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DE CONCRETOS RESISTENTES
AO FOGO
Adições
Aditivos
Recuperação
Estrutural
Armadura
Equipamentos
Ensino, Pesquisa
e Extensão
Escritórios
Escola Politécnica - USP
de Projetos
UNIP
JUNTE-SE A ELAS
Associe-se ao IBRACON em defesa e valorização
da Arquitetura e Engenharia do Brasil !
Pré-fabricados
Controle
Tecnológico
Construtoras
Concreto
Fôrmas
Cimento
POLIMIX
Governo
u sumário
seções
TÚNEIS 5 Editorial TÚNEIS
23
GRÁFICA
Segurança contra incêndio em túneis Duograph
(normalização técnica)
à Íria Lícia Oliva Doniak
Preço: R$ 12,00
(industrialização)
à Jorge Batlouni Neto
As ideias emitidas pelos entre- (sistemas construtivos)
OBRAS EMBLEMÁTICAS vistados ou em artigos assinados à Mauricio Linn Bianchi
são de responsabilidade de seus (sistemas construtivos)
35
autores e não expressam, neces- à Oswaldo Cascudo Matos
Túnel de interligação da Torre Mata Atlântica sariamente, a opinião do Instituto. (durabilidade)
com o setor Parking da Cidade Matarazzo à Ricardo Leopoldo e Silva França
61
timento por escrito dos autores São Paulo – SP
Controle tecnológico de concreto projetado e editores. Tel. (11) 3735-0202
com fibras nos túneis da UHE Chaglla, no Peru
82
Declarado de Utilidade Pública
Avaliação da resistência ao fogo do concreto para Estadual – Lei 2538 de 11/11/1980
DIRETOR DE EVENTOS
Rafael Timerman
revestimento de túneis Declarado de Utilidade Pública Federal
– Decreto 86871 de 25/01/1982
DIRETOR TÉCNICO
88
DIRETOR PRESIDENTE
Incêndios em túneis construídos com concreto Paulo Helene
José Tadeu Balbo
95
Cesar Henrique Daher
Desenvolvimento de concreto geopolimérico DIRETOR 2º VICE-PRESIDENTE
projetado para proteção contra incêndio Enio José Pazini Figueiredo DIRETOR DE CURSOS
Leandro Moura Trautwein
DIRETOR 1º SECRETÁRIO
101
Cláudio Sbrighi Neto
Influência da projeção no processo de hidratação DIRETORA DE ATIVIDADES
de misturas cimentícias contendo aceleradores DIRETOR 2º SECRETÁRIO ESTUDANTIS
Jéssica Andrade Dantas
Carlos José Massucato
H
á 48 anos, nascia, em 1972, o Instituto Brasileiro do tamente, a engenharia e a
Concreto – IBRACON, que, na ocasião, promoveu um medicina como as áreas
evento no Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT, que deveriam receber maior
com o objetivo de discutir a boa engenharia de con- atenção no financiamento
creto contrabalançando os descaminhos da época: o de bolsas da Capes. Soa contraditória a notícia veiculada pelos
acidente grave da Ponte Rio-Niterói, que ceifou a vida de engenhei- órgãos de imprensa desta semana mostrando que os cursos de
ros do próprio IPT; o colapso parcial do elevado Paulo de Frontin e pós-graduação mais atingidos por corte de bolsas em 2019 foram,
o trágico desabamento do centro de convenções da Gameleira, em justamente, a engenharia e a medicina, ao lado da educação.
Belo Horizonte, para citar apenas os mais expressivos. Em todo o país, foram canceladas 7.590 bolsas para financiar
Era um período de grande progresso no país, muitas constru- pesquisas de pós-graduandos, num universo de 84.600 pes-
ções emblemáticas, obras habitacionais e de infraestrutura em quisadores. Cursos de Mestrado e Doutorado em engenharia
profusão, mas ficou evidente a falta de engenheiros bem pre- perderam 959 bolsas, o maior volume, seguidos pela educação,
parados. A pesquisa científica experimental nas universidades com 241 cortes, e medicina, com 232.
estava no início e havia necessidade de criar um espaço salutar Essas medidas podem acarretar a redução de trabalhos científicos
de discussão técnica e científica. no Congresso Brasileiro do Concreto e certamente não contribuem
Os visionários fundadores do IBRACON logo perceberam a im- para o desenvolvimento necessário do país. Não há progresso e
portância de oferecer oportunidades aos pesquisadores e enge- melhoria da qualidade de vida sem engenharia. Cabe ao Instituto
nheiros de publicar e discutir em alto nível seus trabalhos, pes- manter os seus nobres ideais e missão de criar, divulgar, capacitar e
quisas e ideias. Hoje o congresso anual recebe, analisa, revisa e defender o conhecimento e o desenvolvimento do setor.
discute mais de 800 artigos provenientes do meio técnico e de Tanto no início do Instituto quanto até hoje, o IBRACON tem
cerca de 130 centros de pesquisa em concreto no país. viabilizado, com qualidade e prestígio, a divulgação da pro-
A pesquisa científica visa entender e explicar o comportamento dução técnica e acadêmica de excelência, constituindo-se no
dos materiais e das estruturas, visa questionar o conhecimento maior fórum de conhecimento científico e tecnológico do país
atual, duvidar das “verdades” tradicionais e propor novos e inédi- em engenharia de concreto.
tos caminhos. A ciência aplicada gera tecnologias e, por meio da Nos últimos anos tem recebido várias contribuições nacionais e
engenharia, buscam-se soluções para problemas do dia a dia, até estrangeiras, de pesquisadores relevantes, dedicando esta
como a construção de qualidade e métodos construtivos baliza- edição da CONCRETO & Construções ao importante tema dos
dos por limites toleráveis de falhas, consensuados socialmente. túneis, solução de engenharia que permite a transposição de
Como consequência, o desenvolvimento precisa não apenas de cidades densamente povoadas, com menor intervenção local
muitos “cientistas” questionando o existente e já conhecido, mas possível, favorecendo a mobilidade urbana nas grandes metró-
também dos “tecnologistas e engenheiros” que transformem es- poles. Cabe registrar que, nesta edição, rende-se também jus-
ses questionamentos em processos e métodos exequíveis em ta homenagem aos especialistas brasileiros, que reconhecidos
favor da excelência, da qualidade e da economia. O Instituto tem internacionalmente, já foram alçados ao cargo de Presidentes
cumprido com maestria esse papel fundamental de unir a cadeia da ITA (International Tunneling Association), demonstrando a alta
produtiva do concreto com a academia, em uma sinergia positi- capacitação brasileira no tema.
va e interação profícua, em benefício do setor. A nova Diretoria do IBRACON, recém-empossada, abraçou jo-
Se, por um lado, a atual conjuntura econômica desfavorável vens voluntários dispostos a doar seu tempo, seu conhecimen-
do país, com poucas construções e baixo investimento em to, sua liderança e seu prestígio em prol da boa, sustentável e
infraestrutura, emprega poucos engenheiros; por outro, ofere- durável engenharia de concreto que todos almejamos.
ce a oportunidade para que se intensifiquem as pesquisas, os Aproveite e venha também fazer parte desta Comunidade!
questionamentos e o aprendizado no setor, em busca de novas Junte-se ao maior grupo formador de opinião em concreto
tecnologias que permitam à categoria se capacitar e responder no país!
bem às demandas, que certamente virão no futuro.
Em abril de 2019, o governo federal se manifestou sobre a impor- PROF. PAULO HELENE
tância da engenharia e, na ocasião, o Presidente declarou, corre- Diretor Presidente | gestão 2019-2021
E
s tamos nos prepa- desenvolvimento do país. E certa-
rando para o nosso mente estamos no caminho!
grande evento anual, Este ano teremos uma grande novi-
o Congresso Brasileiro dade: os 50 melhores artigos serão
do Concreto, este ano selecionados para compor um cader-
na sua 62º edição, em Florianópolis. no especial com ISSN específico e
A organização de um evento com a DOI individual para os trabalhos. Para
previsão de mais de 1200 congres- quem não é da área acadêmica, o DOI
sistas, diversas empresas exposito- é um número único, que faz com que
ras, vários eventos internos e atra- a difusão de tal artigo seja mundial e
ções únicas é um grande desafio com maior acesso por pesquisadores
para toda a atual diretoria do IBRA- de todas as partes do globo. É um
CON e de parceiros nesta tarefa. grande avanço científico.
E o pilar central, com maior respon- Ainda, os melhores artigos serão
sabilidade estrutural, é, sem dúvi- selecionados para apresentação
da, a parte científica do evento. É a oral e por pôsteres, compondo as
oportunidade de grandes pesquisa- plenárias para discussão durante os
dores e empresas mostrarem seu trabalho e levarem as 4 dias de evento, entre 1 e 4 de setembro. É uma gran-
novidades para um fórum extremamente qualificado para de oportunidade para os congressistas aprenderem algo
discutir, concordar, discordar e chegar em inovações para novo, consolidarem informação já obtida, discordarem,
o setor. Cada vez mais, são necessários trabalhos técni- concordarem, enfim, ajudar a elevar o nível técnico-cientí-
co-científicos que impacte a indústria da construção, que fico de determinados trabalhos. Além disso, este ano terá
gerem valor para a sociedade, que tragam inovações para a 3º edição do concurso “O Artigo do Ano”, valorizando
o nosso setor. todas as regiões do país.
E o IBRACON cumpre seu papel, através do recebimento de Por fim, agradeço aos mais de 4000 autores dos cerca de
artigos de todo país e exterior. Ano após ano, o Congresso 900 artigos que receberemos, aos mais de 300 integrantes
Brasileiro do Concreto vem batendo recorde de publicação de da comissão científica e aos cerca de 120 autores que com-
artigos, e tenho certeza que este ano não será diferente! Re- porão as mais de 20 seções científicas e seminários. Para
cebemos 1867 resumos e, neste momento, estamos em pro- mim, é uma grande honra coordenar este processo, junto
cesso de recebimento e avaliação científica dos artigos. Este com os colegas professores Roberto Christ, Fernanda Pa-
número consolida o Congresso Brasileiro do Concreto como checo e Hinoel Zamis.
o maior evento técnico-científico da área da América Latina! Venha participar do 62º Congresso Brasileiro do Concre-
Montamos uma comissão científica com mais de 300 in- to, venha com sede de saber, e como dizia a psicanalista
tegrantes dos melhores profissionais do país, pois o de- Melanie Klein, “Quem come do fruto do conhecimento é
safio é grande: avaliar cerca de 900 artigos em 3 meses, sempre expulso de algum paraíso”. E como é bom ser expul-
de forma rigorosa, porém construtiva. São profissionais so de alguns paraísos...
que doam suas horas para benefício de toda a cadeia do Até o 62º CBC, nos vemos lá!
concreto, para dar visibilidade a nossas universidades,
trazer conhecimento das empresas e atualizar os profis- PROF. BERNARDO TUTIKIAN
sionais. Queremos produzir projetos e obras em concreto Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento
melhores, para impactar a vida das pessoas e ajudar o gestão 2019-2021
u Excelência em EDUCAÇÃO CONTINUADA – Programa MasterPEC “Master em Produção de Estruturas de Concreto” | Calendário de Cursos 2020
Fundado em 1972, seu objetivo é promover e divulgar conhecimento sobre a tecnologia do concreto e de
seus sistemas construtivos para a cadeia produtiva do concreto, por meio de publicações técnicas, eventos
técnico-cientí cos, cursos de atualização pro ssional, certi cação de pessoal, reuniões técnicas e premiações.
à Receba gratuitamente as quatro edições anuais à Descontos nos eventos promovidos e apoiados
da revista CONCRETO & Construções pelo IBRACON, inclusive o Congresso
Brasileiro do Concreto
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técnicas do IBRACON e de até 20% nas à Oportunidade de participar de Comitês Técnicos,
publicações do American Concrete Institute intercambiando conhecimentos e fazendo valer
(ACI) suas opiniões técnicas
Tarcísio Barreto
Celestino
G
raduado em
Engenharia Civil
pela Escola
Politécnica da
Universidade de
São Paulo (1972),
com mestrado (1978) e doutorado
(1981) em Engenharia Civil pela
Universidade da Califórnia, Berkeley.
É consultor, entre outras agências de fomento, do Conselho de Pesquisa da Noruega. Entre outras atribuições profissionais,
é membro da junta de consultores da Andra – Agência do Governo Francês para disposição de rejeitos nucleares, para o
Projeto Cigéo de estocagem subterrânea de resíduos nucleares em Meuse/Haute-Marne.
Foi Professor convidado dos Programas de Mestrado em Obras Subterrâneas do IHE-Delft, Holanda e da École
Polytechnique Fédérale de Lausanne, Suíça.
IBRACON – Como você explica sua T. B. C. – A escolha por engenharia eu sonhava em fazer engenharia
opção pelo curso de engenharia civil na civil na Escola Politécnica da USP mecânica no Instituto Tecnológico de
Escola Politécnica da USP em 1968? (POLI) não foi tão direta. Na realidade, Aeronáutica (ITA), tendo passado no
“
ESSA OBRA [PAULO AFONSO 4] DEU UM RUMO
“
NA MINHA CARREIRA A RESPEITO DE COMO
VIABILIZAR CERTAS OBRAS SUBTERRÂNEAS
COM O USO DO CONCRETO PROJETADO
“
DISPONIBILIDADE DE SOFTWARES COMERCIAIS, MAS APENAS PROGRAMAS
BÁSICOS A PARTIR DOS QUAIS ERAM DESENVOLVIDOS MODELOS
NUMÉRICOS PARA ATENDER ÀS SOLICITAÇÕES DOS CONSULTORES
O cronograma foi adiantado e a obra a instabilidade da frente. Não chegou T. B. C. – Já disse como foram
foi inaugurada antes do previsto, a haver uma ruptura do tipo day-light importantes os professores Milton
com economia de concreto e de collapse , mas houve recalques que
3
Vargas e Victor Mello na minha
escavação. Essa obra deu um rumo danificaram as residências sobre o escolha por geotecnia. Meu contato
na minha carreira a respeito de como túnel. Havia voltado recentemente com eles continuou durante minha
viabilizar certas obras subterrâneas da Universidade da Califórnia, nos vida profissional, pois o Prof. Milton
com o uso do concreto projetado. Estados Unidos, quando o problema Vargas era um dos donos e diretores
Não tive participação nas grandes aconteceu, uma situação bem da Themag e o Prof. Victor Mello foi
decisões de mudança do método desagradável para o Metrô de São consultor em várias obras projetadas
construtivo de Paulo Afonso 4. Paulo. Fui me envolvendo na obra, pela empresa.
Tiveram a ver com isso o Murillo Ruiz, tornando-me o responsável pelo Além deles, duas pessoas com
Leonardo Redaelli, Giacomo Re e o projeto de sua continuação. Com quem trabalhei na Themag foram os
consultor Don Deere. Mas, eu era tratamento adequado do solo, o responsáveis por eu ter enveredado
um jovem engenheiro, responsável problema da instabilidade da frente para a área da mecânica das
pelos modelos matemáticos, que me foi resolvido e um segundo túnel do rochas: o Murillo Ruiz e o Giacomo
encantei com a solução. projeto foi concluído, com sucesso e Re. Infelizmente, na POLI em
Um projeto no qual tive economia. Este pequeno túnel com minha graduação eu nunca ouvi
responsabilidade foi a construção grande densidade de problemas e falar de mecânica das rochas.
do primeiro túnel em NATM (New soluções contou com uma equipe Hoje, sei que a POLI resolveu essa
Austrian Tunnelling Method ) no 1
maravilhosa e competente, não só deficiência, pois já fui convidado
final de 1981 para o Metrô de São na parte de geotecnia, mas também para dar algumas aulas lá em parte
Paulo. Era um projeto da Themag, na parte de tecnologia do concreto, de um curso regular. Na Escola de
com participação de uma empresa como o Eng. Selmo Kuperman, tendo Engenharia de São Carlos, onde dou
austríaca, a Geoconsult. O projeto sido um grande desafio e um marco aulas, há no curso de graduação a
previa que a argila orgânica seria na minha vida profissional. Foi uma disciplina de mecânica das rochas.
tratada com rebaixamento do nível época muito rica! Havia, na época, Devo citar também o consultor Manuel
d’água, com eletrosmose2, que uma postura muito aberta do Metro Rocha que também me influenciou
funcionou nos primeiros 15 metros. de São Paulo para inovações e para muito a estudar mecânica das rochas.
Em razão da argila conter muitas participação da engenharia. Paulo Sérgio Diniz Custódio me
lentes de areia, com a drenagem, o ensinou e desenvolveu meu gosto
problema de estabilidade da frente IBRACON – Quais e como os velhos pelos métodos numéricos. Na primeira
foi revolvido. Mas, a partir dos 15 “papas” da Geotecnica, da Themag, metade da década de 1970, não
metros, a eletrosmose não funcionou Hidroservice, Poli, IPT etc., marcaram havia, como hoje, disponibilidade de
e a argila de baixa resistência causou sua carreira? softwares comerciais, mas apenas
O nome NATM tinha como objetivo distingui-lo da antiga abordagem de encapsulamento austríaca. A diferença fundamental entre esse novo método de tunelamento, em oposição aos
1
métodos anteriores, deriva das vantagens econômicas disponibilizadas ao se tirar vantagem da resistência inerente disponível no maciço circundante para estabilizar o túnel (Wikipédia);
Eletrosmose: método de acelerar a percolação de água em solos pelo acoplamento de uma corrente elétrica;
2
Structural Analysis Program: um dos primeiros códigos gerais de elementos finitos desenvolvido pelo Prof. E.L. Wilson, Universidade da Califórnia, Berkeley
4
“
ACHEI O CONVITE [DA ESCOLA DE ENGENHARIA DE
“
SÃO CARLOS] IRRECUSÁVEL, EM RAZÃO DA PRENSA
SERVOCONTROLADA PARA MECÂNICA DAS ROCHAS
SER ÚNICA NO BRASIL NA ÉPOCA
“
A ROCHA ERA TRATADA EM OUTRAS DISCIPLINAS COMO UMA
HACHURA, ‘INDESLOCÁVEL’, IMPERMEÁVEL, INDEFORMÁVEL. NO
ENTANTO, NA REALIDADE, A ROCHA É TUDO MENOS ISSO
Pinheiros do Metrô de São Paulo. montante, o que é um aprendizado. monitoramento de recalques, ainda
Nesse aspecto, o Brasil tem se No caso na Estação Pinheiros do existe uma infinidade de pequenos
destacado negativamente pelo número Metrô de São Paulo, aprendemos a acidentes na construção de túneis
notáveis no cenário mundial, como é Group (ITIG) e a Associação ser evacuado e reforçado)?
que acidentes com barragens vieram Internacional de Túneis (ITA) T. B. C. – Sou da opinião de que nós,
a ser tão frequentes? Aqui existe uma produziram um código de práticas a engenheiros geotécnicos, investigamos
grande lição a ser aprendida. Quando respeito de procedimentos a serem muito pouco, em comparação, por
as barragens eram construídas por adotados especificamente em obras exemplo, com os tecnologistas de
entidades como a CESP (Companhia subterrâneas, porque o número de concreto. O concreto é um material
Energética de São Paulo) e Furnas, acidentes naquela época estava industrializado, especificado em
entre outras, dotadas de um corpo elevado no mundo e as empresas seus ingredientes, com processo
técnico que sabia os procedimentos de seguro tendiam a não segurar de produção sistematizado, com
de como contratar um projeto, como serviços para obras subterrâneas. coeficientes de variação de resistência
exigir qualidade na construção, como Isto traria prejuízo para esse grupo de cerca de 15%. Ainda assim, por
contratar uma empreiteira qualificada, de empresas seguradoras, para a norma, um certo volume, dependendo
esses acidentes não aconteciam com indústria de construção subterrânea do tipo de obra, é retirado da betoneira
tanta frequência. Quando passaram e para a população. Assim, esse para o ensaio de sua resistência final.
a ser construídas por investidores, a código é um bom exemplo de como Compare com um túnel urbano, onde
qualidade do projeto e da execução solucionar problemas com obras entre 1 e 2 metros de sondagem são
passou a ser encarada com a mesma subterrâneas, adotando-se práticas realizados, por metro de túnel, nos
importância da qualidade dos insumos, corretas em todas as etapas, desde maciços rochosos, que, por serem
graxa e cimento, ou seja, pelo preço. o empreendedor da obra, passando naturais, têm variabilidade muito maior
A prática do contrato do projeto por pelo projetista, até o construtor, para do que o concreto, com coeficientes
leilão é abominável e ilegal, de acordo diminuir o número de acidentes. A de variação de resistência que podem
com Sindicato das Empresas de própria ITA produziu na época um chegar a 300%! Nós, engenheiros
Projeto de Engenharia e Arquitetura artigo importante sobre análise de geotécnicos, nos contentamos
(Sinaenco), mas permanece nas risco e os benefícios da adoção de em descrever uma amostra, nem
“
SOU DA OPINIÃO DE QUE NÓS, ENGENHEIROS
“
GEOTÉCNICOS, INVESTIGAMOS MUITO POUCO,
EM COMPARAÇÃO, POR EXEMPLO, COM OS
TECNOLOGISTAS DE CONCRETO
“
DESCREVER UMA AMOSTRA, NEM SEQUER ENSAIÁ-LA, QUE
REPRESENTA UM DÉCIMO DE MILÉSIMO DO VOLUME QUE OS
ENGENHEIROS DE CONCRETO EXIGEM QUE SEJA ENSAIADO
sequer ensaiá-la, que representa um dos deslocamentos provocados IBRACON – O que você acha do
décimo de milésimo do volume que pela escavação subterrânea. Como sistema de contratação de obras
solos e os maciços de rocha têm uma mais confiáveis. É claro que algumas grandes acidentes no Brasil?
variabilidade muito grande para um situações exigem soluções a serem T. B. C. – Uma comissão estabelecida
número tão pequeno de ensaios que dadas às edificações antes das obras dos anos 70 nos Estados Unidos,
fazemos, quando fazemos! Trabalhei subterrâneas passarem, como reforços capitaneada pela National Science
muitos anos no Metrô de São Paulo de fundação, reforços estruturais e Foundation, da qual participaram
sem ter sido feito um ensaio triaxial, medidas corretivas a posteriori, do tipo proprietários de obras, construtores,
contentando-me apenas com a de injeção de compensação. consultores e professores de obras
descrição da sondagem SPT5. Nós, subterrâneas descobriu que o
engenheiros geotécnicos, temos que IBRACON – Qual é a explicação que tinha de errado com elas era
ser muito mais exigentes! Precisamos para certos túneis urbanos, como exatamente a porteira fechada. Meu
investir mais em ensaios. Tantas os da Av. Rebouças e do Vale do professor de túneis na época, Tor
publicações mostram a relação entre Anhangabaú, assim como os túneis da Brekke, participou dessa comissão
custo de investigação e custo da obra, Rodovia dos Imigrantes, apresentarem e trouxe muitas informações a esse
e como isso se traduz em benefícios, constantemente, na seca e na chuva, respeito para seus alunos. Na década
em razão de uma previsibilidade tantas infiltrações, que molham as pistas de 1990, quando se pensou em
melhor do custo de obra. Mas essa e colocam em risco seus usuários? implantar a porteira fechada no Brasil,
ideia é muito difícil de ser vendida aos T. B. C. – São problemas que escrevi um artigo mostrando que,
empreendedores. Visitei o outro dia um decorrem da falta de impermeabilização longe de ser a solução, essa forma
túnel em outro país, com mais de 10 dos túneis. A companhia do Metrô de de contratação traria mais problemas.
km de extensão, licitado com apenas São Paulo passou a adotar técnicas Como trouxe! A Companhia do Metrô
cinco sondagens. Compram um TBM específicas de impermeabilização de de São Paulo a adotou na Linha 4,
para escavar solo, mas deram de cara seus túneis e estações em meados da mas não a adotou mais, porque o
com rocha! Isso é inconcebível que década passada. Outros tipos de obra resultado não foi positivo. Fui tutor
ocorra no século XXI, mas é fato! ainda não adotam essas técnicas, mas do grupo de trabalho de práticas
deveriam adotar, como membranas contratuais da ITA, que produziu,
IBRACON – O que poderia ser feito em de PVC entre concretos primário e junto com a FIDIC - Federação
relação às edificações existentes na secundário, ou uma solução do tipo de Internacional de Engenheiros
proximidade do eixo da construção do uma membrana spray entre concreto Consultores, o ‘Livro Esmeralda’ sobre
túnel, antes de sua construção, para projetado primário e secundário. Em contratação de obras subterrâneas.
minimizar seus efeitos sobre elas? muitos outros países essas soluções No fundo, o sucesso de contrato de
T. B. C. – Na maioria das vezes de impermeabilização já são muito mais obras subterrâneas passa longe dos
os problemas não estão nas utilizadas, mas devem ser utilizados conceitos leoninos de um contrato de
edificações, mas na imprevisibilidade aqui também. porteira fechada.
5
Sondagem a percussão com ensaio de penetração (Standard Penetration Test)
“
HOJE O PROJETO DE
“
ENGENHARIA CUSTA 1% DA OBRA,
MAS O IDEAL É QUE CUSTASSE
DE 3% A 5% DO VALOR DA OBRA
“
NOS ANOS 70 PARA UM ACIDENTE DE TÃO GRANDES
PROPORÇÕES, COMO FUNDÃO E, INFELIZMENTE,
ALGUNS ANOS DEPOIS, BRUMADINHO
rigorosos de contratação. Isto porque entravam no mérito de entender o IBRACON – Você foi presidente do
a engenharia afeta a população e comportamento do maciço, o que Comitê Brasileiro de Túneis (CBT), da
pode afetar de maneira drástica, como o maciço precisava em termos de Associação Brasileira de Geologia de
vimos nesses acidentes. Contratações uma resposta rápida do material. Engenharia (ABGE) e da International
não podem ser feitas com critérios Numa palestra sobre a reologia do Tunnelling and Underground Space
inaceitáveis de preço mínimo. Não concreto projetado a pequenas Association (ITA). Qual sua perspectiva
conheço os detalhes de contratação idades, nos anos 90, assistida por da atuação das associações técnicas na
de Mariana e Fundão, mas me Dick Robbins, na época dono da sociedade? As associações nacionais
refiro a situações que conheço de Robbins Company, fabricante de TBM, têm desempenho similar ao de suas
maneira totalmente inaceitável, mesmo interage com o maciço, tendo, no T. B. C. – A ligação da ITA com a ONU
após esses acidentes. início, de ser maleável, para deixar o (Organização das Nações Unidas) é
maciço se deformar, o que possibilita muito estreita e vem de longa data,
IBRACON – Em sua extensa experiência a reacomodação das tensões e a e se intensificou na presidência do
profissional, como você avalia a relação diminuição da demanda por resistência Harvey Parker. A ONU tem parte
entre geotécnicos, projetistas de estrutural. Após a palestra, Dick me de sua organização voltada para
estruturas e tecnologistas de concreto? fez um convite honroso para que o aspecto do desenvolvimento
T. B. C. – Em muitas áreas da desenvolvêssemos um anel de TBM urbano sustentável no mundo. A
engenharia, o grande profissional é que reproduzisse essas propriedades ITA busca mostrar para a ONU que
aquele que rompe fronteiras, que do concreto projetado. Confesso que desenvolvimento urbano sustentável
domina duas áreas e consegue andei pensando sobre o assunto. No passa pelo uso do espaço do
trazer os inputs de uma para a outra. entanto, anos depois, vemos o uso do subterrâneo. No dia 15 de fevereiro
Exemplifico com o professor Péricles concreto projetado em túneis escavados passado, aconteceu, na sede da
Brasiliense Fusco, exímio engenheiro por TBM, o que foi um grande avanço. ITA em Genebra, um workshop com
estrutural, muito bom tecnologista Visitei, há poucos meses, o túnel a ONU para tratar desse assunto.
de concreto. Lembro-me que, em Brenner, entre Itália e Áustria – esses Durante o período em que eu fui
suas aulas, ele conseguia tão bem túneis alpinos têm profundidades da presidente da ITA conseguimos
juntar os dois assuntos. Quando ordem de 1000 metros e passam uma aproximação com o Banco
pensamos em túneis, a fronteira entre por situações de tensões elevadas e Mundial, para mostrar a importância
o geotécnico e o tecnologista do ‘squeezing’ muito pronunciadas. Em sua do treinamento de equipes que
concreto projetado não deveria existir. frente de escavação no lado austríaco, o trabalham em obras de infraestrutura
O ideal seria um profissional sozinho TBM estava encalacrado. Vi o concreto financiadas pelo ele. A ideia de minha
fazendo as duas coisas, eliminando projetado deformado, sofrendo, mas gestão na ITA era nos aproximarmos
a interface de conhecimento. Mas, o firme! Que anel pré-moldado teria de todas as agências que financiam
nível de conhecimento exigido hoje capacidade de estar naquela posição? obras de infraestrutura para mostrar a
em cada área impede um profissional Difícil! Esses são exemplos de necessidade de que os profissionais
do tipo Leonardo da Vinci. Volto a como as fronteiras devem ser cada encarregados pelo projeto e
mencionar as excelentes experiências vez menos rígidas entre essas três construção dos empreendimentos
que eu vivi com tecnologistas que categorias de profissionais. financiados por elas tivessem boa
Deixo uma recomendação para no futuro? Túnel Brenner entre a Itália e Áustria
“
EM MUITAS ÁREAS DA ENGENHARIA, O GRANDE
“
PROFISSIONAL É AQUELE QUE ROMPE FRONTEIRAS,
QUE DOMINA DUAS ÁREAS E CONSEGUE TRAZER OS
‘INPUTS’ DE UMA PARA A OUTRA
“
OBRAS DE INFRAESTRUTURA PARA MOSTRAR A NECESSIDADE DE
QUE OS PROFISSIONAIS ENCARREGADOS PELO PROJETO E CONSTRUÇÃO
DOS EMPREENDIMENTOS TIVESSEM BOA FORMAÇÃO EM TÚNEIS
organizada pelo grupo de jovens costuma ser a mais crítica. Por aplicação. A aplicação do concreto
tuneleiros da Sociedade Italiana de outro lado, num túnel hidráulico, a projetado era, no passado, quase
Túneis, e o tema era exatamente verificação de carregamento mais uma sentença de morte para o
esse – Tunneling 4.0. Em novembro crítica é a da pressão interna de mangoteiro. Hoje, do ponto de vista
do ano passado, quem ganhou a operação. Portanto, cada tipo de de saúde e segurança, ela deixou de
modalidade de inovação tecnológica túnel tem suas peculiaridades de ser uma atividade tenebrosa.
na premiação da ITA foi um grupo de verificação estrutural. As técnicas de aplicação em grandes
jovens malaios que desenvolveram Quanto aos critérios de segurança volumes são feitas hoje por robôs,
um computador com um algoritmo de e funcionalidade, o túnel não difere com grande vantagem em relação às
inteligência artificial, exatamente para muito de uma estrutura convencional, aplicações manuais. Essas mantiveram
conduzir um TBM com mais vantagem ele apenas tem carregamentos seu nicho, mas as aplicações com
do que um ser humano. Então, esse que podem ser mais complexos, robôs são mais vantajosas do ponto
é um universo em aberto, muito ao que podem variar desde a fase de de vista da garantia de qualidade.
gosto dos nossos jovens. Muita coisa transporte dos anéis pré-moldados até Com mecanismos servocontrolados,
está para acontecer nessa área. Eu a fase de macaqueamento e operação, robôs, que leem a espessura
conclamo os jovens a enveredarem mas os critérios basicamente são enquanto projetam, garantem maior
por esse ramo. os mesmos a que uma estrutura uniformidade.
precisa atender na flexo-compressão A aderência à rocha tem evoluído
IBRACON – Quais critérios gerais em termos de esforços solicitantes bastante depois do trabalho de
devem ser contemplados em qualquer e uma verificação de fissuração Gabriel Fernandez, da Universidade
projeto de túnel do ponto de vista correlacionada com a questão da de Illinois, que desenvolveu o método
da segurança, funcionalidade e durabilidade. A diferença pode estar de medida da aderência. Tudo aquilo
durabilidade? Quais critérios especiais nas etapas de carregamento. que se consegue medir, se consegue
devem ser observados nos projetos melhorar! Uma casca de concreto
estruturais de diferentes tipos de túneis IBRACON – Como o concreto projetado de 5 cm de espessura
de concreto? projetado usado para suporte e é capaz de suportar um bloco de
T. B. C. – Os critérios a serem revestimento de túneis evoluiu em granito de um metro quadrado
observados nos projetos estruturais termos de sua aplicação, aderência de base, com vários metros de
de túneis dependem da peculiaridade à rocha, resistência mecânica, altura, resistindo ao cisalhamento
de cada túnel. No caso de anéis impermeabilidade, durabilidade e e à força cortante ao longo do seu
segmentados, o dimensionamento é resistência ao fogo? Quais devem ser perímetro, principalmente por causa
feito em função das diversas etapas. as características técnicas básicas do da adesão ao substrato circundante.
Não necessariamente a etapa de concreto projetado para túneis? É impressionante essa capacidade
resistir ao carregamento do maciço T. B. C. – O concreto projetado do concreto projetado! Quanto à
é a fase mais crítica. Em muitas evoluiu em todos esses pontos resistência mecânica, 50 MPa é um
situações, a fase de macaqueamento, e em outros. Chama a atenção a número modesto atualmente, não
quando o TBM aplica, com macacos, introdução dos aditivos não alcalinos, sonhado há algumas décadas.
os esforços nos anéis montados que melhoraram muito a condição Quanto à durabilidade, me lembro de
para o avanço da cabeça de corte, de saúde e segurança durante sua um trabalho muito interessante do
condições na Suécia. etc. Já o concreto projetado para de túneis? Como foi a evolução da
Quanto à resistência ao fogo, a uma estação de metrô precisa ter tecnologia e de sua indústria?
“
AMBOS [MÉTODOS CONVENCIONAIS E MECANIZADOS
“
DE ESCAVAÇÃO DE TÚNEIS] TÊM LANÇADO MÃO DAS
GRANDES VANTAGENS E POSSIBILIDADES TRAZIDAS
PELA DIGITALIZAÇÃO
“
O CONCRETO PROJETADO MOSTRA-SE
COMO UMA TELA, COMO NAS ESTAÇÕES
DO METRÔ DE ESTOCOLMO
escavado e a chapa metálica. No caso instrumento de sua política de Estado. consultoria ou aulas, o que gosta
de concreto projetado, esse vazio nem Tive a oportunidade de assistir a uma de fazer?
existe, porque o concreto é lançado a conferência da Sociedade Chinesa T. B. C. – Eu adoro ficar com meu
alta velocidade e preenche todos os de Ciência e Tecnologia há um ano, primeiro neto, que tem dez meses.
vazios. No caso de um túnel escavado na qual um dos seus seminários, o Felizmente, um segundo já está a
com shield, o preenchimento é único a ver com engenharia civil, era caminho, eu estou feliz da vida com
garantido com o processo de injeção exatamente sobre túneis longos. A isso! Dada minha grande ocupação,
pelos dispositivos do shield. China planeja hoje a construção de reconheço que eu não me dediquei à
um túnel para ligar o continente a minha família o tanto quanto eu gostaria.
IBRACON – Qual a obra de túnel Taiwan. No ano passado, o projeto Mas a chegada do meu neto coincidiu
mais importante que está sendo hoje de ponte e túnel ligando Hong Kong com o fim do meu mandato na ITA, o
executada no Brasil e/ou no mundo? a Macau ganhou o prêmio de obra que, talvez, me deu um pouco mais de
Quais os avanços tecnológicos mais mais importante do ano da ITA. No tempo. É muito agradável quando posso
importantes que estão sendo adotados? Ocidente, eu citaria o Grand Paris, ir à casa de minha filha ou quando eles
T. B. C. – Essa não é uma pergunta projeto de revitalização da cidade vêm à minha casa. Quando isso não
fácil de responder. No Brasil, pela de Paris, que prevê a ampliação em acontece, outra coisa que me dá muita
ausência dos túneis, e no resto 50% da sua rede de metrô, que já satisfação, e que até combina com
do mundo, ao contrário, pelo seu é muito grande. Paris é uma cidade atividade de trabalhar, é ouvir música.
grande número. No Brasil, não há que nasceu desde a sua origem com Gosto muito de música!
N
os últimos 40 anos mui- cargas transportadas; (iii) elemen- A construção de um túnel é uma
tos acidentes ocorreram tos estruturais e civis; (iv) operação solução para um problema específico,
no interior dos túneis. O do túnel, centralizada em Centro normalmente adotada como última
presente trabalho analisou alguns de Controle Operacional – CCO; (v) alternativa, visando a transposição
relatos, principalmente os que indi- sistemas de segurança contra in- de obstáculos.
cavam as causas e efeitos (mortes cêndio; (vi) sistemas mecânicos e Apesar de tecnicamente ser, de
e feridos) desses sinistros. Poste- eletroeletrônicos e suas infraestrutu- modo geral, mais complexos e fi-
riormente, se avaliou os eventos ras; (vii) sistemas de informação aos nanceiramente mais dispendiosos,
envolvendo situações de incêndio, usuários; (viii) serviços de manuten- os túneis oferecerem as seguintes
buscando identificar as propostas ção e atualização periódica. Essas vantagens:
de melhoria, realizadas de modo a foram analisadas considerando uma u definem menor intervenção no
viabilizar a retomada da operação abordagem integrada da segurança local, como foi o caso dos túneis
comercial. Verificou-se que estas contra incêndio. Como resultado, da Rodovia dos Imigrantes, cujo
medidas de correção poderiam ser propõe-se um sistema global de se- impacto ocorre apenas na região
segregadas em oito grupos de con- gurança contra incêndio para túneis dos emboques;
trole, denominado neste trabalho que associa todos os elementos u permitem a transposição de ci-
como elementos de verificação, são de verificação. dades densamente povoadas
sem interferência com o tráfego
local, como é o caso do túnel de
Costanera Norte, na cidade de
Santiago, no Chile;
u encurtam distâncias, interligan-
do regiões, como o exemplo do
Eurotúnel.
Estudos internacionais, exem-
plificados por Ntzeremes e Kiryto-
poulos (2019), indicam a tendência
de ampliação das malhas viárias na
Europa por meio da implantação de
novos túneis (Figura 1).
u Figura 1
Essa tendência demonstra que
Ampliação do sistema viário, por túneis, na Europa
Fonte: Ntzeremes e Kirytopoulos (2019) os estudos relacionados a túneis,
abordando as fases de projeto,
Impacto
Data Local Evento
(mortes e feridos)
Túnel de Nihonzaka
11 de julho de 1979 Acidente envolvendo 170 carros Sete pessoas morreram
Japão
Túnel Caldecott Acidente múltiplo que resultou
7 de abril de 1982 Sete pessoas morreram
EUA em incêndio
Mais de 700 pessoas morreram
Túnel de Salang Comboio do exército choca-se com
3 de novembro de 1982 (asfixiadas ou queimadas) – número
Afeganistão caminhão de combustível
final não oficializado
Túnel de Pfänder
10 de Abril de 1995 Quatro carros queimaram Três pessoas morreram
Áustria
Túnel de Toyohama
10 de fevereiro de 1996 Escorregamento da encosta 20 pessoas morreram
Japão
Depois de uma colisão traseira um 19 carros se incendiaram,
Túnel Palermo-Punta Rais
18 de março de 1996 caminhão de combustível explodiu cinco pessoas morreram
Itália
no túnel próximo a Palermo e 26 ficaram feridas
Eurotunel Caminhão que viajava no
18 de novembro de 1996 30 pessoas sofreram intoxicação
Canal da Mancha trem de carga incendiou-se
Túnel Montblanc Caminhão belga que transportava
24 de março de 1999 39 pessoas morreram
Entre França e Itália farinha e margarina incendiou-se
Após uma colisão traseira no um
Túnel Tauern
29 de maio de 1999 caminhão de tintas explodiu, o 12 pessoas morreram
Áustria
incêndio envolveu 24 veículos
Túnel Tauern
10 de janeiro de 2000 Incêndio envolvendo caminhão —
Áustria
Túnel Tauern —
10 de julho de 2001 Colisão frontal provocou incêndio
Áustria (condutor extinguiu o incêndio)
(condutor retirou o veículo
Túnel de Gleinalm Motor de um ônibus de
29 de julho de 2001 em chamas do túnel evitando
Áustria turistas suecos incendiou-se
uma catástrofe)
Túnel de Gleinalm Dois automóveis colidiram Cinco pessoas morreram
6 de agosto de 2001
Áustria frontalmente, gerando incêndio e cinco ficaram feridas
Fonte: Modificado de Scabbia & Canale (2006) e European Tunnel Assessment Programme (2006)
Impacto
Data Local Evento
(mortes e feridos)
Túnel de Amberg
8 de Agosto de 2001 Dois ônibus colidiram Três pessoas morreram
Áustria
Túnel de Reigersdorf Ônibus se chocou contra
13 de agosto de 2001 24 pessoas ficaram feridas
Áustria a entrada do túnel
Túnel de Gotthard
26 de agosto de 2001 Colisão frontal Seis pessoas ficaram feridas
Suíça
Túnel de Sonnstein Três acidentes de tráfico Duas pessoas morreram e
31 de agosto de 2001
Áustria em um único dia nove pessoas ficaram feridas
Túnel de Gleinalm
10 setembro de 2001 Ônibus de turistas se incendiou —
Alemanha
Túnel Danish Nove pessoas morreram
17 de outubro de 2001 Caminhão chocou-se com carro
Dinamarca e seis ficaram feridos
Túnel de Gotthard Colisão frontal de dois veículos
24 de outubro de 2001 11 pessoas morreram
Suíça gerando incêndio
Túnel Madaoling Incêndio iniciou no motor de um 12 pessoas morreram e
16 de novembro de 2001
China veículo seis pessoas ficaram feridas
Caminhão incendiou-se (motor),
Túnel Tauern
18 de janeiro de 2002 produzindo grande —
Áustria
quantidade de fumaça
Túnel Dalseong Caminhão com peças de míssil O número de mortes
1 de novembro de 2005
Coréia do Sul explode após falha em seus freios não foi divulgado
Túnel Huishan
5 de julho de 2010 Incêndio criminoso 24 pessoas morreram
China
Choque de caminhões,
Túnel Yanhou
17 de março de2014 um com carvão e outro com 40 pessoas morreram
China
metanol provocando incêndio
Operação comercial paralisada
Eurotunel
17 de janeiro de 2015 em razão do acionamento de —
Canal da Mancha
alarme de detector de fumaça
Fonte: Modificado de Scabbia & Canale (2006) e European Tunnel Assessment Programme (2006)
O Relatório do Ministère de
u Figura 5
l’Equipement, des Transports, du
Consequência dos incêndios ocorridos na China entre 2000 e 2016
Fonte: Ren et al. (2019) Logement (1999) aponta a necessidade
de consideração das seguintes ações
Revisada ou implantada
Revisão válida
País / Local Norma Título posteriormente
em 1999
aos acidentes
NFPA 502: Standard for Road Tunnels, Bridges,
EUA NFPA 502 1987 2001
and Other Limited Access Highways e AASTHO
Directiva 89/106/ da União Requisitos mínimos de segurança para os
União Européia 1988 2002 – 2004
Européia túneis da Rede Rodoviária Transeuropéia
Australasian Fire
Austrália Fire Safety Guidelines For Road Tunnels — 2001
Authorities Council
Proteção contra incêndio em
ABNT NBR 15661 — 2009
túneis rodoviários e urbanos
Sistemas de segurança contra incêndio em
ABNT NBR 15775 — 2009
túneis – Ensaios, comissionamento e inspeções
Sistemas de segurança contra incêndio em
ABNT NBR 15981 túneis – Sistemas de sinalização e de — 2011
Brasil
comunicação de emergências em túneis
Segurança contra incêndio para sistemas
ABNT NBR 16484 — 2017
de transporte sobre trilhos – Requisitos
Proteção contra incêndio em túneis rodoviários
ABNT NBR 16736 e urbanos – Operação de emergência — 2019
em túneis rodoviários e urbanos
u Tabela 3 – Propostas de melhoria consideradas a partir da análise dos incêndios associadas aos elementos de verificação
Elementos de verificação
Sistemas de proteção contra incêndio
Sistemas de informação
Condutores e usuários
atualização periódica
cargas transportadas
centralizada em CCO
Sistemas mecânicos
Detecção de incidentes
e eletroeletrônicos
Resistência ao fogo do
Operação do túnel
estruturais e civis
revestimento do túnel
Saída de emergência
Manutenção e
Túnel
aos usuários
Controle das
Extinção do fogo
Reação ao fogo
Elementos
(histórico de eventos
ou incêndio
Iluminação
Ventilação
retirado da Tabela 1)
Elementos de verificação
Sistemas de proteção contra incêndio
Sistemas de informação
Condutores e usuários
atualização periódica
cargas transportadas
centralizada em CCO
Sistemas mecânicos
Detecção de incidentes
e eletroeletrônicos
Resistência ao fogo do
Operação do túnel
estruturais e civis
revestimento do túnel
Saída de emergência
Manutenção e
aos usuários
Controle das
Extinção do fogo
Reação ao fogo
Elementos
Normas Escopo
ou incêndio
Iluminação
Ventilação
Projeto e operação de
ABNT
túneis com trafego de
NBR x x x x x x x x x x x x x x
véculos, em ambiente
15661
rodoviários e urbanos
ABNT Ensaios, comissionamento
NBR e inspeções para todos os x x x x x x x x x x x x x x
15775 tipos de túneis
ABNT Sistemas de sinalização
NBR e de comunicação de x x x x x x x x x x x x x x
15981 emergências em túneis
ABNT Projeto e operação de
NBR túneis com sistemas de x x x x x x x x x x x x x x
16484 transporte sobre trilhos
ABNT Operação em caso de
NBR emergência em túneis x x x x x x x x x x x x x x
16736 rodoviários e urbanos
auxiliam as equipes operacionais. ção humana devidamente equipada. sil, conforme apontado na Tabela 4,
Durante um sinistro, as pessoas que Nos textos das normas ABNT todos os elementos de verificação
estão no interior do túnel sempre NBR referentes à segurança contra apontados estão presentes. Essas
necessitam de apoio, via interven- incêndio em túneis, em vigor no Bra- normas definem diretrizes, requisi-
tos e critérios de segurança contra
incêndio, que levam em conta o es-
tado da arte de cada um dos siste-
mas que compõem os elementos de
verificação.
4. APLICAÇÃO DO SISTEMA
GLOBAL DE SEGURANÇA
CONTRA INCÊNDIO
Analisando-se a proposta de
abordagem sistêmica de segurança
contra incêndio proposta por Ber-
to (2019), consolidada na Figura 7,
constata-se que as ações de segu-
u Figura 7 rança se associam às distintas fases
Abordagem sistêmica da segurança contra incêndio
Fonte: Berto (2019) do desenvolvimento do incêndio,
assumindo inicialmente o propósito
capaz de estruturar e sincronizar, de utilizados e, para tanto, devem es- de modo organizado, por um trajeto
modo sistêmico, a segurança contra tar, não só disponíveis, mas ope- com o mínimo de fumaça, atender
incêndio desses locais (Figura 10). racionais, em plena capacidade de possíveis feridos, combater o in-
O sistema global de segurança uso, conforme previsto em projeto e cêndio, entre outras tarefas, sendo
contra incêndio para túneis pos- comprovado em comissionamento e todas importantes. O sistema global
sui cinco etapas de atuação. Inicia em inspeções periódicas. de segurança contra incêndio ado-
pelo ciclo de operação comercial, Quando o foco do incêndio for tado deve incluir equipe treinada,
manutenção (inspeção e correção detectado, aplicam-se os proce- procedimentos de operação e de
de falhas) e atualização, realizada dimentos de emergência, com o emergência atualizados, elementos
periodicamente nos procedimentos uso dos dispositivos adequados, estruturais e civis adequados a este
de operação e de emergência, nos de modo conjunto, e coordenados tipo de evento e sistemas de pro-
sistemas de materiais aplicados ou pelo CCO. teção contra incêndio em perfeitas
utilizados no túnel. Esta é a fase Caso o foco do incêndio não seja condições operacionais.
mais importante, pois na ocorrência contido, inicia-se a fase mais crítica,
de sinistros, sistemas que não foram pois se deve, simultaneamente, reti- 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
exigidos por longos períodos serão rar as pessoas do interior do túnel, Parte das questões abordadas
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Dinâmica das Máquinas e Sistemas) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2007. doi:10.11606/T.18.2007.tde-
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[17] SCABBIA, A. L. G.; CANALE, A. C. Proteção contra incêndios em túneis:-tecnologias atuais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE INCÊNDIO,
15., 2006, São Paulo. Anais... [S.l.]: COBENI, 2006.
[18] SHIDA, L.; SCABBIA, A. L. G Modelo operacional: adequação da capacidade à demanda com incorporação da pista descendente. São Paulo: Artesp, 2001.
(Apresentação realizada em 2001).
[19] UNIÃO EUROPÉIA. Diretiva 2004/54/CE do Parlamento Europeu e do Conselho de 29 de Abril de 2004, relativa aos requisitos mínimos de segurança para
os túneis da Rede Rodoviária Transeuropéia. Bruxelas: EU, 2004. (Esta Directiva for alterada pela Decisão do Comité Misto Do EEE (Espaço Econômico
Europeu,) No 10/2006 de 27 de Janeiro de 2006 que altera o Anexo XIII (Transportes) do Acordo EEE).
[20] UNIÃO EUROPÉIA. Proposta de DIRETIVA 2002/309/CE do Parlamento Europeu e do Conselho relativo aos requisitos mínimos de segurança para os túneis
inseridos na Rede Rodoviária Transeuropeia. Bruxelas: EU, 30 dez. 2002. ( COM(2002) 769 final 2002/0309 (COD)).
1. INTRODUÇÃO
O
Hospital Umberto I, tam-
bém conhecido como
Hospital Matarazzo, foi
inaugurado em 1904, na cidade de São
Paulo. Situado na rua Itapeva, a um
quarteirão da av. Paulista, este comple-
xo hospitalar teve os prédios tombados
como patrimônios históricos em 1986
e acabou encerrando suas atividades
em 1993. Após quase vinte anos, o
antigo hospital, com cerca de 27 mil
metros quadrados de terreno, foi ad-
quirido pelo Grupo Allard para dar lugar
à Cidade Matarazzo, com o desafio não
apenas de preservar e restaurar os pré-
dios tombados, mas também de inte- u Figura 1
grá-los ao novo conceito arquitetônico Disposição dos setores do empreendimento Cidade Matarazzo e do túnel de
interligação entre a Torre e o Parking
do empreendimento.
Os setores Torre e Parking do referi-
do empreendimento possuem oito sub- escritórios, teatro, shopping, restauran- (N-04), o que implicou a construção do
solos cada, sendo a maior parte dos tes, entre outros, haverá variados picos túnel tema deste artigo (Figura 1).
mesmos destinada ao estacionamen- de demanda que, por vezes, irão reque-
to de veículos, motocicletas e afins, rer um balanceamento entre estaciona- 2. CONCEPÇÃO E DESCRIÇÃO
de forma a atender aos requisitos de mentos. Dessa forma, para assegurar DO TÚNEL
quantidades mínimas de vagas fixados a adequada operação do empreendi- Primeiramente, definiu-se a loca-
pela Lei Municipal nº 16.402. mento, os empreendedores, arquitetos ção em planta da interligação entre os
Uma vez que o empreendimento e demais interessados decidiram criar setores Torre a Parking (Figura 1). Ape-
comportará variados estabelecimentos uma interligação entre os setores Torre sar da esconsidade em relação às
e atrações, tais como hotel, prédio de e Parking, no nível do quarto subsolo paredes de contenção, o que implica
4. EXECUÇÃO DO TÚNEL
Foto 1 – Recortes nos estacões para execução da viga portal
(feitos com serra-copo)
4.1 Condicionantes construtivas
direta, sem que essas causassem es- da viga de transição (no nível da laje do
forços indesejados de torção. N-04), para distribuir parte da carga ver- Conforme mencionado, o maciço
Além da viga portal de transição, tical do estacão lateral ao túnel (estacão argiloso e a ausência de NA foram
também foram executados painéis de de apoio da viga portal) para as estacas condicionantes favoráveis à execução
concreto armado, para receber as car- adjacentes e, assim, não exceder sua do túnel em questão, pois implicaram
gas advindas da casca do túnel e garan- capacidade de fundação. a minimização da necessidade de
tir o travamento horizontal do conjunto Somente 28 dias após a completa tratamentos de solo. Além disso,
como um todo, bem como uma segun- concretagem da viga portal de transi- como também não houve necessi-
u Figura 10
Locação em planta das seções de u Figura 11
instrumentação Pinos de convergência e cordas
5. SÍNTESE
Túneis são ótimas soluções de
mobilidade urbana, pois permitem a
eliminação de cruzamentos em nível
e possuem maior flexibilidade quanto
ao traçado geométrico. No caso de
túneis executados em NATM, a van-
Foto 8 – Frente do túnel com núcleo central / revestimento pronto para receber tagem é ainda maior, pois trata-se de
os 5 cm finais de concreto projetado / arco invertido reaterrado um método não-destrutivo (MND), o
qual tende a causar poucos efeitos
na superfície, mesmo durante a fase
de obras.
No caso da Cidade Matarazzo,
como tentou demonstrar este arti-
go, um túnel em NATM foi a solução
mais viável, tanto em termos executi-
vos quanto econômicos (o custo da
obra girou em torno de 100 mil reais
por metro linear de túnel e gerou uma
economia estimada de 25% em rela-
ção à solução de trincheira), para re-
alizar a interligação entre os setores
Torre e Parking e, assim, garantir uma
operação mais eficiente dos futuros
estacionamentos.
1. INTRODUÇÃO O Túnel Paulo Autran foi inaugurado para o acesso da Avenida Washing-
O
trânsito caótico da cidade em 25 de janeiro de 2008 e teve como ton Luís ao Aeroporto Internacional de
de São Paulo não é novi- propósito melhorar a fluidez do trânsito Congonhas, na zona sul de São Paulo.
dade para ninguém. Os
moradores já sabem disso há muito
tempo. E os visitantes, constantes ou
esporádicos, logo percebem as dificul-
dades de locomoção devido aos con-
gestionamentos, resultando em atrasos
nos compromissos, caso não sejam
alertados com antecedência para se
programarem.
As novas avenidas, pontes, viadu-
tos e túneis se tornam necessários para
tentar compensar o incrível número de
veículos que transita e que aumenta
anualmente.
A conta matemática é simples,
é um problema de escoamento que
os engenheiros aprenderam na ca-
deira de Mecânica dos Fluidos, dos Foto 1 — Antes do túnel (2005)
cursos de engenharia, só que neste
caso o “fluido” se chama veículo e
o “canal” se chama rua. A partir da
teoria, sabe-se que a velocidade de
escoamento do fluído é proporcional
à área destinada, além de outros pa-
râmetros. Em São Paulo, as áreas de
determinadas ruas não são suficien-
tes para uma velocidade de escoa-
mento de veículos adequada.
No local onde existe o Túnel Pau-
lo Autran, havia um semáforo para a
conversão à esquerda de quem vinha
da Avenida Washington Luís, sentido
bairro, e pretendia acessar o aeropor-
to. Muito tempo perdido por causa dos
congestionamentos constantes em
ambos os sentidos. Foto 2 — Depois do túnel (2008)
2. DESCRIÇÃO DA OBRA
Com 310 metros de comprimento,
sendo 160 deles cobertos, 2 pistas
com 9,5 m, incluindo uma calçada
e gabarito mínimo de 5,0 metros de
altura, no sentido Washington Luís/
Aeroporto, o espaço para as obras e
o prazo necessário eram fatores limi-
tantes que ameaçavam a empreitada.
Foto 4 — Túnel Paulo Autran – interior
O túnel dá acesso ao estacionamento
e ao terminal de passageiros do aero-
porto. A passagem tem ainda siste-
mas de ventilação, iluminação e com-
bate ao incêndio. Assim, o projeto foi
concebido de forma pioneira, sendo o
primeiro túnel em toda América Latina
constituído por estacas-prancha apa-
rentes como solução estrutural para
parte da contenção e fundação.
Na execução, aplicou-se o méto-
do de trincheira aberta após a crava-
ção das estacas-prancha.
Foram utilizadas placas pré-
-moldadas de contenção lateral nos
trechos de saída e entrada do túnel,
assentes sobre canaletas de concre-
Foto 5 — Escavação após a cravação das estacas-prancha, vigas de coroamento
to sobre o solo. O trecho coberto é das estacas-prancha e vigas pré-moldadas de cobertura
3. CRITÉRIOS DO
PROJETO ESTRUTURAL
O critério geral adotado no projeto
foi de estrutura de concreto pré-mol-
dado, solidarizada no local, de modo a
obter continuidade nas ligações confor-
me normas a seguir, garantindo a qua-
lidade e o atendimento dos requisitos
de capacidade resistente, desempenho
em serviço e durabilidade da estrutura.
Principais referências normativas utili-
zadas para a elaboração deste projeto
(normas vigentes na época):
Foto 6 — Montagem das placas pré-moldadas de contenção lateral na entrada e u ABNT NBR 6118:2003 – Proje-
saída do tunel
to de estruturas de concreto –
Procedimento;
u ABNT NBR 9062:1985 – Projeto e
execução de estruturas de concreto
pré-moldado - Conceitos da comis-
são de revisão da ABNT.
u ABNT NBR 12655:2006 – Concreto
de cimento Portland – Preparo, con-
trole e recebimento – Procedimento;
u ABNT NBR 7188:1984 – Carga mó-
vel em ponte rodoviária e passarela
de pedestre.
Visando aumentar a qualidade do
projeto, simultaneamente ao atendimento
dos requisitos da ABNT NBR 9062:1985,
utilizou-se o texto normativo revisado de
2006, que já estava aprovado pela co-
Foto 7 — Concretagem da capa sobre as vigas de cobertura missão técnica, mas se encontrava, na-
quele momento, em consulta pública.
u Tabela 1 – Condições de exposição da estrutura De acordo com as condições de
exposição da estrutura, no local de
Classe de Risco de implantação desta, os parâmetros de
Área agressividade Agressividade deterioração
ambiental da estrutura
agressividade do ambiente considera-
4. PROJETO ESTRUTURAL roamento através de ferros de espera rizadas, por meio de concretagens, ao
A característica principal do projeto nas extremidades e chapas soldadas, longo da canaleta de fundação. A Fi-
foi transformar as peças pré-moldadas conforme Figura 2. gura 3 mostra um corte transversal da
isostáticas em um sistema estrutural rí- As placas pré-moldadas de conten- estrutura, com destaque para a região
gido, por meio de ligações contínuas. ção do solo, localizadas nos trechos de de ligação entre os elementos.
As vigas pré-moldadas da cobertu- entrada e saída do túnel, foram primei- Obteve-se, então, um pórtico espa-
ra foram solidarizadas às vigas de co- ramente posicionadas e depois solida- cial contínuo, com distribuição de todos
os esforços envolvidos por meio de liga-
ções rígidas entre elementos pré-molda-
dos e moldados no local (Figura 4).
u Figura 4
Diagrama de momento fletor para uma das combinações de ações (tf.m) EQUIPE TÉCNICA
PLANSERVI
da obra do Túnel Paulo Autran foi a defi- Desde o início do detalhamento do Gerenciamento e projetos
nição da logística dos trabalhos, devido projeto até a inauguração da obra foram complementares
às condições locais de tráfego, fluxo de 16 meses de intenso trabalho, podendo
pessoas e impossibilidade de interdi- ser considerado um intervalo de tempo ZAMARION E MILLEN
CONSULTORES
ções, exigindo uma coordenada ação muito curto em função da complexidade
Projeto estrutural de concreto
dos profissionais envolvidos ao longo de dos serviços e condições envolvidas. pré-moldado e moldado no
todo o processo. A solução estrutural em elementos local (pavimento inferior e
As soluções adotadas em projeto, pré-moldados teve um papel predomi- capeamento).
na produção, na estocagem e na mon- nante na obtenção do sucesso deste
BOC
tagem dos elementos pré-moldados, empreendimento, cabendo destacar,
Pré-fabricados
assim como as concretagens locais e entre tantas outras vantagens, a alta
acabamentos, foram intensamente es- qualidade alcançada no acabamento CAMARGO CORRÊA
tudadas de forma multidisciplinar, vi- dos elementos estruturais e a redução Montagem e obras civis
sando minimizar o tempo total da obra. significativa dos prazos de obra.
1. INTRODUÇÃO
L
ogo após a instalação da Es-
cola Politécnica, em 1894,
no bairro do Bom Retiro, em
São Paulo, foi constatada a necessi-
dade e a importância de inserir a par-
te prática e experimental do curso de
engenharia civil, e foi nesse contexto
que, em 1899, foi criado o Gabinete
de Resistência dos Materiais (GRM)
da Escola Politécnica de São Paulo,
sendo um dos primeiros laboratórios
do gênero no país.
Em 1923, Ary Frederico Torres se
graduou no curso de Engenharia Civil
da Escola Politécnica. Como obteve
o primeiro lugar entre os formandos
do ano, ganhou, como prêmio, uma
viagem de estudos à Europa, para
onde embarcou em 1925. Em Zuri-
u Figura 1
que, na Suíça, trabalhou por quase Carta que registra o início do programa
um ano como assistente no Labora-
tório Federal de Ensaio de Materiais
e, além disso, visitou os laboratórios Laboratório de Ensaios de Materiais Já com uma seção dedicada ao
de pesquisas técnicas da França, (LEM). Nesse projeto foram propostas estudo do concreto e materiais cons-
Alemanha, Áustria, Itália e Bélgica. algumas mudanças que foram funda- tituintes, Ary Torres publicou, em
Com a bagagem que adquiriu no mentais para o crescimento do labo- 1927, o Boletim nº 1 do IPT sobre
exterior, Ary Torres, de volta à São ratório (Boletim do IPT nº 20, 1939). “Dosagem dos concretos”, tornan-
Paulo, em 1926, assumiu a direção Nesse mesmo ano, a primeira fá- do público o resultado de um ano de
do GRM e apresentou um relatório e brica moderna de cimento, a Com- estudos experimentais, que causou
um projeto de remodelação do Gabi- panhia de Cimento Portland Perus, grande repercussão na época, visto
nete, que passou a ser chamado de iniciou a sua produção em São Paulo. que os concretos eram dosados até
Criação do Gabinete de Resistência dos Inicia o Programa intitulado “Estudo É fundada a Associação Brasileira de Normas
Materiais (GRM) pelo Dr. Antônio Francisco de de dosagem de concreto de longa Técnicas (ABNT), e as primeiras normas de
Paula Souza. duração”, elaborado por Ary Torres. cimento e concreto são publicadas.
Levantamento de toda a
documentação do Programa.
Carlos Eduardo de Siqueira Tango Ruptura de alguns corpos de
São nalizadas as moldagens publica sua tese de doutorado com prova restantes, inclusive 2 da
dos corpos de prova do base nos dados disponíveis do primeira amostra nº 3931 com 86
Programa. Programa. anos de idade.
1972 2015
No segundo A última amostra moldada do
colóquio entre Programa completa 50 anos.
tecnologistas do
concreto
realizado no IPT, é
fundado o
Instituto Brasileiro
de Concreto
(IBRACON).
Série A B C D
Conservação Ar úmido Ar úmido Água potável Imersos em água do mar
1:4 – – –
1:5 1:5 1:5 1:5
Traços em peso 1:6 1:6 1:6 1:6
cimento: agregado 1:7 1:7 1:7 1:7
1:8 – – –
1:9 – – –
2, 3, 7 e 28 dias
Idades 2, 3, 5, 10, 25 e 50 anos Uma e indeterminada Uma e indeterminada
3, 6 e 12 meses
Número de corpos de prova
4 4 4 4
para uma mesma idade
Número de corpos de prova
168 72 12 12
para a série
Número total de corpos
de prova de concreto por
240 ver nota 1 2
amostra de cimento
Série A e B
NOTA
1
Da terceira amostra em diante não foram moldados os corpos de prova para a série C e D.
2
Para a segunda amostra do Programa (nº 6469) foram moldados 32 corpos de prova para a série D. Sendo 4 traços 1:4, 1:5, 1:6 e 1:7, e 8 corpos de prova por traço: 4 simples, 2 armados
com 1 ferro e 2 armados com 4 ferros – esses corpos de prova não foram encontrados no levantamento realizado.
Quantidade de corpos de prova moldados por série 10.936 4.670 24 44 tro máximo 38 mm) e, portanto, só
Total de corpos de prova moldados 15.674 era possível moldar corpos de prova
em dimensões maiores, ou seja, no
40,0
local de armazenamento e a identi-
35,0
ficação dos corpos de prova preci-
30,0
sariam resistir ao tempo, o labora-
25,0
tório ou o patrocinador poderiam vir
20,0
a deixar de existir; além disso, eles
15,0
não estariam vivos para concluírem
10,0
o estudo, deixando essa responsa-
5,0
bilidade, os frutos e o legado para
0,0
2d 3d 7d 28d 3m 6m 1a 2a 3a 5a 10a 25a 50a 55a 56a 65a 77a 86a
as futuras gerações do Laboratório
Idade e da comunidade técnica em geral.
Este programa atravessou gerações
u Figura 3 no IPT, que, desde a sua fundação
Gráfico das resistências à compressão das amostras selecionadas para
continuação do estudo – Traço 1:6 como Gabinete de Resistência dos
Materiais, colaborou com o processo
de desenvolvimento tecnológico do
as duas primeiras amostras. No en- balhar na digitalização e sistematiza-
País, cumprindo sua missão como
tanto, as moldagens da série A e B ção de toda a documentação e dos
braço tecnológico do Estado, a ser-
continuaram até 1965, de modo que resultados produzidos, de forma que
viço da sociedade.
o estudo se concentrou nos ensaios esses dados não se perdessem no
Hoje, com 120 anos de história,
de longa duração dos concretos ex- tempo, bem como organizar e cata-
o IPT conta com infraestrutura de
postos ao ar até 50 anos de idade. logar os corpos de prova restantes,
aproximadamente 103 mil m 2, que
Apesar da complexidade do Pro- a fim de finalizar os ensaios de resis-
grama, dado que foram realizadas tência mecânica como proposto ini- abriga 37 Laboratórios e Seções
coletas de amostras de cimento e cialmente no começo do século XX, Técnicas, pertencentes a 9 centros
moldados corpos de prova duran- e investigar esses concretos em re- e dois núcleos tecnológicos na Ci-
te 32 anos, com aproximadamente lação à sua microestrutura, uma vez dade Universitária Armando de Sal-
80 anos de resultados de ensaios que é, nessa escala, que ocorrem les Oliveira, em São Paulo (SP), além
emitidos, foi encontrada uma padro- as principais transformações que in- de uma unidade em Franca (SP) e o
nização no processo, desde o pla- fluenciam todas as propriedades do Núcleo de Estruturas Leves (LEL), no
nejamento, as moldagens, os regis- concreto em longas idades. Parque Tecnológico de São José dos
tros das amostras, até as emissões Cabe ressaltar que os idealizado- Campos (SP), e é considerado como
dos certificados. res e principais participantes desse um dos maiores institutos de pesqui-
Neste projeto intencionou-se tra- programa foram ousados e despren- sas do Brasil.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] ABNT. História da normalização brasileira. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, 2011.
[2] BATTAGIN, Arnaldo Forti, MUNHOZ, Flavio André Cunha Munhoz, BATTAGIN, Inês Laranjeiras S. Evolução da normalização, finura e resistência à compressão dos
cimentos Portland brasileiros. Revista Concreto & Construções, São Paulo, nº 80, p. 117-122, out/dez, 2015.
[3] INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS. Histórico de sua evolução. Boletim nº 20. São Paulo, IPT, 1939. 102 p.
[4] TANGO, Carlos Eduardo de Siqueira. Um estudo do desenvolvimento da resistência à compressão do concreto de cimento Portland até 50 anos de idade. Boletim
nº 60. São Paulo, IPT, 1991. 36 p.
[5] TORRES, Ary Frederico. Dosagem racional dos concretos. Boletim nº 3. São Paulo: Escola Polytechica de São Paulo, 1929. 32 p.
1. INTRODUÇÃO mento de Huánuco. Nas bordas dos volume de aterro atingiu 8.400.000 m3 e
O
presente artigo tem por Andes, voltada para a região da flo- comprimento de crista de 270m [1].
finalidade descrever o resta Amazônica. A construção foi O arranjo geral do empreendimento
controle tecnológico do iniciada em 2011 e entrou em opera- está apresentado na Figura 1.
concreto projetado com fibras utiliza- ção no final do ano de 2015, resultan- O desvio do rio Huallaga foi efetu-
do nos túneis da Usina Hidroelétrica de do em cerca de 10% da geração de ado por um túnel, não revestido, situ-
Chaglla, no Peru. energia elétrica peruana. ado na margem esquerda, com 1.126
Concebeu-se a barragem como sen- m de comprimento, em seção arco-
2. DADOS DO PROJETO do a de uma estrutura de enrocamento, -retângulo e diâmetro equivalente de
A Usina Hidrelétrica de Chaglla com face de concreto de 209m de al- 12,5m (Figura 2).
está localizada no Peru, no departa- tura (a 3ª maior BEFC do mundo), cujo O vertedouro, também situado
u Figura 1
Arranjo geral do aproveitamento hidrelétrico de Chaglla [1]
3. ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS
DO PROJETO PARA O
CONCRETO PROJETADO
As principais diretrizes iniciais para o
concreto projetado especificadas pela
projetista Intertéchne, descritas nas Es-
pecificações Técnicas de Obras Civis
do Projeto Central Hidroelétrica Chaglla
u Figura 3
[4], são apresentadas a seguir: Vista e seção transversal dos túneis dos vertedouros
u O concreto projetado pode ser ad-
u Tabela 1 – Plano de inspeção e ensaios para projetado via seca e via úmida
u Gráfico 1
Controle de temperatura do concreto fresco
u Gráfico 2
Controle de abatimento do concreto fresco (slump test)
u Figura 8
Lançamento de concreto
com fibras com braço robótico
de projeção
u Gráfico 3
Evolução da resistência: testemunhos x corpos de prova – fibra metálica
u Figuras 9 e 10
Placa moldada e extração u Gráfico 4
de testemunhos Evolução da resistência: testemunhos x corpos de prova – fibra sintética
Após a execução do ensaio, foi ava- creto projetado e o maciço rochoso. cie da rocha é irregular. Mas, a despeito
liada a carga máxima de arrancamen- Entre eles: o ensaio ASTM D6916, daquilo, a aderência do concreto proje-
to e determinada a tensão de ruptura, um método de teste padrão para tado à rocha foi claramente notada.
que deve ser superior a mínima espe- determinar a resistência ao cisalha- De acordo com os valores obtidos
cificada. Realizava-se também a análi- mento entre unidades de concreto de tensão de aderência (Gráfico 6),
se visual do testemunho extraído para segmentadas (blocos de concreto a adesão entre a rocha e o concreto
avaliar a qualidade da interface entre modulares).
o concreto projetado e a rocha, como O teste é utilizado para determinar
pode ser visto nas Figuras 13 e 14. a resistência ao corte nas uniões entre
Observa-se nas figuras que a adesão dois materiais, o concreto projetado e a
do concreto projetado à rocha é muito rocha, em amostras remoldadas e em
boa: o que acontecia é que, em todos os amostras extraídas, cujo esquema é
testemunhos, a ruptura ocorria na rocha, mostrado na Figura 15.
pois o maciço era muito fraturado. Cabe destacar que os ensaios reali-
Além desses, ensaios de cisa- zados em laboratório da obra foram em
lhamento foram realizados para rocha lisa e plana (Figuras 16 e 17). No u Figura 15
comprovar a aderência entre con- campo, este tipo de uniformidade não Esquema do método de ensaio
é encontrado. Pelo contrário, a superfí- ASTM D6916
6. AGRADECIMENTOS
Aos diretores de contrato da obra:
Pedro Henrique Schettino e Leonar-
do Borgatti – Odebrecht Engenharia
e Construções.
u Gráfico 6 Ao engenheiro projetista:
Valores obtidos de tensão de aderência no ensaio ASTM D6916 Alex Martins Calcina – Diretor de
Unidade de Energia e Infraestrutura,
projetado apresentou bons resultados, u como ponto principal em relação à Interthécne Consultores S.A.
garantindo perfeita integridade entre os durabilidade, a não oxidação, dife- Ao engenheiro consultor:
dois elementos. rentemente do que ocorre com a Selmo Kuperman.
fibra metálica; Ao engenheiro industrial:
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS u seu custo final foi de 62% do custo Ivan Jhoel Jara Nunura.
O concreto projetado para os re- da fibra metálica. Ao técnico laboratorista:
vestimentos dos túneis de Chaglla foi A fibra BarChip 54 já havia sido Rafael Arnecke.
considerado bastante satisfatório. Con- utilizada em outras obras: Central Hi-
sidera-se que a substituição da fibra drelétrica Angostura e nos Túneis Sub-
metálica pela fibra sintética estrutural terrâneos Chuquicamata (Chile), Pro- FICHA TÉCNICA
trouxe as seguintes vantagens: jeto Hidrelétrico em Churin e em duas
u o tempo de mistura permaneceu unidades mineradoras Cerro Lindo e Construtora
o mesmo praticado nos outros El Porvenir (Peru). A fibra foi otimizada ODEBRECHT
Engenharia e Construção
concretos; pelo fabricante após os estudos reali-
u a adição da quantidade de fibra zados na obra, melhorando sua forma Projetista
sintética (4,5 kg/m³) é mais simples e, assim, sua aderência. INTERTÉCHNE Consultores S.A.
e prática, considerando o mesmo Cabe destacar que durante o en-
Fornecedores de fibras,
procedimento utilizado com a fibra chimento do túnel de adução da Casa
aditivos etc.:
metálica; de Máquina Principal, houve uma fuga fibra metálica: SIKA; fibra
u no bombeamento, por ter atrito in- por uma estrutura cárstica1 paralela sintética: EPC Elasto
terno muito baixo, apresentou um ao túnel, obrigando seu esvaziamento Plastic Concrete; cimento
Portland: Cemento ANDINO S.A.;
maior rendimento na produção e completo para seu reparo. As vistorias
aditivo acelerador: BASF; aditivo
menor desgaste da tubulação, com realizadas em toda a extensão do túnel acelerador: SIKA.
menos entupimentos; mostraram que o comportamento do
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] JEISS, CALCINA, PINTO e BORGATTI. Barragem de Chaglla – Principais Aspectos. XXX Seminário Nacional de Grandes Barragens. Foz do Iguaçu-PR, Maio, 2015.
[2] FURLANETTO, V. Investigación Técnica para el Shotcrete: Investigación del Desempeño Técnico de la Fibra BarChip 54 x Sika CHO 65/35. Informe Técnico CHC-
IT4-32B44-0001 R0, 15/05/2012.
[3] JARA NUNURA, I. J. Control de Calidad de Concreto Lanzado Usando Fibra Sintética en Reemplazo de Fibra Metálica. Informe para Titulo de Ingeniero Industrial.
Universidad Nacional de Trujillo, Facultad de Ingeniería, Peru, 2016.
[4] INTERTÉCHNE. Especificaciones Técnicas de Obras Civiles – CH Chaglla. ET Nº 0918-CG-ET-200-00-201 Rev. 0. Agosto, 2010.
1
Estrutura rochosa com cavernas, cânions e falhas geológicas produzidas pela ação da água subterrânea sobre rochas solúveis.
N
a execução de túneis re- viários, a drenagem perimetral é de projetado de túneis pode ser obtida
vestidos com concreto difícil solução, e a opção com melhor por um mecanismo de formação de
projetado, as técnicas de custo-benefício tem sido a drenagem cristais extras na sua microestrutura.
impermeabilização e drenagem devem localizada das infiltrações e a aplica- Induzida pela adição do aditivo crista-
ser concebidas considerando-se to- ção de uma camada de concreto pro- lizante, a impermeabilização resultan-
dos os elementos e processos da exe- jetado com aditivo cristalizante, como te, com capacidade autocicatrizante
cução desse revestimento. Nos túneis premissa geral da filosofia do “Túnel contra infiltração de água através de
metroviários, o sistema impermeabili- Seco” (Figura 1). Ressalta-se que a fissuras, é usada principalmente nos
zante normalmente aplicado em larga impermeabilização deve ser preferen- revestimentos primários em concreto
escala é a geomembrana de PVC-P, cialmente pensada sob o foco de ma- projetado, mas pode também ser ado-
com emprego de aditivo cristalizante nutenção e operação dos túneis, com tada no concreto secundário, como
no revestimento secundário da estru- visão a longo prazo. discutido no presente artigo (Figura 2).
O maior impacto das infiltrações
de água ocorre durante a constru-
ção de túneis, mas os problemas
serão sentidos durante muito tem-
po na sua operação e manutenção.
Os processos de tratamento de in-
filtrações iniciam-se com a instala-
ção de drenos horizontais profun-
dos (DHP), ou mantas drenantes,
aplicados em forma de espinha de
u Figura 1
peixe do tipo “Método Oberhasli1” u Figura 2
Túnel do Formigão BR 101-SC,
com 530 metros de extensão, . Devem ter capacidade para coletar O túnel Marcello Alencar, com
possui drenagem perimetral, com e conduzir todas as águas infiltradas 3.022 metros de extensão, é o
posterior projeção de concreto para possibilitar condições para uma
maior túnel subterrâneo urbano
impermeável com aditivo do Brasil. O aditivo cristalizante
superfície sem fluxo de água, possibi-
cristalizante, para a obtenção da foi utilizado no revestimento
filosofia do “Túnel Seco” litando a aplicação de camada supor- secundário de concreto do túnel
te em concreto projetado.
Camada de
Perfil Sistema Camada definitiva
contenção Pré-tratamento Pós- tratamento
hidrogeológico impermeabilizante de 2ª fase
de 1ª fase
Injeção de calda
Infiltrações Concreto projetado Concreto projetado autocicatrizante Injeção de resinas
de cimento
localizadas autocicatrizante c/ fibras de aço de poliuretano
cristalizante
Túneis de Injeção de calda de Concreto moldado
Afluxo de água Concreto projetado Injeção de resinas
grande cobertura cimento cristali- Membrana projetável ou projetado auto-
localizada autocicatrizante de poliuretano
em rocha sã zante cicatrizante
Injeção de calda Concreto moldado
Com fluxos de Concreto projetado Geomembrana Injeção de resinas
de cimento ou projetado
água ativos autocicatrizante de PVC-P de poliuretano
cristalizante autocicatrizante
Geomembrana
Túneis de baixa Com grande Injeção de calda Concreto moldado Injeção de resinas
Concreto projetado de PVC-P e
cobertura em solo fluxos de água de cimento ou projetado de poliuretano ou
autocicatrizante compartimentação
ou rocha alterada ativos cristalizante autocicatrizante géis de acrílico
com juntas de PVC
Com grande
fluxos de
Túneis em shield Injeção Segmentos de concreto moldado Injeção de resinas
água ativos e –
(TBM) em cortina autocicatrizante c/ veda juntas de géis de acrílico
carreamento
de areia
Com grande
Geomembrana
fluxos de Concreto moldado Injeção de resinas
Túneis de baixa Concreto projetado Injeção em cortina de PVC-P e
água ativos e ou projetado de poliuretano ou
cobertura em areia autocicatrizante e injeção química compartimentação
carreamento autocicatrizante géis de acrílico
com juntas de PVC
de areia
2. ELEMENTOS DOS SISTEMAS sucessivas no maciço terroso, com timento, não haja a possibilidade de
DE IMPERMEABILIZAÇÃO EM a imediata projeção do concreto para a água se infiltrar por caminhos que
TÚNEIS SUBTERRÂNEOS equilíbrio das tensões geradas no ma- não sejam os dos drenos provisó-
Os sistemas impermeabilizantes em ciço pela escavação, servindo como rios ou permanentes;
túneis metroviários e rodoviários são estrutura definitiva. Deve–se, sempre u Pré-tratamento: As infiltrações
constituídos por um conjunto de ele- que possível, evitar o rebaixamento do persistentes do maciço terroso ou
mentos e processos, empregados para lençol freático na execução do método do revestimento primário podem
prover a estanqueidade das estruturas NATM, evitando-se, assim, recalques ser tratadas, conforme a sua inten-
subterrâneas, novas ou existentes. Con- indesejáveis e os consequentes pre- sidade, por injeções preliminares
siderando a opção por concreto proje- juízos passíveis de serem provocados de calda de cimento com aditivo
tado autocicatrizante, esses elementos nas edificações lindeiras à obra. cristalizante, onde a malha de inje-
e processos podem ser empregados Em geral, podem ser considerados ção é constituída por furos dispos-
agrupados ou isoladamente, conforme os seguintes elementos e processos de tos em linhas paralelas, com distri-
o tipo de maciço, a quantidade de água impermeabilização de túneis construí- buição defasada entre as linhas
infiltrada, o método construtivo empre- dos no sistema NATM: adjacentes (o comprimento dos fu-
gado e o desempenho especificado u Revestimento primário: O concreto ros deverá ser orientado por crité-
para a obra (Tabela 1). projetado da primeira fase deve ser rio geológico, no sentido de atra-
O NATM (New Austrian Tunnelling devidamente dosado para garan- vessar o maior número de fraturas
Method) é o método construtivo não tir a continuidade de aplicação, de e juntas possível); recomenda-se
destrutivo que envolve escavações modo que, terminado todo o reves- que, antes do tratamento em toda
Potencial Zeta é uma medida da magnitude de repulsão ou da atração eletrostática ou das cargas entre partículas, influencia o processo de nucleação, conduzindo as partículas
2
de “cristais semente” em cristais maiores dos produtos de hidratação do cimento de C-S-H, etringita e carbonato de cálcio.
u Figura 10
Permeabilidade da matriz de u Figura 11
brita preenchida com a calda O aditivo cristalizante foi utilizado para compor mais de 33.000 m3 de
de cimento com diferentes concreto projetado como a solução de impermeabilização para os túneis
concentrações de aditivo e estações da nova Linha 3 de Metrô de Santiago do Chile, durante a fase
cristalizante inicial de construção
Massa
Peso Volume
Componentes específica
(kg/m3) (L/m3)
(kg/m3) selamento do concreto à penetra-
Cimento Portland pozolânico de alta resistência 430 3 143,2 ção de água e outros líquidos, tanto
Água 200 1 200 na pressão negativa quanto na po-
Areia grossa (Lira) 1555 2,69 578,0 sitiva, além de proteger sua estrutu-
Sílica ativa (Elken) 21,5 2,22 9,7 ra contra a deterioração pela ação
Aditivo cristalizante 0,8% (Penetron Admix) 3,44 1,25 2,7 de fatores ambientais adversos;
Controlador de hidratação 0,45% (Delvo Stabilizer) 1,93 1,09 1,8 u Aditivo controlador de hidratação,
Superplastificante 0,7% (Viscocrete 5100) 3 1,09 2,8 para aumentar o tempo de pega do
Acelerador de pega 7% (Normet Tamshot 70) 30,1 1,40 21,5 cimento em até 72 horas, facilitando
Ar incorporado (4%) – – 40 as operações de bombeamento e
2.245 kg/m 3
1.000 L ajudando a eliminar as juntas frias en-
tre as faixas de projeção do concreto;
u Aditivo superplastificante, para facilitar
seu comportamento em relação à corro- Chile. A aplicação do material foi feita as operações de bombeamento, pois
são de fibras, armaduras, malhas, arcos através de um processo pneumático de torna o concreto mais fluido e coeso
e todos os tipos de elementos de aço. alta velocidade sobre o substrato, para para o transporte através do mangote
Os componentes da dosagem do garantir uma compactação suficiente. até o bico do projetor, onde é adicio-
concreto projetado utilizado na Linha Foram realizados extensos testes de nado o aditivo acelerador de pega;
3 do Metrô de Santiago são descritos campo para comparação de três marcas u Aditivo acelerador de pega e endu-
na Tabela 2 e atendem aos requisitos de cimento. Com base nos resultados de recimento, para atender às exigên-
para uma projeção técnica robotizada resistência à compressão, a dosagem re- cias das classes de resistência J1,
do concreto, comumente utilizada na quereu aditivos químicos, tais como: J2 e J3 das diretrizes para concreto
construção de túneis subterrâneos no u Aditivo cristalizante, para garantir o projetado, colaborando ainda para
diminuir os níveis de reflexão e de
formação de poeira.
Classes J1, J2 e J3 são requisitos da resistência à baixa idade, que indicam quando o concreto projetado precisa ser aplicado com infiltrações e na ocorrência de tensões devidas
3
a atividades de escavação.
u Figura 14
Controle da permeabilidade das amostras extraídas em mm de penetração
de água ao longo de 26 meses conforme a evolução da obra do túnel
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] V. Rahhal, V. Bonavetti, L. Trusilewicz, C. Pedrajas e R. Talero, “Role of the filler on Portland cement hydration at early ages,” Construction and Building Materials,
p. 82–90, 2012.
[2] K. Zheng, X. Yang, R. Chen e L. Xu, “Application of capillary crystalline material to enhance cement grout for sealing tunnel leakage,” Construction Building
Materials, pp. 497-505, 2019.
1. INTRODUÇÃO e desenvolvimento urbano do S21 pre- cidade. Os dois primeiros projetos têm
O
Stuttgart 21 (ou simples- tendem, entre outros objetivos, trans- grande envolvimento da MC.
mente S21) é um dos maio- formar a região de Stuttgart num hub
res projetos de engenharia ferroviário internacional de transporte 3. ALTA DEMANDA EM
atualmente em curso na Europa, com de mercadorias e pessoas. O proje- DESENVOLVIMENTO
diversas obras realizadas na cidade to prevê a construção de 100 km de TECNOLÓGICO
alemã de Stuttgart e em seus arredo- trilhos compatíveis com trens de alta A perfuração dos túneis Filder e
res, que tem, entre muitos objetivos, a velocidade. O trecho terá um sistema Albvorland foi realizada com um TBM
meta de otimizar a infraestrutura local de gestão de tráfego inteligente e três (Tunnel Boring Machine – máquina tu-
de transporte. Uma das características estações construídas dentro dos mais neladora, usada para escavação de
mais marcantes do projeto é a previsão modernos padrões já estabelecidos túneis com secão transversal circular,
de ligações entre a cidade, lar de mon- para edificações ferroviárias. A amplia- apreciada por sua versatilidade, se-
tadoras consagradas como a Mercedes ção da infraestrutura ferroviária deve gurança e eficiência em diversos tipos
Benz e a Porsche, e vias de trens trans- estimular, não só a atividade industrial, de solos e rochas) do tipo EPB (Earth
continentais ligadas aos cantos mais mas o desenvolvimento da região cen- Pressure Balance – tipo de tuneladora
remotos da Europa. Quando o S21 esti- tral de Stuttgart. A expectativa é que a que usa um método no qual o mate-
ver concluído, Stuttgart vai se tornar um área central da cidade – onde ficam os rial escavado é utilizado para apoiar
dos hubs ferroviários mais importantes grandes prédios de escritórios e resi- a face do túnel, enquanto está sendo
e modernos do continente, além de um denciais de alto padrão – seja ampliada condicionado com espuma ou lama e
centro industrial ainda mais relevante. em 40% com novas construções nas outros aditivos para torná-lo maleável e
No segundo semestre de 2019, o adjacências da linha férrea que passa a transportável; o material entra na má-
S21 atingiu um novo marco: a conclusão servir a região. A empresa responsável quina por um parafuso de rosca sem
da perfuração dos túneis ferroviários Fil- pelo projeto é a concessionária Deuts- fim que permite que a pressão na face
der e Albvorland, com direito à cerimônia che Bahn. O governo federal alemão, o do TBM permaneça equilibrada, sem o
oficial e à presença de cidadãos, operá- governo da província de Baden-Würt- uso de lama). As condições geológicas
rios, engenheiros, autoridades e políticos. temberg, a autoridade de trânsito de do solo não permitiram que as linhas
O fim da perfuração representou a con- Stuttgart, a administração municipal, a férreas do Filder pudessem ser posicio-
clusão de um trabalho de quase cinco concessionária aeroportuária Flughafen nadas numa única cavidade, como na
anos em que colaboradores de diversos Stuttgart GmbH e a União Europeia são maioria dos túneis. Os engenheiros ti-
setores ajudaram a concretizar etapas as financiadoras do S21. Além dos tú- veram que escavar dois túneis singelos,
cruciais de um dos projetos de infraes- neis Filder e Albvorland, o S21 também um para cada via. Cada um tem 10,87
trutura mais monumentais da atualidade. inclui uma série de outros subprojetos, m de diâmetro, com profundidade va-
entre eles: o anel ferroviário de Stutt- riando entre 20 e 220 m abaixo da li-
2. MEGAPROJETO ALEMÃO gart, a nova linha férrea Stuttgart-Ulm nha do solo. A extensão total do Filder
Com orçamento estimado em 8 bi- – que terá vários túneis – e o rebaixa- é de 9.468 m, o que faz dele o maior
lhões de euros, as obras de transporte mento da estação ferroviária central da túnel do S21. Quando concluído, será
©DB/REINER_PFISTERER
rio da Alemanha e a terceira estrutura
subterrânea mais longa do país.
O túnel Albvorland foi construído
com técnicas similares às do Filder.
Também nele há dois túneis singe-
los, de 10,87 m de diâmetro cada. A
extensão é próxima de 8.000 m e a
profundidade varia entre 8 e 63 m. O
terceiro maior túnel do S21 é o Boss-
ler, construído na região de Jura, pre-
cisamente na cidade de Aichelberg, e
totaliza 8.806 m de extensão. Também
são dois túneis singelos, com 10,87 m
de diâmetro e profundidade máxima de
280 m. O Bossler integra a ferrovia que
liga Wendlingen a Ulm. Quando pronto,
será uma das obras de engenharia mais Foto 1 – TBM no emboque do túnel Albvorland
complexas da Alemanha pelos desafios
que impôs a seus construtores. mínima logo atrás da cabeça de corte. inorgânicos. O graute especialmente
Nas áreas de rocha, devido ao anidrido, desenvolvido para a ATCOST 21 tem,
4. DESAFIOS GEOLÓGICOS o uso de injeções de consolidação de entre suas características, o fato de ser
Os desafios de construção desses solo diluídas em água foi estritamente um produto 2 em 1: pode ser usado
túneis foram muitos. O Filder, por exem- proibido. A técnica correta exige a inje- como um prático graute monocompo-
plo, foi perfurado em boa parte de sua ção de grautes especiais para a estabi- nente, dependendo da aplicação, ou
extensão ao longo de uma formação de lização do solo, seguida da montagem como bicomponente, compondo uma
rocha sedimentar com alto teor de ani- das aduelas de concreto. A Deutsche argamassa ainda mais potente e reati-
drido. Esse tipo de formação rochosa Bahn solicitou o desenvolvimento de va quando misturada a um aditivo. Na
é comum em várias partes do mundo um graute específico para a perfuração camada base, utilizou-se a versão mais
e tem alta prevalência nos planaltos ao do Filder. Tinha de ser uma solução que reagente do composto. O graute foi
sul de Stuttgart. O anidrido representa eliminasse o risco de pressões sobre o reforçado com agregado inerte, obtido
um desafio extra à construção de tú- túnel e de deslocamento do solo. de rochas da região, e acrescentou-se
neis porque, em contato com a água, escória de alto-forno e cinza-volante,
expande-se em mais de 60%, provo- 5. SOLUÇÃO DESENVOLVIDA que interagem com o aditivo, deixando
cando uma pressão enorme sobre a PARA O S21 a mistura ainda mais resistente depois
estrutura do túnel. A pressão é tão forte O consórcio ATCOST 21, responsá- de endurecida (Tabela 1). O graute de-
que pode tanto danificar o túnel, como vel pela construção do Filder, solicitou o senvolvido contém também compos-
provocar movimentações de solo para desenvolvimento de um graute especial tos fosfatados, que interagem com a
cima, nos casos em que o túnel resiste, para viabilizar a perfuração com segu- rocha anidrica evitando sua expansão.
com potencial para inutilizar por com- rança. O graute teria de contar com ge- A eficácia desses compostos foi com-
pleto construções na superfície. A per- opolímeros na formulação. Os geopo- provada em vários testes realizados
furação do Filder no trecho de anidri- límeros são ligas químicas inorgânicas pela MC e pela construtora PORR Bau
do foi realizada com o TBM em modo que se conectam umas às outras de GmbH, que patentearam a tecnologia
aberto, ou seja, sem o anel de aço forma similar às moléculas do cimento. para uso em outros projetos. O produ-
que protege o equipamento do con- Mas contém aluminossilicatos, que, em to é diferenciado por ser imune a sulfa-
tato com o solo. Havia uma proteção meio alcalino, dão origem a polímeros tos e extremamente resistente.
©DB/REINER_PFISTERER
nhas de tubos injetores, entrava em
ação a chamada tecnologia de equilíbrio
de pressão do solo (EPB), fundamental
quanto à segurança na construção de
túneis no subsolo de áreas densamente
habitadas ou em formações geológicas
com alta instabilidade. Nesse equipa-
mento foi utilizado, no túnel da linha
férrea Stuttgart-Ulm, a linha de agentes
de condicionamento de solo e um ge-
rador de espuma (Cell Tube), que propi-
cia a formação de uma espuma estável
quanto às dimensões das bolhas. Apre-
senta, dessa forma, um alto rendimen-
to quanto ao consumo, exigindo uma
menor manutenção no TBM e permi-
tindo uma continuidade de perfuração Foto 2 – Túnel Filder, no qual se observa as aduelas de concreto
pré-moldado colocadas
mais constante.
9. LUBRIFICAÇÃO IDEAL túnel Bossler foram fabricadas pela concreto do solo). Essas tecnologias
O agente de condicionamento de concreteira SEMPER BETON GmbH e sistemas revelaram-se fundamentais
solo mais utilizado nas obras do S21 foi o & Co. KG, integrante do consórcio ao sucesso do projeto e à satisfação do
Foam Liquid. Não agressivo ao meio am- ARGE PTS Bosslertunnel, com aditivos cliente com os resultados, possibilitan-
biente, ele forma uma espuma concen- superplastificantes de alto desempe- do que muitos desafios fossem supera-
trada, que se degrada biologicamente e nho. Esses aditivos contam com a mais dos e que as construções avançassem
com rapidez. O produto também apre- moderna tecnologia de ésteres policar- sem intercorrências.
senta um aditivo que melhora o desem- boxilatos, que agem na formulação de
penho da consolidação em solos com concreto para garantir superfícies de
maior prevalência de argila, onde a pro- alta qualidade, diminuir a necessidade FICHA TÉCNICA
Avaliação da resistência
ao fogo do concreto para
revestimento de túneis
MARCOS VINICIUS MARTINEZ SYLVERIO – Engenheiro Civil, Mestrando | ANTONIO DOMINGUES DE FIGUEIREDO – Engenheiro Civil, Professor Associado
Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
O
concreto, o aço e as fi- lipropileno. Em razão disso, para a Todas as estruturas devem ser
bras deterioram-se sob homologação desses concretos, são projetadas a fim de se garantir sua
a ação do fogo, perden- realizados ensaios de resistência ao segurança frente a múltiplas situ-
do resistência e módulo de elastici- fogo. Neste trabalho apresenta-se ações possivelmente críticas que
dade. O incêndio pode provocar o uma abordagem para avaliação de podem ocorrer durante sua vida útil.
lascamento explosivo do concreto concretos para revestimento de tú- Dentre essas situações está a ocor-
em revestimento de túneis, fenôme- neis, por meio de ensaios de resis- rência de um incêndio. O aumen-
no de causas complexas, difícil de tência ao fogo, para homologação de to de temperatura causa danos ao
ser modelado, mas que pode ser seu emprego. concreto e ao aço, afetando nega-
tivamente suas propriedades mecâ-
nicas. Da mesma forma que os ma-
teriais podem ter sua resistência à
compressão verificada por um estu-
do de dosagem prévio, os efeitos do
aumento de temperatura no concreto
podem ser verificados antes da exe-
cução da obra por meio de ensaios
de resistência ao fogo realizados em
fornos apropriados para esse fim.
Simula-se nesses fornos, por meio
de queimadores industriais a gás, a
elevação de temperatura que será
possivelmente alcançada numa situ-
ação de incêndio. Em túneis, devido
às condições de enclausuramento
presentes e às cargas térmicas que
u Figura 1 trafegam através deles, as tempera-
Redução percentual da resistência do concreto e de aços em função da
turas podem facilmente ultrapassar
temperatura do material [6]
os 1000º C, como já verificado em
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] AFAC – TUNNEL FIRE SAFETY ISSUES COMMITTEE. Fire Safety Guidelines for Road Tunnels, Australasian Fire Authorities Council. Setembro de 2001.
[2] JORIO, V. L. Gotthard road tunnel has become safer. Swissinfo.ch. Disponível em: <http://www.swissinfo.ch/ger/gesellschaft/gotthard-strassentunnel-ist-sicherer-
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[4] SERAFINI, R. et al. Influence of fire on temperature gradient and physical-mechanical properties of macro-synthetic fiber reinforced concrete for tunnel linings.
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[5] FIGUEIREDO, A. D.; TANESI, J.; NINCE, A. A. Concreto com fibras de polipropileno. Téchne. Revista de Tecnologia da Construção, São Paulo, v. 10, n. 66,
p. 48-51, 2002.
[6] COSTA, C. N.; FIGUEIREDO, A. D.; SILVA, V. P. O fenômeno do lascamento (“spalling”) nas estruturas de concreto armado submetidas a incêndio - uma revisão
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[7] ANDERBERG, Y. Spalling phenomena of HPC and OC. Gaithersburg, Maryland, 1997.
[8] NINCE, A. A. Lascamento do concreto exposto a altas temperaturas. Tese de Doutorado. Escola Politecnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil:
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[9] PURKISS, J. A. Fire Safety Engineering Design of Structures. Butterworth Heinemann. Oxford, 1996.
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[11] KHOURY, A. G. Effects of fire in concrete and concrete structures. Progress in Structural Engineering and Materials, v. 2, n. 4, p. 429-447, 2000.
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da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil : s.n., Dezembro de 2018.
[13] EUROPEAN FEDERATION OF NATIONAL ASSOCIATIONS REPRESENTING PRODUCERS AND APPLICATORS OF SPECIALIST BUILDING PRODUCTS FOR CONCRETE
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Acesso em: 12 fev. 2020.
RESUMO abordagem próxima àquela adotada no e fib Model Code 2010 – estabelecem
O
concreto reforçado com Brasil através das práticas recomendadas apenas como deve ser realizado o pro-
fibras é utilizado na fabrica- do IBRACON [4] e vêm sendo base dos jeto estrutural do CRF em temperatura
ção de segmentos destina- textos ora em discussão na ABNT sobre ambiente revelam a necessidade de
dos ao revestimento de túneis. Porém, o tema. Nessa abordagem, é fundamen- investigações a respeito do comporta-
os requisitos normativos e pré-normati- tal a parametrização do comportamento mento do CRF em situação de incêndio.
vos nacionais e internacionais não apre- do CRF através do estabelecimento de Embora os estudos focados no efeito
sentam uma abordagem abrangente de equações constitutivas que caracterizem do fogo em túneis sejam escassos na li-
projeto para o CRF em situação de in- a capacidade resistente do compósito até teratura, destaca-se o trabalho realizado
cêndio, o que revela a necessidade de a fratura da matriz, em conjunto com as por Serafini et al. [5], que avaliou o efeito
investigações a respeito do assunto. O resistências residuais pós-fissuração. do fogo nas propriedades mecânicas
objetivo deste artigo é apresentar uma Há diversos exemplos históricos de do concreto reforçado com macrofibras
revisão de estudos sobre os efeitos das acidentes, em vista do reconhecimento sintéticas1 para aplicações tuneleiras.
elevadas temperaturas nas proprieda- tardio de que as estruturas de concre- Os resultados mostram que um intenso
des mecânicas do CRF para túneis. to devem ser verificadas para a condi- gradiente de temperaturas é induzido no
ção de incêndio. Entretanto, requisitos interior do compósito com a elevação
1. INTRODUÇÃO normativos e pré-normativos nacionais da temperatura. Essa verificação, no en-
O uso crescente do concreto refor- e internacionais, bem como códigos- tanto, só é possível por meio de ensaios
çado com fibras (CRF) na construção -modelo, não apresentam abordagem de aquecimento em fornos, com a ação
civil e, em especial, em túneis, se deve adequada e abrangente de projeto para direta de chama, o que permite análises
a razões econômicas e técnicas. Isto o CRF em situação de incêndio, o que reais de simulação de incêndio para a
se consolidou na área de túneis após pode conduzir a soluções ineficientes, avaliação pós-incêndio das estruturas
a publicação do Boletin 83 da fib [1,2], colocando em risco a segurança estru- de CRF. Dessa forma, o presente artigo
que parametrizou sua utilização para tural nessas condições. A escassez de tem como objetivo apresentar uma re-
o revestimento de túneis produzidos base normativa para o modelo de pro- visão do estado da arte dos efeitos das
com anéis segmentados executados jeto em situação de incêndio do CRF e elevadas temperaturas em concretos
com tuneladoras TBM (Tunnel Boring o fato de que as normas e pré-normas reforçados com fibras para túneis cons-
Machines) [3]. Essa publicação possui uma atuais – como é o caso da EN 1992-1-2 truídos com tuneladoras TBM.
1
Macrofibra de polipropileno (Barchip48) de comprimento 48 mm, fator de forma 67 e módulo de elasticidade de 10 GPa.
Macrofibra de polipropileno (Barchip48) de comprimento 48 mm, fator de forma 67 e módulo de elasticidade de 10 GPa.
2
8
exposto a elevadas temperaturas também menor que o valor obtido à temperatura
foram investigadas em estudo conduzido de 25ºC. Também em 600ºC, as redu-
4 por Rambo et al. [7]. O ensaio de Duplo ções em termos de resistência à com-
Puncionamento foi aplicado para avaliar a
4
pressão e módulo de elasticidade foram
0
0 1 2 3 4 resistência à tração residual do compósito estatisticamente semelhantes aos valores
CMOD (mm)
(8 kg/m³ de macrofibras poliméricas5) obtidos no estudo de Serafini et al. [5]. A
Fonte: adaptado de Serafini et al. [5] exposto a temperaturas de até 600ºC perda significativa de resistência residual à
em um forno elétrico industrial (Inforgel compressão a partir de 300ºC está rela-
u Figura 2 Company). Notou-se que a resistência à cionada com a incompatibilidade entre as
Curvas Carga-CMOD3 para o
tração do CRFP reduz-se gradualmen- deformações térmicas do agregado e da
CRFP antes e após exposição ao
fogo (curva de hidrocarbonetos) te com o aumento da temperatura e a pasta, a decomposição dos produtos de
resposta pós-fissuração varia significa- hidratação do compósito e a degradação
3
CMOD – Crack Mouth Opening Displacement – abertura da fissura no entalhe central da peça, medida no ensaio normalizado de resistência à tração na flexão de CPs de
concreto reforçado com fibras.
4
CPs de 150 x 150 mm (diâmetro x altura). Discos de carga de diâmetro 37,5 mm.
5
Macrofibra de polipropileno (Barchip48) de comprimento 48 mm, fator de forma 67 e módulo de elasticidade de 10 GPa.
4 Média pós-fogo
Notou-se ainda que os valores de de falha estrutural, como falha por defor-
3 gradiente de temperatura tendem a au- mação excessiva.
2 mentar de forma quase linear com a du- O estudo do comportamento de
1 ração do incêndio e reduzir em função segmentos pré-moldados (aduelas)
0 da distância da face afetada diretamente no revestimento de túneis em uma si-
0 0,5 1 1,5 2 2,5
COC (mm) pelo fogo. A baixa condutividade térmica tuação de incêndio envolve algumas
Fonte: adaptado de Agra et al. [8] do concreto é um dos principais fatores variáveis, inclusive relacionadas com
associados ao aumento do gradiente a interação solo-estrutura, durante
u Figura 4 de temperatura em função do tempo. À a exposição ao fogo, além da pró-
Curvas de resistência à tração medida que o gradiente de temperatura pria degradação dos elementos, cuja
média por abertura de fissura
no concreto aumenta, as tensões de ori- espessura é relativamente pequena
(COD) do CRFA na temperatura
ambiente a após exposição ao fogo gem térmica provocam danos na forma (250 a 500 mm), o que pode compro-
de fissuras no compósito. Isto reforça a meter a segurança estrutural.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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[4] Prática Recomendada IBRACON/ABECE - Projeto de Estruturas de Concreto Reforçado com Fibras. CT 303 – Comitê Técnico IBRACON/ABECE sobre Uso de
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[10] LILLIU, G.; MEDA, A. Nonlinear Phased Analysis of Reinforced Concrete Tunnels Under Fire Exposure Article. Journal of Structural Fire Engineering, 2013, v. 4, n. 3.
u Excelência em EDUCAÇÃO CONTINUADA – Programa MasterPEC “Master em Produção de Estruturas de Concreto” | Calendário de Cursos 2020
Punção em Lajes Lisas de Concreto Armado Leandro Trautwein 2 de setembro Florianópolis IBRACON IBRACON 6
Pavimentos de Concreto Permeáveis José Tadeu Balbo 2 de setembro Florianópolis IBRACON IBRACON 6
O Fenômeno Térmico no Concreto Massa Eduardo Gambale 3 de setembro Florianópolis IBRACON IBRACON 4
31 de agosto
Structural Health Monitoring – SHM Túlio Nogueira Bittencourt Florianópolis IBRACON IBRACON 18
a 1 de setembro
Desenvolvimento de concreto
geopolimérico projetado para
proteção contra incêndio
G. VOLLMANN | A.L. HAMMER | M. THEWES E. KLEEN | D. UHLMANN T. WEINER | J. BUDNIK
Ruhr University Bochum, Instituto de Gerenciamento de Túneis e MC Bauchemie, Bottrop, Alemanha PORR Deutschland GmbH, Departamento
Construção, Bochum, Alemanha de Túnel, Düsseldorf, Alemanha
A
s estruturas de túneis tra incêndios. Normas e diretrizes cialmente para túneis de tráfego de
existentes nas vias de válidas atualmente também estão veículos e estruturas de acompanha-
transporte rodoviário, fer- considerando essas melhorias. (Goj mento da infraestrutura subterrânea.
roviário e metroviário são expostas et al. 2018). Uma visão das ações Um aumento no volume de tráfego,
a fortes pressões durante o curso atuais e do trabalho de manutenção também em conexão com sistemas
de sua vida útil, o que pode causar planejados (Tabela 1) mostra que o de propulsão alternativos, que cada
danos. Decisivas para as medidas planejamento nesta área foi realizado vez mais penetrarão no mercado
estruturais correspondentes são – apenas para uma pequena parte do no futuro, pode levar a um aumento
além do envelhecimento da estrutu- volume de construções atual e, por- considerável das cargas de incêndio
ra do túnel - também as mudanças tanto, haverá uma ocorrência muito em potencial nos túneis e a um au-
nas regulamentações e o aumento maior de reparos e manutenção. mento significativo no risco de aci-
nos requisitos de segurança para os dentes graves.
próprios túneis. Os incêndios no túnel 1.2 Problemas e objetivos Essas interrelações resultam em
do Mont Blanc (1999), Tauern Tunnel uma situação de ameaça válida para
(1999), Gotthard Tunnel (2001) e O envelhecimento progressivo a infraestrutura subterrânea. As di-
retrizes e regulamentações atuais já
u Tabela 1 – Comparação entre o estoque atual e a manutenção futura consideram amplamente os últimos
planejada (cf. Haack 2018, cf. ASFINAG et al. 2018, cf. Hamburger Hochbahn) cenários de impacto - as especifi-
cações de projeto modificadas para
Túnel ferroviário Túnel rodoviário Túnel metroviário proteção estrutural contra incêndio
já cobrem um grande número de
Estoque atual 535 305 604
situações e impactos concebíveis.
Exemplo dos túneis
ferroviários elevados No entanto, a grande maioria dos
Manutenção futura
12.803 12.953 de Hamburgo: túneis túneis existentes foi construída sob
planejada
construídos entre
1912 e 1913 especificações que hoje podem ser
consideradas desatualizadas. Isso
1000
(Davidovits, 1999). Os aglutinan-
800
tes de geopolímeros são sistemas
600
RWS, Rijkswaterstaat, NL inorgânicos de dois componentes,
400 HCM, Modified HydroCarbon, Fr
HC, HydroCarbon, Eurocode 1 que consistem em um componen-
EBA, train tunnels, G
200 ZTV-Ing.-curve, road tunnels, G te sólido reativo e uma solução de
ISO-834, Cellulosic, Buildings
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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[9] Uebachs, S., Geopolymerbeton und seine Eigenschaften. In: BetonWerkInternational 2, 2018, pp. 42-46.
Influência da projeção no
processo de hidratação
de misturas cimentícias
contendo aceleradores
RENAN P. SALVADOR – Químico, Professor Doutor ANTONIO D. DE FIGUEIREDO – Engenheiro Civil, Professor Doutor
ALINE C. RIBEIRO – Engenheira Civil, Mestranda Departamento de Engenharia de Construção Civil, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
Departamento de Engenharia Civil, Universidade São Judas Tadeu
O
concreto projetado usa focam em pastas misturadas me- tos químicos são necessários para
aceleradores de pega canicamente. Este trabalho buscou fornecer alta resistência mecânica
para promover seu rápi- avaliar a influência da projeção do inicial, fazendo com que a camada
do endurecimento. A grande maio- concreto na cinética de reações de concreto seja capaz de fornecer
ria dos estudos sobre a reatividade do concreto projetado. Sua prin- suporte ao maciço. Dependendo de
cipal conclusão é que o processo sua composição química, diferentes
de projeção acelera a hidratação mecanismos de hidratação e resis-
u Tabela 1 – Composição química do aluminato de cálcio, mas retar- tências mecânicas são observados
do cimento determinada por da a velocidade de hidratação do em matrizes aceleradas (GALO-
espectrometria FRX cimento. Complementarmente, ve- BARDES et al., 2015; SALVADOR
rificou-se que o processo de mis- et al., 2016a).
Teor tura influencia a microestrutura da Para avaliar a reatividade dos
Óxido
(% em massa)
matriz cimentícia. aceleradores com o cimento, a
LOI 2,88
grande maioria dos estudos trata
CaO 62,62
1. INTRODUÇÃO de pastas de cimento com acele-
SiO2 19,89
O concreto projetado difere do radores misturadas mecanicamente
Al2O3 4,74
concreto convencional devido ao (JUILLAND et al., 2012; SALVADOR
Fe2O3 3,26
método de aplicação e ao uso de et al., 2016a, 2016b; XU; STARK,
SO3 3,53
aceleradores de pega para promover 2005). Embora este processo de
MgO 1,95
o endurecimento rápido da matriz mistura possa proporcionar energia
K2O 0,99
logo após a mistura (GALOBARDES suficiente para homogeneizar a pas-
Na2O 0,13
et al., 2015). Os aceleradores são ta, existem diferenças significativas
Componentes
0,11 normalmente adicionados ao con- em relação ao processo de proje-
minoritários
Soma total 100,0 creto no bico de projeção, imediata- ção utilizado na prática. Portanto,
mente antes de ser projetado. Para é crucial avaliar como o processo
Propriedade LA AC
Pistola de
projeção
Mangueira para Teor de sólidos (% em massa) 47,6 43,0
transporte de
pasta de cimento Teor de Al2O3 (% em massa) 13,5 24,0
Teor de SO4 (% em massa)
2-
21,0 –
u Figura 1 Teor de Na2O (% em massa) – 19,0
Componentes do equipamento pH a 20 ºC 3,0 12,0*
de projeção * Solução a 1,0 % em massa
A B
nação da parte ascendente do pico
do acelerador) e a energia liberada
por sua reação com cimento (área
u Figura 3
Curvas de fluxo de calor de 0 a 24 h (a) e de 1,0 a 1,5 h (b) abaixo da curva entre 1,0 e 1,5 h)
são mais de duas vezes maior em
u Figura 4
Evolução da concentração de alita (a), portlandita (b) e etringita (c) nas pastas misturadas mecanicamente e nas projetadas
pastas projetadas do que nas pas- cálcio, fase AFt) e, posteriormente, processo de mistura, principalmente
tas misturadas mecanicamente. Isso monosulfoaluminato de cálcio (fase quando o acelerador AC é utilizado,
é observado para os dois tipos de AFm), o consumo de sulfatos pre- pois esse acelerador não contém
acelerador. Portanto, pode ser con- sentes no cimento também é mais sulfatos em sua composição.
cluído que a reatividade do acelera- rápido, o que acelera as reações do Uma possível explicação para
dor é controlada pela sua homoge- C 3A do cimento. Tal fato pode ser esse fato é que a etringita é forma-
neização na pasta, sendo a mistura observado pelo ombro na curva P_ da rapidamente durante a projeção,
dos íons contidos na solução do AC, que representa a formação de atingindo um grau de cristalinidade
acelerador com o cimento a etapa fases AFm (SALVADOR et al., 2017). mais baixo que nas pastas mistura-
limitante da velocidade da reação. A formação acelerada de fases AFm das mecanicamente. Além disso, a
Quanto maior a energia de mistura preenche os espaços vazios da ma- etringita formada durante o processo
do acelerador na pasta, maior a ve- triz, limitando a hidratação da alita. de projeção pode não estar orienta-
locidade de reação. da adequadamente para a medida de
A cinética de hidratação posterior 3.2 DRX DRX. No caso de cristais cuja morfo-
à adição do acelerador também é in- logia é acicular, a orientação difusa
fluenciada pelo processo de mistura. A evolução da composição das diminui a intensidade dos raios difra-
A velocidade de reação e a energia fases nas pastas misturadas mecani- tados. Por esses motivos, sua quan-
liberada no pico principal das pas- camente e nas projetadas está apre- tificação por DRX fica comprometida
tas projetadas é mais baixa que das sentada na figura 4. Para simplificar a curtas idades. Com o decorrer da
pastas misturadas mecanicamen- a interpretação dos gráficos, apenas hidratação, a nucleação dos cristais
te. Como a reação do acelerador é as fases alita, portlandita e etringita de etringita promove o crescimento
mais rápida nas pastas projetadas, estão identificadas. de cristais regulares, aumentando a
aluminatos hidratados, responsáveis Nas pastas misturadas mecani- intensidade dos raios difratados.
pelo processo de pega da pasta de camente, a hidratação da alita ocor-
cimento, são formados em maior re em maior extensão e velocidade 3.3 MEV e microanálise química
quantidade nessas pastas. Como as até as 24 h, formando uma maior por EDS
reações de hidratação dos alumina- quantidade de portlandita conse-
tos consomem sulfato para a forma- quentemente 1. A concentração de Os resultados obtidos na análise
ção de etringita (trisulfoaluminato de etringita é a mais influenciada pelo por MEV com as pastas M_LA, P_LA,
1
Alita, composta maioritariamente por silicato tricálcico, é o principal componente do cimento Portland. Sua reação com água gera C-S-H (silicato de cálcio hidratado)
e portlandita (hidróxido de cálcio).
C-S-H é a fase responsável pelo desenvolvimento de resistência mecânica em matrizes cimentícias. Portlandita é um subproduto da hidratação
da alita, que mantem o pH da matriz entre 12 e 13 e é a fase responsável pela passivação das armaduras.
u Figura 5
Pasta M_LA aos 15 min (a), 3 h (b) e 12 h (c)
M_AC e P_AC estão nas figuras 5, 6, gresso da reação do acelerador, organizada, composta principalmen-
7 e 8, respectivamente. As regiões pela grande quantidade de cristais te por cristais de aluminatos hidra-
analisadas pelo EDS estão indicadas de etringita medindo cerca de 2 μm tados muito dispersos e difusos. Os
por um círculo amarelo na imagem de comprimento, precipitados na cristais de etringita apresentam ter-
correspondente. Os resultados obti- superfície das partículas. Esses cris- minações arredondadas e medem
dos nos espectros EDS são represen- tais nucleiam e precipitam na mor- 1,5 μm de comprimento, aproxima-
tados como as intensidades relativas fologia de agulhas hexagonais com damente. A diferença na morfologia
de cada elemento, colocadas acima terminações planas em uma estru- é causada pela reação mais rápida
de cada imagem. Os picos considera- tura ordenada. A relação molar entre devido ao processo de projeção. A
dos para medir a intensidade de Ca, alumínio e enxofre (razão Al/S) en- região analisada por EDS identifica
Si, Al, S e Na são correspondentes às contrada na região analisada é igual uma razão Al/S igual a 0,93, que indi-
energias de 3,73; 1,78; 1,52; 2,33 e a 0,667, que é o valor exato encon- ca a coexistência de fases AFt e AFm
1,1 keV, respectivamente. trado na etringita pura. na superfície da partícula de cimento.
Na pasta M_LA aos 15 min (Fi- A pasta P_LA aos 15 min (Figura Após 3 horas de hidratação, a
gura 5.a), observa-se grande pro- 6.a) apresenta microestrutura menos microestrutura é mais densa e uma
A B C
u Figura 6
Pasta P_LA aos 15 min (a), 3 h (b) e 12 h (c)
u Figura 7
Pasta M_AC aos 15 min (a), 3 h (b) e 12 h (c)
área maior é coberta por produtos cação de menores teores de etringi- plausível sobre o motivo da pas-
de hidratação (principalmente C-S- ta por DRX). ta projetada com o acelerador LA
-H e AFt) na pasta M_LA (Figura A pasta M_LA às 12 h (figura 5.c) apresentar menor grau de hidrata-
5.b). Na pasta P_LA (Figura 6.b), apresenta muitos cristais de etrin- ção do que a pasta misturada me-
as agulhas de etringita cresceram gita na superfície das partículas de canicamente. Tais resultados estão
e medem aproximadamente 2 μm cimento. Na pasta P_LA (Figura 6.c), alinhados com as observações deri-
de comprimento. Apesar disso, sua as partículas de cimento apresen- vadas da análise das curvas de fluxo
morfologia não apresenta o mesmo tam uma grande superfície coberta de calor (Figura 3).
arranjo que nas pastas misturadas por C-S-H e hidratos de aluminato. Em relação à utilização do acele-
mecanicamente, sendo ainda carac- A formação de etringita altamente rador AC, a pasta M_AC aos 15 min
terizada por agulhas de orientação dispersa e outros hidratos de alumi- (Figura 7.a) apresenta grande quan-
difusa. Esse resultado corrobora a nato pode diminuir a taxa de disso- tidade de fases hidratadas precipi-
hipótese descrita na seção 3.2 e os lução de alita e limitar a hidratação tadas na superfície da partícula de
dados obtidos na DRX (a microes- adicional devido ao preenchimento cimento. De acordo com o espec-
trutura desarranjada leva à quantifi- de espaço. Essa é uma explicação tro de EDS, os hidratos apresentam
A B C
u Figura 8
Pasta P_AC aos 15 min (a), 3 h (b) e 12 h (c)
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] GALOBARDES, I. et al. Maturity method to predict the evolution of the properties of sprayed concrete. Construction and Building Materials, v. 79, p. 357–369, 2015.
[2] JUILLAND, P. et al. Effect of mixing on the early hydration of alite and OPC systems. Cement and Concrete Research, v. 42, n. 9, p. 1175–1188, 2012.
[3] LI, G.; BESCOP, P. LE. The U phase formation in cement-based systems containing high amounts of Na2SO4. Cement and Concrete Research, v. 26,
n. 1, p. 27–33, 1996.
[4] SALVADOR, R. P. et al. Early age hydration of cement pastes with alkaline and alkali-free accelerators for sprayed concrete. Construction and Building Materials, v.
111, p. 386–398, 2016a.
[5] SALVADOR, R. P. et al. Parameters controlling early age hydration of cement pastes containing accelerators for sprayed concrete. Cement and Concrete Research,
v. 89, p. 230–248, 2016b.
[6] SALVADOR, R. P. et al. Relation between chemical processes and mechanical properties of sprayed cementitious matrices containing accelerators. Cement and
Concrete Composites, v. 79, p. 117–132, 2017.
[7] SALVADOR, R. P. et al. On the use of blast-furnace slag in sprayed concrete applications. Construction and Building Materials, v. 218, p. 543–555, 2019.
[8] SALVADOR, R. P. et al. Influence of accelerator type and dosage on the durability of wet-mixed sprayed concrete against external sulfate attack. Construction and
Building Materials, v. 239, p. 117883, 2020.
[9] XU, Q.; STARK, J. Early hydration of ordinary Portland cement with an alkaline shotcrete accelerator. Advances in Cement Research, v. 17, n. 1, p. 1–8, 2005.
Evento na Regional MS
N o último dia 6 de março foi re-
alizado o evento Construir é
Cuidar da Engenharia no Sindus-
realização da MC e Alvo Engenha-
ria. A diretora regional do IBRACON
na região, Profª Sandra Regina
com João Felipe Martins Abdala. O
evento, que contou com 25 profis-
sionais, teve apoio do IBRACON e
con-MS, em Campo Grande, com Bertocini mediou as discussões, da Alconpat.
Reunião na Regional DF
O Sinduscon – DF e a Diretoria de
Materiais, Tecnologia e Produti-
vidade (DIMAT) realizaram sua primeira
lestra “Recuperação do viaduto das
tesourinhas do Plano Piloto: um trans-
torno necessário – o estado da arte
(Construtora LDN) e Renato Cortopassi
(Kalil Engenharia), este diretor técnico
do IBRACON na região.
reunião no último dia 6 de março, em da recuperação”, com os palestrantes O evento contou com apoio da Ademi
Brasília. Na ocasião foi realizada a pa- Pedro Henrique de La Rocque Ferreira e da ABCP.
Eventos na Regional PR
O IDD e o Instituto de Engenharia
do Paraná realizaram no último
dia 4 de fevereiro, no Centro de Even-
O evento buscou dis-
seminar conhecimentos
de pavimentação urba-
tos do IEP, o 5º Seminário Paranaense na e rodoviária, de es-
de Obras Civis. truturas pré-fabricadas
e de fundações
e contenções.
Com partici-
pação de 250
profissionais,
o evento con-
tou com o
patrocínio do
Luiz Olavo, engenheiro da Ensolo, palestra sobre reforço
CredCrea e
de fundações com estaca raiz de concreto
da Sika.
Já, no dia 3 de março, o IDD seminar conhecimentos atualizados so-
e o IEP realizaram o evento “1 st
bre esses conceitos.
BIM, Lean and Sustainability O evento teve 350 profissionais e rece-
Público presente no evento 1 BLSC
st
Conference”, no IEP, para dis- beu o patrocínio da Rogga Engenharia.
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de infiltrações, umidade e ataque químico, resultado da elevada concentração de dióxido de carbono. Há mais de
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110 96 | Jan
Out––Mar
Dez • 2020
2019