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Ano LI

112
OUT-DEZ | 2023

& Construções ISSN 1809-7197


www.ibracon.org.br

PRÉ-MOLDADOS DE CONCRETO

SOLUÇÕES PARA EDIFICAÇÕES E OBRAS


DE INFRAESTRUTURA DO PASSADO,
DO PRESENTE E DO FUTURO

64º CONGRESSO BRASILEIRO PERSONALIDADE


ENTIDADES DA CADEIA DO CONCRETO ENTREVISTADA
PERSPECTIVAS E DESAFIOS COBERTURA DAS DAVID FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ:
DA CONSTRUÇÃO ATIVIDADES DO MAIOR FÓRUM SECRETÁRIO-GERAL DA fib
INDUSTRIALIZADA NACIONAL TÉCNICO-CIENTÍFICO (FEDERAÇÃO INTERNACIONAL
SOBRE O CONCRETO DO CONCRETO
Ed. 112 | Out – ESTRUTURAL)
& Construções
Dez | 2023 | 1
2 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções
& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 3
Sumário & Construções
Ano LI

112
OUT-DEZ | 2023
ISSN 1809-7197
www.ibracon.org.br

64° CONGRESSO BRASILEIRO OBRAS EMBLEMÁTICAS


DO CONCRETO
50 A pré-fabricação no projeto da UERJ: o papel PRÉ-MOLDADOS DE CONCRETO

SOLUÇÕES PARA EDIFICAÇÕES E OBRAS


das redes de socialização na implementação DE INFRAESTRUTURA DO PASSADO,

17
DO PRESENTE E DO FUTURO
Congresso aposta de um processo construtivo
em inovações da
engenharia para a
neutralidade do concreto 57 Primeiro Campus no Brasil da WPP:
Edificação sustentável na esfera da
transformação criativa

PESQUISA E DESENVOLVIMENTO
24 Conferências trouxeram os avanços
em pesquisa sobre resistência ao fogo,
67 Aplicações do UHPC nas ligações
de tabuleiros de pontes em concreto
ENTIDADES DA CADEIA
PERSPECTIVAS E DESAFIOS
DA CONSTRUÇÃO
INDUSTRIALIZADA
64º CONGRESSO BRASILEIRO
DO CONCRETO
COBERTURA DAS
ATIVIDADES DO MAIOR FÓRUM
NACIONAL TÉCNICO-CIENTÍFICO
PERSONALIDADE
ENTREVISTADA
DAVID FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ:
SECRETÁRIO-GERAL DA fib
(FEDERAÇÃO INTERNACIONAL

61
durabilidade e sustentabilidade
SOBRE O CONCRETO DO CONCRETO ESTRUTURAL)

pré-moldado
Créditos de Capa
27 IBRACON premia profissionais e entrega
títulos na abertura do Congresso
INDUSTRIALIZAÇÃO
Um dos edifícios do campus no Brasil
da WPP

DA CONSTRUÇÃO
31 IBRACON lança novas publicações técnicas
Seções
34 Concursos Estudantis movimentaram
o 64º Congresso Brasileiro do Concreto 75 Processo produtivo
de painéis arquitetônicos 5 Editorial
pré-fabricados 8 Coluna Institucional
39 Eleição do Conselho Diretor e Diretoria
do IBRACON
de concreto
9 Converse com o IBRACON
10 Personalidade Entrevistada:
ESTRUTURAS EM DETALHES David Fernández-Ordóñez

80 Métodos de construção acelerada de pontes


e viadutos: conceitos e aplicações
64 Mantenedor

40 Desafios da produção
das bases pré-fabricadas
INSPEÇÃO E MANUTENÇÃO
73 Entidades da Cadeia
96 Encontros e Notícias
em concreto de elevado 97 Acontece nas Regionais
módulo de elasticidade do
85
& Construções
acelerador Sirius – CNPEM Execução do reforço estrutural do
barramento principal de usina hidrelétrica
Concreto
REVISTA OFICIAL DO IBRACON
Revista de caráter científico, tecnológico e informativo para o setor produtivo da construção civil,
Ano LI
para o ensino e para a pesquisa em concreto.
112
OUT-DEZ | 2023
ISSN 1809-7197
& Construções ISSN 1809-7197
Tiragem desta edição: 2.500 exemplares | Publicação trimestral distribuida gratuitamente aos associados
www.ibracon.org.br

EDITOR-CHEFE PROJETO GRÁFICO E DTP I B R A C O N


à Prof. Oswaldo Cascudo à Gill Pereira Av. Queiroz Filho, 1.700 — sala 407 / 408, Torre D — Villa Lobos Office Park
gill@ellementto-arte.com 05319-000 – Vila Hamburguesa — São Paulo – SP — Tel. (11) 3735-0202
JORNALISTA RESPONSÁVEL
à Fábio Luís Pedroso — MTB 41.728
PRÉ-MOLDADOS DE CONCRETO
ASSINATURA E ATENDIMENTO
fabio@ibracon.org.br office@ibracon.org.br
SOLUÇÕES PARA EDIFICAÇÕES E OBRAS PRESIDENTE DO COMITÊ à Oswaldo Cascudo à Gibson Rocha Meira
PUBLICIDADE E PROMOÇÃO
DE INFRAESTRUTURA GRÁFICA
DO PASSADO,
à Arlene Regnier de Lima Ferreira Elyon EDITORIAL (concreto e durabilidade) (Instituto Federal de Educação,
DO PRESENTE E DO FUTURO
arlene@ibracon.org.br Preço: R$ 12,00 Oswaldo Cascudo (Editor-chefe) à Paulo Helene Ciência e Tecnologia da Paraíba)
(concreto e estruturas) à Gláucia Maria Dalfré
As ideias emitidas pelos entrevistados ou em artigos assinados são de responsa-
bilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, a opinião do Instituto. COMITÊ EDITORIAL à Pedro Teodoro França (Universidade Fed. de S. Carlos)
MEMBROS (obras subterrâneas)
© Copyright 2023 IBRACON à José Julio de Cerqueira Pituba
Alio Kimura à Paulo Fernando Araujo da Silva

C
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dem ser reproduzidas nem copiadas, em nenhuma forma de impressão mecâni- (informática no projeto estrutural) à Maria del Carmen A. Perdrix
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e editores. (Universitat Politècnica
(cimento e sustentabilidade) (saneamento)
de Catalunya)
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Fundado em 1972 PRESIDENTE DO à María Josefina Positieri
(cimentos especiais)
Declarado
64º CONGRESSO de Utilidade
BRASILEIRO Pública Estadual
PERSONALIDADE COMITÊ CIENTÍFICO (Universidad Tecnológica
ENTIDADES DA CADEIA LeiDO2538 de 11/11/1980ENTREVISTADA
CONCRETO à Cláudio Vicente Mitidieri Filho
PERSPECTIVAS E DESAFIOS DAVID FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ: Gláucia Maria Dalfré Nacional)
DA CONSTRUÇÃO Declarado
COBERTURA DAS
ATIVIDADES de Utilidade
DO MAIOR FÓRUM Pública
SECRETÁRIO-GERAL Federal
DA fib (qualidade e desempenho)
INDUSTRIALIZADA
Instituto Brasileiro do Concreto Decreto 86871 de(FEDERAÇÃO
NACIONAL TÉCNICO-CIENTÍFICO
DO25/01/1982
INTERNACIONAL
CONCRETO ESTRUTURAL)
à Maria Teresa Paulino Aguiar
SOBRE O CONCRETO
à Emílio Minoru Takagi
COMITÊ CIENTÍFICO (Universidade Federal de
PAULO HELENE (aditivos e adições)
Diretor Presidente MEMBROS Minas Gerais)
à Ercio Thomaz
à Alessandra Castro à Pedro Castro Borges
JULIO TIMERMAN ROBERTO CHRIST (sistemas construtivos)
Diretor 1º Vice-Presidente / 1º Tesoureiro Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento (Universidade de São Paulo) (Centro de Investigación y
à Fabiana Lopes Oliveira
à Andrielli Morais de Oliveira de Estudios Avanzados)
ENIO JOSÉ PAZINI FIGUEIREDO GUILHERME ARIS PARSEKIAN (arquitetura e projeto)
Diretor 2º Vice-Presidente Diretor de Publicações (Universidade Federal de Goiás)
à Pedro Garcés Terradillos
à Frederico Falconi à Eduardo Cabral
CLÁUDIO SBRIGHI NETO ALEXANDRE AMADO BRITEZ (Universidad de Alicante)
Diretor 1º Secretário Diretor de Eventos (fundações) (Universidade Federal do Ceará)
Guilherme Parsekian à Rafael Alves de Souza
à à Eduardo Moraes Rêgo Fairbairn
CARLOS JOSÉ MASSUCATO EMÍLIO MINORU TAKAGI (UEM)
Diretor 2º Secretário Diretor de Cursos (alvenaria estrutural) (Univ. Federal do Rio de Janeiro)
à Íria Lícia Oliva Doniak à Enio Pazini Figueiredo à Rodrigo de Melo Lameiras
JESSIKA MARIANA PACHECO MISKO PATRÍCIA BAUER L. GASPARIAN
Diretora 2º Tesoureira Diretora de Certificação de Pessoal (industrialização da construção) (Universidade Federal de Goiás) (Universidade de Brasília)
à Lydio dos Santos B. de Mello à Fernando Branco à Selmo Kuperman
CARLOS AMADO BRITEZ BERNARDO FONSECA TUTIKIAN
Diretor Técnico Diretor de Marketing (normalização técnica) (Universidade de Lisboa) (Desek)
à Mauricio Linn Bianchi à Fernanda G. da Silva Ferreira à Sérgio H. Pialarissi Cavalaro
CÉSAR H. SATO DAHER JÉSSICA ANDRADE DANTAS
Diretor de Relações Institucionais Diretora de Atividades Estudantis (sistemas construtivos) (Universidade Fed. de S. Carlos) (Loughborough University)

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Editorial
Sobre o poder do engenheiro de
concreto e seu compromisso social

E
ste editorial coin- esplendor o Jubileu de Ouro no emblemático congresso de
cide com o encer- Brasília com mais de 900 congressistas presencias.
ramento de minha
quarta gestão à Agora, em outubro de 2023 realizamos em Florianópolis,
frente do Instituto Brasilei- um dos maiores congressos presenciais demonstrando o re-
ro do Concreto. A gestão sultado positivo de um Instituto que prima pelo voluntariado
de uma Entidade do porte engajado e resiliente, e que não mede esforço para cumprir
histórico e representativo com sua nobre missão de engrandecimento e valorização
como o IBRACON exige da cadeia de valor do concreto.
muita dedicação e trabalho
voluntário, aliado à uma po- Mas este editorial tem um objetivo maior que o de prestar
lítica de união das entidades contas ou relatar vitórias: tem o escopo de defender, relem-
irmãs sempre com foco na brar e conscientizar a todos sobre o poder da engenharia
nobre missão do Instituto. de concreto e quanto ela pode contribuir com a sociedade e
sustentabilidade do planeta.
Registro meus sinceros agradecimentos ao Conselho do
IBRACON, e principalmente aos Diretores e amigos, que tam- Para fazer uso de nosso poder científico e técnico precisa-
bém generosa e voluntariamente, me ajudaram, e me supor- mos também, estar consciente da grandeza da profissão
taram nessa missão, além de terem sido essenciais às vitorias do engenheiro civil de concreto. O concreto é hoje em dia
conseguidas neste período. Agradeço também aos nossos essencial à vida humana. Fundações em larga escala e em
valorosos funcionários, aos terceirizados e, de modo especial, qualquer terreno, reservatórios, obras de saneamento, edifí-
ao meio técnico e empresarial que fortaleceram e valoriza- cios altos, túneis em qualquer geologia e profundidade, bar-
ram o Instituto aumentando o quadro social com 60 novos ragens, e muitos outros empreendimentos seriam inviáveis
sócios individuais e 4 novos sócios mantenedores e coletivos. com o emprego de outro material.

Contratamos ainda em 2019 o centro de convenções de Flo- Todos sabemos que cabe aos arquitetos e engenheiros do-
rianópolis e a pandemia nos impediu de realizar presencial- minar as forças da natureza a serviço da qualidade de vida
mente o congresso 62CBC2020 em outubro de 2020, mas da sociedade à qual serve. Quando pensamos e desejamos
o realizamos em formato virtual, tendo sido uma das Enti- um lar seguro é o concreto armado que pode, por exemplo,
dades pioneiras naquela conjuntura a realizar um congresso dar segurança contra furacões como o Katrina, que devas-
neste modelo. Apesar das improvisações, o evento foi um tou a cidade de New Orleans nos Estados Unidos em 2005,
sucesso com 682 congressistas. com mais de 1.800 mortes e 500 mil desabrigados. As pou-
cas edificações que resistiram e protegeram seus usuários
Transferimos e nos organizamos para realizar o congresso no- tinham sido construídas em concreto.
vamente em Florianópolis, no formato híbrido, em março de
2021, mas a pandemia recrudesceu e não deixou. Novamen- Também é a estrutura de concreto que pode, por exemplo,
te em formato virtual inovamos criando um avatar da nossa resistir impecavelmente a terremotos de elevada intensida-
secretária executiva Arlene que dava as boas-vindas e enca- de como os ocorridos recentemente na Turquia, onde foram
minhava os congressistas aos estandes de patrocinadores e destruídas cerca de 173.000 edificações mal projetadas e
expositores, assim como às palestras acadêmicas e técnicas. mal construídas.

Em 2022 conseguimos comemorar, com alegria e respon- Numa rápida consulta à Inteligência Artificial (Chat GPT)
sabilidade, os primeiros 50 anos do IBRACON, completa- tive a seguinte resposta à pergunta: Como as construções
dos em 23 de junho no Anfiteatro do IPT onde nasceu o do sul do Brasil, poderão ser reconstruídas depois das
Instituto. Na sequência, em outubro 2022, celebramos com enchentes? Resposta: A reconstrução de áreas afetadas por

& Construções
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enchentes no sul, incluem a adoção de medidas de enge- trutura, num mesmo ambiente, passando, por exemplo, de
nharia para tornar as construções mais resistentes... dá para 30 anos a 48 anos. E se utilizar um concreto de 50 MPa no
inferir que a IA não sabe o que fazer, mas sabe que precisa lugar de um de 20 MPa, com mesmo cimento e materiais,
da engenharia para tornar as estruturas mais resistentes às pode-se alterar o coeficiente de difusão de 3 vezes e au-
colossais forças da natureza. mentar a vida útil em 9 vezes!

O concreto, nosso nobre material de manuseio cotidiano, Que outra profissão tem esse PODER nas suas mãos?
é responsável por mais de 50% de toda a produção mun- A medicina conseguiu aumentar a expectativa de vida de
dial de bens, segundo a bibliografia especializada. Não há 35 anos para 70 anos, ou seja, dobrou! Um engenheiro me-
outro material capaz de servir tanto à humanidade por um cânico pode também dobrar ou quadruplicar a vida útil de
preço tão acessível posto obra, bombeado e lançado na um carro mas, provavelmente, a um preço proibitivo, mas,
estrutura! Comparado por quilo de material não há nada que eu saiba, nenhum profissional pode multiplicar por
tão acessível economicamente. 10 vezes a vida de seus produtos. Só nós engenheiros de
concreto temos esse poder... e poucos o usam.
Segundo Karen Scrivener, considerada como uma das maiores
cientistas atuais no tema, essas qualidades tão acessíveis O engenheiro que construiu a cúpula do Panteão de Roma,
ocorrem porque o cimento e o concreto utilizam como matéria hoje com mais de 2 mil anos, talvez tivesse consciência de
prima os oito mais abundantes elementos químicos da crosta seu poder. Mas muitos engenheiros de hoje, não sabem que
terrestre. Segundo ela: “...Portland cement is an inevitable estão construindo a história da humanidade, não têm cons-
consequence of the chemistry and geology of the earth. No ciência de seu papel e poder!
alternative material can be produced in quantities needed.”
Recentemente estudamos na PhD o poder da união de tec-
Ser o mais importante material de construção e ser o mais nologista de concreto, consultor e projetista de estruturas
consumido no mundo, é uma consequência natural, e eu de concreto armado. Consideramos um pilar para suportar
costumo dizer, é mais uma dádiva Divina... um presente 400 tf, ou seja, algo que um pilar do térreo de um edifício
ao homem. Não tenham dúvida, o concreto e o cimento de 20 andares suporta em média, muito usual em São Paulo,
Portland são, e vão continuar sendo, os principais materiais também sujeito a momentos fletores devido ao vento. Numa
de construção do mundo por muitas décadas mais. situação ideal de total liberdade geométrica, sem restrições
de arquitetura, podemos projetar utilizando concreto de
Apesar de ser essencial à vida e à sociedade, as estruturas de 20 MPa ou de 50 MPa, com taxa de armadura mínima (0,4%)
concreto são, também, responsáveis de emitir gases estufa, ou com taxa de armadura máxima (4,0%).
contribuindo para o aquecimento global. A nossa parcela de
contribuição é pequena no contexto geral, mas não é despre- Resulta que para um tramo de pilar com altura de 2,9m e
zível. O aço e o concreto, ou seja, as estruturas de concreto seção quadrada, passar de fck = 20 MPa para fck = 50 MPa,
armado, emitem poucos gases de efeito estufa, mas a susten- pode-se reduzir o volume de concreto, a massa de aço e a
tabilidade tem de ser um desafio a ser equacionado. área de forma, gerando uma brutal economia de recursos
naturais não renováveis, atendendo à desmaterialização e
Esse desafio só será vencido se o engenheiro fizer uso de principalmente reduzindo drasticamente a emissão de ga-
sua inteligência de seu poder científico. ses estufa, em situações extremas, de 430kgCO2eq para
176 kgCO2eq, por tramo de pilar. Para pilares onde seja obri-
Por exemplo, um dos mecanismos mais frequentes de enve- gatório manter a mesma geometria por razões de arquite-
lhecimento e deterioração precoce das estruturas, exigindo tura, passar de fck = 20 MPa para fck = 50 MPa, pode reduzir
onerosas reformas, reparos e reforços, é a corrosão de arma- pela metade a emissão de gases estufa.
duras. Considerando que a vida útil de uma estrutura pode ser
prevista através de uma equação simples de representação do Claro que se trata de situações ideais que dificilmente
fenômeno da carbonatação e do ingresso de cloretos, pode- vão acontecer na realidade. Pode ser muito raro baixar
-se demonstrar facilmente o poder da engenharia de concreto. 100 kgCO 2 eq num único tramo de pilar. Porém num edifí-
cio convencional de 20 andares mais garagens é comum
Nosso conhecimento atual permite prever que ao passar a existirem 960 tramos de pilares e estar economizando,
espessura de cobrimento de 20 mm para 25 mm, podere- que seja, 10 kg de CO 2 por tramo, resultará uma redução
mos multiplicar por 1,6 vezes a vida útil de uma mesma es- de 10 toneladas de CO 2 , que não é nada desprezível!

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Outro recurso forte, ora admitido nas versões novas do fib 2. Investir no conhecimento e publicação de EPDs
Model Code 2020 e EurocodeII/2023, é alterar a data de (declaração ambiental de produto). Neste ponto a indús-
controle do fck . Passar de 28 para 56 dias pode reduzir a tria está muito atrasada e somente umas poucas indús-
emissão de gases estufa em 12%, sempre com responsabili- trias brasileiras já publicaram suas EPDs;
dade e conhecimento do tema. 3. Utilizar com responsabilidade, conhecimento e seguran-
ça o crescimento da resistência do concreto a favor da
Concluo repisando um importante conceito para o estudo da sustentabilidade;
sustentabilidade das estruturas de concreto: os cálculos só 4. Participar, contribuir e criar banco de dados e platafor-
podem e devem ser feitos para seus componentes ou para a mas como já fazem o SINDUSCON com o CeCarbon, o
estrutura pronta, preferencialmente até o fim de sua vida útil TQS com a incorporação do cálculo das emissões na
(ACV). Raciocinar emissões por m3 de concreto fresco ou por nova versão (24) do pacote computacional, a plataforma
tonelada de cimento pode conduzir a equívocos desastrosos. do GCCA liderada pela ABCP, as iniciativas da GLOBE,
CBCS, ACI, fib, por exemplo;
Dessas considerações é fácil concluir que o kg de cimento 5. Atualizar normas técnicas que ainda prescrevem consu-
e o m3 de concreto só vão contribuir à sustentabilidade se mos mínimos, armadura mínima, cobrimentos mínimos,
além de emitir um volume menor de gases estufa, não per- relação a/c máxima, transformando essas prescrições
retrógadas e superadas em requisitos de desempenho;
derem desempenho. Deve sempre haver um equilíbrio entre
6. Difundir insistentemente conceitos e práticas como tem
redução de emissão e maior desempenho.
feito há anos o CT-101 de sustentabilidade do IBRACON
agora fortalecido com a parceria com ABECE e ABCIC.
Por essas e muitas outras razões o IBRACON está engajado
Precisamos de um guia, uma prática de como calcu-
e comprometido com a inovação, a industrialização, a pré-
lar emissões, mas isso não basta… o mais importante é
-fabricação e a sustentabilidade, palavras chaves utilizadas
COMO podemos reduzir emissões.
no 64CBC2023, em Florianópolis.

Esses desafios vão exigir de nós:


Encerro com uma reflexão e um sonho viável e pretencioso:
u Ter consciência de que o concreto armado é essencial à
a) Considerando que o Brasil, entre todas as nações, tem
humanidade e da nobreza de nossa profissão;
uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo;
u Ter segurança de que o concreto continuará a ser o
b) Considerando que somos reconhecidos como o país que
mais importante material de construção para as próxi-
produz a tonelada de cimento Portland mais sustentável mas décadas;
do planeta com inteligente e vitorioso uso do coproces- u Fazer uso de nosso poder de transformação e domínio
samento, das adições e de resíduos industriais; das forças da natureza;
c) Considerando que somos reconhecidos como o país que u Ser capaz de rever normas com frequência adequada,
produz a tonelada de aço/vergalhão para concreto ar- pois a cada 5 anos, como hoje, é improdutivo;
mado mais sustentável do planeta devido à reciclagem u Desenvolver visão sistêmica pois os avanços estão nas
de 100% da sucata ao invés do minério de ferro; e, interfaces comuns das áreas e não somente dentro de
d) Considerando que a engenharia de concreto brasileira cada área isolada;
tem muito poder em suas mãos e vai exercê-lo de forma u Exercer nossa capacidade de diálogo e flexibilidade para
inteligente e focada em benefício daquilo que o planeta construir consensos ainda que imperfeitos mas que se-
hoje exige de um profissional competente e engajado. remos competentes para aperfeiçoar logo adiante.

Vislumbro que com todos esses precedentes, o Brasil tem a E o mais importante... estou me dirigindo ao grupo de con-
oportunidade de se destacar como o País capaz de produzir sultores, tecnologistas e projetistas, formadores de opinião e
o concreto armado mais sustentável do planeta. os maiores líderes no país: “Os industriais responsáveis por
insumos básicos estão engajados há anos, os construtores
Não é fácil, talvez seja o maior desafio deste século, e vai do SINDUSCON-SP estão liderando com o CeCarbon... está
ser necessário: mais que na hora de nós nos engajarmos de corpo e alma
1. Estabelecer e manter o desempenho elevado do ci- com a sustentabilidade! Temos muita contribuição a dar”.
mento e do aço. São indispensáveis cimentos mais Vamos em frente...
eficientes e aços mais duráveis. Aceitar baixar desem-
penho físico-mecânico dos insumos básicos é um tiro PAULO HELENE
no pé pois a estrutura pronta vai emitir mais carbono; Diretor Presidente (2021-2023)

& Construções
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Coluna Institucional
Um balanço do Programa MasterPEC

N
o ano de 2005, o nossos sócios individuais e coletivos, e também para a comu-
IBRACON implementou, nidade técno-científica como um todo, cursos com temas de
com grande sucesso e grande interesse da cadeia do concreto, como o Curso Prepa-
aceitação pelo meio técnico, um ratório para qualificação de profissionais na atividade de inspe-
sistema de cursos denominado ção de estruturas de concreto — Inspetor I e II, promovido com
“Programa Master em Produ- grande sucesso há várias edições em parceria com o Grupo IDD.
ção de Estruturas de Concreto”, Além desses, teremos Cursos sobre Sustentabilidade, Incêndio,
mais conhecido como Progra- Tecnologia de Concreto, Fachadas de edificações, e Estanquei-
ma MasterPEC, oferecendo um dade de estruturas de concreto, no qual será fornecido todo o
conjunto de disciplinas e cur- embasamento teórico e exemplos práticos filmados em labora-
sos de educação continuada tório, de forma bastante didática, para que todos possam sentir
do tipo atualização profissional, o dinamismo do nosso material concreto.
cumprindo, assim, a missão do
IBRACON, que objetiva o desen- Na cerimônia de abertura do Congresso Brasileiro do Concreto
volvimento e difusão do conhe- de 2024, em Maceió, o maior fórum de especialistas do setor do
cimento em projeto, materiais, concreto e das personalidades mais importantes da engenharia,
controle, produção, inspeção, diagnóstico, proteção e reabilitação teremos a homenagem ao profissional de destaque do Progra-
de estruturas de concreto, disponibilizando os avanços tecnológicos ma MasterPEC, voltado para os alunos que obtiveram o Certifi-
na área com uma visão sistêmica e integradora, promovendo a ética cado de Conclusão do Curso, e completaram 100 créditos nos
e a responsabilidade social, reconhecendo a Construção Civil como últimos 5 anos, sendo que pelo menos 40% tenham sido realiza-
um dos mais importantes setores industriais da sociedade. dos em cursos oferecidos pelo IBRACON, além de ter participa-
do de pelo menos um Congresso Brasileiro do Concreto (CBC)
As empresas associadas mantenedores e coletivas ao IBRACON, neste período. A participação no CBC equivale a uma disciplina/
através de cotas de patrocínio dos cursos, podem associar sua curso de 4 créditos. Na abertura do nosso último 64º CBC, o
imagem institucional à do IBRACON, por meio da inserção do aluno Felipe Machado de Jesus foi agraciado com o título de
logo da empresa em todos os materiais de marketing do curso. Master em Produção de Estruturas de Concreto, que possui um
Como contrapartida, a empresa tem a oportunidade de escolher alto reconhecimento junto à cadeia produtiva do concreto.
do tema do curso, citar seus produtos nos exemplos práticos e
estudos de caso, além de ter link pra o site e catálogos técnicos O Programa MasterPEC do IBRACON materializa o objetivo do
da empresa. O IBRACON pode indicar um professor para minis- IBRACON em disseminar conhecimento sobre CONCRETO e
trar este curso, trabalhando em conjunto com a empresa. Quando atualizar profissionais da área. Nessa missão de ampliar e divul-
o patrocinador não for associado, sua participação no curso deve gar os cursos do IBRACON, estive acompanhado pelo colega
ser submetida à aprovação pela Diretoria do IBRACON. Consulte Adriano Damásio Sotério, e pela ex-diretora de Cursos Jéssika
a Apresentação Comercial em nosso site para mais informações. Pacheco. Não poderia deixar também de agradecer ao compe-
tente quadro de professores do Instituto Brasileiro do Concreto,
Todo os atuais 520 alunos e profissionais em curso, podem consul- que sempre, quando solicitados, foram atenciosos e competen-
tar seus créditos na aba “Alunos com Créditos”, sendo que 6 alunos tes: Júlio Timerman, Enio Pazini Figueiredo, Rafael Timerman,
fazem jus ao Certificado de Conclusão do Curso, pois em um perí- Tulio Bitencourt, Roberto Christ, Martins Junior, Jorge Satoro
odo máximo de 5 anos, contados a partir da conclusão do primei- Nakajima, Antonio Carlos Zorzi, Pedro Castro Borges, Ricardo
ro curso, completaram 100 créditos. Desde a sua implementação, Couceiro Bento, Dener Altherman e Carlos Britez.
mais de 2000 alunos já participaram de cursos promovidos pelo
programa. No período de 2020 - 2023 foram promovidos mais de Convidamos a se associarem ao IBRACON e desfrutar e se be-
45 cursos do programa, na modalidade 100% online ao vivo. Agora neficiar de um ambiente colaborativo e de excelência técnica.
retomando os cursos no formato presenciais híbridos. Somos todos IBRACON, #TogetherWe’reStrong.

Para 2024, tem-se planejado uma ampliação e consolidação EMÍLIO TAKAGI


das atividades de Educação Continuada, ofertando, a todos os diretor de cursos (2021/2023)

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Converse com o IBRACON
1 — A construção “off site” é um novo From Project to Products , cujo down- conceito a pré-fabricação em concreto, a
método construtivo, pode ser considerada load gratuito pode ser feito através do construção metálica, pré-fabricação em
como inovação? E a construção modular? site da organização. É importante ainda madeira, enfim todos os sistemas produ-
não confundir construção modular com zidos industrialmente. As referências bi-
Construção off site na tradução literal é coordenação modular. Coordenação bliográficas sobre o tema encontram-se
construção fora do local. Ou seja, quan- modular é um conceito de repetição no Manual da Construção Industrializa-
do os componentes construtivos são de vãos de mesma ordem de grandeza, da, publicado pela ABDI (Agência Bra-
produzidos em outro ambiente e, depois visando o aumento da produtividade e sileira do Desenvolvimento Industrial),
de prontos, são levados para a obra para aplicável a todos os tipos de metodolo- cujo download gratuito pode ser feito
serem instalados. Inclui-se nesta defini- gia e sistemas construtivos, cuja norma através do site da agência. Também o
ção todos os sistemas construtivos pro- ABNT encontra-se em revisão. recém-programa de governo que iniciou
duzidos industrialmente, pré-fabricados através de um edital lançado pelo en-
de concreto, metálica, dry-wall, madeira, 2 — Que sistemas cabem no conceito de tão Ministério da Economia e agora en-
etc... Considerando que a pré-fabrica- construção industrializada? contra-se adotado e abrigado no MDIC
ção em concreto está presente no Brasil (Ministério do Desenvolvimento Indús-
há mais de 60 anos, nem todo método Ainda se faz muita confusão de termino- tria e Comércio), o Construa Brasil, tem
ou sistema construtivo off site é consi- logias entre racionalização e industriali- este conceito adotado em seu terceiro
derado inovador. Há uma confusão de zação, uso de produtos industrializados eixo, que é a industrialização. Os dois
conceitos no mercado atualmente devi- e industrialização da construção civil. outros eixos são a desburocratização e
do à entrada especialmente dos módu- Industrializar a construção é transfor- a digitalização.
los 3D, considerados como construção mar o canteiro de obras em uma mon-
modular, que saem prontos da indústria tadora, trazendo os componentes de 3 — Para executar uma obra em pré-molda-
já com as instalações e acabamentos. No uma indústria (off site) e montando na dos de concreto existem normas específicas?
caso de concreto este sistema também obra, conceito análogo às montadoras
não é inovador, os então chamados mo- de veículos. Racionalizar a construção Sim existem. A ABNT NBR 9062 – Pro-
noblocos foram largamente utilizados é aperfeiçoar os métodos construtivos jeto e Execução de Estruturas de Con-
na década de 90 em muitos empreen- para atingir maior produtividade. O mais creto Pré-Moldado e as normas de pro-
dimentos, especialmente no segmento elevado grau da racionalização é a in- duto complementares a ABNT: NBR
da hotelaria em São Paulo, como “ba- dustrialização, quando transferimos a 14861 Lajes Alveolares Pré-moldadas de
nheiros prontos”. Estes elementos junta- produção para a indústria. Cabe neste Concreto Protendido, ABNT: NBR 16475
mente com as fachadas pré-fa- Painéis de parede de Concre-
bricadas de concreto agilizavam to Pré-moldado e ABNT: NBR
sobremaneira o cronograma dos 16258 Estacas Pré-fabricadas de
empreendimentos neste seg- concreto. As normas de produto
mento. Os monoblocos também existem devido às especificida-
foram utilizados em construção des destes produtos, diferen-
de presídios como celas. Mas é tes tipologias e/ou cuidados de
importante considerar que um projeto, produção e instalação,
módulo pode ser 3D, mas tam- que deixariam a norma princi-
bém 2D com painéis pré-fabri- pal muito maior do que as atu-
cados de concreto, formando ais 86 páginas. Outras normas
um cubo, mas montado na obra. complementares são também
Alguns arquitetos preferem o citadas na ABNT: NBR9062,
sistema 2D, ou até híbrido, for- como a de concreto autoaden-
mando um “C” de fábrica sem sável, por exemplo, largamen-
a 4ª parede, como o recém-lan- te aplicado na indústria. Adi-
çado sistema construtivo da cionalmente, recomendam-se
Arcelor Mittal, que foi capa da as práticas recomendadas do
última revista Industrializar em IBRACON, a ABNT NBR 9062
Concreto. Há também os sis- comentada e com exemplos
temas híbridos combinando numéricos e o Manual de Mon-
modular 3D e 2D. Para os inte- tagem das Estruturas Pré-mol-
ressados em explorar o tema dadas de Concreto, publicado
com maior profundidade, vale a pela Abcic (Associação Brasilei-
pena ler a publicação de 2019 da ra da Construção Industrializada
McKinsey : Modular Construction: de Concreto).

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 9
Personalidade Entrevistada
David
Fernández-Ordóñez
D
avid-Fernández-Ordóñez é secretário
geral da fib (Federação Internacional
do Concreto Estrutural), desde
2016, instituição da qual é membro desde
1999 e onde atuou como coordenador da
Comissão 6 de Pré-fabricados.

Formado em engenharia civil pela


Universidade Politécnica de Madri, onde
obteve seu doutorado em 2001 e atuou,
de 2007 até 2016, como professor.

Foi projetista de estruturas pré-fabricadas


em empresas espanholas de pré-fabricação
e trabalhou em projetos de pontes e
edifícios pré-fabricados em todo o mundo.

Atualmente, é professor de estruturas pré-


fabricadas na EFPL (Ecole Polytechnique
Fédérale de Lausanne), Suíça.

Nesta entrevista, David Ordóñez comenta


as inovações trazidas pelo fib Model
Code 2020, aborda a perspectiva de
sustentabilidade na construção e o papel
da industrialização.

IBRACON Como a fib entende o conceito de redução das emissões de CO2 na produção do concreto,
sustentabilidade? E quais as ações previstas neste tema?
redução de energia utilizada na fase de construção e
| DAVID FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ | Os estudos de uso das edificações considerando “thermal mass efect”
sustentabilidade precisam ter foco nos três pilares: (propriedade do edifício que permite armazenar calor
ambiental, econômico e social, pois um direcionamento e fornecer inércia contra flutuações de temperatura).
sem compreensão sobre os aspectos conceituais não Seus estudos foram levados em consideração no
se sustenta. Por ser um tema amplo, seu escopo deve desenvolvimento das diretrizes do tema sustentabilidade
envolver toda a sociedade, além da indústria. É importante no Model Code 2020.
ter em mente que os requisitos do cliente (público ou Há também o TG 6.3 de “Sustentabilidade das Estruturas
privado) estarão sempre direcionando as estratégias Pré-fabricadas”, ligado à Comissão 6 de pré-fabricados. Em
a serem adotadas num projeto ou empreendimento. 2022, o trabalho com este tema foi ampliado. O conselho
Podemos ter excelentes soluções técnicas, mas que técnico da fib, de forma estratégica, aprovou a criação de
precisam ser viáveis. um SAG “Sustainability” (Special Activity Group), para, a
A Comissão 7 de Sustentabilidade da fib foi criada em 2015, partir do que havia sido estabelecido no MC 2020, atuar na
com o objetivo de desenvolver uma estratégia de como criação da fib database, com o objetivo de estabelecer um
incorporar as questões relacionadas à sustentabilidade banco de dados compreensível do impacto ambiental dos
no projeto, construção, operação e demolição/ materiais utilizados nas estruturas de concreto, tendo como
reutilização das estruturas de concreto. O foco está na referência todos os stakeholders envolvidos na organização.

10 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


“ UMA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL É A QUE APRESENTA
MENOR CO 2 EMITIDO NA CONSTRUÇÃO GLOBAL, AINDA
QUE DETERMINADO MATERIAL POSSA TER CONSUMO

MAIOR DE CO 2 POR UNIDADE DO MATERIAL

IBRACON Entre os focos do trabalho desta Comissão está o desenvolvimento de | DAVID FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ |
métricas de sustentabilidade. Em que estágio se encontra o desenvolvimento dessas
Uma construção sustentável é a
métricas e quais as perspectivas para sua consolidação pela fib? Qual a interface
que apresenta menor CO2 emitido
da fib com outros grupos internacionais, como o Globe, por exemplo?
na construção global, ainda que
| DAVID FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ | Os trabalhos do SAG preveem a determinado material isoladamente
interação com entidades parceiras, como Liaison Committee e o JCSS possa ter um consumo maior de
(Joint Committee of Structural Safety). As entidades do Liaison Committee CO2 por unidade de material. Isto
— CIB, ECCS, fib, IABSE, IASS, RILEM — são responsáveis pela criação e considerando o ciclo de vida — do
andamento das ações do JCSS e do GLOBE, que, por sua vez, possuem berço ao túmulo — passando por todas
acordos de cooperação com o IBRACON e com a Alconpat, que estão as suas fases — projeto, produção,
abertas a outras colaborações em nível mundial, como o GCCA (Global construção, manutenção, reparo,
Cement and Concrete Association). desmonte ou utilização circular.
Estruturas mais leves e que agregam
IBRACON Em seu Documento Oficial sobre Sustentabilidade, a fib preconiza o desempenho estrutural são obtidas a
desenvolvimento de concretos com baixa pegada de carbono, o dimensionamento de
partir da redução da seção, que levará
estruturas leves, com consumo mínimo de materiais, e a elevada durabilidade das
a um menor consumo de material,
estruturas de concreto, entre outros pontos incluindo o maior uso de estruturas
porém de alto desempenho, como, por
pré-fabricadas de concreto. Como compatibilizar esses ideais construtivos numa exemplo, o UHPC, onde o consumo
mesma estrutura? Sabe-se, por exemplo, que a pré-fabricação obtém estruturas de cimento é maior em kg/m3, porém
de concreto de menor volume e maior vida útil, mas usando concretos de alta
se utiliza significativamente menor
resistência, que consomem mais cimento, maior responsável pelas emissões de
quantidade de concreto, com maior
carbono no setor.
desempenho e menor quantidade

Reunião da Assembleia Geral da fib em Istambul, em junho de 2023, quando o Código Modelo 2020 foi aprovado

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 11
de material. Outras tecnologias projeto”. Esse tema está em
já adotadas na pré-fabricação constante avaliação neste e em
em larga escala corroboram a outros grupos.
sustentabilidade, como, por exemplo, No concreto podem ser utilizados
o uso da protensão, a extrusão como materiais provenientes de
tecnologia de processo de produção, concretos reciclados ou de outros
as lajes alveolares, que reduzem materiais. Quando se utiliza
o volume de concreto quando material do próprio concreto é
comparadas às maciças. preciso tomar cuidados especiais
Na pré-fabricação ainda temos com possíveis repercussões na
múltiplas vantagens como produzir reatividade com o cimento. Isto
e utilizar o concreto num ambiente pode afetar as características
com condições climáticas controladas, mecânicas e a durabilidade
com redução significativa de do novo concreto. Estudos
resíduos, emissões, ruído, precisão detalhados devem ser conduzidos.
dimensional, que evita agregar outros
materiais para correção no processo IBRACON Levando em conta os
de construção, dispensa uso de aspectos discutidos no fib Boletim 21
escoramentos, faz uso racional de (Questões ambientais na pré-
recursos (incluindo água e energia) fabricação) e fib Boletim 88
e mão de obra, o que propicia (Sustentabilidade de estruturas
também melhores condições para pré-moldadas), como a pré-fabricação pode contribuir para endereçar os
implementação de concretos especiais pontos principais de sustentabilidade do Documento Oficial sobre Sustentabilidade
e outras tecnologias. da fib?
| DAVID FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ | O fib Boletim 21 é um dos primeiros
IBRACON Quais os cuidados que documentos sobre os efeitos ambientais nas estruturas de concreto e, em
devem ser tomados ao incorporar particular, nas estruturas pré-fabricadas. Quando foi lançado, mostrou o impacto
resíduos de outros setores industriais ambiental das estruturas e como a pré-fabricação em concreto pode contribuir
no concreto, considerando para diminuir esses efeitos.
principalmente a durabilidade e O fib Boletim 88, do qual fui o coordenador e do qual participaram a engenheira
processamento do material? Íria Doniak e o engenheiro Paulo Helene, foi um passo adicional na análise de
| DAVID FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ | estruturas diante da sustentabilidade. Na verdade, é o primeiro documento que
Além dos grupos citados que apresenta o estado da arte das estruturas de concreto levando-se em conta
trabalham com o tema materiais os três pilares da sustentabilidade. O documento analisa as vantagens das
reciclados, incluídos mais estruturas pré-fabricadas no que diz respeito à sustentabilidade e propõe um
recentemente na comissão 7 de método multicritério (o método MIVES) para a avaliação dessas estruturas.
sustentabilidade, a fib possui, na Atualmente está sendo desenvolvido um novo documento, com uma análise
comissão 4 Concreto e Tecnologia detalhada de todos os aspectos dos três pilares da sustentabilidade de uma
do Concreto, o GT 4.7 “Aplicação estrutura pré-fabricada em comparação a uma estrutura construída in-loco.
Estrutural de Agregados Reciclados Esses documentos reforçam em diversos aspectos o compromisso da fib com
— Propriedades, modelagem e a sustentabilidade.

“ [O fib BOLETIM 88] É O PRIMEIRO DOCUMENTO


QUE APRESENTA O ESTADO DA ARTE DAS ESTRUTURAS
DE CONCRETO LEVANDO-SE EM CONTA

OS TRÊS PILARES DA SUSTENTABILIDADE

12 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


“ A PRÉ-FABRICAÇÃO CONTRIBUI NA REUTILIZAÇÃO
DE ELEMENTOS ESTRUTURAIS EM OUTROS EDIFÍCIOS

OU MESMO EM PONTES

IBRACON Numa entrevista para esta das tradições técnicas do país do que da tecnologia do pré-fabricado.
revista em 2010, você disse que a maior
Nesse sentido, o setor de pré-fabricados no Brasil, desde 2010, já era muito
limitação para uso dos pré-moldados de
pujante e maduro, mas pude constatar o desenvolvimento de muitas soluções
concreto era cultural, no sentido de
inovadoras, tanto em materiais como em estruturas, com grande sucesso.
que os projetistas e pré-fabricadores
Acredito que tudo isso se deve ao forte impulso que a Abcic tem fornecido
limitavam o uso desta tecnologia. Isto
nestes anos e ao seu envolvimento em ações distintas, como a sua participação
mudou 20 anos depois?
na Comissão 6 de Pré-fabricados da fib.
| DAVID FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ | Na
entrevista, em 2010, minha avaliação IBRACON Um dos focos do Documento Oficial sobre Sustentabilidade da fib é
a desmontagem e reutilização das estruturas.Já é uma realidade a reciclagem de
foi no sentido de que os pré-moldados
elementos de concreto pré-fabricado? Cite exemplos.
de concreto são uma tecnologia
bastante conhecida em todo o mundo, | DAVID FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ | A demolição e reutilização de estruturas
com particularidades diversas, e que, são muito importantes para a sustentabilidade. É uma ação mais avançada do
dependendo do país ou região, há que a reutilização de resíduos em concreto ou concreto reciclado. Ao reutilizar
soluções distintas de pré-fabricados elementos estruturais, damos nova vida a elementos completos. Este é um
ou mesmo in-loco. Estas diferenças tema que vem sendo promovido em alguns países, como a Holanda.
na forma de se construir nos países A pré-fabricação contribui fundamentalmente na reutilização de elementos
dependem muito mais da cultura e estruturais em outros edifícios ou mesmo em pontes. Existem, de fato,
exemplos de estruturas pré-
fabricadas concebidas para serem
reutilizadas. No fib Boletim 88,
há dois exemplos holandeses de
edifícios que foram projetados para
serem reutilizados com uma mistura
de estruturas metálicas e pré-
fabricadas pela empresa Consolis.
Há também exemplos neste país de
pontes cujas vigas pré-fabricadas
foram reaproveitadas em outras
pontes. Outro exemplo recente é o
projeto de estrutura pré-fabricada
com conexões removíveis da empresa
Peikko, na Finlândia.
Como havia mencionado na
primeira questão, um dos grupos de
trabalho do TG.SAG.2 “Estruturas
de Concreto Sustentáveis” tem
como objetivo de desenvolver
recomendações para avaliar e
utilizar elementos de estruturas
Pórticos de carga desmontáveis e reutilizáveis através de estruturas compostas e pré-fabricadas de
betão. Cortesia da Peikko existentes em novas construções.

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 13
IBRACON Como a adoção da abordagem do custo do ciclo de vida da a criação de novas estruturas,
construção , ao incentivar o uso de materiais com menor pegada ambiental
removendo as restrições para o
e projeto de estruturas mais duráveis , no C ódigo M odelo 2020 poderá
uso de novos tipos de concreto e
contribuir para superar a inércia da indústria da construção para incorporar
materiais de reforço, oferecendo
novas tecnologias ?
possibilidades de soluções otimizadas
| DAVID FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ | O Código Modelo 2020 é um documento pré- que atendam da melhor forma os
normativo, que inclui as recomendações mais avançadas para o dimensionamento stakeholders.
e avaliação de estruturas de concreto, tendo a sustentabilidade como filosofia
fundamental. Da mesma forma, considera o ciclo de vida completo no projeto IBRACON A incorporação de
um capítulo sobre estruturas
e manutenção de estruturas de concreto. Nesse sentido, permite que as
existentes fez parte deste esforço
regulamentações sejam desenvolvidas mais rapidamente e que engenheiros de
para integrar a sustentabilidade
pesquisa, projetistas ou construtores possam utilizar ferramentas mais avançadas.
O MC 2020 inclui recomendações para avaliar e utilizar materiais e projetos no C ódigo M odelo (2020), na
medida em que estabelece parâmetros
mais avançados que permitam reduzir impactos e aumentar a sustentabilidade
e diretrizes para reforço e
globalmente em estruturas de concreto. Por isso, tenho convicção que o
reabilitação de estruturas de
documento permitirá a utilização de novos materiais e métodos de projeto e
concreto ? E xplique como .
construção em um futuro próximo.
| DAVID FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ |
IBRACON O Código Modelo 2020 será publicado até o final deste ano, qual a As estruturas existentes muitas vezes
importância deste documento para a engenharia do concreto estrutural em nível
não atendem às exigências normativas
mundial? Quantos países participaram deste desenvolvimento? de projetos contemporâneos no que
| DAVID FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ | O MC 2020 foi desenvolvido por toda a diz respeito à segurança estrutural e à
comunidade fib, que conta com profissionais de mais de 100 países. capacidade de manutenção.
A visão da fib para o MC 2020 é ir além do que foi alcançado no MC 2010, nos Isto ocorre, por exemplo, se as cargas
códigos ISO recentes, como o ISO 16311, e nas atuais atividades do Eurocódigo, nas estruturas existentes, como as
a fim de estender a aplicação dos Eurocódigos às estruturas existentes. cargas de tráfego nas pontes, forem
O conteúdo do MC 2020 atende a esse objetivo prospectivo, tratando tanto maiores do que as previstas no
do projeto de novas estruturas quanto de todas as atividades associadas ao projeto original. Um segundo ponto
ciclo de vida das estruturas de concreto existentes, incluindo questões como é que as estruturas estão sujeitas à
avaliação em serviço e intervenções, onde novos elementos estruturais são deterioração, como a reação álcali-
incorporados à estrutura existente. sílica no concreto ou a corrosão
A sustentabilidade foi outro aspecto fundamental, tendo sido incrementada, da armadura devido ao ataque de
considerando a introdução de forma explícita do uso de critérios que possuam cloretos ou carbonatação. Um terceiro
como referência os conceitos de desempenho. argumento é que em normas recentes
O foco no desempenho oferece uma forma potencial de alinhar melhor os foram introduzidos critérios adicionais
interesses dos proprietários, usuários, consultores técnicos (como engenheiros baseados em novas teorias e/ou
estruturais, engenheiros de materiais, etc.), construtoras, bem como fornecedores experiências negativas com estruturas
e fabricantes de materiais. mais antigas. O Model Code 2020 será
A implementação prevista do conceito de desempenho para projeto e avaliação válido tanto para os projetos de novas
irá encorajar o desenvolvimento tecnológico e racionalização, facilitando estruturas quanto para a avaliação

“ O CONTEÚDO DO MC 2020 TRATA TANTO DO PROJETO


DE NOVAS ESTRUTURAS QUANTO DE TODAS AS
ATIVIDADES ASSOCIADAS AO CICLO DE VIDA

DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO EXISTENTES

14 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções



PARA A AVALIAÇÃO DE ESTRUTURAS NO MODEL CODE
2020, ESTÃO TRÊS CATEGORIAS: A CAPACIDADE RESIDUAL
DE ESTRUTURAS SEM DANOS; A CAPACIDADE RESIDUAL

DE ESTRUTURAS COM DETERIORAÇÃO; E A CAPACIDADE
RESIDUAL DE ESTRUTURAS COM DETALHES NÃO CONFORMES

de estruturas existentes. O projeto e avaliação de estruturas de concreto estão décadas edifícios de considerável
integrados neste documento. altura e relevantes obras de
Para a avaliação de estruturas de concreto no Model Code 2020, estão três infraestrutura. Este debate gerado
categorias: (1) a capacidade residual de estruturas existentes sem danos, (2) a será levado em consideração nas
capacidade residual de estruturas que sofrem deterioração, e (3) a capacidade próximas reuniões da Comissão 10,
residual de estruturas com detalhes não conformes. para ser considerado no futuro, por
No MC 2020 são descritos os contextos desta subdivisão, sendo também dadas ter uma interface importante com
indicações para a avaliação das estruturas de concreto existentes temas relacionados à neutralidade
nessas categorias. de carbono.

IBRACON O texto aprovado permite considerar a data do fck de referência de IBRACON A fib está fazendo
28 dias a 91 dias de idade com importante e significativa redução do consumo de 25 anos, desde a união do comitê
cimento e valorização da sustentabilidade? europeu de normalização para
| DAVID FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ | Tanto o Eurocode quanto o MC 2020 o concreto com a federação
mantêm a referência de 28 dias, o que foi introduzido, no item 14.2.1.1, foi internacional de protensão
a possibilidade de utilizar outras idades para definir as propriedades do (CEB e FIP). Ao longo desde
concreto, dependendo do tref que pode ser acima de 28 dias. Para requisitos período qual foi a importância da
avançados de projeto, o MC 2020 e a prEN19992-1-1 não foram ajustadas para participação brasileira?
tref diferente de 28 dias. Outra questão importante é que todos os requisitos | DAVID FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ |
foram estabelecidos tendo por referência o concreto convencional e a relação O Brasil teve uma importância
deve ser ajustada para todos os outros tipos de concreto. O tipo de cimento significativa neste período, através
adotado no concreto possui uma influência muito importante e que deve de relevantes profissionais, que
ser considerada. Por outro lado, para cimentos de alta resistência e outros têm contribuído desde o início do
materiais ligantes utilizados em concreto especiais de alta resistência ou o CEB, em 1960. Segundo registros,
UHPC, pode se considerar o acréscimo, mas tomando cuidados especiais através do grupo luso-brasileiro,
como, por exemplo, a correção pelo efeito Rüsch. que se reuniu em Lisboa em 1965,
foi estabelecida através da proposta
IBRACON Quais foram as contribuições do Grupo Nacional brasileiro para o de Lobo Carneiro (UFRJ) a entrada
Código Modelo (2020)? da ABNT — Associação Brasileira
| DAVID FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ | Vale comentar também a questão gerada de Normas Técnicas como membro
pela mudança no ACI318-19, quando os americanos, motivados pelo desafio do CEB. Os representantes foram
de descobrir uma equação geral que resolvesse o problema de cisalhamento os engenheiros Telemaco Van
sem estribos para laje usuais até 50 cm, lajes espessas (como de estação Langendonk (EPUSP) e Fernando
de Metro enterrada com ~3m de espessura) e vigotas sem estribos, tiveram L. Lobo Carneiro. Em 1970, com
sucesso, mas o resultado resultou muito conservador, sugerindo que, em o Model Code CEB-FIP 1970,
média, se dobrasse a espessura das lajes usuais de edifícios a pontes/ participaram do curso e da revisão
viadutos. Nos edifícios, as lajes de 10 deveriam ir a 20 cm e, nas pontes, os os engenheiros Péricles B. Fusco e
tabuleiros de 20 para 40 cm sem estribos. Esse mesmo caminho e resultado Antonio R. Laranjeiras, em Lisboa.
foi aproximadamente obtido pelo fib no MC 2010. Na reunião em Oslo, 2022, Ambos agregaram importantes
o Brasil se posicionou a respeito através de sua experiência de sempre, com contribuições.
cuidado de ter uma norma menos conservadora, viabilizando ao longo de Entre os anos 80 e 90, os engenheiros

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 15
Augusto Carlos de Vasconcelos e tecnologia, juntamente com Íria, sendo integrantes do Júri das premiações
Lídia Shehata contribuíram para o “Young Engineers Award” e “Outstanding Structures”. Na comissão 6
Model Code CEB-FIP 1990. Na mesma de Pré-Fabricados, além de Íria, há a participação ativa dos professores
época, a prof. Lídia organizou, no Rio Mounir Khalil El Debs e Marcelo de Araújo Ferreira, e como membros
de Janeiro, o Colloquium do correspondentes Paulo Helene, Francisco Graziano e Eduardo Millen
CEB-FIP MC1990. (in memorian). O engenheiro Marcelo Waimberg é coordenador do
Em 2006, já como fib, o engenheiro TG6.5 “Precast Bridges”.
Paulo Helene participou como vice- Além de toda a contribuição técnica, o Brasil está presente no presidium,
chair do boletim 34 “Model Code for com Íria, que foi pessoalmente convidada a integrar o conselho da entidade
Service Life Design”. Em 2008, as como membro convidado em 2015 pelo então presidente Harald S. Müeller
entidades ABCIC e ABECE retomaram (Alemanha) e, posteriormente, como membro eleito desde 2017. Na
as ações junto à fib, constituindo o Assembleia Geral realizada em Oslo em 2022, foi eleita Vice-Presidente e
grupo nacional brasileiro, liderado poderá vir a ser a primeira presidente mulher e da América Latina para a
pelos engenheiros Fernando Stucchi gestão 2025-2026.
e Íria Doniak. Em 2018, o IBRACON Ao ter assumido a vice-presidência teve a prerrogativa de designar um
passou a integrar o grupo, sendo proeminente engenheiro jovem brasileiro como deputy-chair do YMG –
representado pelo engenheiro Young Member Group — o engenheiro Marcelo Melo. Juntamente com Íria e
Júlio Timerman. com o apoio de CBPE — Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas, estão
A atual delegação nacional está coordenando o Simpósio Conceptual Design, que, com apoio do Prof. Sérgio
composta por Fernando Stucchi (líder) Hampshire e das entidades que integram o NMG Brazil, se realizará em 2025
Odenir Klein Jr., Íria e Timerman. no Rio de Janeiro.
Como mencionado, Stucchi participa A fib valoriza a participação da engenharia brasileira, que muito tem contribuído
da Comissão 10, e também da técnica e institucionalmente e na internacionalização da entidade e parabeniza a
Comissão 9 de disseminação da todos por esta brilhante história ao longo dos anos.

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16 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 do IBRACON:
& Construções
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64º Congresso Brasileiro do Concreto
Congresso aposta em inovações
da engenharia para a neutralidade
do concreto
FÁBIO LUÍS PEDROSO – Editor – ORCID https://orcid.org/0000-0002-5848-8710 (fabio@ibracon.org.br)

O
64º Congresso Brasileiro do Con-
creto apresentou propostas para
reduzir a pegada de carbono do
material construtivo mais consumido no
planeta e inovações em projeto, execução
e manutenção para aumentar a produtivi-
dade, durabilidade, segurança, funcionali-
dade e sustentabilidade das obras.
O evento técnico-científico reuniu
1273 profissionais, empresários, pesquisa-
dores e estudantes de 18 a 21 de outubro,
no Centrosul, em Florianópolis. Na avalia-
ção do presidente do IBRACON, Prof. Pau-
lo Helene, “foi uma verdadeira imersão em
ciência e tecnologia focada na sustentabi-
lidade e inovação do concreto estrutural”.
Logo na entrada para o saguão do Cen-
tro de Convenções, as pessoas puderam ver
e passear por uma passarela pré-fabrica-
da de concreto de ultra-alto desempenho Presidente do IBRACON, Paulo Helene, e presidente-executiva da ABCIC, Íria Doniak, na passarela de UHPC
(UHPC) com 8 m, projetada pela Unisinos
e construída pela Cassol Pré-Fabricados.
O UHPC é uma das apostas da cadeia do
concreto para reduzir a pegada de carbono,
por contribuir com a desmaterialização das
estruturas e ter maior durabilidade.
“Não tenho conhecimento de uma pas-
sarela construída com UHPC no Brasil e na
América Latina. É mais uma exclusividade
do Congresso do IBRACON”, ressaltou o
diretor de pesquisa e desenvolvimento do
IBRACON, Prof. Roberto Christ.
www.ibracon.org.br ibraconOffice office@ibracon.org.br O UHPC ibraconOffice
foi tema presente nos semi-
nários, conferências e apresentações de
artigos técnico-científicos no Congresso,
como no Seminário sobre materiais não
convencionais para estruturas de concreto
e no Seminário de produção de concreto
em central.
Ao todo, foram apresentados 145 arti-
gos técnico-científicos em sessões plená-
Rafaela Rodrigues recebe o prêmio Maria Alba Cincotto e cheque da patrocinadora CEB rias e 204 artigos nas sessões pôsteres, e

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 17
publicados 407 artigos nos Anais do even-
to. Dentre eles, o artigo “Desenvolvimento
de geopolímeros com rejeitos da explo-
ração de minério de ferro”, de Rafaela de
Cássia Rodrigues, do Centro de Desenvol-
vimento de Tecnologia Nuclear, foi consi-
derado como artigo do ano e sua autora
levou o nobre Prêmio Maria Alba Cincotto.
Além da novidade da passarela, os
congressistas tiveram também a oportu-
nidade de assistir a concretagem, acaba-
mento, cura e corte de juntas de pavimento
de concreto autoadensável com fibras para
pavimentação urbana, no exterior do Cen-
trosul, gerenciada pela Associação Brasilei-
ra das Empresas de Serviços de Concreta-
gem (ABESC), que, com mais 10 entidades
técnicas apoiaram o 64º Congresso Brasi-
leiro do Concreto.
O concreto autoadensável e o pavi-
mento de concreto foram temas do Semi-
nário de infraestrutura e do Seminário de
novas tecnologias. Este último aconteceu
na Feira Brasileira de Construções em Con-
creto (Feibracon), espaço de exposição
das soluções dos 8 patrocinadores e 14 ex- Concretagem e acabamento de pavimento de concreto no Centrosul
positores do Congresso, com entrada livre
para o público.
No total, o evento contou com 12 se- nas sessões durante os almoços chamadas nedora Votorantim, trouxe a oportunidade
minários, três conferências plenárias, qua- carinhosamente de Concrete Musics. Sem dos estudantes, o futuro talento da cons-
tro cursos e cinco concursos estudantis. falar dos concursos estudantis, que agitam trução civil, se aproximarem das grandes
Para o palestrante da Universidade de os estudantes nas cinco competições que empresas do setor. Eles tiverem contato
Loughboorough, na Inglaterra, Prof. Sér- ocorrem durante o Congresso numa Arena, com especialistas do departamento de
gio Cavalaro, o 64º Congresso Brasileiro patrocinada pela Cimento Nacional. pessoas da Votorantim, Gerdau, Saint Go-
do Concreto foi “muito festivo, com par- “A primeira edição do ‘Talentos bain e MC Bauchemie e puderam enten-
ticipação engajada de estudantes, sendo IBRACON’, brilhante iniciativa da mante- der melhor sobre a trilha de carreira, pro-
uma oportunidade de formar opiniões que
vão realmente transformar a maneira como
se entende engenharia”. Com ele concor-
dou o palestrante da Drexel University, dos
Estados Unidos, Prof. Ahmad Hamid, para
quem a participação de estudantes e jo-
vens engenheiros para aprender e compe-
tir nos concursos é uma eficiente maneira
de promover o concreto.
Este clima descontraído e de troca de
experiência é favorecido pelas atividades
sociais do evento como premiações e certi-
ficações, sessões de autógrafos com auto-
res de publicações lançadas no Congresso,
bate-papo sobre plano de carreira, coque-
téis, coffe-breaks e almoços oferecidos
aos congressistas pelas empresas Gerdau,
Polimix e Supermix. Houve também, pela
primeira vez, espaço para os participantes
do evento mostrarem seus dotes musicais, O presidente do IBRACON, Prof. Paulo Helene, em sua palestra de abertura do Congresso

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gramas de estágio/trainee e o seu futuro rente, enchentes no Sul e secas no Norte
profissional, nestas grandes empresas”, co- do país foram cenários que abriram diver-
mentou a diretora de atividades estudantis sas apresentações.
do IBRACON, Jéssica Andrade Dantas. Segundo o diretor técnico da Asso-
O Congresso Brasileiro do Concreto ciação Espanhola da Indústria de Pré-Fa-
como fórum nacional da engenharia do con- bricados de Concreto (Andece), Alejandro
creto, que aposta em soluções científicas e López, palestrante no Seminário de Pré-
tecnológicas para responder aos problemas -Fabricados, a construção civil é responsá-
nacionais e mundiais, como a crise climáti- vel por um terço das emissões europeias
ca, não podia ter escolhido lugar mais apro- de gases do efeito estufa.
priado. Segundo o prefeito de Florianópo- No sentido de mitigar as emissões do
lis, Topázio Neto, que prestigiou o evento setor e contribuir com a meta do Acordo
comparecendo em sua solenidade de aber- de Paris de zerar as emissões mundiais de
tura, a tecnologia é a primeira fonte de arre- carbono até 2050, para limitar o aqueci-
cadação da prefeitura, sendo Florianópolis mento global a 2°C, a Andece desenvolveu
uma cidade cercada de universidades. Declarações Ambientais de Produto (EPD)
“O Congresso cumpriu sua missão setoriais, por categorias de produto.
de integrar tecnologistas de concreto, As Declarações Ambientais de Produto
acadêmicos, projetistas de estruturas, são documentos que registram os impac-
construtores, laboratoristas de controle tos ambientais decorrentes da produção
tecnológico, consultores, empresários e ou uso de produtos industriais, cuja con-
funcionários públicos”, ponderou o Prof. tabilidade é feita por meio da metodologia
Paulo Helene, para completar que “está de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), que a
seguro de que o Brasil a curto prazo terá partir do levantamento dos recursos mate-
condições de produzir o concreto arma- O diretor técnico da Andece, Alejandro López, riais e energéticos usados na fabricação e
em momento de sua apresentação
do mais sustentável do planeta. Isso se uso de um bem, assim como de suas emis-
deve ao fato de o país possuir uma matriz sões e rejeitos, estima os impactos ambien-
energética entre as mais limpas do mun- carbono na cadeia do concreto foram tais decorrentes.
do, o cimento de menor fator clínquer, o apresentadas e debatidas em vários mo- Participaram da iniciativa da Andece,
aço 100% proveniente de sucata e uma mentos do Congresso. na Espanha, 50 empresas, que autodecla-
engenharia de concreto com tradição O aquecimento global causado pelas raram as informações relativas ao consumo
e competência.” emissões antropogênicas de dióxido de de materiais, energia e água e de resídu-
carbono e seu impacto no clima foi tema os gerados, requeridas em um formulário
SUSTENTABILIDADE COMO repisado por vários palestrantes. Recordes on-line. O principal indicador avaliado foi o
TEMA TRANSVERSAL nos registros das temperaturas médias da Potencial de Aquecimento Global, isto é, o
Propostas para reduzir a pegada de superfície terrestre ocorridos no ano cor- impacto ambiental em termos de emissões
de gases do efeito estufa.
Com as EPD para estruturas, fundações,
fachadas, tubos e galerias, elementos vaza-
dos e pavimentos, foi possível conhecer as
emissões setoriais e, assim, orientar o setor
sobre as medidas de descarbonização factí-
veis de implementação no curto prazo.
Apesar da EPD não ser ainda obriga-
tória na Espanha, a expectativa é que, por
pressão dos consumidores e do governo, o
setor da construção se mobilize para tor-
nar seus produtos mais ‘verdes’.
O Brasil possui iniciativas parecidas,
como a Avaliação do Ciclo de Vida modu-
lar, já aplicada nos fabricantes de blocos
de alvenaria de concreto, e o Selo de Ex-
celência da ABCIC — Associação Brasilei-
ra da Construção Industrializada de Con-
creto. Este Selo, voltado para a gestão da
A presidente-executiva da ABCIC e coordenadora do Seminário de Pré-Fabricados, Íria Doniak qualidade na indústria de pré-fabricados e

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 19
auditado pelo Instituto Falcão Bauer, prevê,
em seu terceiro estágio, o consumo racio-
nal de matérias-primas, a redução do uso
de água e energia, a destinação adequada
de rejeitos sólidos e líquidos e a redução
de CO2.
De acordo com a presidente-executiva
da ABCIC e coordenadora do Seminário de
Pré-Fabricados no 64° Congresso Brasilei-
ro do Concreto, Enga. Íria Doniak, o setor
de pré-fabricados no Brasil traçou o road-
map para a sustentabilidade, que inclui o
fortalecimento do Selo de Excelência e a
obtenção das EPD. “Para avançarmos no
tema sustentabilidade e fornecermos in-
formações para o meio técnico e para so-
ciedade, é necessário completarmos esta
etapa e para isto necessitamos do engaja-
mento de toda a cadeia de valor” afirmou.
Para ela, um primeiro passo neste sen-
tido foi o lançamento recentemente do Sis-
tema de Informação do Desempenho Am-
biental da Construção (SIDAC), ferramenta
on-line e automatiza que se propõe a com-
pilar dados nacionais de materiais e produ-
tos da construção e calcular indicadores Sylvia Vieira em momento de sua apresentação no Seminário de Sustentabilidade
de desempenho ambiental. Por enquanto,
o sistema está concentrado no consumo
de energia primária e nas emissões de CO2 centagem de, no mínimo, 30% de adições, variadas misturas de materiais cimentí-
dos produtos da construção do berço ao apresenta melhor desempenho ambiental no cios suplementares.
portão da fábrica. concreto de classe de resistência de 30 MPa. A Associação Global de Cimento e
Três medidas principais foram destaca- O Brasil ocupa posição de lideran- Concreto (GCCA) prevê que 9% do aba-
das pelos palestrantes para tornar a cadeia ça quanto ao uso de adições em seus ci- timento das emissões globais de CO2 das
do concreto menos emissora de dióxido de mentos. Devido à boa disponibilidade das indústrias de cimento e concreto virá da
carbono: reduzir a quantidade de clínquer adições no país, à expertise da indústria substituição do clínquer no cimento por
no cimento, reduzir a quantidade de ci- cimenteira nacional na produção de cimen- adições, incluindo os novos materiais ci-
mento no concreto e reduzir a quantidade tos compostos com teores elevados de mentícios suplementares em estudo.
de concreto e aço nas estruturas. adições, à normalização menos restritiva Quanto às emissões provenientes da
e à boa aceitação no mercado nacional, a queima de combustíveis fósseis para pro-
REDUÇÃO DE CLÍNQUER NO CIMENTO produção de cimentos sem adições é qua- dução de cimentos, o Brasil e diversos
O processo de fabricação do cimento se irrelevante no país. países já fazem uso de combustíveis alter-
é altamente emissor de dióxido de carbo- As escórias e cinzas volantes podem nativos, como pneus, biomassa e rejeitos
no, que é liberado tanto da reação química ser substituídas e complementadas com fí- industriais, que, por serem, subprodutos de
de decomposição do carbonato de cálcio ler calcário e argila calcinada. Este subpro- outras cadeias produtivas, não são conta-
quanto da queima de combustíveis fósseis duto da indústria de pedras ornamentais, bilizados na ACV. Atualmente, falta pneus
nos fornos. adicionado adequadamente no cimento descartados e biomassa no país para aten-
Para reduzir esse impacto ambiental, desempenha um efeito de preenchimento der a toda demanda da indústria cimen-
os fabricantes de cimento têm aumentado, no concreto fresco, contribuindo com sua teira nacional. Por outro lado, existe uma
desde a década de 1970, a porcentagem de maior resistência e durabilidade. limitação dos fornos para substituições
adições nos cimentos, como escórias de alto A viabilidade técnica desta solução maiores de coque de petróleo.
forno e cinzas volantes, utilizando inteligen- foi apresentada pelo professor da Escola Existem também iniciativas para me-
temente os resíduos de outras indústrias. Politécnica da Universidade de São Pau- lhorar a eficiência energética dos fornos e
Estudo apresentado pela gerente de lo, Vanderley John, no Seminário de Pré- mesmo para eletrificação dos fornos, com
pesquisa e desenvolvimento da Votorantim, -Fabricados. Pesquisas científicas estão uso de energia limpa (hidrelétricas, solar
Sylvia Vieira, no Seminário de Sustentabilida- atualmente em curso para comprovar a e eólica).
de, mostrou que o cimento CPIII, com por- viabilidade técnica de novas adições e de Esses esforços poderão contribuir com

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a redução de 11% nas emissões de carbono meter sua resistência final à compressão. concreto de uma Central apenas dosadora.
advindas da indústria cimenteira, segundo Segundo Vanderley John, seu grupo O papel da industrialização de produ-
o GCCA. de pesquisa foi capaz de produzir um con- tos e materiais da construção para melho-
Apesar dessas medidas em implan- creto com pouco mais de 2 kg de cimento rar produtividade e sustentabilidade foi
tação e suas perspectivas de evolução, por metro cúbico para cada unidade de abordado também no Seminário de Ar-
os palestrantes foram unânimes em afir- resistência à compressão, quando a mé- gamassas Industrializadas, que tratou dos
mar que produzir cimento sem emissões dia é mais de 10 kg por metro cúbico por cuidados no seu uso em revestimento, as-
de carbono é impossível. Se assim for, a MPa. Ele sustentou que, para tal, foi neces- sentamento e contrapisos.
neutralidade do cimento só poderá ser al- sário sofisticar a produção de agregados, Essas e outras soluções propostas para
cançada com tecnologias de captura, uso adições, cimentos e aditivos, o que enca- produzir concretos ecoeficientes devem
e armazenamento de carbono, ainda inci- receu sobremaneira o produto final. “Este reduzir as emissões de CO2 no setor em
pientes. “O GCCA prevê que 50% do CO2 concreto emitiu 52% menos CO2, mas só se 11%, segundo o GCCA.
emitido pela indústria cimenteira terá que viabiliza economicamente com o imposto
ser capturado, o que deve dobrar ou tripli- de carbono”, frisou. DESMATERIALIZAÇÃO
car o custo do cimento”, avaliou Vieira. O que não se sabe ainda é como a re- DAS ESTRUTURAS
dução do cimento no concreto afetará sua Desmaterializar as estruturas é conce-
REDUÇÃO DE CIMENTO NO CONCRETO durabilidade. Por isso, as normas de pro- bê-las para cumprir seus requisitos de se-
Adições e aditivos podem também ser jeto e execução de estruturas de concreto gurança, funcionalidade e durabilidade com
usados na dosagem de concretos para re- limitam o uso de adições. menor emprego de materiais e energia, com
duzir o consumo de cimento. Os aditivos Por isso, o caminho mais promissor a menos desperdícios e com a possibilidade
são produtos industrializados adiciona- curto e médio prazo é a industrialização de desmontá-la e utilizar suas peças, com-
das no concreto para modificar suas pro- da construção. Segundo a apresentação ponentes e materiais em outras obras.
priedades no estado fresco e endurecido. do engenheiro da CSN Cimentos, José de A desmaterialização da estrutura de-
Eles podem reduzir a quantidade de água Abreu, no Seminário de Sustentabilidade, o pende de decisões de projeto e execução,
necessária para a hidratação do cimento, concreto industrializado, vendido a granel, isto é, está nas mãos dos engenheiros civis
controlar a reação de hidratação, incorpo- tem menor consumo de cimento e gera me- e sobre esse poder foi a palestra do Presi-
rar ar, mudar a viscosidade do concreto, re- nos resíduos do que o concreto virado na dente do IBRACON. Em estudo apresenta-
duzir sua retração, entre outras coisas. obra, que usa cimento ensacado. O gerente do na palestra inaugural do 64° Congresso
Pesquisas científicas têm demonstra- de produtos e serviços técnicos da Cimento Brasileiro do Concreto, o Prof. Paulo He-
do que a conjunção de um bom empa- Apodi, Mário Guilge, foi além ao apresen- lene, apresentou um estudo detalhado de
cotamento de agregados com fíleres e tar um estudo operacional na empresa que dimensionamento de pilares com foco na
aditivos dispersantes é capaz de reduzir mostrou que concreto misturado na Central sustentabilidade. Segundo ele, ao passar
significativamente a quantidade de cimen- reduz em 20 kg a quantidade de cimento um pilar de um edifício de 20 andares de
to na estrutura de concreto, sem compro- por metro cúbico de concreto em relação ao 20 MPa para 50 MPa, com seção quadrada

Auditório lotado na apresentação de Mário Guilge no Seminário de Sustentabilidade

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 21
e altura de 2,9 m, é possível reduzir o vo-
lume de concreto, de aço e de fôrmas de
maneira a gerar uma economia de mate-
riais não renováveis e reduzir pela metade
as emissões de CO2.
Sua ideia foi corroborada pelo engenhei-
ro da Leonardi Construções Industrializada,
Felipe Camargo, em sua palestra no Semi-
nário de Pré-Fabricados. Ele apresentou
um case de um hotel em Limeira, São Paulo,
com 26 pilares pré-fabricados, com volume
de 146 m3 de concreto. A empresa optou
por aumentar o fck de 50 MPa para 100 MPa,
para facilitar a logística, o transporte para as
obras e a montagem. Com isso, as seções
dos pilares foram reduzidas em 40%.
A desmaterialização através do uso de
concretos com maior desempenho, incluin-
do o UHPC, e outras tecnologias como o
uso de protensão associado aos concretos
de elevado desempenho também foi um
tema abordado pela Eng. Íria na abertura
do seminário.
Nesta mesma linha de argumentação,
Vanderley John apresentou estudo em que
a escolha da tipologia estrutural de lajes Ricardo França na apresentação no Seminário de Pré-Fabricados
pré-fabricadas do CICS (Centro de Inova-
ção de Construção Sustentável), laborató-
o concreto podem reduzir em mais de 6% Com todas essas iniciativas ainda não
rio que está sendo construído na POLI-USP,
a emissão original de gases estufa. Essas se atinge a neutralidade do carbono na ca-
foi determinante para mitigar as emissões
tecnologias foram apresentadas pela Pro- deia do concreto. A aposta atual é que essa
de gases do efeito estufa em até 30%.
fa, Edna Possan, da Universidade de Inte- enorme quantidade de carbono emitido será
A redução da área de aço na peça com
gração Latino-Americana, e o engenheiro capturada, usada ou estocada por meio de
CA 50 de alta resistência foi ressaltada pela
da CarbonCure, Daniel Aleixo, no Seminá- tecnologias atualmente em escala piloto.
engenheira da ArcelorMittal, Mary Alissan
rio de Sustentabilidade. Para tirar a limpo essa contabilidade
Correa, em sua apresentação no Seminário
de Pré-Fabricados. Além dele, ela citou a
mistura de aço e microfibras de polipro-
pileno e a protensão como soluções para
desmaterializar as estruturas de concreto.
A empresa já possui aço feito com 100%
de material reciclado e vergalhão com EPD.
Para o diretor da França e Associados
Projetos Estruturais, Ricardo França, que
apresentou cases de obras com concreto
pré-fabricado com diminuição na taxa de
armaduras e com uso de lajes protendidas,
“hoje em dia já se pode confiar na entrega
de concretos com 50 MPa das centrais, o
que traz ganhos nas dimensões dos pilares”.
A desmaterialização obtida no projeto
e a construção deve contribuir com 22% de
redução nas emissões de CO2, na projeção
do GCCA para atingir a neutralidade de
carbono em 2050.
A carbonatação natural do concreto O diretor do IBRACON e coordenador do Seminário de Sustentabilidade, Carlos Massucato, em uma de
e o uso de dióxido de carbono para curar suas intervenções

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desempenho ambiental apresentou no Seminário de gestão de
de materiais cimentícios pontes e viadutos o programa de manu-
e estruturas de concreto tenção de obras de arte especiais do mu-
armado, para orientar e nicípio. Ele relatou que as inspeções em
padronizar esses indica- pontes e viadutos são feitas a cada dois
dores para o setor. anos e que, se necessitarem de recupe-
Um dos objetivos ração e reforço, a normativa da prefeitu-
é, por exemplo, estimar ra admite aditivo de até 25% no contrato
o potencial de fixação com a empresa que fez a inspeção, o que,
de CO2 por recarbona- segundo ele, agiliza a reabilitação da obra.
tação de materiais ci- Até o final da gestão, a previsão é re-
mentícios ao longo de alizar 390 intervenções nas pontes e via-
seu ciclo de vida, para dutos da cidade de São Paulo.
Marcos Monteiro em sua apresentação no Seminário de Gestão de refinar sua contribuição A gestão de pontes e viadutos avança
Pontes e Viadutos para a neutralidade do também em nível federal. Segundo o en-
carbono na cadeia. genheiro do Departamento Nacional de
na cadeia do concreto no país, o Instituto Infraestrutura (DNIT), Rogério Calazans
Brasileiro do Concreto (IBRACON), orga- MANUTENÇÃO DAS ESTRUTURAS Verly, o número de obras de arte com con-
nizador do 64° Congresso Brasileiro do Outro aspecto importante da susten- tratos para manutenção subiu de 22, em
Concreto, tem mobilizado profissionais tabilidade diz respeito à sua durabilidade, 2018, para 1119 em 2023, devendo este nú-
no sentido de realizar mais estudos para pois quanto mais uma obra se mantém mero de contratação se repetir em 2024.
estabelecer parâmetros e indicadores de em serviço, menor serão seus impactos Calazans abordou em sua palestra no
desempenho ambiental para a construção ambientais, pois esses se concentram na Seminário o contexto de surgimento e
nacional, que possam efetivamente contri- sua construção e podem ser melhor geri- modernização do Sistema de Gestão de
buir com o balanço das emissões de carbo- dos, com as atuais tecnologias de reuso Pontes do DNIT.
no pela cadeia do concreto. de água, economia de energia e melhor Neste mesmo Seminário, o engenhei-
Segundo o coordenador do Comi- destinação de resíduos, na sua fase de ro Carlos Siqueira mostrou como se faz a
tê Técnico IBRACON/ABECE/ABCIC de uso. Além disso, maior durabilidade im- inspeção submersa na Ponte Rio-Niterói,
Sustentabilidade do Concreto (CT-101), plica menos recursos materiais e energé- que completará 50 anos em 2014. Segun-
Eng. Carlos Massucato, que palestrou no ticos consumidos pelo setor construtivo. do ele, com a concessão da ponte em
Seminário de Sustentabilidade e no Semi- Paulo Helene argumentou em sua pa- 1995, um programa de manutenção vem
nário de Pré-Fabricados, o IBRACON está lestra de abertura que passar do concreto recuperando paulatinamente a ponte, de
mobilizado para lançar na próxima edição com 20 MPa para o concreto com 50 MPa maneira que, em 2026, ela será 5% me-
do Congresso Brasileiro do Concreto uma faz cair o coeficiente de difusão de agen- lhor de quando foi construída, devido ao
prática recomendada sobre avaliação do tes agressivos do meio para dentro da reforço que recebeu com cabos externos
estrutura em cerca de de protensão.
três vezes, implicando Por fim, o vice-presidente do
aumento da vida útil de IBRACON e coordenador do Seminário
30 anos para 270 anos. de gestão de pontes e viadutos, Julio Ti-
Esses assuntos rela- merman, apresentou o estágio atual da
tivos à manutenção e re- normalização brasileira no que diz respei-
abilitação de estruturas to à inspeção e manutenção de pontes.
de concreto foram ex- Ele elucidou aspectos importantes da
tensamente abordados ABNT NBR 9452, abordando seus pa-
no Seminário de gestão râmetros de avaliação, os critérios para
de pontes e viadutos, no classificação das obras de arte quanto a
Seminário sobre reabili- esses parâmetros, os tipos de inspeções
tação de estruturas de e o uso do BIM em inspeções.
concreto, no Seminário “Os trabalhos na ABNT devem avan-
de incêndio e no Semi- çar no ano que vem para lançar mais
nário de tecnologia de duas normas de inspeção — uma para
impermeabilização. túneis e outra para obras de saneamento
O secretário muni- — o que deve contribuir ainda mais para
cipal de infraestrutura despertar governo e sociedade quanto
urbana e obras de São à importância da manutenção de obras”,
Carlos Siqueira em momento de sua apresentação Paulo, Marcos Monteiro, arrematou Timerman.

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 23
64º Congresso Brasileiro do Concreto
Conferências trouxeram os avanços
em pesquisa sobre resistência ao
fogo, durabilidade e sustentabilidade

A
s atividades no 64º Congresso Bra- engenheiros franceses que inspecionaram
sileiro do Concreto são iniciadas o túnel incendiado. “Aquilo me motivou a
com as conferências plenárias, pa- entender o problema e como solucioná-lo.
lestras com renomados pesquisadores sobre Por isso, eu fiz parte de vários projetos com
os limiares das pesquisas sobre o concreto. a Portland Cement Association, nos Estados
Para a edição, os professores da Unidos, e com as universidades do Canadá e
Michigan State University, Venkatesh outros países”, conta Kodur.
Kodur, da Loughborough, Sérgio Cavalaro, Suas pesquisas na área contribuíram
e da Drexel University, Ahmad Hamid, abor- para o desenvolvimento de novas técnicas
daram suas pesquisas sobre o comporta- e métodos para minimizar os problemas
mento do concreto sob incêndio, a impres- provocados pelo fogo nas estruturas de
são 3D e a sustentabilidade do envelope concreto. Kodur apresentou, no Congres-
externo de edifícios, respectivamente. so, novas ferramentas de diagnóstico dos
danos causados por incêndio, modelos de
SEGURANÇA DAS ESTRUTURAS previsão de quanto tempo uma determina-
SOB INCÊNDIO da estrutura resiste ao fogo e quais as fer-
A proteção da estrutura de concreto ramentas que previnem as estruturas sob
contra o fogo, além de contribuir com sua incêndio de colapsar.
vida útil, é o que permite aos seus usuários Ao contrário do que diz o senso comum,
evacuarem a edificação com segurança. Prof. Venkatesh Kodur em momento Kodur alertou que incêndio em obras é um
O tema foi tratado pelo professor da Uni- de sua apresentação problema corriqueiro e sério. Por isso, ele
versidade Estadual de Michigan, Venkatesh recomendou fortemente que se deve proje-
Kodur, em sua conferência plenária e no Canadá, onde se juntou ao National Rese- tar estruturas para resistir ao fogo como se
Seminário de incêndio. arch Council como cientista sênior, investi- faz para enfrentar as mudanças climáticas.
Kodur formou-se em engenharia civil na gando extensamente a segurança das es- A principal mensagem de sua palestra
University Visveswaraya, na Índia, fez mes- truturas sob incêndio. Finalmente, em 2005, para o auditório lotado no Centrosul foi
trado e doutorado na Queen’s University, no ele passou a integrar a Michigan State Uni- que os engenheiros civis devem superar
versity, onde ele es- as recomendações prescritivas das normas
tabeleceu o Center técnicas, por que estas não se aplicam a
on Structural Fire estruturas modernas esbeltas e com va-
Safety, com equi- zios, e passar a adotar cada vez mais reco-
pamentos avança- mendações de desempenho, baseada em
dos para ensaios de estudos do comportamento das estruturas
estruturas sob fogo de concreto sob fogo.
e um programa de Dentre as recomendações feitas por
pesquisa na área. ele, destaca-se os ganchos dos estribos
Sua curiosidade em 135° e o uso de estribos cruzados, o
pela área de segu- uso de concreto de alto desempenho com
rança das estruturas agregado carbonático e com menos síli-
sob incêndio come- ca ativa e menor teor de umidade, o me-
çou com os danos lhor desempenho de colunas com duas
causados pelo fogo faces expostas ao fogo e o uso de fibras
no Eurotúnel, atribu- metálicas combinadas com fibras de po-
ídos principalmente lipropileno — a primeira resiste a tensões
ao concreto de alto provocadas pelo aquecimento da estrutu-
Auditório lotado na palestra do Prof. Kodur desempenho pelos ra e a segunda confere a permeabilidade

24 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


necessária para que os vapores formados
no interior das estruturas consigam sair, re-
duzindo o spalling.

IMPRESSÃO 3D E DURABILIDADE
DAS ESTRUTURAS DE CONCRETO
A impressão 3D de elementos e es-
truturas de concreto foi um dos temas
abordado pelo pesquisador brasileiro na
Universidade de Loughborough, Inglaterra,
Prof. Sérgio Cavalaro, em sua conferência
no Congresso.
Cavalaro se formou, em 2006, na Uni-
versidade Estadual de Londrina. Foi fazer
seu doutorado na Espanha, na Universida-
de da Catalunha, e, 10 anos depois, foi tra-
balhar, como professor, na Loughborough
University, na Inglaterra.
“Trabalhei no doutorado com aspectos Plateia assiste à apresentação do Prof. Cavalaro
tecnológicos e de dimensionamento de tú-
neis. Mas, o que foi o maior ensinamento aplicada na produção em massa”, comple- de um guia para inspeções rotineiras dessas
no doutorado, não foi o tema em si, mas a mentou Cavalaro. obras, classificando-as quanto à sua critici-
filosofia de trabalho e a forma de entender Outro tema tratado por ele foi a dura- dade e, assim, possibilitando que as aulas
a pesquisa”, confessa. bilidade. Ele argumentou que quanto mais fossem retomadas.
Seus estudos sobre a impressão 3D têm se estende a vida útil da estrutura, menor é Segundo Cavalaro, assegurar a dura-
revelado tendências nas propriedades das seu impacto ambiental. bilidade é um parâmetro essencial para a
argamassas e concretos distintas das comu- Uma estimativa trazida por ele apontou sustentabilidade do setor. No entanto, para
mente conhecidas nas argamassas e con- o custo da manutenção no Reino Unido a isso, o projeto da obra precisa contemplar
cretos convencionais, que se tornam ainda partir de 2060: com ele seria possível cons- seus diferentes usos no tempo, habilitando
mais proeminentes ao escalar a solução es- truir uma linha de trem de alta velocidade o que ele chamou de multivida de uma obra.
tudada. Quando ainda era pesquisador na a cada ano. Por isso, sua equipe na Univer-
Universidade da Catalunha, na Espanha, em sidade de Loughborough está trabalhando O ENVELOPE EXTERNO DO EDIFÍCIO
2016, Cavalaro participou do projeto de im- para criar soluções técnicas de reparo de E A SUSTENTABILIDADE
pressão dos módulos de concreto de uma obras que aumentem a produtividade no A importância do envelope externo
passarela para um parque na região. setor, em queda desde 1970. de uma edificação para sua sustentabili-
Segundo ele, a escala pequena de uma O Reino Unido vivenciou uma crise com dade foi o tema explorado pelo professor
ideia é essencial para gerar evidências preli- o concreto celular armado, usado em muitas da Drexter University, nos Estados Unidos,
minares, “sendo ainda mais importante num obras, principalmen-
contexto de recursos limitados, onde se deve te em peças fletidas
pensar grande e meditar como realmente em coberturas de
seu projeto vai gerar impacto lá na frente”. hospitais e escolas.
Em 2003, na Universidade de Loughbo- O colapso de uma
rough, Cavalaro começou a trabalhar com edificação feita com
impressão 3D por extrusão, com uso de concreto celular ar-
robôs, alimentados por um misturador de mado na Escócia,
concreto. Atualmente, ele deu um passo em 2019, acendeu
além com a manufatura híbrida, na qual não o alerta no governo
se trata apenas de imprimir as peças em 3D, britânico, que levou
mas de agregar outros processos, como co- ao fechamento de
locar armaduras e fazer o acabamento. 120 escolas.
A manufatura híbrida tem produzido A equipe de
peças singulares, com formas e detalhes Cavalaro fez diver-
complexos. Mas, ela não é ainda uma tec- sos ensaios nessas
nologia madura, pois são produzidas mui- estruturas, cujos
tas peças com defeitos para obter uma resultados embasa-
peça boa. “E não é uma inovação para ser ram o lançamento Prof. Sérgio Cavalaro em momento de sua palestra

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 25
Esse envelope deve ser projetado para
assegurar um ambiente interno saudável,
produtivo e capaz de garantir o uso efi-
ciente de energia, água e outros recursos.
Um projeto adequado permite redu-
zir o consumo de energia em até 50% por
meio de paredes e janelas isolantes, que
privilegiem a iluminação e ventilação natu-
ral, de modo a manter o ambiente interno
com poucas flutuações.
“Precisamos reduzir o consumo de
energia nas edificações e a forma de fazer
isso é por meio do envelope externo, com
paredes isolantes e com janelas com uma
alta resistência térmica. Assim, recomendo
que os engenheiros prestem mais atenção
às paredes e janelas dos prédios”, susten-
tou em sua palestra.
Sua mensagem neste quesito foi que
Prof. Ahmed Hamid explicando o que é o envelope da edificação um projeto bem feito no quesito acima me-
lhora o desempenho do prédio e diminui os
Ahmed Hamid, que tem mais de 50 anos da edificação que servem como barreiras custos operacionais e de manutenção.
de experiência em educação, pesquisa e para as condições adversas do ambiente Ele incentivou também o uso de mate-
consultoria em projeto de retrofit de estru- externo, como paredes, portas e janelas, riais reciclados e de produtos sustentáveis,
turas de concreto e em alvenaria estrutural. cobertura e piso inferior, formam o enve- como o bloco de concreto aerado autocla-
Ele conceituou que todas as partes lope da edificação. vado, para compor as vedações.
Por fim, abordou os cuidados para as-
segurar que a vedação seja durável, resis-
ta adequadamente às ações horizontais e
à umidade.
Segundo ele, a durabilidade das vedações
pode ser estendida com o uso de concreto de
boa qualidade, com alvenarias de blocos de
concreto que não necessite de pintura.
Aspectos construtivos, como selantes
de qualidade para vedar a interface de es-
quadrias e vedações, uso de energia solar e
telhados verdes, e outros pontos favoráveis
à sustentabilidade e melhoria da eficiência
energética foram destacados.
Ao final, comentou alguns aspectos
estruturais, em especial maneiras de se
evitar efeitos catastróficos em ocorrências
naturais extraordinárias, como a ocorrida
no recente terremoto da Turquia, cujas
consequências foram avaliadas pelo pa-
lestrante. Para evitar danos à alvenaria
decorrentes de forças horizontais, o pro-
jetista deve decidir se ela vai participar
ou não do sistema de contraventamento
estrutural. Se a alvenaria for participante,
então seu projeto deve se basear no seu
desempenho e evitar irregularidades es-
truturais. Especial atenção deve ser dada
aos pilares, em especial, o detalhamento
Momento da palestra do Prof. Hamid da armadura.

26 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


64º Congresso Brasileiro do Concreto
IBRACON premia profissionais
e entrega títulos na abertura
do Congresso
F oram entregues títulos de sócios honorários, homenageados
os profissionais de destaque do ano e premiadas as disser-
tações de mestrado na cerimônia de abertura do 64º Congresso
Brasileiro do Concreto.

Prêmio Profissionais de Destaques do Ano


O Prêmio reconhece profissionais com contribuições significati-
vas para o avanço do conhecimento científico e tecnológico
do concreto no país. A indicação é livre para os associados, a esco-
lha é feita por comissões e pautada por critérios técnicos, sendo a
decisão final do Conselho Diretor e diretoria do IBRACON.
Conheça os agraciados!

w Prêmio Ary Frederico Torres w Prêmio Gilberto Molinari


u Destaque em Tecnologia de Estruturas u Reconhecimento aos relevantes
de Concreto serviços prestados ao IBRACON

u Roberto Dakuzaku u Guilherme Parsekian

Engenheiro civil Engenheiro civil


especializado pela Universidade
em Tecnologia Federal de
do Concreto. São Carlos,
Coordenou com mestrado e
atividades doutorado pela
de controle Universidade de
tecnológico São Paulo, e pós-
do concreto, doutorado pela
inspeções Universidade
técnicas para de Calgary.
diagnóstico Professor associado
e tratamento e coordenador
de patologias do Programa de
estruturais, Internacionalização
recuperação em Materiais
e reforço de Estratégicos da
Roberto Dakuzaku com prêmio entregue pelo
estruturas na Guilherme Parsekian com prêmio entregue pelo
Universidade
diretor-secretário do IBRACON, Carlos Massucato Falcão Bauer. diretor-secretário do IBRACON, Cláudio Sbrighi Neto Federal de
Diretor técnico São Carlos e
e consultor independente nas empresas Takashima e Coordenador do Comitê de Normalização em Alvenaria
Idetk, tendo participado de importantes obras, como as Estrutural. Contribui com o IBRACON há mais de dez
do Metrô em São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, Porto anos, como membro e Presidente do Comitê Editorial
Maravilha, Museu do Amanhã, duplicação da Rodovia da Revista ‘Concreto & Construções’, editor-chefe da
dos Tamoios e túnel de blindagem do Acelerador de IBRACON Structures and Materials Journal e Diretor de
Partículas de Luz Síncrotron – Projeto Sirius. Publicações do IBRACON.

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 27
w Prêmio Francisco de Assis Basílio
u Destaque em Engenharia de Concreto
na Região do CBC
w Prêmio Lobo Carneiro
u Denis Fernandes Weidmann
u Destaque em Engenharia de Pesquisa
Engenheiro civil em Estrutura de Concreto
e mestre pela
Universidade
Federal de
u Leandro Mouta Trautwein
Santa Catarina,
e Especialização Engenheiro civil
em Gestão pela Pontifícia
Estratégica Universidade
de Vendas e Católica de Goiás,
Negócios pela com mestrado
Fundação em Estruturas e
Getúlio Vargas. Construção pela
Fundador e Universidade de
sócio-diretor Brasília e doutorado
da PWD em Engenharia
Consultoria Civil pela Escola
em Concretos, Politécnica da USP.
Denis Weidmann com prêmio entregue pelo diretor
onde atua como Professor da
regional de SC, Joélcio Stocco consultor de Universidade
empresas de Estadual de
pré-fabricados, serviços de concretagem, produção de Campinas e líder
agregados e de construtoras nacionais e internacionais, do Grupo de
em importantes obras como a Ponte Hercílio Luz e os Leandro Trautwein recebe o prêmio da diretora
Monitoração e
grandes edifícios de Balneário Camboriú. tesoureira do IBRACON, Jéssika Pacheco Análise Numérica
Foi Diretor Técnico da Regional IBRACON de Estruturas e do
de Santa Catarina. Laboratório de Modelagem Estrutural e Monitoração.

w Prêmio Oscar Niemeyer


u Destaque em Projeto de Arquitetura
de Concreto

u Ademar José Cassol

Em memória ao responsável por construir e fortalecer


o Grupo Cassol.
Atuou com distinção como arquiteto e professor da Universidade
Federal de Santa Catarina. Formou-se em arquitetura na
Universidade Federal do Rio Grande Do Sul, tendo projetado,
entre muitos empreendimentos no Brasil, o Beiramar Shopping
em Florianópolis.

Rodrigo Cassol, filho de Ademar Cassol, recebe o


prêmio da presidente-executiva da ABCIC, Íria Doniak
28 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções
Prêmio de Teses e Dissertações
P ara prestigiar os trabalhos cadastrados no CONCRETO
Brasil, banco de teses e dissertações dedicadas ao concre-
to, o IBRACON concedeu Prêmio de Teses e Dissertações a um
trabalho na área de estruturas e outro na área de materiais e
técnicas, por suas contribuições para o conhecimento científi-
co sobre o concreto.

Universidade Católica de Pernambuco


w Melhor Dissertação em Estruturas
u Contribuição ao Estudo de Paredes
de Concreto Moldadas in loco

s Autor
u Amâncio da Cruz Filgueira Filho

s Orientador
u Prof. Romilde Almeida de Oliveira
A dissertação teve como objetivo apresentar conceitos e
procedimentos adotados para edificações em paredes de con-
creto, principalmente no que diz respeito à norma ABNT NBR
16055:2012, como também práticas que vêm sendo adotadas no
mercado para edificações desse sistema. Discutir a partir de re-
sultados via modelagem numérica se os procedimentos citados
anteriormente são válidos, buscar soluções de situações ainda não
Amâncio da Cruz (esq.) recebe o prêmio das mãos do diretor de P&D
resolvidas para o sistema, objetivos os quais tem por finalidade a do IBRACON, Roberto Christ
potencialização do sistema construtivo.

Universidade Estadual
w Melhor Dissertação em Materiais
do Norte Fluminense
e Técnicas
u Produção e Caracterização de Cimentos
Compostos com Cinza do Bagaço
de Cana de Açucar e Fíler Calcário

s Autora
u Andréia Arenari de Siqueira

s Orientador
u Guilherme Chagas Cordeiro
A dissertação tece como objetivo avaliar a influência da subs-
tituição parcial de clínquer Portland por cinza do bagaço da cana
de açúcar e fíler calcário nas propriedades de hidratação, reologia,
resistência à compressão e durabilidade de misturas cimentícias.

Andréia de Siqueira (esq.) recebe o prêmio das mãos da diretora de P&D


do IBRACON, Fernanda Pacheco

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 29
Sócios-honorários
O título de sócio-honorário é a maior comenda concedida a um
profissional pelo IBRACON. Sua concessão é proposta pelo
Conselho Diretor e referendada pela Assembleia Geral.

w Aluízio D’Ávila w Marcos Monteiro


Engenheiro Engenheiro
civil pela civil pela
Universidade Universidade
Mackenzie, Mackenzie, com
fundou a pós-graduação
empresa em Engenharia
Aluízio A. de Estruturas
M. D’ávila pela Escola
Engenharia Politécnica da
de Projetos, Universidade
em atividade de São Paulo
desde 1959. e MBA pela
Trabalhando Escola de
em conjunto Administração
com os maiores de Mauá.
arquitetos, Professor de
incorporadoras Estruturas
Cléber Hardt recebe o título concedido a Aluízio D’Ávila
e construtoras Marcos Monteiro com o título recebido do
de Concreto
das mãos do presidente da ABECE, Luiz Aurélio do Brasil, vice-presidente do IBRACON, Julio Timerman Armado e da
América do Sul Pós-Graduação
e África, elaborou projetos para aproximadamente em Gerenciamento de Canteiros da Escola de
5 milhões de metros cúbicos de concreto estrutural, Engenharia Mauá e do Curso de Pós-Graduação em
correspondendo a 28 milhões de metros quadrados Estruturas de Concreto Armado do Mackenzie.
de área construída, sendo 4 mil edifícios residenciais Foi presidente da ABECE e atualmente é Secretário
e comerciais. Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras de São Paulo.

w Maria Alba Cincotto (in memorian)


Formou-se em química pela
Universidade de São Paulo,
fez mestrado e doutorado em
Engenharia Química pela Escola
Politécnica da USP.
Trabalhou por 32 anos no Instituto
de Pesquisas Tecnológicas de São
Paulo, principalmente no laboratório
de química de materiais.
Sócia-fundadora do IBRACON, foi
professora da Poli-USP por 40 anos.

Zelma Cincotto,
irmã de Maria Alba,
recebe o título do vice-
presidente do IBRACON,
Enio Pazini Figueiredo

30 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


64º Congresso Brasileiro do Concreto
IBRACON lança novas
publicações técnicas

Diretores Guilherme Parsekian e Paulo Fernando (dir.) recebem os coordenadores e editores das publicações lançadas no evento

C
om o intuito de contribuir com a No 64º Congresso Brasileiro do Con- curso e recomendações para quem quer
formação de alunos de engenha- creto, foram lançadas quatro publicações participar dessas competições. Fruto do
ria civil e com profissionais que em sessões de autógrafos e em seminários. trabalho da diretoria de atividades estu-
atuam na cadeia do concreto, o IBRACON No dia 18 de outubro, foi lançado o dantis, a publicação foi coordenada por
lança regularmente publicações técnicas Livro do Concurso Ousadia, que traz uma Jéssica Andrade Dantas, Juliana Villar e
para esse público. retrospectiva de todas as edições do con- Patrícia Santivo Bonilha.

ESTRUTURAS DE CONCRETO
ARMADO — VOL. 2
A Coleção Estruturas de Concreto se
propõe trazer temas básicos e avançados
relacionados ao projeto de estruturas de
concreto para a adequada formação do
engenheiro civil e o aperfeiçoamento dos
profissionais atuantes no setor.
Cada capítulo é escrito por experien-
tes professores e engenheiros de estrutu-
ras, selecionados para o projeto e coorde-
nados pelos editores Alio Ernesto Kimura,
Guilherme Aris Parsekian, Luiz Carlos de
Almeida, Sergio Hampshire de Carvalho
Santos e Túlio Nogueira Bittencourt.
O segundo volume da coleção, com
nove capítulos perfazendo 716 páginas,
foi lançado no dia 19 de outubro, com a
participação de editores e autores.
Além de contar com a apresentação
Editores e autores marcam presença no lançamento do Volume 2 da Coleção de fundamentos e conceitos teóricos que

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 31
servem de base para o correto aprendizado
sobre temas relacionados com o projeto de
estruturas de concreto, os capítulos desse
livro possuem também exemplos práticos,
sendo alguns deles resolvidos com o auxílio
de ferramentas computacionais que fazem
parte do atual cenário profissional.
Editores e autores posam para registro do lançamento da prática
Seus capítulos versam sobre os se-
guintes temas: 10. Estados Limites de
Serviço, 11. Flexão Composta, 12. Estabi- revisada por Selmo Kuperman, foi lançada estabelecer as bases para futuros trabalhos
lidade Global e Deslocabilidade Lateral, no dia 19 de outubro, durante coquetel ofe- de normalização técnica, o CT 303 – Comitê
13. Pilares Retangulares, 14. Fundações, recido pelos apoiadores da obra. Técnico IBRACON/ABECE de Materiais Não
15. Escadas, 16. Estruturas de Contenção, Com 51 páginas, a publicação abran- Convencionais para Reforço de Estruturas
17. Reservatórios e Piscinas, 18. ge os conceitos das reações expansivas,
a metodologia de inspeção recomenda-
INSPEÇÃO DE ESTRUTURAS DE da, exemplos de manifestações visíveis e
CONCRETO VISANDO AVALIAR sintomas de reação álcali-agregado (RAA)
MANIFESTAÇÕES DA REAÇÃO e da etringita tardia (DEF), nas condições
ÁLCALI-AGREGADO (RAA) de campo e sua confirmação por métodos
E ETRINGITA TARDIA (DEF) de análise e ensaios laboratoriais.
A Prática Recomendada traz um ro- Ela é voltada aos profissionais envol-
teiro para auxiliar o diagnóstico da ocor- vidos com recuperação e reabilitação de
rência da reação álcali-agregado (RAA) estruturas de concreto.
e da etringita tardia (DEF) em estruturas
suspeitas de apresentar essas manifes- REFORÇO DE ELEMENTOS
tações patológicas. ESTRUTURAIS DE CONCRETO
Resultado do trabalho do CT 201 Comi- COM SISTEMAS DE POLÍMEROS
tê Técnico de Reações Expansivas, coorde- REFORÇADOS COM FIBRAS (FRP)
nado por Arnaldo Battagin e Cláudio Sbri- APLICADO EXTERNAMENTE
ghi Neto, e secretariado por Flavio André Com o propósito de difundir as
da Cunha Munhoz, a prática recomendada, boas práticas de engenharia e também

32 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


Integrantes do CT 303 no lançamento da prática

de Concreto, Fibras e Concreto Reforçado Marco Antonio Carnio e demais autores.


com Fibras, trabalhou no desenvolvimento Com 63 páginas, a publicação versa so-
desta Prática Recomendada sobre Estru- bre o Projeto de Estruturas de Concreto Ar- cial, em agradecimento pela participa-
turas de Concreto Armado com Barras de mado com Barras de FRP e a Especificação, ção presencial em Florianópolis. Todas
Polímero Reforçado com Fibras (FRP). Classificação e Ensaios das Barras de FRP. as publicações podem ser adquiridas
A prática foi lançada no dia 20 de ou- As publicações foram oferecidas na Loja Virtual do site do IBRACON
tubro, com a presença do coordenador aos congressistas com desconto espe- (www.ibracon.org.br).

NO PRUMO
Compartilhar teoria e prática da construção civil, com leveza, didatismo e
criatividade. Esta é a proposta do livro “No Prumo”.

O livro é dividido em duas partes. A primeira traça a história da construção no Brasil


e sua relação com a cultura. A segunda revela, na prática, os conceitos e as técnicas
consolidadas ao longo dessa história.

A publicação oferece uma leitura atual de temas que vão do projeto e da análise de
solo ao serviços de concretagem, sistemas construtivos e sustentabilidade.

Com textos de Paulo Helene, professor titular da USP e diretor-presidente do


IBRACON, e diretor da PhD Engenharia, e de Guilherme Aragão, jornalista e escritor,
especialista em formação política e econômica do Brasil.

FORMATO: 21 x 29 cm
PÁGINAS: 170
ANO: 2017
VENDAS: Loja virtual (www.ibracon.org.br)

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 33
64º Congresso Brasileiro do Concreto
Concursos estudantis movimentaram o
Brasileiro do Concreto

S
em dúvida, as sessões mais festivas, descontraí-
das, joviais e barulhentas do 64º Congresso Bra-
sileiro do Concreto são os concursos estudantis
promovidos pelo Instituto Brasileiro do Concreto.
Essas competições atraem estudantes de engenharia
e arquitetura de Brasil inteiro para o maior evento técnico-

Premiação COCAR 2023


Concurso Concreto
Colorido de Alta u 1º lugar
Resistência (COCAR) w USP São Carlos

O
concurso desafia os competidores a confeccionar con-
cretos coloridos de alta resistência à compressão.
A pontuação das equipes é decorrente de três etapas:
caracterização do corpo de prova quanto às suas dimensões e
massa; determinação de sua resistência à compressão e análise da
coloração e homogeneidade interna. Participaram da competição
259 alunos divididos 31 equipes com 57 corpos de prova.

O concurso foi patrocinado pela Lanxess.


Equipe: Econ
Pontuação: 215,09
u 2º lugar
u 3º lugar
w IMT
w PUC Minas

Equipe: Concreto Mauá


Pontuação: 213,25 Equipe: Concreto UAI
Pontuação: 210,44
34 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções
64º Congresso

-científico nacional sobre o concreto e contribuem para que os alunos evento para aprender, competir e ganhar prêmios. Enfatizar a
aprendem, na prática, o que é ensinado em salas de aula. geração jovem é capaz de produzir um grande impacto!”, avaliou
Os palestrantes estrangeiros ficaram bastante impres- Ahmad Hamid.
sionados com a curiosidade e a motivação dos estudan- Por seu desempenho no conjunto dos concursos, a equipe
tes. “O que mais me impressionou no Congresso foi a par- do Instituto Mauá de Tecnologia ganhou a medalha CONCRETO
ticipação dos estudantes e os jovens engenheiros, vindo ao IBRACON 2023, patrocinada pela TQS Informática.

Concurso CONCREBOL Premiação CONCREBOL 2023

C
onstruir uma esfera leve e resistente de concreto, com
u 1º lugar
dimensões estabelecidas, capaz de rolar numa trajetória
retilínea. Este é o desafio do Concurso Técnico CONCRE-
w IMT
BOL, que testa as capacidades dos competidores em desenvolver
concretos homogêneos e resistentes, bem como métodos cons-
trutivos racionalizados.

A pontuação final é formada por coeficientes relativos a medidas


de diâmetro, volume e massa da bola; de uniformidade física da
bola; e de resistência à compressão do concreto.

Participaram da competição 212 alunos agrupados em 21 equipes


com 39 bolas.
Equipe: Concreto Mauá
O concurso foi patrocinado pela Cimento Nacional. Pontuação: 1,8

u 2º lugar u 3º lugar

w Mackenzie w USP São Carlos

Equipe: Mack Concreto Equipe: Econ


Pontuação: 0,91 Pontuação: 0,74

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 35
Concurso Aparato de
Proteção ao Ovo (APO)

A
competição desafia os estudantes a projetar e construir
um pórtico de concreto armado com fibras ou em con- Premiação APO 2023
creto armado com dispositivos de ancoragem embuti-
dos, resistente às cargas crescentes de impacto. O concurso testa
a capacidade dos alunos em desenvolver elementos estruturais re-
u 1º lugar
sistentes a cargas dinâmicas, tirando o máximo proveito das pro-
priedades do concreto armado.
w IMT

Os pórticos têm suas dimensões avaliadas e suas massas determi-


nadas antes dos ensaios. Os aparatos que não atendem aos requi-
sitos do Regulamento são desclassificados.

Nesta edição, se inscreveram 17 equipes, totalizando 218 estudan-


tes, que concorreram com 23 aparatos.

No ensaio de carregamento dinâmico os pórticos têm que resistir ao


impacto de um cilindro metálico, com 50 mm de diâmetro e massa Equipe: Concreto Mauá
de 15 kg, solto de alturas progressivas de um metro a 2,5 metros. Pontuação: 9,5

Vence o concurso a equipe cujo APO suporta a máxima carga


(soma das alturas de impacto) antes de o ovo ser danificado.

O concurso foi patrocinado pela Cimento Nacional.

u 2º lugar u 3º lugar

w PUC Minas w UFBA

Equipe: Concreto UAI Equipe: Concreto UFBA


Pontuação: 7 Pontuação: 7

36 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


Concurso Ousadia

O Premiação Ousadia 2023


concurso desafiou os estudantes de arquitetura e enge-
nharia a elaborar o projeto básico de infraestrutura que
contemple a melhoria do sistema viário de Florianópolis
entre a Avenida Mauro Ramos e a Rua da Saudade, em ambos u 1º lugar
os sentidos.
w UFRJ
Os objetivos do concurso ousadia são: desenvolver a aptidão dos
alunos na concepção de projetos de concreto ousados, seguros,
duráveis, viáveis econômica e sustentavelmente, de fácil manuten-
ção e harmonicamente inseridos em seus contextos local, cultural
e histórico; e aumentar o entrosamento entre estudantes de arqui-
tetura, engenharia civil e tecnologia.

Participaram da competição 7 equipes com 7 projetos, totalizando


75 alunos.

Equipe: Minerva Civil


Os três projetos mais bem pontuados receberam os prêmios de
Vencedor (1º lugar), Destaque (2º lugar) e Mérito (3º lugar).
Pontuação: 69,306

O concurso foi patrocinado pela ConcreteShow.

u 2º lugar u 3º lugar

w USP São Carlos w PUC Minas

Equipe: Econ Equipe: Concreto UAI


Pontuação: 67,545 Pontuação: 65,299

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 37
Concreto: Quem sabe Concurso CONCRETO:
faz ao vivo Quem sabe faz
ao vivo 2023
O
concurso avalia os competidores quanto à capacidade
de dosarem concretos autoadensáveis coesos e translú-
cidos, com baixo consumo de cimento e alta resistência u 1º lugar
à compressão em 24 horas.
w UTFPR
Com a participação de 125 estudantes, cada uma das 25 equi-
pes recebeu cimento, adições, agregados, aditivos e água, e teve
50 minutos para realizar a dosagem do concreto, para a molda-
gem de dois corpos de prova cilíndricos, com 10 cm de diâmetro e
20 cm de altura, e de uma placa com fibras translúcidas.

A pontuação final de cada equipe considera a resistência à com-


pressão do corpo de prova, o consumo de cimento, os coeficientes
de espalhamento, estabilidade visual e de acabamento superficial.

O concurso foi patrocinado pela Votorantim Cimentos.

u 2º lugar
Equipe: Curitibracon
w IMT Pontuação: 2976,33

u 3º lugar

w FEI

Equipe: Concreto Mauá


Pontuação: 2578,56

Equipe: Concreto FEI


u Menção Honrosa Pontuação: 2547,26
w USP São Carlos
Por uma falha na apuração de resultados, foi anunciado
erroneamente o resultado no jantar, pelo que pedimos desculpas.

Desta forma, e em consideração ao excelente desempenho


da equipe, a Comissão Organizadora concede à equipe da
EESC-USP a Menção Honrosa do Concurso QSFV 2023.

Equipe: Econ
38 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções
Eleição do Conselho Diretor
e da Diretoria do IBRACON

E
m votação direta, volun- ção, formada pelo presidente, CONSELHO DIRETOR — GESTÃO 2023/2025
tária, secreta e eletrô- Eng. Paulo Helene, e assessorada Titulares mantenedores
Titulares individuais
nica, os sócios do Ins- pela secretária-executiva, Arlene e coletivos
tituto Brasileiro do Concreto Regnier de Lima Ferreira, reuniu- ABCP – Associação Brasileira
Enio José Pazini Figueiredo
(IBRACON) elegeram os mem- de Cimento Portland
-se em sala no Centrosul, no dia
bros do Conselho Diretor para a ABECE – Associação Brasileira de
20 de outubro, para apurar os vo- Rafael Timerman
Engenharia e Consultoria Estrutural
gestão 2023/2025. tos recebidos na plataforma ele-
ABCIC – Associação Brasileira da
Puderam votar todos os as- trônica da Associação Brasileira Construção Industrializada Claudio Sbrighi Neto
sociados, adimplentes e com de Normas Técnicas — ABNT. de Concreto
mais de seis meses de filiação, Aberta a plataforma eletrôni- EPUSP – Escola Politécnica
da Universidade César Henrique Sato Daher
excluídos os da categoria “Estu- ca, a Comissão de Apuração veri- de São Paulo
dante de Graduação”. Eles assi- ficou 431 inscritos e 150 votantes. Votorantim
nalaram seu voto nos nomes dos Das listas de sócios individu- Guilherme Aris Parsekian
Cimentos S.A.
filiados que desejaram concorrer ais, coletivos e mantenedores do IPT – Instituto de Pesquisas
ao Conselho Diretor, ou indica- IBRACON mais votados foram Tecnológicas do Estado Bernardo Fonseca Tutikian
de São Paulo
ram até dois associados de sua extraídas as listas dos eleitos para
TQS Informática Ltda Alio Ernesto Kimura
preferência no campo em branco o Conselho Diretor do IBRACON.
ABESC – Associação Brasileira
da cédula. Essas listas foram apresentadas Inês Laranjeira
das Empresas de Serviços
da Silva Battagin
O prazo de votação foi de na Assembleia Geral Ordinária de Concretagem
19 de setembro até às 12 horas de do IBRACON, ocorrida no dia se- PhD Engenharia Ltda Iria Licia Oliva Doniak
19 de outubro (horário de Brasília). guinte, no Centrosul. MC Bauchemie Brasil
Nelson Covas
A Comissão de Apura- Confira os eleitos! Indústria e Comércio Ltda

DIRETORIA — GESTÃO 2023/2025


Presidente Julio Timerman
Enio José Pazini Figueiredo

Ó
Assessores Iria Lícia Oliva Doniak
da Presidência Mário William Esper rgão máximo deli- O Conselho Diretor reu-
Selmo Chapira Kuperman berativo do Instituto niu-se no último dia 23 de no-
1º Vice-presidente Paulo Helene Brasileiro do Con- vembro para eleger entre seus
2º Vice-presidente Carlos José Massucato creto, o Conselho Diretor é membros seu presidente. Por
1º Secretário Cláudio Sbrighi Neto formado pelos 10 associados unanimidade, o vice-presiden-
2º Secretário José Vanderlei Abreu mais votados na categoria in- te, Julio Timerman, foi eleito
1º Tesoureiro Nelson Covas dividual e pelos 10 associados para uma nova gestão de dois
2º Tesoureiro Paula Lacerda Baillot mais votados nas categorias anos frente ao Instituto Brasi-
Marketing Alexandre Britez “Coletivos” e “Mantenedores”. leiro do Concreto.
Publicações Marco Antonio Carnio Também fazem parte do Con- Ato contínuo, o Julio Ti-
Eventos Túlio Nogueira Bittencourt selho, os ex-presidentes do merman apresentou sua di-
Técnico Ercio Thomaz IBRACON, como conselheiros retoria, referendada pelos
Relações Institucionais Maurício Bianchini permanentes. conselheiros.
Cursos Jessika Mariana Pacheco Misko
Atividades Estudantis Jessica Andrade Dantas
Certificação de Pessoal César Henrique Sato Daher
P&D Leandro Mouta Trautwein

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 39
Estruturas em Detalhes
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.112.0001

Desafios da produção das bases


pré-fabricadas em concreto de elevado
módulo de elasticidade do acelerador
Sirius — CNPEM
DENER ALTHEMAN – Dr. | Cons. Técnico – https://orcid.org/0000-0002-5232-8505 (sobea@outlook.com.br) ;
ADRIANA A. A. de SOUZA – Dra. | Cons. Técnico – https://orcid.org/0000-0002-6486-2828 | SOBEA Tecnologia & Consultoria
FELIPE C. de CAMARGO – Eng. | Ger. Industrial – (felipe.camargo@leonardi.com.br) ;
MARCELO C. MARIN – Eng. Mestre | Dir. de Engenharia – https://orcid.org/0000-0001-5727-1571 | Leonardi Construção Industrializada

RESUMO 2 (0,2%) da luz. Por meio de uma estrutura labora-

O
micrométrica máxima de mm em todas

Laboratório Nacional de Luz Síncro- as dimensões: planicidade, paralelismo e perpen- torial, é possível converter estas partículas
tron — Sirius é a mais complexa infra- dicularidade, entre as faces. Este artigo apre- aceleradas em um tipo de radiação de am-
estrutura científica já construída no senta os desafios superados para que todos os plo espectro (Infravermelho, Ultravioleta e
País, projetada para gerar Luz Síncrotron, requisitos fossem atendidos com a qualidade e Raio X) (CNPEM, 2014).
sendo a mais brilhante na sua faixa de energia. a precisão requeridas. No Brasil, o primeiro acelerador Sín-
A estabilidade na velocidade e a trajetória dos crotron foi instalado em 1997 nas depen-
elétrons é garantida por eletroímãs de dife- Palavras-chave: concreto pré-fabricado, dências do Centro Nacional de Pesquisa
rentes funções e características, instalados em precisão dimensional, controle e produção. em Energia e Materiais (CNPEM) em Cam-
Bases, que são elementos rígidos aderidos ao pinas, possui alta confiabilidade e estabili-
piso do laboratório. Além de suportar a rede, 1. INTRODUÇÃO dade (BRUM & MENEGHENI, 2002). Con-
as Bases contribuem para evitar a propagação O Projeto do Laboratório Nacional de tudo, o número de estações de pesquisa
de ressonâncias mecânicas entre as estruturas Luz Síncrotron - Sirius é uma complexa in- atingiu seu limite e suas máquinas e equi-
do anel e o piso especial. Os requisitos iniciais fraestrutura científica capaz de gerar Luz pamentos não permitem mais a realização
da equipe de projeto do CNPEM (Centro Na- Síncrotron. Esta luz é alcançada a partir da de experimentos avançados. Por isso, foi
cional de Pesquisa em Energia e Materiais) aceleração de um
determinavam bases em concreto pré-fabri- feixe de partículas
cado para atender ao módulo de elasticidade (elétrons) em velo-
da ordem de 60 GPa e variação dimensional cidades próximas a

FIGURA 1 FIGURA 2
Laboratório nacional de luz síncrotron – inauguração Esquema de composição da geração de luz síncrotron
do LNLS – Sirius – Projeto Sirius
Fonte: CNPEM (2018) Fonte: CNPEM (2014)

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construído o LNLS — Sirius (Figura 1), que 2. DESENVOLVIMENTO E RESULTADOS mecânica e baixo custo. Porém, para mi-
é uma complexa e moderna instalação, Um dos maiores desafios da geração tigar a ressonância (vibração) houve a
um dos quatro maiores do mundo, sendo da Luz Síncrotron é a estabilidade. O feixe restrição em relação ao elevado módulo
a fonte de luz síncrotron brasileira de 4ª de elétrons que permanece girando dentro de elasticidade e a precisão dimensional,
geração (GERAISSATE et al., 2021). do anel de armazenamento em velocidade entre outras características especifica-
O Sirius gera luz a partir da seguinte próxima à da luz possui em alguns trechos das. Foi necessário o estabelecimento de
composição dos equipamentos que com- 1,5 micrômetros de tamanho. Como com- rigorosos controles de fabricação e vali-
põem a estrutura básica necessária para paração, as células vermelhas do sangue dação dos resultados, visto que quaisquer
gerar a luz: Canhão de elétrons, Linac, humano têm de 6 a 7 micrômetros de diâ- variações nos resultados pretendidos po-
Booster, Anel de armazenamento e Linhas metro. Este feixe de partículas precisa per- deriam afetar o desempenho do projeto,
de luz (Figura 2). correr uma trajetória de 518 metros de cir- tanto nas etapas de montagem quanto na
O Canhão de elétrons é o equipamen- cunferência, a uma velocidade de 600.000 etapa de funcionamento do laboratório.
to que inicia o processo, emitindo um feixe voltas por segundo. Durante uma volta, o
de elétrons que serão acelerados. O feixe é feixe de elétrons não pode variar sua tra- 2.1 Projeto e produção da fôrma para
enviado para o Linac, um conjunto de ins- jetória em mais de 10% de seu tamanho as bases
trumentos eletromagnéticos que aceleram (CNPEM, 2014).
os elétrons até uma velocidade próxima à A estabilidade na velocidade e trajetória Para dar suporte à linha do anel
da luz. Quando são aceleradas, as partícu- dos elétrons é garantida por um conjunto foram necessárias 84 bases com di-
las passam ao Booster, uma estrutura cir- de eletroímãs de diferentes características mensões de 350 x 90 x 63 [cm],
cular com 165 m de diâmetro e 518 m de e funções que gera uma rede magnética. É 42 bases de 260 x 90 x 63 [cm]
circunferência, responsável por aumentar a de extrema importância que haja uma con- e 7 bases de 400 x 90 x 63 [cm], que fo-
energia dos elétrons acelerados pelo Linac formidade entre a rede projetada e a rea- ram posicionadas sobre o piso em con-
(CNPEM, 2014). Estes instrumentos estão lizada, o que resulta em tolerâncias rígidas creto armado com 90 cm de espessura e
localizados em posições tangentes à cir- de construção, pois quaisquer variações tolerância dimensional de ± 2 mm — base
cunferência, e quando acionados, desviam dimensionais ou deformações nos elemen- de concreto pré-fabricado sob o modelo
a trajetória dos elétrons. A energia incor- tos de suporte da estrutura podem afetar já utilizado pelo CNPEM (Figura 3), sendo
porada ao feixe de elétrons recém-desvia- sobremaneira a qualidade da luz. Esta ne- que esse conjunto faz parte do acelerador
do produz um tipo de radiação de alto bri- cessidade de grande estabilidade remete a de elétron e não poderia intensificar vibra-
lho, a Luz Síncrotron. uma preocupação extrema com as caracte- ções no mesmo.
A infraestrutura física necessária para rísticas dos elementos de suporte da rede O primeiro desafio foi desenvolver o
amparar esses equipamentos, provendo- magnética, as chamadas Bases. projeto da fôrma das bases que atingisse
-os de todas as especificações e parâme- Estas Bases são elementos rígidos que ao final da produção variação dimensional
tros de operação, demandou um projeto são instalados e aderidos ao piso do labo- ≤ 2 mm em todas as direções. O projeto foi
de física e engenharia com características ratório e são responsáveis por dar suporte desenvolvido pela equipe técnica de uma
singulares e inéditas na engenharia brasi- ao conjunto de ele-
leira. Desde a tecnologia dos componentes troímãs e equipa-
elétricos e mecânicos, até a construção da mentos que com-
edificação, exigia-se alta estabilidade com põem o Anel de
relação a vibrações mecânicas e variações armazenamento.
de temperatura. A área onde o prédio foi Além da responsa-
construído passou por diversos estudos bilidade de supor-
de subsolo, bem como várias análises e tar a rede, as bases
protótipos das fundações, pisos e da es- devem contribuir
trutura. Todo este esforço visou garantir o para evitar propa-
mínimo de propagação de vibrações aos gação de resso-
componentes do laboratório. A estrutura nâncias mecânicas
do prédio em concreto armado, o conjunto entre as estruturas
da cobertura e os sistemas elétricos e de do anel e o piso.
refrigeração foram projetados para minimi- Para o Proje-
zar ao máximo as deformações da ação do to Sirius, a equipe
vento e variações de temperatura. Todas de projeto optou
FIGURA 3
estas especificações e desenvolvimentos pela produção de Projeto Sirius – segmentos de imãs e apoio metálico
tecnológicos, sem precedentes na enge- bases de concreto sobre a base modelo CNPEM de concreto pré-
nharia nacional, foram realizados com a pré-fabricado, em fabricado de elevado módulo de elasticidade
equipe do próprio Sirius e empresas nacio- razão de sua ele- Fonte: CNPEM (2014)
nais (CNPEM, 2014). vada resistência

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módulo acima de
45 GPa (ENAMI, TABELA 1
2017), buscando Dosagem e características
do concreto para as bases
a otimização do
volume de pasta
para gerar o maior Insumos kg/m³
desempenho de Aglomerantes 483
módulo, a partir da Fração de filler e areias 684
abordagem concei- Agregados graúdos
1388
Brita 0 e Brita 1
tual desta em ser a
Teor de água
pasta o elemento ≤ 125
e Superplastificantes
de menor desem- Massa teórica (kg/m³) 2680
FIGURA 4 penho no tema Relação água/aglomerantes ≤ 0,25
Projeto das fôrmas metálicas para as bases (AÏTICIN, 2000). Teor volumétrico
Fonte: Próprio autor (2017)
Para obter es- 47,1%
de argamassa
ses parâmetros, Teor de ar aprisionado ≤ 0,5%
indústria brasileira, junto a uma empresa utilizou-se a técnica de empacotamento do Consistência: autoadensável Classe SF1
italiana com fábrica no Brasil, para con- método de Puntke para definir a fração de Fonte: Próprio autor (2017)

cepção de fôrma metálica (Figura 4). finos. Esse método consiste em uma sequ-
O principal aspecto de uma fôrma é ência experimental que otimiza a configu-
atender às necessidades de produção, se- ração de preenchimento de partículas finas DRIGUES & PEREIRA, 2019; ZAVICKIS et
jam elas: capacidade produtiva, produtivi- de diferentes diâmetros, ou seja, diminuin- al., 2020; GAUR, ATTRI & SHUKLA, 2017).
dade, precisão geométrica, aspecto estéti- do os vazios das composições de partícu- No projeto, foram realizados dezenas
co e até mesmo a versatilidade dimensional las de agregados miúdos. Com a variação de ensaios com diversos materiais finos
e geométrica. Neste projeto, o principal desta composição dos agregados miúdos elencados para determinar o melhor de-
desafio foi o de possibilitar o emprego de é possível avaliar qual a composição com sempenho quanto ao atendimento da re-
uma fôrma que pudesse garantir a produ- a menor demanda de água, refletindo o sistência, da trabalhabilidade, da disponibi-
ção de 3 vigas por dia, com uma exclusiva maior empacotamento (PORTELLA, RO- lidade regional e da viabilidade financeira.
tolerância dimensional, facilidade de uso e
emprego de vibradores fixos à fôrma.

2.2 Concreto e controle tecnológico

A premissa do projeto, apresentado


pela equipe do CNPEM (2014), era a de de-
senvolver o concreto pré-fabricado para as
bases com resistência à compressão acima
de 100 MPa e a condição de contorno prin-
cipal foi restrita ao módulo de elasticida-
de tangente inicial. Era desejável o maior
valor possível, objetivando inicialmente 60
GPa necessários para o amortecimento de
ondas (vibração) versus o ponto de res-
sonância, pois quanto maior o módulo de
elasticidade, mais alta a faixa de frequência
natural e o seu amortecimento (MEZZOMO
& MORAES, 2020).
Para atingir esses valores, optou-se por
desenvolver o traço para UHPC (Ultra High
Performance Concrete). O UHPC é um
compósito otimizado no seu empacota-
mento, podendo atingir resistências acima
de 150 MPa (ACI 239: 2018). Com relação FIGURA 5
água/cimento extremamente baixa, pôde- Aspecto do concreto autoadensável SF 1
-se obter um concreto livre de macropo- Fonte: Próprio autor (2017)
ros, o que possibilitou obter resultados de

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Como aglomerantes, foram emprega-
dos cimento CPV ARI, trivial na produção
dos elementos pré-fabricados e sílica ativa.
Para a fração de agregados graúdos, foi
avaliada e projetada a maior compacidade,
com fração de agregados miúdos e mate-
riais finos, empregando o Modelo de Funk
e Dinger. Definiu-se, então, o emprego de
diabásio da região de Campinas/SP, que
apresentam alto módulo de elasticidade,
para agregados britados: brita 1 e fíller. Para
a fração de areia britada e de pedrisco, foi
A
empregado rocha granítica da região de Ita-
tiba/SP, além de areia fina eólica natural de
quartzo da região de Anhembi/SP.
O objetivo inicial da dosagem empre-
gando os diferentes métodos foi obter
concreto com menor volume possível, vi-
sando o maior desempenho para o módu-
lo de elasticidade e no contraponto à sua
aplicação e adensamento para redução
dos vazios. Os dados da dosagem definida
a partir das sequências de desenvolvimen-
to são expostos na Tabela 1.
Com o emprego de superplastificantes à
B C
base de éteres policarboxilatos de alto poder
de dispersão, foi possível produzir as remes-
sas de concreto com espalhamento no limite FIGURA 6
superior da classe SF1 da ABNT NBR 15823-1 (a) Uso de balança rodoviária para determinação da massa das bases;
(2018), com bom aspecto, sem segregações (b) Posicionamento das peças para leitura; (c) Ensaio do módulo
ou exsudações, atendendo a classe IEV0 do flexional em execução
Índice de Estabilidade Visual indicada na re- Fonte: Próprio autor (2017)

ferida Norma Técnica, ressaltando a baixa


quantidade de pasta da mistura.
Ainda, o fator da escala de produção, cidade vibracio-
do ambiente de laboratório para a energia nal, determinado
de homogeneização do misturador planetá- em peças (bases)
rio, ao passo das diferentes sequências de amostradas de cada
produção do concreto (Figura 5) — sequên- lote das 126 bases
cia de entrada dos materiais com o controle (elementos) pela
do tempo de homogeneização, entre outros técnica de excita-
procedimentos — possibilitou que o teor ção por impulso da
efetivo de água, seguindo as especificações ASTM E1876 (2015),
da ABNT NBR 12655 (2022) ficasse igual ou pelos métodos dinâ-
menor que 100 litros por m³. mico longitudinal e
Os resultados do controle tecnológi- dinâmico flexional,
co atenderam às premissas da equipe do sendo que os resul-
CNPEM e, referem-se à média para idade tados foram 56,6
de 28 dias do controle tecnológico de pro- ± 0,74 GPa e 55,8
dução, para amostras submetidas à cura ± 1,32 GPa, respec-
úmida e retificadas, ensaiadas no laborató- tivamente. Para a
FIGURA 7
rio da fábrica da própria indústria que pro- determinação das
Ensaio dos corpos de prova para determinação
duziu as bases com resistência à compres- massas das bases, do módulo de elasticidade pelo método flexional
são de 123,1 MPa (ABNT NBR 5739: 2018). foi empregado ba- da ASTM E1876 (2015)
Em relação à caracterização mecânica, lança rodoviária da Fonte: Próprio autor (2017)
o alvo especificado foi o módulo de elasti- empresa — com

& Construções
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certificação INMETRO (Figura 6a, 6b e 6c),
sendo indicado então a média e desvio pa-
drão dos resultados a seguir.
O módulo de elasticidade também
foi determinado em corpos de prova dos
concretos dos lotes das bases amostra-
das pelo método flexional da ASTM E1876
(2015), apresentando como resultado valor FIGURA 9
igual a 56,4 ± 1,09 GPa (Figura 7). Preparo das fôrmas e locação dos gabaritos
Fonte: Próprio autor (2017)

2.3 Produção das fôrmas,


concretagem, desforma e cura

Para a liberação das fôrmas à produção,


as faces foram submetidas à leitura por laser
scanner para a validação e correção (quando
necessárias) do alinhamento e planicidade,
como demonstram as leituras da Figura 8.
No passo de produção sistêmica, mostra-
-se, na Figura 9, o preparo das fôrmas e loca-
ção dos insertos para, na sequência, realizar a
inspeção de geometria da forma das mesmas.
A inspeção inicial das fôrmas era re-
alizada através de esquadros metálicos e
trena a laser (Figura 10).
FIGURA 10
Após as inspeções e a liberação da con- Inspeção da geometria e dimensão das fôrmas
formidade das fôrmas, eram posicionadas Fonte: Próprio autor (2017)
as armações e reconferido o posicionamen-
to das alças de içamento (Figura 11).
Na sequência, o concreto era lançado
por caçamba e o adensamento feito com
os vibradores elétricos de imersão e os
pneumáticos de forma. Após a concreta-
gem, realizou-se o acabamento da face de
enchimento (Figura 12).
Após a idade de dois dias, eram reali-
zadas as desformas e os saques das peças
com auxílio de ponte rolante, sendo neces-

FIGURA 11
Posicionamento da armação

FIGURA 8
Exemplo das leituras por laser
scanner nas faces das fôrmas
ante a liberação para a produção
Fonte: Próprio autor (2017) FIGURA 12
Armadura posicionada e lançamento e adensamento do concreto
Fonte: Próprio autor (2017)

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sários cuidados especiais de proteção no
ponto de saque para não danificar as pe-
ças, utilizando-se de madeira e borrachas
para a movimentação (Figura 13).
O processo de cura foi realizado, ini-
cialmente, com manta geotêxtil úmida. Na
sequência, as bases eram armazenadas
em local protegido até a etapa de preparo
para embalagem e transporte (Figura 14). FIGURA 13
Desforma e detalhe de proteção de madeira e borracha para saque
2.4 Acabamento e validação Fonte: Próprio autor (2017)
tridimensional das bases

Após o saque e a cura das bases, estas


foram lixadas manualmente para limpeza
superficial com lixa d’água 220 e os chan-
fros também tratados. Todas as peças fo-
ram inspecionadas e validadas. Para as di-
mensões, realizou-se leitura tridimensional
a laser track, controle desenvolvido pela
indústria de pré-fabricados, para atender à
criticidade exigida pelo projeto (Figura 15).
As leituras realizadas mostram que os
requisitos dimensionais solicitados pelo
CNPEM, com tolerância máxima de 2 mm
FIGURA 14
em todas as dimensões, foram atendidos
Armazenamento das bases (à esquerda) e cabine de acabamento e
(Figura 16a e 16b).
aplicação de resina (à direita)
Além do controle e exposição por área,
Fonte: Próprio autor (2017)
a técnica empregada possibilitava a visu-
alização em pontos – tipo malha, e a sua
comparação aos limites (tolerâncias) di-
mensionais (Figura 17).
A Tabela 2 apresenta os desvios e valo-
res medidos para uma base. Para o controle
dimensional, utilizou-se malha retangular de
pontos do tipo 100 x 100 mm, em cada face.
Para minimizar o número de saltos (leituras),
foram utilizadas duas estações de laser tracker,
em no mínimo cinco pontos de referência.

2.5 Pintura de resina especial,


embalagem, transporte
e instalação

Como requisito, a equipe do CNPEM


solicitou pintura com resina especial, para
fixação das bases dos ímãs com empre-
go de adesivos (sem fixação mecânica),
FIGURA 15
necessários para redução do potencial
Conferência tridimensional das bases com aparelho de leitura 3D
Fonte: Próprio autor (2017)
de ressonância.
Outro requisito do CNPEM para o pro-
jeto foi que, para o transporte e a arma-
zenagem no canteiro de obras, as bases 3. CONCLUSÕES o atendimento aos requisitos solicitados.
deveriam estar embaladas e sobre pallets Os requisitos iniciais demandados pela O desafio deste projeto, que consistiu em
para melhor preservar a resina e a limpeza equipe do CNPEM para o projeto do LNLS desenvolver e produzir em ampla escala, com
da peça (Figura 18). Sirius envolviam o desenvolvimento das controle rigoroso, concreto com baixíssimo
A Figura 19 mostra as bases instaladas bases em concreto pré-fabricado, com re- teor de água e adequada coesão, foi superado
no laboratório e recebendo os equipamen- sistência à compressão acima de 100 MPa, com as análises de materiais disponíveis e de-
tos para montagem do conjunto de ele- módulo de elasticidade próximo a 60 GPa zenas de estudos experimentais. Adotou-se o
troímãs e demais equipamentos que com- e elevado controle dimensional. As rotinas emprego do Método de Puntke para o em-
põem o sistema. e ferramentas adotadas demonstraram pacotamento granular da mistura da fração

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A B

FIGURA 16
Coleta de pontos tipo malha em todas as faces; b) tabela de entidade geométrica dos pontos centrais das faces
Fonte: Próprio autor (2017)

de finos, resultando em significativa redução conforme pesquisas realizadas (PORTELLA, Inicialmente foi desenvolvida dosagem
da relação água/cimento que é uma carac- RODRIGUES & PEREIRA, 2019; ZAVICKIS para obter UHPC, no entanto, a resistência
terística de concretos de alto desempenho, et al., 2020; GAUR, ATTRI & SHUKLA, 2017). à compressão não foi superior a 150 MPa,
requisito mínimo de acordo com o ACI
239:2018 (Enami, 2017; AÏTICIN, 2000),
obtendo valor médio aos 28 dias igual a
123 MPa em razão da baixa quantidade de
pasta adotada para maximizar o módulo de
elasticidade. Enfatiza-se, entretanto, que o
requisito do projeto de resistência à com-
pressão acima de 100 MPa foi cumprido.
Ponto referencial para o projeto foi a
possibilidade de determinar o módulo de
elasticidade pelo método pulsônico direta-
mente nas peças em produção seguindo as
especificações da ASTM E1876:2015, com
valor médio obtido de 56,6±0,74 GPa, com-
provando que essa determinação pela exci-
tação vibracional é a mais assertiva quanto
FIGURA 17 à faixa de ressonância do elemento concre-
Coleta de pontos tipo malha to, segundo Mezzomo & Moraes (2020).
Fonte: Próprio autor (2017) Em relação às validações dimensionais,
a aplicação da técnica de escaneamento
por laser track em todas as faces das fôr-
mas, previamente à concretagem e pos-
teriormente em todas as bases, permitiu
avaliar as medidas e demonstrar atendi-
mento às exigências de tolerância mínima
de 2 mm para planicidade, paralelismo e
perpendicularismo, feito este até então
desconhecido para a engenharia nacional
de pré-fabricados de concreto.
Importante salientar que a necessidade
desta verificação dimensional é incomum
na pré-fabricação atual e demandou uso
FIGURA 18 de tecnologia e equipamentos de medição
Bases embaladas com lona de alta gramatura e transporte comum à indústria automobilística e aero-
paletizado individual náutica. Com os resultados obtidos, o de-
Fonte: Próprio autor (2017) senvolvimento deste projeto demonstrou a
capacidade de se alcançar nível inédito de

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FIGURA 19
Bases instaladas no laboratório Sirius para montagem do conjunto de eletroímãs
Fonte: Próprio autor (2017)

qualidade e precisão em elementos pré-fa-


bricados, gerando assim uma oportunida- TABELA 2
de de se obter novo patamar de inovação Validação dimensional de uma base, adaptada do relatório de leitura
tecnológica e produtos especiais dentro da
indústria da construção civil. Descrição da
Especificação Medido Desvio
cota dimensionada
AGRADECIMENTOS 1 – Planicidade Plano Datum A 2,000 0,698 0,698
Agradecimentos aos fornecedores 2 – Perpendicularidade 2,000 1,468 1,468
MC BAUCHEMIE, aos Engenheiros Rena- 3 – Planicidade 2,000 1,664 1,664
to Lopes (in memoriam), José Emanuel
4 – Paralelismo 2,000 1,385 1,385
e Doutor Holger Schmidt, pelo apoio no
Fonte: Próprio autor (2017)
desenvolvimento dos traços de concreto.
Agradecimentos a Bianchi Formas, pelo
desenvolvimento das fôrmas utilizadas no Agradecimentos aos diretores da Leonar- Alberto Gennari, pelo apoio e incentivos nas
projeto e à ATCP Engenharia Física pelos di, Eng. João Carlos Leonardi e Eng. Carlos pesquisas e recursos aplicados no projeto.
ensaios tecnológicos realizados.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] AÏTICIN, P. C.. Concreto de Alto Desempenho. Editora PINI. São Paulo, SP. 2000.
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[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739: Concreto – Ensaio de compressão de corpos de prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2018.
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fresco. Rio de Janeiro, 2017.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12655: Concreto de cimento Portland – Preparo, controle, recebimento e aceitação –
Procedimento.
[7] BRUM, J. A.; MENEGHINI, R.. O Laboratório Nacional de Luiz Síncrotron. São Paulo em Perspectiva. SciELO – Scientific Eletronic Library Online. São
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[9] ENAMI, R. M.. Reforço de pilares curtos de concreto armado com concreto de Ultra Alto Desempenho. Tese de doutorado. Escola de Engenharia de
São Carlos – EESC/USP, 2017.
[10] GAUR, T.; ATTRI, R. & SHUKLA, A.. Optimization of Binary Mixes for Ultra High Strength Concrete by Puntke Method. JAYPEE UNIVERSITY OF
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[10] GERAISSATE, H.; ROVIGATTI, G.; LEÃO, R.. Establishing a metrological reference network for the alignment of Sirius. In: 12th International Particle
Accelerator Conference. Campinas/SP. Brazil, 2021.
[12] MEZZOMO, M. H.; MORAES, A. G.. Determinação do módulo de elasticidade em aços e alumínio através da frequência natural comparado ao ensaio
de tração. Revista Matéria. Rio de Janeiro, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1517-707620200002.1035 . Acesso em: 16 julho 2023.
[13] PORTELLA, A. C.; RODRIGUES, F.; PEREIRA, R. L.. Avaliação do Método de Punkte para Produção de Concreto de Pós-Reativos. Monografia.
Graduação em Engenharia Civil, Campus São José – UNISAL. Campinas/SP, 2019.
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Performance Concrete. In: 19th International Scientific Conference Engineering for Rural Development Proceedings. Jelgava, 2020.

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DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.112.0002

A pré-fabricação no projeto
da UERJ: o papel das redes de
socialização na implementação
de um processo construtivo
MONICA AGUIAR – Profª. Drª. – https://orcid.org/0000-0003-1205-2740 (monicaaguiar@puc-rio.br) | PUC-Rio

RESUMO um tema recorrente no período analisado, tan- to histórico dos debates em redes de

P
o r meio da análise do debate veiculado to no meio técnico brasileiro quanto internacio- socialização no mundo da construção,
em revistas especializadas, esse artigo nal. Mais do que a potência da técnica inerente particularmente quanto à implementa-
procura situar a pré-fabricação no con- à pré-fabricação propriamente dita, enfatiza-se ção dos sistemas de pré-fabricação em
texto de interconexão das ideias que permearam aqui sua vinculação a um determinado contexto concreto no Brasil. Como desdobramen-
as discussões técnicas no Brasil a partir da histórico e socioeconômico, que se mostra cla- to desses debates, apresenta aspectos
década de 1960, sob o impacto da inauguração ramente articulado em redes de socialização no do projeto do Pavilhão João Lyra Filho
de Brasília. Abordando as discussões sobre o mundo da construção. construído no campus da UERJ, Univer-
concreto e a pré-fabricação durante as déca- sidade do Estado do Rio de Janeiro.
das de 1960-70 – e trazendo como um dos exem- Palavras-chave: pré - fabricação , concreto , Revistas especializadas cumprem
plos de seu desdobramento o projeto do cam- redes de socialização , revistas especializa - papel fundamental nas redes de sociali-
pus da UERJ, Universidade do Estado do Rio das , UERJ. zação e é sabido que, a partir da década
de Janeiro, elaborado pelos arquitetos Flávio de 1960, o desenvolvimento tecnológico
Marinho Rego e Luiz Paulo Conde – é possível 1. INTRODUÇÃO possibilitou um significativo aumento na
perceber que a pré-fabricação em concreto foi Esse artigo busca situar o contex- sua velocidade de circulação. Em 1966,
na edição nº 09 da revista Progressive
Architecture, C. Ray Smith constatava:
E distâncias no mundo da arqui-
tetura estão encolhendo muito
rapidamente — talvez tão rapi-
damente porque a circulação
de revistas carrega descober-
tas estruturantes para novas
áreas e leva o mundo do estilo
a uma noção demasiadamen-
te rápida de conscientização
(SMITH, 1966).
As tais “descobertas estruturantes”
desdobraram-se internacionalmente em
artigos, projetos e até na publicidade,
evidenciando a interconexão de ideias
em circulação.
Em parte da pesquisa realizada pela
autora para a tese de doutorado Arqui-
tetura Carioca nas décadas de 1960-70:
Articulações em redes de socialização,
FIGURA 1 foram analisadas 15 revistas especializa-
À esquerda: Progressive Architecture, n. 10, out., 1960 - Capa;
das, em circulação no Brasil nessas duas
à direita: Progressive Architecture, n. 10, out., 1966 - Capa
Fonte: Acervo Pontual Arquitetura
déadas, sendo 5 revistas brasileiras —
Módulo, Arquitetura IAB, CJ Arquitetura,

50 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


ção – foi resultado da intensificação de
pesquisas que buscavam a rápida re-
construção das cidades. Alguns países,
como a França e a Inglaterra, protagoni-
zaram esse debate técnico.
O termo debate, nesse artigo, signi-
fica o campo de troca e veiculação de
ideias que se dá no âmbito social, em
redes de articulação do conhecimento.
Nesse sentido, é possível afirmar o po-
tencial de difusão existente nas revistas
em circulação, formando uma rede de
socialização internacional e cosmopoli-
ta, com penetração no Brasil. As ideias
postas à prova como pretensões de va-
lidade criticáveis em um debate públi-
co, compartilhadas intersubjetivamente,
conformam o substrato do “mundo da
vida” onde se dá o “agir comunicativo”
(HABERMAS, 2012). A possibilidade do
FIGURA 2 exercício da crítica no âmbito da formu-
Progressive Architecture, n. 10, out., 1960. À esquerda, Índice. À direita, lação e compartilhamento das ideias é o
página inicial da sequência de artigos
que reelabora o pensamento.
Fonte: Acervo Pontual Arquitetura
No mundo da construção nas dé-
cadas de 1960-70, tratava-se de ideias
Habitat e Acrópole – e 10 revistas estrangei- velocidade da construção proveniente vinculadas à utilização do concreto em
ras — Arts & Architecture (EUA), Progres- da otimização do projeto considerado sistemas de pré-fabricação que, de um
sive Architecture (EUA), L’Architecture em sua totalidade – da concepção arqui- modo intenso, foram publicadas em inú-
d’Aujourd’hui (França), Bauen+Wohnen tetônica específica para a viabilização meras revistas e debatidas, publicamen-
(Suíça), Architectural Review (Inglater- do processo até a montagem e finaliza- te, em vários países, inclusive no Brasil.
ra), Architectural Record (EUA), Domus
(Itália), AC Revue Internationale d’amiante-
-ciment (Suíça), Techniques & Architec-
ture (França) e Casabella (Itália) — tota-
lizando 1726 exemplares (AGUIAR, 2023).
A pesquisa constatou intenso debate so-
bre temas ligados à construção, dentre
eles o protagonismo do concreto como
material estrutural e de expressão arqui-
tetônica, e os sistemas de pré-fabricação
em concreto, que são de especial relevân-
cia para esse artigo.

2. O CONCRETO E A
PRÉ-FABRICAÇÃO NAS
DÉCADAS DE 1960-70

Apesar de sistemas de pré-fabrica-


ção em concreto serem conhecidos des-
de o início do século XX, a destruição em
massa pós-Segunda Guerra Mundial foi
o que, de fato, deflagrou o que passou
FIGURA 3
a ser conhecido como heavy prefabri- Progressive Architecture, n. 10, out., 1966. À esquerda, imagem da obra.
cation. Em inúmeros países da Europa, À direita, detalhes do projeto
a pré-fabricação ganhou força devido à Fonte: Acervo Pontual Arquitetura
possibilidade intrínseca ao processo. A

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 51
De um modo geral, a partir da década de
QUADRO 1 1960 o concreto protagonizou o deba-
Pré-fabricação | industrialização da construção — recorrência temática te técnico. O material aparece com fre-
quência nas publicações, sendo que há
Tema Revista País Ano Número edições exclusivamente a ele dedicadas,
Casabella Itália 1960 241 como as de nº 10 de 1960 e nº 10 de 1966
Techniques & Architecture França 1960 5 Julho da Progressive Architecture (Figura 1).
Techniques & Architecture França 1961 5 Junho No nº 10 de 1960, os editores descre-
Casabella Itália 1962 263 vem o tema escolhido, Concrete Tech-
Architectural Review Inglaterra 1963 795 nology in U.S.A., como “uma declaração
Architectural Record Eua 1965 3 bem documentada sobre a crescente im-
Casabella Itália 1965 298 portância do concreto utilizado como um
Casabella Itália 1965 299 material arquitetônico”. Após o prefácio
Casabella Itália 1966 301 de Ada Louise Huxtable sobre a história
Casabella Itália 1966 303 do material, seguem-se textos abordan-
Pré-fabricação | Casabella Itália 1966 304 do o potencial expressivo do concreto
Industrialização
da construção
Casabella Itália 1966 305 in natura e as técnicas de moldagem
Casabella Itália 1966 310 in loco e de pré-fabricação. Há também um
Arts & Architecture Eua 1966 4 artigo escrito por August E. Komendant,
Bauen+Wohnen Suíça 1966 11 sobre as possibilidades de crescimento fu-
Casabella Itália 1967 318 turo da pré-fabricação (Figura 2).
Techniques & Architecture França 1969 1 Outubro No nº 10 de 1966, entre outros, é pu-
L’architecture D’aujourd’hui França 1970 148 blicado o projeto Habitat ‘67, construído
Techniques & Architecture França 1970 4 Outubro em Montreal. Empreendimento compos-
Domus Itália 1976 557 to por 158 casas pré-fabricadas como
Domus Itália 1976 558 caixas, que é exemplo relevante do de-
Domus Itália 1976 559 bate sobre pré-fabricação no período
Domus Itália 1976 560 em questão (Figura 3).
Fonte: Aguiar (2023) No conjunto de revistas pesquisadas,
o concreto surge em temas que vão da
sua utilização na expressão arquitetô-
nica até a aplicação nos processos de
pré-fabricação de painéis de vedação e
painéis estruturais. Arquitetonicamente,
aborda-se a integração forma-estrutura
e as possibilidades expressivas de trata-
mento das superfícies moldadas in loco,
por jateamento, frisagem, apicoamento
e impressão de fôrmas de madeira. Es-
truturalmente, são analisadas as meto-
dologias dos processos de moldagem in
loco e de pré-fabricação.
Dentre muitos exemplos, pode-
-se citar as edições nº 04 de 1965 de
Progressive Architecture, nº 816 de 1965
de Architectural Review, nº 11 de 1966
de Bauen+Wohnen, nº 06 de 1970 de
Techniques & Architecture e nº 02 de 1978
de Progressive Architecture. O concreto,
e suas possibilidades expressivas, vinha
sendo empregado in natura, em todos os
FIGURA 4
continentes e ocupou, simultaneamente,
UERJ. Vista aérea com setorização da autora. Legenda: 1 – Pavilhão Haroldo
Lisboa da Cunha, 2 – Pavilhão João Lyra Filho – Conjunto Escolar, as páginas das revistas nacionais e inter-
3 – Auditório/Concha Acústica, 4 – Capela Ecumênica, 5 – Ginásio/DA/Cultural nacionais em circulação. Quanto à pré-
Fonte: Google Maps. Disponível em: https://maps.google.com -fabricação, muitas foram as revistas que
trataram do tema. A inglesa Architectural

A revista não consta do Quadro 1 por se tratar de produção com interesses comerciais de venda exclusiva
1

52 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


de produtos da marca ETERNIT.
Review contribuiu intensamente para as
discussões sobre a reconstrução no pós-
-guerra, publicando projetos e artigos so-
bre a necessidade da industrialização da
construção e da pré-fabricação. A italiana
Casabella dedicou várias edições a esses
temas. No Brasil, já em 1960, o assunto foi
tratado pela revista Arquitetura, do IAB
(Instituto dos Arquitetos do Brasil), com-
provando a contemporaneidade do de-
bate nacional, em conexão com o debate
internacional.
No recorte analisado, a pesquisa de-
monstrou ser evidente que, entre outros FIGURA 5
temas, o mundo da construção se articu- UERJ. Conjunto Escolar, Pavilhão João Lyra Filho. Planta baixa pavimentos
lava em torno da pré-fabricação. Nesse tipo (2,4,6,8,10 e 12)
período, as construções de grandes con- Fonte: Acervo UERJ, Prefeitura dos Campi

juntos habitacionais, submetidas à veloci-


dade requerida para sua execução pelos de construção e nos escritórios de Pro- quitetura, para o qual foram convidados
programas sociais, demandaram novas jeto, também no Brasil. É natural que os arquitetos de diferentes regiões do Bra-
soluções. Contingência que, associada desdobramentos desse debate se mate- sil. No que tange à pré-fabricação, chama
ao desenvolvimento do cimento amianto, rializassem no patrimônio construído. atenção a resposta de Flávio Marinho Rego
mais tarde substituído pelo fibrocimento, à primeira pergunta: “A par de sua expres-
ajudou a alavancar os processos de pré- 3. O PROJETO DA UERJ: são formal, teve a arquitetura contem-
-fabricação em concreto. A recorrência DESDOBRAMENTOS DE UM DEBATE porânea brasileira um desenvolvimento
do tema nas publicações analisadas pode Em 1961, após a inauguração de Brasí- equivalente nas investigações das demais
ser observada no Quadro 1. lia, instaurou-se no mundo da arquitetura componentes arquitetônicas – soluções
Uma revista em particular, a Ac Re- brasileira um debate público, que buscava funcionais, estruturais e construtivas?”.
vue Internationale d’amiante-ciment, fre- discutir os novos rumos da Arquitetura Devemos, ou sequer podemos
quentou intensamente os escritórios de Moderna. Promovido pelo Jornal do Brasil, continuar na mesma linha, agora
projeto brasileiros. Escrita em alemão, circulou ao longo de várias semanas como que já nos afirmamos suficien-
francês e inglês, tinha interesses comer- respostas ao 1º Inquérito Nacional de Ar- temente, que já temos os olhos
ciais direcionados ao consume de telhas
e painéis pré-fabricados. Quando distri-
buída em países de língua portuguesa,
recebia um encarte com a tradução dos
textos. Apesar de na capa constar o pre-
ço de venda em três moedas – dólar, li-
bra esterlina e francos suíços – no Brasil
trazia um carimbo de proibição de venda,
indicando distribuição gratuita, cumprin-
do os objetivos de divulgação e venda
dos produtos ETERNIT. Publicava deta-
lhes construtivos de projetos, o que de-
monstra sua intenção educacional com
fins comerciais, pela transmissão de um
conhecimento específico ligado ao ma-
terial e aos processos de pré-fabricação1.
A industrialização da construção e
os processos de pré-fabricação foram
temas que mobilizaram um debate si-
multâneo no mundo da construção, em
FIGURA 6
vários países com diferentes estágios de UERJ. Conjunto Escolar, Pavilhão João Lyra Filho. Planta de fôrmas do
desenvolvimento, sendo abordado pelas 2º ao 12º Tetos, Blocos F, G e F’, G’
revistas nacionais e internacionais em cir- Fonte: Acervo UERJ, Prefeitura dos Campi
culação nas universidades, nas empresas

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 53
FIGURA 8
FIGURA 7 À esquerda: A. Quincey Jones & Frederick Emmons,
UERJ. Reticulado modular espacial de referência IBM Branch Office, Arligton, Virginia
Fonte: Diário de Rio. Disponível em: https://diariodorio.com/historia-da-uerj/ Fonte: Architectural Record, n. 01, 1966. Acervo Pontual Arquitetura
À direita: Smith, Hinchman & Grylls Associates, Three
Buildings for Industrial Research, Ann Arbor, Michigan
abertos? Não teremos já atravessa- sido impres- Fonte: Architectural Record, n. 10, 1966. Acervo Pontual Arquitetura
do, ou esgotado o ciclo de afirmação cindível que
apenas plástica? Podemos continuar o ciclo de
Em 1968, ao ganharem o concurso para
a caçar apenas a beleza, em detri- afirmação formal da Arquitetura
elaboração do projeto do campus da
mento do homem que habita? Não Brasileira se completasse em Brasília.
Universidade do Estado da Guanabara
estaremos já liberados para uma (REGO, 1961).
(UEG), atual Universidade do Estado
pesquisa mais ampla, agora que a A resposta de Rego apontava no-
do Rio de Janeiro (UERJ), Rego e seu
nossa industrialização completando-
vos rumos na busca por um diálogo
sócio, Luiz Paulo Conde, materializa-
-se nos permitirá uma utilização téc-
com a industrialização da construção,
ram esses rumos.
nica e construtiva com possibilida-
em uma direção oposta ao que a arqui-
O terreno, situado próximo ao Está-
des mais variadas? [...] Talvez tenha
tetura autoral de Brasília comunicava.
dio do Maracanã, estava ocupado pela
Favela do Esqueleto, conjunto compos-
to por casas de alvenaria, de madeira,
por espaços construídos dentro da es-
trutura de concreto existente no terre-
no e por barracos apoiados em palafitas
sobre o Rio dos Cachorros. O esqueleto
era uma estrutura de concreto abando-
nada desde 1930, originalmente desti-
nada à construção do Hospital-Escola
da Universidade do Brasil. A proposta
para a construção do campus envolvia
a polêmica remoção da favela e a de-
molição do esqueleto. Após a remoção
da população, a demolição das residên-
cias e a inspeção da estrutura de con-
creto existente, optou-se por sua ma-
nutenção seguida por um processo de
recuperação e reforço, transformando
o esqueleto no Pavilhão Haroldo Lisboa
da Cunha.
O projeto para os novos edifícios do
FIGURA 9 campus concentrava os cursos da uni-
UERJ. Desenho de detalhe de painel pré-moldado de fachada
Fonte: Acervo UERJ. Prefeitura dos Campi
versidade em um único prédio. Segun-
do Rego, essa solução “parecia mais

54 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


racional e acrescentava monumentalida-
de ao projeto, com o Pavilhão João Lyra
Filho, de doze andares, se destacando
na paisagem” (REGO, apud REZNIK,
2019). Em 1969 foi assinado o contrato
e a obra coube à construtora Norberto
Odebrecht S/A, com projeto estrutural
dos engenheiros Oliveira Góes e Luiz
Bustamante. Com área construída de
120.000 m², o campus foi inaugurado em
1976, quando os Estados da Guanabara e
do Rio de Janeiro já haviam passado por
um processo de fusão, e a universida- FIGURA 10
de foi renomeada para Universidade do UERJ. À esquerda: UERJ, painéis de fachada
Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Para Fonte: Acervo da autora
efeitos desse artigo, o recorte analítico À direita, ampliação do desenho de detalhe de painel pré-moldado de fachada
será o edifício do Pavilhão João Lyra Fi- Fonte: Acervo UERJ. Prefeitura dos Campi

lho (Figuras 4 e 5).


Nesse projeto, as estratégias de
entre tais projetos e o projeto da UERJ, da se deu no próprio canteiro de obras,
racionalização e coordenação modu-
evidenciando a circulação de ideias nas segundo detalhamento fornecido nos
lar dão origem ao sistema estrutural
redes de socialização (Figuras 8, 9 e 10). projetos de arquitetura e estrutura
portante moldado in loco, que intera-
A fabricação dos painéis de facha- (Figura 11).
ge com os sistemas de vedações, de
instalações prediais e com o proces-
so construtivo. Na ocasião, a estrutura
portante já conformava um reticulado
modular espacial de referência avant
la lettre, de acordo com o que hoje se
conhece como os princípios fundamen-
tais de coordenação modular (GREVEN;
BALDAUF, 2007). Essa estratégia deu
origem ao posicionamento dos pi-
lares em solução estrutural simples,
com vão regulares e repetidos, além
de possibilitar a modulação dos pai-
néis de vedação pré-fabricados das
fachadas. Os vãos médios de 6,00
m permitiram a adoção de lajes de
12 cm de espessura e vigas de 62 cm de
altura. Nos trechos onde, eventualmen-
te, a modulação é duplicada para aten-
der a programas específicos, a solução
de grelhas é adotada, mantendo-se as
alturas das vigas. A resistência à com-
pressão do concreto foi especificada em
140 Kgf/cm² (Figuras 6 e 7).
As configurações dos painéis pré-
-fabricados de concreto aplicados nas
fachadas variam conforme o tipo e fun-
ção de cada painel, sendo alguns com
janelas e outros sem. Essa estratégia
projetual estava em total sintonia com a
FIGURA 11
arquitetura internacional e isso se pode UERJ. Conjunto Escolar. Concretagem e estocagem de elemento pré-moldado
constatar pela quantidade de projetos no canteiro de obras, durante a construção entre 1969 e 1976
publicados nas revistas em circulação. Fonte: Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=4czvMkrkWrU
É notória a semelhança de estratégias

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 55
Mesmo que nesse projeto o proces- dessa forma que, em 1976, a maior obra ticulado modular espacial de referência,
so de pré-fabricação tenha sido espe- em concreto aparente da América Lati- passando pela escolha do concreto apa-
cífico para uma demanda e, portanto, na materializou-se como fruto da tena- rente como material predominante, por
desvinculado do que se entende como cidade de arquitetos e engenheiros em seu processo construtivo e pela materia-
industrialização da construção como sintonia com sua contemporaneidade e lidade daí advinda, surge uma estrutura
um todo – até porque o parque indus- com os debates realizados nas redes de holística que transformou o que Flávio
trial brasileiro naquele momento não se socialização do mundo da construção Marinho Rego e Luiz Paulo Conde proje-
encontrava no mesmo estágio dos EUA (Figura 12). taram em ícone da arquitetura brutalista
ou de países da Europa – o que merece das décadas de 1960-70 no Rio de Janei-
atenção é a proposta nele contida. Tra- 4. CONCLUSÕES ro. Projeto em sintonia com sua contem-
ta-se de mudança de mentalidade em A técnica não existe isolada de um poraneidade e com características cos-
um período de transformações culturais. contexto histórico. O projeto do novo mopolitas em diálogo com a arquitetura
Mesmo que a industrialização no Brasil, campus da UERJ teve início em 1968, internacional. Nesse sentido, o que esse
na década de 1960, não estivesse pre- com inauguração em 1976. Desde en- artigo procura demonstrar é que o cam-
parada para atender a essa demanda e a tão, os edifícios servem à universidade po do conhecimento é fruto de articu-
cultura arquitetônica e construtiva ainda com suas características originais, con- lações em redes que envolvem diversas
privilegiasse processos semi-industriali- figurando um patrimônio edificado de disciplinas e personagens em um dado
zados e até mesmo artesanais da cons- grande impacto na paisagem do Rio de momento no curso da história.
trução, a semente havia sido plantada Janeiro. No Pavilhão João Lyra Filho a A pré-fabricação no Brasil não é
e daria frutos nos anos vindouros. Foi legibilidade do sistema estrutural mol- resultado apenas do fortalecimento de
dado in loco em seu parque industrial. Trata-se de uma
diálogo com os metodologia que, em seu desenvolvi-
painéis pré-fabri- mento, contou com o brilhantismo do
cados de veda- meio técnico brasileiro, mas também
ções evidencia está vinculada ao movimento europeu
um momento na de reconstrução no pós-Segunda Guer-
história da cons- ra Mundial, às discussões sobre a Arqui-
trução no Brasil, tetura Moderna e os novos rumos que
em conexão com foram propostos após a inauguração
o debate inter- de Brasília, bem como à veiculação das
nacional. É quase ideias publicadas em revistas nacionais
impossível pensar e internacionais especializadas que cir-
esse projeto sem culavam nos meios técnico e acadêmico
compreender que, no país. Deve-se também, sobretudo, à
ali, tudo é estru- tenacidade do meio técnico brasilei-
tura. Da concep- ro que, mesmo na adversidade de um
FIGURA 12 ção dos espaços processo de industrialização ainda em
UERJ, Pavilhão João Lyra Filho. Conjunto Escolar vinculados à es- desenvolvimento, insistiu na busca por
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_do_Estado_do_Rio_de_Janeiro#/media/
Ficheiro:Predio-Uerj.jpg trutura portante melhorias e novas soluções no campo
a partir de um re- da construção.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] AGUIAR, M. Arquitetura Carioca nas décadas de 1960-70: Articulações em redes de socialização. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, 2023. Tese de Doutorado.
[2] GOOGLE, INC. Google Maps. Disponível em: <https://maps.google.com>.
[3] GREVEN, H.; BALDAUF, A. Introdução à coordenação modular da construção no Brasil: Uma abordagem atualizada. Porto Alegre: ANTAC, 2007.
[4] HABERMAS, J. Teoria do Agir Comunicativo. 1: Racionalidade da ação e racionalização social. São Paulo: Martins Fontes, 2012, 40,141,228.
[5] HABERMAS, J. Teoria do Agir Comunicativo. 2: Sobre a crítica da razão funcionalista. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012, 225, 228,721.
[6] REGO, F. M. Respostas ao Inquérito Nacional de Arquitetura. In: JORNAL DO BRASIL. Inquérito Nacional de Arquitetura. Janeiro a março de 1961.
Biblioteca Nacional, Hemeroteca Digital. Disponível em: <http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=030015—08&pasta=ano%20
196&pesq=Inqu%C3%A9rito%20Nacional%20de%20Arquitetura&pagfis=14763>.
[7] REZNIK, L. et al. 70 anos UERJ: 1950|2020. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2019. Disponível em:<https://www.uerj.br/wp-content/uploads/2019/12/
Book-UERJ-70-anos.pdf>.
[8] SMITH, C. R. In South America: After Corbu, what´s happening? Progressive Architecture. New York, Ed. 09, September, p. 140-161, 1966.

56 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


Obras Emblemáticas
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.112.0003

Primeiro campus no Brasil da WPP:


edificação sustentável na esfera
da transformação criativa
DANIELA GUTSTEIN – Drª. Profª. – https://orcid.org/0009-0009-7519-9177 (danielag@utfpr.edu.br) | UTFPR
LARISSA QUEIROZ HENZ – Eng. | Cassol Pré-fabricados
LUIS ANDRÉ TOMAZONI – Dir. | Cassol Pré-fabricados/ABCIC

RESUMO

O
emprego de sistemas estruturais de
concreto pré-fabricado tem sido cada
vez maior nos empreendimentos onde a
rapidez construtiva, qualidade e racionaliza-
ção dos processos são premissas principais. A
obra do primeiro Campus no Brasil da WPP
concilia um projeto de arquitetura com siste-
mas construtivos e estruturais pré-fabricados
em concreto, aliados às necessidades de sus-
tentabilidade e de inovações funcionais e esté-
ticas idealizados pelos projetistas e proprietá-
FIGURA 1
rio. Este artigo tem como objetivo apresentar
Edifício Campus WPP — Perspectiva de projeto da obra acabada em sistema
as principais características do empreendimen-
pré-fabricado
to, bem como os principais desafios soluciona- Fonte: www.wpp.com
dos durante as fases da obra, com a finalidade
de atender aos requisitos de segurança e ar-
quitetura. Também são apresentados a solução “A transformação criativa é alimentada por vêm evoluindo, utilizando-se também de
de fachadas arquitetônicas em painéis pré-fa- ideias que nascem de um poderoso senso inovações tecnológicas em ferramentas
bricados e os usos do BIM durante as fases da de propósito e são executadas de forma computacionais de projeto e evoluções
obra. Dentre outras conclusões, evidencia-se massivamente disruptiva”. normativas. Segundo as autoras, isso vem
ao final do trabalho a aplicabilidade de sis- Segundo Sugahara e Lacourarie (2022), ocorrendo de forma mais acentuada nes-
temas construtivos pré-fabricados em concep- o projeto deste Campus foi lançado com ta última década no Brasil, promovendo a
ções estruturais de grande versatilidade, fun- uma competição aberta para criar um es- evolução das ferramentas computacionais
cionalidade e apelo arquitetônico. paço de trabalho verdadeiramente inédito e sua utilização na integração com os de-
para a cidade. Com área total construída de mais sistemas dentro da metodologia em
Palavras-chave: estrutura pré-fabricada, 68.731 m², o projeto de arquitetura foi ide- BIM, propiciando antecipação de interfaces
BIM, painel, painel arquitetônico, construção alizado com cinco pavimentos, conectados com outras áreas, para todas as etapas,
industrializada. por passarelas e escadas, envolvendo gran- fundamentais para garantir o sucesso de
des áreas e galerias de acesso às áreas ex- cada projeto.
1. INTRODUÇÃO ternas e espaços de trabalho colaborativos. É nesse contexto que a obra do Cam-
O projeto de arquitetura do primeiro Segundo Doniak e Gutstein (2022), o pus WPP se insere, pois compreende um
Campus do Brasil da WPP, em São Paulo, paradigma no qual a utilização de sistemas estudo de caso relevante de concepção
pertencente a uma das maiores empresas construtivos pré-fabricados estaria asso- arquitetônica diferenciada e viabilizada em
de publicidade do mundo, utilizou concei- ciado a obras com pouca liberdade arqui- estrutura pré-fabricada, bem como de uti-
tos para atingir objetivos de maior susten- tetônica foi quebrado no Brasil no final da lização de novas tecnologias de pré-cons-
tabilidade e funcionalidade, materializados década de 1990 com a introdução de no- trução e de modelagem BIM.
com o emprego de sistemas de concreto vas concepções arquitetônicas e inovações Este artigo tem como objetivo apre-
pré-fabricados. Segundo Rob Reilly, Dire- tecnológicas. Desde então, as aplicações sentar as principais características, ino-
tor Executivo Global de Criação da WPP, em soluções arquitetônicas diferenciadas vações e etapas de projeto e construção

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 57
A B

FIGURA 2
(a) Peças de teste inicial confeccionadas em fábrica para aprovação do acabamento texturizado pela arquitetura e (b)
peças de teste de maiores dimensões

deste empreendimento, dando maior ênfa- e fase final de vida útil, atendendo demais nômica proporcionou a seleção da solução
se nos desafios solucionados pela constru- recomendações normativas e critérios de construtiva e estrutural pré-fabricada em
ção pré-fabricada durante as fases da obra, projetos usuais (conforme indicado em concreto, levando-se em consideração o
de forma a atender à arquitetura e ao clien- IBRACON, 2022). conjunto de vários aspectos de engenharia
te. São discutidos ao longo do trabalho as aliados aos princípios de sustentabilidade
características de projeto e produção dos 2.1 Viabilidade técnica-econômica e inovação idealizados pelos projetistas
painéis arquitetônicos de concreto arma- e proprietários. Os sistemas construtivos
do, dos pilares e vigas paramétricos mode- Segundo Barth e Vefago (2007), como pré-fabricados foram assim adotados por
lados em ambiente BIM, plano de ataque e principais vantagens de utilização de ele- permitirem maior agilidade construtiva,
metodologia de controle da obra em BIM mentos pré-fabricados nas fachadas de aliada à qualidade e racionalidade, além de
4D, dentre outros. edificações, destacam-se: a possibilidade garantir o planejamento inicialmente traça-
de redução significativa dos prazos de do, os custos orçados na ocasião da con-
2. ESTRUTURA PRÉ-FABRICADA execução e da obtenção de fachadas com tratação da estrutura e atendimento aos
O projeto da superestrutura do Cam- grande complexidade formal, que através prazos pactuados entre as partes.
pus WPP foi idealizado pela arquitetura dos meios convencionais seriam de difí-
com elementos compondo a estrutura se cil execução e exigiriam mão de obra es- 2.2 Pré-construção
integrando perfeitamente à arquitetura pecializada. Para viabilizar a solução de
(Figura 1). Foram utilizados na concepção fachada requerida pela arquitetura foram As vigas, pilares, painéis e lajes alveola-
elementos lineares pré-fabricados (vigas selecionados detalhes construtivos com a res foram produzidos na fábrica da Cassol
e pilares), elementos bidimensionais pré- utilização de pila-
-fabricados na fachada (painéis arquitetô- res acoplados nos
nicos em concreto armado) e no sistema painéis de fachada,
de pisos dos pavimentos. Os sistemas de pilares do sistema
pisos foram compostos por lajes alveolares reticulado com se-
pré-fabricadas protendidas e capa estrutu- ção transversal em
ral executada na obra. As lajes alveolares cruz, vigas com se-
foram projetadas de forma a vencer vãos ções variáveis para
de até 11m, resistir aos carregamentos nas promover a ligação
fases transitórias de produção à monta- entre os demais
gem por meio de sua seção transversal e elementos (lajes e
resistir aos carregamentos de vida útil com painéis), além de
a seção transversal final composta (laje diversos disposi-
alveolar + capa estrutural). As vigas, em tivos de fixação e
FIGURA 3
sua maioria com vãos de até 11m (exceto ligações entre es-
Esquema de aceitação e confecção dos mock-ups empena,
as vigas das rampas de estacionamentos), tes elementos. O com orientações para a textura dos painéis de fachada
bem como também os pilares, foram di- estudo de viabili- Fonte: Imagens cedidas pelo Arquiteto Gustavo Utrabo
mensionadas para as situações transitórias dade técnica-eco-

58 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


duto foi dada por ensaios de arrancamento
que atestaram a ligação da interface entre
as concretagens do painel.

2.3 Montagem dos painéis

Os painéis projetados com grandes di-


mensões (2,70 x 16,40 m2) e peso de apro-
ximadamente 28 toneladas apresentaram,
também, grandes desafios de montagem,
estudados por meio de plano de rigging.
Nos casos dos painéis com pilares acopla-
dos, para a execução das ligações de con-
tinuidade dos pilares (Figura 7), foi neces-
sário realizar uma acoplagem de armaduras
de pilares através de bainhas metálicas con-
cretadas ligadas por armaduras de conti-
FIGURA 4 nuidade com as bainhas do painel superior.
Painéis de fachada texturizados confeccionados em escala real na fábrica Isso demandou elevado rigor de fabricação
e montagem através de gabaritos metáli-
cos, demandando que a execução da fôr-
Pré-fabricados, localizada em Monte Mor/ dos painéis, o projeto da estrutura pré-fa- ma e produto fossem bastante precisos e a
SP. Entre estes elementos, merece especial bricada concebeu a integração dos painéis montagem tivesse o mesmo grau de acerto.
atenção os painéis de fachada (empenas), com pilares, com consolos de apoios às vi- A Figura 8 apresenta um detalhe do aspec-
que foram projetados com função estrutu- gas e lajes e com aberturas (Figuras 5 e 6), to da fachada finalizada. Caso as tolerâncias
ral, de vedação e de acabamento diferen- em complexidades variadas conforme o po- pré-estabelecidas não fossem atendidas, o
ciado. Para atingir os objetivos, inicialmente sicionamento do painel no contexto da es- acabamento ficaria comprometido, ou ain-
foram confeccionadas peças em escala re- trutura da obra. Estas tipologias de painéis, da, a montagem das peças poderia ser im-
duzida (Figura 2) para apreciação da arqui- idealizadas para atender às necessidades possibilitada, ocasionando perdas.
tetura, que desejava obter um acabamento da estrutura e da arquitetura, implicaram
texturizado similar entre os painéis (porém, o desenvolvimento e inovação de soluções 3. USOS DO BIM
não padronizados) e ao mesmo tempo na- para fabricação e concretagem, bem como
tural, conforme pode ser visualizado nos estudos específicos para montagem e soli- 3.1 Concepção da estrutura:
mock-ups na Figura 3. Em seguida, os pai- darização dos mesmos em obra. As etapas compatibilização e estudo
néis foram confeccionados em escala real de concretagem e detalhamento de arma- de fôrmas
em fábrica (Figura 4) para posterior monta- dura dos painéis foram minuciosamente
gem e solidarização na obra. estudadas para garantir a viabilidade de A modelagem BIM da estrutura foi de-
Além do apelo arquitetônico da face execução, sendo que a garantia final do pro- senvolvida desde a fase de orçamentação

FIGURA 6
FIGURA 5 Face interna do painel arquitetônico texturizado com
Face de acabamento do painel arquitetônico texturizado pilar acoplado, consolos de apoio (para lajes e vigas)
com pilar acoplado, consolo de apoio para viga e abertura e abertura

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 59
A B

FIGURA 7
Montagem dos painéis arquitetônicos: (a) colocação da armadura de
continuidade dos pilares acoplados aos painéis e (b) posicionamento dos
painéis na fachada

FIGURA 8
do projeto. O modelo permitiu a visualiza- de altura, sendo necessário um conjunto Montagem dos painéis

ção e compreensão das soluções adotadas de emendas em cada vértice da seção (to- arquitetônicos: detalhe do
acabamento texturizado natural
para a estrutura pré-fabricada, facilitando talizando oito conjuntos de emendas por
(não padronizado) na fachada
a análise visual da interface entre a arqui- pilar). Com relação às vigas, o estudo da
tetura e a estrutura (Figura 9), principais estrutura apresentou um número signifi-
disciplinas envolvidas no empreendimento. cativo de seções especiais, que surgiram complexidade dos elementos que tor-
Neste sentido, os modelos propor- em função das condicionantes do proje- nassem viáveis a produção, içamento,
cionaram a visualização e estudo de in- to, tais como: continuidades na estrutura, transporte, montagem e solidarização
terfaces de elementos que apresentaram desníveis entre regiões do mesmo pavi- em obra.
soluções inovadoras no projeto de pilares mento, variação de espessuras das lajes e O modelo em BIM da estrutura foi
e vigas (Figura 10). Os pilares em cruz, detalhes arquitetônicos de fachada. idealizado com o emprego de objetos pa-
cuja seção transversal foi predominante A solução dos painéis arquitetônicos ramétricos e possibilitou a extração das
no empreendimento, impactaram o ape- também foi um ponto crucial, visto o alto informações dimensionais de todas as
lo estético da obra e a diminuição do vão nível de exigência em relação à aparên- peças do projeto. Esses dados foram base
real das vigas. A produção foi desafiadora cia e desempenho estrutural. O desafio para estudo de padronização e recorrên-
não apenas pela complexidade da fôrma, foi subdividir as prumadas de painéis em cia das seções, resultando na definição
mas também devido às emendas empre- peças pré-fabricadas (Figura 11), respei- das formas metálicas a serem produzidas
gadas nos pilares com mais de 21 metros tando-se dimensões máximas e grau de para a obra.

A B

FIGURA 9
(a) Modelo em BIM — sobreposição das disciplinas de arquitetura (em cinza) e estrutura (em laranja)
e (b) Visualização na obra (interface com as esquadrias)

60 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


sa inicial a montagem de toda a estrutura
pré-fabricada em 148 dias úteis. Com a in-
formação das quantidades e característi-
cas das peças do estudo em BIM, junto de
seus índices de fabricação e montagem,
foram definidas as equipes de montagem
necessárias para cumprimento do prazo.
Também foram estabelecidas as quanti-
dades de produção de fábrica para aten-
A B dimento às equipes. A partir da definição
dos acessos no software Infraworks, foi
determinado o sentido de montagem e a
FIGURA 10 subdivisão da estrutura em 18 quadrantes,
(a) Exemplo de projeto de pilar em cruz e (b) amostragem visual das
que foram associados às equipes de mon-
tipologias de vigas
tagem (Figura 13).
Foi analisada a distribuição de peças
por tipologia, por volumes e por equipe (Fi-
3.2 Análise crítica das soluções o de Clash, ou seja, conflito físico entre pe- gura 14), visando manter as necessidades
ças, podendo ser elementos sobrepostos em obra compatíveis com a fabricação. Ou
Na etapa de liberação das peças para ou falta de componentes que impossibili- seja, como o plano de ataque considerava
a produção, foi realizado um processo de tariam ou dificultariam a execução. Além todas as equipes de montagem trabalhan-
construção virtual para revisão e análise da análise visual no modelo e checklists do simultaneamente, variações bruscas na
crítica de fôrma de todos os componentes de verificação, foi utilizado como apoio a demanda por tipologia de peças poderiam
pré-fabricados do projeto. Cada elemento ferramenta Clash Detection no software sobrecarregar ou tornar ociosa uma linha
foi modelado de acordo com seu projeto Navisworks. Os principais clash tests foram de produção.
detalhado específico, respeitando suas relacionados às interferências entre apoios Foram desenvolvidas animações em
dimensões, especificação de materiais e das peças, envolvendo posicionamento, BIM 4D no software Navisworks e Fuzor
detalhes de encaixes, como esperas e ne- alinhamento e níveis de consolos, vigas e (Figura 15). As datas de montagem de
oprene. Cada peça foi disposta em uma lajes (Figura 12). cada peça foram estipuladas com base no
região do modelo BIM que simulava o pá- centro de gravidade dos sólidos, hierarquia
tio de fábrica. A locação das peças em sua 3.3 Plano de ataque de tipologia de peças e na ordem de mon-
posição final no empreendimento foi feita tagem definida. O objetivo das simulações
posteriormente, de acordo com o projeto 3.3.1 PLANEJAMENTO PRELIMINAR foi visualizar e apresentar o plano de ata-
de montagem e sequência de quadrantes. que, facilitando o entendimento dos envol-
O objetivo foi mitigar qualquer falta de in- O plano de ataque teve como premis- vidos na negociação do empreendimento.
formação nas pranchas de detalhamento
ou incompatibilidade na obra que pode-
riam causar retrabalhos, custos adicionais
e atrasos na montagem ou produção. O
item mais relevante durante essa etapa foi

A B
FIGURA 11
Estudo preliminar de tipologias
dos painéis arquitetônicos de FIGURA 12
concreto pré-fabricado com Incompatibilidades (a) no nível de topo do pilar P327 e (b) no nível do
pilares acoplados consolo do pilar P240

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 61
3.3.2 LOGÍSTICA DE TRANSPORTE Os quantitativos para desenvolvimen- extraídos com automações em Dynamo,
E MONTAGEM to do planejamento peça-a-peça foram envolvendo parâmetros como pavimento,

A fim de garantir a exequibilidade da


operação, foram realizados estudos de lo-
gística para viabilidade da chegada de equi-
pamentos e caminhões ao canteiro de mon-
tagem. Para reduzir o impacto no entorno
da obra, foi feito um estudo de vizinhan-
ça compatibilizando horários e fluxos de
trânsito. Ao todo, foram utilizadas na obra
1.784 cargas transportadas por carretas
normais (de 12 m) e 153 cargas por carre-
A B
tas extensivas (acima de 12 m), entregando
15 a 20 cargas por dia para quatro frentes
de montagem. Foram utilizados quatro FIGURA 13
guindastes de capacidade entre 75 e 140 t, (a) Posicionamento do modelo BIM no terreno e (b) distribuição preliminar
máquinas treliçadas sob pneus e sob esteira de quadrantes e sentido de montagem

e 10 plataformas para montagem e acaba-


mento da estrutura pré-fabricada.

3.3.3 PLANEJAMENTO FINAL PEÇA


A PEÇA

A partir da validação da estratégia de


execução, iniciou-se o detalhamento do
plano de ataque peça a peça. Os quadran-
tes de montagem iniciais foram subdividi-
dos em regiões menores, resultando em
73 quadrantes, com o objetivo de aumen-
tar o número de marcos de controle de
projeto. As equipes de montagem foram
responsáveis por um conjunto de quadran-
tes, cada um com prazos de projeto, fabri-
cação e montagem (Figura 16). A estrutu-
ra pré-fabricada executada foi composta
FIGURA 14
por 402 pilares, 124 painéis, 1932 vigas,
Distribuição preliminar de peças por tipologia, volumes e equipes
5855 lajes alveolares e 87 escadas.

A B

FIGURA 15
Simulação BIM 4D nos softwares Navisworks (a) e Fuzor (b)

62 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


meio de dispositivos móveis no cam-
po (Figura 17). A partir desse controle,
dashboards de análise de produtividade
e conformidade de prazos também fo-
ram feitos em PowerBI.

4. CONCLUSÕES
A B O presente artigo trouxe um case re-
levante evidenciando a aplicabilidade de
sistemas construtivos pré-fabricados em
FIGURA 16
concepções estruturais de grande versatili-
Distribuição final da estrutura, sendo (a) dos quadrantes
e (b) das equipes de montagem
dade, funcionalidade e apelo arquitetônico,
conforme abordado pela literatura de refe-
rência. O uso do BIM permitiu a finalização
tipologia de forma e nomenclatura de pe- simples. Isso ocorre em função do equilíbrio da obra dentro do prazo e premissas acor-
ças. Foi necessário compreender e adaptar entre a base de dados robusta e o plane- dadas com sucesso, promovendo uma in-
as informações importantes para cada fase jamento ágil, pois encara-se inicialmente a tegração detalhada e antecipada à obra de
executiva, para que a base de dados gerada complexidade do número de quadrantes e todas as partes envolvidas (detalhamento
fosse útil e confiável. Sendo assim, o único não do número de peças. da arquitetura e de projeto estrutural, plan-
parâmetro incluído manualmente no mode- tas de produção, projeto de montagem e
lo (que não era nativo do processo de pro- 3.3.4 ACOMPANHAMENTO DA OBRA planejamento da obra).
jeto) foram os quadrantes de montagem.
Para simulações 4D eram feitas associações O acompanhamento do avanço físico AGRADECIMENTOS
automáticas com base no parâmetro de ID do empreendimento foi feito com auxílio À Rocontec Construção e Tecnologia, à
das peças no modelo BIM. Com a setoriza- do modelo BIM. Foi utilizado a platafor- Brookfield Properties, ao Arquiteto Gustavo
ção peça a peça, a análise crítica e adap- ma Nimble para navegação e atualização Utrabo, à CMA Engenharia e à Cassol Pré-
tabilidade do cronograma tende a ser mais em tempo real dos status das peças por -fabricados pelas informações fornecidas.

A B

FIGURA 17
Modelagem na plataforma Nimble: (a) visualização de peças montadas (em verde) e (b) atualização do status das peças
(seleção do pilar)
Fonte: Rocontec

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] BARTH, F.; VEFAGO, L.H.M. Tecnologia de fachadas pré-fabricadas. Ed. Letras Contemporâneas, 2007.
[2] DONIAK, I.L.O.; GUTSTEIN, D. Concreto Pré-fabricado. In: TUTIKIAN B., PACHECO F., ISAÍA G. e BATAGIN I. (editor). Concreto: Ciência e
Tecnologia, 3ª ed. São Paulo: Editora Ibracon, 2022.
[3] ABNT NBR 9062:2017 – Comentários e Exemplos. Editores NURNBERG, R. e DONIAK, I.L.O., 1ªed. São Paulo: Editora Ibracon, 2022.
[4] SUGAHARA, J.; LACOURARIE, L. WPP Anuncia seu primeiro Campus no Brasil. Disponível em: https://www.wpp.com/en/news/2022/11/wpp-
announces-its-first-campus-in-brazil-portuguese.

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 63
Mantenedor
Os desafios da Construção Civil
e a importância da pré-fabricação
em concreto
IRIA LÍCIA OLIVA DONIAK – Pres. Executiva | Abcic ;
ANA MARIA CASTELO – Coord. de Projetos | IBRE/FGV

A
umentar a produtivida- reforma tributária pode contri-
de e traçar o caminho buir para a isonomia tributária
rumo à neutralidade dos processos, mas esse é ape-
de carbono até 2050 são dois nas um dos fatores a se transpor.
grandes desafios para a cons- Há a questão da escala e, princi-
trução civil no país. palmente, de gestão e qualifica-
Dados recentes publicados ção da mão de obra.
no blog do IBRE, “Construção: Nesse quesito, além da
produtividade e moderniza- qualificação, tem sido cada
ção”1, trazem um perfil bastan- vez mais desafiador reter os
te negativo da produtividade jovens que buscam por em-
setorial. pregos com menor esforço
De acordo com o estudo, físico e mais tecnologia agre-
“entre 2007 e 2021, a pro-
GRÁFICO 1 gada, tendo ainda em vista os
Sondagem da construção — uso de sistemas pré-fabricados
dutividade das empresas da recentes dados do IBGE que
(Abril 2023)
construção diminuiu cerca de Fonte: FGV IBRE
verificou que o Brasil registrou,
0,37% a.a., sendo o pior resul- em 2022, o maior salto de en-
tado observado no segmento velhecimento entre dois censos
de Serviços Especializados desde 1940. Em 2010, a cada
(- 1,22% a.a.); na Infraestrutura, a perda de A menor utilização de sistemas constru- 30,7 idosos (65 anos ou mais), o país ti-
produtividade foi de 0,72% a.a. Apenas no tivos industrializados pelas empresas de in- nha 100 jovens de até 14 anos. Agora, são
segmento de Edificações houve melhora fraestrutura possivelmente está relacionada 55 idosos para cada 100 jovens.
ao ritmo de 0,92% a.a.” à quebra de grandes empresas e redução Essas questões já haviam sido levan-
Como o estudo menciona, a baixa drástica do investimento na área. Entre 2014 tadas na introdução do Manual da Cons-
produtividade do setor tem muitas cau- e 2021, o valor das incorporações, obras ou trução Industrializada2, lançado pela ABDI
sas, mas há uma relação importante da serviços da construção como um todo caiu em 2015. “Como apontado em estudo da
questão com os baixos níveis de utiliza- 38%. No segmento de infraestrutura, a queda Fundação Getúlio Vargas — FGV (2012), o
ção de sistemas construtivos industria- foi 48% (considerando correção pelo INCC). setor precisa elevar a sua produtividade,
lizados. Nesse sentido, a Sondagem re- Vale destacar que poucas usam siste- face à escassez de mão de obra e demanda
alizada pelo FGV IBRE em abril junto às mas industrializados em mais de 50% de crescente para construções habitacionais e
empresas de construção do país corrobo- suas obras: apenas 24,5% das empresas. de infraestrutura. Consequentemente, a in-
rou a percepção corrente: apenas 34,6% De fato, o resultado não surpreende, dústria da construção no Brasil tem grande
das empresas fazem uso de sistemas pré- mas se torna um ponto de referência que potencial para a industrialização, que per-
-fabricados em suas obras. As empresas dá uma clara mensagem a toda a cadeia: mite melhores soluções de custos versus
de Edificações Não Residenciais ficam é preciso aumentar a industrialização da benefícios, reduzindo o ciclo da constru-
acima da média, com 47,7%, mas na in- construção civil no país. ção e seus custos, melhorando a qualidade
fraestrutura apenas 33,2% usam sistemas Hoje a tributação é um desestímulo à uti- e potencializando o controle de desempe-
pré-fabricados (Gráfico 1). lização de sistemas industrializados. Assim, a nho ambiental.”

Disponível in https://blogdoibre.fgv.br/posts/construcao-produtividade-e-modernizacao
1

Disponível in https://api.abdi.com.br/file-manager/upload/files/Manual_construcao_industrializada_versao_digital.pdf
2

64 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


Sendo ainda importante considerar o
conceito da industrialização adotado na
mesma publicação: “A industrialização,
representa o mais elevado estágio de ra-
cionalização dos processos construtivos
e, independente da origem de seu mate-
rial, está associada à produção dos com-
ponentes em ambiente industrial e pos-
teriormente montados nos canteiros de
obras, assemelhando-se às montadoras
de veículos, possibilitando melhores con-
dições de controle favoráveis e a adoção
de novas tecnologias.”

NEUTRALIDADE DO CARBONO
Ao mesmo tempo em que o aumento
da produtividade é essencial para a compe-
titividade das empresas, outro tema integra
a agenda de todas as entidades setoriais:
a sustentabilidade e as metas para 2030 e
2050 em relação a neutralidade de carbono.
Este é outro contexto no qual a industriali-
zação da construção civil é fundamental. Montagem de estrutura pré-fabricada com peças produzidas na indústria (off-site)
Considerando em especial o tema des-
ta edição dedicada a pré-fabricação em da integração de outros subsistemas já na os componentes usados em sua constru-
concreto, um dos caminhos que a indústria indústria, menor impacto no entorno do ção. A declaração da fib — International
no mundo e no Brasil tem pautado é o da local da obra, menor geração de resíduos, Federation for Structural Concrete para a
desmaterialização, possibilitada pela ino- quer seja pela produção no ambiente in- sustentabilidade indica, por exemplo, além
vação oriunda de tecnologia de novos ma- dustrial, que possibilita um maior controle, de outros importantes aspectos, que a in-
teriais, aditivos e outras adições, incluindo quer na precisão dimensional, que corro- dustrialização e a pré-fabricação em con-
as fibras, que podem culminar no uso de bora com etapas posteriores possibilitan- creto são caminhos a serem tomados.
concretos com maior consumo de cimento, do a redução do consumo de argamassas O trabalho com a sustentabilidade na
porém em menores volumes. A tecnologia de revestimento, além da redução de pas- pré-fabricação em concreto tem sido im-
do concreto associada à digitalização são sivos trabalhistas. pulsionado pelo Selo de Excelência AB-
de fundamental importância para a com- O uso inteligente do concreto, com CIC, programa de certificação evolutivo,
petitividade da indústria, cujo DNA tem as menos material e mais tecnologia, pode cujas auditorias são realizadas pelo IFBQ
características propícias para este desen- ser visto em uma laje alveolar, que possui — Instituto Falcão Bauer para Qualidade,
volvimento. Na outra ponta, cimenteiras e reduzido consumo devido aos alvéolos ao que atesta a conformidade aos padrões
siderúrgicas têm feito o seu papel em re- que pese o seu concreto ter um consumo de qualidade, tecnologia, desempenho, se-
lação à descarbonização, o que implicará em kg/m³ maior em função da necessida- gurança e sustentabilidade das empresas
um processo de transformação e ajustes, de de desforma com baixa idade (usual até e plantas industriais no país desde 2003.
considerando as necessidades inerentes 24 horas) com 21,0 MPa, atendendo à pres- Em seu nível III, o escopo das questões am-
aos processos produtivos que requerem crição normativa. Numa sala de aula, por bientais é considerado com a inclusão de
cuidadosa avaliação dentro de todo este exemplo, o fato de ser protendida possibili- requisitos da norma ISO 14001 de Gestão
ecossistema e também envolvem normali- ta com menos pilares um número maior de Ambiental. Esses requisitos eram correla-
zação, regulação e políticas públicas. vagas na mesma sala de aula, ou seja, mais cionados à avaliação e monitoramento dos
A pré-fabricação em concreto traz ou- alunos atendidos no mesmo espaço. Tam- impactos ambientais na indústria: resíduos
tras importantes questões, como a ado- bém é uma questão da dimensão social sólidos e líquidos, consumo de energia e
ção dos misturadores de alta eficiência na da sustentabilidade. água, uso racional dos materiais envolvidos
produção do concreto, o uso de formas Devido à sua eficiência construtiva e no processo e a emissão de CO2.
metálicas reutilizáveis, consumo de ener- durabilidade, a pré-fabricação em concre- O Selo de Excelência Abcic é reconhe-
gia renovável, redução de escoramentos to é apontada como parte relevante das cido no Brasil e no exterior por sua abran-
no processo construtivo, integração de soluções de mitigação das emissões CO2 gência e poder de indução da qualidade
projetos com produção e montagem, mais em todo o mundo. O controle realizado na e sustentabilidade setorial e empresarial.
digitalização em suas interfaces com re- fábrica contribui para que no final do ciclo Por ser um indutor de desenvolvimen-
sultados mais assertivos, e possibilidades de vida, haja ainda possibilidade de reciclar to tecnológico, sua adoção possibilita às

& Construções
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empresas se organizarem de uma forma parceria com a Secretaria Nacional de Integra também o CT 101 — Co-
tal que implementar novas tecnologias Habitação (SNH) e com a Agência de Co- mitê Técnico IBRACON/ABECE/
com base em dados existentes se torna operação Alemã para o Desenvolvimen- ABICIC de Sustentabilidade do Con-
muito mais fácil. O Selo se transformou to Sustentável (GIZ), que tem o objetivo creto, no âmbito do IBRACON, promo-
não apenas num importante diferencial de contribuir com a gestão climática e vendo sua interface com as ações do
de competitividade para as empresas do energética do setor da construção civil, CT 304 — Comitê Técnico IBRACON/
setor, mas também em um guia das me- a partir da padronização de métricas e ABCIC de Pré-Fabricados de Concre-
lhores práticas em termos de normas téc- consistência de dados entre empresas e to, sob sua integração promovendo sua
nicas, de segurança no fornecimento de os atores da cadeia produtiva. integração com as pautas propostas.
produtos e serviços, além de uma garantia Outra iniciativa é a plataforma web Entende que o instituto, como núcleo
de contínuo aprimoramento nas diversas Sidac — Sistema de Informação do Desem- de inteligência do material concreto,
áreas das organizações. Ele assegura o es- penho Ambiental da Construção, desen- assume um protagonismo relevante
tímulo para essa constante evolução rumo volvida no âmbito do CBCS — Conselho neste contexto.
à excelência das empresas. Brasileiro da Construção Sustentável, que O próximo passo já foi dado pela
O setor, representado pela Abcic, permite o cálculo da pegada de energia e entidade e diz respeito à estratégia de
através de seu planejamento estratégico de carbono de produtos de construção fa- implementação das DAPs — Declarações
2022-2027, tem monitorado as tendên- bricados no Brasil, e está baseado em uma Ambientais de Produto, de fundamental
cias internacionais, adotado uma postura abordagem simplificada da ACV — Avalia- importância para fornecer dados preci-
colaborativa e de integração na interface ção do Ciclo de Vida, focada nas questões sos à comunidade técnica e a sociedade.
com outras ações da cadeia produtiva do ambientais mais importantes para a cadeia É fundamental que todas essas ações
concreto e da construção civil. Destacan- de valor da construção. Recentemente convirjam para atender às metas de re-
do a plataforma CECarbon — Calculadora como uma das entidades integrantes do dução das emissões de carbono, até por-
de Consumo Energético e Emissões de SINAPROCIM — Sindicato Nacional da In- que o concreto é e continuará sendo um
Carbono na Construção Civil, ferramenta dústria de Produtos de Cimento, foi uma grande protagonista nas próximas dé-
desenvolvida pelo Comitê de Meio Am- das signatárias do acordo de cooperação cadas, sendo utilizado cada vez mais de
biente do SindusCon-SP (Comasp), em técnica com o CBCS. formas mais inteligentes.

66 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


Pesquisa e Desenvolvimento
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.112.0004

Aplicações do UHPC nas ligações


de tabuleiros de pontes em concreto
pré-moldado
MARCOS ANTONIO do ROSARIO da SILVA – Mestr. – https://orcid.org/0000-0002-5626-3876 ;
ALEX M. DANTAS de SOUSA – Pós-dout. – https://orcid.org/0000-0003-0424-4080 | EESC | USP
YGOR MORIEL NEUBERGER – Al. de dout. – https://orcid.org/0000-0003-4001-7248 | UFSCAR
RAFAEL ANDRÉS SANABRIA DÍAZ – Pós-dout. – https://orcid.org/0000-0002-6907-7159 | Technische Universiteit Delft
MOUNIR KHALIL el DEBS – Prof. – https://orcid.org/0000-0001-5955-7936 | EESC | USP

RESUMO

A
construção de pontes com elementos
de concreto pré - moldado e ligações
preenchidas por concreto de altís -
simo desempenho (UHPC) têm se tornado
mais frequentes ao redor do mundo visan -
do a construção acelerada de pontes . En-
tretanto , o número de estudos nacionais A B
sobre o tema ainda é incipiente e as normas
de projeto nacionais e internacionais não
FIGURA 1
abordam em detalhe esse tipo de sistema e a) Tabuleiro de ponte composto por viga e pré-laje pré-fabricadas e capa
suas ligações . Este estudo visa apresentar de concreto moldada no local; b) sistema composto por vigas pré-fabricadas
as principais características das ligações com tabuleiro integrado e ligação de concreto moldado no local com emenda
compostas por lajes pré - fabricadas e liga - de armaduras

ções preenchidas com UHPC. Além disso , o


estudo também compreende a apresentação
de resultados de estudos internacionais e Palavras-chave: lajes de concreto, pré-mol- do CML, outros sistemas têm crescido
nacionais sobre o tema que visam subsidiar dado, ligações, concreto de altíssimo desem- ao redor do mundo baseados na com-
o desenvolvimento de recomendações de penho, UHPC, interface. binação de elementos pré-fabricados,
projeto para a sua implementação na prá - como vigas com laje integrada (bulb tee
tica profissional . No tocante ao material 1. INTRODUÇÃO girders, de uso comum nos EUA e na
de preenchimento da ligação , também são A utilização de elementos de concre- China — Figura 1b) ou lajes justapostas,
apontadas as vantagens do uso de UHPC to pré-moldado (CPM) em estruturas de ligadas entre si com emenda das arma-
em comparação com o uso de concretos pontes tem crescido nas últimas déca- duras e concreto moldado no local. En-
convencionais ou argamassas , como , por das em virtude de suas vantagens em re- tretanto, o desempenho desse tipo de
exemplo , um comprimento de emenda das ar - lação às estruturas de concreto molda- sistema depende sobretudo do projeto e
maduras consideravelmente menor em vir - das no local (CML), tais como: (i) maior detalhamento da região de ligação entre
tude da maior resistência ao arrancamento velocidade de execução, (ii) maior con- esses elementos.
das mesmas . E ntretanto , observa - se que a trole de qualidade dos elementos estru- Essas ligações têm como objetivo ten-
100
maioria dos estudos numéricos desenvolvi - turais, (iii) redução do impacto no trân- tar reproduzir o comportamento das es-
95
dos sobre o tema tem considerado opções sito, (iv) uso mais racional de recursos truturas de concreto monolíticas através
de modelagem numérica que podem limitar o naturais (sustentabilidade) e (v) mini- da transmissão adequada de momentos
75 desenvolvimento de conclusões mais asser - mização das perturbações ao meio am- fletores e demais esforços internos entre
tivas sobre o comprimento mínimo de emenda biente. No caso de lajes compostas por os elementos. Conforme Wang et al. [1],
necessário neste tipo de ligação . Por estão vigas pré-fabricadas e pré-laje (Figura a capacidade resistente dessas ligações
razão , foram apresentadas recomendações 1a), sistema bastante utilizado no Brasil, é influenciada por variáveis de proje-
25
a serem seguidas em futuros estudos numéri - o volume de CML ainda é relativamen- to como dimensões mínimas da ligação,
5
cos sobre o tema . te elevado. Visando reduzir o consumo do tipo de interface na ligação entre o

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A B C

FIGURA 2
Sistemas de painéis de seção completa. a) Vigas com tabuleiro integrado (deck bulb tee girders - DBT). b) Lajes com ligação
principal na direção do eixo longitudinal c) Lajes com ligação principal na direção do eixo transversal da ponte e nichos
Fonte: Adaptado de El Debs [2]

concreto pré-moldado e o concreto mol- cionais que têm sido desenvolvidos so- geralmente em forma de T (Figura 2a —
dado no local, a configuração de emenda/ bre o tema na Escola de Engenharia de menos usual no Brasil) e ligação longitu-
ancoragem das armaduras (tipo de emen- São Carlos da Universidade de São Paulo dinal no eixo da ponte. O segundo tipo
da, quantidade de barras transversais e (EESC/USP). Com isto, pretende-se esti- corresponde ao sistema de lajes apoiadas
comprimento de emenda) e as proprieda- mular a discussão e o desenvolvimento entre longarinas conectadas por ligações
des do concreto usado na ligação. de recomendações normativas para este longitudinais (Figura 2b — já empregado
Na prática, o concreto de altíssimo tipo de aplicação nas pontes nacionais. em alguns casos no Brasil). Por fim, te-
desempenho (Ultra-High Perfomance mos o terceiro tipo, representado pelo
Concrete — UHPC) tem surgido como 2. PROJETOS DE LIGAÇÕES ENTRE sistema de lajes conectadas por ligações
uma opção interessante ao preenchi- TABULEIROS PRÉ-MOLDADOS transversais, normalmente adotando ni-
mento dessas ligações, uma vez que De acordo com El Debs [2], a as- chos com concreto moldado no local
apresenta características como maior sociação de elementos pré-molda- (Figura 2c).
resistência à tração/fissuração, me- dos com concreto moldado no local Quando o tabuleiro não é integrado
lhor aderência ao concreto pré-mol- é uma das aplicações mais comuns da à viga, são utilizados conectores de ci-
dado e uma menor porosidade (o que pré-fabricação, sendo bastante utili- salhamento na região da interface entre
melhora a durabilidade e vida útil da zados na construção de pontes. O sis- as vigas e as lajes pré-moldadas. Esses
ligação). Entretanto, o número de es- tema de tabuleiro de ponte sem capa conectores têm como finalidade garantir
tudos nacionais sobre a aplicação do de concreto moldada no local é deno- a transferência adequada das tensões de
UHPC em ligações deste tipo ainda minado de painéis de seção comple- cisalhamento entre a viga e a laje.
é limitado. ta, ou pelo termo em inglês full depth Quando a solicitação principal trans-
Por esta razão, este estudo visa (i) panels (Figura 1b). ferida entre as lajes é o momento fle-
apresentar uma revisão breve dos prin- Na Figura 2, são apresentados os tor, três mecanismos de ruptura podem
cipais estudos e aplicações do UHPC nas principais tipos de painéis de seção com- ocorrer neste tipo de ligação (Figura 3):
ligações de lajes pré-moldadas de pon- pleta. O primeiro deles é o sistema de vi- (i) escoamento excessivo da armadura
tes e (ii) descrever um dos estudos na- gas de concreto com tabuleiro integrado, longitudinal na região de interface; (ii)

A B C

FIGURA 3
Tipos de ruptura possíveis para a ligação: a) escoamento excessivo da armadura; b) esmagamento do concreto;
c) falha da emenda
Fonte: Adaptado de Wang et al. [1]

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esmagamento do concreto por com- Quando a largura do tabuleiro da ponte resistente das ligações é o detalhamento
pressão na região de interface; e (iii) fa- é inferior à 15 m, utiliza-se apenas a liga- da emenda das armaduras. O arranjo da
lha da emenda das armaduras (aqui sen- ção transversal entre os painéis de lajes armadura ideal deve ser de simples fabri-
do representada a emenda por laço, mas pré-moldado (Figura 2c). Neste caso, o cação, fácil montagem na obra e garan-
existem também as emendas por tras- comprimento do painel medido na dire- tir durabilidade e resistência da ligação.
passe de barras retas e ancoragem me- ção do tráfego deve variar entre 2,5 m a Normalmente, são utilizadas barras de
cânica). Na prática, estes mecanismos 3,7 m. Essas dimensões devem ser de- armadura sem contato emendadas por
de ruptura guiaram o desenvolvimento terminadas levando em consideração as sobreposição com diferentes detalhes
de modelos de cálculo para verificação etapas de transporte e içamento. (Figura 5): a) barras retas; b) barras com
da resistência neste tipo de ligação, que “cabeça” (ancoragem mecânica) e c) bar-
serão discutidos nas próximas seções. 2.2 Forma da ligação ou geometria ras em laço.
Embora a ruptura por esmagamento do da ligação Entre os tipos de arranjo, o mais usa-
concreto seja a mais crítica por sua ca- do é com barras retas, que resulta em
racterística frágil, a mesma geralmente Sobre os tipos de forma utilizados emenda das armaduras por traspasse.
é evitada com facilidade com base no nas ligações entres elementos de con- Nessa situação, a emenda das armadu-
dimensionamento à flexão tradicional. creto pré-moldado, estes devem ser pro- ras é produzida pela aderência das bar-
Por esta razão, o aspecto que requer jetados de modo a facilitar a colocação ras com o concreto da ligação. Haber e
maior atenção neste tipo de ligação do material de preenchimento da liga- Graybeal [4,5] recomendam que as di-
é garantir a adequada resistência de ção. Exemplos de forma da ligação são mensões das emendas das barras retas
emenda das armaduras. apresentados na Figura 4. Nesse sentido, de aço sejam no mínimo 8db (conside-
Nas próximas seções serão apresen- a forma mais utilizada para a ligação é rando um cobrimento das armaduras
tados detalhes de projeto para ligações a plana. No entanto, esta forma produz de 3 db), onde db é o diâmetro da barra
entre lajes pré-moldadas. Alguns desses uma área de contato menor entre o con- de aço. Entretanto, esta dimensão pode
aspectos são: (i) tipos de ligações entre creto pré-moldado e o CML, o que pode variar em função das propriedades do
os elementos pré-moldados, (ii) forma resultar em um desempenho prejudicado, UHPC e do cobrimento das armaduras.
da ligação; (iii) tipo de armadura na li- caso a superfície do concreto pré-mol- Nesse sentido, outros pesquisadores
gação e (iv) material de preenchimento dado não seja devidamente preparada realizaram estudos com diferentes deta-
utilizado na ligação. para receber o CML. Diante disso, outras lhes de armadura de modo a tentar reduzir
formas para a região de ligação têm sido o comprimento de emenda de traspasse
2.1 Tipos de ligações estudadas, como chaves de cisalhamento e consequentemente reduzir a largura da
triangular, chave de cisalhamento trape- ligação [6,7]. Uma alternativa às barras
Garber e Shahronhinasab [3] descre- zoidal, forma de curva, em forma de T e retas nas ligações é a utilização de barras
vem duas situações de ligações de full chave de cisalhamento no plano da laje. com “cabeça” (que corresponde a uma an-
depth panels. Na ligação longitudinal, coragem mecânica) ou barras dobradas
a conexão entre as lajes pré-moldadas 2.3 Arranjos de emenda das armaduras em formato de U (laço) [8]. No caso de
ocorre sobre a viga (Figura 2b), sendo barras em laço, para garantir o raio mínimo
geralmente aplicadas para pontes com Além da geometria da ligação, outro de dobra exigido nas normas, a espessura
tabuleiros de largura maior que 15 m. fator importante que afeta a capacidade mínima das lajes deve ser de 180 mm [9].

FIGURA 5
FIGURA 4 Tipos de emenda das armaduras na ligação: a) barras retas;
Tipos de forma da ligação b) barras com “cabeça”; c) barras em laço
Fonte: Adaptado de Wang et al. [1] Fonte: Adaptado de Wang et al. [1] e Haber e Graybeal [4]

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Por esta razão, tem havido um cres-
cimento na quantidade de estudos nu-
méricos dedicados a esse tema [12–15].
Neste tipo de análise, os modelos nu-
méricos são geralmente calibrados com
base em resultados experimentais da
literatura e, posteriormente, modifica-
dos para avaliar a influência de outros
parâmetros de projeto no comporta-
mento da ligação, como a forma da li-
gação, detalhamento da armadura ou
A B
condições de contorno/carregamento.
Um destes estudos tem sido desenvolvi-
FIGURA 6 do na EESC/USP, ainda em estágio pre-
Exemplo de comportamento tensão × deformação para os concretos liminar [12]. Um dos ensaios escolhidos
convencionais (normal), concreto de altíssimo desempenho sem fibras (UHPC –
para modelagem foi o de Deng et al. [6]
sem fibras) e concreto de altíssimo desempenho com fibras (UHPC – com fibras):
(Figura 8). Na comparação entre resul-
a) à compressão; b) tração
tados experimentais e numéricos, obser-
vou-se uma boa concordância entre em
2.4 Material de preenchimento ancoragem das armaduras, consideran- termos do padrão de fissuração (Figura
utilizado nas ligações do um cobrimento maior que 3 db. Neste 9a) e da resistência prevista (Figura 9b,
exemplo, foi utilizado UHPC com volume com mais detalhes sobre a modelagem
O concreto moldado no local utilizado de fibras de 2%, e a resistência à tração podendo ser consultados em [12]).
no preenchimento das ligações deve pos- mínima foi 5,5 MPa. Entretanto, reco- Entretanto, um dos principais de-
suir algumas propriedades, tais como: boa mendações para outras bitolas de ar- safios deste tipo de modelagem é a
aderência com o concreto pré-moldado, madura e outras propriedades do UHPC adequada representação das pro-
alta resistência nas idades iniciais, fluidez geralmente são escassas, em virtude do priedades da interface entre os con-
adequada para preencher a ligação, bai- número ainda limitado de estudos expe- cretos de diferentes idades, bem
xa retração e durabilidade às intempéries. rimentais sobre o tema. com as propriedades de desliza-
Neste sentido, o emprego de materiais de Além disso, a grande maioria dos mento entre o UHPC e as armaduras
alto desempenho (UHPC) tem grande po- estudos experimentais sobre este tema (bond-slip). A grande maioria dos estu-
tencial devido às suas melhores proprie- tem simulado apenas o caso da flexão dos numéricos disponíveis na literatura
dades mecânicas em relação ao concreto pura (sem influência da força cortante), consideram aderência perfeita entre as
convencional ou normal (sem fibras). Por o que não representa as condições reais armaduras e o UHPC [12–15], o que pode
exemplo, o UHPC oferece maior resistên- de uso. Nesta vertente, são necessários resultar em conclusões errôneas nas
cia à tração, maior resistência residual maiores estudos experimentais sob con- análises, uma vez que essas opções de
pós-fissuração (com fibras) e melhores dições de contorno mais representativas modelagem não permitem representar
propriedades de aderência entre concre- de suas aplicações (combinando a fle- possíveis rupturas da ancoragem por
tos com diferentes idades. xão com a força cortante). comprimento insuficiente do traspasse.

3. MODELOS DE ANÁLISE
Diversos estudos voltados para a
análise deste tipo de ligação têm sido
realizados por diversos pesquisadores
nos últimos anos [6–8,10]. O principal
método empregado para avaliar a capa-
cidade resistente das ligações é o ensaio
experimental em laboratório, no qual di-
ferentes configurações de projeto são
testadas e investigadas. A Figura 7 mos- A B
tra um exemplo de ensaio experimental
realizado por Haber e Graybeal [7]. FIGURA 7
Em um destes estudos, Yuan e Exemplo de ensaio experimental de ligação entre lajes pré-moldadas:
Graybeal [11] indicam que o comprimen- a) esquema do ensaio. b) foto do modelo
to de 8 db para barras com diâmetro de Fonte: Adaptado de Haber e Graybeal [7] (dimensões em mm)

12.5 mm seria suficiente para garantir a

70 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


representar adequadamente possíveis
falhas de emenda neste tipo de ligação;
u Representar de forma mais adequa-
da os parâmetros da interface entre
o UHPC e concreto pré-moldado na
interface da ligação em modelos nu-
méricos, de modo a melhorar a re-
presentação do comportamento no
caso de combinação de esforços de
flexão e força cortante; na prática, a
maioria dos estudos numéricos sobre
FIGURA 8 o tema ainda tem considerando ade-
Esquema de ensaio, geometria e detalhamento das armaduras do ensaio modelado rência perfeita entre estes concretos,
Fonte: Adaptado de Deng et al. [6] (dimensões em mm) o que pode não ser representativo
de todas as formas de tratamento
da interface.
Ainda não existem normas técnicas mitir representar possíveis rupturas
nacionais e internacionais que abordem da emenda por falta de ancoragem 5. CONCLUSÕES E
especificamente este tipo de ligação. das barras; CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por esse motivo, são adotadas especifi- u Desenvolver estudos experimentais A busca por soluções de projeto que
cações de trabalhos experimentais e de com ênfase no deslizamento rela- acelerem as construções de pontes e
publicações técnicas que considerem as tivo entre as armaduras e o UHPC, minimizem impactos ambientais, sociais
principais variáveis do problema [4,7]. de modo a estimar melhor os parâ- e desperdícios de materiais tem sido
Entretanto, a fim de promover uma maior metros que caracterizam a curva de um tópico de frequente investigação ao
difusão do uso dessas ligações na prática bond-slip necessárias em modelos redor do mundo no intuito de aumentar
profissional, é necessário que sejam de- numéricos; a sustentabilidade na indústria da cons-
senvolvidos modelos analíticos capazes u Desenvolver ou identificar opções de trução. Neste contexto, o uso de tabu-
de estimar o comportamento e a resis- modelagem para o comportamen- leiros de pontes compostas por painéis
tência das ligações por meio de cálcu- to não-linear à tração (em termos de de lajes pré-moldadas e ligações preen-
los simplificados. Neste sentido, merece tensão-abertura de fissura) para o chidas com UHPC apresentam um gran-
destacar o modelo de bielas e tirantes na UHPC, de modo a não bloquear pos- de potencial quando comparado às so-
(Figura 10), apropriado para as emendas síveis rupturas de emenda neste tipo luções de preenchimento com concreto
de barras com “cabeça” e com laços. de ligação e representar adequada- convencional.
mente o comportamento do UHPC Conforme apresentado, as ligações
4. RECOMENDAÇÕES PARA em modelos modelagens numéricas; são o aspecto mais importante deste sis-
MODELAGEM NUMÉRICA em outras palavras, a consideração do tema. Por esta razão, surgiram diversas
COM LIGACÕES DE UHPC bond-slip por si só não garante formas de detalhamento possíveis que
Nos estudos apresentados na litera-
tura, observou-se que todos eles con-
sideravam a armadura perfeitamente
aderida ao UHPC ou concretos normais
[12–15]. Na prática, esta escolha de mo-
delagem evita a representação ou cap-
tura de possíveis rupturas da emenda
na medida em que o comprimento de
traspasse é reduzido para valores muito
pequenos (da ordem de 2.5db, por exem-
plo), o que não parece consistente, con-
forme identificado por Silva et al. [12].
Por esta razão, novos estudos sobre o
tema são recomendados considerando- A B
-se as seguintes recomendações:
u Considerar o comportamento de
FIGURA 9
deslizamento relativo entre as arma- Comparação entre resultados experimentais e numéricos de Silva et al. [12]:
duras e o concreto (bond-slip) em a) Padrão de fissuração; b) curva força × deslocamento do atuador central
estudos numéricos, de forma a per-

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estudos nacionais e internacionais para
subsidiar a formalização de recomenda-
ções práticas acerca do detalhamento ne-
cessário para este tipo de ligação.
No tocante aos estudos numéricos
desenvolvidos sobre o tema na litera-
tura, observou-se que a grande maio-
ria deles apresenta algumas opções
de modelagem que podem conduzir a
conclusões errôneas sobre o compri-
mento mínimo necessário de emenda
das armaduras (devido à consideração
de aderência perfeita entre a armadu-
ra e o UHPC). Por estão razão, novos
estudos têm sido desenvolvidos na
EESC/USP com vistas a apresentar con-
FIGURA 10 tribuições sobre a modelagem numérica
Modelo de cálculo da resistência à flexão com base na teoria de bielas e tirantes deste tipo de ligação.
Fonte: Adaptado de Wang et al. [1]

AGRADECIMENTOS
têm sido objeto de investigações experi- aspectos como o tratamento da interfa- Os autores agradecem o apoio finan-
mentais, numéricas e analíticas. Os mode- ce na região de ligação, forma da ligação, ceiro concedido pela CAPES (Código
los de verificação da resistência deste tipo comprimento de emenda e comporta- 001) e Fundação de Amparo à Pesquisa do
de ligação existentes são relativamente mento bond-slip das armaduras no UHPC. Estado de São Paulo (FAPESP, processo
simples, mas não levam em consideração Por esta razão, são necessários maiores Nº 2021/13916-0).

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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https://doi.org/10.1016/j.istruc.2020.05.041.

72 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


Entidades da Cadeia
Construção industrializada:
perspectivas e desafios para sua
disseminação
YORKI ESTEFAN – Pres. | SindusCon-SP ; Vice-Pres. | CBIC

S
ão indiscutíveis os ganhos na indus- teiros, redução de patologias,
trialização da construção residencial, otimização da logística e do
já adotada com sucesso em obras planejamento da obra.
institucionais e de infraestrutura. Para A industrialização tam-
avançar na industrialização da edificação bém contribuirá para inten-
residencial, o SindusCon-SP e a AsBEA-SP sificar as ações em favor da
(Associação Regional dos Escritórios de Ar- sustentabilidade ambiental.
quitetura de São Paulo) lançaram em 2022 Possibilitará ganhos para o
um manifesto e realizaram um seminário. meio ambiente e os futuros
Destacamos que a construção indus- usuários da edificação, tais
trializada, se aplicada desde a fase de incor- como: menor geração de re-
poração, reduz prazos, otimiza o retorno do síduos, uso mais eficiente de
investimento, clareia custos de construção, água e energia, redução da
gera menos aditivos, reduz desperdícios de pegada de carbono e utiliza-
mão de obra e materiais. Oferece mais op- ção de materiais de constru-
ções de terrenos, por viabilizar canteiros com ção alternativos.
pouco espaço. Adota sistemas esbeltos que De sua parte, os consumi-
possibilitam maior área útil das unidades ha- dores se beneficiarão. O custo
bitacionais, layouts mais flexíveis e facilidade final diminuirá, as patologias
em manutenção e reformas. e custos de manutenção se
Atuando dessa forma, desde o início da reduzirão, layouts serão mais
fase de projeto, entre outras vantagens figu- flexíveis facilitando adapta-
ram maior interação entre as equipes de pro- ções e reformas. O mercado
jeto e obra, claro entendimento dos sistemas imobiliário se desenvolverá,
e suas interfaces, uso de sistemas modulares ganhando escala e reduzindo
com dimensionamento adequado, otimiza- custos, o que atrairá novos
ção das soluções de interferências, melhora fornecedores e trabalhadores
da garantia e do desempenho dos sistemas já qualificados.
testados e comprovados pela indústria, maior Também recomendamos
detalhamento de projetos evitando erros na boas práticas para industria-
construção, otimização do uso de ferramen- lizar a construção residencial, Dynamic Faria Lima, edifício construído com pré-fabricados
de concreto
tas avançadas aplicadas ao projeto e gestão tais como:
de obras como BIM e IoT (siglas em inglês u Considerar construção no início do projeto;
para Modelagem da Informação da Constru- modular, produtos padronizados e re- u Analisar o cronograma de desembolso
ção e Internet das Coisas), e possibilidade de petitividade como premissas de projeto; antecipado em caso de entregas mais
carga menor nas estruturas e fundações. u Definir os sistemas no início, antes do rápidas, ou a postergação de desem-
Na obra, serão alcançados maior pro- projeto de fundações e estrutura, para a bolsos para o início das obras, em en-
dutividade, redução de prazos e custos, uti- correta especificação e possibilitando so- tregas usuais;
lização de trabalhadores mais qualificados, luções mais esbeltas; u Verificar a necessidade de sistemas
ganhos de gestão pela quantidade menor de u Analisar o custo global, considerando as específicos de transporte no canteiro
fornecedores e de contratos. Haverá maior economias ao longo de toda a vida do e entorno;
assertividade nos quantitativos e recursos empreendimento; u Contratar mão de obra treinada pelo for-
necessários, montagens prévias fora dos can- u Contratar os fornecedores dos sistemas necedor do sistema;

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 73
u Privilegiar fornecedores de sistemas com Entre estes obstá-
bom histórico; culos, figuram: ausên-
u Adquirir sistemas completos e sem adap- cia de programas de
tações, testados e certificados. governo estruturados
Destacamos ainda o aspecto social que voltados à industria-
tem relevância significativa na industrializa- lização; aumento dos
ção da construção, começando pela maior preços dos insumos
capacitação e segurança para os colabo- em descompasso
radores no canteiro de obra, e finalizando com a evolução da
com ambientes dotados de maior conforto renda das famílias;
aos usuários pela sua qualificada constru- elevada tributação;
ção. Tanto consumidores finais, como todos insegurança jurídica;
os profissionais envolvidos na cadeia pro- burocracia; códigos Painéis Pré-Fabricados auto-portantes de fechamento
dutiva, beneficiam-se deste processo. de obras com exigên-
Ao promover a industrialização nas cias construtivas diferentes a cada município; Em outra frente, volta a avançar o Projeto
construções de edifícios seremos capazes oferta limitada de financiamentos; ausência Construa Brasil, impulsionado pelo governo
de incentivar a inovação de forma susten- de divulgação das tecnologias nas universi- federal com a participação das entidades da
tável com incremento da produtividade, dades e reformas estruturais. cadeia produtiva do setor.
dando maior pujança à produção de ha- Para fazer enfrentar esses desafios, for- Este projeto pretende melhorar o am-
bitação no país. Assim, teremos incorpo- maram-se diversas frentes. Nossa entidade biente de negócio do setor da construção,
rações mais assertivas, projetos mais pre- atua fortemente na divulgação das tecno- incentivando as empresas a se moderniza-
cisos, execução de obras otimizadas com logias e na qualificação dos colaboradores rem. Para tanto, foram estabelecidas metas,
mais sustentabilidade e maior satisfação das construtoras, por meio dos Seminários as quais estão relacionadas ao incentivo à
dos adquirentes. de Tecnologia de Estruturas e de Siste- coordenação modular e à construção indus-
mas Prediais, e de nossa área educacional trializada, à convergência dos Códigos de
VANTAGENS EM PRÉ-FABRICADOS liderada pela Universidade Corporativa Obras e Edificações, à melhoria do processo
DE CONCRETO SindusCon-SP. de concessão de alvará para construção, à
Em relação ao emprego de pré-fabrica- Entendemos que a industrialização da difusão do BIM no Brasil e aos desdobramen-
dos de concreto, os estudos existentes indi- construção conseguirá dar conta da meta de tos da Estratégia BIM BR.
cam ganhos expressivos, tais como: redução do déficit habitacional, pelo aumen- No site do programa https://www.
u Ganho de produtividade, que pode che- to da rapidez na construção e do aumen- g ov. b r/p ro d u t i v i d a d e - e - co m e rc i o -
gar a algo entre 50% e 60% em horas/ to da produtividade. A Fiesp, por meio do exterior/pt-br/ambiente-de-negocios/
homem/trabalho; Construbusiness de 2021, da Fiesp, elencou competitividade-industrial/construa-brasil
u Diminuição substancial de desperdícios propostas para impulsionar essa industriali- já constam alguns resultados do Construa
e, consequentemente, menor geração zação, como um regime tributário que esti- Brasil. Por exemplo, estão disponíveis para
de resíduos; mule essa industrialização e opere mudan- download um Mapa Relacional das Normas
u Eliminação da quase totalidade de ças no processo licitatório. de Coordenação Modular e Relatório
retrabalhos; Superado o obstáculo tributário, outro dos Itens das Normas de Revisão e um
u Ajuda na descarbonização da constru- desafio será realizar a transição da constru- Planejamento Estratégico para a Difusão
ção, mediante menor geração de resídu- ção tradicional para a industrializada, com da Construção Industrializada no Brasil.
os e menor consumo de cimento e aço ; a contribuição de tecnologias como o BIM Os profissionais envolvidos nos estudos de
u Facilitação no uso de componentes (Modelagem da Informação da Construção) coordenação modular agora participam da
de alta performance UHPC (Ultra High e a integração com startups. Para ampliar a Comissão de Estudos instalada na ABNT.
Performance Concrete) — as estrutu- utilização dos produtos fabricados fora do No momento em que redigíamos este ar-
ras demandarão menor quantidade de canteiro, será relevante adotar módulos e a tigo, o site do programa prometia para breve
cimento e aço para atingir a mesma construção modular. Ao mesmo tempo, os os seguintes downloads: Mapeamento das
performance; projetistas devem ser estimulados, os fabri- Principais Normas e Regulamentos Técnicos,
u Ganho de renda para os colaborado- cantes dos módulos se especializarem, e os Estudos de Equalização Tributária na Cons-
res envolvidos, que terão melhor qua- cursos universitários se atualizarem. trução Civil e Estudo de Modelos de Financia-
lificação e, como consequência, melhor O SindusCon-SP está coordenando a Co- mento para Construção Industrializada.
remuneração. missão de Estudos instalada em agosto na Com esses e outros avanços, estamos oti-
ABNT para atualizar a NBR 15873 - Coordena- mistas em tornar efetiva a industrialização da
OBSTÁCULOS A SUPERAR ção Modular para Edificações, elaborada em construção residencial com a participação de
Entretanto, a indústria da construção ain- 2010 com base em seis normas internacionais toda a cadeia produtiva do setor e esperamos
da enfrenta obstáculos para fazer realizar a com a participação do Comitê de Tecnologia que a reforma tributária também possa con-
almejada industrialização em larga escala. e Qualidade (CTQ) de nossa entidade. tribuir nessa direção.

74 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


Industrialização da Construção
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.112.0005

Processo produtivo de painéis


arquitetônicos pré-fabricados
de concreto
RAFAEL VAZ LEONARDI – Grad. – (rafael.leonardi@mackenzista.com.br)
LIGIA VITORIA REAL – Prof. | Escola de Engenharia, Universidade Presbiteriana Mackenzie – UPM
FELIPE CAMARGO – Ger. de Produção
MARCELO CUADRADO MARIN – Dir. de Engenharia | Leonardi Construção Industrializada

RESUMO (DONIAK et al, 2011). Entretanto, a preocu- construtiva, sendo que a pouca industriali-

A
inda há no Brasil desafios ao se utilizar pação com a industrialização e racionaliza- zação dos sistemas construtivos é uma das
painéis pré-fabricados, tais como custo ção da construção nacional teve início no principais barreiras da sustentabilidade na
inicial elevado, falta de profissionais final da década de 1960. Nessa época, em construção civil.
qualificados e resistência à adoção por falta de meio a um mercado em expansão, surgi- Apesar das vantagens, a utilização ain-
domínio dos processos.
Normas técnicas, como ram os primeiros painéis de concreto com da limitada de elementos pré-fabricados
a ABNT NBR 16475 e a ABNT NBR 9062, e apelo arquitetônico (ABCIC, 1980 apud na construção civil brasileira inclui o cus-
o Selo de Excelência ABCIC estabelecem re- SERRA; FERREIRA; PIGOZZO, 2005). to inicial mais elevado em comparação ao
quisitos de qualidade e durabilidade para esses Os painéis pré-fabricados de concreto método tradicional de assentamento de
elementos pré-fabricados. Com o intuito de dis- incorporam as vantagens da industrializa- blocos, a escassez de profissionais qua-
seminar a técnica construtiva, esse artigo teve ção na construção civil, como rapidez no lificados, a necessidade de maior preci-
como objetivo apresentar o processo produtivo processo construtivo, maior qualidade e são dimensional na estrutura e a falta de
de painéis arquitetônicos não estruturais pré- uma redução de resíduos. Além disso, po- conhecimento sobre a técnica (EL DEBS;
-fabricados de concreto, identificando os pon- dem ser projetados e produzidos de acor- FERREIRA, 2014).
tos de controle, a fim de garantir a qualidade do com demandas específicas, sejam elas Com o intuito de disseminar a técnica
das peças fabricadas. A colaboração entre se- estruturais ou arquitetônicas, o que contri- construtiva, o presente artigo tem como
tor público, privado e instituições de pesquisa é bui para aumentar o valor agregado e apri- objetivo apresentar o processo produtivo
fundamental para avançar tecnologicamente e morar a estética da obra. de painéis arquitetônicos não estruturais
tornar o concreto pré-moldado mais atrativo. Ainda, o uso de elementos pré-fabrica- pré-fabricados de concreto da empresa
A crescente adoção do sistema impulsionará a dos de concreto é mais eficiente em termos Leonardi Construção Industrializada, iden-
industrialização e racionalização da constru- de recursos e energia, colaborando com a tificando os pontos de controle, a fim de
ção, tornando-a mais eficiente e produtiva. redução de resíduos, do tempo dedicado garantir a qualidade das peças fabricadas.
a retrabalhos e das
Palavras-chave: painéis pré-fabricados de emissões de car-
concreto, processo produtivo, qualidade. bono. Tal eficiência
é alcançada pelos
1. INTRODUÇÃO recursos disponí-
Após o final da Segunda Guerra Mun- veis em instalações
dial, ocorreu um grande impulso das apli- fabris definitivas
cações do concreto pré-moldado na Euro- e pela racionaliza-
pa, principalmente em habitações, galpões ção da construção.
e pontes, devido à necessidade de constru- Segundo Trindade
ção em larga escala, à crescente demanda (2018), as prin-
por habitação (KANAI, 2019). cipais causas do
A primeira grande obra que utilizou desperdício de ma-
elementos pré-fabricados no Brasil foi o teriais e da conse-
FIGURA 1
Hipódromo da Gávea, no Rio de Janei- quente geração de
Espessura efetiva do painel com revestimento arquitetônico
ro, em 1926, nas fundações e no muro resíduos se deve à Fonte: NBR 16475 (ABNT, 2017)
que contorna o perímetro da construção escolha da técnica

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 75
forma, estoque, transporte e montagem
TABELA 1 das peças.
Tolerâncias dimensionais de produção dos painéis pré-moldados Além das normas técnicas brasileiras,
há o guia técnico para paredes pré-fabri-
Elementos cadas de concreto do American Concrete
Seção ou dimensão Tolerância
pré-moldados
Institute (ACI), o documento ACI 533R-11 —
L≤5m ± 10 mm
Guide for Precast Concrete Wall Panels
Comprimento 5 m ≤ L < 10 m ± 15 mm
(2012), que apresenta prescrições de projeto,
L > 10 m ± 20 mm
tolerâncias executivas e construtivas, mate-
Espessura - 5 mm + 10 mm
riais componentes, critérios de fabricação e
Painéis L≤5m ± 3 mm
Planicidade transporte, montagem, ensaios de controle
L>5m ± L / 1000 mm
tecnológico e requisitos de qualidade.
Largura ou altura ≤ 1 m ± 3 mm cada 30 cm
Distorção De acordo com ACI 533R-11
Largura ou altura > 1 m ± 10 mm
(ACI, 2012), são consideradas falhas ina-
Linearidade ± L / 1000 mm
ceitáveis: defeitos de moldagem, como
Fonte: NBR 9062 (ABNT, 2017) e NBR 16475 (ABNT, 2017)
excesso de bolhas na superfície exposta,
marcas indesejadas das formas, armadu-
ras aparentes; manchas de ferrugem ou
2. REQUISITOS TÉCNICOS DOS será exposta. Por exemplo, em casos de de ácido; bordas ou juntas irregulares; cor
PAINÉIS PRÉ-FABRICADOS painéis com revestimento arquitetônico, ou textura não uniformes ou diferentes
A norma técnica ABNT NBR 16475 — tais como agregados aparentes, a camada das amostras aprovadas pelos clientes e;
Painéis de parede de concreto pré-molda- de cobrimento da armadura desconsidera fissuras ou reparos visíveis a uma distân-
do — Requisitos e procedimentos (2017) a espessura do acabamento da superfície. cia igual ou maior a 9 metros após a insta-
classifica esses elementos quanto à: seção Ou seja, deve-se considerar a espessura lação e acabamento na obra.
transversal (maciço, alveolar não estrutu- efetiva (tef) do painel, tanto no dimensio- Ainda, há o Selo Excelência da Asso-
ral, nervurado, sanduíche sem ligação rígi- namento quanto para determinação do co- ciação Brasileira da Construção Industria-
da, parede dupla ou reticulado misto, sem brimento (Figura 1). lizada (ABCIC), que apresenta requisitos
função estrutural); uso (residencial, comer- Em relação aos requisitos de qualida- de qualidade para peças pré-fabricadas.
cial ou industrial); acabamento (bruto ou de de projeto, cabe salientar que devem Criado em 2003, o Selo de Excelência é
arquitetônico); comportamento estrutu- ser atendidos os critérios referentes à si- um programa de qualidade, integrando
ral (estrutural ou não estrutural). A ABNT tuação de incêndio conforme prescreve a sustentabilidade e segurança. Por ser di-
NBR 16475 também apresenta prescrições ABNT NBR 9062 - Projeto e execução de recionado e elaborado para a indústria de
específicas para garantia da durabilidade e estruturas de concreto pré-moldado. Dois pré-fabricados, avalia não somente a ges-
requisitos de qualidade, separando os cri- pontos fundamentais abordados pelas tão de qualidade, mas também o efetivo
térios entre produção e projeto. normas ABNT NBR 16475 (2017) e ABNT atendimento da ABNT NBR 9062 (2017).
Em relação aos requisitos de qualida- NBR 9062 (2017) são os dimensionamen- É um programa evolutivo, que busca a
de da estrutura, devem ser consideradas tos de apoios, liga-
as ações durante as fases de construção e ções e conectores,
sua vida útil, bem como as condições de bem como as fases
agressividade ambiental nas quais a peça transitórias de des-

FIGURA 2 FIGURA 3
Painéis não estruturais com acabamento liso Painéis não estruturais pigmentados
Fonte: Acervo Leonardi Construção Industrializada (2023) Fonte: Acervo Leonardi Construção Industrializada (2023)

76 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


das normas regulamentadoras; avalia- me projetos específicos. Ainda que sejam
ção de satisfação do cliente. elementos não estruturais, são necessários
u Nível III: aspectos ambientais; monito- dimensionamento e verificações que consi-
ramento e medição de resultados. derem os esforços de içamento, transporte,
Tanto o Selo de Excelência ABCIC montagem, peso próprio e ação do vento.
quanto as normas ABNT NBR 16475 (2017) Os painéis lisos são produzidos em me-
e ABNT NBR 9062 (2017) apresentam va- sas horizontais de compensado naval, com
lores específicos de tolerâncias constru- resina aplicada para obter um acabamento
tivas e de montagem, tais como os apre- de melhor qualidade (Figura 4). Antes da
sentados na Tabela 1. Também apresentam preparação da forma, inspetores de qua-
requisitos específicos em relação ao aço, lidade verificam a integridade da mesa,
ao concreto e seus materiais componentes. identificando pontos danificados que se-
Aspectos mais detalhados sobre o controle rão instantaneamente reparados por meio
tecnológico na indústria de concreto pré- da aplicação de massa plástica ou lixas de
-fabricado foram apresentados por Mizu- gramaturas específicas.
moto, Marin e Moreira (2013). No caso de painéis com agregados
FIGURA 4 Cabe ressaltar que o controle de qua- expostos, uma camada de aditivo retar-
Protótipos de formas de painéis lidade vai além da verificação de projeto dador de pega é aplicada à forma junta-
lisos com aplicação de resina e de um controle tecnológico e dimensio- mente com o desmoldante. Dessa forma,
Fonte: Acervo Leonardi Construção Industrializada (2023) nal efetivo, estendendo-se à qualificação no momento do içamento, a camada su-
e comprometimento dos envolvidos no perficial da pasta de cimento não está
processo e na gestão das suas interfaces solidificada junto ao restante do painel,
melhoria das empresas, possuindo três ní- (DONIAK; GUTSTEIN, 2011). podendo ser removida na fase de acaba-
veis a serem alcançados: mento, revelando os agregados. Painéis
u Nível I: atendimento das normas téc- 3 . PROCESSO PRODUTIVO DOS arquitetônicos com relevo ou textura são
nicas básicas e ensaios dos principais PAINÉIS PRÉ-FABRICADOS produzidos por meio de um fundo de for-
materiais, controle inicial dos proces- Na Leonardi Construção Industriali- ma específico, como na Figura 5. A pre-
sos da empresa, qualidade do produto zada, objeto deste estudo de caso, são paração da forma para painéis arquite-
e montagem; regulamentação de fun- produzidos painéis não estruturais e arqui- tônicos, independentemente da solução,
cionamento e de funcionários; aspec- tetônicos. Ou seja, após a montagem não é inspecionada junto com a situação da
tos de gestão da segurança; necessitam de acabamento ou revestimen- mesa pelo controle de qualidade.
u Nível II: ampliação dos aspectos de to (ABNT NBR 16475, 2017). Internamente, Com a qualidade da mesa em con-
gestão da qualidade e registros de são denominados como lisos (Figura 2) ou formidade, são posicionadas divisórias
controle de processos; atendimento de arquitetônicos, quando apresentam relevo, metálicas delimitando as dimensões do
normas técnicas complementares e en- pigmentação ou textura (Figura 3). As pe- painel conforme projeto. A fim de garan-
saios de outros materiais; atendimento ças são produzidas sob demanda, confor- tir a estanqueidade da forma, aplica-se

FIGURA 5
Fundo das formas de painéis com relevo ou textura
Fonte: Acervo Leonardi Construção Industrializada (2023)

& Construções
Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 77
desempenadei-
ras, denominadas
floats, 30 minutos
após o lançamento
do concreto. Uma
vez finalizado o
acabamento, pla-
cas de isopor são
colocadas sobre o
painel para garan-
tir a cura adequa-
FIGURA 6 da e uniformida-
Posicionamento da armação e insertos na forma
de de tonalidade
Fonte: Acervo Leonardi Construção Industrializada (2023)
do elemento.
Após rece-
silicone nas juntas entre a mesa e as di- ber a aprovação do laboratório próprio
visórias. Após essa etapa, os colabora- da empresa, indicando que os corpos de FIGURA 7
dores inserem espaçadores na armação, prova atingiram resistência necessária Aplicação do concreto
que já foi inspecionada, e posicionam-na para o içamento dos painéis, estes são autoadensável
Fonte: Acervo Leonardi Construção Industrializada (2023)
na forma, junto aos insertos, conforme retirados das formas (Figura 8) e subme-
especificado no projeto (Figura 6). Com tidos a uma inspeção final pelo controle
o aval dos inspetores de qualidade, o da qualidade, liberando-os ou não para o
encarregado do setor solicita concreto estoque (Figura 9) e posterior transporte néis, incluindo os momentos de verifica-
à central. à obra (Figura 10). ções de qualidade.
O concreto é despejado do mistura- Todos os elementos produzidos são
dor em caçambas sobre trens elétricos, os 4. GARANTIA DA QUALIDADE devidamente identificados através de eti-
quais transportam o concreto até a área DOS PAINÉIS PRÉ-FABRICADOS quetas. Os inspetores da qualidade utilizam
de alcance da ponte rolante. Enquanto o Durante a inspeção dos elementos um software especializado para efetuar a
operador da ponte rolante movimenta o pré-fabricados pelos inspetores de qua- leitura e registro das avaliações, que são
concreto em direção à forma, o trem leva lidade, são aplicados protocolos rigo- realizadas em diferentes etapas: armação,
outra caçamba para ser recarregada. O rosos com o propósito de assegurar a após a armação ser posicionada na forma
concreto autoadensável é despejado ini- excelência dos produtos. Os procedimen- junto aos insertos, após a concretagem
cialmente em uma das extremidades do tos adotados visam não apenas à garantia e, quando aplicável, após o acabamen-
painel e este é preenchido até alcançar da qualidade, mas à manutenção da pro- to. Em situações particulares, como nos
a extremidade oposta, evitando juntas de dutividade com prevenção contra retra- painéis arquitetônicos, os inspetores são
concretagem (Figura 7). balhos. A Figura 11
O acabamento da superfície superior ilustra o processo
do painel é realizado por meio de grandes produtivo de pai-

FIGURA 8 FIGURA 9
Içamento de painel com relevo Painel arquitetônico no estoque
Fonte: Acervo Leonardi Construção Industrializada (2023) Fonte: Acervo Leonardi Construção Industrializada (2023)

78 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


FIGURA 10
Painéis lisos sobre carreta prontos para transporte
Fonte: Acervo Leonardi Construção Industrializada (2023)
FIGURA 11
Fluxograma da produção de painéis
Fonte: Autores (2023)
requeridos para outras verificações, in- encher um relatório
cluindo a verificação do fundo de forma de não conformi-
especial. A obtenção da resistência mínima dade. Esse relatório é encaminhado direta- ção civil oferece vantagens como rapidez,
para o içamento dos elementos é crucial mente à equipe de engenharia, que forne- qualidade e padronização do produto aca-
para garantir a qualidade estética e preve- cerá um parecer técnico com as instruções bado, redução de resíduos e menor impacto
nir fissuras, sendo essa verificação realiza- para efetuar a correção necessária. ambiental e maior previsibilidade de custos.
da pelo laboratorista na própria empresa. Elementos que apresentam erros de Entretanto, obstáculos como o custo inicial
O software utilizado disponibiliza as execução inviáveis de serem corrigidos são mais elevado, a escassez de profissionais
verificações pertinentes a serem realizadas categorizados como segregados ou refu- qualificados e a falta de conhecimento limi-
em um elemento quando o código corres- gados. Elementos refugados são os que a tam a ampla adoção no Brasil.
pondente é lido. Além disso, registra as não conformidade inviabiliza seu uso. Ele- Investir em capacitação e conscientiza-
observações do inspetor, permitindo que mentos segregados são os que a não con- ção é fundamental para superar essas bar-
inspeções subsequentes sejam informadas formidade inviabiliza seu uso original, mas reiras. A disseminação do conhecimento e
sobre quaisquer constatações feitas nas ainda podem ser aproveitados caso sejam a busca por certificações impulsionarão a
inspeções anteriores. Esse procedimento incorporados em projetos futuros. Nes- sustentabilidade e a eficiência no setor. A
visa mitigar os erros decorrentes de pos- se caso, tais elementos são catalogados colaboração entre setor público, privado e
síveis omissões. e direcionados ao estoque de elementos instituições de pesquisa é crucial para im-
A verificação realizada pelos inspeto- segregados. Caso haja uma obra posterior pulsionar novas tecnologias e tornar o con-
res de qualidade nos elementos pré-fabri- em que possam ser utilizados, esses ele- creto pré-moldado mais utilizado.
cados tem como objetivo identificar erros mentos são submetidos a uma nova inspe-
de execução e notificar a equipe de produ- ção antes de serem empregados. AGRADECIMENTOS
ção para que esses erros sejam corrigidos. Os autores agradecem a oportunidade
Caso os inspetores encontrem um erro que 5. CONCLUSÕES cedida pela empresa Leonardi Construção
não possa ser facilmente corrigido pelos O uso de elementos de concreto pré- Industrializada em compartilhar sua exper-
colaboradores do setor, é necessário pre- -moldado, incluindo os painéis, na constru- tise e processo produtivo.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. Guide for precast concrete walls panels, ACI 533R-11. Farmington Hills, 2014.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16475: Painéis de parede de concreto pré-moldado – requisitos e procedimentos.
Rio de Janeiro, 2017.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9062: Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado.
Rio de Janeiro, 2017.
[4] DONIAK, I.L.O.; GUTSTEIN, D. Concreto pré-fabricado. In: ISAIA, G. Concreto Ciência e Tecnologia. 2. ed. São Paulo: IBRACON, 2011. p. 1569-1613.
[5] EL DEBS, L. de C.; FERREIRA, S.L. Diretrizes para processo de projeto de fachadas com painéis pré-fabricados de concreto em ambiente BIM.
Ambiente Construído, Porto Alegre, 2014.
[6] KANAI, J. Método para fluxo do processo de painéis pré-fabricados baseado em KanBIM. Dissertação (mestrado) – Universidade Estadual de
Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, 2019.
[7] MIZUMOTO, C. ; MARIN, M. C. ; MOREIRA, K. A. W. O controle tecnológico na indústria de concreto pré-fabricado. Concreto & Construção,
v. 72, p. 50, 2013.
[8] SERRA, S. M. B.; FERREIRA, M. A.; PIGOZZO, B. N. Evolução dos pré-fabricados de concreto. São Carlos: 1° ENPPPCPM, 2005.
[9] TRINDADE, E. L. G. Avaliação das barreiras para implementação da sustentabilidade na construção civil. Dissertação (Mestrado) – Universidade
Federal de Pernambuco. CTG. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, 2018.

& Construções
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Industrialização da Construção
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.112.0006

Método de construção acelerada


de pontes e viadutos: conceitos
e aplicações
DANIEL DE LIMA ARAÚJO – Prof. – (dlaraujo@ufg.br)
GLEYSER DINIZ LINHARES – Grad.
MATHEUS VIEIRA ASSUNÇÃO – Grad. | Escola de Engenharia Civil e Ambiental — UFG

RESUMO sob jurisdição do Departamento Nacional um método de Construção Acelerada de

N
este artigo é apresentada a meto- de Infraestrutura de Transportes – DNIT, Pontes [3].
dologiaABC (Accelerated Bridge em função do sistema construtivo e do Mas por que utilizar a metodologia
Construction, traduzido do inglês material utilizado na construção, levanta- ABC? O sistema construtivo de pontes
como Construção Acelerada de Ponte), sendo da na literatura. Observa-se que cerca de e viadutos em concreto moldado no lo-
descritos os conceitos e as principais aborda- 44% das pontes e viadutos desse inventá- cal é um dos sistemas construtivos mais
gens e técnicas utilizadas. Atualmente, essa rio foram executados em concreto arma- simples e utilizados. Tal metodologia im-
metodologia é amplamente utilizada na cons- do moldado no local e, dessas estruturas, plica grandes movimentações de terra
trução de pontes e viadutos nos Estados Uni- a maior parte possui o sistema estrutural e grande tempo de construção. Entre-
dos, sendo a Federal Highway Administration baseado em vigas contínuas. Tal metodo- tanto, isso não é um grande problema
(FHWA) uma das principais autoridades que logia implica grandes movimentações de quando se está implantando uma nova
disponibiliza vasta gama de materiais e estudos terra, grande tempo de construção e gran- via de tráfego. Contudo, quando a malha
sobre a metodologia ABC. Um breve levanta- des gastos com estruturas auxiliares. Além rodoviária ou urbana está consolidada e
mento da tipologia das pontes e viadutos no disso, cerca de 90% das pontes e viadutos há trechos em que são necessários repa-
Brasil sob a responsabilidade do Departa- executados em concreto armado moldado ros, alterações ou expansão das obras de
mento Nacional de Trânsito (DNIT) também é no local tem extensão de até 50 m. arte, o método tradicional com concreto
apesentada. Tendo em vista que quase metade Este artigo tem por objetivo apresen- moldado no local passa a não ser mais
das pontes e viadutos sob responsabilidade do tar os conceitos do método de Construção viável, uma vez que demandará muito
DNIT são construídas em concreto moldado no Acelerada de Pontes (Accelerated Bridge tempo de construção e, consequente-
local e, dessas estruturas, cerca de90% têm Construction — ABC), apresentando os mente, interrupção prolongada da via.
extensão de até 50 metros, a metodologia ABC seus princípios e benefícios. Isso implica a necessidade de alteração
possui um amplo campo de aplicação ao projeto do tráfego ou construção de uma ponte
de pontes e viadutos no Brasil. 2. DESCRIÇÃO DA temporária, de modo a permitir a libera-
METODOLOGIA ABC ção parcial do tráfego enquanto a obra
Palavras-chave: metodologia ABC, pontes, A metodologia ABC (Accelerated Bri- é executada. Essas são soluções que
viadutos, pré-moldados de concreto, constru- dge Construction), ou Construção Acele- têm impacto negativo no processo geral
ção rápida. rada de Pontes, tem se tornado sistema de construção.
padrão em todas as etapas da construção A metodologia ABC empregada com
1. INTRODUÇÃO das pontes e viadutos nos Estados Unidos elementos pré-fabricados de concreto ga-
Ponte é o nome que se dá a toda obra da América nos últimos 30 anos [1]. Devido rante vários benefícios em relação ao siste-
elevada que tem o objetivo de vencer obs- às suas vantagens competitivas, essa me- ma convencional em concreto moldado no
táculos líquidos, como rios, lagos, vales, todologia tem também sido aplicada em local, tais como:
braços de mares, entre outros, que impe- outros países da América do Norte, tendo 1) Redução do impacto sofrido pelo
dem a continuidade da via. Quando esse resultado na publicação de diversos manu- usuário da via: construções ou repa-
obstáculo não é líquido, a obra recebe o ais de aplicação da metodologia ABC [2]. ros em pontes e viadutos tem um im-
nome de viaduto. Essas subdivisões estão Os benefícios de se utilizar essa metodolo- pacto negativo para os usuários de
englobadas em um conjunto geral denomi- gia vão muito além da construção da obra uma via de tráfego. Atrasos causados
nado de “Obras de Arte Especiais”. em si, pois há benefícios a curto e longo por congestionamentos e riscos de
Na Tabela 1 é mostrada a distribuição prazo que devem ser levados em conside- acidentes são alguns fatores que im-
das pontes rodoviárias federais no Brasil, ração quando da decisão do emprego de pactam negativamente os usuários

80 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


obra, esses impactos negativos podem
TABELA 1 ser minimizados;
Sistemas estruturais e materiais das pontes e viadutos brasileiros 3) Redução de impacto ambiental: a
metodologia ABC pode ser utilizada,
Quantidade por exemplo, para reduzir em meses
Estrutura Sistema e material Porcentagem
(Unid.) o tempo de execução da obra dentro
Arco inferior de concreto armado 18 0,33% ou ao redor de uma área ambiental-
Arco inferior de concreto protendido 1 0,02% mente sensível;
Arco inferior metálico 3 0,06% 4) Qualidade: apesar dos rígidos con-
Estaiada com vigamento de concreto protendido 2 0,04% troles de qualidade exigidos no pro-
Estaiada com vigamento metálico 1 0,02% cesso de construção de uma ponte, é
Laje de concreto armado 471 8,70% um grande desafio atingir tais graus
Laje de concreto protendido 5 0,09% de qualidade ao se utilizar o concre-
Mista (viga metálica e laje de concreto) 185 3,42% to moldado no local - isso ocorre, por
Ponte Não informado 864 15,96% exemplo, por conta do ambiente des-
Treliça metálica 4 0,07% favorável que, muitas vezes, os tra-
Viga caixão de concreto armado 148 2,73% balhadores estão submetidos e pela
Viga caixão de concreto protendido 145 2,68% dificuldade de controlar a qualidade
Viga de concreto armado 2907 53,69% do concreto produzido no local; tais
Viga de concreto protendido 650 12,01% fatores reduzem consideravelmente a
Viga e laje metálicas 5 0,09% durabilidade da estrutura; com a utili-
Madeira 5 0,09% zação de elementos pré-fabricados de
Total 5414 100% concreto, tais condições indesejadas
Arco de alvenaria de pedra 1 0,05% podem ser reduzidas – o rígido proces-
Arco inferior de concreto armado 12 0,55% so de fabricação exigido pelas normas
Arco inferior metálico 2 0,09% de estruturas pré-fabricadas faz com
Arco superior metálico 8 0,37% que esses elementos possuam maior
Estaiada com vigamento de concreto protendido 1 0,05% resistência mecânica com menor fissu-
Laje de concreto armado 315 14,46% ração e, consequentemente, maior vida
Laje de concreto protendido 5 0,23% útil e menores custos de manutenção
Viaduto Mista (viga metálica e laje de concreto) 42 1,93% ao longo do seu ciclo de vida;
Não informado 544 24,98% 5) Construtibilidade melhorada: reduz,
Viga caixão de concreto armado 203 9,32% ou até mesmo elimina, a quantidade
Viga caixão de concreto protendido 119 5,46% de trabalhadores no local de execução
Viga de concreto armado 455 20,89% da obra;
Viga de concreto protendido 469 21,53% 6) Redução de custo para a sociedade: O
Viga e laje metálicas 2 0,09% custo de uma obra de infraestrutura não
Total 2178 100% deve ser medido apenas pelo seu custo
Fonte: Adaptado de DNIT [4] direto de construção; outros fatores e
custos indiretos devem ser levados em
consideração quando da definição do
das rodovias, por exemplo; de acor- possui um impacto direto na sua recei- sistema construtivo de uma ponte ou
do com o manual da Federal Highway ta, esse impacto deve ser contabilizado viaduto. O departamento de transportes
Administration — FHWA, o tem- durante a etapa de planejamento, uma de Utah, nos EUA, por exemplo, mede
po de impacto no fluxo de tráfego vez que é esse mesmo usuário que rotineiramente a percepção do público
de uma via é chamado de “Mobili- paga os impostos que irão financiar em geral sobre as suas construções por
ty Impact Time” e é dividido em 5 a construção; meio de questionários. Uma pesquisa re-
níveis: nível 1, com impacto de 1h a 2) Melhoria da segurança do trabalhador alizada sobre um viaduto construído com
24h; nível 2, com impacto em até e do motorista: construções e reparos a metodologia tradicional constatou que
3 dias; nível 3, com impacto até 2 sema- na via de tráfego existente podem cau- 1/3 dos entrevistados estavam satisfeitos,
nas; nível 4, com impacto até 3 meses; sar distrações nos motoristas, o que 1/3 não estavam satisfeitos e o restante
e nível 5, com impacto de 3 meses a afeta a sua segurança; atrelado a isso, era indiferente. Outra pesquisa sobre um
anos [5]. O objetivo da metodologia há o fato de o trabalhador desempe- viaduto executado com o uso da me-
ABC está em elevar ao menos 1 nível nhar suas atividades junto a uma via todologia ABC constatou que 94% dos
quando comparado com o método tra- com tráfego ativo - com a redução entrevistados avaliaram positivamente
dicional de construção. Como o usuário do tempo de construção ou reparo da o processo construtivo como um todo,

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resultando em uma percepção extre- questão de meses ou mesmo dias, em vez trução que vem sendo desenvolvido e imple-
mamente positiva da população para de anos. mentado a fim de promover uma inovação na
com essa metodologia de execução Os projetos com a abordagem ABC construção de pontes e viadutos, reduzindo
de obras de arte [5]. bem-sucedidos demonstram a viabilida- os impactos aos usuários das vias de tráfego.
O processo de planejamento e defini- de dessa estratégia ao reduzir a escala de A forma mais comum de aplicar a me-
ção do escopo do projeto de uma ponte tempo de construção de anos para apenas todologia ABC é associada com o uso de
utilizando a metodologia ABC consiste alguns fins de semana. Por exemplo, o De- elementos pré-fabricados. Entretanto, a pré-
em duas fases principais. Primeiro, decidir partamento de Transporte de Massachu- -fabricação de alguns elementos da ponte
se o ABC é apropriado para um local. A setts usou essa estratégia para reduzir o não é algo exatamente novo. As longarinas
análise de uma série de variáveis, desvios período de construção de um grande pro- pré-fabricadas de concreto estão presentes
prováveis, rotas de emergência e taxas de jeto com a metodologia ABC na Interesta- em vários tipos de pontes e viadutos. A evo-
usuários das estradas, deve ser feita como dual I-90, que possuía um fluxo de cem mil lução que a metodologia ABC busca trazer
parte desse processo de tomada de deci- veículos por dia. Em apenas oito finais de reside na pré-fabricação de tabuleiros, pila-
são. Uma vez tomada a opção de adotar a semanas, foram substituídas oito pontes res, sapatas, paredes de contenção, etc.
metodologia ABC, a segunda etapa envol- nessa rodovia, com uma movimentação de Um ponto de atenção nas estruturas
ve a escolha de qual tecnologia construtiva 242 elementos pré-fabricados. Mesmo du- pré-moldadas é a ligação entre os elemen-
é adequada para o local da obra. rante os serviços de reparo das pontes, o tos e a formação de juntas. A verificação
Uma justificativa importante para o fluxo de veículos não foi interrompido [6]. da resistência e durabilidade das ligações
uso de métodos de construção acelerada e das juntas é um assunto largamente es-
de pontes (ABC) é a dificuldade de ge- 3. ELEMENTOS PRÉ-FABRICADOS tudado para as edificações pré-moldadas
renciar o tráfego. Isso porque os desvios PARA PONTES em geral. A FHWA já desenvolveu estudos
na via de tráfego podem influenciar no A metodologia ABC não é um método específicos para as ligações entre elemen-
custo da estrutura e na economia das ci- construtivo e nem está relacionada a um úni- tos pré-fabricados de pontes. Há resulta-
dades próximas. Usando uma abordagem co processo construtivo, mas representa um dos que mostram que essas ligações são
ABC, a construção pode ser concluída em compilado de técnicas e tecnologias de cons- duráveis e estruturalmente resistentes para
serem utilizadas em estruturas de pontes
e viadutos, inclusive em regiões sujeitas a
sismos moderados [7].
Os elementos pré-fabricados em uma
ponte podem ser unitários, como uma lon-
garina, pilar, sapata, etc., ou modulares, sen-
do formados por elementos unitários já in-
terligados, como, por exemplo, um conjunto
de duas vigas ligadas a um tabuleiro de
concreto. Elementos modulares represen-
tam uma ótima alternativa para a metodo-
logia ABC. Há diversos relatos de obras nos
A Seção com laje maciça
EUA bem-sucedidas utilizando essa tec-
nologia [8]. Entretanto, a medida em que
mais elementos pré-fabricados vão sendo
integrados no processo de fabricação, mais
complexo se torna o processo de transpor-
te, montagem e ligação desses módulos em
seu local definitivo.

3.1 Elementos da superestrutura

Os componentes da superestrutura da
ponte utilizados no processo de construção
acelerada incluem a pré-fabricação de lon-
B Seção com laje nervurada garinas, tabuleiros ou módulos formados por
mais de um elemento estrutural. As longa-
FIGURA 1 rinas pré-fabricadas da superestrutura são
Longarinas pré-fabricadas em UHPC com mesa larga frequentemente feitas de concreto proten-
Fonte: Morcous e Tadros (2023) dido para possibilitar vencer grandes vãos.
A durabilidade e o desempenho das

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longarinas podem ser aprimorados com o
emprego do concreto de alto desempenho
(UHPC). Vigas em “T” com UHPC podem
ser utilizadas de modo a padronizar o pro-
jeto das longarinas nas pontes e viadutos.
Atuando como vigas e tabuleiros ao mes-
mo tempo, os sistemas de vigas adjacen-
tes, com seção duplo em “T” ou vigas em
“T” com mesas largas (Figura 1), oferecem FIGURA 2
opções para a construção mais rápida de Tabuleiro formado por painel pré-moldado
pontes, pois eliminam a necessidade da Fonte: Aurier et al. (2023)
execução da laje em concreto moldado no
local [9]. O Concreto de Alto Desempenho
(UHPC) também pode ser utilizado para A capacidade máxima dos guindastes, bem dos cabos, é aplicada uma argamassa de alta
unir os elementos pré-fabricados de pontes, como as restrições dimensionais e de peso resistência a fim de garantir a aderência do
permitindo ligações com menor dimensão, para transporte, deve ser considerada. cabo com o concreto, fornecendo a ductilida-
de mais rápida execução e com maior capa- de e a resistência necessária para a ligação.
cidade resistente. 3.2 Elementos da mesoestrutura Semelhante a um pilar parede, os en-
Ao trabalhar em projetos rápidos, a liga- contros em pontes são estruturas utiliza-
ção entre o tabuleiro e a longarina pode ser Os pilares pré-fabricados têm sido uti- das para sustentar tanto a superestrutura
demorada e exigir cuidados extras na obra. lizados como uma solução para agilizar o da ponte quanto para conter o solo em
Isso é mais impactante quando se utiliza o processo construtivo da mesoestrutura. suas extremidades. Esse tipo de elemento
sistema de longarina pré-moldada com ta- Eles possuem a vantagem de se repetirem também pode ser totalmente pré-fabrica-
buleiro em concreto moldado no local. Tal ao longo da ponte, o que pode reduzir o do em módulos, que são conectados à fun-
impacto negativo no tempo de construção seu custo de produção. A ligação entre dação também utilizando luvas grauteadas
pode ser reduzido ao se utilizar o tabuleiro segmentos de pilares e destes com a fun- (Figura 5). As juntas verticais podem ser
totalmente pré-moldado e ligado à laje por dação pode ser realizada com o emprego deixadas abertas ou preenchidas com es-
meio de nichos preenchidos com concreto de luvas grauteadas (Figura 4). Tal modelo puma expansiva, replicando uma junta de
de alto desempenho [10], conforme mos- de conexão simula a emenda por traspasse dilatação comumente presente em edifica-
trado na Figura 2. comumente conhecida, o que a torna uma ções. O tempo de construção típico para
Nos sistemas modulares, a ligação do opção muito versátil, além de apresentar um encontro pré-moldado pode ser de
tabuleiro com as longarinas pode ser reali- resistência semelhante à de um pilar mol- apenas dois dias [5]
zada na fábrica, eliminando, portanto, essa dado no local, atingindo alta ductilidade.
atividade da obra (Figura 3). Contudo, é Outra alternativa é o uso de protensão 4. CONCLUSÃO
necessário verificar se é viável transportar para realizar a ligação dos elementos que A metodologia ABC tem sido ampla-
e instalar peças maiores e mais pesadas. irão compor o pilar. Após o tensionamento mente empregada nos projetos de pontes e

FIGURA 3
Superestrutura modular sendo instalada na ponte FIGURA 4
Jacques-Cartier Ligação de pilares pré-moldados com luvas grauteadas
Fonte: Aurier et al. (2023) Fonte: Michael e Culmo (2011)

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casos recentes de adaptação das tecnologias existentes em
aplicação dessa me- outros países para a realidade brasileira.
todologia, focados Baseado nos dados coletados na lite-
especialmente no ratura sobre as pontes sob responsabilida-
uso de tabuleiros de do DNIT, observa-se que quase metade
totalmente pré-fa- dessas pontes e viadutos foram construí-
bricados [11]. das em concreto moldado no local. E des-
Contudo, a im- tas estruturas, cerca de 90% têm extensão
plementação da de até 50 metros. Apesar da metodologia
metodologia de ABC, como descrita, pode ser implemen-
Construção Ace- tada em qualquer tipo de ponte e viaduto,
lerada de Pontes independente do seu sistema estrutural,
(ABC) não se re- acredita-se que o seu emprego mais ime-
sume apenas em diato pode se dar nas pontes com exten-
pré-fabricar os ele- sões de até 50 m, com dois vãos ou mais.
mentos estruturais Tendo em vista que este é o tipo de cerca
FIGURA 5 de uma ponte, em de 40% das pontes sob responsabilidade
Esquema de montagem de um encontro de concreto pré-moldado especial as longari- do DNIT, pode-se concluir que o emprego
Fonte: Michael e Culmo [5]
nas. Por outro lado, de uma metodologia de Construção Ace-
representa uma mu- lerada de Pontes (ABC) pode ter um im-
viadutos na América do Norte, onde diver- dança de filosofia pacto relevante na construção das futuras
sas pesquisas têm sido realizadas. Devido de projeto e construção, que começa pela pontes e viadutos no Brasil.
ao uso intensivo da pré-fabricação dos ele- agência responsável pela obra, mas envolve
mentos estruturais da ponte (superestru- projetistas, construtoras e empresas de pré- AGRADECIMENTOS
tura e mesoestrutura), é possível reduzir o -fabricados de concreto. Além disso, implica Os autores agradecem ao CNPq pelo
tempo de construção de pontes e viadutos o desenvolvimento de novas tecnologias de apoio financeiro ao projeto de pesquisa
quando comparado ao sistema convencional materiais de alto desempenho, de transporte “Desenvolvimento e melhoria de ligações
em concreto moldado no local. Além disso, e de realização de ligações entre os elemen- para pontes rodoviárias em concreto pré-
a qualidade e a durabilidade das estrutu- tos pré-fabricados. Nesse sentido, pesquisas -moldado” (processo 405500/2022-0) ao
ras também são melhoradas. No Brasil, há necessitam ser desenvolvidas no Brasil para qual este artigo está relacionado.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] AURIER, L.; HASSAN, M.; JAWORSKI, J.; GUIZANI, L. Review of Accelerated Bridge Construction Systems for Bridge Superstructures and Their
Adaptability for Cold Weather. CivilEng, Vol. 4, pp. 83–104, 2023. https://doi.org/10.3390/civileng4010007.
[2] MELLON, D.; KODSUNTIE, M.; HOLOMBO, J.; GHOSH, K.; ROWE, G. Accelerated Bridge Construction Manual. Fisrt Editions. CALTRANS, 2021. Disponível
em: https://dot.ca.gov/-/media/dot-media/programs/engineering/documents/abc/ctabc-2021-06-30_a11y.pdf. Acesso em: 13 ago. 2023.
[3] WANG, Z. Z.; SHI, B. Decision Making and Economic Analysis for Accelerated Bridge Construction. Applied Mechanics and Materials,
Vols. 423-426, pp. 2196-2201, 2013. Trans Tech Publications, Ltd. https://doi.org/10.4028/www.scientific.net/amm.423-426.2196.
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Acesso em: 14 ago. 2023.
[5] MICHAEL, P.; CULMO, P. E. Accelerated Bridge Construction: Experience in Design, Fabrication and Erection of Prefabricated Bridge Elements
and Systems. Report No. FHWA-HIF-12-013. McLean: FHWA, 2011. 346 p. Disponível em: http://www.fhwa.dot.gov/bridge/abc/docs/abcmanual.
pdf. Acesso em: 19 jun. 2023.
[6] PCI. I-90 Acceler-8 MassDOT Bundled Bridges. 2023. Disponível em: https://www.pci.org/PCI/PCI/Project_Resources/Project_Profile/
Project_Profile_Details.aspx?ID=241800. Acesso em: 13 ago. 2023.
[7] MARSH, M. L. et al. Application of Accelerated Bridge Construction Connections in Moderate-to-High Seismic Regions. NCHRP REPORT 698.
WASHINGTON, D.C: TRANSPORTATION RESEARCH BOARD, 2011.
[8] LESSARD, A. I-84 bridges over Marion Avenue. An accelerated bridge construction success story in Southington, Conn. ASPIRE, pp. 16-19,
Summer 2015. Disponível em: https://www.aspirebridge.com/magazine/2015Summer/Project-I84Bridges.pdf. Acesso em: 13 ago. 2023.
[9] MORCOUS, G.; TADROS, M. K. UHPC Decked I-Beam for Accelerated Bridge Construction. Report No. FY21-005. Lincoln: Nebraska Department
of Transportation (NDOT), 2023. 100 p. Disponível em: https://rosap.ntl.bts.gov/view/dot/67210. Acesso em: 13 ago. 2023.
[10] ARAÚJO, D. L. Apêndice AP14 - Tabuleiros com viga e laje pré-moldadas ligadas mediante nichos. In: Mounir Khalil El Debs. (Org.). Pontes de
concreto: com ênfase na aplicação de elementos pré-moldados. 1ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2021, p. 367-385.
[11] ABCIC. Pré-fabricado de concreto contribui para a implantação do sistema ABC no Brasil. Industrializar em concreto, Vol. 5, pp. 24–27, 2015.
Disponível em: https://industrializaremconcreto.com.br/Edicoes/Exibir/pre-fabricado-de-concreto-contribuipara-a-implantacao-do-sistema-
abc-no-brasil?Pagina=1. Acesso em: 07 out. 2023.

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Inspeção e Manutenção
DOI − http://dx.doi.org/10.4322/1809-7197.2023.112.0007

Execução do reforço estrutural


do barramento principal de
usina hidrelétrica
GUSTAVO MAIA – Dir. – https://orcid.org/0009-0004-7739-7226 ;
LEANDRO FILGUEIRAS – Ger. Eng. – https://orcid.org/0009-0002-4525-4672 (leandro.filgueiras@gmaia.com.br) ;
HERALDO XAVIER – Ger. Oper. – https://orcid.org/0009-0009-4107-7315 ;
LARISSA XAVIER – Aux. Ger. Téc. – https://orcid.org/0009-0006-6000-7214 (larissa.xavier@gmaia.com.br) ;
BRUNO BARBOSA – Ass. Orç. – https://orcid.org/0009-0008-8063-7269 | Construtora Gmaia
MARCELO BOTELHO – Dir. – https://orcid.org/0009-0003-6249-8115 | VLB
RAFAEL HOLANDA – Dir. – https://orcid.org/0009-0001-6168-2215 | Holanda Engenharia

RESUMO logia construtiva utilizada será constituída Política Nacional de Segurança de Barragens

O
presente artigo visa apresentar as por blocos de concreto massa convencional (PNSB). A PNSB tem como objetivo garantir
diretrizes gerais de projeto, análise com a finalidade de aumentar o peso próprio os padrões de segurança destinados à barra-
e execução utilizados para o reforço da estrutura, reforçando a estrutura original mentos com acumulação de água para quais-
do barramento principal de usina hidrelétrica existente para atendimento aos coeficientes de quer usos, à disposição final ou temporária
de grande porte. estabilidade, motivado pela presença de sedi- de sedimentos e à acumulação de resíduos
Descrevemos condições para a correta execu- mentos oriundos do rompimento da barragem industriais (BRASIL, 2010). A PNSB foi cria-
ção do projeto executivo, assim como o bom de- localizada à montante da mesma. da de maneira a garantir certos padrões de
sempenho e durabilidade das estruturas, sempre segurança, regulamentar ações e padrões, re-
considerando os aspectos de segurança, con- Palavras-chave: barramento, reforço de duzir a possibilidade de acidentes, aumentar
fiabilidade e economia. barragem , barragem , UHE. a segurança dentro de ambientes próximos
O barramento principal é composto por fecha- aos barramentos e fomentar informações
mentos das margens esquerda e direita, verte- 1. INTRODUÇÃO acerca da segurança de barragens.
douro e tomada d’água de concreto compac- No ano de 2010, foi criada a Lei Federal Apesar das inúmeras vantagens da
tado a rolo (CCR) e concreto convencional N° 12.334, que visava aumentar a segurança construção de barragens, são as suas
(CCV), com juntas de contração. A metodo- e as fiscalizações das barragens, criando-se a eventuais falhas estruturais que causam

FIGURA 1 FIGURA 2
Barramento principal Principais acessos a UHE
Fonte: Acervo digital da Gmaia Fonte: Acervo digital da Gmaia

& Construções
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FIGURA 3
Modelagem do projeto utilizando tecnologia BIM
Fonte: Acervo digital da Gmaia

apreensão, uma vez que os acidentes en- à UHE estão desta-


volvendo essas obras são de gravidade ele- cados na Figura 2
vada. Não é permissível conviver com tais em linhas verme-
riscos (Oliveira 2012). lhas.
O Barramento principal listado nes- A UHE foi uma FIGURA 4
se artigo técnico é composto por fecha- das estruturas Seção transversal de reforço BMD-1
Fonte: Acervo digital da Gmaia
mentos das margens esquerda e direita, atingidas pelos se-
vertedouro e tomada de água de Concre- dimentos oriundos
to Compactado a Rolo (CCR), e concreto do rompimento da
convencional (CCV), com juntas de con- barragem em 2015. Após esse acidente a concreto à jusante, atendendo as boas prá-
tração nas extremidades de cada bloco ao UHE ficou inoperante, sendo reavaliada ticas de engenharia como preparo de su-
longo do barramento, conforme Figura 1. e posteriormente reforçada. As análises perfície, ancoragens entre concreto novo e
O Circuito de Geração é composto pelo de estabilidade foram necessárias devido existente, controle de temperatura do novo
conjunto Tomadas de Água, Condutos For- à presença de sedimentos junto ao bar- concreto, sistema de forma trepante, cura
çados e Casa de Força, sendo esta projeta- ramento, carregamento não previsto em e demais fatores intrínsecos ao somatório
da em concreto convencional (CCV). projeto, além da atualização dos critérios das atividades executivas.
O acesso ao empreendimento se dá em virtude da publicação do Projeto Ci- Dentre as avaliações de estabilidade
por vias não pavimentadas, sendo o aces- vil de Usinas Hidrelétricas da Eletrobrás realizadas em cada bloco, foi constata-
so à ombreira direita do barramento mais (2003), posterior ao projeto e início de do que o BME-1, BME-2, BME-3, BME-4,
distantes, uma vez que não existe passa- implantação do empreendimento. BME-5, BME-6, BMD-1, BMD-3, BMD-4,
gem sobre o rio para veículos através do As atividades previstas para o barra- BMD-5, BMD-6 e muro de ligação (Figura
barramento da UHE. Os principais acessos mento da UHE envolvem lançamento de 3) não atendiam aos critérios de projeto

FIGURA 5 FIGURA 6
Localização do canteiro Localização do canteiro
Fonte: Acervo digital da Gmaia Fonte: Acervo digital da Gmaia

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FIGURA 7 FIGURA 8
Implantação canteiro Estrutura física do laboratório
Fonte: Acervo digital da Gmaia Fonte: Acervo digital da Gmaia

Eletrobrás na condição de carregamento d’Água com soleira na cota 308,20 m. cada bloco do barramento original deveria
referente ao retorno de NA operacional As atividades de reforço previstas na receber para atender os fatores de segu-
(reservatório cheio) e a manutenção do se- UHE contemplam preenchimento de con- rança mínimos estabelecidos.
dimento a montante do barramento. creto convencional vibrado (CCV) e/ou O local destinado para o canteiro de
Ressaltamos que, na época da cons- concreto bombeável sobre o CCR, con- obras fica localizado a margem esquerda a
trução da usina ainda não havia sido publi- forme indicado pelo Projeto Executivo, a jusante do barramento, conforme identifica-
cado os critérios de projeto Eletrobrás, ou jusante no pescoço de 12 (doze) estrutu- do nas Figuras 5, 6 e 7. Além do canteiro
seja, antes do reforço a usina se encontrava ras do Barramento: BME-1, BME-2, BME- central, foram montadas duas frentes de
estável, mesmo com o sedimento deposi- 3, BME-4, BME-5, BME-6, BMD-1, BMD-3, serviço avançadas para dar apoio à equipe
tado a montante e reservatório rebaixado. BMD-4, BMD-5, BMD-6 e Muro de Ligação. operacional, sendo elas: uma central de ar-
Basicamente, a UHE passou a neces- mação e uma central de forma. Para atender
2. PROCEDIMENTOS EXECUTIVOS sitar de reforço atendendo aos critérios a demanda de concreto, foi montada uma
E DESCRIÇÃO DO PROBLEMA de segurança e estabilidade para o novo central de concreto em outro local (Figu-
O Barramento é constituído por uma cenário de carregamento, sendo assim foi ras 8 e 9). Para atendimento aos requisitos
barragem de concreto, com crista na El. desenvolvido projeto executivo (Figura 4) contratuais a obra implantou laboratório pró-
330,00 m, tendo, na calha do rio, o Verte- indicando o volume de concreto no qual prio, a cargo da Holanda Engenharia Ltda.
douro com crista na El 311,00 m e a Tomada

FIGURA 9 FIGURA 10
Estrutura física do laboratório UHE antes do rompimento da barragem a montante
Fonte: Acervo digital da Gmaia Acervo digital da Gmaia

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FIGURA 11 FIGURA 12
UHE após rompimento da barragem a montante Seção transversal e vista 3D BME-2
Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org) Fonte: Gmaia

3. FASE DE ANÁLISE Após o rompimento da barragem a estabilidade, alternando NA à montante e


Primeiramente foram avaliados docu- montante da UHE e o assoreamento do jusante, cota de sedimentos e nível de ope-
mentos da etapa de projeto executivo da reservatório da Usina, vários estudos fo- ração dos drenos (Figuras 12 e 13).
construção da UHE, datados de 2002 a 2004, ram realizados para avaliar a integridade
além de sondagens mecânicas, videoscopia, e a estabilidade das estruturas de concre- 5. SERVIÇOS EXECUTADOS
ensaios e relatórios de avaliação dos mesmos, to do barramento, Vertedouro e Tomada Dando início as atividades de execução
realizadas/elaborados após o evento de rup- de Água. da obra, mesmo que em caráter experi-
tura da Barragem a montante da UHE, data- mental, foram iniciados os primeiros testes
dos de 2021 2021 (Figuras 10 e 11). 4. REFORÇO DO BARRAMENTO de hidrojateamento, com a finalidade de
O objetivo dessa avaliação é tomar As análises de estabilidade indicaram demonstrar a eficiência do método para
conhecimento do projeto, geometria, cri- a necessidade de reforço dos blocos BME- limpeza do substrato em concreto existen-
térios e suas particularidades, de forma a 1, BME-2, BME-3, BME-4, BME-5, BME-6, te do barramento da UHE (Figura 14).
subsidiar as análises de estabilidade das BMD-1, BMD-3, BMD-4, BMD-5, BMD-6 e Na sequência de execução, foi iniciado
estruturas de concreto da usina para nova Muro de Ligação para atendimento aos cri- o hidrojateamento da primeira camada do
condição de carregamento, a partir dos re- térios de estabilidade. bloco BME02. Logo após foi iniciado o ser-
forços e fatores de segurança adotados, ou Em resumo foram avaliadas as combi- viço de furação para a ancoragem das bar-
seja, definidos pela Eletrobras. nações de carregamentos nas análises de ras de ligação (Figura 15).

FIGURA 13 FIGURA 14
Seção transversal e vista 3D BME-2 com reforço Teste com o hidrojato
Fonte: Acervo digital da Gmaia Fonte: Acervo digital da Gmaia

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FIGURA 15 FIGURA 16
Execução de furos para ancoragem Ancoragem das barras de ligação
Fonte: Acervo digital da Gmaia Fonte: Acervo digital da Gmaia

FIGURA 17 FIGURA 18
Detalhamento projeto reforço UHE - Ancoragem das barras de ligação Hidrojateamento do BME-04
Fonte: Acervo digital da Gmaia Fonte: Acervo digital da Gmaia

FIGURA 19 FIGURA 20
Concretagem da primeira camada do bloco BME-02 Sistema de formas trepantes
Fonte: Acervo digital da Gmaia Fonte: Acervo digital da Gmaia

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FIGURA 21 FIGURA 22
Sistema de tirantes internos – forma Controle da massa específica do concreto
Fonte: Acervo digital da Gmaia Fonte: Acervo digital da Gmaia

Após a conclusão dos fu- ras, fungos, poeiras e partícu-


ros de ancoragem e limpeza dos las soltas, de modo a garantir
mesmos, iniciou-se a fase de an- boa aderência. Nos pontos
coragem das barras de ligação onde houve infiltrações visí-
(Figuras 16 e 17). veis no barramento original,
Com todas as etapas de hidro- foram realizadas injeções de
jateamento, ancoragem das barras poliuretano no concreto do
de ligação e montagem das formas barramento.
trepantes finalizadas, a construtora
gmaia prosseguiu com a execução 5.1 Montagem de formas
dos serviços de ancoragem e mon-
tagem de forma nos blocos BME- As fôrmas e sistemas de
03 e BME-O4 (Figura 18) . ancoragem foram dimensio-
Foi realizada a primeira con- nadas para suportar a pres-
cretagem, mediante liberação do são resultante do lançamento
contratante nos blocos BME-02 e e vibração do concreto, es-
BME-03 (Figura 19). tando rigidamente fixadas na FIGURA 23
posição correta e ser suficien- Monitoramento das temperaturas
A superfície a ser concreta-
Fonte: Acervo digital da Gmaia
da recebeu tratamento por meio temente estanques para im-
de corte por água a alta pressão, pedir a perda de argamassa
com a finalidade de eliminar sujei- (Figuras 20 e 21).

FIGURA 24 FIGURA 25
Croqui do plano de camadas inicial de concretagem Monitoramento da evolução da temperatura – Bloco BME-01
Fonte: Acervo digital da Gmaia Fonte: Acervo digital da Gmaia

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6. TECNOLOGIAS UTILIZADAS ado e, portanto, com as características de trolado aos 90 dias de idade. Também
abatimento “Slump” e manutenção da tra- foi definido pela projetista a massa espe-
6.1 Considerações da tecnologia balhabilidade compatíveis com o ciclo de cífica do concreto mínima de 23 kN/m3
do concreto utilizado produção requeridos, desde a liberação da (~2.300 kg/m3) de acordo com os requi-
mistura na central de concreto, transporte, sitos de estabilidade da estrutura para
Para a execução das estruturas de lançamento, adensamento e cura. reforço do barramento.
modo a atender as expectativas de crono- Por se tratar de um bloco de con- Desta forma, em função das caracterís-
grama da obra, foi estratégica a utilização creto massa (simples / não armado), foi ticas específicas da mistura para o lança-
de mistura de concreto do tipo convencio- especificado o concreto de resistência mento via bomba, exigiu-se um teor míni-
nal vibrado (CCV), de lançamento bombe- característica (fck) igual a 12 MPa, con- mo de argamassa e consequentemente de
cimento, com teores de consumo de aglo-
merante variando entre 210 e 220 kg/m3.
Além do controle sistemático do aba-
timento slump e da determinação da re-
sistência à compressão axial, também foi
dada especial atenção para o controle da
massa específica (Figura 22) e o monito-
ramento das temperaturas ambiente e do
concreto no estado fresco (Figura 23).

6.2. Estudo térmico/monitoramento


da temperatura do concreto
FIGURA 26
Modelagem utilizando tecnologia BIM De modo geral empregam-se as consi-
Fonte: Acervo digital da Gmaia derações técnicas das condições ambien-
tais e recomendações práticas pertinentes
para a mitigação das temperaturas dos
concretos, no intento de diminuição do ris-
co de fissuração dos concretos por origem
térmica bem como na formação de etringi-
ta tardia (DEF).
O processo usual para cálculo de tem-
peratura indicado na prática é relacionado
a norma americana ACI 207, considerando o
fluxo bidimensional de calor admitindo a se-
ção transversal da estrutura (mais favorável
à dissipação de calor) e da verificação unidi-
FIGURA 27
Modelagem utilizando tecnologia BIM mensional no caso de lajes e estruturas onde
Fonte: Acervo digital da Gmaia uma dimensão (altura) é muito menor do
que as outras duas (largura e comprimento).
As condições específicas do plano de
concretagem atenderam à limitação da
temperatura máxima em qualquer região
da massa de concreto, de modo a incidir
65 oC, como premissa de mitigação da
etringita tardia (Figura 24).
É importante ressaltar que o maior ris-
co era o da retração hidráulica/secagem,
devido à elevada relação A/C das mistu-
ras (variando entre 0,90 a 1,05) e do clima
quente. Portanto, foi redobrada a atenção
FIGURA 28 dos processos de cura no campo, em es-
Modelagem utilizando tecnologia BIM
pecial nas primeiras idades, pois o perí-
Fonte: Acervo digital da Gmaia
odo mais crítico ocorre nas 72 horas de

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Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 91
FIGURA 29
Etapas em azul a serem realizadas na obra
Fonte: Acervo digital da Gmaia

hidratação do cimento e desenvolvimento de massa da camada instrumentada. “Kr”, já que os blocos possuem geometria
das resistências iniciais. Com base nos estudos realizados, con- favorável para a deformação livre.
Os cálculos efetuados no estudo cluiu-se que não haveria a necessidade de O sucesso da simulação teórica com
térmico indicaram que a temperatura algum sistema de pré ou pós resfriamento a execução prática é confirmado pela au-
≤ 53,5 oC resultaria em conformidade do concreto, principalmente em decorrên- sência de trincas/fissuras que possam ser
aos coeficientes de segurança estabe- cia de 3 fatores muito importantes: (1) O atribuídas por origem térmica.
lecidos quanto ao risco de fissuração calor de hidratação, relativamente baixo
de origem térmica. Como observa- para o cimento adotado, igual a 279 J/g no 6.3 Utilização de BIM para planejamento
-se no gráfico da Figura 25, as leituras instante de 41 h pelo método “Langavant”; e armazenamento de informações
nos termopares instalados apresen- (2) O baixo consumo de cimento das mis-
taram relativa folga neste caso, sendo turas, situando-se entre 210 a 220 kg/m3; O A utilização dos softwares para execu-
o termômetro 02 instalado no centro reduzido coeficiente de restrição de base ção dos projetos em “BIM”, permitiu que

FIGURA 30 FIGURA 31
Nuvens de pontos Nuvens de pontos
Fonte: Acervo digital da Gmaia Fonte: Acervo digital da Gmaia

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FIGURA 32 FIGURA 33
Nuvens de pontos Bloco com forma trepante
Fonte: Acervo digital da Gmaia Fonte: Acervo digital da Gmaia

FIGURA 34 FIGURA 35
Central de concretagem da Construtora Gmaia Central de concretagem da construtora Gmaia
Fonte: Acervo digital da Gmaia Fonte: Acervo digital da Gmaia

fosse feita uma melhor intera- Inicialmente foi feita a


ção com o cliente, pois o proje- confecção do projeto em 3D.
to relacionado com programas O software utilizado foi o pro-
de modelagem e planejamento grama REVIT da empresa
melhorou o acompanhamento Autodesk, com ele foi possível ve-
da obra. rificar a visão inicial da estrutura
Nas plataformas, foi pos- da barragem Figuras 26, 27 e 28.
sível, na fase de planejamento, Logo após a confecção
visualizar a execução completa da geometria do projeto do
da obra, e após acompanhar estado inicial da hidrelétrica,
o que foi realizado inserir vá- foi feita a inclusão dos blocos
rios dados pertinentes, como: que seriam executados, escopo
temperatura do concreto, re- este da obra.
sistência após rompimento de Após essa etapa é utilizado
corpos de prova, data de con- outro software da Autodesk
FIGURA 36 cretagem, entre outros, dados para a renderização do pro-
Central de concretagem da construtora Gmaia
Fonte: Acervo digital da Gmaia
esses que facilitam a rastreabi- jeto. Este software é o Auto-
lidade futura. desk Navisworks Manage, que

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Ed. 112 | Out – Dez | 2023 | 93
consegue agrupar o software 3D com o
cronograma da obra. (Figura 29).
Além das vantagens preliminares, os
softwares possibilitam que se acrescente in-
formações pertinentes a etapa da obra, con-
seguindo assim gerar uma melhor rastreabili-
dade do processo como um todo. No futuro,
existindo a necessidade de rastrear algum
evento na estrutura executada, pode se ve-
rificar informações como data de concreta-
gem, rompimento do corpo de prova, volu-
me executado, temperatura, entre outras.

6.4 Utilização de sistema topográfico


com nuvens de pontos

O acompanhamento das concretagens


da barragem foi realizado pelo Laser Scan-
ner Hovermap que coleta até 600 mil pon-
tos por segundos com precisão milimétrica.
Esse sistema é baseado em SLAM per-
mitindo com que o laser se localize e ma-
peie de forma simultânea, resultando em
um escaneamento contínuo e em movi-
mento (Figuras 30 e 31).
A fim de facilitar o escaneamento e au-
mentar a segurança, utilizou-se o laser es-
caner embarcado a um Drone Matrice 300 FIGURA 37
RTK da DJI, permitindo um escaneamento Traço do concreto e valores de resistência mecânica
a uma distância segura para o operador.
Como acessório foi utilizado uma Câ-
mera GoPro Hero 9 Black acoplada ao la- 6.5 Utilização de sistema a execução da obra é o Sistema Trepante.
ser, com a finalidade de colorizar a nuvem de formas trepantes O princípio básico do SISTEMA TREPANTE
de pontos, gerando assim uma nuvem de consiste na reutilização da forma na próxi-
pontos densa e colorizada. (Figura 32). O sistema de formas utilizadas durante ma etapa de concretagem, apoiando-se na

FIGURA 38 FIGURA 39
Antes do reforço Após reforço
Fonte: Acervo digital da Gmaia Fonte: Acervo digital da Gmaia

94 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


ancoragem prevista na camada executada teira mais próxima, foi construída uma cen- no dimensionamento, verificações de estabi-
anteriormente (Figura 33). tral de concreto em ponto estratégico para lidade, carregamentos e métodos de cálculo
Sua aplicação é indicada em estruturas atender a demanda de volume do reforço das estruturas de reforço do barramento prin-
especiais de obras industriais, pilares de (Figuras 34, 35 e 36). cipal da usina hidrelétrica Risoleta Neves após
pontes e de viadutos e em quase todas as Parte do concreto da obra, na fase inicial, o rompimento da barragem do Fundão.
estruturas de usinas hidrelétricas. foi fornecido por concreteiras da região, me- As análises de estabilidade do barra-
dida adotada durante o processo de licença e mento, para atender aos fatores de seguran-
6.6 Construção de central construção da central de concreto (Figura 37). ça considerados, resultaram em aumento de
de produção de concreto seção transversal de 12 (doze) blocos, con-
7. CONCLUSÕES dicionando aproximadamente 19,6 mil m³
Em virtude do grande volume de con- O presente artigo apresentou as diretrizes de concreto adicionais, com peso específico
creto e da distância da obra até a concre- gerais de projeto, análise e execução utilizadas mínimo de 2,3 ton/m³ (Figuras 38 e 39).

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ANM. Agência Nacional de Mineração. Classificação de Barragens de Mineração. Disponível em: https://app.anm.gov.br/SIGBM/
Publico/Estatistica.
[2] ANM. Agência Nacional de Mineração. Relatório anual de segurança de barragens de mineração 2019. 2020
[3] ANM. Agência Nacional de Mineração. Segurança de barragens focada nas barragens construídas ou alteadas pelo método a montante,
além de outras especificidades referentes. Disponível em: https://www.gov.br/anm/pt-br/assuntos/noticias/2019/notaexplicativa-
sobre-tema-de-seguranca-de-barragens-focado-nas-barragens-construidas-ou-41alteadas-pelo-metodo-a-montante-alem-de-
outras-especificidades-referentes.
[4] BRASIL. Lei Nº 12.334, de 20 de Setembro de 2010. Estabelece a Política Nacional de Segurança de Barragens destinadas à acumulação
de água para quaisquer usos, à disposição final ou temporária de sedimentos e à acumulação de resíduos industriais, [...]. Brasília, DF:
Presidência da República, [2020].

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Encontros & Notícias
Recomendações técnicas
para prevenção da DEF e da
fissuração térmica no concreto

A
cura térmica inadequada em ele- samente selecionados para cada situação
mentos pré-moldados de con- e monitoramento da estrutura, são apre-
creto ou a temperatura excessiva sentadas para evitar essas manifestações
gerada pelo calor de hidratação do ci- patológicas.
mento podem fazer aparecer na estrutu- Com a aplicação das orientações, seus
ra de concreto a Formação da Etringita autores – Eduardo de Aquino Gambale,
Tardia e a fissuração de origem térmica Eduardo Issamu Funahashi Jr., Gracielle
no concreto. Ribeiro Vicente, Nicole Pagan Hasparik e
O presente livro traz recomendações Selmo Chapira Kuperman – esperam que
técnicas, como o estudo térmico, adequa- os leitores alcancem o bom desempenho
do controle tecnológico, emprego de ma- e durabilidade dos elementos e estruturas
teriais constituintes do concreto criterio- de concreto.

96 | Ed. 112 | Out – Dez | 2023 & Construções


Acontece nas Regionais
Eventos na Regional MS

N
o último 7 de no- IBRACON, Prof. Cláudio
vembro, a Regio- Sbrighi Neto, a diretora
nal do IBRACON regional, Prof. Sandra
em Mato Grosso do Bertocini, e o consultor
Sul realizou em con- Sidiclei Formagini.
junto com a UFMS e a Já, no dia 1º de dezem-
Concreluz o Seminá-
bro, a Regional reali-
rio “Durabilidade em
zou, juntamente com
Estruturas de Concre-
UFMS e a Alconpat
to com foco em Rea-
ções Expansivas”, no Brasil, a palestra “Con-
Hotel Deville, em Cam- creto autoadensável e
po Grande. paredes de concreto,
Participaram do even- ministrada pelo diretor
to como palestrantes técnico do IBRACON,
o diretor secretário do Diretores do IBRACON e outros convidados do Seminário de Durabilidade Eng. Carlos Britez.

Seminário Nacional sobre Corrosão

O
IBRACON, a ABRACO e a Alconpat Nacional sobre Corrosão e Proteção Catódica dor do CT 702 IBRACON/Alconpat, Prof.
realizaram, de 27 a 28 de novembro, de Armaduras de Estruturas de Concreto”. Daniel Véras Ribeiro, e o vice-presidente do
o evento on-line e gratuito “Seminário Palestraram no Seminário o coordena- IBRACON, Prof. Enio Pazini Figueiredo.

Masterclass na Regional de AL

A
Regional do IBRACON em Alagoas class online e gratuita “Concretagem sem CEO da Stant, Ralph Vasco, e do super-
realizou, no último dia 14 de novem- perda de lucratividade”, com participação visor de engenharia da Colil Construções,
bro, das 19h às 20h30, a Master- do diretor regional Edward Uchôa, do Johnson Pinto.

Inovações em materiais alternativos

A
7ª edição do MAC Sustentável, timo dia 26 de outubro, das 19h às 22h,
parceria entre a Regional do no YouTube.
IBRACON em São Paulo, Unorte, O evento trouxe as pesquisas científicas
Unesp Ilha Solteira, UniRV e Universidad sobre os materiais alternativos da constru-
del Sinú, na Colômbia, aconteceu no úl- ção com vistas à sustentabilidade.

Workshop na Regional RN

N
o dia 29 de novembro, a Regional Parques Eólicos — on shore e off shore, no no José de Medeiros Júnior (Companhia
do Rio Grande do Norte realizou o auditório do CREA-RN, com os especia- Potiguar de Engenharia e Consultoria).
VI Workshop sobre Fundações de listas Mário César Pereira (Enel) e Cipria- O evento foi transmitido pela internet.

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