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Ano L

106
ABR-JUN | 2022

& Construções ISSN 1809-7197


www.ibracon.org.br

REABILITAÇÃO DE ESTRUTURAS

CONHEÇA AS ETAPAS E OS
CUIDADOS DA RECUPERAÇÃO
ESTRUTURAL E AS TÉCNICAS
MAIS MODERNAS DE REPARO,
REFORÇO E PROTEÇÃO DE
ESTRUTURAS DE CONCRETO

PERSONALIDADE
ENTREVISTADA MANTENEDOR JUBILEU DE OURO
ENIO PAZINI: EXPERTISE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA MARCOS DE GESTÃO
PARA AUMENTAR PARA CONCRETAGEM DO IBRACON
VIDA ÚTIL DAS DE BASES EÓLICAS DE 1999 A 2009
ESTRUTURAS DE CONCRETO
2 | & Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 3
Sumário
seções
Ano L

106
ABR-JUN | 2022

& Construções ISSN 1809-7197


www.ibracon.org.br

REABILITAÇÃO DE ESTRUTURAS

Ano L
REVISTA OFICIAL DO IBRACON CONHEÇA AS ETAPAS E OS 5 Editorial
106 CUIDADOS DA RECUPERAÇÃO
ABR-JUN | 2022
Revista de caráter científico, tecnológico e informativo
& Construções ISSN 1809-7197
www.ibracon.org.br

para o setor produtivo da construção civil, para o


ESTRUTURAL E AS TÉCNICAS 7 Coluna Institucional
MAIS MODERNAS DE REPARO,
REABILITAÇÃO DE ESTRUTURAS
ensino e para a pesquisa em concreto. REFORÇO E PROTEÇÃO DE 8 Converse com o IBRACON
ESTRUTURAS DE CONCRETO
ISSN 1809-7197
CONHEÇA AS ETAPAS E OS 9 Encontros e Notícias
CUIDADOS DA RECUPERAÇÃO Tiragem desta edição: 5.000 exemplares
Publicação trimestral distribuida gratuitamente aos associados
ESTRUTURAL E AS TÉCNICAS
MAIS MODERNAS DE REPARO,
11 Homenagem Póstuma
JORNALISTA RESPONSÁVEL
REFORÇO E PROTEÇÃO DE As ideias emitidas pelos entrevistados
Fábio Luís Pedroso
àESTRUTURAS - MTB 41.728
DE CONCRETO
13 Personalidade Entrevistada:
ou em artigos assinados são de res-
fabio@ibracon.org.br ponsabilidade de seus autores e não
Enio Pazini
PUBLICIDADE E PROMOÇÃO expressam, necessariamente, a opinião 51 Mantenedor
àArlene Regnier de Lima Ferreira do Instituto. PERSONALIDADE
ENTREVISTADA MANTENEDOR JUBILEU DE OURO

arlene@ibracon.org.br ENIO PAZINI: EXPERTISE


PARA AUMENTAR
VIDA ÚTIL DAS
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
PARA CONCRETAGEM
DE BASES EÓLICAS
MARCOS DE GESTÃO
DO IBRACON
DE 1999 A 2009
97 Acontece nas Regionais
ESTRUTURAS DE CONCRETO
© Copyright 2022 IBRACON
PROJETO GRÁFICO E DTP
àGill Pereira Créditos de Capa
gill@ellementto-arte.com Todos os direitos de reprodução reser-
PERSONALIDADE
ENTREVISTADA MANTENEDOR JUBILEU DE OURO
vados. Esta revista e suas partes não Detalhe de fuste emerso de estaca localizada
ASSINATURA
ENIO PAZINI: EXPERTISE
PARA AUMENTAR
EPARA
ATENDIMENTO
INOVAÇÃO TECNOLÓGICA
CONCRETAGEM
MARCOS DE GESTÃO
DO IBRACON podem ser reproduzidas nem copiadas, em trecho de respingo de maré.
office@ibracon.org.br
VIDA ÚTIL DAS
ESTRUTURAS DE CONCRETO
DE BASES EÓLICAS DE 1999 A 2009
em nenhuma forma de impressão mecâ- PhD Engenharia
GRÁFICA nica, eletrônica, ou qualquer outra, sem
Duograph o consentimento por escrito dos autores
Preço: R$ 12,00 e editores. JUBILEU DE OURO

19
IBRACON
Av. Queiroz Filho, 1.700 — sala 407 / 408, Torre D — Villa Lobos Office Park Os marcos de gestão do IBRACON
05319-000 – Vila Hamburguesa — São Paulo – SP — Tel. (11) 3735-0202
de 1999 a 2009
PRESIDENTE DO COMITÊ } Oswaldo Cascudo } Gláucia Maria Dalfré
EDITORIAL (concreto e durabilidade) (Universidade Federal de S. Carlos)
Oswaldo Cascudo } Paulo Helene } José Julio de Cerqueira Pituba INSPEÇÃO E MANUTENÇÃO
(concreto e estruturas) (UFCat)

28 Reparo localizado para estruturas


COMITÊ EDITORIAL } Pedro Teodoro França } Maria del Carmen A. Perdrix
MEMBROS (obras subterrâneas)
(Universitat Politècnica de concreto armado: erros, acertos
} Alio Kimura } Paulo Fernando Araujo da Silva
(informática no projeto estrutural)
de Catalunya) e reflexões
(pavimentos)
} María Josefina Positieri
}

34
Arnaldo Forti Battagin } Vinicius Caruso
(cimento e sustentabilidade) (saneamento)
(Universidad Tecnológica Recuperação estrutural emergencial
} Bernardo Fonseca Tutikian Nacional) de 52 estacas da ponte rodoviária
(cimentos especiais) PRESIDENTE DO } Maria Teresa Paulino Aguiar A Tribuna

42
} Cláudio Vicente Mitidieri Filho COMITÊ CIENTÍFICO (Universidade Federal de
(qualidade e desempenho) Gláucia Maria Dalfré Minas Gerais) Mudança de vocação e revitalização
} Emílio Minoru Takagi } Pedro Castro Borges de terminais portuários

47
(aditivos e adições) COMITÊ CIENTÍFICO (Centro de Investigación y
} Ercio Thomaz MEMBROS de Estudios Avanzados)
Estado da arte e BIM: um banco de dados aplicável
(sistemas construtivos) } Alessandra Castro } Pedro Garcés Terradillos às obras de reabilitação
} Fabiana Lopes Oliveira (Universidade de São Paulo)
(arquitetura e projeto) } Eduardo Cabral
(Universidad de Alicante)
} Rafael Alves de Souza
PESQUISA E DESENVOLVIMENTO

56
} Frederico Falconi (Universidade Federal do Ceará)
(UEM)
(fundações) } Eduardo Moraes Rêgo Fairbairn
} Selmo Kuperman Proposta de avaliação da expansão
} Guilherme Parsekian (Univ. Federal do Rio de Janeiro)
residual proveniente da reação álcali-
(Desek)
(alvenaria estrutural) } Enio Pazini Figueiredo
} Íria Lícia Oliva Doniak (Universidade Federal de Goiás)
} Sérgio H. Pialarissi Cavalaro agregado e do ataque por sulfatos
(industrialização da construção) } Fernando Branco (Loughborough University) em testemunhos de concreto

62
} Lydio dos Santos B. de Mello (Universidade de Lisboa) } Rodrigo de Melo Lameiras
(Universidade de Brasília)
(normalização técnica) } Gibson Rocha Meira Avaliação das propriedades
} Mauricio Linn Bianchi (Instituto Federal de Educação, } Fernanda G. da Silva Ferreira
mecânicas e autocicatrização de
(sistemas construtivos) Ciência e Tecnologia da Paraíba) (Universidade Federal de S. Carlos)
bioconcreto produzido com bacillus subtilis
INSTITUTO BRASILEIRO DO CONCRETO
Fundado em 1972
ESTRUTURAS EM DETALHES

67
Declarado de Utilidade Pública Estadual
Lei 2538 de 11/11/1980 Pavimento de concreto colorido e
Declarado de Utilidade Pública Federal
Instituto Brasileiro do Concreto Decreto 86871 de 25/01/1982 permeável: aplicações em ciclovia
DIRETOR PRESIDENTE
Paulo Helene

DIRETOR 1º VICE-PRESIDENTE
DIRETOR DE PUBLICAÇÕES
Guilherme Parsekian

DIRETOR DE EVENTOS
0
76 Análise comparativa entre lajes
maciças e nervuradas: estudo de
Julio Timerman Rafael Timerman
caso do estacionamento do TCE-MA

81
DIRETOR 2º VICE-PRESIDENTE DIRETOR TÉCNICO

84
Enio Pazini Carlos Britez Aplicação da metodologia BIM e princípios da Construção
DIRETOR 1º SECRETÁRIO DIRETOR DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS Enxuta para o planejamento de uma obra comercial
Cláudio Sbrighi Neto Cesar Henrique Daher
NORMALIZAÇÃO TÉCNICA
0
DIRETOR 2º SECRETÁRIO DIRETORA DE CURSOS

87
Carlos Massucato Jéssika Pacheco

DIRETOR 1º TESOUREIRO DIRETORA DE ATIVIDADES ESTUDANTIS Dimensionamento da técnica TRM/TRC para reforço
Julio Timerman Jéssica Andrade à flexão de elementos de concreto armado segundo a
DIRETOR 2º TESOUREIRO DIRETOR DE CERTIFICAÇÃO DE PESSOAL norma americana ACI 529.4R (2020)

92
Hugo Armelin Adriano Damásio

84
DIRETOR DE MARKETING DIRETOR DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO Comparação entre os critérios da NBR 15812-1: 2010 e
Alexandre Britez Bernardo Tutikian NBR 15961-1: 2011 com os da norma NBR 16868-1: 2020

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Editorial

Caro leitor, de comitês técnicos e científicos,


avaliadores de periódicos científicos
(nacionais e internacionais), na

A produtividade invisível escrita e submissão de projetos


solicitação de fomento à pesquisa
(os quais, na maioria das vezes, não

Q
são selecionados),
uando se pensa em produtividade instrutores de cursos
produtividade de um suficiente para ter e palestrantes de
determinado pesquisador, acesso à Categoria eventos para o meio
geralmente seus índices 2 no CNPq, ele técnico brasileiro ou
bibliométricos são utilizados como deve ter, ao estrangeiro. E, na
fatores de avaliação. Mas, esta menos, 4 artigos maioria das vezes,
avaliação é realmente abrangente e publicados no tais trabalhos, de
capaz de medir o real retorno último quinquênio suma importância à
do trabalho do pesquisador para em periódicos sociedade, não são
a sociedade? classificados adequadamente
Entre os critérios avaliados, incluem- entre os 3 níveis pontuados ou
se: produção científica, formação superiores do levados em conta
de recursos humanos, contribuição estrato Qualis/ nos critérios de
para a inovação, coordenação CAPES, com produtividade.
ou participação em projetos de mínimo de 2 artigos Relembrando
pesquisa, inserção internacional na classificados A1 ou o Juramento
área, participação em atividades A2, ter orientado ou coorientado de formatura: “Que honrando
editoriais (como edição de revistas pelo menos três dissertações de os ensinamentos que recebi,
científicas), participação em mestrado na vida acadêmica e que eu coopere sempre para o
gestão científica e administração alcançar um índice h, avaliado pelo desenvolvimento da ciência e faça
acadêmica, gestão de instituições ISI, superior a 3. Note-se que o índice tudo quanto em mim couber pela
e núcleos de excelência científica h, ou índice hirsch, é o número de grandeza moral, social e material do
e tecnológica, e organização de artigos com citações maiores ou Brasil”. Será que ele é integralmente
congressos importantes na área, iguais a esse número. cumprido quando se leva em conta
sendo o desempenho do pesquisador Quando vinculados a universidades, a avaliação da produtividade dos
avaliado por meio de indicadores professores/pesquisadores pesquisadores pelos critérios atuais?
referentes aos cincos ou dez geralmente tendem a produzir Enquanto pesquisadores, e quando
últimos anos. conteúdos acadêmicos em forma vinculados a universidades e
A qualidade e o impacto das de livros e materiais didáticos, os instituições de pesquisa, também
publicações são em parte obtidos quais, muitas vezes, ultrapassam as atuamos na formação de recursos
de indexadores nacionais e fronteiras da instituição de origem e humanos. Mas a pesquisa é realizada
internacionais tais como ISI (Institute são utilizados como texto básicos em de forma homogênea em todas as
for Scientific Information), JCR (Journal cursos de graduação, pós-graduação, regiões brasileiras, com amplo acesso
Citation.Reports), SciELO, SCOPUS e ou como referências para consulta a fomento para sua realização? Todos
classificação de periódicos da CAPES. pelos escritórios de engenharia, tanto os pesquisadores possuem toda a
Existe ainda o Google Scholar, que no Brasil quanto no exterior. Esses infraestrutura necessária para a
apesar de não ser o mais reconhecido produtos do trabalho acadêmico têm, realização das pesquisas? Todos os
pela comunidade científica, é um porém, pouco valor no sistema atual pesquisadores em formação recebem
dos poucos que não exige cadastro de avaliação do pesquisador. bolsa para sua subsistência ao longo
prévio, sendo uma base ampla, Além das funções acadêmicas, do mestrado, doutorado ou pós-
útil, confiável e de fácil acesso. A os pesquisadores despendem doutorado? Todos os líderes de grupos
publicação de livros e ou capítulos um grande tempo, em forma de de pesquisa possuem mão de obra
de livros em editoras com qualidade voluntariado, para discussão e capacitada para a escrita de artigos,
reconhecida pela comunidade- redação de textos normativos, em língua inglesa, para atendimento
científica pode ser considerada na atuando, de forma isenta e com dos índices bibliométricos exigidos?
produção, porém, infelizmente, não conhecimento específicos, como Será que todos possuem recursos
tem grande pontuação em análises presidentes, secretários ou membros para pagamento de taxas de
por comitês acadêmicos, assim como de grupos de trabalho), em inúmeras publicação em periódicos, as quais
como a valiosa, nobre e generosa reuniões, que podem levar anos até tem se demonstrado como tendência
participação voluntária no processo sua conclusão. Os pesquisadores para os próximos anos? Geralmente,
de normalização gerido pela ABNT contribuem ainda na função de não se recomenda a publicação em
não é considerado na avaliação! presidentes ou outros cargos veículos de baixo impacto científico.
Por exemplo, para ser considerado relacionados a alguma instituição Entretanto, as revistas brasileiras
como um pesquisador com de classe, como editores, membros destinadas à divulgação tecnológica,

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científica ou informativa na área internacionais é importante e que com nossos pares internacionais
de concreto, tendo em vista os talvez tenhamos demorado muito dentro do conhecimento específico
critérios aplicados à área de avaliação a entender sua relevância e, por da área de atuação de cada um.
Engenharias I, nem sempre são bem isso, não apresentemos os mesmos Porém, isso precisa ser “traduzido”
avaliadas como deveriam e pouco índices do exterior. Entretanto, e revertido em prol da comunidade
aparecem na Plataforma Sucupira contrapõe-se a necessidade de se técnica praticante da engenharia,
da Capes. Neste âmbito, talvez reconhecer, também, as produções o que potencializa os benefícios da
fosse interessante que as revistas aplicadas, aquelas que buscam produção acadêmica à sociedade
nacionais, não indexadas nas bases o desenvolvimento e o melhor brasileira. Sem desmerecer a
principais, também fossem bem entendimento de materiais, primeira parte, achar uma forma de
apreciadas e valorizadas em defesa componentes e sistemas, traduzindo reconhecer a produção aplicada é
da engenharia nacional. Neste este conhecimento (muito vezes também uma demanda da academia.
sentido, o índice h do Google Scholar apresentado de forma rebuscada) A edição atual desta publicação
aparenta ser mais democrático, uma para uma linguagem mais simples técnica, trata do estado da arte da
vez que avalia o impacto cumulativo e atuando na transferência das tecnologia aplicada à reabilitação
da produção acadêmica e do inovações, que, muitas vezes foram de estruturas de concreto. Traz
desempenho de um autor ao longo obtidas com baixo ou nenhum contribuições relevantes, de
do tempo, fazendo a comparação financiamento, ao meio técnico. profissionais e pesquisadores
entre as publicações e citações e Assim, fica o questionamento: experientes e consagrados, que
corrigindo o peso desproporcional como bem avaliar a contribuição gentilmente disponibilizam seu
de trabalhos altamente citados e da academia e dos profissionais à conhecimento em prol e em defesa da
aqueles ainda não citados. Felizmente sociedade? engenharia nacional.
nota-se um movimento da CAPES A produção científica, reconhecida
nessa linha, valorizando as Revistas internacionalmente, é uma salutar Boa leitura!
Técnicas nacionais que tem seriedade demanda de qualquer pesquisador.
e tradição. Precisamos estar inseridos na GLÁUCIA M. DALFRÉ
Reconhece-se, lógico, que a fronteira do conhecimento, Presidente do Comitê Científico da
publicação de trabalhos em veículos participar de discussões acadêmicas Revista CONCRETO & Construções

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Coluna Institucional

Parcerias que geram boas práticas

A
o longo destes 50 anos, o facultando à engenharia nacional expor
IBRACON buscou firmar-se seu conhecimento e manter-se sempre
como uma das mais fortes atualizada em relação às discussões
associações de engenharia técnicas mais relevantes em âmbito
em toda a cadeia produtiva do mundial. As parcerias internacionais
concreto, em nível internacional. fomentam a participação de renomadas
Isso jamais seria possível não fosse personalidades estrangeiras em nossos
pela dedicação de seus fundadores, congressos, e vice-versa. No caso
presidentes, conselheiros, diretores do ACI, por exemplo, a cooperação
nacionais/regionais, sócios coletivos permite que nossos associados possam
e mantenedores, bem como, a equipe adquirir as publicações com os mesmos
de colaboradores que compuseram o descontos dos seus sócios, podermos
seu staff durante esse meio século de concorrer ao prêmio mundial de
vida. E, obviamente, não poderíamos excelência em construções, no qual o
deixar de citar a participação dos Brasil conquistou um primeiro e um
nossos associados e patrocinadores segundo lugar na última edição. No ACI,
em nossos cursos, eventos e demais o IBRACON também participa do evento
atividades do Instituto. online 24 Hours of Concrete Knowledge,
com palestrantes de renome, assim
Ainda assim, houve a necessidade como costuma levar delegações aos
de firmar parcerias com entidades eventos anuais, possibilitando grande
nacionais e estrangeiras, com o intuito visibilidade às nossas atividades de
não somente de participação mútua pesquisa e desenvolvimento.
e benefícios em seus respectivos
eventos, mas voltadas a uma No que tange ao âmbito nacional,
colaboração técnico-científica mais muitos convênios têm possibilitado o
profícua e intensa. Nesse sentido, desenvolvimento conjunto de práticas
muitos esforços foram feitos, iniciados recomendadas (PRs), por meio de
em um tempo remoto por seus comitês técnicos (CTs) conjuntos,
fundadores e ex-presidentes, ficando podemos citar como exemplos:
a cargo da diretoria de relações » A parceria com a Associação Brasileira Industrializada em Concreto (ABCIC)
institucionais nas últimas décadas. de Engenharia e Consultoria Estrutural e o CT 501 de Estanqueidade de
Diretoria que tem por finalidade, (ABECE): o Comitê Técnico 301 – Projeto Estruturas de Concreto, advindo do
além de dar suporte às diretorias de Estruturas de Concreto já publicou convênio recente com o Instituto
regionais para a disseminação do duas práticas recomendadas e o Comitê Brasileiro de Impermeabilização
Instituto e suas atividades em todo o Técnico 303– Uso de Materiais não (IBI). Enfim, são diversos convênios
território nacional, manter as parcerias Convencionais para Estruturas de existentes que geram, gerarão muitos
existentes e buscar outras, sempre com Concreto, Fibras e Concreto Reforçado frutos, cooperações e discussões
instituições que tenham finalidades com Fibras, uma; técnicas de alto nível, sempre em prol
similares, visando à disseminação do » A parceria com a Associação da melhora dos materiais, projetos e
conhecimento técnico-científico e das Brasileira de Patologia das processos construtivos em concreto,
boas práticas da engenharia. Construções (ALCONPAT Brasil): o com materiais convencionais ou não.
Comitê Técnico 702 – Procedimentos
Hoje, o IBRACON conta com para Ensaios de Avaliação da Para finalizar, poderia parafrasear e
diversos termos de cooperação Durabilidade das Estruturas de a adaptar a famosa frase do poeta
com reconhecidas entidades que Concreto, publicou 5 práticas religioso inglês John Donne: “Nenhum
possibilitaram e possibilitam a sua recomendada, assim como, os homem é uma ilha”, dizendo que o
visibilidade e reconhecimento. Comitês Técnicos 703 – Inspeção IBRACON tem ciência que “Nenhuma
Parcerias, como as firmadas com Estrutural Predial em Sistemas Associação é uma Ilha”, afinal já se vão
o American Concrete Institute (ACI), a de Estruturas de Concreto e anos que estamos trabalhando com
Associación Latinoamericana de Control Requisitos para o Inspetor e 802 profícuas parcerias, sempre visando
de Calidad, Patologia y Recuperación de la – Manutenção e Reabilitação de aprimorar a cadeia produtiva do
Construcción (ALCONPAT Internacional), Estruturas de Concreto, em breve concreto, buscando melhorias para
a Réunion Internationale des Laboratoires publicarão outras. as nossas obras de engenharia e seus
et Experts des Matériaux, Systèmes de impactos na sociedade.
Construction et Ouvrages (RILEM), e da Existem ainda outros comitês
Fédération Internationale du Béton (FIB)1 , técnicos advindos dessas parcerias
têm possibilitado grande intercâmbio de como o CT 304 de Pré-Fabricados CÉSAR DAHER
participações em comitês de normas e de concreto, entre o IBRACON e a Diretor da relações institucionais do
procedimentos técnicos internacionais, Associação Brasileira de Construção IBRACON (gestão 2021/2023)

1
Através da tríplice aliança ABECE-ABCIC-IBRACON que possibilita uma cadeira nas discussões do Model Code de Estruturas de Concreto.

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ENVIE SUA PERGUNTA PARA O E-MAIL:
Converse com o IBRACON fabio@ibracon.org.br

PERGUNTAS TÉCNICAS Entretanto, do ponto de vista técnico, NORMA CITA ÁREA BRUTA MÉDIA
deve-se analisar caso a caso (e isso DAS PAREDES).
EM UM UNIVERSO DE CONCRETOS tem um custo de horas técnicas) e até A NORMA ABNT NBR 12118
COM fck = 30 E 35 MPa, OBTIVEMOS pode passar tudo sem necessidade de ESPECIFICA A ÁREA BRUTA E
OS RESULTADOS APRESENTADOS reforço, ou seja, na análise técnica, o DIMENSÕES REAIS DOS BLOCOS.
NA TABELA ABAIXO. COMO SE DEVE f ck de cada caminhão é comparado com Celina Yokoyama
ANALISAR OS RESULTADOS? QUAL as exigências de segurança de cada um Gerente operacional
A RESISTÊNCIA CARACTERÍSTICA dos elementos que foram concretados Laboratório SP – CONCREMAT
DO CONCRETO À COMPRESSÃO, com aquele concreto, e pode passar
FORNECIDA EFETIVAMENTE? ou não. A área bruta deve ser calculada
Rafael Silva Resumindo do ponto de vista comercial, considerando as dimensões nominais
UP Mackenzie os concretos entregues apresentam do bloco, ou seja, dimensões
características de um concreto com especificadas pelo fabricante,
f ck = 20 MPa e outro com fck = 25 MPa. por exemplo, 140 mm x 390 mm.
Dados fck fck A população de 738 m3 tem fck de Deve-se destacar que a área bruta
% %
BT's 30 35
20 MPa e a população de 566 m3 tem é uma referência, utilizada como
Volume total fck de 25 MPa. Este deve ser o ponto parâmetro para dimensionamento
738 m³ 100% 566 m³ 100%
lançado (m³)
de vista comercial, mas do ponto de da alvenaria. Esse dimensionamento
Volume
conforme fck 483 m³ 65% 407 m³ 72% vista técnico, a análise é caminhão por será feito considerando também essa
(m³) caminhão comparado às necessidades referência (não dimensões reais).
Volume não de segurança de cada peça, pois para
conforme fck 255 m³ 35% 159 m³ 28% Não é propriamente determinando a
(m³) isso se faz amostragem a 100% com resistência do material, mas sim o valor
Volume abaixo rastreabilidade. de referência.
de “fck - 5 MPa” 180 m³ 24% 91 m³ 16%
(m³) A utilização da área bruta real não é
PAULO HELENE adequada.
Volume abaixo
de “fck - 10 MPa” 32 m³ 4% 22 m³ 4% Diretor Presidente do IBRACON Por exemplo, se um determinado ensaio
(m³)
for realizado, a carga de ruptura resultar
SOLICITO A GENTILEZA DE em 539,32 kN e for medido a dimensão
ESCLARECER COM O COORDENADOR "real" dos blocos como 139 mm x 388 mm,
Segundo sua informação, essas não DA COMISSÃO DE ESTUDO DE
com área bruta "real" de 53.932 mm2, o
conformidades aconteceram ao longo ALVENARIA ESTRUTURAL DA NORMA
resultado seria uma resistência igual a
da entrega, ou seja, pode-se considerar EM EPÍGRAFE A SEGUINTE QUESTÃO:
539.320/53.932 = 10 MPa.
uma única população a ser julgada. ABNT NBR 16868-3:2020 - ITEM 6.4
Entretanto, quando do
Também segundo sua informação, o RELATÓRIO DE ENSAIO
O RELATÓRIO DE ENSAIO DEVE dimensionamento, o projetista vai
Laboratório é acreditado no sistema
CONTER NO MÍNIMO AS SEGUINTES considerar as dimensões nominais:
RBLE do INMETRO, com mão de obra de
laboratorista certificada pelo IBRACON, INFORMAÇÕES: 140 mm x 390 mm, com área bruta de
ou seja, descarta-se os desconfortáveis, ALÍNEA K) VALORES DA ÁREA BRUTA 54.600 mm 2, ou seja, estaria prevendo
mas frequentes, erros de ensaio. NOMINAL DOS PRISMAS, EXPRESSOS que o prisma rompeu com 546 kN,
A norma ABNT NBR 6118 e a norma ABNT EM MILÍMETROS QUADRADOS (MM²) acima do real.
NBR 8681, assim como a bibliografia ALÍNEA M) RESISTÊNCIAS Se for utilizada a área bruta nominal
INDIVIDUAIS CARACTERÍSTICAS como referência, o resultado é uma
técnica pertinente, definem fck como a
(VER ANEXO A) E MÉDIA DOS resistência = 539.320/54600 = 9,88 MPa,
população de concreto que tem, apenas,
PRISMAS, DETERMINADAS NA sendo esse o valor a ser reportado.
5% do volume total abaixo de fck.
ÁREA BRUTA, EXPRESSAS EM Desta forma, a especificação é área
Por outro lado, a norma ABNT NBR
MEGAPASCALS (MPA), COM bruta nominal, referente às dimensões
8593 classifica o concreto com as
APROXIMAÇÃO DECIMAL, E VALOR
seguintes classes: 20 MPa, 25 MPa, nominais, àquelas especificadas
DO COEFICIENTE DE VARIAÇÃO;
30 MPa e 35 MPa e assim por diante pelo fabricante para largura, altura
A NORMA SOLICITA CALCULAR
até 90 MPa. e comprimento, por exemplo
A RESISTÊNCIA PELA ÁREA BRUTA
Entendo que, no seu caso, foi DOS PRISMAS, NO ENTANTO NÃO 140 mm x 390 mm, utilizando como
contratado e solicitado um concreto ESCLARECE SE TRATA-SE DA parâmetro no resultado do ensaio e no
com uma classe de resistência e ÁREA BRUTA NOMINAL OU ÁREA dimensionamento.
entregue um concreto com uma ou até BRUTA REAL.
duas classes abaixo, considerando a ENTENDO TRATAR-SE DA ÁREA GUILHERME A. PARSEKIAN
norma ABNT NBR 8593, isso do ponto BRUTA REAL (POIS, NOS ITENS 4.5 Diretor de publicações do
de vista comercial. ALÍNEA L E 5.4 ALÍNEA M DA MESMA IBRACON e professor da UFSCar

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| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
Encontros & Notícias

Congresso Brasileiro de Patologia das Construções


O V Congresso Brasileiro
de Patologia das
Construções vai ser realizado
e sistemas construtivos.
Dele participarão, como
palestrantes, o diretor de
em Gramado, de 2 a 5 de pesquisa e desenvolvimento,
agosto de 2022. Prof. Bernardo Tutikian, e o
O evento é um fórum de vice-presidente do IBRACON,
debates sobre o controle da Prof. Enio Pazini.
qualidade, a patologia e a Para se inscrever, acesse:
recuperação de estruturas https://alconpat.org.br/

Curso preparatório para capacitação de inspetores


de pontes e viadutos
O curso Inspeção de Estruturas de
Concreto segundo a ABNT NBR
16230 apresenta conteúdos técnicos
O curso é ministrado pelos
diretores do IBRACON, Eng. Julio
Timerman (vice-presidente),
O curso integra o Programa
MasterPEC (Programa Master em
Produção de Estruturas de Concreto),
para a formação de inspetores I de Prof. Enio Pazini (vice-presidente) e
sendo organizada conjuntamente
estruturas de concreto, capacitando- Eng. Rafael Timerman (diretor
pelo IBRACON e IDD.
os para o diagnóstico e prognóstico de eventos).
do estado de conservação de obras de Com carga horária de 25 horas, o curso
arte especiais, como pontes será ministrado on-line, no período de 04 MAIS INFORMAÇÕES:
e viadutos. a 08 de julho de 2022, das 18h15 às 22h40. https://www.idd.edu.br/

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 9
Encontros & Notícias

Palestras no Congresso da ConcreteShow


D iretores e conselheiros do
Instituto Brasileiro do Concreto
vão apresentar na ConcreteShow
Eng. Julio Timerman, vai apresentar
como inspecionar pontes segundo
a ABNT NBR 9452. Por fim, o
palestras no seu Congresso conselheiro e vice-presidente, Prof.
Construindo Conhecimento na tarde Enio Pazini, vai mostrar como fazer o
do dia 11 de agosto, na sala 1. diagnóstico de danos em estruturas
O diretor de pesquisa e de concreto com a finalidade para sua
desenvolvimento, Prof. Bernardo prevenção e reabilitação.
Tutikian, palestrará sobre os honorário, Eng. Selmo Kuperman, vai
concretos especiais do futuro e do tratar da refrigeração do concreto. Já, MAIS INFORMAÇÕES:
presente. O conselheiro e sócio o vice-presidente do IBRACON, www.concreteshow.com.br

Conferência sobre compósitos reforçados com fibras


recebe resumos
A 11ª Conferência Internacional
sobre Compósitos Poliméricos
Reforçados com Fibras (11th
Esta é a primeira vez que a CICE vai
ser realizada na América do Sul.
Desde a primeira edição em 2001, em
O evento, realizado pelo Instituto
Internacional de Compósitos Reforçados
com Fibras na Construção (IIFC) e apoiado
International Conference on Fiber- Hong Kong, a Cice já deu a volta ao pelo IBRACON, está recebendo resumos
Reforced Polymer Composites in mundo para discutir e compartilhar de trabalhos até 1º de outubro de 2022.
Civil Engineering – CICE 2023) vai ser os desenvolvimentos científicos e
realizada no Rio de Janeiro, de 23 a 26 tecnológicos sobre os polímeros MAIS INFORMAÇÕES:
de julho de 2023. reforçados com fibras. https://cice2023.org/

Calendário cursos
4 a 8 de Julho 11 de Outubro
Inspeção de Estruturas de Concreto segundo a ABNT | NBR - 16230:2013 Punção em Lajes Lisas: Teoria e Prá ca
Paulo Helene, Enio Pazini, Júlio Timerman, Rafael Timerman Elyson Andrew Pozo Libera e Marília Gonçalves Marques
Local: On-line Local: Híbrido (presencial e virtual) Jubileu de Ouro do IBRACON – Brasília

18 de Setembro 12 de Outubro
Concreto e Incêndio - Conceito, Estudos de Casos e Retrofits Corrosão e Proteção Catódica de Estruturas de Concreto
Carlos Britez Luiz Paulo Gomes
Local: On-line Local: Híbrido (presencial e virtual) Jubileu de Ouro do IBRACON – Brasília

26 a 30 de Setembro 13 de Outubro
Inspeção de Estruturas de Concreto segundo a Projeto de Elementos de Concreto Armado Através de Modelos de
ABNT | NBR - 16230:2013- Inspetor II Bielas e Tirantes
Paulo Helene, Enio Pazini, Júlio Timerman, Rafael Timerman Maurício Pina Ferreiras
Local: On-line Local: Plataforma Google Meet

21 a 25 de Novembro
Inspeção de Estruturas de Concreto Segundo a ABNT | NBR - 16230:2013
Paulo Helene, Enio Pazini, Júlio Timerman, Rafael Timerman
Local: On-line

INSCRIÇÕES
S i te : w w w. i b ra c o n . o rg . b r ( Ed u c a ç ã o C o n n u a d a )
Va n e s s a P e d r o s o : Te l . ( 1 1 ) 3 7 3 5 - 0 2 0 2
e-mail: vanessa@ibracon.org.br
10 | & Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
Homenagem Póstuma

Engenharia perde a maior especialista


brasileira em química do cimento

M
aria Alba Cincotto formou- Norte-Sul e Leste-Oeste do Metrô de São Desde 1992, Maria Alba se dedicou
-se em química em 1961 Paulo, o que resultou na primeira norma ao ensino e à pesquisa na Escola Politéc-
Curso preparatório para qualificação
pela Universidade de São
Paulo (USP). Menos de um ano depois,
de profissionais
brasileira de determinação de agentes
agressivos ao concreto.No início da déca-
nica da USP como professora convidada
Promoção:
pelo Prof. Paulo Helene, ministrandoGrupo
as IDD
na a no
ingressou vidade de inspeção
Laboratório de Produtosde daestruturas de colóquios
de 70, aderiu aos concreto de perme- disciplinas “Técnicas aplicadas na pes-
Industriais do Instituto de Pesquisa Tec- abilidade e durabilidade do concreto, or- quisa de materiais” e “Ciência dos ma-
nológicas (IPT),CORPO DOCENTE por ganizados por funcionários do
onde permaneceu
JULHO
IPT, e que
SETEMBRO NOVEMBRO DEZEMBRO
teriais aplicada ao estudo dos ligantes
Prof. Julio
32 anos, Timerman
até se aposentar,| Prof.
indo,Paulo Helene
então, Inspetor I 4 a 8
culminaram com a fundação do Instituto inorgânicos”, tendo formado 14 mestres ̶
̶ 21 a 25
Prof. Enio Pazini |Prof. Rafael Timerman
para a Escola Politécnica da USP, onde Concreto,IIem 1972. ̶
Brasileiro doInspetor 26
e 8adoutores.
30 ̶ 5a9
trabalhou até este mês . Na década de 1980 iniciou suas pes- Seu falecimento em 16 de maio últi-
No IPT, atendia às solicitações da in- quisas sobre adições ao cimento, tendo mo, aos 85 anos, encerra um profícuo
dústria em geral, mas principalmente do introduzido o método para determi- período de significativa produção cien-
setor da construção civil, assessorando nação da atividade pozolânica dos re- tífica, dedicação impecável ao ensino de
o Laboratório de Concreto. Já, no Labo- síduos agrícolas e industriais e partici- química aplicada ao cimento e de cama-
ratório de Química de Materiais, na Divi- pado de projetos de desenvolvimento radagem entre seus colegas e amigos.
são de Engenharia Civil, trabalhou para a de painéis de fibrocimento com fibras Por sua inestimável contribuição, o
100
identificação de manifestações patoló- vegetais para edificações que usavam IBRACON conferiu-lhe, em 2014, o Prê-
95
gicas em revestimentos de argamassas como ligante escória-gipsita-cal hidra- mio Luiz Alfredo Falcão Bauer, de des-
na década de 1970, contribuindo com a tada. Recentemente, a pesquisadora taque em engenharia de pesquisa em
75 indústria para melhorar o desempenho Maria Alba investigava a substituição tecnologia de estruturas de concreto.
desses revestimentos. Também, nessa do cimento Portland pelo resíduo de
época, realizou importante trabalho de lama vermelha das mineradoras, com Mais informações
identificação, quantificação e localiza- o objetivo de desenvolver sua aplicação Leia a entrevista com a
25
ção de agentes agressivos ao concreto em larga escala na indústria de cimento Profª Maria Alba Cincotto, na edição 96
5
em obras enterradas, como as linhas e mitigar seu passivo ambiental. da Revista CONCRETO & Construções.

& Construções
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Homenagem Póstuma

Tributo a Maria Alba


Ao fazer esta homenagem à Profª Maria Alba, personifico toda minha forma de raciocinar e de enxergar os materiais sob
uma geração de alunos de pós-graduação da Poli-USP (Escola um prisma científico.
Politécnica da Universidade de São Paulo) que “bebeu da fonte” da
química do cimento e da ciência dos materiais, na época áurea Minha eterna gratidão à professora Maria Alba, não apenas pela
da Poli-USP do final dos anos 80 e durante os anos 90. contribuição definitiva no meu “DNA” de pesquisador (o que já seria
algo extraordinário), mas por tantas outras formas de interação,
Conheci Maria Alba Cincotto no ano de 1988, quando ela editou como sua efetiva colaboração para viabilizar nosso pós-doc na
pela primeira vez na Poli-PCC (Departamento de Construção França, com o Prof. Jean-Pierre Ollivier – uma experiência ímpar
Civil), ainda como uma professora convidada vinda do IPT, a em nossas vidas (minha e da Profª Helena Carasek).
disciplina de “Aglomerantes para Concretos e Argamassas”.
A professora tinha trazido muitas novidades de seus estudos A saudade é imensa neste momento, assim como a tristeza
de pós-graduação na França, de sorte que todo aquele de saber que não teremos mais a Maria Alba neste plano
conteúdo de química aplicada aos sistemas cimentícios era para discutir questões no campo da “ciência dos materiais”. A
algo considerado de muito valor na formação superior do transcendência de sua essência, porém, é revigorante, seja por
engenheiro. A disciplina foi um sucesso de participação, tendo, meio de sua vasta produção literária e científica, seja pela base
inclusive, professores da Poli (como o Prof. Vahan Agopyan – conceitual e convicções científicas passadas aos seus alunos.
Ex-Reitor da USP) assistindo como ouvinte, dado o alto valor Isto de fato tem um poder transformador, que se perpetuará
científico e a enorme expectativa produzida. ao longo de gerações.

Após essa disciplina, tornei-me alguém diferente. Passei Salve Maria Alba Cincotto!
a ter um olhar científico para as questões práticas de
engenharia. Conforme convivia com ela e após ter cursado PROF. OSWALDO CASCUDO (UFG) – Um professor de
outras disciplinas no doutorado, fui construindo uma Ciência dos Materiais
personalidade científica que possui a marca inexorável de Presidente do Comitê Editorial da Revista
Maria Alba, posto que seus ensinamentos modificaram CONCRETO & Construções – IBRACON

12 | & Construções
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Personalidade Entrevistada

Enio Pazini
Figueiredo
E
nio Pazini Figueiredo foi vice-presidente da Comissão
despertou para a para implementação do Curso de
engenharia civil por Mestrado em Engenharia Civil da
influência de um tio UFG, recomendado pela Capes
e de uma viagem à em 1997. Por meio da Fundação
Usina Hidrelétrica de Itaipu. de Apoio à Pesquisa da UFG, tem
Formou-se em 1985 pela Pontifícia participado como consultor e
Universidade Católica do Rio projetista de diversas obras de
Grande do Sul (PUCRS). Seu gosto reabilitação das estruturas de
pelo estudo, o fez optar em seguir concreto armado no Brasil e no
a carreira acadêmica, fazendo exterior, como os estádios do
mestrado na Universidade Federal Maracanã, Beira Rio e a Arena
do Rio Grande do Sul (1986-1989) e Corinthians. Em função das
doutorado na Escola Politécnica da suas pesquisas, publicações e
Universidade de São Paulo (1989- atuações profissionais, recebeu o
1994). Neste ínterim, fez o curso de título de doutor honoris causa da
especialização em Patologia das Universidade Científica do Peru
Edificações no Instituto Eduardo (UPC) em 2013.
Torroja, na Espanha, em 1988, um
divisor de águas na sua trajetória Fez pós-doutorado na Universidade
profissional, e começou a lecionar Norueguesa de Ciência e Tecnologia
na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), (NTNU), em 2009, onde estudou as técnicas de extração
além de trabalhar como engenheiro na Fundação de eletroquímica de cloretos (EEC), realcalinização
Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (CIENTEC). eletroquímica do concreto carbonatado (REC) e proteção
catódica por corrente impressa.
Em 1995, passou nos concursos para professor na
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e na Enio Pazini é coordenador do CT 802 Comitê Técnico de
Universidade Federal de Goiás (UFG), tendo optado pela Manutenção e Reabilitação de Estruturas de Concreto e
última. Na UFG, participou da criação dos Cursos de presidente da Associação Latino-Americana de Controle
Especialização em Gestão e Gerenciamento de Obra, de Qualidade, Patologia e Recuperação da Construção
e Construção Civil, tendo coordenado o primeiro, e (ALCONPAT Internacional).

IBRACON – INICIALMENTE, O QUE O MOTIVOU A SER veio durante a produção do meu trabalho experimental de
ENGENHEIRO CIVIL? conclusão de curso de engenharia civil, realizado na Fundação
E. P. F. – No ensino médio, fiz o curso profissionalizante de de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (CIENTEC),
100 intitulado “Ensaios de desempenho em painéis pré-fabricados”.
Desenho Arquitetônico, por influência do meu tio José Pazini,
95
que trabalhava com projeto e construção de casas. A viagem
à Foz do Iguaçu, que ganhei de presente da minha saudosa e IBRACON – FORMADO EM 1985, NO ANO SEGUINTE
75 amada mãe, Maria Eni Pazini, em 1980, mudou minha visão
VOCÊ INGRESSOU NO MESTRADO NA UNIVERSIDADE
da construção civil, antes focada na construção de casas. FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, COMO BOLSISTA DO
Itaipu ainda não produzia energia, mas aquela fascinante CNPQ. POR QUÊ?
obra e aqueles enormes vertedouros abertos mudaram a E. P. F. – No último ano de curso de engenharia civil e no
25 ano seguinte da formatura, eu trabalhei em uma empresa
escala que eu tinha da construção civil. O gosto pelos ensaios
laboratoriais e pela avaliação do desempenho das edificações construtora de tamanho médio, a C. P. Engenharia Ltda.
5

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 13

FOI A PRIMEIRA TESE DA EPUSP SOBRE O
USO DAS TÉCNICAS NAO DESTRUTIVAS
DE RESISTÊNCIA DE POLARIZACAO E DE

IMPEDÂNCIA ELETROQUÍMICA

Da mesma forma que muitos IBRACON – COMO VOCÊ EXPLICA SUA PREDILEÇÃO PELA ÁREA DE
estagiários e engenheiros recém- PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES?
formados fazem, eu fazia de tudo E. P. F. – Em 1986, a disciplina de Patologia das Construções começou a ser
na construtora, de projetos em ministrada no curso de mestrado em engenharia civil da UFRGS pelo Prof. Paulo
papel manteiga e caneta nanquim, Helene (EPUSP). Nela, fizemos um trabalho experimental sobre durabilidade
passando por compra de materiais, do concreto no laboratório de estruturas, supervisionado pelo Prof. João Luiz
medição de obra, até compra de Campagnolo (UFRGS), que me despertou para a área. Antes de concluir o mestrado,
lanches para todos do escritório. tomei conhecimento do curso de especialização em Patologia das Edificações no
Neste período, reencontrei uma Instituto Eduardo Torroja, na Espanha, oferecido a cada 3 anos para um grupo de
colega de faculdade que me disse que 30 profissionais ibero-americanos. Fiquei fascinado com a possibilidade de ter aulas
iria fazer a inscrição para a seleção com alguns autores que eu lia na época, os professores Manuel Fernandez Canovas,
do curso de mestrado em engenharia Maria del Carmen Andrade Perdrix, o saudoso Álvaro Garcia Meseguer, entre outros.
civil na Universidade Federal do Rio Com a ajuda do saudoso professor Francisco Romeu Landi e do professor Paulo
Grande do Sul (UFRGS). Confesso Helene, solicitei passagem Porto Alegre-Madri-Porto Alegre ao CNPq e, por iniciativa
que não sabia muito bem o que era, própria, solicitei bolsa da AECID (Agencia Española de Cooperación Internacional para el
mas me interessei porque sempre Desarrollo), para pagamento da taxa de inscrição do curso. Na época, o coordenador
gostei de estudar. Optei pela área do Programa de Mestrado em Engenharia Civil da Escola de Engenharia da UFRGS era
da Construção Civil (NORIE), uma o Prof. Jarbas Milititsky, com o qual me comprometi em finalizar meus experimentos
vez que eu estava trabalhando nesta antes de viajar e em trazer da Espanha minha dissertação bem avançada. Em janeiro
área. No momento da inscrição, de 1988, voei para Madri para fazer o “XI Curso de Estudios Mayores de la Construcción
recebíamos um volumoso material – CEMCO 88, em Normativa Cálculo, Experimentación y Patologia en Edificación”.
bibliográfico para estudar. Além da Considero que o curso foi um divisor de águas na minha trajetória profissional.
prova, tínhamos que enfrentar uma Concluí o curso e retornei à Porto Alegre para terminar a dissertação de mestrado
entrevista com alguns professores do intitulada “Terapia das construções de concreto: metodologia de avaliação de
curso. Fui aprovado, entrei no grupo sistemas epóxi destinados à injeção de fissuras passivas das estruturas de concreto”.
selecionado com bolsa de estudos do Em 1988, fiz concurso público para engenheiro civil da Fundação de Ciência e
CNPq e comecei o curso em março Tecnologia do Rio Grande do Sul (CIENTEC), onde trabalhei até 1995. Também em
de 1986. 1988, comecei a lecionar na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS).
Em 1989, obtive a aceitação para fazer o doutoramento na Universidade Politécnica
de Madrid. No entanto, incentivado pelos professores Paulo Helene e Vahan
Agopyan, fiz inscrição no processo seletivo do doutoramento da Escola Politécnica
da USP (EPUSP) e em março de 1989, logo após minha defesa de dissertação de
mestrado, ingressei no Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Urbana.
O Prof. Paulo Helene, meu orientador, me ofereceu a possibilidade de coordenar um
projeto patrocinado pela FOSECO (FOSROC) sobre diagnóstico e recomendações
para projeto, proteção, reparo e reforço das estruturas de concreto em indústrias
de papel e celulose. Além disso, em 1989 e 1990, atuei como docente dos procurados
cursos de Atualização Profissional sobre “Patologia das Construções: diagnóstico e
recuperação I e II” e “Reparo e Reforço de Estruturas de Concreto: projeto, materiais
e técnicas” promovidos pela Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da
Engenharia (FDTE), em convênio com a Escola Politécnica da USP.
Em setembro de 1991, fui agraciado com uma bolsa de doutorado-sanduíche do
Ponte Gimsøystraumen em Lofoten, na CNPq para realizar a parte experimental da tese de doutorado no Instituto Eduardo
Noruega, protegida catodicamente por Torroja/Espanha, com a supervisão da Profa. Carmen Andrade Perdrix, e na Aston
corrente impressa e monitorada remotamente University/Inglaterra, com a supervisão do Prof. Christopher L. Page. Depositei
pela Norwegian Road Administration minha tese na EPUSP em dezembro de 1993, mas somente a defendi no início de

14 | & Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
1994. Foi a primeira tese da EPUSP sobre tempo vai passando, o desempenho das
o uso das técnicas não destrutivas de estruturas de concreto vai diminuindo.
Resistência de Polarização, para medir a Soma-se a isso a necessidade crescente
densidade de corrente de corrosão, e de de se construir cada vez mais metros
impedância eletroquímica, para avaliar quadrados por dia, com custo cada vez
os fenômenos relativos à corrosão que menor, e o resultado é o aparecimento,
ocorrem na interface aço-concreto. muitas vezes de forma prematura,
Naquele momento, tendo recém- de manifestações patológicas nas
completado 30 anos, era o doutor construções. Esse panorama levou ao
mais jovem na área de materiais de desenvolvimento da área. Atualmente, os
construção formado pela EPUSP. profissionais que atuam na área podem
encontrar conhecimento específico
IBRACON – QUAIS FORAM em normas, livros, cursos, congressos,
OS MARCOS GERAIS DE seminários e lives, para se atualizarem
DESENVOLVIMENTO DA ÁREA DE e melhor realizarem seus trabalhos. O Reabilitação e adequação do Estádio
ESTUDOS DE “PATOLOGIA DAS mercado oferece equipamentos, cada Maracanã para a Copa do Mundo de Futebol
CONSTRUÇÕES”? vez mais sofisticados, para contribuir de 2014 e Olimpíadas de 2016
E. P. F. – Os problemas das com a obtenção de diagnósticos mais
construções nasceram junto com as precisos sobre o estado de conservação das estruturas. As empresas que fornecem
construções. No entanto, a Patologia materiais para proteção, reparo, recuperação e reforço de estruturas de concreto têm
e Terapia das Construções, como disponibilizado no mercado, ano após ano, novas alternativas tecnológicas com maior
ciência, nasceu da sistematização do eficiência para prevenção e reabilitação das estruturas de concreto.
estudo dos problemas das construções
e das suas soluções, os quais podem IBRACON – VOCÊ CONSEGUIU INTRODUZIR A DISCIPLINA “PATOLOGIA DAS
ter causas diversas e origens nas CONSTRUÇÕES” COMO PROFESSOR NAS UNIVERSIDADES DO VALE DO RIO
fases de planejamento, projeto, DOS SINOS (UNISINOS) NO PERÍODO DE 1988 A 1995? COMO FOI SUA ATUAÇÃO
fabricação de materiais, execução e NAS PÓS-GRADUAÇÕES DA EPUSP, UFRGS E UFSM? COMO ESTE CAMPO DE
uso/manutenção das construções. De ESTUDOS FOI ENCAMINHADO E DESENVOLVIDO NA UNIVERSIDADE FEDERAL
forma sistematizada e como ciência, a DE GOIÁS, ONDE VOCÊ É ATUALMENTE PROFESSOR TITULAR LIVRE, TENDO
Patologia das Construções nasceu nos INGRESSADO EM 1995?
anos 70, principalmente na França e E. P. F. – Comecei a lecionar na UNISINOS em 1988, depois que retornei da Espanha.
Bélgica, por meio da atuação do Centre O Prof. Vanderley John, de saída da UNISINOS para o Instituto de Pesquisas
Scientifique et Technique du Bâtiment Tecnológica de São Paulo (IPT), ofereceu-me a disciplina de Instrumentação e
(CSTB) e, na Espanha, por meio da Controle de Qualidade. Nesta época, introduzi a Patologia e Terapia das Construções
atuação do Instituto Eduardo Torroja. no curso de graduação, na extensão e pós-graduação lato sensu da UNISINOS.
Com a máxima de que cada erro leva Em 1994, o Prof. Antônio Luiz Guerra Gastaldini, então coordenador do Curso de Pós-
consigo um ensinamento, a Patologia Graduação em Engenharia Civil (Mestrado) da Universidade Federal de Santa Maria,
das Construções trata, em suma, de convidou-me para ministrar a disciplina de “Corrosão das Armaduras”. A disciplina foi
evitar que o mesmo erro se repita em ministrada uma única vez porque, no mesmo ano, recebi o honroso convite, por parte
novas construções. dos professores José Hennemann e Denise Dal Molin, para realizar tarefas de pesquisa
O concreto armado da forma como e docência na área de “Patologia, Corrosão e Durabilidade das Estruturas de Concreto”
conhecemos hoje é um jovem material no Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil (NORIE) da UFRGS.
de construção. A medida que o ambiente Meu ingresso na Universidade Federal de Goiás (UFG) foi por meio de concurso público
vai ficando cada vez mais agressivo, para Professor Titular, em 1995. Como único doutor da área, naquela ocasião, assumi
as estruturas de concreto vão sendo a titularidade das disciplinas de Materiais de Construção e Laboratório de Materiais
empregadas em novas situações e o de Construção, nas quais, como não poderia ser diferente, devido à minha formação,


AS TÉCNICAS NÃO DESTRUTIVAS DE REABILITAÇÃO DAS
ESTRUTURAS DE CONCRETO E MONITORAMENTO DE ESTRUTURAS
NOVAS OU REABILITADAS COM SENSORES EMBUTIDOS E LIGADOS

À INTERNET AINDA NÃO SÃO EMPREGADAS NO NOSSO PAÍS

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 15

ATUALMENTE, É POSSÍVEL ENCONTRAR SENSORES DE UMIDADE,
RESISTIVIDADE, POTENCIAL DE CORROSÃO, ENTRE OUTROS,
QUE PODERIAM SER DESENVOLVIDOS NO NOSSO PAÍS PARA

REALIZAÇÃO DE MONITORAMENTO REMOTO

os conceitos de Patologia foram IBRACON – QUAIS AS


introduzidos de forma natural. POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES PARA
Em 1997, a CAPES recomendou a O MONITORAMENTO REMOTO DA
criação do “Curso de Mestrado em CARBONATAÇÃO E DA PENETRAÇÃO
Engenharia Civil (CMEC)” da UFG, onde, DE CLORETOS NAS ESTRUTURAS DE
desde a primeira turma, em 1998, eu CONCRETO NO BRASIL?
ministrei as disciplinas de “Concreto: E. P. F. – No ano de 2009, visitei,
Estrutura, Propriedades e Materiais” e a convite da Norwegian Road
“Corrosão das Armaduras: Mecanismos, Administration, a Ponte Gimsøystraumen,
Diagnóstico e Reparo”, nas quais a que conecta a ilha de Lofoten a outras
Patologia e Terapia das Estruturas de ilhas da região. A ponte foi concluída e
Concreto foi naturalmente introduzida. aberta para o tráfico em 1981 e sofreu
Atualmente, atuo no Programa de Pós- várias intervenções de reabilitação,
Recuperação de um trecho de uma viga
Graduação em Engenharia Civil (PPGEC) sem que os problemas de corrosão
parapeito atingida pelo impacto do segmento
metálico da cobertura na Arena Corinthians da UFG/UFCat, em Catalão, Goiás, das armaduras devido aos cloretos
onde leciono a disciplina de Patologia pudessem ser eliminados. O governo
e Terapia das Edificações, e no Curso de Mestrado em Construção da Universidade norueguês resolveu investir em
Federal de Minas Gerais (UFMG), onde mantenho profícua colaboração científica com técnicas de monitoramento e proteção
o grupo de pesquisa da professora Maria Teresa Paulino Aguilar. catódica das obras de arte do país.
A Gimsøystraumen bru foi protegida
IBRACON – EM 2009, VOCÊ FEZ PÓS-DOUTORADO NA UNIVERSIDADE catodicamente por corrente impressa e é
NORUEGUESA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA. QUAL FOI SEU APRENDIZADO monitorada à distância, devido ao envio
AO COMPARAR AS REALIDADES BRASILEIRA E ESTRANGEIRA NA ÁREA DE das informações, via internet, oferecidas
MONITORAMENTO E REABILITAÇÃO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO? por sensores que estão embutidos e
E. P. F. – Em 2009, fui convidado para ser professor visitante, em programa de pós- conectados a um sistema informatizado
doutorado, na Norwegian University of Science and Technology (NTNU), em Trondheim, de coleta e envio de dados.
na Noruega. Trabalhei com os saudosos e reconhecidos professores Øystein Atualmente, no mercado mundial
Vennesland e Odd Gjorv. A Noruega é conhecida pelo público em geral por sua lindas e nacional, é possível encontrar
paisagens e fiordes. Mas, para os pesquisadores do concreto, ela é conhecida por ser sensores de umidade, resistividade,
precursora na produção e uso da sílica ativa (patenteada pela empresa norueguesa potencial de corrosão, resistência de
ELKEM como microssílica) e pelas patentes das técnicas de extração eletroquímica polarização (icorr), deformações, pH,
de cloretos (EEC) e realcalinização eletroquímica do concreto carbonatado (REC), cloretos, entre outros, que poderiam
esta última com participação do Prof. Øystein Vennesland. Meu foco de pesquisa ser desenvolvidos no nosso país para
na NTNU estava justamente nas técnicas não destrutivas de reabilitação, como a realização de monitoramento remoto,
EEC, a REC, a proteção catódica por corrente impressa e o uso do aço inoxidável para principalmente das nossas obras de
aumentar a vida útil das estruturas de concreto. Como levei para a Noruega cinza arte e de infraestrutura. Esta prática
de casca de arroz, cinza do bagaço da cana de açúcar e cimento CP III, pude produzir reduziria o custo de manutenção das
corpos de prova monitorados com sensores e avaliar a resistência de concretos com estruturas de concreto e proporcionaria
adições minerais ao ingresso de cloretos. Voltei entusiasmando com a possibilidade o aumento das suas vidas úteis. Para
de avançar no monitoramento de novas e existentes estruturas de concreto tanto, investimentos em pesquisa
armado. No entanto, infelizmente, até os dias atuais, as técnicas não destrutivas de e aproximação das empresas com
reabilitação das estruturas de concreto e o monitoramento de estruturas novas ou academia devem ser intensificados.
reabilitadas com sensores embutidos e ligados à internet ainda não são empregadas
no nosso país. Com o interesse e o apoio do setor empresarial, acredito que IBRACON – QUANDO E POR QUE
poderíamos colocar em prática essas soluções de reabilitação e aumento da vida útil VOCÊ COMEÇOU A PARTICIPAR DO
das estruturas de concreto armado. IBRACON E QUAL É A IMPORTÂNCIA

16 | & Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
DA ENTIDADE NA SUA VIDA Helene e Tulio Bittencourt e meu. O curso de Inspetor I foi lançado em 2019. Até
PROFISSIONAL? o momento foram realizados 14 cursos em diversas cidades brasileiras, de forma
E. P. F. – O IBRACON representa um presencial e, ultimamente, de forma virtual, ao vivo. O curso de Inspetor II foi
fórum qualificado para que as empresas ministrado por 4 vezes. Estes cursos possuem como foco principal a apresentação
ligadas à cadeia produtiva do concreto, e discussão dos conteúdos relativos a formação de Inspetores I e II de Estruturas
a academia, os estudantes, os institutos de Concreto, segundo a ABNT NBR 16.230 (2013) - Inspeção de estruturas de
de pesquisa e os profissionais que concreto - Qualificação e certificação de pessoal – Requisitos. Os cursos visam
trabalham no setor possam discutir, o estabelecimento de diagnóstico e prognóstico do estado de conservação das
apresentar e disseminar conhecimentos, estruturas de concreto, principalmente de Obras de Arte Especiais (OAE), bem como
bem como desenvolver o concreto e seus a identificação de procedimentos de reabilitação e manutenção que mantenham
insumos nos seus mais variados usos. ou reestabeleçam seus requisitos de segurança estrutural, funcional e durabilidade.
Conheci o Instituto Brasileiro do Trata-se de curso preparatório para que os profissionais possam se submeter ao
Concreto no início da década de 80, processo de certificação do IBRACON. A Global PCS, reconhecida empresa no ramo
quando cursava engenharia civil, mas de certificação de pessoal, gerencia a realização dos exames teóricos e práticos. Os
somente no final dos anos 80, quando cursos têm sido um verdadeiro sucesso e estão engajados na missão do IBRACON de
realizava doutorado na (EPUSP), disseminar corretos conhecimentos à cadeia produtiva do concreto.
comecei a participar de forma mais ativa
das famosas Reuniões do IBRACON IBRACON – VOCÊ É COORDENADOR DO CT 802 COMITÊ TÉCNICO IBRACON/
(REIBRACs), publicando um artigo ALCONPAT DE MANUTENÇÃO E REABILITAÇÃO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO.
científico na 31° REIBRAC. Anos mais QUAIS TÊM SIDO AS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELO COMITÊ? PODEMOS
tarde, fui eleito, pelos pares, conselheiro ESPERAR PARA BREVE ALGUM DOCUMENTO ORIENTADOR NA ÁREA DE
do IBRACON, tendo sido, mais tarde, RECUPERAÇÃO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO?
Diretor de Cursos. Desde a gestão E. P. F. – O CT-802 - Manutenção e Reabilitação de Estruturas é um comitê
de 2020, atuo como Diretor 2° Vice- técnico do IBRACON a da ALCONPAT Brasil, criado em 2018, para produzir Práticas
presidente. Cabe salientar que esses Recomendadas sobre reabilitação e manutenção de estruturas de concreto armado,
serviços que prestamos ao IBRACON bem como contribuir com a normalização da área. Cabe ressaltar que não temos no
são totalmente voluntários. No entanto, Brasil nenhuma norma sobre reabilitação das estruturas de concreto, o que dificulta
levar a grife do IBRACON no nosso o trabalho das empresas que produzem materiais e equipamentos para o setor, dos
curriculum é um cartão de visitas que projetistas que acabam buscando referenciais em normas internacionais para apoiarem
abre portas para qualquer profissional. seus projetos, das empresas executores
das reabilitações que necessitam de
IBRACON – VOCÊ É UM DOS procedimentos consagrados e dos
INSTRUTORES DO CURSO INSPETOR órgãos governamentais e privados que
I E II – INSPEÇÃO DE ESTRUTURA DE necessitam licitar e fiscalizar obras de
CONCRETO SEGUNDO A ABNT NBR reabilitação e manutenção. O grupo
16230. QUAL FOI SUA PARTICIPAÇÃO vem trabalhando intensamente para
NA FORMATAÇÃO DO CURSO? O QUE disponibilizar ao meio técnico uma
SE PRETENDE AO OFERECER O CURSO Prática Recomendada, ainda para
PARA OS PROFISSIONAIS DO SETOR esse ano.
DE CONSTRUÇÃO?
E. P. F. – O curso de “Inspetor I e IBRACON – VOCÊ É TAMBÉM
II de Estruturas de Concreto” foi PRESIDENTE DA ALCONPAT
pensado durante a minha gestão INTERNATIONAL. O QUE É E O QUE
como Diretor de Cursos do IBRACON, FAZ A ENTIDADE? Avaliação de eco pulso ultrassônico
(tomografia) na cabeça do Pilar PQ-8 da
por solicitação e envolvimento do E. P. F. – A Asociación Latinoamericana Arena Corinthians, para avaliar a existência
Presidente do IBRACON na época, de Control de Calidad, Patología y problemas internos no concreto, bem como
Prof. Julio Tmerman, dos Profs. Paulo Recuperación de la Construcción sua homogeneidade


NÃO TEMOS NO BRASIL
NENHUMA NORMA
SOBRE REABILITAÇÃO DAS

ESTRUTURAS DE CONCRETO

& Construções
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A OBRA DO MARACANÃ IMPACTOU O
MERCADO DE MATERIAIS DE REPARO,
RECUPERAÇÃO, REFORÇO E PROTEÇÃO

DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO

(ALCONPAT Internacional) nasceu em de inauguração da Copa do Mundo


1991, em Córdoba, na Argentina, e o acidente podia colocar em risco o
durante o I Congreso Latinoamericano de evento. No diagnóstico para avaliar as
Patología de la Construcción. Participo condições dos pilares pré-moldados,
dela desde seu começo, quando empreguei a técnica não destrutiva
publiquei e apresentei trabalho no de velocidade do pulso ultrassônico,
primeiro congresso da Associação. para avaliar a homogeneidade do
Cabe ressaltar que a ALCONPAT Brasil concreto e estimar a resistência à
é membro fundador da ALCONPAT compressão e o módulo de elasticidade,
Internacional. Na ALCONPAT Brasil a fim de comparar os valores obtidos
tive a satisfação de trabalhar com o com os especificados no projeto
Prof. Dario Klein (UFRGS) na redação estrutural. Devido à importância
do primeiro estatuto da Associação, destes elementos estruturais,
Região onde se localizava o Autódromo
o que me conduziu a Vice-Presidência também empreguei a técnica de
de Jacarepaguá e que foi transformado em
Parque Olímpico 2016 e, anos mais tarde, a Presidência da tomografia computadorizada (eco
ALCONPAT Brasil. Tanto a ALCONPAT pulso ultrassônico) para melhor avaliar
Brasil como a ALCONPAT Internacional são instituições sem fins lucrativos que têm a presença de defeitos internos nos
por objetivos desenvolver e disseminar o correto conhecimento sobre as áreas de pilares. Felizmente, o diagnóstico
Patologia, Terapia e Controle da Qualidade das Edificações. mostrou que esses importantes
elementos estruturais não sofreram
IBRACON – DE QUE FORMA SE DEU SUA PARTICIPAÇÃO NOS PROJETOS DE avarias com o impacto e não receberam
REVITALIZAÇÃO DE DIVERSOS ESTÁDIOS BRASILEIROS DE FUTEBOL, COMO nenhuma intervenção.
MARACANÃ (RIO DE JANEIRO) E ARENA CORINTHIANS (SÃO PAULO) E NO No início das obras do Parque
PARQUE OLÍMPICO? Olímpico, fui responsável pelo uso
E. P. F. – Atuei como consultor e projetista de diversas obras de reabilitação das dos materiais que saíam da demolição
estruturas de concreto armado no Brasil e no exterior. A maioria desses trabalhos do Autódromo de Jacarepaguá nas
foi viabilizada através da Fundação de Apoio à Pesquisa da UFG. Certamente, a mais próprias obras do Parque Olímpico.
emblemática foi a obra de reabilitação e adequação do Estádio Maracanã para a Após as demolições, os resíduos de
Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016. Minha responsabilidade foi avaliar demolição eram caracterizados e
o estado de conservação das estruturas de concreto e produzir os procedimentos comparados com as especificações de
de reparo, recuperação e proteção das estruturas. Para diagnosticar os problemas, projeto e, quando eram compatíveis,
empreguei metodologia de avaliação composta por ensaios não destrutivos e esses resíduos ou materiais produzidos
destrutivos. Pude aplicar nos diagnósticos e nas reabilitações tudo aquilo que com esses resíduos eram incorporados
estudei e orientei ao longo dos anos. Tudo fazia sentido. Ainda me emociono às novas construções.
quando entro no Maracanã, quando revejo o programa da Discovery Channel que
apresenta parte dos trabalhos realizados ou quando revejo as imagens de uma IBRACON – O QUE VOCÊ FAZ
palestra que ministrei dentro do Maracanã para uma plateia de mais de 3.000 EM SEU TEMPO LIVRE, FORA DO
alunos e profissionais que estavam nas arquibancadas. A obra do Maracanã TRABALHO?
impactou o mercado de materiais de reparo, recuperação, reforço e proteção das E. P. F. – Sempre gostei de judô e
estruturas de concreto, com novos procedimentos de limpeza das armaduras, de jogar futebol, mas, devido a um
novas especificações, novas formas de controle e garantia da qualidade dos serviços problema no joelho, que resultou em
e uma visão de sustentabilidade até então não solicitada nas especificações da área. cirurgia, passei a nadar e caminhar.
Quanto à obra da Arena Corinthians, o problema foi diferente, pois se tratava Mas, o que mais gosto é colocar meus
de uma obra nova que sofreu um grande impacto acidental, devido à queda do filhos e esposa no carro e viajar por
último segmento metálico da cobertura, com peso estimado de 420 toneladas, este brasilzão. A companhia deles me
levando, inclusive, a um óbito. O estádio estava sendo preparado para a cerimônia faz feliz. C

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Jubileu de Ouro

Os marcos de gestão do IBRACON


de 1999 a 2009
FÁBIO LUÍS PEDROSO – Editor, ORCID https://orcid.org/0000-0002-5848-8710 – fabio@ibracon.org.br

N
a virada do milênio, o Insti- o texto normativo
tuto consolida atividades e e receber contribui-
amplia sua oferta de serviços ções dos profissio-
para profissionais e empresas da cadeia nais de vários setores
produtiva do concreto. da construção.
A iniciativa ren-
1. EDUARDO SERRANO PREZOU deu tantos comentá-
PELO DEBATE E DISSEMINAÇÃO rios e exemplos, que
DA NORMALIZAÇÃO E PELOS eles foram poste-
EVENTOS CONJUNTOS riormente, ainda na
Logo no início da gestão de Eduardo gestão de Eduardo
Serrano (1999-2001), foi formada uma Serrano, publicados
comissão com a missão de elaborar um na forma de práticas
Plano de Ação do Instituto Brasileiro do recomendadas.
Concreto, para ser apresentado às em- A normalização
presas, com a finalidade de obter ade- foi também um dos
são para o Grupo de Apoio à Presidência eixos temáticos do
(GAP), para dar suporte financeiro às 42º Congresso Bra-
atividades do IBRACON. sileiro do Concreto,
Entre as ideias e propostas para o realizado naquele
ano em Fortaleza, Eng. Eduardo Serrano (dir.) compõe mesa do Seminário de
Plano de Ação, a diretoria cogitou criar
Desenvolvimento Sustentável e a Reciclagem na Construção Civil,
um programa de certificação de mão com participação de que discutiu Práticas Recomendadas
de obra. Em 2000, Eduardo Serrano 900 profissionais e
buscou apresentar a proposta para o estudantes. O foco foi como tornar a “Tivemos o êxito de conseguir for-
Sindicato da Indústria da Construção norma brasileira de projeto de estru- mar o GAP com o apoio de empresas
em São Paulo (Sinduscon-SP), mas a turas, em revisão, uma norma inter- e entidades que tradicionalmente nos
entidade entendeu, naquele momen- nacional, a exemplo, das normas euro- apoiavam, como Associação Brasileira
to, que a alfabetização dos operários peias e norte-americanas. Para balizar de Cimento Portland (ABCP), Associa-
era sua prioridade. Desta reunião, veio as discussões foram convidados como ção Brasileira das Empresas de Serviços
o convite para o IBRACON integrar o palestrantes o presidente do American de Concretagem (ABESC), Belgo Minei-
Grupo de Qualidade das Estruturas do Concrete Institute (ACI), James Jirsa, e o ra, Camargo Corrêa Cimentos, Emic,
Sinduscon-SP, com o comprometimen- pesquisador alemão Hans Ulrich Lit- Gerdau, Holdercim/Holcim, Instituto
to de elaborar Práticas Recomendadas zner, que discorreu sobre o Eurocode. Brasileiro de Telas Soldadas (IBTS), Mas-
para a execução de obras. Para contornar a edição de apenas ter Builders Technologies (MBT)/De-
Dentro desse espírito de se buscar a um número em todo o ano de 2000 da gussa e Otto Baumgart/Vedacit. Com
qualidade dos sistemas construtivos, o Revista IBRACON, a diretoria implantou isso, a Revista IBRACON pode contar
IBRACON, juntamente com Associação o Portal do Concreto, mais um site do com patrocinadores e voltar pouco a
Brasileira de Engenharia e Consultoria Instituto na internet para divulgar novi- pouco a circular”, conta Serrano.
Estrutural (Abece) e Associação Brasi- dades e informações sobre a cadeia pro- A conclusão da revisão da NBR 6118
leira de Normas Técnicas (ABNT), pro- dutiva do concreto e para hospedar arti- ocorreu em 2001. A última revisão havia
moveram, ao longo do ano de 2000, gos técnico-científicos apresentados de sido feita em 1978. Um dos coordenado-
uma série de workshops, em São Paulo, forma resumida nas edições da Revista. res da redação final da nova norma de
Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizon- A edição 25 foi publicada com apenas 20 projeto de estruturas de concreto era
te e Salvador sobre a revisão da nor- páginas, trouxe a cobertura do 42º Con- o diretor técnico do IBRACON na épo-
ma brasileira NBR 6118. O objetivo dos gresso Brasileiro do Concreto e foi viabi- ca, José Zamarion Ferreira Diniz. Foi
workshops foi discutir exaustivamente lizada devido à formação do GAP. ele quem entregou ao Secretário do

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Desenvolvimento da Produção de Foz
do Iguaçu, Reginaldo Braga Arcuri, na
solenidade de abertura do 43º Congres-
so Brasileiro do Concreto, na presença
de 1100 participantes, a versão final do
texto da nova NBR 6118:2001 e a Prática
Recomendada para Estruturas de Edifí-
cios de Nível 1, publicada pelo IBRACON.
“Esta prática veio para facilitar a o responsável pela avaliação e seleção para o debate a tecnologia e a quali-
vida dos projetistas, principalmente dos artigos submetidos e publicados dade da produção de estacas, tubos,
dos pequenos escritórios de projetos, em cada edição. A submissão torna-se dormentes, postes e pavers, bem como
que passaram a prescindir de recorrer aberta a todos os profissionais. a construção industrializada de lajes,
ao texto denso e integral da nova nor- Naquele ano, algumas Diretorias vigas, pilares, fachadas pré-moldadas,
ma para fazer seus projetos. Não é à toa Regionais organizaram e realizaram telhas, alvenaria estrutural e argamas-
que a publicação teve uma boa recepti- workshops para apresentar uma sín- sas industrializadas.
vidade do mercado”, comenta Serrano. tese do novo texto da NBR 6118:2001 Próximo de completar 30 anos de
Outro fôlego às atividades foi ter au- aos profissionais de seus estados, que existência, o IBRACON assinou um
mentado o número de profissionais em contaram com palestrantes que par- convênio com o Instituto de Pesquisas
uma centena e dos estudantes em mais ticiparam na Comissão de Revisão da Tecnológicas de São Paulo, em maio de
de duas centenas até o final de sua pri- Norma, como José Zamarion Ferreira 2002, que lhe concedeu uma área física
meira gestão. Diniz, Augusto Carlos de Vasconcelos, para construir sua nova sede no cam-
Fernando Rebouças Stucchi, Paulo He- pus do IPT, em regime de comodato.
1.1 Marcos da segunda gestão lene, Antonio Carlos Laranjeiras, Fran- Este era um pleito antigo do Instituto,
(2001-2003) cisco Paulo Graziano, Ricardo Leopoldo desde que foi transferido de uma sala
e Silva França, e Sérgio Mangini. “Foram do Edifício Adriano Marchini para uma
A segunda gestão de Eduardo Ser- realizados workshops no Ceará, Bahia, casinha de madeira, ainda na gestão da
rano começou com a reformulação Minas Gerais, Amazonas e Rio Grande Yasuko Tesuka, em 1990.
gráfica e editorial da Revista IBRACON, do Sul, para conscientizar os profissio- O convênio, assinado entre o presi-
que, em julho de 2001, passou a ser nais sobre a nova norma brasileira”, es- dente do IBRACON, Eduardo Serrano,
editada pela Enfoque Comunicação & clareceu Serrano. e o superintendente do IPT, Guilherme
Marketing. Composta por uma parte O IBRACON realizou, em 2002, Ary Plonski, visava a interesses tecno-
informativa colorida, com 28 páginas, e dois eventos conjuntamente com ou- lógicos e educacionais a serem atendi-
um caderno técnico-científico, com 40 tras entidades técnicas. O 4º Simpósio dos pela nova sede. O prédio seria um
páginas, em preto-e-branco, destacá- sobre Túneis Urbanos (TURB 2002), protótipo inédito de um laboratório em
vel, a Revista ganha, pela primeira vez, com a Associação Brasileira de Geolo- escala real, para estudos de longa du-
um Conselho Científico. Este torna-se gia de Engenharia e Ambiental (ABGE) ração sobre o comportamento de dife-
e Comitê Brasileiro rentes tipos de concreto na obra. Sendo
de Túneis da Asso- assim, a obra seria produzida com as
ciação Brasileira de mais modernas tecnologias constru-
Mecânica dos Solos tivas e de monitoramento, para gerar
e Engenharia Geotéc- informações e conhecimentos sobre o
nica (CBT/ABMS), que concreto para estudantes, pesquisado-
apresentou traba- res e a iniciativa privada.
lhos técnico-científi- Como não podia deixar de ser, o
cos sobre escavação evento comemorativo dos 30 anos do
subterrânea, mé- IBRACON aconteceu na forma de um
todos construtivos, simpósio no auditório do prédio Adria-
métodos de cálculo, no Marchini, no IPT, berço da entidade,
equipamentos, legis- nos dias 24 e 25 de junho. No dia 23, hou-
lação e manutenção ve uma apresentação coral na Sala São
de obras. Paulo, que abriu as comemorações.
E o 1º Simpósio O Simpósio “IBRACON: 30 anos
IBRACON-Sinapro- aperfeiçoando o concreto no Brasil” reu-
cim de Produtos niu a nata dos seus fundadores. Augus-
Eng. José Zamarion palestra sobre o texto da ABNT NBR Industrializados de to Carlos Vasconcelos palestrou sobre
6118:2001 para profissionais da Regional do IBRACON em Goiás Cimento, que trouxe as inovações em 50 anos da tecnologia

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Desta vez, a transformação começa
pelo título. Para se projetar no merca-
do editorial e ganhar visibilidade para
além da comunidade reunida em tor-
no do IBRACON, a Revista passa a se
chamar Concreto.
Como a titularidade da denomina-
ção pertencia à Editora PINI, o diretor
de publicações e divulgações técnicas
do IBRACON, José Martins Laginha
Neto, inicia uma negociação com Má-
rio Pini e obtém um acordo para uso
Mesa de abertura do Simpósio Comemorativo de 30 anos do IBRACON do nome pela Revista do IBRACON.
“Hoje, a Revista CONCRETO se con-
do concreto. “Se antes o Brasil era um normas, seja com textos básicos, ou solidou no setor, estando na sala de es-
dos países a realizar os recordes mais práticas recomendadas que depois se pera das áreas técnicas de engenharia
importantes, depois passou um longo transformaram em normas”, esclare- em nível nacional”, comemora Serrano.
tempo sem que fizéssemos nenhuma ceu Zamarion na edição.
obra notável, merecedora de um re- Antonio Carlos Laranjeiras expôs 2. PAULO HELENE DIVERSIFICOU
corde nacional. Agora, estamos nova- como a durabilidade é uma chave para PUBLICAÇÕES EDITORIAIS,
mente chegando a esses recordes. As- o desenvolvimento sustentável. “As es- PRÊMIOS E CONCURSOS,
sim, é muito oportuno falar sobre isso, truturas de concreto precisam ser mais BEM COMO CRIOU PROGRAMA
ainda mais que o Brasil recentemente duráveis do que são hoje, para que for- DE CURSOS, CERTIFICAÇÃO E
conquistou um recorde extraordinário: mem uma parte da solução do desen- DE PESQUISAS
o de ter o concreto de maior resistên- volvimento sustentável. O IBRACON é Ao se formar em 1972, na Escola Po-
cia no mundo inteiro, executado em uma entidade que consolida, centrali- litécnica da Universidade de São Paulo
obra, em betoneira comum”, justificou za e reúne as inteligências na área da (Poli-USP), Paulo Helene foi trabalhar
Vasconcelos na cobertura do evento indústria do concreto no Brasil, e vem como engenheiro de obras, ramo ao
na edição 30 da Revista IBRACON so- a cada ano se afirmando com mais qual se dedicou por cinco anos, quando
bre a escolha do tema de sua palestra força como um pólo e instrumento de foi para Espanha, fazer especialização
no Simpósio comemorativo, fazen- congregação da engenharia nacional”, no curso ‘Controle de Qualidade e Pato-
do referência ao concreto do edifício argumentou Laranjeiras. logia na Construção’, no Instituto Edu-
e-Tower, cujo tecnologista responsá- Geraldo Cechella Isaia compilou ardo Torroja.
vel foi Paulo Helene. os trabalhos sobre adições minerais De volta, em 1977, foi convidado pela
Walmor José Prudêncio tratou do no concreto estrutural. “Fiz uma pes- Profa. Yasuko Tesuka a trabalhar no
concreto aparente na arquitetura. “A quisa de todos os trabalhos apresen- Instituto de Pesquisas Tecnológicas de
temática que eu elegi, portanto, foi tados no IBRACON, nestes 30 anos, São Paulo (IPT), e pelo Prof. Francisco
a de valorizar o concreto como mate- e uma classificação, em relação às Romeu Landi a dar aulas na Poli-USP.
rial final de acabamento, desde que adições minerais: quem apresentou, Nesta fez seu mestrado e doutorado e
tomadas certas precauções relativas quais são as adições mais divulgadas, se aposentou como professor titular,
aos processos executivos e aos cui- qual foi o assunto que mais predomi- em 2010. Naquele, trabalhou por 10
dados nos projetos em seus detalhes nou”, disse. anos e foi quando iniciou sua militância
específicos”, comentou Prudêncio na Na ocasião, a maquete do projeto no Instituto Brasileiro do Concreto, pri-
mesma edição. da futura sede do IBRACON ficou ex- meiramente como palestrante e coor-
José Zamarion Ferreira Diniz abor- posta no saguão do IPT, próximo ao denador do Comitê Técnico sobre Con-
dou a evolução das normas de concre- auditório. trole da Qualidade do Concreto, depois
to estrutural. “Minha palestra é volta- Antes da segunda gestão de Edu- como conselheiro, diretor e, finalmen-
da às contribuições que as Comissões ardo Serrano se encerrar, dois acon- te, como presidente em duas gestões
Técnicas do IBRACON ou Comitês tecimentos merecem registro. O lan- (2003/2005 e 2005/2007).
Técnicos, como são conhecidos, pres- çamento da Prática Recomendada
taram ao desenvolvimento das nor- “Comentários da NB-1”, fruto do traba- 2.1 Novas revistas, cursos,
mas brasileiras ligadas ao concreto, lho de seu Comitê Técnico CT 301 Con- concursos e banco de teses
tanto na parte de tecnologia, quan- creto Estrutural acerca das discussões e dissertações
to na de estruturas. Vários comitês de revisão da NBR 6118:2003.
do IBRACON colaboraram ao longo A Revista IBRACON passa por mais Pela primeira vez na história do Ins-
desses 30 anos para a feitura dessas uma reformulação gráfica e editorial. tituto Brasileiro do Concreto, a eleição

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para a gestão 2003-2005 teve dois can-
didatos: Cláudio Kerr do Amaral, filho
do ex-presidente Epaminondas Melo do
Amaral Filho, e Paulo Helene, professor
da Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo, ambos com participação
intensa na gestão do Instituto. Por uma
margem apertada, o Prof. Paulo Helene
foi eleito. de resumos e artigos técnico-científi- dente do IBRACON à época parar implan-
Sua gestão inicia-se com a mudan- cos foi adotada para o 47º Congresso tar projeto similar no Brasil. Junto com
ça da sede, de uma casinha de madeira Brasileiro do Concreto, em Recife. Por Cláudio Sbrighi elaboramos o projeto e
para um espaço de 393 m2 no Prédio 62 sua vez, o site do evento permitiu tam- buscamos apoio nas Agências de Fomen-
do IPT, com sala de reunião, secretaria, bém, pela primeira vez, a inscrição on- to. Infelizmente, não tivemos o apoio ne-
arquivo e minianfiteatro com 40 lu- -line no Congresso. cessário e o projeto ficou nos arquivos do
gares. O acordo previa seu uso por 10 Já, o site do IBRACON passou a con- Instituto como colaboração à pesquisa
anos, em regime de comodato, para tar com: científica”, lembra Paulo Helene.
realização das atividades do IBRACON, » Loja Virtual para exposição e aquisi- O Projeto Concreto Brasil tem como
como cursos, treinamentos, processos ção on-line de suas publicações; objetivos: levantar as necessidades de
de certificação, palestras e seminários. » banco de associados, separados por pesquisa e desenvolvimento sobre o
A mudança era uma das diretrizes categorias; concreto; fomentar as pesquisas sobre
estipuladas pela Comitê de Desenvol- » organograma dos recém-criados 11 o concreto nas agências de fomento; e
vimento do IBRACON (CDI), constitu- Comitês Técnicos e 34 subcomitês; intermediar as pesquisas de interesse
ído na gestão anterior e que elaborou » calendário de cursos e eventos; das indústrias ligadas ao concreto.
um documento com propostas de ação » banco de teses e dissertações – cadas- Na primeira gestão do Prof. Paulo
para os próximos 10 anos. tro on-line de pesquisas de pós-gra- Helene na presidência, foram cadas-
Paulo Helene atendeu também a duação sobre o concreto, em nível de tradas 167 pesquisas de pós-graduação
contratação de um secretário-executi- mestrado e doutorado, nas áreas de no Projeto Concreto Brasil e realizadas
vo, para planejar e coordenar as ativida- estruturas e materiais – denominado duas edições do Workshop de Pesquisa,
des do Instituto, e buscar sustentabili- CONCRETO Brasil, ideia retomada da onde foram apresentadas as situações
dade financeira para essas atividades gestão de José Zamarion Ferreira Di- correntes das pesquisas brasileiras vol-
no médio prazo. niz, quando da Missão do IBRACON tadas ao concreto, na tentativa de iden-
Uma das primeiras medidas para no Canadá (ver edição 105). tificar áreas prioritárias para novos pro-
desonerar os custos foi a assinatura “Eu participei da Missão Canadá e, jetos de pesquisas. Esses seminários e a
de um contrato entre o IBRACON e a quando voltei, fui incumbido pelo presi- implantação do cadastro no site foram
Editora Conceptus para gerir a Revista coordenados pelo diretor de pesquisa e
Concreto, sem ônus ao Instituto. Com desenvolvimento da gestão, Prof. Túlio
esse acordo, a Revista foi mais uma vez Nogueira Bittencourt.
reformulada editorial e graficamente, Com relação à nova estrutura dos
passando a apresentar um layout mo- Comitês Técnicos, seu propósito foi di-
derno em sua capa e páginas, e am- namizar a criação de textos-base para
pliando o espaço das reportagens de servir de ponto de partida para as dis-
interesse mais geral sobre obras, siste- cussões nas comissões da Associação
mas e tecnologias do setor. Brasileira de Normas Técnicas e a elabo-
Os artigos técnico-científicos, antes ração de práticas recomendadas para o
publicados na Revista IBRACON, foram setor construtivo.
direcionados para as revistas eletrônicas Vale destacar a criação do CT de Ati-
recém-lançadas – Revista IBRACON de vidades Estudantis, cuja coordenação
Estruturas (RIEST) e Revista IBRACON coube ao Eng. Paulo Martins Pereira
de Materiais (RIMAT). De caráter cien- Neto, responsável pela formulação do
tífico, esses periódicos contavam com Regulamento do Concurso Aparato de
corpos de editores e corpos de revisores, Proteção ao Ovo. Foi no âmbito deste
além de uma plataforma on-line para CT que foi criado o novo concurso estu-
submissão, gerenciamento de avaliação dantil do IBRACON – o Concrebol.
e publicação dos artigos. A primeira demonstração do Con-
Destaque da capa da edição 34 da Revista
A solução informatizada de rece- CONCRETO, após a reformulação gráfica crebol ocorreu na Conferência Interna-
bimento, avaliação e gerenciamento e editorial cional “100 anos do ACI – Construção

22 | & Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
em concreto como fator de integração
das Américas”, realizada em São Pau-
lo, em abril de 2004, que contou com
palestrantes estrangeiros e brasilei-
ros, que discutiram temas pertinentes
para o avanço do concreto. Já, a com-
petição aconteceu no 46º Congresso
Brasileiro do Concreto, em Florianópo-
lis. O concurso consiste na fabricação
de uma esfera de concreto, que passa
nos testes de resistência à compressão
e de esfericidade.
No 46º Congresso Brasileiro do Con-
creto ocorreu também a primeira pre-
miação do destaque do ano em pesqui-
sa em estruturas de concreto – Prêmio
Fernando Luiz Lobo Barbosa Carneiro,
recém-criado. Durante este Congres-
so, a Assembleia Geral do IBRACON
referendou a alteração do Estatuto do
IBRACON para adequá-lo ao novo Có-
digo Civil Brasileiro. Nela, os termos ‘só-
cio’ e ‘sociedade civil’ foram substituídos Diretores e presidentes do IBRACON e do ACI participam do evento comemorativo de 100 anos
por ‘associado’ e ‘associação’, e houve do American Concrete Institute
alterações quanto à composição da re-
ceita e patrimônio do Instituto e quan- de Avaliações e Perícias em Engenha- vista já se firmara no contexto editorial
to ao quórum das Assembleias. ria (Ibape-SP), o debate “Lições do Areia do país como periódico técnico-científi-
No final de 2004, diante do desaba- Branca: acidentes, responsabilidades co e informativo, trimestral, de circula-
mento do Edifício Areia Branca na região e segurança das obras”. A questão que ção controlada, auditada pelo Instituto
metropolitana de Recife, o IBRACON permeia as discussões: a necessidade de Verificador de Circulação (IVC).
organiza, juntamente com Associação implementação de programa de inspe- Outras realizações da primeira ges-
Brasileira de Engenharia e Consultoria ções periódicas das edificações. tão do Prof. Paulo Helene como presi-
Estrutural (Abece) e Instituto Brasileiro Os consensos formados durante as dente foram: a criação e implementa-
discussões ensejadas no ção do Programa MasterPEC; a criação
Debate são compilados do concurso Ousadia; e o lançamento
no documento “Seguran- do livro “CONCRETO: Ensino, Pesquisas
ça das Obras Civis”, onde e Realizações”.
são feitas propostas para O Programa Master em Produção
inspeção de edificações de Estruturas de Concreto é um sistema
existentes, para certifica- de cursos de atualização profissional
ção de mão de obra, para abrangendo conhecimentos científicos
aperfeiçoamento do en- e tecnológicos sobre cada etapa do ci-
sino de engenharia civil, clo construtivo das obras de concreto.
para o exercício profissio- O programa confere certificado aos
nal e para a normalização alunos que, em quatro anos, acumu-
da inspeção técnica. O lem uma quantidade de créditos-aula
documento é publicado em cursos oferecidos. O objetivo do
em destaque na edição Programa é estimular a divulgação do
37 da Revista CONCRE- bom uso do concreto na construção.
TO, cujo gerenciamento Durante a primeira gestão, mais de
editorial passou a ser as- 90 alunos assistiram aos três cursos
sumido pelo IBRACON oferecidos: Patologias das Estruturas
diante da falência da Edi- de Concreto; O concreto na arquitetura;
tora Conceptus. No final e Sustentabilidade e Responsabilidade
José Zamarion dá o pontapé inicial para as competições da primeira gestão do Social – a contribuição do concreto.
do CONCREBOL Prof. Paulo Helene, a Re- O concurso Ousadia foi elaborado

& Construções
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para atrair estudantes de arquitetura
para o IBRACON e para incentivar o tra-
balho em equipe entre eles e os estudan-
tes de engenharia civil. Seu propósito é
incentivar os estudantes a criar projetos
de arquitetura tecnicamente viáveis e
que ressaltem as qualidades plásticas do
material. O primeiro concurso desafiou
os estudantes a elaborar o anteproje- Qualificação e Certificação de Pessoal, ção “Acontece nas Regionais”, com o in-
to de uma ponte sobre o Rio Pina, em para implementar uma sistemática para tuito de divulgar os eventos ocorridos e
Recife, de acordo com o projeto viário treinamento, avaliação e certificação de programados.
previsto para urbanização da cidade. A profissionais responsáveis pela execução O IBRACON participa, junto com o
competição ocorreu no 47º Congresso das atividades de controle da qualidade Instituto de Engenharia de São Paulo,
Brasileiro do Concreto, em Olinda, en- relativas ao concreto e seus componen- a Associação Brasileira de Geologia de
volvendo 16 equipes, que tiveram seus tes. Uma nova diretoria foi criada para Engenharia (ABGE), a Abece e da Asso-
projetos expostos em pranchas em mu- gerenciar esse processo – o diretor de cer- ciação Brasileira de Mecânica dos Solos
rais, maquetes e num relatório técnico tificação de mão de obra, assumida pelo e Engenharia Geotécnica (ABMS), em
que demonstrou a viabilidade estrutural ex-presidente da Abece, Julio Timerman, março de 2007, do Debate “O momen-
quanto aos estados limites e durabilida- que esteve à frente do processo para im- to atual da engenharia brasileira”, que
de. Esses projetos foram julgados por plantação do programa de certificação propôs discutir os problemas do con-
uma comissão de arquitetos e enge- de mão de obra no IBRACON. texto técnico, legal, social e econômico
nheiros renomados, entre os quais: Ruy Para incentivar o cadastro das pes- no qual se inseria a engenharia brasilei-
Ohtake, Bruno Contarini, Adão da Fon- quisas no Projeto Concreto Brasil, o ra e que explicava os recentes aciden-
seca, Raul Husni, Hugo Corres, Mário Comitê de Pesquisa e Desenvolvimento tes com obras, como o desabamento
Franco, dentre outros. instituiu, em 2006, o Prêmio de Teses e da Estação Pinheiros do Metro de São
O livro “Concreto: Ensino, Pesqui- Dissertações, que, anualmente passa a Paulo. O assunto foi debatido pelas Re-
sa e Realizações” é uma obra didática premiar, alternadamente, as melhores gionais do IBRACON e em painel no 49º
produzida para ser o conhecimento dissertações e as melhores teses dos Congresso Brasileiro do Concreto, em
mais atualizado sobre tecnologia do últimos três anos, nas áreas de estrutu- Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul.
concreto na época de seu lançamento, ras e de materiais. A escolha é feita por Foi criado o Prêmio Oscar Niemeyer
escrita por 64 especialistas brasileiros, comissões de especialistas com base Soares Filho, atribuído ao destaque do
com a finalidade de servir de texto-base nos critérios de qualidade, atualidade ano em projetos de arquitetura em con-
para as disciplinas sobre o concreto dos e contribuição para o desenvolvimen- creto. Quem recebeu o primeiro prêmio
cursos de engenharia civil e arquitetura to tecnológico, social e econômico da foi o arquiteto Ruy Ohtake, no 49º Con-
do Brasil. O compêndio faz menção a sociedade. A primeira premiação acon- gresso Brasileiro do Concreto, em 2007.
todas as normas brasileiras referentes teceu no 48º Congresso Brasileiro do A partir deste ano, as indicações os
aos temas de seus 50 capítulos e traz a Concreto, no Rio de Janeiro, tendo con- Prêmios passaram a ser feita por meio
experiência de profissionais brasileiros templado dois trabalhos
em suas 1579 páginas, distribuídas em de mestrado e dois tra-
dois volumes. A coordenação edito- balhos de doutorado.
rial do trabalho coube ao professor da O Estatuto do IBRA-
Universidade de Santa Maria, Geraldo CON foi modernizado,
Cechella Isaia. incorporando as novas
atribuições e atividades
2.2 Criação do programa de do Instituto, e novos
certificação de pessoas, Regulamentos foram
modernização legal e criados, enquanto ou-
lançamentos editoriais tros foram revisados,
perfazendo um total de
A nova gestão inicia-se em nova 12 documentos regula-
sede, num condomínio fechado na cida- dores das atividades do
de de São Paulo, diante da decisão do IPT Instituto.
de retomar a área cedida ao IBRACON. Para incentivar as ati-
O IBRACON ganha mais uma atri- vidades nas Regionais,
buição: Organismo de Certificação de a Revista CONCRETO & Homenagem aos autores do livro “Concreto: Ensino, Pesquisa
Pessoas. Ele passa a ter um Núcleo de Construções criou a se- e Realizações”

24 | & Construções
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gestão empresarial pela Fundação
Getúlio Vargas.
Foi gerente geral do Centro Tecno-
lógico de Engenharia Civil de Furnas
Centrais Elétricas, em Aparecida de
Goiânia, de 2003 a 2014 e do Centro
Tecnológico de Engenharia Hidráuli-
ca, em Jacarepaguá, de 2010 a 2014.
Foi diretor técnico do IBRACON
desde a gestão de Eduardo Serrano,
em 2003, e durante as duas gestões
de Paulo Helene. De 2007 a 2009, as-
Mesa do Debate “O momento atual da Engenharia Brasileira” sumiu a presidência do Instituto.

do site do IBRACON pelos associados. nais, entre elas o ACI e o Japan American 3.1 Consolidação da certificação
No Congresso, foi lançado o livro Institute (JCI). de pessoal
“Materiais de Construção Civil e Prin- No âmbito estatutário, o Prof. Pau-
cípios de Ciência e Engenharia de Ma- lo Helene conseguiu alterar as regras O cenário econômico da constru-
teriais”, obra que aborda, de maneira de eleição de presidente, que permi- ção apresentava resultados bastante
didática, todo o ciclo de conhecimentos tiam a reeleição por vários mandatos favoráveis no segundo semestre de
necessários para utilização dos materiais seguidos, para apenas uma reeleição 2007, quando o Eng. Rubens Machado
na construção civil. O compêndio, coor- sequencial, assegurando a necessária Bittencourt assumiu a presidência do
denado pelo presidente do Comitê Técni- renovação e rodízio dos presidentes e IBRACON, com perspectiva de cres-
co de Materiais de Construção do IBRA- diretores por eles escolhidos. cimento no volume de obras, tanto
CON, Prof. Geraldo Cechella Isaia, contou no setor imobiliário quanto de obras
com a colaboração de 85 especialistas, 3. RUBENS BITTENCOURT VOLTOU de infraestrutura.
que escreveram suas 1700 páginas, distri- SUA GESTÃO PARA CAPACITAÇÃO O desafio era capacitar recursos hu-
buídas em 51 capítulos, em dois volumes. DE RECURSOS HUMANOS manos para fazer frente ao movimento
Durante a segunda gestão do Prof. Rubens Machado Bittencourt for- de retomada sustentável do setor. Em
Paulo Helene, foi lançado também os mou-se em Engenharia Civil pela Uni- razão disso, a diretoria de certificação de
Comentários Técnicos e Exemplos de versidade Federal do Paraná, em 1977. mão de obra, recém-criada, foi privilegia-
Aplicação da NB-1, iniciativa do CT- Fez especialização na Universidade da na dotação orçamentária do Instituto.
301 Concreto Estrutural para comple- da Califórnia, em Berkeley, e MBA em “A Petrobras necessitava certificar
mentar e esclarecer os aspectos dos seus colaboradores em várias áreas.
procedimentos estabelecidos pela Além disso, o país passava por um mo-
NBR 6118:2003. Os engenheiros José mento ótimo na engenharia de obras
Zamarion, Antonio Laranjeiras e Pau- de infraestrutura espalhadas por todo
lo Helene introduziram o conceito de o território, tendo, por contrapartida,
durabilidade e vida útil na norma bra- escassez de mão de obra qualificada.
sileira por primeira vez, nesta versão. Esse cenário levou a Diretoria e o Con-
Por sua vez, foi a iniciativa do IBRA- selho Diretor do IBRACON a vislumbrar
CON de traduzir esta norma para o uma grande oportunidade”, explica
inglês e, junto com a ABNT, promover Rubens Bittencourt.
sua discussão no âmbito do ISO/TC Logo ao assumir, ele implantou um
71, organismo internacional de padro- sistema novo de gestão orçamentária.
nização de normas de projeto, inclu- A cobrança da anuidade passou a ser re-
sive com a promoção de sua reunião alizada automaticamente, com a emis-
plenária em Salvador, em 2007, que são de boleto bancário, enviado na data
a ABNT NBR 6118:2003 ganhou reco- de admissão e devidamente controlado
nhecimento internacional. pelo banco.
A gestão encerrou-se com o su- “Procuramos analisar as receitas e
cesso do Programa MasterPEC, com a despesas agrupadas pelas principais
qualificação de 528 alunos em seus cur- atividades desenvolvidas dentro da
sos oferecidos e com a assinatura de missão do Instituto, pois não existem
protocolos de cooperação mútua com Rubens Machado Bittencourt palestrando receitas sem despesas associadas a
19 entidades nacionais e internacio- no 43º Congresso Brasileiro do Concreto elas. Por exemplo: a venda de um livro

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gera receita, que tem despesas asso-
ciadas, como produção, remessa e taxa
de cobrança. Estes custos não podiam
mais fazer parte dos custos de manu-
tenção da sede”, esclarece Bittencourt.
O primeiro encargo da diretoria de
certificação de mão de obra, a cargo
do Eng. Julio Timerman, foi apresen-
tar o Regulamento do Programa de Na primeira fase, o IBRACON focou explicou Julio Timerman na edição 55
Certificação de Pessoal do IBRACON, na certificação de profissionais respon- da Revista CONCRETO & Construções.
que trouxe as diretrizes para o funcio- sáveis pelo controle tecnológico do
namento das instâncias diretivas, ad- concreto: auxiliares, laboratoristas e 3.2 Fortalecimento
ministrativas e técnicas do programa. inspetores de laboratórios de controle da área editorial
O Regulamento foi aprovado em julho da qualidade de obras. A obtenção do e consolidação
de 2008. Ele criou o Conselho de Cer- certificado pelo profissional atesta que do Congresso
tificação, formado por nove profissio- possui conhecimentos das especifica-
nais de diferentes segmentos da cons- ções e dos procedimentos dos ensaios A gestão voltada para qualificação
trução civil, para discutir e homologar citados na ABNT NBR 15146, estando de profissionais na cadeia produtiva do
as diretrizes para certificação, além de apto a realizar as atividades de controle concreto levou também à publicação
validar os procedimentos do Núcleo de tecnológico do concreto. da tradução para o português do livro
Qualificação e Certificação de Pessoal, A primeira turma certificada ocor- “Concreto: microestrutura, proprieda-
a instância executiva, responsável por reu em julho de 2009. Os tecnologistas des e materiais”, best-seller dos profes-
conferir a documentação dos inscritos da Alphageos, ABCP, EPT e Imperflon sores Kumar Mehta e Paulo Monteiro,
no programa, agendar provas teóri- fizeram um exame teórico geral (que que gentilmente doaram seus direitos
cas e práticas com os examinadores e avaliou conhecimentos nas áreas de autorais de publicação ao IBRACON.
laboratórios credenciados, e encami- matemática, segurança do trabalho, Coordenado por Nicole Hasparyk,Pau-
nhar toda documentação para o Con- calibração de equipamentos, compor- lo Helene e Vladimir Paulon, a tradu-
selho de Certificação validar ou não os tamento em laboratório e manuseio ção do livro de 14 capítulos, totalizando
procedimentos, autorizando ou não de instrumentos), um exame teórico 674 páginas, envolveu vários profis-
a emissão do certificado profissional. específico (que avaliou o conhecimen- sionais de excelência, e foi lançada no
O Conselho de Certificação é respon- to em relação às normas técnicas) e 50º Congresso Brasileiro do Concreto,
sável ainda por validar as atividades um exame prático (rea-
dos Comitês Setoriais, formado por lização de três métodos
profissionais experientes que estabe- de ensaio de concreto
lecem competências, definem grade fresco). Numa etapa
curricular e requisitos a serem aten- posterior, fizeram uma
didos pelos candidatos que anseiam entrevista técnico-pe-
pela certificação. dagógica, onde cada
A autorização, concedida pelo In- candidato recebeu uma
metro (Instituto Nacional de Metrolo- avaliação dos aspectos
gia, Normalização e Qualificação In- positivos e negativos
dustrial), para o IBRACON realizar os levantados em seu pro-
procedimentos de certificação de mão cesso de avaliação.
de obra foi obtida em dezembro daque- “A certificação de
le ano. Com a autorização, o IBRACON pessoal é uma aspira-
se tornou a primeira entidade creden- ção antiga do IBRACON,
ciada para certificar profissionais no se- que vem se somar à sua
tor da construção civil no Brasil. missão de contribuir
Para se tornar um Organismo Cer- para o desenvolvimento
tificador de Pessoal (OPC), o IBRACON da cadeia produtiva do
precisou cumprir uma série de obriga- concreto, na medida em
ções e adequações de suas atividades que aumenta a confia-
aos procedimentos da norma brasileira bilidade dos resultados
ABNT NBR 17024, que regulamenta as dos ensaios de controle
atividades dos organismos certificado- tecnológico e reduz des- Candidato realiza exame prático para obter certificado
res de pessoas. perdícios no processo”, do Programa de Certificação de Pessoal do IBRACON

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em Salvador, em 2008. Desde que foi instituições no Brasil que conseguiram Concreto, além de ser também tema
lançado em 1992, o livro foi citado cen- chegar a um número tão expressivo de de um seminário paralelo. “A questão
tenas de vezes em dissertações e teses eventos como este”, registrou o diretor da sustentabilidade irá permear por to-
sobre o concreto e, por isso, é referên- de eventos do IBRACON, Prof. Tulio No- das as etapas dos processos produtivos
cia obrigatória para estudantes, pes- gueira Bittencourt, na edição 52 da Re- em escala global, incidindo de maneira
quisadores, professores e profissionais vista CONCRETO & Construções. muito aguda nos empreendimentos de
de engenharia civil e arquitetura. Foi na gestão de Rubens Bitencourt infraestrutura, os quais têm uma neces-
0 50º Congresso Brasileiro do Con- que houve também a consolidação sidade muito intensa de aplicação do
creto bateu todos os recordes das edi- da Revista IBRACON de Estruturas e concreto como material de construção”,
ções anteriores: em número de artigos Materiais – RIEM, formada a partir da justificou o diretor regional do IBRACON
submetidos, publicados e apresentados fusão das revistas eletrônicas Revista no Paraná, sede do evento, Prof. José
(413); em número de participantes (1418); IBRACON de Estruturas (RIEST) e Re- Marques Filho, no editorial da edição 55
em número de palestrantes; em núme- vista IBRACON de Materiais (RIMAT). A da Revista CONCRETO & Construções.
ro de expositores (63) na Feira Brasileira fusão visou contemplar a publicação de No 51º Congresso Brasileiro do Con-
das Construções em Concreto (FEIBRA- quatro edições anuais com 10 artigos creto, os profissionais de destaque do
CON), que, pela primeira vez, foi aberta científicos por edição, o que se manteve ano foram indicados pelos associados
ao público em geral, ao invés de ser re- e se ampliou desde então. Com a fina- e, pela primeira vez, escolhidos por uma
servada apenas aos inscritos no evento lidade de obter reconhecimento inter- comissão formada por profissionais re-
e, por isso, teve público recorde (4197). nacional, a RIEM publica os artigos em nomados. Por determinação do Conse-
“Organizar o 50º Congresso Bra- inglês, mas permitia inicialmente aos lho Diretor, foram conferidos prêmios a
sileiro do Concreto, em Salvador, foi autores a submissão dos manuscritos seis categorias apenas, alternando-se
um desafio. O mundo estava cercado em português ou espanhol, fazendo as categorias de um ano a outro.
em incertezas frente a crise financei- sua tradução após sua aprovação. Tal “Cada prêmio tem sua comissão for-
ra mundial de 2008. Os valores para procedimento permitiu aos profissio- mada por profissionais com formação
realização do evento foram bem mais nais não tão familiarizados com o in- relativa ao ele. Essas comissões analisam
altos que os valores registrados ante- glês comunicar seus trabalhos à comu- os indicados para cada categoria e escolhe
riormente. Praticamente, o balanço en- nidade científica internacional. entre os profissionais que mais se desta-
tre receitas e despesas previstas gerava Apesar da sustentabilidade na ca- caram na área de abrangência do prêmio,
saldo zero. Em razão disso, os almoços deia produtiva do concreto ser tema dando-lhe mais credibilidade”, pondera
tiveram que ser cortados dos valores debatido no seio do IBRACON de longa Rubens. Quanto à redução das categorias
das inscrições”, argumenta Rubens. data – em 2009 foi realizado o IX Semi- premiadas a cada ano,“foi para não consu-
Apesar disso, o evento se consolidou nário de Desenvolvimento Sustentável mir muito tempo na cerimônia de abertu-
como o maior evento técnico-científi- e Reciclagem na Construção Civil, pelo ra dos Congressos”, adiciona.
co nacional do setor construtivo, “uma Comitê Técnico do Meio Ambiente – ele No evento, foi assinado também
conquista memorável para uma insti- foi, pela primeira vez, incorporado aos um convênio entre o IBRACON e a Pe-
tuição, afinal de contas não são muitas temas do 51º Congresso Brasileiro do trobrás, para que o Instituto passasse a
certificar profissionais da empresa.
Por fim, os Comitês Técnicos foram
mais uma vez reformulados. Com o ob-
jetivo de agilizar o desenvolvimento de
práticas recomendadas e de contribuir
mais efetivamente com as discussões
técnicas no âmbito da ABNT, os Comitês
passaram a integrar entidades técnicas
de segmentos da cadeia do concreto,
como ABECE, ABCIC, ALCONPAT e IBI,
cujos membros passaram a contribuir
efetivamente com sua condução.
O primeiro Comitê Técnico com nova
constituição foi o CT 301 Projeto de Estru-
turas de Concreto, que passou a ser coor-
denado conjuntamente pelo IBRACON
e pela ABECE. Foi por meio do trabalho
deste Comitê que a ABNT NBR 6118 obte-
Auditório lotado para assistir a palestra do Prof. Paulo Monteiro durante o 50º Congresso ve seu registro na ISO, em 2008, tornan-
Brasileiro do Concreto do-se norma internacional. C

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Inspeção e Manutenção DOI: 10.4322/1809-7197.2022.106.0001

Reparo localizado para estruturas de


concreto armado: erros, acertos e reflexões
MARCELO H. F. DE MEDEIROS, https://orcid.org/0000-0003-3112-9715; PAULO A. DASCHEVI, https://orcid.org/0000-0002-2716-3091
EMANOEL C. ARAÚJO, emanoelcunhaa@gmail.com, https://orcid.org/0000-0001-7825-3479 – UFPR

R E S U M O

O reparo localizado é uma das técnicas mais


utilizadas pelos engenheiros para
reabilitação de estruturas de concreto armado. No entanto,
investiga as condições de compatibilidade dimensional, com
destaque para a retração e variações térmicas. Por fim, apre-
senta técnicas que podem ser aplicadas concomitantemente à
observa-se que este não tem sido efetivo em deter o processo realização do reparo, como a utilização de ânodos de sacrifí-
corrosivo e, frequentemente, é realizado repetidas vezes, com cio, a aplicação de proteção de superfície e o uso de inibidores
altos custos e sem sucesso. Nesse contexto, este artigo trata de corrosão migratórios. Com isso, são apresentados caminhos
do conceito do ânodo incipiente, que consiste no fenômeno da que podem mitigar os danos precoces citados e conduzir a re-
deterioração prematura dos reparos localizados. Além disso, paros efetivos e duráveis.

PALAVRAS-CHAVE: concreto, reparo localizado, compatibilidade, ânodo incipiente.

1. INTRODUÇÃO nível de dano considerado inaceitá- Desse modo, é fato que os repa-

A
Figura 1 mostra um es- vel. Após este momento, adentra-se ros adotados em muitas estruturas
quema da vida útil das no período da vida útil da estrutura estão falhando em cerca de 5 anos,
estruturas de concreto de concreto armado que é foco deste gerando a necessidade de reparos
armado, evidenciando o período de artigo, o momento em que são ne- repetidos e aumento significativo
iniciação que conta desde a produção cessárias ações de reabilitação, em no custo total da corrosão e do ciclo
da estrutura até o momento que um destaque na Figura 1. de vida das estruturas de concreto
processo de deterioração se instala e Em 2016, o custo total da corro- armado. Os motivos para as falhas
faz a corrosão de armaduras iniciar. são para vários países foi estimado prematuras permeiam pela falta de
Em seguida, entra-se no período de entre 4 e 10% do PIB, dos quais cerca rigor técnico na execução, pela incor-
propagação da corrosão, de modo de 50% é devido à corrosão em estru- reta especificação de materiais e pela
que o processo evolui até atingir um turas de concreto armado. De acordo economia nos sistemas de reparo (re-
com Krishnan et paros incompletos para reduzir cus-
al. (2021), o NACE to), de modo a não se atingir a estag-
Impact Report nação plena do processo de corrosão.
(2016) indica que Neste contexto, sabe-se que a cor-
≈ 50% das estru- rosão em estruturas reparadas costu-
turas de concre- ma reiniciar na interface entre o con-
to armado são creto antigo e a área reparada. Sendo
reparadas dentro assim, a corrosão pode continuar a
de 10 anos após a progredir dentro do concreto, mesmo
sua construção. após uma seção de concreto deterio-
Geralmente, a rado ter sido removida e substituída
solução adotada por um novo material de reparo. Isso
é a execução de geralmente é causado pela proteção
reparos localiza- insuficiente contra corrosão de verga-
dos. Contudo, lhões corroídos (Kim et al., 2016). Esses
existem relatos fatos indicam que um grande núme-
de que o reparo ro de estruturas de concreto armado
» Figura 1 localizado não é pode precisar de reparos repetidos
Esquema das fases da vida útil de uma estrutura capaz de impe- ao longo da sua vida útil, resultando
de concreto armado dir a corrosão de em uma demanda acima da neces-
armaduras. sária devido à falta de eficiência das

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a Antes do reparo b Depois do reparo

» Figura 2 » Figura 3
Composição de um sistema de reparo localizado Esquema da ocorrência típica do ânodo incipiente
Fonte: Adaptado de Helene (1992) e Emmons e Vaysburd (1996) Fonte: Adaptado de Ali et al. (2018)

intervenções por reparo. Portanto, usadas técnicas usuais de reparos substrato. A ocorrência de deteriora-
existe a necessidade de adotar uma localizados. Diante disso, os autores ção na zona de transição indica que a
estratégia de reparo adequada (Kam- recomendaram a adoção de medidas fragilidade da interface reparo-subs-
de et al., 2021), para evitar o uso inde- adicionais para supressão da corro- trato pode ser a causa para deflagrar
vido de recursos naturais e contribuir são, tais como proteção de superfí- o ânodo incipiente. Por outro lado, a
para o aumento da sustentabilidade cie por barreira, proteção catódica deterioração avançada em direção ao
do concreto armado. galvânica e redução da agressividade substrato evidencia maior possibili-
do ambiente. Também vale ressaltar dade de ocorrência do fenômeno em
2. FORMAÇÃO DE ÂNODOS que as bases metodológicas adota- virtude da própria contaminação do
INCIPIENTES das nesse trabalho foram replicadas substrato.
A realização de reparos localiza- em diversas pesquisas subsequentes, Com o objetivo de aprofundar o
dos é uma das técnicas mais difundi- com relevante contribuição para o conhecimento a respeito da deterio-
das para recuperação de estruturas entendimento do fenômeno. ração causada pelo ânodo incipiente
de concreto armado. O procedimen- As causas do ânodo incipiente e investigar práticas para a realiza-
to busca interromper o processo anó- são, atualmente, atribuídas a três ção de reparos duráveis, alguns es-
dico na área reparada, restaurando a fatores distintos: incompatibilidade tudos com reparos localizados têm
condição passiva das armaduras pela eletroquímica entre os materiais do sido realizados pelo Grupo de Pesqui-
substituição do concreto contamina- substrato e do reparo; fragilidade da sa de Patologia e Recuperação das
do por argamassa ou graute de repa- zona de transição; e contaminação Construções (PRC) da Universidade
ro. As etapas para realização do repa- pré-existente no substrato. A incom- Federal do Paraná (UFPR). Para tan-
ro estão ilustradas na Figura 2. patibilidade eletroquímica consiste to, foram moldados corpos de prova
Ainda assim, tem-se notado a na diferença de potencial de eletrodo com substratos contaminados por
ocorrência de corrosão na vizinhan- entre o trecho de aço imerso no subs- cloretos, aplicando-se diferentes tra-
ça do reparo pouco tempo depois de trato e o trecho imerso no reparo. A ços de argamassa. Esses corpos de
sua execução, mesmo nos casos em fragilidade da zona de transição, por prova passaram pelo monitoramento
que a intervenção tenha sido realiza- sua vez, provém do fato de que po- de corrente de corrosão (icorr), além de
da em estrita conformidade com as dem surgir fissuras nessa região por serem rompidos ao final de 500 dias
prescrições técnicas e normativas, conta de incompatibilidades dimen- para inspeção visual da deterioração
conforme ilustrado na Figura 3. Essa sionais e/ou do próprio processo de das armaduras.
deterioração precoce em reparos lo- preparação do substrato para a reali- Na inspeção destrutiva das ar-
calizados é usualmente denominada zação do reparo. Por fim, aponta-se a maduras na amostra reparada, ob-
ânodo incipiente. existência de contaminação ou fren- servou-se a deterioração severa no
No âmbito nacional, foram de- te de carbonatação remanescente no interior do substrato, em especial
senvolvidos trabalhos pioneiros substrato. no lado direito da amostra, confor-
como o de Helene e Monteiro (1993), No que se refere à localização, me apresentado na Figura 4-d. Por
que corrobora a ocorrência de mi- podem ser observados pontos de outro lado, também se observou
gração das células de corrosão para corrosão tanto na zona de transição concentração de corrosão na zona
as adjacências do reparo quando quanto em regiões no interior do de transição (Figura 4-b, c, e, f ),

& Construções
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típica do ânodo incipiente. O método mente, é caracterizado como uma priedades essenciais a serem avalia-
experimental e análise completa das fase do compósito com certa estabi- das no estudo da compatibilidade
amostras serão publicados posterior- lidade dimensional, ou seja, não irá dimensional dos reparos.
mente pelo PRC-UFPR. apresentar mudanças volumétricas
expressivas, visto que, as variações 3.1 Retração
3. COMPATIBILIDADE volumétricas provenientes da retra-
DIMENSIONAL ção já ocorreram. Quanto aos MRs, A retração é um fenômeno asso-
A compatibilidade entre material há uma gama ampla de produtos no ciado à perda de água para o ambien-
de reparo (MR) e substrato é alcan- mercado, sendo geralmente grautes te e para as reações de hidratação do
çada quando as propriedades físicas, e argamassas, à base cimentícia, mo- cimento, resultando em mudanças
químicas e eletroquímicas de ambos dificadas com polímeros, materiais volumétricas do material. Esse fenô-
os materiais são similares. A compa- cimentícios suplementares (MCS), meno tem grande influência na efi-
tibilidade dimensional é o principal fibras sintéticas, fillers, materiais ciência de técnicas de reparo, uma
critério a ser avaliado para a garan- poliméricos, resinas, grautes, entre vez que, o substrato de concreto já
tia da eficiência do reparo. As pro- outros. atingiu certa estabilidade dimensio-
priedades fundamentais associadas Por fim, entre o MR e o substrato nal. A Figura 5-a ilustra as três zonas
à variação volumétrica de MRs são: existe uma zona intermediária de li- de uma estrutura reparada: MR, ZT
a retração por secagem, módulo de gação entre as fases, nomeada aqui e substrato. A Figura 5-b exemplifica
elasticidade (E) e coeficiente de ex- como ZT. A ZT nas técnicas de repa- o reparo durante o fenômeno de re-
pansão térmica (CTE). ro, apresenta-se similar àquela en- tração. O MR retrai devido à perda de
Pode-se considerar a estrutura tre pasta e agregado, caracterizada água, porém, em razão da aderência
reparada como um compósito com como uma área porosa. As caracte- com o substrato, a movimentação é
três fases: rísticas da ZT definem o desempenho restringida. Essa movimentação res-
1. MR; do compósito reparado, particular- tringida ocasiona a formação de ten-
2. Zona de transição (ZT) e mente, quanto à aderência. A seguir, sões de cisalhamento na interface e,
3. Substrato de concreto. estão abordadas
O substrato de concreto, geral- algumas pro-

» Figura 5
Tensões atuantes devido às variações volumétricas

» Figura 4
Inspeção destrutiva de corpo de prova com
substrato contaminado por cloretos após reparo
(a) visão geral do corpo de prova; (b), (c) e
(d) ampliação da região de cima da armadura; (e)
» Figura 6
e (f) ampliação da região de baixo da armadura
Aparato para leitura da variação linear dimensional

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» Figura 7 » Figura 8 » Figura 9
Ligação entre MR (MREF) Ligação entre MR (MK05) Ligação entre MR (MK10)
e substrato e substrato e substrato

caso essas tensões superem a resis- dimensional da argamassa durante Dentre as propriedades térmicas,
tência de uma das fases, o processo a retração. A argamassa MREF apre- CET é dado pela variação dimensional
fissuratório se inicia no material me- sentou uma ZT com processo fissura- (linear e/ou volumétrica) ocasionada
nos resistente. tório pronunciado. Por outro lado, as pela mudança de 1°C de temperatura.
Um ensaio utilizado para avaliar argamassas MK05 e MK10 apresen- O concreto é um material cimentício
a estabilidade dimensional em arga- taram uma redução na quantidade multifásico formado por materiais
massas é apresentado na Figura 6, de de fissuras. Esse comportamento se com distintos CET. Essa propriedade
modo que a variação linear dimensio- deve à redução da retração ocasiona- é influenciada pelo volume de agre-
nal (VLD) é obtida usando prismas de do pelo MK. O resultado completo da gados na mistura, % de vazios, % de
25x25x285 mm. Com a VLD analisa-se pesquisa supracitada será publicado umidade, presença de MCS, entre ou-
a estabilidade dimensional em distin- posteriormente pelo PRC-UFPR. tros. Em técnicas de reparo que estão
tos tipos de cura. Sobre este tema, o expostas às intempéries ambientais,
ACI 546.3R recomenda que MRs de- 3.2 Propriedades térmicas como vertedouros de barragens com
vem apresentar retração < 0,10%. comportas fechadas e pavimentos
A utilização de MCS na compo- A compatibilidade térmica é de (Figura 10), o aquecimento gerado
sição de MR é uma das opções para extrema importância em situações pela radiação solar tende a aquecer a
a redução da retração. Além disso, onde há flutuações de temperaturas. superfície. A propagação desta ener-
essas adições atuam na melhoria de A Figura 10 exemplifica dois tipos de gia em forma de calor na estrutura
propriedades relacionadas à durabi- estruturas de concreto que estão, ge- irá depender do coeficiente de con-
lidade, seja como resultado das rea- ralmente, expostas a ciclos de aque- dução térmica (CCT). Em condições
ções pozolânicas e/ou pelo efeito fíler. cimento e resfriamento, secagem e das quais há uma incompatibilidade
Uma das adições de alta reatividade saturação, e, em alguns casos, ao entre o CET do MR e o substrato de
utilizada em materiais cimentícios é o choque térmico (aquecimento segui- concreto (ver Figura 10), variações
metacaulim (MK), produto da calcina- do de resfriamento brusco). dimensionais distintas irão surgir e
ção de argilas cauliníticas. ocasionar uma concentra-
As Figuras 7, 8 e 9 mostram ção de tensão na ZT.
a ZT entre três tipos de ar-
gamassas de reparo (tra- 4. EVITANDO
ço em massa de 1:3:0,5): PROBLEMAS
sem (MREF) e com substi- COM ÂNODOS
tuição parcial do cimento DE SACRIFÍCIO
Portland por MK nos teores A formação de ânodos
de 5% (MK05) e 10% (MK10) incipientes (Figura 11-a)
aos 28 dias após a aplicação pode levar a falhas prema-
no substrato. turas em até menos de 5
É possível observar que, anos depois da intervenção
em todas as argamassas, a por reparos localizados.
ZT é caracterizada como Neste contexto, um cami-
uma área porosa. Aliado nho para evitar falhas em
a isso, a formação de fis- » Figura 10 curto espaço de tempo é o
suras na ZT é relacionada Efeitos do aquecimento em estruturas reparadas uso da proteção catódica
com o comportamento por par galvânico a partir

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a b

» Figura 11
Efeito da proteção catódica com pastilhas de zinco: (a) corrosão típica de falha adjacente ao reparo;
(b) reparo com proteção catódica por par galvânico

de pastilhas de zinco, como mostra a ro e ânodos incipientes apresentam cos. No trabalho, foi demonstrada
Figura 11-b. tendência de ocorrerem, os ânodos uma redução de ≈ 90% no custo do
O ânodo galvânico é mais eletro- galvânicos corroem no lugar da ar- ciclo de vida com a implementação
negativo (≈ -1100 mV) do que o ver- madura de aço. Este efeito evita a fa- da proteção catódica, de modo que
galhão de aço carbono (≈ -350 mV, lha prematura do reparo e prolonga a os autores sugerem que os engenhei-
quando apresenta tendência de cor- vida útil da estrutura reparada. ros devem ter confiança para usar
rosão) (KAMDE et al., 2021). Os âno- De acordo com Krishnan et al. ânodos galvânicos, obtendo reparos
dos de zinco são conectados usando (2021), o reparo localizado com pro- duráveis e prolongamento da vida
arames de amarração ao vergalhão teção catódica pode aumentar a útil de estruturas reparadas.
e o concreto atua como condutor vida útil em cerca de 20 anos. Apesar
iônico. Desse modo, a diferença de disso, a proteção catódica usando 5. EVITANDO PROBLEMAS COM
potencial entre o ânodo galvânico e ânodos galvânicos não está sendo PROTEÇÃO DE SUPERFÍCIE
o aço carbono é maior do que a dife- considerada por muitos profissionais Um caminho para obter estruturas
rença de potencial entre o trecho do devido ao mito das implicações de de concreto armado reparadas e com
aço na área de reparo localizado e o custo excessivo. Krishnan et al. (2021) vida útil residual estendida é proteger a
trecho na área do concreto antigo. analisaram o custo de ciclo de vida de superfície dos elementos após a execu-
Portanto, quando os ânodos galvâni- reparos em estruturas de concreto ção dos reparos localizados (Figura 12-a).
cos são colocados nas áreas de repa- armado com e sem ânodos galvâni- Esta indicação é importante porque,

a b

» Figura 12
(a) Proteção de superfície na estrutura após a execução de reparos localizados; (b) Efeito da proteção de
superfície na redução da corrente de corrosão

32 | & Construções
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estando a estrutura com o processo de de concreto armado expostos à car- prietário de um carro troque algumas
corrosão de armaduras instalado (mas bonatação e aos íons cloreto. Neste peças e contrate serviços periodica-
agora reparado nos pontos críticos), o contexto, os inibidores de corrosão mente. Este procedimento é típico de
efeito da proteção de superfície é de- migratórios podem ser aplicados na manutenção preventiva, prática pou-
sacelerar a corrosão de armaduras pela superfície do concreto armado na for- co aplicada na construção civil.
restrição do ingresso de água e/ou oxi- ma líquida e atingirem a superfície do É exatamente este conceito que
gênio para o interior do concreto. Esta aço migrando através do concreto por precisa ser estendido para as edifica-
afirmação é correta porque a cinética capilaridade e por difusão. Chegando ções, o usuário deve se conscientizar
das reações de corrosão de armaduras na superfície das armaduras, os ini- que uma edificação não é um bem
é altamente dependente da quantida- bidores se depositam por atração po- eterno e sua durabilidade será maior
de de eletrólito nos poros do concreto. lar, formando uma camada protetora ou menor em função da manutenção
A Figura 12-b evidencia a eficácia de al- monomolecular no aço carbono. realizada ao longo da sua vida útil.
guns sistemas de proteção de superfície Os inibidores de corrosão migra- O reparo localizado é uma ferra-
quando aplicados sobre uma estrutura tórios mais usados são sais de ami- menta dentro deste panorama de
de concreto armado contaminada com na, produtos à base de aminoálcool e reabilitação das estruturas de con-
1% de cloretos. monofluor fosfato de sódio. creto armado. Porém, este artigo
Não se pode esquecer que a efici- Como o tema deste artigo é a ob- evidenciou situações de falhas pre-
ência de uma proteção de superfície é tenção de serviços de reparos locali- maturas do reparo localizado, como
diminuída ao longo do tempo de ex- zados duráveis e sabendo da tendên- a deterioração localizada na zona de
posição ao meio ambiente. Também cia à formação de ânodos incipientes, transição, mesmo quando sua execu-
deve-se ter em mente que o tempo a aplicação de inibidores migratórios ção segue adequadamente as orien-
de vida útil da pintura é menor do é apresentado como um caminho tações da literatura técnica. Desse
que a esperada para a estrutura repa- para o aumento da durabilidade das modo, se faz recomendável a adoção
rada. Desse modo, o caminho do su- estruturas de concreto armado repa- de medidas adicionais, como ânodos
cesso para os produtos de proteção radas. Neste caso, a aplicação deve de sacrifício, proteção de superfície
de superfície para concreto está no ser feita nos elementos reparados de e aplicação de inibidores de corro-
estabelecimento de um programa de modo que o efeito da inibição atue são. Com isso, busca-se tornar mais
manutenção, com previsão de reno- principalmente no substrato de con- robusta a proteção promovida pelos
vação para garantir o nível de prote- creto reparado, que é o local de mani- reparos localizados e proporcionar
ção requerido. festação dos problemas relacionados intervenções mais duráveis.
à ocorrência dos ânodos incipientes.
6. EVITANDO PROBLEMAS AGRADECIMENTOS
COM INIBIDORES DE 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os autores agradecem à Universi-
CORROSÃO MIGRATÓRIOS É importante que os usuários en- dade Federal do Paraná (UFPR), ao PP-
Pode-se dizer que o emprego de tendam as edificações como algo que GEC-UFPR, ao CESEC-UFPR, à CAPES,
inibidores aumenta a resiliência à necessita de manutenções periódicas. à Agência Nacional de Águas (ANA), à
corrosão de armaduras dos sistemas Neste contexto, é aceito que o pro- Fundação Araucária e ao CNPq. C

» REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE (ACI), 546.3R – Guide to Materials Selection for Concrete Repair. Farmington Hills, 2014.
[2] ALI, M. S. et al. An experimental study of electrochemical incompatibility between repaired patch concrete and existing old concrete.
Construction and Building Materials, v. 174, p. 159–172, 2018.
[3] EMMONS, P. H.; VAYSBURD, A. M. System concept in design and construction of durable concrete repairs. Construction and Building
Materials, v. 10, n. 1, p. 69–75, 1996.
[4] HELENE, P. R. L. Manual para reparo, reforço e proteção de estruturas de concreto, 2 ed. São Paulo: PINI, 1992.
[5] HELENE, P. R. L.; MONTEIRO, P. J. M. Reparos localizados podem ser considerados soluções eficientes para correção de problemas
de corrosão de armaduras em estruturas de concreto armado? Congresso Iberoamericano de Patologia de La Construction, v. 2,
p. 80-89, 1993.
[6] KAMDE, D. K. et al. Long-term performance of galvanic anodes for the protection of steel reinforced concrete structures. Journal of
Building Engineering, v. 42, p. 103049, 2021.
[7] KIM, M. O. et al. Cracking and failure of patch repairs in RC members subjected to bar corrosion. Construction and Building Materials,
v. 107, p. 255-263, 2016.
[8] KRISHNAN, N. K. et al. Long-term performance and life-cycle-cost benefits of cathodic protection of concrete structures using galvanic
anodes. Journal of Building Engineering, v. 42, p. 102467, 2021.

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Inspeção e Manutenção

Recuperação estrutural emergencial de


52 estacas da ponte rodoviária A Tribuna
RICARDO BONI; DOUGLAS COUTO; PAULO HELENE – PhD Engenharia

1. APRESENTAÇÃO, DESCRIÇÃO Corrêa entre 1987


SUCINTA E BREVE HISTÓRICO e 1995, foi con-
DA PONTE A TRIBUNA cluído em 1995. O

A
Ponte Jornal A Tribuna, projeto estrutural
conhecida popularmente da Ponte Rodovi-
como Ponte dos Barreiros, ária foi elaborado
ou ainda, simplesmente, como Ponte pelo escritório de
A Tribuna, possui 623 metros de com- Engenharia Zuc-
primento e se localiza no município de colo para uma
São Vicente/SP, sobre o Mar Pequeno carga móvel clas-
(Fig. 1). se 36 da norma
A ponte interliga o bairro de Sama- NB1/1960.
ritá ao bairro Esplanada dos Barreiros, A OAE foi
localizados nas áreas continental e projetada em
insular do município de São Vicente, p r a t i c a m e n te
respectivamente. Desempenha um pa- toda sua exten- » Figura 1
pel relevante no desenvolvimento da são em estrutu- Localização da ponte A Tribuna
região continental da cidade e é uma ra de concreto Fonte: www.google.com.br/maps

alternativa de ligação viária da área com resistência


insular com o município vizinho de à compressão
Praia Grande. fck
≥ 18 MPa. Apenas um dos vãos, loca- sentada na Fig. 3) possui, no total, 59
Ao longo de toda extensão da Ponte lizado na região de maior profundidade tramos horizontais, sendo:
A Tribuna coexistem dois eixos de dife- do canal (8 m, aproximadamente), foi a) 1 tramo de 40 m de vão, construído
rentes modais de transporte: um ferro- construído com vigas longarinas me- com longarinas metálicas;
viário e outro rodoviário (Fig. 2). tálicas (h = 1,5 m), para aumentar a dis- b) 30 tramos em concreto armado com
O eixo ferroviário foi previamente tância entre apoios e permitir o tráfego aproximadamente 12,5 m de vão cada;
construído pela Companhia Estrada de seguro de embarcações de pequeno e c) 28 tramos em concreto armado com
Ferro Sorocabana, concluído em 1955 e médio calado que circulam na região e aproximadamente 7,5 m de vão,
desativado em 2003. O eixo rodoviário, transitam sob a ponte. A Ponte Rodovi- também chamados de quadrantes
construído pela Construtora Camargo ária A Tribuna (vista longitudinal apre- ou cavaletes.
Cada um dos tramos da OAE possui
5 longarinas que apoiam um tabuleiro
com 11,2 metros de largura. A Ponte Ro-
doviária A Tribuna possui um total de
282 estacas, distribuídas em 2 eixos lon-
gitudinais, que se desenvolvem ao lon-
go de toda sua extensão, denominados
eixos B (166 estacas) e C (116 estacas),
como observado na Fig. 4.
Apenas como registro, convém
mencionar que a Ponte Rodoferroviá-
» Figura 2 ria A Tribuna ainda possui mais um eixo
Corte transversal adaptado do Projeto Estrutural n. 12.01.005-C1/006 longitudinal de estacas (denominado
(à esquerda) e vista aérea da ponte A Tribuna (à direita) eixo A, com mais 166 estacas). Entre-
Foto: atribuna.com.br/cidades/saovicente tanto, este eixo se localiza sob a ferro-
via atualmente desativada e, portanto,

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2019, o Tribunal de Justiça de São Paulo
(TJ-SP), por meio da Comarca de São Vi-
cente, determinou a interdição total do
tráfego de veículos, impactando o dia a
dia de milhares de pessoas, pois nenhu-
ma intervenção foi realizada na ponte
até essa data.
É importante registrar que a OAE
» Figura 3 está localizada em um ambiente de
Vista longitudinal da OAE, reproduzida do Projeto Estrutural agressividade muito forte e de eleva-
n. 12.01.005-C1/006 do risco de deterioração da estrutura.
Atualmente, de acordo com a NBR 6118:
2014, a classe de agressividade ambien-
considerando o foco deste trabalho, caminhões com no máximo dois ei- tal a ser considerada neste caso é a CAA
não merece destaque. xos) a uma velocidade de no máximo IV (respingos de maré).
Ainda, no contexto deste artigo, 40 km/h. Diante desse cenário, em janeiro de
convém destacar as estacas do eixo C. Ainda, o Relatório Técnico n. 2020, visando resolver o problema, ti-
Estas são metálicas, de seção circular 155.235-205/2019, emitido pelo IPT, re- veram início os serviços de recuperação
vazada com parede de 3/8” de espessu- comendou recuperar imediatamente estrutural da OAE, que envolveram a
ra (aproximadamente 1 cm) e possuem 50 estacas, todas localizadas no eixo inspeção com ênfase no sistema estru-
diâmetro externo de 40 cm. Estima-se C da OAE, pois havia o risco de colap- tural, elaboração de projeto básico, um
que foram cravadas a uma profundi- so estrutural parcial. Em novembro de projeto executivo e acompanhamento
dade de 50 m abaixo do leito do canal,
tendo como base o perfil geológico da
sondagem utilizada no projeto original,
que indica, a essa profundidade, uma
areia fina e média muito compacta.
Metade das estacas do eixo C (83 esta-
cas) foram cravadas propositalmente
com inclinação de 1/12 (ângulo de 4,8°
com a vertical), como indicado à es-
querda na Fig. 5.
Registra-se que o núcleo dessas
estacas foram preenchidos (do topo
até uma profundidade de 2 m abaixo
do leito do canal) com concreto de » Figura 4
resistência à compressão fck ≥ 15 MPa. Corte transversal da ponte rodoviária A Tribuna – Projeto Estrutural
Essa região é armada com 5 barras n. 12.01.005-C1/006
longitudinais de aço CA-50 de bitola
Ø 25 mm, com estribos Ø 12,5 mm a
cada 50 cm (cobrimento de 4 cm = 3
cm de concreto + 1 cm de chapa me-
tálica), como evidenciado à direita na
Fig. 5.
Em janeiro de 2019, ou seja, 32 anos
após o início de construção da OAE,
uma inspeção técnica realizada pelo
Centro de Tecnologia de Obras de In-
fraestrutura do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo
(IPT) identificou manifestações patoló-
gicas estruturais relevantes e a Ponte » Figura 5
Rodoviária A Tribuna foi parcialmente Vista dos quadrantes da Ponte Rodoviária A Tribuna – Projeto Estrutural
interditada. Na oportunidade, permi- n. 12.01.005-C1/003 (à esquerda) e detalhe de estaca do eixo C –
tiu-se apenas a passagem de veículos projeto estrutural n. 12.01.005-C1/010 (à direita)
leves (carros, microônibus, ônibus e

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técnico de obra (ATO). Todos esses 2. INSPEÇÃO TÉCNICA uma inspeção extraordinária na Pon-
serviços foram realizados em caráter Visando reestabelecer os requisitos te Rodoviária A Tribuna com ênfase
emergencial pela PhD Engenharia. de segurança estrutural, funcionali- no sistema estrutural, incluindo seus
Adiante, descreve-se cada uma das eta- dade e durabilidade da OAE, durante elementos submersos (estacas). Estes
pas envolvidas. o mês de janeiro de 2020 foi realizada serviços foram realizados de acordo
com as premissas da NBR 9452: 2019,
as exigências estabelecidas no termo
de referência elaborado pela Prefeitura
Municipal de São Vicente e incluíram
anamnese, identificação de anomalias,
quantitativo, mapeamento, registro,
documentação e relatório fotográfico.
Os serviços de inspeção foram exe-
cutados em um período de 20 dias (entre
as datas 09/01/2020 e 29/01/2020) em
toda a extensão da OAE e envolveram:
(1) Inspeção visual dos elementos estru-
turais imersos (até a cota de fundo
do canal) e emersos da OAE (estacas,
» Figura 6
blocos, travessas, longarinas, trans-
Embarcação de apoio (à esquerda) e equipamento de comunicação e
monitor (à direita) utilizados na inspeção submersa das estacas da OAE versinas, aparelhos de apoio, tabulei-
ro, juntas de dilatação e encontros);
(2) Detecção de barras de aço, aferição
das dimensões, prumos e alinha-
mentos dos elementos estruturais e
verificação da aderência com o esta-
belecido no projeto original;
(3) Extração de testemunhos de con-
creto e ensaios laboratoriais para a
determinação da resistência à com-
pressão, módulo de elasticidade,
ultrassom etc.
A inspeção visual dos elementos
estruturais submersos foi realizada
com a colaboração de uma equipe de
» Figura 7 mergulhadores profissionais, uma em-
Detalhe do fuste imerso de duas estacas distintas localizadas no barcação de apoio e equipamentos de
eixo C da OAE gravação de imagens submersas e de
comunicação (Fig. 6).
As imagens dos elementos estrutu-
rais submersos (estacas) eram transmi-
tidas para a embarcação de apoio, anali-
sadas e cadastradas imediatamente pelo
engenheiro responsável, que orientava
os mergulhadores durante os serviços
por meio do sistema de comunicação.
Essa inspeção submersa também
envolveu a elaboração de croquis, ma-
peamento, relatório fotográfico e a
gravação de imagens de todo o períme-
tro submerso do fuste da estaca, da su-
perfície d’água ao leito marinho. A Fig.
» Figura 8 7 evidencia imagens do fuste de duas
Detalhe do fuste emerso de duas estacas distintas localizadas em estacas distintas localizadas no eixo C
trechos de respingo de maré, no eixo C da OAE da OAE, a uma profundidade de aproxi-
madamente 6 m.

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Nas inspeções visuais da região
emersa da OAE, foram utilizados barcos
motorizados menores, que permitiam
rápido e fácil acesso aos locais de inspe-
ção, além da proximidade necessária.
Como resultado, observou-se que a re-
gião mais comprometida da estrutura
eram as estacas, no trecho localizado
na zona de variação de maré (ZVM) ou
respingos de maré (Fig. 8).
De maneira geral, no trecho de res-
pingos de maré, a camisa metálica das
estacas (1 cm de espessura) já havia sido » Figura 9
totalmente corroída, as barras de aço Detalhe da ausência de camisa metálica, fissura observada no núcleo
longitudinais (Ø 25 mm) apresentavam de concreto e armadura do fuste corroída com estribo seccionado em
estado avançado de corrosão e os es- duas estacas distintas localizadas no eixo C da OAE
tribos (Ø 12,5 mm) já estavam, em mui-
tos casos, seccionados. Observou-se
também que as estacas apresentavam
manchas, fissuras verticais com aber-
turas de até 5 mm e desplacamentos de
concreto (Fig. 9).
Notou-se que o mecanismo prepon-
derante de deterioração era a despassi-
vação das armaduras devida à névoa
marinha e presença de elevado teor de
cloreto, sendo que as fissuras e des-
placamentos de concreto observados
eram decorrentes das forças de expan-
são exercidas pelos produtos de corro-
são das barras de aço. » Figura 10
Observou-se também que algumas Detalhe da ausência de camisa metálica e presença de material friável
estacas apresentavam concreto friável no núcleo da estaca, na região de encontro com o bloco da OAE
na região de encontro com os blocos (topo da estaca)
de coroamento (Fig. 10). Muito prova-
velmente, esta não conformidade está
relacionada com procedimentos execu- percentual de aproximadamente essas fissuras chegam, em alguns
tivos inapropriados, que não previam 20% do total de estacas da OAE (es- casos, a 5 mm;
o extravase de concreto, quando do ses elementos estavam distribuídos (5) Há, em diversas estacas, casos de
preenchimento do núcleo das estaca ao longo dos 623 m da OAE, ou seja, desplacamentos de concreto e ar-
e consequente exsudação e provável em todos os quadrantes havia esta- maduras expostas em avançado
acúmulo de material contaminado no cas a serem recuperadas); estágio de corrosão na ZVM e res-
topo. Dado o avançado estado de de- (3) A situação das estacas na região pingos de maré - inclusive foram
terioração desses elementos de funda- submersa, de maneira geral, é bem observadas armaduras seccionadas
ção, optou-se por não extrair testemu- menos preocupante, mas a zona de (estribos) pela corrosão;
nhos da infraestrutura da ponte. variação de maré (ZVM) ou respin- (6) Em alguns casos, observou-se, no
Como resultado geral das inspeções gos de maré são as regiões onde se núcleo da estaca, a presença de
das estacas da OAE, concluiu-se que: encontram as manifestações pato- material muito friável, na região de
(1) As estacas são os elementos estru- lógicas mais relevantes nas estacas encontro com os blocos - nesses ca-
turais mais deteriorados da OAE e (nessas regiões, em todos os casos, sos, há perda de seção significativa
que carecem de mais atenção; houve perda da camisa metálica); no fuste.
(2) Identificou-se, durante a inspeção (4) Quase que a totalidade das esta- De acordo com Tabela E.1 “Caracteri-
extraordinária, a necessidade da re- cas apresentam, na região emersa zação dos elementos estruturais segundo a
cuperação imediata de 52 estacas (2 e ZVM, o núcleo de concreto com relevância no sistema estrutural” do Anexo
a mais do que foi inicialmente pre- fissuras verticais de aberturas wk E (informativo) “Referência de classificação
visto pelo IPT), o que representa um superiores a 1 mm - registra-se que da OAE” da NBR 9452: 2016, as estacas

& Construções
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como: iluminação, drenagem, pavi-
mentação, sinalização etc. (trata-se
de uma etapa mais abrangente e
com maior aporte de recursos).
Registra-se que as intervenções es-
truturais realizadas nas fases 1 e 2 con-
templavam a recuperação e o reforço de
» Figura 11 elementos da infra, meso e superestrutu-
Detalhe de projeto indicando em vermelho a região de encamisamento ra, pois o termo de referência elaborado
das estacas (regiões imersa e emersa), detalhe antes e depois pela PMSV previa como diretriz básica de
projeto o aumento da capacidade de car-
ga da OAE. Sendo assim, desde a elabora-
são um dos elementos principais (P) da 3. PROJETO EMERGENCIAL DE ção do projeto básico da fase 1 (emergen-
OAE, cujo dano pode ocasionar o colap- REABILITAÇÃO ESTRUTURAL cial), considerou-se o desenvolvimento
so parcial ou total da estrutura. Em virtude da necessidade e urgên- de um projeto para um aumento de car-
Sendo assim, por meio da utiliza- cia da liberação do tráfego sobre a Ponte ga considerando o trem tipo rodoviário
ção da Tabela E.2 “Nota de classificação Rodoviária A Tribuna, o plano de ataque brasileiro TB-450 da NBR 7188: 2013.
da OAE segundo os parâmetros estru- adotado pela Prefeitura Municipal de São Como sugere o título deste artigo téc-
turais” da mesma norma e com base Vicente – PMSV (responsável pela manu- nico, adiante seguem detalhadas apenas
no que foi observado nas inspeções, tenção da OAE) para reabilitação estru- as considerações acerca do projeto de
atribuiu-se uma nota de classificação tural, incluindo a elaboração do projeto, intervenção emergencial em 52 estacas
1 (crítica) para a infraestrutura inspe- foi dividido em duas etapas distintas para identificadas pelo IPT e comprovadas pela
cionada da Ponte Rodoviária A Tribu- contratação dos serviços, são elas: PMSV durante a inspeção como as mais
na. Ou seja, existem danos que geram (1) Fase 1: intervenção emergencial deterioradas da estrutura e que careciam
grave insuficiência estrutural na OAE nos elementos estruturais da infra, de reabilitação imediata para a liberação
e há elementos estruturais em estado meso e superestrutura da OAE que parcial do tráfego de veículos, apesar do
crítico, com risco tangível de colapso se encontravam demasiadamente projeto executivo emergencial também
estrutural. deteriorados, de maneira que a exe- contemplar intervenções em elementos
No que se refere à classificação se- cução desses serviços fossem sufi- da meso e superestrutura da OAE.
gundo parâmetro de durabilidade, com cientes para permitir a liberação do Tendo em vista que o termo de refe-
base na inspeção especial e na Tabela E.4 tráfego de veículos leves. rência da PMSV exigia o aumento da capa-
“Classificação segundo parâmetro de durabi- (2) Fase 2: intervenção nos demais cidade de carga da OAE, inicialmente foi
lidade”, atribuiu-se também uma nota de elementos estruturais não con- necessário efetuar uma verificação das es-
classificação 1 (crítica). Ou seja, a OAE en- templados inicialmente na etapa tacas para um trem tipo TB-450, uma vez
contra-se em elevado grau de deteriora- emergencial, além da recuperação e que não havia previsão para a cravação
ção, com riscos estruturais e funcionais. melhorias em outros sistemas, tais de novas estacas, em virtude do caráter
emergencial dos serviços.
Considerando as informações conti-
das no projeto original, bem como o le-
vantamento geométrico e observações
gerais em campo efetuados durante a ins-
peção, após verificação, constatou-se que
a seção de aço circular vazada das estacas
existentes atendiam ao aumento da capa-
cidade de carga considerada, desde que as
recuperações e tratamentos das manifes-
tações patológicas observadas nas esta-
cas fossem realizadas.
Sendo assim, foi elaborado o projeto
de recuperação para as 52 estacas dema-
siadamente deterioradas. O projeto de
recuperação consistiu no encamisamento
» Figura 12 do fuste e consequente aumento da área
Detalhe de projeto das etapas de execução para reabilitação emergencial da seção circular da estaca. Este encami-
das 52 estacas samento do fuste foi projetado para ser
executado na região superior da estaca

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(local onde foram observadas as manifes-
tações patológicas mais relevantes), des-
de o encontro com o bloco de fundação
até uma profundidade de 2 m abaixo da
maré média, como destacado em verme-
lho, à direita na Fig. 11.
O projeto estrutural emergencial de
recuperação especificou que o encami-
samento das regiões imersa e emersa » Figura 13
dos fustes das estacas fosse realizado
Detalhe da produção e lançamento do graute UW durante a execução
do reforço estrutural das estacas
com graute para aplicação subaquática
(graute UW), de resistência à compres-
são fck ≥ 40 MPa. Além disso, foram pre-
vistas armaduras longitudinais com di-
âmetros de até Ø 20 mm, com estribos
Ø 8 mm a cada 5 cm, que corresponde
a taxas de armadura variando entre 170
até 205 kg/m3 de concreto. Ou seja, tra-
ta-se de uma intervenção que envolve o
encamisamento da estaca com concre-
to densamente armado.
Visando à garantia da vida útil e du-
rabilidade, o cobrimento nominal de
concreto das armaduras especificado em
projeto é de 7 cm, ou seja, é um cobrimen-
» Figura 14
to superior à exigência da NBR 6118: 2014 Detalhe da montagem da armação de reforço das estacas
para uma CAA IV.
Na extremidade superior das estacas
(10 cm superiores), no encontro do fuste
com o bloco de coroamento, em função
da dificuldade de preenchimento com
graute, especificou-se a utilização de
argamassa estrutural industrializada, ti-
xotrópica de resistência à compressão fck
≥ 40 MPa, não retrátil, com agente ade-
sivo e inibidor de corrosão integrados.
Ressalta-se que essa resistência também
atende às exigências para garantia da du-
rabilidade estabelecidas no item 7.4 “Qua-
lidade do concreto de cobrimento” da NBR
6118: 2014 para a classe de agressividade » Figura 15
considerada (CAA IV). Detalhe da montagem das fôrmas para reforço das estacas
O projeto especifica a ancoragem quí-
mica das barras longitudinais nos blocos
de coroamento com resina epóxi tixotró- A Fig. 12 apresenta as etapas da re- to estrutural. Também foi especificada a
pica, dotada de sistema de injeção e bico cuperação das estacas consideradas no adição de inibidor de corrosão orgânico
misturador a uma profundidade de 30 e 35 projeto estrutural emergencial desde a de base carboxilato de amina na propor-
cm (para barras de Ø 16 mm e Ø 20 mm, preparação superficial até o preenchi- ção de 600 ml por m3 de graute e a cura
respectivamente). Ainda, para auxiliar a mento das fôrmas. Registra-se que foi úmida na região emersa. O inibidor de
montagem das armaduras, foram previs- especificado graute UW (under water), corrosão foi adicionado previamente à
tas emendas com luvas de compressão. industrializado, com aditivo antisegre- água de amassamento para depois ser
Resumidamente, a estaca tubular pro- gante nas regiões emersa e imersa da incorporado à mistura. O inibidor utili-
posta como melhor alternativa de reabili- estaca, visando facilitar a execução dos zado forma, na superfície do aço, uma
tação das estacas deterioradas tem uma serviços e evitar possíveis não conformi- película monomolecular protetora que
capacidade nominal de confinar com ten- dades relacionadas com a aplicação de funciona como uma barreira e reduz sig-
são de até 4,4 MPa. diferentes produtos no mesmo elemen- nificativamente as taxas de corrosão.

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 39
Esses serviços envolveram a limpeza
superficial do fuste das estacas, anco-
ragem química e emendas com luvas
de armaduras, montagem da armação,
montagem das fôrmas, concretagem
imersa e emersa com graute UW, aplica-
ção de argamassa estrutural na região
de encontro com o fundo do bloco, cura
» Figura 16 e controle tecnológico dos materiais.
Detalhe da execução da cura úmida por meio da utilização de
No que se refere aos materiais utili-
água potável
zados (graute UW, argamassa estrutu-
ral, inibidor de corrosão e resina epóxi),
4. ACOMPANHAMENTO TÉCNICO das 52 estacas da OAE. Desde o início, constatou-se que esses estavam de
DE OBRAS (ATO) procedeu-se à supervisão e orienta- acordo com as especificações de proje-
Em abril de 2020, apenas 2 meses ção in loco dos serviços de reabilita- to, dentro do prazo de validade e arma-
após o desenvolvimento e aprovação ção das estacas por meio de contra- zenados corretamente.
do projeto executivo, tiveram início os to de acompanhamento técnico de Nas Fig. 13 a 16, estão apresentadas
serviços de recuperação emergencial obra (ATO). algumas das etapas executivas de reabi-
litação das estacas da Ponte Rodoviária
A Tribuna, incluindo as etapas de prepa-
ração do substrato, montagem da arma-
ção, fôrmas, grauteamento e cura úmida
da região emersa com água potável.
Como resultado, nota-se, na Fig. 17,
o bom aspecto visual e o acabamento
superficial do fuste de uma das 52 es-
tacas reabilitadas durante os serviços
emergenciais, região emersa e imersa.
Todas as etapas de serviços realiza-
dos nas estacas, tanto no trecho sub-
merso quanto no trecho emerso, foram
registradas por vídeos e fotos de manei-
» Figura 17 ra a compor o acervo técnico de obra.
Detalhe do aspecto visual e acabamento superficial do concreto Foram elaboradas fichas de verificação
emerso e imerso de serviços de cada uma das etapas
de reabilitação.
No que se refere à resistência à com-
pressão, conforme estabelecido nas
notas de projeto, é importante regis-
trar que, em todos os casos (graute e
argamassa) e para todos os elementos
estruturais reabilitados, foram previs-
tos ensaios em corpos de prova em vá-
rias idades, até 63 dias.
Ainda sobre a resistência à compres-
são do graute UW aplicado na reabilita-
ção das estacas, a Fig. 18 apresenta gra-
ficamente a carta de valores individuais
indicando as resistências à compressão
aos 28 dias de idade, conforme resulta-
dos obtidos durante o controle tecnoló-
gico realizado por amostragem parcial.
» Figura 18 Conforme subitem 6.2.3.2 “Controle
Carta dos valores individuais efetivos indicando a resistência à estatístico do concreto por amostragem
compressão aos 28 dias de idade parcial” da NBR 12655: 2015 e conside-
rando os critérios de formação dos lotes

40 | & Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
da mesma norma, foi possível estimar como a apresentação de relatórios de do tipo ônibus urbano de 17,4 tf (com
a resistência à compressão do graute ensaios, fichas de verificação de serviço 11 tf e 6,4 tf em cada eixo) e do tipo
UW. Por meio da utilização da fórmula, (FVS) e demais documentos técnicos de caminhões do corpo de bombei-
constatou-se que, em todos os casos, comprobatórios da qualidade dos ser- ros de 15,64 tf de carga total (10,02
a resistência obtida atendeu às exigên- viços e dos materiais utilizados, a OAE tf e 5,62 tf em cada eixo) respeitada
cias de projeto. Procedimento de con- foi liberada parcialmente para o trânsi- a distância de 100 metros entre os
trole tecnológico análogo foi realizado to de veículos em agosto de 2020, nas veículos para cada mão de direção e
para a argamassa estrutural e os resul- seguintes condições: a velocidade máxima de 40 km/h.
tados também foram conformes. » Veículos leves: podem trafegar A liberação do tráfego nessas con-
pela ponte motos, carros de passeio, dições foi feita pelo Tribunal de Justiça
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS utilitários, SUV´s, camionetes e mi- do Estado de São Paulo com base no
Após a execução de todos os ser- croônibus; Parecer Técnico do IPT, após rigorosa
viços emergenciais de reabilitação » Veículos pesados: liberação de trá- vistoria in loco e análise dos documen-
considerados em projeto (Fase 1), bem fego, nos dois sentidos, de veículos tos apresentados. C

» REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 6118:2014 v Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de
Janeiro 2014. 238p.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 7188:2013 – Carga móvel rodoviária e de pedestres em pontes, viadutos,
passarelas e outras estruturas. Rio de Janeiro 2013. 14p.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 9452:2019 – Inspeção de pontes, viadutos e passarelas de concreto –
Procedimento. Rio de Janeiro 2019. 48p.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 12655:2015 – Concreto de cimento Portland – Preparo, controle,
recebimento e aceitação – Procedimento. Rio de Janeiro 2015. 23p.

& Construções
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Inspeção e Manutenção

Mudança de vocação e revitalização


de terminais portuários
ANTONIO CARMONA FILHO – TIAGO G. CARMONA – THOMAS G. CARMONA – CAIO W. DE SOUZA, Carmona Engenharia

R E S U M O

A mudança de vocação ou revitalização de


terminais portuários é fundamen-
tal para a modernização das operações e atendimento da demanda
limites relativos à segurança e utilização para as novas ações resul-
tantes das alterações. As alterações mais comuns são: a criação de
novos dolfins de atracação ou amarração, instalação de defensas
nacional. Para essas intervenções, tornam-se necessárias inspeções, mais modernas e novos cabeços em estruturas existentes, obras de
emersas e submersas, investigações das características físicas dos rebaixamento, aumento de largura dos píeres para adequação de
materiais e cadastros, devido à dificuldade de se obter os projetos carregadores e descarregadores que substituem antigos guindastes e
originais das estruturas ou dados da obra. Ainda é necessário rea- melhorias de infraestrutura. Este artigo apresenta os diversos tipos
lizar uma avaliação criteriosa da geometria das novas estruturas a de reforço, recuperação e proteção e as técnicas e materiais empre-
serem construídas, objetivando não prejudicar a operação do ter- gados para atender às necessidades dos terminais, inclusive comple-
minal, bem como a realização de retroanálise verificando os estados mentando a vida útil residual necessária.

PALAVRAS-CHAVE: mudança de vocação, terminais portuários, reforço, reparo, proteção, estruturas, vida útil.

1. O QUE É MUDANÇA DE A mudança de vocação vem nor- ção de novos dolfins de atracação ou
VOCAÇÃO E QUANDO malmente acompanhada de altera- amarração, instalação de defensas
É NECESSÁRIA? ções e manutenção de grande monta, mais modernas e instalação de novos

S
ão alterações das instalações principalmente de reforço, reparo, cabeços, com destaque para os ca-
portuárias devido a mudan- proteção e garantia da vida útil resi- brestantes com ganchos de desenga-
ças nas cargas e materiais dual das estruturas, que vêm prece- te rápido (Figura 1).
manipulados, seja na sua forma de em- didas de inspeção completa que deve Obviamente que, para a instala-
barque, desembarque ou na capacida- ser levada a cabo por empresas espe- ção de novos cabeços em estruturas
de do terminal. cializadas na área de patologia das existentes, é necessário realizar a re-
Essas alterações podem ser fruto da estruturas. troanálise desses elementos conside-
necessidade de modernização na ope- Na região submersa das estrutu- rando os novos esforços, bem como
ração, novos planos de estiva, aumento ras devem ser realizadas inspeções fazer um projeto adequado das fixa-
das embarcações, mudanças no trata- por profissionais treinados na identi- ções ao concreto original (Figura 2).
mento de efluentes e novas regulações ficação de danos estruturais relevan- Nos projetos de mudança de voca-
ambientais e de segurança. tes, uma vez que são raríssimos os ção de terminais portuários, as alte-
engenheiros civis habilitados em mer- rações geométricas devem ser crite-
gulho profissional. riosamente avaliadas, principalmente
Há um importante apelo am- na linha de acostagem, para não pre-
biental em se adaptar os terminais judicar a operação do terminal.
existentes, ao invés de realizar a sua Recomenda-se que não sejam
demolição e reconstrução que impli- produzidas reentrâncias na estrutu-
caria em um grande desperdício de ra de acostagem, dando preferência
recursos naturais e um enorme dis- à manutenção de um berço retilíneo
pêndio para realizar o bota fora do en- (Figura 3).
tulho gerado na demolição sem cau- Com o aumento da capacidade das
sar danos ao meio ambiente. embarcações e, consequentemente,
sua maior dimensão, para garantir que
2. QUAIS SÃO AS ALTERAÇÕES a profundidade do canal seja suficiente
» Figura 1
Cabrestante com ganchos de
MAIS COMUNS EM OBRAS para comportar o calado dessas em-
desengate rápido PORTUÁRIAS? barcações, são realizadas obras de re-
Fonte: Carmona Soluções de Engenharia Na faixa de atracação em si, as baixamento por meio de dragagem ou
alterações mais comuns são: a cria- escavação do leito do canal.

42 | & Construções
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melhorias de infraestrutura são ne-
cessárias, como instalação de tom-
badores de carretas, melhorias no
acesso ao transporte rodoviário e fer-
roviário, moegas, silos etc. (Figura 6).

3. COMO FAZER O REFORÇO,


REPARO E PROTEÇÃO DE
TERMINAIS PORTUÁRIOS?
O reparo e proteção das obras
portuárias requer um minucioso pla-
nejamento e controle de qualidade,
dadas todas as dificuldades envol-
vidas, principalmente nas regiões
submersas e na zona de variação de
maré, que requerem o uso de ma-
a b teriais e técnicas específicos para
uso submerso.
Os reparos nas lajes e vigas e vigas dos
» Figura 2 terminais são realizados por meio de pla-
Retroanálise de estrutura de concreto armado para instalação de
taformas suspensas na própria estrutura,
cabrestante com ganchos de desengate rápido
Fonte: Carmona Soluções de Engenharia e Trelleborg, respectivamente enquanto nas regiões submersas pode
ser feito o bombeamento ou injeção de
grautes minerais ou orgânicos, sendo
O rebaixamento do canal acar- alterações na retroárea, como cons- que, em reparos localizados, podem ser
reta sérios problemas nas estrutu- trução de novos armazéns, pátios empregadas argamassas tixotrópicas de
ras portuárias existentes, como po- de armazenamento, reforço, reparo base orgânica (Figura 7).
dem ser a estabilidade dos taludes, e proteção de estruturas existentes, É muito importante planejar qual a
a necessidade de contenção de solo pontes de tubulação, transportado- vida útil residual desejada para a estru-
sob os cais e perda de capacidade res de correias e demais equipamen- tura, de modo que as soluções de refor-
resistente das estacas, dada a even- tos (Figura 5 ). ço, recuperação e proteção atendam às
tual redução de seu comprimen- Em muitos casos, uma série de necessidades dos terminais.
to enterrado, reduzindo a área de
atrito lateral e contenção existente
(Figura 4).
Tem-se ainda a instalação de car-
regadores e descarregadores de na-
vios de grande porte, substituindo
antigos guindastes e comumente re-
querendo um aumento de bitola dos
trilhos, ou seja, aumento de largura
dos píeres, normalmente mantendo
a linha de acostagem em sua posição
original e aumentando a largura do
píer no sentido terra.
Diante do aumento das dimen-
sões e solicitações, pode ser feita a
cravação de novas estacas, normal-
mente pré-fabricadas de seção vaza-
da, dotadas de ponteiras metálicas
para permitir ultrapassar camadas
de material mais resistente, como
lentes de areia. » Figura 3
Além das alterações da faixa de Recomendação de configuração geométrica do berço de atracação
atracação a modernização dos termi- Fonte: Carmona Soluções de Engenharia
nais normalmente implica grandes

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» Figura 4
Estudo de estabilidade de talude após dragagem
Fonte: Carmona Soluções de Engenharia (software: Slide2 – rocscience)
» Figura 5
Píer ampliado com aumento
de bitola dos trilhos e vários
Desde há muito estão acessíveis tem-se testemunhado que estruturas equipamentos instalados
técnicas como a utilização de materiais recentemente construídas não têm apre- (pontes de tubulação, correias
cimentícios bombeados de alto desem- sentado vida útil adequada (Figura 8). transportadoras, dentre outros)
Fonte: Carmona Soluções de Engenharia
penho e autoadensáveis, proteção cató- Neste sentido, está atualmente em
dica galvânica, emprego de inibidores de elaboração a ABNT NBR 19782 - Proje-
corrosão, além de pinturas de proteção to de Obras Portuárias, no âmbito do lidades. Esse tipo de análise faz uso de mo-
compatíveis com substratos úmidos e CEE–231 da ABNT. delos de previsão de vida útil e considera
que, principalmente por desconhecimen- Na Tabela 1, é apresentada sugestão os investimentos, custos de manutenção
to, não são largamente empregadas. de acréscimo de vida útil mínima exigí- e os índices financeiros, dessa forma indi-
Cabe alertar que o uso de técnicas vel para os sistemas de proteção mais cando a solução ótima a cada caso.
mais eficazes de proteção é altamente comuns do mercado em discussão no
recomendado para as estruturas por- CEE-231. 4. PROJETO DE ADEQUAÇÃO
tuárias em ambientes agressivos, pois Recomenda-se que seja feita análise DE TERMINAIS PORTUÁRIOS
de custo de ciclo de vida, de modo a norte- Como para a grande maioria das es-
ar a tomada de decisão quanto às possibi- truturas existentes não estão disponíveis

» Figura 6
Píer com estruturas de reforço
e ampliação para instalação » Figura 7
de defensas, torres pescantes Obra de reparo e proteção » Figura 8
e correias transportadoras, em lajes e vigas de píer, com Severos danos por corrosão
além de novos armazéns o emprego de plataformas de armaduras em píer com
na retroárea suspensas 30 anos de idade
Fonte: Carmona Soluções de Engenharia Fonte: Carmona Soluções de Engenharia Fonte: Carmona Soluções de Engenharia

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» Tabela 1
Proposição de acréscimo de vida útil mínima exigível para os sistemas de proteção para estruturas metálicas
ou de concreto com armaduras passivas em ambiente marítimo (CAA IV)

Acréscimo de vida útil para CAA IV / C5-M


Mecanismo
Inibidores de corrosão de Ânodos de sacrifício Ânodos de Pinturas Revestimentos
incorporação ao concreto incorporados ao concreto sacrifício externos
Corrosão de Região emersa 15 anos 15 anos Não se aplica 10 anos 15 anos
armaduras
(passivas) Região submersa 25 anos 25 anos 30 anos Não se aplica 20 anos

Corrosão Região emersa Não se aplica Não se aplica Não se aplica 5 anos 10 anos
metálica Região submersa Não se aplica Não se aplica 30 anos Não se aplica 15 anos
Perda de massa de concreto Não se aplica Não se aplica Não se aplica 5 anos 15 anos

» Figura 9
Raros projetos originais de píer da década de 1950
Fonte: CODESP (1956)

» Figura 10
os projetos originais (Figura 9), os servi-
Execução de ensaios em píer
5. CONCLUSÕES para auxiliar na definição da
ços de projeto se iniciam com o conheci- A experiência tem mostrado que terapia a ser empregada
mento das características físicas dos ma- muitas obras têm apresentado vida útil Fonte: Carmona Soluções de Engenharia
teriais utilizados na construção, por meio inadequada, revelando a necessidade
de métodos semidestrutivos e não des-
trutivos, cadastro geométrico, cadastro
de armaduras e danos existentes, sonda-
gens do terreno, à percussão ou mistas,
batimetria e topografia (Figura 10).
Nesse sentido, o uso da realidade
aumentada, com o georreferenciamen-
to de danos aliado à metodologia BIM,
é uma promessa importante para dar
suporte aos trabalhos de cadastro de
estruturas e projeto das alterações ne-
cessárias (Figura 11 e Figura 12).
A partir dos dados coletados e das
» Figura 11
necessidades do terminal, têm início os Modelo tridimensional de píer para projeto de mudança de vocação
projetos de arranjo geral, mecânicos, com o uso da metodologia BIM
estruturais, instalações e demais proje- Fonte: Carmona Soluções de Engenharia
tos complementares.

& Construções
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» Figura 12
Danos estruturais georreferenciados com uso da metodologia BIM
Fonte: Carmona Soluções de Engenharia

de normalização específica que esta- com o devido acompanhamento técnico proteção superficial geral da estrutura
beleça os requisitos mínimos para pro- com liberação dos serviços por etapas. por meio de pintura.
jeto, inspeção, recuperação e proteção Nos ambientes altamente agressi- Deve-se lembrar ainda a necessi-
de terminais portuários. vos, como os marítimos, recomenda-se dade de proteção das estacas contra a
Um ponto muito importante para que os reparos sejam realizados com corrosão, de modo a aumentar a dura-
garantia da qualidade dos serviços de re- incorporação de ânodos de sacrifício e bilidade desses elementos, nos quais se
cuperação e proteção é que o projeto seja monitoração das correntes liberadas tem observado intensa deterioração,
elaborado por empresa especializada, para previsão de sua vida útil, além da mesmo em regiões submersas. C

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Inspeção e Manutenção DOI: 10.4322/1809-7197.2022.106.0002

Estado da arte e BIM: um banco de dados


aplicável às obras de reabilitação
*MARIA LUISA R. ANTUNES – Eng., https://orcid.org/0000-0001-6975-3578, antunesmarialuisa@gmail.com;
DIOGO OLIVEIRA – Eng., https://orcid.org/0000-0002-4771-8971, diogooliveira@ufv.br;
JOSÉ C. RIBEIRO – Eng., https://orcid.org/0000-0003-4069-7001, jcarlos.ribeiro@ufv.br;
JOSÉ M. CARVALHO – Eng., https://orcid.org/0000-0001-5785-3213, josemaria.carvalho@ufv.br;
KLEOS M. L. CESAR JÚNIOR – Eng., https://orcid.org/0000-0003-4779-4226, kleos@ufv.br – UFV-MG;
VITOR C. CURI – Eng. – vitor.curi@deer.mg.gov.br – DEER-MG

R E S U M O

As obras de engenharia civil, especialmente de


infraestrutura, são determinantes para
o desenvolvimento econômico dos países em todo o mundo,
tos autorais originais, As-built, além de dados patológicos a fim
de fundamentar os processos decisórios de intervenção. Alinha-
da às iniciativas internacionais, a governança brasileira imple-
uma vez que promovem a conexão de pessoas e produtos, por mentou a Modelagem da Informação da Construção (BIM) na
meio de vias conectadas por diferentes tipologias estruturais. execução de obras e serviços de engenharia, na esfera pública
No Brasil, o Ambiente Construído é caracterizado predomi- federal. O objetivo deste artigo é contextualizar o Estado da
nantemente por estruturas de concreto armado e protendido. Arte, contemplado pelos laudos técnicos de engenharia, alinha-
Neste contexto, alguns dos desafios da gestão de manutenção do ao Decreto Federal 10.306, que inclui as obras de reforço e
desses ativos estão relacionados à dificuldade de resgatar proje- reabilitação estrutural.

PALAVRAS-CHAVE: ambiente construído, gestão de manutenção, BIM, estado da arte, reabilitação estrutural.

1. INTRODUÇÃO vamente, aplicáveis às obras públicas ço e reabilitação estrutural de obras de

E
m 02/04/2020 o governo bra- de médio e grande porte. arte especiais (OAE).
sileiro publicou o Decreto Fe- Inspirado nas ações top/down dos Com o objetivo de atender à nova
deral 10.306 estabelecendo a países que iniciaram, com sucesso, a legislação, o DNIT elegeu o projeto PRO-
utilização do sistema BIM na execução disseminação do BIM, a governança ARTE como projeto piloto, no processo
direta ou indireta de obras e serviços de brasileira elegeu entidades da admi- de Adoção do BIM [2]. O projeto reúne
engenharia na esfera pública nacional, nistração pública federal visando a sua um acervo de aproximadamente 8.000
a partir de 01/01/2021[1]. O Decreto pos- implementação de forma gradual. Foi pontes e viadutos, caracterizados pela
sui três marcos principais dispostos nas vinculado o Ministério da Defesa (Exér- fase operacional do ciclo de vida. Este
Fases I, II e III que determinam ações e cito, Marinha e Força Aérea) visando universo construído é classificado: por
metas para 2021, 2024 e 2028, respecti- atividades executadas nas edificações nível de OAE segundo critérios de núme-
a ele jurisdiciona- ro de vãos (Kvão); por número de tipos
das e o Ministério de elementos (Kele) e extensão (Kext) da
da Infraestrutu- estrutura; por nível de lote, que leva em
ra, abordando as conta a nota técnica da estrutura. Por
atividades coor- fim, a classificação final é avaliada em
denadas e exe- nível de empreendimento (Figura 1).
cutadas pela Se- Uma vez que essas OAE encontram-
cretaria Nacional -se em plena fase operacional do ciclo
de Aviação Civil de vida, o desenvolvimento de novos
100
(para investimen- projetos autorais visando às obras de re-
95
tos em aeropor- abilitação e reforço estrutural (em aten-
AQUISIÇÃO: tos regionais) e dimento ao Decreto) fica condicionado
75
www.ibracon.org.br
pelo Departa- à Modelagem das Condições Existentes
(Loja Virtual)
mento Nacional (Figura 2) cujo objetivo é representar, fi-
» Figura 1 de Infraestrutura dedignamente, a realidade existente.
Classificação de OAE de Transportes A Universidade da Pennysilvania
25
Fonte: DNIT, 2020 (DNIT), visando apresentou 25 usos do BIM, entre pri-
5
às obras de refor- mários e secundários, mapeando-os

& Construções
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ao longo do ciclo de vida de um em- de engenharia passam a ter como co, em um único dia de coleta. As
preendimento típico da construção base de partida os arquivos IFC dos nuvens de pontos geradas, repre-
civil [3]. O ciclo tem sido referenciado Modelos das OAE, além dos arquivos sentadas por coordenadas x,y,z, fo-
na bibliografia brasileira por meio de digitais que contém as nuvens de ram importadas pelo software Revit
Cadernos de Projetos BIM e Coletâ- pontos da realidade capturada (do (versão 2021) e foi cedido para este
nea BIM (Câmara Brasileira da Indús- objeto de análise). Logo, o Estado da estudo pelo Laboratório BIM do De-
tria Construção), além de fundamen- Arte que será apurado no processo partamento de Edificações e Estra-
tar BIM Mandates em outros países pericial, deverá ser representado no das de Minas Gerais (DEER MG) [4].
da América do Sul, como o Chile. Na arquivo IFC da ponte, por meio da Além de parametrizar os objetos
Figura 2 apresenta-se o ciclo de vida inserção dos dados patológicos nos revelados pelas nuvens de pontos, a
e os usos do BIM customizados à de- objetos do modelo, formatando-se, parametrização permite o georefe-
manda de obras de reabilitação do assim, o Modelo As-is (como está) renciamento e nesta direção, torna-
Projeto PROARTE. da OAE. -se possível simular a carta solar da
Dados como topografia, vege- latitude do objeto periciado, repre-
tação, infraestrutura existentes no 2. DESENVOLVIMENTO sentando um importante recurso de
local, além da condição estrutural O objetivo geral do artigo é refle- análise de registros pós-captura.
(levantamento de anomalias e ava- tir o Estado da Arte de uma OAE, a Vale destacar que este recurso
liações estruturais) são demanda- partir de registros coletados durante pode auxiliar nas análises de inci-
dos com o objetivo de registrar pos- uma inspeção técnica tradicional de dência de radiação direta e indireta
síveis desgastes devido ao tempo de engenharia, em um Modelo paramé- nas estruturas, de sombreamentos
uso. Nesta direção, os laudos técni- trico, alinhado ao Decreto Federal causados pelo ambiente construído
cos de engenharia produzidos pelas 10.306. (edificações presentes no entorno
inspeções in loco são instrumentos Para atingir este objetivo, utili- urbano), além de referenciar com
fundamentais na formatação do Es- zou-se como objeto de estudo uma precisão os objetos periciados por
tado da Arte. ponte do complexo viário General meio dos pontos cardeais. A conexão
Alinhado com a isonomia, Carneiro, localizado na BR MG 262 da simulação solar e os registros co-
pré-requisito de processos lici- sobre o Rio das Velhas (Figura 3). A letados durante a inspeção técnica
tatórios públicos, o sistema BIM OAE passou pelo processo de reabili- embasa interpretações (pós-coleta)
contempla a entrega dos produ- tação estrutural em 2019, em respos- mitigando a subjetividade do(s) pro-
tos licitados, em formato digi- ta à avaliação estrutural da OAE que fissional(ais) envolvido(s) no proces-
tal de arquivos openBIM entitula- demandou que o tráfego fosse redu- so de trabalho. Como exemplo, ilus-
dos pela buildingSmart (bsI) como zido para 60% da carga de projeto. tra-se a simulação solar aplicada no
Industry Foundation Classes (IFC) [5], Caracterizada pela tipologia es- estudo de uma edificação (Figura 4) e
além dos formatos de softwares na- trutural em concreto armado, a OAE o sombreamento causado pelas edi-
tivos. Nesta direção, os profissionais ainda revela parte das fundações re- ficações vizinhas, no dia e horário da
envolvidos no projeto praticam a co- manescentes da época da sua cons- coleta do registro (19/01/21 às 15:00h).
laboração multidisciplinar e a troca trução (década de 1970), tal como A fachada oeste do objeto periciado
de informações, de forma integrada apresentadas na Figura 3. A obra de (destacado na cor azul) recebe radia-
e interoperável. reabilitação estrutural foi caracteri- ção direta, de acordo com a carta so-
Neste cenário, as inspeções téc- zada, essencialmente, pela inclusão lar da latitude simulada (intervalo de
nicas caracterizadas como serviços de elementos na mesoestrutura e in-
fraestrutura da
ponte (vigas de
travamento, pi-
lares e elemen-
tos verticais de
fundações).
O modelo da
OAE foi desen-
volvido a partir
da aplicação
da técnica 3D
» Figura 2 Laser Scanning » Figura 3
Ciclo de vida que utilizou o Ponte rodoviária BR MG 262
Fonte: DNIT, 2020 equipamento Fonte: Autores, 2021
do tipo estáti-

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desenvolvimen- nação de projeto, como orientado
to do uso BIM no PEB.
licitado, além Na Figura 5, ilustra-se alguns
de relacionar os exemplos de registros coletados du-
profissionais e rante a inspeção técnica da ponte:
ferramentas en- 5(a) Registro fotográfico, auxiliado
volvidos no pro- por fissurômetro digital, da armadu-
jeto de reabilita- ra exposta presente na viga de tra-
ção para atingir vamento; 5(b) Registro termográfi-
o(s) resultado(s) co da face inferior do tabuleiro; 5(c)
esperado(s). Registro fotográfico de anomalias
A Modela- presentes na viga longitudinal da
gem de Condi- superestrutura (armadura de cisa-
ções Existen- lhamento exposta e fissura).
tes é o uso BIM O(s) responsável(is) pela elabo-
» Figura 4 previsto no PEB ração do laudo técnico insere(m) as
Simulação solar que possibilita anomalias identificadas durante a
Fonte: Revit, 2021 a conexão do inspeção nos respectivos objetos pe-
Ambiente Cons- riciados por meio de hyperlinks. Esta
truído ao siste- associação reflete o Estado da Arte
05:35h às 18:31h), podendo sugerir a ma BIM, preliminarmente (fase Pla- da OAE e permite o resgate facilita-
ausência e/ou presença de anomalias nejamento). Entretanto, as novas do de informações para a equipe de
na superfície inspecionada). soluções demandadas pelas obras gestão de manutenção e operações
Outro processo de simulação vir- de reabilitação (Projetos Autorais) do ativo, em qualquer momento do
tual aderente ao Ambiente Constru- previstas na fase Projeto dependem ciclo de vida.
ído é possibilitado pelas nuvens de das análises do Estado da Arte da Nesta direção, o Modelo As-is
pontos da realidade capturada, na estrutura, produto do laudo de en- funciona como um denso banco
elaboração do plano de ações das genharia viabilizado por meio das de dados, caracterizado por alto
inspeções. As análises no cenário inspeções técnicas. índice de confiabilidade, capaz de
virtual antecipam possíveis dificul- Esta lacuna é solucionada inse- embasar a elaboração de soluções
dades operacionais e auxiliam na se- rindo-se os dados patológicos co- eficazes e futuras, como os end-u-
leção de técnicas complementares letados e demais informações re- ses (fase operação), uma vez que a
de captura, que variam de acordo levantes no modelo IFC da ponte. OAE vivenciará novamente uma fase
com a subjetividade de cada projeto. Inicialmente, o modelo representa construtiva.
Devido a essas particularidades, o o objeto periciado e ao final do pro- Na Figura 6 apresenta-se, como
processo licitatório é sustentado por cesso pericial, os objetos modelados exemplo, a inserção do registro da
um Plano de Execução BIM (PEB), hospedarão os registros. O modelo anomalia presente na viga de tra-
que tem como objetivo geral expli- final é exportado em IFC e recebido vamento (ilustrado na figura ante-
citar as diretrizes que orientarão o pela equipe de gestão e/ou coorde- rior) no modelo da OAE cedido pelo

a b c Armadura exposta

Fissura

» Figura 5
Registros coletados: (a) registro fotográfico; (b) registro termográfico; (c) registro fotográfico

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a b c d

Seção inspecionada Viga de Hyperlink Registro fotográfico


travamento

» Figura 6
Inserção do estado da arte no modelo: (a) Modelo da OAE (DEER, 2021); (b) Objeto modelado (DEER, 2021);
(c) Criação do hyperlink (Autores, 2022); (d) Registro fotográfico acessado via hyperlink
Fonte: Autores, 2022

LaBIM DEER, utilizando-se o softwa- lo gerado por este fluxo pode não No Brasil, ainda que o BIM tenha
re de gestão BIM Solibri Model Checker refletir a real condição que a OAE sido disseminado desde 2018, a ca-
(SMC), por meio do arquivo IFC. foi encontrada. Alterações na fase deia da indústria da construção civil
O registro fotográfico é inserido construtiva podem ocorrer e não se- ainda não está preparada para a mu-
selecionando-se na seção periciada rem documentadas, além de vícios dança de paradigma. As obras de in-
da OAE (Figura 6(a)) o respectivo construtivos e desconformidades fraestrutura, em especial, carecem
objeto periciado (Figura 6(b)). Na em geral (como falta de cobrimento de famílias de objetos específicos e
Figura 6(c) ilustra-se a criação do de armaduras, como utilizado como conjuntos de propriedades (proper-
hyperlink na aba Information Takeoff exemplo neste estudo). ty sets), diferentemente do sistema
do software que cria a vinculação No fluxo BIM, o processo de tra- BIM aplicado às edificações, que
do registro fotográfico coletado du- balho inicia-se com a captura da encontra-se mais avançado nestes
rante a inspeção técnica, ao objeto realidade por meio da aplicação da quesitos.
modelado. técnica 3D Laser Scanning em função Por fim, da mesma forma que o
Neste momento, o objeto se de sua agilidade de aplicação, segu- segmento foi impactado por ocasião
transforma em hospedeiro da infor- rança e precisão milimétrica. Apesar da transição da prancheta física para
mação, que é, automaticamente, das nuvens de pontos não permiti- a prancheta eletrônica, a Arquitetu-
apresentada quando os demais co- rem a identificação visual de ano- ra, Engenharia, Construção e Ope-
laboradores manuseiam o modelo malias, funcionam como um denso e ração (AECO) passa por uma trans-
As-is (Figura 6(d)). fidedigno banco de dados, ao longo formação digital e se depara não
de toda vida útil da estrutura. Além somente com as novas ferramentas
3. CONCLUSÕES das coordenadas 3D, a cada posicio- de representação (geométrica e pa-
Alguns processos de trabalho ain- namento do equipamento, registros ramétrica), mas com novos proces-
da utilizam a modelagem paramétri- fotográficos são gerados em alta re- sos de trabalho que formatam uma
ca a partir de arquivos Computer Aided solução formatando um acervo rele- disruptura com os processos tradi-
Design (CAD). Entretanto, o mode- vante para equipe de gestão. cionais praticados. C

» REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] BRASIL. Decreto n. 10.306, de 02 de abril de 2020. Utilização do Building Information Modelling. Diário Oficial da União, Brasília.
Edição 65. 2020.
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DNIT. Disponível em https://www.gov.br/dnit/pt-br. >Acesso em: 21 jan. 2022.
[3] BIM Execution Plan. Disponível em https://bim.psu.edu/ > Acesso em 02 fev. 2022
[4] DEPARTAMENTO DE EDIFICAÇÕES E ESTRADAS DE RODAGEM DE MINAS GERAIS – DER/MG. Disponível em http://www.der.
mg.gov.br/obras/plataforma-bim-deer-mg >Acesso em: 25 jan. 2022.
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Mantenedor DOI: 10.4322/1809-7197.2022.106.0003

Inovação tecnológica para concretagem de


bases eólicas frente aos desafios térmicos
MARIO GUILGE – Ger. de Prod. e Serv. Téc. – Apodi Cimento; GUSTAVO PINHEIRO – Dir. de Tecn. e Incorp.;
ANTONIO M. DE OLIVEIRA – Dir. Com. – DoisA Engenharia e Tecnologia; DANIEL ALEIXO – Dir. Exec. – DM Aleixo

R E S U M O

Nos últimos anos, o crescimento do uso


de concretos de alto desem-
penho (CAD) e a conscientização sobre o desenvolvimento de
estes utilizados, principalmente, para necessidades específicas do
projeto e especificações extremas de temperatura. Entretanto,
com os recentes avanços na tecnologia de equipamentos e de
fissuras e a formação de etringita tardia, que são induzidas pelo construção, esse cenário está mudando e a utilização do nitro-
aumento da temperatura interna e dos gradientes térmicos, le- gênio líquido vem se apresentando como uma ferramenta viável
varam a demandas crescentes e especificações mais rigorosas no para o controle geral da temperatura do concreto. A Non-Crack
que diz respeito ao controle térmico das estruturas de concreto Solution é uma solução de tecnologias combinadas entre um ci-
massa. Historicamente, o uso de gelo tem sido capaz de atender mento especial de baixo calor de hidratação e alta resistência
a maioria das especificações de temperatura dos concretos, tor- mecânica e um sistema de resfriamento com nitrogênio líquido
nando-o mais viável quando seu custo é comparado aos custos capaz de solucionar problemas existentes nas frentes de concre-
do uso de nitrogênio líquido e de tubos de resfriamento, sendo tagem atualmente.

PALAVRAS-CHAVE: concreto massa, controle de temperatura, etringita tardia.

1. INTRODUÇÃO para atingir 30,2 GW até 2024 (ABEE- tardia (DEF) está relacionada à elevação

D
e acordo com o ACI 207.1R ÓLICA, 2021). Além disso, esse relatório da temperatura interna e é um produto
(2005), o comportamento tér- mostra a relevância da região Nordeste expansivo que também pode ocasionar
mico das estruturas de concre- no setor eólico, onde 80% dos parques o surgimento de fissuras e, assim, con-
to massa é o fator que as diferenciam de existentes estão localizados. tribuir para a redução da vida útil da es-
outros tipos de estruturas convencionais, Essas volumosas fundações apresen- trutura (LAROSCHE, 2009).
necessitando, assim, de medidas para tam grandes espessuras (geralmente Na busca pela solução para evitar
controlar o aumento e a dissipação do maiores que 1 m), e essa característica a ocorrência desses tipos de problema,
calor gerado pela reação de hidratação do contribui para o acúmulo e dificulta a dis- comumente as concretagens são execu-
cimento, que é exotérmica. sipação do calor gerado no núcleo central tadas substituindo a água do traço por
Esse controle representa um de- da estrutura (ACI 207.2R, 2007; BOBKO gelo (≅ 0 oC), a fim de reduzir a tempera-
safio tanto no planejamento quanto et al., 2014). Em relação às superfícies, tura de lançamento do concreto. Essa di-
na construção das estruturas maciças há maior proximidade com o ambiente nâmica, largamente difundida nas obras
de concreto devido à variabilidade de externo e, consequentemente, maior executadas no Brasil, afeta a produtivida-
diversos fatores, como a geometria e facilidade de dissipação de calor, o que de, pode reduzir a qualidade do concreto,
as dimensões das estruturas, o traço e acelera o resfriamento superficial. Isso aumentar a geração de resíduos e, mes-
as propriedades térmicas e mecânicas gera uma distribuição não uniforme das mo que se tomem todos os cuidados nas
do concreto, os mecanismos de con- temperaturas internas e pode provocar o etapas de produção, lançamento, espa-
cretagem e de cura, as condições de surgimento de manifestações patológi- lhamento e cura do concreto, ainda pode
contorno e as condições ambientais cas, como a formação de etringita tardia sujeitar a peça concretada à necessidade
(EMBORG AND BERNANDER, 1994). e o desenvolvimento de fissuras de ori- de reparos posteriores.
No Brasil, dentre as estruturas de gem térmica (LAROSCHE, 2009; WU et Diante desse cenário desafiador e
concreto massa, as fundações de ae- al. 2011; MEHTA; MONTEIRO, 2014). sempre na busca de processos mais se-
rogeradores vêm se destacando atu- As fissuras vão ocorrer quando as guros e que respeitem o meio ambien-
almente devido à expansão do uso da tensões internas de tração, causadas te, a “Non-Crack Solution” é uma solução
fonte eólica, a qual representa 10,8% pela presença de elevados gradientes mais eficiente e moderna em controle
das fontes brasileiras de geração de térmicos e de restrições que impeçam de temperatura na produção, lança-
energia e apresenta taxas de cresci- a movimentação da estrutura, excede- mento e aplicação de concreto massa.
mento significativas, com capacidade rem a resistência à tração dos concretos Essa iniciativa traz para o merca-
instalada de energia eólica prevista (WU et al. 2011). A formação de etringita do uma oportunidade inovadora de

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ção do concreto é um ponto importante
nesse processo e obrigatória em regiões
quentes, principalmente quando se de-
seja concretar uma estrutura de concreto
massa, como uma base de aerogerador,
em uma única etapa.
» Figura 2
1.2 Manifestações patológicas Fissuras devido à DEF
» Figura 1
Fissura em bloco – retração
As principais manifestações patoló-
térmica
gicas que podem ocorrer em concretos em escama e nitrogênio líquido.
massa, dentre os quais incluem-se as ba- O emprego de água gelada é muito
ses de torres eólicas, são: fissuras devido utilizado em concretos, para pavimento
atender aos critérios mais rigorosos de à retração térmica (Figura 1); fissuras de- rígido. Em geral, a água gelada tem ca-
controle de temperatura, que vem se vido à formação de Etringita Tardia (DEF) pacidade para reduzir a temperatura do
tornando um problema crescente, em (Figura 2); fissuras devido à retração hi- concreto entre 3 oC e 5 oC, no máximo.
função do incremento dos volumes dos dráulica; fissuras devido à retração plás- O uso de gelo em escamas (mais
blocos de fundação que dão sustenta- tica e reação Álcali – Agregado. recomendado) ou em cubos (menos re-
ção aos aerogeradores em razão da al- O sulfato de cálcio dihidratado (ges- comendado) é um procedimento muito
tura das torres e da potência das turbi- so), adicionado durante a moagem do utilizado, mas, em geral, só se conse-
nas que são cada vez maiores. clínquer (para controle do tempo de gue reduzir a temperatura do concreto
pega e melhora do desenvolvimento da entre 11 oC e 12 oC.
1.1 Análise da segurança contra resistência), reage com o aluminato tri- O emprego do nitrogênio líquido é o
a fissuração cálcico do cimento para formar a etrin- meio mais eficaz e prático de se refrige-
gita (trissulfoaluminato tricálcico) nas rar um concreto. Porém, não é o meio
A maior dificuldade de dissipação de primeiras horas após a mistura com água mais barato, e desta forma torna-se,
calor do núcleo da estrutura de concre- em concretos curados a temperatura em muitas frentes, impraticável. Esse
to massa (seu centro de gravidade) e a ambiente. Essa etringita é chamada de tipo de refrigeração apresenta os se-
maior facilidade de dissipação nas su- etringita primária, e nesse estágio (ini- guintes benefícios: redução do consu-
perfícies provocam uma não uniformi- cial), ela é formada de forma homogênea mo de água; redução na velocidade de
dade na distribuição das temperaturas e imediata, estando dispersa uniforme- perda do “slump”; aumento do tempo de
ao longo do tempo. Quanto maiores mente em toda pasta de cimento. Entre- início de pega; temperatura do concre-
forem esses gradientes térmicos (ΔT), tanto, a etringita primária não é estável to tão baixa, quanto se desejar; redução
maior será a probabilidade de ocorrer a elevadas temperaturas, e caso isso da mão de obra, além de evitar todas as
retração térmica e, consequentemente, ocorra, ela não irá se formar no estado formas de fissuras.
maiores serão as tensões de tração (σt), fresco, podendo se formar tardiamen-
que levam ao fissuramento da estrutu- te, em contato com umidade, quando o 2. A “NON-CRACK SOLUTION ”
ra quando excedem a resistência à tra- concreto estiver no estado endurecido. A “Non-Crack Solution” é a materiali-
ção do concreto (ƒt) (ACI 207.2R, 2007; Isso gera um aumento das tensões inter- zação de uma solução baseada em duas
COELHO et al.; BOBKO et al., 2014). nas na estrutura, uma vez que a forma- grandes tecnologias, um cimento especial
Para reduzir o valor de ΔT, que é ção de etringita é um processo expansivo de baixo calor de hidratação e um sistema
igual à temperatura máxima atingida (LAROSCHE, 2009). Apesar de não haver de resfriamento inovador capaz de solu-
pelo concreto menos a temperatura normas brasileiras que especifiquem cionar diversos entraves técnicos e opera-
ambiente ao longo do tempo, é possível um limite máximo de temperatura para cionais existentes hoje nas frentes de con-
limitar a temperatura máxima do con- evitar a formação de etringita tardia, en- cretagem de elementos volumosos.
creto por meio de mecanismos de pré contram-se alguns valores na literatura,
ou pós refrigeração e/ou utilizar me- como 65 ºC (MEHTA; MONTEIRO, 2014) e 2.1 Cimento CP III 40 RS BC Apodi
canismos de cura e isolamento que 70 ºC (ACI 301, 2010).
dificultem a perda de calor da super- A Cimento Apodi investiu no desen-
fície da estrutura para o ambiente 1.3 A importância da refrigeração volvimento de um produto específico
(ACI 301,2010; BOBKO et al., 2014). que ajudasse o segmento de energia
A temperatura máxima do concreto A fim de evitar as manifestações pa- eólica a solucionar duas das suas prin-
consiste no somatório da sua tempera- tológicas, é necessário aplicar técnicas cipais preocupações, a temperatura de
tura de lançamento com a elevação adia- de refrigeração do concreto. Como solu- lançamento dos concretos e o desen-
bática. Logo, deve-se atuar no sentido ção, há três tipos básicos de refrigeração volvimento de calor durante o período
de reduzir esse pico máximo. A refrigera- do concreto: uso de água gelada, gelo de cura da base.

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de alto forno (matéria prima para pro-
dução de CP III). Esse elevado valor de
substituição faz o cimento produzido
liberar menos calor, já que o clínquer
é o principal responsável pela reação
exotérmica de hidratação. A Figura 5
» Figura 3 demostra um comparativo de duas cur- » Figura 4
C3S Clínquer Apodi vas de liberação de calor, sendo a verde C3S Clínquer do mercado
do cimento CP III - 40 RS BC e a amarela
de um CP IV - 32 RS, comumente utili-
Com isso, surge o CP III 40 RS BC, zado nos projetos de base eólica. Neste cimento. Os resultados confirmaram o
produto que leva em seu mix design um comparativo, percebe-se que a diferen- esperado, o desenvolvimento de calor
balanço de fases de clínquer, mineralo- ça entre os pico de temperatura entre o foi inferior para a base simulada com o
gia ajustada e matéria prima seleciona- CP IV e o CP III – 40 RS BC é de quase cimento CP III - 40 RS BC .
da, que permite reduzir a temperatura 15 °C. Em números, de acordo com a O pico de temperatura da base si-
na concretagem, liberando menos ca- normatização, a energia liberada pelo mulada com o CP III - 40 RS BC foi 11 ºC
lor ao longo do seu processo de hidrata- CP III - 40 RS BC em 40 horas de reação inferior ao pico de temperatura da base
ção, atingindo aos patamares de resis- é de 202 J/g de cimento, ao passo que o simulada com o CP IV - 32 RS. Pode-se
tência à compressão especifiicados em mesmo CP IV citado produz 242 J/g. notar claramente a diferença na Figu-
projeto, nesse caso 30 MPa e 55 MPa. Para ratificar aquilo que foi projetado ra 6a, onde o centro da base apresen-
A principal fase do clínquer, respon- na indústria, foram feitas simulações de ta coloração de amarela a alaranjada,
sável pela geração de resistência é o C3S, fluxo de temperatura em fundações para comparando-se com a Figura 6b, que
desta forma, quanto maior a concen- torres eólicas através de software espe- apresenta cor bastante avermelhada,
tração dessa fase, mais resistência te- cífico para tal fim (ensaios realizados na indicando temperaturas mais altas.
remos a curto prazo. Porém, não basta Universidade Federal do Ceará – Labo- Diante desses estudos, pode-se di-
isso, pois se os cristais de C3S forem de ratório de Materiais de Construção). A zer que, com o cimento CP III - 40 RS BC
tamanho grande, essa reatividade pode influência do uso desses dois cimentos , é possível produzir um traço muito mais
ser lenta, devido à menor superfície es- na elevação térmica de uma base eóli- ajustado às necessidades técnicas e às es-
pecífica, fazendo com que o cimento ca foi verificada computacionalmente, pecificações solicitadas. Além disso, por
leve mais tempo para atingir a resistên- analisando a mesma estrutura, sem al- ser um produto de classe de resistência
cia de projeto. Ainda dentro desta linha, teração no consumo de cimento (418 kg/ 40 MPa e produzir menor calor na hidra-
temos um fator de suma importância m³) e na temperatura de lançamento (15 tação, o consumo de cimento será mais
que é o polimorfismo deste C3S (o tipo °C), e com alteração apenas no tipo de baixo, o que, consequentemente, reduz
M1 mais reativo e resistente).
O conjunto de equipamentos (pré-
-calcinador, forno e resfriador) e a qua-
lidade e controle das matérias primas
utilizadas na produção do clínquer
Apodi permitem atingir uma excelente
relação de reatividade e temperatura.
A Figura 3 mostra uma fotomicrografia
do clínquer Apodi, em que é possível per-
ceber um volume de C3S muito maior do
que o da Figura 4, que, por sua vez, re-
presenta um clínquer do mercado. Além
da quantidade, os tamanhos reduzidos
dos cristais e a sua regularidade podem
ser claramente notados quando em
comparação ao outro clínquer. O con-
trole químico do calcário utilizado e das
adições da farinha permite maiores con-
centrações de polimorfos M1.
Com as características do clínquer » Figura 5
obtidas através dos recursos acima ci- Gráfico do fluxo de calor do CP III - 40 RS BC comparado a um CP IV –
tados, foi possível alcançar um teor de 32 RS de mercado, comumente utilizado nas obras de base eólica
substituição maior por escória básica

& Construções
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a b

cional para ser inserido no caminhão


antes ou depois do carregamento do
restante dos materiais.
Por se tratar de um sistema automa-
tizado, verifica-se maior consistência e
qualidade no processo. De forma com-
parativa, épossível afirmar que o sistema
funciona como o de aditivos, integrado
» Figura 6 à automação da central. Não depende
Simulação do fluxo de calor em uma base com concreto lançado a 15 °C de quantificação manual, como ocorre
e consumo de cimento igual a 418 kg m3: Imagem a (esquerda) – Cimento com os sacos de gelo, proporcionando,
CP III – 40 RS BC Apodi; Imagem b (direita) CP IV – 32 RS de mercado, assim, um melhor controle do processo.
comumente utilizado nas obras de bases eólica (ensaios realizados na UFC) A Figura 8 mostra os dados regis-
trados durante uma concretagem do
projeto de substituição da ponte I-74 no
o consumo de aditivo, fazendo o concreto ao agregado e, com isso, a massa de ma- Rio Mississippi em Davenport, estado
desenvolvido com esse cimento ser mais teriais com baixa temperatura permeia de Iowa, durante o verão de 2018. Esta
econômico e eficaz que os demais. Ainda é a mistura como um todo. O agregado concretagem teve um total de 657 me-
possível dizer que, pelo menor calor libera- corresponde a mais de 70% da massa da tros cúbicos de concreto em um período
do na hidratação, o custo do resfriamento mistura do concreto, portanto, reduzir de 10 horas e, com o uso do sistema, foi
será também menor que os demais con- a temperatura do agregado, resfria, de possível manter a temperatura do con-
cretos produzidos com outros cimentos. maneira mais eficaz, toda a mistura, sem creto constante, mesmo com a signifi-
alterar o conteúdo de água. cativa subida da temperatura ambiente.
2.2 O uso de nitrogênio para Basicamente consiste em um con- A consistência observada em inú-
resfriamento de concreto junto composto pelo tanque reserva- meras operações de concretagem é ca-
tório de nitrogênio líquido, as tubula- paz de reduzir o número de caminhões
O sistema de dosificação de nitro- ções que transportam o material até rejeitados. É bastante comum o retor-
gênio líquido na esteira de agregado, o um equipamento de dosagem loca- no de cargas por não atenderem às es-
qual fora utilizado para a solução, surgiu lizado sobre a esteira de agregados, pecificações de temperatura em obra.
após um processo de pesquisa e desen- além de um painel de controle que Com o sistema de nitrogênio líquido
volvimento de mais de conco anos na se comunica com o painel da central aplicado diretamente nos agregados,
indústria de concreto dos Estados Uni- dosadora e seu respectivo software. A é possível obter maior compatibilidade
dos. Atualmente, mais de 100 plantas Figura 7 exemplifica o esquema de fun- entre cargas e melhor desempenho em
de concreto na América do Norte, entre cionamento do sistema. relação à temperatura especificada.
EUA, Canadá e México utilizam este sis- Também são observados benefícios
tema para atender às especificações de 2.2.2 Principais benefícios no âmbito ambiental e de segurança do
temperatura de lançamento do concre- trabalho. Embora ainda seja comum a
to. O sistema realiza o resfriamento dos Quando comparado ao uso de utilização de gelo no setor, este apre-
agregados quando eles são carregados gelo ou nitrogênio líquido inserido senta risco para a mão de obra e tempo
para dentro do caminhão por meio das diretamente no balão através de uma
esteiras transportadoras, permitindo lança, observa-se uma redução de
que 70% a 80% do volume de materiais custos devido à redução de mão de
constituintes do concreto seja resfriado obra e equipamentos no processo
de maneira contínua ao processo de car- de resfriamento. O gelo é normal-
regamento, viabilizando resfriamentos mente fornecido em sacos, sendo ne-
extremos, maior consistência e produ- cessário mão de obra extra para ser
tividade nas operações de concretagem. carregado no caminhão betoneira,
enquanto o nitrogênio líquido é apli-
2.2.1 Funcionamento do sistema cado diretamente na esteira de agre-
gados, durante o processo de carre-
O sistema consiste na aplicação de ni- gamento, não alterando o tempo de
trogênio líquido através de automação, e carregamento do caminhão. Há tam-
sua dosagem acontece durante o carre- bém uma redução do tempo total de
» Figura 7
gamento dos materiais, sem alteração ciclo do caminhão. Diferentemente Funcionamento do sistema
no processo da planta de concreto. Apli- do processo com gelo ou nitrogênio Fonte: Nitrocrete, 2020
ca-se o nitrogênio líquido diretamente com lança, que utiliza um tempo adi-

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» Figura 8
Temperatura do concreto X temperatura ambiente
Fonte: Nitrocrete, 2018
» Figura 9
Impactos do uso gelo e nitrogênio
Fonte: John Beath Enviromental, 2019
de inatividade para a eficiência opera- promove maior
cional. Ao automatizar o processo de produtividade
resfriamento do concreto, reduzem-se com a eliminação
os riscos de acidentes e outros proble- do ponto de carga de gelo e do ajuste térmicos, está promovendo demandas
mas associados ao esforço excessivo e de slump, uma vez que a presença de crescentes e especificações rigorosas
à fadiga devido ao levantamento inade- gelo eleva o desvio padrão do concreto que as tecnologias atuais de refrigera-
quado e repetitivo de sacos. e, consequentemente, a água de corte ção do concreto e os tipos de cimento
A agência de consultoria em susten- para controlar o concreto. do mercado brasileiro não serão capa-
tabilidade e conformidade ambiental zes de atender.
nos Estados Unidos, John Beath Envi- 3. CONCLUSÃO A solução apresentada neste artigo
ronmental (2019), realizou um com- As demandas por melhores contro- como “Non-Crack Solution” demonstra a
parativo que mostrou uma redução les de temperaturas de concreto massa aplicação do que há de mais inovador
de 83% nas emissões de carbono, uma para projetos de aerogeradores serão para a produção de fundações, com
redução de 66% no consumo de ener- cada vez maiores, devido às exigências uma proposta que cumpre os requisitos
gia e uma redução de 87% no material de tamanho das bases e resistência do técnicos e com adicionais de extremo
particulado, comparando o sistema concreto, que respectivamente serão valor para o nosso mercado, capaz de
ao gelo. O estudo mediu as categorias maiores que as atuais. A conscienti- solucionar problemas existentes nas
de impacto ambiental, como emissões zação sobre o desenvolvimento de fis- frentes de concretagem e ainda ser
de CO2, consumo de energia e material suras e a formação de etringita tardia, uma solução ambientalmente susten-
particulado (Figura 9). que são induzidas pelo aumento da tável, de maior produtividade e de ele-
Além disso, o uso do nitrogênio temperatura interna e dos gradientes vado grau técnico de eficiência. C

» REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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& Construções
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Pesquisa e Desenvolvimento DOI: 10.4322/1809-7197.2022.106.0004

Proposta de avaliação da expansão residual


proveniente da reação álcali-agregado
(RAA) e do ataque por sulfatos em
testemunhos de concreto
DANIEL V. RIBEIRO – Professor, Dr. – verasribeiro@hotmail.com, ORCID https://orcid.org/0000-0003-3328-1489;
NILSON S. DE AMORIM JÚNIOR – Ms., ORCID https://orcid.org/0000-0002-0726-4645;
BRUNA S. SANTOS – Ms., ORCID https://orcid.org/0000-0002-1635-5979;
SILAS DE A. PINTO – Ms., ORCID https://orcid.org/0000-0003-0445-1872;
HENRIQUE A. SANTANA – Ms., ORCID https://orcid.org/0000-0003-1425-9438; UFBA – BA

R E S U M O

Os ataques químicos ao concreto, com desta-


que para a reação álcali-agrega-
do (RAA) e a ação de sulfatos externos, resultando na formação de
diagnóstico por ensaios de laboratório, com destaque para as técni-
cas petrográficas e estudos da microestrutura do concreto. Entretan-
to, não existem ensaios consolidados quanto à avaliação do estágio
etringita secundária (SEF), trazem riscos às estruturas correntes, prin- atual ou das possibilidades de evolução da manifestação patológica.
cipalmente às grandes estruturas de concreto armado como barragens, Assim sendo, na presente pesquisa são feitas propostas metodológi-
pontes ou blocos de fundação. Essas reações expansivas podem levar à cas que abordam a avaliação da expansão residual em estruturas de
fissuração do concreto e, consequentemente, à perda de desempenho. concretos já existentes decorrentes da ação da RAA e da SEF residual
Os procedimentos e normas disponíveis para avaliação e prevenção em testemunhos extraídos de estruturas existentes, contribuindo para
dos riscos de ataque por sulfatos e RAA consideram a classificação a previsão da evolução da manifestação patológica. Além da proposta
das consequências dos danos, as condições ambientais de exposição de metodologia, é apresentado um estudo de caso, com ensaios em dois
das estruturas de concreto, a dimensão das peças ou elementos estru- blocos de fundação. Os resultados obtidos demonstraram que a me-
turais, os materiais, como agregados e ligantes, mas sempre no período todologia proposta apresentou elevada reprodutibilidade e coerência
pré-mistura, utilizando composições pré-determinadas e preparadas com as demais características dos testemunhos, sendo uma alternati-
em laboratório. Uma vez detectada uma manifestação patológica, seu va tecnicamente viável de avaliar a expansão residual proveniente da
diagnóstico é feito por inspeção visual, seguido de confirmação desse RAA e da ação de sulfatos, devido à formação de SEF.

PALAVRAS-CHAVE: proposta de metodologia, ação de sulfatos, reação álcali-agregado, blocos de fundação.

1. INTRODUÇÃO principalmente, às especificações dos ma- nifestações patológicas por meio de en-

A
durabilidade das estruturas teriais. No caso da prevenção do ataque saios que abordem a avaliação da expan-
de concreto armado pode ser externo por sulfatos, a diminuição da per- são residual em estruturas de concreto já
afetada por ataques físicos meabilidade do concreto é um parâmetro existentes, proposta deste trabalho.
e químicos. Dentre os ataques químicos, chave para se alcançar concretos resisten- Assim, metodologias que avaliem a
destacam-se os processos expansivos cau- tes aos sulfatos. Essa redução na perme- expansão residual, proveniente da RAA
sados pela Reação Álcali-Agregado (RAA) abilidade pode ser obtida por: i) Redução e da formação de etringita residual em
e pela ação de sulfatos externos e internos, da relação a/c; ii) Compactação adequada testemunhos extraídos de estruturas
como a formação de etringita secundária do concreto e/ou; iii) Cura adequada [4]. existentes se tornam importantes para
(SEF – Secondary Ettringite Formation) e Além disso, o uso de cimento resistente auxiliar no diagnóstico das manifestações
etringita tardia (DEF – Delayed Ettringite a sulfatos também tem um papel impor- patológicas dessas estruturas e na toma-
Formation) [1, 2]. Este trabalho se atém à tante no controle desta reação expansiva, da de decisão quanto à forma mais eficaz
RAA e à formação de etringita secundária. pelo fato destes cimentos conterem teor de intervenção.
É fundamental que a análise de risco reduzido de aluminatos.
do potencial de ocorrência dessas reações As normas disponíveis tratam de pro- 2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
expansivas seja feita preliminarmente às cedimentos que visam a identificação dos
construções. No caso da RAA, como pres- riscos de ataque por sulfatos e RAA e sua 2.1 Extração dos testemunhos
creve a ABNT NBR 15577-1 [3], as medidas prevenção, havendo poucas publicações
adequadas para preveni-las estão ligadas, que façam previsões da evolução das ma- Na presente pesquisa, utilizaram-se

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| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
testemunhos de concreto extraídos de Após os 30 dias de ensaios, é possí-
dois diferentes blocos de fundação de vel verificar o potencial de expansão re-
grandes dimensões, com resistência sidual que este concreto ainda poderá
à compressão igual a 32 MPa, quando sofrer devido à RAA.
projetado e executado.
Foram extraídos oito testemunhos 2.3 Avaliação da expansão residual
com diâmetro de 100 mm e comprimento (SEF) por ataque de sulfatos em
mínimo de 300 mm, sendo que o compri- a b testemunhos de concreto
mento ideal é de cerca de 285 mm, con-
forme procedimento descrito na norma O método utilizado para a avaliação
brasileira ABNT NBR 7680-1 [5]. Foram » Figura 1 da expansão residual devido ao ataque de
utilizados quatro deles para cada um dos (A) Corte dos testemunhos sulfatos (SEF) em testemunhos de concre-
ensaios de avaliação da RAA e do ataque para obtenção das amostras to foi uma adaptação da norma ABNT NBR
por sulfatos residuais, além de quatro tes- utilizadas na determinação 13583 [7], utilizada para avaliação da ex-
temunhos que foram avaliados quanto à da expansão proveniente da pansão acelerada de barras de argamassa,
resistência mecânica, velocidade de pro- reação álcali-agregado (RAA) e a classificação do cimento em resistente
pagação de onda ultrassônica e módulos
residual e (B) colocação do
ou não a sulfatos, de acordo com a norma
pino metálico das extremidades
de elasticidade estático e dinâmico. Os ABNT NBR 16697 [8]. Como as barras são
testemunhos utilizados apresentaram as- submetidas à cura em solução agressiva
pecto visual íntegro, não demonstrando NaOH 1N a (80 ± 2)°C (Figura 2a) e fo- de sulfato de sódio, o tipo de ataque é con-
fissuras ou formação de gel expansivo. ram medidos os seus comprimentos siderado externo.
diariamente, até os 30 dias, conforme O método adaptado consistiu em
2.2 Avaliação da reatividade observado na Figura 2b. comparar a expansão dimensional de
álcali-agregado (RAA) residual A expansão linear em cada idade (Ri) amostras de testemunhos extraídos de
em testemunhos de concreto representa a diferença entre o seu compri- concreto submetidos a uma solução
mento na idade considerada (Ei) e o com- aquosa saturada com cal (usada como
O método utilizado para a avaliação primento inicial (E0), dividida pelo compri- referência) e a uma solução de sulfato de
da reatividade álcali-agregado (RAA) mento efetivo de medida (Ee), expressa em sódio. Os procedimentos de corte dos
em testemunhos de concreto foi uma porcentagem, conforme Equação 1. testemunhos (Figura 1a), colocação dos
adaptação da norma ABNT NBR 15577-4 pinos nas extremidades (Figura 1b), colo-
[6], utilizada para avaliação da expan- [1] cação no tanque de cura durante 24 ho-
são acelerada de barras de argamassa. ras e medida dos comprimentos iniciais
Cada um dos quatro testemunhos
(φ = 100 mm, h = 285 mm) foi cortado em
4 partes, a cada 90˚, conforme Figura 1a,
empregando-se uma máquina de corte
com disco diamantado. Após o corte, fo-
ram inseridos pinos metálicos nas extre-
midades superior e inferior das amostras
resultantes, com auxílio de furadeira e
fixados com cola epóxi (Figura 1b).
Após 24 horas da inserção dos pinos,
as amostras foram dispostas em recipien-
te com água destilada, o qual foi gradu-
almente aquecido desde a temperatura
ambiente até atingir (80 ± 2)°C, permane-
cendo nessas condições durante 24 h.
Após esse período de estabilização,
as barras foram removidas do recipiente
de cura, sendo medidos os seus compri- a b
mentos iniciais, por meio de relógio com-
parador (extensômetro) com precisão de
0,001 mm, em sala climatizada a (23 ± 2)oC, » Figura 2
de modo a registrar a leitura inicial (E0). (A) Amostras provenientes dos testemunhos em banho térmico a 80ºC
Após a leitura inicial, as barras fo- e (B) medida do comprimento das amostras
ram inseridas em solução aquosa de

& Construções
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(L0) são exatamente os mesmos descri- de uma prensa
tos no item 2.2 para os ensaios de RAA. servo-hidráulica
Após a leitura inicial, metade das Contenco, mode-
amostras foram inseridas em tanque con- lo HD – 120 T, com
tendo solução aquosa de sulfato de sódio capacidade de 120
(Na2SO4), com concentração de 100 gra- tf e velocidade de
mas por litro de solução, a (40 ± 2)°C, e a carregamento
outra metade foi inserida em tanque con- igual a (0,45 ±
tendo solução saturada com cal, também 0,15) MPa/s, con-
a (40 ± 2)°C. Foram medidos os compri- forme recomen-
mentos das amostras (Li) nas idades de 7, dações da ABNT » Figura 3
14, 21, 28, 35 e 42 dias, contados a partir da NBR 5739 [9]. Rotina de carregamento cíclico das amostras,
inserção nos tanques de cura final. Antes da exe- variando entre 0,5 MPa e 30% de sua tensão
A expansão individual (Si) dos corpos cução do ensaio, de resistência à ruptura (0,3.fc), com patamar de
de prova foi determinada pela diferença os testemunhos carregamento por cerca de 1 minuto, conforme
entre o valor medido na idade corres- tiveram seu com- recomendação da ABNT NBR 8522 [10]
pondente (Li) e a leitura inicial da mesma primento medido,
barra (Lo), em milímetros, dividida pelo com posterior cor-
seu comprimento efetivo (Le), e multipli- te e retificação dos testemunhos, a fim de A resistência à compressão obtida
cado por 100, conforme Equação 2. se garantir uma superfície plana de modo no ensaio cíclico (σb) não deve diferir
a não comprometer os resultados de com- em 20% para mais ou para menos da re-
[2] pressão, além de garantir as dimensões sistência à compressão fc. O módulo de
tradicionalmente utilizadas neste tipo de elasticidade estático, Eci, foi calculado
A expansão resultante (ER) é expres- ensaio (φ = 100 mm, h = 200 mm). conforme Equação 5.
sa, em porcentagem, pelo aumento ou A resistência à compressão axial (fc)
diminuição da expansão do corpo de é dada pela razão entre a carga máxima [5]
prova, devido ao ataque da solução de (P) suportada pelo corpo de prova e a
sulfato de sódio (Es) em relação à ex- área da sua seção original (A), de acor- Em que σb é a tensão maior, em
pansão do corpo de prova disposto em do com a Equação 4. MPa, (σb = 0,3.fc); 0,5 é a tensão básica,
solução aquosa saturada com cal (Eg), expressa em MPa; εb é a deformação es-
sendo calculada conforme a Equação 3. [4] pecífica média, (ε = ΔL/L), dos corpos de
prova sob a tensão maior; εa é a defor-
[3]
mação específica média dos corpos de
Após o término do ensaio (42 dias), é 2.4.2 Determinação do módulo prova sob a tensão básica (0,5 MPa).
possível verificar o potencial de expansão de elasticidade estático (eci)
residual que este concreto ainda poderá 2.4.3 Determinação da velocidade
sofrer devido ao ataque por sulfatos, de- O módulo de elasticidade do con- de propagação de onda
correntes de DEF ou, principalmente, SEF. creto relaciona a tensão aplicada à de- ultrassônica e do módulo de
formação instantânea obtida, sendo elasticidade dinâmico
2.4 Caracterização físico-mecânica um importante parâmetro para cál-
dos testemunhos de concreto culos estruturais. Antes de se realizar Para a determinação da velocidade
este ensaio, foi necessário determinar de propagação de onda ultrassônica e
Os ensaios foram realizados com os a resistência à compressão do concreto do módulo de elasticidade dinâmico,
testemunhos antes da imersão em so- a ser estudado (fc), conforme procedi- foi utilizado um equipamento emissor
luções de hidróxido de sódio e sulfato de mentos descritos no item 2.4.1. de ondas ultrassônicas (Pundit Lab, da
sódio. Esses testemunhos foram extraí- A seguir, os testemunhos cilíndricos marca Proceq, com transdutores de 54
dos em estruturas existentes que sofre- de concreto experimentaram carrega- kHz), efetuando-se o ensaio em todos
ram degradação ao longo dos anos. mento cíclico, variando entre 0,5 MPa e os testemunhos disponíveis.
30% de sua tensão de resistência à rup- Após medida do comprimento dos
2.4.1 Determinação da tura (0,3.fc) e, ao atingir estas tensões, testemunhos, aplicou-se uma camada de
resistência à compressão o carregamento foi mantido constan- gel condutor nas extremidades das amos-
axial (fc) te por cerca de 1 minuto, conforme re- tras e na superfície dos transdutores, posi-
comendação da ABNT NBR 8522 [10]. cionando-os centralizados nas faces opos-
O ensaio para determinação da re- Após o terceiro ciclo, o carregamento tas e efetuando a medida. A velocidade de
sistência à compressão axial dos tes- foi aplicado até a ruptura do corpo de propagação de onda ultrassônica (V), em
temunhos foi realizado com auxílio prova, conforme ilustrado na Figura 3. m/s, é determinada segundo a Equação 6.

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apresentou uma
[6] expansão igual a
(0,28 ± 0,07)%,
Em que L é o comprimento das amos- classificando seus
tras, isto é, a distância entre os pontos de agregados como
acoplamento dos centros das faces dos potencialmente
transdutores, em metros; t é o tempo reativos (grau R1).
decorrido desde a emissão da onda até a Todavia, essa clas-
sua recepção, em microssegundos (ms). sificação quanto
A partir dos valores da velocidade de à gravidade só é
propagação de ondas, é possível deter- válida caso haja
minar o módulo de elasticidade dinâmico presença de álcalis
(Ed) dos artefatos conforme Equação 7. e água suficien- » Figura 4
tes para garantir Expansão residual devida à RAA em amostras de
[7] testemunhos extraídos dos blocos de fundação 1
a continuidade da
e 2, em função do tempo de ensaio acelerado
Em que ρ é a densidade de massa no reação. O bloco de
estado endurecido, em kg/m³; V é a velo- fundação 02 apre-
cidade que a onda ultrassônica leva para sentou uma ex-
percorrer o corpo de prova no sentido lon- pansão igual a (0,13 ± 0,06)%, classifican- expansão monitorada durante 42 dias.
gitudinal, em km/s; K é um coeficiente, do seus agregados como potencialmente Os resultados apresentados na Figura 5,
determinado por meio do coeficiente de inócuos (R0). resultantes da média de leitura das qua-
Poisson (ν), de acordo com a Equação 8. De acordo com a norma ABNT NBR tro amostras, apresenta a evolução da
15577-1 [3], agregados com reatividade R1 expansão média das barras provenientes
[8] apresentam risco moderado a alto quando dos testemunhos dos blocos de fundação
presentes em blocos de fundação (Tabela 01 e 02, dispostas em solução de sulfato
1). Agregados classificados como inócuos de sódio e em solução saturada com cal,
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES (R0) apresentam risco desprezível e nenhu- além da consequente expansão resultan-
ma medida de prevenção é necessária. Ob- te, em valores resumidos na Tabela 2.
3.1 Avaliação da reatividade serva-se que o bloco de fundação 01 apre- Verificou-se, após 42 dias de ensaio,
álcali-agregado (RAA) residual senta maior risco à estrutura, a depender uma expansão resultante igual a cerca de
em testemunhos de concreto da presença de álcalis no meio, pois ainda (0,29% ± 0,02)% e (0,14% ± 0,04)% para
tem potencial para uma elevada expansão os blocos de fundação 01 e 02, respectiva-
Após obtenção, conforme metodo- residual, estando longe de uma estabiliza- mente. A ABNT NBR 16697 [11] e Marciano
logia apresentada, as amostras tiveram ção. A depender de levantamentos com- [12] estipulam um valor máximo aceitável
sua expansão monitorada durante 31 plementares quanto à agressividade do de expansão igual a 0,03%. Observa-se
dias. De acordo com os resultados apre- solo e da água em contato com a estrutura, que os resultados obtidos para os teste-
sentados na Figura 4, resultantes da mé- esta poderá necessitar de uma intervenção munhos dos dois blocos se encontram
dia de leitura das quatro amostras, ob- mais acentuada, como uma amarração ex- muito acima do valor máximo prescrito
serva-se uma expansão final igual a (0,28 terna, sob pressão. O bloco 02 está próximo para se considerar um cimento resistente
± 0,07)% e (0,11 ± 0,06)% para os blocos de uma estabilização e não deverá sofrer a sulfatos, principalmente para o bloco
de fundação 01 e 02, respectivamente. graves expansões nos próximos anos, mes- de fundação 01, cuja expansão resultante
Com base nas faixas de valores de mo com a presença de álcalis no sistema é quase 10 vezes superior a este valor.
expansão estabelecidos pela ABNT NBR e, assim, uma intervenção mais simples,
15577-1 [3], para ensaios executados de tais como uma injeção de nata de cimento, 3.3 Caracterização mecânica
acordo com a ABNT NBR 15577-4 [6], foi preenchendo as fissuras já existentes deve dos testemunhos de concreto
possível classificar o grau de reatividade ser suficiente. Vale ressaltar que devido à
potencial dos agregados nessas estrutu- metodologia proposta possuir um caráter De forma adicional, foram determi-
ras, apesar de as dimensões e a compo- de ineditismo, foi utilizado o procedimento nados a resistência à compressão axial
sição dos testemunhos não serem exa- padrão, utilizando a temperatura de 80°C. e o módulo de elasticidade estático
tamente as mesmas preconizadas pela em seis testemunhos (três para cada
ABNT NBR 15577-1 [3].O que se pode con- 3.2 Avaliação da expansão residual ensaio) extraídos em cada um dos blo-
cluir com segurança é que os resultados (SEF) por ataque de sulfatos em cos de fundação, conforme resultados
evidenciam que os agregados presentes testemunhos de concreto apresentados na Tabela 3.
em ambas as estruturas ainda possuem Conforme destacado no procedi-
potencial reativo. A situação pode ser Após obtenção, conforme metodolo- mento experimental, os dois blocos
mais grave no bloco de fundação 01, que gia apresentada, as amostras tiveram sua foram produzidos com concretos com

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» Tabela 1 » Tabela 2
Grau de risco da reatividade álcali-agregado (RAA) em função das Expansão média das amostras
dimensões e condições de exposição da estrutura, com base em provenientes dos testemunhos
resultados de ensaios acelerados, de acordo com ABNT NBR 15577-1 [3] dos blocos de fundação 01 e 02,
imersas em solução de sulfato
Classe de reatividade do agregado
de sódio e em solução saturada
Dimensões e condições de exposição dos com cal, além da consequente
elementos estruturais de concreto R0 R1 R2 R3 expansão resultante
Não maciço em ambiente seco (UR < 60%) Desprezível Desprezível Mínimo Moderado
Elemento maciço (menor dimensão > 1m)
em ambiente seco
Desprezível Mínimo Moderado Alto Bloco de
Solução de imersão fundação
Todas as estruturas geralmente externas expostas
Desprezível Moderado Alto Muito alto 01 02
à umidade do ar, enterradas e imersas
Todas as estruturas em contato com álcalis Solução de sulfato de sódio (i) 0,33% 0,19%
em condições de serviço (água do mar, solos Desprezível Alto Muito alto Muito alto Solução saturada com cal (ii) 0,04% 0,05%
contaminados, lençol freático contendo álcalis, etc.)
Expansão resultante (i – ii) 0,29% 0,14%

resistência de projeto (fck) igual a 32 MPa. de testemunhos podem ser classifica- redução de cerca de 6% na velocidade
Observa-se que o concreto utilizado no das como concretos de qualidade “mui- de propagação das ondas, resultando
bloco 02 apresentou redução pouco sig- to boa” quanto à compacidade, segun- em uma redução de cerca de 21% no mó-
nificativa na resistência à compressão do a norma BS EN12504-4 [13], já que as dulo de elasticidade dinâmico.
e, de acordo com o desvio padrão, está velocidades ficaram entre 4,0 km/s e Segundo Li et al. [14], o módulo de
ainda em condições aceitáveis, ao con- 4,5 km/s. No entanto, observa-se uma elasticidade dinâmico obtido por meio
trário do concreto presente no bloco 01,
que teve uma queda de cerca de 25% em
sua resistência à compressão axial.
Os resultados de propriedades me- » Tabela 3
cânicas apresentam grande coerência Resistência à compressão axial (fc) e Módulo de elasticidade estático (Eci)
com os resultados de RAA e ataque por dos testemunhos de concreto extraídos dos blocos de fundação 01 e 02
sulfatos apresentados anteriormente.
Observa-se que os concretos que apre- Módulo de elasticidade estático,
sentam maior reatividade potencial são Resistência à compressão, fc
Bloco de Eci
aqueles que apresentaram maior perda Amostra
fundação
Valor individual Média Valor individual Média
de desempenho ao longo do tempo. (MPa) (MPa) (MPa) (MPa)
De forma complementar, foram reali-
1a 21,0 12,18
zados ensaios de avaliação da velocidade
Bloco 1 1b 27,6 23,90 ± 3,37 15,72 13,80 ± 1,79
de propagação de pulso de onda ultrassô-
nica nos testemunhos testados, confor- 1c 23,1 13,50
me resultados apresentados na Tabela 4. 2a 32,3 14,50
De acordo com os resultados do en- Bloco 2 2b 28,5 30,57 ± 1,92 17,65 17,38 ± 2,75
saio de ultrassom, todas as amostras 2c 30,9 19,98

a b

» Figura 5
Expansão residual média em amostras de testemunhos extraídos dos blocos de fundação (A) 01 e (B) 02,
dispostas em soluções de sulfato de sódio e saturada com cal e as consequentes expansões resultantes, ao
longo do tempo, em função do tempo de ensaio acelerado

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» Tabela 4
Velocidade de propagação de pulso de onda ultrassônico e módulo de
elasticidade dinâmico (Ed) dos testemunhos de concreto extraídos dos
blocos de fundação 01 e 02
suscetíveis à reação álcalis-agregado e
Velocidade Ed Velocidade Ed médio à expansão por sulfatos residuais, em
Bloco Amostra (km/s) (GPa) média (km/s) (GPa) relação aos testemunhos do bloco de
1a 4,067 38,22 fundação 2, indicando que o bloco 01
1b 4,277 40,53 apresenta agregados mais reativos e
Bloco 1 1c 4,092 37,04 4,12 ± 0,08 31,97 ± 6,94 características do concreto mais vul-
1d 4,060 41,39 neráveis ao ataque de sulfatos exter-
1e 4,114 37,70 nos, provenientes do solo ou água;
2a 4,395 44,24 » O bloco de fundação 02 apresentou
2b 4,438 44,36 maior resistência mecânica, rigidez
Bloco 2 2c 4,227 35,87 4,37 ± 0,09 40,45 ± 3,77 estática e dinâmica em relação ao
2d 4,454 39,72 bloco 01, indicando perda de desem-
penho predominante decorrente do
2e 4,339 38,06
ataque por sulfatos externos, com
formação de etringita secundária;
do ensaio de determinação da propa- e, possivelmente, menos fissuras em rela- » A metodologia proposta permitiu
gação de ondas ultrassônicas analisa o ção ao bloco 01, sendo um indício de que comparar e analisar de forma satis-
grau de compacidade do material, a fim fatória estruturas que possam estar
o bloco 01 foi mais afetado pelas fissuras
de se verificar a porosidade do concreto sendo acometidas por RAA e ataque
ocasionadas por problemas com RAA e/
e presença de fissuras, podendo apen- por sulfatos, indicando seu potencial
ou ataque por sulfatos (DEF ou SEF) [15].
sas ser correlacionado com o módulo de de expansão residual. Aliadas a ou-
elasticidade estático. tros levantamentos como caracterís-
Apesar da diferença absoluta entre os
4. CONCLUSÕES ticas de projeto do concreto e grau de
valores dos módulos de elasticidade está- A partir dos resultados apresenta- agressividade do solo e água em con-
tico e dinâmico, constata-se que a redu- dos, conclui-se que: tato com essas estruturas, ela pode
ção dos valores (21%) é semelhante, indi- » Os testemunhos de concreto do bloco contribuir para identificar a melhor
cando que o bloco 02 possui maior rigidez de fundação 01 apresentaram-se mais forma de intervenção. C

» REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] TORRES, I.F.; ANDRADE, T. Risk analysis of the delayed ettringite formation in pile caps foundation in the metropolitan region of Recife – PE
– Brasil. IBRACON Structures and Materials Journal, v. 9, n. 3, p. 376-394, 2016.
[2] ZHAO, G.; SHI, M.; FAN, H.; CUI, J.; XIE, F. The influence of multiple combined chemical attack on cast-in-situ concrete: Deformation,
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[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 15577-4: Agregados ― Reatividade álcali-agregado - Parte 4:
Determinação da expansão em barras de argamassa pelo método acelerado. Rio de Janeiro, 17 p., 2018.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 13583: Cimento Portland — Determinação da variação dimensional
de barras de argamassa de cimento Portland expostas à solução de sulfato de sódio. Rio de Janeiro, 14 p., 2014.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 16697: Cimento Portland – Requisitos. Rio de Janeiro, 2018.
[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 5739: Concreto – Ensaio de compressão de corpos de prova cilíndricos.
Rio de Janeiro, 14 p., 2018b.
[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 8522: Concreto endurecido - Determinação dos módulos de
elasticidade e de deformação - Parte 1: Módulos estáticos à compressão. Rio de Janeiro, 2021.
[11] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 16697: Cimento Portland – Requisitos. Rio de Janeiro, 12 p., 2018c.
[12] MARCIANO, Z.A.N. Desenvolvimento de um método acelerado para avaliação da resistência de argamassas de cimento Portland expostas à
solução de sulfato de sódio. 1993. 202 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil). Universidade de São Paulo, São Paulo, 1993.
[13] EUROPEAN STANDARD – BRITISH STANDARD. BS EN 12504-4: Testing concrete. Determination of ultrasonic pulse velocity. Bruxelas,
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[14] LI, M.; ANDERSON, N. L.; SNEED, L. H.; KANG, X. An Assessment of Concrete Over Asphalt Pavement Using Both the Ultrasonic Surface
Wave and Impact Echo Techniques. Journal of Environmental and Engineering Geophysics, v. 21, i. 4, p. 137-149, 2016.
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coupled ASR and DEF. Engineering Fracture Mechanics, v. 232, s/n, paper 107055, 16 p., 2020.

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 61
Pesquisa e Desenvolvimento DOI: 10.4322/1809-7197.2022.106.0005

Avaliação das propriedades mecânicas


e de autocicatrização de bioconcreto
produzido com bacillus subtilis
MARIANA ZAKRZEVSKI – Eng. – mariana_zak@hotmail.com, ORCID https://orcid.org/0000-0002-3741-1861;
ANDRÉ L. SOKOLOVSKI – Grad. – ORCID https://orcid.org/0000-0002-3258-0084;
JULIA K. DE RÉ – Grad. – ORCID https://orcid.org/0000-0003-4828-7648);
GABRIEL F. NESTOR – Grad. – ORCID https://orcid.org/0000-0001-6182-3906);
SUELEN C. VANZETTO – Ms Prof. – ORCID https://orcid.org/0000-0003-0430-6130)
URI – RS

R E S U M O

A fissura é uma manifestação patológica muito


comum em edificações. Haja vista, o
bioconcreto vem sendo estudado para minimizar e corrigir tal
expandida. A moldagem dos corpos de prova sucedeu conforme
os traços de referência, com argila expandida e argila com bac-
térias encapsuladas. O concreto contendo bactérias apresentou
empecilho, a fim de reduzir intervenções externas na estrutura. grandes melhorias na resistência à compressão quando compa-
Essa alternativa utiliza do metabolismo de bactérias para a pro- rado ao concreto confeccionado somente com argila expandi-
dução de carbonato de cálcio, substância responsável pela ve- da, praticamente igualando seus resultados ao concreto de re-
dação de fissuras. O trabalho desenvolvido utilizou de Bacillus ferência. Também foi possível identificar uma possível presença
subtilis para a confecção do bioconcreto, onde foi analisada a de carbonato de cálcio em fissuras do concreto e no interior da
eficiência da mesma quando encapsulada em partículas de argila argila expandida, manifestando o processo de autocicatrização.

PALAVRAS-CHAVE: bioconcreto, carbonato de cálcio, bacillus subtilis, autocicatrização.

1. INTRODUÇÃO de cicatrização é limitado a pequenas fis- Bioconcretos são concretos que pos-

A
fissuração é a principal porta suras, havendo a necessidade da busca suem um agente biológico na sua com-
de entrada de água ao interior por outras alternativas. O bioconcreto posição, sendo este capaz de induzir a
das estruturas de concreto. aplicado na estrutura viabiliza, de forma formação de carbonato de cálcio nos va-
Esta ocorrência pode desencadear a corro- segura, sustentável e econômica, o pro- zios da estrutura. As bactérias inseridas
são nas armaduras, podendo levar as estru- cesso de autorreparação da estrutura da- são encapsuladas, a fim de que quando
turas ao colapso (VENQUIARUTO, 2017). nificada. (BARROS et al. 2018). surgirem fissuras e, consequentemente,
A má qualidade dos mate- contato com a água, essas
riais, problemas no projeto e bactérias comecem a agir, ve-
execução, bem como a ação dando as aberturas geradas,
do tempo, podem vir a causar (VIEIRA, 2017).
patologias nas edificações. As Ansiando minimizar, ou
fissuras são consideradas a até mesmo evitar, a necessida-
patologia mais comum, sen- de de manutenções corretivas
do o principal caminho para a nas edificações, o objetivo da
entrada de agentes agressivos pesquisa é analisar a eficácia
nas estruturas de concreto. da incorporação de bactérias
O concreto dispõe de um Bacillus subtilis na produção
processo de cicatrização na- de bioconcretos, verificando
tural, que se dá pelo preenchi- o preenchimento de fissuras
mento dos vazios das fissuras através da produção de carbo-
através da hidratação das nato de cálcio.
porções anidras de cimento
» Figura 1
Portland remanescentes no Fluxograma do procedimento metodológico
2. DESENVOLVIMENTO
concreto (EUZÉBIO et al. 2017). Fonte: Autores (2021) O projeto em questão
Contudo, o processo natural foi desenvolvido em etapas

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| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
parado no laboratório de Engenharia A argila expandida que foi adiciona-
de Alimentos, localizado no Campus I da aos traços de concreto entrou como
da Universidade Regional Integrada do substituição de 15% da massa total de
Alto Uruguai e das Missões (URI), em brita, detendo a função de encapsular o
Erechim/RS. agente regenerador de fissuras.
A cepa de Bacillus subtillis (ATCC Para formação das fissuras foi feita
6633), armazenada em freezer a pré fissuração dos corpos de prova com
-80ºC, foi ativada previamente em 10 70% da carga de ruptura aos 7 dias. As
mililitros (mL) de meio Luria Bertani análises de resistência à compressão e
(LB) no decorrer de 24 horas a (36±1) ºC recuperação de fissuras foram feitas 28
dentro de estufa bacteriológica. Pos- dias após a moldagem dos corpos de
teriormente, a suspensão bacteriana prova. Foram confeccionados 12 cor-
gerada foi transferida para um fras- pos de prova para cada traço, passan-
co de erlenmeyer contendo 90 mL de do pelo processo de cura em câmara
meio LB para a produção do inóculo, úmida e em ciclos (72 horas em câmara
sendo este, incubado também a (36±1) úmida e 72 horas exposta ao ar). A distri-
ºC por 24 horas na mesma estufa. Por buição dos corpos de prova em relação
» Figura 2 fim, o inóculo foi transferido para ou- aos ensaios realizados está descrita na
Meio de cultura com bactérias tro frasco erlenmeyer, este contendo Tabela 1.
Bacillus subtilis 900 mL de caldo LB e acomodado em Na etapa da concretagem, primei-
Fonte: Autores (2021)
estufa na mesma temperatura e perí- ramente foi adicionada a brita na be-
odo já citados, totalizando ao final, 1 toneira, seguida por parte da água, ci-
distribuídas ao longo de um ano. Prelimi- litro (L) de meio de cultura. Este pro- mento, areia, o restante da água e por
narmente efetuou-se a revisão bibliográ- cedimento foi feito em duplicata, ob- fim o aditivo. O mesmo processo foi
fica, abrangendo pesquisas já realizadas tendo-se 2 litros do composto. O meio realizado nos concretos com a adição
sobre o assunto. A fração experimental de cultura formado é apresentado na da argila expandida e argila expandida
da pesquisa foi executada em quatro eta- Figura 2. com bactérias, colocados na mistura
pas, sendo elas apresentadas na Figura 1. O concreto moldado dispôs de al- juntamente com o agregado graúdo.
guns procedimentos distintos, quando Os materiais utilizados e o processo de
2.1 Preparo dos materiais comparado ao concreto convencional. produção do concreto são exibidos nas
É o caso da preparação das cápsulas Figuras 4 e 5, respectivamente.
O meio de cultura contendo bacté- contendo bactérias e meio de cultivo, Vinte e quatro horas após a mol-
rias da espécie Bacillus subtillis foi pre- executada com o auxílio da argila ex- dagem, os corpos de prova foram re-
pandida. As partículas de argila expan- tirados das formas. Nesta etapa, os
dida foram embebidas na solução de mesmos foram destinados à cura em
Bacillus subtilis e meio de cultivo, per- câmara úmida, permanecendo por 7
manecendo em sistema aberto duran- dias até a pré-fissuração, onde foi apli-
te 72 horas, a fim de ocorrer a absorção cada uma força equivalente a 70% da
da solução. O processo foi realizado de sua resistência à compressão, gerando
acordo com a Figura 3. fissuras no concreto, que adiante deve-
rão ser cicatrizadas pelas bactérias en-
2.2 Moldagem dos corpos de prova capsuladas em argila expandida.

Os corpos de prova de bioconcreto


foram moldados em formas metálicas » Tabela 1
cilíndricas com 10 centímetros de diâ- Quantidade de corpos de prova
metro e 20 centímetros de altura. Fo-
dispostos para cada ensaio
ram dosados três diferentes traços de
concreto, sendo: Idade Resistência à Análise
Tipo de para visual das
concreto
a) traço 1 (referência): cimento, areia, ensaio compressão fissuras
brita e água; Traço 1 28 dias 6 6
b) traço 2: cimento, areia, brita, argila
» Figura 3 Traço 2 28 dias 6 6
expandida e água; Traço 3 28 dias 6 6
Processo de encapsulamento
em argila expandida c) traço 3: cimento, areia, brita, água e Total — 18 18
Fonte: Autores (2021) argila expandida com meio de cultu- Fonte: Autores (2021)
ra e bactérias.

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 63
úmida e em ciclos, estão dispostos nas
Tabelas 2 e 3, respectivamente.
O concreto com argila expandida,
em ambos os casos, obteve resul-
tados inferiores aos demais traços.
Quando submetidos à cura úmida,
os corpos de prova somente com ar-
gila expandida apresentaram uma
resistência 30,6% menor do que a do
concreto de referência e 23,4% menor
do que as amostras com argila e bac-
térias. Em relação a cura em ciclos, as
divergências foram ainda maiores, in-
dicando uma resistência 33,2% menor
do que a do concreto de referência e
31,9% menor do que as amostras com
argila e bactérias. A Figura 5 facilita o
a b entendimento dos resultados.
Para melhor avaliação dos resulta-
dos foi realizado o teste Tukey, o qual
» Figura 4 identificou que o concreto contendo
a) Materiais utilizados na concretagem; b) Processo de produção argila expandida, quando submetido
do concreto
à cura úmida, é estatisticamente di-
Fonte: Autores (2021)
ferente dos concretos de referência e
com argila e bactérias, quando sub-
metidos à cura em ciclos.
2.3 Ensaios em estado endurecido dos corpos de prova, por intermédio de Foi possível constatar que o uso
prensa hidráulica. As análises serviram das bactérias na confecção do concre-
Foram realizados ensaios e análises de comparativo para a resistência en- to aumentou a resistência à compres-
nos corpos de prova de bioconcreto em tre os traços, bem como para identifi- são quando comparado ao concreto
estado endurecido, sendo eles: resis- car a influência que a argila expandida, somente com argila expandida, atin-
tência à compressão e análise visual da meio de cultivo e bactérias tem sobre gindo valores próximos ao concreto
recuperação de fissuras. a mesma. de referência. Esse comportamento
pode ter relação com uma possível
2.3.1 Resistência à compressão 2.3.2 Análise visual da recuperação precipitação de carbonato de cálcio,
de fissuras promovido pelas bactérias encapsula-
Os ensaios de resistência à com- das na argila expandida.
pressão (ABNT NBR 5739:2018) foram Observou-se também as fissuras O mesmo é identificado em diver-
realizados 28 dias após a moldagem previamente geradas nos corpos de sos outros estudos, sendo um deles o
prova, com o intuito de detectar a for-
mação de cristais de carbonato de cál-
» Tabela 2 cio e, consequentemente, a sua cicatri- » Tabela 3
Resultados dos ensaios de zação. Essa identificação foi feita com o Resultados dos ensaios de
resistência à compressão aos auxílio de Lupa Estereoscópica. resistência à compressão aos
28 dias (cura úmida) 28 dias (cura em ciclos)
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Tipo de Resistência à Desvio Coeficiente Tipo de Resistência
Uma vez concluídos os ensaios dos à Desvio Coeficiente
compressão padrão de variação compressão padrão de variação
concreto corpos de prova em estado endurecido, concreto
(MPa) (MPa) (%) (MPa) (MPa) (%)
fez-se a análise dos resultados obtidos
Referência 40,1 3,1 7,7 Referência 45,1 1,0 2,2
para cada tipo de traço e cura.
Argila Argila
30,7 7,1 23,3 33,9 4,2 12,4
expandida expandida
Argila 3.1 Resistência à compressão Argila
expandida expandida
37,8 3,3 8,8 44,7 3,0 6,8
com Os resultados obtidos para os en- com
bactérias bactérias
Fonte: Autores (2021)
saios de resistência à compressão dos Fonte: Autores (2021)
corpos de prova curados em câmara

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| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
realizado por Nguyen (2019), que cada visualmen-
constatou que o uso de Bacillus subti- te a presença de
lis diminui a porosidade do concreto, partículas que di-
o que consequentemente aumenta ferissem do con-
sua resistência à compressão, diminui creto tradicional.
a absorção de água e a permeabilida- No entanto, em
de de cloretos. relação ao con-
O aumento da resistência à com- creto com argila
pressão quando realizada a cura em e bactérias, pe-
ciclos também foi mencionada por quenas partículas
outros autores, como é o caso de Valin esbranquiçadas
e Lima (2010), que identificaram um foram identifica-
aumento na resistência à compressão das nas falhas do
quando empregados ciclos de 7 dias concreto e no in-
em cura úmida e expostas ao ar em terior da argila ex-
relação a cura somente exposta ao ar, pandida, indican-
ou então em câmara úmida. do uma possível
presença de car-
3.2 Identificação visual de bonato de cálcio;
cicatrização de fissuras contudo, há a ne-
cessidade de mais » Figura 5
O processo de autocicatrização do estudos compro- Comparação das resistências à compressão aos
concreto é um dos parâmetros mais batórios por meio 28 dias (cura úmida e em ciclos)
importantes a ser avaliado, uma vez de análise mine- Fonte: Autores (2021)

que será ele o responsável pelo sela- ralógica, como a


mento das fissuras sucedidas no con- difração de raios
creto, fissuras estas provenientes do X, ou avaliações por meio de MEV, de de cálcio tendem a vedar irregularida-
pré-carregamento realizado sete dias maneira a se confirmar essa provável des presentes no concreto, multiplican-
após a concretagem. deposição de carbonatos. As Figuras 6 do-se com a presença de água.
A identificação visual das fissuras foi e 7 apresentam a identificação de fis-
feita com o auxílio de uma lupa estere- suras no interior da argila expandida e 4. CONCLUSÕES
oscópica com aumento de 20 e 40 ve- a presença de produtos esbranquiça- Quando comparados os tipos de
zes e em pontos isolados com micros- dos em seu interior, o que sugere uma cura, pode-se concluir que os corpos
cópio contendo aumento de 200 vezes. provável precipitação de carbonato de de prova que foram submetidos à cura
Não foi possível identificar claramente cálcio no interior delas. em ciclos alcançaram melhores re-
muitas fissuras, porém foi possível re- Na Figura 8 é possível identificar sultados em relação aos expostos em
conhecer pequenas falhas na matriz do nitidamente a diferença entre a argila cura úmida.
concreto. Nas amostras do concreto de que possui bactérias encapsuladas e a
referência e com argila, não foi identifi- que não possui. Cristais de carbonato

» Figura 8
» Figura 6 Comparação entre o interior
Identificação de fissuras em de argila expandida com
argila expandida com bactérias » Figura 7 bactérias (imagem à esquerda)
(aumento de 20x e 40x Amostra de concreto com e argila expandida (imagem à
respectivamente) argila expandida e bactérias direita), com 200x de aumento
Fonte: Autores (2021) Fonte: Autores (2021) Fonte: Autores (2021)

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Quanto à resistência à compressão, o concreto confeccionado somente ção de carbonato de cálcio em pontos
houve pouca diferença nos resultados com argila. de falha.
dos corpos de prova de referência e com A cicatrização de fissuras foi iden- Possivelmente, se submetidos a um
argila e bactérias, indicando que a pre- tificada somente nos corpos de prova maior período de cura, os corpos de
sença de bactérias aumenta a resistên- que possuíam bactérias encapsula- prova contendo argila e bactérias te-
cia mecânica do concreto. Em ambos das na argila expandida e, principal- riam maior ocorrência de cicatrização e
os tipos de cura, a melhor resistência à mente, nos que foram submetidos à aumento na resistência à compressão,
compressão foi encontrada nos concre- cura em ciclos. A região ao redor de dado que, os cristais de carbonato de
tos de referência, seguidos pelo concre- fissuras que foram avistadas na argila cálcio necessitam de um período maior
to com argila e bactérias, e, por último, também apresentou possível forma- para se desenvolver. C

» REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[5] VENQUIARUTO, Simone Dornelles. Influência da microfissuração causada nas primeiras idades na durabilidade de concretos ao longo
do tempo (Self-Healing). Porto Alegre: UFRGS, 2017.
[6] VIEIRA, Juliana Aparecida. Biodeposição de CaCO3 em materiais cimentícios: contribuição ao estudo da biomineralização induzida por
Bacillus subtilis. Porto Alegre: UFRGS, 2017.

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Estruturas em Detalhes DOI: 10.4322/1809-7197.2022.106.0006

Pavimento de concreto colorido e


permeável: aplicações em ciclovias –
estudo de caso construtivo
JOSÉ T. BALBO – Prof., ORCID https://orcid.org/0000-0001-9235-1331;
JOSÉ R. S. MARTINS – Prof., ORCID https://orcid.org/0000-0002-3331-1222;
ANDREIA P. CARGNIN – Doutoranda, ORCID https://orcid.org/0000-0003-1568-2756;
ERIC R. DA SILVA – Doutorando, ORCID https://orcid.org/0000-0003-3211-8372;
HELENA LO RIBEIRO – Graduanda, ORCID https://orcid.org/0000-0003-0447-2622;
CAROLINA M. ESPOSITO – Graduanda, ORCID https://orcid.org/0000-0002-2014-9174 – EPUSP

R E S U M O

Apresenta-se o processo construtivo de


ciclovia experimental com
concreto permeável colorido. São detalhados, além dos aspectos
obras e as lições extraídas do experimento construtivo, que se-
rão de utilidade prática para projetistas e construtores dessas
infraestruturas urbanas. As dificuldades e aprendizados explo-
de projeto, os preparativos referentes à escavação, guias laterais, ram aspectos como perda de coloração superficial por aplicação
conformação do subleito, aplicação de base com agregado re- de alisadora de concreto, retração de secagem, efeito de molha-
ciclado de entulho de construção e de demolição, emprego de gem do concreto fresco por águas de chuva, dentre outros não
manta de PEAD, instalação de dreno para coleta de águas plu- menos importantes.
viais, aplicação dos concretos coloridos e seu processo execu-
tivo. Por fim, são apresentadas as dificuldades observadas em

PALAVRAS-CHAVE: concreto permeável, concreto colorido, ciclovias, processo construtivo.

1. AS SUPERFÍCIES DE CICLOVIAS zados, são delimitadas por sinalização a impermeabilização causada em

A
s ciclovias, como faixas ex- adequada, como a segregação por meio superfícies pavimentadas deve ser o
clusivas e completamente de tachões refletivos viários que iden- principal objeto de mitigação para
isoladas para o fluxo dos ci- tificam uma transposição entre faixas cidades sustentáveis (BALBO, 2020);
clistas, são ainda o tipo de via em menor de rolamentos. A pintura da superfície » Antiderrapante, o que texturas super-
extensão nos projetos urbanos no Brasil, da faixa da ciclofaixa ou ciclorrota é re- ficiais abertas certamente proporcio-
sendo normalmente preteridas pelas ci- alizada naturalmente com emprego de nam em níveis superiores a superfícies
clorrotas ou ciclofaixas. Esta situação não tintura específica para superfícies im- lisas em vista da exposição de agrega-
é uma escolha casual, mas relacionada à permeáveis, como são os casos das con- dos, que possuem sua microtextura
oferta para atendimento de demanda do vencionais e imperativas misturas asfál- intrínseca e sua macrotextura de con-
transporte cicloviário, sendo que o eleva- ticas densas em sistemas viários e dos junto, embora pouco relevantes para
do custo de ciclovias, que, com todos os pavimentos de concreto convencionais. concretos que ofereçam permeabilida-
seus equipamentos viários, pode chegar O Manual do GEIPOT (2001) traz di- de vertical intensa (15 a 35% de vazios);
facilmente ao milhão de reais por quilô- versos conceitos relevantes no trato de » Possuir aspecto agradável, o que es-
metro quando construídas em concreto. dimensionamento de ciclovias, reque- tabelece uma seara um tanto quan-
Arengo-Alvarez (2021), empregando mo- rendo no que tange à sua pavimentação: to subjetivista para se decidir por to-
delagem com o Highway Development and » Regularidade de superfície, o que se nalidades e cores;
Management Model (HDM-4) e com base traduz por conforto ao rolamento, » Necessidade de diferenciação visual,
em análises socioeconômicas, conclui mantidos valores de irregularidade por meio de cor, de faixas cicloviárias,
que tais ciclovias exclusivas se justificam, longitudinais em níveis baixos e acei- até mesmo para incrementar a segu-
na cidade de São Paulo, para volumes de táveis para o tipo de veículo circulan- rança operacional viária, o que en-
ao menos 1.000 bicicletas diariamente. te (bicicleta); volve aspectos psicológicos, visuais e
As ciclofaixas, que utilizam para sua » Ser superfície impermeável, o que, comportamentais dos condutores de
definição uma fatia da faixa de rolamen- infelizmente, é conceito a ser meta- veículos motorizados e de bicicletas;
to originalmente de veículos motori- morfoseado, pois, em vias urbanas resta acrescentar nesse tópico, além

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 67
da normativa, que o concreto colo- na parte I sobre os estudos de dosagem de concreto em seus limites;
rido abre perspectivas estéticas nas de concretos permeáveis pigmentados » Trechos em concreto colorido se-
vias urbanas normalmente não con- (CONCRETO & Construções 105), em seu quenciais ao primeiro, com 35 m
sideradas em projetos corriqueiros; contexto são apresentadas as perspecti- de extensão cada um, sem guias de
» Que, no caso de concretos de li- vas acerca do processo executivo de tais concreto, visando atender à situação
gantes hidráulicos, é pertinente o pavimentos permeáveis, indicando suas mais comum de implantação de ci-
emprego de óxidos de ferro como dificuldades específicas e merecedoras clovias em canteiros centrais de ave-
adição na mistura para garantir a de estudos mais aprofundados. nidas e em praças públicas (Figura 2).
coloração, no caso, avermelhada, Cabe aqui uma consideração impor-
conforme prática no Brasil (não obri- 2. IMPLANTAÇÃO DE UMA tante. Em ciclovias, normalmente, as fai-
gatoriamente em outros países). CICLOVIA COLORIDA EM xas são pintadas com tintas de elevado
A aplicação de material inadequado CONCRETO PERMEÁVEL desempenho para resistir às intempéries.
para colorir a superfície das ciclovias (EXPERIMENTAL) Contudo, a experiência paulistana tem
gera problemas de segurança aos usu- mostrado que, além de ser um material
ários. “Em muitos casos, a utilização de 2.1 Local do experimento custoso (a tintura especial), deve passar
tinta inadequada faz com que a ciclovia se por renovações de periodicidade anual
torne escorregadia na chuva, causando aci- A pista teste cicloviária em concretos ou bienal, dependendo do tráfego so-
dentes e colocando os ciclistas em risco. É o permeáveis coloridos foi construída na bre a superfície. Portanto, o uso de pig-
que aconteceu com a primeira etapa da Ci- Praça do Pôr do Sol, na Av. Prof. Lineu Pres- mentos coloridos no concreto, embora
clovia Rio Pinheiros (Vila Olímpia – Miguel tes, no campus da Universidade de São também custosos (e dependentes da cor
Yunes): as quedas e reclamações eram cons- Paulo (Cidade Universitária, Butantã). Na do pigmento), poderá representar uma
tantes. Hoje em dia, com a tinta já bastan- Figura 1, é apresentado o levantamento do estabilidade de tonalidade longeva, evi-
te desgastada, o problema diminuiu muito” local com a indicação do trecho de 100 m tando-se os altos custos de manutenção
(Cruz, 2013). Entende-se claramente de extensão. Ao lado (em paralelo) da ci- de superfícies coloridas com tintas, que,
a partir da opinião de leigos que a pin- clovia-teste existe uma calçada permeável por sinal, requerem nova demarcação de
tura sobre a superfície deve preservar (concreto) construída em 2016. sinalização de pista após cada aplicação.
absoluta condição de aderência pneu/ Aproveita-se, assim, o experimento para
pavimento para se evitar acidentes na 2.2 Projeto de execução se criar o conhecimento que possa aba-
modalidade. Isso também é aplicável a lizar a melhor maneira, futuramente, de
calçamentos para pedestres. As seguintes dimensões foram se dar cores a essas superfícies peculiares.
A coloração da superfície de ciclovias definidas, levando-se em considera- As estruturas de pavimentos (Figura 3 e 4)
por meio de pinturas com tintas espe- ção aspectos de circulação mínima foram fixadas após análise mecanicista
ciais é passível de certas desvantagens, de bicicletas: (BALBO, 2020) e considerando recomen-
algumas mais problemáticas: exigência » Largura da pista (ciclovia) de 2,2 m, 1,1 dações internacionais (ACI, 2010), con-
de tinturas de custo elevado; manuten- m por sentido de tráfego; tendo as camadas abaixo descritas, sendo
ção anual da pintura superficial em fun- » Extensão total de 100 m; suas peculiaridades indicadas na Tabela 1.
ção de deterioração por ação de águas » Trecho com inclusão de estudos hi- » 100 mm de concreto permeável;
(ácidas ou não) e radiação ultravioleta; dráulicos com 30 m de extensão e » 100 mm de base granular compos-
formação de superfícies lisas e de me- hermeticamente fechado por guias ta por resíduos de construção e de
nor aderência. Esses aspectos devem ser
considerados na análise de curto e longo
prazo desse investimento para melhor
abalizar a solução adequada.
Dessa forma, o artigo presente
retrata um projeto internacional em
andamento com a Fundação de Am-
paro à Pesquisa do Estado de São Pau-
lo (FAPESP) e o CONICYT (Comisión
Nacional de Investigación Científica y
Tecnológica del Chile) em parceria com
a Universidad de La Concepción, além do a b
Programa USP MUNICÍPIOS, que tem
por finalidade o desenvolvimento de
tecnologias e sua disseminação para » Figura 1
melhoria de sustentabilidade de cidades a) Plano cotado do local; b) Vista de satélite do local
do Estado de São Paulo. Após discussão

68 | & Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
bicicletas. O processo construtivo teve
» Tabela 1 início em setembro de 2020, compreen-
Peculiaridades dos segmentos dendo as seguintes etapas:
de teste I. Demarcação com piquetes dos
offsets do segmento completo
Extensão para operação de pá-escavadeira
Segmento Peculiaridades
(m)
(Figura 5);
Estudos hidráulicos,
com captação de II. Remoção de grama e blocos de
água. Emprego de concretos intertravados na super-
manta de PEAD sobre
o subleito para impedir fície existente (Figura 6);
1 30 infiltração no solo. III. Escavação do extrato inferior com
Tubulação perfurada
para coleta de água e manutenção do fundo da escava-
ligação a vertedouro ção (camada final do subleito ou
» Figura 2
instalado no início do Situação de implantação da
segmento. topo do subleito) -200 mm abaixo
ciclovia em concreto permeável
Concreto colorido da posição da superfície natural (o
2 35 vermelho; infiltração trecho todo possui caimento de 2%
total no solo.
do final para o início – Figura 7); víveis após construção (Figura 9);
Concreto colorido
3 35 verde; infiltração total IV. Instalação de guias de concreto VI. Nivelamento manual do fundo da
no solo. laterais e de fechamento nas ex- caixa no Trecho 1;
tremidades do Trecho 1 (com 30 m) VII. Escavação da canaleta central
e mantendo-se o distanciamento longitudinal em toda extensão do
demolição (reciclados RCD), buscan- entre as faces internas das guias Trecho 1 para posterior posiciona-
do incrementar a sustentabilidade laterais de 2,2 m, a largura útil da mento do tubo de 50 m (diâme-
ambiental do projeto, como referên- ciclovia (Figura 8); tro) perfurado, para captação de
cia para uso prático por prefeituras; V. Instalação de formas laterais de águas pluviais sob a base granular
» Subleito não compactado (para per- madeira nos 70 m restantes, remo- de RCD (Figura 10);
mitir melhor infiltração d`água) na
cota de escavação da caixa (200 mm).
A opção de concreto permeável na
cor azul foi descartada devido ao alto
custo do pigmento à base de óxido de
cobalto, tornando-se um caso de re-
plicação mais específica, além dos ob-
jetivos de estudos e pesquisas sobre a
infraestrutura cicloviária construída.
Nas Figuras 2 a 4 ilustram-se o projeto
de implantação da ciclovia e as seções
transversais dos segmentos projetados.
» Figura 3
Seção transversal do primeiro segmento com teste hidrológico-hidráulico
3. EXECUÇÃO DA CICLOVIA
Unidade de medida: cm
EXPERIMENTAL COLORIDA
Como já esclarecido anteriormente,
a ciclovia foi construída em três trechos:
o primeiro para testes hidráulicos com
seção confinada em concreto permeável
sem coloração; os dois trechos sucessi-
vos, com 35 m de extensão cada um,
em vermelho e verde, respectivamente,
para testes funcionais e estruturais nos
pavimentos. Nos trechos 2 e 3, não fo-
ram instaladas guias de concreto nem
lona plástica, permitindo-se que a água
precipitada sobre a superfície infiltre no » Figura 4
terreno natural pelas bordas laterais e Seção transversal do segundo e terceiro trechos
subleito; essa é a condição que mais re- Unidade de medida: cm
trata o comum em sistemas viários para

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» Figura 5 » Figura 6 » Figura 7
Demarcação de offsets Remoção de grama e blocos Escavação

VIII. Colocação de dupla manta de concretos etc.) com diâmetro entre para captação de águas sob o pa-
PEAD com material já especificado 12 e 19 mm. Estudos prévios labora- vimento (Figura 14);
anteriormente (Figura 11); toriais indicaram porosidade (índi- XII. Lançamento do concreto perme-
IX. Posicionamento do tubo de 50 ce de vazios) de 70% para o material ável sem pigmentos na seção 1 e
mm na camada longitudinal en- (Laboratório de Tecnologia de Pavi- sucessivamente nas seções 2 e 3
volto inferiormente pela manta de mentação da EPUSP), valor esse (vermelho e verde), por meio de
PEAD (Figura 12); bem razoável posto que espera-se, bica de caminhões betoneira, de-
X. Lançamento de agregado recicla- para bases permeáveis nesse tipo sempenamento superficial e aca-
do (RCD), proveniente de Valinhos de pavimentação, a meta de 40% bamento com equipamento alisa-
(SP), da usina de reciclagem da em- de porosidade (Figura13); dor circular (“bambolê”), conforme
presa SBR (SBR Reciclagem – Re- XI. Execução da caixa coletora na ex- apresentado nas Figuras 15 a 22.
cursos renováveis e meio ambien- tremidade da seção de controle No tocante à aplicação dos concre-
te); este agregado consistia em para coleta de água, conectada tos permeáveis, a execução dos reves-
padrão pedra 1 (na realidade uma com o tubo de 50 mm instalado timentos em concretos permeáveis se
mistura de pedras, tijolos, telhas,

» Figura 10
» Figura 9 Escavação da canaleta central
» Figura 8 Instalação de formas laterais para posicionamento posterior
Instalação de guias (trecho 1) (trechos 2 e 3) do tubo de coleta

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| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
» Figura 11 » Figura 13
Colocação de manta de PEAD » Figura 12 Lançamento do agregado
(trecho 1) Posicionamento de tubo coletor reciclado como base permeável

» Figura 14 » Figura 15 » Figura 16


Instalação de caixa de coleta Espalhamento do concreto Regularização da superfície

» Figura 17 » Figura 18 » Figura 19


Compactação com rolo manual Acabamento com alisadora Execução do trecho com
de concreto circular concreto vermelho

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| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 71
de 2,5 m de geratriz, cujo peso por me-
tro linear é de 68 kg, conforme sugeri-
do pela Colorado Ready Mixed Concrete
Association (CRMA, s.d.) A superfície foi,
então, finalizada com a passagem de
um alisador circular giratório para con-
cretos, equipamento utilizado para aca-
bamento e regularização de pisos indus-
triais, com o intuito de eliminar possíveis
ondulações decorrentes da passagem
do rolo para compactação da mistu-
ra. Esse equipamento foi passado uma
única e exclusiva vez, pois a sua aplica-
ção excessiva poderá resultar no fecha-
mento dos poros mais superficialmente,
comprometendo a capacidade drenante
desejada para o revestimento. Em segui-
» Figura 20 » Figura 21
da as superfícies foram cobertas com
Acabamento do trecho 2 Início do espalhamento
lençóis de polietileno pelo período de 15
com alisadora do concreto verde
dias. Na Figura 23, é apresentada ima-
gem do resultado obtido para os trechos
deu conforme descrito na sequência. coloridos após 15 dias de sua execução. 4.2 Perda de trabalhabilidade –
Os concretos foram transportados en- secagem
tre a usina e o local de aplicação por 4. LIÇÕES APRENDIDAS
caminhões betoneira, em volumes de Observou-se a necessidade de adi-
3,5 a 4,5 m3; o tempo de transporte era 4.1 Aplicação do concreto colorido ção de litros adicionais de água de amas-
de aproximadamente 15 minutos. Lan- em pista samento durante fases da concretagem
çado o concreto com a bica de uma nas betoneiras com concretos coloridos.
betoneira, baixa, procedia-se o espalha- Não foram observadas alterações Esse fato está possivelmente associa-
mento com auxílio de enxadas. Após o importantes em termos de trabalha- do às recomendações da ASTM quanto
espalhamento e regularização da su- bilidade, espalhamento e acabamento aos cuidados e execução do material
perfície de concreto permeável, seu sutil das superfícies coloridas. O emprego em pista, devendo ser razão de obser-
adensamento (BALBO, 2020) foi obtido de réguas metálicas, rolos manuais e vações e determinações mais precisas
com auxílio de régua metálica, sucedi- alisadora circular não causaram a re- futuramente. Diante dos processos
da pela passagem de um rolo manual moção de pigmentos da superfície dos
agregados, nem mesmo seu arrancha-
mento da massa. Tal método constru-
tivos com os procedimentos adotados,
que já foram utilizados em experimen-
to anterior em 2016 em calçada para-
lela à atual ciclovia-teste, já haviam se
mostrado satisfatórios e não prejudi-
ciais ao resultado.
Contudo, depois de uma semana
do experimento, removida a manta
de cura, observou-se claramente que
a operação de alisadoras circulares
(chamadas vulgarmente de bambolê),
removeu a pasta de cimento envol-
tória na superfície em diversas áreas,
removendo, consequentemente, a
tonalidade concedida pelos pigmen- » Figura 23
tos. Recomenda-se, portanto, não se Resultados da ciclovia-teste
» Figura 22 empregar tal tipo de acabamento final com concretos permeáveis
Superfície finalizada em concretos integralmente coloridos coloridos
com pigmentos.

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observados, recomenda-se que a exe- mento e agregados, o que se torna um pista é consequência das variações nos
cução completa do concreto permeável problema enorme a possibilidade de processos de produção (incluindo mis-
colorido não ultrapasse 1 h 30 min após fluxo de água sobre a superfície fresca, o tura) dos concretos coloridos. Embora
sua preparação em usina. que levaria a pasta a ser destacada dos tenha se mantido com rigor a pesagem
agregados e conduzida para o fundo da dos materiais constituintes por metro
4.3 Períodos de chuva durante a camada de revestimento e mesmo de cúbico de concreto, entre dois cami-
construção e suas consequências base, inutilizando por completo o pa- nhões betoneira que foram empregados
vimento. No momento em que a pre- para a construção do trecho 2 (vermelho),
No dia de execução dos concretos, cipitação iniciou, imediatamente o es- ocorreu sutil variação na tonalidade final.
ocorreram eventos climáticos pluviais palhamento foi suspenso e a superfície A única alteração ocorrida nas misturas
durante a execução do trecho 1 (sem coberta com lona plástica por completo. entre o primeiro e segundo caminhões
pigmentos). O concreto permeável é Contudo, isso não foi completa- foi uma quantidade ligeiramente maior
composto praticamente de pasta de ci- mente eficiente, pois houve locais com de água de amassamento associada à
visível desagregação superficial (Figura molhagem dos agregados (no estoque a
24 a 27) e mesmo completa (em profun-
didade) do concreto permeável, que ti-
veram de ser mapeados para execução
de recortes e de remendos parciais, o
que leva à conclusão da inviabilidade
de execução do material em dias chu-
vosos. A desagregação apresentada,
de grande impacto, revela áreas onde o
concreto foi parcialmente “lavado”.

4.4 Fissuras de retração


no concreto permeável

Em função dos experimentos ante-


riores em 2015 e 2016 no campus da USP
em São Paulo, com calçadas em concreto
permeável, ficou cristalina a necessidade
» Figura 24 de execução de juntas de contração para
Superfície em local indução da retração hidráulica (de seca- » Figura 26
com desagregação gem) nesses elementos. Isso foi previsto Aspecto de superfície
e realizado em espaçamentos de aproxi- desagregada
madamente dez metros (em função das
ocorrências verificadas anteriormente),
sendo que, contudo, embora executa-
das imediatamente após a conformação
do concreto (em profundidades de 5 cm,
com disco de corte manual), houve caso
não efetivos de controle. Na Figura 28, é
apresentada imagem de uma fissura de
retração ocorrida fora da junta de controle
e verificada já três dias após a conclusão
das obras. Esse tópico deverá ser analisa-
do com mais propriedade nas novas cons-
truções experimentais para áreas de esta-
cionamento de veículos leve no primeiro
semestre de 2022, pois merece aprofunda-
mento para maior compreensão desse fe-
nômeno nesses concretos muito porosos.
» Figura 25
Detalhe de desagregação 4.5 Variação de tonalidade » Figura 27
com simples manipulação Aspecto de superfície íntegra
O resultado da cor no concreto em

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 73
dos concretos empregados na ciclovia tração medidos em campo dos concre-
experimental. Testes de hipótese F para tos sem pigmento e verde são estatisti-
a variância das amostras foram reali- camente iguais ao valor médio obtido
zados para determinar se as variâncias na calçada permeável construída em
seriam equivalentes ou diferentes, con- 2016 e cuja mistura balizou a dosagem
forme descritos na Tabela 2. dos concretos com pigmento. Contu-
A partir disso, procedeu-se à realiza- do, a confrontação das médias com o
ção de testes de hipótese t-Student para concreto com pigmento vermelho reve-
duas amostras (para fins de comparação lou que as médias são de fato diferentes
entre as taxas de infiltração), presumin- devido aos efeitos outrora discutidos.
do-se variâncias equivalentes, cujos re-
sultados são resumidos na Tabela 3. 5. CONCLUSÕES
Os testes de hipótese confirmaram, O presente projeto de pesquisa en-
para um nível de significância de 95% sejou avaliar a aplicabilidade e os as-
que os valores médios de taxa de infil- pectos que norteiam a execução de

» Figura 28
Aspecto da fissura de retração » Tabela 2
descontrolada Teste F: duas amostras para variâncias

céu aberto na usina) devido à chuva an- Parâmetros Ref 21 2016 2016 Verm 21 Verde 21 2016
test F
terior à sua aplicação. Esse acréscimo foi
o provável responsável pela leve variação Média 2,545 2.437 2,437 0,887 2,227 2,437
na tonalidade superficial do concreto, o Variância 0,623 0.254 0,254 0,121 0,408 0,254
que deve ser objeto de atenção durante Observações 10 11 11 10 10 11
as obras que requerem dezenas de me- gl 9 10 10 9 9 10
tros cúbicos de concreto colorido que F 2,458 2,092 1,610
são lançados em dias diferentes, com di- P (F < = f) uni- 0,088777 0,140875 0,234203
-caudal
ferentes operadores de usina, betoneira
F crítico
e motoristas, condições atmosféricas e 3,020 3,137 3,020
uni-caudal
equipes de execução, em especial, para Resultado Aceita Ho: variâncias iguais Aceita Ho: variâncias iguais Aceita Ho: variâncias iguais
lotes de concretagem contíguos.

4.6 Taxa de infiltração medida » Tabela 3


em campo Teste t-Student para médias de duas amostras presumindo variâncias
equivalentes – taxa de infiltração média (cm/s)
A parte I do presente estudo publi-
cada em edição anterior a esta (Balbo
Parâmetros
et al., 2022) apresentou dados de taxa teste 2016 Ref 21 2016 Verm 21 2016 Verde 21
de infiltração medida em campo para t-Student
os concretos estudados. Eles mostra- Média 2,437 2,545 2,437 0,887 2,437 2,227
ram que a adição de pigmento afeta Variância 0,254 0,623 0,254 0,121 0,254 0,508
parcialmente a taxa de infiltração me- Observações 11 10 11 10 11 10
dida em campo. Todavia, os autores Variância
pontuam que tal impacto esteve mais 0,429 0,191 0,327
agrupada
diretamente relacionado ao ajuste do gl 19 19 19
aditivo superplastificante para melhor Stat t -0,377 8,120 0,842
dispersão do cimento e pigmento do P (T < = t) 0,355 6,72E-08 0,205
que ao aumento do volume de pasta uni-caudal
decorrente da adição. t crítico 1,729 1,729 1,729
uni-caudal
Tais dados foram comparados aos P(T < = t)
dados de taxa de infiltração medida em 0,710 1,37E-07 0,410
bi-caudal
campo nos estudos de Curvo (2017) e t crítico bi-caudal 2,093 2,093 2,093
Batezini (2019) – desenvolvidos no LM- Resultado Aceita H0: médias iguais Rejeita H0: médias diferentes Aceita H0: médias iguais
P-EPUSP - e que nortearam a dosagem

74 | & Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
ciclovias com o emprego de concretos quaisquer alterações nesse sentido fraestrutura cicloviária, de modo que se
permeáveis coloridos desde a sua dosa- devido a excesso de umidade nos possa potencializar os benefícios propor-
gem em laboratório, que consistiu na materiais fatalmente acarretarão cionados por tais estruturas no que tange
Parte I publicada em edição anterior a esmaecimento da cor. seu efeito compensatório no pico de ju-
esta publicação, até a sua posterior exe- Destarte, o presente estudo corrobo- sante dos sistemas de drenagem, atuação
cução, levando às seguintes conclusões rou o potencial de execução de concretos como bacia de bioretenção e combate aos
no que tange os aspectos construtivos: coloridos para fins de aplicação em in- efeitos das ilhas de calor urbano. C
» O emprego de equipamentos do tipo
bambolê para acabamento super-
ficial não deve ser utilizado, espe- » Ficha Técnica
cialmente quando da execução de
concretos pigmentados, dado seu Fomento Tipo de participação Detalhes
impacto na alteração de tonalidade
Auxílio à Pesquisa em parceria com
da superfície em decorrência da re- FAPESP o CONICYT (Chile) e Universidad Processo 2019/13269-4
moção, ainda que parcial, da pasta de La Concepción
de cimento que envolve os agrega- CNPq Bolsa de Produtividade em Pesquisa Processo 304391/2019-0
Nível 1
dos graúdos;
Escavação, assentamento de guias, execução de
» A execução de pavimentos de con- Prefeitura do Campus Execução da obra básica drenagem, assentamento de lona de PEAD, tubulação
creto permeáveis não deve ser reali- da Capital – USP de infraestrutura e colocação da base de agregado reciclado;
paisagismo e sinalização de pista cicloviária
zada durante a ocorrência de even-
USP Municípios
tos pluviométricos; ou, em caso de Projeto USP Cidades Mensalidade de bolsistas de iniciação Vice-Reitoria da USP – Parcerias para o
Sustentáveis – SANTANDER científica e de pós-graduação
os trabalhos já terem sido iniciados, desenvolvimento paulista –https://municipios.usp.br
esta deve ser interrompida e a parte
Parcerias Tipo de participação Detalhes
executada completamente coberta
de modo a evitar que a precipitação Dosagem e fornecimento de Dosagens em suas instalações em Santana do
Polimix concretos usinados Parnaíba, SP
carreie a pasta de cimento fresca,
Fornecimento de pigmentos coloridos
acarretando intensa desagregação Lanxess Óxidos de ferro e de cromo
vermelhos e verdes
posteriormente; Execução e acabamento do concreto
Engenharia de Pisos – EP Equipe de execução
» Ainda no que tange as alterações de e formas de madeira trechos 2 e 3
tonalidade, é essencial que a relação Fornecimento de agregados Material cinza-avermelhado
SBR Reciclagem reciclados de construção e de
a/c seja mantida constante duran- de 12 a 19 mm
demolição para base das ciclovias
te todo o processo executivo, pois

» REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. ACI 522R: Report on Pervious Concrete. Farmington Hills: 2010. 40 p.
[2] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS – ASTM. ASTM C1701/C1701M – Standard Test Method for Infiltration
Rate of In Place Pervious Concrete. West Conshohocken, PA, USA, 2009.
[3] ARENGO-ÁLVAREZ, L.F. Análise de Benefícios Econômicos do Emprego do Transporte Não Motorizado (Ciclovias) por meio do
Modelo HDM-4 – Estudo de Caso para o Município de São Paulo. Dissertação (Mestrado), Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo, (Orientador: José Tadeu Balbo), São Paulo, 2021.
[4] BALBO, J. T. Pavimentos de Concreto Permeáveis: uma visão ambiental da tecnologia sustentável emergente. Oficina de Textos,
São Paulo, 2020.
[5] BALBO, J. T.; MARTINS, J. R. S.; CARGNIN, A. P.; RIBEIRO, H. L.; ESPOSITO, C. M.; SILVA, E. R. Concreto colorido e permeável para
ciclovias: estudo de dosagem laboratorial. CONCRETO & CONSTRUÇÃO, v. 1., p. 34-41, 2022.
[6] BATEZINI, R. Estudo das características hidráulicas e mecânicas de calçadas em concreto permeável em pista experimental. Doutorado
(Tese). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.
[7] COLORADO READY MIXED CONCRETE ASSOCIATION – CRMA. Specifier’s Guide for Pervious Concrete Pavement Design
Version 1.2. Colorado Ready Mixed Concrete Association, Centennial, CO. Disponível em: https://www.sefindia.org/forum/files/
pervious_concrete_guide_2009_08_18_176.pdf (Acesso: 04.09.2021).
[8] CURVO, F. O. Estudo da drenabilidade de calçadas experimentais em concreto permeável no Campus Armando Salles de Oliveira da USP.
Mestrado (Dissertação). Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.
[9] CRUZ, W. Como são pavimentadas (ou pintadas) as ciclovias – na Holanda e no Brasil. Disponível em: <https://vadebike.org/2013/08/
pintura-ciclovias-holanda-e-brasil/>. (Acesso: 04.09.2021).
[10] GEIPOT - Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes. Manual de Planejamento Cicloviário. Ministério dos Transportes, Brasília,
D.F., 2001.

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 75
Estruturas em Detalhes DOI: 10.4322/1809-7197.2022.106.0007

Análise comparativa entre lajes maciças


e nervuradas: estudo de caso no
estacionamento do TCE-MA
VITOR A. S. LIRA – Eng. – SGE; ROBERTO H. G. TEIXEIRA – Eng. – TCE-MA

R E S U M O

Quando se trata de lajes em concreto ar-


mado, cada modelo estrutural
possui características diferentes, tais como: forma de execução, geo-
Assim, este trabalho teve por objetivo comparar a laje nervurada
do estacionamento do TCE-MA com uma laje maciça equivalente
dimensionada, de modo que se pudesse concluir qual delas apre-
metria, materiais empregados, consumo de materiais, custos, tempo sentava a melhor viabilidade econômica. Ao final da pesquisa, con-
de execução, etc. Assim, é válido questionar se o modelo estrutural cluiu-se que o modelo de laje nervurada construído no Tribunal de
de laje nervurada utilizado na construção do estacionamento do Contas do Estado do Maranhão é mais econômico que o modelo de
Tribunal de Contas do Estado do Maranhão (TCE-MA) possui al- laje maciça equivalente calculada, por conta do menor consumo de
guma vantagem em relação ao modelo estrutural de laje maciça. materiais, que acarreta menor custo final e economia na estrutura.

PALAVRAS-CHAVE: laje, maciça, nervurada.

1. INTRODUÇÃO dos materiais inertes entre as mesmas mos vãos, de modo que se conclua qual

L
ajes são elementos estruturais objetivando uma melhor otimização deva apresentar a melhor viabilidade
que têm a função de receber do elemento. econômica.
diretamente as cargas de um Sendo assim, questiona-se: o mode- No ramo da engenharia civil, cada
pavimento e transferi-las para vigas ou lo estrutural de laje nervurada utilizado modelo estrutural adotado nas cons-
pilares. Geometricamente, esses ele- na construção do estacionamento do truções possui vantagens, desvanta-
mentos apresentam as duas primeiras Tribunal de Contas do Estado do Mara- gens, características e propriedades
dimensões muito maiores que a ter- nhão (TCE-MA) possui quais vantagens distintas, logo, a comparação entre os
ceira, que é denominada de espessura, em relação ao modelo estrutural de laje dois tipos de lajes abordados neste es-
sendo este um dos parâmetros mais maciça? Portanto, este estudo tem por tudo prático é relevante e válida para
importantes a serem considerados nos objetivo comparar a laje nervurada do pontuar as diferenças entre cada mo-
cálculos estruturais. Tratando-se de la- estacionamento do TCE-MA com uma delo e nortear o engenheiro a escolher
jes em concreto armado, cada modelo laje maciça, dimensionada para supor- qual a melhor solução estrutural a ser
estrutural possui características dife- tar as mesmas cargas e vencer os mes- executada em sua construção.
rentes, tais como: forma de execução,
geometria, materiais empregados, cus-
tos e tempo de execução.
Atualmente dois modelos estru-
turais de lajes muito utilizados nas
construções são as lajes maciças e as
nervuradas. As lajes maciças são pla-
cas delgadas de concreto armado com
espessura mínima de 8 cm (segundo
as normas da Associação Brasileira de
Normas Técnicas – ABNT, quando seu
uso inclui sobrecarga de pessoas), cujas
extremidades normalmente são apoia-
das por vigas. Já, as lajes nervuradas » Figura 1
possuem zona de tração constituída Estacionamento do Tribunal de Contas do Estado do Maranhão
de nervuras, geralmente sendo utiliza-

76 | & Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
2. DESENVOLVIMENTO
A pesquisa é um estudo de caso, de
caráter quantitativo e qualitativo, que
foi realizada em escritório e em cam-
po, locais onde foram coletadas todas
as informações acerca da construção
da estrutura de laje nervurada do esta-
cionamento do TCE-MA (Figura 1), tais
como: projetos estruturais, memoriais
descritivos, relatórios da construção e
composições de custos.
Logo após esta etapa, foi dimensiona-
da para o mesmo estacionamento uma
estrutura de laje maciça utilizando-se os
mesmos parâmetros de cálculos retirados
dos memoriais da estrutura existente. O
modelo de cálculo adotado para o dimen- » Figura 2
sionamento da laje maciça é descrito no Planta da estrutura
capítulo 7 do livro “Cálculo e detalhamento Fonte: Adaptado de TCE-MA (2015)
de estruturas usuais de concreto armado:
segundo a NBR 6118/2014” – 4° edição, do
professor Roberto Chust de Carvalho. vagas de estacionamento, contando com c) Vigas de 20 x 70 cm;
Assim, de posse dos dados da estru- 240 vagas para carros de pequeno porte, d) Aço CA50 para armadura longitudinal;
tura já existente (laje nervurada) e dos distribuídas em dois pavimentos, um tér- e) Cobrimento de 3 cm;
dados da estrutura dimensionada (laje reo e um elevado. f) Classe III de agressividade ambiental;
maciça), foi feita a comparação e análise A estrutura de suporte do pavimento g) Brita 1;
entre os dois modelos de estruturas, de elevado foi executada com fundações tipo h) Lajes projetadas para uso de estaciona-
modo a destacar qual possui a melhor estaca raiz, pilares de concreto armado, mento (veículos de até 3 kN/m²);
viabilidade econômica. Esta compara- vigas de concreto armado e lajes nervura- i) Contrapiso de cimento e areia de 5 cm
ção ocorreu através do levantamento das armadas nas duas direções, além de com peso específico de 21 kN/m3;
quantitativo de concreto, aço, fôrmas duas lajes maciças em balanço nas extre- j) Fôrma ATEX 650 com abas iguais.
e cimbramento utilizado no projeto de midades laterais, tendo como acesso uma Na Tabela 1, consta o resumo dos ma-
cada modelo estrutural. rampa executada em laje maciça. A Figura teriais utilizados na construção da laje
Além disso, para as duas estruturas 2 mostra a etapa construtiva de coloca- nervurada:
foram adotados os preços unitários de ção das fôrmas, que foi feita após as vigas A taxa de aço da estrutura da laje ner-
serviços que constam na licitação da laje atingirem a resistência necessária para re- vurada (ρ’n) pode ser calculada de acordo
nervurada (ocorrida em 2015), para que, ceber as cargas que atuariam nas etapas com a equação 1.
desta forma, a base comparativa de custo posteriores da execução.
das estruturas não seja diferente. Assim, Sendo que as lajes possuem vãos di-
versos, variando de 4,00 metros a 8,04
[1]
com base nos quantitativos e nos pre-
ços unitários dos serviços, comparou-se metros de comprimento, observa-se tam-
os custos financeiros totais de execução bém que as lajes centrais da estrutura se
entre os dois modelos de estruturas, de repetem. Assim, após a colocação das 2.2 Laje maciça equivalente
forma a apontar qual modelo apresentou fôrmas, a armadura foi posicionada na es-
melhor viabilidade econômica para o caso trutura conforme o detalhamento do pro- O método de dimensionamento de
do estacionamento do TCE-MA. jeto e, após a verificação da execução do lajes maciças foi feito com base na teoria
posicionamento das armaduras, a laje foi das placas delgadas (método elástico),
2.1 Laje nervurada do concretada em duas etapas com concre- conforme regulamenta a norma vigente
estacionamento do TCE-MA to usinado conforme as normas técnicas (ABNT NBR 6118 (2014)). Segundo Car-
vigentes. De acordo com o projeto estru- valho (2015), são feitas considerações
O estacionamento do prédio anexo tural e consultas com o corpo técnico que práticas para simplificação dos cálculos
do Tribunal de Contas do Estado do Ma- executou a obra, foram extraídos todos os da laje, admitindo que as placas sejam
ranhão está situado na Avenida Professor dados relevantes acerca da construção do constituídas de material homogêneo,
Carlos Cunha, S/n, no bairro Calhau, em estacionamento, sendo eles: elástico, isótropo, linear fisicamente e
São Luís do Maranhão. Foi projetado para a) fck = 25 MPa; com pequenos deslocamentos.
suprir a necessidade do órgão público por b) Retirada do escoramento aos 28 dias; Também se considera que a ação das

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 77
considerado a compatibilização dos mo- A taxa de aço da estrutura da laje ma-
» Tabela 1 mentos negativos entre uma laje e outra. ciça (ρ’m) pode ser calculada de acordo
Resumo dos materiais Os cálculos foram feitos apenas para a re- com a equação 2.
utilizados na laje nervurada gião onde originalmente existem as lajes
nervuradas, a rampa de acesso e as duas ρ’m = massa total de aço/Volume total de concreto
[2] ρ’m = 29254 Kg / 333,8 m³
Material Quantidade lajes em balanço não foram recalculadas, ρ’m = 87,6 Kg/m³
Concreto 240,80 m³ pois já se tratam de lajes maciças.
Aço 16.595,00 kg As lajes foram agrupadas de acordo
Fôrma de polipropileno 2.384,40 m² com suas dimensões, convencionando- 3. RESULTADOS
Fôrma de chapa resinada 55,32 m² -se nos cálculos que o eixo X seria a dire- Após quantificar os materiais utiliza-
Cimbramento 0,37 ± 0,03 ção da menor dimensão da laje e o eixo Y dos na construção da laje nervurada do
2.384,40 m² 0,44 ± 0,09 referente à direção da maior dimensão da TCE-MA, procedeu-se ao dimensiona-
Fonte: Autor (2018) laje. Logo, seguiu-se o roteiro de cálculo mento e detalhamento de uma estru-
de forma que, ao final do dimensiona- tura em laje maciça equivalente, cujos
mento, obteve-se lajes de 14 cm de altura, materiais necessários para execução
placas nas vigas faz-se somente por meio armadas nas duas direções com barras de também foram quantificados. Pode-se
de forças verticais, que as ações das placas diâmetros e espaçamentos diversos. Vale então comparar a quantidade de mate-
nas vigas são uniformemente distribuí- ressaltar que o cálculo das lajes maciças riais utilizados em cada modelo de laje
das, que não há transmissão de carga di- foi realizado de modo que as flechas ime- conforme a Tabela 3.
retamente para os pilares, que as vigas de diatas e as flechas ao longo do tempo de Assim, observa-se um aumento de
contorno não são deslocáveis na direção permanência da estrutura se enquadram 38,62% no consumo de concreto e um au-
vertical e que a rotação das placas no con- nos limites da norma. mento de 76,30% no consumo de aço da
torno é livre ou totalmente impedida. Depois de realizados todos os cál- laje maciça em relação à laje nervurada.
Vale ressaltar que, apesar de a laje culos, elaborou-se o detalhamento da Nota-se, também, que a laje maciça apre-
ser concretada juntamente com as vigas estrutura. A Figura 3 mostra a dimensão sentou um aumento de 27,14% da taxa de
(dando ao conjunto um comportamen- da laje maciça. aço em comparação com a taxa de aço da
to monolítico de viga-laje), o dimensio- Após o detalhamento, organizou-se laje nervurada.
namento é feito como se a laje fosse um em um quadro a quantidade de materiais A laje nervurada é executada com
elemento isolado por questão de simpli- levantados para a execução da laje maci- fôrmas de polipropileno e chapa resina-
ficação dos cálculos, logo, também, foi ça, conforme mostra a Tabela 2. da, enquanto que a laje maciça é cons-
truída exclusivamente com fôrmas de
chapa resinada. Assim, constatou-se
um aumento de 1% no consumo da área
de fôrmas da laje nervurada em relação
à laje maciça - esta pequena diferença
se dá por conta da altura da laje nervu-
rada (0,26 m), que é maior que a altura
da laje maciça dimensionada (0,14 m).
Além disso, o quantitativo de cimbra-
mento é igual para os dois modelos de
laje, pois a área de cobertura das lajes é
equivalente.

» Tabela 2
Resumo dos materiais
utilizados na laje maciça

Material Quantidade
Concreto 333,80 m³
Aço 29.254,00 kg
Fôrma de polipropileno 0 m²
» Figura 3 Fôrma de chapa resinada 2.414,20 m²
Laje maciça projetada, medidas em metros Cimbramento 2.384,40 m²
Fonte: Autor (2018) Fonte: Autor (2018)

78 | & Construções
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TCE-MA incluem mão de obra com en- considerado um preço unitário de cim-
» Tabela 3 cargos sociais de 87,49% (desonerado) e bramento igual a R$ 56,44 /m².
Resumo dos materiais BDI (Benefícios e despesas indiretas) de Possuindo o quantitativo de mate-
utilizados na laje maciça 24,12%, portanto refletem o preço real riais de cada modelo de laje e dos preços
e nervurada
dos serviços de execução das estruturas de execução dos serviços, é possível cal-
no ano em questão. cular o preço total dos dois tipos de estru-
Laje Laje Quanto ao cimbramento da laje turas multiplicando os quantitativos de
Material nervurada maciça
maciça, ressalta-se que o valor da com- serviço pelo preço unitário dos mesmos,
Concreto 240,8 m³ 333,80 m³
posição de preço unitária adotada pelo conforme mostram as Tabelas 4 e 5.
Aço 16.595 kg 29.254,00 kg
TCE-MA considera o valor de R$ 40,72 A estrutura de lajes maciças apre-
Fôrma de
polipropileno 2.384,4 m² 0 m² para cada m² da laje nervurada apresen- sentou um aumento de 24,5% no preço
Fôrma de chapa tada. Como forma de estimar o valor de final quando comparada com a estru-
55,32 m² 2.414,20 m²
resinada uma composição de custo equivalente tura de lajes nervuradas. Esta diferença
Cimbramento 2.384,4 m² 2.384,40 m² para a laje maciça dimensionada neste no preço final significa uma economia
Fonte: Autor (2018) trabalho (que possui um peso próprio total de R$ 114.281,35. Ressalta-se que
total maior) será multiplicado o preço este preço está de acordo com as com-
unitário de R$ 40,72/m² pelo fator de posições de custo adotadas na licitação
Adotando como referência os valo- 1,3862 correspondente à diferença de da obra feita no ano de 2015. Sendo as-
res de preços dos serviços licitados no peso entre as estruturas dos dois mode- sim, para obter o preço atual de execu-
ano de 2015 pelo TCE-MA, foi possível los de lajes, sendo esta diferença de peso ção das estruturas, basta multiplicar o
calcular o custo total da execução de diretamente proporcional ao volume de quantitativo de serviços por preços de
cada modelo de laje apresentado. Des- concreto armado entre cada modelo de composições de custos atualizadas. A
taca-se que os preços adotados pelo laje. Portanto, para a laje maciça será Figura 4 mostra a diferença de preço
entre os modelos de lajes comparados.
Constatou-se que, para o estudo de
» Tabela 4 caso da laje do estacionamento do TCE-
Custo total da laje nervurada -MA, o modelo estrutural de lajes nervu-
radas é mais econômico do que o modelo
Preço estrutural de lajes maciças. Isto se deve
Serviço Quantitativo Total ao fato de que as lajes nervuradas são es-
unitário
Concretagem utilizando concreto usinado bombeado com
truturas mais otimizadas, por conta das
240,80 m³ R$ 496,47 / m³ R$ 119.549,98 nervuras que tornam o peso próprio da
fck = 25 MPa, com colocação, espalhamento e adensamento mecânico.
Aço Armadura CA 50 – fornecimento e execução. 16.595,00 kg R$ 7,06 / kg R$ 117.160,70 estrutura relativamente menor, que, por
Fôrma em chapa resinada, esp. 12 mm – fabricação, 55,32 m² R$ 30,60 / m² R$ 1.692,79
consequência, influenciam nos carrega-
montagem e desforma. mentos e esforços internos, demandan-
Montagem e desforma de fôrma de polipropileno para lajes nervuradas. 2.384,40 m² R$ 54,91 / m² R$ 130.927,40 do principalmente uma menor quantida-
Cimbramento metálico, incluso montagem e desmontagem. 2.384,40 m² R$ 40,72 / m² R$ 97.092,77 de de concreto e aço para que a estrutura
TOTAL R$ 466.423,64 possa atingir a resistência necessária,
Fonte: Autor (2018) ocasionando, assim, um menor preço fi-
nal de execução da estrutura.

» Tabela 5
Custo total da laje maciça

Preço
Serviço Quantitativo Total
unitário
Concretagem utilizando concreto usinado bombeado com fck = 25 MPa, 333,80 m³ R$ 496,47 / m³ R$ 165.721,69
com colocação, espalhamento e adensamento mecânico.
Aço Armadura CA 50 – fornecimento e execução. 29.254,00 kg R$ 7,06 / kg R$ 206.533,24
Fôrma em chapa resinada, esp. 12 mm – fabricação, 2.414,20 m² R$ 30,60 / m² R$ 73.874,52
montagem e desforma.
Montagem e desforma de fôrma de polipropileno para lajes nervuradas. 0,00 m² R$ 54,91 / m² R$ 0,00
» Figura 4
Cimbramento metálico, incluso montagem e desmontagem. 2.384,40 m² R$ 56,44 / m² R$ 134.575,54 Comparação do preço entre
TOTAL R$ 580.704,99 os dois modelos de lajes
Fonte: Autor (2018) Fonte: Autor (2018)

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 79
4. CONCLUSÕES o modelo de lajes nervuradas, por conta materiais e, portanto, menor custo de
O modelo estrutural de lajes nervura- da inversão de momentos fletores, já que construção da estrutura.
das é indicado quando há a necessidade a parte inferior da laje (na região das ner- Assim, o questionamento sobre a via-
de vencer grandes vãos, sendo também vuras) não possui tanta resistência à com- bilidade econômica entre os dois modelos
interessante sua utilização em caso de ele- pressão quanto as lajes maciças. de lajes apresentados pode ser satisfato-
vadas cargas atuantes, como, por exem- Também é válido observar que o me- riamente respondido através deste estu-
plo, cargas de veículos, como foi exempli- nor volume de concreto demandado pelo do, pois evidenciou-se que, para o caso
ficado neste estudo. Porém, em casos de modelo de lajes nervuradas, em compa- estacionamento do TCE-MA, o modelo
pequenos vãos (4 a 6 metros) com cargas ração com o modelo de lajes maciças, de lajes nervuradas executado é mais eco-
relativamente pequenas (utilização re- acarreta menor peso suportado pelas nômico do que o modelo de lajes maciças
sidencial) este modelo estrutural pode vigas, pilares e fundações, resultando, (caso este fosse implantado no local), prin-
não ser o mais econômico a ser utilizado. assim, em menores dimensões em todos cipalmente por conta do menor consumo
Em casos de regiões de lajes em balanço os elementos estruturais, que, por conse- de concreto e aço, que refletem no preço
também não é recomendado se utilizar quência, resulta em menores gastos com final da estrutura. C

» REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto: Procedimento. Rio de
Janeiro, 2014.
[2] ATEX. Fôrmas de laje nervurada bidirecional. Disponível em: <http://www.atex.com.br/pt/formas/laje-nervurada/bidirecional/>.
Acesso em: 10 de abril de 2018.
[3] BRASIL. Tribunal de Contas do Estado do Maranhão. Composição Unitária de Custos. São Luís, 2015.
[4] BRASIL. Tribunal de Contas do Estado do Maranhão. Projetos Estruturais da Laje de Estacionamento. São Luís, 2015.
[4] CARVALHO, R. C.; FIGUEIREDO FILHO, J. R. Cálculo e Detalhamento de Estruturas Usuais de Concreto Armado: Segundo a NBR
6118:2014. 4. ed. São Carlos: EdUFSCAR, 2015.

NO PRUMO
Compartilhar teoria e prática da construção civil, com leveza, didatismo e
criatividade. Esta é a proposta do livro “No Prumo”.

O livro é dividido em duas partes. A primeira traça a história da construção no Brasil


e sua relação com a cultura. A segunda revela, na prática, os conceitos e as técnicas
consolidadas ao longo dessa história.

A publicação oferece uma leitura atual de temas que vão do projeto e da análise de
solo ao serviços de concretagem, sistemas construtivos e sustentabilidade.

Com textos de Paulo Helene, professor aposentado da Escola Politécnica da USP e


diretor da PhD Engenharia, e de Guilherme Aragão, jornalista e escritor, especialista
em formação política e econômica do Brasil.

FORMATO: 21 x 29 cm
PÁGINAS: 170
ANO: 2017
VENDAS: Loja virtual (www.ibracon.org.br)

80 | & Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
Estruturas em Detalhes DOI: 10.4322/1809-7197.2022.106.0008

Aplicação da metodologia BIM e


princípios da Construção Enxuta para
o planejamento de uma obra comercial
CAROLINE DE A. SILVA – Eng., ORCID https://orcid.org/0000-0003-1217-9856 – carol123.22@hotmail.com;
BACUS DE O. NAHIME – Dr., ORCID https://orcid.org/0000-0002-7292-7919-5224;
IGOR S. DOS SANTOS – Mes., ORCID https://orcid.org/0000-0001-7619-273X, IFG – GO
ALBERTO B. NETTO – Dr., ORCID https://orcid.org/0000-0003-0615-1865;
ANNA JULIA H. RIBEIRO – Grad., ORCID https://orcid.org/0000-0001-8083-9305, UniRV – Go
JORGE L. AKASAKI – Dr., ORCID https://orcid.org/0000-0003-1986-1196, Unesp – SP

R E S U M O

Este artigo propõe a implementação da metodologia BIM


em sinergia com os princípios da Construção Enxuta,
através do levantamento de dados e no acompanhamento das ati-
para a obra, contando com cronograma, orçamento, visualizações
3D, entre outros. Com as análises e os procedimentos utilizados,
observou-se a execução do serviço de fundação em 23 dias, con-
vidades no canteiro de obra, sugerindo propostas de aplicação do forme proposto inicialmente. Nas descargas das peças pré-fabri-
sistema em uma obra comercial. Visa-se minimizar os efeitos cau- cadas, verificou-se a redução de tempo em 45 minutos/peça, o que
sados pela falta de planejamento, a implantação da metodologia possibilitou maior agilidade no início da execução dos serviços de
da Construção Enxuta nas atividades executadas e na modelagem montagem das peças; verificando a real necessidade de se realizar
em BIM, que permite a realização de um planejamento adequado o planejamento de obras, incluindo ferramentas de gestão.

PALAVRAS-CHAVE: modelagem de informação da construção, ferramentas de gestão, gerenciamento de obras,


construção civil.

1. INTRODUÇÃO planejamento e ao gerenciamento e gerenciamento de obras. O uso de

O
setor da construção civil transparente dos processos, cal- ferramentas tecnológicas proporcio-
sempre busca por inova- cadas em princípios como a redu- na diminuição de perdas (material,
ções. Entre elas, desta- ção da variabilidade, a redução do mão de obra), cumprimento de me-
cam-se as questões relacionadas à se- tempo de ciclo e o estabelecimento tas e prazos, entre outros benefícios
gurança, às tecnologias construtivas de melhoria contínua ao proces- (SU et al., 2021). Assim, este trabalho
e ao desenvolvimento de materiais. so. Neste contexto, um conceito propõe a implementação da metodo-
Aliadas às questões supracitadas, vêm de suma importância é o Building logia BIM em conjunto com as apli-
as tecnologias na produção de proje- Information Modeling (BIM), que surge cações da Construção Enxuta, suge-
tos e no planejamento das obras. Des- como uma metodologia para anali- rindo propostas de aplicabilidade do
ta forma, destaca-se a importância da sar e facilitar o acesso às inovações sistema em uma obra comercial.
modernização do setor da construção e mudar a perspectiva de 2D para 3D,
civil a partir da adoção de metodolo- diminuindo de forma eficaz as incom- 2. MATERIAIS E MÉTODOS
gias e conceitos de gestão, visto que patibilidades das diversas disciplinas A pesquisa foi desenvolvida atra-
o planejamento fornece ao gestor um de projetos. Por ser um sistema to- vés de um estudo de caso e buscou
alto nível de conhecimento sobre o talmente integrado, é possível me- elaborar propostas de aplicação dos
empreendimento, permitindo a de- lhorar e agilizar todo processamento princípios da Construção Enxuta com
tecção de situações desfavoráveis, de informações entre os profissionais a obra já em execução e comparar
agilidade nas decisões, otimização na (COSTA et al., 2021). seu gerenciamento caso os projetos,
alocação de recursos e definição de A metodologia BIM pode ser ado- cronogramas e orçamentos fossem
metas com custos e prazos mais pre- tada sem as práticas da Construção realizados com funcionalidades do
cisos (ANGELIM et al., 2020). Enxuta, e vice-versa, mas a implan- BIM. A seguir será descrita a constru-
A Construção Enxuta baseia- tação conjunta traz enormes bene- ção objeto do estudo e elencados os
-se em metodologias que visam ao fícios nas práticas de planejamento serviços analisados.

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 81
2.1 Estudo de caso para supervisão dos serviços em an- levantados em campo e os dados
damento, registrando-se os prazos gerados a partir do emprego das si-
O objeto do estudo de caso é uma de execução, os operários envolvidos mulações computacionais.
obra comercial com um pavimento e demais ocorrências relevantes para Para a modelagem das informa-
térreo e um vertical, localizada no o adequado controle das atividades. ções dos projetos, optou-se pela
município de Santa Helena de Goiás, Tal execução inicialmente não conta- utilização do Revit (Figura 2). Um
com área total de 1.179,32 m². Seus va com cronograma físico-financeiro comparativo entre o elemento real e
dois pavimentos são denominados detalhado das atividades, apenas um o modelado são apresentados na Fi-
pavimento térreo, conforme a Figura orçamento preliminar dos serviços e gura 3.
1 (a), e pavimento superior, observa- uma previsão de prazo de aproxima- O Naviswork, também em versão
do na Figura 1 (b). As fundações foram damente 90 dias úteis para finaliza- educacional, foi adotado para desen-
executadas no tipo tubulão e projeta- ção da obra e do contrato. volver mecanismos necessários para
das em concreto armado moldadas in No início das atividades, os pro- coordenação e execução do planeja-
loco. Já, a superestrutura e as alvena- cessos que seriam realizados foram mento da obra.
rias de vedação foram projetadas em analisados a fim de propor melhorias A partir da análise dos projetos e
concreto pré-fabricado. na execução da obra; em geral, reali- do levantamento de dados, foi ela-
A empresa vencedora para a exe- zou-se um estudo a fim de determi- borada a proposta da modelagem
cução do objeto será denominada nar como os princípios da Construção em BIM, utilizando o software Revit
contratada ou Empresa X. Foi a que Enxuta poderiam ser implantados de para modelagem 3D, elaboração dos
ofertou a proposta mais vantajosa tal forma a melhorar o desempenho projetos e levantamento dos quan-
quanto ao preço e, por isso, foi con- do cronograma físico-financeiro, titativos, seguido pelo orçamento
tratada para realizar o objeto desse bem como inserir a metodologia BIM no Excel e planejamento da obra no
estudo, contemplando os seguintes como ferramenta de gestão. MS Project e Navisworks. Com isso,
itens: serviços preliminares, infraes- A fim de verificar como as solu- ao longo da elaboração dos proje-
trutura, superestrutura, alvenaria e ções propostas impactariam nos tos, buscou-se utilizar recursos da
cobertura da edificação. Os projetos custos e prazos da obra se implanta- Construção Enxuta, bem como a im-
arquitetônicos e complementares das desde o início dos serviços, reali- plantação dos princípios dentro do
foram fornecidos pela contratante. zou-se a comparação entre os dados canteiro de obra, a fim de minimizar
Enquanto as instalações elétricas,
hidráulicas e de combate a incêndio
não foram executas pela Empresa X.

2.2 Métodos

Para o levantamento dos dados,


foi realizado o acompanhamento das
atividades no canteiro de obra desde
a data de início até a conclusão dos
serviços verificados, com data an-
terior a pandemia. De acordo com o
cronograma definido entre as partes
envolvidas, a execução da obra teria
início no dia 27 de fevereiro de 2018,
sendo o prazo de execução de 90
dias. No entanto, devido à ocorrência
dos imprevistos na logística de entre-
ga dos materiais e os impactos que
o edifício iria causar na vizinhança
(tanto nas obras ao entorno, quanto
no trânsito), os serviços iniciaram-se
no dia 24 de junho do mesmo ano,
resultando no atraso de quase cinco
meses. O acompanhamento das ati- » Figura 1
vidades em campo foi realizado a par- Planta baixa do pavimento térreo (a) e pavimento superior (b)
tir da elaboração de diários de obra. Fonte: Autoria própria (2021)
Foram elaboradas fichas de registro

82 | & Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
para realização do cronograma e do
orçamento apenas as atividades que
foram acompanhadas no canteiro de
obra durante a vigência do contrato
da Empresa X.

3.2 Planejamento

Com o levantamento de ma-


teriais e serviços e os quantita-
tivos do orçamento finalizados,
determinou-se os prazos de cada
atividade. Assim, através dos prede-
cessores, realizou-se a elaboração
do cronograma físico-financeiro,
desenvolvida através do software
MS Project e, posteriormente, inseri-
do no Navisworks, conforme exposto
na Figura 4, onde é possível visualizar
» Figura 2 os prazos de cada atividade e os ser-
Perspectiva frontal com lateral esquerda (a), perspectiva frontal (b), viços subsequentes.
perspectiva lateral direita com a frente (c), perspectiva frontal com
lateral esquerda, identificando os elementos estruturais (d)
Fonte: Autoria própria (2021)
3.3 Aplicação dos princípios
da Construção Enxuta

os efeitos causados pela falta de pla- entre o proposto e o que foi desenvol- Visando a implantar melhorias na
nejamento encontrado no estudo vido através do levantamento de da- execução dos serviços, foi proposta
de caso. dos e modelagem BIM. aos operários a utilização dos princí-
Outros serviços seriam desenvol- pios da Construção Enxuta durante o
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES vidos, tais como sistema de cobertu- gerenciamento da obra, a fim de mi-
ra, contrapiso e escada, porém, com nimizar os efeitos causados pela falta
3.1 Levantamento dos dados o não cumprimento das atividades de planejamento.
no prazo determinado pelo contra- Como base no princípio da Cons-
O orçamento fornecido inicial- tante, a contratada teve seu contrato trução Enxuta de estabelecimento
mente pela contratada para os servi- suspenso, executando apenas as ati- de melhoria contínua ao processo,
ços analisados na pesquisa, que foram vidades mencionadas nesse estudo. foram realizadas anotações diárias
efetivamente executados, segue des- Assim, foram modeladas e utilizadas dos processos da obra, com destaque
crito na Tabela 1. Através desses da-
dos, é possível obter um comparativo

» Tabela 1
Orçamento executivo da
Empresa X

Item Atividade Valor (R$)


Limpeza do terreno,
1 22.100,00
locação e terraplanagem
Fundação e estrutura em
2 114.500,00
concreto armado no local
Laje de concreto
3 122.515,00
pré-moldado » Figura 3
Construção em painéis Execução dos elementos estruturais e dos painéis de vedação (a) e
4 183.580,00
alveolares de concreto modelagem 3D dos elementos estruturais e dos painéis de vedação (b)
TOTAL (R$) 442.695,00 Fonte: Autoria própria (2021)
Fonte: Autoria própria, adaptado da Empresa X (2021)

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 83
to, fazendo com que se otimizasse o
tempo de descarga no local adequa-
do e montagem, sem que houvesse
necessidade de retrabalho. Confor-
me observado em campo e realizan-
do medições, o que antes levava mais
de 1 hora e 30 minutos passou a ser
realizado em cerca de 45 minutos.

3.4 Comparativo entre os


orçamentos contratados
e modelados com BIM
» Figura 4 Realizando cronograma físico-fi-
Gráfico de Gantt nanceiro, bem como o orçamento da
Fonte: Autoria própria (2021)
obra, foi realizado um comparativo
de orçamento e prazo da empresa
para as atividades que demoravam Com a identificação do atraso contratada com o orçamento (Figu-
além do esperado e, assim, após se- da fabricação e entrega das peças ra 5) e prazo obtido através do BIM
rem analisadas, foram propostas me- pré-moldadas, foram realizadas reu- usando cotações no mercado regio-
lhorias em cada serviço na atividade niões com todas as empresas envol- nal e a tabela de composições forne-
prática. As adoções foram tomadas vidas no fornecimento das peças pré- cidas pela Agência Goiana de Infra-
de forma gradual e de acordo com a -moldadas (vigas, pilares, painéis de estrutura e Transportes (GOINFRA,
possibilidade de comunicação e com- vedação e lajes) para que forneces- 2022). A composição e caminho críti-
preensão dos trabalhadores e empre- sem funcionários que executassem co da Empresa X forneceram o prazo
sas envolvidas. mais de uma tarefa, com o intuito de obra de 8 meses, enquanto a mo-
Na execução do serviço de funda- de abranger diversos serviços com a delagem em BIM retornou o tempo
ção, verificou-se resultados positivos mesma mão de obra, excluindo a ne- de 3 meses.
em função do tempo da atividade, uma cessidade de procura de mão de obra Segundo os dados obtidos através
vez que esta foi desenvolvida dentro do adicional (ANDRADE et al., 2021). da orçamentação, pôde-se perceber
cronograma proposto pela empresa. Com a falta de identificação cor- discrepância entre o valor total for-
Inicialmente, verificou-se o atra- reta das peças pré-moldadas, foi necido pela Empresa X e o total for-
so da chegada do caminhão fornece- verificada perda de tempo para en- necido através da utilização do BIM,
dor de concreto; diante disso, foram contrar as peças compatíveis com o sendo essa diferença no valor de R$
realizadas reuniões com a empresa projeto para utilização, bem como a 230.480,64 a menos do quantitativo
responsável para alinhamento de ho- necessidade de retrabalho por conta e dos preços, representando 52,06%
rários para fornecimento do concreto da montagem e içamento de peças do valor contratado, observado atra-
seguindo a demanda da obra, bem erradas no local. Dessa forma, foi vés da comparação entre o orçado
como a utilização de mais de um ca- proposta a identificação de todas as pela Empresa X e o planejado pelas
minhão para concretagem a fim de peças conforme nomeação do proje- ferramentas técnicas e de gestão
otimizar o tempo. Com as análises do
diário de obra digital, foi observada a
perda de tempo do caminhão para re-
alizar manobras dentro da obra, o que
demorava cerca de 6 minutos. Com
um estudo do layout do canteiro rea-
lizado na atividade prática e das pos-
sibilidades de tráfego do caminhão,
diminuiu-se para 3 minutos o tempo
para manobrar e estacionar e, assim,
iniciar a concretagem. Com a ficha de
verificação de serviço, possibilitou o
controle dos tubulões já concretados
» Figura 5
e do planejamento de concretagens Comparativo do orçamento da Empresa X com a modelagem BIM
diariamente, conforme disponibilida- Fonte: Autoria própria (2021)
de da empresa fornecedora e da obra.

84 | & Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
BIM. Tal fato se deu, em parte, pela blemas encontrados. A oportunidade
falta do detalhamento dos valores de » Tabela 2 de verificação dos prazos executados
frete e de mão de obra pela Empre- Verificação de prazo de e dos prazos previstos foi identificada
sa X no orçamento final dos serviços execução das atividades devido ao uso do diário de obra digital
executados, bem como levantamen- e das fichas de serviços realizadas du-
to dos valores de administração e va- Prazo realizado rante o acompanhamento.
Prazo BIM
lores em relação aos materiais a se- Atividade pela Empresa X A fase de serviços preliminares foi
(dias)
rem fornecidos, além da falta de BDI (dias) realizada com 30 dias a mais do que
no valor final do orçamento. Serviços
40 10
o previsto pelo BIM, o que é explicado
Conforme a Figura 5, os valores preliminares pela falta de preparação das ligações
das fundações e elementos estrutu- Fundações 23 23 provisórias de energia e de água, falta
rais apresentados pela Empresa X pos- Pilares 42 20 de estudo prévio do local para conhe-
suem variação de R$ 63.112,86 a menos Vigas 45 25 cimento pleno e consequentemente
e os valores dos serviços preliminares Paredes 65 38 execução da locação da obra, e erros
Fonte: Autoria própria (2021)
se diferenciam em R$ 9.989,05 a me- pela contratante como a falta de pro-
nos no valor ofertado pela Empresa jetos compatíveis com as medidas
X quando comparado ao orçado em a execução da obra, a Empresa X exe- do terreno.
BIM. Tal fato pode ser explicado pela cutou os serviços em 8 meses, devido A execução das fundações foi re-
falta de detalhes do orçamento da ao atraso do início das atividades em alizada dentro do prazo, já a monta-
contratada e a discrepância de parâ- virtude de problemas com a contrata- gem de pilares e vigas não seguiram
metros de serviços e mão de obra a da, tais como: falta de estudo prévio o prazo determinado em BIM, com as
serem utilizados para apresentação do local, a falta de mão de obra espe- montagens de pilares excedendo em
dos valores. Os valores dos painéis de cializada, atraso no transporte das 22 dias e de vigas em 20 dias, em de-
concreto excederam em R$ 30.368,96 peças pré-fabricadas; bem como em corrência dos erros de fabricação das
do valor obtido através das cotações virtudes de problemas com a contra- peças por conta das incompatibilida-
realizadas e levantamentos em BIM, tante, tais como: erros de dimensão des de projeto, o que dificultava o se-
o que pode ser explicado pela possibi- das peças fabricadas por conta de er- quenciamento do trabalho e, conse-
lidade da diferença de valor de mate- ros de compatibilização de projeto e quentemente, a pausa das atividades,
rial, tais como concreto e aço, e dife- mudanças repentinas de projeto. bem como a falta de planejamento de
rença entre cotação de fornecedores Verificou-se a eficácia da utiliza- fabricação para entrega das peças, o
distintos. ção da metodologia BIM para o de- que acarretou atraso no fornecimen-
Com a diferença entre os valores senvolvimento de cronograma físico- to e transporte para a obra. Como as
da Empresa X e o orçamento em BIM é -financeiro, podendo evitar estouro vigas e pilares eram fabricadas pelo
possível perceber a importância do pla- de orçamento e de prazo, afetando mesmo fornecedor, atraso e proble-
nejamento e levantamento adequado diretamente no desenvolvimento dos mas ocorreram em ambas as ativida-
do quantitativo para se obter um orça- serviços a serem prestados (NASCI- des da mesma forma.
mento final compatível com a realidade MENTO et al., 2017). Sendo assim, des- Na montagem das paredes, houve
da obra (ANDRADE et al., 2021), consi- tacou-se ainda mais a necessidade de o atraso de 27 dias. O que impossibili-
derando mão de obra, material, frete, um planejamento e mostrou-se que, tou a execução do trabalho em tem-
gastos administrativos e outros servi- embora alguma empresa ofereça o po hábil e planejado foi a diferença de
ços que se fazem necessários. menor custo, não quer dizer que isso tamanho entre as peças e o vão para
acarretará serviços executados de for- montagem, o que exigiu o corte das
3.5 Comparação dos prazos ma adequada. Neste caso, apesar do paredes para encaixe, gerando maior
de execução contratados valor do orçamento menos elevado gasto com ferramentas e readequa-
e modelados com BIM da empresa, observou-se prazos mais ção da mão de obra disponível. Além
longos e incapacidade de finalizar a disso, o atraso do fornecimento e a
De acordo com o prazo inicialmen- obra devido à má qualidade de gestão. entrega da obra também foram fato-
te proposto pela Empresa X, foi reali- Com a possibilidade de implan- res predominantes para o atraso da
zado o planejamento das atividades tação dos princípios da Construção execução dos serviços.
através do BIM com 3 meses de du- Enxuta durante a obra, foi realizada
ração, considerando as variáveis que a execução das fundações dentro do 4. CONCLUSÕES
pudessem agregar na melhor execu- prazo previsto através do cronogra- Com a utilização do BIM, pôde-se
ção das atividades, conforme prin- ma desenvolvido no MS Project e Na- perceber a diferença no orçamento to-
cípios da Construção Enxuta, como visworks, mas algumas atividades tal da obra no valor de R$230.480,64,
exposto na Tabela 2. Porém, em razão foram realizadas fora desse prazo concluindo que o levantamen-
das intercorrências encontradas para desenvolvido em decorrência dos pro- to adequado de quantitativo e a

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 85
consideração correta dos preços refle- suficientes para o sucesso do projeto, de contratação até a execução e ge-
tem em um orçamento com maior re- levando assim à ruptura do contrato renciamento de obras.
alidade e satisfação do cliente. Dessa da Empresa X, além de deixar um pre-
forma, pôde-se verificar quantitativa- juízo significativo na ordem de 52,06% AGRADECIMENTOS
mente e qualitativamente a eficácia do valor contratado. Assim, perce- O presente trabalho foi realizado com
na utilização das metodologias e con- be-se a importância da aplicação apoio dos pesquisadores Pâmela Millena
ceitos de gestão. Por fim, observou-se de ferramentas certas no momento Kunan, Lorena Araujo Silva e Danilo Gui-
que, com as medidas adaptadas du- adequado do projeto, ou seja, desde marães Almeida com o auxilio do desen-
rante a execução da obra, não foram o planejamento preliminar e critérios volvimento dos projetos em BIM. C

» REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ANGELIM, V. L., ALVES, T. D. C. L., LIMA, M. M. X. D., BARROS NETO, J. D. P. Planejamento de médio prazo: panorama de sua
aplicação na construção civil. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 20, n. 1, p. 87-104, jan./mar. 2020.
[2] COSTA, H. A., SOUZA, M. P., BALDESSIN, G. Q., ALBANO, G., FABRÍCIO, M. M. MODELAGEM BIM PARA REGISTRO
DIGITAL DO PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO MODERNO. Revista Projetar - Projeto e Percepção do Ambiente, v. 6, n. 1, p. 49-68,
25 jan. 2021.
[3] SU, T., LI, H., AN, Y. A BIM and machine learning integration framework for automated property valuation, Journal of Building
Engineering, Volume 44, 2021, 102636, ISSN 2352-7102.
[4] ANDRADE, F. M. R., BIOTTO, C. N., SERRA, S. M. B. Modelagem BIM para orçamentação com uso do SINAPI. Gestão & Tecnologia
de Projetos, [S. l.], v. 16, n. 2, p. 93-111, 2021.
[5] DE MATTOS NASCIMENTO, D. L., SOTELINO, E. D., CAIADO, R. G. G., IVSON, P., FARIA, P. S. Sinergia entre Princípios do Lean
Thinking e Funcionalidades de BIM na Interdisciplinaridade de Gestão em Plantas Industriais. Journal Of Lean Systems, Rio de Janeiro,
v. 2, n. 4, p.80-105, mar. 2017.
[6] Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra). Disponível em: <http://www.goinfra.go.gov.br/>. Acesso em: 28 fev. 2022.

Em 23 de junho de 1972, o IBRACON


foi fundado no Instituto de Pesquisas
Tecnológicas de São Paulo – IPT.
Assim, 2022 é ano de comemoração dos 50 anos de atividades do IBRACON em defesa e valorização
da engenharia civil. Marque em sua agenda: 23 de junho, a partir das 14h, transmissão on-line
do evento comemorativo do Jubileu de Ouro diretamente do IPT.

PROGRAMAÇÃO
14h00 Abertura 15h30 Estatísticas do Instituto
Mestre de Cerimônia: Cláudio Sbrighi Neto Assessora da Diretoria e representando
os sócios fundadores: Patrícia Bauer
14h30 Histórico do IBRACON
Presidente do IBRACON: Paulo Helene 15h50 Projeções dos próximos 50 anos
Diretor do IBRACON e representando os
14h45 IBRACON no IPT sócios mantenedores e coletivos:
Representante do IPT Hugo Armelin

15h00 Apresentação Cultural 16h20 Entrega ao IPT e aos demais Parceiros,


Orquestra Laetare Diretoria e Conselho Diretor de Brinde
Maestrina: Muriel Waldman Comemorativo do Jubileu de Ouro

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PRESTIGIE!
Assista a transmissão nas redes sociais do IBRACON.
& Construções
Normalização Técnica DOI: 10.4322/1809-7197.2022.106.0009

Dimensionamento com o uso de compósito


TRM/TRC para reforço à flexão de
elementos de concreto armado segundo
a norma americana ACI 549.4R (2020)
MATHEUS H. M. DE MORAES – Eng., ORCID https://orcid.org/0000-0002-7285-1344 – matheus.h.h@hotmail.com;
GLÁUCIA MARIA DALFRÉ – Prof., ORCID https://orcid.org/0000-0003-3623-5103
HENRIQUE M. FRANCKLIN – Prof., ORCID https://orcid.org/0000-0003-3623-5103, UFSCAR;
BAHMAN GHIASSI – Prof., ORCID https://orcid.org/0000-0003-4212-8961, University of Birmingham, Reino Unido

R E S U M O

Os materiais compósitos vêm ga-


nhando destaque em
obras de reparo e reforço estrutural pela sua fácil aplicabilidade,
pela inexistência de normas brasileira para dimensionamento
de estruturas reforçadas com a técnica do sistema de reforço
com o uso de compósito TRM/TRC (Textile Reinforced Mortar/
possibilidade de execução em locais de grande umidade, resis- Concrete, em língua inglesa), este trabalho apresenta o modelo
tência ao fogo, resistência a ambientes de alta taxa de agressi- de dimensionamento da ACI 549.4R (2020) para o reforço à
vidade, e devido às suas propriedades mecânicas, tais como: a flexão com o uso de malha/ grelha de FRP (Fiber Reinforced
elevada resistência, alta rigidez e baixo peso próprio. Motivados Polymers, em língua inglesa) embebidas em matriz cimentícia.

PALAVRAS-CHAVE: polímeros reforçados com fibras, reforço estrutural, vigas de concreto armado, TRM/TRC,
malha/grelha de FRP em matriz cimentícia.

1. INTRODUÇÃO mente resistente à corrosão e à fadiga e umidade, causando alterações na estru-

E
struturas de concreto armado, possui adaptabilidade às diferentes for- tura do compósito e levando à redução
com o passar dos anos, estão mas. Os principais tipos de fibras con- das propriedades mecânicas do conjun-
sujeitas ao processo natural tínuas utilizadas nos FRPs são vidro, to, tal como módulo de elasticidade, a
de envelhecimento e podem sofrer com aramida, basalto e carbono. resistência à tração e a deformação últi-
deterioração, degradação ocasionadas Dentre as formas de aplicação de ma devido à plastificação, amolecimen-
pela exposição a ambientes agressivos reforço com compósitos, destaca- to e inchamento da matriz.
ou falta de manutenção preventiva. -se a técnica EBR (Externally Bounded Como alternativa, propôs-se a subs-
Além disso, pode ser necessário aumen- Reinforcement, em língua inglesa) e a NSM tituição do ligante orgânico por um
tar a capacidade resistente dos elemen- (Near Surface Mounted, em língua inglesa). inorgânico como, por exemplo, arga-
tos existentes frente à alteração do uso No entanto, apesar do grande ganho de massas ou concretos. Assim, o compó-
da estrutura. Nesses casos, por exem- resistência e ductilidade obtida com o sito feito de matriz à base de argamas-
plo, é necessário estudar técnicas de re- uso dessas técnicas, os sistemas de re- sa ou concreto reforçado com malha/
forço de estruturas de concreto armado. forço que exigem a aplicação de resina grelha de FRPs, o qual foi denominado
Diversas pesquisas visam ao desen- epóxi, seja aderida à superfície (EBR) ou de TRM (Textile-Reinforced Mortar, em
volvimento de novos materiais e me- embebidas em entalhes (NSM), ficam língua inglesa) ou TRC (Textile-Reinforced
todologias para o reparo ou reforço de susceptíveis à degradação frente à inci- Concrete, em língua inglesa), possui o
estruturas de concreto armado. Dentre dência de raios UVA/UVB, umidade, tem- objetivo de mitigar a ação do meio am-
as técnicas existentes, as baseadas no peraturas elevadas e atos de vandalismo. biente sobre o compósito. Para além
uso de FRP (Fiber Reinforced Polymers, em Segundo Kabir, Shrestha e Sama- disso, esta é uma alternativa de reforço
língua inglesa) têm ganhado destaque, li (2016), a exposição desses materiais com custo inferior aos dos materiais co-
pois, quando comparado ao concreto compósitos ao ambiente externo é o mumente utilizados nas técnicas EBR
e aço, esse material apresenta elevada principal agente agressivo na ligação do e NSM, que foram impactadas devido
resistência e rigidez, baixa espessura e substrato do concreto e o FRP. Esta li- ao grande aumento do custo da resina
peso próprio. Além disso, o FRP é alta- gação se enfraquece com a absorção de epóxi durante a pandemia da Covid-19.

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 87
2. COMPÓSITOS TRM/TRC
Os materiais compósitos são com-
postos por duas ou mais fases, por
componentes de diferentes proprieda-
des físicas e químicas diferentes. Neste
caso, utiliza-se malha/grelha de FRP (fi-
bra) embebida em uma matriz cimentí-
cia (argamassa ou concreto), obtendo-
-se o material compósito apresentado
na Figura 1.
» Figura 1
2.1 Fibras Material compósito

A fibra é o principal componente


dos compósitos utilizados nas técni-
cas de reforço com compósito TRM ou 2.2 Matriz 2.3 Compósitos
TRC. Sua alta resistência e rigidez faz
com que ela seja a principal responsá- A matriz que exerce a função de As fibras são embebidas pela matriz
vel por resistir às tensões de tração. As ligante para o compósito na técnica cimentícia formando o compósito de
fibras podem ser orientadas em uma com uso de compósito TRM/TRC é a FRP, assim como mostra a Figura 3. No
direção, formando um compósito uni- argamassa ou o concreto. Tais ma- caso de uso de argamassa, obtém-se
direcional, ou em múltiplas direções, teriais são utilizados para promover o compósito TRM, o qual geralmente
formando um compósito bidirecional a ligação ao substrato de concreto, apresenta espessura média de 1,5 cm e
ou multidirecional. Essas orientações além de embeber a malha/grelha pode conter várias camadas de malha/
das fibras estão relacionadas às pro- de FRP, e auxiliar na distribuição de grelha de fibras. Nos casos em que a
priedades mecânicas dos compósitos tensões. Ao submeter o compósito matriz utilizada é o concreto, o material
de FRP. Geralmente, as fibras mais a um carregamento externo, a ma- recebe a designação de TRC. O reforço
utilizadas na construção civil são as triz entra em ação e exerce a função com compósitos TRM/TRC usualmente
fibras de carbono, vidro, basalto e ara- de transmitir e distribuir os esforços é aplicado e curado in situ.
mida. Para a confecção do TRM/TRC, para as fibras. Além disso, a matriz Devido à inexistência de normas
as fibras contínuas apresentam-se na protege as fibras contra a ação do brasileiras para dimensionamento da
forma de malha/grelha quadrangular meio ambiente e agentes agressivos, técnica com o uso de compósito TRC/
ou retangular, tal como o apresentado criando barreira que evita ataques fí- TRM, este trabalho apresenta o mo-
na Figura 2. sicos e químicos. delo de dimensionamento da norma

a b c

» Figura 2
Malhas/grelhas de fibras: (a) Fibra de carbono, (b) Fibra de vidro e (c) Fibra de basalto
Fonte: Koutas et al. (2019)

88 | & Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
ção tal como o apresentado na Figura do uma aderência perfeita entre
4. Pela análise da Figura percebe-se o materiais;
comportamento bilinear de um corpo (c) a deformação máxima permitida no
de prova tracionado, onde o primei- concreto comprimido é de 3 %; e
ro trecho apresenta comportamen- (d) o TRC/TRM apresenta comporta-
to elástico-linear até a fissuração da mento bilinear e somente o segun-
matriz cimentícia, a qual ocorre com do trecho (fissurado) é utilizado no
a tensão e deformação , respectiva- dimensionamento.
mente, com módulo de elasticidade da A resistência à flexão de uma seção
matriz cimentícia não fissurada *. Pos- reforçada depende do modo de ruína
teriormente, após a redução da rigidez previsto, que podem se apresentar na
e transferência de força para as fibras, forma de:
existe um novo trecho com compor- a) Esmagamento do concreto compri-
tamento elástico-linear até a ruptura mido antes do escoamento da ar-
do corpo de prova, a qual ocorre com madura existente;
a tensão e deformação , respectiva- b) Escoamento da armadura com pos-
mente, e com módulo de elasticidade terior esmagamento do concreto
» Figura 3 da matriz cimentícia fissurada, , o qual comprimido;
Exemplo de moldagem é determinado para os níveis de tensão c) Delaminação por cisalhamento do
do compósito e (Equação 1). cobrimento;
d) Destacamento do material de reforço;
e) Falha de aderência em regiões de
americana ACI 549.4R (2020), a qual [1] transição; e
define o procedimento para aplicação f) Deslizamento da malha/grelha de fi-
do reforço à flexão com o uso de com- A deformação última (εfu) é obtida bra embebida pela matriz cimentícia.
pósitos TRM ou TRC. pela interseção em y da linha utilizada
para a determinação de Ef , a qual é ob- 3.1 Estado Limite Último
3. RECOMENDAÇÕES DE tida com o uso das Equações 2 e 3. da seção reforçada
DIMENSIONAMENTO DE
REFORÇO À FLEXÃO SEGUNDO [2] A norma ACI 549.4R (2020) determi-
A ACI 549.4R (2020) na que seja utilizado o menor dos valo-
Segundo a norma ACI 549.4R res obtidos na avaliação da deformação
(2020), o diagrama tensão versus de- [3] última (εfu), a qual é experimentalmen-
formação idealizado dos TRMs/TRCs te obtida da deformação efetiva (εfe) de-
apresenta comportamento típico à tra- Segundo a norma ACI 549.4R (2020), o vida à tração no TRM/TRC atingida de
dimensionamento caso de ruptura ou da deformação de
do reforço à flexão cálculo à tração (εfd), tal como apresen-
com uso de com- tado na Equação 4, onde tais valores
pósito TRM/TRC são limitados em 12‰.
aderido ao subs-
[4]
trato de concreto
é baseado nas se- Aplicando-se a Lei de Hooke, ob-
guintes premissas: tém-se a tensão efetiva de tração no
(a) seções planas TRM/TRC (ffe), a qual é calculada de
antes do car- acordo com a Equação 5 e onde Ef é Mó-
regamento dulo de elasticidade de do TRM/TRC.
permanecem
planas após o [5]
carregamento;
(b) não há escor- 3.2 Estado Limite Último para
regamento a viga reforçada
entre o refor-
» Figura 4
Diagrama tensão versus deformação idealizado ço externo e O procedimento de cálculo ado-
dos TRMs/TRCs o substrato tado pela norma ACI 549.4R (2020) é
Fonte: Adaptado de ACI 549.4R (2020) de concreto, similar ao da ACI 440.2R (2017), tra-
caracterizan- tando-se de um método iterativo que

& Construções
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sidade equiva-
lente retangular [12]
da distribuição
da tensão de Uma vez que as intensidades de ten-
compressão no são e deformação no TRM/TRC foram
concreto e f 'c obtidas, as deformações na armadura
é a resistência longitudinal e no concreto são deter-
característica minadas com o uso da Equações 13 e
do concreto. 14, respectivamente. Assim com a ten-
O cálculo do são no aço (fs) que é obtido por meio da
sistema de refor- Equação 15.
ço é iniciado com
» Figura 5 a determinação [13]
Equilíbrio de forças de uma seção retangular de da deformação
uma viga reforçada
Fonte: Adaptado ACI 549.4R (2020)
no substrato de
concreto que re- [14]
ceberá o mate-
envolve a estimativa inicial de um va- rial de reforço no momento da apli-
lor para profundidade da linha neutra cação (ε bi) , com o uso das Equações
[15]
(c), que permite o cálculo da defor- 6 a 11, onde M_DL é o momento fletor Com as tensões e deformações na
mação de cada material presente na devido à atuação do peso próprio, Ec armadura longitudinal e no material
seção transversal, nomeadamente é o módulo de elasticidade do con- de reforço (TRM/TRC) determinados,
concreto, aço e material de reforço, creto e E s é o módulo de elasticidade verifica-se a condição de equilíbrio da
considerando-se a compatibilidade do aço. seção, as quais são calculadas com o
entre os materiais e o equilíbrio de uso das Equações 16 a 19, onde εc é a
forças na seção avaliada, tal como [6] deformação máxima do concreto, ε' c
apresentado na Figura 5. A norma ACI é a deformação do concreto não con-
549.4R (2020) ainda define que, caso finado, E c é o modulo de elasticidade
as forças resultantes não estejam em
[7] do concreto e A s é a área da seção
equilíbrio, a posição do eixo neutro transversal da armadura longitudinal
deve ser revista e o processo iterativo existente.
[8]
deve ser repetido.
Nesta Figura, df é a altura útil do [16]
sistema de reforço à flexão, d é a altura
[9]
útil da viga, b é a largura da viga, h é a
altura total da viga; Af é área da seção [17]
transversal da malha/grelha de fibra
[10]
utilizada no reforço com uso do TRM/
TRC (por unidade de comprimento), [18]
As é a área da seção transversal da
armadura longitudinal existente, c é
[11]
a posição inicial da linha neutra, εc e
[19]
εs e são as deformações do concreto e O dimensionamento da técnica de
da armadura longitudinal, respectiva- reforço à flexão com o uso de compósi-
mente, εbi é a deformação do concreto tos TRC/TRM segue mesma metodolo- Finaliza-se o procedimento de
no momento da aplicação do reforço, gia apresentada na norma ACI 440.2R cálculo para ELU caso a posição cal-
εfe é deformação efetiva no TRM/TRC (2017). Para dar início ao dimensiona- culada da linha neutra seja igual a
alcançado na ruína, Fc é a força resul- mento, arbitra-se uma posição inicial arbitrada. Caso a profundidade de
tante de compressão no concreto, para a posição da linha neutra (c). O va- linha neutra arbitrada seja diferen-
Fs é a força resultante da armadura lor para a profundidade de linha neutra te da obtida, o equilíbrio entre os
longitudinal tracionada, Ffe é a força recomendado pela norma para a primei- blocos comprimidos e tracionados
resultante no TRM/TRC tracionado, ra iteração é igual a 0,2 ∙ d. Isso permite não foi atingido. Assim, arbitra-
β1 é razão da profundidade do bloco calcular a deformação efetiva do siste- -se nova profundidade e reinicia-se
retangular comprimido equivalente ma de reforço (εfe) com o uso da Equa- o dimensionamento.
para a profundidade da linha neutra, ção 12, onde εcu é a deformação última O Momento nominal resistente
α1 é fator de determinação da inten- do concreto. (M n) do elemento reforçado pode ser

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| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
encontrado com o uso da Equação 3.3 Estado Limite Serviço [26]
22, a qual consiste na somatória das para a viga reforçada
parcelas do momento nominal resis-
tido pela armadura (M ns) e o momen- Após o dimensionamento em ELU, Já a tensão no aço sob carregamen-
to nominal resistido pelo material é preciso realizar as verificações em to cíclico (ff,s) deve ser limitado a 65% de
de reforço (M nf), apresentados pelas ELS. A norma ACI 549.4R (2020) re- sua tensão característica de escoamen-
Equações 20 e 21, respectivamente. comenda a verificação das tensões to do aço existente (fy), tal como apre-
no aço e no reforço, de modo a evi- sentado na Equação 27.

[20] tar deformações inelásticas no aço e


possíveis rupturas devido à fadiga e
[27]
carregamento cíclicos no reforço. As
tensões no aço em serviço (fs,s) e no Já a tensão no material de refor-
[21] ço sob carregamento cíclico (ff,s) deve
TRM/TRC (ff,s) podem ser calculadas
com o uso das formulações apresen- obedecer aos limites impostos para
tadas nas Equações 25 e 28, as quais cada tipo de material de acordo com
[22]
são encontradas na norma ACI 440.2R o indicado na Tabela 1 (ACI 549.4R,
O momento último (Mu) é ob- (2017). 2020), a qual é obtida com uso da
tido com o produto do momen- A tensão no aço sob as cargas de Equação 28.
to nominal resistente (Mn) e o fa- serviço (fs,s) é determinada com o uso
tor de redução (ϕ), assim como da Equação 25, a qual é baseada na [28]
apresentado na Equação 24. análise da seção fissurada de concre-
O fator de redução (ϕ) é obtido com to armado reforçada. Recomenda-se
uso da Equação 23 e depende da de- que a tensão de serviço encontrada
formação do aço obtida no dimensio- para o aço deve ser limitada em 80% 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
namento (εs) e da deformação de início de sua tensão característica de esco- A aplicação de materiais compósi-
de escoamento do aço utilizado (εsy). amento (fy), tal como apresentado na tos com FRP (Fiber Reinforced Polymer,
Equação 26. em língua inglesa) tem sido objeto
de discussão em obras de reforço es-
trutural. Dentre as diversas técnicas
[23] existentes de reparo e reforço de es-
[25] truturas de concreto armado aplican-
do-se FRPs, apresenta-se o modelo de
[24] dimensionamento com a técnica com
uso de compósito TRM ou TRC à fle-
xão, o qual ainda não é tão difundido e
» Tabela 1 utilizado no Brasil.
Carga de serviço e tensão cíclica limite para o reforço com TRC/TRM
AGRADECIMENTOS
Tipo de fibra O presente trabalho foi realizado
Tipo de tensão com apoio da Coordenação de Aperfei-
Vidro Aramida Basalto Carbono PBO* Aço
çoamento de Pessoal de Nível Superior
Fluência e fadiga 0,30 · ffu 0,40 · ffu 0,30 · ffu 0,55 · ffu 0,40 · ffu 0,55 · ffu
* Phenylene benzobisoxazole (PBO) – Fonte: Adaptado de ACI 549.4R (2020)
- Brasil (CAPES) - Código de Financia-
mento 001. C

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DOI: 10.1061/(ASCE)CC.1943-5614.0000882.

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 91
Normalização Técnica DOI: 10.4322/1809-7197.2022.106.0010

Comparação entre os critérios da


NBR 15812-1:2010 e NBR 15961-1:2011
com os da norma NBR 16868-1:2020
LORENZO S. RIZZATTI – Eng., ORCID https://orcid.org/0000-0002-9287-6485 – enzorizzatti10@gmail.com, UFSM;
GIHAD MOHAMAD – Prof. Dr., ORCID https://orcid.org/0000-0002-6380-364X, UFSM;
EDUARDO RIZZATTI – Prof. Dr., ORCID https://orcid.org/0000-0002-3956-6744, UFSM

R E S U M O

Este trabalho tem como objetivo principal analisar


comparativamente os critérios normativos das
ABNT NBR 15812 – 1 (2010) Alvenaria estrutural — Blocos ce-
dades da alvenaria e de seus componentes, segurança e estados
limites, ações, valores de cálculo, análise estrutural, deslocamen-
tos, fissuras e dimensionamento.
râmicos Parte 1: Projetos e ABNT NBR 15961 – 1 (2011) Alve- Concluiu-se que a ABNT NBR 16868:2020 substituiu as normas
naria estrutural — Blocos de concreto Parte 1: Projetos, com as antigas em um momento oportuno, devido ao longo período
propostas da primeira parte da norma ABNT NBR 16868:2020 sem atualizações das normas e seus critérios. Foram introduzi-
– Parte 1: Projeto, no intuito de contribuir e subsidiar discussões das mudanças efetivas e positivas para o dimensionamento da
junto ao meio técnico. Foram analisados os requisitos, proprie- alvenaria estrutural.

PALAVRAS-CHAVE: alvenaria estrutural, normas, critérios de dimensionamento.

1. INTRODUÇÃO Diante do exposto, como em am- de conformidade do projeto deve

A
té o ano de 2020, as nor- bas as normas antigas a parte 1 abor- contemplar uma análise crítica, ava-
mas brasileiras de alvena- da o dimensionamento da alvenaria liando se o mesmo atende às normas
ria estrutural eram sepa- estrutural, o presente trabalho apre- técnicas vigentes, além de analisar
radas dependendo do tipo do bloco, senta uma análise comparativa entre os cálculos desenvolvidos e os deta-
sendo as de blocos cerâmicos abor- as NBR 15812-1:2010 e NBR 15961-1:2011 lhamentos do projeto.
dados pela NBR 15812:2010 e as blo- a NBR 16868-1:2020, discorrendo so- Uma nova área de atuação pos-
cos de concreto pela NBR 15961:2011. mente sobre a primeira parte de cada sível para engenheiros é inaugurada
Comparando com as normas técni- texto da norma técnica. com essa avaliação, pois a mesma
cas de referência mundial, como a deve ser realizada por um profissio-
dos Estados Unidos, Canadá e Euro- 2. ANÁLISE COMPARATIVA nal apto e independente do projeto
pa, nota-se que a distinção devido ao ENTRE AS NORMATIVAS original, além de ser registrada le-
material do bloco não existe, ou seja, A análise comparativa realiza- galmente e acompanhar os demais
há nesses países uma única norma da entre a nova norma NBR 16868- documentos legais do projeto. Ade-
para blocos cerâmicos e de concreto. 1:2020 e as duas que a mesma substi- mais, a avaliação de conformidade
Diante de um hiato de pratica- tuiu foi realizada item por item, e na deve contemplar desde os parâme-
mente uma década sem atualizações sequência deste trabalho, são abor- tros e resultados dos dimensiona-
e com muitas pesquisas realizadas dados os itens que foram avaliados mentos até os desenhos e detalhes
no campo da alvenaria estrutural, a de mais relevância. construtivos. Deste modo, elevando
ABNT (Associação Brasileira de Nor- os padrões de segurança dos projetos
mas Técnicas) publica, em 2020, as 2.1 Referências normativas, de alvenaria estrutural.
três primeiras partes da norma NBR requisitos e propriedades
16868-1:2020. Visando unir blocos de da alvenaria 2.1.2 Compressão simples
materiais diferentes em uma mesma
norma técnica, a nova norma brasi- 2.1.1 Avaliação de conformidade Quanto às argamassas, a NBR
leira atualiza, nesta primeira parte, do projeto 16868:2020 segue por inteiro as reco-
os critérios sobre projeto de alve- mendações da NBR 15961:2011, onde
naria estrutural com a primeira da Adicionada ao item de “Requisi- a resistência à compressão simples
nova norma. tos” da NBR 16868:2020, a avaliação é limitada a 1,5 vezes à resistência

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| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022
característica dos blocos, sem limi-
tações mínimas. Esta falta de limita-
ção já foi abordada por estudos como
de De Lima (2010), Lübeck (2016) e
Schlosser (2019), que comprovam
que a falta de limitantes para o valor
de resistência à compressão simples
das argamassas nas normas brasi-
leiras é um ponto que pode ser apri-
morado. Assim como concluído por
Lübeck (2016), compartilha-se a ideia
de que a proposição de limites míni-
mos para a resistência da argamassa » Figura 1
é uma alternativa viável que auxilia- Valores para o cálculo da altura efetiva
ria também no controle do modo de Fonte: Autor
ruptura, porém é necessário maiores
estudos e aferimentos desses limites.
que restrinjam os deslocamentos ho- Assim, a altura efetiva do painel,
2.2 Análise estrutural rizontais em uma das extremidades; por conta dos travamentos late-
αh = índice de esbeltez horizontal, rais transversais e travamentos que
2.2.1 Altura efetiva seu valor deve ser igual a 1,0 se hou- restrinjam os deslocamentos hori-
ver travamentos que restrinjam os zontais nas extremidades superior
Segundo as NBR 15812:2010 e NBR deslocamentos horizontais das ex- e inferior, seria de 202,88 cm, uma
15961:2011, a altura efetiva de uma pa- tremidades esquerda e direita, ou redução de 27% no valor deste exem-
rede de alvenaria estrutural deve ser igual a 2,5 se houver travamentos plo, em relação às NBR 15812:2010 e
considerada como a própria altura da que restrinjam os deslocamentos ho- NBR 15961:2011.
parede, quando houver travamentos rizontais em uma das extremidades Esta nova especificação para a al-
restringindo os deslocamentos hori- esquerda ou direita; tura efetiva da parede determinada
zontais nas extremidades inferior e h = altura da parede; pela NBR 16868:2020 é bem-vinda,
superior, ou o dobro da altura da pa- l = comprimento do trecho da parede. uma vez que considera a contribui-
rede, quando uma das extremidades Por exemplo, analisando-se um ção das paredes laterais transversais
for livre e a outra extremidade esteja painel com altura de 2,80 m e compri- para a rigidez do painel em questão,
restringida ao deslocamento hori- mento de 3 m, e onde há travamen- resultando em uma altura efetiva
zontal e à rotação. tos que restrinjam os deslocamentos menor, assim resultando em uma es-
A NBR 16868:2020 complementa horizontais em suas extremidades e beltez menor do elemento.
essas diretrizes separando a altura que haja travamentos laterais trans-
efetiva em dois tópicos, quando não versais, conforme a Figura 1. 2.2.2 Deslocamentos limites
há travamento lateral transversal à A altura efetiva, segundo as nor-
parede, e quando há. Na situação mas que foram substituídas, seria Para elementos estruturais que ser-
de não haver este travamento late- considerada igual a altura do painel vem de apoio para a alvenarias, as NBR
ral transversal, as especificações são (2,80 m), pois a NBR 15812:2010 e a 15812:2010 e NBR 15961:2011 especifi-
idênticas às normas antigas. Caso NBR 15961:2011 somente levam em cam como limite máximo os valores de
houver o travamento lateral trans- consideração os travamentos das L/500, 10 mm ou θ = 0,0017 rad. A nova
versal à parede, a altura efetiva deve extremidades superior e inferior, ou norma MANTÊM esses valores e separa
ser considerada o menor valor entre: seja, dos deslocamentos horizontais. a especificação entre peças em balanço
Para o mesmo exemplo anterior, e e demais casos. Para as situações em
[1] 𝛼𝑣 · ℎ
considerando que estes travamentos balanço é especificado valores máxi-
tenham um comprimento de 60 cm, mos de L/250 e 10 mm. Para os demais
[2] 0,7 𝛼 𝑣 · ℎ · 𝛼 ℎ · 𝑙
ou seja, valor superior a 56 cm (1/5 da casos, os limites são L/500 ou 10 mm.
Onde: altura do painel), a altura efetiva se- Para elementos fletidos, os limi-
αv = o índice de esbeltez vertical, que ria o menor valor entre os dois resul- tes de deslocamentos finais nas nor-
deve ser considerado igual a 1,0 se tados das equações 1 e 2, resolvidas mas antigas têm os valores de L/150
houver travamentos que restrinjam abaixo: ou 20 mm para as peças em balanço,
os deslocamentos horizontais das ℎ𝑒 = 𝛼 𝑣 · ℎ = 1 · 280 = 280𝑐𝑚 e de L/300 ou 10 mm para os demais
extremidades superior e inferior, ou casos. A NBR 16868:2020 altera o li-
0,7 𝛼 𝑣 · ℎ · 𝛼 ℎ · 𝑙 = 0,7 1 · 280· 1 · 300 = 202,88𝑐𝑚
igual a 2,5 se houver travamentos mite dos elementos que estão em

& Construções
| Ed. 106 | Abr – Jun • 2022 | 93
balanço, que passa para L/150 ou 10 nível entre dois pavimentos sucessi-
𝐴𝑠
mm. Salienta-se apenas nas versões vos. Esses parâmetros são baseados [3] 𝑁𝑟𝑑 = 𝑓𝑑 · 𝐴 + 𝑓𝑠 ·
ɣ𝑠
·𝑅
anteriores que as peças estruturais na NBR 6118:2014 para os efeitos em
que apoiam alvenarias não devem elementos não estruturais no projeto Onde:
apresentar deslocamentos maiores de estruturas de concreto, uma novi- Nrd = Força normal resistente de
que L/500, 10mm ou 0,0017 radia- dade eficiente da nova norma. cálculo;
nos de rotação. Não deixando claro f d = resistência à compressão de cál-
que esses limites são para elementos 2.3 Dimensionamento culo da alvenaria;
estruturais que apoiam as alvenarias f s = tensão na armadura (MPa);
de vedação. 2.3.1 Resistência à A s = área da seção das armaduras
Na alvenaria estrutural, as pa- compressão simples longitudinais contraventadas por es-
redes da fachada transmitem seus tribos;
esforços atuantes do vento para as A NBR 16868:2020-1 introduz a A = área da seção resistente;
paredes laterais por meio das lajes possibilidade de dimensionar alvena- R = coeficiente redutor devido à es-
funcionando como diafragma rígido. ria estrutural à compressão simples beltez do pilar.
Os deslocamentos horizontais são com a utilização de armadura. Neste Segundo Medeiros e Parsekian
fundamentais para o dimensiona- tocante, a nova norma apresenta um (2019), as normas atuais não per-
mento estrutural relacionado com a método de dimensionamento para mitem a consideração da armadura
comodidade do usuário, durabilidade elementos que tenha o índice de es- no dimensionamento da alvenaria à
e consequentes patologias nas pare- beltez menor ou igual a 30, e um para compressão simples, pois as paredes,
des estruturais. A NBR 16868:2020 elementos que tenham o índice de em sua maioria, não são fortemente
introduz o item sobre “Movimento la- esbeltez maior que 30, o segundo no armadas, e a armadura longitudi-
teral em edifícios”, que aborda o pro- Anexo C da norma. nal não é confinada por estribos na
jeto de edifícios altos e estabelece os No item que é denominado de “Re- maioria dos casos. Ainda segundo
limites para verificação lateral provo- sistência à compressão simples de pa- Medeiros e Parsekian (2019), o co-
cada pela ação do vento em combi- redes e pilares armados com índice de mitê que desenvolveu A nova norma
nação frequente (ψ1 = 0,30). Os limi- esbeltez menor ou igual a 30”, a NBR considerou que a utilização da arma-
tes são de H/1700 e Hi/850, onde H é 16868:2020 determina a fórmula 3 para dura na compressão é uma ferramen-
a altura total do edifício e Hi é o des- se determinar a resistência dos pilares ta útil para o dimensionamento.

2.3.2 Resistência à flexão simples


Faixa e painel inteiro
A NBR 16868:2020 apresenta mu-
danças consideráveis no item sobre
seções retangulares com armadura
h

simples. As NBR 15812:2010 e NBR


15961:2011 limitavam a tensão na
armadura a 50% da tensão de esco-
ℓ1 amento quando se considera a re-
ℓ sistência à flexão, onde o momento
fletor resistente de cálculo é determi-
nado pela Equação 4.
Calcular hef considerando as duas situações
abaixo e adotar o menor valor [4] 𝑀𝑅𝑑 = 𝐴𝑠 · 𝑓𝑠 · 𝑧

Considerar este lado Onde:


como borda livre As = área da armadura tracionada;
f s = tensão na armadura (MPa);
h

z = braço da alavanca.
Ainda se tem a Equação 5:
𝑓𝑦𝑘
ℓ ℓ1 [5] 𝑓𝑠 = 0,5 · 𝑓𝑦𝑑 = 0,5 ·
𝛾𝑚

Ou seja, metade da resistência ao


» Figura 2 escoamento de cálculo da armadura.
Características do painel para cálculo de hef de faixas intermediárias Esta limitação é baseada na ideia de
Fonte: NBR 16868:2020
que eventualmente uma seção pode

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se deformar e o graute deslizaria den-
tro do vazado, interrompendo a trans-
ferência das tensões da armadura.
Baseados nos estudos de Iz-
quierdo e Corrêa (2016) e Sipp e Par-
sekian (2018), entre outros, a NBR
16868:2020 conclui que o vínculo
entre o bloco e o graute pode ser
considerado forte o suficiente para
permitir a transferência de tensões.
Assim, a nova norma altera as limi-
tações da tensão de escoamento do
aço, dependendo do tipo de material
do bloco e do diâmetro da barra da
armadura, conforme abaixo:
– blocos de concreto: fs = fyd;
– blocos ou tijolos cerâmicos, com fa-
ces lisas em contato com o graute:
— para barras de 10 mm, f s = fyd
(sem redução);
— para barras de 12,5 mm, fs = 0,75 – fyd
(com redução de 25%); » Figura 3
Tabela com valores de referência para blocos, argamassas, grautes
— para barras de 16 mm, fs = 0,50 – fyd
e primas
(com redução de 50%); Fonte: NBR 16868:2020
– blocos cerâmicos com faces com
ranhuras em contato com o grau-
te, tem-se fs = fyd. de pilares-paredes da NBR 6118:2014.
𝑁𝑑 · (ℎ𝑒) 2
Sánchez (2013) afirma que a ado- [6] 𝑀2𝑑 =
3600 · 𝑡
O índice de esbeltez e o eventual mo-
ção de apenas 50% da tensão carac- mento de segunda ordem devem ser
terística ao escoamento do aço da Onde: calculados para cada faixa, conforme
armadura longitudinal de flexão para Nd – força normal de cálculo; a figura 2.
o dimensionamento à flexão é muito h e – altura efetiva do elemento
conservadora. Assim, a nova norma comprimido; 2.4 Anexos
acerta em alterar este valor, baseada t – dimensão da seção transversal da
em estudos comprovados. peça no plano de flexão. Em seu Anexo A, a NBR 16868:2020
Essa diferença tem consequên- aborda danos acidentais e colapsos
2.3.3 Resistência à cias diretas no valor do momento de progressivos. Comparada às normas
flexo-compressão segunda ordem e se baseia nas dire- antigas, a nova norma técnica altera
trizes do Eurocode 6. Ainda, nota-se o caráter de informativo para norma-
Enquanto as NBR 15812:2010 e que o valor encontrado pelas diretri- tivo e acrescenta detalhes construti-
NBR 15961:2011 consideravam como zes da NBR 16868:2020 é bem inferior vos baseados em Parsekian (2014).
elementos curtos aqueles em que o ao valor das NBR 15812:2010 e NBR O Anexo B, assim como nas nor-
índice de esbeltez fosse menor que 15961:2011. mas anteriores, discorre sobre al-
12, a NBR 16868:2020 aumenta esse Outra novidade que a nova norma venaria protendida. A nova norma
limite para 16. introduz é a verificação de paredes muda novamente o caráter do anexo,
Outra mudança que a nova nor- com flexão oblíqua através de uma de informativo para normativo.
ma apresenta, em relação às normas verificação por faixas. No caso espe- Terceiro e último anexo de cará-
substituídas, é no modo de determi- cífico de paredes, a NBR 16868:2020 ter normativo da NBR 16868:2020,
nação do momento de segunda or- permite substituir a verificação da o Anexo C traz as especificações de
dem, que segundo a NBR 16868:2020 seção em flexão oblíqua pela verifica- como dimensionar uma parede mui-
é determinado pela equação 06, que ção de faixas submetidas à flexo-com- to esbelta, com o índice de esbeltez
utiliza em seu denominador o valor pressão fora do plano da parede. maior que 30. São estabelecidos
constante de 3600, enquanto as nor- O comprimento de cada faixa deve parâmetros para que seja possível que
mas ainda vigentes e também a nor- ser igual a cinco vezes a espessura da o dimensionamento ocorra.
ma europeia, usam o valor constante parede e no máximo de 100 cm, mes- O Anexo D é outra novidade da
de 2000: mo limitante máximo para as faixas NBR 16868:2020, porém de caráter

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informativo. Neste item, a nova nor- rência para projetistas inexperientes tam de mais estudos para determi-
ma permite o projeto de alvenaria são importantes. nar tais limitantes, como concluiu
participante, através do método da Lübeck (2016).
diagonal comprimida clássica, base- 3. CONCLUSÕES A NBR 16868:2020 se baseia
ando-se nas especificações da CSA A nova norma apresenta novida- muito na norma canadense (CSA
S304:2014 sobre “in fill walls”, ou pare- des positivas que terão efeitos ime- 304:2014) para inclusão de novos
des participantes. diatos quanto ao projeto da alvena- anexos C e D, Paredes com índice de
Em seu Anexo E, a NBR 16868:2020 ria estrutural, como, por exemplo, a esbeltez maior superior a 30 e Alve-
disponibiliza o método de dimen- avaliação de conformidade do proje- naria participante, respectivamente.
sionamento de painel sob ação fora to, que reforça a segurança, além de Estes anexos são muito bem-vindos,
do plano, por meio de tabelas. Para abrir uma nova gama de serviço para usando normas internacionais como
alvenaria não armada, a nova nor- engenheiros. Ainda, o fim da limita- referência, quando não há estudos e
ma recomenda as tabelas da CSA ção de considerar somente 50% da resultados nacionais.
S304:2014. Para a alvenaria armada, tensão na armadura no dimensiona- De uma maneira geral, a pu-
é recomendado usar as tabelas do mento à flexão simples e ao cisalha- blicação da NBR 16868:2020, que
Eurocode 6 (2005). mento já era uma mudança requerida substituiu a NBR 15812:2010 e a NBR
Em seu último anexo F, também por diversos autores. Esta alteração 15961:2011, acontece em bom tempo,
informativo, a NBR 16868:2020 apre- se baseia em estudos nacionais e se não atrasada, com praticamen-
senta uma tabela, representada na fica dependendo do tipo de bloco, de te uma década sem revisões. Com a
Figura 3, com valores de resistência suas paredes internas e do diâmetro nova norma, o Brasil alinha-se com a
à compressão simples recomenda- do aço. Outro ponto positivo é o uso comunidade internacional, no quesi-
dos ao projetista para a especifica- de armadura no dimensionamento à to de normativas que abordam a al-
ção do bloco, argamassa, graute e compressão simples. venaria estrutural, deixando a segre-
do prisma. Tais valores devem ser A resistência à compressão da gação devido ao tipo do material do
confirmados com os devidos testes, argamassa na NBR 16868:2020 con- bloco, além de conseguir mesclar es-
mas segundo Medeiros e Parsekian tinua sem limites mínimos, que se- tudos nacionais com estudos e nor-
(2019) o comitê organizador enten- riam de bom uso para o controle do mas técnicas internacionais como
de que valores comuns como refe- modo de ruptura, porém necessi- fontes para seu texto. C

» REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ACONTECE NAS REGIONAIS

Encontro presencial na Regional Rio Grande do Sul

N
o dia 10 de maio ocorreu o
encontro presencial na Uni-
versidade do Vale do Taquari
(Univates), promovido pela Regional
do Rio Grande do Sul, do qual participa-
ram mais de 200 pessoas, entre alunos
de graduação e profissionais do merca-
do da construção.
O evento, que faz parte da série
IBRACON na Estrada Gaúcha Network,
contou com palestras do Prof. Roberto
Christ (Unisinos), que tratou do uso de
barras de fibras de vidro em estruturas de
concreto, e do Eng. Flávio Roberto Bartz
(Conpasul), que apresentou a Fonomix –
a tecnologia de argamassa autonivelante
para contrapisos. A abertura coube ao di-
retor regional Hinoel Ehrenbring.
O evento foi patrocinado pelas
empresas Conpasul, MC Bauchemie e
Composite Group. Ele contou com o
apoio da Univates e itt Performance/
UNISINOS.
Fique atento para as próximas
edições! C

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