de momentos fletores de um pórtico
para uma grande cidade do interior de São Paulo, para plano na tela do computador.
iniciar a faculdade com 17 anos e poucos meses. Me faltavam
maturidade e instrução, apenas sabia que tinha mais IBRACON Qual sua trajetória profissional até entrar na TQS
afinidade com a área de exatas. Fui o primeiro engenheiro Informática e se tornar sócio-diretor?
civil de uma família numerosa. Felizmente, deu tudo certo, | ALIO KIMURA | Assim que me formei, fui aprovado para o
gostei muito do curso. Me sinto feliz e realizado como curso de mestrado em estruturas na Escola de Engenharia
engenheiro civil! de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC-USP).
Cursei o primeiro ano com bolsa e dedicação integral.
IBRACON Ainda na graduação na UNESP-Bauru, você Aprendi muito em todas as disciplinas, tendo publicado
demonstrou interesse por sistemas computacionais para análise
artigo sobre a aplicação de software no ensino de análise
estrutural, tema de seu trabalho de iniciação científica. Por quê? matricial de estruturas. No início do segundo ano, tive o
| ALIO KIMURA | O meu contato com computadores antes primeiro contato com o Eng. Nelson Covas, fundador da
da faculdade foi praticamente nulo. Durante a graduação, TQS, graças a uma indicação do Prof. Edmundo Esquivel,
embora tivesse o apoio de minha família, precisava de auxílio que participou de minha banca de TCC sobre análise
financeiro. Tive então a oportunidade de ser bolsista em computacional de viga sobre base elástica. Passei então
4 trabalhos de iniciação científica, todos eles associados com a cursar o mestrado com dedicação parcial, sem bolsa, e
o desenvolvimento de software. Fiquei fascinado quando ingressei na TQS, onde participei do desenvolvimento de

& Construções
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“ NO ESTÁGIO ATUAL DA IA, POR EXEMPLO,
NOS DEPARAMOS COM RESPOSTAS INCORRETAS
E IMPRECISAS, DENOMINADAS ‘ALUCINAÇÕES’,

QUE PODEM INDUZIR ERROS GRAVES

discernimento e criatividade, atributos


que somente um engenheiro consegue
suprir. A IA certamente ajudará a
aprimorar a elaboração de projetos
estruturais, mas se ela caminhar no
sentido de substituir certas funções do
engenheiro, eu acho temeroso.

IBRACON Como você vê a dualidade


“tecnologia - habilidades do
engenheiro? Você tratou deste assunto
no seu livro “Informática aplicada às
estruturas de concreto”?
| ALIO KIMURA | Essa dualidade gera
grandes desafios na sociedade como
Diagramas de momentos fletores num pórtico espacial um todo. Saber usufruir dos benefícios
inegáveis proporcionados pelos
programas de sua primeira versão para computadores e, ao mesmo tempo, saber discernir que eles (os computadores) é
Windows®, em 2000. que dependem da gente, e não o contrário, é o ponto chave da questão. A geração
atual tem uma relação com a tecnologia absolutamente distinta das gerações de
IBRACON Como desenvolvedor de algumas décadas atrás. A meu ver, não há geração melhor que a outra. Com a
sistemas computacionais para cálculo de tecnologia atual, tarefas complexas
estruturas de concreto, na sua avaliação passaram a resolvidas de forma muita
qual será o impacto da inteligência rápida, passando a impressão de que
artificial na análise e projeto de são fáceis para os mais jovens. Ao
estruturas de concreto? mesmo tempo, entendo que não é
| ALIO KIMURA | A inteligência artificial simples para a geração mais experiente
(IA) impactará todas as áreas de aprender a usar todas as novidades
conhecimento de alguma forma. No que aparecem. Para mim, o contato
projeto de estruturas, não será diferente. colaborativo entre as gerações, unindo
Mas, neste caso, eu tenho minhas os brilhantes engenheiros de gerações
ressalvas. No estágio atual da IA, por mais antigas com os novos talentos que
exemplo, nos deparamos com respostas surgem a cada dia, é fundamental para
incorretas e imprecisas, denominadas o futuro.
“alucinações”, que podem induzir a
erros graves. Projetar estruturas é uma IBRACON Quando e por que você
tarefa complexa e tem relação direta começou a participar das reuniões
com a segurança das pessoas. Sou das comissões de estudo das normas
absolutamente contra a ideia de que na Associação Brasileira de Normas
projetar estruturas é algo que se resolve Técnicas?
com facilidade e com alguns cliques no | ALIO KIMURA | Comecei a participar Capa do livro “Informática aplicada a estruturas
computador. Projetar envolve raciocínio, das reuniões do CT-301 em 2004 para de concreto armado

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auxiliar na elaboração de exemplos
sobre cálculo de pilares para a prática
recomendada do IBRACON, sob
orientação dos profs. Ricardo França
e Fernando Stucchi. Desde então,
sempre me mantive próximo das
reuniões que envolviam a elaboração
de normas para projeto de estruturas.
Minha primeira experiência foi como
secretário da revisão da NBR 15200
(projeto em situação de incêndio),
em 2012.

IBRACON Por que aceitou ser


secretário da Comissão de E studo
de E struturas de C oncreto? Aplicativos desenvolvidos pelo IBRACON/CT 305-SC-4
Q uais propostas e atividades você tem
encampado nesta comissão ajudaram bastante. Atualmente, temos representantes de todas as regiões do
como secretário? Brasil nas plenárias.
| ALIO KIMURA | Basicamente, a
ideia sempre foi e continua sendo IBRACON Em que estágio está a revisão da norma brasileira ABNT NBR 6118:2023?
contribuir de alguma forma com Qual é a previsão para sua publicação?
os colegas de profissão. Elaborar | ALIO KIMURA | O texto da revisão da NBR 6118 colocado em Consulta Nacional
normas técnicas e, principalmente, foi aprovado na reunião ocorrida em dezembro de 2022. Ele deve ser publicado
torná-las aplicáveis no cotidiano é em breve, pois se encontra na fase final de edição na ABNT. Aproveito para
um enorme desafio. Não há norma chamar a atenção de que novas reuniões da comissão serão realizadas assim que
perfeita em nenhum lugar do mundo. a revisão da norma for publicada, com vistas à publicação de uma emenda cujo
O que buscamos é manter um conteúdo se baseará exclusivamente nas ótimas sugestões recebidas durante a
processo evolutivo com segurança. Consulta Nacional. É um caminho novo que encurtará a publicação de novidades
O suporte e auxílio da coordenadora, no texto, e que espero que dê certo.
Enga. Suely Bueno, e dos membros
da comissão facilitam o exercício IBRACON Como o CT 301 Comitê IBRACON/ABECE sobre Projeto de Estruturas de
como secretário, que é um trabalho Concreto contribuiu para a revisão da ABNT NBR 6118:2023?
que envolve organização, paciência | ALIO KIMURA | O papel do CT 301 tem sido primordial nas revisões da NBR
e, sobretudo, respeito com todos 6118, pois ele mantém o grupo de trabalho ativo; boa parte dos membros da
os tipos de opiniões. Felizmente, ao comissão de norma são também membros do CT 301. É comum itens discutidos
longo das últimas revisões, é notória nesse comitê IBRACON/ABECE e publicados na prática recomendada serem
a participação cada vez maior das efetivamente inseridos no texto normativo. Isso aconteceu nas revisões de 2014 e
pessoas, o que é muito gratificante, 2023. Aproveitando o ensejo, em 2019, tive oportunidade de ser coordenador do
pois isso sempre foi um de nossos comitê CT-305/SC4, cujos membros, além de elaborarem o texto-base da NBR
maiores objetivos. Neste ponto, as 15200 que ora se encontra em fase final de revisão, também, de forma inédita,
reuniões remotas pela Internet nos desenvolveram softwares para auxiliar no projeto de vigas e pilares de concreto

“ ELABORAR NORMAS TÉCNICAS E,


PRINCIPALMENTE, TORNÁ-LAS APLICÁVEIS
NO COTIDIANO É UM ENORME DESAFIO

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 11
“ NÃO HÁ ALTERAÇÕES SIGNIFICATIVAS NAS
METODOLOGIAS E FORMULAÇÕES ATUAIS, COM EXCEÇÃO
PARA CONCRETOS DE ALTA RESISTÊNCIA, EM QUE FOI

INTRODUZIDO UM NOVO COEFICIENTE DE FRAGILIDADE

me referi, podendo originar futuros


ajustes na formulação originalmente
publicada na revisão de 2023.

IBRACON O que recomendaria àqueles


que não participaram do processo de
revisão da ABNT NBR 6118 e querem
conhecer as alterações promovidas em
relação à versão publicada em 2014, sem,
evidentemente, recorrer ao método do
“jogo dos sete erros”?
| ALIO KIMURA | Em uma norma que
Figura 15.4 da ABNT NBR 6118 melhorada na versão de 2023
contém mais de 300 páginas como
é o caso da NBR 6118, realmente fica
armado em situação de incêndio, que estão disponíveis aos associados no site muito difícil de detectar as alterações
do IBRACON. realizadas no texto revisado. Neste
sentido, achei brilhante a ideia da
IBRACON Quais as principais novidades a serem trazidas pela revisão da norma ABNT comissão que revisou a norma de
NBR 6118:2023 e quais os impactos delas? Cite um exemplo de como a introdução execução de estruturas de incluir
de novas figuras na norma revisada deve contribuir para esclarecer procedimentos e um anexo informativo sobre as
requisitos nos projetos estruturais. principais alterações introduzidas na
| ALIO KIMURA | A revisão de 2023 mantém a base de 2014, isto é, a abrangência revisão. Particularmente, acho que é
e as seções da norma continuam as mesmas. A grande maioria das novidades um exemplo a ser seguido, pois isso
consiste em melhorias em textos e figuras com o objetivo de esclarecer como os facilitará muito para os usuários das
procedimentos e requisitos devem ser considerados nos projetos estruturais de normas. Não deu tempo para inserir
forma correta. Não há alterações significativas nas metodologias e formulações esse anexo informativo na revisão da
atuais, com exceção para concretos de alta resistência, em que foi introduzido um NBR 6118. Quem sabe poderemos fazer
novo coeficiente de fragilidade. Com relação aos exemplos de figuras, podemos isso na Emenda.
citar a melhoria na Figura 15.4 (pilar-parede) e a introdução da Figura 20.3 (cabos
protendidos próximos a apoios). IBRACON Como a revisão da NBR
6118 foi conduzida considerando-
IBRACON Por que foi introduzido no texto revisado da norma um novo coeficiente de se as interfaces entre estruturas,
fragilidade para o concreto de alta resistência? vedações, revestimentos e instalações,
| ALIO KIMURA | A introdução deste coeficiente foi baseada no novo código principalmente com alvenarias sem função
modelo europeu (MC2020), que está sendo elaborado há alguns anos e estrutural e revestimentos de fachada?
provavelmente será publicado em 2023. Ele corrobora com a preocupação | ALIO KIMURA | Estamos atentos
e constatação de alguns pesquisadores sobre o comportamento frágil do e aptos a discutir melhorias
concreto de alta resistência, que tem aplicação comum em pilares. No entanto, é na modelagem e avaliação do
importante ressaltar que houve algumas variações nas formulações relacionadas comportamento em serviço das
com o coeficiente de fragilidade nos últimos drafts publicados pela fib. Isso estruturas de concreto, que tem
certamente será discutido e reavaliado durante a elaboração da emenda a que impacto direto na interface com

12 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


os elementos não estruturais. Nas preconizados na norma ABNT NBR 6118. O que você tem a dizer como secretário da
últimas revisões, houve alguns ajustes comissão de revisão desta norma sobre o tema?
pontuais neste sentido. | ALIO KIMURA | Esse é um tema discutido com certa recorrência dentro da comissão
de estudos. Sabemos que uma única fórmula jamais irá atender com precisão as
IBRACON Por que até agora não foi necessidades das diversas regiões pelo Brasil afora. Na revisão de 2014, se introduziu
introduzida na NBR 6118 a exigência de a influência do tipo de agregado na formulação, o que certamente ajudou, mas
VUP (Vida Útil de Projeto) mínima de sabemos que ainda há muito a evoluir. Lembro que está claro na norma que a fórmula
50 anos para as estruturas de concreto presente em seu texto serve como uma estimativa quando não há ensaios.
armado e de concreto protendido?
| ALIO KIMURA | Dentro da comissão, IBRACON O ensino nos cursos de engenharia prepara suficientemente os alunos para
há visões diferentes sobre esse tema. serem calculistas de estruturas?
Alguns defendem a introdução do | ALIO KIMURA | A meu ver, os cursos de graduação servem apenas para dar
VUP na norma, outros são totalmente uma base ao futuro profissional, o que por si só é fundamental e precioso. Atuar
contra. Não há consenso. Por isso, não como engenheiro de estruturas exigirá uma dedicação contínua ao longo de
houve nenhuma alteração no texto toda carreira. Não se aprende a projetar uma estrutura em pouco tempo. Há
normativo desde 2003. Mas, estamos um tempo natural de amadurecimento do engenheiro. Por isso, fazer cursos de
abertos a rediscutir o tema quantas extensão e trabalhar sob orientação de engenheiros experientes, é fundamental
vezes for necessário. para os recém-formados.

IBRACON Representantes de IBRACON O que gosta de fazer fora do trabalho?


construtoras e laboratórios do setor | ALIO KIMURA | Além de aproveitar o tempo de lazer com a família e amigos, eu
construtivo têm reclamado da dificuldade gosto muito de jogar tênis. Tenho costume de jogar de 3 a 4 vezes por semana,
e do custo em se alcançar na prática os com amigos engenheiros inclusive, bem como de competir em alguns torneios,
resultados de módulo de elasticidade quando é possível.

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de DURABILIDADE das ESTRUTURAS de CONCRETO

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DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.111.0001

Aplicação dos critérios e métodos


da NBR 15421:2023 – Projeto de
estruturas resistentes a sismos
SELMA H. S. da NÓBREGA – Prof. Titular – https://orcid.org/0000-0002-0279-273X (selma.nobrega@ufrn.br) | UFRN
PETRUS G. B. da NÓBREGA – Prof. Titular – https://orcid.org/0000-0002-8597-0158 (petrus.nobrega@ufrn.br) | UFRN
SERGIO H. de C. SANTOS – Prof. Titular – https://orcid.org/0000-0002-2930-9314 (sergiohampshire@poli.ufrj.br) | UFRJ

RESUMO

N
o início dos anos 2000 a comunidade
técnica brasileira logrou publicar di-
versas normas relativas ao projeto de
estruturas, algumas inéditas, destacando-se
a NBR 6118, a NBR 14432, a NBR 15200 e
a NBR 15421. Esses documentos viabilizaram
pela primeira vez, em 2008, o reconhecimen-
to pela ISO (International Organization for
Standardization) da NBR 6118 como documen-
to de validade internacional. Analogamente,
em mais uma iniciativa de modernização, várias
dessas normas foram revisadas a partir de
2020, dentre elas a NBR 15421, Projeto de A B
estruturas resistentes a sismos. Este artigo
apresenta as suas principais alterações e seus FIGURA 1
critérios na forma de um roteiro de projeto Mapa de aceleração sísmica horizontal característica da NBR 15421:2006 (a)
aplicado a um exemplo didático, cujo objetivo é e da NBR 15421:2023 (b)
fazer o leitor familiarizar-se com seus termos,
variáveis e procedimentos.

jeto de estruturas de concreto, de concreto anos em vigor, já existia um conjunto de


Palavras-chave: sismo, concreto, dinâmica, pré-moldado, das ações para o cálculo de estudos e percepções técnicas que nortea-
normalização. estruturas de edificações, e do projeto de riam os trabalhos da Comissão de Estudos
pontes, viadutos e passarelas de concreto. para a revisão dessa norma.
1. INTRODUÇÃO Segundo Nóbrega et al. (2022), dois Um documento base com as principais
A primeira edição da norma brasileira motivos contribuem para um menor co- propostas facilitou e agilizou a discus-
de projeto de estruturas resistentes a sis- nhecimento e difusão da NBR 15421: (1) são e a compreensão das alterações. Em
mos, ABNT NBR 15421, foi publicada em seus objetivos, dado que ela própria esta- verdade, não havia mudanças significati-
2006. Essa temática, considerada comple- belece a sua não aplicação a diversas es- vas nas metodologias e nas formulações
xa e associada apenas a projetos específi- truturas especiais (tais como obras hidráu- vigentes; o foco inicial era rever o texto
cos (ainda) no início dos anos 2000, tem-se licas, arcos, silos, tanques, chaminés, torres, existente, dando-lhe nova redação, quan-
difundido progressiva e significativamente estruturas off-shore, ou que se utilizam de do necessário, a fim de esclarecer dúvidas
em trabalhos acadêmicos ou mesmo nos técnicas construtivas não convencionais); e de interpretação.
projetos contemporâneos. (2) a auto dispensa de seus requisitos para Atualmente o texto da NBR 15421 já
Ademais, desde então, citações acerca as estruturas localizadas na zona sísmica foi aprovado em Consulta Nacional e pu-
da NBR 15421 ou sobre a ação sísmica foram “0”, a qual corresponde a cerca de 80% do blicado oficialmente como 2ª edição,
feitas em várias outras normas de relevân- território nacional. cuja data de referência está estabeleci-
cia: NBR 6118:2007 e 2014, NBR 9062:2017, Não obstante, o meio técnico conside- da como 23/05/2023. Doravante, neste
NBR 6120:2019 e NBR 7187:2021, referências rou em 2022 ser oportuna a revisão des- artigo, este texto será designado como
essas que tratam, respectivamente, do pro- ta referência. De fato, após 16 (dezesseis) NBR 15421:2023.

14 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


2. ESTRUTURA A SER ANALISADA
Considere-se um edifício comercial (de
escritórios) em concreto armado conven-
cional (estrutura formada por pórticos de
vigas e pilares, e lajes maciças), concreto
classe C30, composto de três lajes de piso
e uma laje de cobertura. Sendo a altura de
cada pavimento igual a 2,90 m, a altura to-
tal corresponde a 11,6 m. A Figura 3 ilustra
a forma do pavimento tipo e a maquete vo-
A B
lumétrica do edifício.
Nas lajes de piso, a ação permanente
FIGURA 2 (além do peso próprio) e a ação variável de
Espectro de resposta da NBR 15421:2006 (a) e da NBR 15421:2023 (b) utilização foram determinadas como 2 kN/
m2 e 2,5 kN/m2, respectivamente. Também
foram lançadas alvenarias sobre as lajes e
As duas principais modificações da zonas “2”, e a uniformização do RN e vigas (onde existentes).
NBR 15421:2023 foram: (1) correções no parte do CE como zona “1” com acelera- Admite-se a edificação na cidade de
mapa de perigo sísmico; e (2) ajustes ção constante 0,05 g. O formato do es- Sinop (MT), região central-norte do estado,
no formato do espectro de resposta de pectro de resposta foi modificado, com conforme a Figura 4 ilustra. O ensaio de SPT
projeto. Nos últimos anos vários estu- o patamar máximo ocorrendo já para detectou que o solo do terreno é uma ar-
dos e iniciativas buscaram caracterizar um valor de período (T) ligeiramente gila siltosa média (nas camadas superiores)
um novo mapa sísmico para o Brasil. menor e a curva decrescendo um pouco e uma areia siltosa pouco compacta (nas
Nóbrega et al. (2019) apresentam uma mais acentuadamente após esse pata- camadas próximas ao limite de sondagem),
retrospectiva acerca do tema, sendo o mar de máxima aceleração. cujo número médio de golpes no ensaio re-
trabalho de Alves (2020) aquele que Neste artigo pretende-se apresentar sultou por volta de 10 (dez) a 15 (quinze).
forneceu a base teórica para as cor- um roteiro completo de projeto asso-
reções efetivamente implementadas. ciado a um exemplo de cálculo, discu- 3. PARÂMETROS DA NBR 15421:2023
Igualmente fundamentou o novo espec- tindo-se as fases de definição dos pa- PARA A ANÁLISE SÍSMICA
tro de resposta. râmetros e critérios estabelecidos pela
As Figuras 1 e 2 ilustram tais alte- nova edição da NBR 15421, bem como a 3.1 Determinação da zona sísmica
rações. Em relação ao mapa, tem-se análise estrutural pelos métodos por ela e da aceleração sísmica horizontal
o deslocamento da fronteira entre as prescritos. Desta maneira, o leitor pode característica
zonas “0” e “1” (à esquerda) mais para se familiarizar com os termos, variáveis
dentro do MT, com a geração de novas e procedimentos da norma. A tabela 1 da NBR 15421:2023, ilustrada

A B

FIGURA 3
Planta de forma do pavimento tipo (a) e maquete 3D do edifício (b)

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 15
“0”, nenhum requi- 3.3 Espectro de resposta de projeto
sito de resistência
sísmica seria exigi- A Figura 2b anterior ilustra o espectro
do segundo a pró- de resposta da NBR 15421:2023, cujas ex-
pria norma. pressões matemáticas estão explicitadas
na sua subseção 6.3, e reproduzidas na
3.2. Classe Figura 7.
do terreno Aplicando-as ao caso em questão, che-
e fatores de ga-se a (todas as expressões em m/s2):
amplificação
sísmica no solo [1]
A tabela 2 da
NBR 15421:2023 [2]
estabelece seis
classes do terreno
(A, B, C, D, E e F), [3] (para )
cada uma delas
associada a uma
FIGURA 4 constituição pedo- [4] (para )
Mapa do estado de MT com a indicação da cidade de Sinop lógica (A = rocha
sã, B = rocha, C =
rocha alterada ou [5] (para )
na Figura 5, estabelece cinco zonas sísmi- solo muito rígido,
cas (0, 1, 2, 3 e 4), cada uma delas asso- D = solo rígido, E = solo mole e F = solos
ciada a uma faixa de acelerações horizon- que exigem avaliação específica), forne-
[6]
tais características (tais zonas também cendo valores de velocidade média de (para )
podem ser percebidas no mapa sísmico, propagação das ondas de cisalhamento
Figura 1). e de número médio de golpes do ensaio A Figura 8 ilustra o espectro de res-
Verificando-se o mapa de acelera- SPT para essa classificação objetiva. Adi-
ções (Figura 1b), pode-se inferir que cionalmente, a ta-
a cidade de Sinop está dentro do cír- bela 3 da norma,
culo externo, fronteira da zona 2, mas ilustrada na Figura
não dentro do círculo menor (cuja ace- 6, indica os fatores
leração é constante e igual a 0,075 g). de amplificação
Assim, admitir-se-á que a edificação está sísmica no solo (Ca
na zona sísmica 2, com uma aceleração e Cv) em função da
ag = 0,06 g = 0,6 m/s2 (obtida aproxima- classe do terreno,
damente por interpolação). os quais são im-
Observe-se que se fosse consultada a prescindíveis para
edição anterior da NBR 15421 (Figura 1a), a a construção do FIGURA 6
aceleração seria 0,025 g, bem menor. Mais espectro de res- Fatores de amplificação sísmica no solo da NBR 15421:2023
ainda, como Sinop estaria na zona sísmica posta do projeto.
De acordo com
o enunciado do
problema (espe-
cialmente pela in-
dicação do número
de golpes do SPT),
deduz-se que a
classe do terreno
é do tipo “E” (solo
FIGURA 5 mole) e, para este FIGURA 7
Zonas sísmicas da terreno, dado que Expressões para construção do espectro de resposta
ABNT NBR 15421:2023 a g
≤ 0,10 ∙ g, Ca = 2,5 de projeto
e Cv = 3,5.

16 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


A B

FIGURA 8
Espectros de resposta de projeto adimensional (a) e em m/s2 (b)

posta (curvas vermelhas), sendo a pri- função da natureza da ocupação. suportar forças horizontais calcula-
meira imagem (Figura 8a), o espectro Considerando o edifício como co- das por um procedimento bastante
adimensional, conforme indicado na Fi- mercial, sua categoria de utilização simples, que correspondem a 1% do
gura 2b; e na Figura 8b tem-se o gráfico é a “I”. Esta categorização é idêntica peso efetivo da estrutura. A sub-
já na unidade de m/s 2. Obviamente, as à existente na norma de 2006. seção 7.3.3 refere-se às estruturas
curvas são equivalentes. b) Fator de importância de utilização. das categorias sísmicas B e C, que
Perceba-se que na Figura 8a a reta A cada categoria de utilização, pela podem ser analisadas pelo método
inclinada parte de S a = 1,0 a gs0 (igual mesma tabela 4, tem-se o fator de das forças horizontais equivalentes
a 1,5 m/s 2), e o patamar de valor má- importância de utilização (I). Para a (MFHE, descrito na Seção 9), ou
ximo corresponde a S a = 2,5 a gs0 (igual categoria “I”, o fator I = 1,0. Tal fator por um processo mais rigoroso: o
a 3,75 m/s 2). é idêntico ao existente na norma de método espectral (ME, descrito na
Na Figura 8, além dos espectros da 2006. Seção 10) ou, ainda, a análise com
NBR 15421:2023, tem-se também os espec- c) Categoria sísmica. Pela tabela 5 históricos de acelerações no tempo
tros que seriam obtidos pelas expressões da NBR 15421:2023, assim como na (método da história no tempo, MHT,
da NBR 15421:2006 (curvas azuis traceja- norma de 2006, tem-se três catego- descrito na Seção 11). A norma de
das), para a mesma aceleração do terreno rias sísmicas (A, B e C), dadas em 2006 traz as mesmas informações,
ag = 0,06 g. Como já dito no item 3.1, se função da zona sísmica onde está o porém descritas nas subseções 7.3.1
fosse utilizado o mapa sísmico anterior, edifício (zonas “0” e “1” = categoria e 7.3.2, respectivamente. Nesse con-
a aceleração para a cidade de Sinop seria “A”; zona “2” = categoria “B”; e zonas texto, especificamente para a cida-
ag = 0,025 g, o que provocaria uma mudan- “3” e “4”= categoria “C”). Especifica- de de Sinop, pela norma de 2006
ça muito mais significativa nos espectros mente para a cidade de Sinop, se- nenhuma verificação às ações sísmi-
(dado que a aceleração é outra). Todavia, gundo a NBR 15421:2006, a edifica- cas seria exigida, ao passo que pela
no presente item, o foco foi abordar a al- ção estaria localizada na zona “0” e, NBR 15421:2023, devem ser utiliza-
teração no espectro de ambas as normas portanto, associada à categoria “A”. dos o MFHE ou o ME ou o MHT.
considerando uma mesma base de acelera- A partir da NBR 15421:2023, como a e) Coeficientes de projeto para o sis-
ção (no caso 0,06 g). zona sísmica admitida foi a “2”, a ca- tema sismorresistente. Pela tabela
tegoria sísmica da estrutura é a “B”. 6 da NBR 15421:2023 – similar à da
3.4 Parâmetros e métodos para d) Método de análise. A subseção norma de 2006, mas sem as alter-
a análise sísmica 7.3.2 da NBR 15421:2023 estabele- nativas incomuns para a realidade
ce que para as estruturas localiza- brasileira – faz-se necessário definir
A NBR 15421 contém várias tabelas das na zona sísmica “0”, nenhum três coeficientes de projeto: o de
onde é necessário definirem-se alguns requisito de resistência sísmica é modificação de resposta (R), o de
parâmetros para dar prosseguimento à exigido. As estruturas localizadas sobrerresistência (Ω 0), e o de ampli-
análise. Na sequência, indicam-se tais na zona “1” devem apresentar sis- ficação de deslocamentos (C d). Ad-
variáveis, justificando-as ou explicando- temas estruturais resistentes a for- mitindo, conforme o enunciado do
-as se necessário ou oportuno. ças sísmicas horizontais em duas problema, que o sistema resistente
a) Categoria de utilização. Pela tabe- direções ortogonais, inclusive com é formado por pórticos de concre-
la 4 da NBR 15421:2023, tem-se três um mecanismo de resistência a es- to com detalhamento usual, tem-se
categorias de utilização (I, II e III), forços de torção. Por fim, devem R = 3,0, Ω 0 = 3,0, e C d = 2,5.

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 17
Estes coeficientes são utilizados para
“ponderar” as respostas obtidas por uma TABELA 1
análise elástica do problema, consideran- Períodos e frequências naturais
do que, na verdade, a ação sísmica solicita
a estrutura de uma maneira diferente ao SEM fissuração COM fissuração
que se obtém nas análises computacio- Modo Período Frequência Período Frequência
nais convencionais. Assim, as respostas (s) (Hz) (s) (Hz)
modais (obtidas pelo método espectral) 1 0,905 1,105 1,107 0,903
relacionadas às forças, ou aos momentos 2 0,617 1,620 0,779 1,284
ou às reações de apoio, devem ser multi- 3 0,535 1,868 0,680 1,471
plicadas pelo fator I/R igual, no presente 4 0,309 3,239 0,370 2,701
caso, a 1,0 / 3,0 = 0,33; ou seja, as res- 5 0,207 4,838 0,253 3,948
postas corrigidas são 33% das respostas
elásticas. Já as respostas modais relacio- rigidez. A Tabela 1 ilustra os resultados da força horizontal total (H) a ser apli-
nadas aos deslocamentos absolutos e re- para os cinco primeiros modos de vibra- cada à estrutura, dada pela Equação 7,
lativos devem ser multiplicadas pelo fator ção, admitindo o módulo de elasticidade sendo C s o coeficiente de resposta sís-
Cd/R igual a, neste caso, 2,5 / 3,0 = 0,83; secante, sendo utilizado o sistema TQS mica e W o peso efetivo da estrutura:
ou seja, as respostas corrigidas são 83% v.23.8 para o cálculo numérico.
das respostas elásticas. Ocorre, todavia, que o TQS é um
[7]
Por sua vez, o método das forças ho- software específico para o projeto de Em função das ações permanentes
rizontais equivalentes é um processo es- estruturas de concreto, permitindo a existentes, tem-se 1.880 kN de peso
tático elástico simplificado e conserva- geração de um modelo computacional efetivo para cada um dos pavimentos
dor. A correção, neste caso, não ocorre que contém as ligações viga x pilar “fle- tipo e 1.050 kN para a cobertura; assim,
nas respostas, mas na definição dos va- xibilizadas”, diferentemente dos mode- W = 6.690 kN. O coeficiente C s repre-
lores das forças por meio do coeficiente los derivados diretamente da Análise senta o percentual das cargas verticais
de resposta sísmica Cs, cujo denomina- Matricial de Estruturas. Para avaliar a que é “convertido” em forças horizon-
dor da expressão possui o fator R/I (nes- influência destas ligações, os resulta- tais equivalentes, sendo expresso pela
te caso, igual a 3,0 / 1,0 = 3,00). Perce- dos deste modelo são apresentados na Equação 8:
ba-se que este valor no denominador é Tabela 2, novamente considerando, ou
equivalente a multiplicar o resultado por não, a redução de rigidez. [8]
I/R, como citado anteriormente. Perceba-se que a influência das liga-
ções flexibilizadas é ainda mais relevante Cs deve ser maior que o mínimo
4. ANÁLISE MODAL que a redução de rigidez pela fissuração igual a 0,01 (neste caso, atendido) mas
A primeira etapa de uma análise di- dos elementos: compare-se o resultado do não precisa ser maior que o resultado da
nâmica consiste no cálculo dos períodos caso “COM fissuração” da Tabela 1 com o Equação 9, onde “T” é o período funda-
(ou frequências) naturais e dos modos caso “SEM fissuração” da Tabela 2. Algumas mental da estrutura.
de vibração, o que pode ser chamado notas a respeito desses modelos podem ser
de “análise modal”. Segundo a subseção encontrados em Nóbrega et al. (2022). [9]
8.7.2 da NBR 15421:2023 (“Critérios para
a modelagem”), deve ser considerado 5. ANÁLISE PELO MÉTODO Se “T” for obtido por análise numé-
o “peso efetivo” neste cálculo, o que é DAS FORÇAS HORIZONTAIS rica, ele não pode ser maior que Cup ∙ Ta,
basicamente apenas o peso das cargas EQUIVALENTES dado pela Equação 10, com parâmetros
permanentes e 25% da carga variável de Este método inicia-se com o cálculo definidos pela norma. Para este exemplo:
utilização nas áreas de armazenamento e
de estacionamento.
A subseção 8.7.3 da NBR 15421:2023, TABELA 2
por sua vez, especifica que o modelo Períodos e frequências naturais com ligações flexibilizadas
deve representar a distribuição espacial
de massa e de rigidez em toda a estrutu- SEM fissuração COM fissuração
ra, e que para as edificações de concreto Modo Período Frequência Período Frequência
(s) (Hz) (s) (Hz)
os elementos podem ser admitidos como
1 1,189 0,841 1,352 0,740
fissurados, aplicando-se os fatores de re-
2 0,783 1,277 0,914 1,094
dução de rigidez especificados na ABNT
NBR 6118. Como o presente exemplo se 3 0,632 1,583 0,756 1,322
enquadra nessa previsão, será feita a aná- 4 0,390 2,565 0,440 2,274
lise considerando, ou não, tal redução de 5 0,253 3,945 0,292 3,430

18 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


[10] TABELA 3
Distribuição vertical das forças sísmicas
Assim, tomar-se-á o valor 0,719s
dado pela Equação 10 como o perío- h hacum wpavto Fx
Pavimento Cvx
do “T”, uma vez que todos os cálculos (m) (m) (kN) (kN)
computacionais resultaram em perí- Tipo 1 2,9 2,9 1.880 6.129,42 0,10934 53,357
odos fundamentais maiores que este Tipo 2 2,9 5,8 1.880 13.230,09 0,23600 115,170
valor referencial (vide as Tabelas 1 e 2). Tipo 3 2,9 8,7 1.880 20.750,29 0,37015 180,634
Realizando as devidas substituições na Cobertura 2,9 11,6 1.050 15.949,15 0,28451 138,839
Equação 9, tem-se: SOMA 6.690 56058,95 1,00000 488,000

[11] = 0,073
sultante em cada pavimento tipo cresce necessitam ser revistos e terem sua se-
Assim, adota-se C s = 0,073 (7,3%), à medida de sua elevação. Na cobertu- ção transversal aumentada quando sob
número menor que o obtido no primeiro ra, Fx diminui porque aqui o peso efetivo a influência de ações sísmicas, sejam
cálculo (12,5%). Finalmente, a força ho- é menor. calculadas pelo MFHE ou pelo ME. O
rizontal a ser aplicada à estrutura resul- Dado que o MFHE é um método es- presente exemplo de cálculo não foge
ta, pela Equação 7: tático, é possível compará-lo com a ação à regra, embora todos estes elementos
do vento, usualmente considerada como mostrem-se viáveis ao dimensionamen-
[12] = 488 kN
estática. Para este edifício, a força total to a partir de certos ajustes.
Esta força horizontal deve ser distri- do vento nas direções horizontal e vertical Realizar uma comparação completa
buída ao longo dos quatro pavimentos (em planta) correspondem, respectiva- de resultados pelos diferentes métodos
do edifício e as expressões matemáticas mente, a 46 kN e 128 kN, significativamen- situa-se além dos objetivos deste arti-
pertinentes são indicadas na seção 9.3 te inferiores à ação sísmica determinada go, e necessitaria de um espaço signifi-
da NBR 15421:2023. A cada elevação “x”, pelo MFHE. Em edifícios mais altos é pos- cativo que não está disponível.
tem-se uma força F x. A Tabela 3 resume sível que este resultado seja o inverso.
os cálculos, destacado que o parâme- 7. CONCLUSÕES
tro “k”, expoente de distribuição, possui 6. ANÁLISE PELO MÉTODO Este artigo apresentou os principais
valor 1,11. ESPECTRAL pontos de alteração da NBR 15421:2023,
Importa ressaltar que na Tabela 1, Realizar uma análise espectral só discutindo-os e justificando-os no con-
T = 0,905 s é o período fundamental (ou é possível com o auxílio de programas texto de um exemplo de cálculo didáti-
T = 1,107 s, se considerada a fissuração) computacionais que possuam um mó- co para que o leitor possa familiarizar-
relativo à flexão na direção horizontal dulo específico para este fim. O espec- -se mais facilmente com seus termos,
(em planta), e todos os cálculos ante- tro de resposta indicado na Figura 8b variáveis e procedimentos. Embora os
riores para a determinação das forças é o “input” para que os cálculos dos requisitos sísmicos sejam dispensáveis
sísmicas estão corretos para esta dire- esforços e deslocamentos sejam consi- para as estruturas usuais localizadas na
ção. Analogamente, dever-se-ia repe- derados corretamente, não devendo ser zona “0”, fração majoritária do Brasil, é
tir toda essa marcha de cálculo, agora esquecido que as respostas necessitam importante o engenheiro de estruturas
tomando o período fundamental para ser corrigidas pelos coeficientes ade- conhecer e dominar seus conceitos e
a direção vertical (em planta). Isto não quados (discutidos no item 3.4e). prescrições, dado que podem ser apli-
será feito por limitação de tamanho do Os pilares e as vigas, se dimensio- cáveis a algum projeto de estruturas es-
presente artigo. nados apenas considerando as ações peciais ou de algum edifício localizado
Perceba-se, por fim, que a força Fx re- gravitacionais e de vento, usualmente em zona sísmica.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Alves, F. V. Estudo de sismicidade do Brasil para revisão da ABNT NBR 15421. 2020. 175 f. Dissertação (Mestrado em Projeto de Estruturas) –
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Programa de Projeto de Estruturas, Rio de Janeiro, 2020.
[2] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15421: Projeto de estruturas resistentes a sismo - Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2006.
[3] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15421: Projeto de estruturas resistentes a sismo. Rio de Janeiro: ABNT, 2023.
[4] Nóbrega, P. G. B.; Santos, S. H. C.; Nóbrega, S. H. S.; Pereira, E. M. V. Conceitos a esclarecer da norma NBR 15421 – Projeto de estruturas resistentes
a sismos. In: 63. Congresso Brasileiro do Concreto, 2022, Brasília. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/364337623>
[5] Nóbrega, P. G. B.; Souza, B. R. S.; Felipe, M. L. C.; Nóbrega, S. H. S. Sobre os mapas de perigo sísmico para o projeto de estruturas.
In: 61. Congresso Brasileiro do Concreto, 2019, Fortaleza. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/336672092>

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 19
Normalização Técnica
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.111.0002

Um olhar crítico sobre o procedimento


simplificado das forças horizontais
da NBR 15421:2023
EDUARDO M. V. PEREIRA – Prof. – https://orcid.org/0000-0003-0436-9676 (eduardo.marquesvp@gmail.com) | UFJF
RODRIGO B. ANDRADE – Dout. – https://orcid.org/0000-0003-3448-5205 (rodrigo31ba@gmail.com) | Unicamp
PETRUS G. B. Da NÓBREGA – Prof. – https://orcid.org/0000-0002-8597-0158 (petrus.nobrega@ufrn.br) | UFRN

RESUMO mam ser análogas.

E
ste artigo discute o procedimento sim- São preconizados
plificado das ações horizontais presente mapas com ace-
na ABNT NBR 15421. O procedimento lerações a serem
é comparado com o método das forças hori- utilizadas para es-
zontais equivalentes em termos de forças to- timar as ações so-
tais geradas na base para diferentes períodos licitantes devidas a
de vibração, fatores de importância e classes sismos. Essas acele-
do terreno. Ademais, os fundamentos do pro- rações geralmente
cedimento e a sua aplicabilidade no contexto estão associadas
brasileiro são discutidos e comparados com a um período de
os prescritos pela norma norte-americana retorno (PR). As
ASCE 7-22. Foi possível concluir que a sua acelerações tam-
aplicabilidade não é de todo consistente com o bém têm um solo
que preconiza a norma que serviu de base para a de referência, clas-
ABNT NBR 15421, de maneira que estudos fu- sificado de acordo
com o número mé-
turos devem estabelecer procedimentos mais bem
FIGURA 1
embasados, dada a discrepância entre o procedi- dio de golpes de
Mapa de aceleração sísmica da NBR 15421:2023
mento simplificado e o método das forças equi- SPT nos primeiros
valentes, também demonstrada neste artigo. 30 metros ou com
a velocidade de propagação de ondas de qualquer verificação sísmica ou preconizar
Palavras-chave: sismo, dinâmica, procedimento cisalhamento nesse intervalo. metodologias simplificadas. Este artigo
simplificado. Por exemplo, a NBR 15421:2023 apre- tem como objetivo discutir o procedimen-
senta um mapa com diferentes zonas to simplificado atual da NBR 15421:2023,
1. INTRODUÇÃO sísmicas de aceleração máxima do solo, comparando-o com o da norma americana
O Brasil é um país considerado de bai- com um PR de 475 anos (Figura 1) para ASCE 7-22 (ASCE, 2021), indicando certas
xa atividade sísmica, onde terremotos são um terreno rocha, em que está entre características desfavoráveis na versão
infrequentes e geralmente de baixa mag- 1500 m/s e 760 m/s. Essas acelerações são brasileira, de forma a mostrar caminhos
nitude. Ainda assim, isso não significa que utilizadas para estimar as ações sísmicas onde esta pode ser aprimorada no futuro.
esses sismos não podem danificar ou mes- por diferentes métodos que, por sua vez,
mo fazer colapsar edificações, de sorte que podem ser estáticos (processos aproxima- 2. O PROCEDIMENTO SIMPLIFICADO
isso deve ser avaliado no projeto estrutural. dos e normalmente conservadores) ou di- O procedimento simplificado da
Para isso, o país conta com a ABNT NBR nâmicos. Após a determinação das ações, NBR 15421:2023 para a aplicação de car-
15421, cuja revisão foi recentemente pu- os esforços internos seguem as regras usu- regamentos horizontais é empregado em
blicada, em maio de 2023 (a partir daqui ais de combinação daquelas. regiões de pequena aceleração de projeto
denominada como NBR 15421:2023), para Os critérios no tratamento das ações (zona 1 da norma, Figura 1). Nessas regiões,
prescrever os critérios de análise e dimen- sísmicas variam de complexidade em fun- um carregamento lateral estático propor-
sionamento para ações sísmicas. ção da grandeza dessa aceleração. Em re- cional a 1% do peso efetivo é aplicado em
As normas técnicas internacionais acer- giões de menor atividade sísmica, as nor- cada pavimento, correspondendo assim a
ca das estruturas sismorresistentes costu- mas costumam dispensar a necessidade de 0,01W de força lateral total, onde W é o peso

20 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


efetivo da edificação. Na zona 0, a zona de 3. ANÁLISE DOS PROCEDIMENTOS em norma), função do período de vibração
menor sismicidade da NBR 15421:2023, ne- da estrutura T.
nhuma ação lateral é necessária. 3.1 Descontinuidade dos Por exemplo, para uma região na
Apenas na zona 2 ou superior (onde carregamentos horizontais zona 2 com ag = 0,07g, para um terreno tipo
a aceleração de projeto ag é maior que C (o que leva a um ags0 = 1,2 ∙ ag = 0,084g),
0,05g) é exigida a aplicação de ações sís- Uma das principais críticas ao proce- para para R = 3 e I = 1,5, supondo uma es-
micas pelo método das forças equivalen- dimento simplificado da NBR 15421:2023 trutura com período de vibração baixo (T =
tes ou por processos mais rigorosos. Es- está na forte descontinuidade do carre- 0,2) tem-se:
ses últimos levam em conta não apenas gamento horizontal aplicado, conforme a
a aceleração de projeto esperada, mas zona sísmica e a sua aceleração caracte- [3]
também as características que a prática rística de projeto (ag) associada, quando
de engenharia reconhece como as mais comparado com o método das forças la- Com o valor Cs não necessitando ser
importantes para solicitações sísmicas: terais equivalentes, doravante denominado superior a 0,22 devido ao período da es-
o tipo de solo, a importância da edifica- MFHE. Nesta seção, discute-se a presença trutura. Nesse caso, tem-se uma estrutura
ção, o período de vibração e o sistema e a consequência dessa descontinuidade que receberá 11% de seu peso efetivo como
estrutural adotado. Por outro lado, o pro- para a magnitude das forças laterais totais força lateral total.
cedimento simplificado é praticamente na base. Na Figura 2, apresenta-se o carrega-
independente dessas características cita- Conforme a NBR 15421:2023, e adotan- mento sísmico lateral em termos do co-
das, e de forma mais importante, da pró- do-se o MFHE, a força horizontal total na eficiente de fração Cs, preconizado pela
pria aceleração de projeto esperada para base H é dada em função do peso efetivo norma em função da aceleração ag, dados
a localidade. W e do coeficiente de resposta sísmica Cs pela linha preta em “degraus”. As linhas
Na ASCE 7-22, para zonas de menor (que atua como um coeficiente de fração tracejadas azul, amarela e verde (cada
sismicidade (categoria sísmica A) é exi- do peso): cor associada a uma classe do terreno)
gido um carregamento lateral proporcio- representam qual seria o valor do carre-
nal a 1% do peso, isto é, 0,01 W, de forma
[1] gamento se o MFHE fosse utilizado para
idêntica à zona 1 brasileira. Observa-se, O coeficiente Cs pode ser calculado qualquer zona de aceleração. Nas Zonas 0
porém, que para os EUA não há critério como: e 1 (caracterizadas pelo limite ag = 0,025g),
que absolutamente dispense esta força o procedimento simplificado é o vigente,
lateral (ela sempre será aplicada). Desta [2] de forma que os carregamentos laterais
forma, embora seja plenamente aceitável totais equivalem a valores nulos na zona
que procedimentos simplificados de pro- Onde ags0 é a aceleração corrigida para 0 e 1% do peso total, isto é, 0,01W na
jeto desconsiderem certos efeitos, é de o efeito do tipo de solo, g é a aceleração da Zona 1 (ver traçado preto na Figura 2).
forma geral esperado que esses estejam gravidade, R é o coeficiente de modifica- A partir da Zona 2 (ag > 0,05g), o carre-
a favor da segurança (ou, pelo menos, ção de resposta (que leva em conta o siste- gamento horizontal (conforme o MFHE)
que não estejam contra a segurança), ma estrutural) e I é o fator de importância aumenta abruptamente e se torna cres-
bem como que ofereçam uma transição de utilização. Observa-se que Cs varia line- cente conforme a aceleração de projeto,
relativamente suave para outras metodo- armente em função de ags0 e que ele ainda dependendo também de fatores como
logias quando aplicadas. é limitado por um valor máximo (definido solo e importância da edificação.

A B C

FIGURA 2
Comparação entre as frações do peso efetivo W, para diferentes acelerações de projeto ag. Linha cheia: utilização
do método simplificado e do MFHE. Linhas tracejadas: Cálculo utilizando-se o MFHE para as zonas 0 e 1.
(a) I = 1, T = 0,2s; (b) I = 1,5, T = 0,2s; (c) I = 1, T = 1s

& Construções
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Adicionalmente, o efeito do carrega- como elas são requisitadas para o dimen- ameaça sísmica, denominadas de “Máxi-
mento sísmico como porcentagem do sionamento sismorresistente. Tem-se uma mo Terremoto Considerado” (Maximum
peso efetivo é comparado com o efei- situação onde uma mudança geográfica Considered Earthquake, MCE), por 2/3 —
to máximo de desaprumo exigido pela pequena pode provocar demasiada dife- note-se que, a despeito da terminologia, o
NBR 6118:2014. O carregamento devi- rença no carregamento lateral. MCE é análogo ao mapa da NBR 15421 (Fi-
do ao desaprumo também é usualmente Devem ser apontadas, por fim, algumas gura 1). Nesse ponto, é essencial esclarecer
aplicado como uma força lateral estática. observações importantes. No terceiro caso alguns aspectos acerca do MCE: (1) o PR
O maior ângulo de desaprumo aplicável analisado (Figura 2c), adotou-se T = 1s, ca- das acelerações; (2) a componente hori-
conforme o item 11.3.3.4.1 da NBR 6118:2014 racterístico de edifícios com maior altura. zontal de aceleração; e (3) o fator de 2/3.
é θmáx = 1/200 = 0,005, que está indicado Nesse caso, o procedimento simplificado As acelerações MCE da ASCE 7-22 não
na Figura 2. Assim, esse tipo de compara- (aplicação de 0,01W) posiciona-se a favor estão relacionadas a um PR específico, mas
ção é conveniente para situar os carrega- da segurança para a classe do terreno A em são aquelas que fornecem uma probabili-
mentos horizontais aplicados usualmente relação à tendência linear do MFHE (não dade de colapso de 1% em 50 anos para
em edifícios baixos na prática atual de pro- por acaso, no uso do MFHE na zona 2 ou as estruturas projetadas. Apesar disso, são
jetos brasileiros. acima, esse não pode resultar menor que acelerações da ordem de cerca de 80% a
Inicialmente (Figura 2a) foi conside- 0,01W de força lateral total). Assim, para 100% do que seria, caso tivessem 2.475
rado um edifício em pórticos de concreto essa situação, o fator 0,01W para a zona 1 anos de PR.
armado, cujo coeficiente de modificação é bastante efetivo em sobrepor o efeito do O segundo aspecto tem sua origem
de resposta R = 3, fator de importância carregamento esperado pelo MFHE, sem no fato de que as acelerações sísmicas
I = 1 (relativo a casos usuais), e período de maiores descontinuidades, e ainda aplicado apresentam, de fato, três componentes
vibração T = 0,2s (associado a edifícios de forma muito mais simples ao projeto. Por translacionais. Na norma norte-americana,
baixos). Nessa figura, torna-se perceptível outro lado, mais uma vez o procedimento a referência é a maior das componentes
a descontinuidade no carregamento lateral simplificado resulta menor para classes do horizontais. A norma brasileira, apesar de
aplicado devido ao procedimento simpli- terreno associadas a solos menos rígidos não explicitar isso, mas com base no traba-
ficado e ao MFHE, especialmente para os (terrenos tipo “C” ou “E”). lho que originou o seu mapa (Alves, 2020),
solos menos rígidos. tem como referência a média geométrica
Tal situação é indesejável por alguns fa- 3.2 Limites de aplicação do das duas componentes de acelerações
tores. O primeiro deles é que esse compor- procedimento simplificado horizontais. A ASCE 7-22 menciona que
tamento pode estar contra a segurança em a média geométrica deve ser amplificada
relação ao MFHE. Na zona 0, por exemplo Tendo em vista que o procedimen- por fatores de 1,2 a 1,3 para representar a
(onde ag ≤ 0,025g), nenhum carregamento to simplificado produz um resultado de maior das componentes.
sísmico é aplicado, ainda que carregamen- ações frequentemente inferior ao MFHE, é O terceiro aspecto tem como base a
tos laterais previstos pelo MFHE possam importante discutir se a sua aplicação no suposta existência de uma margem de se-
facilmente alcançar a ordem de grandeza contexto brasileiro encontra justificativa na gurança de 50% no dimensionamento. Isto
do carregamento de desaprumo. Já na sua origem. A norma brasileira é fortemen- é, uma estrutura projetada para 2/3 MCE
zona 1, ainda que o carregamento lateral te baseada na ASCE 7, norma norte-ameri- tem conservadorismo suficiente para re-
pelo procedimento simplificado seja o do- cana de ações e procedimentos de cálculo, sistir ao MCE. Apesar da norma não men-
bro do atribuído ao desaprumo máximo, portanto é relevante discutir como essa úl- cionar a existência dessa margem de se-
valores esperados pelo MFHE podem ser tima lida com o procedimento simplificado. gurança, ela é mencionada diversas vezes
várias vezes maiores. A ASCE 7-22 classifica as estruturas de em publicações relacionadas (Leyendecker
O segundo aspecto indesejado atri- acordo com uma Categoria de Dimensio- et al., 2000; Stewart et al., 2020).
buído a essa descontinuidade está na sua namento Sísmico (CDS), para que os pro- Uma vez determinadas as acelerações
falta de interação com parâmetros impor- cedimentos de cálculo variem em comple- SDS e SD1, a estrutura é enquadrada em uma
tantes como o solo, o período de vibração xidade. Por exemplo, é mencionado que as CDS. Na seção C11.6, a ASCE-7 apresen-
e a importância da edificação. No segundo estruturas da CDS “A” só precisam atender ta, de maneira qualitativa, o desempenho
caso (Figura 2b), utilizou-se um fator de aos requisitos básicos do item 1.4 da norma, esperado de estruturas em cada uma das
importância I = 1,5 associado a instituições sendo apresentado no item 1.4.2 o procedi- CDS. Uma estrutura de CDS “A” é aquela
de emergência ou segurança. Nesse caso, mento simplificado preconizado pela ASCE que, após ser submetida ao MCE, não apre-
observa-se uma discrepância ainda maior 7. Para que uma estrutura seja da CDS “A”, sentaria nenhum dano real. No item C11.7,
para todas as classes do terreno, incluindo as acelerações espectrais de projeto espe- a norma comenta que as acelerações do
forças laterais 10 vezes maiores que 1% do radas no local nos períodos de vibração de MCE normalmente estão abaixo daquelas
peso para a zona 1 e para a classe de ter- 0,2s (SDS) e 1,0s (SD1), que já consideram a associadas a danos graves para a CDS “A”.
reno E. classe de terreno local, devem ser menores Diante do exposto, é possível afirmar
Por fim, o terceiro efeito indesejado na que 0,167g e 0,067g, respectivamente. que o desempenho esperado em uma CDS
forte descontinuidade está na incongru- As acelerações SDS e SD1 são obtidas “A” está condicionado às acelerações MCE,
ência entre as diferentes regiões do país e multiplicando as acelerações do mapa de aquelas que têm cerca de 2.475 anos de PR.

22 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


Além disso, a classificação leva em conta o p. 147), as acelerações espectrais Ss e S1 na acelerações 0,176g e 0,035g deveriam ser
tipo de solo em que a edificação está loca- Zona 1 para terreno classe B e período de multiplicadas por fatores que consideram
lizada, uma diferente componente espectral retorno de 2475 anos são 0,147g e 0,028g, o tipo de solo local. No caso do presente
e um multiplicador de 2/3. Qualquer tenta- respectivamente. Primeiramente, as acele- estudo, as acelerações devem ser conver-
tiva de adaptar esse procedimento a outro rações são convertidas para a mesma com- tidas primeiro para o mesmo solo de refe-
contexto deve se atentar a esses aspectos. ponente espectral de referência da ASCE 7 rência dos fatores, (Seyhan
Na Figura 3 são apresentados os utilizando os multiplicadores apresentados e Stewart, 2014), e depois para o solo que
espectros de resposta para o PR de em seu item 21.1: se deseja (considerado , valor
2.475 anos da Zona 1 (no Nordeste) e classe médio entre os limites de uma classe D).
do terreno A a E, retirados de Alves (2020),
[4] Com base no equacionamento de Seyhan e
junto com o espectro convertido para a má- Stewart (2014), o cálculo é:
xima componente horizontal (superior) e
[5]
esse multiplicado por 2/3 (inferior). Os fa- Posteriormente, o multiplicador de [8]
tores de amplificação de Seyhan e Stewart 2/3 é aplicado para chegar nas acelerações
(2014), que serviram de base para os fatores de projeto:
da ASCE 7, foram utilizados para converter [9]
as acelerações para cada classe do terreno. [6]
Para classes A e E, os valores de ado- Por fim, aplicando-se o multiplicador
tados foram de 1500m/s e 150m/s, respec- 2/3, tem-se SDS e SD1 iguais a 0,20g e 0,08g,
tivamente; para as outras classes, o valor [7] = 0,023g respectivamente. Com base nos resultados,
médio entre os limites foi adotado. é possível perceber que o procedimento
A título de exemplificação, a verifica- Os valores de SDS e SD1 são inferiores a simplificado não poderia ser aplicado.
ção da aplicabilidade do procedimento 0,167g e 0,067g, respectivamente, portan- A partir da Figura 3, é possível per-
simplificado de acordo com a ASCE 7-22 to o procedimento simplificado poderia ceber que para a classe do terreno A
é demonstrada a seguir para um terreno ser aplicado. (Figura 3a) os espectros estão abaixo dos
classe B na Zona 1 no Nordeste (Figura 3a). Caso fosse considerado uma outra clas- limites dados pelos marcadores verme-
De acordo com Alves (2020) (Anexo A, se de terreno, por exemplo a classe D, as lhos, portanto o procedimento simplificado

A B C

D E

FIGURA 3
Espectros de resposta e os limites de aceleração para CDS “A” da ASCE 7-22 (marcadores cor vermelha de ordenadas
0,167g e 0,067g) e diferentes terrenos: a) classe A; b) classe B; c) classe C; d) classe D; e) classe E. A mesma legenda
aplica-se a todas as figuras

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 23
poderia ser utilizado, conforme demonstra- Na edição de 2002, seção 9.5.3, o cri- limites de aplicações (como solo e período
do no primeiro exemplo apresentado. Para a tério de 0,01wx ainda estava associado ao de vibração)?
classe B (Figura 3b) é possível perceber que capítulo de carregamento sísmico. Aqui, Se o critério simplificado no Brasil
a aceleração está abaixo do limite superior a norma nomeia o somatório de wx como pode ser criticado nesses aspectos, seria o
para 0,2s, de maneira que o procedimento “peso sísmico efetivo da estrutura” W caso de melhorá-lo para o contexto brasi-
simplificado não pode ser utilizado, a menos (peso próprio, 25% de carga variável nas leiro, em vez de admitir que esse valor fixo
que o multiplicador de 2/3 seja considerado. áreas de estocagem e algumas definições de porcentagem do peso seja igualmente
Para classes C, D e E (Figura 3c, 3d e 3e), no- como equipamentos permanentes). Já efetivo para os eventos sísmicos excepcio-
ta-se que ambas as acelerações estão abaixo na edição de 2005, seção 11.7.2, o termo nais nas zonas de menor aceleração. Afi-
até do limite inferior, não sendo possível utili- 0,01wx aparece no capítulo de ações sís- nal, nossas considerações de desaprumo,
zar o procedimento simplificado. micas, mas wx passa a ser definido apenas vento, detalhamento estrutural e práticas
como uma porção do peso próprio (sem construtivas são diferentes das dos EUA.
3.3 O papel do procedimento os termos adicionais como os 25% do Assim, é importante uma maior investiga-
simplificado no caso brasileiro peso variável). Em 2010, seção 1.4.3, o ter- ção do quanto o critério sísmico simplifica-
mo 0,01wx (como parcela apenas do peso do é eficiente, e se este pode ser melhora-
Nesta seção, discute-se o próximo tó- próprio no pavimento) aparece no capítulo do de maneira simples.
pico na comparação do critério mínimo 1.4 (integridade estrutural geral). Nos co-
nos EUA e no Brasil. Na ASCE 7, o carre- mentários da versão de 2016 (seção C1.4) é 4. CONCLUSÕES
gamento mínimo é o 0,01W. No Brasil, o mencionado explicitamente que tal seção No presente trabalho, discutiu-se o
carregamento mínimo é, na prática, o de- busca providenciar um sistema de contra- procedimento simplificado de aplicação
saprumo, o vento, e nenhum carregamento ventamento independente de carregamen- das forças horizontais sísmicas da norma
sísmico (na zona 0). Por outro lado, no Bra- tos de vento e sismo. NBR 15421, à luz da ASCE 7. Observou-se a
sil, a primeira nova exigência sísmica cor- Percebe-se que na norma americana, forte descontinuidade desse procedimento
responde ao carregamento de 0,01W (na o uso do termo 0,01W foi se divorciando em relação ao método das forças horizon-
zona 1). Sendo assim, é válida a pergunta: de critérios sísmicos, para receber um ca- tais equivalentes. Além disso, demonstrou-se
Qual o papel do carregamento de 0,01W ráter genérico de integridade estrutural e certa inconsistência entre os parâmetros que
na ASCE 7 e no Brasil? Eles têm o mesmo estabilidade contra forças gravitacionais e limitam o uso da força simplificada no caso
objetivo de servir de carregamento sísmico laterais genéricas. Enquanto isso, no Brasil americano em relação à Zona 1 brasileira,
de projeto? ele ainda é a primeira forma simplificada de no Nordeste. Por fim, apresentou-se breve-
Para ajudar a iluminar as perguntas, ob- análise global devido ao sismo. É evidente mente o desenvolvimento do critério 0,01W
serva-se como a força lateral de 0,01W vem que o critério de estabilidade lateral é bem no contexto americano, hoje praticamente
sendo aplicada na ASCE 7. Seu uso teve iní- atendido pela presença do vento e desa- independente de carregamentos sísmicos.
cio na versão de 1998, seção 9.5.2.5.1, des- prumo na realidade brasileira. Mas, sendo Em seguida, buscou-se argumentar sobre a
crita como Fx = 0,01wx, onde wx é o peso assim, seria conveniente que o 0,01W seja necessidade da revisão do papel do proce-
próprio gravitacional, equipamentos ope- tão independente dos fatores importantes dimento simplificado no contexto brasileiro.
racionais, e 25% do peso variável do pavi- de carregamento sísmico (solo, impor- Este artigo não objetiva invalidar o procedi-
mento em áreas de estocagem (de forma tância da edificação, período de vibração mento simplificado, mas propor que ele seja
muito similar a NBR 15421), e aparecendo e aceleração esperada do solo)? Ade- mais bem avaliado. Procedimentos norma-
em seção dedicada ao carregamento sís- mais, de forma discrepante em relação ao tivos devem ser os mais simples possíveis,
mico da categoria A. MFHE, exclua parâmetros importantes de mas não mais simples que isso.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ALVES, F. V. Estudo de sismicidade do Brasil para revisão da ABNT NBR 15421. 2020. 175 f. Dissertação (Mestrado em Projeto de Estruturas) —
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Programa de Projeto de Estruturas, Rio de Janeiro, 2020.
[2] AMERICAN SOCIETY OF CIVIL ENGINEERS. ASCE/SEI 7-22: Minimum Design Loads and Associated Criteria for Buildings and Other Structures:
Virginia: ASCE, 2022
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15421: Projeto de estruturas resistentes a sismo — Procedimento. Rio de Janeiro:
ABNT, 2006.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto — Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
[5] LEYENDECKER, E. V. et al. Development of maximum considered earthquake ground motion maps. Earthquake. Spectra, vol. 16, no. 1,
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[6] SEYHAN, E; STEWART, J. P. Semi-empirical nonlinear site amplification from NGA-West2 data and simulations. Earthquake Spectra, v. 30, n. 3,
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[7] STEWART, J. P. et al. Risk-targeted alternatives to Deterministic ground motion caps in U.S. seismic provisions. Earthquake Spectra, vol. 36, no.
2, pp. 904–923, 2020.

24 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


Normalização Técnica
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.111.0003

Projeto de revisão 2023 da


ABNT NBR 15200: Mais clareza nos
procedimentos e atualização textual
PETRUS G. B. da NÓBREGA – Prof. Titular – https://orcid.org/0000-0002-8597-0158 (petrus.nobrega@ufrn.br) | UFRN
FABRÍCIO L. BOLINA – Prof. Adjunto – https://orcid.org/0000-0002-0495-099X (fabricio.bolina@ufsm.br) | UFSM

RESUMO operações das equipes de combate, salva- Todas as reuniões da CE transcorreram

E
m 2004, foi publicada a primeira edição mento e resgate durante o incêndio. em um clima de cordialidade e profícua co-
da norma ABNT NBR 15200 – Proje- Mais especificamente, no contexto das laboração técnica, com a participação de
to de estruturas de concreto em situa- estruturas de concreto, em 2004 ocorreu representantes dos diversos segmentos da
ção de incêndio, sendo ela objeto de revisão em a primeira publicação da norma ABNT sociedade (profissionais, projetistas, forne-
2012. Basicamente, seu texto segue o disposto no NBR 15200 – Projeto de estruturas de con- cedores de produtos, membros de institutos
Eurocode 2 (Design of concrete structures), creto em situação de incêndio, sendo ela de pesquisa, representantes de laboratórios
Parte 1-2 (General rules — Structural fire posteriormente revisada em 2012 (ABNT, de ensaios experimentais, acadêmicos e
design). Embora essa referência não tenha 2012). Seus dispositivos guardam estreita professores de universidades, dentre ou-
mudado nos últimos anos, os atuais materiais coerência com o Eurocode 2 – Design of tros). Inicialmente a CE analisou um docu-
empregados na construção civil, a publicação concrete structures, Part 1-2 – General rules mento elaborado pelo CT 305 do IBRACON
de diversos novos documentos técnicos regu- – Structural fire design (CEN, 2004). (Comitê Técnico de Segurança das Estrutu-
lamentadores, e suas terminologias, e, por úl- Embora essa referência europeia não ras de Concreto contra Incêndio), coorde-
timo, os desafios dos projetos contemporâneos tenha mudado nos últimos anos, os atuais nado pelo Engenheiros Alio Kimura e Fabrí-
suscitaram a necessidade de mais um ajuste da materiais empregados na construção civil, cio Bolina. Posteriormente, analisaram-se as
NBR 15200. O processo de revisão perdurou a atualização dos requisitos técnicos e a sugestões individuais enviadas, incorporan-
por todo o ano de 2022, sendo concluído em publicação de diversos novos documen- do-as ou não ao texto final.
2023, e seu texto final será posto em consulta tos regulamentadores (especialmente os Importa ressaltar que, desde o início, a
nacional. Este artigo objetiva explicitar as prin- definidos pelos códigos estaduais de segu- expectativa era proceder a uma reorganiza-
cipais alterações e ajustes, adotando a estraté- rança contra o incêndio e instruções técni- ção da nomenclatura dos métodos de cál-
gia didática de organizar os tópicos na forma de cas dos Corpos de Bombeiros), as novas culo disponíveis, simplificar o texto e tornar
perguntas e respostas com a intenção de faci- terminologias (empregadas em normas mais claros os procedimentos de projeto,
litar a apreensão desses conceitos pelo leitor. recentes associadas a essa temática) especialmente nos trechos que causavam
e, por último, os desafios dos projetos dúvidas de interpretação. Enfim, uma revi-
Palavras-chave: incêndio, concreto, fogo. contemporâneos suscitaram a necessidade são e atualização textual. Mas, dado que os
de um novo ajuste da NBR 15200. Bolina e critérios e métodos de projeto não sofre-
1. INTRODUÇÃO Nóbrega (2023) expõem com mais deta- ram profundas reformulações e suas bases
Garantir a devida segurança contra o lhes o contexto de justificativa de revisão técnicas e científicas estavam preservadas,
incêndio é um requisito fundamental para dessa norma. esperava-se que não houvesse mudanças
a construção civil, abrangendo as diversas A primeira reunião da Comissão de significativas nas metodologias, nas formu-
disciplinas relacionadas ao projeto das edi- Estudo (CE) encarregada da revisão ocor- lações ou nos valores tabulares.
ficações, como a arquitetura, as instalações reu em janeiro de 2022, seus trabalhos O presente artigo tem o objetivo de
hidrossanitárias, as instalações elétricas e perduraram durante todo esse ano, sendo explicitar quais as principais alterações e
as estruturas. concluídos em maio de 2023, quando da ajustes feitos no PR 2023 da NBR 15200 e,
Em relação às estruturas, os objetivos aprovação do texto do Projeto de Revisão para isso, adotará a estratégia didática de
almejados com o adequado projeto são e seu envio para a ABNT. Em breve, todo organizar os tópicos na forma de pergun-
vários e importantes, dentre os quais: (1) esse processo será finalizado com a devida tas e respostas com a intenção de facilitar
limitar o risco à vida humana; (2) limitar consulta nacional. Doravante, neste artigo, a apreensão destas mudanças pelo leitor
o risco de dano à propriedade exposta ao este texto será designado como PR 2023 por meio de um formato mais leve e cria-
fogo; (3) limitar o risco às edificações ad- da NBR 15200, sendo utilizado o acrônimo tivo. Destaca-se, por fim, que existe uma
jacentes e próximas; e (4) limitar o risco às PR para “Projeto de Revisão”. discussão de conceitos em cada uma das

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do mezanino não necessitará atender à
função de compartimentação (devendo-se,
no entanto, atentar para as especificações
exigidas pelo Corpo de Bombeiros do es-
tado onde a edificação se localiza). Este é
um dos poucos casos em que se aplica tal
fundamento. A laje inferior (de piso) e a su-
perior (o teto, acima do mezanino) neces-
sitarão atender à compartimentação, pois
isolam este ambiente daqueles imediata-
mente abaixo e acima (efetivando a com-
partimentação vertical). No entanto, como
a premissa de projeto estrutural em situa-
ção de incêndio praticado pela NBR 15200
estabelece a necessidade de o prédio ser
compartimentado, na quase totalidade dos
casos essa laje deverá atender a esse re-
FIGURA 1 quisito, mesmo que ele não seja expressa-
Pavimento com mezanino
mente exigido pelo projeto de segurança
Fonte: Adaptado de https://www.vivadecora.com.br/decoracao?termo=loft
ao incêndio.

PERGUNTA 4 — A NBR 15200 cita o TRRF


perguntas/respostas em sequência, mas resistência ao fogo para o critério de isola- (Tempo Requerido de Resistência ao Fogo)
que devem ser lidas com a devida crítica, ção térmica (I) possui automaticamente, no em inúmeras passagens. O método tabular,
pois o exaurimento dos aspectos teóricos é mínimo, o mesmo tempo de resistência ao inclusive, fornece as informações (alturas
algo impossível de ser alcançado em pou- fogo para o critério de redução de radiação mínimas, larguras mínimas, etc.) para os
cas linhas. térmica (W). Em suma, as funções perma- diversos valores de TRRF. Mas onde está
necem, com novas designações. Ressalte-se detalhado, no texto da norma, como defi-
2. SOBRE OS REQUISITOS GERAIS que esta alteração foi necessária para possi- nir o TRRF para uma edificação?
bilitar uma convergência das nomenclaturas Resposta — Não é função primária da NBR
PERGUNTA 1 — No contexto dos requi- que estão sendo utilizadas por outras nor- 15200 definir o TRRF, senão o TRF (Tempo
sitos estabelecidos para a estrutura, ela mas técnicas regulamentadoras brasileiras, de Resistência ao Fogo). Isto cabe espe-
ainda deve atender às funções corta-fogo por exemplo, as utilizadas para testes labora- cialmente aos documentos e regulamentos
e de suporte? toriais de estruturas em altas temperaturas, oficiais específicos (especialmente as ins-
Resposta — No sentido qualitativo, sim, mas bem como com o Eurocode 2, Parte 1-2. truções técnicas dos Corpos de Bombeiros
estas terminologias foram alteradas. A ex- de cada estado) ou, na falta destes, à norma
pressão “corta-fogo”, por exemplo, não é PERGUNTA 2 — Todos os elementos es- ABNT NBR 14432 (ABNT, 2001), a partir de
mais utilizada. O PR 2023 da NBR 15200 truturais devem atender às quatro fun- duas informações importantes: a altura da
renomeou os requisitos para: 1) capacidade ções anteriormente citadas? edificação e a sua finalidade (tipo de uso),
resistente (R); 2) integridade (E); 3) isolação Resposta — Não necessariamente todas. A ou também de imposições que são pratica-
térmica (I); e 4) redução de radiação tér- função de capacidade resistente sempre é re- das pelo Corpo de Bombeiros para atender
mica (W); sendo que cada uma dessas no- querida, é mandatória, mas as demais só são às situações diversas (compartimentação,
menclaturas está adequadamente definida exigidas se o elemento estrutural em análise isolamento de riscos, entre outros). A NBR
na Seção 3 – Termos e definições. Importa for um elemento de compartimentação. 15200 fornece subsídios para que o enge-
ressaltar que esta é apenas uma mudança nheiro elabore o projeto das estruturas de
na terminologia, em nada alterando os mé- PERGUNTA 3 — Pode um elemento estru- concreto (ou seja, que possua um TRF)
todos e os valores tabulares anteriormente tural, por exemplo, uma laje, não cumprir para um TRRF já definido. Contudo, de
existentes. Perceba-se que a função “cor- a função de compartimentação? forma subsidiária, a NBR 15200 descreve,
ta-fogo” compreendia a estanqueidade e Resposta — Em teoria, sim, mas essa per- em seu Anexo A, o chamado “Método do
o isolamento térmico, cujos termos foram gunta deve ser respondida com cautela, Tempo Equivalente”, que se constitui em
atualizados para integridade (E) e isolação pois na prática isso dificilmente ocorrerá. um procedimento auxiliar para redução do
térmica (I), respectivamente. A denomina- Pensemos em um ambiente com pé-direito TRRF em, no máximo, 30 min. Esta redução
ção “suporte”, por sua vez, foi alterada para duplo, duas lajes de piso, sendo uma delas se deve ao aspecto benéfico que a arquite-
capacidade resistente (R). Ademais, o PR um mezanino (Figura 1), que constituem tura (pé direito, área em planta, aberturas,
2023 da NBR 15200 indica que o elemen- um mesmo compartimento (por exemplo, entre outros) e o projeto de segurança ao
to que possua um determinado tempo de um apartamento). Nestas condições, a laje incêndio (brigadistas, chuveiros automá-

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ticos, entre outros) podem propiciar na 3. SOBRE AS PROPRIEDADES indicações de h mín (altura mínima), c 1
magnitude das temperaturas do ambiente DOS MATERIAIS (distância entre o eixo da armadura lon-
em situação de incêndio. A Figura 2 ilustra PERGUNTA 6 — Aconteceu alguma gitudinal e a face do concreto exposta
as instruções técnicas dos estados de SP, mudança na Seção 6 – Propriedades ao fogo) e b mín (largura mínima, quan-
RJ e RN, e a Figura 3 apresenta a tabela dos materiais? do aplicável, que é o caso típico das
que serve ao estado de SP para a definição Resposta — Em essência, não, apenas nervuras das lajes nervuradas). Caso
deste TRRF. alguns ajustes de texto (pequenas corre- não haja a exigência, o que dificilmente
ções no português ou na notação de al- ocorrerá, somente os valores de c 1 e b mín
PERGUNTA 5 — O TRRF da minha edifi- gumas variáveis). O Anexo B – Diagrama (este quando aplicável, se laje nervura-
cação pode ser sempre reduzido em 30 tensão-deformação do concreto teve sua da) devem ser respeitados para que a
min, conforme a possibilidade indicada na tabela corrigida para os valores constan- estrutura atenda à propriedade de ca-
Pergunta 4 anterior? tes no Eurocode 2 (CEN, 2004). pacidade resistente (R). Nesse último
Resposta — Compete ao engenheiro de es- caso, a altura da laje (h laje) poderá ser
truturas avaliar a aplicabilidade da redução 4. SOBRE O MÉTODO TABULAR a obtida pelo cálculo na temperatura
de 30 min do TRRF extraído dos documen- PERGUNTA 7 — As tabelas do método ambiente conforme a ABNT NBR 6118
tos e regulamentos oficiais que são prati- tabular foram alteradas? (ABNT, 2023). Por exemplo, admitindo
cados pelo Corpo de Bombeiros. Somente Resposta — Em relação aos valores nu- uma laje maciça contínua e o TRRF =
quando analiticamente demonstrado que méricos, não. Aconteceram algumas 90 min, tem-se, pela Tabela 7 da NBR
a otimização do TRRF for aplicável na res- correções ou acréscimos no texto e nas 15200, que h mín = 100 mm e c 1 = 15 mm. No
pectiva edificação, é que a redução pode notas das tabelas a fim de esclarecer cer- caso da laje do mezanino da Pergunta 3,
ser feita. Diferentemente do que algum tos pontos de interpretação equivocada. h laje não precisaria atender ao valor de
projetista possa interpretar, a simples exis- Pode-se afirmar que as tabelas são as 100 mm, guiando-se exclusivamente pe-
tência do Anexo A da NBR 15200 não sig- mesmas, com melhor suporte textual los requisitos da NBR 6118.
nifica que a edificação será projetada com para a sua utilização.
um “TRRF reduzido em 30 min”. É obriga- PERGUNTA 9 — É permitida a conside-
tória a validação por parte do projetista es- PERGUNTA 8 — Considerando o pavimen- ração do revestimento no cálculo da
trutural, aplicando as equações constantes to exemplificado na Pergunta 3 anterior distância c1 da armadura dos elementos
do Anexo A dessa norma. Contatar um pro- (que possui o mezanino), o que muda na estruturais?
jetista de segurança contra incêndio para aplicação do método tabular se a laje fi- Resposta — É permitida para todos os ele-
a respectiva edificação é de grande impor- zer parte, ou não, da compartimentação? mentos, desde que resguardada a efetivi-
tância para o esclarecimento de qual TRRF R esposta — Se ela fizer parte da com- dade do revestimento, de acordo com a
ela deve atender. partimentação, ela deve atender às norma específica do material empregado.

A B C

FIGURA 2
Exemplos de instrução técnica para definição do TRRF

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FIGURA 3
Exemplo da tabela para a definição do TRRF nas edificações

PERGUNTA 10 — É permitida a devem ser laboratorialmente testados manta acústica entre a laje e o contrapiso,
consideração do revestimento no por procedimentos propostos por nor- por exemplo)?
cálculo das dimensões mínimas dos mas regulamentadoras consagradas”. Resposta — A espessura do contrapiso
elementos estruturais? não pode ser considerada nas dimensões
Resposta — Para lajes lisas, lajes cogu- PERGUNTA 11 — É possível considerar o mínimas das lajes lisas ou cogumelo, em
melo ou pilares não é permitida tal con- revestimento (contrapiso) de uma laje qualquer hipótese. Pode ser considera-
sideração, seja que revestimento for. É na determinação de suas dimensões do para as lajes maciças ou nervuradas,
permitida para as lajes maciças ou ner- mínimas, seja quando ele for aderente, tanto na definição do hmín quanto do c1,
vuradas, e vigas, desde que respeitadas seja quando não aderente (com uma desde que ele seja aderente. Neste caso,
certas condições, essencialmente a da
qualidade da aderência deste reves-
timento, que deve atender às normas
específicas (e listadas na NBR 15200).
De qualquer forma, o PR 2023 da
NBR 15200 expandiu o texto anterior de-
talhando melhor o revestimento à base A B
de gesso (250% de eficiência relativa ao
concreto) e acrescentando: “outros re- FIGURA 4
vestimentos (como tintas contra fogo, Considerações sobre o revestimento nos critérios de verificação das lajes
mantas cerâmicas, argamassas à base Fonte: Projeto de Revisão 2023 da NBR 15200
de vermiculita ou de fibras, entre outros)

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segundo a Figura 4a, pode-se tomar
hlaje = h1 + h2 , sendo h1 a espessura da laje,
em si, e h2 a espessura do revestimento.
Para os contrapisos não aderentes, por
exemplo, quando mantas acústicas ou
de impermeabilização são instaladas na
sua interface com a superfície da laje
(Figura 4b e Figura 5), também pode ser
A B
aplicado o mesmo critério (h1 + h2) para a
definição da espessura, desprezando-se
a espessura da manta (h3). Entretanto, FIGURA 6
as espessuras do revestimento (h2) e da Laje-cogumelo do tipo maciça (a) e nervurada (b)
Fonte: Autores (2023)
manta (h3) não poderão ser considera-
das na definição de c1 .

PERGUNTA 12 — A NBR 15200 indica cla- punção (onde normalmente a laje não pela exposição dessas faces (as maiores)
ramente que a sua Tabela 8 é para lajes tem nervuras, sendo, portanto, tratada quando do uso da Tabela 13. O PR 2023 da
lisas ou cogumelos. Fácil de compreender como maciça – i.e., laje lisa ou cogumelo NBR 15200 adicionou um parágrafo acerca
quando se tem uma laje maciça. Mas qual – naquela região). Trata-se de garantir a dos pilares-parede compostos (Figura 7),
tabela utiliza-se quando no projeto exis- capacidade resistente. indicando que a análise deve ser feita para
tem lajes nervuradas sem vigas? cada uma das lâminas e o resultado indivi-
Resposta — A NBR 6118 apresenta a de- PERGUNTA 13 — Por que a Tabela 12 da dual mais desfavorável adotado para todo
finição de lajes lisas e cogumelo: “Lajes- NBR 15200 (para pilares) só contempla o pilar-parede.
-cogumelo são lajes apoiadas diretamen- “uma face exposta ao fogo”? O que fa-
te em pilares com capitéis, enquanto lajes zer quando o pilar possuir mais de uma 5. SOBRE O MÉTODO ANALÍTICO
lisas são apoiadas nos pilares sem capi- face exposta? E O MÉTODO DO TEMPO
téis”. Ou seja, as lajes lisas e cogumelo Resposta — De fato, a Tabela 12 só consi- EQUIVALENTE
são aquelas que se apoiam diretamente dera os pilares com uma face exposta ao PERGUNTA 15 — O método simplificado
nos pilares, sem vigas, independente- fogo. Frisa-se que este é o método tabular de cálculo foi excluído do PR 2023 da
mente de serem maciças ou nervuradas simples e, para pilares em outras situações NBR 15200?
(ambas estão incluídas nesta definição, podem ser aplicados o método tabular Resposta — Não, ele apenas teve o nome
Figura 6). Perceba-se que a Tabela 8 da geral, descrito no Anexo E, ou o método
NBR 15200 indica alturas mínimas maio- analítico constante na Seção 8. Por último,
res quando comparadas às lajes maciças caso o engenheiro projetista prefira, ele
com vigas e isto se dá especialmente pode ainda seguir o Eurocode 2, Parte 1-2,
pelas solicitações características que que indica valores tabulares para pilares
essas lajes sofrem. Assim, a princípio, com mais de uma face exposta ao fogo.
essa Tabela 8 também deve ser seguida Adianta-se, porém, que os valores mínimos
para as lajes nervuradas que não pos- de largura indicados são significativamen-
suem viga, especificamente na região te conservadores, o que estimula o uso do
dos pilares ou no trecho no qual ocorre método analítico ou do tabular geral.

PERGUNTA 14 — Por que a Tabela 13 da


NBR 15200 (para pilares-parede) só con-
templa uma ou duas face expostas ao
fogo? Como viabilizar os pilares-parede
com mais de uma face exposta ou os pila-
res-parede compostos?
Resposta — Os trabalhos técnicos sobre
os efeitos do incêndio em pilares-parede
são pouquíssimos, havendo uma deficiên-
cia teórica sobre este tema. De qualquer
FIGURA 5 forma, os estudos indicam que o mais re- FIGURA 7
Laje com manta acústica levante para os pilares-parede são as fa-
Fonte: Adaptado de
Pilar-parede composto
https://portalacustica.info/contrapiso-flutuante/ ces maiores (não as menores). Assim, o Fonte: Autores (2023)
projetista pode se guiar essencialmente

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alterado, passando a ser chamado “Método “h é a altura contada a partir do pavi- da área do pavimento onde se situa; (IV)
Analítico Geral”. Destaca-se que o método mento habitável mais baixo até o piso do o pavimento superior da unidade dúplex
analítico para pilares foi mantido, sem qual- último pavimento habitável”. Além disso, do último piso de edificação de uso resi-
quer modificação. indicou-se: “Na medição da altura h da dencial multifamiliar”.
edificação, não serão considerados; (I)
PERGUNTA 16 — O Método do Tem- os subsolos destinados a estacionamento 6. CONCLUSÕES
po Equivalente, indicado no Anexo A, de veículos, vestiários, instalações sanitá- Este artigo apresentou os principais
era um pouco confuso quando definia rias e áreas técnicas sem aproveitamento pontos de alteração do Projeto de Revisão
a variável “h” como a altura do piso para quaisquer atividades ou permanên- 2023 da NBR 15200, discutindo-os na for-
habitável mais elevado da edificação. cia de pessoas; (II) pavimentos superiores ma de perguntas e respostas, um formato
Que piso habitável? Altura em relação a destinados, exclusivamente, a áticos, ca- diferente; porém, leve e didático. Espera-
que referência? sas de máquinas, barriletes, reservatórios -se que, desta forma, a compreensão das
Resposta — Este texto resultou muito de água e assemelhados; (III) mezaninos modificações e novidades sejam apreen-
mais claro no PR 2023 da NBR 15200: cuja área não ultrapasse 1/3 (um terço) didas de maneira mais fluida e intuitiva.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[4] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto — Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2023.
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Entidades da Cadeia
Como funciona o processo
de normalização?
FÁBIO LUÍS PEDROSO – Editor – https://orcid.org/0000-0002-5848-8710 (fabio@ibracon.org.br)

A
normalização é um processo de
formulação e aplicação de regras
para estabelecer as condições que
possibilitem que um produto, projeto, pro-
cesso, sistema, pessoa, bem ou serviço
atendam às finalidades a que se destinam.
O produto da normalização é a norma,
documento estabelecido por consenso en-
tre as partes interessadas (governo, indús-
trias, consumidores e academia) no bem ou
serviço e aprovado por um organismo reco-
nhecido para tal fim – no Brasil, a Associa-
ção Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
“A normalização é um processo que
permite a sociedade sua autorregulação
por ser uma iniciativa do próprio setor, que
percebe nas normas técnicas o resultado
Profissionais participam remotamente de reunião de Comissão de Estudos da ABNT
registrado de debates que elevam os ní-
veis de segurança e melhoram a qualidade, sil. O título reconhece a ABNT como uma zação, é a percepção das partes sobre os
buscando apresentar soluções consensua- associação civil sem fins lucrativos, com benefícios decorrentes da existência de
das tecnicamente para o atendimento de a missão de prover a sociedade brasileira uma norma, dentre os quais: “a redução
pleitos do mercado”, define o presidente de conhecimento sistematizado, por meio de desperdícios, o aumento da qualidade
da ABNT, Mário William Esper. de documentos normativos e avaliação da de bens e serviços por meio da utilização
A primeira norma brasileira foi sobre conformidade de bens e serviços. de métodos reconhecidos e aceitos por to-
cálculo e execução de obras de concreto “A ABNT é uma entidade privada, que dos os elos da cadeia, aumentando assim a
armado (NB-1), discutida e aprovada na 2ª não compõe a administração pública direta confiança dos clientes e contribuindo para
Reunião dos Laboratórios Nacionais de En- ou indireta. Dessa forma, ela não tem poder a segurança no trabalho, uma vez que um
saios, realizada em São Paulo, em 1940. A ini- e expedir documentos legais, não cabendo documento técnico consolida tecnologias
ciativa de propor um texto-base de projeto ainda a ela qualquer poder de fiscalização”, e aperfeiçoa técnicas, aprimorando a pro-
de norma para discussão coube aos enge- esclarece Esper. dutividade”, argumenta Esper.
nheiros civis como Paulo Sá, Fernando Lobo A iniciativa de qualquer norma deve
Carneiro (Instituto Nacional de Tecnologia) partir das pessoas interessadas na melho- COMITÊS TÉCNICOS
e Telemaco van Langendonk (Associação ria dos processos produtivos e na seguran- Para a realização do processo de nor-
Brasileira de Cimento Portland), entre outros. ça, qualidade, confiabilidade e eficiência de malização, a ABNT conta com os Comitês
Nesta reunião, houve também a inicia- produtos e serviços. São essas partes in- Técnicos, órgãos de coordenação, planeja-
tiva de criar uma entidade responsável por teressadas – pessoas, empresas, entidades mento e execução das atividades de nor-
atender as demandas e coordenar os traba- ou organismos - que demandam da ABNT malização técnica, responsáveis por enga-
lhos para elaboração, discussão, aprovação a elaboração de uma norma. São elas tam- jar as partes interessadas para atender as
e publicação de normas técnicas – a ABNT. bém que se reúnem para discutir o tema e demandas da sociedade para elaboração
Em 24 de agosto de 1992, a ABNT re- propor o texto-base que vai servir de pro- de normas técnicas.
cebeu do Governo Federal, por meio da jeto de norma, que após ser submetido à Os Comitês Técnicos são formados por
Resolução nº 7 do Conselho Nacional de consulta pública e aprovado por consenso, estruturas de normalização – as Comis-
Metrologia, Normalização e Qualidade vira norma válida. sões de Estudo –que é onde se reúnem as
Industrial (Conmetro), o título de Único O interesse no processo, realizado con- partes interessadas para propor, discutir
Foro Nacional de Normalização no Bra- forme princípios internacionais de normali- e aprovar as normas técnicas, bem como

32 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


para atualizar e revisar as normas em vigor.
O setor de construção civil é represen- TABELA 1
tado na ABNT pelos Comitê Brasileiro de Comissões de Estudo dos Comitês Brasileiros de Construção Civil e Cimentos,
Construção Civil (CB-002) e Comitê Bra- Concretos e Agregados relacionados ao concreto e às estruturas de concreto
sileiro de Cimento, Concreto e Agregados
(CB-018), bem como pelas Comissões Es-
peciais Execução e Inspeção de Estruturas ABNT/CB-018 – Cimentos,
ABNT/CB-002 – Construção Civil
Concretos e Agregados
Especiais de Concreto, Mistas, de Alvenaria
Ações e segurança nas estruturas Cimento, matérias primas e adições
e de Pedra (CEE-169), Materiais não Con-
vencionais para Reforço de Estruturas de Segurança nas estruturas resistentes a sismos Cimento para poços petrolíferos
Concreto (CEE-193) e de Projeto de Estru- Forças devidas ao vento em edificações Calda de cimento para injeção
turas Metálicas, de Madeira, de Concreto e Alvenaria estrutural - blocos de concreto – Cimento para cimentação
Mistas e Inspeção de Estruturas Metálicas, projeto e execução de poços petrolíferos
de Madeira e Mistas (CEE-231), entre outros. Parede de concreto Agregados para concreto e argamassa
O CB-02 foi criado estatutariamente em Alvenaria estrutural Métodos de análise química de agregados
06 de maio de 1968 para elaborar normas Execução de desenhos para obras
Métodos físicos e mecânicos de agregados
no campo das edificações, compreendendo de concreto simples e armado
terminologia, projeto de estruturas, organi- Projeto e execução de estruturas Agregado reciclado de resíduos
zação de informações de projeto e cons- de concreto pré-moldadas sólidos da construção civil
trução, requisitos geométricos gerais para Cargas móveis em pontes rodoviárias Equipamentos para ensaios de peneiramento
construção, requisitos de desempenho de Ações para o cálculo de estruturas de edifícios Controle da qualidade do concreto
sistemas construtivos, entre outros temas. Projeto e execução de estruturas de concreto Métodos de ensaio de concreto
Deste âmbito, estão excluídos os produ-
Reformas em edificações Concreto autoadensável
tos, componentes e materiais utilizados em
Parede de concreto celular Concreto compactado com rolo
edificações, como os compósitos à base de
cimento (como o concreto), seus materiais Execução de estruturas de concreto Classificação de concretos
constituintes (como o cimento e agrega- Projeto de estruturas de concreto
Durabilidade do concreto
reforçado com fibras
dos) e seus produtos (como blocos, painéis,
tubos), cuja terminologia, classificação, re- Sistema construtivo de PVC concreto Concreto leve
quisitos, procedimentos, métodos de ensaio Desempenho de edificações Concreto massa
e generalidades cabe ao CB-18, criado es- Manutenção de edificações Concreto de alto desempenho
tatutariamente em 27 de outubro de 1978. — Concreto dosado em central
Nas páginas dos Comitês na internet — Concreto reforçado com fibras
(www.abnt.org.br/normalizacao/comites-
— Concreto projetado
-tecnicos), é possível acompanhar o anda-
— Concreto sujeito a radiação
mento dos projetos em discussão na ABNT
— Aditivos para concreto
e entrar em contato. Por exemplo, no CEE-
169, secretariado pelo Instituto Brasileiro do — Água para produtos à base de cimento
Concreto – IBRACON, estão sendo elabora- — Laje
dos os projetos para as normas “Inspeção — Telhas de concreto
de túneis revestidos em concreto” e “Inspe- — Blocos de concreto
ção de estruturas hidráulicas em concreto”; — Tubos e aduelas de concreto
já, os textos-base dos projetos de norma
Elementos de concreto para manutenção
“Prova de carga estática em estruturas de —
e inspeção de sistemas enterrados
concreto” e “Inspeção de pontes, viadutos e — Pavimentos permeáveis de concreto
passarelas de concreto” estão em Consulta
— Placas de concreto para piso
Nacional e análise da Consulta Nacional.
Produtos de cimento Portland reforçados

por fibras, fios ou filamentos
PROCESSO DE NORMALIZAÇÃO
Lajes alveolares e painéis
O processo para elaboração ou revi- —
pré-fabricados de concreto
são de uma norma começa com a inicia-
— Blocos de concreto celular autoclavado
tiva de uma pessoa, empresa, entidade
— Estacas pré-fabricadas de concreto
ou organismo regulamentador. Esta deve
encaminhar uma solicitação à Gerência de — Galerias técnicas pré-fabricadas de concreto
Planejamento e Projetos, preenchendo o Gerenciamento ambiental

de cimento e concreto
Formulário de Demanda.

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 33
O IBRACON, por meio de seus Comitês Desde 2017, é possível participar re- A Consulta Nacional é realizada pela
Técnicos, tem tradicionalmente contribuí- motamente das reuniões dos Comitês de internet por meio do link: www.abnt.org.br/
do com o processo de normalização. Nes- Estudo. Para participar, basta fazer a so- consultanacional.
ses Comitês são propostas, discutidas e licitação à Comissão de Estudo pelo link Todos os que se manifestaram durante
elaboradas Práticas Recomendadas, publi- www.abntonline.com.br/normalizacao. a Consulta Nacional são convidados para
cações que visam orientar os profissionais “A possibilidade de participação remo- reunião de deliberação, quando o Projeto
sobre a aplicação de produtos e serviços ta em reuniões potencializou a contribui- de Norma é votado para ser aprovado ou
relacionados ao concreto e suas estruturas. ção das partes, agregando maior represen- não como Documento da ABNT.
Os membros dos Comitês do IBRA- tatividade, capilaridade e transparência ao Por fim, o Projeto de Norma, com as
CON têm frequentemente acionado a processo de elaboração de normas técni- sugestões aceitas, é homologado e publi-
ABNT e participado de suas Comissões de cas”, complementa Esper. cado pela ABNT.
Estudo, inclusive levando experiências e Os trabalhos das Comissões de Estudo Todo esse processo é dinâmico, isto é,
conhecimentos alcançados na elaboração podem ser acompanhados à distância pelo está em constante evolução, pois a qual-
das Práticas Recomendadas. ABNT Livelink (https://isolutions.iso.org). quer momento uma norma técnica pode
A pertinência da demanda é analisada O Projeto de Norma é editorado e sub- ser desenvolvida (nova norma), atualizada
pela ABNT e, sendo viável, é levada ao Co- metido à Consulta Nacional, fase em que (revisão de norma) ou adequada (emen-
mitê Técnico correspondente para inserção todas as partes interessadas que não parti- das às normas), desde que haja justificativa
em seu Programa de Normalização Seto- ciparam das reuniões para sua elaboração embasada tecnicamente.
rial. Se não houver Comitê Técnico relacio- podem acessá-lo para examiná-lo e emitir “A importância da contribuição de
nado com a demanda, a ABNT propõe a suas considerações. todas as partes interessadas reside em
criação de um novo. Segundo Mario William, “as partes que se buscar todos os pontos de vista abor-
O assunto é, então, discutido ampla- se manifestam durante o processo de Con- dados por uma norma técnica, uma vez
mente pelas Comissões de Estudo, com sulta Nacional e emitem comentários téc- que os benefícios da normalização serão
participação aberta a qualquer interes- nicos recebem retorno acerca da inclusão alcançados na medida em que ela de fato
sado, até atingir o consenso, gerando um ou não, com a devida justificativa, após a traduza as expectativas da sociedade”,
Projeto de Norma. análise da Comissão de Estudo”. arremata Esper.

NO PRUMO
Compartilhar teoria e prática da construção civil, com leveza, didatismo e
criatividade. Esta é a proposta do livro “No Prumo”.

O livro é dividido em duas partes. A primeira traça a história da construção no Brasil


e sua relação com a cultura. A segunda revela, na prática, os conceitos e as técnicas
consolidadas ao longo dessa história.

A publicação oferece uma leitura atual de temas que vão do projeto e da análise de
solo ao serviços de concretagem, sistemas construtivos e sustentabilidade.

Com textos de Paulo Helene, professor titular da USP e diretor-presidente do


IBRACON, e diretor da PhD Engenharia, e de Guilherme Aragão, jornalista e escritor,
especialista em formação política e econômica do Brasil.

FORMATO: 21 x 29 cm
PÁGINAS: 170
ANO: 2017
VENDAS: Loja virtual (www.ibracon.org.br)

34 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


Estruturas em Detalhes
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.111.0004

“Coretec Tools — Concreto Armado”:


Uma plataforma online para auxílio
no projeto de vigas de concreto
armado conforme as prescrições
da NBR 6118
PAMELA I. NASCIMENTO – Disc. – https://orcid.org/0009-0006-5666-5185 ;
WANDERLEI M. PEREIRA JR – Prof. – https://orcid.org/0000-0002-7404-3666 (wanderlei_junior@ufcat.edu.br) ;
WALTER ALBERGARIA JR – Disc. – https://orcid.org/0000-0002-4915-4372 ;
MATEUS P. DA SILVA – Disc. – https://orcid.org/0009-0004-9162-1677 | UFCAT
DANIEL de L. ARAÚJO – Prof. – https://orcid.org/0000-0002-6802-4637 | UFG
MAURICIO de P. FERREIRA – Prof. – https://orcid.org/0000-0001-8905-9479 | UFPA

RESUMO 1. INTRODUÇÃO do apresenta, ferramentas computacionais

N
esse trabalho, é apresentado um apli- Em grau elevado de difusão pelo mun- devem ser aplicadas aos projetos estrutu-
cativo online para auxílio no dimensio- do, o concreto é um material encontrado rais de modo que erros sejam mitigados, a
namento de vigas de concreto armado de maneira significativa na maioria das rotina de projeto dos projetistas seja facili-
conforme as prescrições da ABNT NBR 6118 obras civis, devido à sua capacidade de tada e que o dimensionamento e a vida útil
e demais normas pertinentes ao assunto.
A in- adaptação às diversas concepções arqui- das estruturas sejam atendidos.
terface foi construída empregando paradigmas tetônicas, por meio da sua propriedade Sobre este último ponto de vista, exis-
de programação atuais que permitem uma boa de trabalhabilidade no estado fresco e da tem poucas ferramentas web que auxiliam
interação entre o usuário e o computador.O sua habilidade de se tornar no estado seco projetistas no cálculo de peças de concreto
framework empregado foi o Laravel, que é uma “pedra” artificial de alta resistência. armado. Por isso, a pesquisa desenvolvida é
baseado em linguagem PHP. O procedimento Isso faz com que o concreto seja um ma- muito importante, pois implementa calcula-
elaborado neste aplicativo permite o dimen- terial de grande utilização no mundo, per- doras que dimensionam elementos de con-
sionamento em cisalhamento, flexão pura e dendo apenas para a água [1]. creto armado, fornecendo resultados como
determinação do comprimento de ancoragem da Para garantir a segurança e a vida útil a área de aço para a situação de flexão pura,
armadura. O aplicativo informa em formato de das peças de concreto armado, é de suma o valor do comprimento de ancoragem da
relatório todas as etapas de cálculo e pontos importância que seu detalhamento seja armadura e a área de aço necessária para
de atenção no projeto estrutural, permitindo eficaz e preciso, aspectos esses que são resistir ao cisalhamento a que está submeti-
que engenheiros e alunos de engenharia pos- auxiliados e obtidos com os avanços e da a peça, de forma rápida e prática, otimi-
sam fazer seus estudos paramétricos chegando desenvolvimento da tecnologia. Antes, os zando o tempo de quem está projetando e
no dimensionamento ótimo do elemento de viga. projetos estruturais eram desenvolvidos de permitindo que o usuário veja as etapas de
A estrutura do aplicativo permite também o forma manual, o que acarretava em proje- detalhamento de forma simplificada.
crescimento da plataforma para outras áreas tos demorados, que gastavam dias ou se- As calculadoras possuem eficiências
do conhecimento. Diversos testes foram reali- manas para serem criados e apresentarem e manuseios simplificados, que além de
zados na plataforma de forma a verificar a efi- resultados confiáveis. Com a implementa- serem utilizadas em computadores, fun-
cácia para os problemas implementados. Todos ção de ferramentas informatizadas, os cál- cionam também em aparelhos celulares,
os resultados foram comparados com biblio- culos matemáticos, a análise de resultados sob uma mesma plataforma gráfica. A van-
grafias consolidadas do assunto mostrando e as tomadas de decisões se tornaram pro- tagem desses dispositivos é ampla, pois
que o sistema apresenta resultados sólidos do cessos rápidos e menos propensos a erros, além de poder ser utilizada por projetistas
ponto de vista teórico. tornando-se um auxílio indispensável para no dia a dia de escritórios, também poderá
a Engenharia de Estruturas [2]. contribuir nas atividades acadêmicas.
Palavras-chave: coretec tools, concreto ar- A partir deste cenário, conclui-se que Logo, o objetivo do presente trabalho
mado, vigas, dimensionamento, estado limite. devido à relevância que o concreto arma- visa implementar os modelos matemáticos

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 35
de concreto arma- caracterizadas por descontinuidades que
do, especificamente levam essa região da estrutura a não se
para vigas de seção comportar segundo o princípio de Bernoulli,
retangular. As vigas apresentando esforços de cisalhamento
de concreto arma- significativos, que mudam a direção das
do são projetadas tensões máximas de tração e de compres-
de acordos com as são [5]. Neste artigo em questão, o modelo
prescrições da NBR de aplicativo foi desenvolvido para determi-
8681 [4] e NBR 6118 nação da área de aço em regiões do tipo B.
[3], visto que ambas
tratam do nível de 2.1 Dimensionamento de seção
segurança requeri- transversal retangular submetida
do como também à flexão pura
do detalhamento,
respectivamente. O dimensionamento à flexão simples
As vigas são na região B é denominado de dimensio-
definidas como ele- namento para solicitações normais. Para
mentos lineares nor- seções retangulares, este modelo pode ser
FIGURA 1
malmente dispostos verificado através da Figura 2, onde é dado
Divisão de um pórtico de concreto em regiões
na horizontal e prio- o conjunto de forças que atuam na seção
B e D [5]
ritariamente sujeitos de concreto.
a esforços de flexão. Na Figura 2, são visualizadas as seguin-
As vigas podem ser tes variáveis:
da NBR 6118 [3] para dimensionamento de classificadas de duas maneiras quanto à h — Altura da seção;
vigas de concreto, especialmente nos re- sua esbeltez conforme item 18.3 da NBR bw — Largura da seção;
quisitos de flexão simples. No caso deste 6118 [3]. Para uma viga normal isostática, a d — Altura útil da seção;
trabalho, o foco foi o dimensionamento à relação de esbeltez, é dada como , já para d’ — Altura útil complementar da seção;
flexão pura, o comprimento de ancoragem uma viga normal contínua, a relação de es- λ — Parâmetro calculado para profundida-
da armadura e à área de aço necessária beltez é , sendo o comprimento do vão te- de da linha neutra;
para a solicitação de esforço cortante. órico e a altura total da viga. Para relações Msd — Momento fletor atuante na seção de
Além disso, a ferramenta pretende con- de esbeltez inferiores as indicadas, a viga é cálculo;
tribuir com o desenvolvimento de novas tratada como viga-parede. No caso deste αc — Parâmetro redutor da tensão resisten-
ferramentas de apoio ao projeto/aprendi- aplicativo online, considerou-se apenas as te (Efeito Rüsch);
zado que tem como base o recurso web. vigas normais de concreto armado. x — Profundidade da linha neutra;
Tal fato amplia a universalização do conhe- Para determinação da área de aço em Rcc — Força resultante de compressão
cimento e também deixa mais dinâmico o um sistema de concreto, é necessária a no concreto;
ambiente de desenvolvimento de projetos verificação da condição de esforços que Rst — Força resultante de tração no aço;
em sala de aula e treinamentos. a peça estará submetida. Essa condição é Rsc — Força resultante de compressão
dada pela observação do modelo de pórti- no aço;
2. PROJETO DE VIGAS DE co proposto na Figura 1. Nas regiões B, são As — Área de aço de tração;
CONCRETO ARMADO válidas as hipóteses de Euller Bernoulli, exis- As’ — Área de aço de compressão;
Nesta seção, são apresentados os con- tindo uma distribuição linear de deforma- Zsc — Braço de alavanca entre as forças
ceitos relativos ao projeto de estruturas ções na seção transversal. As regiões D são no aço;
Zcc — Braço de alavanca entre as forças no
aço e no concreto;
LN — Posição da linha neutra;
fcd — Tensão de cálculo no concreto
comprimido;
εcd — Deformação máxima de compressão
do concreto;
εsd’ — Deformação de compressão ao nível
da armadura As’;
εsd — Deformação de tração ao nível da
FIGURA 2 armadura As .
Elemento de seção transversal retangular e diagramas de deformações e tensões Os valores de λ e αcestão descritos na
NBR 6118 [3], seção 17.2.2, e estão

36 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


relacionados as hipóteses básicas de cálculo. nestas armaduras. As equações de equilí-
No caso, o valor de λ está relacionado a pro- brio para forças normais e momento são [7]
fundidade da linha neutra e αc está relacionado dados pelas equações (3) e (4):
à distribuição de tensões na seção. Ambos os Como o problema da flexão é dado por 4
valores são dados pelas equações (1) a (2): [3] equações e 5 incógnitas, o projetista deverá
adotar critérios para estabelecer uma das in-
[1] cógnitas. Uma das soluções consiste em es-
[4] tabelecer a posição da linha neutra e empre-
gar duas armaduras, uma comprimida e outra
As outras duas equações restantes no tracionada. A segunda opção é estabelecer a
problema estão relacionadas à compatibili- armadura comprimida igual a zero e deter-
[2] dade, conforme equação (5). As equações minar a posição da linha neutra. A primeira
(6) e (7) correspondem às resistências de situação chamaremos de armadura dupla e
cálculo dos materiais que formam o con- a segunda situação de armadura simples. O
O problema de determinação da arma- creto armado, neste caso o aço (fyd) e o critério para avaliar qual a condição ideal é
dura para flexão em uma seção transversal, concreto (fcd). o de momento limite resistente (MRd,lim) da
originalmente, consiste em um problema seção transversal conforme equação (8). Se
com infinitas soluções. As incógnitas do o momento resistente de cálculo limite (MR-
[5]
problema de flexão são: a posição da linha d,lim
) for menor que o momento solicitante
neutra (x), as armaduras que compõem a de cálculo (MSd), a peça deverá ser calcula-
seção transversal (Asc e Ast) e as tensões da em condição de armadura dupla e, caso
[6] contrário, na situação de armadura simples.
A equação (8) é dada pela substituição de βx
= βx,lim e Asc = 0.

[8]

para
[9] concreto com

para concreto
[10]
com

Conforme item 14.6.4.3 da NBR 6118


[3], a profundidade limite da linha neutra
(x) deverá respeitar o limite βx,lim (ver equa-
ções (9) e (10)).
Para situação de armadura simples,
considera-se que a armadura comprimi-
da é igual a zero (Asc = 0) e βx = x/d.
Partindo da equação (4) chega-se à
equação (8), que corresponde a equa-
ção da linha neutra para seções retangu-
lares de concreto armado.

[11]

[12]

FIGURA 3
Telas de acesso dos módulos do Coretec Tools e Engenharia Civil [13]

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 37
Onde:
[21]
fcd — Resistência de cálculo do concreto à [24]
compressão de cálculo (fck/1,40); [22]
fck — Resistência característica do concreto
à compressão. Seja qualquer uma das condições de Na sequência, é determinada a resis-
Determinada a posição da linha neutra, armação, ainda é preciso verificar se a tência à tração quantil superior do concre-
faz-se a determinação do braço de alavan- mesma atende à armadura mínima que a to de acordo com a equação (25):
ca da seção (z) conforme equação (14): peça necessita ter. Para isso, o cálculo ini-
[25]
cia-se a partir do parâmetro das equações
[14] (23) e (24), que correspondem à inércia da Por meio dos parâmetros calculados,
A partir do cálculo do braço de alavan- seção bruta e ao módulo de resistência da obtém-se momento mínimo, que é dado
ca (z), têm-se a área de aço de cálculo para seção bruta (W), respectivamente. pela equação (26):
tração conforme equação (15):
[26]
[23]
[15]
Agora para uma situação em que
o momento resistente de cálculo limite
(MRd,lim) for menor que o momento solicitante
de cálculo (MSd), é necessário adotar a armadu-
ra dupla. Se não houvesse a parcela excedente
do momento de cálculo, a armadura simples
seria capaz de atender toda à solicitação. Com
isso, nota-se que este momento consiste em
duas parcelas, sendo elas divididas da seguinte
forma: (a) Parcela M1Sd, dada pela equação (16),
que representa o momento resistente máximo
pela peça em condição de armadura simples; e
(b) Momento M2Sd, dada pelo momento com-
plementar que deverá ser absorvido pelo par
de armadura dupla, conforme equação (17).
Vale salientar que na equação (16) β_x = βx,lim
sendo este dependente do fck.

[16]

[17]
A partir disso, obtém-se a área de aço
quanto ao momento limite (armadura sim-
ples) e a área de aço com relação à parcela
de momento que excede o limite ao qual a
peça consegue suportar, dados pela equa-
ção (18) e (19):

[18]

[19]

[20]
FIGURA 4
As equações (21) e (22) informam a ar- Relatório da calculadora de ancoragem da ferramenta Coretec Tools
madura final na seção transversal:

38 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


Em função deste momento mínimo, é de cisalhamento. No caso do cisalhamento, O cálculo da armadura transversal ini-
possível repetir o procedimento informado a seção da NBR 6118 [3] que corresponde a cia-se com a verificação da máxima força
nas equações (8) a (15). Através da análise este ponto é a seção 17.4.2. No caso deste ar- cortante resistente (VRd2), conforme equa-
entre área de aço de calculada e área de tigo, o modelo de cálculo para o cisalhamento ção (29):
aço mínima, a área de aço final consistirá implementado foi o modelo de cálculo I.
na maior área encontrada. A resistência do elemento estrutural, em [29]
uma determinada seção transversal, deve
2.2 Dimensionamento de seção ser considerada satisfatória, quando verifi- Onde:
transversal submetida cadas simultaneamente as seguintes con- VRd2 — Força cortante resistente máxima;
ao cisalhamento dições impostas nas equações (27) e (28): VSd — Força cortante de cálculo;

Esta seção apresenta a formulação ne- [27] αv2 — ;


cessária para o dimensionamento de peças
de concreto armado submetida a um esforço [28] α — Inclinação do estribo.
Com a verificação atendida, calcula-se
a armadura mínima conforme equação (31)
(NBR 6118 [3] item 17.4.1.1.1).

[30]

[31]
Sendo:
ρsw — Taxa geométrica da armadura míni-
ma conforme equação (28);
fctm — Resistência média à tração do
concreto;
fywk — Resistência ao escoamento do aço da
armadura transversal, valor característico.
Além da armadura mínima, calcula-se
a armadura transversal de cálculo, que se
inicia com o cálculo do cortante absor-
vido pelos elementos complementares
ao mecanismo de treliça (Vc). Segundo a
NBR 6118 [3], no item 17.4.2.2, se a posição
da linha neutra estiver passando por fora
da seção da peça, o fator (Vc) é igual a
zero. Se estiver dentro da seção em uma
solicitação de flexão simples ou flexo-tra-
ção, o esforço é calculado conforme equa-
ção (31). Se a peça estiver em uma situação
de flexo-compressão, o cálculo se dá pela
equação (32):

[32]

[33]

Em que:
fctd — Resistência de Cálculo do concreto à
FIGURA 5 tração direta;
Relatório da calculadora da área de aço para a flexão pura da ferramenta M0 — Momento fletor que anula a tensão
Coretec Tools normal de compressão na borda da seção
Msd,max — Momento fletor de cálculo máximo.

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 39
No caso deste artigo, o modelo com- NBR 6118 é dado pela equação (38). Já o
pleto de cisalhamento foi implementado, [37] comprimento de ancoragem necessário
porém para o uso da ferramenta foi habili- pode ser calculado pela equação (39).
tado somente o caso de flexão simples cor-
respondente à equação (32). Em que: [38]
A partir da parcela absorvida pelos ele- fctk,inf — Resistência do concreto à tração ca-
mentos complementares ao mecanismo de racterística quantil inferior;
treliça, obtém-se a parcela da força cortan- fctm — Resistência média do concreto à tração; [39]
γc — Coeficiente de segurança igual a
te a ser resistida pela armadura transversal
1,40 neste caso. Sendo:
(Vsw) que é dado pela equação (34):
A partir disso, tem-se o comprimen-
α — 0,70 para barras com gancho;
[34] to de ancoragem básico (lb), que tem que
α — 1,0 para barras sem gancho;
ser maior ou igual a 25 ∙ φ e segundo a
Com estes parâmetros obtém-se a arma- As,calc — Área de aço de cálculo;
dura transversal de cálculo conforme a incli-
nação do estribo variando em um intervalo
de 45° a 90° de acordo com a equação (35).

[35]

2.3 Projeto de dimensionamento


do comprimento de ancoragem

Além do projeto da peça em flexão


simples, optou-se por inserir na platafor-
ma um módulo inicial de detalhamento de
seção com o cálculo do comprimento de
ancoragem das armaduras. O comprimen-
to de ancoragem é um item obrigatório do
detalhamento, sendo uma variável funda-
mental para finalização de pranchas de vi-
gas de concreto armado e protendido.
Para o cálculo do comprimento de an-
coragem, é preciso obter a resistência de FIGURA 6
aderência de cálculo (fbd), que depende de Menu ajuda da plataforma
alguns fatores, tais como: o tipo da barra,
se é lisa ou nervurada (fator η1), a condi-
ção de boa ou má aderência (fator η2), do
diâmetro da barra (fator η3) e da resistên-
cia do concreto à tração de cálculo (fctd),
sendo que para armaduras passivas, o seu
cálculo se dá pela equação (36):
[36]
Onde:
η1 — 1,00 para barras lisas;
η1 — 1,40 para barras entalhadas;
η1 — 2,25 para barras nervuradas;
η2 — 1,00 para situações de boa aderência;
η2 — 0,70 para situações de má aderência;
η3 — 1,00 para φ < 32 mm;

η3 — , para φ ≥ 32 mm;

φ — bitola longitudinal da barra a ser ancorada. FIGURA 7


A resistência do concreto à tração de Plataforma de teste replit.com
cálculo (fctd) se dá através da equação (37):

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culadoras relativas ao projeto de vigas de
TABELA 1 concreto armado. No caso, os três módulos
Comparação dos resultados Coretec Tools versus referências apresentados neste artigo já estão disponí-
veis para uso na versão online da ferramen-
Resposta Erro ta. Em termos de usabilidade, a ferramenta
Exemplo Objetivo Resposta ref.
Coretec Tools (%) funciona como uma calculadora de projeto,
Armadura onde o usuário informa os dados de entra-
Exemplo 1,
de flexão 1,465 cm² 1,460 cm² 0,30
pág. 130 [9] da da viga na situação desejada e então o
fck = 20 MPa
Armadura aplicativo apresenta um relatório detalha-
Exemplo 2,
pág. 132 [9]
de flexão 1,382 cm² 1,390 cm² 0,57 do com o processo de cálculo da peça.
fck = 90 MPa
Armadura de 4. RESULTADO
Exemplo 5,
flexão mínima 2,398 cm² 2,400 cm² 0,08
pág. 139 [9] Os resultados da plataforma são apre-
fck = 20 MPa
Momento sentados nas Figuras 4 e 5 e basicamente
Exemplo 6.6.1,
pág. 129 [15]
resistente 180,64 kN.m 180,60 kN.m 0,02 demonstram a tela de entrada e o relatório
fck = 30 MPa emitido pelas calculadoras de ancoragem e
Armadura de flexão pura, respectivamente.
Exemplo 6.11.3,
compressão 3,298 cm² 3,300 cm² 0,06
pág. 149 [15] Para verificação desta plataforma, di-
fck = 30 MPa
Ancoragem ϕ versos testes unitários foram realizados
Tabela A-1 6,30 sem gancho,
27,50 cm 28,00 cm 1,70
com as funções que compõem as calcula-
pág. 40 [8] fck = 20 MPa, doras e exemplos de bibliografias consa-
(BOA)
gradas da área de concreto armado [8–14]
Ancoragem ϕ
Tabela A-1 6,30 sem gancho, foram testadas na interface do aplicativo.
39,30 cm 39,00 cm 0,70
pág. 40 [8] fck = 20 MPa, A ferramenta também conta com um
(MÁ) menu de “Ajuda”, que descreve toda a te-
Resistência oria relativa ao procedimento de cálculo
Exemplo 13.9.1
da biela 453,46 kN 449,40 kN 0,90
pág. 28 [14] para ancoragem, cisalhamento e flexão
fck = 25 MPa
Armadura de pura. Em um futuro próximo, estes relató-
Exemplo 13.9.1
cisalhamento 3,09 cm²/m 3,01 cm²/m 2,65 rios poderão ser enviados via e-mail para
pág. 28 [14]
fck = 25 MPa os usuários.
O exemplo do menu de “Ajuda” da fle-
xão pura é exposto na Figura 6. Este menu
As,ef — Área de aço efetiva; sões da plataforma sejam desenvolvidas é padronizado com a formulação teórica
lb — Comprimento de ancoragem básico; com maior velocidade e facilidade, visto apresentada na seção 2 deste artigo e com
lb,nec) — Comprimento de ancoragem que os templates da plataforma e rotas um exemplo resolvido manualmente.
necessário. para gerenciamento web já ficam pron- Os testes unitários das funções foram
O comprimento de ancoragem ne- tas para o acoplamento de novas telas. realizados na plataforma online e gra-
cessário deve ser maior ou igual ao com- Tal ferramenta é classificada pela comu- tuita replit.com. A plataforma replit.com
primento de ancoragem mínimo, que é o nidade da programação com um dos fra- permite realizar a depuração do código e
maior valor entre 0,30 ∙ lb, 10 ∙ ϕ e 100 mm. meworks mais bem sucedidos para a lin- então realizar diversos tipos de testes na
Uma vez tendo-se os três tipos de com- guagem PHP [7]. função que será acoplada a ferramenta
primentos de ancoragem apresentados, A ferramenta Coretec Tools foi de- Coretec Tools. A Figura 7 apresenta essa
adota-se para uso o maior comprimento, já senvolvida para ser aplicada em todo o ferramenta que permitiu a realização dos
que atende a todos. ambiente de ensino de engenharia. Porém, testes de funcionalidade com a lingua-
neste artigo, será apresentado apenas as gem PHP.
3. A FERRAMENTA calculadoras relativas ao projeto de vigas De forma a validar os resultados desta
A ferramenta construída tem o nome de concreto armado. O sistema conta com plataforma, são apresentados os resulta-
de Coretec Tools e tem como objetivo um modelo de login para que o usuário dos da mesma comparados a bibliografias
reunir diversas calculadoras que visam o possa acessar a ferramenta de forma segu- tradicionais do assunto. A Tabela 1 apresen-
uso de alunos, professores e engenheiros. ra. A Figura 3 apresenta o esquema da tela ta estes resultados de comparação.
A ferramenta foi desenvolvida em lingua- de entrada, onde o usuário poderá acessar
gem para web. No caso deste desenvolvi- os módulos da ferramenta. 5. CONCLUSÕES
mento, a linguagem empregada foi o PHP e Para acessar as calculadoras apresen- Nesse artigo, foi desenvolvida uma
JavaScript. O framework de trabalho para tadas neste artigo, basta acessar o menu ferramenta de dimensionamento de vi-
desenvolvimento foi o Laravel [6]. Este “Concreto Armado”. A ferramenta “Con- gas de concreto armado conforme
framework permitirá que as próximas ver- creto Armado” em si é composta por cal- as prescrições da nova NBR 6118 [3].

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Quanto a esse objetivo, o artigo cumpre creto armado. Além disso, o ambiente tação maior que em outras linguagens,
êxito. O link para acesso a ferramenta é: interativo e gráfico permite que o usuá- como Java, por exemplo.
https://coretectools.com.br. Para acessar o rio possa reduzir o tempo de sua curva Como sugestão de trabalhos futuros,
sistema, basta criar o login e utilizar a mesma. de aprendizagem no sistema. Outro fa- pode ser observada a questão de amplia-
A ferramenta em questão permite tor importante a respeito da plataforma ção deste sistema para outras áreas do
que engenheiros e estudantes de enge- é que a linguagem PHP, especialmente conhecimento relacionadas a projetos es-
nharia possam fazer estudos paramé- pela presença do framework Laravel, truturais, como peças em situação de in-
tricos relacionados à disciplina de con- permitirá uma velocidade de implemen- cêndio, protensão e pré-fabricação.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Andrade BSO. Concreto armado: um estudo sobre o processo histórico, características, durabilidade, proteção e recuperação de suas estruturas 2016.
[2] MARTINS IV. Dimensionamento Automático de Vigas Protendidas Biapoiadas Considerando a Protensão Parcial 2018.
[3] Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto – procedimento. Rio de Janeiro (RJ): ABNT; 2014.
[4] Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 8681: Ações e segurança nas estruturas – procedimento. Rio de Janeiro (RJ): ABNT; 2003.
[5] Pantoja J da C. Geração automática via otimização topológica e avaliação de segurança de modelos de bielas e tirantes. Doutorado em
ciências de engenharia civil. Pontifícia Universidade Católica do Rio De Janeiro (PUC-RIO), 2012. https://doi.org/10.17771/PUCRio.acad.20548.
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India: IEEE; 2019, p. 503–8. https://doi.org/10.1109/ICIIP47207.2019.8985771.
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[9] Carvalho RC, Filho JRDF. Cálculo e Detalhamento de Estruturas Usuais de Concreto Armado: Segundo a NBR 6118:2014. 4a Edição. Edufscar; 2014.
[10] Carvalho RC, Pinheiro LM. Cálculo e detalhamento de estruturas usuais de concreto armado: volume 2. São Paulo: Pini; 2009.
[11] Giongo JS. Concreto Armado: Projeto estrutural de edifícios. São Carlos (SP): Universidade de São Paulo; 2007.
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[13] Bastos PS dos S. Lajes de concreto armado. Bauru: Unesp; 2020.
[14] Bastos PS dos S. Vigas de concreto armado. Bauru: Unesp; 2017.
[15] Giongo JS. Concreto armado: Análise das resistências de seções transversais de elementos estruturais. São Carlos (SP): Universidade de São Paulo; 2019.

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Industrialização da Construção
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.111.0005

Aplicativo online para verificação


da alvenaria estrutural armada de
acordo com a nova NBR 16868 em
muros de arrimo
WANDERLEI MALAQUIAS PEREIRA JUNIOR – Prof. – https://orcid.org/0000-0002-7404-3666 (wanderlei_junior@ufcat.edu.br) ;
MURILO CARNEIRO RODRIGUES – Eng. – https://orcid.org/0009-0001-8854-5085 ;
HELENA LUCHESI BARROSO – Disc. – https://orcid.org/0009-0005-0824-897X ;
ROBERTO VIEGAS DUTRA – Eng. – https://orcid.org/0000-0003-3348-6257 | UFCAT
LÍVIA REGUEIRA FORTUNATO BENITTEZ – Mest. – https://orcid.org/0000-0003-3450-9473 ;
LEANDRO HENRIQUE BENITTEZ – Mest. – https://orcid.org/0000-0002-6608-5727 ;
GUILHERME ARIS PARSEKIAN – Prof. – https://orcid.org/0000-0002-5939-2032 | UFSCar

RESUMO A alvenaria estrutural como se conhe- Os muros de arrimo podem ser classifi-

N
esse trabalho é apresentado um aplicati- ce atualmente teve sua criação e ascensão cados em muros de gravidade e muros de
vo online de cálculo para verificação da a partir dos anos 50, com a introdução dos flexão. Os muros de gravidade são utilizados
alvenaria estrutural armada que for- primeiros códigos de projeto que transforma- para vencer pequenos e médios desníveis
ma um muro de contenção. Para este aplicativo vam o elemento de vedação em um elemento (inferiores a 5m) e contam exclusivamente
foram empregadas as diretrizes propostas pela estrutural. O grande percursor desse sistema com o peso próprio do muro para conter a
nova NBR 16868 e demais normas pertinentes ao estrutural foi o professor Paul Haller [3–5]. pressão lateral oriunda do empuxo do solo.
assunto. A interface foi construída empregando Na perspectiva das construções em al- Os muros de flexão são estruturas mais es-
paradigmas de programação atuais, que permitem venaria, um dos modelos de destaque é a beltas em forma de “L”, geralmente são uti-
uma boa interação entre o projetista e o compu- aplicação em muros de arrimo. Essas estru- lizados para vencer alturas superiores a 5m,
tador. O procedimento elaborado neste progra- turas são destinadas à contenção de encos- podem utilizar enrijecedores e contam com
ma computacional permite a verificação da alve- tas geralmente sujeitas a esforços de flexão, o peso próprio do muro acrescido do peso
naria do muro de arrimo e de seus enrijecedores. sendo sua principal função a promoção da próprio do solo sobre a fundação para equi-
O programa computacional informa, em formato estabilidade contra a ruptura do maciço de librá-lo [6]. A Figura 1 representa os tipos de
de relatório, todas as etapas de cálculo e pontos solo ou rocha [6]. De acordo com a NBR muro de arrimo mencionados.
de atenção no projeto estrutural, permitindo que 11682 [7], as estruturas de contenção são Este trabalho teve como objetivo elabo-
engenheiros e alunos de engenharia possam fazer aquelas com elementos destinados a con- rar uma ferramenta de cálculo para a verifi-
seus estudos paramétricos, chegando no dimen- trapor-se aos esforços estáticos provenien- cação da alvenaria estrutural que forma os
sionamento ótimo da alvenaria armada que forma tes do terreno e de sobrecargas acidentais muros de arrimo com enrijecedores execu-
um muro de contenção. e/ou permanentes, podendo ser estruturas tados com blocos de concreto, grauteados
de solo reforçado ou muros de arrimo. e armados conforme as prescrições da nova
Palavras-chave: muro de arrimo, alvenaria NBR 16868 [11]. Além da elaboração do pro-
estrutural, NBR 16868, bloco de concreto, grama computacional em si, o presente ar-
programa computacional. tigo pretende preencher uma lacuna na en-
genharia civil que é a de aplicativo online de
1. INTRODUÇÃO cálculo com emissão de relatório. Tal verten-
Grandes construções como as pirâmi- te ajudará a disseminar o conhecimento em
des do Egito Antigo, Taj Mahal e Muralha da alvenaria estrutural, no caso deste artigo, e
China foram erguidas com a utilização de auxiliará profissionais que desejam construir
técnicas de construção em alvenaria [1]. A muros de arrimo de forma rápida e confiá-
sociedade Americana dos Construtores de FIGURA 1 vel com o auxílio de um computador.
Alvenaria [2] afirma que os blocos de barro Muro de arrimo (A) de gravidade É válido salientar que verificações de
cozidos ao sol já eram utilizados como mate- e (B) de flexão [8] estabilidade do muro e do solo não foram
rial estrutural há cerca de 6000 anos. realizadas neste algoritmo. Nas próximas

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versões da ferramenta, pretende-se incluir
estas verificações para que se tenha o di-
mensionamento do muro em sua totalidade.

2. O PROJETO DE ALVENARIA
ESTRUTURAL CONFORME A
NBR 16868 PARA MUROS DE ARRIMO
Nessa seção será apresentada a verifi-
cação dos elementos estruturais em alvena-
ria estrutural de um muro de arrimo. Para
isso, esta seção foi dividida na parte de ava-
liação geométrica, avaliação de cargas, es-
forços e verificações em Estado Limite.

2.1 Aspectos em relação à geometria


do muro
FIGURA 2
Para a verificação de um muro de ar- Planta baixa e corte de uma parede com enrijecedores conforme
rimo, é necessário avaliar se a modalidade NBR 16868 [7]
de execução escolhida se enquadra (ar-
mado e não armado) nas faixas de esbel-
tez limite (24 para alvenaria não armada comprimento lenr entre os enrijecedores e No caso desse trabalho, utilizou- se a hi-
e 30 para alvenaria armada). Além disso, δ o, coeficiente amplificador da espessura pótese de Rankine, conforme Equação (3),
essa verificação tem como intuito avaliar a que se encontra entre os travamentos. A Ta- para cálculo do valor de empuxo total no
possibilidade de ocorrência de efeitos de bela 1 apresenta os valores do coeficiente δ, painel de alvenaria. No caso deste trabalho,
2ª ordem na alvenaria estrutural. Portanto, podendo esses ser interpolados linearmen- foi adotado para a implementação um ân-
é necessário determinar as variáveis altura te conforme orientação da NBR 16868 [11]. gulo do paramento (t) igual a 0o graus. Por-
efetiva (he) e espessura efetiva (te) do muro A Figura 2 apresenta o esquema em tanto, este trabalho contempla os muros de
de arrimo para cálculo da esbeltez total do planta baixa de uma parede com enrijece- alvenaria com paramento vertical.
elemento estrutural conforme Equação (2). dores para determinação do coeficiente δ.
Para levar em consideração as espe- [3]
[1] cificações de altura efetiva, é necessário
que a parede de travamento (em muros
[2] de arrimo, os enrijecedores representam [4]
Em relação à altura efetiva (he) o item esse travamento) tenham ao menos 1/5 do
9.4.1 da NBR 16868 [11] impõe duas con- comprimento da altura da parede travada Onde:
dições de cálculo. No caso dos muros es- (Hmur) e no mínimo a mesma espessura da γsolo é o peso específico do solo úmido e
tabelecidos inicialmente neste programa parede travada. C representa a tensão de coesão do solo.
computacional, foi considerada a condição: Para este último, o valor de C = 0 em uma
“Caso não haja restrição ao movimento la- 2.2 Carregamento
teral, a altura he deverá ser igual ao dobro e esforços em um
da altura do muro (Hmur)”. muro de contenção
A espessura t é referente ao painel de
A primeira eta-
pa do projeto do
TABELA 1 muro de arrimo em
Valores dos coeficientes δ alvenaria estrutu-
ral é a verificação
dos carregamentos
atuantes na estru-
6 1,0 1,40 2,0 tura de contenção.
8 1,0 1,30 1,7 A Figura 3 apre-
10 1,0 1,20 1,4 senta o esquema
15 1,0 1,10 1,2 genérico de car- FIGURA 3
20 ou
1,0 1,00 1,0
regamento nesse Esquema de carregamento no muro de arrimo [6]
mais tipo de estrutura.

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situação de um solo não coesivo, como Conforme dito anteriormente, a determi- flexão são determinados em função de um
é o caso das areias; β é a inclinação do nação dos esforços poderá ser feita atra- comprimento.
paramento interno do muro (β = 90°-θ); φ é vés do uso de tabelas de painéis carre-
o ângulo de atrito do solo; a é o ângulo de gados normalmente em relação ao plano [5] Momento paralelo à fiada
inclinação do terreno adjacente. médio da placa. A diferença entre as
Para determinação dos esforços atu- tabelas tradicionais de concreto armado
antes em cada trecho do muro, poderão e as tabelas para alvenaria estrutural é [6] Momento perpendicular à fiada
ser utilizados diversos métodos cálculo, que o painel em alvenaria estrutural tem
sendo que nos dias atuais modelos de um comportamento de placa ortotrópi-
análise baseados em grelhas são bastan- ca, ou seja, as propriedades mecânicas
te utilizados [8]. Outra opção permitida variam em função da direção estudada.
para determinação dos esforços, conside- Esses modelos são aplicados com frequ- [7]
rando um carregamento fora do plano é a ência na teoria de projeto de estruturas
utilização do anexo E da NBR 16868 [11]. de madeira.
Fator de ortogonalidade
Essas tabelas de cálculo de esforços são Portanto, para a determinação desses
derivações de propostas que utilizam a esforços de flexão, é necessário estabele- O coeficiente βf é obtido por meio da
teoria das placas e tais recomendações cer o tipo de vínculo que a placa possui tabela do Anexo E da NBR 16868 [11]. Os
constam em normas internacionais, como com os seus elementos de apoio. O anexo valores de ftd,perpendicular e ftd,paralela indicam a
a norma canadense CSA S304/2014 [12] E da NBR 16868 [11] apresenta essas con- resistência à tração de cálculo do prisma
e norma Europeia EN 1996-1-1 [13]. dições de contorno. O estudo através de na junta de assentamento, nas direções
A NBR 16868 [11] prescreve que a apro- placas fornece informações de esforços normal e paralela, respectivamente (ver Ta-
ximação por tabelas deverá ser utilizada a favor da segurança visto que as tabelas bela 2). Já, Pf é dado como uma carga axial,
para alvenarias de espessura constante e consideram cargas uniformemente distri- considerada igual a 90% da carga perma-
inferior a 25 cm. buídas e as alvenarias do arrimo possuem nente e Ae é dada como a área efetiva da
Os painéis do muro de arrimo podem cargas distribuídas de forma triangular. seção. No caso do modelo implementado
ser tratados como lajes maciças de es- A Figura 4 apresenta a direção de atu- neste trabalho, considera-se para Pf apenas
pessura uniforme, fletidas nas duas di- ação dos momentos internos Mdy (paralelo) o peso próprio do muro em questão.
reções através de uma carga distribuída e Mdx (perpendicular) gerado pelas tabelas. Além do painel, é necessário dimen-
com variação triangular com a altura. Sendo Mdy responsável pelas tensões de sionar os enrijecedores que contraventam
tração paralela à
fiada e Mdx respon-
sável pelas tensões TABELA 2
de tração perpen- Valores característicos da
dicular à fiada, con- resistência à tração na flexão (ftk)
forme demonstra-
do na Figura 5. ftk (MPa)
Dessa forma, os Resistência
ftk,normal ftk,paralela
esforços à flexão
Entre 1,5
na placa podem ser 0,10 0,20
e 3,4 MPa
determinados con- Entre 3,5
0,20 0,40
forme Equações e 7,0 MPa
(5), (6) e (7). No Acima de
0,25 0,50
7,0 MPa
caso, os esforços à

FIGURA 4
Demonstração dos momentos atuantes no FIGURA 5
painel de alvenaria nas direções paralela e Vetor de momentos atuantes na direção normal e
perpendicular à fiada paralela à fiada da alvenaria estrutural

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TABELA 3
Coeficiente de reação para placas com carga triangular distribuída

Fatores de Coeficiente para valores de lenr ⁄ Hmur


cisalhamento 0.5 0.75 1.0 1.25 1.5 2.0 2.5 3.0 4.0
αvx 0.17 0.22 0.24 0.25 0.26 0.27 0.33 0.37 0.38
αvz 0.19 0.26 0.32 0.36 0.40 0.45 0.48 0.50 0.50

o paramento. No caso deste trabalho, foi Portanto, no caso do elemento enrijece- zcc é o braço de alavanca entre forças e fcd
utilizada as tabelas descritas em Reynolds dor, transformou-se em uma viga isostática representa a tensão de resistência à com-
et al. [14] para obter a reação do painel ao com carga triangular com uma condição pressão de cálculo que, nesse caso, deverá
longo da altura. Os fatores de carga para o de apoio engastada-livre. Logo, a flecha e ser substituída pela força de compressão
modelo de muro são escolhidos de acordo os esforços do enrijecedor são obtidos por no prisma (fpd) dada pela Equação (13).
com a Tabela 3. O caso de distribuição das meio da resistência dos materiais e são da- Deve-se salientar que o prisma pode ou
reações neste painel é retratado na Figura dos conforme as Equações (10) a (12): não ser preenchido, no caso de flexão, a
6. Os valores de reação de apoio são dados variável de resistência à compressão do
conforme Equações (8) e (9). prisma cheio é representada por fpk*.
[10]
Flecha imediata
[8] Em kN/m
[13]

[11] Em muros de arrimo com represen-


[9] Em kN/m
Cortante tação em viga de alvenaria, deverão ser
calculadas como peças subarmadas, por-
tanto, é importante verificar se a seção
[12] está em regiões anteriores ao domínio 4,
Momento fletor
ou seja, com relação x ⁄ d ≤ 0,45. Logo, é
necessário determinar se o momento re-
2.3 Dimensionamento à flexão pura sistente do enrijecedor ou painel (Mresist,d) é
para enrijecedor e painel maior que o momento de cálculo atuante
(Msd). O momento resistente (MRd) é dado
O dimensionamento à flexão segue as pela Equação (14).
mesmas premissas de peças de concreto
[14]
armado submetidas à flexão. Portanto, será
estabelecida uma seção de referência para Logo, a determinação da linha neutra
FIGURA 6 determinação da armadura de aço neces- real e área de aço necessária no sistema
Caso de distribuição das cargas sária, conforme Figura 7. No caso, a for- são dadas pelas Equações (15), (28) e (17).
no painel de alvenaria segundo mulação apresentada segue a classe I para Sendo a Equação (15) representante do
Reynolds et al. [14] concretos inferiores a 50 MPa. equilíbrio de momento atuante de cálculo
Onde: (Msd) e momento resistente (parte direita
h é a altura da se- da equação).
ção fletida; d é a
altura útil da peça
[15]
e bw é a largura
da peça no caso
da viga/painel de [16]
alvenaria repre-
sentada por uma
espessura; Rcc e Rst [17]
apresentam as for-
ças de compressão Onde:
FIGURA 7 no prisma e tração fyd representa o valor da tensão de cálcu-
Distribuição de tensões e deformações em viga de no aço respectiva- lo na armadura longitudinal colocado para
seção retangular com armadura simples mente; x é a altu- suprir os esforços de flexão. Sendo esse de
ra da linha neutra; 435 MPa para o aço CA-50.

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2.4 Dimensionamento ao de suas armaduras. A resistência caracte-
cisalhamento do enrijecedor rística ao cisalhamento (fvk) é dada pela Rigidez a flexão para seção sem
Equação (23), descrita no item 6.2.2.6 da
[31] fissuração com inércia de seção
bruta (
A verificação de cisalhamento no enri- NBR 16868 [11]. Essa equação contabiliza
jecedor segue as prescrições do item 11.4 da o efeito de pino causado pelas armaduras
NBR 16868 [11]. Essencialmente, é necessá- longitudinais (Asl). Essa contabilização é Rigidez a flexão para seção com
rio estabelecer a Equação (18) da relação considerada levando em conta a densida- [32] fissuração, considerando um inércia
entre tensão de cisalhamento de cálculo de de armadura longitudinal (ρsl). equivalente ( – Inércia de Branson
Como na NBR 6118 [15] e no dimen- item 9.2.3 NBR 16868 [11]
(τSd) e tensão resistente (τRd) do prisma.
A tensão de cálculo (τSd) é dada pela Equa- sionamento de peças de concreto arma- A fissuração na alvenaria ocorrerá
ção (20) onde VSd é o esforço de cisalha- do, é comum que deseje-se determinar quando o momento atuante de cálculo
mento de cálculo (1,40 . Vk,max), denr a altu- a área de aço ao cisalhamento (Asw ⁄ s). (MSd) na combinação de serviço quase per-
ra útil do enrijecedor que é dada por uma Logo, é comum que se manipule a Equa- manente for maior que o momento de fis-
parcela da dimensão tenr e eenr, a espessura ção (21) e (25) para então deixar a ar- suração da alvenaria estrutural (Mr), dado
em planta do enrijecidor conforme apre- madura de cisalhamento como incógnita pela Equação (33).
sentado na Figura 2. do problema. Deve-se salientar aqui que
fyd é a resistência de cálculo do aço li- [33]
[18] mitada a 435 MPa, conforme descrito na
NBR 6118 [15]. Onde:
[19] Portanto, com as devidas manipula- ftk é a resistência característica à tração na
ções, surgem as Equações (28) e (29), que flexão; σk é a tensão de compressão axial
permitem determinar a área de aço ao ci- aplicada na seção (igual a zero para alve-
[20] salhamento por unidade de distância. narias que não sejam protendidas); Ia é a
inérica da seção bruta; e yt é a distância do
A força de cisalhamento de cálculo
[28] centroíde da seção não fissurada ao bordo
(VSd) é limitada conforme a Equação (21). mais tracionado.
Onde Va representa a parcela de carga ab- A flecha total (atotal) na alvenaria estru-
[29]
sorvida pelo prisma de alvenaria estrutural é dado em unidade de área/distância tural deverá ser avaliada considerando o
e Vs, a parcela de carga absorvida pelas ar- efeito de fluência. Na ocasião, deve-se le-
maduras de cisalhamento. Como o elemen- A NBR 16868 [11] afirma que o espaça- var em conta influência do efeito de uma
to de alvenaria nesse caso possui mais de mento máximo admitido para estribos de armadura na zona comprimida (Asl’) con-
uma fiada sob ação de esforços de cisalha- viga de alvenaria é de 50 % da altura útil e forme Equação (35). No caso de vigas de
mento, ele possuirá armadura transversal. não pode superar 40 cm. Lembrando que alvenaria dimensionadas no Estádio II ou III
o enrijecedor aqui é tratado com um ele- o valor de ρ’ = 0.
[21] mento de viga engastada-livre.

[22]
A armadura mínima ao cisalhamen- [34]
to desse tipo de peça está entre 0,07%
(fgk = 15 MPa) e 0,14% (fgk = 40 MPa). Sendo
[23] está dada pela equação (30), onde s é dado [35]
como o espaçamento da armadura de cisa-
[24] lhamento calculada. No caso para valores O módulo de elasticidade longitudinal
intermediários, deverá ser interpolado. da alvenaria deverá ser avaliado conforme
as Equações (36) a (38).
[30]
[25]
[36] 20 MPa
2.5 Verificação de flecha no enrijecedor
[26]
A verificação de flecha segue as pres- [37] 22 MPa 24 MPa
crições do item 9.2.3 da NBR 16868 [11]. No
caso do enrijecedor, deverá ser considera-
[27]
Com e expresso em MPa do um sistema estrutural engastado-livre. [38] 26 MPa
A Equação (10) apresenta o cálculo da
As Equações (21) a (27) representam flecha imediata e deve-se ficar atento ao No caso, a flecha limite de muros de
o processo de dimensionamento de pe- termo desta Equação, pois este deverá ser flexão de será de L⁄250 e deve-se salientar
ças de alvenaria submetidas aos esforços avaliado de acordo com as Equações (31) que, para o muro de arrimo em questão, o
de cisalhamento como também o cálculo e (32). valor de L = 2 ∙ Hmur.

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 47
2.6 Outras verificações dos elementos de arrimo. Ele ocorre quando o muro per- da fundação do muro de arrimo. Se as
que compõem o muro de estabilidade lateral e inclina para fora do tensões no solo estiverem próximas ou ul-
plano vertical da estrutura, devido à pressão trapassarem a tensão admissível, medidas
Além das verificações apresentadas do solo. Na análise referente ao tombamen- corretivas devem ser tomadas.
anteriormente, é importante ressaltar que to, é avaliada a relação entre os momentos
o dimensionamento completo de um de atuantes na base da estrutura em ambas as 3. A FERRAMENTA
muro de arrimo deve conter outras análises direções de forma a garantir a estabilidade A ferramenta de cálculo proposta nes-
específicas, não aprofundadas neste traba- do mesmo. De maneira geral, adota-se um te artigo é baseada nas equações descritas
lho, referentes à estabilidade do conjunto coeficiente de segurança que impõe um va- na seção 2 deste trabalho. Para que fosse
quanto à capacidade do solo em absorver lor mínimo para a relação entre os esforços possível estabelecer um modelo interati-
as tensões oriundas das fundações, visando que tendem a inclinar o muro para o lado vo (usuário — máquina) de cálculo, foram
garantir a segurança completa da estrutura. instável e aqueles que tendem a inclinar a construídas equações de Estado Limite
No que tange a análise de estabilidade, estrutura para o lado estável. A Figura 8 para etapa do cálculo da peça estrutural.
duas vertentes principais devem ser abor- apresenta os parâmetros adotados para o Portanto, o formato utilizado foi , onde re-
dadas: (a) a verificação quanto ao escorre- cálculo do momento de tombamento em presenta a demanda do sistema e a ca-
gamento do muro ao longo da base; e (b) a um muro de contenção. pacidade limite imposta por um Estado
estabilidade rotacional da estrutura. A análi- Uma vez que os esforços são defini- Limite Último (ELU) ou Estado Limite de
se do escorregamento envolve a determina- dos e as tensões no solo são calculadas, Serviço (ELS). Portanto, a sequência de
ção do coeficiente de segurança da estrutu- é fundamental compará-las com a tensão dimensionamento e verificações seguirá o
ra através da relação entre as componentes admissível do solo. A tensão admissível é fluxo verificação da geometria, verificação
normais e tangenciais que atuam na mesma o limite máximo de carga que o solo pode do enrijecedor e verificação do painel. No
e o coeficiente de atrito entre o concreto e suportar sem que ocorram falhas ou defor- caso, este programa computacional traba-
a terra, conforme apresentado na Figura 8. mações excessivas. Essa análise tem como lhará apenas para verificação da alvenaria
De posse de tais valores, compara-se o co- objetivo garantir que o solo não será sub- estrutural de muros armados.
eficiente obtido com o estabelecido como metido a tensões que excedam sua capaci- Baseado na marcha de cálculo citada
critério de segurança e, caso esse seja in- dade de suporte, o que poderia resultar em anteriormente, o modelo de cálculo imple-
ferior, adota-se medidas que aumentem o instabilidades, rupturas ou deslocamentos mentado pelo programa computacional
atrito entre a base e a estrutura. indesejados. A comparação entre as ten- seguirá a seguinte sequência:
O tombamento é um dos principais mo- sões atuantes no solo e a tensão admissível
dos de falha que podem afetar um muro é um fator crucial para garantir a segurança 3.1 Verificação da geometria

A verificação da geometria é referente


aos itens da seção 2.1 deste artigo. Logo fo-
ram criadas duas verificações neste ponto.
As verificações são dadas pelas Equações
(39) e (40). A Equação (39) corresponde a
verificação de esbeltez limite (30 para alve-
narias armadas) para alvenarias armadas sem
a consideração do efeito de segunda ordem.
A Equação (40) corresponde a verificação de
altura mínima do enrijecedor (tenr,min).

[39]

[40]

3.2 Verificação do enrijecedor

As verificações do enrijecedor são


divididas entre o ELU e ELS e correspondem
às seções 2.2 a 2.5 deste artigo. Os passos
FIGURA 8 são proposição de uma armadura de fle-
Outras verificações para o muro de arrimo xão, armadura de cisalhamento, posterior
checagem da resistência limite, armaduras

48 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


mínimas e máximas. A Equação (41) está então um novo di-
relacionada ao momento resistente da peça mensionamento
em flexão pura e a Equação (42) está rela- deverá ser realiza-
cionada a armadura máxima permitida na do. Isto evitará que
seção. A Equação (43) corresponde a verifi- erros sejam come-
cação de cisalhamento máximo e a Equação tidos e então o usu-
(44) corresponde a verificação de máximo ário possa perder a
cisalhamento absorvido pela armadura con- precisão em seu
forme condição descrita na seção 2.4 (Equa- projeto.
ção 25). A Equação (45) corresponde a veri- Para exempli-
ficação de flecha máxima do enrijecedor. ficar a marcha de
cálculo, será utili-
[41] zado um muro de
arrimo conforme
descrito na Tabela
[42] 4. Para o exemplo
adotado, foi es-
colhido um bloco
[43] estrutural de con-
creto com resistên-
FIGURA 9 cia característica
[44] Interface do programa computacional (fbk) de 10 MPa. Os
dados relativos ao
prisma (fpk e fpk*),
[45] argamassa (fak) e
graute (fgk) seguem as recomendações do
[50]
Além das verificações, o programa anexo F da NBR 16868 [11].
computacional propõe uma quantidade de A geometria do bloco estrutural está
armadura de cisalhamento e flexão confor- descrita visualmente na Figura 10. Já, a Fi-
me Equações (17) e (29). gura 11 apresenta o esquema de planta baixa
[51] para exemplificação da marcha de cálculo.
3.3 Verificação do painel armado
4.1 Verificação do modelo de muro
A verificação do painel consiste na ve- As Equações (50) e (51) representam em função da esbeltez
rificação de armadura e momento resisten- as verificações do painel no trecho não ar-
te do painel. Logo, as Equações (46) a (51) mado entre canaletas. Estas verificações O primeiro passo é determinar a
descrevem este processo de verificação. seguem o cálculo da tensão de tração do espessura efetiva conforme Equação (1) e
As Equações (46) e (47) dizem respeito ao painel (σSd,t) e ftd, a tensão de tração de posteriormente a esbeltez conforme Equa-
momento resistente e armadura máxima cálculo dada conforme ftk/2,00 , onde ftk é ção (2). No caso deste exemplo, o muro
na direção paralela à fiada no painel, res- definido conforme Tabela 2. apresenta verificação negativa; portanto,
pectivamente. As Equações (48) e (49) di-
zem respeito ao momento resistente e ar- 4. O PROGRAMA COMPUTACIONAL
madura máxima na direção perpendicular E O EXEMPLO DE CÁLCULO
à fiada no painel, respectivamente. A Figura 9 apresenta a interface do
programa computacional, que foi cons-
[46] truída utilizando linguagem Python e o
framework para interface web Streamlit.
Nesta interface, a entrada é dividida en-
[47] tre geometria do muro, propriedades dos
materiais e propriedades do solo. Após o
preenchimento, o usuário poderá clicar no
botão ‘Dimensionar’ e obter o relatório de
[48]
verificação da alvenaria conforme descrito FIGURA 10
na seção 3 deste artigo. Bloco estrutural de concreto com
Qualquer alteração de valores nas ta- t = 19 cm
[49]
belas desabilitará o relatório emitido e

& Construções
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TABELA 4
Dados do modelo de muro de arrimo exemplificado

Variável Descrição Valor Unidade


Hmur Altura do muro 1,79 m
lenr Distância entre enrijecedores (face interna) 2,60 m
[61]
eenr Espessura enrijecedor 0,19 m
tenr Altura enrijecedor 0,39 m
tblo Espessura bloco 0,19 m
[62]
fbk Resistência característica bloco 10,00 MPa
fpk Resistência característica prisma vazio 7,00 MPa
[63]
f*pk Resistência característica prisma cheio 12,30 MPa
fak Resistência característica argamassa 8,00 MPa
Para o dimensionamento dos enrijece-
fgk Resistência característica graute 20,00 MPa
dores, é necessário calcular a peça como
ρsolo Peso específico solo 18,00 kN/m3
uma viga de alvenaria estrutural, armada
α Inclinação talude 0,00 graus
tanto para esforços de cisalhamento como
φ Ângulo de atrito solo 30,00 graus
para esforços de flexão simples. Para essa
ehor Espaçamento horizontal entre fiadas grauteadas 0,60 m
marcha de cálculo, será verificado primei-
ever Espaçamento vertical entre fiadas grauteadas 1,00 m
ramente o dimensionamento ao momento

as condições foram atendidas no requisito


geometria do muro.

[52]

[53]

[54] (a) Planta baixa

[55]

[56]

[57]

[58]
(b) Vista frontal
Portanto, verificou-se que o limite de
esbeltez é inferior a 30 (alvenaria armada).
Contudo, não foi considerado no algoritmo
a possibilidade ocorrência de efeitos de
2ª ordem na alvenaria estrutural. Por isso, a
limitação da esbeltez em 30.

4.2 Verificação enrijecedores

A verificação do enrijecedor inicia-se


pela determinação dos esforços do ele-
mento de viga. No caso, utilizando a Tabe-
la 3, chega-se a um fator de esforços de
0,3924 (valor interpolado — αvz). Com isso,
(c) Posição das fiadas grauteadas
obtém-se os esforços no enrijecedor:
[59]
FIGURA 11
Planta do muro de arrimo exemplo
[60]

50 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


fletor. Considerando que o valor da altura de denr igual a 0,82
útil d = 0,39 - 0,050 = 0,34 m , será verifica- m. Aproximando
do as restrições relativas ao momento fletor. tal valor encon-
trado de medidas
[64] construtivas usuais,
tem-se a adoção
de dois blocos e
meio, totalizando
[65] o valor de 99 cm,
conforme apresen-
FIGURA 12
tado na Figura 12.
[66] Nova geometria do muro de arrimo aumentando
Sendo assim,
a altura do enrijecedor (tenr)
os valores das ve-
rificações ante-
[67] riores mudam e
aqui mostraremos novamente o trecho do 4.3 Verificação painéis
cisalhamento.
Para cálculo dos esforços nos painéis, é
[68] [76] necessário verificar inicialmente o peso pró-
prio do painel que conforme a Tabela 2 da
Feita a verificação de tensão de cisa- NBR 6120 [16] será de 3,40 kN/m2 para blo-
lhamento, é necessário verificar a armadu- cos com 2 cm de espessura de reboco por
[69] ra para este tipo de esforço. face. Como o muro possui altura total de
1,79 m, o valor da carga distribuída será de
[77] 6,09 kN/m. Considerando que cada painel
é responsável pelo trecho de carga entre
[70]
[78] enrijecedores, a carga total Pk,PP é dada por
Pk,PP = 6,09.2,60 = 15,83 kN.
A relação h/l do muro é dada por
[71] [79] 1,79/2,60 = 0,81. Portanto, considerando
um painel armado com a relação h/l = 0,81
Partindo para as verificações de cisa- No caso deste muro, o valor necessário deve-se determinar os esforços para a con-
lhamento no enrijecedor: para a armadura absorver é negativo, logo dição de 3 lados apoiados e um livre. Logo,
isto indica que os mecanismos internos do também é necessário a obtenção do fator
prisma absorveriam toda a força cortante. de ortogonalidade (μ), que é calculado
[72] conforme Equação (7).
Por convenção, aplicou-se que Vs = 0 nes-
tas ocasiões. Caso Vs fosse positivo seriam
[84]
aplicadas as equações (25) a (30). No caso
[73] deste muro em específico, a área de aço foi
a área mínima com 1,50 ∙ 10-4 m² ⁄ m.
Para finalizar a verificação do enrije- [85]
[74] cedor, é necessário determinar a flecha no
mesmo considerando a possibilidade de
fissuração na peça conforme NBR 6118 [15]
e NBR 16868 [11]. [86]
[75]
[80] Obtido os valores de μ e h ⁄ l , é possí-
Portanto, observando o resultado da vel obter o valor de βf através da interpola-
Equação (75), pode-se afirmar que o muro ção na Tabela E.2 da NBR 16868 [11]. Para
com as condições informadas não passa as condições descritas acima, o valor de
na verificação de ELU para cisalhamento.
[81] βf = 0,0646. Logo, é possível obter o valor
Peça não fissurada pois
Logo, será necessário mudar a geometria dos esforços para as direções paralela e
do mesmo para novas verificações. A nova perpendicular do painel.
proposta de geometria partiu da mesma
premissa apresentada na Equação (75), [82] [87]
porém tomando o valor de denr como in-
cógnita, de modo a obter o menor valor do
mesmo que satisfaça condição apresenta-
[83] [88]
da. Desta forma, foi possível obter um valor

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 51
A última verificação consiste na verifica-
[89] ção dos trechos entre as canaletas que não es- [98]
tão armados. Portanto, será utilizada a Tabela
Para aplicação das equações referen- E.1 da NBR 16868 [11] para determinação dos
tes ao momento fletor, é necessário trans- esforços. Logo, repete-se o mesmo processo [99]
formar os momentos em função da faixa descrito no início da seção 4.3, com determi-
de espaçamento. Este procedimento é nação dos momentos paralelo e perpendicular
similar ao de lajes nervuradas quando os e então aplica-se as Equações (50) e (51). 5. CONCLUSÕES
momentos são multiplicados pelo tamanho A relação h/l da parcela não arma- Nesse artigo foi desenvolvida uma
nas nervuras. No caso, a largura das nervu- da contemplada pelos trechos de influ- ferramenta de dimensionamento e veri-
ras são os espaçamentos horizontal e ver- ência das direções paralelas e perpen- ficação do elemento de alvenaria estru-
tical adotados pelo usuário. Para este muro diculares. Portanto, considerando essa tural em muros de contenção conforme
de arrimo, os valores são de 60 cm para parcela de painel não armada e relação as prescrições da nova NBR 16868 [11].
espaçamento horizontal (ehor) e 100 cm h/l = 0,60/1,00 = 0,60. Para esse painel em es- Quanto a esse objetivo, o artigo cumpre
para espaçamento vertical (ever). O valor pecífico, foi considerado a tabela para os qua- êxito. O link para acesso a ferramenta é:
desta faixa não deverá superar o valor de tro lados apoiados. Para essa relação o valor https://wmpjrufg.github.io/ARRIMO/.
6.t (item NBR 16868 [11] item 11.3.5), onde t de βf = 0,039. A ferramenta em questão permite que en-
indica a espessura do muro de arrimo. genheiros e estudantes de engenharia possam
Considerando que para o painel em [94] fazer estudos paramétricos relacionados à
questão a altura útil (d) é de 0,14 m , veri- disciplina de alvenaria estrutural e contenções.
ficam-se as condições de momento resis- Além disso, o ambiente interativo e gráfico
tente e armadura máxima conforme Equa- permite que o usuário possa reduzir o tempo
ções (41) e (42): [95]
de sua curva de aprendizagem no sistema.
Outro fator importante a respeito da platafor-
Verificando as tensões atuantes e com-
[90] Direção paralela fiada ma é que a linguagem Python permite uma
parando com a tensão resistente da arga-
expansão rápida e fácil do sistema criado.
massa, é possível verificar que a região não
Como sugestão de trabalhos futuros pode
armada atende às verificações de tensão.
ser observada a questão de ampliação deste
[91] sistema para outros tipos de muro de arrimo,
[96] como o de gravidade e os muros com outros
[92] Direção perpendicular fiada
materiais estruturais. Além disso, pretende-se
propor novas verificações de projeto e tam-
bém emitir relatórios mais detalhados sobre
[93] [97] projeto estrutural que possam incluir “dese-
nhos” das armaduras e formas do muro.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Leet K, Uang C-M, Lanning J, Gilbert AM. Fundamentals of structural analysis. Fifth edition. New York, NY: McGraw-Hill Education; 2018.
[2] MCAA. History of Masonry 20--. https://www.masoncontractors.org/history/.
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Engenharia Civil. Universidade Federal de Uberlândia (UFU), 2013.
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[5] Mohamad G. Mecanismo de ruptura da alvenaria de blocos à compressão. Doutorado em Engenharia Civil. Universidade do Minho (UM), 2007.
[6] Moliterno A. Caderno de muros de arrimo. 2nd ed. São Paulo: Blucher; 1994.
[7] Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 11682: Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro: ABNT; 2006.
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Engenharia Civil. Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), 2014.
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CRC; 1998.
[10] ABNT NBR 6122: Projeto e execução de fundações. Rio de Janeiro: ABNT; 2019.
[11] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 16868 — Alvenaria Estrutural. Rio de Janeiro: ABNT; 2020.
[12] Canadian Standards Association. CSA S304 — Design of Masonry Structures. Canadá: CSA; 2014.
[13] Eurocode. EN 6: Design of masonry structures — Part 1-1: General rules for reinforced and unreinforced masonry structures. Eurocode; 2005.
[14] Reynolds CE, Steedman JC, Threlfall AJ, Reynolds CE. Reynolds’s reinforced concrete designer’s handbook. 11th ed. London ; New York: Taylor
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[15] Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto-procedimento. Rio de Janeiro: ABNT; 2014.
[16] Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR 16868 - Alvenaria estrutural Parte 1: Projeto. Rio de Janeiro: ABNT; 2021.

52 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


Normas Técnicas
Nova norma de execução de
estruturas de concreto inclui o
concreto reforçado com fibras
FÁBIO LUÍS PEDROSO – Editor – https://orcid.org/0000-0002-5848-8710 (fabio@ibracon.org.br)

F
oi publicada em abril de 2023 a senso sobre o projeto
nova norma brasileira ABNT NBR final do texto. “Ne-
14931 Execução de estruturas de nhum comentário fi-
concreto armado, protendido e com fi- cou de fora desta nova
bras – Requisitos. Passaram-se quase 20 versão da norma, pelo
anos desde a última revisão, em 2004, menos, nada de rele-
quando foi acrescida uma Emenda à vante”, informa Lydio
norma recém-publicada em 2003. Bandeira.
Esta norma estabelece os requisitos Ele atribui a demo-
para a execução de estruturas de concre- ra na revisão da norma
to armado, protendido e reforçado com à maior extensão do
fibras combinadas ou não com arma- texto revisado – que
duras, conforme definidos em projetos passou de 59 páginas
elaborados de acordo com a ABNT NBR para 97 páginas -, à
6118 Projeto de Estruturas de Concreto e periodicidade men-
ABNT NBR 16935 Projeto de estruturas sal das reuniões e aos
de concreto reforçado com fibras. ajustes de padroniza-
O título da norma foi alterado em rela- ção após a conclusão
ção à sua versão anterior, de 2004, com o do texto-base.
propósito de deixar claro que a ABNT NBR Marco Cárnio, pro-
14931 se aplica não só às estruturas de con- fessor da PUC-Cam-
creto armado e protendido, mas também pinas, foi o respon-
às estruturas de concreto reforçado com sável por propor a
fibras, segundo o colaborador da Comis- inclusão do concreto
são de Estudo de Execução de Estruturas reforçado com fibras
de Concreto (CE-002:124.019), Eng. Lydio na ABNT NBR 14931.
dos Santos Bandeira de Mello, que repre- Ele é coordenador do
Vista superior de concretagem do bloco do Edifício Vitra: alta taxa de
sentou a Câmara Brasileira da Indústria da armadura exigiu uso do CAA CT 303 Comitê IBRA-
Construção (CBIC). “Assim, este assunto CON/ABECE sobre
não ficará ‘escondido’ dentro da norma, 2017 e finalizou com a reunião de julho uso de materiais não convencionais
como, de certa forma, acontecia com o de 2022. Participaram dessas reuniões nas estruturas de concreto. Em 2016,
concreto protendido nas versões anterio- representantes de fabricantes de cimen- o CT 303 publicou a Prática Recomen-
res da ABNT NBR 14931”, complementa. to, de empresas de serviços de concreta- dada sobre Projeto para Estruturas de
gem, empresas de controle tecnológico, Concreto Reforçado com Fibras e, em
REUNIÕES DURANTE CINCO ANOS fabricantes de aditivos químicos para 2017, as Práticas Recomendadas sobre
Um desafio para aqueles que se en- concreto, escritórios de projeto estrutu- controle da qualidade das macrofibras
volvem com o processo de normalização ral, universidades, fornecedores de siste- poliméricas e de aço e do concreto re-
da construção civil é o de fazer com que, mas de fôrmas, fabricantes de barras e forçado com fibras.
de fato, as normas se incorporem ao dia fios de aço, empresas especializadas em Mediador entre as discussões ocor-
a dia das empresas do setor. protensão e em recuperação estrutural. ridas no CT 303 e no CE-002:124.019,
A revisão da norma ABNT NBR 14931 Passaram-se cinco anos e meio de Cárnio considera que “as publicações
começou com a reunião de outubro de discussões antes de se chegar a um con- sobre concreto reforçado com fibras do

& Construções
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CT 303 foram importantes para serem u Sugestão de três níveis diferencia-
usadas como referência na elaboração dos de inspeção da execução das
das partes da norma que tratam sobre a estruturas de concreto, em função
execução dessas estruturas”. do impacto de possíveis falhas na
Em razão desta novidade e para ten- estrutura ou num de seus elementos,
tar superar o gargalo do uso das normas componentes ou materiais;
pelo setor construtivo, foi importante u Recomendação da Análise Preliminar
destacar já no título da ABNT NBR 14931 de Riscos (APR) associada à execu-
seu maior diferencial em termos de es- ção das estruturas de concreto, con-
copo – a execução das estruturas de siderando os riscos presentes nos
concreto reforçado com fibras. ambientes interno e externo à obra;
“O processo de execução de uma u Simplificação da seção que trata dos
estrutura, que tem início no desenvol- sistemas de fôrmas e de escoramen-
vimento de seus projetos conforme as tos por meio de referências à ABNT
ABNT NBR 6118 e ABNT NBR 16935, será NBR 15696 Fôrmas e escoramentos
concluído satisfatoriamente quando a para estruturas de concreto – proje-
estrutura for executada de acordo com a to, dimensionamento e procedimen-
ABNT NBR 14931”, exorta Bandeira. tos executivos, publicada em 2009;
u Recomendações a respeito da con-
NOVIDADES E ALTERAÇÕES cretagem em períodos chuvosos e
Além dos requisitos voltados ao aos procedimentos a serem seguidos
concreto reforçado com fibras, a ABNT no concreto bombeado;
Eng. Marco Cárnio em apresentação no
NBR 14931:2023 apresenta as seguintes u Redefinição das tolerâncias para o Seminário sobre Concreto com Fibras
novidades ou alterações relevantes: posicionamento das armaduras pas-
u Anexo no qual são apresentadas as sivas de elementos estruturais em ambientais, como a poluição de cur-
principais alterações promovidas em concreto armado e protendido, que sos de água próximos às obras, a
relação à sua versão anterior de 2004; contou com a colaboração da Comis- poluição do ar provocada por equi-
são de Estudo responsável pela revi- pamentos e veículos com motores a
são da ABNT NBR 6118; diesel e por particulados em suspen-
u Revisão e reordenação dos procedi- são no ar oriundos da operação de
mentos de tratamento das juntas de usinas de concreto nos canteiros;
concretagem, classificadas em juntas u Na seção referente ao canteiro de
previstas em projeto ou inerentes ao obra, há uma recomendação para
processo de execução da estrutura e elaboração de um projeto de can-
juntas não previstas; teiro, no qual devem ser previstos
u Ampliação do conteúdo sobre a cura locais para disposição temporária
do concreto; de resíduos e lavagem dos cami-
u Anexo abordando recebimento, ar- nhões-betoneira, que devem ter
mazenamento e condições de utili- destinação adequada.
zação de materiais especificados nos Na avaliação do Eng. Marco Cárnio,
projetos de estruturas de concreto. a atualização da norma melhora a apli-
Em suma: das 42 alterações promo- cabilidade do triplé projeto-execução-
vidas, 19 são novidades, enquanto as de- -controle, que garante a construção de
mais são mudanças relevantes. “Muitas obras com qualidade. Já, para o Eng.
dessas novidades têm caráter meramente Lydio Bandeira, a normalização de to-
informativo ou são recomendações, que, das as atividades envolvidas na exe-
em futuras versões da norma, podem se cução das estruturas de concreto con-
tornar requisitos”, orienta Bandeira. tribui para que a estrutura projetada
Vale destacar os aspectos norma- tenha o desempenho esperado, incluindo
tivos relacionados a reduzir impactos sua durabilidade.
ambientais na execução de estruturas de “Costuma-se dizer que uma norma téc-
concreto, tais como: nica é a indicação de um ‘caminho seguro’,
u Na subseção que trata da análise porque já foi percorrido por diversas pes-
preliminar de risco, é sugerido que soas e que, quando seguido, há uma alta
se considere entre os riscos no am- probabilidade de se alcançar os resultados
Lançamento de concreto reforçado com fibras biente externo à obra os impactos esperados”, conclui Bandeira.

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DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.111.0006

Pesquisa e desenvolvimento
Dimensionamento de vigas de concreto
armado com barras de FRP segundo
a Prática Recomendada IBRACON/
ABECE (2021) e ACI 440.1R (2015)
AMANDA D. E. MAZZÚ – Dout. – https://orcid.org/0000-0001-9383-3260 (amandadescobal@hotmail.com);
GLÁUCIA M. DALFRÉ – Profª. Dra. – https://orcid.org/0000-0003-3623-5103 | UFSCar
EDNA POSSAN – Profª. Dra. – http://orcid.org/0000-0002-3022-7420 | UNILA

RESUMO – Polímeros Reforçados com Fibras) nas úl- ra de FRP e, conforme Dalfré, Ferreira e

N
os últimos anos tem crescido no timas décadas (MOOLAEI; SHARBATDAR; Mazzú (2020), a melhor situação de di-
Brasil o interesse na pesquisa e uti- KHEYRODDIN, 2021). mensionamento passa a ser a ruína por
lização de armadura de FRP (Fiber O FRP é um material compósito ob- esmagamento do concreto na fibra mais
Reinforced Polymer – Polímero Reforçado tido pela junção de dois materiais quimi- comprimida, uma vez que se obtém pe-
com Fibras) em estruturas de concreto ar- camente distintos, sendo um material de quena ductilidade pelo desenvolvimento
mado, tendo em vista suas vantagens com re- reforço (fibras) envolvido por uma matriz do comportamento plástico do concreto
lação à resistência à corrosão apresentada polimérica (resina), visando à obtenção antes da ruptura.
por este material. Recentemente foi publicada de propriedades físicas e mecânicas par- Já existem há alguns anos normas para
a primeira recomendação nacional para o uso ticularmente desejadas (PRÁTICA RE- o dimensionamento de estruturas com
deste material como armadura e encontram- COMENDADA IBRACON/ABECE, 2021). barras de FRP nos Estados Unidos, Cana-
-se em desenvolvimento normas ABNT para Dalfré, Mazzú e Ferreira (2021) indicam que dá, Japão, Europa e Rússia. No Brasil, re-
orientar o projeto de estruturas com arma- os polímeros reforçados com fibras de car- centemente foi lançada a primeira Prática
dura de FRP e a caracterização deste tipo bono (CFRP – Carbon Fiber Reinforced Recomendada IBRACON/ABECE (2021)
de material. Assim, este trabalho tem como Polymer), vidro (GFRP – Glass Fiber para estruturas de concreto armado com
objetivo apresentar a metodologia para o di- Reinforced Polymer), aramida (AFRP – barras de FRP e normas Brasileiras encon-
mensionamento de vigas de concreto armadas Aramid Fiber Reinforced Polymer) e basalto tram-se em processo de desenvolvimento
à flexão com armadura deGFRP (Glass Fiber (BFRP – Basalt Fiber Reinforced Polymer) na ABNT com o objetivo de normalizar a
Reinforced Polymer – Polímero Reforçado são os mais comumente utilizados. caracterização e o projeto de estruturas
com Fibras de Vidro) com o uso da Prática As diferenças nas propriedades me- com este material, propiciando a difusão e
Recomendada IBRACON/ABECE (2021) e da cânicas das barras de FRP em relação aplicação da técnica com segurança.
norma americana ACI 440.1R (2015), poste- ao aço convencional implicam alterações Na inexistência de norma técnica, a
riormente comparando os resultados teóricos no comportamento mecânico já bastan- Prática Recomendada IBRACON/ABECE
a resultados experimentalmente obtidos. Foi te conhecido de estruturas de concreto (2021) é o documento referência para o
possível concluir que os modelos utilizados com armadura de aço. Segundo Mazzú dimensionamento de vigas de concreto
previram com acerto o modo de ruína obtido (2020), é necessário que os procedimen- armado à flexão com barras de GFRP,
experimentalmente e permitiram o dimensiona- tos de dimensionamento sejam adapta- cuja metodologia é apresentada neste
mento seguro das vigas analisadas. dos às propriedades da armadura não artigo. Também são comparados resul-
metálica de FRP. tados experimentais obtidos pelo ensaio
Palavras-chave: fiber reinforced polymers, De acordo com o ACI 440.1R (2015), de vigas em escala real, com armadura
concreto, vigas, dimensionamento, norma. ao contrário das barras de aço conven- longitudinal positiva de GFRP, com os re-
cional, as barras de FRP não apresentam sultados teóricos estimados com base na
1. INTRODUÇÃO escoamento, atingindo a resistência últi- metodologia apresentada neste trabalho
Os problemas encontrados devido à ma com comportamento elástico linear e na metodologia de cálculo americana
corrosão das armaduras metálicas das es- e apresentando ruptura frágil. Assim, o do ACI 440.1R (2015), que se encontra
truturas de concreto armado impulsionaram escoamento das barras não pode ser le- detalhada no trabalho de Dalfré, Ferreira
o estudo e o uso das armaduras não me- vado em consideração para o dimensio- e Mazzú (2020), publicado na edição 98
tálicas de FRP (Fiber Reinforced Polymers namento de um elemento com armadu- da CONCRETO & Construções.

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 55
2. PROCEDIMENTOS PARA O ffk = resistência à tração característica do
DIMENSIONAMENTO À FLEXÃO FRP (MPa); TABELA 1
DE VIGAS SEGUNDO A PRÁTICA γc = fator de redução da resistência do Fator de redução da resistência de
barras de FRP em função do tipo de
RECOMENDADA IBRACON/ABECE concreto;
combinação de ações considerado
(2021) γs = fator de redução da resistência do aço;
Segundo a Prática Recomendada γm = fator de redução da resistência do FRP e;
Combinação γm
IBRACON/ABECE (2021), para elemen- CE = fator de redução ambiental do FRP.
tos lineares submetidos à flexão, como no Os valores dos fatores de redução da ELU normal 1,30
caso de vigas, o dimensionamento deve resistência do concreto e do aço podem ELU especial ou de construção 1,20
ser realizado considerando-se as seguintes ser obtidos a partir das recomendações ELU excepcional 1,20
hipóteses: da ABNT NBR 6118 (2014) e são tomados ELU fadiga 1,20
a) as seções permanecem planas após iguais a 1,4 e 1,15, respectivamente. Com re- ELS 1,00
Fonte: Prática Recomendada IBRACON/ABECE (2021)
a flexão; lação aos fatores de redução da resistência
b) o diagrama retangular equivalente de do FRP e de redução ambiental, estes são
tensões no concreto é dado de acordo apresentados pela Prática Recomendada (Equações 5 e 6).
com as disposições da ABNT NBR 6118 IBRACON/ABECE (2021) em função do tipo
(2014); de combinação de ações e do tipo de FRP [5]
c) a resistência à tração do concreto utilizado, conforme apresentado nas Tabe-
é desprezada; las 1 e 2. As combinações de ações para ELU
d) as tensões na armadura de FRP são (Estado Limite Último) e ELS (Estado Limi- [6]
proporcionais às deformações, consi- te de Serviço) devem ser consideradas de
derando-se comportamento elástico acordo com a ABNT NBR 6118 (2014). Onde:
linear até a ruptura; Para garantir a segurança da estrutura, ρf = taxa de armadura;
e) aderência perfeita entre a armadura e esta deve atender ao ELU no todo e para ρfb = taxa de armadura balanceada;
o concreto. suas partes durante sua vida útil. Desta for- Af = área de armadura longitudinal de
A Prática Recomendada IBRACON/ ma, a condição apresentada na Equação FRP (mm²);
ABECE (2021) adota o dimensionamento 4 deve ser atendida, ou seja, os esforços b = largura da seção (mm);
realizado com base nos Estados Limites Úl- solicitantes de cálculo obtidos para as si- d = altura útil (mm);
timo (ELU) e de Serviço (ELS), de acordo tuações mais desfavoráveis que podem λ = parâmetro que determina a altura do
com os procedimentos descritos na ABNT ocorrer ao longo da vida útil da estrutura diagrama retangular equivalente de ten-
NBR 6118 (2014). Desta forma, os valores (incluindo a fase construtiva) devem ser sões no concreto comprimido;
característicos das resistências dos mate- menores do que a resistência de cálculo. αc = parâmetro que determina a tensão
riais devem ser minorados por fatores de [4] equivalente no concreto comprimido;
redução para a obtenção dos valores de Ef = módulo de elasticidade do FRP (GPa) e;
cálculo, tal como apresentado nas Equa- Onde: εcu = deformação última de compressão
ções 1 a 3. Sd = esforços solicitantes de cálculo e; no concreto (‰). Os valores de λ, αc e εcu
Rd = resistência de cálculo. podem ser obtidos a partir das recomen-
[1] Segundo a Prática Recomendada dações da ABNT NBR 6118 (2014), sendo
IBRACON/ABECE (2021), apesar de ser λ = 0,8, αc = 0,85 e εcu = 3,5‰ para concre-
similar ao dimensionamento de estrutu- tos com fck menor ou igual a 50 MPa.
[2] ras de concreto com armadura de aço,
o dimensionamento de estruturas com
barras de FRP deve ser feito conside- TABELA 2
[3] rando-se o comportamento frágil deste Fator de redução ambiental
material. Assim, dois possíveis modos em função do tipo de FRP e

Onde: de ruptura são considerados, sendo um exposição ambiental

fcd = resistência à compressão de cálculo baseado na ruína pelo esmagamento do


do concreto (MPa); concreto e outro baseado na ruína pela Condição de
Material CE
fyd = resistência ao escoamento de cálculo ruptura da barra. O modo de ruína que exposição
do aço (MPa); governa o comportamento do elemento Interior e sem AFRP 0,9
ffd = resistência à tração de cálculo do FRP pode ser determinado pela relação entre contato com CFRP 1,0
o solo GFRP/BFRP 0,8
(MPa); a taxa de armadura longitudinal presen-
fck = resistência à compressão característi- te na seção e a taxa de armadura balan- Exterior ou em AFRP 0,8
ca do concreto (MPa); ceada, a qual é definida como a taxa de contato com CFRP 0,9
o solo GFRP/BFRP 0,7
fyk = resistência ao escoamento caracterís- armadura fictícia para a qual se observa
Fonte: Prática Recomendada IBRACON/ABECE (2021)
tica do aço (MPa); a transição entre os modos de ruína

56 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


2.1 Ruína governada pela ruptura deformações. Assim, o momento resis- P_45d e V2_LAB_GFRP_45), são compa-
da armadura longitudinal de FRP tente pode ser calculado pela Equação 10, rados aos resultados teóricos estimados
podendo-se calcular a tensão instalada na com o uso da ABNT NBR 6118 (2014) e ACI
Caso , o modo de ruína que governa o armadura de FRP por meio da Equação 11. 318 (2019) para as vigas com armadura de
comportamento do elemento é a ruptura aço e com o uso da Prática Recomendada
da armadura longitudinal de FRP tracio- IBRACON/ABECE (2021) e ACI 440.1R
nada e os diagramas de deformações e (2015) para as vigas com armadura de
[9] GFRP. As metodologias de cálculo do
tensões podem ser obtidos tal como apre-
sentado na Figura 1. Utilizando-se a com- ACI 318 (2019) e da ABNT NBR 6118 (2014)
patibilidade de deformações e fazendo-se para as vigas com armadura de aço encon-
o equilíbrio da seção transversal, é possí- tram-se detalhadas no trabalho de Dalfré,
vel calcular a profundidade da linha neutra [10] Mazzú e Ferreira (2021), publicado na edi-
pela Equação 7. O momento resistente da ção 101 da CONCRETO & Construções.
seção transversal pode ser calculado utili- Tais vigas ensaiadas por Mazzú (2020)
zando-se a Equação 8. [11] apresentaram seção transversal de
12 x 20 cm, comprimento de 250 cm, vão
[7] Onde: livre entre apoios de 230 cm (biapoiadas),
σfd = tensão instalada na armadura de cobrimento de 15 mm, armadura longitu-
FRP (MPa). dinal negativa composta por duas barras
[8] de aço CA-50, com diâmetro de 6,3 mm
3. MATERIAIS E MÉTODOS (porta estribos) e armadura transversal
Onde: Mazzú (2020) conduziu um estudo ex- composta por estribos de aço CA-60,
x = profundidade da linha neutra (mm) e; perimental que buscou avaliar o comporta- com diâmetro de 5 mm, espaçados a cada
MRd = momento resistente de cálculo da se- mento mecânico e a durabilidade de vigas 10 cm. Como armadura longitudinal posi-
ção transversal (N·mm). de concreto armado com barras de aço e tiva, em duas vigas foram utilizadas duas
de GFRP quando submetidas ao ataque barras de aço CA-50, com diâmetro de
2.2 Ruína governada pelo esmagamento acelerado de íons cloreto. Para o presente 10 mm, e em duas vigas foram utilizadas
do concreto trabalho, foram selecionados os resultados duas barras de GFRP, com diâmetro de
experimentais obtidos por Mazzú (2020) 10 mm. A Figura 3 apresenta as seções
Caso ρf > ρfb, o modo de ruína que go- por meio da execução de ensaios de flexão transversais e o esquema de ensaio
verna o comportamento do elemento é o em três pontos realizados em quatro vigas das vigas.
esmagamento do concreto comprimido. de concreto armado mantidas em ambien- As propriedades mecânicas do con-
A Figura 2 apresenta os diagramas de te laboratorial (LAB) por 45 dias (45d) creto, do aço e do GFRP utilizados fo-
deformações e tensões para este tipo de após a concretagem. Assim, os resultados ram obtidas por meio de ensaios realiza-
ruína, por meio dos quais pode ser obtida experimentais das quatro vigas selecio- dos em laboratório por Mazzú (2020).
a profundidade da linha neutra, conforme nadas, sendo duas com armadura de aço Assim, foi obtida resistência à compressão
a Equação 9, fazendo-se o equilíbrio da (V1_LAB_S_45d, V2_LAB_S_45d) e duas do concreto de 32,79 MPa, resistência ao
seção com o uso da compatibilidade de com armadura de GFRP (V1_LAB_GFR- escoamento e módulo de elasticidade do

FIGURA 1 FIGURA 2
Diagramas de deformações e tensões na seção transversal Diagramas de deformações e tensões na seção transversal
para o caso de ruína pela ruptura da armadura de FRP para o caso de ruína pelo esmagamento do concreto
Fonte: Adaptado de Prática Recomendada IBRACON/ABECE (2021) Fonte: Adaptado de Prática Recomendada IBRACON/ABECE (2021)

& Construções
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A B

FIGURA 3
Seções transversais das vigas de concreto armadas com barras de aço (a) e de GFRP (b) e esquema longitudinal das
vigas (c) – medidas em centímetros
Fonte: Mazzú (2020)

aço (diâmetro de 10 mm) de 565,35 MPa longo do dimensionamento, mas redu- dução das resistências dos materiais (no
e 194,33 GPa, respectivamente, e resistên- zem o momento resistente calculado por caso das normas brasileiras) e dos coefi-
cia à tração e módulo de elasticidade do um coeficiente que depende do modo cientes de minoração do momento resis-
GFRP (diâmetro de 10 mm) de 1554,88 MPa de ruína que governa o comportamen- tente (no caso das normas americanas),
e 64,19 GPa, respectivamente. to do elemento estrutural. Já, a ABNT visando aproximar uma situação de pro-
Apesar de existirem similaridades NBR 6118 (2014) e a Prática Recomen- jeto real, e, também, desconsiderando-se
entre os procedimentos de dimensiona- dada IBRACON/ABECE (2021) minoram tais fatores de redução, visando melhor
mento das recomendações brasileira e as resistências dos materiais durante o aproximação dos resultados obtidos em
americana, tanto para armaduras de aço dimensionamento para garantir a segu- laboratório, sob ambiente controlado.
quanto para armaduras de FRP, existem rança do elemento estrutural, não redu- Além disso, as metodologias de dimen-
particularidades que conduzem a dife- zindo o momento resistente calculado sionamento das vigas com barras de GFRP,
renças nos resultados. O ACI 318 (2019) ao término do dimensionamento. Desta tanto brasileira quanto americana, levam
e o ACI 440.1R (2015) não consideram a forma, os resultados experimentais foram em conta a agressividade do ambiente por
aplicação de fatores de redução da resis- comparados aos teóricos obtidos, consi- meio da aplicação de um fator ambien-
tência do aço, do FRP e do concreto ao derando-se a aplicação dos fatores de re- tal de redução, o qual, neste trabalho, foi

58 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


utilizado igual a 0,8, uma vez que as vigas
aqui apresentadas não foram mantidas sob TABELA 3
a influência de água e intempéries. Resultados experimentais e teóricos para as vigas com armadura de aço

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO V_LAB_S_45d


Neste trabalho, os resultados expe- Força máxima (kN) Diferença (%)
Modo
rimentais obtidos Mazzú (2020) para de ruína Com Sem Com Sem
quatro vigas de concreto armado, sen- redução redução redução redução
do duas com armadura de aço e duas Escoamento
Mazzú (2020) 26,05 —
do aço
com armadura de GFRP, foram com-
Escoamento
parados aos resultados teóricos de- ACI 318 (2019) 22,48 24,98 13,71 4,12
do aço
terminados com base nos modelos ABNT NBR Escoamento
21,33 24,98 18,11 4,12
de dimensionamento das normas ACI 6118 (2014) do aço
318 (2019) e ABNT NBR 6118 (2014),
para as vigas com armadura de aço, e
ACI 440.1R (2015) Prática Recomendada ças nas inclinações das curvas. Após a previram com acerto o modo de ruína das
IBRACON/ABECE (2021) para as vigas fissuração, o comportamento das vigas vigas, o qual foi baseado no escoamento
com armadura de GFRP. Assim, na Figu- passa a se diferenciar, observando-se a do aço. Além disso, quando se considera
ra 4 são apresentadas as curvas de forçaformação de patamar de escoamento a aplicação dos coeficientes de redução
versus deslocamento vertical a meio vão para as vigas com armadura de aço e das resistências dos materiais (no caso
obtidas por Mazzú (2020) por meio de comportamento linear até a ruptura para da norma brasileiro) e o coeficiente de
ensaios de flexão em três pontos. as vigas com armadura de GFRP. Segun- redução do momento resistente (no caso
do Mazzú (2020), foi observada rigidez
Na Figura 4, é possível notar a dife- da norma americana), nota-se que a nor-
rença entre os comportamentos mecâni- 66% inferior das vigas com armadura de ma brasileira resulta em valores mais con-
cos das vigas com armadura de aço e de GFRP em relação às vigas com armadura servadores, com maior diferença em rela-
GFRP. Até o surgimento da primeira fis- de aço após a fissuração. As vigas com ção aos resultados experimentais (18,11%).
sura, todas as vigas apresentam curvas armadura de GFRP apresentaram força Entretanto, sem o uso dos coeficientes,
praticamente coincidentes, uma vez que máxima e deslocamento vertical 37% e ambas as normas resultam no mesmo
até este momento o concreto é respon- 78% superiores, respectivamente, quan- valor de capacidade resistente, com di-
do comparadas às vigas com armadura
sável por resistir às solicitações impos- ferença de 4,12% em relação aos resul-
de aço convencional, tendo em vista a
tas. A partir de então, as armaduras pas- tados experimentais. Dessa forma, com
sam a ser solicitadas e as vigas perdem maior resistência à tração e menor mó- exceção da metodologia de aplicação
rigidez, fato demonstrado pelas mudan- dulo de elasticidade deste material. dos coeficientes de segurança, as normas
Nas Tabelas 3 apresentam as mesmas formulações para
e 4 são apresenta- o cálculo da capacidade resistente e for-
dos os resultados necem os mesmos resultados teóricos.
teóricos obtidos Analisando-se a Tabela 4 é possível
por meio dos mo- observar que, quando considerados os
delos de dimen- coeficientes de redução, a norma ame-
sionamento, com e ricana resulta em valores bem mais con-
sem reduções, em servadores em relação aos resultados
comparação aos experimentais do que a recomendação
resultados expe- brasileira, com diferença de 46,54%. Já
rimentais de Ma- a recomendação brasileira apresenta di-
zzú (2020) para ferença de 29,72%, valor inferior à nor-
as vigas com ar- ma americana, mas ainda demonstrando
madura de aço e a segurança dos valores considerados
de GFRP. em um projeto real em relação aos ob-
Com relação às tidos em laboratório. Quando se des-
vigas com arma- consideram os coeficientes de redução,
dura de aço, no- simulando um ambiente controlado de
ta-se na Tabela 3 laboratório, os valores obtidos por meio
FIGURA 4 que ambos os mo- da aplicação das metodologias de di-
Curvas força versus deslocamento vertical a meio vão
das vigas
delos do ACI 318 mensionamento se aproximam mais dos
Fonte: Adaptado de Mazzú (2020) (2019) e da ABNT resultados experimentais, sendo a norma
NBR 6118 (2014) americana mais conservadora em relação

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 59
u Ainda que menos conservadora, a re-
TABELA 4 comendação brasileira para a utilização
Resultados experimentais e teóricos para as vigas com armadura de GFRP de armadura de GFRP apresenta resul-
tados seguros em relação aos resulta-
V_LAB_GFRP_45d dos experimentais;
Força máxima (kN) Diferença (%) u Quando se desconsideram os coe-
Modo
de ruína Com Sem Com Sem ficientes de redução para o dimen-
redução redução redução redução sionamento das vigas com armadu-
Esmagamento ra de GFRP, os valores obtidos de
Mazzú (2020) 35,60 —
do concreto
forma teórica se aproximam mais
ACI 440.1R Esmagamento
19,03 29,28 46,54 17,76 dos resultados experimentais, com a
(2015) do concreto
Prática norma americana ainda sendo mais
Recomendada Esmagamento
25,02 30,85 29,72 13,34 conservadora; e
IBRACON/ do concreto u Todas as normas previram com acerto
ABECE (2021)
o modo de ruína obtido nos ensaios
experimentais.
à recomendação brasileira, com diferen- u As vigas com armadura de aço e de GFRP Ressalta-se que, mesmo que esteja
ças de 17,76% e 13,34%, respectivamente. apresentam comportamentos mecânicos em processo de crescimento, a aplica-
Nota-se que ambos os modelos previram distintos, sendo que a primeira apresenta ção das barras de FRP como armadura
com acerto o modo de ruína obtido ex- patamar de escoamento no qual o des- ainda não é tão comum quando compa-
perimentalmente, o qual foi baseado no locamento aumenta sem grandes incre- rada às armaduras de aço convencional.
esmagamento do concreto comprimido. mentos de força e a segunda apresenta Por este motivo, os procedimentos de
comportamento linear até a ruptura; dimensionamento de estruturas com este
5. CONCLUSÕES u Com exceção da consideração dos co- tipo de armadura ainda serão bastante
Este trabalho teve como objetivo apre- eficientes de redução das resistências discutidos, revisados e adaptados, prin-
sentar a metodologia para o dimensionamen- dos materiais ou do momento resisten- cipalmente no Brasil, tendo em vista que
to de vigas de concreto armado com barras te, a metodologia de dimensionamento normas ABNT para a caracterização do
de FRP da Prática Recomendada IBRACON/ do ACI 318 (2019) e da ABNT NBR 6118 material e sua aplicação em estruturas de
ABECE (2021) recentemente publicada, bem (2014) é a mesma, portanto, conduzin- concreto encontram-se em processo de
como comparar os resultados teóricos obti- do aos mesmos resultados de capaci- desenvolvimento e devem ser publicadas
dos por meio da aplicação dos modelos do dade resistente; nos próximos meses.
ACI 318 (2019) e ABNT NBR 6118 (2014), para u Quando se consideram os coeficientes
vigas com armadura de aço, e do ACI 440.1R de redução, a norma brasileira resulta AGRADECIMENTOS
(2014) e Prática Recomendada IBRACON/ em valores mais conservadores para as As autoras agradecem o apoio da Co-
ABECE (2021), para vigas com armadura de vigas com armadura de aço, enquanto ordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
GFRP, com os resultados experimentais ob- a norma americana resulta em valores de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Códi-
tidos por Mazzú (2020). Assim, os resultados mais conservadores para as vigas com go de Financiamento 001 para a realização
apresentados permitiram concluir que: armadura de GFRP; deste trabalho.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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60 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


Pesquisa e Desenvolvimento
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.111.0007

Análise numérica de vigas de CRFA


com base na ABNT NBR 16935 (2021)
VINICIUS C. CORREIA – Mest. – https://orcid.org/0000-0002-2291-9013 (viniciusccorreia@gmail.com) ;
ALINE da SILVA R. BARBOZA – Dra. – https://orcid.org/0000-0001-6296-927X | UFAL

RESUMO ais à flexão, modelagem numérica, método dos facilita o processo de dimensionamento

A
s fibras são conhecidas por melhorarem elementos finitos. das estruturas de CRF, uma vez que a rea-
o desempenho do concreto no compor- lização de ensaios experimentais demanda
tamento pós-fissuração, particularmen- 1. INTRODUÇÃO custo e tempo de execução.
te em termos de propriedades mecânicas, como O concreto apresenta como vantagens
resistência à tração, capacidade à flexão e a durabilidade, facilidade e rapidez de
tenacidade. Os parâmetros de resistência re- execução, e alta resistência a esforços de 2. PROJETO DE ESTRUTURAS
sidual à tração na flexão (fR1, fR2, fR3 e fR4) e compressão, porém com baixa resistência DE CRF DE ACORDO COM
o limite de proporcionalidade (fL) são a base à tração e baixa ductilidade. A NBR 16935 (2021)
da caracterização e especificação do con- Nesse contexto, o concreto reforçado Para determinação dos parâmetros de
creto reforçado com fibras. Nesse contexto, com fibras (CRF) tem se mostrado uma boa dimensionamento de estruturas de CRF, a
este trabalho objetiva apresentar uma análi- solução. A adição aleatória de fibras curtas ABNT NBR 16935 (2021) estabelece o en-
se numérica via método dos elementos finitos ao concreto propicia um comportamento saio de flexão de vigas, disposto na ABNT
de vigas de concreto reforçado com fibras de dúctil devido à maior capacidade de absor- NBR 16940 (2021). Determinam-se, então,
aço (CRFA) a partir de equações propostas ção de energia proporcionada pelas fibras. as resistências à tração indiretas (resistên-
na literatura para previsão das resistências A tendência de crescimento do uso de cia à tração na flexão) do CRF (fL, fR1, fR2,
residuais à tração na flexão. A representação fibras como material estrutural culminou fR3 e fR4). A curva de força versus o CMOD
do CRFA é feita por meio do modelo de dano no surgimento de diversas normas inter- (medida da abertura da face inferior do en-
plástico Concrete Damaged Plasticity (CDP), nacionais com recomendações acerca do talhe) é apresentada na Figura 1.
um modelo que é capaz de reproduzir o com- projeto de estruturas de concreto reforça- Dois modelos constitutivos simplificados
portamento não linear do compósito. De modo do com fibras, como o fib Model Code 2010 podem ser usados para representar o com-
geral, os resultados numéricos têm boa corre- (2013). No Brasil, a primeira norma técnica portamento pós-fissuração do CRF tracio-
lação com resultados experimentais, validando, relacionada ao projeto de estruturas de nado: (a) rígido-plástico e (b) linear (Figura
desta forma, a modelagem do CRFA realizada concreto reforçado com fibras foi publi- 2). O fFts representa a resistência à tração
neste trabalho. cada em 2021. Diante disso, é fundamental direta de serviço do CRF e fFtu representa a
que os pesquisadores e a indústria fomen- resistência à tração direta última do CRF.
Palavras-chave: concreto reforçado com fi- tem estudos acerca deste compósito, de O modelo rígido-plástico utiliza como
bras de aço, previsão das resistências residu- forma a dominá-lo e aprimorá-lo. valor de referência único, fFtu, o valor base-
Este trabalho objetiva apresentar uma ado no comportamento último dado pela
análise numérica Equação 1.
via método dos ele-
mentos finitos de [1]
vigas de concreto
reforçado com fi- O modelo linear utiliza dois valores de
bras de aço (CRFA) referência, obtidos por meio das Equações
a partir de equa- 2 e 3.
ções propostas na
literatura para pre- [2]
visão das resistên-
FIGURA 1 cias residuais à tra-
ção na flexão. O uso
[3]
Diagrama típico de cargas versus CMOD,
identificando as cargas residuais de modelos analíti-
Fonte: Adaptado da ABNT NBR 16940 (2021) cos para a previsão Em que:
desses parâmetros fR1 = resistência residual à tração na flexão do

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QUS. Foi utilizado
o modelo de Dano
Contínuo disponí-
vel no ABAQUS, o
Concrete Damaged
Plasticity (CDP). O
CDP é um modelo
baseado na plasti-
A Modelo rígido-plástico B Modelo linear
cidade e na mecâ-
nica do dano para
FIGURA 2 computar a perda FIGURA 3
Modelos constitutivos de pós-fissuração do de rigidez elástica Lei constitutiva linear
CRF tracionado do material, a qual pós-fissuração do CRF
Fonte: ABNT NBR 16935 (2021) é caracterizada por Fonte: ABNT NBR 16935 (2021)

duas variáveis de
dano, dt (dano na
CRF correspondente ao CMOD1 = 0,5 mm; tração) e dc (dano na compressão). de liberdade por nó (translações em x, y
fR3 = resistência residual à tração na flexão do Além dos parâmetros que identificam a e z), sendo capaz de modelar geometria
CRF correspondente ao CMOD3 = 2,5 mm; relação tensão-deformação do CRFA, são complexa e permitir análises não lineares
wu = abertura de fissura última para o valor necessários cinco outros parâmetros para envolvendo contato, plasticidade e gran-
de CMOD considerada no projeto, expres- a representação dos efeitos do estado mul- des deformações.
sa em milímetros (mm). tiaxial de tensões no CDP. O modelo inclui As armaduras longitudinais e transver-
A equação para obtenção de fFtu com o ângulo de dilatação (ψ), a excentricidade sais foram modeladas utilizando elementos
wu ≠ CMOD3 é uma reta, definida no inter- do potencial de fluxo (e), a razão entre as de treliça, T3D2, com 2 nós, apresentando
valo das abscissas entre CMOD1 e CMOD3, resistências biaxial e uniaxial à compressão 3 graus de liberdade por nó (translações
como mostra a Figura 3. No modelo linear, (σb0/σc0), a invariante de tensões (razão em x, y e z). A Figura 5 apresenta os ele-
os valores-limite de CMOD de fFtu e fFts são, entre a distância do eixo hidrostático ao mentos tipo C3D8R e T3D2.
respectivamente, 2,5 mm e 1,5 mm. meridiano de compressão e de tração no
Conforme visto na Figura 3, a lei plano desviador – Kc) e o parâmetro de vis- 3.2 Modelos constitutivos empregados
constitutiva linear pós-fissuração do CRF cosidade (μ).
é representada por um diagrama tensão A excentricidade do potencial de fluxo Para representar o CRFA sob com-
versus abertura de fissuras. De acordo e o parâmetro de viscosidade foram ado- pressão uniaxial, foi utilizado o mode-
com o fib Model Code 2010 (2013), ao tados com base na literatura. Os outros pa- lo constitutivo para o concreto simples
considerar materiais com amolecimen- râmetros foram obtidos a partir das equa- proposto pela ABNT NBR 6118 (2014),
to, a definição do modelo constitutivo ções propostas por Chi et al. (2017). Seus não considerando possíveis efeitos fa-
tensão versus deformação é baseada na valores estão apresentados na Tabela 2. voráveis da incorporação das fibras.
identificação da largura da fissura (w) e A Figura 6 apresenta o diagrama tensão-
no comprimento característico estrutural -deformação utilizado.
do elemento (lcs). Assim, a deformação 3.1 Elementos
pode ser determinada pela Equação 4: finitos
utilizados
[4]
As vigas de
A lei constitutiva linear pós-fissuração CRFA foram mo-
do CRF indicada pela ABNT NBR 16935 deladas com o ele-
(2021) não contempla os casos em que a mento C3D8R (in-
resistência do concreto à tração direta (fct) terpolação linear).
é maior que a resistência à tração direta de O elemento sólido
serviço (fFts). Para estes casos, o fib Model quadrangular é um
Code 2010 (2013) indica o diagrama ten- elemento contínuo
são-deformação apresentado na Figura 4. (C), tridimensio- FIGURA 4
nal (3D), com oito Diagrama tensão-deformação para o concreto
3. ESTRATÉGIA DE MODELAGEM nós (8) e com in- reforçado com fibras tracionado para os casos em
NUMÉRICA tegração reduzida que fct >f Fts
O modelo numérico foi desenvolvi- (R). O elemento Fonte: Adaptado do fib Model Code 2010 (2013)
do no pacote de elementos finitos ABA- apresenta 3 graus

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Para representar o comportamento
pós-fissuração do CRFA tracionado, foi TABELA 1
utilizado o modelo constitutivo linear des- Parâmetros adotados para a simulação numérica
crito pela ABNT NBR 16935 (2021) e já
apresentado na seção 2. Nos casos em que Concreto
fct > fFts, utilizou-se o modelo proposto pelo Resistência média Resistência Módulo de Coeficiente
fib Model Code 2010 (2013). à compressão à tração Elasticidade de Poisson
(fcm) (fct) (Eci) (ν)
Como neste trabalho não foram reali-
43,6 MPa 1,8 MPa 36976,97 MPa 0,2
zadas análises experimentais, as resistên-
cias à tração na flexão do CRFA foram Armadura convencional
adotadas conforme Venkateshwaran, Tan Resistência ao Resistência ao
Módulo de Elasticidade
e Li (2018). Os autores avaliaram os resul- escoamento fy escoamento fy
(Es)
(φ = 6 mm) (φ = 10 mm)
tados de ensaios de flexão de três pontos
210 GPa 469,4 MPa 562,3 MPa
em 69 vigas entalhadas reforçadas com fi-
bras de aço. As relações propostas pelos Fibra de aço
autores para determinação de fR1 e fR3 são Comprimento Diâmetro Fator de forma
Forma Teor de fibra
apresentadas nas equações de 5 a 8. (lf) (df) (lf/df)
25 kg/m³ (0,32%)
Fibra com
50 mm 1 mm 50 e 50 kg/m³
[5] gancho
(0,64%)
Fonte: Conforti et al. (2018)

[6]
dade único, à tração e à compressão. Foi forme modelagem numérica realizada. Os
admitido para o aço um módulo de elasti- dados utilizados na análise numérica estão
[7] cidade (ES) igual a 210 GPa, coeficiente de apresentados na Tabela 1.
Poisson igual a 0,3 e deformação máxima Além do comparativo com os resul-
igual a 10‰. A resistência característica do tados obtidos experimentalmente por
[8] aço à tração (fyk) é igual a 500 MPa para o Conforti et al. (2018), também foi feita a
aço CA-50 e 600 MPa para o aço CA-60. comparação com os resultados da análise
Em que: numérica de Trindade (2018).
fcm = resistência à compressão uniaxial do 4. VALIDAÇÃO NUMÉRICA
concreto simples; Nesta seção são utilizadas as vigas de 4.1 Descrição das vigas
f = porcentagem volumétrica de fibra; CRFA testadas experimentalmente por
lf = comprimento da fibra; Conforti et al. (2018) para um estudo com- A Figura 7 ilustra a geometria e as arma-
df = diâmetro da fibra; parativo e de validação das previsões das duras convencionais da viga. A modelagem
N = número de ancoragens nas extremida- resistências resi-
des das fibras. duais, do modelo
Para descrever o comportamento das Concrete Damaged
armaduras longitudinais e transversais, foi Plasticity e do com-
considerado um aço com modelo elasto- portamento mecâ-
plástico perfeito com módulo de elastici- nico do CRFA, con-

A B

FIGURA 6
FIGURA 5 Diagrama tensão-deformação idealizado do
Elemento tipo (a) C3D8R e (b) T3D2 concreto comprimido
Fonte: Hibbit, Karlsson e Sorensen (2012) Fonte: ABNT NBR 6118 (2014)

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FIGURA 8
Modelagem da viga e esquema do ensaio no Abaqus

lizados os valores refinamento, considerando tamanhos


de fR1 e fR3 encon- aproximados das malhas iguais a 0,02 m,
trados por Con- 0,03 m, 0,04 m e 0,05 m.
forti et al. (2018), As Figuras 9, 10, 11 e 12 ilustram, res-
enquanto que no pectivamente, os resultados das análises
segundo estudo referentes ao 1º estudo para lcs = 50 mm e
utilizaram-se os Vf = 25 kg/m³, lcs = 50 mm e Vf = 50 kg/m³,
valores de fR1 e fR3 lcs = 150 mm e Vf = 25 kg/m³, e lcs = 150 mm
previstos. Em re- e Vf = 50 kg/m³.
lação aos compri- As Figuras 13, 14, 15 e 16 ilustram, respecti-
mentos caracte- vamente, os resultados das análises referentes
rísticos (lcs), foram ao 2º estudo para lcs = 50 mm e Vf = 25 kg/m³,
FIGURA 7
realizadas duas aná- lcs = 50 mm e Vf = 50 kg/m³, lcs = 150 mm e
Geometria e detalhe das armaduras da viga
Fonte: Adaptado de Conforti et al. (2018) lises, uma assumin- Vf = 25 kg/m³, e lcs = 150 mm e Vf = 50 kg/m³.
do lcs = lf = 50 mm e Os modelos numéricos foram capazes
outra considerando de prever com boa precisão o comporta-
lcs = hviga = 150 mm. mento experimental. Porém, em todas as
da viga e o esquema do ensaio no ABAQUS Para atingir a precisão desejada dos configurações, os resultados numéricos
são apresentados na Figura 8. resultados numéricos, realizou-se o estu- apresentam uma rigidez maior que o expe-
do de convergência de malha de elemen- rimental no ramo pré-pico, fato provavel-
4.2 Obtenção dos parâmetros CDP e tos finitos, avaliando os diagramas for- mente atribuído à definição do módulo de
das resistências residuais à tração ça-deslocamento de diferentes níveis de elasticidade do CRFA. Observa-se em todas

Os parâmetros CDP foram calculados


conforme discutido no item 3 e seus valo- TABELA 2
res estão apresentados na Tabela 2. Parâmetros CDP adotados para a simulação numérica
Para a determinação do modelo cons-
titutivo do CRFA tracionado, foi necessária Teor de fibra
Parâmetro
a previsão das resistências residuais à tra- 25 kg/m³ 50 kg/m³
ção na flexão fR1 e fR3, que foram obtidas por Ângulo de dilatação 32,11° (Chi et al, 2017) 26,98° (Chi et al, 2017)
meio das Equações 5 e 6, respectivamente. Excentricidade 0,1 0,1
A Tabela 3 apresenta um compara- fb0/fc0 1,23 (Chi et al, 2017) 1,30 (Chi et al, 2017)
tivo entre os valores previstos e os ob- k 0,669 (Chi et al, 2017) 0,672 (Chi et al, 2017)
tidos experimentalmente por Conforti Parâmetro de viscosidade 0,0001 0,0001
et al. (2018).
Observa-se que a previsão de fR1 foi a
que mais se aproximou dos resultados ex- TABELA 3
perimentais e que as menores diferenças Valores de fR1 e fR3 previstos e obtidos experimentalmente
ocorreram para o maior teor de fibra
fR1 (MPa) fR3 (MPa)
4.3 Análise comparativa do modelo Teor de
fibra Conforti Conforti
Valor Δ Valor Δ
numérico x experimental (kg/m³) et al.
previsto (%)
et al.
previsto (%)
(2018) (2018)
O estudo comparativo foi dividido em 25 3,22 3,84 19,25 2,90 4,37 50,69
duas etapas. No primeiro estudo foram uti- 50 5,08 5,05 -0,59 4,53 5,86 29,36

64 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


as malhas um comportamento semelhante ao Ao comparar as curvas força-desloca- to de lcs de 50 mm para 150 mm provo-
modelo numérico de Trindade (2018), princi- mento para cada um dos comprimentos cou uma redução de força. O aumento do
palmente para as malhas mais refinadas. característicos, conclui-se que o aumen- comprimento característico reduz a

FIGURA 9 FIGURA 10
Convergência de malha: 1º estudo para lcs = 50 mm Convergência de malha: 1º estudo para lcs = 50 mm
e Vf = 25 kg/m³ e Vf = 50 kg/m³

FIGURA 11 FIGURA 12
Convergência de malha: 1º estudo para lcs = 150 mm Convergência de malha: 1º estudo para lcs = 150 mm
e Vf = 25 kg/m³ e Vf = 50 kg/m³

FIGURA 13 FIGURA 14
Convergência de malha: 2º estudo para lcs = 50 mm Convergência de malha: 2º estudo para lcs = 50 mm
e Vf = 25 kg/m³ e Vf = 50 kg/m³

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TABELA 4
Comparativo entre as forças máximas resistidas pela viga

Pmáx (kN)
deformação máxima e, assim, reduz a ca- Teor de
Estudo Conforti Numérico
fibra Trindade
pacidade resistente no regime fissurado. analisado et al.
(kg/m³) (2018) lcs = 50 mm lcs = 150 mm
Essa redução de força pode ser vista na (2018)
Tabela 4, onde é feito um comparativo en- 1º estudo 81,87 80,17
25 85,40 87,10
tre as forças máximas obtidas por Conforti 2º estudo 84 83,66
et al. (2018), Trindade (2018) e pelo mode- 1º estudo 87,72 86,2
50 87,90 95,90
lo numérico com malha de 0,05 m, para os 2º estudo 88,85 88,11
teores de fibra de 25 kg/m³ e 50 kg/m³,
lcs = 50 mm e lcs = 150 mm, para o 1º e 2º estudo. Por fim, nota-se que o 2º estudo apre- Ao comparar o 1º e o 2º estudo, ob-
Os resultados mostrados na Tabela 4 sentou forças maiores que o 1º estudo. Esse serva-se uma diferença maior para teores
e nas Figuras 17 e 18 também demonstram aumento pode ser justificado pelo fato de de fibras de 25 kg/m³, pois para este teor
um aumento da força máxima resistida pela as resistências residuais previstas terem ocorreram as maiores diferenças entre as
viga em função do aumento da quantida- sido maiores que as obtidas experimental- resistências residuais previstas e as obti-
de de fibras adicionadas ao concreto. Des- mente. As Figuras 17 e 18 ilustram as dife- das experimentalmente.
taca-se também que com o aumento da renças entre as curvas força-deslocamen-
quantidade de fibras, houve um aumento to do 1º e 2º estudo para comprimentos 5. CONCLUSÕES
da rigidez no ramo pré-pico. Esse aumento característicos iguais a 50 e 150 mm, res- Neste artigo foi apresentada uma aná-
ocorre, pois as fibras retardam a propaga- pectivamente, considerando também os lise numérica via método dos elementos fi-
ção das fissuras, aumentando a resistência, teores de fibras de 25 e 50 kg/m³, e malha nitos de vigas de concreto reforçado com
a ductilidade e a rigidez do CRFA. de 0,05 m. fibras de aço (CRFA) a partir de equações

FIGURA 15 FIGURA 16
Convergência de malha: 2º estudo para lcs = 150 mm Convergência de malha: 2º estudo para lcs = 150 mm
e Vf = 25 e Vf = 50 kg/m³

FIGURA 17 FIGURA 18
Curva força-deslocamento: comparativo entre o Curva força-deslocamento: comparativo entre o
1º e 2º estudo para lcs = 50 mm 1º e 2º estudo para lcs = 150 mm

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propostas na literatura para previsão das Os modelos numéricos com o uso do utilizado o modelo constitutivo linear des-
resistências residuais à flexão. CDP foram capazes de prever com boa crito pela ABNT NBR 16935 (2021). No en-
A partir das análises realizadas, pode- precisão o comportamento experimental, tanto, a norma brasileira não menciona os
-se afirmar que os modelos numéricos com indicando que o modelo é adequado e casos em que fct > fFts, que podem ocorrer,
as resistências residuais previstas por meio possui potencial para simular o comporta- por exemplo, em concretos com baixos
das equações propostas por Venkateshwa- mento mecânico de vigas de CRFA. teores de fibras. Portanto, nestes casos foi
ran, Tan e Li (2018) foram capazes de repre- Para representação do comportamen- utilizado o modelo proposto pelo fib Model
sentar o comportamento do CRFA. to pós-fissuração do CRF tracionado, foi Code 2010 (2013).

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de janeiro: ABNT, 2014.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 16935: Projeto de estruturas de concreto reforçado com fibras – Procedimento. Rio
de Janeiro: ABNT, 2021.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 16940: Concreto reforçado com fibras – Determinação das resistências à tração na
flexão (limite de proporcionalidade e resistências residuais) – Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2021.
[4] CHI, Y.; YU, M.; HUANG, L.; XU, L. Finite element modeling of steel-polypropylene hybrid fiber reinforced concrete using modified concrete damaged
plasticity. Engineering Structures, p. 23-35, 2017.
[5] CONFORTI, A.; ZERBINO, R.; PLIZZARI, G. A. Influence of steel, glass and polymer fibers on the cracking behavior of reinforced concrete beams
under flexure. Structural Concrete, p. 1-11, 2018.
[6] HIBBIT, H.; KARLSSON, B.; SORENSEN, E. ABAQUS /CAE User’s Manual. USA, 6.12, 2012.
[7] INTERNATIONAL FEDERATION FOR STRUCTURAL CONCRETE. FIB MODEL CODE 2010: Fib Model Code for Concrete Structures 2010. Switzerland,
436 p, 2013.
[8] TRINDADE, Y. T. Numerical modeling of the post-cracking behavior of SFRC and its application on design of beams according to fib Model Code
2010. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2018.
[9] VENKATESHWARAN, A.; TAN, K. H.; LI, Y. Residual flexural strengths of steel fiber reinforced concrete with multiple hooked-end fibers. Structural
Concrete, Wiley Online Library, v. 19, n. 2, p. 352-365, 2018.

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 67
Pesquisa e Desenvolvimento
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.111.0008

Desenvolvimento de concreto
drenante com resíduo de
borracha de pneu
VANESSA G. de OLIVEIRA ALMEIDA – Prof. – https://orcid.org/.0000-0001-9740-1940 (vanessa.gentil@hotmail.com) ;
FERNANDA M. C. de MELO – Prof. – https://orcid.org/.0000-0002-0122-8336 ; HERBET A. de OLIVEIRA – Prof. – https://orcid.org/.0000-0003-4159-6325 ;
LARISSA I. C. da SILVA – Grad. – https://orcid.org/.0000-0002-2654-3658 ; EMILLY de O. SANTOS – Grad. – https://orcid.org/.0009-0009-4531-7881 ;
LUAN da C. RIBEIRO – Grad. – https://orcid.org/.0009-0006-2808-2724 | Instituto Federal de Sergipe

RESUMO mento superficial da água e este volume isso, a utilização de resíduos como ma-

E
ste trabalho tem como objetivo a passa para o sistema de drenagem ur- téria-prima para construção pode ser
produção de um concreto drenante bana da cidade. Essa demanda, por sua uma alternativa para reduzir a quanti-
com a incorporação de resíduo de vez, que chega ao sistema pode causar dade desses recursos naturais retirados
borracha de pneu nas proporções de 5% uma saturação e ocasionar as enchentes. do meio ambiente, ao mesmo tempo em
e 7% em substituição parcial ao agregado Uma alternativa para tentar favo- que oferece uma disposição ambiental
graúdo , avaliando suas propriedades físicas recer o escoamento de água e reduzir adequada dos resíduos.
e mecânicas . Os resultados mostraram que as áreas de impermeabilização e, em Os resíduos sólidos são muitas
o concreto drenante de referência (CPR) contrapartida, as enchentes, é aumen- vezes a descartados de maneira ina-
apresentou massa específica aparente no tar a permeabilidade do solo através dequada. Dentre os vários tipos de
estado fresco superior ao estabelecido do uso do concreto drenante para re- materiais que são encontrados em
pela norma internacional para concretos vestimento de pavimentos. Bressam, meio aos descartes, e que vem tra-
permeáveis . No estado endurecido , a massa Dessuy e Oliveira (2017) afirmam que é zendo uma preocupação em relação
específica foi reduzida nos concretos que possível aplicar pavimentos permeáveis aos danos que podem causar ao am-
continham resíduo . Em relação à absorção em substituição ao sistema convencio- biente, encontram-se os chamados
de água não foram obtidas variações sig - nal, fazendo com que ocorra a infiltra- pneus inservíveis.
nificativas com a incorporação do resíduo . ção da água e o escoamento superficial Diante desta realidade, alguns auto-
T odos os tipos de concreto apresentaram seja reduzido. res, tais como Raeesi et al., (2020) e Mon-
alta permeabilidade à água . No que tange à A característica de permeabilidade teiro Junior et al., (2019) têm pesquisado
resistência à compressão e à resistência à do concreto dá-se através de vazios in- a utilização dos resíduos de borracha
tração na flexão , os concretos não apre - terligados que permitem a percolação de pneu na produção de concreto dre-
sentaram valores dentro do limite estabe - da água por ação da gravidade. Por esse nante. Esse trabalho complementa esses
lecido pela ABNT NBR 16416:2015. C on - motivo, na maioria das misturas, não se estudos anteriores por se tratar de uma
tudo , esse material pode ser aplicado em utiliza o agregado miúdo, logo o con- solução para problemática que abrange
áreas de jardins , calçadas com pouco fluxo creto é produzido apenas com o ligan- diversos locais em relação às condições
de pessoas , tampas de valas e bueiros . te, água e o agregado graúdo. Diferente de drenagem urbana e também em re-
dos outros tipos de concreto, a sua qua- lação à sustentabilidade, podendo dar
Palavras-chave: concreto drenante, resíduo, lidade é definida pela porosidade, pela um destino final apropriado a esse tipo
borracha de pneu, permeabilidade à água. taxa de infiltração de água e sua massa, resíduo. Nesse trabalho, pode-se obter
não sendo a resistência fator de grande resultados de densidade aparente me-
1. INTRODUÇÃO importância (BOTTEON, 2017). lhores em relação as normas.
O crescimento das áreas urbanas, A indústria da construção civil exer- Neste contexto, frente à quantidade
juntamente com a falta de planejamen- ce importante papel na transformação de resíduo de borracha de pneu sem
to do uso e ocupação do solo, vem ge- ambiental da sociedade, mas gera im- destino apropriado, o presente traba-
rando problemas de saneamento básico, pactos negativos sobre o meio ambien- lho discorre acerca da produção de um
em função do surgimento de mais áre- te devido às diversas formas de polui- concreto drenante com o reaproveita-
as impermeabilizadas. Em pavimentos ção ambiental, por meio do elevado mento do resíduo de borracha de pneu
de concretos convencionais, é possível consumo de recursos naturais e, tam- nas proporções de 5% e 7% (na forma
notar que, durante as chuvas, há escoa- bém, com a geração de resíduos. Com de filamento), em substituição parcial

68 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


trabalhabilidade dos concretos, um adi-
TABELA 1 tivo superplastificante (redutor de água
Ensaios físicos e mecânico do cimento tipo 2) referente à quantidade de 2% em
relação à massa do cimento.
Propriedades Resultados Norma
Índice de finura (%) 1,92 ABNT NBR 11579:2012 2.4 Ensaios do concreto nos
Consistência normal (%) 30,0 ABNT NBR 16606:2018 estados fresco e endurecido
Início de pega (min) 160 ABNT NBR 16607:2018
Expansibilidade à quente (mm) 0,29 ABNT NBR 11579:2012 Foi determinada a propriedade de
Massa específica (g/cm³) 3,14 ABNT NBR 16605:2-17 massa específica aparente (ABNT NBR
Resistência à compressão (MPa) 35,7 ABNT NBR 7215:2019 9833:2009) do concreto drenante em seu
Fonte: Dados da pesquisa (2021) estado fresco. No estado endurecido foram
realizados os ensaios de absorção de água
(ABNT NBR 9778:2009) e massa especí-
ao agregado graúdo. As matérias-pri- 2.2.3 RESÍDUO DE BORRACHA fica (ABNT NBR 9778:2009), permeabili-
mas foram caracterizadas seguindo as DE PNEU dade (anexo A da ANBT NBR 16416:2015),
recomendações normativas. Os concre- resistência à compressão (ABNT NBR
tos permeáveis foram avaliados no esta- O resíduo utilizado foi o proveniente 5739:2018) e resistência à tração na flexão
do fresco, por meio do ensaio de massa da recauchutagem de pneus, em forma (ABNT NBR 12142:2012). Os resultados dos
específica aparente, e no estado endu- de filamento passante na peneira de nº ensaios foram submetidos a uma análise
recido, a partir dos ensaios de absorção ¼ pol, de abertura de 6,3 mm. Foi rea- estatística através da metodologia de aná-
de água, massa específica, permeabili- lizada a coleta do resíduo, secagem em lise de variância (ANOVA) seguida pelo
dade, resistência à compressão e resis- estufa com temperatura de 105° C e ar- teste de Tukey.
tência à tração na flexão. mazenamento em recipientes fechados.
Foi caracterizado por meio dos ensaios 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
2. PROGRAMA EXPERIMENTAL de análise granulométrica, massa unitá-
PARA DESENVOLVIMENTO ria e massa específica. 3.1 Caracterização da matéria-prima

2.1 Matérias-primas 2.3 Procedimento de dosagem e Os resultados obtidos dos ensaios


moldagem dos corpos de prova de caracterização do cimento, do pe-
Para a produção dos concretos per- drisco e do resíduo de borracha de
meáveis com resíduo de borracha de A dosagem para as misturas foi pre- pneu, serão abordados nesse item.
pneu foram utilizados o cimento Portland, definida a partir da revisão bibliográfi-
pedrisco, resíduo de borracha de pneu, ca, uma vez que não se tem dados de 3.1.1 CIMENTO PORTLAND
aditivo superplastificante e água. um procedimento específico no mundo
para dosagem de concreto drenante. A Tabela 1 apresenta os resultados
2.2 Ensaios de caracterização Dessa maneira, o traço adotado nessa dos ensaios de caracterização do ci-
pesquisa foi a dosagem em volume 1:3 mento Portland.
2.2.1 CIMENTO (cimento:pedrisco), incorporando a essa
mistura de referência porcentagens em 3.1.2 PEDRISCO E RESÍDUO
O ligante hidráulico utilizado foi o massa do resíduo de borracha de pneu DE BORRACHA DE PNEU
CPV-ARI-RS (cimento Portland de alta (5% e 7%) em substituição parcial ao
resistência inicial resistente a sulfato), agregado graúdo. Em relação ao fa- 3.1.2.1 M assa específica e massa unitária
caracterizado por meio dos ensaios de tor água/cimento foi adotada 0,32. Foi
índice de finura, consistência normal da utilizado também, a fim de melhorar a A Tabela 2 apresenta a massa
pasta, tempo de pega, massa específica,
expansibilidade Le Chatelier e resistên-
cia à compressão. TABELA 2
Resultados dos ensaios de massa específica e massa unitária
2.2.2 PEDRISCO
Massa Massa unitária Massa
O agregado graúdo utilizado foi o pe- Matéria-prima unitária solta compactada específica
(g/cm³) (g/cm³) (g/cm³)
drisco passante na peneira de nº3/8 pol,
Pedrisco 1,29 1,35 2,20
de abertura 9,5 mm, caracterizado por
Resíduo de borracha de pneu 0,27 0,40 1,18
meio dos ensaios de análise granulomé- Fonte: Dados da pesquisa (2021)
trica, massa unitária e massa específica.

& Construções
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específica e as massas unitárias (estado uniforme, onde a
solto e compactado) do pedrisco e do re- curva é quase ver-
síduo da borracha de pneu. tical, indicando a
Diante dos resultados, pode-se veri- predominância de
ficar que o pedrisco apresentou maiores um só tipo de fra-
valores de massa unitária, constatando ção. Com base nos
com isso menores quantidades de va- parâmetros repre-
zios, em relação à mesma proporção sentativos dessa
do resíduo de borracha, já que este se curva, o Cu (coefi-
apresenta em formato de fibras irregu- ciente de não uni-
lares. Como era esperado, o valor re- formidade) foi clas-
ferente à massa específica do resíduo sificado como um
foi menor do que o do pedrisco, sendo material uniforme.
considerado um agregado leve.
3.2 Propriedade
3.1.2.2 A nálise granulométrica do concreto
no estado FIGURA 1
A Tabela 3 apresenta a análise granu- fresco Curva granulométrica do resíduo e do pedrisco
Fonte: Dados da pesquisa (2021)
lométrica do resíduo de borracha e do pe-
drisco e a Figura 1 mostra as curvas granu- São apresen-
lométricas de cada um dos materiais. tados na Figu-
O módulo de finura do resíduo de ra 2, os resulta-
borracha de pneu varia em função de dos do ensaio de
sua dimensão e formato adotado. O massa específica
valor encontrado nesta pesquisa foi de no estado fresco
3,01, apresentando-se próximo ao ado- do concreto dre-
tado em outras pesquisas, como de nante referência
3,87; 3,49; 3,81 e de 3,32, que também e dos concretos
utilizaram esse resíduo em sua forma com resíduo de
de filamento. borracha de pneu.
De acordo com a Figura 1, os materiais O concreto
apresentaram-se com uma granulometria drenante de refe-
rência apresentou
maior valor de
Formulações
TABELA 3 massa específica
Análise granulométrica do resíduo aparente em rela-
de borracha e do pedrisco ção aos concretos FIGURA 2
com incorpora- Resultados do ensaio de massa específica aparente
Massa retida ção do resíduo no estado fresco
Abertura acumulada (%) de borracha de Fonte: Dados da pesquisa (2021)
das
peneiras Resíduo de pneu. Os resul-
(mm) borracha Pedrisco tados mostra-
de pneu
ram que existe uma diferença sig- entanto coerente com resultados encon-
12,5 — 1,5
nificativa entre as médias (valor trados na literatura, atingindo valores de
9,5 0 8
p = 0,032); com o teste de Tukey, cons- 1582 kg/m³ e 1475 kg/m³, respectivamente.
6,3 5,38 77
tatou-se uma redução significativa en-
4,75 26,89 96
tre os resultados do concreto CP 7% 3.3 Propriedade do concreto
2,36 77,43 100
em relação ao concreto de referência, no estado endurecido
1,18 96,78 —
em 8%.
600 100 —
A ABNT NBR 16416:2015 prescreve que 3.3.1 MASSA ESPECÍFICA E
Fundo 0 0
os concretos permeáveis devem possuir ABSORÇÃO DE ÁGUA
Diâmetro
máximo 9,5 12,5 massa específica aparente tanto no estado São apresentados na Tabela 4 os resul-
(mm) fresco como no estado endurecido supe- tados referentes à massa específica e ab-
Módulo riores a 1600 kg/m³. Já os concretos com sorção de água dos concretos permeáveis.
3,01 2,04
de finura 5% e 7% de resíduo encontram-se numa fai- O concreto drenante de referên-
Fonte: O autor (2021)
xa abaixo do estabelecido nessa norma, no cia apresentou maior valor de massa

70 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


significativa para o concreto com 5% e 3.3.3 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO
TABELA 4 um aumento para o concreto com 7% do E RESISTÊNCIA À TRAÇÃO
Resultados de massa específica resíduo em relação à mistura de referên- NA FLEXÃO
e absorção de água
cia. Esse fato pode ter ocorrido devido
a um mau adensamento, ocasionando São apresentadas na Figura 4 as
Massa Absorção pontos com maiores concentrações do médias dos resultados do ensaio de re-
Formulações específica de água
(kg/cm³) (%) resíduo do que em outros. sistência à compressão dos concretos
CPR 1680,0 ± 55 9,06 ± 0,61 permeáveis.
CP5% 1541,0 ± 21 8,91 ± 0,13 3.3.2 PERMEABILIDADE Os resultados mostraram que existe
CP7% 1466,5 ± 38 9,25 ± 0,0 uma diferença entre as médias entre to-
Fonte: Dados da pesquisa (2021) São apresentados na Figura 3 os resul- das as formulações (valor p = 0,0053)
tados do ensaio de permeabilidade, assim com o teste de Tukey, e constatou-se
como os valores de desvio padrão das três redução significativa do concreto com
específica em relação aos concretos placas dos concretos permeáveis. resíduo em relação ao concreto de refe-
com incorporação do resíduo de borra- De acordo com a análise estatísti- rência, para o CP5% e CP7%, de 35,64%
cha de pneu. Os resultados mostraram ca, os resultados mostraram que não e 63,36%, respectivamente.
que existe uma diferença significativa existe uma diferença significativa (valor O concreto drenante de referência
entre as médias (valor p = 0,032); com p = 0,19) entre as médias dos tipos de foi a formulação que apresentou maior
o teste de Tukey, constatou-se redução concretos apresentados. valor de resistência à compressão. A
significativa dos concretos com resíduo Ao se avaliar os concretos perme- partir da substituição parcial do agre-
em relação ao concreto de referência, áveis contendo borracha de pneu, foi gado graúdo pelo resíduo de borracha,
para o CP5% e CP7%, de 8,27% e 12,7%, verificado que a adição desse resíduo houve um decréscimo nos valores de
respectivamente. tende a diminuir o coeficiente de perme- resistência.
Os corpos de prova dos concre- abilidade. Esse fato pode ser observado Os concretos que possuem resíduos
tos permeáveis, principalmente os que no concreto com a incorporação de 5% de borracha de pneu em sua composi-
possuem em sua composição resídu- do resíduo. Já no concreto com a por- ção tendem a experimentar redução na
os reciclados, possuem uma maior centagem de 7%, provavelmente ocorreu resistência à compressão devido à fraca
fragmentação das partículas superfi- um mau adensamento no momento da ligação existente entre a matriz cimen-
ciais em suas bordas. Por conta dis- moldagem dos corpos de prova, justifi- tícia e a partícula da borracha de pneu.
so, é preciso levar em consideração cando esse resultado. Os autores ainda Um outro fator que afeta essa proprie-
a possível dispersão dos resultados de concluem que as partículas menores dade é a granulometria irregular desses
massa específica no estado endurecido. afetam mais a permeabilidade do que as resíduos que geram vazios e aumentam
Na propriedade de absorção de maiores, pois elas preenchem facilmente a porosidade, resultando em concreto
água, foi observada uma redução não os poros entre os agregados naturais. menos resistente.

Formulações Formulações

FIGURA 3 FIGURA 4
Resultados do ensaio de permeabilidade à água Resultados do ensaio de resistência à compressão
Fonte: Dados da pesquisa (2021) Fonte: Dados da pesquisa (2021)

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São apresentadas na Figura 5 as mé- superiores a 2 MPa para tráfego leve tra-se dentro dos valores estabelecidos
dias dos resultados do ensaio de resis- de veículos. pelo ACI 522 2010, de 2,8 MPa a 28 MPa.
tência à tração na flexão dos concretos E sobre a resistência à tração na flexão,
permeáveis com seus desvios. 4. CONCLUSÕES os valores também não atenderam aos
Em relação aos resultados do en- Os resultados experimentais foram 2 MPa, exigidos por norma.
saio de resistência à tração na flexão, comparados com valores disponíveis na Diante dos dados expostos, o con-
pode-se notar que, por meio da aná- literatura para ensaios similares. creto drenante com incorporação de
lise estatística, os resultados mostra- Os resultados mostraram que em resíduo de borracha de pneu produzido
ram-se iguais (p = 0,38), não apre- relação à massa específica, tanto no nesta pesquisa não atendeu às especi-
sentando diferença significativa entre estado fresco como no estado endure- ficações da ABNT NBR 16416:2015, para
as amostras. cido, a norma estabelece um valor mí- o uso em pavimentação de veículos le-
Os valores obtidos não atenderam nimo de 1600±80 kg/m³. Sendo assim, ves. Contudo, esse material pode ser
à especificação mínima quanto à re- somente os resultados do concreto aplicado em áreas de jardins, calçadas
sistência mecânica característica, de- de referência apresentaram-se dentro com pouco fluxo de pesdestres, tampas
finida pela ABNT NBR16416:2015, para desse limite; nos concretos com as in- de valas e bueiros, possibilitando a eli-
revestimento de pavimento de concre- corporações dos resíduos, esses valo- minação de poças e lâminas d´água em
to drenante moldado no laboratório. res ficaram abaixo do limite da norma. dias chuvosos.
A norma limita a determinação da re- Entretanto, encontram-se dentro dos De fato, a aplicação do concreto
sistência à tração na flexão a valores valores observados na literatura. drenante em pavimentos representa
Sobre a pro- um cenário promissor na busca pela
priedade da per- redução da impermeabilização das su-
meabilidade, os perfícies de áreas urbanas por meio de
resultados desta métodos mais sustentáveis e economi-
pesquisa mostra- camente viáveis, visto que o resíduo
ram-se de acordo pode ser adquirido sem custo, pois é
com a faixa esta- descartado em aterros
belecida nos es- A adição de resíduos na composi-
tudos de alguns ção do concreto ajuda na diminuição
autores. da extração de recursos minerais e na
Os resultados redução dos impactos ambientais e
referentes à resis- dos danos causados à saúde devido à
tência à compres- disposição irregular no meio ambiente.
são não atende- Com relação aos pneus, é uma opor-
Formulações
ram a ABNT NBR tunidade de utilização, visto que são
16416:2015, que inertizados no concreto, não ofere-
FIGURA 5 determina um va- cendo riscos ao meio ambiente, exce-
Resultados do ensaio de resistência à tração na flexão lor ≥ 20 MPa, no to se submetidos ao calor em elevadas
Fonte: Dados da pesquisa (2021)
entanto encon- temperaturas.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ABNT — ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16416: Pavimentos Permeáveis de Concreto — Requisitos e Procedimentos.
Rio de Janeiro, 2015.
[2] BRESSAM, G. S. C.; Oliveira, D. D.; Dessuy, T. Y. (2017) “Prevenção de enchentes urbanas: uma alternativa sustentável através do uso do concreto
permeável”, Salão do Conhecimento, UNIJUI. 2017.
[3] BOTTEON, Letícia Machado. “Desenvolvimento e Caracterização de Concreto Permeável para Utilização em Blocos Intertravados para
Estacionamentos”, Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal Fluminense. Niterói/RJ, 2017.
[4] MONTEIRO JUNIOR, Raimundo de Oliveira; et al. The technical feasibility of the use of rubber chips in the production of permeable concrete
for urban paving — case study. 2019. Journal of Engineering and Technology for Industrial Applications, 2019. Edition. 19. Vol: 05
[5] RAEESI, Ramin. et al. Field performance monitoring of waste tire-based permeable pavements. Transportation Geotechnics, 2020.

72 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


Pesquisa e Desenvolvimento
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.111.0009

Durabilidade de concretos com


agregado graúdo reciclado frente
a ação do dióxido de carbono
THAINÁ Y. DESSUY – Est. – https://orcid.org/0000-0002-8659-9020 (dessuy.ty@gmail.com) | UFRGS
LUCAS F. KRUG – Prof. – https://orcid.org/0000-0002-4433-493X | UNIJUÍ

RESUMO (RSU) gerados nos países [2] e podem ser são, absorção de água por capilaridade e

O
trabalho se justifica em verificar a provenientes da ausência de gestão do profundidade de carbonatação, compa-
utilização de agregados graúdos re- processo construtivo ou de demolições rando seus resultados obtidos com o do
ciclados, que substituíram parcialmen- ocorridas nas edificações, devido à neces- concreto referência, a fim de incentivar seu
te (10%, 20% e 30%, em massa) o agregado sidade de realizar novas construções ou emprego no próprio mercado da constru-
graúdo natural em concretos. Para isso, fo- devido à ocorrência de algum tipo de de- ção civil como forma de contribuir com a
ram dosados concretos pelo método ABCP e sastre natural [3]. preservação do meio ambiente.
confeccionados corpos de prova cilíndricos A reciclagem é vista como a prática
10 x 20cm, em misturador mecânico, para um mais atrativa ao possibilitar a sustentabi- 2. PROGRAMA EXPERIMENTAL
abatimento de (12 ± 1) cm. No estudo, foram lidade na construção civil, principalmente
avaliados os concretos de referência, produ- na construção em concreto [4]. Contudo, 2.1 Materiais
zidos com agregado graúdo natural de rocha incorporar agregados reciclados de RCC
com origem basáltica, além dos concretos com em concretos ainda é uma atividade limi- Os materiais utilizados na confec-
agregado graúdo reciclado provenientes de tada pelo fato de eles apresentarem carac- ção dos concretos foram os seguintes:
recicladora de origem mista, constituídos de terísticas diferentes em relação aos agre- a) cimento Portland composto com fíler
resíduos classificados em classe A, conforme a gados naturais, conferindo, em geral, baixa calcário, de classe de resistência igual a
resolução do CONAMA 307/02. Após molda- qualidade e baixo valor agregado [5]. 32 MPa (CP II F – 32), com massa espe-
gem, e nas idades pré-estabelecidas, foram rea- O presente trabalho se justifica em es- cífica de 3,217 kg/dm³ [6]; b) agregado
lizados os ensaios de resistência à compressão, tudar concretos com substituição parcial graúdo natural (AGN) de origem basál-
absorção por capilaridade e profundidade de (10%, 20% e 30%, em massa) do agrega- tica, pertencente à zona granulométrica
carbonatação. Com os resultados obtidos, fo- do graúdo natural de origem basáltica por d/D = 4,75/12,5 (brita 0); c) agregado
ram observados que os concretos referência e agregado graúdo reciclado misto de classe graúdo reciclado (AGR) de origem mista
com substituição de 10% obtiveram resultados A (CONAMA 307/02), proveniente de reci- de resíduos classificados como classe A
iguais, estatisticamente, nos ensaios propostos, cladora localizada na região do noroeste (CONAMA 307/02), proveniente de empre-
mostrando, assim, sua viabilidade de utilização do Estado do Rio Grande do Sul (RS), atra- sa recicladora de RCC (localizada no muni-
em concretos como agregado reciclado. vés dos ensaios de resistência à compres- cípio de Santa Rosa – RS); e d) agregado

Palavras-chave: agregado, reciclado, concreto. TABELA 1


Caracterização dos agregados utilizados
1. INTRODUÇÃO
A exploração e utilização dos recursos
Natural
naturais, principalmente dos não renová- Agregado graúdo Norma Reciclado
(brita basáltica)
veis, para fins de construção, geram gran- Massa específica seca [7] 2,880 g/cm³ 2,030 g/cm³
de quantidade de resíduos de construção Absorção de água [7] 1,53% 11,03%
civil (RCC), classificando a indústria da Dimensão máxima característica [8] 9,50 mm 13 mm
construção civil como uma das mais explo- Módulo de finura [8] 5,94 5,79
radoras dos recursos naturais e a que mais
gera resíduos [1]. Os RCC representam um Agregado miúdo Norma Natural (areia quartzosa)
dos maiores fluxos de resíduos no mundo, Massa específica seca [9] 2,574 g/cm³
compondo cerca de 30% a 40% da quan- Dimensão máxima característica [8] 1,20 mm
tidade total dos resíduos sólidos urbanos Módulo de finura [8] 1,62

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 73
TABELA 2
Dosagem dos concretos

Quantidade dos materiais (kg/m³)


Slump
Traço Água Água de a/c
C AMN AGN AGR (cm)
calculada moldagem
C_0% 522,510 568,000 1080,700 NSA 230 276,850 0,411 12,3
C_10% 522,510 568,000 972,630 1080,870 230 304,694 0,453 12,2
C_20% 522,510 568,000 864,560 216,140 230 328,162 0,487 12,0
C_30% 522,510 568,000 756,490 324,210 230 381,862 0,567 12,5
*C = cimento; a/c = relação água/cimento; slump = abatimento do tronco de cone

miúdo natural (AMN) de origem quartzosa nal e valor de abatimento encontrado para prescrita em norma [21] de (5 ± 1)%, umi-
proveniente de jazidas da região do noro- cada concreto estão demostrados na Ta- dade relativa do ar de (60 ± 5)% e tempe-
este do RS. bela 2. Na confecção dos corpos de prova, ratura de (23 ± 3)°C, e nas idades de 21, 28
A caracterização básica dos agrega- não se empregou nenhum procedimento e 35 dias inseridos no interior da câmara.
dos utilizados seguiu algumas normas de compensação de água e de volume, de Nestas condições, foram avaliadas as pro-
vigentes de método de ensaio aplicáveis modo a facilitar o processo de produção fundidades de carbonatação. Ao final des-
a agregados para concreto, cujos resul- dos concretos e simular uma situação real tas idades, aspergia-se solução em álcool
tados podem ser observados na Tabela nos canteiros de obras. de fenolftaleína de concentração de 1% na
1. Não foram empregados aditivos, ten- Foram confeccionados, no total, parte interna do concreto. Para auxiliar na
do-se utilizado água para atingir o aba- 72 corpos de prova cilíndricos 10 x 20, e medição da profundidade de carbonata-
timento pré-estabelecido de (12 ± 1) cm. a cura dos corpos de prova foi conforme ção, utilizou o software Autocad, que atra-
[17]. Nas primeiras 24 horas, a cura foi ao vés de imagens realizadas no dia do ensaio,
2.2 Produção dos concretos ar, em superfície plana e temperatura am- foram inseridas em tamanho real para me-
biente. Após isso, os corpos de prova fo- dir cotas da espessura incolor do concreto,
A dosagem dos concretos seguiu a ram acondicionados em câmara úmida sendo a profundidade de carbonatação a
metodologia ABCP, na qual se considerou com temperatura e umidade controladas média de todas as cotas, metodologia que
a caracterização dos materiais naturais, de- (23 ± 2° C e 95%, respectivamente), em é adotada no Laboratório de Engenharia
finindo-se uma resistência de 30 MPa aos tempos definidos para cada ensaio. Os cor- Civil (LEC) da UNIJUÍ.
28 dias de cura, com abatimento fixado em pos de prova destinados para o ensaio de
(120 ± 10) mm. resistência à compressão foram curados 7, 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com a quantidade definida dos consti- 28 e 56 dias, já os corpos de provas desti-
tuintes da mistura referência, confecciona- nados ao ensaio de absorção de água por 3.1 Massa específica no estado fresco
ram-se concretos com 10%, 20% e 30% de capilaridade e carbonatação acelerada ti-
substituição, em massa, do agregado graú- veram cura de 28 dias. Os resultados obtidos de massa espe-
do natural por agregado graúdo reciclado cífica aparente dos concretos no estado
misto de RCC. Para a mistura, empregou-se 2.3 Método de ensaios fresco podem ser observados na Figura 1,
uma betoneira de eixo horizontal de capa- que demostra que as massas específicas
cidade de 120 l, previamente imprimada Os concretos produzidos foram avalia- aparentes dos concretos com agregado
com uma fina camada de cimento, areia e dos por meio de propriedades no estado graúdo reciclado são menores que a massa
água, tendo o abatimento sido fixado em fresco (massa específica [18]) e endure- específica do concreto referência (0% de
(120 ± 10) mm, cujo ensaio está prescrito cido (resistência à compressão axial [19], teor de substituição). Esse comportamento
no método de ensaio [10]. O critério em absorção por capilaridade [20] e carbona- pode ser atribuído ao fato dos agregados
adotar estes porcentuais teve respaldo no tação acelerada [21]). graúdos reciclados possuírem argamassa
fato de que até uma substituição de 30% Os corpos de prova destinados ao en- aderida ao agregado natural antigo, pro-
de agregado natural por agregado recicla- saio de carbonatação, após os 28 dias de porcionando um agregado reciclado com
do não altera as propriedades do concreto cura em câmara úmida, foram cortados fases mais porosas e com menor densida-
de maneira significativa, conforme estudos com máquina de policorte, em três partes de que o convencional (natural de basalto).
já realizados [11], [12], [13], [14], [15], [16]. de alturas iguais e deixados no meio natu- Ainda, conforme a Figura 1, nota-se que
Cada mistura produzida foi identificada ral para perda de umidade livre por 28 dias. à medida que aumenta o teor de substitui-
de acordo com a porcentagem de substi- Após este período, os corpos de prova fo- ção, há a redução da massa específica do
tuição do agregado graúdo natural por ram postos no interior de uma câmara de concreto no estado fresco, comportamen-
reciclado de RCC, cujo traço, relação a/c fi- carbonatação, com concentração de CO2 to já esperado. Também, percebe-se que

74 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


a maior massa específica encontrada nos ção a/c interferiu diretamente na resistên- – Fcalculado = 3,474. Ainda, considerando os
concretos com agregado graúdo reciclado cia do concreto, sendo que quanto maior valores obtidos de valor – p, para um nível
de RCC misto foi no concreto com 10% de foi a relação a/c da mistura, menor foi a de significancia de 5%, todas as variáveis
substituição, com uma diferença de 1,31% resistência. Esse comportamento já era consideradas possuem efeito significativo
em relação ao concreto com agregado esperado, sendo, portanto, condizente ao na variável de resposta, ou seja, há com-
graúdo natural, e a menor massa específica comportamento clássico definido pela Lei binações de pares das variáveis que são
foi obtida na mistura com 30% de substi- de Abrams. Um fato adicional foi observa- diferentes entre si.
tuição, com uma diferença de 4,20% do do: a relação a/c esteve sempre diretamen- Para verificar quais pares eram diferen-
concreto com agregado natural. te relacionada com a absorção do agrega- tes entre si, nas variáveis que, através da
do reciclado, de modo que o concreto com ANOVA, são consideradas significativas,
3.2 Resistência à compressão agregado graúdo reciclado sempre neces- realizou-se uma comparação múltipla de
sitava de mais água para atingir a mesma médias por meio do teste de Tukey. Ob-
As resistências médias à compressão consistência, o que implicou maiores rela- servou-se que os concretos com agregado
estão apresentadas na Figura 2. No geral, ções a/c para estes concretos (com agre- graúdo natural e concretos com agregados
de acordo com a Figura 2, verifica-se que à gados reciclados). Por esta razão, somada graúdos reciclados não possuíram diferen-
medida que se aumenta a idade do concre- ao fato do agregado reciclado ser mais po- ça significativa aos 7 dias, e essa não di-
to, aumenta a resistência à compressão dos roso e menos resistente, pode-se observar ferenciação se manteve para a mistura de
concretos, como esperado. Ainda, nota-se na Figura 2 que a resistência à compres- referência na comparação com o concreto
que quanto maior o teor de substituição são diminui com o aumento da substitui- contendo 10% de sustituição para as ida-
do agregado graúdo natural por recicla- ção (%) do agregado graúdo natural por des de 28 e 56 dias. Ademais, a não dife-
do, menor foi a resistência à compressão, agregado graúdo reciclado. Em função do renciação de médias ocorreu nas misturas
sendo que, nas idades de 28 e 56 dias, a aumento do grau de maturidade dos con- de 20% e 30% de substituição, da idade de
redução segue uma tendência linear de- cretos, observam-se, também, acréscimos 28 dias; já na idade de 56 dias, ocorreu di-
crescente, já na idade de 7 dias, o concreto de resistência com a idade. ferenciação entre as médias.
referência se assemelha ao concreto com Com os respectivos dados, realizou
10% de substituição, seguindo essa seme- uma análise de variância (ANOVA) com o 3.3 Absorção de água por capilaridade
lhança nos concretos com 20% e 30% de intuito de verificar a significância das vari-
substituição. Esse comportamento pode áveis independentes [teor de substituição Os resultados médios obtidos, nos
ser atribuído à maior porosidade do agre- (%), idade (dias) e teor de substituição respectivos períodos de ensaio, estão
gado graúdo reciclado em comparação ao (%) x Idade (dias)] na variável dependen- demostrados na Figura 3. Nota-se que
agregado graúdo natural, já que os agre- te (resistência à compressão). A ANOVA os concretos com agregado graúdo
gados graúdos reciclados possuem maior mostrou que todas as variáveis são signi- reciclado obtiveram, em geral, maio-
porosidade, de modo que a resistência à ficativas e a que mais influenciou na resis- res absorções de água em comparação
compressão desses concretos não é ape- tência à compressão dos concretos estu- ao concreto referência, sendo esse au-
nas influenciada pela porosidade da pasta dados foi a idade (dias) (Fcalculado = 98,584), mento maior quanto maior foi o teor
de cimento, mas, também, pela porosidade seguido da variável teor de subsituição de substituição. Esse comportamento
do agregado. (Fcalculado = 31,342) e da interação entre o se deve à maior absorção do agregado
Também, conforme a Figura 2, a rela- teor de substuição (%) com a idade (dias) graúdo reciclado em comparação ao

FIGURA 1 FIGURA 2
Massa específica aparente dos concretos no Resistência à compressão média aos 7, 28 e 56 dias
estado fresco, em kg/m³ de idade

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 75
FIGURA 3 FIGURA 4
Absorção de água por capilaridade aos 28 dias Profundidade de carbonatação acelerada aos 21,
de idade 28 e 35 dias de ensaio

agregado graúdo convencional, o qual (são semelhantes), para os vários perío- substituição, enquanto os valores mé-
produz um concreto com maior po- dos do ensaio. Também, na comparação dios obtidos nas misturas de 20% e 30%
rosidade e, logo, com maior absorção dos concretos com 20% e 30% de subs- de substituição estão também mais pró-
de água. tituição, os valores médios de absorção ximos. Apesar disso, ficam evidentes as
Também, conforme a Figura 3, ob- foram considerados não diferentes entre maiores profundidades de carbonatação
serva-se que os valores de absorção si. A igualdade das médias e suas dife- para os concretos com RCC, sendo este
de água por capilaridade nas misturas renciações citadas são bem nítidas e po- comportamento acentuado nos maiores
do concreto referência e 10% de substi- dem serem observadas na Figura 3, que teores de agregado reciclado.
tuição se mostraram semelhantes, bem mostra claramente a existência desses Para verificar a significância das va-
como os dados obtidos nas misturas dois grupos: um contendo o concreto riáveis independentes [teor de substitui-
de 20% e 30% de substituição. Tam- de referência e o concreto com 10% de ção (%), tempo de ensaio (dias) e teor de
bém, nota-se que, ao passar o tempo agregado reciclado, e o outro contem- substituição (%) x Tempo (dias)] na vari-
do ensaio, maiores foram as absorções plando os concretos com 20% e 30% de ável dependente (carbonatação acelera-
dos concretos. agregado reciclado. da), realizou-se uma análise de variância
Para dar maior confiabilidade aos (ANOVA). Esta análise mostrou que ape-
respectivos dados, realizou-se uma aná- 3.4 Carbonatação acelerada nas a variável independente substituição
lise de variância (ANOVA), que mostrou (%) influenciou na carbonatação acele-
um efeito significativo das variáveis in- Os resultados médios obtidos, nos rada. Provavelmente, como os tempos
dependentes teor de substituição (%) respectivos períodos de ensaio (21, 28 de ensaio foram muito próximos, isto
e tempo de ensaio (horas), analisadas e 35 dias), estão apresentados na Figu- não produziu diferenças significativas
isoladamente, sem, contudo, resultar ra 4. Observa-se que os concretos com nas profundidades de carbonatação.
significativa a interação dessas duas va- agregado graúdo reciclado obtiveram as Nas variáveis que foram significati-
riáveis. A variável que mais influenciou a maiores profundidades de carbonatação vas pela ANOVA (no caso apenas o teor
absorção de água por capilaridade das em comparação ao concreto referência, de substituição), realizou-se sequencial-
misturas estudadas foi o tempo de en- que obteve os menores valores, para os mente uma comparação múltipla de mé-
saio (Fcalculado = 64,162), seguida da variá- três tempos de medida. Esse aumento dias, por meio do teste de Tukey. Esta
vel teor de subsituição (Fcalculado = 19,912), foi diretamente proporcional ao teor de análise mostrou que o concreto de refe-
sendo que a interação dessas varáveis substituição do agregado graúdo natu- rência se diferenciou apenas do concre-
não resultou significativa, para um nível ral por reciclado. Esse comportamento to com 30% de substituição. Mesmo com
de significancia de 5%. se deve à maior porosidade do agrega- essa constatação pela comparação múl-
Nas variáveis que foram significati- do graúdo reciclado, que contribui de tipla de médias, é indiscutível a maior
vas pela ANOVA, realizou-se comple- maneira significativa com a maior po- propensão à carbonatação dos concre-
mentarmente a comparação múltipla rosidade global do concreto, fato este tos com RCC na comparação ao concre-
de médias, por meio do teste de Tukey. marcante nos resultados observados. De to de referência.
Esta análise mostrou que os valores en- modo discreto, observa-se que os valo-
contrados para o concreto referência e res de profundidade de carbonatação no 4. CONCLUSÕES
para o concreto com 10% de substituição concreto referência estão relativamente Considerando os resultados obtidos no
são considerados não diferentes entre si mais próximos ao concreto com 10% de programa experimental, pode-se concluir:

76 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


u Quanto à massa específica no esta- resistência à compressão em relação rentes idades analisadas, com exce-
do fresco: todos os concretos analisa- ao concreto referência foi no concreto ção da mistura com 30% de substi-
dos são considerados com densidade com 30% de substituição; tuição, que foi maior em relação ao
normal, sendo que a massa específica u Quanto à absorção por capilaridade: concreto referência.
do concreto foi maior no concreto re- o concreto referência absorveu me- Diante das conclusões expostas, o
ferência e menor nos concretos com nor quantidade de água em compa- uso de agregados graúdos reciclados
agregado graúdo reciclado, obtendo ração aos concretos com agregados em concretos mostrou-se uma alternati-
uma máxima redução no concreto de graúdos reciclados, tendo um au- va promissora considerando os ensaios
30% de substituição; mento máximo de absorção na mis- realizados, principalmente a mistura
u Quanto à resistência à compressão: o tura de 30% de substituição. Além com 10% de substituição, que possui as
concreto referência obteve as maiores disso, estatisticamente, a absorção é mesmas propriedades do concreto refe-
resistências, em ambas as idades ana- similar entre o concreto referência e rência, estatisticamente. Fica a ressalva
lisadas. Porém, estatisticamente, a re- o concreto com 10% de substituição. do comportamento em relação à carbo-
sistência do concreto referência com a u Quando à carbonatação acelerada: natação, que embora estatisticamente
do concreto de 10% de substituição do o concreto referência teve uma me- tenha mostrado similaridade entre os
agregado graúdo natural por recicla- nor profundidade de carbonatação concretos (exceto o de 30% de substi-
do são estatisticamente semelhantes, em relação aos concretos com agre- tuição), ele evidencia, contudo, perdas
para as três idades analisadas (7, 28 e gado graúdo reciclado. No entanto, em relação a este aspecto do desem-
56 dias), diferenciando-se das resis- estaticamente, a profundidade de penho e da durabilidade. Este resultado
tências dos concretos de 20% e 30% carbonatação do concreto referên- requer mais pesquisas, para que se te-
de substituição, que são iguais entre cia foi de uma mesma ordem de nha uma posição mais consistente sobre
si. A redução máxima alcançada na grandeza para as misturas nas dife- o assunto.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 77
Pesquisa e Desenvolvimento
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.111.0010

Comparativo entre CAA com


fíler calcário e CAA com resíduo
de beneficiamento de mármore
e granito
GABRIEL de O. MINATTI – Eng. – https://orcid.org/0000-0001-7804-7464 (gbminatti@gmail.com) | UNIFEBE
FABIANE FISCH – Dra. – https://orcid.org/0000-0002-9011-7020 (fisch@univali.br) | UNIVALI

RESUMO pasta no CAA, que normalmente não é uti-

A
adição de fílers alternativos no con- lizado em CCV [3]. TABELA 1
creto tornou-se cada vez mais comum, As adições utilizadas na produção do Composição do cimento
buscando uma melhora nas proprie- CAA agregam um aumento da resistência à
dades principalmente no concreto autoaden- segregação/coesão, melhoria na resistência Na2O 0,22 3 dias 36
sável (CAA). Dessa maneira, o objetivo desta e fissuração térmica, decorrentes da eficiên- CO2 4,4 7 dias 41
pesquisa foi analisar e comparar a influência cia no empacotamento da mistura [2]. Cal L 0,6 28 dias 48
da adição em volume de 5% do RBMG e do fí- O fíler calcário é considerado uma adi-
ler calcário nas propriedades do CAA. Para ção inerte, entretanto ele pode reagir na
tanto, foi realizada uma caracterização dos mistura, aumentando a velocidade de hidra- pó de mármore em substituição ao cimen-
materiais e utilizado o método de dosagem de tação no cimento, afetando na manutenção to no CAA. Rodrigues, Filho e Santos [8]
Tutikian (2007), com três famílias de traços e reduzindo o retardo de pega do compó- avaliaram a substituição do cimento por
de concreto. Em seguida, foram avaliadas as sito, além de uma maior resistência à segre- resíduo de mármore e granito (com diâme-
características no estado fresco e as pro- gação e à viscosidade. A utilização de fíler tros inferiores a 0,075 mm). Kumayama et
priedades mecânicas no estado endurecido. Os com altos teores de MgO pode expandir al. [9] verificaram as propriedades no es-
resultados indicam que o CAA com fíler cal- originando manifestações patológicas [4]. tado fresco e endurecido do CAA com a
cário apresentou características mais elevadas Com a possibilidade de uso do fíler cal- incorporação do pó de mármore e pérolas
quando comparado ao CAA com RBMG; entre- cário em diferentes situações, o setor das de EPS. Schankoski et al. [10] ainda descre-
tanto, nas propriedades físicas, o concreto com rochas ornamentais chamou atenção, pois vem que é possível utilizar fíler alternativos
RBMG obteve uma menor absorção e índice o beneficiamento de um bloco pode gerar como o caso do resíduo beneficiado de
de vazios. cerca de 30% de seu volume em resíduo [5]. mármore e granito. Santos, Castro e Gon-
Eles são finos, com maior porcenta- çalves [11] adicionaram resíduo de cerâmi-
Palavras-chave: concreto autoadensável, gem passante na peneira de 0,075 mm ca na incorporação do CAA.
resíduo de beneficiamento de mármore e grani- [7], podendo ser adicionado no concreto O objetivo desta pesquisa é comparar
to, fíler calcário, diagrama de dosagem. ou substituindo parcialmente o cimento. a performance da adição de fíler calcário
Xavier et al. [6], avaliaram o CAA com in- com fíler alternativo proveniente de resí-
1. INTRODUÇÃO corporações de 20%, 30%, 40% e 50% de duo de beneficamente de mármore e gra-
O concreto autoadensável (CAA) tem resíduo e Rahman et al. [7] adicionaram o nito (RBMG).
sua origem no Japão em 1988 a partir da
necessidade de concretos mais fluidos,
que no estado fresco não apresentassem TABELA 2
problemas ou defeitos nas idades iniciais, Caracterização dos agregados
ou perdessem suas características de pro-
teção externa [1]. Massa específica Massa unitária
Material Módulo de finura
(g/cm³) (g/cm³)
Segundo Mehta e Monteiro [2], os
materiais constituintes do CAA são basi- Areia natural fina 2,63 1,67 1,29
camente os mesmos do concreto conven- Areia artificial 2,78 1,62 2,91
cional (CCV), diferindo na propriedade no Brita 19 mm 2,63 1,31 6,83
estado fresco, e de um maior volume de Brita 9,5 mm 2,80 1,42 6,09

78 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


TABELA 3
Composição química das adições

Material
SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO Na2O K2O MnO TiO2 MgO P2O5 PF
(%)
RBMG 67,66 7,29 4,09 8,07 1,78 3,12 0,09 0,92 1,89 0,62 4,47
Fíler
2,23 0,36 0,21 30,67 0,15 0,09 0,01 0,02 19,48 — 45,87
calcário

2. DESENVOLVIMENTO
Como aglomerante utilizou-se o ci- TABELA 4
mento Portland de alta resistência inicial Composição granulométrica das adições

CP V – ARI, com composição química e


mineralógica em conformidade com a Diâmetro das partículas (μm) Massa
Material específica
NBR 16697 [12] (Tabela 1). 10% 50% 90% Médio (g/cm³)
As areias da composição do CAA são RBMG 5,19 27,37 78,56 35,80 2,75
de origem natural (Araquari-SC) e artifi- Fíler calcário 1,76 12,68 42,68 18,09 2,80
cial (Botuverá-SC). O agregado graúdo
(brita granítica de 19 mm) de Gaspar-SC
e a brita calcária (9,5 mm) de Botuverá- 2.1 Dosagem to se encontrasse por volta de 30 mm a
-SC. Os materiais foram avaliados quanto 60 mm. Novamente desligada, acrescen-
à massa específica através da NBR NM 52 Para a dosagem, foi adaptado o mé- tou-se o aditivo, deixando a mistura baten-
[13], massa unitária pela NBR NM 45 [14] todo proposto por Tutikian [17], sendo do por 2 minutos. Após, realizaram-se os
e composição granulométrica por meio que, após a caracterização dos materiais, ensaios no estado fresco.
da NBR NM 248 [15] (Tabela 2, Figura 1). definiu-se o esqueleto granular e deter- As eventuais diferenças entre os valo-
As adições foram analisadas quan- minou-se a relação água/cimento e o teor res de massa especifica das adições alte-
to à composição química através de de aditivo. Fixou-se então o consumo de raram a dosagem e, consequentemente,
ensaio de Espectrometria de Fluores- aditivo para todos os traços (Tabela 5). houve uma pequena variação no consumo
cência de Raios-X (FRX) e a massa espe- As misturas na betoneira foram pa- de cimento e agregados das adições.
cífica, conforme a NBR 16605 [16], além dronizadas da seguinte maneira: com ela
da distribuição granulométrica através desligada, acrescentaram-se as britas, ba- 2.2 Ensaios
da difração de raio laser (Tabelas 3 e 4). tidas por aproximadamente 1 minuto. Com
O resíduo de beneficiamento do mármore e ela parada, adicionaram-se os agregados Para caracterização no estado fresco,
granito foram coletados no estado de lama, miúdos, o cimento e a adição, misturando realizaram-se os ensaios de espalhamento
secos, destorroados e peneirados, utilizan- por 2 minutos. A betoneira foi ligada e a (t500), anel J, caixa L e funil V de acor-
do o material passante em malha 0,150 mm. água foi adicionada até que o abatimen- do com as normas da NBR 15823 [1]. No
estado endurecido, analisaram-se as pro-
priedades mecânicas: resistência à com-
pressão prescrita (NBR 5739) [18] aos 7 e
28 dias; módulo de elasticidade (NBR
8522) [20] aos 28 dias.
Os índices físicos de absorção, índice
de vazios e massa específica real seguem
a NBR 9778 [21], também aos 28 dias.
Desenhou-se um diagrama de dosagem
relacionando a resistência à compressão,
a relação água/cimento, a proporção dos
materiais (traço 1:m) e o consumo de ci-
mento. E um diagrama de desempenho
entre os concretos produzidos com RBMG
e fíler calcário.

FIGURA 1 3. RESULTADOS
Curvas granulométricas dos agregados utilizados Os concretos produzidos se enqua-
draram nas exigências da NBR 15823

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 79
nas os traços da família 3 ficaram em
TABELA 5 conformidade com a NBR 15823 [19].
Composições dos concretos dosados (kg/m³) Os outros traços não apresentaram va-
lores mínimos impostos pela norma,
Massa devido ao consumo de aditivo, porque
Família Cimento RBMG Fíler Calc.
específica mesmo que fixado o percentual de aditi-
3 2451 562 84 — vo para cada traço, as misturas com um
3 2477 572 — 86 consumo mais alto de cimento propor-
5 2371 364 91 — cionalmente apresentam uma quantida-
5 2468 382 — 96 de maior de aditivo, o que se refletiu nos
7 2366 274 96 — resultados (Tabela 8).
7 2429 281 — 99 A mesmas divergências entre os en-
Areia Aditivo saios de habilidade passante também
Brita Brita
Água foram observados no trabalho de Men-
Fina Artificial 9,5 mm 19 mm l/m³ %
320 641 191 450 201 4,10 0,73 des, Bauer e Silva [22], onde o concre-
326 652 195 458 190 4,18 0,73 to foi aprovado em relação à habilidade
345 691 207 484 190 2,65 0,73 passante pelo método do anel J e re-
363 726 218 508 174 2,79 0,73 provado pelo ensaio da caixa L. O que
364 728 219 510 175 2,00 0,73 denota a importância de ser exigido o
374 749 225 524 178 2,05 0,73 resultado positivo em ambos ensaios
para considerar a capacidade passan-
te do CAA. Assim como a sua classi-
(Tabela 6). Entretanto, o CAA produzido O traço da família 7 de ambas adi- ficação quanto à viscosidade plásti-
com RBMG apresentou grande variação ções e o da família 5 com fíler calcário ca aparente pelo método do funil V
no espalhamento: a família 3 classificou- apresentaram as características aci- (Tabela 9) e das propriedades mecâni-
-se como SF 3, o traço correspondente ma dos valores exigidos pela norma. cas como resistência à compressão aos
à família 5 se encaixou na classe SF 2 e, Porém, todos os outros traços apre- 7 e 28 dias e módulo de elasticidade
por último, a família 7 se enquadrou na sentaram valores de acordo com NBR (Figura 2).
classe SF 1. Já, no CAA confeccionado 15823 [19], sendo classificados na clas- O CAA com RBMG apresentou
com fíler calcário a variação foi menor: se de habilidade passante PJ 2. Nos um maior percentual de crescimen-
o traço da família 3 foi classificado como resultados no ensaio da caixa L, ape- to dos 7 dias de idades para os 28 dias
SF 3 e os dois outros traços se enqua-
draram na classe SF2. O uso de fíler com
partículas mais finas implica o consumo TABELA 6
maior de aditivo para atender às exigên- Resultados do ensaio de espalhamento
cias do CAA, porém, é observado um au-
mento na resistência à compressão com Espalhamento (mm) Classe de espalhamento
Família
a utilização de fíler mais finos, devido RBMG Fíler calcário ABNT NBR 15823-1:2017
ao melhor empacotamento, indepen- 3 815 800 SF 1 – 550 a 650 mm
dentemente de sua mineralogia, como 5 665 750 SF 2 – 660 a 750 mm
demonstra a pesquisa de Schankoski, 7 642,5 735 SF 3 – 760 a 850 mm
et al. [10].
Todos os traços produzidos se enqua-
dram na classe VS 2 conforme NBR 15823
TABELA 7
[1], ou seja, o tempo de escoamento foi Resultados do ensaio de t500 e IEV
maior que 2 segundos; além disso, todos
os traços se mostraram altamente estáveis
Tempo de Classe de
de acordo com do ensaio de estabilidade escoamento t500 (s) viscosidade
visual (Tabela 7). A variação ocorreu nos Família plástica aparente Material
Fíler t500 ABNT NBR
traços contento a adição de resíduo, e RBMG
calcário 15823-1:2017
com o aumento do consumo de agrega-
Sem evidência de
do, obteve-se naturalmente o aumento do 3 3,15 3,16
VS 1 ≤ 2 s segregação ou exsudação
tempo de escoamento. Porém, no concre- VS 2 > 2 s Sem evidência de
5 3,21 3,83
to com fíler calcário, o traço da família 7 segregação ou exsudação
apresentou o menor tempo de escoamen- 7 3,77 2,44 2,63
Sem evidência de
to de todos os traços analisado (Tabela 7). segregação ou exsudação

80 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


na resistência à compressão: as famí-
lias 3,5 e 7 apresentaram os respecti- TABELA 8
vos crescimentos ~12%, ~13% e ~15. O Resultados obtidos nos ensaios anel J e caixa L
CAA produzido com fíler calcário exi-
biu nas famílias 3,5 e 7 um aumento de Anel J (mm)
Classe de habilidade passante pelo
~8%, ~13,5% e ~12,5%, respectivamente. Família Fíler
RBMG anel J ABNT NBR 15823-1:2017
Sendo que o CAA com adição de fíler cal- calcário
cário apresentou as maiores variações, o 3 40 30 PJ 1 – 0 a 25 mm
que se reflete no desvio padrão e coeficien- 5 50 115 PJ 2 – 25 a 50 mm
te de variação que chegou a 4%. Compa- 7 142,5 65
rando a resistência à compressão do CAA Caixa L (H2/H1)
com RBMG e fíler calcário nas famílias Classe de habilidade passante pelo
Família Fíler
RBMG caixa L ABNT NBR 15823-1:2017
3,5 e 7, ocorreu uma variação de ~6%, calcário
~23% e ~12% respectivamente, maior para 3 1,00 0,84
≥ 0,80, com três barras de aço
o concreto produzido com fíler calcário, e 5 0,72 0,71
a relação água/cimento não foi mantida 7 0,30 0,70
igual, o que justifica parte da variação.
Rodrigues, Filho e Santos [8] subs-
tituíram o cimento por resíduos de már-
TABELA 9
more e granito (com diâmetros inferiores
Resultado do ensaio funil V
a 0,075 mm), o que foi positivo para per-
centuais de 20% a 30% dependendo do
Funil V (s) Classe de viscosidade plástica
tipo de aditivo utilizado. A incorporação
Família Fíler aparente pelo funil V
de até 15% do resíduo não implica perda RBMG
calcário ABNT NBR 15823-1:2017
considerável de resistência à compres- 3 14,21 22,53
são (Hameed) [23] VF 1 < 9 s
5 8,06 16,39
Analisando o módulo de elasticidade VF 2 – 9 a 25 s
7 17,50 14,21
de cada família, observou-se um acrésci-
mo de ~8%, ~15% e ~9% no CAA produzi-
do com fíler calcário quando comparado bela 10). Cabral, Monteiro e Helene [24] da família 3, os índices são melhores
ao RBMG. Ao contrário dos resultados analisaram o módulo de elasticidade, em relação à família 5 e, consequente-
obtidos na resistência à compressão, o produzindo o mesmo concreto com con- mente, a família 7 apresentou os piores
RBMG apresentou maior coeficiente va- sistências diferentes, o concreto plástico resultados com relação à absorção e ín-
riação e desvio padrão no módulo de apresentou maior módulo de elasticida- dice de vazios, provavelmente por pos-
elasticidade. Isso se dá pelo processo de de do que o concreto autoadensável. suírem mais agregados do que cimento,
beneficiamento manual, já o filer calcá- Em ambas adições, as massas espe- o que se reflete também na resistência
rio é beneficiado industrialmente, assim cíficas apresentaram valores próximos à compressão
as partículas são mais padronizadas (Ta- entre as diferentes famílias. Nos traços Tutikian, Isaia e Helene [25] aborda-
ram a diferença entre concretos de alta
resistência (CAR) e concretos de alto
desempenho (CAD), no que se refere
a alguns princípios para a classificação
do concreto como CAD: diminuição da
relação água/cimento, potencialização
da granulometria, além da melhoria
das ligações químicas com adições mi-
nerais. Sendo possível assim classificar
os traços da família 3 de ambas adi-
ções como concreto autoadensável de
alto desempenho.
Com relação às equações do compor-
tamento de ambos concretos (Tabela 11),
juntamente com suas curvas de dosagem
FIGURA 2 (Figuras 3 e 4) e o diagrama de desempe-
Resultados de resistência à compressão e módulo de elasticidade nho (Figura 5), decorrentes dos diagramas
de dosagem que relacionam a resistência

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 81
TABELA 10
Resultados obtidos nos ensaios de índices físicos (28 dias de idade)

RBMG Fíler calcário

Material Massa Massa


Absorção Índice de vazios Absorção Índice de vazios
específica real específica real
(%) (%) (%) (%)
(g/cm³) (g/cm³)
3 1,54 3,69 2,49 2,83 6,81 2,58
5 2,14 5,11 2,52 3,16 7,51 2,57
7 5,05 11,26 2,51 3,94 9,18 2,56

à compressão, relação água-cimento, con- to, verificou-se que as adições proporcio- agregados, consequentemente refletindo
sumo de agregado e consumo de cimen- naram consumos diferentes de cimento e na relação água-cimento e na resistência
à compressão.
Com a construção dos diagramas de
TABELA 11 dosagem, é possível determinar o traço
Equações de comportamento dos concretos com adições para qualquer combinação, partindo de um
item inicial, como, por exemplo, a resistên-
Equação de comportamento cia à compressão, relação água/cimento.
Propriedade Dias R2
RBMG Fíler calcário Dessa maneira, a dosagem é mais rápida
fcj7dias = fcj7dias = otimizando o tempo, além de analisar as
7 1,0
Resistência à propriedades das famílias dos traços rela-
compressão
(Lei de Abrams)
cionados (Figura 5).
28 fcj28dias = fcj28dias = 1,0

Traço unitário 1:m (Lei de Lyse) m = -2,19 + 14,19 * a/c m = -1,27 + 13,25 * a/c —
4. CONCLUSÕES
Os resultados indicam que a adição
Consumo de cimento por m3 c= c=
(Lei de Molinari)
1,0 de fíler calcário apresentou as melhores
propriedades quando comparado ao

FIGURA 3 FIGURA 4
Diagrama de dosagem do concreto com resíduo Diagrama de dosagem do concreto com
de beneficiamento fíler calcário

82 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


resíduo de beneficiamento de mármo- aumento conside-
re e granito. A dosagem possibilitou um rável quando com-
menor índice de vazios e, consequente- parado ao concreto
mente, uma melhora tanto nas caracterís- com RBMG e apre-
ticas reológicas quanto nas propriedades sentou os melho-
físicas e mecânicas. Ainda que as adi- res resultados nos
ções apresentaram o mesmo percentual ensaios de módulo
nos traços. de elasticidade.
A caracterização no estado fresco dos Nas proprieda-
CAA foi satisfatória de acordo com a NBR des físicas, os tra-
15823 [1], com exceção dos ensaios da cai- ços da família 3 e 5
xa L que apresentaram valores abaixo do do CAA produzidos
exigido, em especial o traço da família 7 com RBMG tiveram
com RBMG, que apresentou valor equiva- uma menor absor-
lente 0,30, muito abaixo do 0,80 determi- ção, menor índice
nado pela norma regulamentadora. de vazios e apenas
As características no estado endure- a massa específi-
cido se mostraram muito positivas, com ca real foi superior FIGURA 5
ambas adições. Na resistência à compres- no concreto com Diagrama de desempenhos dos concretos com adições
são, o CAA com fíler calcário teve um fíler calcário.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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111 | Jul 1–ed.,
Setcapítulo
| 202336,| 83
São Paulo. Ibracon, 2011. & Construções
Entendendo o Concreto
Polêmicas em torno do módulo
de elasticidade do concreto e as
soluções possíveis
FÁBIO LUÍS PEDROSO – Editor – https://orcid.org/0000-0002-5848-8710 (fabio@ibracon.org.br)

A
s estruturas e os elementos de
concreto se deformam como re- descolamento cerâmico

ação às cargas aplicadas neles.


Uma laje encurva-se para baixo sob ação
de seu próprio peso, ainda mais se des- compressão @abbas.engenharia
cimbrada prematuramente. As alvenarias
tração
de fechamento podem fissurar com a de-
formação lenta das estruturas sob ação ssura no concreto
prolongada do seu peso, fenômeno este
conhecido como fluência do concreto,
FIGURA 1
que pode causar também desplacamen-
Flecha em laje – Esquematização de fissuras em laje e desplacamento
tos dos revestimentos.
de pisos devido ao deslocamento
A própria estabilidade e principalmen-
te o conforto psicológico dos usuários são
postos em risco quando os deslocamentos ção das deformações e dos deslocamentos estruturas mais esbeltas, vãos maiores de
das peças de concreto ultrapassam deter- corretos nas primeiras idades do concreto”. vigas e seções transversais menores.
minados limites de deformação conheci- O problema da deformação nas estru- Um dos parâmetros de projeto para o
dos como estados limites de serviço (ELS). turas de concreto vem se agravando com controle das deformações nos elementos es-
Vasconcelos e Giammusso (2009) apon- as mudanças nos padrões construtivos e truturais de uma obra é o módulo de elasti-
taram o problema no artigo “O misterioso arquitetônicos de edificações, propiciados cidade do concreto, propriedade do material
módulo de elasticidade” ao afirmarem que pelos avanços no projeto estrutural e no que correlaciona a tensão e a deformação.
“os maiores transtornos que ocorrem em desenvolvimento tecnológico dos mate- Cada material pode apresentar um ou
estruturas são causados pela não considera- riais, que, por décadas, têm privilegiado vários valores de módulo de elasticidade,
dependendo de sua composição. Quanto
maior o módulo de elasticidade, maior deve-
rá ser a tensão para produzir uma certa de-
formação. Ou, por outro lado, quanto maior
o módulo de elasticidade, menores serão os
deslocamentos para um mesmo carrega-
mento. Por isso, o módulo de elasticidade é
uma das medidas da rigidez do material.
O módulo de elasticidade do concreto
pode ser obtido por meio de um ensaio pa-
dronizado, seja estático ou dinâmico, e seu
valor pode variar em função dos materiais
constituintes do concreto, de sua proporção
e da interação entre eles.
Especificar o valor do módulo de elas-
ticidade do concreto que será usado numa
FIGURA 2 estrutura é uma exigência normativa da
MASP: destaque para o grande vão da edificação ABNT NBR 6118, seja por tabelas ou fórmu-
las, seja por meio de ensaios experimentais.

84 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


res mais compatíveis com os resultados
dos ensaios.
A controvérsia não é nova. Em 2007,
o Instituto Brasileiro do Concreto —
IBRACON organizou o Painel de Assuntos
Controversos — Módulo de Elasticidade:
mitos e realidades no 49º Congresso Bra-
sileiro do Concreto, em Bento Gonçalves.
A principal polêmica levantada e discutida
foi se as equações empíricas da ABNT NBR
6118 vigente na época eram adequadas
para refletir o comportamento do concre-
to feito com os materiais disponíveis nas
diferentes regiões do país.
Apesar das alegações de discrepância
FIGURA 3 entre os valores estimados e calculados do
Estacionamento do edifício Leopoldo 1201, onde é possível observar módulo de elasticidade serem renovadas até
grandes vãos
hoje, a norma de projeto acabou de ser revi-
sada e manteve as estimativas para os valo-
res de módulo de elasticidade da última ver-
Com o valor do módulo de elasticidade mas existem outras variáveis importantes. são, preservando os mesmos coeficientes
do concreto e das tensões que atuam sobre Em razão disso, construtoras, labo- de ajustes em função dos tipos de agregado
os elementos estruturais, os projetistas po- ratórios de controle tecnológico e usinas introduzidos na norma de 2014. Ou seja: para
dem calcular as deformações a que essas de concreto no Brasil têm alegado que os profissionais que colaboraram com a re-
peças estarão sujeitas e se seus valores es- os valores estimados de módulo de elas- visão de 2023, as equações de estimativa do
tão dentro dos limites especificados na pró- ticidade e normalmente exigidos em pro- módulo de elasticidade espelham razoavel-
pria norma de projeto, que garantem sua jetos têm sido bem superiores aos valores mente e com segurança o comportamento
estabilidade global e sua funcionalidade. recorrentemente obtidos por meio dos rígido dos concretos fabricados no Brasil.
“Um exemplo típico é o redimensio- ensaios padronizados. Sendo assim, elas Quem tem razão? A controvérsia é
namento das cargas das paredes sobre têm arcado com os custos de ajustar os real? Quais as soluções para o impasse?
um piso de edifício, substituindo-as por traços dos concretos ou de buscar agrega- Quais outras polêmicas envolvem o con-
paredes mais leves quando as flechas do dos compatíveis em regiões distantes das ceito de módulo de elasticidade?
piso, calculadas com o auxílio do módulo obras para atender ao módulo de elastici-
de elasticidade, indicam valores acima do dade especificado pelo contratante. Por CONCEITO PRÁTICO
respectivo limite especificado nos ELS”, conseguinte, pleiteiam ajustar as fórmu- O módulo de elasticidade pressu-
exemplifica o professor emérito da Univer- las matemáticas para que retornem valo- põe os materiais como elásticos, isto é, a
sidade Federal da Bahia, Antonio Carlos
Reis Laranjeiras.
A polêmica em torno do módulo de
elasticidade começa quando o projetista,
por não dispor de resultados de ensaio do
módulo de elasticidade do concreto a ser
usado numa obra, estima seu valor com
base em equações matemáticas contidas
na própria norma de projeto.
A ABNT NBR 6118 estabelece que o
módulo de elasticidade deve ser obtido se-
gundo o método de ensaio estabelecido na
ABNT NBR 8522. Mas, diz a norma, quando
não forem realizados esses ensaios, pode-
-se estimar e adotar um valor para o mó-
dulo de elasticidade.
As equações da norma estimam o valor FIGURA 4
do módulo de elasticidade do concreto em Painel de Assuntos Controversos no 49º Congresso Brasileiro
função da sua resistência característica à do Concreto
compressão, e da natureza dos agregados,

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 85
proporcionalidade entre tensão e alonga- na sua microfissuração progressiva sob car- uma reta para tensões da ordem de 30%
mento é constante, tanto no carregamento gas (Mehta e Monteiro, 2014). As microfissu- da resistência. Acima disso passa a ser uma
quanto no descarregamento, sendo que ras causadas na interface entre o agregado curva. Se fosse uma reta perfeita, a inclina-
cessada a solicitação, a deformação desa- e a pasta permanecem estáveis até 30% ção da reta seria o módulo de elasticidade.
parece. Este comportamento configura a da tensão de ruptura. Por conseguinte, o Como não é uma reta, tem-se diferentes
Lei de Hooke. diagrama que relaciona a tensão e a defor- convenções de módulo de elasticidade.
Mas, a rigor esses materiais elásticos mação é quase linear. Entre 30% e 50% da É por meio dessa “simplificação que se
não existem, pois, para alguns materiais, a carga de ruptura, as microfissuras na zona torna possível associar facilmente cargas a
deformação deixa resíduos de deslocamen- de transição aumentam em comprimento, deformações de elementos estruturais de
to, enquanto para outros, é preciso certo abertura e quantidade, de modo que a curva concreto e, assim, determinar a rigidez das
tempo após a liberação da carga para a re- tensão-deformação se desvia da linha reta, peças (fluência e flechas em vigas e lajes)
cuperação integral da deformação. encurvando-se sensivelmente. Daí em dian- e a estabilidade global da estrutura”, escla-
O comportamento linear dos materiais te, a fissuração se torna instável e se propa- rece o Prof. Antonio Laranjeiras.
pode ser admitido para valores pequenos de ga cada vez mais para a matriz cimentícia, Todavia, nem a curva tensão-defor-
tensões aplicadas. “A realidade se mostrou de modo que a curva tensão-deformação se mação nem o módulo de elasticidade do
muito diferente para tensões maiores do que torna quase horizontal, até o rompimento. concreto refletem o comportamento real
50% das tensões de ruptura. Para o concreto, Em razão desse comportamento do da estrutura ou do elemento estrutural,
em particular, a falta de linearidade come- concreto, com deformações elásticas se- “pois assumem não haver nem armadura
ça com valores muito menores de tensões”, guidas de deformações viscoelásticas nem fissuração nem fluência”, alerta o Prof.
ponderam Vasconcelos e Giamusso (2009). (parcialmente reversíveis) e, finalmente, Laranjeiras. “No entanto, essas abstrações
A ABNT NBR 6118 e a ABNT NBR 8522 por deformações plásticas, prefere-se atu- são consentidas pela norma NBR 6118
admitem o comportamento elástico-linear almente o termo módulo de deformação como seguras para o dimensionamento da
do concreto a despeito desse comporta- do concreto. “O módulo de deformação estrutura”, complementa.
mento não ser observado na realidade. A correlaciona a deformação unitária de Com ele concorda o projetista de es-
elasticidade do concreto pode ser grossei- um corpo feito do material à tensão apli- truturas, Antonio Quintella Baptista, ao
ramente admitida até o limite de 30% da cada nele, sem que haja elasticidade nem afirmar que a relação linear entre tensão-
sua tensão de ruptura. linearidade”, explica a superintendente -deformação simplifica enormemente os
Após esse limite, parte da deformação do ABNT/CB-18 Concretos, argamassas e cálculos, sendo uma aproximação aceitá-
no concreto se torna permanente, ou seja, agregados, Enga. Inês Battagin. vel. “Desde que as deformações sejam pe-
ela não desaparece quando a carga é re- A despeito da terminologia e do com- quenas, a experiência tem mostrado que
tirada, fenômeno conhecido como plasti- portamento real do concreto, as estruturas o desempenho das estruturas calculadas
cidade. Para o concreto, as deformações são projetadas para que, via de regra, não com base na teoria da elasticidade é satis-
plásticas se iniciam com valores abaixo de ultrapassarem os valores de tensão-defor- fatório”, enfatizou.
50% da carga de ruptura. mação correspondentes à zona “elástica”. Segundo ele, as deformações no con-
A explicação do comportamento elásti- O comportamento da curva tensão-de- creto são pequenas, da ordem de micrô-
co, viscoelástico e plástico do concreto está formação do concreto é aproximadamente metros, porque o concreto é muito rígido,
sendo seu módulo de elasticidade elevado
em comparação às tensões atuantes na
s peça (da ordem de 1000 vezes mais).
“A engenharia civil trabalha muitas
Limite de vezes com modelos de comportamento
resistência do material e de cálculo, permitindo sim-
Limite de plificações que não acarretem perda de
escoamento
segurança e de usabilidade”, explica Gus-
Limite de
proporcionalidade Patamar de
tavo Fortes, diretor adjunto de normas da
escoamento Encruamento ABECE, quanto ao uso do módulo de elas-
ticidade no projeto estrutural.

CONTROLE DOS PARÂMETROS


q
DE ENSAIO E SUA EVOLUÇÃO
Fase Fase Fase de
elástica plástica ruptura
e Como o módulo de elasticidade ou de-
formação é medido?
Como uma convenção para fins de di-
FIGURA 5 mensionamento das estruturas, existem
Gráfico de tensão x deformação do concreto diferentes módulos, para diferentes propó-
sitos de análise estrutural, que são obtidos

86 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


por diferentes procedimentos de ensaio. superestimado na situação inversa (Borin
A ABNT NBR 8522-1 especifica um et al., 2010).
método para a determinação do módu- Para minimizar os efeitos dessas situ-
lo estático de elasticidade à compressão ações, a ABNT NBR 8522-1 determina que
do concreto endurecido, em corpos de se a resistência à compressão no corpo
prova cilíndricos moldados ou extraídos de prova ensaiado para obter o valor do
da estrutura. módulo de elasticidade tangente for maior
A partir de três corpos de prova para que 20% da resistência à compressão do
determinação do módulo de elasticidade e corpo de prova ensaiado para determinar
dois corpos de prova do mesmo concreto a resistência à compressão, os resultados
para obter a resistência à compressão, me- devem ser descartados.
de-se, no equipamento devidamente ins- Já, para o ensaio do módulo de defor-
trumentado, a deformação específica sob mação secante, a resistência à compressão
carregamento com controle de tensão, ou na ruptura deste corpo de prova deve ser
a tensão necessária para a deformação es- maior que a resistência à compressão. O
pecífica controlada. módulo de deformação secante é obtido
O módulo de elasticidade é o resulta- quando a tensão máxima é especificada
do da relação entre a variação das tensões pelo projetista ou pelo contratante, sendo
aplicadas e a variação das deformações usado para estimar os esforços solicitantes
específicas medidas. e os estados limites nas estruturas, bem FIGURA 6
Ensaio de módulo de elasticidade
Para o ensaio, considera-se um pon- como as flechas em vigas e lajes.
to de baixa tensão (0,5 MPa), que ga- Como o que acaba por variar na prática
rante uma deformação mínima de é o nível de tensão máxima, os módulos de
compressão do concreto, e uma tensão má- deformação tangente e secante são, de fato, sidade dos agregados (agregados densos
xima estipulada dentro do regime elástico módulos de deformação secantes associa- têm maior rigidez); porosidade da matriz
do concreto. dos a nível de tensão mais baixo e a outro cimentícia (controlada pela relação água/
A tensão mínima considerada no ensaio maior, respectivamente (Borin et al., 2010). cimento, teor de ar, adições minerais e
e os carregamentos e descarregamentos Para traçar o diagrama tensão-defor- grau de hidratação do cimento); e vazios
sucessivos antes de se aferir as medidas mação, a tensão é aplicada crescentemen- capilares e microfissuras na zona de tran-
visam minimizar os efeitos indesejados que te nos corpos de prova, com incrementos sição da interface entre o agregado e a
podem interferir nos resultados e invalidá- de 10% da tensão de ruptura, sendo me- matriz cimentícia (afetada pela dimensão,
-los. A presença de imperfeições nos cor- dida a deformação correspondente a cada forma textura, distribuição granulométrica
pos de prova, a variabilidade das máquinas incremento. e composição dos agregados).
de ensaio e o processo de acomodação do Os diagramas tensão-deformação do “Agregados íntegros, de maior módulo
topo e base dos corpos de prova aos pra- concreto numa determinada idade de- de elasticidade – que pode ser determina-
tos da prensa podem gerar uma perturba- pendem dos seus materiais constituintes, do pela ABNT NBR 10341 – possibilitam a
ção inicial no diagrama tensão-deformação da proporção e interação entre eles, bem obtenção de concretos com maiores valo-
(Rodrigues e Figueiredo, 2005). como dos corpos de prova e dos métodos res de módulo de elasticidade, bem como
Se a tensão máxima considerada é de ensaio (Shehata, 2005). concretos de maior resistência, maior mas-
30% da tensão de ruptura, então se obtém A forma e dimensão da seção transver- sa específica e menor relação água/cimen-
o módulo de deformação tangente inicial, sal, a relação entre comprimento e base e to, que apresentam menor porosidade na
que é usado para obter as deformações a direção de concretagem dos corpos de zona de transição pasta/agregado”, co-
sob tensões usuais no projeto estrutural, prova influenciam os resultados dos módu- menta Inês Battagin.
estimativas de fluência e perdas de proten- los de deformação. Já, o teor de umidade Essas correlações apareceram no Rela-
são, bem como o comportamento global do corpo de prova, a velocidade de aplica- tório EPUSP (1998), que avaliou o módulo
da estrutura. ção da tensão, a restrição da deformação de elasticidade tangente inicial de con-
Como existe uma variação normal das pelas extremidades capeadas do corpo de cretos produzidos com agregado graúdo
resistências à compressão do concreto, prova e até o comprimento ao longo do de rocha granítica de São Paulo e de con-
se o corpo de prova ensaiado para deter- qual se mede a deformação são parâme- cretos produzidos com agregado graúdo
minação do módulo for menos resistente tros do ensaio que influenciam os resulta- de gnaisse do Rio de Janeiro: os concre-
que o corpo de prova usado para deter- dos do módulo de deformação. tos com consistência fluida apresentaram
minar a resistência à compressão, haverá, Uma vez que o corpo de prova e o mé- menores valores de módulo de elasticida-
na prática, um carregamento maior do que todo de ensaio são padronizados, como o de do que os de consistência seca, mas
30% da tensão de ruptura, de modo que faz a ABNT NBR 8522-1, o diagrama ten- módulos maiores que os concretos pro-
o resultado do módulo será subestimado. são-deformação passa a depender das ca- duzidos no Rio de Janeiro, para todas as
Por outro lado, este resultado poderá ser raterísticas do concreto, tais como: poro- idades (Shehata, 2005).

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 87
O tipo de agregado influencia o valor de variação igual ou abaixo de 10%. de utilização do concreto demonstraram
do módulo de elasticidade devido à sua Pragmaticamente, devido à comple- quais deformações são aceitáveis e quais
composição mineralógica, estrutura e xidade e dificuldade do ensaio que acar- podem provocar problemas de ruptura
textura, mas também devido ao intempe- reta variabilidades grandes nos resul- ou fissuras excessivas, a depender do
rismo – umedecimento/secagem, aque- tados, o presidente do IBRACON, Prof. elemento e sua posição na estrutura”.
cimento/resfriamento, congelamento/ Paulo Helene, defende que resultados de No entanto, quando o projetista não
degelo, solubilização por ácidos. “Assim, ensaio, dentro de uma margem de mais dispõe dos resultados de ensaios do mó-
não é difícil prever que rochas da mesma ou menos 20% do valor especificado no dulo de deformação do concreto a ser
família, com graus de intemperismo dife- projeto estrutural, devem ser aceitos utilizado na estrutura, a norma brasileira
rentes, possam apresentar módulos de como normais e conformes. “Essa é tam- ABNT NBR 6118 faculta a estimativa do
deformação acentuadamente divergen- bém a posição dos americanos confor- módulo a partir da resistência caracte-
tes”, explica o diretor do IBRACON, Eng. me consta no texto da norma ACI 318”, rística à compressão do concreto.
Carlos Massucato, que estudou a influên- argumenta o Paulo Helene. “O ideal é ter resultados confiáveis,
cia dos tipos de agregados no módulo de Os limites de 2008 foram mantidos realizados por laboratório idôneo e ca-
elasticidade do concreto. na norma de ensaio estático de elastici- pacitado no ensaio, para poder ava-
Essa variabilidade significativa entre dade de 2021, que apresentou, pela pri- liar de forma mais confiável o valor do
os valores de módulo de elasticidade meira vez, outro ensaio para calcular o módulo de elasticidade, como prevê a
dos concretos produzidos em diferen- módulo de elasticidade — o ensaio dinâ- ABNT NBR 6118 em seu item 8.2.8”, es-
tes regiões do país mostra a importân- mico (ABNT NBR 8522-2). Este consis- clareceu Inês Battagin.
cia do ensaio para informar a análise e te em obter frequências naturais de vi- Isto porque, como vimos, os fatores
o projeto estrutural. Por outro lado, a bração do concreto a partir da resposta determinantes do módulo de deforma-
multiplicidade de fatores intervenientes acústica do corpo de prova ao impacto ção do concreto são variados, comple-
e suas complexas interações não deixam de um pulsador. “Este ensaio é não des- xos e inter-relacionados, influenciando
margem para dúvidas de que estimar o trutivo, possibilita o uso de corpos de também a resistência à compressão do
módulo de elasticidade a partir da resis- prova de menor dimensão e apresenta concreto, mas com graus diferenciados
tência característica à compressão do baixa dispersão dos resultados”, avalia (Mehta e Monteiro, 2014).
concreto é uma simplificação grosseira. Pedro Bilesky, que realizou mestrado no Tanto que existem diferentes equa-
Todavia, a dispersão nos resultados tema no IPT. ções matemáticas para estimar o módu-
dos ensaios passa a ser um problema Como as tensões e deformações ob- lo a partir da resistência à compressão
quando acontece em condições contro- tidas por meio do ensaio são muito bai- do concreto. Algumas levam em con-
ladas dos parâmetros de ensaio e de ca- xas, o módulo de elasticidade dinâmico ta, além da resistência à compressão, a
racterísticas do concreto. Essa dispersão representa o “comportamento elástico” massa específica do concreto, o tipo de
foi verificada em nove edições do Pro- do concreto e seu valor se aproxima do agregado do concreto, a existência de
grama Interlaboratorial de Ensaios em módulo tangente inicial estático. A pró- adições e “até e muito importante a con-
Concreto Endurecido, o que deu margem pria ABNT NBR 8522-1, em seu anexo, sistência do concreto fresco”, informa o
a críticas quanto à confiabilidade dos estabelece uma correlação teórica entre Prof. Paulo Helene.
resultados do ensaio padronizado pela o módulo dinâmico e o módulo de elasti- A ABNT NBR 6118:2014 traz duas
ABNT NBR 8522. cidade estático no regime elástico. equações para estimar o módulo de de-
Essa dispersão balizou a revisão des- A expectativa é que sua dissemina- formação do concreto: uma é função de
ta norma, em 2008. Para diminuí-la, a ção e uso restrinja ainda mais a disper- raiz quadrada da resistência caracterís-
nova norma estabeleceu: a introdução de são dos resultados do módulo de elasti- tica à compressão, sendo aplicada aos
um limite máximo admissível de 5% entre cidade relativos a um mesmo concreto. concretos de classes de resistência de
os resultados individuais de deformação até 50 MPa (Grupo I); a outra é função
específica e a média das deformações; e POLÊMICA QUANTO À ESTIMATIVA de raiz cúbica da resistência caracterís-
a fixação dos limites de 5% de repetitivi- DO MÓDULO DE ELASTICIDADE tica à compressão, sendo associada aos
dade — ensaios feitos num mesmo labo- O conhecimento do módulo de elas- concretos de classe de resistência de
ratório — e de 10% de reprodutibilidade — ticidade do concreto por meio de en- 55 MPa a 100 MPa (Grupo II).
ensaios feitos em laboratórios diferentes saios padronizados é essencial para pre- Como o módulo varia com o tipo
(Cupertino et al., 2009). ver razoavelmente o comportamento da de agregado, a norma brasileira vigente
Esses autores informam que os resul- estrutura, possibilitando seu dimensio- possibilita corrigir os valores estimados
tados corrigidos do ensaio de módulo de namento para resistir às diversas solici- por coeficientes relacionados a esses tipos.
elasticidade do 15º Programa Interlabo- tações a que estará sujeita, com margem “Para estabelecer essas correlações
ratorial de Ensaios em Concreto Endure- adequada de segurança. foram consultadas normas técnicas si-
cido, executado conforme o novo texto Nas palavras do diretor-adjunto da milares de outros países e considerada
da ABNT NBR 8522 por 21 laboratórios, ABECE, Gustavo Fortes: “Os ensaios re- a base de dados e estudos realizados
em 2008, apresentaram um coeficiente alizados ao longo de mais de um século com materiais nacionais”, informa Battagin.

88 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


superestimava os módulos dos concretos
ensaiados na COPPE (Shehata, 2005).
Novamente, os resultados do controle
corriqueiro de módulo de deformação do
concreto de obras reais nos anos de 2006
a 2008 indicaram que a resistência carac-
terística à compressão desses concretos
girava em torno de 30 MPa, enquanto os
valores de módulo apresentaram uma dis-
tribuição normal entre 16,5 GPa e 47,7 GPa.
Com isso, a probabilidade de ocorrência
de resultados inferiores ao valor especifi-
cado na ABNT NBR 6118:2007 (26,07 GPa)
era de 20% (Borin et al., 2010).
Segundo esses autores, a probabilida-
de de rejeição dos concretos com base no
valor estimado de módulo foi de 9,33% na
Grande São Paulo e de 41,5% no litoral de
São Paulo.
A norma ABNT NBR 6118 de 2014 mu-
dou novamente a fórmula para estimar o
FIGURA 7 módulo e trouxe a possibilidade de sua
Momentos fletores no piso de uma Edificação correção por meio de coeficientes em fun-
ção dos tipos de agregados.
Porém, estudo realizado por Bilesky et
Mas, como o concreto é um compósi- com a revisão da norma ABNT NBR 6118, al. (2018) mostrou que o calcário comercial
to com grande variabilidade de suas ca- o módulo de elasticidade estimado do usado no programa experimental era, na
racterísticas ao longo do tempo e aniso- concreto com resistência característica realidade, um mármore e que o granito, de-
trópico, isto é, que reage diferentemente à compressão de 18 MPa, de uso comum vido à sua gênese, tinha fragilidade na sua
segundo o fenômeno ao qual é subme- na época, passou a ficar abaixo de 30 microestrutura. Desse modo, os resultados
tido, nem sempre as estimativas podem GPa. “Tal fato tem ocasionado ocorrên- de módulo de elasticidade “nos concretos
ser aplicadas a situações reais (Andrade; cias de fissuras em alvenaria de enchi- estudados com agregado graúdo de cal-
Possan, 2017). mento em estruturas de concreto com cário não foram nunca inferiores aos resul-
Programa experimental que compa- idades de 1 a 2 anos e de fissuras ocor- tados de todos os ensaios realizados com
rou o valor medido do módulo de de- rendo cerca de 7 anos devido à defor- agregado graúdo de granito, ao contrário
formação de concretos coletados em mação lenta do concreto” (Djanikian e das previsões dos modelos simplificados
diversas obras nas cidades da Grande Trindade, 2001). adotados pela ABNT NBR 6118 (2014)”. Os
Campinas, Grande São Paulo e Baixada Esses autores recomendaram em seu autores concluíram que os calculistas te-
Santista, de junho de 1999 a fevereiro de trabalho técnico-científico que constru- nham sempre conhecimento prévio do po-
2003, com o valor estimado do módulo, toras e projetistas elevassem o valor de tencial dos materiais disponíveis na região
indicou que os valores dos módulos de fck do concreto para 40 MPa, o que levaria onde a obra será construída.
deformação dos concretos da Baixada o módulo de elasticidade para níveis de O Eng. Paulo Fernando, diretor da
Santista ficaram abaixo do recomendado 30 GPa. O trabalho trouxe um estudo de Concremat, vai além e generaliza que “os
pelo ABNT NBR 6118, de 2001, quando a caso que apontou que essa medida po- valores obtidos por meio da NBR 6118 vi-
norma ainda não continha os fatores de deria representar economia de até 15% gente são superiores aos valores obtidos
correção em função do tipo dos agrega- no custo do metro cúbico de concreto nos ensaios realizados pelos principais
dos (Massucato et. al., 2003). na estrutura, devido a novas concep- laboratórios acreditados pelo Inmetro”.
Na avaliação de Massucato, “devido à ções estruturais, com pilares mais espa- Com ele concorda o diretor da Associa-
grande variedade de rochas encontradas çados e lajes mais espessas (Djanikian e ção Brasileira das Empresas de Serviços
no território brasileiro, o conhecimento de Trindade, 2001). de Concretagem (ABESC), Eng. Álvaro
dados precisos sobre o concreto a ser utili- Por sua vez, dados experimentais da Barbosa Júnior.
zado é de fundamental importância para o EPUSP (1998) e da COPPE indicaram que Paulo Fernando recomenda que se
cálculo das estruturas”. a expressão da ABNT NBR 6118, de 2003, adote no curto prazo um fator de redu-
Em estudo apresentado no 43º Con- continuava com problemas: subavaliava ção dos valores estimados de módulo de
gresso Brasileiro do Concreto, em 2001, o módulo de elasticidade tangente inicial deformação do concreto de 10% a 15%,
Djanikian e Trindade já alertavam que, para os concretos de menor resistência e para se chegar a valores mais realistas.

& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 89
“No longo prazo, é preciso ter uma equa- de do concreto nas regiões ondem atuam. do concreto”, complementa Fortes.
ção mais realista”, defende. “Os projetistas devem consultar as con- Quanto à mudança na fórmula da
Segundo Pacheco et al. (2014), por creteiras antes de especificar o módulo de ABNT NBR 6118 para estimar o módulo de
desconhecimento da natural e elevada va- elasticidade”, recomenda. deformação, antes é preciso um grande es-
riabilidade dos resultados do módulo de O ponto aqui é que a negociação para forço do setor para ampliar e consolidar os
elasticidade, “tem havido discussões e des- aquisição do concreto não seja iniciada dados empíricos de módulo de elasticida-
gastes desnecessários entre fornecedores, após o projeto estar pronto. Quanto antes de para concretos de diferentes regiões do
construtores e projetistas”. o estudo do traço e do agregado for feito, país, para que o modelo matemático reflita
Isto porque a dispersão de valores en- melhor! Assim, essas informações podem a realidade dos agregados regionalmente.
tre as estimativas e os resultados dos en- ser incorporadas nas fases iniciais do projeto. Na avaliação da vice-presidente da As-
saios de módulo de elasticidade, se dentro Quando uma construtora encontra um sociação Brasileira das Empresas de Tec-
de uma faixa aceitável, não compromete a módulo de elasticidade do concreto menor nologia da Construção Civil (ABRATEC),
segurança da estrutura nem sua estabili- do que o estimado segundo a ABNT NBR Enga. Paula Baillot, “a revisão das equações
dade global, pois resultam em diferenças 6118:2014, ela pode tomar quatro medidas: para estimar o módulo de elasticidade
insignificantes de deformações, segundo aumentar a resistência característica à deve ser baseada em dados mais recentes
Laranjeira e Quintela. compressão, substituir parte dos agrega- e levar em consideração os novos mate-
Essa constatação não afasta a necessi- dos graúdos por rochas mais rígidas, refa- riais e técnicas disponíveis atualmente”.
dade de aperfeiçoamentos nas expressões zer o ensaio de módulo de elasticidade aos Segundo ela, no laboratório central da
que estimam o módulo de elasticidade 90 dias ou não fazer nada. Alphageos, uma das associadas da ABRA-
nem na forma de contratação vigente no As duas primeiras medidas podem au- TEC, os resultados dos ensaios de módulo
mercado da construção. mentar o custo do concreto. A depender de elasticidade, tanto tangente como se-
Segundo Álvaro Júnior, devem haver do projeto estrutural, o concreto de maior cante, estão em sua maioria em conformi-
reuniões prévias ao orçamento da obra classe de resistência eleva o custo por não dade com as especificações de projeto.
entre contratante, projetista e concreteiras diminuir o volume. Já, a troca do agrega- “Certamente, a partir de mais ensaios,
para se ter soluções técnicas e operacio- do pode demandar maior valor de frete e pode-se ter uma base de dados maior
nais. “Todos os projetos devem exigir en- impactar negativamente o ambiente com e talvez encontrar equações que gerem
saios, pois há a necessidade de entender a mais emissões de carbono. valores mais próximos da realidade”, con-
realidade dos agregados em todas as regi- A construtora pode ainda consultar corda Battagin, para adicionar que “o de-
ões do país”, argumenta. o projetista para que ele avalie a neces- senvolvimento das normas técnicas é um
Em certas situações, os ensaios podem sidade de alguma ação corretiva quando processo estabelecido por consenso e
ser dispensados, pois as concreteiras têm o módulo não é atingido, “à semelhança aberto a todos os interessados em territó-
conhecimento dos módulos de elasticida- do que é feito com a não conformidade rio nacional”.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ANDRADE, J. J. O.; POSSAN, E. “Propriedades físicas e mecânicas dos materiais”. ISAIA, G. C. Materiais de construção civil e princípios de
ciência e engenharia dos materiais. São Paulo: IBRACON, 2017.
[2] BILESKY, P.; HELENE, P.; SBRIGHI NETO, C.; CASTRO, A. L. de. “Influência da natureza petrográfica do agregado graúdo no módulo de
elasticidade do concreto”. Foz do Iguaçu: IBRACON, 60º Congresso Brasileiro do Concreto, 2018
[3] BORIN, L. A.; BAUER, R. J. F.; FONSECA, L. P. T.; DE MARCHI, R. D.; SILVA, R. M. da; FIGUEIREDO, A. D. de. “Risco de rejeição de concretos
devido à não conformidade com os parâmetros normalizados para o módulo de elasticidade”. Fortaleza: IBRACON, 52º Congresso Brasileiro
do Concreto, 2010.
[4] CUPERTINO, M. A. L.; INÁCIO, J. J.; PEREIRA, A. de C.; ANDRADE, M. A. S. de; BATTAGIN, I. L. da S. “Análise da influência das alterações
da norma ABNT NBR 8522:2008 no resultado do módulo estático de elasticidade”. Curitiba: IBRACON, 51º Congresso Brasileiro do
Concreto, 2009
[5] DJANIKIAN, J. G.; TRINDADE, O. A. “Medida do módulo de elasticidade do concreto ‘in situ’”. Foz do Iguaçu: IBRACON, 43º Congresso
Brasileiro do Concreto, 2001
[6] MASSUCATO, C. J.; BASSANI, Fabrício; PAULON, V. A. “Contribuição experimental sobre o módulo de elasticidade secante para determinação
de esforços solicitantes e verificação de estados limites de serviço. Vitória: IBRACON, 45º Congresso Brasileiro do Concreto
[7] MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. Concreto: microestrutura, propriedades e materiais. São Paulo: IBRACON, 2ª edição, 2014.
[8] PACHECO, J.; BILESKY, P.; MORAIS, T. R.; GRANDO, F.; HELENE, P. “Considerações sobre o módulo de elasticidade do concreto”. Natal:
IBRACON, 56º Congresso Brasileiro do Concreto, 2014
[9] RODRIGUES, G. S. S.; FIGUEIREDO, E. P. “Estudo dos fatores influentes sobre os resultados de módulo de deformação estático do concreto”.
Olinda: IBRACON, 47º Congresso Brasileiro do Concreto, 2005
[10] SHEHATA, L. D. “Deformações Instantâneas do Concreto”. ISAIA, G. Concreto: Ensino, Pesquisa e Realizações. São Paulo: IBRACON, 2005
[11] VASCONCELOS, A.; GIAMMUSSO, S. “O misterioso módulo de elasticidade”. Rio de Janeiro: IBRACON, 40º Congresso Brasileiro do
Concreto, 1998.

90 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


Encontros & Notícias
ABNT NBR 6118:2023 entra em vigor

A
nova ABNT NBR 6118 Projeto de Es- to no país, estan-
truturas de Concreto foi lançada em do consciente
28 de agosto na sede da Federação e engajada hoje
das Indústrias de São Paulo (FIESP). O even- nos movimentos
to, organizado pela Associação Brasileira de internacionais
Normas Técnicas (ABNT), em parceria com de economia cir-
o IBRACON e a ABECE, contou com a pre- cular, sustenta-
sença de autoridades, lideranças e profissio- bilidade e ESG”,
nais da cadeia produtiva do concreto. destacou.
O presidente do IBRACON, Prof. Paulo He- De 1940 até
lene, destacou que a NBR 6118 foi a primeira hoje, as revi-
norma redigida e aprovado por consenso no sões buscaram
Brasil, mantendo-se como uma das normas acompanhar o Da esquerda para à direita: Renato Genioli (Sinduscon-SP), Marcos Heleno
Guerson (IPEM-SP), Carlos Alberto Amarante (SIBAPEM), Mario William Esper
mais consultadas do acervo normativo brasi- desenvolvimen- (ABNT), Raul Sanchez (Secretário da Justiça e Cidadania), Prof. Paulo Helene
leiro. “A norma prescreve e orienta todos os to tecnológico (Ibracon), Julio Timerman (Ibracon), Luiz Aurélio Fortes (ABECE)
principais e mais importantes investimentos do concreto e
na infraestrutura do país, na qualidade de os aperfeiçoamentos nas análises e pro- Para a norma que entrou em vigor, o
vida com moradias, comércio, saúde, educa- jetos das estruturas. Em 2007, a ABNT CT 301 do IBRACON/ABECE contribuiu
ção, indústria, agronegócio e na mobilidade NBR 6118 tornou-se norma ISO, graças ao com sugestões discutidas e aprovadas em
dos brasileiros. E nesses 83 anos é a grande investimento e esforço de diretores do reuniões entre 2018 a 2021, presenciais e
responsável pela segurança e durabilidade IBRACON à época, que representaram a remotas, inclusive no 60º Congresso Brasi-
da infraestrutura e das estruturas de concre- ABNT na reunião da ISO de Los Angeles. leiro do Concreto (2018).

Programa
Programade
decursos
CursosMASTER PECdo
MasterPEC doIBRACON
IBRACON
2023 Cursos IBRACON Professores Carga horária
u Concreto Dosado em Central — Boas Práticas de Produção e Carlos Britez — Britez Consultoria 5h
Requisitos Normativos Dener Altherman — Vertices
Ana Lívia Silveira — ABCP
u Boas Práticas na Produção de Dormentes de Concreto Jéssika Pacheco — PhD Engenharia 6h
Luciana Farias — RheoWorks
u Dosagem e Produção de UHPC: da Teoria à Prática Roberto Christ — itt Perfomance 12 h
u Estanqueidade em Estruturas de Concreto Emílio Takagi — Penetron 4h
u Curso Preparatório para Auxiliar de Laboratório Conforme 8h
a ABNT NBR 15146
u Curso Preparatório para Laboratorista I Conforme a ABNT 12 h
2º NBR 15146
SEMESTRE u Curso Preparatório para Laboratorista II Conforme a ABNT Adriano Damásio — Qualify
Paulo Aquino — EPT 16 h
NBR 15146
u Curso Preparatório para Inspetor de Tecnologia do Concreto 24 h
Conforme a ABNT NBR 15146
u Curso Preparatório para Tecnologista de Concreto Conforme 18 h
a ABNT NBR 15146
Enio Pazini — Palestrante Convidado — UFG
u Curso Preparatório para Inspetor I — Inspeção de Estruturas de Julio Timerman — Engeti 25 h
Concreto Segundo a ABNT NBR 16230:2013 Rafael Timerman — Engeti
Enio Pazini — UFG
u Curso Preparatório para Inspetor II: Inspeção de Estruturas de Julio Timerman — Engeti 25 h
Concreto Segundo a ABNT NBR 16230:2013 Tulio Bittencourt — USP
u Concreto para Fundações e Torres Eólicas: Desafios e Soluções Martins Junior — EEPC Engenharia 4h
u Avaliação do Ciclo de Vida para Projetos de Estruturas de Ricardo Bento — PUC Minas 4h
64º Congresso Concreto Sustentáveis
Brasileiro Obra na prática
do Concreto u Módulo I: Como interpretar corretamente as armaduras em
Jorge Nakajima — França & Associados
projetos estruturais 5h
Antonio Carlos Zorzi — Consultor
u Módulo II: Como executar estruturas de concreto de acordo
com a nova ABNT NBR 14931

S A I B A M A I S : www.ibracon.org.br (Educação Continuada)


Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 91
& Construções
Encontros & Notícias
Seminário alinha medidas para neutralidade
do carbono na cadeia do concreto

R
eduzir emissões de dióxido de processo de produção, há emissão de
carbono, desmaterializar as es- carbono advinda tanto da queima de
truturas e aumentar sua vida útil combustíveis nos fornos quanto do
são as medidas indicadas para a ca- processo de reação química para a
deia construtiva do concreto contri- produção de clínquer, principal com-
buir com a neutralidade do carbono ponente do cimento.
até 2050. Outra tecnologia disponível é, no
Essas medidas foram defendidas pe- projeto estrutural, buscar diminuir o
los palestrantes do Seminário IBRA- volume dos pilares por meio do uso
CON “Sustentabilidade: os desafios da
de concretos com maior resistência à
cadeia do concreto”, no último dia 10
compressão e com taxa ótima de ar-
de outubro no Congresso Construin-
madura. Paulo Helene apresentou um
do Conhecimento, na Concrete Show
estudo que demonstrou que, apesar
South America, na São Paulo Expo.
Diante do fato de que a população de concreto com maiores resistências
mundial praticamente dobrou desde aumentar o consumo de cimento por
1972, quando a ONU pela primeira vez metro cúbico de concreto, no balanço
tratou do tema ambiental, atingindo de seu uso na estrutura, as emissões
hoje cerca de 8 bilhões de pessoas, acabam sendo menores. “Um metro
e da projeção da Organização das cúbico de concreto com 50 MPa emi-
Nações Unidas de que ela vai crescer te mais carbono, mas seu impacto
e se concentrar ainda mais nas cida- é menor em termos de potencial de
des até o final do século, na visão dos aquecimento global, porque a seção
palestrantes não há outra saída para do pilar é menor e usa menos concre-
o desenvolvimento econômico e so- to”, argumentou.
cial a não ser continuar construindo Ele também sugeriu mudar a data de
obras para prover segurança hídrica, José Marques Filho iniciando sua apresentação controle da resistência à compres-
alimentar, energética, de transporte e no Seminário
são do concreto, hoje de 28 dias.
morada para as pessoas. do concreto, porque tem a função de Aumentar o prazo para fazer o con-
“Isto é também sustentabilidade”, pon- ligante dos agregados que entram trole tecnológico implica dar mais
tuou o professor da Universidade Fede- em sua composição. Porém, em seu tempo para as reações de hidratação
ral do Paraná e ex-presidente do IBRA- do cimento acontecerem (reações
CON, José Marques Filho, no seminário.
entre a água e o cimento que criam
Ele se referia ao pilar social do tripé
os compostos capazes de conferi-
da sustentabilidade – econômico, so-
rem resistência mecânica ao concre-
cial e ambiental.
to) e, por conseguinte, permitir que
Como conciliar crescimento do inves-
timento em infraestrutura e habitação o concreto atinja maiores resistên-
com a redução progressiva de gases cias, atendendo com folga a resis-
do efeito estufa, como determina o tência característica à compressão
Acordo de Paris? especificada no projeto. “Com isso,
Para o presidente do IBRACON, Prof. seguramente, conseguiremos redu-
Paulo Helene, as indústrias da cons- zir ainda mais a emissão de gases de
trução devem aprimorar as soluções efeito estufa na estrutura acabada”,
de engenharia disponíveis. Uma delas explicou Helene.
é aumentar o emprego de reciclados Paulo Helene ressaltou e reforçou a
da construção (RCD), cuja “viabilida- necessidade da criação de um banco
de técnica foi demonstrada pelo co- de dados confiável sobre a emissão
ordenador do antigo Comitê Técnico de gases de efeito estufa dos mate-
do Meio Ambiente do Instituto, Prof. riais e componentes de concreto uti-
Salomon Levy, em seus trabalhos lizados no país. Relembrou que há
apresentados nas edições do Seminá- mais de duas décadas foram criadas
rio de Desenvolvimento Sustentável e as bases normativas para elaboração
Reciclagem na Construção Civil”. Paulo Helene fechando sua apresentação com
das EPDs (Declarações Ambientais de
O cimento é o componente essencial uma reflexão Produto), hoje obrigatórias em países

92 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


Eventos

desenvolvidos, mas ainda incipientes Edna Possan, no Seminário.


no país. “O IBRACON através do CT Possan apresentou as potencialida-
101 está planejando contribuir nesse des da captura do gás carbônico na
estimulo aos produtores e criar uma atmosfera pelo concreto. Três proces-
biblioteca de referência focada no sos foram discutidos por ela: a cura
concreto”, completou ele. carbônica, o tratamento dos agrega-
dos reciclados com carbono e o pro-
INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS cesso natural de carbonatação.
MEDIDAS PARA REDUZIR IMPACTOS Estudos apresentados pela Prof a.
AMBIENTAIS NO SETOR Edna mostraram que até 8% do CO 2
O Comitê Técnico de Sustentabili- emitido na produção de argamassas
dade do Concreto (CT-101), promo- são fixados por elas ainda durante a
vido conjuntamente pelo IBRACON, fase de execução da obra. Este sumi-
ABECE (Associação Brasileira de douro de carbono representa, na sua
Escritórios de Engenharia e Arqui- avaliação, uma oportunidade para
tetura) e ABCIC (Associação Brasi- projetar obras com maior potencial
leira da Construção Industrializada de captura do carbono da atmosfera.
de Concreto), com apoio do GLOBE “A carbonatação é boa para a susten-
(Consenso Global sobre o Ambiente tabilidade, mas ruim para a durabili-
Construído) e do CBCS (Conselho dade. Por isso, esses projetos devem
Brasileiro de Construção Sustentá- conciliar a captura de carbono com a
vel), planeja elaborar uma platafor- maior vida útil da obra”, ressaltou.
ma interativa com informações sobre Edna Possan em sua palestra sobre captura Ainda aproveitando desse processo
de carbono
produtos e as soluções para estrutu- natural de carbonatação, os agrega-
ras de concreto para orientar o meio para avaliação do desempenho am- dos reciclados, por passarem pelo
técnico sobre as tecnologias com biental de materiais cimentícios e de processo de cominuição, que aumen-
menor impacto ambiental. estruturas de concreto armado. ta sua área superficial, têm potencial
Iniciativas do tipo foram lançadas em Um dos aspectos a serem contempla- de mitigar até 12% de carbono gerado
2022, como o Sistema de Informação dos na prática é o potencial de fixa- em sua produção, segundo ela. Por
do Desempenho Ambiental da Cons- ção de gás carbônico nas estruturas isso, o incentivo ao uso de agrega-
trução (Sidac) e o CeCarbon (calcula- de concreto por recarbonatação. dos reciclados, além de mitigar os
dora de consumo energético e emis- Este assunto foi exposto pela pro- impactos decorrentes de sua extra-
sões de carbono para edificações). fessora da Universidade Federal da ção e de dar uma destinação ade-
O coordenador do CT 101 e do Se- Integração Latino-Americana (Unila), quada aos resíduos da construção,
minário IBRACON “Sustentabilidade: contribui para mitigar as emissões
os desafios da cadeia do concreto”, de CO 2.
Eng. Carlos Massucato, sustentou Outra promessa neste sentido é a
que, para fazer frente à crise climá- cura carbônica, em que as peças de
tica, as estruturas precisam começar concreto são submetidas a um meio
a ser avaliadas em termos de suas altamente concentrado de dióxido
emissões de dióxido de carbono. “Sa- de carbono que acelere a carbonata-
bemos que existem edifícios que são ção superficial ainda durante a cura
construídos com 60 kg de CO 2 por e assim fixe ou capture CO 2. A apli-
metro quadrado, enquanto outros cação da cura carbônica a blocos
demandam 100 kg de CO 2 por metro de concreto está sendo atualmente
quadrado!”, alertou. avaliadas no país em parceria com a
Para incentivar o setor a usar menos Bloco Brasil.
clínquer, menos cimento e menos Na avaliação do Prof. José Marques,
concreto nas construções, é preciso “as bases conceituais e científicas
aumentar o uso do concreto dosado para a sustentabilidade na cadeia do
em central nas obras (hoje, em torno concreto já estão postas”. A chave é
de 25%) e aumentar a industrialização como aplicá-las no uso do concreto
do setor. Massucato apresentou uma por meio de ferramentas, tais como:
estimativa de que o uso do concreto avaliação do ciclo de vida, projeto e
dosado em central reduz em cerca de construção para o desempenho da
20% a 30% as emissões de carbono. estrutura, controle da qualidade e
O CT 101 pretende lançar até o ano da durabilidade dos componentes
que vem uma prática recomendada Carlos Massucato em sua palestra no Seminário da construção.

& Construções
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Encontros & Notícias
Brasil contribui para o desenvolvimento
das estruturas de concreto no mundo

Participantes do fib Symposium 2023 em Istambul

C
om participação ativa nas comis- Odinir Klein Jr, e Júlio Timerman, respectiva- teve como tema central “Construindo para
sões, grupos de trabalho e no mente, sendo que o Prof. Stucchi, com a con- o Futuro: Durável, Sustentável, Resilien-
Model Code da fib, a delegação cordância de seus pares, está na posição de te”, e reuniu 457 engenheiros, de 55 paí-
brasileira tem levado a expertise da en- “head” do grupo brasileiro (NMG — National ses, entre os dias 5 a 7 de junho de 2023,
genharia nacional para auxiliar na elabo- Member Group). que acompanharam 6 palestras magnas e
ração de estudos e publicações interna- Neste ano, o engenheiro Fernando 14 apresentações de conferencistas convi-
cionais, que norteiam o desenvolvimento Stucchi, professor da Escola Politécnica dados. O evento contou ainda com 3 ses-
das construções em concreto globais da Universidade de São Paulo e sócio-dire- sões científicas paralelas que aconteceram
O Brasil participa ativamente da Federa- tor da EGT Engenharia, líder da delegação durante a conferência, totalizando mais de
ção Internacional do Concreto (fib), principal brasileira, e a engenheira Íria Doniak, pre- 400 apresentações divididas em seis ses-
entidade do setor no mundo, por meio de uma sidente executiva da Abcic, participaram sões ao longo dos três dias.
delegação nacional, formada por engenhei- do fib International Symposium 2023, em O principal objetivo do simpósio foi
ros da Associação Brasileira de Construção Istambul, na Turquia, enquanto o enge- fornecer uma plataforma para cientistas,
Industrializada (Abcic), da Associação Brasi- nheiro Marcelo Melo, da Casagrande Enge- engenheiros, industriais e profissionais
leira de Engenharia e Consultoria Estrutural nharia, representou o país no International apresentarem e discutirem avanços, apli-
(Abece) e do Instituto Brasileiro do Concreto fib Symposium of Conceptual Design of cações práticas e perspectivas futuras em
(IBRACON). Os integrantes da delegação Structures, em Oslo, na Suécia. termos de durabilidade, sustentabilidade
nacional são: Íria Doniak, Fernando Stucchi, O fib International Symposium 2023 e resiliência no setor a engenharia civil.

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Eventos

Abordou temas relacionados ao concreto Symposium 2021, em Lisboa, com grupo cias para a engenharia mundial. No Brasil, as
e materiais inovadores, desempenho estru- de ex-alunos, sobre cisalhamento em laje, discussões e publicações contribuíram para
tural e design, métodos de construção e comparando a ABNT NBR 6118, o ACI318-14 o avanço da normalização no país, além de
gestão, e estruturas marcantes. e sua nova versão de 2019, na qual foi dividi- termos uma delegação nacional integrando
Segundo Stucchi e Íria, em Istambul fo- do por dois a média da resistência das lajes a fib, que participa das comissões técnicas e
ram promovidas três reuniões importantes ao cisalhamento, e o fib MC2010, que dava que teve a oportunidade de colaborar para
e interessantes nos dias que antecederam o um resultado parecido com o do ACI318-19. a elaboração do Model Code, contribuindo
evento, sendo a primeira relacionada ao Mo- “Vínhamos enfatizando junto à fib a ne- com a disseminação do conhecimento no
del Code 2020 (fib commission 10), onde foi cessidade da entidade ajudar os países em mundo e no Brasil”.
apresentado um resumo de conteúdo da pu- desenvolvimento e com menos recursos, Íria ressaltou ainda a importância dos
blicação. O MC é considerado o documento gerando propostas de norma menos con- trabalhos dos profissionais que participam
pré-normativo mais relevante da engenharia servadoras e mais econômicas; a discussão da fib. “A experiência e dedicação dos en-
do concreto estrutural, pois incorpora avan- avançou com a entrada da sustentabilida- genheiros e das engenheiras que congre-
ços do conhecimento, novas descobertas e de. Então, num encontro para discutir o gam e estão ativamente contribuindo com
necessidades do universo do concreto. assunto com um grupo de ex-presidentes, a organização agregam valor não apenas
“Parte dos nossos comentários, que con- foi pedido que eu levasse a proposta para para a entidade, mas também para a socie-
taram com a participação de um grupo na- o chairman do MC2020”, recordou Stucchi, dade mundial, que tem à disposição uma
cional com 44 profissionais oriundos das três repetindo a frase: “a cidade de São Paulo engenharia de vanguarda para atender
entidades que formam o NMG, foram acei- tem mais prédios que a maioria dos países às demandas por moradia, infraestrutura,
tos, como a revisão do “Global Resistance europeus e nunca houve um acidente por transporte, saúde e educação. É um traba-
Factor”. Por outro lado, outros comentários conta das lajes esbeltas que têm sido usa- lho valioso e grandioso feito por todos os
não entraram no material, como os aler- das em prédios e pontes”. Foi pedido ainda membros da organização”.
tas para os riscos do uso de programas de para acrescentar a pergunta: “no século 21, Felipe Cassol, presidente do Conselho
Elementos Finitos Não-lineares. “Argumen- vamos continuar colocando mais concreto Estratégico da Abcic, também participou
tamos à época da revisão sobre o exemplo e aço nas nossas obras sem necessidade, do simpósio em Istambul. Os trabalhos
do Metrô do Panamá, que está em operação emitindo mais carbono na natureza?” da comissão 6 de pré-fabricados de con-
há quase dez anos. A obra foi projetada por Ainda durante o evento, houve uma creto, por reunir experts do mundo todo
uma empresa americana, verificada por en- sessão especial em comemoração aos neste fórum, sempre foi o objeto princi-
genheiros brasileiros, e por uma empresa 25 anos de atividades da fib. Fundada em pal de atuação da Abcic, onde militam Íria
europeia, que ao usar esses programas, con- 1998, a partir da fusão de duas entidades — Doniak, os professores Mounir Khalil El Debs
cluiu equivocadamente pela possibilidade de Euro-International Committee for Concrete (USP — EESC) e Marcelo de Araújo Ferreira
o viaduto cair”, explicou Stucchi, que refletiu (CEB) e a International Federation for Pres- (UFSCar — Netpré), além do engenhei-
sobre a importância de qualificação pro- tressing (FIP), atualmente, congrega 41 dele- ro Marcelo Waimberg, da EGT Engenha-
fissional, do cuidado ao utilizar programas gações nacionais e cerca de 2.500 empresas ria, que coordena o grupo de Pontes Pré-
para resolução de problemas reais, pois há a e membros individuais. As duas entidades -Fabricadas. A Abcic sempre apoiou a
necessidade de ajustes a resultados experi- predecessoras existiram de forma indepen- atuação da engenheira Íria não apenas
mentais equivalentes. dente desde 1953 e 1952, respectivamente. nas questões técnicas e de interesse do
O MC2020 foi debatido também no Como vice-presidente, Íria destacou, em setor, mas também sua atuação institu-
Conselho Técnico e na Assembleia Geral, seu pronunciamento, a importância da fib cional, desde que foi convidada a inte-
sendo aprovado. O Brasil votou a favor para o Brasil, para a engenharia e para a so- grar o Presidium. “Neste momento, tão
da aprovação por entender que é possí- ciedade. “Todos os materiais produzidos pela relevante para a engenharia de concreto
vel aguardar as próximas revisões para ter instituição ao longo desses anos são referên- nacional, entendi a importância de estar
consenso em questões mais complexas. A
publicação está prevista para o final deste
ano e trará como destaque, em relação a
versão anterior, a pauta da sustentabilida-
de e das estruturas existentes.
Em 2022, quando o simpósio se rea-
lizou em Oslo, outra passagem importan-
te foi a criação de um grupo no American
Concrete Institute (ACI), de “Code Compa-
rison”, no qual as normas da ACI e fib MC
foram comparadas com a norma Brasileira
ABNT NBR 6118 – Projeto de Estruturas de
Concreto. Essa iniciativa foi motivada por
um artigo de Stucchi apresentado no fib Código Modelo MC-2020 é aprovado pelas delegações nacionais em Assembleia Geral realizada na Turquia

& Construções
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Encontros & Notícias
presente, mais do que apoiar, pois creio se lo Melo, que atua na Casagrande Engenharia -presidente do YMG, que comentou sobre
tratar de um momento ímpar de podermos e é professor na UFRJ, escola onde obteve o objetivo do evento, que é o desenvolvi-
ter o Brasil representado por uma mulher mestrado sob orientação do Prof. Sérgio mento do conhecimento de concepção es-
que teve seu valor reconhecido, sendo a pri- Hampshire, e atualmente é doutorando da trutural para jovens engenheiros. A primei-
meira do gênero e o primeiro país sul-ameri- EPUSP, sob orientação de Stucchi, estudan- ra edição aconteceu na Espanha, em 2018,
cano à frente da organização. Ao presenciar do a redução da majoração de cargas no posteriormente, na Suíça, em 2021.
todo o trabalho voluntário, o nível das pes- caso de pontes antigas com bom desempe- “Em um formato mais informal que fa-
soas envolvidas e excelência nas questões nho estrutural por longo período. vorecia a troca de experiências entre parti-
técnicas que permeiam todos os trabalhos A expectativa é que tanto Íria como cipantes, o simpósio contou com palestras
e que são de acesso a todo o mundo, enten- Marcelo assumam a presidência, respectiva- de engenheiros renomados que possuem
di a importância de uma organização como mente, da fib e do fib YMG, em 2025. A con- grande experiência em concepção estrutu-
a fib liderando as questões relacionadas a firmação deverá ocorrer em 2024 durante ral, e apresentação de trabalhos de jovens
engenharia de concreto no mundo”. a Assembleia Geral, de acordo com os trâ- engenheiros, tanto da área acadêmica
mites previstos no estatuto da organização. quanto de projeto. Fui o único participan-
VICE-PRESIDÊNCIA DA fib te das Américas e pude compartilhar uma
Stucchi lembra que a eleição da enge- INTERNATIONAL fib SYMPOSIUM ON solução estrutural brasileira para resolver o
nheira Íria para a vice-presidência da fib, CONCEPTUAL DESIGN OF STRUCTURES problema de enchentes no Rio de Janeiro,
por unanimidade, ocorreu durante a reu- O International fib Symposium on Con- desenvolvida em nosso escritório”.
nião da Assembleia Geral, realizada no fib ceptual Design of Structures é um simpósio Na avaliação de Melo, que também parti-
Congress 2022, em Oslo, após a engenhei- que ocorre a cada dois anos, intercalado cipou de um debate sobre sustentabilidade,
ra ter participado por três mandatos con- com o PhD Symposium. Foi idealizado para o evento de Oslo trouxe um foco diferente
secutivos — o primeiro como convidada unir as gerações atuantes na fib com os jo- dos dois primeiros eventos, que abordaram
— no fib Presidium, órgão máximo da en- vens engenheiros que estão nos escritórios concepção da solução, ao discutir alternati-
tidade e posteriormente eleita nos outros de engenharia, na indústria e nas obras. vas arquitetônicas, estruturais, construtivas
dois. Íria é a primeira mulher vice-presiden- “Nem todos os engenheiros jovens se e de fundação, destacando a pesquisa e o
te da federação, assim como é a primeira dedicam com exclusividade ao meio aca- trabalho acadêmico. “Estamos sendo insti-
vez que um(a) engenheiro(a) da América dêmico. Muitos se especializam, fazem gados a retornar ao foco original do simpó-
do Sul e do Brasil ocupa o cargo. mestrado e doutorado, mas seguem car- sio, acrescentando a ênfase de incluir jovens
De acordo com os procedimentos da fib, reira de projetista, por exemplo. Existem engenheiros nas discussões”, explicou.
a vice-presidência tem como prerrogativa in- muitos talentos que precisam ter seu es- No evento, Melo também convidou os
dicar um jovem engenheiro, com até 35 anos, paço para apresentarem os seus trabalhos participantes para a próxima edição do
se possível aliando experiência prática e a e debaterem as suas ideias” pontuou Íria. Simpósio que ocorrerá no Rio de Janeiro,
academia, para participar do Young Mem- A terceira edição, realizada em Oslo, na em 2025, após o Congresso Brasileiro de
bers Group (YMG), assumindo a função de Noruega, em junho, contou com a partici- Pontes de Estruturas. Será uma semana
vice-chair. Foi indicado o engenheiro Marce- pação do engenheiro Marcelo Melo, vice- importante para a engenharia nacional.

Aplicações do concreto de ultra alto desempenho

S
ob o tema “Aplicações do Concreto UHPC (Concreto de Ultra Alto Desempenho). Técnico IBRACON/ABECE – GT5 Estrutu-
de Ultra Alto Desempenho”, a ABE- A mesa de abertura contou com a presen- ras de UHPC (eng. Marco Carnio), “O traba-
CE (por intermédio das regionais ça do vice-presidente de Relacionamento lho do TG 6.5 fib de pontes pré-fabricadas e
SP/Central e SP/Campinas-Piracicaba) e a da ABECE, eng. Ricardo Kerr, da presidente as possibilidade de uso do UHPC (eng. Mar-
ABCIC (Associação Brasileira da Constru- executiva da ABCIC, eng. Iria Licia Doniak, celo Waimberg), “Controle da qualidade para
ção Industrializada de Concreto) promove- e dos representantes Marco Carnio (PUC- o UHPC” (eng. Antonio Figueiredo) e UHPC
ram, em 3 de agosto de 2023, em Campinas -Campinas), Leandro Trautwein (UNICAMP), Applications in North America (eng. Sri Sritharan).
(SP), o “6º Simpósio ABECE – Universida- José Roberto de Andrade (ABECE – Regio- No dia 4 de agosto, o convidado especial,
des de Engenharia de Estruturas”. nal SP/Central), Antonio Figueiredo (USP) e eng. Sri Sritharan (da Iowa State University –
Realizado em parceria com a EPUSP (Esco- Guilherme Parsekian (UFSCar). EUA) foi o responsável por ministrar o curso
la Politécnica da Universidade de São Pau- Fizeram parte da programação as palestras “Design Applications of UHPC”, apresentan-
lo), PUC-Campinas (Pontifícia Universidade “Comportamento e dimensionamento à fle- do as especificações do ACI para projetos
Católica de Campinas), UNICAMP (Univer- xão” (eng. Guilherme Parsekian), “Comporta- em UHPC (Concreto de Ultra Alto Desem-
sidade Estadual de Campinas) e UFSCar mento e dimensionamento ao esforço cortan- penho), incluindo exemplos.
(Universidade Federal de São Carlos), o te” (eng. Leandro Trautwein), “Composição, As palestras foram gravadas e estão dispo-
evento trouxe diversos especialistas para dosagem e produção de UHPC” (eng. Rober- nibilizadas no site da ABECE na área restri-
abordar as mais recentes aplicações do to Christ), “O trabalho do CT 303 – Comitê ta aos associados.

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Acontece nas Regionais
Evento na Regional de São Paulo

A
Regional do IBRACON em São Centro Universitário do Norte de São Paula Fugii, diretores regionais do
Paulo vai realizar o I BootCamp Paulo, em São José do Rio Preto. IBRACON, com mesa-redonda e com
de Paredes de Concreto, no dia O evento contará com palestras do visita técnica.
16 de setembro, no auditório Casseb do Eng. Danilo Lorenceto e Prof. Ana Inscrições no Sympla.

Conferência Internacional na Paraíba

A
19ª Conferência Internacional so- destacam-se: concretos com menos O evento vai contar com palestran-
bre Materiais não Convencionais impacto ambiental, construções eco- tes da Colômbia, França, Reino Unido,
e Tecnologias será realizada em eficientes, avaliação do ciclo de vida
Espanha, Suíça e Albéria.
João Pessoa, de 6 a 8 de novembro, no dos materiais, desempenho e durabi-
Aram Beach & Convention. lidade dos materiais e reciclagem de Mais informações:
Entre os assuntos a serem discutidos, materiais e resíduos. https://www.even3.com.br/nocmat2023/

IBRACON na Estrada Gaúcha

A
Regional do IBRACON no Rio O evento discutiu cuidados na execução Participaram palestrantes da Concresul
Grande do Sul realizou em 23 de de estruturas de concreto expostas a (Eng. Airton Fontanive), da Curra Enge-
agosto, na UCS de Bento Gonçal- baixas temperaturas, método da maturi- nharia (Eng. Roberto Curra), da Arcelor-
ves, mais um evento da série IBRACON na dade do concreto, estruturas de concre- Mittal (Enga.Mery Correa) e da Votorantim
Estrada Gaúcha – Conectando a Universi- to protendido e as diferentes aplicações Cimentos (Eng. Maurício Bianchini), além
dade ao Mercado. do cimento. do diretor regional Jefferson Bruschi.

Palestra técnica na Regional de Santa Catarina

E
m 4 de julho, foi reali- co, convidou os presentes a
zada, por iniciativa do participarem do 64° Congres-
CREA-SC e apoio do so Brasileiro do Concreto, em
IBRACON, palestra técnica outubro em Florianópolis. Na
com o Prof. Paulo Helene, sequência, o Prof. Paulo Hele-
abordando o tema “Lições ne apresentou informações e
aprendidas com o colapso análises de dados a respeito do
do Edifício em Miami”. colapso do Edifício em Miami,
O evento, realizado no Cen- instigando os participantes a
tro de Inovação ACATE, em refletirem sobre decisões téc-
Florianópolis, contou com nicas. Por fim, o Eng. Carlos
a participação de mais de Kita, presidente do CREA-SC
100 profissionais inscritos, encerrou o evento agradecen-
além de transmissão ao vivo do a parceria entre as institui-
pelo YouTube no canal do ções, e anunciando a participa-
CREA-SC, com mais de ção do CREA como expositor
200 acessos simultâneos. no 64ºCBC. Além disso, ainda
Abrindo o evento, o Diretor foram sorteados 4 exemplares
Regional do IBRACON em da Revista Concreto entre os
Paulo Helene em momento de sua palestra Santa Catarina, Prof. Stoc- participantes inscritos.

& Construções
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Encontro Regional Seminário Sul Brasileiro
no Pará de Pontes e Estruturas

O
III Seminário Sul Brasileiro de Pontes e Estruturas vai ser reali-
zado em 10 de novembro, na PUC-RS, em Porto Alegre.
O evento contará com a participação do presidente do
IBRACON, Prof. Paulo Helene, como palestrante.
Outros palestrantes serão: Prof. Acir Mércio Loredo Souza,
Rui Oyamada, Carlos Henrique Siqueira, Fernando Stucchi e Sérgio
Hampshire Santos.
O evento é uma realização conjunta da ABPE, PUC-RS e Univates.

A
Regional do Pará realizou seu 28º Encontro Regional, de
15 a 16 de junho, no campus Belém da Universidade Federal
do Pará.
O evento discutiu o uso de concreto sustentáveis e sua influência
no clima da Amazônia.

Atividades na Regional de Pernambuco

O
diretor regional, Prof. Romilde com o Eng. Cristiano José Silva, ex-di- site, Rádio e TV Universitárias da UFPE.
Almeida de Oliveira, participou, retor da ABES. Já, no dia 23 de agosto último, o Prof.
como entrevistado, do progra- Romilde foi também fonte de informa- Romilde de Oliveira palestrou sobre
ma radiofônico ABES Sustentabilidade, ção sobre a situação atual dos edifícios edificações construídas em alvenaria
patrocinado pela Associação Brasileira na cidade de Recife, com enfoque para resistente na Região Metropolitana de
de Engenharia Sanitária e Ambiental, os prédios tipo caixão. Seu depoimento, Recife, na sede regional da Associação
na Rádio Criatividade FM. Na entrevista dado para a Assessoria de Comunicação Brasileira de Engenharia e Consultoria
veiculada no dia 15 de julho, o Eng. Ro- da Universidade Federal de Pernam- Estrutural (Abece). O evento contou
milde falou sobre manutenção predial buco, será usado em matérias para o com o apoio do IBRACON.

98 | Ed. 111 | Jul – Set | 2023 & Construções


& Construções
Ed. 111 | Jul – Set | 2023 | 99
CONCRETIZANDO A INOVAÇÃO
E A SUSTENTABILIDADE
Participe do Maior Fórum Técnico Nacional de Debates sobre
a Tecnologia do Concreto e Seus Sistemas Construtivos

Patrocínio e Exposição Palestrantes Internacionais


(Centrosul)
n Dr. Ahmad A. Hamid
n Estreite relacionamentos na XVIII Feibracon (Drexel University)
– Feira Brasileira da Construção em Concreto n Eng. Sérgio Henrique Pialarissi Cavalaro
(Loughborough University)
n Associe sua marca ao conjunto de empresas
comprometidas com a qualidade na n Prof. Dr. Venkatesh K. R. Kodur
construção e sustentabilidade do setor (Michigan State University)

n Cative seu público com uma apresentação Concursos Estudantis


técnico-comercial no Seminário de
Novas Tecnologias n Aparato de Proteção ao Ovo – APO
n Concrebol
Contato: ARLENE LIMA n Concreto Colorido de Alta Resistência – COCAR
Tel.: (11) 3735-0202 n Ousadia
e-mail: arlene@ibracon.org.br n Concreto: Quem sabe faz ao vivo

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