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& Construções

CONCRETO PARA HABITAÇÃO

SISTEMAS CONSTRUTIVOS Instituto Brasileiro do Concreto

PAREDES DE CONCRETO, Ano XLVI

ALVENARIA ESTRUTURAL 90
ABR-JUN

E PRÉ-FABRICADOS DE CONCRETO 2018


ISSN 1809-7197
www.ibracon.org.br

PERSONALIDADE ENTREVISTADA PESQUISA E DESENVOLVIMENTO MANTENEDOR

VAHAN AGOPYAN: COLMATAÇÃO EM CAA EM ADUELAS


UM ENGENHEIRO CIVIL PAVIMENTOS PERMEÁVEIS PRÉ-MOLDADAS PARA
NA REITORIA DA USP TORRES EÓLICAS
Esta edição é um oferecimento das
seguintes Entidades e Empresas

IBRACON

Adote concretamente
a revista
CONCRETO & Construções
u sumário

seções
7 Editorial
REVISTA OFICIAL DO IBRACON PRESIDENTE DO
8 Coluna Institucional Revista de caráter científico, tec- COMITÊ EDITORIAL
nológico e informativo para o se-
10 Converse com o IBRACON à Guilherme Parsekian
tor produtivo da construção civil,
11 Encontros e Notícias para o ensino e para a pesquisa COMITÊ EDITORIAL – MEMBROS
em concreto. à Alio Kimura
14 Personalidade Entrevistada: (informática no cálculo estrutural)
ISSN 1809-7197
CRÉDITOS Vahan Agopyan Tiragem desta edição:
à Arnaldo Forti Battagin

CAPA (cimento & sustentabilidade)


5.000 exemplares
Vista aérea do canteiro de 42 Entidades da Cadeia à Bernardo Tutikian
Publicação trimestral distribuida
obras dos empreendimentos gratuitamente aos associados (tecnologia)
62 Mercado Nacional à Eduardo Barros Millen
Gran Reserva Paulista
e Spazio San Valentin. (pré-moldado)
78 Mantenedor JORNALISTA RESPONSÁVEL
MRV Engenharia à Fábio Luís Pedroso à Enio Pazini Figueiredo

109 Acontece nas Regionais MTB 41.728/SP (durabilidade)


fabio@ibracon.org.br à Ercio Thomas

(sistemas construtivos)
PUBLICIDADE E PROMOÇÃO à Evandro Duarte
à Arlene Regnier de Lima Ferreira (protendido)
arlene@ibracon.org.br à Frederico Falconi

(projeto de fundações)
PROJETO GRÁFICO E DTP
INDUSTRIALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO à Gill Pereira
à Guilherme Parsekian

(alvenaria estrutural)

21
gill@ellementto-arte.com
à Hugo Rodrigues
Três sistemas construtivos em empreendimento (cimento e comunicação)
residencial econômico ASSINATURA E ATENDIMENTO
office@ibracon.org.br
à Inês L. da Silva Battagin

26
(normalização)
Alvenaria estrutural em edifício de 24 pavimentos GRÁFICA à Íria Lícia Oliva Doniak

Coan Indústria Gráfica (pré-fabricados)


Preço: R$ 12,00 à José Tadeu Balbo

34 História da alvenaria estrutural no Brasil (pavimentação)


As ideias emitidas pelos entre- à Luiz Carlos Pinto da Silva Filho

vistados ou em artigos assina- (ensino)

38
dos são de responsabilidade de à Mário Rocha
Parede de concreto: como ter uma obra sem seus autores e não expressam, (sistemas construtivos)
manifestações patológicas necessariamente, a opinião do à Paulo Eduardo Campos
Instituto. (arquitetura)
à Paulo Helene
© Copyright 2018 IBRACON
(concreto e reabilitação)
ESTRUTURAS EM DETALHES Todos os direitos de reprodução
à Selmo Kuperman

(barragens)

47
reservados. Esta revista e suas
Paredes moldadas no local em concreto reforçado partes não podem ser reproduzidas
com fibras nem copiadas, em nenhuma forma IBRACON
de impressão mecânica, eletrônica, Rua Julieta Espírito Santo

53 Colmatação em pavimentos permeáveis ou qualquer outra, sem o consen-


timento por escrito dos autores
e editores.
Pinheiro, 68 – CEP 05542-120
Jardim Olímpia – São Paulo – SP
Tel. (11) 3735-0202

NORMALIZAÇÃO TÉCNICA

66 Comentários sobre a ABNT NBR 16475


INSTITUTO BRASILEIRO
Instituto Brasileiro do Concreto

DIRETOR DE EVENTOS

71 Desempenho de pisos cimentícios DO CONCRETO


Fundado em 1972
Declarado de Utilidade Pública
Estadual | Lei 2538 de 11/11/1980
César Daher

DIRETOR TÉCNICO
Paulo Helene
Declarado de Utilidade Pública Federal
Decreto 86871 de 25/01/1982
DIRETOR DE RELAÇÕES
DIRETOR PRESIDENTE INSTITUCIONAIS

PESQUISA E DESENVOLVIMENTO Julio Timerman Túlio Nogueira Bittencourt

DIRETOR 1º VICE-PRESIDENTE DIRETORA DE PUBLICAÇÕES

86
Luiz Prado Vieira Júnior
Análise experimental de parede de alvenaria E DIVULGAÇÃO TÉCNICA
Íria Lícia Oliva Doniak
estrutural em situação de incêndio DIRETOR 2º VICE-PRESIDENTE
Bernardo Tutikian
DIRETOR DE PESQUISA

95 Avaliação da contribuição da alvenaria participante


na rigidez lateral de pórticos pré-moldados
DIRETOR 1º SECRETÁRIO
Antonio D. de Figueiredo
E DESENVOLVIMENTO
Leandro Mouta Trautwein

103
DIRETOR 2º SECRETÁRIO DIRETOR DE CURSOS
Cuidados com revestimentos de argamassa Carlos José Massucato Enio José Pazini Figueiredo
sobre blocos de concreto de alta resistência DIRETOR 1º TESOUREIRO
e baixa absorção Claudio Sbrighi Neto
DIRETOR DE CERTIFICAÇÃO
DE MÃO DE OBRA
Gilberto Antônio Giuzio
DIRETOR 2º TESOUREIRO
Nelson Covas
DIRETORA DE ATIVIDADES
DIRETOR DE MARKETING ESTUDANTIS
Hugo Rodrigues Jéssika Pacheco

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 5


u comunicado
encontros e notícias | CURSOS

IBRACON defende implantar


programa periódico de
inspeção e manutenção
O
recente, trágico e sur- ma Nacional de Redução de Riscos
preendente colapso (em e criou o Curso específico de Inspe-
apenas 80 minutos!) do ção de Estruturas de Concreto, den-
edifício Wilton Paes de Andrade, no tro do Programa Master em Produção
largo do Paissandu, na cidade de de Estruturas de Concreto (Programa
São Paulo, após sofrer um incên- Master PEC). O Instituto vem atuando
dio, revelou mais uma vez a utiliza- nacionalmente tendo oferecido esse
ção incorreta de obras em condições curso de formação de Inspetores, em
estruturais e funcionais não devida- diversas cidades pelo país. Também
mente monitoradas pelo país. instaurou o Comitê de Inspeção de
O caso não é único nem será o Estruturas de Concreto, que vem se
último, infelizmente! Recorde-se da reunindo periodicamente com o ob-
queda do Edifício Liberdade, no cen- jetivo de lançar práticas recomenda-
tro do Rio de Janeiro, em 2011? A ru- das sobre inspeção de estruturas de
ína do Edifício Areia Branca, na região concreto para barragens, estruturas
metropolitana de Recife, em 2004? hidráulicas, edificações, etc.
O colapso do Edifício Palace II, em Voltando ao colapso do Edifício
1998, na Barra da Tijuca, no Rio de Wilton Paes de Almeida, o IBRACON
Janeiro? No início deste ano tivemos vem também colaborando com as
o colapso do viaduto na Perimetral de autoridades no diagnóstico do aci-
Brasília, em plena capital federal. dente. Representantes do IBRACON,
Esses e outros casos de colap- da AlCONPAT e da ABECE apresen-
so e acidentes envolvendo obras em taram ao grupo multidisciplinar de
mal estado de conservação mostram Construções, 37, p. 2, 2005). trabalho da Prefeitura de São Paulo
a urgência da implantação de um Entre essas medidas, destaca-se as premissas básicas para a vistoria
programa de inspeção e manutenção a instituição de legislação tornando expedita das estruturas das edifica-
periódicas no país, a exemplo do que obrigatória a inspeção periódica de ções ocupadas, com a finalidade de
já ocorre no exterior. patrimônios existentes, públicos e oferecer suporte técnico para ações
É o que defende o Instituto Bra- privados, por equipes de profissio- de redução de riscos de acidentes e
sileiro do Concreto (IBRACON), des- nais competentes e devidamente ha- tragédias com edificações na cidade.
de 2004, quando lançou o Manifesto bilitados; e o oferecimento de cursos Esse conjunto de ações técnicas
Público “Segurança das obras civis”. de aprimoramento profissional em com vistas à segurança no uso das edi-
Nele afirma-se a “imperiosa neces- inspeção e manutenção. ficações revela a importância, a visão
sidade da introdução de medidas O IBRACON junto com a ABECE e e o empenho do IBRACON na defesa
técnicas e legais para a redução dos ALCONPAT vem oferecendo há anos dos cidadãos e do patrimônio construí-
riscos de acidentes” (CONCRETO & o Curso Edificação+Segura, Progra- do, em benefício da sociedade.

6 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


u editorial

Qualidade e conhecimento:
aspectos imprescindíveis
para o desenvolvimento
Caro leitor,

C
olocamos em suas mãos mais uma edição congresso anual, prover
da revista CONCRETO & Construções. A conhecimento qualifica-
Resistência ao Fogo nas Estruturas de do à comunidade técni-
Concreto foi tema da edição anterior, ex- ca e ao setor da construção civil, pois possui em seu
tensamente debatido internamente, espe- conselho, diretoria e quadro associativo profissionais de
cialmente porque sabemos das condições inadequadas referência na engenharia do concreto no âmbito nacional
de manutenção e uso de considerável percentual das e internacional. Quero destacar em especial as revistas
edificações em nosso país. Exemplo disso foi a recen- CONCRETO & Construções e a RIEM (Revista IBRACON
te fatalidade do incêndio, seguido por desabamento, do de Estruturas e Materiais), que, com propósitos distin-
edifício Wilton Paes de Almeida. tos (a primeira voltada para a cadeia produtiva com foco
Qualidade é tema que sempre pautou o escopo dos tra- técnico-profissional, e a segunda com viés técnico-cien-
balhos que desenvolvi ao longo da minha carreira, quan- tífico) vem cumprindo suas funções perante a sociedade.
do atuei diretamente na indústria e em obras. Lembro de Este exemplar que chega até você, caro leitor, tem por
um conceito que chamou minha atenção na leitura da tema principal o Concreto e Habitação. Gostaria de des-
filosofia de grandes gurus, como Juran, Deming e Crosby tacar a excelente e didática entrevista concedida pelo
“Qualidade é adequação ao uso”. O uso das estruturas, reitor da USP, Prof. Vahan Agopyan, que nos leva a re-
independente do material com o qual tenham sido pro- fletir, mais uma vez, sobre a importância do conheci-
jetadas, deve se restringir à finalidade para a qual foram mento, do estudo e da educação. Outros destaques são
idealizadas, sendo que adequações pertinentes devem os dados mercadológicos, industrialização e normaliza-
ser feitas se houver alteração ao longo de sua vida útil ção, temas presentes nas nossas edições, promoven-
quanto ao uso. do a engenharia do concreto, em suas diferentes formas
Deming, em seu livro “Qualidade: A revolução da Admi- de utilização.
nistração”, cuja leitura recomendo a todos, inicia um dos Gostaria de incentivá-los a utilizar a seção “Converse com
capítulos com o versículo “O meu povo perece porque lhe o IBRACON” para se comunicar conosco e esclarecer
falta o conhecimento” (Oséias 4:6). A falta de conheci- suas dúvidas. E externar nosso sincero agradecimento aos
mento e na sequência de sabedoria, que é a aplicação do oferecedores e anunciantes, que viabilizam este trabalho.
conhecimento, gera sofrimento, sendo isto uma preocu- Por fim, gerar a expectativa em relação às próximas edi-
pação desde os tempos bíblicos e que permeia a história ções da CONCRETO & Construções, que já estão sendo
da humanidade até os dias atuais. estruturadas: Inspeção, Manutenção e Reabilitação de Es-
Não precisamos evidentemente conhecer tudo, porém truturas de Concreto; e Certificação de Qualidade.
devemos saber onde buscar o conhecimento quando
necessitamos de algo específico. O IBRACON (Insti- Boa leitura!
tuto Brasileiro do Concreto) tem se dedicado por meio ÍRIA LÍCIA OLIVA DONIAK
de seus veículos de comunicação e de outros canais, D iretora de P ublicações Técnicas
como Práticas Recomendadas, cursos, eventos e seu Instituto Brasileiro do Concreto

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 7


u coluna institucional

Por que ser associado ao IBRACON?

P
ara responder a esta racterização e ministrou um curso
pergunta, basta olhar- expresso de orientação às equipes
mos o ambiente cons-
de inspeção e vistoria da Prefeitura
truído no qual estamos
Municipal, devidamente organizado
inseridos. Qual é o ma-
em menos de uma semana sob soli-
terial estrutural mais abundante?
Com certeza, o concreto. citação do Secretário de Infraestru-

Compreendendo a importância tura e do Secretário de Segurança


desse material, o Instituto Bra- Urbana. Em diversas outras ocasi-
sileiro do Concreto (IBRACON), ões emergenciais de acidentes ou
desde a sua fundação, tem como
colapsos, o Instituto sempre se po-
missão criar, divulgar e defender
sicionou por meio de manifestos e
o correto conhecimento sobre os
junto às autoridades constituídas.
materiais, projeto, construção, uso
e manutenção das obras de con- Visando a continuidade e renova-

creto. E para cumprir essa missão, ção de sua atuação o IBRACON


o Instituto publica livros técnicos e periódicos, promove tem promovido anualmente concursos estudantis, me-
anualmente o Congresso Brasileiro do Concreto, fórum diante os quais os futuros profissionais do setor são es-
nacional de debates sobre o desenvolvimento e as inova-
timulados e desafiados a elaborar concretos especiais e
ções relacionadas ao concreto como um todo, e oferece
de alto desempenho, bem como projetos integrados de
cursos atuais e dinâmicos, ministrados por profissionais
engenharia e arquitetura. Essas atividades têm tido uma
renomados, em diversos estados. Como exemplo pode-
-se citar o Curso Inspetor I – Inspeção de estruturas de participação cada vez maior de alunos de todo o Brasil

concreto segundo a ABNT NBR 16230:2013, com tur- ao longo dos anos, contando ainda com a participação
mas realizadas em Recife, Fortaleza e Brasília neste ano. de equipes estrangeiras. Em 2017, foram 606 alunos ins-
Para colaborar com as discussões com vistas à normali- critos de 19 estados brasileiros, crescimento de 17% em
zação técnica nacional e internacional, o Instututo agre-
relação ao ano anterior. Para este ano, a expectativa é
ga os maiores especialistas de cada tema da cadeia do
ainda maior, visto que os concursos estarão inseridos
concreto em seus Comitês Técnicos, para elaboração
num evento conjunto entre o 60º Congresso Brasileiro
de Práticas Recomendadas, que detalham os assuntos
de forma mais leve e didática, auxiliando a compreensão do Concreto e o 3 rd Dam Word, conferência mundial de

e aplicação dos textos normativos. Esta própria Revista barragens.


Concreto & Construções, que a cada três meses traz o Este é um resumo bastante breve das atividades que fa-
estado-da-arte de diferentes temas e é distribuída gra- zem girar as engrenagens do nosso Instituto, engrena-
tuitamente a todos seus associados, é um exemplo do
gens estas que propulsionam mudanças e têm impactos
comprometimento e excelência do Instituto, reflexo da
duradouros na engenharia e na sociedade.
dedicação dos profissionais que o compõem.
Temos profundo orgulho de dizer: somos parte do IBRACON!
Recentemente, em virtude do repentino colapso do Edifí-
cio Wilton Paes de Almeida, em São Paulo, o IBRACON,
numa posição Institucional voluntária, coletou amostras JÉSSIKA PACHECO
de concreto e aço dos escombros para ensaios de ca- Diretora de Atividades Estudantis do IBRACON

8 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


Para Engenheiros,
Agrônomos, Geólogos,
Geógrafos, Meteorologistas
e Tecnólogos.

Obra ou serviço com profissional que não tem Anotação


de Responsabilidade Técnica – ART não é nada legal. Para
o lado de quem contrata, a ART garante que o profissional w w w. c o n f e a . o r g . b r
seja habilitado e identifica o responsável técnico. Para
o lado do profissional, garante os direitos autorais e
de remuneração, além de definir bem o limite de suas
responsabilidades. A ART é boa tanto para um lado como
para o outro. E isso garante que, quando os dois lados se
juntarem, o resultado vai ser um só: o positivo.

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 9


u converse com o ibracon

ENVIE SUA PERGUNTA OU NOTA PARA O E-MAIL: fabio@ibracon.org.br

PERGUNTAS TÉCNICAS mendação de que esse


parâmetro deve ser

1 – Qual o deslocamento máximo horizontal empregado para núme-

permitido em edifícios de alvenaria esrutural, ro de andares acima de

visto que não está explícito na norma? quatro, porém a ligação

2 – Gostaria de saber se existe alguma da torre de alvenaria

literatura que exemplifique o cálculo e nesse pórtico de um pa-

dimensionamento para paredes com amar- vimento não modificaria

ração indireta. Ainda sobre a questão do essa recomendação?

cisalhamento em amarração indireta, deve- transferência de esforço vertical entre Por exemplo, no caso em que o pavimen-

-se realizar o dimensionamento conside- paredes sem amarração direta, porém to de transição de concreto armado é si-

rando que existe amarração direta entre com armadura detalhada. Ocorre que mulado em modelo separado da torre de

as paredes e, caso elas “passem”, deve- em alguns casos, a transferência de es- alvenaria, não vejo sentido em considerar

-se detalhar os grampos? Sendo assim, a forços na ligação só ocorreu após ex- os parâmetros gz e alfa como se ele não

premissa de cálculo de que essas paredes pressivo deslocamento relativo entre as estivesse ligado a uma torre. Tem algum

participam do mesmo grupo fica garanti- paredes amarradas. Para transmitir, es- estudo ou recomendação a respeito?

da? Estou trabalhando com grampos de sas barras deveriam ser rígidas. Existe MARCIO SANTOS FARIA
6,3 a cada duas fiadas para edifícios de, um formato internacional padrão para Arq. Est. Consultoria e Projetos
no máximo cinco pavimentos. Está ade- esse fim em formato em um Z (veja as
quado? No “Parâmetros de Proje-
livro figuras), com maior rigidez, espessura Não faz sentido calcular o gz apenas do
to de Alvenaria Estrutural com Blocos pequena e proteção contra corrosão. pavimento de transição isolado: o mo-
de Concreto”, o item 9.2 indica grampos Para barras convencionais de CA50, mento de 1ª ordem (M1) estará incorre-
de 8,0mm, mas o desenho da figura 28 eu não usaria o critério de mesmo gru- to e o de 2ª ordem (M2) vai ser calcu-
indica grampos de 6,3mm. Por que isto? po diretamente, e faria a envoltória de lado com o deslocamento horizontal do
SANDRO KATAYAMA esforços para ambas hipóteses (100% pilotis e o peso total do prédio, portanto
Projetista de Estruturas da Grifa Engenharia separada ou 100% unida). Sobre o di- também estimado incorretamente. En-
âmetro dos grampos, o usual é 8 mm tendo que pode manualmente estimar
1 – Sobre a questão do deslocamento (recomendado), porém a normalização o valor do gz da torre + pilotis. Verifique
horizontal do edifício, as atuais normas atual indica no máximo 6,3 mm na jun- quais são as forças laterais de vento em
de alvenaria não têm um critério claro. ta, por isso a confusão no livro. Na revi- cada pavimento da torre e no pilotis. A
A proposta de revisão de norma de al- são de norma, isto foi alterado, indican- partir desses valores calcule o M1. Veri-
venaria estrutural unificada, ABNT PN do máximo de 6,3 mm apenas quando fique quais são os deslocamentos hori-
002:123.010-001, propõe os mesmos as barras de armadura são dispostas zontais e peso de cada pavimento e do
critérios da ABNT NBR 6118. ao longo de cordões de argamassa em pilotis, obtidos nos processamento da
2 – Para a amarração não existe um cri- juntas de assentamento. Então, o me- torre e do pilotis. O M2 será o somató-
tério definido sobre a consideração da lhor é 8 mm no caso de se querer fazer rio de carga vertical de cada pavimento
interação entre paredes. Se for projetar esse detalhe. Finalmente destaco que (somar o peso do ático no último pavi-
com amarração indireta de paredes, o usual no Brasil é a amarração dire- mento) multiplicado pelo deslocamento
a sugestão é detalhar com barras de ta, simples de executar e eficiente, não horizontal de cada pavimento. A partir
ligação, mas verificar o dimensiona- havendo justificativa para amarração desses, pode calcular o gz mais próxi-
mento como se não houvesse ligação. indireta na grande maioria das constru- mo do real do prédio = 1/(1-M2/M1).
Estudos realizados em mais de uma ções, sendo esse detalhe de uso muito Geralmente o valor do gz da torre de al-
universidade brasileira indicam que há limitado. Talvez por isso o detalhe de venaria estrutural é baixo, que também
barra-Z, provavelmente mais deve ser baixo para torre+pilotis. Pela
eficiente para amarração indi- proposta de revisão de norma esse não
reta, não esteja disponível no pode ser maior que 1,10. Deve-se veri-
Brasil. ficar também o deslocamento horizon-
tal do prédio e entre cada pavimento.
GUILHERME PARSEKIAN, A proposta de revisão de normas de
PRESIDENTE DO COMITÊ EDITORIAL alvenaria estrutural unificada, ABNT PN
002:123.010-001, traz recomendações
Posso verificar a estabilidade para essas verificações.
global de um pavimento de tran-
sição pelo parâmetro gz? Per- GUILHERME PARSEKIAN,
gunto isso em função da reco- PRESIDENTE DO COMITÊ EDITORIAL

10 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


u encontros e notícias | EVENTOS

Seminário regional da ABCIC em Florianópolis


C om a participação de cerca de 110
profissionais, foi realizado pela As-
sociação Brasileira da Construção Indus-
trializada de Concreto (Abcic) o Seminário
Regional “Estruturas pré-fabricadas de
concreto – sustentabilidade, produtivida-
de, inovação e tecnologia, em Florianó-
polis, em 5 de abril.
Palestra do Eng. Roberto José Falcão
Bauer (Grupo Falcão Bauer) ressaltou a
importância da gestão preventiva e corre-
tiva de manutenção para assegurar o de-
sempenho e a durabilidade das estruturas
pré-fabricadas. O Prof. Wellington Repet-
te (UFSC) apontou os benefícios da utili- Engª Íria Doniak na abertura dos trabalhos do Seminário
zação do concreto de ultra-alto desem-
penho (UHPC) em peças pré-fabricadas, da CE da ABNT NBR 16475:2017) proje- jetos mais complexos com a vigência
como a maior esbeltez, o ganho mais rá- tou que o sistema de painéis de parede da normalização.
pido de resistência, a maior durabilidade de concreto pré-moldado deve ter seus O Seminário, que contou com o apoio do
e o melhor acabamento. Por fim, o Eng. custos reduzidos, maior disponibilidade IBRACON, foi encerrado com uma mesa
Augusto Pedreira de Freitas (coordenador de conexões e desenvolvimento de pro- de debates com os palestrantes.

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 11


u encontros e notícias | EVENTOS

Seminário de Concreto com Fibras


R ealizado gratuitamente pelo Comitê
Técnico IBRACON/ABECE Uso de
Materiais não Convencionais para Estru-
de pavimentos por análise numérica.
O Prof. Antonio Figueiredo apresentou os
fundamentos do controle e qualificação
equipamento para controle do comporta-
mento mecânico do concreto com fibras.
Para encerrar, a Eng. Renata Monte de-
turas de Concreto, Fibras e Concreto Re- do concreto com fibras para fins estrutu- monstrou a aplicação das práticas reco-
forçado com Fibras (CT-303), o Seminá- rais e, na sequência, o Eng. José Gon- mendadas para o controle e qualificação
rio de Concreto com Fibras aconteceu no çalves falou sobre o desenvolvimento de do concreto com fibras.
dia 24 de maio, no Auditório Mário Covas
da Escola Politécnica da USP.
Com participação de cerca de 180 profis-
sionais, o evento discutiu os parâmetros
de projeto de estruturas e o controle em
obras do concreto reforçado com fibras.
O coordenador do CT 303, Eng. Mar-
co Carnio, abordou os parâmetros para
o dimensionamento de estruturas de
concreto com fibras. Em seguida, a
Eng. Paloma Cortizo falou sobre aplica-
ção das práticas recomendadas sobre
CRF no dimensionamento de aduelas,
enquanto o Eng. Tiago Forti abordou a
aplicação delas no dimensionamento Prof. Antonio Figueiredo palestra no Seminário

PRÁTICA RECOMENDADA IBRACON/ABECE


Controle da qualidade do concreto reforçado com bras
Elaborada pelo CT 303 – Comitê Técnico IBRACON/ABECE sobre Uso de
Materiais não Convencionais para Estruturas de Concreto, Fibras e Concreto
Reforçado com Fibras, a Prática Recomendada “Controle da qualidade do
concreto reforçado com fibras” indica métodos de ensaios para o controle
da qualidade do CRF utilizado em estruturas de concreto reforçado com
fibras e estruturas de concreto reforçado com fibras em conjunto com
armaduras. DADOS TÉCNICOS
A Prática Recomendada aplica-se
tanto a estruturas de placas ISBN: 978-85-98576-30-5
Edição: 1ª edição
apoiadas em meio elástico
Formato: eletrônico
quanto a estruturas sem
Páginas: 31
interação com o meio elástico. Acabamento: digital
AQUISIÇÃO Ano da publicação: 2017
Coordenador: Eng. Marco Antonio Carnio
www.ibracon.org.br (Loja Virtual)

Patrocínio

12 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


u encontros e notícias | CURSOS

Turmas realizadas do Curso Inspetor I


C om o objetivo apresentar e discutir
conteúdos relativos à formação de
Inspetores I de Estruturas de Concreto
segundo a ABNT NBR 16230:2013, o
curso visa o capacitar profissionais para
o estabelecimento de diagnóstico e
prognóstico do estado de conservação
de estruturas de concreto, principal-
mente as pontes e viadutos, para manter
ou restabelecer seus requisitos de se-
gurança estrutural, de funcionalidade e
de durabilidade.
Três turmas foram concluídas no primeiro
semestre. De 26 a 28 de abril, na sede do
Sindicato da Arquitetura e Engenharia (Sina-
enco), em Recife, Pernambuco. De 17 a 19 Alunos fazem vistoria de ponte em Recife
de maio, no Núcleo de Tecnologia Industrial
(NUTEC), em Fortaleza, Ceará. E de 14 a Com carga horária de 28 horas, o curso de educação continuada do IBRACON.
16 de junho, na Associação Brasiliense de Inspetor I é uma realização do IBRACON,
Construtores (Abrasco) e no Centro de Ensi- com a parceria com o IDD. Ele faz par- Mais informações:
à
no Unificado de Brasília (CEUB), em Brasília. te do Programa Master PEC, programa www.idd.edu.br/instituto/extensao

uuencontros e notícias | CURSOS


Programação de Cursos Master PEC (www.ibracon.org.br/educacao-continuada)

Curso Palestrantes Data Carga horária Local Realização


Rubens Curti IBRACON
Intensivo de tecnologia básica do concreto 24 a 26 julho 18 horas Sede da ABCP – SP
Flávio André da Cunha Munhoz ABCP
Eduardo Fairbain, Selmo Kuperman, DAM WORLD 2018
Structural analysis and rehabilitation IBRACON
Walton Pacelli de Andrade, Francisco 17 de setembro 8 horas Recanto Cataratas
of concrete dams and spillways LNEC
Rodrigues Andriolo Foz do Iguaçu
DAM WORLD 2018
Laura Caldeira, José Bilé Serra, João IBRACON
Small dams 17 de setembro 8 horas Recanto Cataratas
Marcelino, José Melo, Teresa Vizeu LNEC
Foz do Iguaçu
DAM WORLD 2018 IBRACON
Tailing dams Joaquim Pimenta de Ávila 17 de setembro 8 horas Recanto Cataratas LNEC
Foz do Iguaçu
60º CBC
Reforços de pilares de concreto armado: Douglas Couto 19 de setembro 4 horas Recanto Cataratas IBRACON
métodos e procedimento Foz do Iguaçu
60º CBC
O fenômeno térmico do concreto massa Eduardo de Aquino Gambale 19 de setembro 4 horas Recanto Cataratas IBRACON
100
Foz do Iguaçu
60º CBC
95 Desempenho aplicado às estruturas de Alexandre Britez 20 de setembro 4 horas Recanto Cataratas IBRACON
concreto armado Foz do Iguaçu
75
60º CBC
Reforços com fibra de carbono: aspectos Adriano Silva Fortes 20 de setembro 4 horas Recanto Cataratas IBRACON
relevantes de projeto e execução Foz do Iguaçu
25 DAM WORLD 2018
Concreto protendido Evandro Porto Duarte 21 de setembro 8 horas Recanto Cataratas IBRACON
5 Foz do Iguaçu
DAM WORLD 2018
Workshop on Canadian Dam Association’s IBRACON
0 CDA instrutors 21 de setembro 8 horas Recanto Cataratas
technical bulletin on dam safety reviews LNEC
Foz do Iguaçu
CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 13
u personalidade entrevistada

Vahan
Agopyan
A
rmênio naturalizado

CECÍLIA BASTOS
brasileiro, o Prof. Vahan
Agopyan é o 27º reitor da
maior universidade pública
brasileira, a Universidade de
São Paulo (USP), posto que
assumiu em 25 de janeiro último.
Graduado em Engenharia Civil pela Escola
Politécnica (Poli) da USP em 1974, o Prof.
Vahan muito cedo se decidiu pela carreira
acadêmica, fazendo o mestrado na Poli e o
doutorado na University of London King’s
College. Os cargos administrativos foram
decorrência de uma trajetória de reconhecida
atuação universitária. Chefe do Departamento
de Engenharia de Construção Civil
(1990-1998), vice-diretor e diretor da Poli
(2002-2006), o Prof. Agopyan foi ainda
pró-reitor de pós-graduação (2010-2014)
e vice-reitor da USP (2014-2018).
É professor titular de materiais e
componentes de construção civil, atuando
principalmente nas áreas de materiais
reforçados com fibras, qualidade e
sustentabilidade da construção civil.

IBRACON – O que o motivou a pela engenharia civil, por me sentir disciplinas, em particular a do meu
escolher a engenharia civil, seguir bem neste ambiente. Logicamente então futuro orientador, o Prof. Eládio
a carreira acadêmica e assumir que, como qualquer estudante Petrucci, tinha sido o melhor aluno
cargos administrativos em sua vida de engenharia, não conhecia a da turma. Por isso, fui convidado
universitária? profissão de maneira adequada. A a dar aula na área de materiais
Vahan Agopyan – Tinha curiosidade compreensão só se deu plenamente de construção em tempo parcial.
pelas atividades de criação e de no ambiente da faculdade. Isto aumentou meu interesse pela
desenvolvimento da engenharia. Por A carreira acadêmica e, pesquisa, de modo que decidi seguir
isso, ingressei em 1970 no curso de posteriormente, a administrativa, carreira acadêmica. Fiz mestrado na
engenharia da Escola Politécnica da são decorrentes uma da outra. Eu Poli entre 1974 e 1978. Larguei a
USP. Ao final do primeiro ano, optei era aluno médio, mas, em algumas construtora onde trabalhava e onde

14 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


era responsável por uma pequena

MARCOS SANTOS
usina de concreto. Em seguida,
com 27 anos, resolvi fazer doutorado
no exterior.
Fiz carreira acadêmica. Cheguei
a professor titular em 1994.
Nesta época, não existiam muitos
professores titulares na Poli, que
normalmente ocupavam cargos de
chefia de departamento. Quando o
Prof. Antonio Massola se candidatou
a diretor da Escola, em 1998, ele
pediu para eu me candidatar a vice-
diretor. Ele ganhou para diretor e eu
ganhei para vice, em um período no
qual as eleições eram separadas.
Espaço de convivência na Escola Politécnica da USP
E, a partir daí, comecei a exercer
cargos administrativos
na universidade. teóricas, sem muito espaço para sua Dois anos depois de formado, eu
aplicação a questões práticas. Você trabalhava com materiais fibrosos,
IBRACON – Que marca de gestão concorda com essa avaliação? que era um tema que não fazia parte
espera ver deixada por um engenheiro Vahan Agopyan – Sim, eu concordo do currículo do curso. Isto porque
na reitoria da USP? com essa avaliação. Mas tem que os materiais de construção variam.
Vahan Agopyan – Procurarei fazer ser assim. O ensino superior é de Não adianta ensinar uma infinidade
uma gestão para aumentar seus formação, não é para habilitação e de materiais para o aluno - porque
aspectos de produção, execução informação, como se faz na escola essa é uma área em constante
e organização, para que seja técnica. O aluno tem que saber a atualização. O concreto da década
proativa, e não apenas reativa. base do conhecimento. A parte de 1970 não tinha nada a ver com
No momento, ainda há restrições prática ele faz fora da universidade. o concreto da década de 1980.
de recursos financeiros e quanto Isto tem que ser bem compreendido. Por isso, o embasamento teórico é
à contratação de pessoal. Como Os médicos entendem muito bem muito importante na formação dos
engenheiro, encaro essa dificuldade esse processo de formação. Eles se engenheiros, pois o aluno aprende
como desafio, isto é, conseguir, com formam médicos e desenvolvem a a parte prática fora da universidade.
poucos recursos financeiros, atingir parte prática durante as residências. A universidade não é como uma
os objetivos dos projetos a executar. Engenheiros em vários países, para escola técnica para ensinar a operar
entrar na corporação, são obrigados um equipamento. A universidade
IBRACON – Uma crítica muito a trabalhar de dois a três anos antes é para formar o profissional
ouvida de alunos é que as aulas nas de serem aceitos como engenheiros. capaz de operar qualquer tipo
Faculdades de Engenharia são muito Eu me formei na década de 1970. de equipamento.


O ENSINO SUPERIOR É DE
FORMAÇÃO, NÃO É PARA


HABILITAÇÃO E INFORMAÇÃO,
COMO SE FAZ NA ESCOLA TÉCNICA

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 15



NOSSOS ENGENHEIROS TÊM DE SER PREPARADOS


E FORMADOS PARA PODER ABSORVER, ASSIMILAR
E, MAIS AINDA, DESENVOLVER NOVAS
METODOLOGIAS DE TRABALHO

IBRACON – Mas tal crítica parece conheço são oferecidos bons esse cenário. Na Poli, aprendi os
destacar o fato do aluno não embasamentos. Os engenheiros métodos de cálculo de pórticos, que
conseguir aplicar os conceitos brasileiros das boas escolas têm eram tradicionais na engenharia.
teóricos ensinados. uma formação muito sólida, em Com o advento dos pequenos
Vahan Agopyan – É importante que o comparação com as congêneres computadores, esses métodos
aluno entenda o conceito teórico. Por internacionais. Por exemplo, entre deixaram de ser adequados. Mas,
exemplo: não adianta treinar o aluno os alunos da Poli, 20% fazem como eu tinha sido preparado para
para fazer dosagem de concreto hoje intercâmbio no exterior, tendo entender a lógica de como se faz
porque ao se formar, certamente, desempenho acima da média dos o cálculo, a lógica do método de
as metodologias de dosagem serão alunos estrangeiros. Cross, me adequei facilmente ao
outras. O que importa é ensinar cálculo com outro método numérico.
qual é a lógica da dosagem do IBRACON – O que pretende fazer Nossos engenheiros têm de ser
concreto, mostrar a importância da para impulsionar a modernização dos preparados e formados para poder
porosidade na resistência e para a cursos de graduação na USP? absorver, assimilar e, mais ainda,
viscosidade do material. Explicando Vahan Agopyan – Todas as boas desenvolver novas metodologias
os conceitos ao aluno, mesmo escolas de engenharia no mundo de trabalho.
modificando a metodologia, ele vai estão continuamente revendo seus
entender a lógica do funcionamento currículos e suas metodologias. IBRACON – Qual é o futuro

da dosagem. O problema é quando Essa é uma tarefa contínua. O dos cursos de Engenharia Civil,
o aluno não entende a razão de estar grande desafio é prever como considerando o mercado de trabalho

estudando porosidade do concreto. serão as tendências futuras e oscilante por conta de crises

Nos cursos de engenharia que como preparar os jovens para econômicas periódicas e da tendência

de fusões e aquisições pelas empresas


CECÍLIA BASTOS

estrangeiras no setor construtivo

brasileiro?

Vahan Agopyan – A engenharia é


globalizada. Nosso engenheiro tem
que competir globalmente. Seu
concorrente não é o colega formado
por outra faculdade ou do outro
lado da cidade. Seu concorrente
pode estar na Índia, na China, nos
Estados Unidos ou na Espanha. O
fato de a engenharia e a tecnologia
terem muitas peculiaridades
culturais não dificulta nada. Posso
ir para a Coréia e, em algumas
semanas, assimilo a cultura, os
Fachada da Reitoria da USP materiais e metodologias locais.

16 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


O que me preocupa no Brasil é a
falta de planejamento e de uma
política de médio e longo prazos.
Há países que passam por crises
econômicas, mas nos quais as
equipes de engenharia não são
desmontadas. No Brasil, isso
não acontece. Os escândalos de
corrupção no país não conseguem
separar a empresa do dirigente da
empresa - a instituição em si não
tem culpa pela má conduta de seus
diretores! Não estamos preservando
isto e equipes estão sendo
totalmente desmontadas.

Vista áerea do Relógio da USP


IBRACON – Uma saída são os

programas de dupla-formação,

como o implantado pelo senhor formação, mas os conselhos não que vão fazer desenvolvimento.
quando diretor da Escola Politécnica reconhecem. Ele recebe o diploma Formamos profissionais capazes
da USP? de sua escola de origem e tem de desenvolver a área. A pesquisa
Vahan Agopyan – Esses programas uma apostila dizendo que tem da pós-graduação, para ser
têm como objetivo a integração todas as competências da outra relevante, tem que estar junto com
das equipes. Havia problemas de profissão. Como as competências as empresas. Deve haver esse
comunicação entre engenheiros são muito similares, não exercer a incentivo. Vou dar um exemplo.
civis e arquitetos nas equipes outra profissão não afeta muito o As fibras de vidro no gesso, tema
multidisciplinares. O melhor jeito profissional. Mas ele não tem os dois de meu doutorado, ganhou o
para facilitar a comunicação diplomas. O engenheiro é registrado interesse de um empresário, dez
era ter um engenheiro civil que no CREA e o arquiteto no Conselho anos após minha defesa, durante
entendesse a linguagem do arquiteto de Arquitetura e Urbanismo. um evento em que eu participava.
e um arquiteto que entendesse a Esse empresário contratou um
linguagem do engenheiro civil. Esses IBRACON – O que pretende fazer instituto de pesquisas tecnológicas
alunos com dupla formação fazem para que o conhecimento gerado na da região e adequou meus estudos
esse meio de campo. pós-graduação tenha maior impacto e à produção. Quando a empresa
relevância social? participa do desenvolvimento do
IBRACON – A pessoa não se forma Vahan Agopyan – Um ponto projeto de pesquisa, basta depositar
engenheiro civil e arquiteto? importante é entender que a pós- a patente para o produto estar no
Vahan Agopyan – Ela tem a graduação é a formação das pessoas mercado no dia seguinte. Com isso,


A PESQUISA DA


PÓS-GRADUAÇÃO, PARA SER
RELEVANTE, TEM QUE ESTAR
JUNTO COM AS EMPRESAS

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 17



INVESTIMENTO EM INOVAÇÃO É PESADO. O MARCO REGULATÓRIO


EM SI AJUDA A INTEGRAÇÃO COM A EMPRESA, MAS É PRECISO
TER UM PLANEJAMENTO PARA O EMPRESÁRIO TER A SEGURANÇA
PARA FAZER O INVESTIMENTO NA INOVAÇÃO

se consegue rapidamente passar do incentivo efetivo. É preciso ter um Com isso, a estrutura de um novo
conhecimento à prática, porque se planejamento para o empresário ter a prédio é muito mais esbelta do que
trabalha junto com a empresa. segurança para fazer o investimento a estrutura de um antigo. Na área
na inovação. de rodovias, por exemplo, veja a
IBRACON – Quais políticas são Imigrantes ‘velha’ e a Imigrantes
necessárias para que a produção IBRACON – Você concorda com a ‘nova’. Na área de materiais, uma
acadêmica chegue ao mercado e à tese de que a engenharia civil é a área revolução total. O concreto mudou
sociedade? que menos emprega tecnologia dentre violentamente. Antes, um concreto
Vahan Agopyan – A política as engenharias? com 15MPa era de alta resistência.
de inovação recentemente Vahan Agopyan – Não, porque a Hoje, qualquer usina produz concreto
regulamentada é muito boa. Seria engenharia civil utiliza muitos materiais, de 50MPa. Evoluímos muito também
suficiente se houvesse, da parte com muita tecnologia embutida. em execução. Como falar hoje para
do governo, um planejamento A engenharia civil não é apenas o um engenheiro jovem que, até 35
econômico de médio e longo prazos. que se faz no canteiro de obras. anos atrás, não reaproveitávamos a
O Brasil não tem um planejamento Minha geração assistiu a verdadeiras forma de concreto. Então, mudamos
de ações há muito tempo. Enquanto revoluções na engenharia civil. A área conceitos de projeto, os materiais e
isso não acontecer, as empresas de projetos foi revolucionada com a a própria execução. Suponha que
continuarão se sentindo inseguras mudança nas diretrizes de projeto. um engenheiro ficasse trinta anos
para investir. Investimento em Antes todo projeto levava em conta sem entrar em um canteiro de obras.
inovação é pesado. O marco embasamentos empíricos. Hoje, os Certamente, hoje, ele não reconheceria
regulatório em si ajuda a integração projetos de engenharia civil levam em uma bomba de concreto.
com a empresa, mas precisa ter um conta uma abordagem probabilística.
IBRACON – Na sua gestão na Pró-
CECÍLIA BASTOS

Reitoria de Pós-Graduação, foram

criados os primeiros mestrados

profissionais na USP. Como esses

mestrados profissionais diferenciam-se

dos mestrados stricto sensu? Não há

risco desta modalidade de mestrado

roubar gradativamente alunos do

mestrado tradicional?

Vahan Agopyan – O mestrado


profissional é também stricto sensu.
Ele orienta o aluno a trabalhar
com problemas específicos reais.
O aluno é, normalmente, um
profissional que traz um problema
de seu dia-a-dia profissional e
Vista da Praça do Relógio da USP tendo de fundo a Antiga Reitoria que faz pesquisa para resolvê-lo.

18 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


Essa é a diferença. É stricto sensu Por isso, tivemos que recorrer a IBRACON – Um dos temas de suas

porque envolve pesquisa e produz outros meios. Quem trabalhou de pesquisas é o da sustentabilidade na

conhecimento. O aluno pode fazer forma integrada com a sociedade, construção. Quais trabalhos você

doutorado depois. Analisando governos, empresas e organizações vê como promissores nesta temática?

friamente, percebe-se que a maioria não governamentais conseguiu Por quê? A USP tem integrado esses

dos mestrados na engenharia civil recursos externos. grupos de pesquisa?

tem a visão profissional. A maioria Preocupante é o fato que, com o Vahan Agopyan – Ponto marcante
das dissertações de mestrado desmantelamento de um grupo de nesta questão da sustentabilidade foi
na área de engenharia, mesmo pesquisa, sua remontagem não é a redução de resíduos, não apenas
sendo acadêmicas, têm essa visão instantânea. Nas universidades do entulhos, mas os incorporados
de problemas práticos pontuais. exterior, quando uma nova equipe na construção, como espessuras
Então, o mestrado profissional é é montada, as engrenagens exageradas de revestimentos para
um mestrado de fato stricto sensu, demoram alguns anos para acertar prumo, ou enchimentos
procurando estar mais próximo dos entrarem nos eixos. desnecessários em lajes, quebra de
problemas da sociedade. componentes por falta de modulação
IBRACON – No âmbito de São Paulo e a ausência de reaproveitamento
IBRACON – O Brasil investe muito e da USP, o senhor pretende adotar de resíduos para a produção
pouco em pesquisa científica, ainda alguma política de maior aproximação de materiais. Segundo aspecto
mais no cenário econômico atual de entre faculdades e institutos? importante foi a redução de energia
recente saída de crise econômica. Vahan Agopyan – Esse intercâmbio para a produção de materiais e a
Quais suas propostas para que as já existe, variando conforme a otimização em torno dos projetos
pesquisas na universidade tenham posição e as necessidades. Nosso para evitar quebras, cortes etc.
maior autonomia e não sejam intercâmbio com o Instituto Butantan, Hoje, o foco é utilizar os conceitos
descontinuadas? por exemplo, foi ampliado nos de economia circular. Essa é uma
Vahan Agopyan – Houve, do meu últimos anos graças às parcerias tendência nova na construção civil.
ponto de vista, falta de planejamento de pesquisadores nos estudos Isso significa que o resíduo de um
e distorções, na qual o Programa de doenças como dengue e as é a matéria-prima de outro. É a
Ciência sem Fronteiras drenou decorrentes do zika vírus. Os últimos economia circular: se reaproveita
recursos que deveriam ter ido diretores do Butantan eram todos tudo e, assim, se diminui a geração
para a pesquisa. Eu diria que as da USP, como também os do IPT de resíduos em geral. Esta é a
universidades sediadas no Estado e do IPEN. Oferecemos, inclusive, indústria que mais utiliza matéria-
de São Paulo não tiveram redução programas de pós-graduação prima, a que mais interfere no meio
significativa em suas atividades conjuntos. E essa integração ambiente, porém também é aquela
de pesquisa porque temos uma tende a aumentar, visto que há a que pode melhorar os desmandos
situação privilegiada com a Fapesp. necessidade de as universidades da natureza. Sustentabilidade é
Sentiu-se um pouco, porque os e os institutos estarem cada vez um conceito que incorpora, além
recursos federais, principalmente da mais preparados e integrados para do meio ambiente, as questões
Capes, são muito importantes para atenderem às demandas econômicas e sociais. Portanto,
a manutenção da pós-graduação. da sociedade. é um tripé importante que precisa


HOJE, O FOCO É UTILIZAR OS CONCEITOS DE ECONOMIA


CIRCULAR. ESSA É UMA TENDÊNCIA NOVA NA
CONSTRUÇÃO CIVIL. ISSO SIGNIFICA QUE O RESÍDUO
DE UM É A MATÉRIA-PRIMA DE OUTRO

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 19



A CONSTRUÇÃO CIVIL SUSTENTÁVEL QUER


DIZER SER MAIS AMIGÁVEL COM O MEIO
AMBIENTE, ATENDER AOS ANSEIOS DA
SOCIEDADE E SER ECONOMICAMENTE VIÁVEL

ser analisado. A construção civil metro cúbico de concreto. A norma IBRACON – Na sua avaliação qual

sustentável quer dizer ser mais especificava o uso mínimo de 300 é o papel de instituições técnicas,

amigável com o meio ambiente, quilos por metro cúbico de concreto. como o IBRACON, em relação às

atender aos anseios da sociedade Hoje se faz concreto estrutural com pesquisas científicas e tecnológicas

e ser economicamente viável. menos de 180 quilos de cimento por desenvolvidas nas universidades?

Este é o norte dos trabalhos da metro cúbico. Isto representa uma Vahan Agopyan – A função dessas
Poli: a otimização dos processos indústria cimenteira mais amigável, instituições é de difusão. Não
construtivos, das perdas e dos com redução do consumo de clínquer, se pode imaginar que todos os
materiais. Todo o desenvolvimento que é a parte que tem emissão de engenheiros civis e arquitetos
de novos materiais e projetos tem CO2, e com redução do próprio teor tenham tempo de fazer cursos de
essa finalidade. de cimento. Então, a melhoria atinge especialização, que possam fazer
todas as frentes possíveis. Isto faz com atualização. Uma entidade como o
IBRACON – Que papel desempenhará que a indústria de concreto não seja IBRACON, fazendo seus eventos
o cimento, o concreto e os substituída pela indústria de outros anuais, com grande repercussão,
materiais à base de cimento para a materiais, por exemplo, de metais ou mantendo suas revistas, está
sustentabilidade do setor construtivo, de polímeros reforçados. Eu acredito contribuindo para a difusão de
considerando o dilema entre a que a indústria cimenteira e a de novas ideias. O IBRACON começou
necessidade de crescimento da concreto já assumiu esse papel desde assim. Nas reuniões da entidade
demanda por esses materiais nos países o fim do século passado, modificando na década de 1970 já se debatiam
em desenvolvimento e a urgência em totalmente sua postura, o que fez com as novidades, como os novos
minimizar o uso de recursos materiais e que não perecesse e continuasse processos de dosagem, as novas
energéticos, e as emissões de CO2, na ativa. Hoje, os grandes pesquisadores abordagens e metodologias para o
sua produção? de redução de consumo de cimento concreto, os novos tipos de adições,
Vahan Agopyan – A indústria estão nas indústrias cimenteiras, entre outros temas. Os Congressos
cimenteira e de concreto, em geral, porque, com isso, elas sabem que do IBRACON foram e continuam
tem trabalhado nisso nas últimas conseguem subsistir. sendo muito marcantes. Hoje, essas
décadas. Já atingimos os melhores instituições existem e subsistem por
valores possíveis quanto à otimização IBRACON – Qual impacto causa desse papel de difusores
da produção de cimentos, porque poderá ter a industrialização da do conhecimento.
estequiometricamente se produz construção nesse cenário futuro

CO2, não tem jeito! É reação de sustentabilidade no setor IBRACON – O que gosta de fazer em

química! Houve enorme revolução construtivo? seu tempo livre?

na produção de cimento, com Vahan Agopyan – Temos que Vahan Agopyan – Embora eu esteja
redução no consumo de energia e encarar a construção como indústria com o tempo cada vez menos livre,
nas emissões. O consumo de clínquer desde já. A industrialização é uma eu gosto de ler e ir ao cinema.
nos aglomerantes, nos cimentos, realidade. O canteiro de obras é uma Também gosto muito de andar. Eu
também está sendo reduzido e está planta industrial. Com isso, se reduz e minha esposa, quando viajamos,
atingindo valores mínimos. Outra desperdícios e o retrabalho e se não pegamos táxi para passear,
vertente é a redução de cimento por otimiza o consumo de materiais. gostamos de caminhar.

20 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


u industrialização
encontros e notícias
da construção
| CURSOS

Três sistemas construtivos


em empreendimento
residencial econômico
JOSÉ ROBERTO PEREIRA DE LIMA – Gestor Executivo de Obras da Regional São Paulo
CLÁUDIO PIRES COSTA – Gestor de Obras da Regional São Paulo
MRV Engenharia

1. INTRODUÇÃO

O
Grand Reserva Paulista
será um complexo habita-
cional dotado de 25 con-
domínios residenciais, que totalizam
exatos 7296 apartamentos com vagas
de garagens. São 51 torres, sendo a
maioria com 144 unidades autônomas,
com 18 pavimentos cada (Fotos 1 e 2).
O empreendimento da MRV Engenha-
ria situa-se no bairro de Pirituba, região
oeste de São Paulo, e contará com
três centros comerciais, um centro de
educação infantil, duas praças públi-
Foto 1 –Perspectiva aérea do canteiro de obras dos empreendimentos
cas com projeto paisagístico, equipa- Grand Reserva Paulista e Spazio San Valentin
mentos para exercícios físicos, abas-
tecimento elétrico de áreas comuns via dando emprego à aproximadamente ma de de estruturas pré-fabricadas
energia fotovoltaica e Wi-Fi gratuito por 3500 pessoas de forma direta e indi- de concreto, este último usado exclu-
dez anos. reta. Todos esses materiais e mão de sivamente nos prédios-garagem dos
A obra começou a ser erguida em obra irão compor os condomínios do empreendimentos.
março de 2017, onde funcionava a an- Grand Reserva Paulista juntamente
tiga sede do Núcleo de Administração com o condomínio Spazio San Valen- 2. EVOLUÇÃO DOS
e Serviços do Banespa S/A (NASBE). tin, um outro empreendimento MRV SISTEMAS CONSTRUTIVOS
O empreendimento contempla uma que ocupa o mesmo terreno e também Até o ano de 2009, a alvenaria es-
área com cerca de 180 mil m² e pre- irá desfrutar dos benefícios do mega- trutural era unanimidade nas obras da
cisou movimentar 211 mil metros cúbi- empreendimento. MRV, mas, aos poucos, vem sendo
cos de solo na fase de terraplanagem. Os prédios do Grand Reserva substituída por outros sistemas constru-
A previsão de conclusão das obras é Paulista e Spazio San Valentin têm tivos, especialmente no caso do Grand
de até cinco anos e este megaempre- projetos contemplando três sistemas Reserva Paulista, onde não é o princi-
endimento deve utilizar mais de 200 construtivos. A clássica alvenaria pal sistema utilizado nas torres do em-
mil metros cúbicos de concreto e cer- estrutural, o sistema de paredes de preendimento. No local, apenas o Spa-
ca de seis milhões de quilos de aço, concreto moldada no local e o siste- zio San Valentin está sendo totalmente

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 21


construído em alvenaria estrutural,
modelo clássico que se consolidou e
se tornou popular ao longo dos anos
(Foto 3). No entanto, outras tecnolo-
gias construtivas vêm se tornando viá-
veis no que se refere a custos, geração
de resíduos, tempo de obra e mão de
obra especializada.
Com 40% do total da obra conclu-
ída, o Spazio San Valentin possui três
edificações em alvenaria estrutural e Foto 2 – Projeção virtual do empreendimento Grand Reserva Paulista
suas unidades residenciais se diferem
dos demais prédios do Grand Reserva prevê a entrega das três edificações no dades. Houve alteração no projeto ini-
Paulista, que possuem um ou dois quar- primeiro semestre de 2019. cial que seria totalmente executado em
tos e área total de até 44 m². Já os apar- Já as outras 48 torres do Grand alvenaria estrutural. Com as mudanças,
tamentos de San Valentin contêm de um Reserva Paulista serão completamen- as paredes de algumas unidades pas-
a três quartos e variação de área entre te construídas de paredes de concreto saram a ser de concreto com 10 cm de
42 m² e 66 m². Com a diferença de tipo- (Foto 5). Em 2009, a construtora utilizou espessura e não mais de alvenaria es-
logias, as unidades oferecidas no Spazio pela primeira vez a tecnologia no projeto trutural. As unidades que mantiveram o
San Valentin não seguiram os modelos do condomínio Spazio Belo Verde, em projeto original possuem 14 cm de es-
pré-estabelecidos das demais torres do Mauá, cidade pertencente à região do pessura para passagem de tubulação.
megaempreendimento, inviabilizando a ABC Paulista, zona sudeste da Grande Na época, o sistema construtivo
produção de formas para que a execu- São Paulo. Naquela ocasião, metade ainda não era regulamentado pela As-
ção ocorresse em paredes de concreto. do empreendimento foi construído em sociação Brasileira de Normas Técni-
O início da obra do Spazio San Valentin paredes de concreto, resultando em cas (ABNT), sendo a autorização para
ocorreu em abril de 2017 e a construtora três prédios que contabilizam 90 uni- construção emitida via DATec (Do-
cumento de Avaliação Técnica), para
atendimento das normas do Programa
CLÁUDIO PIRES COSTA

Brasileiro da Qualidade e Produtividade


do Habitat (PBQP-H) e da Caixa Eco-
nômica Federal.
O canteiro de obras Grand Reser-
va Paulista possui uma evolução de
14% de conclusão desde o início das
obras, há pouco mais de um ano. Até
o momento já foram gastos 28 mil
metros cúbicos de concreto. Os edifí-
cios-garagem, todo em estrutura pré-
-moldada, utilizam vigas protendidas,
painéis pré-fabricados e lajes alveola-
res de concreto, sendo os que estão
em estágios mais avançados (Foto 4).
Uma vez que essas unidades ne-
cessitam de montagem e movimen-
tação de peças de concreto no can-
Foto 3 – Obras do empreendimento Spazio San Valentin (à esquerda) em
alvenaria estrutural e Grand Reserva Paulista com paredes de concreto (à direita) teiro, a logística complexa demanda

22 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


de vibradores, possibilitando reduzir o
tamanho das equipes de concretagem.
O Instituto Falcão Bauer é o órgão
responsável por realizar os ensaios
de controle do concreto autoaden-
sável. Há um laboratório montado
no canteiro de obras para realizar
os testes a partir de amostragens
obtidas no próprio local, certifican-
do a qualidade do produto. Ensaios
de rompimento dos corpos de prova
(CP) com idade de 12 horas e de três
dias são feitos nos canteiros e os de-
mais são enviados para o laboratório
Foto 4 – Unidades de garagens em estágio avançado construídas com elementos
pré-moldados na matriz do fornecedor. As especifi-
cações para o concreto devem con-
guindastes e veículos de grande porte. O concreto autoadensável utilizado templar os resultados da Tabela 1.
Desta forma, o projeto prevê que as para a produção das unidades residen- Nos últimos anos, a construtora
garagens sejam os primeiros prédios a ciais obedece a critérios rigorosos na vem implementando de modo gra-
ficarem prontos, o que ocorre em um sua formulação. A opção por esta tipo- dativo o sistema das paredes de
prazo de 60 dias para cada unidade. logia em relação ao concreto conven- concreto nos empreendimentos com
Sete prédios de garagens estão prati- cional ocorre em função de sua maior perfil de financiamento “Minha Casa
camente finalizados. capacidade de fluidez e dispensa o uso Minha Vida”, prioridade comercial da
construtora. Entre os anos de 2015 e
u Tabela 1 – Características do CAA usado no sistema paredes de concreto 2017, a aplicação do método cons-
trutivo nos canteiros de obras de
Resistência característica (fck) 30 MPa novos condomínios aumentou 60%
Módulo de deformação Ec ( tangente) ≥ 24 Mpa aos 28 dias e a previsão é de que até o final de
Coeficiente de retração < 0,035 %1 2018 este número cresça ainda mais.
Resistência de desforma Fc (12h) ≥ 3 MPa Estima-se que neste ano ocorra um
Slump inicial 50 ± 10 avanço de até 15%, resultando em
Flow 700 ± 50 um total de 85% de obras da empre-
Fator agua cimento a/c ≤ 0,6 sa produzidas exclusivamente de pa-
Diâmetro máximo do agregado 12,5 mm redes de concreto (Gráfico 1).
Ar incorporado máximo 3% A observação de canteiros de obras
Temperatura de entrega do concreto 35 ± 3 ºC mais limpos e a agilidade na montagem
Tempo em aberto para manutenção do flow 30 min no mínimo + tempo de transporte das formas, que consequentemente
Espalhamento SF2 reduzem o tempo de produção de uni-
Habilidade passante pelo anel J PJ1 dades residenciais, foram fatores deter-
Viscosidade VS2 minantes para que empreendimentos à
Segregação SR1 base de concreto se tornassem maio-
1
Curado nas mesmas condições da obra, segundo a norma ASTM C157, aos 63 dias;
ria entre os produtos da construtora. A
2
Classe de agressividade II;
3
Os cimentos adotados serão o CP II F 40 ou CP V, porém não haverá consumo mínimo, devendo cada fornecedor definir o organização dos canteiros de obra e a
ideal ao seu traço;
4
Utilizar fibras têxteis para evitar retração inicial (min 300 g/m³ ) – Material: polipropileno, tipo multifilamento; massa diminuição dos resíduos em relação à
específica : 0,90+/-0,05 g/cm³; comprimento mínimo: 20 mm; alvenaria estrutural tornaram-se umaso-
5
Caracterização do concreto auto-adensável segundo a NBR 15823:2010.
lução sustentável para as obras da MRV.

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 23


u Tabela 2 – Geração de resíduos
de construção por classe

Classe Volume (m³) %


A 1596 57%
B 784 28%
C 392 14%
D 28 1%
Total 2.800 100%
Fonte: MRV Engenharia

u Gráfico 1 Civil (PGRCC), específicos para cada


Evolução da aplicação do método construtivo das paredes de concreto obra, em acordo com a resolução
nos empreendimentos MRV (%) 307 do Conselho Nacional do Meio
Ambiente (CONAMA). Durante o pro-
O avanço do uso do sistema reutilizáveis ou recicláveis como agre- cesso de demolição da infraestrutura
construtivo paredes de concreto gados, como blocos, placas de revesti- do antigo NASBE, mais de 60 mil me-
moldado no local em empreendimen- mento, argamassa, concreto, meio-fio, tros cúbicos de resíduos de concre-
tos MCMC vem seguindo um cresci- entre outras. Após detalhado estudo de to foram reaproveitados, sendo que
mento contínuo. Entre os anos 2014 caracterização e dosagem, todo esse grande parte da estrutura antiga era
e 2015, houve um aumento de 16% material se torna piso intertravado, con- formada por alvenaria convencional.
nas obras que utilizaram o sistema, cregrama ou elemento vazado. Segundo dados publicados no Pano-
segundo os dados da Caixa Econô- A expectativa da construtora é rama de Resíduos Sólidos no Brasil, rea-
mica Federal (CEF), principal entida- executar em torno de 80% dessas lizado pela Associação Brasileira de Em-
de financeira fornecedora de crédito peças usadas na MRV com material presas de Limpeza Pública e Resíduos
para aquisição das unidades. proveniente das sobras de concreto, Especiais (ABRELPE), o setor de cons-
tanto do sistema construtivo parede trução civil gerou, nos municípios brasi-
3. CONCRETO E de concreto moldado no local quan- leiros, cerca de 123 toneladas por dia de
SUSTENTABILIDADE to da alvenaria estrutural. Tais ações entulhos originados de novas constru-
A empresa realiza em suas obras constam nos Planos de Gerencia- ções e demolições em 2016. Somente a
o processo de reaproveitamento de mento de Resíduos da Construção região Sudeste, neste mesmo ano, foram
concreto. A ação tem o objetivo de
fabricar peças pré-moldadas no pró-
prio canteiro, gerando economia na
destinação dos resíduos que seriam
retirados por caçambas e cami-
nhões. Essas peças, de uso não es-
trutural, podem ser utilizadas na obra
onde são produzidas ou em demais
canteiros da companhia (Foto 6).
A estimativa da equipe de Seguran-
ça, Saúde e Meio Ambiente (SSMA) da
construtora é de que 57% de todo o re-
síduo gerado em cada empreendimen-
to seja proveninente de componentes à
base de cimento, de classe A, ou seja Foto 5 – Prédio com paredes de concreto no canteiro Grand Reserva Paulista

24 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


de Concretagem (ABESC) e o Instituto
JÉSSICA CASTELO BRANCO

Brasileiro de Tela Soldada (IBTS) aliaram


forças junto a construtoras, dentre elas
a MRV Engenharia, para desenvolver
os estudos técnicos e científicos sobre
a tecnologia das paredes de concreto,
pouco explorada em âmbito nacional
até aquele momento (NE: veja matéria
nesta edição). Como resultado dessa
união ocorreu a conquista da norma
“ABNT NBR 16055:2012 – Parede de
concreto moldada no local para a cons-
trução de edificações — Requisitos e
procedimentos”, que abrange todas as
edificações construídas com concreto
por esse sistema, independentemente
Foto 6 – Reaproveitamento de materiais no canteiro de obras Grand Reserva
Paulista e San Valentin da altura ou número de pavimentos.

produzidas 64 toneladas diárias, o que 560 caçambas tradicionais (5 m³). A 5. CONCLUSÃO


corresponde a 52% de todo o resíduo Tabela 2 demonstra a porcentagem de A necessidade de redução do défi-
produzido no país a cada dia. geração de resíduo por classe. cit habitacional e avanço do programa
O avanço do sistema construtivo das Minha Casa Minha Vida fizeram com
paredes de concreto pode ajudar a dimi- 4. GRUPO DE TRABALHO que a MRV buscasse inovação no mer-
nuir essas estatísticas. A estimativa da PAREDES DE CONCRETO cado. A construtora buscou identificar
MRV de geração de resíduos para edi- Os procedimentos e métodos utili- opções construtivas que trouxessem
ficações que adotam processos cons- zados pelos engenheiros da constru- o conceito de industrialização para os
trutivos convencionais é de 0,125 m³ de tora são frutos de um trabalho técnico canteiros, consequentemente refletindo
resíduos para cada m² construído. Esti- e científico que começou há cerca de em maior competitividade da empresa
ma-se ainda que são gerados 2.800 m³ 10 anos. junto ao mercado. Outro ponto impor-
de resíduos por cada empreendimento, Desde 2007, a Associação Brasileira tante na decisão foi o projeto arquite-
e, como referência, o volume total a ser de Cimento Portland (ABCP), a Associa- tônico do empreendimento, compatível
gerado equivale a aproximadamente ção Brasileira das Empresas de Serviço para sua aplicação devido a produção
em grande escala da mesma tipologia.
Nos últimos 2 anos, a MRV este-
u Tabela 3 – Ficha técnica do empreendimento Grand Reserva Paulista ve realizando estudos, implementou
melhorias e mudanças nos materiais
Projeto – Arquitetura Candusso Arquitetos
como concreto, formas e processos
Projeto – Fundação Sergio Velloso Projetos
de execução. A construção em gran-
Projeto Estrutural – Cintamento RKS
de escala de unidades habitacionais
Projeto Estrutural – Torres Sanest
em parede de concreto tem sido um
Marna Pré-fabricados, LMD Construções,
Fornecedor - Edifícios-Garagem marco de ruptura nos padrões tecno-
Baumec Construções Pré-moldadas
lógicos e de mercado para o setor de
Fornecedor – Fôrma Forsa
construção no Brasil. A solução em
Fornecedor – Controle Tecnológico Falcão Bauer
alvenaria estrutural foi mantida apenas
Fornecedor – Concreto Fundação Engemix, Supermix, Intercement
nos edifícios com tipologia fora do pa-
Fornecedor – Concreto Parede Engemix, Intercement, Hipermix
drão geral do empreendimento.

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 25


u industrialização da construção

Alvenaria estrutural em
edifício de 24 pavimentos
FABIO FREIRE – Arquiteto
PAULO PUGLIESI FILHO – Arquiteto
NAIARA ALBESSÚ – Engenheira
DHF Construtora e Incorporadora

1. INTRODUÇÃO tetura foi desenvolvido pelo escritório

A
alvenaria como estrutura Hunnicutt&Freire Arquitetos, e o projeto
é provavelmente um dos estrutural foi desenvolvido pela Engeap.
sistemas construtivos mais
antigos do mundo, existente desde as 3. MOTIVOS DA ESCOLHA DO
primeiras civilizações quando se busca- USO DA ALVENARIA
va uma forma de organizar blocos de ESTRUTURAL NO PROJETO
pedras e criar abrigos. Hoje, trata-se de A escolha da Alvenaria Estrutu-
um sistema complexo que agrega cál- ral como sistema construtivo levou em
culos específicos, blocos industrializa- consideração aspectos que vão desde
dos com grande resistência e precisão a cultura do mercado consumidor até a
geométrica, modularidade, racionaliza- execução, analisando fornecedores de
ção e planejamento. material, mão de obra local, disponibilida-
No Brasil, é hoje um sistema bem de de equipamentos, projeto, experiência
consolidado, com investimentos em anterior da construtora, dentre outros.
materiais e equipamentos específicos, Em relação ao projeto, o sistema
u Figura 1
e normas técnicas atualizadas, sendo de alvenaria estrutural já havia sido es-
Projeto do Residencial Sky
referência no mercado mundial. colhido para o empreendimento desde
No entanto, até a década de 80, a sua concepção inicial. Dessa forma, os
alvenaria estrutural era vista com des- 2. DESCRIÇÃO DO aspectos relacionados à modularidade,
confiança e tratada como sinônimo de EMPREENDIMENTO interferência com instalações hidráuli-
construção popular devido ao grande O Residencial Sky é um edifício de cas e elétricas, esbeltez do edifício (que
número de conjuntos habitacionais que 24 pavimentos, que está sendo cons- está diretamente relacionada à taxa de
utilizavam este sistema. truído em alvenaria estrutural. É consti- armação), dimensão de vãos, limitação
Com a migração do sistema para o tuído por 132 apartamentos, sendo 126 de lajes em balanço, detalhes constru-
médio e alto padrão, investiu-se em tecno- unidades de 58m², com 02 dormitórios, tivos, dentre outros, foram definidos
logias, fazendo com que se consolidasse e 06 unidades duplex de 116m², com previamente, a fim de favorecer a apli-
como opção viável, trazendo velocidade, 03 dormitórios, totalizando uma área de cação do sistema. Esse processo de
racionalização, produtividade e economia. 10.500m². Possui térreo com pilotis em concepção de projeto exclui ainda as
A possibilidade de se construir com concreto armado e 23 pavimentos em tomadas de decisão e ajustes do can-
menores custos fez com que o setor re- alvenaria estrutural. teiro de obras, garantindo maior produ-
descobrisse o sistema, somando novas A incorporação e construção do tividade e racionalização ao processo.
práticas, tornando-o moderno e focado empreendimento é da DHF Construto- Por se tratar de um edifício bastan-
na modularidade e racionalização. ra e Incorporadora, o projeto de arqui- te alto para os padrões da alvenaria

26 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


estrutural (24 pavimentos), os blocos 5. CONCEPÇÃO DO PROJETO
deveriam possuir elevado padrão de – ANÁLISE CRÍTICA SOBRE
qualidade, garantia de dimensões e A MODULAÇÃO DOS BLOCOS
resistência conforme projeto. Confor- O projeto arquitetônico do empre-
me indicado a seguir, blocos de resis- endimento teve como base empreendi-
tência fbk de 26 MPa foram utilizados mento da construtora com 4 unidades
nos primeiros pavimentos, o que im- por pavimento, com sucesso de mer-
plica resistência do concreto superior cado e já modulada.
a 50 MPa. Talvez essa seja uma das Como o novo empreendimento pos-
primeiras aplicações de bloco de con- suiria 06 unidades por pavimento, parte
creto com essa resistência no mundo. do edifício tinha sua modulação já con-
Sendo assim, optou-se por adquirir siderada no projeto arquitetônico e outra
blocos de uma renomada indústria parte não. Finalizado o novo projeto ar-
de blocos sediada em Guarulhos, quitetônico, ele foi então enviado ao pro-
São Paulo, fornecedor com bastan- jetista estrutural que realizou a revisão
te experiência e aparato tecnológico de toda a coordenação modular, con-
necessário à produção de blocos de siderando os tipos de blocos existentes
alta resistência. A mão de obra ne- no portfólio de produtos da empresa
cessária para execução foi contrata- fornecedora dos blocos a ser utilizada,
u Figura 2
da com grande antecedência ao iní- elaborando uma proposta inicial de pro- Planta do pavimento
cio dos serviços. A equipe utilizada já jeto estrutural e de modulação (Figuras
executou outras obras da construto- 3 e 4). Essa proposta foi revisada pela
ra, portanto, o padrão de qualidade e construtora a partir da sua experiência posteriormente, montar fiada por fiada
atendimento aos procedimentos já é na concepção e execução das torres todas as paredes da construção, defi-
de conhecimento desta. anteriores que foram também feitas em nindo todos os detalhes da alvenaria,
Portanto, pode-se perceber que os alvenaria estrutural. No projeto estrutural interferência entre sistemas estruturais
principais aspectos relacionados a mer- houve bastante cuidado, principalmen- e quantitativo de materiais.
cado, projeto, material e mão de obra fo- te, levando em consideração a altura do Finalmente, a proposta foi enviada
ram levados em consideração, tornando edifício de 24 pavimentos. novamente ao projetista estrutural, que
a execução do empreendimento viável. Desenvolvida a proposta inicial de finalizou os cálculos e definiu os pon-
modulação, o departamento de proje- tos de graute e demais especificações
4. VANTAGENS DO SISTEMA tos da construtora utilizou um software de armaduras. De posse dos cálculos
As vantagens na utilização da tec- BIM para realizar a modelação em 3D e definições finais, a equipe de proje-
nologia construtiva em alvenaria estru- de todos os pavimentos-tipo da edifi- tos da construtora realizou os ajustes e
tural são: cação. Esse desenvolvimento foi de desenvolvimentos finais do modelo 3D,
u racionalização no uso de insumos e extrema importância nessa revisão e na inserindo armações, pontos de graute
matérias-primas; definição final da coordenação modular, e janelas de inspeção. Posteriormen-
u redução do desperdício por conta pois permitiu “construir” virtualmente os te, foram inseridos também todas as
de modulação; pavimentos, analisando as interferên- furações nos blocos para inserções
u velocidade de execução e aumento cias e antecipando os problemas de dos pontos de elétrica e sistemas, ob-
de produtividade; modulação entre os diferentes tipos jetivando ao máximo a antecipação de
u padronização das soluções de pro- de blocos e complementos. Para tal interferências (Figuras 5, 6 e 7).
jeto e de execução; “construção” virtual, a equipe de pro- Apesar dessa necessidade de
u economia, em função do menor jetos da construtora precisou modelar adaptação, a modulação final des-
prazo para execução e da redução em 3D todos os blocos e complemen- te empreendimento ficou com uma
do desperdício. tos a serem utilizados no projeto e, variedade de 16 tipos de blocos e

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 27


compensadores, apresentando solu-
ção racionalizada para a necessidade
do empreendimento.
O uso do BIM no modelamento final
da alvenaria foi de grande importância
para a correta definição dos modelos
de blocos, canaletas e compensadores
a serem utilizados. Durante a execução
dessa atividade, a equipe de projetos
pode verificar de maneira mais asser-
tiva as interferências de amarração e
a necessidade de uso de blocos de
u Figura 3
Modulação de um pavimento-tipo amarração T de 54cm e de amarração
L de 34cm, bem como o uso de com-
pensadores 1/4 de 9cm e 1/8 de 4cm.
Igualmente, a partir do modela-
mento final da alvenaria feito no BIM,
foi possível realizar ajustes no planeja-
mento físico e financeiro que havia sido
desenvolvido inicialmente para a obra.
Dessa forma, diversas possíveis in-
terferências foram resolvidas ainda na
fase de projeto, anterior à execução,
tais como: pontos de elétrica e hidráu-
lica que haviam sido posicionados em
pontos de graute, questões com amar-
u Figura 4
ração de blocos, corretos posiciona-
Detalhe de um bloco com janela de inspeção
mentos de vãos de portas e janelas.

6. ESPECIFICAÇÃO DE MATERIAIS
E COMPONENTES
Para a execução do edifício foram
especificados blocos de concreto fa-
bricados. Quanto à forma geométri-
ca, foram utilizados 16 tipos, sendo
06 de blocos, 06 de canaletas, 02 de
compensadores e 02 de vedação. Na
Figura 8 podemos visualizar as tipolo-
gias aplicadas.
Para assentamento e grauteamento
dos blocos optou-se pela utilização de
argamassa e graute industrializados es-
pecíficos para assentamento de blocos
de concreto.
u Figura 5
A resistência dos blocos, argamas-
Detalhe da modulação dos diferentes tipos de blocos
sa e graute foi definida pelo calculista

28 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


estrutural. Os blocos começam com 26 2,50m, com traspasse de 0,6m. A bar- letes de blocos e demais materiais,
MPa nos primeiros pavimentos até 4 ra de 2.5m avança sobre a laje do pavi- do caminhão de abastecimento até
MPa nos últimos andares. mento superior em 0,6m. o local de estocagem, e do local de
estocagem até a entrada do eleva-
7. ARMAÇÕES 8. EQUIPAMENTOS E dor de carga;
A tecnologia em alvenaria estrutural FERRAMENTAS PARA u Carrinhos de carga para transpor-
trabalha com armações nos pontos de EXECUÇÃO DA OBRA te dos pallets de blocos, passando
graute e canaletas (Figura 9). Foram considerados para a execu- pelo elevador e levando até o local
Cada pavimento de apartamentos ção da obra os equipamentos e ferra- onde será ser assentado, nos devi-
possui 571 pontos de graute, sendo ao mentas listados abaixo: dos andares;
todo 13.133 pontos nos 24 pavimen- u 02 elevadores para transporte de u Misturadores elétricos de argamas-
tos. Cada ponto de graute é composto funcionários e carga (serão instala- sa e graute distribuídos pelo pavi-
por 1 barra ∅12.5mm com 1,70m de dos após o 5º pavimento); mento onde estiver sendo executa-
comprimento e 1 barra ∅12.5mm com u Empilhadeira para transportar pa- da a alvenaria;
u Materiais básicos, além de galgas
de 1 cm como gabarito para o

u Figura 6
Detalhe da modulação dos diferentes tipos de blocos com a locação das
caixas de elétrica

u Figura 7
Vista de uma das paredes, contendo a locação dos pontos de elétrica, u Figura 8
as janelas de inspeção de graute e os pontos de graute Tipologias aplicadas no projeto

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 29


espaçamento correto de junta entre tes em blocos no pavimento térreo. realização das furações nos blocos
os blocos. Essa central conta com 01 Extruso- previamente à sua utilização de-
u Central de cortes: a construtora op- ra que realiza cortes para elétrica, mandou um projeto de modulação
tou por montar uma central de cor- telefonia e janelas de inspeção. A mais detalhado, porém aumentou o
controle do uso e a verificação do
correto posicionamento das janelas
de inspeção e pontos de elétrica,
telefonia e sistemas.

9. EQUIPES DE TRABALHO E
FORMA DE RELACIONAMENTO
ENTRE A EXECUÇÃO
DAS TAREFAS
A execução da alvenaria, a fabrica-
ção da argamasse e do graute, e os
controles da sua produção ocorrem
conforme determina a norma ABNT
NBR 15961-2 – Alvenaria Estrutural:
Blocos de concreto – Parte 2: Execu-
ção e controle de obras.
Para a correta execução dos servi-
ços, foram desenvolvidos Procedimen-
tos de Execução de Serviço e Fichas
de Verificação de Serviço, dentre eles,
para a execução da alvenaria e produ-
u Figura 9 ção da argamassa e do graute, funcio-
Detalhe das armações do graute vertical nários da produção foram treinados e
verificações constantes durante a exe-
cução dos serviços são feitas, de modo
a garantir a sua aderência aos projetos
e a qualidade construtiva.
A marcação da 1ª fiada ficou sob
responsabilidade do encarregado da
construtora, sendo conferida posterior-
mente pelo engenheiro da obra.
O serviço de limpeza do fundo dos
blocos que receberão graute, a coloca-
ção das barras de ferro verticais, coloca-
ção de grampos de amarração, assen-
tamento das fiadas até o respaldo das
paredes, colocação do graute em seus
respectivos pontos indicados em projeto,
limpeza do andar no final do dia, coloca-
ção de forma metálica e com ferragem
u Figura 10
da escada de todos os pavimentos fica-
Ferramentas para execução
ram por conta da empresa terceirizada.

30 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


A concretagem das lajes é feita por
mão de obra terceirizada.
A colocação de folhas de portas,
aplicação do gesso, pintura interna e ex-
terna é feita por empresas terceirizadas.
O abastecimento de materiais nos
andares de trabalho de alvenaria, a co-
locação dos corrugados de elétrica, cai-
xas, batentes de madeira e a laje ficaram
sob responsabilidade da construtora.

10. PROCEDIMENTO DE
PRODUÇÃO DA ALVENARIA
A sequência de produção emprega-
da consiste:
u Colocação da proteção na periferia a Furação de bloco com extrusora b Bloco com caixinhas instaladas

do edifício;
u Colocação de ponto de energia e u Figura 11
água no andar para o misturador
Máquina extrusora e cortes realizados para elétrica
elétrico;
u Marcação da 1ª fiada (blocos com
as janelas de inspeção previamente
furados no térreo, onde serão grau-
teados posteriormente);
u Conferência da marcação, checan-
do medidas dos cômodos, esqua-
dro em ângulos retos, lados de as-
sentamento dos blocos (o bloco de
34 pode ser assentado do lado er-
rado, fazendo que não concorde a
fiada de cima com alinhamento e di-
mensões do bloco da próxima fiada)
e desalinhamentos com as fiadas
do andar de baixo (este momento
é primordial, pois se a 1ª fiada está
bem feita, a probabilidade do ser-
viço ser realizado com qualidade é
muito grande, no que diz respeito a u Figura 12
sequência de modulação); Etapa prévia de concretagem da laje de um pavimento-tipo, com as
u Limpeza das bases dos blocos onde ferragens de espera dos pontos de graute
serão grauteados, removendo toda a
massa de assentamento da 1ª fiada; alvenaria de vedação, e ferramentas canaletas das contravergas das ja-
u Colocação de materiais no pavimen- para execução; nelas e peitoris de áreas de serviço
to (blocos, sacos com argamassa, u Assentamento dos blocos até a 7ª (o eletricista acompanha esta etapa,
grampos de amarração, barras de fiada, com respectivos grampos (in- pois vai inserindo os corrugados por
aço), para posterior amarração de dicados em projeto), enchendo as dentro dos blocos);

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 31


u Conferência de colocação de todos brar rebarbas caso necessário); u Montagem de andaimes metálicos;
os grampos e checagem de arga- u Limpar novamente a base de con- u Assentamento dos blocos da 8ª fia-
massa de assentamento, que pode creto da laje, onde será grauteado; da até a 14ª, com respectivos gram-
diminuir muito o espaço interno u Grauteamento; pos (indicados em projeto), enchen-
onde será aplicado o graute (que- u Subida da proteção periférica; do as canaletas das contravergas
e vergas das janelas e dos vitrôs (o
eletricista acompanha esta etapa,
pois vai inserindo os corrugados por
dentro dos blocos);
u Colocação de formas e armação
para vigas de concreto especifica-
das em projeto;
u Colocação de armadura na cinta de
amarração e grauteamento;
u Conferir nível do respaldo;
u Subida da proteção periférica;
u Colocação de laje escorada, com ar-
madura e com tubulação de elétrica;
u Checagem das escoras e armadu-
ras para liberação de concretagem
posterior;
u Colocação de gabarito metálico
para garantir medidas e ângulos
u Figura 13 nos fossos dos elevadores, pois o
Etapa de assentamento dos blocos até a 7ª fiada mesmo está no limite das dimen-
sões das cabines e trilhos por con-
ta do cálculo de tráfego (não existe
margem de erro para este caso);
u Colocação do madeirite plastifica-
do em todo o perímetro do edifício
e onde existem shafts e dutos para
delimitar a área de concretagem;
u Montagem da forma metálica da es-
cada com ferragem;
u Concretagem da laje;
u Colocação de mangueiras com bicos
aspersores, sobre a laje, para manter
qualidade na cura do concreto.
Todos os blocos têm que subir já
previamente cortados/furados para
os andares onde serão utilizados.
Desta forma, além de aumentar a pro-
dutividade, evita a geração de sobras
e pó, transporte vertical de entulho,
u Figura 14
poluição sonora e ainda diminui o ris-
Etapa de assentamento das últimas fiadas
co de acidentes.

32 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


11 CONTROLE DA PRODUÇÃO é vantajosa se realizada com projetos de materiais por falhas de manuseio e
E DA QUALIDADE detalhados e com planejamento da armazenamento, uma maior aderência
O acompanhamento dos serviços execução, aquisição e armazenamen- ao planejamento físico e um processo
é feito através de FVS – Fichas de Ve- to de insumos. Pôde-se verificar uma evolutivo na execução dos serviços
rificação de Serviços, que contêm a menor ocorrência de falhas de for- em função da repetitividade. Dessa
sequência crítica de execução do ser- necimento de materiais, uma menor forma, as vantagens e expectativas
viço, o monitoramento da qualidade e ocorrência de desperdícios e perdas esperadas se mostraram atendidas.
data do término de cada etapa para
cada serviço.
O controle tecnológico da alvena-
ria, da argamassa e do graute é re-
alizado conforme definido na ABNT
NBR 15961-2 – Alvenaria Estrutural:
Blocos de concreto – Parte 2: Execu-
ção e controle de obras. Consiste na
moldagem e ensaios de resistência à
compressão de corpos de prova da
argamassa e do graute, através de
empresa especializada, para cada re-
sistência definida e da construção e
ensaio de resistência à compressão
de prismas, também para cada grupo
de resistência de bloco + argamassa +
graute (Figura 15).
u Figura 15
12. CONCLUSÃO Ensaio da resistência à compressão de prisma
Através do estudo de caso do em-
preendimento chega-se à conclusão
de que a alvenaria estrutural é um sis-
tema construtivo bastante eficiente,
que permite alto grau de padronização
e racionalização. No entanto, para que
este potencial seja aproveitado, é de
extrema importância que sejam feitos
investimentos em projeto, execução e
planejamento de obra.
O estudo de caso realizado repre-
senta um bom exemplo de investimen-
to feito na fase de projeto, no qual a
construtora DHF investiu na tecnologia
BIM para a construção virtual de pavi-
mentos-tipo, com o intuito de minimizar
interferências e possíveis problemas.
Por fim, conclui-se que a realização
u Figura 16
de um edifício de 24 pavimentos em al-
Alvenaria finalizada na edificação
venaria estrutural, apesar de incomum,

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 33


u industrialização da construção

História da alvenaria
estrutural no Brasil
CARLOS ALBERTO TAUIL – Arquiteto
Sócio-Diretor da Métrica Ass.e Cons. Arq. e Const. Civil e Assessor técnico
da Associação Brasileira da Indústria de Blocos de Concreto – “BlocoBrasil”

1. INTRODUÇÃO

A
Alvenaria Estrutural tem
sido usada há séculos pelo
mundo afora. Entretanto, al-
venaria Estrutural com Blocos de Con-
creto é uma inovação relativamente re-
cente. Em meados do século passado,
máquinas manuais produziam os blo-
cos, mas, a partir dos anos 1960, com
a construção de usinas hidrelétricas no
Brasil e, portanto, a necessidade de
se construir uma vila para os milhares
de trabalhadores, a construtora impor-
tou dos Estados Unidos máquinas do
tipo vibroprensa, mecânicas e de alta
capacidade de produção de blocos de Operários executando a construção de edificação em alvenaria estrutural
concreto, para serem usados nas al-
venarias estruturais de casas, escolas, grama de construção de moradias por da junto a uma pedreira em Guarulhos,
hospitais etc., que, após a conclusão meio da fundação do Banco Nacional com máquinas trazidas da obra da
da usina, viraram cidades, como Jupiá de Habitação (BNH) e de um sistema construção das casas da vila das usi-
e Ilha Solteira, no oeste do estado de de crédito e financiamento para permitir nas hidrelétricas citadas, passa a ser a
São Paulo. a construção de milhares de moradias primeira fornecedora de blocos estrutu-
financiadas a essa leva de novos mora- rais de concreto para AE em São Paulo.
2. CONSTRUÇÃO DE MORADIAS dores das cidades. Os diretores dessa indústria observa-
A industrialização no Brasil após a Com esse modelo de crédito e fi- ram então o grande potencial de mer-
Segunda Guerra Mundial levou a que nanciamento, em 1968 é construído cado para a comercialização de blocos
grande massa de trabalhadores do no bairro da Lapa, em São Paulo, o pri- estruturais na construção de edifícios
campo migrasse para as cidades à meiro conjunto de prédios residenciais habitacionais, cujos projetos induziam
procura de empregos de melhor quali- em Alvenaria Estrutural (AE) de blocos à construção de paredes repetitivas e
dade, fazendo com que a rápida urba- de concreto. Na época, o meio técni- moduladas em 20 cm, com blocos es-
nização demandasse a construção de co chamava esse tipo de estrutura de truturais 19x19x39 cm.
moradias para atender essa população Alvenaria Armada. No começo, eram O eng. Cid Luiz Racca, um dos
recém-instalada nas áreas urbanas. erguidos prédios de quatro andares e, diretores dessa indústria, apresenta
Somente em 1965, já no governo posteriormente, de até doze andares. no 1° Encontro Nacional da Constru-
militar, decide-se criar um grande pro- Nessa época, uma indústria instala- ção (Enco), em 1972, um manual de

34 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


cálculo orientativo para o projeto es- A título de exemplo, em 1975 a Cia. 14x19x34 cm e blocos de encontro de
trutural em Alvenaria Armada, quando Construtora Guaratinguetá tinha um paredes estruturais de 14x19x54 cm,
ainda não tínhamos normas brasileiras desafio para construir o Edifício Muriti, para se manter a modulação de 20cm.
de projeto de AE. Havia, no entanto, em São José dos Campos (SP), com Com o conhecimento da literatu-
desde 1968, mas ainda ignorado pelo pilotis e mais 16 pavimentos-tipo. O ra americana da National Concrete
meio técnico em geral, um anteprojeto prazo era muito pequeno e só foi viabi- Masonry Association (NCMA), das nor-
de norma elaborado na COPPE/UFRJ lizado com o projeto estrutural em alve- mas americanas da American Standard
(Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós- naria armada elaborado pelo eng. José for Testing and Materials (ASTM) e uma
-Graduação e Pesquisa de Engenha- Luiz Pereira, um pioneiro no Brasil no palestra do eng. Greer Ferver, de San
ria, da Universidade Federal do Rio de cálculo de edifícios altos em alvenaria Diego, Califórnia (EUA), que havia sido
Janeiro) pelo engenheiro e professor- armada de blocos de concreto. proferida no Instituto de Engenharia de
-doutor Fernando Luiz Lobo Carneiro A partir de 1976, trabalhando na in- São Paulo (IE-SP) em 1968 e na qual
(1913-2001), feito por encomenda do dústria de blocos, fui testemunha ocu- foram mostrados o projeto e a constru-
BNH, mas sem uso até então, po- lar do desenvolvimento da AE em várias ção do primeiro edifício (Hotel Hanalei)
rém de conhecimento do eng. Jorge construtoras da época: Balbo, Con- feito em Alvenaria Armada nos Estados
Kurken Kurkdjian (1937-1989). cima, Tibério, Sergus, Jaú etc. Essas Unidos, alguns calculistas se propu-
Como arquiteto, e tendo projetado e empresas produziam habitações para seram a enfrentar projetos de edifícios
acompanhado a construção de sobra- os Inocoop´s (Instituto de Orientação mais altos, mesmo não existindo até
dos e edifícios de quatro pavimentos às Cooperativas Habitacionais de São então normas da ABNT (Associação
entre 1972 e 1975 na construtora Zar- Paulo), Cohab´s (Central da Habitação Brasileira de Normas Técnicas).
vos Imóveis, atividades nas quais pude da Prefeitura de São Paulo) e para o Em 1977, a Cohab-SP coloca em
aplicar conceitos de coordenação mo- mercado imobiliário. A cada obra, ob- licitação o primeiro conjunto de 37 pré-
dular desenvolvidos com o grupo SAR, servávamos a necessidade de criar no- dios para serem erguidos em Itaquera,
na Holanda, vi na AE grande potencial vos tipos de blocos, além do bloco in- bairro da zona leste de São Paulo. A
para o desenvolvimento de um sistema teiro: o meio-bloco,a canaleta inteira,a construtora Beter aceitou o desafio de
construtivo muito flexível em termos meia-canaleta e outros. Mais tarde, utilizar um projeto alternativo em Alvena-
de organização do espaço, permitindo quando se passou a projetar as pare- ria Armada, elaborado pelo escritório do
soluções arquitetônicas para a constru- des com blocos de 14x19x39 cm, foi eng. Kurkdjian, projeto este contratado
ção de edificações as mais diversas. necessário fabricar blocos de canto de como investimento de uma indústria de
blocos de concreto, apostando no su-
cesso da empreitada. Estavam certos,
pois a partir daí muitos outros conjuntos
de edifícios de quatro e cinco pavimen-
tos foram feitos em Alvenaria Armada.

3. DISCUSSÕES TÉCNICAS DA AE,


SUA NORMALIZAÇÃO
BRASILEIRA E ENSINO
Após um Seminário de Alvenaria
Estrutural no Instituto de Engenharia
de São Paulo (IE-SP), no final de 1977,
com grande participação da cadeia
produtiva da construção civil, é final-
mente instalada a Comissão de Estu-
do das Normas Brasileiras de Alvena-
Edifício residencial com 19 pavimentos, em Diadema (Construtora Tecnisa) ria Estrutural com Blocos Vazados de

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Concreto Simples, pelo comitê CB-2 execução e controle. Vale lembrar mia começa a se interessar pela Alve-
da ABNT (Comitê Brasileiro da Cons- que hoje essas normas estão todas naria Estrutural, inclusive pelo início
trução Civil da ABNT). Faziam parte revisadas, acompanhando o estado de produção do bloco cerâmico para
desta comissão, quando da instalação, da arte da normalização internacio- AE. Diversas faculdades de engenha-
os calculistas Kurkdjian e José Luiz Pe- nal, sob a coordenação do eng. Prof. ria, como a Escola Politécnica da USP
reira, engenheiros Carlos Eduardo Tan- Dr. Guilherme Parsekian. (Universidade de São Paulo), Unicamp
go e Paulo Helene, do IPT (Instituto de Um evento de bastante repercus- (Universidade de Campinas), Escola
Pesquisas Tecnológicas de São Paulo); são, em 1978, foi o Colóquio de Alve- de Engenharia Civil da USP e Federal
engenheiros Wanderley Guimarães, da naria Estrutural, promovido pelo IBRA- de São Carlos, por intermédio de al-
Concremat, Salvador Giamusso, da CON (Instituto Brasileiro do Concreto) guns professores, vão aos poucos in-
ABCP (Associação Brasileira de Cimen- ,com apresentação de trabalhos em re- troduzindo o ensino da AE nos cursos
to Portland), e este autor, além de di- lação a projetos, produção de blocos, de graduação. No sul, professores da
versos outros colegas de construtoras ensaios, controle estatístico dos blocos UFRGS (Universidade Federal do Rio
e indústrias. de concreto, visita a uma obra do arq. Grande do Sul) e de Santa Maria-RS, e
Depois de mais de duzentas reu- Fuad Jorge Curi na Vila Santa Catarina, da UFSC (Universidade Federal de San-
niões, realizadas entre 1977 e 1989, em São Paulo. Nessa obra, o sistema ta Catarina), de Florianópolis, passam a
e mais de 100 participantes ao longo construtivo de AE se completava com ter bastante interesse no ensino e pes-
desse tempo, finalmente foi editada lajes, escadas e vergas pré-fabricadas, quisa da AE.
a norma brasileira de projeto, última com o uso de blocos arquitetônicos Com o início da produção de lajes
norma do conjunto de normas de re- nas fachadas, sem utilizar carpintaria, alveolares em concreto protendido com
quisitos, ensaios diversos de resistên- portanto, sem o uso de madeira. Tra- 3 a 12 metros de vão, arquitetos pas-
cia à compressão simples de bloco, tava-se de um conjunto de quatro tor- sam a projetar escolas, mezaninos de
prisma e parede, além da norma de res de doze pavimentos em formato de galpões industriais, creches, unidades
“Y”, com seis apartamentos por andar. básicas de saúde (as UBS), presídios
Após esse colóquio e uma viagem (celas e muralhas) utilizando o sistema
deste autor com o Eng. Kurkdjian aos AE e lajes alveolares. Assim, racionali-
Estados Unidos para saber se havia zavam-se as construções, eliminando
tido alguma mudança no critério de fôrmas e escoramentos, e aumentando
projeto de AE por tensões admissíveis a velocidade de execução com equi-
para estado-limite último, voltamos pamentos adequados para a logística
com a convicção que no estado da arte de transporte horizontal e vertical dos
de então (1980), a norma de projeto de- então blocos paletizados e das lajes al-
veria caminhar pelo critério de tensão veolares pré-fabricadas.
admissível, que perdurou até a sua revi- Da mesma maneira, as construtoras
são em 2013, quando passou a adotar de grandes conjuntos habitacionais para
o critério de estado-limite. as Cohab´s e Inocoop´s aplicam as lajes
Apesar de muitas palestras feitas alveolares em prédios de 4 a 13 pavi-
pelo Brasil sobre o sistema construti- mentos, com 3 a 7 metros de vãos entre
vo em AE, surgiram apenas exemplos paredes estruturais. Divisões internas
pontuais de obras com este sistema são construídas com blocos de vedação
devido à falta de uma indústria forte de 6,5 ou 9 cm de largura, mas também
instalada nos estados do Sul, Sudes- modulados em 20 cm. Eliminava-se
te, Nordeste, Centro-Oeste e Norte do deste modo a preocupação de não po-
Brasil. Essa expansão da indústria só der derrubar parede interna em caso de
aconteceu após o ano 2000. reforma na moradia. A AE mostrava as-
Prédio em Alvenaria Estrutural,
em Alphaville (Construtora MPD) Ao longo dos anos 1980, a acade- sim a grande flexibilidade oferecida ao se

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projetar com este sistema construtivo. dos produtos qualificados para as obras 5. CONCLUSÃO
públicas, inicialmente, e posteriormente Com milhares de prédios cons-
4. DÉCADA DE 1990 A 2010 também para o mercado imobiliário. truídos em AE pelo nosso país, sen-
Com as normas da ABNT de AE Em 2009, volta a ser farto o crédito do a maior concentração no estado
publicadas em seu conjunto, a indús- federal, agora não mais pelo BNH (ex- de São Paulo, e com diversas teses
tria cresce com novas plantas se insta- tinto em 1985), mas pela Caixa Econô- de mestrado e doutorado, pesqui-
lando fora da região metropolitana de mica Federal, para uma nova etapa de sas acadêmicas, intercâmbio in-
São Paulo e em outros estados, pro- construção de milhares de moradias ternacional e alguns livros publica-
duzindo blocos e pisos intertravados pelo Brasil. Grandes construtoras de dos, o Brasil apresenta certamente
de concreto e outros sistemas de lajes São Paulo, Rio e Minas levam o sistema grande conhecimento do processo
pré-fabricadas (lajes treliçadas) surgem construtivo em AE para muitos estados construtivo.
no mercado. O setor passa então a se brasileiros, motivando investidores a Tem-se agora o objetivo de al-
preocupar ainda mais com a qualidade instalar plantas industriais para a pro- cançar o melhor desempenho possí-
dos blocos de resistências cada vez dução de blocos de concreto. vel de habitabilidade e conforto que
mais altas, para atender os projetos de Em 2003, as indústrias do Rio as moradias em AE possam oferecer
edifícios residenciais, com 15,18, 20 e Grande do Sul, Santa Catarina e Pa- e que, em conjunto com outros com-
22 pavimentos. raná criam uma associação chamada ponentes das paredes, estarão sem
Os programas de qualificação de BlocoSul que, em 2005, com a adesão dúvida atendendo aos requisitos da
componentes começam a exigir dos fa- de outros estados, passa a se chamar norma NBR:15.575 -2013 da ABNT,
bricantes de blocos de concreto - e das BlocoBrasil-Associação Brasileira da a Norma de Desempenho de Edifica-
construtoras - maior rigor na compra Indústria de Blocos de Concreto. ções Habitacionais.

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u industrialização da construção

Paredes de concreto – como ter uma


obra sem manifestações patológicas
ARNOLDO WENDLER – Engenheiro Civil RUBENS MONGE – Engenheiro Civil
Diretor da Wendler Projetos e Sistemas Estruturais Gerente de edificações da Associação
Coordenou o grupo de estudos da Norma NBR 16055 Brasileira de Cimento Portland (ABCP)
(Paredes de Concreto) da ABNT Coordena o Grupo Paredes de Concreto

1. INTRODUÇÃO 2. ESPECIFICAÇÃO DO CONCRETO u Retração hidráulica (ou secagem), pela

O
sistema parede de concre- Uma das grandes preocupações do perda de água quando já endurecido.
to é um sistema construtivo sistema é a possibilidade de fissuração. Por isso, deve-se dar muita atenção
industrializado. Sua carac- O sistema parede de concreto apresen- a todo o processo desde o seu plane-
terística básica é permitir uma obra de ta uma estrutura muito rígida, com alta jamento, passando por um bom projeto
grande velocidade e repetitividade, com restrição à variação volumétrica. É uma e execução, com especial atenção ao
uso intenso de fôrmas manoportáveis, estrutura que gera altas tensões quan- concreto. É necessário uma boa especi-
que permitem a execução de duas a do submetida à imposição de deforma- ficação do material nos projetos, com es-
quatro unidades habitacionais por dia. ções, como a retração. tudos de dosagem detalhado e ensaios
Com esta velocidade construtiva, é A retração é um fenômeno intrínse- de pré-caracterização para confirmar o
fundamental uma obra bem planejada e co ao material concreto. Ela tem dife- recebimento e uso do material idealizado.
executada, pois não há tempo para se rentes causas: Exemplo de especificação de concreto
pensar em soluções pontuais para pro- u Retração plástica inicial, por perda pode ser encontrado no Quadro 1.
blemas localizados ou modificar o pro- de água com o concreto ainda não
cesso construtivo durante a execução. endurecido; 3. POR QUE OCORREM RETRAÇÕES
Tudo precisa funcionar perfeitamente, u Retração química, pelo menor volu- Quando não são tomados todos
evitando qualquer desvio que origine me dos cristais formados na reação os cuidados necessários, pode ocorrer
reparos e retrabalhos. do cimento; uma retração acima do normal causada
pelos seguintes fatores:
u Quadro 1 – Especificação do concreto “parede-laje” u Concreto autoadensável mal di-
mensionado, com poucos finos e
Classe de agressividade II
muita água. É extremamente impor-
Resistência característica fck = 25 MPa
tante um estudo do traço do concre-
Módulo de deformação Ec (tangente) ≥ 28 GPa
to por profissional especializado, seja
Coeficiente de retração menor que 0,035%, curado nas mesmas condições da obra,
ele da concreteira, laboratório de en-
segundo a norma ASTM C 157
saios ou consultor independente, e
Resistência de desforma fck = 3 MPa
a consulta à ABN TNBR 15823 para
Espalhamento (Slump-flow) 600 ± 50 mm
obter o concreto autoadensável ade-
Relação Água-Cimento a/c ≤ 0,60
quado à utilização.
Consumo mínimo de cimento + fíler inerte = 370 kg/m3
Sendo fíler o material inerte com finura entre 0,075 mm (peneira 200) e 0,106 mm (peneira 150) u Falta de cura, causando grande
Utilizar compensador de retração e/ou fibras têxteis para evitar retração (mínimo 300 g/m3) perda de água inicial. Pela rapidez
Material: polipropileno – tipo: multifilamento do processo construtivo, há muitas
Massa específica: 0,90 ± 0,05 g/cm3
paredes sendo curadas simultanea-
Comprimento mínimo: 20 mm
mente, o que, em princípio, inviabiliza
Dimensão máxima do agregado: 12,5 mm
uma cura úmida bem feita. O ideal é

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e utilizar compensador de retração e ou
fibras têxteis para aumentar a resistência
à tração nas idades iniciais, quando ainda
não se tem aderência entre a ferragem e
o concreto. Finalmente, pode-se pensar
na utilização de aditivos compensadores
de retração que praticamente zeram a
deformação imposta de longo prazo.
As obras que utilizam concreto com
traço bem estudado praticamente não
apresentam fissuras sistêmicas.

u Figura 1 4. PLANEJAMENTO
Composição esquemática do concreto, sem e com a presença Nas obras com paredes de concre-
de agregados finos to, um cuidado especial deve ser dado
ao planejamento, com estudos sobre a
trabalhar com a cura química, obser- u Existência de vibrações no terreno logística a ser empregada, treinamento
vando sempre se há resíduo do pro- nos primeiros dias, causadas, por de mão de obra de montadores, plano
duto nas paredes, para não influen- exemplo, por impactos nas paredes de ataque e plano de controle da qua-
ciar na aderência do revestimento. ou terraplanagem com rolo vibratório. lidade. Com a velocidade da obra, esta
Ainda há mais duas causas mecânicas Os pontos preferenciais para o apa- organização da produção é essencial.
para o aparecimento de fissuras. São elas: recimento dessas fissuras são: Baseados nos projetos já devida-
u Desforma com muito impacto, pro- u Paredes muito longas, sem junta mente concluídos e compatibilizados,
vocada pelo uso deficiente do des- de controle; deve-se montar um plano de produção
moldante ou pela utilização de ferra- u Cantos de portas e janelas; detalhado e completo. Nesse momento,
mentas inadequadas para a retirada u Posição de eletrodutos (eletrodutos é de grande ajuda que os projetos já te-
das fôrmas, principalmente nos can- mal posicionados, com poucos es- nham sido feitos em BIM, facilitando a
tos de janela e linha de espaçadores paçadores, entre tela/eletroduto ou visualização simultânea, em 3D, de di-
(faquetas, gravatas ou cones); tela/fôrma); ferentes sistemas e suas interferências.
u Juntas frias (horizontal entre pavi-
mentos, vertical entre concretagens
de dias consecutivos e inclinadas
entre concretagens de caminhões
sucessivos com intervalo após o iní-
cio de pega);
u Fissuras no primeiro pavimento de-
vido à restrição de movimentação
imposta pela fundação;
u Fissuras no último pavimento de-
vido à dilatação térmica da laje
de cobertura.
O ponto fundamental para diminuir a
fissuração é estudar o traço do concre-
to, com um consumo de finos maior e
u Figura 2 uma relação a/c menor. Adicionalmente, u Figura 3
Aplicação de cura química Eletroduto com espaçador
deve-se cuidar dos processos de cura

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5. COMPATIBILIZAÇÃO como qualquer parede sujeita a esforços demanda projetos voltados diretamente
DE PROJETOS horizontais ou momentos fletores aplica- à produção. Ou seja, o grau de detalha-
Neste sistema, todas as paredes dos - são armadas com duas telas e co- mento e simplificação deve facilitar o en-
compõem a estrutura da edificação. brimentos previstos na NBR 6118:2014 tendimento nas frentes de trabalho.
Portanto, qualquer elemento embutido (projeto de estruturas de concreto). Para evitar imprevistos e improvi-
ou abertura interfere no funcionamen- Quando bem projetada, a parede sações que afetariam a velocidade e a
to estrutural. Por isso, o sucesso da de concreto com 10 cm de espessu- qualidade da obra, o plano de ataque
construção com paredes de concreto ra é capaz de atender aos requisitos deve considerar o sistema de fôrmas
depende da existência de projetos bem de desempenho da NBR 15575. Para escolhido. Características como facili-
compatibilizados. Além de garantir uma assegurar o desempenho acústico, dade na montagem e desmontagem,
estrutura portante, os projetos devem porém, deve-se evitar a colocação de peso por metro quadrado dos painéis e
solucionar interferências como inserts, quadros de distribuição em paredes de quantidade de peças soltas influenciam
aberturas ou instalações embutidas, divisa e principalmente a colocação de diretamente a execução do sistema.
que geram impacto no encaminhamen- caixinhas de elétrica fundo a fundo, o Os ciclos rápidos de execução tam-
to das cargas da estrutura. que criaria um túnel de passagem de bém exigem que haja uma dinâmica de
Pelo fato de as paredes serem estru- som de um ambiente para outro. suprimentos ágil e estruturada, principal-
turais, a NBR 16055:2012 Parede de con- mente em relação aos insumos principais:
creto moldada no local para a construção 6. EXECUÇÃO concreto, armações e jogos de fôrmas.
de edificações – Requisitos e procedi- Tão importante quanto os projetos
mentos prevê que projetos de fôrmas, de compatibilizados é a boa execução das 7. PROCEDIMENTOS EXECUTIVOS
escoramentos, detalhes embutidos ou va- paredes. Os principais cuidados nas A etapa executiva do sistema pa-
zados e os projetos de instalações devam instalações elétricas se referem ao po- redes de concreto segue os seguintes
ser validados pelo projetista estrutural. sicionamento correto e boa vedação procedimentos:
O projeto deve dar atenção especial do sistema. Deve-se lembrar que esses 1) Antes de iniciar a construção, o ter-
às instalações elétricas e hidráulicas. elementos estarão colocados na fôr- reno deve estar nivelado e com a
No caso das instalações hidráulicas, ma quando da concretagem. Portanto, fundação (radier, normalmente) de-
não se pode colocá-las simplesmente sofrerão a pressão do concreto fresco vidamente executada;
dentro da parede, pois isto não garan- e eventual adensamento por vibração. 2) Conforme determinações do pro-
tiria a sua manutenibilidade, prevista na Por isso, é necessário utilizar caixinhas jeto estrutural, montam-se as telas
NBR 15575:2013 Edificações habita- elétricas vedadas especiais (alumínio ou soldadas da armadura (a armação
cionais – Desempenho. plástico) e eletrodutos resistentes e com recebe espaçadores que ajudam a
Não são admitidas tubulações ho- conexões próprias para evitar a entrada garantir o cobrimento mínimo {das
rizontais, exceto em trechos de até um de nata de cimento neles. O posiciona- armaduras);
terço do comprimento da parede, não ul- mento será dado com a colocação de 3) Também são instalados kits de ins-
trapassando 1 m, desde que este trecho espaçadores em quantidade apropriada. talações hidráulicas e elétricas;
seja considerado não estrutural. Também Na execução, deve-se lembrar tam- 4) As fôrmas são posicionadas de
são proibidas tubulações (verticais ou ho- bém que, devido à velocidade da obra, acordo com a sequência executiva
rizontais) nos encontros de paredes. o planejamento do escoramento resi- descrita no projeto (os painéis de-
A espessura mínima das paredes dual permanente é fundamental para vem ser montados e travados com
com altura de até 3 m deve ser de 10 as deformações do sistema. O projetis- o uso de grampos ou pinos);
cm. Permite-se espessura de 8 cm ape- ta de estruturas deve atuar em conjunto 5) As fôrmas de laje são montadas
nas para paredes internas de edifica- com a construtora para estabelecer o logo após a conclusão das fôrmas
ções de até dois pavimentos. Paredes esquema de escoramento e as idades para parede (a fixação desses ele-
com até 15 cm de espessura utilizam de retirada dele. mentos também se dá com o uso
uma tela centrada para armação. Já as Por se tratar de uma solução que visa de pinos de travamento);
paredes com mais de 15 cm – assim à industrialização, o sistema construtivo 6) Após conferência do engenheiro,

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6. Equipamentos disponíveis;
OS 11 “MANDAMENTOS” DA PAREDE 7. Suprimentos;
DE CONCRETO MOLDADA NO LOCAL 8. Logística: movimentação de mate-
1. Seguir fielmente todas as suficiente (2 unid./m de
riais e estocagens.
diretrizes do projeto estrutural: eletroduto);
posição das armaduras, 6. Nunca posicionar duas caixas
reforços, juntas de indução etc.; elétricas uma “de costas”para
9. CONTROLE DA QUALIDADE
2. Utilizar sistemas de fôrmas a outra; Cuidados com detalhes de arma-
específicos para o sistema e 7. Nunca encostar dois ou mais
duras, escoramento, tolerâncias, cura
não fazer adaptações; eletrodutos dentro da parede;
3. Seguir as diretrizes do projeto 8. Tomar providências para e manuseio das fôrmas são essenciais
de montagem/desmontagem que não ocorram interrupções para o sucesso do sistema construtivo.
das fôrmas – certificar-se durante a concretagem;
de montar todas as peças do 9. Não provocar impactos nas
A concretagem requer controle tecno-
sistema de fôrmas; paredes durante a desforma; lógico rigoroso. No estado fresco, os
4. Colocar espaçadores 10. Não permitir vibrações
ensaios necessários são:
plásticos de armadura em próximas às paredes de
número suficiente (6 unid./m2 concreto, como, por exemplo, u Abatimento (Slump), conforme a
nas paredes e 4 unid./m2 compactação de ruas, ABNT NBR NM 67;
nas lajes); cravação de estacas etc.;
5. Colocar espaçadores plásticos 11. Fazer cura adequada por u Espalhamento (slump flow), de
nos eletrodutos em número pelo menos 3 dias. acordo com a ABN TNBR 15823-2;
u Massa específica do concreto, con-
inicia-se a concretagem (o concre- fôrmas para dar sustentação à laje; forme a ABNT NBR 9833;
to deve ser suficientemente plásti- 10) À medida em que cada pavimento u Moldagem de corpos de prova, con-
co para preencher todos os vazios é concluído, as fôrmas são passa- forme a norma ABNT NBR 5738.
da fôrma e impedir que haja segre- das para o pavimento superior ou Ensaios também devem ser realiza-
gação, principalmente na parte in- para outro trecho para dar continui- dos no concreto endurecido, como a
ferior das paredes); dade à construção em série. análise de corpos de prova moldados
7) Após a concretagem, é feita a re- ATENÇÃO: Se alguma etapa pro- durante a concretagem, atendendo ao
gularização do concreto com ré- dutiva for executada erroneamente, que estabelece a ABNT NBR 12655.
gua metálica; eventuais patologias podem surgir em
8) Quando o concreto atinge a resis- escala e o tratamento geralmente custa 10. OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO
tência e a elasticidade previstas mais do que a correta execução. As paredes e lajes de concreto
no projeto, as fôrmas são retira- armado são estruturais. Logo, não
das com cuidado para não danifi- 8. VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM podem ser demolidas total ou parcial-
car as peças (o endurecimento do OS CICLOS DE PRODUÇÃO mente pelo usuário. Isso deve constar
concreto pode ser antecipado por 1. Curva de aprendizagem e treina- de forma clara no Manual de Opera-
meio de tratamento térmico (cura mento da mão de obra; ção, Uso e Manutenção (Manual do
térmica) adequado e devidamente 2. Tipologia da obra; Usuário). Se forem notados pontos de
controlado); 3. Projeto de fôrmas; corrosão de armaduras, deve ser provi-
9) O projeto estrutural normalmente 4. Incidência de chuvas ou interrup- denciado o tratamento adequado, com
prevê a permanência de escora- ções da produção; assistência técnica de engenheiro ou
mento residual após a retirada das 5. Aspectos de segurança; empresa especializada.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ABNT NBR 16055:2012 – Parede de concreto moldada no local para a construção de edificações – Requisitos e procedimentos
[2] ABNT NBR 15575:2013 – Edificações habitacionais – Desempenho
[3] ABNT NBR 15873:2010 – Coordenação modular para as edificações
[4] ABNT NBR 12655 – Concreto de cimento Portland – Preparo, controle, recebimento e aceitação

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 41


u entidades da cadeia

A construção de um
sistema de sucesso
RUBENS MONGE ARCINDO VAQUERO Y MAYOR JOÃO BATISTA R. SILVA
ABCP ABESC IBTS

1. INTRODUÇÃO alinhada com as necessidades do país. da no final, mas houve muito trabalho

O
déficit habitacional brasilei- Vale lembrar que o MCMV, embora nesse percurso.
ro representa um desafio suscetível a críticas, ocupa um lugar de
crônico para os administra- destaque no enfrentamento da ques- 2. SURGE O GRUPO PAREDE
dores públicos. A necessidade de no- tão habitacional e é também o principal DE CONCRETO (GPC)
vas moradias acompanha não apenas avalista do sucesso do sistema parede Em 2007, o mercado imobiliário
o constante crescimento populacional, de concreto. Em um estudo apresen- (em especial os segmentos de média
mas também os novos arranjos fami- tado em maio de 2017 no IV Encontro e baixa rendas), liderado pelas empre-
liares e o permanente reordenamento Brasileiro de Administração Pública, sas privadas, encontrava-se aquecido
urbano das cidades brasileiras. Por em João Pessoa/PB, pesquisadores diante do maior poder aquisitivo da po-
isso, encontrar soluções técnicas e da Universidade Federal de Viçosa1 pulação. Mas, para dar sustentação fi-
políticas para esse problema é um ob- computaram a contratação recorde, nanceira aos negócios, as construtoras
jetivo permanente de todo o setor da entre 2009 e 2016, de mais de 4,5 mi- precisavam de sistemas construtivos
construção civil. lhões de unidades habitacionais, nas mais ágeis e competitivos.
O desenvolvimento de um sistema três faixas de financiamento do MCMV Diante da alta demanda, entidades
construtivo capaz de atender à deman- oferecidas à época (ainda não existia como ABCP (Associação Brasileira de
da habitacional com qualidade, rapidez a Faixa 1,5). Ainda segundo o estudo, Cimento Portland), ABESC (Associação
e custo adequado é uma ação prioritá- o MCMV cobre 96,1% do território na- Brasileira das Empresas de Serviços de
ria nesse cenário. Pode-se afirmar que cional, com presença em 5.530 dos Concretagem) e IBTS (Instituto Brasilei-
o sistema parede de concreto moldada 5.570 municípios brasileiros. O uso ro de Telas Soldadas) decidiram buscar
in loco vem cumprindo muito bem esse da parede de concreto nesse universo métodos mais racionalizados de cons-
objetivo. Embora existam exemplos tem sido crescente. trução. Lideraram então visitas técnicas
dessa tecnologia já nos anos 70/80, Mas como o setor de construção ao Chile, Colômbia (Figura 1) e México,
o sistema ganhou corpo no Brasil, de civil se aculturou tão rapidamente países onde o sistema parede de con-
fato, em meados dos anos 2000, ini- para absorver essa nova tecnologia e creto moldada in loco é utilizado em di-
cialmente para atender ao aquecido atender a essa gigantesca necessida- versos segmentos habitacionais.
mercado imobiliário; depois, como uma de de moradias? A resposta está, em As visitas revelaram as vantagens
das principais soluções técnicas ado- parte, ligada a uma iniciativa tomada da solução: eliminação de etapas
tadas no programa Minha Casa Minha em 2007, quando três entidades as- construtivas, redução de ciclos de
Vida (MCMV), a partir de 2009. Estima- sociativas do setor (ABCP, ABESC e execução e prazos; otimização da
-se que, em 2014, a parede de con- IBTS) decidiram unir esforços e bus- mão de obra; maior qualidade; e dis-
creto já estava presente em 36% das car, no exterior, tecnologias industria- ponibilidade de materiais locais. A tec-
unidades produzidas pelo programa, lizadas para a crescente demanda de nologia era mais que adequada para
apresentando-se como solução técnica mercado. A iniciativa foi recompensa- um mercado aquecido.

1
“Minha Casa Minha Vida em Números: Quais conclusões podemos extrair?” (Vinicius de Souza Moreira, Suely de Fátima Ramos Silveira e Fillipe Maciel Euclydes)

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Além disso, era preciso compartilhar
recursos, conhecimentos e energia
nas diversas etapas de desenvolvi-
mento tecnológico.
A primeira ação do GPC foi estabe-
lecer ciclos de estudo por temas rela-
cionados ao sistema, como concreto,
aço, fôrmas, mão de obra, logística,
normalização técnica, concepção es-
trutural e arquitetônica, instalações elé-
trica e hidráulica etc. Cada aspecto foi
minuciosamente estudado e debatido
pelo grupo e os resultados dos traba-
lhos difundidos para o mercado em
workshops e publicações.
Figura 1 – Missão técnica de construtores à Colômbia para conhecer o sistema Em 2008, o mercado já contava com
construtivo paredes de concreto a primeira coletânea brasileira de Ativos
em Paredes de Concreto, lançada du-
A primeira comitiva foi integrada por o fomento à utilização de paredes de rante o 80º Encontro Nacional da Indús-
algumas construtoras, principalmente concreto na construção de casas e tria da Construção (Enic), em São Luís/
as que desejavam ingressar no merca- edifícios dependia de demonstrar ao MA. O trabalho trazia informações rele-
do de baixa renda. Ao todo, foram reali- mercado a competitividade do sistema vantes sobre normalização técnica, sis-
zadas três missões técnicas ao exterior, (eficiência econômica) e o seu valor temas de fôrmas, qualificação da mão
com a participação total de 74 profis- tecnológico, dando-lhe a condição de de obra, uso de telas soldadas, carac-
sionais, representando construtoras, ser uma opção de uso. Para que isso terísticas e propriedades do concreto e
fornecedores, projetistas de estruturas, ocorresse, de fato, era preciso integrar sustentabilidade do sistema. O material
arquitetos e formadores de opinião. O os agentes envolvidos (entidades, pro- deu segurança para as construtoras co-
entusiasmo era grande, assim como jetistas, construtoras e fornecedores), meçarem a adotar o sistema construti-
as dúvidas. No retorno dessas viagens, implantar e acompanhar obras, e obter vo em suas obras. Nos anos seguintes,
as instituições fomentadoras da inicia- uma visão diversificada da tecnologia. o acervo (Figura 2) foi continuamente
tiva decidiram criar o Grupo Parede
de Concreto (GPC), com o objetivo de
integrar a cadeia produtiva e ajudar a
implantar o sistema construtivo no Bra-
sil. Desde o início, o GPC valorizou a
visão sistêmica da solução, base para
um amplo e constante desenvolvimen-
to tecnológico, que abrangeu desde a
criação de componentes específicos
até a normalização técnica.

3. AÇÕES DO GPC PARA


MELHORAR O SISTEMA
O primeiro desafio de qualquer tec-
nologia é demonstrar sua aplicabilida-
de e seu benefício econômico. Assim, Figura 2 - Materiais produzidos pelo GPC

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 43


enriquecido por novas pesquisas e gação da tecnologia pela Caixa Econô- pela construção de 18 mil unidades com
aperfeiçoamentos tecnológicos. mica Federal. Essa situação perdurou até o sistema.
Um projeto relevante para a reestreia junho de 2009, quando o GPC e técnicos
do sistema no Brasil foi um condomí- do banco deram o primeiro passo para 5. SUPORTE TÉCNICO
nio com 618 casas, construídas com a compartilhar informações, de modo a AO MERCADO
tecnologia de paredes de concreto em facilitar a aprovação de financiamentos A utilização crescente do sistema
Várzea Grande, região metropolitana de de empreendimentos que utilizavam o nos empreendimentos habitacionais
Cuiabá/MT. O empreendimento, lançado sistema. Paralelamente, desenvolveu-se trouxe um novo desafio: a necessidade
pela empresa Rodobens em 2007, rece- uma intensa mobilização entre construto- de padronizar procedimentos e de ele-
beu apoio técnico do GPC. Outra inicia- ras interessadas em adotar o sistema e var a produtividade – que era, afinal, o
tiva pioneira foi tomada pela Cooperativa o SINAT (Sistema Nacional de Avaliação maior atrativo do sistema. O objetivo era
do Oeste do Paraná (Copacol), que tam- Técnica). Essas mobilização, amparadas identificar e recomendar os pontos mais
bém optou pela tecnologia na construção em avaliações e ensaios laboratoriais, ba- importantes de alguns processos que in-
de 101 moradias em Cafelândia/PR. Na lizaram os primeiros textos técnicos e as fluenciavam o desempenho do sistema.
época, ainda não vigorava a NBR 15.575 decisões da Caixa. Era preciso destacar também as melho-
(Norma de Desempenho), havia apenas Como resultado dessas ações, o GPC res práticas e preparar recomendações
minutas do texto-base, com premissas e criou uma cartilha de recomendações, de projeto (voltadas à produção), plane-
critérios adotados em avaliações de labo- que passou a ser adotada como parâme- jamento, logística e execução, a fim de
ratórios. Mas, para comprovar que o sis- tro por entidades de referência nacional, instrumentalizar o mercado para tirar
tema parede de concreto atendia a essas em conjunto com a NBR 15575, Diretrizes o melhor proveito da tecnologia. Uma
premissas, a construtora Narciso Casas SINAT, Referência Técnica do IPT e de- nova rodada de ferramentas foi criada
construiu um protótipo para avaliação do mais ativos elaborados pelo GPC. e disponibilizada em diferentes formatos
Laboratório de Tecnologia do Concreto Para se ter uma ideia do conhecimen- para a utilização segura da parede de
de Itaipu (Labtecon). to técnico gerado, no biênio 2009/2010 concreto nas obras brasileiras.
o mercado já dispunha de um guia de Corria o ano de 2010 e o GPC (com
4. CAIXA É PARCEIRA DO PROJETO práticas recomendadas para edifica- apoio da ABESC/IBTS) conduzia a re-
Um dos gargalos para o uso do siste- ções de até 5 pavimentos, orientações alização dos ensaios necessários para
ma parede de concreto foi, nos primeiros para projetos de edifícios altos, cartilha homologar o sistema na Caixa. Ao mes-
anos de implantação, a falta de homolo- de recomendações da Caixa, ensaios mo tempo, a recém-criada Comissão
do IPT sobre comportamento estrutural de Estudos de Paredes de Concreto da
do sistema, planilha de parametrização ABNT, com ativa participação de mem-
e comparação entre sistemas para edi- bros do grupo, preparava o texto-base
fícios altos e um modelo para orientar a da futura norma técnica do sistema, cujo
escolha do sistema de fôrmas. Na área escopo era fixar os requisitos para proje-
da segurança do trabalho, o GPC elabo- to e execução exigíveis para as paredes
rou a “NR-18 Comentada para Parede de concreto moldadas in loco com fôr-
de Concreto”, debatida com fornecedo- mas removíveis.
res de fôrmas e equipamentos. Os ativos No mercado, o método já era empre-
gerados incluíram ainda recomendações gado em grandes edifícios, confirmando
para revestimentos, controle tecnológi- sua versatilidade, juntamente com a ten-
co, cura do concreto e até a elaboração dência de verticalização dos empreendi-
de um catálogo de telas e acessórios. mentos. Visando a troca de experiências
O GPC produziu ainda roteiros visando nesse âmbito, o grupo promoveu duas
a modulação e a rastreabilidade do sis- visitas técnicas a empreendimentos de
tema (Figura 3). A geração de conheci- porte: MaxHaus Panamby (194 apar-
Figura 3 – Cartilha feita pelo GPC mento foi acompanhada, naquele ano, tamentos distribuídos em duas torres

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tenção é conhecer e avaliar a sustenta-
bilidade do sistema parede de concre-
to, de modo a poder compará-lo com
outros sistemas, promover melhoria
contínua e comunicar o mercado da
construção civil sobre suas vantagens.
A norma/capacitação busca dissemi-
nar conhecimento atualizado, esclarecer o
texto da NBR 16.055:2012 e assegurar ao
mercado que o sistema parede de con-

Figura 4 – Pesquisa sobre adoção da tecnologia nas obras brasileiras creto atenda à NBR 15.575. Isso é impor-
tante para garantir a qualidade no uso do
de 24 andares) e MaxHaus Morumbi aspectos. A publicação da norma (Figura sistema, evitar erros de interpretação da
(124 apartamentos distribuídos em qua- 5) aumentou a segurança e encurtou o norma e consolidar o uso da tecnologia.
tro torres de térreo + 8 pavimentos), am- caminho para os empreendedores, dis- Na área de subsistemas, o objetivo
bos construídos em parede de concreto pensados a partir de então de seguir as é promover workshops dos subsiste-
pela MaxCasa. diretrizes SINAT para obter crédito para mas que compõem a tecnologia: Fôr-
A necessidade de conhecer melhor seus empreendimentos. mas, Esquadrias, Concreto e Químicos
o usuário e suas necessidades deman- (cura, impermeabilização, desmoldante
dou a promoção de uma ampla pesqui- 7. DISSEMINAÇÃO etc.). A ideia é criar um canal de comu-
sa de campo, que buscou identificar os DO CONHECIMENTO nicação entre fornecedores e constru-
principais critérios de adoção do siste- A difusão de informações acompa- toras, para melhorar o diálogo, a fim de
ma pelas construtoras e indicar even- nha todo o desenvolvimento tecnoló- desenvolver o sistema, gerando produ-
tuais gargalos para desenvolvimento da gico da parede de concreto. Além da tos específicos para ele.
cadeia produtiva do sistema (Figura 4). elaboração de material bibliográfico, Em relação à divulgação, o GPC pro-
ferramentas e simuladores, contam-se move ou participa de diversos seminá-
6. NORMA TÉCNICA DE PAREDE dezenas de seminários, palestras, me- rios, palestras e workshops. Apenas em
DE CONCRETO sas-redondas e workshops realizados. 2017 foram 36 eventos para 2.500 par-
Em maio de 2012, o mercado bra- Para que o método siga evoluindo, ticipantes. Além disso, oferece cursos
sileiro ganhou uma norma técnica es- o GPC atua sob quatro grandes fren- (básico, execução e projetos) e material
pecífica para edificações construídas tes, que são: sustentabilidade, norma/ didático para capacitar arquitetos, pro-
com o sistema parede de concreto. A capacitação, subsistemas/divulgação jetistas estruturais e de instalações. São,
publicação da ABNT NBR 16055:2012 e informação. em média, 14 cursos e 500 profissionais
- Parede de concreto moldada no lo- Em relação à sustentabilidade, a in- atendidos por ano. Em decorrência da
cal para a construção de edificações
— Requisitos e Procedimentos coroou
cinco anos de trabalho do GPC, que
reuniu entidades setoriais, órgãos de
pesquisa e empresas, num total de 39
organizações integrantes à época.
O texto normativo, que fixou requisitos
para a construção de edifícios de qualquer
altura, aborda critérios para a qualidade da
parede, projeto, materiais, análise estrutu-
ral, dimensionamento e procedimentos
para a fabricação da parede, entre outros Figura 5 – Reunião da Comissão de Norma de Parede de Concreto

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 45


entre os agentes da cadeia produtiva,
promove visitas a obras e a fábricas de
fornecedores, dissemina boas práticas
e auxilia no desenvolvimento de novos
produtos para o sistema. O objetivo do
grupo é compartilhar conhecimento.
Em junho, membros do GPC par-
ticipam do 2º Congresso Ibero-Ameri-
cano de Habitação, onde especialistas
Figura 6 – Pesquisas de mercado sobre pontos positivos e negativos para brasileiros e estrangeiros tratarão do
adoção do sistema pelas construtoras sistema construtivo com a participação
de construtores, professores, agentes
publicação da ABNT NBR:16.055, os to de vista das construtoras) e prever financeiros, consultores e outros profis-
próprios técnicos da Caixa (250 enge- obras. Em 2015, foram ouvidas 488 sionais. O objetivo, mais uma vez, será
nheiros) passaram por capacitação. construtoras de várias partes do país. buscar a melhoria de um sistema que já
Por fim, no aspecto de informação, está consagrado no Brasil.
destacam-se as pesquisas de mercado 8. A SITUAÇÃO ATUAL Todas as ferramentas produzidas
(Figura 6), que permitem entender os Composto hoje por cerca de 110 pelo GPC estão disponíveis gratuita-
parâmetros para a tomada de decisão organizações, entre construtoras, for- mente para download nos sites: ABCP
das empresas, conhecer pontos posi- necedores, projetistas, laboratórios e (www.abcp.org.br), Abesc (www.abesc.
tivos e negativos do sistema (do pon- associações, o GPC fomenta a sinergia org.br) e IBTS (www.ibts.org.br).

SISTEMAS DE FÔRMAS PARA


EDIFÍCIOS: RECOMENDAÇÕES
PARA A MELHORIA DA QUALIDADE
E DA PRODUTIVIDADE COM
REDUÇÃO DE CUSTOS

Autor: Antonio Carlos Zorzi

O livro propõe diretrizes para a racionalização de sistemas


de fôrmas empregados na execução de estruturas de
concreto armado e que utilizam o molde em madeira

As propostas foram embasadas na vasta experiência do


autor, diretor de engenharia da Cyrela, sendo retiradas de
sua dissertação de mestrado sobre o tema.

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ISBN 9788598576237
Formato: 18,6 cm x 23,3 cm
Páginas: 195
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Ano da publicação: 2015 www.ibracon.org.br
(Loja Virtual)

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u estruturas
encontros eem
notícias
detalhes
| CURSOS

Paredes moldadas no local em


concreto reforçado com fibras
MARCO ANTONIO CARNIO – Professor Doutor
Faculdade de Engenharia Civil – PUC Campinas
EVOLUÇÃO Engenharia de Estruturas

1. INTRODUÇÃO pós-fissuração da matriz cimentícia CRF no dimensionamento no Estado

O
sistema construtivo de proporcionada pelo reforço das fibras. Limite Último e no Estado Limite de
paredes de concreto mol- Outros casos, como controle de fis- Serviços de vários tipos de elementos
dadas no local utilizando suras em baixas idades ou contribui- estruturais. No caso específico das
o concreto reforçado com fibras (CRF) ção para manutenção da capacidade paredes de concreto, pode-se tratar
pode ser utilizado como alternativa ao resistente das seções em situação de o elemento estrutural como painéis
sistema em que se utilizam telas sol- incêndio, são considerados como uso (chapas), cujo esforço solicitante pre-
dadas como armadura. Neste caso, não estrutural do CRF. dominante é de compressão.
somente nas paredes as armaduras No caso das paredes de concreto Recentemente um primeiro passo
podem ser substituídas pelas fibras. moldadas no local com CRF, pode-se para a utilização do CRF em paredes
Cabe ainda ressaltar que deve ser to- pensar na utilização das macrofibras de concreto foi dado com a publicação
mado o cuidado para o uso correto de vidro álcali-resistentes, nas fibras da Diretriz SINAT 001 – Revisão 3, que
das fibras, uma vez que essas fibras de aço galvanizadas e nas macrofi- trouxe a possibilidade de utilização do
devem ser adequadas para atuarem bras sintéticas álcali-resistentes, uma Concreto Reforçado com Fibras de
como reforço no concreto. Segundo vez que todas essas fibras propor- Vidro (CRFV) no sistema construtivo
a Prática Recomendada IBRACON/ cionam reforço estrutural e garantem de paredes de concreto moldadas no
ABECE “Projeto de estruturas de con- resistência residual pós-fissuração local, sendo sua aplicação limitada às
creto reforçado com fibras”, a aplica- da matriz cimentícia. Dessa forma, casas térreas unifamiliares, aos sobra-
ção do CRF para fins estruturais im- considerando a resistência residual dos unifamiliares, às casas sobrepos-
plica no uso de parâmetros de projeto pós-fissuração da matriz cimentícia, tas e às edificações multifamiliares de
que consideram a resistência residual é possível tirar proveito estrutural do até cinco pavimentos.
Este artigo tem como objetivo
abordar os aspectos gerais dessa
aplicação, apresentando o que esta-
belece a Diretriz SINAT 001 – Revisão
3 no que diz respeito aos parâmetros
de projeto para o CRFV, concepção
de projeto das paredes de CRFV e
controle tecnológico do CRFV.

  2. PARÂMETROS DE PROJETO
PARA O CONCRETO
REFORÇADO COM FIBRAS
u Figura 1 DE VIDRO
Ensaio de flexão em 3 pontos
Tendo como referência a Prática

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Recomendada IBRACON/ABECE
“Pro­jeto de estruturas de concreto re-
forçado com fibras”, em seu item 6.4.1,
os painéis sem armadura longitudinais
devem ser verificados no Estado Li-
mite Último (ELU) e no Estado Limite
de Serviço (ELS), considerando-se as
resistências à tração uniaxiais reduzi-
das fFts ou fFtu, de acordo com o estado
limite considerado.
As resistências à tração uniaxiais
reduzidas fFts ou fFtu são calculadas
u Figura 2
em função das resistências residuais
Curva carga – CMOD
fR1 e fR3 do CRF, que são obtidas por
meio do ensaio de flexão em corpos
de prova prismáticos, correspondem a seguinte observação: “Os valores râmetros devem ser verificados para
aos valores de deformação CMOD1 e acima especificados para o CRFV o CRFV:
CMOD3, respectivamente, conforme devem ser encarados como referên- a) Limite de proporcionalidade (LOP)
mostram as Figuras 1 e 2. cia para a dosagem do CRFV em e resistências residuais fR1, fR2, fR3
Por meio do ensaio de flexão, seções com presença de tensões de e fR4;
obtém-se a relação Carga – Defor- tração, torção e tensões tangenciais, b) Teor de fibras no estado fresco;
mação, expressa pela abertura da em geral. No caso em que predomi- c) Resistência à compressão;
boca da fissura CMOD (Crack Mouth nam tensões de compressão (sendo d) Resistência à tração na flexão;
Opening Displacement), conforme se as tensões de tração negligenciáveis e) Resistência à tração na flexão em
observa na Figura 2. conforme projeto estrutural), pode-se placas, conforme Figura 3.
A Diretriz SINAT 001 – Revisão 3 tomar como referências os valores A realização dos ensaios do item
estabelece que o CRFV para aplica- de 1,15 MPa para fR1m e 0,45 MPa “e” destina-se a verificar a relação en-
ção nas paredes de concreto deve para fR3m. tre a resistência do CRFV na direção
atender aos seguintes requisitos: A partir das características míni- do lançamento do concreto, onde te-
a) Resistência característica a tração mas estabelecidas, deve-se, a cada oricamente pode ocorrer alinhamento
(fctM,k): mínima de 4,2 MPa; empreendimento, pré-qualificar o vertical das fibras, e a resistência do
b) fLm (Limite de proporcionalidade CRFV. Essa pré-qualificação envolve material na direção transversal ao lan-
médio – LOP ): entre 3,8 MPa e a pré-qualificação da fibra de vidro e a çamento do concreto, determinando-
4,2 MPa; pré-qualificação do compósito. -se, a partir dos resultados, o valor de
c) fR1m (Resistência residual média A pré-qualificação da fibra de vidro K (fator de orientação da fibra).
para CMOD = 0,5 mm): valor míni- para ser utilizada como reforço deve Para a determinação do Fator K
mo 1,5 MPa; estar de acordo com a Prática Reco- (relação entre resistências à tração
d) fR3m (Resistência residual média mendada IBRACON/ABECE “Macro- na direção do lançamento e na dire-
para CMOD = 2,5 mm): valor míni- fibras de vidro álcali-resistente (AR) ção transversal), devem ser molda-
mo 1,0 MPa; para concreto destinado a aplicações dos 4 corpos de prova com dimen-
e) Consumo mínimo 300 g/m³ de estruturais”. Para a pré-qualificação sões de 500 x 500 x 100 mm para
microfibras sintéticas para mini- do compósito, os ensaios prévios são cada direção, em fôrmas em chapas
mizar o efeito de “lascamento” em de especial importância para a defi- de aço, contendo em suas faces
situações de incêndio. nição das fibras a serem utilizadas e maiores negativos centralizados que
  Para paredes em que não há suas dosagens. Dessa forma, a Dire- produzam entalhes reversos com
solicitação de tração, a Diretriz faz triz estabelece que os seguintes pa- 10 mm de profundidade, conforme

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representado na Figura 3. A mol- unicamente os ensaios de controle também em valores de projeto, de-
dagem deve ocorrer com a fôrma tecnológico...” terminados com respectivos coefi-
metálica posicionada na vertical, cientes de ponderação.
podendo-se constatar o sentido da 3. CONCEPÇÃO DE PROJETO Nos projetos estruturais de
moldagem pelo exame visual das faces DAS PAREDES DE CRFV paredes de CRFV, independen-
dos CPs. Considerando aspectos de du- temente do número de pavimen-
Qualquer modificação da ma- rabilidade em meio alcalino, não tos, as resistências do CRFV de-
triz de concreto, ou da marca, tipo deverão ser considerados, para os vem ser estabelecidas com base
e dosagem das fibras em relação coeficientes de ponderação da resis- no documento “FIB Model Code
ao que foi previamente estabeleci- tência do CRFV, valores inferiores a for Concrete Structures 2010
do, não poderá ocorrer até que se ɣm = 1,6. (MC2010)” e no documento Práti-
comprove o desempenho da fibra Com base no modelo estrutu- ca Recomendada IBRACON/ABE-
com base nos ensaios prévios re- ral adotado no projeto para cami- CE “Projeto de Estruturas de Con-
alizados antes do início da execu- nhamento das cargas verticais e creto Reforçado com Fibras”, não
ção da estrutura. demais ações, modificadas pelos se tomando valores inferiores aos
A Diretriz estabelece: “Excep- respectivos coeficientes de ponde- estabelecidos anteriormente.
cionalmente, a critério do proje- ração, devem ser estabelecidas as Visando evitar tensões de tra-
tista, quando existam informa- tensões atuantes nas seções crití- ção significativas nas paredes,
ções documentadas referentes à cas do conjunto de paredes dos di- bem como deformações relativas
pré-qualificação do CRFV, essas versos pavimentos. Os valores das entre pavimentos consecutivos,
informações podem ser aceitas solicitações de proejto devem ser deve-se limitar a esbeltez global
como qualificação, realizando-se inferiores às resistências do CRFV (l global) do edifício a:

onde:
u H tot – altura total do edifício até
a laje de cobertura (sem consi-
derar ático e reservatórios);
u L x – menor dimensão em planta
do edifício.
Estabelecendo-se que as pa-
redes estruturais não devem apre-
sentar fissuras ou destacamentos,
o projeto estrutural deve prever
reforços com armaduras conven-
cionais em seções onde ocorre
natural concentração de tensões,
considerando-se, por exemplo, en-
contros entre paredes de fachada,
contornos de aberturas de portas
e janelas, trechos estreitos entre
vãos de portas e janelas ou outros.
u Figura 3 Considerando os efeitos de de-
Molde para corpos de prova 500x500x50 mm destinados à formações impostas (movimenta-
determinação da resistência à tração na flexão na direção do ções higrotérmicas, recalques de
lançamento do concreto e na direção transversal
fundação etc), e visando a mitigar

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 49


u Tabela 1 – Resistência nominal
mínima à tração das amarrações
contra o colapso progressivo

Valor da
resistência
Amarrações nominal mínima
à tração
kN/m
Transversais 20 . ℓ1
Longitudinais 20
Periféricas 10 . ℓ ≤ 701
Verticais 44
1
Em painéis periféricos, ℓ é o comprimento do vão
(em metros) da laje adjacente. em painéis de parede
internos, o valor de ℓ é a média dos vãos adjacentes.

o risco de colapso progressivo, u Figura 4


devem ser observados os cuida- Arranques de fundações
dos preconizados na ABNT NBR
6118:2014, adotando-se para o tura, retração, variação brusca de arquitetônicos e detalhes constru-
arranque das fundações e para carregamento e variação da altura tivos nessas regiões das fachadas,
a continuidade entre pavimentos ou espessura da parede. Para pa- de modo a impedir prejuízos estéti-
armadura mínima equivalente a redes de concreto contidas em um cos ou mesmo infiltrações de água.
barras de aço CA-50 de diâmetro único plano e na ausência de uma Admite-se o emprego de CRFV
8 mm a cada 40 cm. No caso da avaliação precisa das condições sem armaduras convencionais em
continuidade entre pavimentos, específicas da parede, devem ser edificações dotadas de paredes
tais arranques podem ser cons- dispostas juntas verticais de con- nas quais o esforço predominante
tituídos por dobras verticais das trole, com espaçamento máximo
armaduras dos respectivos entre- que depende do tipo do concreto
pisos, podendo-se dispensar as utilizado. O espaçamento máximo
armaduras de continuidade nas das juntas deve ser determinado
paredes internas, caso o memorial com dados de ensaios específi-
de cálculo demonstre atendimen- cos. Na falta desses ensaios, ado-
to aos valores estabelecidos na tar o distanciamento máximo de 8
Tabela 1, conforme norma ABNT m entre juntas para paredes inter-
NBR 16475:2017. nas e 6 m para paredes externas.
Na ABNT NBR 16055:2012, o As juntas podem ser passantes ou
item que trata de juntas de trabalho não passantes, pré-formadas ou
chama a atenção para a necessi- serradas.
dade de se prevenir o aparecimen- Considerando-se que, mesmo
to de fissuras, devendo ser anali- com a presença de arranques,
sada a necessidade da colocação existe risco considerável de for-
de juntas de controle verticais. mação de fissuras na continuida-
Nesse sentido traz uma a seguinte de das paredes de fachada entre u Figura 5
nota: A fissuração da parede pode os sucessivos pavimentos, há ne- Detalhe arquitetônico
de fachada
ocorrer por variação de tempera- cessidade de inclusão de recursos

50 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


das no Estado Limite Último e no Es-   4. CONTROLE TECNOLÓGICO
u Tabela 2 – Formação dos lotes e
tado Limite de Serviço, sendo que as DO CRFV
amostras para controle do CRFV
tensões devem ser verificadas consi- O controle tecnológico do CRFV
derando-se as resistências à tração deverá atender aos itens a) ou b),
Solicitação
principal do uniaxiais reduzidas fFtu e fFts, de acor- c) e o item d).
Identificação
(considerar o
elemento da do com o estado limite considerado. a) Resistências (LOP) e resistên-
estrutural:
mais exigente) Mesmo que submetidas unica- cias residuais fR1, fR2, fR3 e fR4;
compressão
com flexão mente à compressão, no caso de b) Resistência à tração na flexão;
Volume de concreto 50 m³ paredes com vãos de portas ou c) Resistência à compressão;
Número de andares 1 janelas, havendo ou não substitui- d) Determinação do teor de fibras
Tempo de Três dias de ção parcial ou total de armaduras no estado fresco.
concretagem concretagem convencionais, deve-se prever re- O fornecedor das fibras e/ou
forços de barras de armadura nos a instituição certificadora deverá
é de compressão. No entanto, vi- vãos de portas e janelas. apresentar, em cada fornecimento,
sando combater eventuais tensões As lajes devem contar necessa- o respectivo relatório de controle
de tração, passíveis de ocorrerem riamente com armaduras conven- da qualidade da produção, incluin-
na própria fase de execução da cionais, podendo-se, entretanto, do comprimento e seção transver-
obra, há necessidade de uma ca- considerar a contribuição de fibras sal característica das fibras, fator
pacidade mínima de resistência de vidro no dimensionamento, con- de forma, resistência à tração,
à tração do CRFV, que deve ser siderando a resistência à tração do alongamento máximo, módulo de
estabelecida por meio do valor de CRFV o valor de f Ftu = f R3/3 (resis- deformação, resistência à ação de
fFtu = fR3/3 (resistência residual últi- tência residual última de tração do álcalis e outros.
ma de tração do CRFV), conforme CRFV). No caso de lajes com a utili- Durante a execução da obra
estabelece o item 4.3 da Prática zação de armaduras convencionais recomendam-se os critérios de for-
Recomendada IBRACON/ABECE + fibras de vidro, o máximo valor mação dos lotes e das amostras,
“Projeto de Estruturas de Concreto do momento resistente deve ser para os respectivos ensaios indica-
Reforçado com Fibras”. MRd = f Ftud.t2/2, conforme estabele- dos na Tabela 2.
No caso da substituição total ou ce o item 6.5 da Prática Recomen- Para volumes de concreto infe-
parcial das armaduras convencio- dada IBRACON/ABECE “Projeto de riores a 50 m³, a amostragem deve
nais pela fibra de vidro, as peças Estruturas de Concreto Reforçado ser total.
submetidas predominantemente à com Fibras”. Nesse caso, deve-se O estabelecimento do padrão
compressão devem ser dimensiona- verificar a abertura de fissuras com de amostragem pode ser intensi-
base na ABNT NBR 6118. ficado para situações específicas,
a critério do projetista, tendo-se
u Tabela 3 – Padrão mínimo de amostragem para o CRFV como referências mínimas os valo-
res apresentados na Tabela 3.
Ensaio Número de CPs Datas de ensaio
Resistências (LOP) e resistên- 4 CPs 150 x 150 x 600 mm 5. CONCLUSÕES
4 CPs a 28 dias
cias residuais fR1, fR2, fR3 e fR4 para cada caminhão betoneira
O passo dado pela Diretriz SI-
4 CPs 100 x 100 x 400 mm 2 CPs a 12 horas
Resistência à tração na flexão NAT 001 – Revisão 3 é bastante
para cada caminhão betoneira 2 CPs a 28 dias
2 CPs a 12 horas importante para a aplicação da
6 CPs de ϕ 100 x 200 mm
Resistência à compressão
para cada caminhão betoneira
2 CPs a 7 dias tecnologia do Concreto Reforçado
2 CPs a 28 dias
com Fibras no sistema construti-
OBSERVAÇÃO: No caso de concreto produzido na obra, além do controle de dosagem, observar a moldagem do número de
CPs acima a cada 8 m3 produzidos. No caso de pavimentos onde o consumo de concreto fornecido por caminhões betoneira vo paredes de concreto moldadas
supere 50 m3 (paredes e lajes), ou onde o período de concretagem supere uma semana, repetir, pelo menos uma vez, as
moldagens acima (por exemplo, iniciar a contagem do volume produzido na obra no início de cada semana). no local. Por se tratar de Concre-
to Reforçado com Fibras de Vidro

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 51


(CRFV), na diretriz os parâmetros bra de vidro em meio alcalino. Nes- transversal do elemento estrutural.
de projeto estabelecidos foram se sentido alguns desses parâme- No entanto, há ainda necessidade
construídos a partir de ensaios tros estão ligados especificamente de se ampliar a discussão sobre o
realizados de caracterização do às fibras de vidro álcali-resistentes. assunto, contemplando a utilização
material, resistência à compressão A aplicação do CRFV no siste- de outras fibras, bem como traba-
excêntrica e resistência à compres- ma de paredes de concreto mol- lhar no sentido de que os parâme-
são sob situação de incêndio em dadas no local, como contempla a tros para projeto e controle tecno-
painéis. Por outro lado, os parâme- Diretriz SINAT 001 – Revisão 3, já lógico estejam mais alinhados com
tros de controle tecnológico foram apresenta evoluções significativas as últimas publicações das Práticas
estabelecidos com base nos en- para o sistema construtivo do pon- Recomendadas IBRACON/ABE-
saios de caracterização do material to de vista estrutural, uma vez que CE sobre o Concreto Reforçado
e nos ensaios de durabilidade da fi- as fibras reforçam toda a seção com Fibras.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ABNT NBR 6118:2014 – Projeto de estruturas de concreto - Procedimento


[2] ABNT NBR 16055:2012 – Parede de concreto moldada no local para a construção de edificações – Requisitos e procedimentos.
[3] ABNT NBR 16475:2017 – Painéis de parede de concreto pré-moldado. Requisitos e procedimentos.
[4] Diretriz SINAT No. 001 – Revisão 3 –Diretriz para Avaliação Técnica de paredes estruturais de concreto moldadas no local. Ministério das Cidades – Secretaria
Nacional da Habitação. Brasília, fevereiro de 2017.
[5] Prática recomendada IBRACON/ABECE: Projeto de estruturas de concreto reforçado com fibras. 2ª. Edição. São Paulo, 2017.
[6] Prática recomendada IBRACON/ABECE: Controle da qualidade concreto reforçado com fibras. 1ª. Edição. São Paulo, 2017.

PRÁTICA RECOMENDADA IBRACON/ABECE


Macro bras poliméricas para concreto destinado a aplicações
estruturais: de nições, especi cações e conformidade
Elaborada pelo CT 303 – Comitê Técnico IBRACON/ABECE sobre Uso de
Materiais não Convencionais para Estruturas de Concreto, Fibras e Concreto
Reforçado com Fibras, a Prática Recomendada especifica os requisitos
técnicos das macrofibras poliméricas para uso em concreto estrutural.
A Prática Recomendada abrange
macrofibras para uso em todos DADOS TÉCNICOS
os tipos de concreto, incluindo
ISBN: 978-85-98576-29-9
concreto projetado, para
Edição: 1ª edição
pavimentos, pré-moldados, Formato: eletrônico
moldados no local e concretos Páginas: 37
de reparo. Acabamento: digital
AQUISIÇÃO Ano da publicação: 2017
Coordenador: Eng. Marco Antonio Carnio
www.ibracon.org.br (Loja Virtual)

Patrocínio

52 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


u estruturas em detalhes

Colmatação em
pavimentos permeáveis
EMILLY O. S. SANTANA • GABRIEL A. A. DE SOUZA • LUCILA G. ALVAREZ • NATHALIA M. S. DE ABREU
Universidade São Judas Tadeu

CLÁUDIO OLIVEIRA SILVA


Universidade São Judas Tadeu
Associação Brasileira de Cimento Portland

1. INTRODUÇÃO Portanto, a drenagem tornou-se dade como dispositivo de drenagem,

A
o desenvolver a urbani- mais um problema no modelo de de- mesmo considerando-se o processo
zação e cobrir mais áreas senvolvimento urbano em quase todo de colmatação. Estudos mostram
com revestimentos imper- o mundo. Neste contexto, a pavimen- que a colmatação dos pavimentos
meáveis, sejam estradas, ruas, calça- tação permeável apresenta-se como permeáveis pode ocorrer entre 5 e 10
das ou edificações, o processo natu- uma opção de projeto para a drena- anos após sua construção, depen-
ral de infiltração de águas das chuvas gem urbana de forma efetivamente dendo de fontes de poluição, pon-
foi desviado e diminuído. A diminui- sustentável. Pavimentos permeáveis tuais ou difusas, que possam chegar
ção da taxa de infiltração provoca são uma alternativa às tradicionais ao revestimento do pavimento. Deste
redução na recarga dos lençóis sub- superfícies de asfalto ou concreto, modo, parte da colmatação à qual o
terrâneos que, de modo geral, são que podem ajudar a aliviar algumas pavimento estará exposto poderá ser
os responsáveis pelas formações de dessas questões. evitada, ainda na fase de projeto, au-
áreas de abastecimento à população. Em áreas com solos de perme- mentando a vida útil deste.
Além disso, a impermeabilização abilidade adequada, os pavimentos
dos centros urbanos torna essas re- permeáveis permitem que as águas 2. PAVIMENTO PERMEÁVEL
giões mais suscetíveis a inundações, pluviais se infiltrem no solo, repro-
visto a incapacidade da drenagem su- duzindo o ciclo hidrológico natural, A construção de pavimentos per-
perficial de suportar os crescentes vo- recarregando os lençóis de águas meáveis surgiu devido a grande ne-
lumes de chuva nesses locais, devido subterrâneas. Mesmo não ocorrendo cessidade advinda da drenagem
às alterações do microclima da região. esta infiltração direta no solo, o pavi- urbana. Tratando-se de um disposi-
mento permeável contribui com a re- tivo de infiltração, atua como técnica
tirada da água superficial, criando um alternativa para infiltração de água
retardamento de sua chegada aos no solo, tornando-se assim uma fer-
cursos d’água através dos canais de ramenta de drenagem importante
drenagem, minimizando a ocorrência (Virgiliis, 2009).
de enchentes, além de permitirem o O pavimento permeável é uma estru-
aumento da evaporação da superfí- tura que permite a passagem de água
cie, o que proporciona aumento da e ar através de suas camadas. A água,
umidade relativa no local e a minimi- quando captada pelo pavimento, pode
u Figura 1 zação da temperatura superficial, re- ser conduzida para um reservatório,
Escoamento superficial da água duzindo o efeito de ilha de calor. permitindo seu reuso, ou ser infiltrada
em revestimento impermeável
Um ponto relevante na adoção do através do subsolo, dependendo de sua
(GNCSC, 1996)
pavimento permeável é a sua durabili- capacidade permeável. Nos revestimen-

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 53


Protection Agency) classificou os pa- vestimentos de concreto permeável,
vimentos permeáveis de BMP (Best conforme ilustram as figuras 3 a 7.
Management Practice), ou seja, como Portanto, a camada de revestimen-
uma das soluções sustentáveis para a to de um pavimento permeável à base
drenagem urbana. de cimento pode permitir a passagem
O país pioneiro na aplicação do pa- de água através do material granular
vimento permeável foi a França, a partir das juntas, ou dos vazados, ou através
da década de 1950. Sem muito suces- do próprio concreto permeável das pe-
so na época, voltou a ser estudado no ças ou placas.
final da década de 1970 também em O coeficiente de permeabilida-
u Figura 2 outros países, como Estados Unidos, de mínimo estabelecido pela norma
Infiltração e percolação Japão e Suécia. ABNT NBR 16416 (ABNT, 2015) é de
em revestimento permeável
(GNCSC, 1996) Segundo várias fontes, atualmen- 10-3 m/s ou 60 L/min, sendo que o ín-
te, o país que mais utiliza este sistema dice de vazios mínimo é de 32%, para
é a Alemanha, em que são instalados todas as camadas granulares do pa-
aproximadamente 20 milhões de me- vimento. Para o concreto permeável,
tros quadrados  deste pavimento, em não é estabelecido índice de vazios;
construções residenciais e comerciais de qualquer modo, deve-se atender
por ano. ao coeficiente de permeabilidade.
No Brasil, o pavimento permeável
vem sendo usado por construtoras
para atender às normas em relação à
porcentagem de permeabilidade ne-
cessária nos terrenos e também por
u Figura 3 Prefeituras em diversos Estados, mas
Peças de concreto com juntas
ainda estamos longe de atingir a esca-
alargadas. Percolação pelas
juntas la de uso da Europa ou EUA.
Os pavimentos permeáveis são co-
nhecidos como estruturas-reservatório.
tos impermeáveis, o escoamento das Essa denominação se refere às funções u Figura 4
águas pluviais se dá, unicamente, pela realizadas pela estrutura porosa com a Peças de concreto com áreas
vazadas. Percolação pelos
superfície. A lâmina d’água é tanto mais qual são constituídos, tendo que aten- vazados
espessa quanto maior for a intensidade der à duas funções simultâneas (ACIO-
da chuva (Figura 1, GNCSC,1996). LI, 2005):
Nos pavimentos permeáveis, de- u Função mecânica, associada ao
vido ao alto índice de vazios da es- termo estrutura, que permite supor-
trutura, forma-se uma rede de canais, tar os carregamentos impostos pelo
desde a camada de revestimento até tráfego de veículos;
o subleito, que deve ser capaz de u Função hidráulica, associada ao
percolar uma grande parcela da água termo reservatório, que assegura,
precipitada da chuva. Nessas condi- pela porosidade dos materiais, reter
ções, o escoamento na superfície é temporariamente as águas, seguido
bastante reduzido, conforme ilustra a pela drenagem e, se possível, infil-
Figura 2. tração no solo do subleito. u Figura 5
A Agência de Proteção Ambiental A norma ABNT NBR 16416 (ABNT, Peças de concreto poroso.
Percolação pelas peças
Norte-Americana (EPA,  Environmental 2015) relaciona cinco tipos de re-

54 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


O sistema construtivo para que um
pavimento seja permeável deve conter
as camadas distribuídas, conforme a
Figura 8.

3. COLMATAÇÃO
Os pavimentos permeáveis consti-
tuem uma importante alternativa como
u Figura 6 u Figura 7 dispositivo hidráulico e de suporte me-
Placas de concreto poroso. Concreto poroso moldado no cânico, porém esses pavimentos cer-
Percolação pelas placas local. Percolação pelo concreto tamente irão ter seus poros obstruídos
por detritos, reduzindo gradativamen-
te a taxa de infiltração e, consequen-
Água superficial
temente, sua contribuição hidráulica
como dispositivo de drenagem.
No trabalho apresentado por AMIR-
Camada de
revestimento JANI (2010), demonstra-se que a colma-
Camada de
rejuntamento tação dos pavimentos porosos ocorre
entre 5 e 10 anos após a construção, de-
pendendo das condições de contorno.
Camada de
A causa da obstrução dos poros
assentamento
tem sido muito estudada e possui uma
Geotêxtil definição amplamente aceita, em que
não tecido Base / Sub-base
os materiais de entupimento ou sóli-
(opcional)
dos de sedimentação, incluindo solo,
Sub-leito
rocha, folhas e outros detritos, podem
ser trazidos pelo vento ou, mais comu-
mente, pelas águas pluviais. Esses se
infiltram nos espaços vazios levados
Camada Peças de concreto pela água e diminuem a função hidráu-
de rejunte
lica, devido à redução gradual da per-
meabilidade e capacidade de armaze-
Camada de
assentamento namento deste sistema.
Com esta capacidade hidráulica
Base reduzida, a infiltração diminui pouco a
pouco até formar uma matriz relativa-
Sub-base
mente impermeável. O desenvolvimen-
to da colmatação é, portanto, caracte-
Tubulação
de drenagem rizado pelo aumento da quantidade de
(quando necessário) materiais retidos na superfície e pelo
aumento do escoamento superficial.
Sub-leito Conforme descrito por Van BO-
CHOVE e Von GORKEN (1997), os fa-
tores dos quais dependem a colmata-
u Figura 8
ção de um pavimento permeável são:
Sistema construtivo de pavimentos permeáveis
u Quantidade e fontes de poluição;

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 55


u Tamanho e estrutura dos vazios;
u Declividade da área de contribuição
subjacente à área permeável; e,
u Velocidade e efeito limpante do
tráfego.
Entre esses fatores, a intensidade do
tráfego de veículos parece ser determi-
nante na colmatação, pois em vias de
tráfego intenso, o entupimento dos poros
ocorre de forma mais lenta, pois existe
a sucção provocada pela passagem de
veículos, que tende a descolmatar os va-
zios, enquanto que, onde há um tráfego
pouco intenso, o bombeamento das par-
tículas para fora dos vazios não acontece
de forma expressiva, o que acarreta em
uma colmatação mais rápida.
Os estudos de TONG (2011) apre- u Figura 9
senta alguns casos onde os efeitos de Colmatação devido ao escoamento de detritos de uma área com
colmatação podem ser ocasionados materiais finos, sem cobertura de vegetação (TONG, 2011)
(Figuras 9 a 11).
É imprescindível ressaltar que di- A colmatação não pode ser com- um projeto elaborado da forma correta
ferentes tipos de sedimentos causam pletamente impedida, mas sua forma- minimiza a colmatação da superfície.
diferentes padrões de deposição e di- ção pode ser retardada e seus efeitos A manutenção das propriedades de
ferentes efeitos sobre a redução do de- minimizados. Segundo PORTO (1999), permeabilidade ao longo do tempo útil
sempenho hidráulico e a recuperação
da manutenção.
Conforme observado por HASEL-
BACH (2010), as partículas maiores
tendem a ser retidas no topo ou per-
to da superfície, as partículas de areia
mais finas penetram no pavimento e
ficam presas dentro do concreto (no
caso de concreto poroso), as partículas
ainda mais finas podem infiltrar-se pelo
pavimento e depois podem ser deposi-
tadas entre a superfície da camada de
concreto e solo subjacente.
Diversas pesquisas relataram que
partículas mais grossas levaram mais
tempo para entupir o pavimento do
que partículas mais finas. Os materiais
argilosos tendem a ficar retidos sobre
ou perto da superfície do pavimento,
u Figura 10
reduzindo gradualmente o coeficiente
Colmatação causada por tráfego durante a construção (TONG, 2011)
de permeabilidade.

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de permeabilidade que pode ocorrer no beram a limpeza devem apresentar no
primeiro ano é recuperável em torno de mínimo 80% do coeficiente de permea-
50% e que, se mantendo a frequência bilidade mínimo já descrito de 10-3 m/s
anual do procedimento, as perdas do ou 60 L/min.
segundo ano podem ser recuperadas
em até 70%. 4. AVALIAÇÕES EXPERIMENTAIS
A norma ABNT NBR 16416 (ABNT, Neste trabalho, estudamos a evo-
2015) estabelece que o pavimento deve lução da colmatação em campo,
passar por procedimentos de limpeza mensurando-se o coeficiente de per-
u Figura 11 quando o coeficiente de permeabili- meabilidade de uma área permeável de
Falha comum de obstrução
dade for igual ou inferior a 10-5 m/s ou estacionamento, logo após sua execu-
causada por escoamento
superficial com detritos 0,6 L/min, devendo-se executar ações ção e depois de 14 meses de utilização.
de limpeza com o objetivo de recuperar Além disso, em laboratório, simulamos
do pavimento pode ser garantida por sua capacidade de permeabilidade. As a colmatação de forma acelerada com
meio da limpeza do pavimento per- etapas de limpeza recomendadas são: o objetivo de avaliar sua influência na
meável de forma regular. RAZ (1997) u Remoção de sujeiras e detritos em permeabilidade do pavimento.
realizou uma comparação em rodovias geral da superfície do pavimento O método de ensaio para medir
espanholas sobre a evolução da col- por meio de varrição mecânica ou o coeficiente de permeabilidade está
matação entre pavimentos permeáveis manual; descrito na norma NBR 16416 (ABNT,
tratados com limpeza e os sem manu- u Aplicação de jatos de água sob 2015). O método consiste em utilizar
tenção, conforme ilustra a Figura 12. pressão; um anel de infiltração com (300±10)
A pesquisa aponta que cada pavi- u Aplicação de equipamento de suc- mm de diâmetro, que deve ser posicio-
mento terá suas próprias necessidades ção para retirada de finos; nado no local do ensaio e vedado na
de limpeza em diferentes intervalos u Recomposição do material de rejun- parte em contato com o pavimento,
de tempo, mas como medida geral, tamento caso necessário. com massa de calafetar para impedir
deve-se pensar no ano seguinte à sua É vetada a utilização de produtos vazamentos, limitando a área em con-
construção como tempo limite para se químicos ou água contaminada na lim- tato com a água.
considerar a necessidade de limpeza. peza do pavimento. Após a execução A massa de água a ser utilizada no
Valores experimentais têm demonstra- das etapas de limpeza, deve-se medir ensaio do coeficiente de permeabilida-
do que por meio da limpeza, a perda novamente o coeficiente de permeabili- de é definida em função do tempo de
dade do pavimento. As áreas que rece- pré-molhagem do local a ser ensaiado.
Na pré-molhagem, deve-se despejar
70 dentro do cilindro de infiltração 3,6 kg
de água, mantendo-se uma coluna
Tempo de escoamento (s)

60 Com tratamento
50 Sem tratamento d’água entre 10 mm e 15 mm da su-
40 perfície do pavimento, o que ajuda a
30 regular a velocidade de aplicação da
20 massa de água no restante do ensaio.

10
Dependendo do tempo de infiltração
durante a pré-molhagem, a norma es-
0
0 1 2 3 tabelece as massas de água a serem
Idade do Pavimento (anos) utilizadas posteriormente na determina-
ção do coeficiente de permeabilidade,
u Figura 12 conforme Tabela 1.
Evolução da colmatação entre pavimentos com limpeza periódica anual
O ensaio de determinação do co-
e sem manutenção (RAZ, 1997)
eficiente de permeabilidade deve ser

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 57


iniciado em até 2 min após a execução u Placas porosas (40x40) cm;
u Tabela 1 – Determinação da massa
da pré-molhagem. O procedimento se- u Peças com vazados (Grama e
de água para o ensaio de
gue o mesmo padrão do realizado na Pedrisco).
coeficiente de permeabilidade
pré-molhagem. Deve-se marcar o inter- A estrutura do trecho permeável é
com uso de 3,6 kg de água
valo de tempo entre o momento que a constituída de material granular sem fi-
água atinge a superfície do pavimento nos totalizando 2m³, distribuída em três Tempo de Massa de água
permeável até quando não houver mais diferentes camadas: pré-molhagem (s) para o ensaio (Kg)
água livre na superfície ensaiada. u Subleito: constituído de uma camada ≤30 18 ± 0,05
Para efeitos de cálculo, a norma es- de 20 cm de brita, com Dmáx de 37,5 >30 3,60 ± 0,05
tabelece que seja utilizada a equação 1 mm e índice de vazios de 43,8%;
para que se obtenha o coeficiente de u Leito: camada intermediária de 4 constituindo, assim, uma estrutura poro-
permeabilidade (k): cm de brita, com Dmáx de 12,5 mm sa o suficiente para permitir o armazena-
e índice de vazios de 41,6%; mento temporário da água precipitada.
1 u Camada de assentamento: com 4 O local tem como características o
cm de espessura, agregado com baixo volume de tráfego, pois se trata de
Onde: Dmáx de 6,3 mm e índice de vazios um estacionamento privado, com baixa
k – coeficiente de permeabilidade (mm/h); de 43,7%. rotatividade, e com fontes difusas e locali-
m – massa de água infiltrada (kg); É importante realçar que em toda zadas de material orgânico e entre outros,
d – diâmetro interno do cilindro de infil- a estrutura do pavimento não há pre- potencializando o efeito da colmatação.
tração (mm); sença de materiais finos nos materiais O coeficiente de permeabilidade foi
t – tempo necessário para toda água granulares e o índice de vazios é supe- medido logo após a finalização da obra
percolar (s); rior aos 32% especificados na norma e 14 meses após a liberação ao uso.
C – fator de conversão de unidades ABNT NBR 16416 (ABNT, 2015). Durante o período avaliado não foi exe-
do sistema SI, com valor igual a 4 583 Desse modo, não só a camada de cutado nenhum tipo de manutenção ou
666 000. revestimento, mas toda a estrutura do limpeza do piso. A figura 14 apresenta
pavimento permite a passagem de água, uma vista do local.
5. ESTUDO DE CASO

5.1 Ensaios de campo

A avaliação da colmatação em cam-


po foi realizada com o monitoramento
de uma área permeável utilizada como
estacionamento de tráfego leve. O local
fica na sede da Associação Brasileira
de Cimento Portland – ABCP, em São
Paulo. A obra foi concluída em maio
de 2016 e o local possui sete vagas de
estacionamento que totalizam 87,5m²,
sendo que na camada de rolamento
foram utilizados quatro tipos de revesti-
mentos (Figura 13):
u Peças de juntas alargadas: amos-
tras A e B; u Figura 13
u Peças porosas: amostra A: (10x20)
Vista geral da área permeável logo após a finalização da obra
(ABCP, 2016)
cm e amostra B: (20x20)cm;

58 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


permeável, sendo cada um, uma vaga
de estacionamento.

5.2 Ensaios em laboratório

Os estudos em laboratório foram


realizados em um segmento de pavi-
mento com cerca de 1 m2, simulando
toda a estrutura granular de um pavi-
mento permeável, como apresentado
u Figura 14 na Figura 16.
Vista geral da área permeável logo após liberação ao uso (ABCP, 2017) Para a simulação da colmatação em
laboratório, foi escolhido o revestimen-
A Tabela 2 e a Figura 15 apresen- de permeabilidade médios para cada to de peças de concreto poroso com
tam os resultados dos coeficientes um dos tipos de revestimento da área dimensões de (10X20) cm. O revesti-
mento foi ensaiado em três situações
diferentes:
1.200
1.036 u Amostra 1: Peças porosas com a
Coeficiente de permeabilidade

mai/16 961
1.000
jun/17 864
812 793 superfície limpa;
781
800 705 u Amostra 2: Peças porosas com
(L/min)

571
600
470 aplicação de 0,4 kg de pó de bri-
400 ta (material passante na peneira
225
176 152 131 1,4 mm e retida na peneira 1,16
200 112
mm), previamente diluído em 2 litros
0
Junta alarg. Junta alarg. Peça porosa Peça porosa Placa porosa Vazado com Vazado com de água;
A B 10x20 20x20 40x40 grama pedrisco u Amostra 3: Peças porosas com
Tipo de revestimento
aplicação de 1 kg de areia de quart-
zo (material passante na peneira
u Figura 15
Ensaios realizados em campo: resultados de coeficiente de 4,8 mm), previamente diluída em 2
permeabilidade em função do tipo de revestimento. Medições litros de água.
realizadas no início de liberação do tráfego ao término da obra e após As amostras de referência (su-
14 meses de uso
perfície limpa) e as duas amostras

u Tabela 2 – Ensaios realizados na área de estacionamento

Coeficiente de permeabilidade médio Redução do


Maio 2016 Junho 2017 coeficiente de
Tipo de revestimento
permeabilidade
L/min m/s L/min m/s em 14 meses
Junta alarg. A 176 2,94 x10-3 112 1,86 x10-3 -37%
Junta alarg. B 225 3,75 x10-3 152 2,53 x10-3 -33%
Peça porosa A – 10 x 20 1.036 1,73 x10-2 864 1,44 x10-2 -17%
Peça porosa B – 20 x 20 781 1,30 x10-2 571 9,52 x10-3 -27%
Placa porosa 40 x 40 812 1,35 x10-2 793 1,32 x10-2 -2%
Vazado com grama 470 7,84 x10-3 131 2,19 x10-3 -72%
Vazado com pedrisco 961 1,60 x10-2 705 1,17 x10-2 -27%

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 59


u Tabela 3 – Determinação da
massa de água para o ensaio de
coeficiente de permeabilidade

Tempo de pré-molhagem
3,6 Kg de água
Amostra Tempo (s)
Amostra 1 6,19
Amostra 2 16,43
Amostra 3 21,31 u Figura 16
Simulador da seção de um pavimento permeável

previamente colmatadas, foram en-


saiadas para determinar o coeficiente Os tempos de infiltração de cada NBR 16416, ou seja, acima de 10-3 m/s
de permeabilidade conforme a norma amostra foram medidos em três deter- ou 60 L/min, mesmo após um período
ABNT NBR 16416. minações cada e os resultados estão de uso de 14 meses e condições favo-
A Figura 17 apresenta as superfícies apresentados na Tabela 4. ráveis à ocorrência de colmatação.
ensaiadas. O coeficiente de permeabilidade foi A redução de permeabilidade mais
A Tabela 3 apresenta os resultados determinado conforme a equação es- significativa neste período ocorreu na
obtidos no ensaio de pré-molhagem pecificada na norma ABNT NBR 16416 camada de revestimento com grama
para determinação da quantidade de e apresentada anteriormente. Os resul- (-72%), enquanto que no revestimento
água a ser utilizada no ensaio de coefi- tados obtidos estão apresentados na com placas porosas 40x40 cm, prati-
ciente de permeabilidade. Tabela 5. camente não houve redução (apenas
Os resultados de tempo de pré- -2%) em relação à permeabilidade no
-molhagem apresentaram valores 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS inicio de uso do pavimento. A maior
abaixo de 30s nas três condições de Os resultados obtidos demonstram colmatação do revestimento com gra-
preparo, portanto, no ensaio para de- que todos os tipos de revestimentos ma era esperado, visto que com o
terminar o coeficiente de permeabilida- testados em campo apresentaram co- crescimento da grama, ocorre o maior
de, foi utilizado uma massa de 18 kg eficientes de permeabilidade acima da enraizamento, diminuindo a porosidade
de água. especificação mínima da norma ABNT do revestimento.

Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3

u Figura 17
Amostras de peças de concreto poroso (10x20 cm) ensaiadas para simular a colmatação acelerada

60 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


u Tabela 4 – Determinação do tempo de infiltração para cada uma das amostras

Tempos de infiltração (s)


Amostras
Determinações O processo de colmatação do
1 2 3
pavimento permeável ainda deve ser
1 24,5 32,8 144
mais bem estudado, pois fica evidente
2 24,8 32,9 223
sua influência na diminuição gradativa
3 25 31,8 248
da permeabilidade.
O projeto de um pavimento per-

u Tabela 5 – Coeficientes de permeabilidade meável deve considerar as prováveis


fontes de material que poderão gerar a
Coeficiente de permeabilidade colmatação e avaliar maneiras de evi-
Determinações Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 tar seu carreamento até as superfícies
L/min m/s L/min m/s L/min m/s permeáveis, evitando-se assim a dimi-
1 628,8 1,05 x 10-2 468,8 7,81 x 10-3 106,8 1,78 x 10-3 nuição prematura da permeabilidade e/
2 619,5 1,03 x 10 -2
467,8 7,80 x 10 -3
69 1,15 x 10 -3 ou a menor periodicidade de limpeza.
3 635,9 1,06 x 10 -2
484 8,07 x 10 -3
62 1,03 x 10 -3 De qualquer modo, a manutenção,
Média 628,1 1,05 x 10 -2
473,5 7,89 x 10 -3
79,3 1,32 x 10 -3 no mínimo, anual do pavimento perme-
ável seria suficiente para evitar que a es-
Isso demonstra a importância de brita) conseguiu penetrar até a cama- trutura do pavimento seja comprometida
tratar os sistemas permeáveis em da de assentamento, se dispersando em sua capacidade de funcionar como
função da quantificação da permea- mais e assim influenciando menos a um reservatório temporário e assim
bilidade, através da mensuração do permeabilidade. contribuir para diminuir o escoamento
coeficiente de permeabilidade e não Pode-se verificar também que superficial, devendo esta manutenção
simplesmente em função do tipo de re- as determinações do coeficiente de fazer parte da boa prática de implemen-
vestimento, muitas vezes erroneamente permeabilidade no mesmo ponto da tação dos pavimentos permeáveis.
considerado permeável, como é o caso simulação de colmatação com areia
de uma área com cobertura vegetal. de quartzo (determinações de 1 a 3) 7. AGRADECIMENTOS
No caso da colmatação simulada, resultou em aumento da permeabili- Agradecemos à Associação Bra-
o material mais grosso (areia de quart- dade. Isso se explica pela retirada do sileira de Cimento Portland – ABCP e
zo) resultou em maior diminuição da material de colmatação à medida que também à Associação Brasileira da In-
colmatação, devido à sua deposição se despejava água para a execução do dústria de Blocos de Concreto – Bloco-
mais superficial no pavimento, en- ensaio, abrindo caminho para a perco- Brasil, pelo apoio técnico indispensável
quanto que o material mais fino (pó de lação de água. para a realização deste trabalho.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ABNT. Pavimentos permeáveis de concreto – Requisitos e procedimentos, NBR 16416. Rio de Janeiro, ABNT, 2015.
[2] ACIOLI, A. Laura. Estudo Experimental de Pavimentos Permeáveis para o Controle do Escoamento Superficial na Fonte. Porto Alegre, 2005.
Dissertação de Pós-Graduação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005.
[3] AMIRJANI, Mahsa. Clogging of permeable pavements in semi-arid áreas. Holanda, 2010. Tese de mestrado, Delft University of Technology,
2010.
[4] BOCHOVE, G. G. van; GORKEN, F. von. Two Layered Porous Asphalt – A New Concept Civil Technical Properties and Experience. In: CONGRESSO EUROPEO DE
MEZCLAS DRENANTES, 1997, Madrid. 1997. p. 249-269
[5] GNCSC – Group National des Caractéristiques de Surface des Chaussées: Note D’Information – Qualités d’Usage des Revêtements Routiers en Présence d’Eau,
SETRA, Bagneux, França. 1996.
[6] HASELBACH, L. The Potential for Clay Clogging of Pervious Concrete under Extreme Conditions. Journal of Hydrologic Engineering, 15(1), 67-69, 2010.
[7] PORTO, H. G. Pavimentos Drenantes. São Paulo: D e Z Computação Gráfica e Editora. 1999. 105 p.
[8] RAZ, R. T. Conservación de la Permeabilidad en las Mezclas Porosas. In: CONGRESSO EUROPEO DE MEZCLAS DRENANTES, 1997, Madrid. 1997. p. 661-677.
[9] TONG, B. Clogging effects of portland cement pervious concrete. A Thesis. Iowa State University, Ames, Iowa, USA, 2011.
[10] VIRGILIIS, L. C., Afonso. Procedimentos de Projeto e Execução de Pavimentos Permeáveis Visando Retenção e Amortecimento de Picos de Cheias. São Paulo,
2009. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, 2009.

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 61


u mercado nacional

O comportamento do
mercado de cimento
PAULO CAMILLO VARGAS PENNA
ABCP – SNIC

O
cimento é um produto
imprescindível na cons- PAULO CAMILLO VARGAS PENNA
trução de moradias e Graduado em Ciências Jurídicas e
de obras de infraestrutura, e é parte Sociais pela PUC-MG, é Presidente
Executivo do Sindicato Nacional da
fundamental na cadeia produtiva da
Indústria do Cimento (SNIC) e da
indústria da construção. O setor é de Associação Brasileira de Cimento
importância estratégica para o cres- Portland (ABCP). Possui vivência
cimento econômico e para a geração de mais de 30 anos em altos
cargos executivos no setor público,
de emprego no país.
empresas e entidades nacionais
Segundo estimativas do Constru- representativas de diversos
Business (Congresso Brasileiro da segmentos, tais como: Presidente
Construção, promovido pela Federa- da Fundação TV Minas – Cultural
e Educativa de Minas Gerais,
ção das Indústrias do Estado de São
Diretor da Associação Brasileira de
Paulo – FIESP), o setor de cimento Supermercados (ABRAS), Diretor
no país gerou PIB de R$ 5,8 bilhões Executivo da Associação Brasileira
em 2016, equivalente a quase 10% dos Fabricantes de Latas de Alta
Reciclabilidade (ABRALATAS),
do PIB da indústria da construção
Diretor e, posteriormente, Vice-
(indústria de máquinas e equipamen- Presidente do Sindicato Nacional
tos para a construção). Além disso, da Indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos (SINFERBASE),
o setor empregou 28,4 mil pessoas, Presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) e Vice-Presidente
do Grupo AES Brasil. Integrante de conselhos e fóruns empresariais no
equivalente a 3,3% da população
País e no exterior como membro titular do Conselho de Infraestrutura
ocupada na indústria da construção.
(COINFRA) e do Conselho de Assuntos Legislativos (COAL) da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), membro convidado do World
1. MILAGRE ECONÔMICO Economic Forum (WEF), membro titular do Departamento da Indústria
Durante o período de crescimento da Construção da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(DECONCIC), entre outros. Eleito Diretor da FIESP para o triênio 2018 -
econômico ocorrido no Brasil na dé-
2020. Tem ativa participação na mídia nacional e internacional.
cada de 1970, houve grande expan-
são da atividade da construção civil
no país. Os programas habitacionais Paralelamente, grandes obras de de 9,8 milhões de toneladas por ano
desenvolvidos pelo BNH (Banco Na- infraestrutura foram realizadas pelo para 27,2 milhões de toneladas no
cional de Habitação), com recursos governo, como a construção de es- início dos anos 1980, aumento de
do FGTS (Fundo de Garantia por tradas, barragens, hidrelétricas e 177% (Gráfico 1). Isso motivou o
Tempo de Serviço), a lei do inquilina- obras de desenvolvimento urbano. investimento na expansão do par-
to e as novas fontes de financiamen- Nessa década, a produção/con- que industrial cimenteiro, feito não
to provocaram uma grande expansão sumo brasileiro de cimento cresceu só pelos grupos que já operavam,
da construção habitacional. intensamente, partindo do patamar mas também por dez novos grupos

62 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


produtores – nacionais e estrangei-
ros, com a construção de 24 novas
unidades industriais.
Foi nesse período que a indústria
enfrentou a primeira crise do petró-
leo e buscou soluções para reduzir a
utilização desse combustível e, con-
sequentemente, reduzir sua emis-
são de CO 2. Isso resultou em uma
modernização do parque industrial,
que garantiu a redução significativa
do uso de combustíveis fósseis, a
intensificação do uso de adições ao
Fonte: SNIC
cimento (escórias, cinzas e argilas
calcinadas) e a busca por combus- u Gráfico 1
tíveis alternativos (coprocessamento Consumo de cimento em perspectiva histórica
e biomassa).
Em virtude desses esforços, a bricas integradas; temporariamente sultante das sucessivas crises mun-
indústria, hoje, registra os menores duas unidades; e cinco foram trans- diais e consequente instabilidade
níveis mundiais de emissão de CO2 formadas em moagem. Além disso, econômica.
por tonelada de cimento produzida os fornos de maior consumo ener-
(Gráfico 2), de acordo com dados in- gético foram também definitivamente 3. RETOMADA DO
ternacionais do Conselho Empresa- desativados. CRESCIMENTO EM 2004
rial Mundial para o Desenvolvimento A partir do Plano Real, houve uma A partir de 2004 diversos fatores
Sustentável (WBCSD, em inglês). mudança de patamar do consumo colocaram a indústria do cimento de
de cimento, atingindo 40,2 milhões volta no rumo do crescimento. Além
2. ESTAGNAÇÃO E de toneladas em 1999. A partir de do ambiente macroeconômico favo-
CONSOLIDAÇÃO 2000, a produção sofreu queda re- rável, o aumento da renda real e da
DO MERCADO
Após a segunda crise do petróleo,
a economia brasileira entrou em gra- CO2

ve crise, em particular a construção


civil, afetando de forma acentuada
o consumo de cimento, que viu sua
demanda cair e, exceto por alguns
poucos episódios de elevações cir-
cunstanciais (Plano Cruzado, Plano
Real), se manter estagnada por mais
de duas décadas, pois não houve
nesse período nenhum programa
sustentável para a construção civil.
O setor teve que se adequar a um
mercado retraído. Nesse processo, Fonte: CSI
várias unidades de menor eficiência e
custos operacionais mais altos foram u Gráfico 2
Níveis mundiais de emissão de CO 2 por tonelada de cimento
desativadas: definitivamente dez fá-

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 63


massa salarial real, a redução dos bém o setor da construção civil, tan- 4. CENÁRIO ATUAL DA
juros e da inflação, a expansão do to na parte habitacional quanto na de INDÚSTRIA DO CIMENTO
crédito imobiliário por parte do go- infraestrutura. O desafio da indústria brasileira
verno e dos bancos privados, e o ob- Entre 2004 e 2014, o consumo do cimento é continuar investindo e
jetivo governamental de crescimento de cimento mais que dobrou, sain- produzindo o cimento necessário às
dos investimentos em obras de infra- do de 35 milhões de toneladas para obras do país, mantendo os padrões
estrutura foram fundamentais para mais de 70 milhões, um movimento de competitividade e de excelência
a alavancagem da construção civil sustentável e presente em todas as ambiental conquistados.
e, consequentemente, do consumo regiões do país. Este movimento tor- A mais recente iniciativa pretende
de cimento. nou o Brasil o 4° maior consumidor mapear as emissões do setor, proje-
Concorreu de forma decisiva de cimento no mundo, atrás apenas tadas até 2050, e suas respectivas
para esta recuperação o chamado da China, Índia e EUA . alternativas de redução. Este am-
marco regulatório imobiliário, atra- No período de 2004 a 2016 fo- bicioso projeto, conhecido interna-
vés da Lei n°10.931/2004 e da Re- ram inauguradas 42 novas fábricas, cionalmente como Cement Techno-
solução n° 3.177 do Banco Central. através de empresas já atuantes e logy Roadmap, é uma parceria da
Tais medidas trouxeram um melhor novos produtores, com investimento indústria do cimento brasileira com
ordenamento jurídico no setor da de mais de R$15 bilhões em todas o WBCSD, a Agência Internacio-
construção imobiliária e possibilita- as regiões do país. Esse constante nal de Energia (IEA, em inglês) e o
ram a capitalização das construto- esforço de produção doméstica para Banco Mundial, e deve ser concluído
ras e incorporadoras no mercado atender a demanda de cimento no em 2018.
acionário, bem como o retorno dos Brasil refletiu-se na constituição de A crescente utilização de adições
bancos privados ao financiamento uma capacidade produtiva conside- no Brasil tem representado uma das
imobiliário. rável (Gráfico 3). Em 2017, a capa- mais eficazes iniciativas de controle
Programas do governo, como o cidade instalada anual de produção e mitigação de emissão de CO 2 da
“Minha Casa Minha Vida” (MCMV) e chegou a 100 milhões de toneladas indústria de cimento. Diante do pa-
o Programa de Aceleração do Cres- por ano, distribuídas em 100 unida- norama de redução na disponibilida-
cimento (PAC), impulsionaram tam- des fabris. de de escórias siderúrgicas e cinzas
volantes em um futuro próximo, o
desafio consiste em propor alterna-
tivas para garantir o uso crescente
de adições ao cimento. Para isso, a
ampliação no uso de fíler calcário – o
que requereria uma atualização das
Normas de Cimento, hoje em curso
na ABNT – e de argilas calcinadas
representariam a principal alterna-
tiva do setor, tanto na redução do
fator clínquer quanto das emissões
do setor.
A queima de resíduos em fornos
de cimento, conhecida como co-
processamento, é uma tecnologia
Fonte: SNIC mundialmente consagrada e que,
além de reduzir as emissões da in-
u Gráfico 3
dústria, surge como uma solução
Estimativa da capacidade de produção de cimento
ao passivo ambiental representado

64 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


pelo acúmulo de resíduos na natu- massa salarial levaram a cadeia da sinais positivos como a taxa de ju-
reza, transformando-os em energia. construção para uma recessão pro- ros (Selic) e da inflação, porém os
Para alcançar níveis de substituição funda, que inviabiliza a tomada de índices de confiança empresarial e
maiores e consequentemente miti- empréstimos para o financiamento do consumidor ainda preocupam
gar ainda mais as emissões de ga- de investimentos. pelas elevadas incertezas políticas
ses de efeito estufa, o setor vem se A atividade da construção civil foi que retardam a retomada de muitos
mobilizando para aumentar a varie- 16% menor no acumulado dos anos investimentos.
dade de combustíveis alternativos, 2015 a 2017 em relação a 2014. Na E essas incertezas tornam
ao utilizar os chamados resíduos só- indústria do cimento não poderia ser o exercício de projeção uma tarefa
lidos urbanos, que nada mais são do diferente, com retração de 25% no difícil.
que aqueles resultantes das ativida- consumo do insumo nesse mesmo Nos primeiros quatro meses de
des doméstica e comercial das cida- período, atingindo 54 milhões de 2018, as vendas de cimento no
des. A Lei 12.305/10 da Política Na- toneladas no final de 2017, o que mercado interno totalizaram 16,9
cional de Resíduos Sólidos (PNRS) representa retorno do nível de con- milhões de toneladas, de acordo
contempla o aproveitamento ener- sumo ao de 2009. Esse panorama com dados preliminares da indús-
gético de resíduos sólidos urbanos. se torna dramático quando se verifi- tria, representando uma queda de
Essa prática é amplamente utilizada ca que a capacidade ociosa atingiu 0,2% frente ao mesmo período do
na Europa, de forma a eliminar os inédito nível de 46%. ano passado.
aterros e agregar valor energético Com a ociosidade alta, há ele- Em 12 meses, as vendas acu-
ao nosso lixo doméstico. Em São vação dos custos fixos unitários, muladas totalizaram 53,5 milhões
Paulo, acaba de ser aprovada uma restringindo a capacidade de in- de toneladas, quantidade 3,7% me-
resolução para regulamentar a uti- vestimentos ou até mesmo fazendo nor do que nos 12 meses anteriores
lização de Combustíveis Derivados com que empresas optem por fe- (maio de 2016 a abril de 2017), con-
de Resíduos Urbanos (CDRU) pre- char suas fábricas, retirando fatores firmando a redução da velocidade
parados a partir de resíduos sólidos produtivos do mercado. Uma visão de queda de vendas do setor.
urbanos e resíduos sólidos não pe- ainda mais drástica da capacidade Esses números estão dentro das
rigosos, permitindo a sua utilização ociosa mencionada, pode ser tradu- expectativas da indústria, conside-
em fornos de cimento. zida pelas 13 fábricas que se encon- rando o atual cenário de melhoria na
O país passou pela pior crise da tram fechadas em todo o país, com atividade econômica do País. Ao fi-
economia da sua história. Depois de grande número de fornos fora de nal deste trimestre (abril – maio – ju-
um baixo crescimento econômico operação. Somente em São Paulo nho), deve-se anunciar os primeiros
em 2014, de apenas 0,5%, a eco- encontram-se 6 delas com seus for- resultados positivos desde 2015 e
nomia brasileira entrou em uma re- nos inoperantes de um total de 13 fechar o ano com crescimento pró-
cessão sem precedentes. Em 2015, fábricas presentes no Estado. Mais ximo de 1%, o que será um grande
o PIB encolheu 3,8% e, em 2016, a grave ainda é que a profundidade avanço, tendo em vista as quedas
queda foi de 3,5%, acumulando re- da recessão pode comprometer a dos últimos anos.
cuo de 7,1% no biênio 2015/16. Em viabilidade econômica de algumas Neste momento é importante ter
2017, houve uma pequena recupe- empresas, fazendo com que saiam em perspectiva o favorecimento da
ração, quando o PIB subiu 1%. definitivamente do mercado. recuperação da indústria. Os go-
A crise atingiu mais fortemen- Nos últimos meses os núme- vernos federal, estadual e municipal
te o mercado imobiliário e o setor ros da indústria do cimento vêm devem promover ações para rever-
de infraestrutura, este último ainda demostrando um arrefecimento no ter a crise. O Brasil tem importantes
agravado pela Operação Lava Jato. percentual de queda nas vendas, programas habitacionais e de infra-
A restrição dos gastos públicos em isso decorrente de uma melhoria estrutura a serem desenvolvidos, e o
construção, o aumento da taxa de no ambiente econômico do país. cimento é a base indispensável para
juros e da inflação, e a queda da Alguns indicadores já apresentam essas construções.

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 65


u normalização técnica

Comentários sobre a norma


ABNT NBR 16475 – Painéis
de parede estruturais de
concreto pré-moldado
FABRICIO DA CRUZ TOMO – Msc. Engenheiro Civil • OTÁVIO PEDREIRA DE FREITAS – Engenheiro Civil • LEONARDO LUGLI FLORENZANO – Engenheiro Civil
MAURICIO MARTINS PIRES – Engenheiro Civil • AUGUSTO GUIMARÃES PEDREIRA DE FREITAS – Engenheiro Civil
Pedreira Engenharia

1. INTRODUÇÃO

D
iante da crise econômica
e do déficit habitacional do
Brasil, o setor da construção
civil vem buscando processos construti-
vos racionalizados e a opção por painéis
de parede estruturais pré-moldados se
apresenta como uma boa alternativa.
Isso se deve principalmente pelas
duas funções, estrutural e de vedação,
reunidas em um único elemento, agili-
zando o processo, agregando qualida-
de, precisão executiva e viabilizando
economicamente as construções.
Importante destacar que a aplica-
ção de painéis pré-moldados não se u Figura 1
Edifício com painéis pré-moldados – Bélgica, 1955 (VOORDE, 2015)
restringe a edificações residenciais. Por
serem elementos com alta rigidez em
seu plano, os painéis de parede são pré-moldados foram usados para re- truídas no Brasil apresentam 12 pavimen-
utilizados em edificações altas como construir cidades destruídas durante as tos (Figura 3). Nesses prédios, o avanço
elementos de contraventamento, inclu- guerras mundiais. A Figura 1 ilustra um da tecnologia dos materiais e das liga-
sive em núcleos rígidos. edifício construído na Bélgica em 1955. ções proporcionou rigidez suficiente para
No Brasil, em 1982, foi construído o a estabilidade dos edifícios, mesmo com
2. PAINÉIS DE PAREDE primeiro prédio com painéis de parede painéis de espessuras reduzidas. Nesse
ESTRUTURAIS NO BRASIL estruturais pré-moldados (Figura 2-a), caso, a espessura máxima determinada
E NO MUNDO com 4 pavimentos e 4150m² de área para os painéis foi de apenas 13cm.
O sistema construtivo com painéis construída. Em 1991, o sistema já havia Processos de dimensionamento e
de parede pré-moldados não é novida- atingido os 9 andares (Figura 2-b). facilidade de acesso às experiências
de na engenharia. Na Europa, painéis Hoje, as edificações mais altas cons- internacionais contribuíram com o avanço

66 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


no número de pavimentos, mas o grande
protagonista nessa evolução é o processo
executivo. O uso de concreto autoaden-
sável, gruas com capacidade compatível
e as melhorias em outros produtos, como
selantes e grautes, por exemplo, garanti-
ram a viabilidade econômica do sistema. a b
Diante disso, atualmente têm-se
condições técnicas e disponibilidade
u Figura 2
Prédios com painéis estruturais pré-moldados no Brasil
de materiais para aplicar o sistema em
(a) 4 andares construídos em 1982; (b) 9 andares construídos em 1991
edificações mais altas. No Reino Unido,
por exemplo, foi construído em 2007 o
edifício Strijkijzer Building, com 42 pavi- nacionais e internacionais de forma re- segurança, algumas limitações foram
mentos, 132 metros de altura (Figura 4). duzir as possibilidades de insucessos. incluídas no texto. Seguem abaixo as con-
Logo, para manter a coerência de dições em que a Norma não é aplicável:
3. ABNT NBR 16475: LIMITES
PARA APLICAÇÃO DA NORMA
A norma ABNT NBR 16475 foi elabo-
rada pela Comissão de Estudo de Lajes
e Painéis Alveolares de Concreto (CE-
18:600.19) no período de 2012 a 2015.
Segundo o autor Augusto Guima-
rães Pedreira da Freitas (coordenador
da comissão), o objetivo da publicação
da norma é difundir o sistema constru-
tivo de forma segura e com condições
que permitam aos profissionais desen-
volver projetos e produzirem painéis
u Figura 3
visando economia. Para tanto, nos
Edificações com 12 pavimentos com painéis portantes
preocupamos em utilizar experiências

u Figura 4
Edifício Strijkijzer Building, Reino Unido, 2007 (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 2010)

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 67


esforços predominantes são compres-
são e cisalhamento entre as paredes de
pavimentos adjacentes.
Uma evolução no dimensionamento
a b das ligações que deve ser destacada
está na determinação do coeficiente de
u Figura 5 ajustamento, pois esse leva em consi-
Juntas entre paredes estruturais e respectivos esforços predominantes: deração a ductilidade de cada modo
a) Juntas verticais; b) Juntas horizontais (PCI, 2010 apud TOMO,2013) de falha presente na ligação. A Figura
6 ilustra esquematicamente o funciona-
a) painéis de parede pré-moldados vem considerar a rigidez relativa dos ma- mento do coeficiente de ajustamento.
estruturais cuja dimensão horizontal teriais utilizados nas ligações e terem sua
seja maior que 12 m, ou que a es- capacidade resistente comprovada por 6. DIMENSIONAMENTO
pessura seja maior que 25 cm; modelos de cálculo baseados em referên-
b) painéis de parede sem armaduras; cias técnicas ou normativas. Na ausência 6.1 Premissas de dimensionamento
c) painéis de parede curvos; de modelos teóricos, a norma permite que de painéis estruturais
d) painéis de parede submetidos ao o projeto possa ser validado com base em
carregamento predominantemente ensaios experimentais parametrizados. As premissas para dimensionamento
horizontal, como muros de arrimo Ainda sobre as ligações, essas devem de painéis de parede estruturais de con-
ou reservatórios; ser projetadas considerando tolerâncias creto pré-moldado são muito próximas às
e) painéis de parede como elementos executivas que, por sua vez, resultam em adotadas em paredes de concreto molda-
de fundação. excentricidades na transferência de esfor- das no local apresentadas na norma ABNT
ços, influenciando assim diretamente no di- NBR 16055. As diferenças nas premissas
4. ANÁLISE ESTRUTURAL mensionamento das ligações e dos painéis estão na consideração das excentricidades
A análise estrutural do edifício é a pré-moldados. A norma ABNT NBR 16475 e na definição de critérios geométricos para
etapa mais importante e impactante no estabelece os valores mínimos para a con- considerar uma parede transversal como
desenvolvimento de um projeto, seja sideração das excentricidades no dimen- elemento de travamento.
esse em estrutura moldada no local ou sionamento dos painéis de parede.
em estrutura pré-moldada. 6.2 Armadura mínima
A principal diferença entre esses tipos 5. LIGAÇÕES e reforços localizados
de estruturas é a presença de ligações As ligações entre painéis e entre
entre elementos pré-moldados. Essas de- painéis e outros elementos estruturais, A armadura mínima e os reforços
como lajes, por exemplo, devem resistir localizados, incluindo trechos ao redor
aos esforços as quais são submetidas, das aberturas, foram também basea-
considerando as excentricidades, os dos no definido pela ABNT NBR 16055
coeficientes de ponderação das ações para paredes moldadas no local.
e dos materiais, definidos na ABNT NBR Porém, enquanto que para paredes
9062, e os coeficientes de ajustamento moldadas no local a seção mínima de
apresentados na ABNT NBR 16475. aço para armadura horizontal é de 0,15%
A Figura 5 ilustra os esforços solicitan- da seção do concreto, para as paredes
tes nas ligações que usualmente ocorrem pré-moldadas a seção mínima está
u Figura 6 ao longo das juntas entre painéis. definida como 0,09%. Essa alteração
Critério de segurança para Observa-se que, para juntas verti- ocorre, pois o efeito de retração do
diferentes mecanismos cais, os esforços de cisalhamento entre concreto em paredes pré-moldadas
internos resistentes na ligação
as paredes governam o dimensiona- acontece sem haver restrição volumé-
(ABNT NBR 16475)
mento, e, para as juntas horizontais, os trica ainda na fase de estoque, reduzin-

68 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


do assim bruscamente o nível de ten-
são nesse sentido.
Outro ponto a se destacar é a situ-
ação de paredes com espessura su-
perior ou igual a 15cm. A ABNT NBR
16055 permite utilizar, para esses ca- a Ligação interna b Ligação periférica
sos, uma seção mínima de armadura
vertical, em cada face, de aproximada- u Figura 7
mente 0,06% da seção do concreto. Detalhes das ligações entre os painéis de parede e das amarrações
Já, a ABNT NBR 16475 define que a (seção transversal) – CLELAND, 2008 apud TOMO,2013
armadura mínima de 0,09% deve estar
disposta nas duas faces. comprimento, admitida no plano mé- a tal risco assim como estruturas pré-
dio da parede; bef: é a largura efetiva -moldadas. Por exemplo, em estruturas
6.3 Resistência-limite sob da parede; tef: é a espessura efetiva da de alvenaria, o que pode ocorrer se um
solicitação normal seção; fck: é a resistência característi- usuário “derrubar” uma parede estrutu-
ca à compressão do concreto; fcd: é a ral para aumentar a sala?
A ABNT NBR 16475 apresenta resistência de cálculo à compressão O ponto é: como evitar? Evitar a
duas opções para se verificar a resis- do concreto; ℓe: é a altura equivalente ocorrência desse evento muitas ve-
tência-limite do painel de parede sob considerando o coeficiente de flamba- zes foge do controle do projetista e da
solicitação normal de compressão. gem; etot: é a excentricidade de primei- construtora. Logo, uma das soluções é
A primeira é por uma formulação ra ordem considerando as excentrici- aumentar a robustez, de forma a pro-
analítica na qual a verificação da es- dades anteriormente. piciar caminhos alternativos para os
tabilidade do painel está considerada, A outra opção para a determinação esforços por meio de ligações dúcteis,
simplificadamente, pela relação altura- da resistência de cálculo à compressão amarrando os elementos entre si.
-espessura. Ou seja, por um parâmetro é a determinação do conjunto de es- Com base no ACI-318, no Euroco-
de esbeltez. forços resistentes (Nrd, Mrd) que cons- de 2 e nos comentários do FIB (2008),
Por se tratar da primeira emissão tituem a envoltória-limite dos esforços a ABNT NBR 16475 apresenta quais
da norma, a comissão de estudos solicitantes (Nsd, Msd), determinados a são as amarrações mínimas (Figuras 7
julgou ser importante manter o con- partir do processo P-d para considera- e 8) e seus respectivos valores a serem
servadorismo e se basear em normas ção dos efeitos de segunda ordem. considerados no detalhamento.
estrangeiras consagradas e de países Para tanto, aplica-se no processo
que apresentam experiência no siste- P-d uma rigidez equivalente a fim de
ma construtivo. O primeiro trecho da considerar a não linearidade física e ge-
equação está coerente com o defini- ométrica. Os parâmetros definidos na
do pelo Eurocode 2 e o segundo tre- ABNT NBR 16475 foram baseados na
cho conforme as normas: canadense norma americana ACI-318, na qual se
CSA A23.3 e americana ACI-318. relaciona a carga permanente à carga
Veja a equação 1 apresentada na total aplicada no painel. LEGENDA
T = Transversal
ABNT NBR 16475. L = Longitudinal
V = Vertical
Sendo: 7. INTEGRIDADE ESTRUTURAL P = Periférica

Nd,resist: é a normal de compressão re- Estruturas de alvenaria ou de con-


sistente de cálculo, por unidade de creto moldado no local estão sujeitas u Figura 8
Tipos de amarração em
N d,resist = b ef × t ef × f cd × f £(2/3) × a1 × b ef × t ef × f cd × [1 -( e /32t ef )²] estruturas de painéis de parede
f = 1,14 ×(1 - 2e tot /t ef ) - 0,02 × l e /t ef £(1 - 2e tot /t ef ) 1
estruturais pré-moldados
a1 = 0,85 - 0,0015 × f ck ³ 0,67 (adaptado de ACI-318)

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 69


8. CONSIDERAÇÕES FINAIS acabou se limitando a alguns tipos de e referências adotadas na elaboração
A utilização de painéis de parede edificações com alturas restritas. dessa norma.
estruturais pré-moldados não é novida- A ABNT NBR 16475 foi publicada Acredita-se assim que a aplicação
de no mundo ou no Brasil. Já se com- com objetivo de proporcionar evolu- desse sistema construtivo, agora res-
pletam mais de 60 anos de aplicação ção contínua do sistema, estabele- paldado por norma específica que lhe
no cenário mundial e mais de 35 anos cendo para tanto critérios para proje- assegura condições de segurança e
no Brasil. to e execução. desempenho, seja significativamente
No Brasil, porém, o sistema não Esse trabalho descreveu, de forma ampliada, ajudando a reduzir o déficit
contava com o respaldo normativo e sucinta, as principais considerações habitacional que o Brasil apresenta.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE, Building code requirements for structural concrete, ACI 318, Farmington Hills, 2011.
[2] ABNT, Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado, ABNT NBR 9062, Rio de Janeiro, 2017.
[3] ABNT, Parede de concreto moldada no local para construção de edificações – Requisitos e Procedimentos, ABNT NBR 16055, Rio de Janeiro, 2012.
[4] ABNT, Painéis de parede de concreto pré-moldado – Requisitos e procedimentos, ABNT NBR 16475, Rio de Janeiro, 2017.
[5] Eurocode 2: Design of concrete structures – part 1: General rules and rule for buildings, British Standards Institution, London, 1992.
[6] FÉDÉRATION INTERNATIONALE DU BÉTON. Structural connections for precast concrete buildings. Bulletin 43, FIB, Lausanne, 2008.
[7] FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, D. Precast High Rise Buildings. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA E CONSULTORIA ESTRUTURAL, 13. 2010, São Paulo: ABECE,
2010. Disponível em: < http://www.abece.com.br/web/download/pdf/enece2010/PALESTRA%202%20DAVID.pdf >. Acesso em: 10 de maio de 2017.
[8] TOMO. F. C. (2013). Critérios para projeto de estruturas de paredes portantes pré-fabricadas de concreto armado. São Carlos. Dissertação (Mestrado) – Escola de
Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo. São Carlos, 2013.
[9] VOORDE, S. V. et al. Post-war building materials. [on line] Disponível na internet via WWW. URL: http://postwarbuildingmaterials.be/material/precast-concrete-
facade-panels/. Bruxelas, 2015. Arquivo capturado em 10 de maio de 2017.

PRÁTICA RECOMENDADA IBRACON/ABECE


Macro bras de vidro álcali resistentes (AR) para concreto destinado
a aplicações estruturais: de nições, especi cações e conformidade
Elaborada pelo CT 303 – Comitê Técnico IBRACON/ABECE sobre Uso de
Materiais não Convencionais para Estruturas de Concreto, Fibras e Concreto
Reforçado com Fibras, a Prática Recomendada especifica os requisitos
técnicos das macrofibras de vidro álcali resistentes para uso estrutural
em concreto.
A Prática Recomendada abrange
DADOS TÉCNICOS
macrofibras para uso em todos os
tipos de concreto, incluindo concreto ISBN: 978-85-98576-28-2
projetado, para pavimentos, pré- Edição: 1ª edição
Formato: eletrônico
moldados, moldados no local e
Páginas: 26
concretos de reparo.
Acabamento: digital
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Coordenador: Eng. Marco Antonio Carnio
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70 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


u normalização técnica

Desempenho de
pisos cimentícios
ERCIO THOMAZ
Instituto de Pesquisas Tecnológicas
do Estado de São Paulo

1. INTRODUÇÃO sos podotáteis, pisos acústicos, pisos tencial desempenho com as exigências

D
os tradicionais pisos em ci- drenantes e outros. na norma NBR 15575:2013 - Edifica-
mento queimado, evolui-se No presente artigo discorre-se so- ções habitacionais – Desempenho –
hoje para uma variedade bre os pisos cimentícios mais usuais, Parte 3: Requisitos para os sistemas de
muito grande de sistemas de pisos ci- analisando-se de forma qualitativa suas pisos. Embora tenha aplicação restrita
mentícios, incluindo pisos elevados, pi- características e confrontando seu po- a edificações habitacionais, a grande
maioria das exigências de desempenho
da NBR 15575 podem ser extrapola-
u Tabela 1 – Requisitos de desempenho para pisos das para escolas, escritórios, prédios
(adaptado da NBR 15575:2013) comerciais e outros.
Existe uma gama muito vasta de
Disciplina Requisitos Critérios exemplificativos sistemas de pisos que não serão aqui
– resistência a cargas concentradas abordados, podendo-se citar asso-
Estabilidade e resistência – resistência a cargas distribuídas
alhos e tacos de madeira natural ou
estrutural – limitação de fissuras
Desempenho – limitação de deslocamentos reconstituída (MDF, HDF), pisos em
estrutural
Cargas de ocupação/ – limitação de vibrações mantas plásticas ou borracha sintéti-
desempenho – resistência a impactos de corpo mole ca, pisos cerâmicos (pastilhas, placas,
antropodinâmico – resistência a impactos de corpo duro
porcelanatos etc), pisos em rochas or-
– compartimentação entre pavimentos
Resistência ao fogo namentais, pisos metálicos, pisos em
– selagem corta-fogo / firestop
Segurança ao fogo – combustibilidade placas de vidro, carpetes e forrações,
Reação ao fogo / dificultar
– propagação superficial de chamas pisos constituídos por agregados mi-
a inflamação generalizada
– densidade óptica de fumaça nerais aglomerados com resinas sinté-
– coeficiente de atrito dinâmico / rugosidade ticas, pisos autonivelantes formulados
Segurança no uso
Segurança na circulação – limitação de desníveis abruptos
e na operação com resinas sintéticas, pisos drenantes
– limitação de frestas
– umidade ascendente (piso-grama / concretos permeáveis),
Estanqueidade à água – estanqueidade áreas molhadas pisos intertravados, pisos aquecidos,
– estanqueidade áreas molháveis
pisos podotáteis e outros.
100
Habitabilidade – isolação aos sons aéreos
Desempenho acústico De forma resumida, com a finalida-
– isolação aos ruídos de impacto
95
de de orientar o desenvolvimento do
Desempenho térmico/ – sensação de conforto no contato c/ o piso
75 conforto tátil – pisos aquecidos artigo, apresentam-se na Tabela 1 as
– resistência à umidade principais exigências de desempenho
Durabilidade – resistência a agentes químicos que constam na norma 15575, que es-
Durabilidade e – resistência ao desgaste por abrasão
25 manutenibilidade tabelece como parâmetro para a vida
– facilidade de limpeza
Manutenibilidade útil de projeto – VUP dos pisos internos
5 – facilidade de reparos / reposição
o prazo mínimo de 13 anos (17 anos
0

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 71


Como composições arquitetônicas,
além da combinação de cores, os pisos
cimentados podem ainda ser combina-
dos com faixas de pastilhas ou placas
cerâmicas.

3. PISOS DE CONCRETO
Pisos de concreto vêm sendo uti-
lizados há muito tempo em subsolos
de prédios, centros de distribuição,
u Figura 1 u Figura 2
entrepostos comerciais, indústrias, es-
Aspecto final de piso cimentado, Microfissuras de retração em
acabamento com resina piso cimentado (inadequação do tacionamentos de veículos e outros. A
(Foto AECWeb) traço / ausência de cura) tecnologia ganhou avanço muito signi-
ficativo nos últimos anos com o adven-
to dos concretos de alto desempenho,
para o nível intermediário, 20 anos para os devidos cuidados invariavelmente aditivos polifuncionais, fibras metálicas,
o nível superior de desempenho). Além desenvolvem microfissuras, conforme fibras de vidro álcali-resistentes, micro-
dos aspectos estéticos e de custos, ilustrado na Figura 2. Para que sejam fibras ou macrofibras de polipropileno
que não serão tratados no presente ar- evitadas, há necessidade de correta (Figura 4), juntas serradas, barras de
tigo, os fatores técnicos listados na re- seleção dos materiais (areia com bai- transferência de cargas, sistemas de
ferida tabela são balizadores bastante xíssimos teores de finos, argila ou silte protensão com cordoalhas engraxadas
úteis na escolha do tipo de piso. etc.), tipo adequado de cimento (pre- e outros recursos. O avanço contou
ferivelmente CPI, CPIIF ou CPIIE), do- ainda com o desenvolvimento de nor-
2. PISOS EM CIMENTO QUEIMADO sagem adequada (por exemplo, traço malização para controle da planicidade
Os “pisos cimentados” constituem composto com aditivos plastificantes e e nivelamento (F-Numbers, de acordo
talvez o mais tradicional sistema de pi- retentores de água), introdução de jun- com a norma ASTM E 1155) e de di-
sos do Brasil, sendo constituídos por tas e/ou execução no formato de “da- versos equipamentos para execução
argamassa de cimento e areia, e acaba- mas” e, mais do que tudo isso, proces- dos pisos, incluindo distribuidoras de
mento com polvilhamento e alisamen- so adequado de cura úmida por sete concreto com nivelamento automático
to/queima de mistura de cimento com ou oito dias. Saliente-se que este último (Figura 3), acabadoras de superfície au-
óxidos de ferro, geralmente na cor ver- fator é determinante na formação ou topropelidas simples e duplas (“helicóp-
melha ou amarela. Apresentam como não das microfissuras de retração. tero” ou “bambolê”), rodos de corte,
propriedades fundamentais a incombus-
tibilidade, característica comum a todos
os pisos cimentícios, adequada resis-
tência a cargas de ocupação (impactos,
cargas concentradas, etc.), estanquei-
dade à água, adequado coeficiente de
atrito e vida útil bastante extensa, além
da facilidade de limpeza e manutenção.
Com possibilidade de acabamen-
to na própria cor do cimento empre-
gado (branco ou cinza – Figura 1), ou
u Figura 3 u Figura 4
dos óxidos de ferro nas mais variadas
Distribuidora de concreto com Concreto dosado com
cores, desde o amarelo até o marrom,
autorregulagem de nivelamento microfibras de polipropileno
os pisos cimentados executados sem

72 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


metálicas com regulagem de inclina-
ção, acopladas a acabadoras de su-
perfície). Com ou sem o endurecimento
superficial, em função da inclinação e
flexibilidade das réguas, da pressão
exercida contra a base e do número de
passadas do equipamento, poderá ser
obtida superfície com pequena rugosi-
dade / superfície quase lisa (acabamen-
to “camurçado”) ou superfície muito lisa
u Figura 5 u Figura 7
(acabamento “vítreo”).
Acabamento de concreto Estampagem de piso com
Com finalidades arquitetônicas e
arquitetônico, composto moldes de borracha sintética
por cimento CP IV e óxido de estéticas, podem ser produzidos pisos (foto Internet)
ferro preto de concreto na cor branca (emprego
de cimento branco estrutural) ou em
outras cores, mediante a introdução no -se serragem de juntas e cura úmida,
rodos quebra-bolhas, réguas vibrató- traço de pigmentos inorgânicos resis- obtendo-se superfície colorida com pe-
rias, réguas float e outros dispositivos. tentes aos álcalis do cimento, como, quenas variações de tonalidade (Figura
Os concretos para piso podem por exemplo: óxidos de ferro (vermelho, 8). Como proteção final, a exemplo do
ser dosados de forma que o material laranja, amarelo, preto e marrom), óxi- que pode ser feito para os concretos
atinja elevada resistência característi- do de cromo (verde) e óxido de cobalto normais ou para os concretos coloridos
ca à compressão e à tração na flexão, (azul). Optando-se por tonalidades es- na massa, pode-se aplicar com rolos
havendo ainda a possibilidade de se curas, cores próximas ao cinza chumbo, de lã com altura média uma ou duas
recorrer à aplicação de aditivos endu- pode-se preparar o traço com cimento demãos de resina acrílica (acabamento
recedores de superfície ou ao fortale- Portland CP II E ou CP II F, ou ainda CP com maior brilho) ou de hidrofugante à
cimento superficial com a aplicação IV (Figura 5), onde o material pozolâni- base de silano-siloxano (acabamento
de agregados minerais ou metálicos co de cor escura favorecerá o escureci- mais fosco). Há ainda a possibilidade de
de alta resistência, situação em que mento do concreto. O acabamento com aplicação de película anti-derrapante.
o agregado será comprimido contra agregados de cor preta (Figura 6) pode Os pisos de concreto, desde que
o concreto ainda fresco por meio de produzir superfícies ainda mais escuras. obedecidas condições adequadas de
floats manuais ou mecânicos (réguas Ainda no campo dos pisos coloridos dosagem, lançamento, adensamen-
de concreto, há que se mencionar os to, cura e proteção final, apresentam
concretos estampados, onde a colora-
ção é feita apenas na superfície. A pro-
dução e lançamento do concreto obe-
decem aos padrões normais, ocorrendo
após o desempenamento a aplicação
/ “salgamento” superficial (aspersão de
mistura a seco de pigmento e endure-
cedor de superfície em pó), alisamento
/ queima do endurecedor com desem-
penadeira de aço de braços longos,
u Figura 6
aplicação de desmoldante e estampa-
Escurecimento da superfície u Figura 8
gem com moldes de borracha sintética
do piso com aspersão de Aspecto final de um piso
agregados na cor preta (Figura 7). Depois disso é feita a lavagem em concreto estampado
do excesso de desmoldante, seguindo-

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 73


local, aparecem os pisos em granilite,
marmorite ou “fulget”. Este último, tam-
bém conhecido por “granilite rústico”,
recebe ainda no estado de fresco re-
moção da nata superficial por lavagem,
enquanto que o granilite normal recebe,
após endurecimento e secagem, poli-
mento por uma sequência de lixas. São
pisos compostos pela mistura de areia,
cimento (branco ou cinza) e granilha
u Figura 9 u Figura 11
constituída pela mescla de grãos de
Afloramento de macrofibras Piso com acabamento em
rochas britados com pequenas dimen-
de polipropileno na superfície granilite executado há mais de
do piso de concreto sões (da ordem da brita 0), oriundos 30 anos – prédio 56 do IPT
de minerais como o mármore, granito,
quartzo, arenito e outras.
condições potenciais para pleno atendi- Para obter-se piso com qualidade 5. PISOS EM LADRILHOS
mento a todos os requisitos de desem- adequada, os princípios da dosagem HIDRÁULICOS
penho, incluindo comportamento estru- são os mesmos dos concretos estru- Saindo dos pisos cimentícios molda-
tural, resistência ao fogo, segurança no turais: agregados com baixos teores de dos no local e passando para aqueles
uso e na operação, estanqueidade e du- finos ou impurezas, matriz de agregado constituídos por placas industrializadas,
rabilidade. Todavia, em função de falhas com o melhor empacotamento possí- uma tecnologia que se perdeu um pouco
em qualquer uma das etapas de projeto vel, pasta com a quantidade mínima no tempo e ressurgiu entre nós na metade
e produção, poderão surgir patologias necessária para a união dos agrega- do século passado com força renovada
tais como: ascensão de fibras de plásti- dos e para conferir a trabalhabilidade é aquela dos ladrilhos hidráulicos. Com
co (Figura 9), pequenas desagregações, necessária na aplicação, moderada espessura total de cerca 2cm, as peças
esborcinamento de juntas, fissuras de relação água / cimento. Aplicados em são conformadas em moldes vazados de
retração (Figura 10), delaminações / pul- camadas com pequena espessura, ferro ou bronze (“margaridas”), apresen-
verulências superficiais e outros. da ordem de 15mm, tais pisos devem tando camada decorativa com cerca de
ser subdivididos em quadrados da or- 5mm de espessura, composta por cimen-
4. PISOS EM GRANILITE E FULGET dem de 1,0 a 1,5m por juntas em la- to branco, pó de mármore e pigmentos
Além dos tipos de pisos cimentados tão, alumínio ou plástico. Tomada esta inorgânicos. Lançada a nata decorativa
tradicionais, e também moldados no providência, e submetendo o material à
correta dosagem e adequado processo
de cura, os pisos em granilite ou fulget
apresentam boas condições de estan-
queidade, resistência ao desgaste por
abrasão, resistência a impactos, dura-
bilidade (Figura 11), etc. A exemplo do
que foi comentado para os pisos ci-
mentados, por deficiência de dosagem
e, mais comumente por ausência ou
insuficiência de cura, podem se desen-
u Figura 12
volver no corpo do piso em granilite ou
u Figura 10 Fissuras de retração em piso
fulget significativas fissuras de retração
Microfissuras de retração em de granilite – deficiências de
piso de concreto (Figura 12), comprometendo irreversi-
dosagem e de cura
velmente sua durabilidade.

74 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


vada pressão e da baixíssima relação de ar: o de insuflamento invertido, ou
água/cimento final, as peças apresen- seja, da base para o topo do ambiente.
tam-se praticamente impermeáveis, com No caso de pisos externos, a camada
elevadas resistências à flexão, aos im- de ar entre as placas e a laje é importan-
pactos e ao desgaste por abrasão. Por te fator de contribuição para a isolação
isso mesmo, além dos ambientes inter- térmica, constituindo boa opção para as
nos mais sofisticados, os ladrilhos hidráu- lajes de cobertura ou de terraços.
licos são aplicados em rampas de gara- Em áreas externas de grandes di-
gem (neste caso, com dentes salientes), mensões, onde o grande número reque-
praças e passeios públicos, vindo até rido de ralos e os caimentos necessários
mesmo a constituir ícones / elementos para a drenagem superficial poderiam
u Figura 13
de identidade de algumas cidades (mapa comprometer a estética ou a funciona-
Desenvolvimento de desenhos
do estado em calçadas da cidade de São lidade do piso, o sistema possibilita a
e texturas de ladrilhos
Paulo, representação de ondas nos cal- construção de pisos perfeitamente pla-
hidráulicos – ateliê da FAUUSP
çadões de Copacabana, etc.). nos, escoando a água através das frestas
Podendo ser produzidos com moti- mantidas entre as placas que o integram.
em cada compartimento do molde, sobre vos estéticos muito variados (Figura 13), Por um lado, tais frestas, se benéficas e
ela é salpicada mistura seca de cimento e ladrilhos hidráulicos de boa qualidade necessárias, por outro podem dificultar
areia, recoberta por uma camada final de apresentam extensa vida útil, com apli- o trânsito de carrinhos de bebê, cadeiras
areia, cimento e pó de pedra, com con- cações comprovadas no Brasil de mais de rodas, bicicletas e outros. Cuidados
sistência de “terra úmida”. Depois disso, de 60 anos (Figura 14) ou até da ordem também devem ser tomados para que o
o conjunto é prensado sob elevada pres- de um século, como, por exemplo, os piso elevado não se transforme num cria-
são (até da ordem de 20MPa), passando pisos existentes no Museu Paulista douro de insetos e pragas.
por pequeno período de descanso e, em (“Museu do Ipiranga”), no edifício Marti- Os primeiros pisos elevados eram
seguida, cura submersa. nelli, em muitas igrejas da época do Bra- constituídos por placas de concreto re-
Em função da conformação sob ele- sil colonial (particularmente em cidades pousando sobre alvenaria ou pequenos
históricas de Minas Gerais), etc. apoios de concreto moldados no local
(Figura 15): efetuava-se o nivelamento
6. PISOS ELEVADOS da face superior do piso, moldando-se
Pisos elevados facultam a instalação de cada apoio na altura necessária. Depois
dutos e cabos, as adaptações de layout, disso, vieram as placas pré-fabricadas
a personalização e flexibilização dos am-
bientes. Interna ou externamente, facilitam
ainda as operações de manutenção de
instalações neles embutidas, bem como
de impermeabilizações ou do próprio piso,
com a possibilidade de simples substitui-
ção de placas modulares apoiadas sobre
pedestais, sem a necessidade de rompi-
mento de concretos ou argamassas.
Devidamente projetados, podem
ainda contribuir para o isolamento acús-
u Figura 14 u Figura 15
tico entre pavimentos, particularmente
Piso em ladrilhos hidráulicos – Piso elevado – placas de
no que concerne aos ruídos transmi-
acesso ao refeitório do IPT, concreto sobre apoios de
tidos por impacto, e também para um
executado há mais de 60 anos concreto moldados no local
sistema alternativo de condicionamento

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 75


da isolação acústica, há que se desta- estruturais a ela conectados, e que a isola-
car duas situações: ção aos ruídos de impacto pode ser muito
a) som aéreo: as ondas sonoras pro- melhorada revestindo-se o piso com car-
pagam-se no ar em todas as frequ- petes e forrações têxteis, mantas de bor-
ências audíveis, atingindo anteparos racha ou plástico.
que, ao vibrarem, transmitem o som A norma NBR 15.575-3 estabelece
u Figura 16 para o ambiente oposto à posição que, “sob ação de ruído de impacto
Piso elevado sobre pedestais
da fonte emissora – quanto mais padronizado, aplicado na face superior
de plástico com altura regulável
denso o material, menor a transmis- do entrepiso, a unidade habitacional
e cabeça multiangular
(Foto Buzon) são do som aéreo; deve apresentar nível de pressão sono-
b) transmissão de ruído por impac- ra (L’nT,w) inferior a 80 decibéis”, expli-
to: percutindo-se um corpo sólido, cando ainda que esse valor correspon-
em aço, alumínio, concreto, plásticos a onda caminha pelo material e é de à isolação propiciada por uma laje
de engenharia (PVC, PEAD etc), placas transmitida pelo ar para o ambien- de concreto armado com espessura
de rocha estruturadas com telas de fibra te contíguo, em geral com pequeno em torno de 10 ou 12cm. Para o nível
de vidro no tardoz, porcelanato e placas amortecimento – quanto mais den- intermediário de desempenho, previsto
de madeira reconstituída (MDF / HDF, so o material, maior a transmissão na mesma norma, o ruído de impacto
OSB – com possibilidade de revesti- do ruído por impacto. deve estar compreendido entre 55 e 65
mento em carpete, manta de vinil, lami- Nos edifícios habitacionais os desen- dB, e, para o nível superior de desem-
nado melamínico e outros). Criaram-se tendimentos mais importantes entre con- penho, o nível sonoro não pode superar
os pedestais reguláveis, telescópicos, dôminos têm surgido exatamente em fun- 55 dB, o que só pode ser obtido “com
em aço ou plástico (Figura 16), inclusive ção da transmissão de ruídos de impacto o tratamento acústico da laje”.
com articulações que permitem manter pelos entrepisos, fenômeno realçado com Referido tratamento acústico é ge-
o piso nivelado mesmo se apoiado so- o crescente emprego de pisos frios, de la- ralmente executado intercalando-se
bre uma laje inclinada. jes nervuradas e de lajes zero, neste último elementos amortecedores / mantas
Em função do correto dimensiona- caso com a eliminação dos contrapisos e de material resiliente (Figuras 17 e 18)
mento estrutural (placas e apoios), da a aplicação direta de assoalhos ou revesti- entre a laje e o contrapiso, constituindo
correta impermeabilização e drenagem da mentos pétreos sobre as lajes. Destaque-
laje de apoio (pisos externos ou internos -se que a transmissão do ruído de impac-
em áreas molháveis) e das característi- to não acontece somente pela própria laje,
cas indicadas nos itens anteriores para mas também pelas paredes ou elementos
os pisos de concreto, os pisos elevados
reúnem potencial para pleno atendimento
aos requisitos de desempenho. Cuidados
devem ser verificados para a eventual
solicitação transmitida por equipamentos
transitando sobre o piso (empilhadeiras,
plataformas elevatórias etc.), cujas cargas
concentradas das rodas pode levar à rup-
tura das placas, e também com a fresta
presente entre placas contíguas, cuja
abertura máxima é estabelecida em 4 mm
u Figura 17
pela norma NBR 15575 – Parte 3.
Piso flutuante sendo executado u Figura 18
com manta plástica dotada de Piso flutuante sendo executado
7. ENTREPISOS ACÚSTICOS
alvéolos amortecedores com manta de polietileno
Do ponto de vista da transmissão e

76 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


u Tabela 2 – Critérios e níveis de desempenho de coberturas quanto
à transmitância térmica (fonte: Tabela I.4 da NBR 15.575 – Parte 5)

Transmitância térmica (U) das com potencial de atingir desempe-


W/m2K
nho adequado. Na escolha do sistema,
Nível de
Zonas 1 e 2 Zonas 3 a 6 Zonas 7 e 81 além do custo e dos padrões estéticos,
desempenho
a1 ≤ 0,6 a1 > 0,6 a1 ≤ 0,4 a1 > 0,4 há que se analisar os vários requisitos
U ≤ 2,3 Mínimo que foram aqui listados, incluindo des-
U ≤ 2,3 U ≤ 1,5 U ≤ 2,3 FV U ≤ 1,5 FV
a1 ≤ 0,6 a1 > 0,6 a1 ≤ 0,4 a1 > 0,4 de o comportamento mecânico até
U ≤ 1,5 Intermediário o conforto no caminhar (rugosidade,
U ≤ 1,5 U ≤ 1,0 U ≤ 1,5 FV U ≤ 1,0 FV
a1 ≤ 0,6 a1 > 0,6 a1 ≤ 0,4 a1 > 0,4 temperatura, coeficiente de condutivi-
U ≤ 1,0 Superior dade térmica), passando pela seguran-
U ≤ 1,0 U ≤ 0,5 U ≤ 1,0 FV U ≤ 0,5 FV
1
Na zona bioclimática 8 também estão atendidas coberturas com componentes de telhas cerâmicas, mesmo que a cobertura ça na circulação (presença de frestas,
não tenha forro. mudanças de plano com pequena di-
NOTAS
O fator de ventilação (FV) é estabelecido na ABNT NBR 15220-2; Zonas bioclimáticas brasileiras são aquelas definidas na ferença de cota, sem sinalização, coe-
ABNT NBR 15220-3; A determinação da transmitância térmica, por método simplificado, é definida na ABNT NBR 15220-2.
ficiente de atrito dinâmico) e chegando
até a durabilidade e manutenibilidade,
os chamados “pisos flutuantes”, empre- acabamentos em placas cerâmicas, pi- facilidades de limpeza, de execução de
gando-se mantas com espessuras que sos cimentados ou outros, enquadram-se reparos e de substituição. Sob o ponto
podem variar de 5 a 25mm integradas pela norma NBR 15575 na categoria de de vista da sustentabilidade, devem ser
por ampla gama de materiais: polietile- “sistema de piso de áreas de uso coletivo ainda considerados aspectos de con-
no, poliéster ou poliestireno expandido, sobre unidades autônomas”, devendo por sumo de energia na produção e na ma-
plástico reconstituído, lã de vidro, lã de isso mesmo apresentar nível de pressão nutenção dos pisos, poluentes gerados
rocha, borracha com baixa densidade sonora (L’nT,w) inferior a 55 decibéis. na produção e aplicação, possibilidade
(inclusive borracha reconstituída), feltro, Portanto, para as lajes de cobertu- de reciclagem dos materiais ao término
cortiça, aglomerado de fibras de ma- ra acessíveis, com exigência bem mais do ciclo de vida e outros.
deira e outras. O tratamento bem exe- rigorosa de isolação acústica, é pratica- O desempenho adequado, além da
cutado (materiais adequados, ausência mente indispensável a adoção de pisos qualidade satisfatória dos materiais e
de pontes de transmissão sonora etc.) flutuantes, conforme item anterior, sendo da execução, passa necessariamente
pode reduzir o nível de pressão sonora recomendável o dimensionamento do pelos bons projetos, não se podendo
do ambiente até valores acima de 20 ou material resiliente também em termos atribuir a fissuração de um piso externo
30dB em relação ao resultado obtido da isolação térmica da laje de cobertura. de cor escura, com área muito extensa
com a respectiva laje sem tratamento. Nesse caso, salvo análises mais precisas e sem juntas de dilatação, a deficiên-
Sobre as mantas resilientes deve (modelagem / simulação computacional), cias do cimento ou do concreto. Aliás,
ser executado contrapiso com espes- a norma de desempenho NBR 15575 - dizem os especialistas que não existem
sura em torno de 5cm, constituído, por Parte 5 estabelece valores mínimos de materiais de construção bons ou ruins,
exemplo, com concreto de traço em transmitância térmica do sistema de co- mas, isto sim, materiais bem ou mal apli-
massa de 1 : 2 : 4 (cimento, areia grossa bertura (independentemente se for laje cados, adequados ou inadequados ao
e pedrisco) ou contrapiso autonivelante ou telhado) e ainda valores de referência meio a que foram destinados.
(concreto um pouco mais argamassado, para os níveis intermediário e superior de Também não se pode esperar exce-
slump flow em torno de 70cm), criando- desempenho, em função da zonas bio- lente desempenho de um piso acústico
-se juntas e armando-se o contrapiso climáticas do Brasil, reproduzindo-se na cujos alvéolos da manta resiliente foram
para evitar o desenvolvimento de fissu- Tabela 2 os referidos valores. colmatados pela nata de cimento duran-
ras de retração (por exemplo, tela Q 92 te a execução do contrapiso. Ou seja,
– Ø4,2mm cada 15cm). 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS os pisos só atingirão adequado nível de
Há um número muito grande de desempenho e vida útil, igual ou superior
8. LAJES DE COBERTURA soluções técnicas para a execução àquelas previstas na norma NBR 15575,
ACESSÍVEIS de pisos, não só aquelas baseadas no caso sejam adequadamente concebidos,
As lajes de cobertura acessíveis, com emprego de produtos cimentícios, to- projetados, executados e mantidos.

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 77


u mantenedor
encontros e notícias | CURSOS

Desenvolvimento e controle
tecnológico do concreto
autoadensável para produção
de aduelas pré-moldadas
para torres eólicas
FÁBIO DE MELO LEONEL – Gerente de Qualidade e Tecnologia CARLOS EDUARDO S. DE MELO – Assessor Técnico
CARLOS J. DE RESENDE – Coordenador Técnico FABRÍCIO CARLOS FRANÇA – Assessor Técnico
LafargeHolcim (Brasil) – Divisão Concreto LafargeHolcim (Brasil) – Divisão Cimento

JOSÉ VANDERLEI DE ABREU – Gerente de Assessoria Técnica, Qualidade e Oil & Gas
RODRIGO MENEGAZ MULLER – Head of Ductal® Brasil / LATAM
LafargeHolcim (Brasil)

1. INTRODUÇÃO efetiva e a capacidade total de ge- tura da torre, pode-se gerar entre

O
mercado de energia eóli- ração de energia) dos parques eóli- 0,5% a 1% a mais de energia eóli-
ca no Brasil está pujan- cos brasileiros é em média de 50%, ca. O recorde mundial de altura foi
te e chegando a 13 GW contra 30% nos demais parques ao alcançado na Alemanha em 2017,
de capacidade produtiva no mês de redor do mundo. Isto significa que, com 178 metros de torre, e altura
fevereiro de 2018, com 518 parques para cada GW/hora de potência ins- total de 246,5 metros (até a extremi-
em operação. Marca importante para talada no mundo, o Brasil gera 200 dade das pás).
nosso país, que nos coloca na lide- MW/hora adicionais, em relação a No Brasil, os principais parques
rança deste mercado na América La- média mundial. eólicos estão situados na região Nor-
tina e como um dos líderes do mer- Com o crescimento do merca- deste, localidade com maior disponi-
cado global (8º colocado no Ranking do de geração de energia, cresce bilidade de ventos do país. Face aos
Global – Tabela 1). Com os 4,8 GW também a altura das torres. Essa benefícios da maior altura das torres,
de projetos em construção e con- busca por torres cada vez mais altas o processo construtivo com concreto
tratados, brevemente a geração de está ligada à melhoria da qualidade armado ou protendido apresenta al-
energia por meio do vento irá atingir do vento, ou seja, ao poder de ge- gumas vantagens em relação às tor-
a mesma capacidade produtiva da rar mais energia. Quanto mais alta res em aço, entre essas:
Usina Hidrelétrica de Itaipu, ou seja, a torre, menor a turbulência e maior u disponibilidade de material: o
aproximadamente 19 GW. Ainda a velocidade do vento. Consequen- concreto está disponível em pra-
pode-se considerar que o potencial temente, maior o aproveitamento do ticamente todas as regiões do
estimado para a geração no Brasil é aerogerador e maiores os ganhos Brasil;
de 500 GW e que o fator de capa- financeiros. Estudos apontam que u capacidade do concreto para
cidade (proporção entre a produção para cada 1 metro adicionado à al- atingir grandes alturas e suportar

78 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


maiores aerogeradores; conse-
quentemente, suportar maior peso
u Tabela 1 – Ranking mundial de capacidade Instalada de energia eólica
e cargas dinâmicas;
Dez maiores capacidades instaladas Dez maiores capacidades acumuladas
u melhoria no comportamento dinâ- Jan-Dez 2017 Dez 2017
mico das torres, reduzindo a fadi- % %
País MW País MW
ga e aumentando sua vida útil; participação participação
u ligações estruturais confiáveis e PR China 19.500 37 PR China 188.232 35
testadas, proporcionando monta- USA 7.017 13 USA 89.077 17
gens rápidas; Alemanha 6.581 13 Alemanha 56.132 10
u excelente resposta às ações Reino Unido 4.270 8 Índia 32.848 6
sísmicas; Índia 4.148 8 Espanha 23.170 4
u baixa necessidade de manutenção; Brasil 2.022 4 Reino Unido 18.872 3
u maior durabilidade em qualquer França 1.694 3 França 13.750 3
ambiente. Turquia 766 1 Brasil 12.763 2
O avanço tecnológico na indústria México 478 1 Canadá 12.239 2
do concreto e as especificações de Bélgica 467 1 Itália 9.479 2
projeto para torres eólicas na ordem Restante Restante
5.630 11 83.008 15
do mundo do mundo
de 60 MPa fazem com que a tecno-
Total 10 Total 10
logia concreto autoadensável (CAA) 46.943 89 456.572 85
maiores maiores
seja uma solução bastante atraente Total mundial 52.573 100 Total mundial 539.581 100
para vencer os desafios impostos.
Fonte: GWEC
Assim sendo, apresenta-se neste ar-
tigo o desenvolvimento, a produção
e o controle tecnológico do CAA apli- 2. DESCRIÇÃO DE UM PARQUE Cada torre é composta por 18
cado como solução construtiva para EÓLICO BRASILEIRO EM TORRE segmentos de aduelas, unidos por
um dos pátios eólicos da região Nor- DE CONCRETO – UM ESTUDO uma armadura passiva. As fôrmas
deste do Brasil. DE CASO dispõem de encaixe tipo macho e
Vamos descrever um projeto de fêmea, com uma mínima janela para
parque eólico já executado que con-
sistiu na produção total de 43 torres
em concreto, utilizando aproximada-
mente 16 mil m3 de CAA, subdividi-
dos em lotes de 4,7 m3 (3.500 lotes).
Os lotes apresentaram uma variação
de volumes por peças em função das
variações dimensionais das aduelas
fabricadas (elementos pré-molda-
dos), que, após consolidadas, resul-
tam nas torres ilustradas nas Figuras
1 e 2.
As especificações do CAA das
aduelas (Tabela 2) foram mais res-
tritivas do que as prescritas na
u Figura 1
Norma da ABNT NBR15823/2017
Segmento de aduela – u Figura 2
vista horizontal parte 1 – Concreto Autoadensável – Torre montada – vista frontal
Especificação.

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 79


u Tabela 2 – Características especificadas para o CAA

Parâmetro Requisito
Resistência à compressão 28 dias ≥ 60 MPa
Resistência à compressão 12 horas ≥ 25 MPa
Módulo de elasticidade secante (0,4 fc) ≥ 28 GPa
Slump flow 750 ± 50 mm
Funil V - viscosidade aparente ≤9s
Anel J – habilidade passante < 50 mm
u Figura 3
Caixa L – habilidade passante em fluxo confinado ≥ 80 Lançamento do CAA através da
Resistência a segregação ≤ 10% janela de aplicação na fôrma

aplicação do CAA. Essas aduelas perplastificantes, que não interferis- piciar retardo de pega ao concreto
são consolidadas in loco com o em- sem no tempo de pega do concreto, e, obrigatoriamente precisaria ter
prego de grautes de alta resistên- uma vez que o projeto não conside- alta compatibilidade com cimento
cia. Após montadas, as torres va- rou a utilização de cura térmica para empregado. O cimento definido pela
riavam entre 7 a 10 metros em seu obtenção do desempenho mecânico equipe de tecnologistas foi o CPV
diâmetro podendo superar aos 100m inicial do CAA. A obtenção de con- ARI PLUS, produzido na unidade
de altura, dependendo de cada cretos com baixa viscosidade, sem da LafargeHolcim de Caaporã (PB),
projeto unitário. a necessidade do consumo elevado produto utilizado basicamente para
de água, garantiu o consumo ade- o segmento de pré-moldados e ar-
3. DESENVOLVIMENTO quado de cimento, evitando-se pa- tefatos de concreto. Esse cimento
TECNOLÓGICO DO CAA tologias no concreto e elevação dos em particular, tem características de
custos. resistência inicial elevada e superfí-
3.1 Seleção dos materiais Quando da seleção dos aditivos, cie específica (Blaine) relativamente
um fator fundamental considerado baixa, o que propiciou ao CAA uma
Por se tratar de um concreto foi a resistência requerida em pro- menor demanda de água por m 3 de
especial, a seleção dos materiais jeto a baixa idade para o CAA, ou concreto, adequando-se às especi-
constituintes do CAA é um item que seja: 25 MPa a 12 horas de idade. ficações do concreto empregado.
requereu especial atenção, sobretu- Como não havia cura térmica, o adi- Uma vez estabelecidos os crité-
do quando da seleção do cimento tivo a ser utilizado não poderia pro- rios básicos para a dosagem, o maior
Portland e dos aditivos químicos,
que requereram atenção redobra-
da dos tecnologistas, em função
das condições ambientais da obra
(temperaturas de aproximadamente
30ºC) e das propriedades requeridas
do concreto especificado: elevadas
resistências mecânicas no estado
endurecido e baixa viscosidade no
estado plástico. Para obter elevada
resistência à compressão axial (ini-
cial e final), a relação água/cimento u Figuras 4 e 5
Vista externa e interna - consolidação das aduelas com groute
foi mantida baixa. Para obter eleva-
de alta resistência
da fluidez, fez-se uso de aditivos su-

80 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


desafio foi identificar no mercado um
aditivo superplastificante que propor-
u Tabela 3 – Características físicas do CPV ARI LafargeHolcim
cionasse uma baixa relação a/c, alta
Início Final de Resistência (MPa)
fluidez, baixa interferência na visco- Blaine
de pega pega
(cm2/g) 1 dia 3 dias 7 dias 28 dias
sidade e, principalmente, nenhuma (min) (min)
interferência no tempo de pega e, CPV ARI 4520 168 224 27,2 37,5 43,7 53,3
consequentemente na resistência ABNT NBR 5733 > 3000 > 60 > 600 > 14 > 24 > 34 –
inicial do CAA. Para facilitar a sele-
ção do aditivo, a equipe utilizou um u Qual a relação ideal entre Fluidez e u Qual a necessidade de complemen-
calorímetro como ferramenta princi- Viscosidade da pasta? tação de volume de pasta?
pal neste processo. A partir do moni- u Qual aditivo melhor combinou com u Qual tipo e quantidade de “superfi-
toramento das temperaturas de início o cimento e em que dosagem? nos” a usar?
de hidratação do cimento e avaliação u Qual a manutenção de plasticidade u Quais as interferências no módulo
da maturidade do CAA em presen- adequada para a trabalhabilidade de elasticidade?
ça dos aditivos, foi possível analisar adequada e moldagem das formas? d) Ajustes
curvas de calor liberado e mensurar b) Conhecimento dos agregados u O traço apresentado está estável?
o efeito do tipo e teor de cada aditivo u Qual o perfil granulométrico ideal u A manutenção de plasticidade é
avaliado no comportamento reológi- para o traço? adequada?
co / mecânico do concreto (Figura 6). u Qual o fator brita/areia mais u As dosagens de água e aditivo pre-
Outro desafio superado pela adequado? cisam ser revistas?
equipe foi a seleção dos agregados, u Qual o valor da porosidade presente u A trabalhabilidade atende aos
uma vez que existia uma carência de na melhor mistura? requisitos?
fornecedores locais com controle de u Quais as faixas de variação dos parâ- u As resistências foram atingidas?
qualidade e produção desses insu- metros granulométricos aceitáveis? u O volume de pasta previsto resultou
mos, além de haver poucas opções c) Escolha do volume de pasta na reologia desejada?
na região que pudessem fornecer u Qual o fator de espaçamento dese- O trabalho de dosagem não ter-
produtos adequados dentro de uma jado para obter a melhor reologia? mina com a emissão do traço e as
logística e engenharia de custo que
atendessem ao projeto. Consequen-
Fluxo de Calor Comparativo - CPV ARI
temente, se fez necessário a utili-
zação de alternativas tecnológicas CPV ARI - PURO CPV ARI - 1% CPV ARI - 1,2% CPV ARI - 1,4%
90
como, por exemplo, a utilização de
filler calcário como agente corretivo
75
da reologia do CAA.

60
Temperatura (°C)

3.2 Roteiro empregado


para formulação do CAA
45
para aduelas

30
De modo geral a metodologia de
formulação da dosagem para esse tipo
15
de projeto é resumida nas respostas da 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48

seguinte sequência de perguntas: Horas

a) Conhecimento da pasta de cimento


u Figura 6
u Qual o fator a/c adequado ao aten-
Exemplo do estudo realizado com calorimetria entre Cimento x Aditivo
dimento das resistências e reologia?

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 81


u Tabela 4 – Traço do CAA inicial u Tabela 5 – Traço CAA – resultados obtidos

Insumo kg Parâmetro Requisito de projeto Resultado obtido


Resistência à compressão 28 dias ≥ 60 MPa 74,5 MPa
CPV ARI PLUS 495
Resistência á compressão 12 horas ≥ 25 MPa 32,2 MPa
Filer calcário 80
Módulo de elasticidade secante (0,4 fc) ≥ 28 GPa 35,3 GPa
Areia natural 827
Slump flow Classe SF2 756 mm
Brita 0 802
Funil V – viscosidade aparente VF1 7,6 s
Aditivo super 9,5
Anel J – habilidade passante PJ1 24 mm
Água 189
Caixa L – habilidade passante em fluxo confinado ≥ 80 0,92
Densidade (kg/m3) 2402
Resistência a segregação ≤ 10% 5,6%
Ar Inc.% 2,2
a/c 0,38
AS% 63,3 terísticas produtivas e necessida- Tabelas 4 e 5 indicam característica
des do cronograma de obra; de um dos traços.
respectivas quantidades de cada u Melhorias operacionais focando a
material a ser utilizado. Na verdade, manutenção de plasticidade prin- 4. CONTROLE TECNOLÓGICO
o trabalho foi contínuo ao longo do cipalmente no pico de temperatu- DO CAA
tempo e ajustes foram realizados em ra do dia.
função das seguintes condicionantes: Desse modo, a presença dos tec- 4.1 Slump flow e Funil V
u Período de chuva exigiu traços mais nologistas no canteiro foi fundamen-
“robustos” em relação à segrega- tal para o monitoramento dessas de- No gráfico da Figura 8, observa-se
ção, devido à alta variabilidade da mandas e para garantir um tempo de que o início do processo produtivo, há
umidade dos agregados; resposta adequado. O tecnologista é uma maior variação nos resultados de
u Períodos de menor temperatura considerado como uma peça-chave Slump Flow e Funil V, alcançando a
ambiente afetaram significativamen- na estrutura organizacional de um estabilidade na fase média do projeto.
te as resistências iniciais; projeto para produção de aduelas de As variações iniciais nos processos e
u Desvio padrão da produção; CAA para torres eólicas. Ao final des- operações foram superadas ao longo
u Mudanças no comportamento do te projeto, foram utilizadas mais de do projeto com investimentos em trei-
cimento/aditivo exigiram revisões 10 dosagens diferentes de traço. As namentos contínuos.
das dosagens;
u Elevação do tempo de desforma
de 8 h para 16 h, devido às carac-

u Figura 7 u Figura 8
Slump flow do CAA Evolução dos resultados do Slump flow e Funil V ao longo do tempo

82 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


4.2 Anel J

Utilizado para avaliar habilidade


passante sob fluxo livre, este ensaio
também foi amostrado em todos os
lotes, sendo adotado como limite má-
ximo 50 mm, não apresentando gran-
des variaçõesem seus resultados.

4.3 Caixa L

Avalia também a habilidade pas-


sante, porém sob o fluxo confinado
e foi amostrado parcialmente em
aproximadamente 20% dos lotes
produzidos. Trata-se de um ensaio
de difícil execução no canteiro, não u Figura 9
sendo seu resultado proveitoso na
Análise estatística dos resultados obtidos em campo
avaliação das propriedades do CAA
em escala industrial. pode-se considerar que os controles materiais constituintes, preparo, apli-
de processo e execução adotados cação e controle do CAA. Entretanto,
4.4 Resistência à segregação pelos tecnologistas foram bastan- na prática por uma questão de logís-
te satisfatórios na mitigação dessa tica interna, a maioria das avaliações
Também considerada de difícil variável. foram realizadas com idade de16 ho-
execução “in loco” (a exemplo da ras, resultando em valores que supe-
Caixa L) e sendo solicitado pelo 4.5 Resistência inicial raram em demasia o requisito inicial
gerenciamento em ocasiões muito para desforma de projeto.
especificas nas quais uma inspe-
ção visual indicava a necessidade Um dos mais desafiantes pa- 4.6 Resistência à compressão
de uma análise mais aprofundada. râmetros de controle do projeto, a aos 28 dias
Encontraram-se variações entre 1% resistência inicial de 25 MPa em 12
e 7%, o que foi considerado bastan- horas necessitou especial atenção Principal parâmetro de controle
te adequado, para um limite máximo por parte dos tecnologistas nos pro- do CAA no estado endurecido (re-
especificado de 10%. Assim sendo, cessos de dosagens, escolha dos sistência de projeto de 60 MPa aos

u Tabela 6 – Resultados consolidados do controle do CAA

Ensaio Quant. amostra Unidade Valores médios Valores mínimos Valores máximos sd
Slump flow 3421 mm 756,1 640,0 825,0 19,5
Funil V 3421 s 6,94 2,20 15,00 0,86
Anel J 3421 mm 18,13 0,0 80,0 12,57
Caixa L 660 cm 0,932 0,85 0,99 0,02
Segregação 18 % 3,84 0,62 7,01 1,99
R desforma 659 MPa 41,07 23,60 70,90 7,59
R 28 dias 592 MPa 70,69 60,04 87,29 4,72

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 83


5. LIÇÕES APRENDIDAS
O comportamento correlato entre
as propriedades de fluidez e viscosi-
dade foi motivo de grandes discus-
sões operacionais, que ocorreram no
momento da aplicação do concreto,
motivadas pelos limites restritos de
controle e variação do processo pro-
dutivo e do próprio ensaio. Por isso,
foi estabelecido, durante o andamento
do projeto, um padrão de aceitação,
baseado na combinação de ambos os
ensaios, o que pode ser verificado na
Figura 10.
Durante o projeto, foram realizados
3.421 ensaios de Slump Flow e Funil V
u Figura 10 para aprovação dos lotes produzidos
Ábaco de relação Funil V e Slump flow para o controle de qualidade no es-
tado fresco. Observa-se que há uma
28 dias) para aprovação dos lotes, os 4.7 Resultados consolidados relação direta entre esses dois parâ-
resultados obtidos foram extrema- metros plásticos, conforme ilustrado
mente satisfatórios conforme ilustra A Tabela 6 mostra de maneira no gráfico da Figura 11.
o gráfico evolutivo da Figura 9, com resumida os resultados reais con- A adoção do ábaco da Figura 10
uma probabilidade estatística de não solidados obtidos durante todo foi fundamental para reduzir as diver-
atendimento da resistência de ape- o controle do CAA das aduelas gências operacionais entre a produção
nas 1,19%. pré-moldadas do concreto e a aplicação nas aduelas.
Nessa forma gráfica, os responsáveis
pelo recebimento e aprovação do lote
analisam o valor da viscosidade para
obter um concreto trabalhável sufi-
ciente para prevenir a segregação,
mas não tão viscoso a ponto de com-
prometer o preenchimento correto das
fôrmas, de acordo com cada patamar
de fluidez. Quando o concreto apre-
senta pares de valores fora dos limi-
tes adequados, ações corretivas eram
imediatamente realizadas sobre o vo-
lume de concreto recém-produzido
(lote), conforme orientação do tecno-
logista local.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O elevado grau de complexidade
u Figura 11
deste projeto em todas as etapas re-
Relação entre Funil V e Slump flow
sultou em uma analise criteriosa por

84 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


parte da equipe de tecnologistas obje- sendo necessária a adoção da cultu- possível com uma perfeita definição
tivando um maior controle e mitigação ra de melhoria continua diariamente. dos papeis e responsabilidades de
de riscos. Desde a seleção das maté- Como resultado, melhoria expressiva cada equipe em função das necessi-
rias-primas, passando pelos ajustes na qualidade e produtividade ao lon- dades e especificidades do projeto.
de parâmetros contratuais/projeto em go da execução de todo o projeto, Por fim, conforme demonstrado,
relação aos resultados obtidos do ini- chegando-se ao nível de produção e salienta-se que o controle tecnoló-
cio até o fim da última aduela produzi- controle de uma indústria de pré-mol- gico do CAA apresentou excelentes
da, buscando zero não conformidade. dados de grande porte. resultados, com desvios aceitáveis
Com um prazo de execução relati- Como aprendizado para projetos nos 3421 lotes de avaliados, em um
vamente curto, o desafio de se manter semelhantes, salienta-se que a intera- processo com grande quantidade de
o padrão de qualidade do inicio ao fim ção entre as equipes de tecnologia e variáveis, totalizando 16 mil m3 de CAA
em uma planta de canteiro foi elevado, operacional deve iniciar o mais breve com índices mínimos de rejeição.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEolica). Brasil sobe mais uma posição no Ranking mundial de capacidade instalada de energia eólica. São Paulo,
2017. Disponível em: < http://www.abeeolica.org.br/noticias/brasil-sobe-mais-uma-posicao-no-ranking-mundial-de-capacidade-instalada-de-energia-eolica/>.
Acesso em: 11 abr. 2018
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR15823/2010: Concreto auto–adensável: parte 1 a 5: Classificação, controle e aceitação no estado
fresco. Rio de Janeiro, 2017.
[3] PRÁTICA Recomendada Ibracon: Concreto Auto adensável. Instituo Brasileiro do Concreto (Org.) São Paulo: Ibracon, 2015. 88 p. Disponível em:
<http://www.ibracon.org.br/ebook_praticas/>. Acesso em: 11 abr. 2018.

Prática Recomendada IBRACON/ABECE


Projeto de Estruturas de Concreto Reforçado com Fibra

Elaborada pelo CT 303 – Comitê Té cnico IBRACON/ABECE sobre Uso de


Materiais Nã o Convencionais para Estruturas de Concreto, Fibras e Concreto
Reforçado com Fibras, a Prática Recomendada é um trabalho pioneiro no
Brasil, que traz as diretrizes para o desenvolvimento do projeto de
estruturas de concreto reforçado com fibras.

Baseada no fib Mode Code 2010, a Prática Recomendada estabelece os


requisitos mıń imos de desempenho mecâ nico do CRF para substituiçã o
parcial ou total das armaduras convencionais nos elementos estruturais e
indica os ensaios para a avaliaçã o do comportamento mecâ nico do CRF.

Aquisição DADOS TÉCNICOS


www.ibracon.org.br ISBN: 978-85-98576-26-8
(loja virtual)
Edição: 1ª edição
Formato: Eletrônico
Páginas: 39
Patrocínio
Acabamento: Digital
Belgo Bekaert Arames

Ano da publicação: 2016


Coordenador: Eng. Marco Antonio Carnio
Pode confiar
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encontrose edesenvolvimento
notícias | CURSOS

Análise experimental de uma


parede de alvenaria estrutural
de blocos de concreto de três
células em situação de incêndio
RÚBEN F. R. LOPES – Doutorando JOÃO M. PEREIRA – Investigador Pós-doutorado
JOÃO PAULO C. RODRIGUES – Professor PAULO B. LOURENÇO – Professor
Universidade de Coimbra, Portugal Universidade do Minho, Portugal

I. INTRODUÇÃO sultou numa redução pronunciada da incêndio devido ao deslocamento do

A
s alvenarias têm sido usa- sua resistência ao fogo. Foi também ponto de aplicação da carga verti-
das ao longo dos séculos verificado que o tempo até ao colap- cal em relação ao centro da parede.
em paredes estruturais ou so estrutural é maior para menores Shields et. al. [3] estudaram também
simples de compartimentação. Nos esbeltezes das paredes. a curvatura de origem térmica em
últimos 50 anos, houve algumas in- Em 1970 e 1980, Lawrance e paredes de alvenaria e a influência
vestigações para avaliar a resistência Gnanakrishnan [2] realizaram uma do aquecimento diferencial nelas.
ao fogo de paredes de alvenaria de campanha de ensaios de resistência Esse estudo foi realizado com blo-
diversos materiais, sendo um deles o ao fogo em 146 paredes resistentes cos silico-calcários maciços em es-
concreto. Em 1970, Byrne [1] realizou à escala natural, com unidades de cala reduzida, não estando a parede
14 ensaios de resistência ao fogo em alvenaria de diferentes materiais e restringida axialmente no seu topo e
paredes estruturais de tijolo cerâmi- espessuras. Os resultados dessa in- lateralmente. Os autores concluíram
co maciço, variando a altura e a car- vestigação comprovaram as conclu- que existem dois tipos de curvatura
ga aplicada na parede e mantendo sões das investigações de Byrne [1]. térmica, restringida e não restringi-
constante o comprimento e a espes- Estes autores afirmaram que são ne- da, que condicionam o seu compor-
sura da parede. Nessa investigação cessários mais estudos sobre o com- tamento em situação de incêndio.
verificou-se que a esbeltez (relação portamento de paredes de alvenaria Estes dois tipos de curvatura atuam
altura/espessura) e o nível de carre- em situação de incêndio, nomeada- independentemente uma da outra
gamento aplicado têm uma grande mente sobre os efeitos do nível de na parede de alvenaria, sendo que a
influência na capacidade resistente carregamento no tempo de colapso curvatura restringida originou defor-
da parede sujeita a ações verticais e estrutural das paredes expostas ao mações permanentes enquanto que
em situação de incêndio. As paredes incêndio. a não restringida apenas originou de-
menos esbeltas, com esbeltez igual A curvatura de origem térmica foi formações reversíveis após arrefeci-
ou inferior a 20, apresentaram uma também um fenômeno estudado por mento dos corpos de prova.
resistência ao fogo de pelo menos Byrne [1] e Lawrence e Gnanakrish- Os trabalhos experimentais de-
sessenta minutos, para qualquer ní- nan [2]. Este fenômeno foi conside- senvolvidos por Byrne [1], Lawrence
vel de carregamento. Já o aumento rado uma das principais razões para e Gnanakrishnan [2] e Shields et. al.
do valor da esbeltez das paredes re- o colapso das paredes em caso de [3] permitiram o desenvolvimento de

86 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


modelos numéricos para o dimensio- a um patamar prolongado dos deslo- O corpo de prova era fixo a uma
namento em situação de incendio de camentos fora do seu plano. Todavia laje de reação através de fixação me-
paredes de alvenaria maciças, como estes momentos levam ao colapso cânica com parafusos.
o modelo desenvolvido por Nadjai da parede assim que ocorre o des- Para distribuir a carga no plano
et. al. [4]. tacamento de parte das unidades da parede foi usada uma viga com
Em 2007, Al Nahhas et. al. [5] de alvenaria. 1,45 m de comprimento compos-
apresentaram um estudo experimen- A investigação em paredes de ta por um perfil de aço RHS 350 x
tal e numérico de paredes estruturais alvenaria estrutural em situação de 150 mm, preenchido com concreto,
com blocos de concreto de alvéolos incêndio está ainda numa fase inci- e uma viga com 1,98 m de compri-
verticais em situação de incêndio. piente e certamente muitos trabalhos mento, composta por um perfil de
Este estudo identificava o fenômeno são necessários na área. Neste tra- aço HEB 240 (Fig. 1).
de mudança de estado da água livre balho, são apresentados os resulta- Os dados dos ensaios foram re-
no material constituinte do corpo de dos de um estudo para avaliação da gistados num datalogger TML TDS-
prova e ainda a existência de perío- capacidade de carga a temperaturas 530. Todos os dados de medição
dos de tempo sem mudanças signifi- elevadas e resistência ao fogo de pa- dos deslocamentos laterais e tem-
cativas nos valores dos deslocamen- redes de alvenaria resistente de con- peraturas foram escolhidos de acor-
tos verticais e dos deslocamentos creto com blocos de três células [9]. do com a EN 1365-1 [10] (Fig. 3)
fora do plano da parede e também O estudo foi realizado no Laboratório
na temperatura do corpo de prova. de Ensaio de Materiais e Estruturas
1 10
Estes patamares ocorreram quando da Universidade de Coimbra, com a
a temperatura na face não exposta colaboração da Universidade do Mi- 2
do corpo de prova atingia temperatu- nho, em Portugal. 11
3
ras próximas da temperatura de eva-
poração da água livre no concreto à 2. ENSAIOS EXPERIMENTAIS 4
pressão atmosférica, ou seja, 100ºC.
5
Nguyen e Meftah [6] realizaram 2.1 Sistema experimental
posteriormente ensaios de resistên- 6
cia ao fogo em paredes de tijolos ce- A Figura 1 mostra uma foto do
râmicos com alvéolos e verificaram sistema experimental de ensaio de 7
a existência de períodos de tempo resistência ao fogo das paredes.
sem variação nos deslocamentos Este sistema experimental era com- 8

verticais e laterais e na temperatura posto por um pórtico de reação, com 9 12


dos corpos de provas, quando a face perfis HEB 300 de aço S355 ligados
não exposta da parede atingia tem- com parafusos de aço da classe 8.8. 1– Pórtico de reação;
2– Atuador hidráulico;
peraturas próximas da temperatura Os corpos de prova de ensaio fo- 3– Célula de carga;
4– Viga de distribuição de carga em Perfil
de evaporação da água. Além dis- ram sujeitos a uma carga de servi-
HEB 240;
so, justificaram os fatos observados ço durante o ensaio aplicada por um 5 – Viga de distribuição de carga em Perfil RHS
350 x 150 preenchido com concreto;
nos deslocamentos com a existência macaco hidráulico com uma capaci- 6 – LVDT de medição de deslocamento horizontal;
de momentos parasíticos de flexão, dade máxima de 933 kN. Este maca- 7 – Corpo de prova;
8 – Laje de reação;
devido à excentricidade das cargas co hidráulico era controlado por uma 9 – Datalogger;
10 – LVDT de medição de deslocamento vertical;
atuantes no plano da parede causa- central servo-hidráulica W+B NSPA 11 – Parede de contenção lateral do forno;
da pela sua curvatura térmica. Se- 700 / DIG 2000. 12 – Central servo-hidráulica.

gundo estes autores, os momentos A ação térmica foi aplicada por um


parasíticos de flexão são benéficos forno elétrico composto por um mó- u Figura 1
Vista geral do sistema
porque contrabalançam o efeito da dulo de 45 kVA, com dimensões in-
experimental
curvatura de origem térmica, levando ternas de 1,46 m x 1,00 m x 0,75 m.

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 87


a b c

u Figura 2
Unidades de alvenaria: a) foto dos blocos à escala reduzida; b) desenho do bloco; c) desenho do meio-bloco
(Haach 2009)

utilizando transdutores de desloca- 2.2 Corpos de prova tes ensaios as unidades de alvenaria
mento (LVDT) e termopares do tipo tinham dimensões à escala 1:2, de-
K. A distribuição dos pontos de me- O programa experimental foi vido às limitações de carga máxima
dição de temperatura máxima é defi- composto por seis paredes de alve- do sistema de aplicação de cargas
nida na norma, de forma a obter os naria estrutural de concreto, cons- existente no laboratório. Um esque-
valores de temperatura nas singula- truídas de acordo com a EN 1365-1 ma e foto dessas alvenarias encon-
ridades do corpo de prova, como o [10] e EN 1363-1 [11]. Estas normas tra-se na Figura 2 e as suas dimen-
topo do corpo de prova (pontos a), indicam que os corpos de prova sões apresentadas na Tabela 1. De
juntas de assentamento (pontos e e devem ser representativos dos ele- acordo com a classificação proposta
f), ou laterais (pontos d). É também mentos construtivos reais, tanto nos pela EN 1996-1.1 [8], essas unida-
medida a temperatura média do cor- materiais como no método constru- des de alvenaria pertencem ao grupo
po de prova, usando para esse efei- tivo. Os corpos de prova devem ser 2, devido à percentagem, dimensão
to 5 termopares, dispostos em X em normalmente ensaiados em tamanho e orientação dos alvéolos.
relação aos cantos do corpo de prova, natural, mas caso não se consiga Os corpos de prova eram com-
tendo sempre em atenção que área de ensaiar nessas dimensões, o siste- postos por 7 unidades em compri-
influência de cada um destes termopa- ma de ensaio deve ser adaptado à mento (total de 1,40 m) e 10 fiadas
res tem de ser inferior a 1 m . Os des-
2
dimensão dos corpos de prova. em altura, com juntas horizontais
locamentos verticais foram medidos na As unidades de alvenaria usa- de argamassa de 7 mm (altura to-
viga de distribuição de carga colocada das nesta investigação foram as de tal de 1,00 m) (Fig. 3). A argamas-
por cima do corpo de prova, a 50 mm três células em concreto similares às sa utilizada nas juntas horizontais
dos seus extremos. usadas por Haach [7] (Fig. 2). Nes- era comercial do tipo M10, da Secil

u Tabela 1 – Caraterísticas geométricas das unidades de alvenaria (Haach, 2009)

Área de Área de Percentagem


X Y Z a b
bloco furação de furação
(mm) (mm) (mm) (mm) (mm)
(cm2) (cm2) (%)
Bloco 201 100 93 16 14 110,14 93,92 46
Meio-bloco 101 100 93 16 – 57,20 46,10 45

88 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


a) no topo do corpo de prova, a meia
largura do corpo de prova (20 mm
do topo);

d) num dos lados livres, a 150 mm,


a meia altura do corpo de prova;

e) a 20 mm de uma junta horizontal,


a meia largura do corpo de prova;

f) a 20 mm de uma junta vertical,


a meia altura do corpo de prova.

termopar temperatura máxima

termopar temperatura média

deslocamento lateral

u Figura 3
Dimensões do corpo de prova, pontos de leitura de temperatura e de deslocamentos laterais

Argamassas, fabricada de acordo massa das juntas de assentamento de carga a altas temperaturas (Tabela 2).
com a EN 998-2 [12]. horizontais. Os ensaios dos corpos de pro-
Os corpos de prova foram cons- va 1 a 4 foram de resistência ao fogo
truídos entre os banzos de um per- 2.3 Programa experimental seguindo a EN 1363-1 [11]. Nestes
fil metálico UPN 160, para facilitar o e procedimento de ensaio ensaios os corpos de prova com uma
posterior transporte e fixação deles carga constante, que pretendia simular
no sistema de ensaio. O espaço en- O programa experimental foi a carga de serviço dos mesmos, foram
tre o perfil e as unidades de alvenaria constituído por ensaios de resistên- sujeitos a uma ação térmica segundo a
foi preenchido com a mesma arga- cia ao fogo e ensaios de capacidade curva ISO 834 [13] até ao seu colapso.

u Tabela 2 – Cargas aplicadas no plano das paredes

Carregamento Taxa de aplicação Taxa de aplicação da carga final nos


Corpo % fak ┴ % fd ┴
inicial da carga inicial ensaios capacidade de carga
de prova (Haach, 2009) (EN 1996-1.1)
(kN) (kN/s) (kN/s)
1 208 0,5 30 70 –
2 208 0,5 30 70 –
3 319 0,5 46 108 –
4 319 0,5 46 108 –
5 208 0,5 30 70 0,05
6 208 0,5 30 70 0,05
Sendo:
fak ┴ – valor caraterístico de resistência à compressão à temperatura ambiente; fd ┴ – valor de cálculo da resistência à compressão à temperatura ambiente.

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 89


corpo de prova 2. No início do ensaio
as temperaturas na face não exposta
da parede somente começam a su-
bir após 15 minutos de ensaio. Essas
vão subir até por volta dos 45 minutos,
altura em que se verifica um patamar
nas temperaturas, entre 90 e os 100
°C, que corresponde à evaporação da
água livre do concreto. A duração e o
instante deste patamar depende da
cota do ponto de medição das tempe-
u Figura 4
Evolução de temperaturas no corpo de prova 2 raturas na parede.
Os pontos no topo do corpo de pro-
va (a1 e a2) mostram patamares mais
Nos corpos de prova 1 e 2 a carga de resistência à compressão das alvena- longos, com duração de quase 30 mi-
serviço correspondia a 30% da resis- rias ensaiadas por Haach [7], foram nutos, enquanto que os pontos na la-
tência à compressão das alvenarias en- primeiramente aquecidos até aos 90 teral do corpo de prova, a meia altura
saiadas por Haach [7]. Já nos corpos minutos segundo a curva de incêndio (d1 e d2), patamares mais curtos com
de prova 3 e 4 a carga de serviço era de ISO 834 [13], sendo posteriormente cerca de 10 minutos. Esta diferença na
46% da mesma resistência à compres- aumentada a carga a uma taxa cons- duração dos patamares indica a pre-
são. Essa carga de serviço foi aplica- tante de 0,05 kN/s, até ao colapso do sença de um fluxo de vapor pelos alvé-
da a uma velocidade constante de 0,5 corpo de prova. olos verticais dos blocos, acumulando-
kN/s até se atingir o nível de carrega- -se o vapor na parte superior do corpo
mento desejado. A carga no plano da 3. RESULTADOS de prova. Após a evaporação da água
parede foi mantida constante durante livre aparece um gradiente térmico en-
todo o ensaio de resistência ao fogo. 3.1 Temperaturas tre as faces exposta e não exposta do
Os ensaios dos corpos de prova corpo de prova.
5 e 6 foram de capacidade de car- 3.1.1 Ensaios de resistência ao fogo Na Figura 4 observa-se ainda que a
ga a altas temperaturas. Nesses en- temperatura do forno esteve durante os
saios, os corpos de provas sujeitos A Figura 4 mostra a título de exem- primeiros 70 minutos abaixo das tempe-
a uma carga de serviço de 30% de plo a evolução das temperaturas no raturas da curva ISO 834 [13]. Este fato
deve-se à inércia térmica do forno elé-
trico, constituído por um único módulo,
à massa e grande capacitância térmica
dos materiais dos corpos de prova e às
perdas pela superfície frontal do corpo
de prova e pela ligação entre este e o
forno. Depois disso, o forno seguiu sem
grande dificuldade a curva ISO 834 [13].

3.1.2 Ensaios de capacidade de carga


a altas temperaturas

A Figura 5 mostra, a título de exem-


u Figura 5
plo, a evolução das temperaturas
Evolução das temperaturas no corpo de prova 6
no corpo de prova 6. Os valores de

90 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


temperaturas obtidos na face não ex-
posta mostram muitas similaridades
com a evolução das temperaturas dos
ensaios de resistência ao fogo até aos
90 minutos, altura em que o forno dei-
xava de emitir potência, pois a curva te-
órica passava a ser um patamar a partir
desse instante. Todavia, as tempera-
turas nos diferentes pontos da parede
continuaram a aumentar.
Verifica-se novamente que as tem-
peraturas na face não exposta da pa- u Figura 6
rede somente começam a aumentar ao Evolução dos deslocamentos verticais médios nos corpos de provas
fim de 15 minutos de ensaio até cerca
dos 30 minutos, altura em que começa
um patamar entre os 90 e os 100 °C.
Este patamar corresponde à evapo-
ração da água live do concreto e tem
uma duração variável entre 10 a 30
minutos dependendo da cota do ponto
de medição da temperatura. Também
neste caso existe um fluxo de vapor pe-
los alvéolos verticais dos blocos, acu-
mulando-se este na parte superior do
corpo de prova. Tal como nos ensaios
de resistência ao fogo, após a evapora- u Figura 7
ção da água livre, aparece um gradien- Evolução dos deslocamentos fora do plano médios nos corpos de prova
te térmico entre as faces exposta e não
exposta do corpo de prova. Um comportamento similar ocorreu prova nos ensaios de capacidade de
nos deslocamentos para fora do plano carga a altas temperaturas. Durante os
3.2 Deslocamentos da parede (Fig. 7), sendo que os mes- primeiros 15 minutos verifica-se uma
mos ocorreram para o interior do for- vez mais que os deslocamentos não
3.2.1 Ensaios de resistência ao fogo no devido ao aquecimento rápido da aumentaram, vindo depois a aumen-
face do corpo de prova exposta. Estes tar de forma mais acentuada até por
A Figura 6 mostra os deslocamen- deslocamentos não aumentaram du- volta dos 75 minutos. Depois deste
tos verticais médios dos corpos de rante os primeiros 15 a 30 minutos, instante os deslocamentos começam a
prova nos ensaios de resistência ao aumentando depois até cerca dos 60 aumentar de forma menos acentuada,
fogo. Durante os primeiros 15 a 30 minutos, para os ensaios que duravam atingindo um máximo e começam de-
minutos verifica-se um aumento muito mais do que este tempo, mantendo-se pois a diminuir a partir dos 90 minu-
pequeno dos deslocamentos verticais. depois constantes por algum tempo. tos, altura em que se inicia o ensaio
Os deslocamentos começam depois a de carga até ao colapso do corpo
aumentar de forma mais rápida, vindo 3.2.2 Ensaios de capacidade de carga de prova.
a estabilizar para estádios mais tar- a altas temperaturas Em relação aos deslocamentos
de do aquecimento. Note-se que, no para fora do plano da parede (Fig.
caso dos corpos de provas 3 e 4, o A Figura 8 mostra os deslocamen- 9), eles diminuíram até cerca dos
ensaio terminou antes dos 90 minutos. tos verticais médios nos corpos de 60 minutos, depois mantinham-se

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 91


constantes até aos 90 minutos e a
partir daí aumentaram até ao colapso
da parede.

3.3 Observações durante


os ensaios

Em todos os corpos de prova, as


primeiras fissuras verticais apareceram
por volta dos 30 minutos (Fig. 10 a),
altura em que se verificava uma clara
u Figura 8 condensação do vapor de água que
Evolução dos deslocamentos verticais médios nos corpos de provas emergia por essas fissuras. Essas fis-
suras não eram suficientemente largas
para levar à perda de estanqueidade
do corpo de prova às chamas e ga-
ses quentes, EN 1365-1 [10]. Essas
fissuras verticais apareceram perto do
centro dos blocos, sendo coincidentes
com a célula mais pequena no meio
do bloco. Também ocorreram fissuras
horizontais nas juntas de assentamen-
to de argamassa e fissuras diagonais,
que começaram nos cantos do corpo
de prova e se propagaram para o cen-
tro, certamente devido às condições
u Figura 9
de apoio do corpo de prova.
Evolução dos deslocamentos para fora do plano médios nos corpos
de prova Existiram também manifestações de
spalling (Fig. 10 b) na face exposta ao

a b c

u Figura 10
Corpo de prova 2 – a) fissuração na face não exposta; b) destacamento na face exposta ao incêndio;
c) fissuras verticais no meio do bloco e destacamento na face exposta (lado direito)

92 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


a b c

u Figura 11
Corpo de prova 4 – a) ruptura abrupta da parede durante o ensaio; b) fissuração vertical dos blocos em ambas
as direções; c) bloco fissurado

incêndio, mas este não atravessou toda ruptura no bloco e leva, sucessiva- estes corpos de provas estiveram su-
a espessura do septo vertical do bloco. mente, ao corte do mesmo nesse jeitos, ainda que os ensaios 3 e 4 te-
Foi também possível observar fis- ponto. Essas fissuras verticais foram nham sido de resistência ao fogo e os
suras verticais (Fig. 10 c) no meio das claramente visíveis nos corpos de ensaios 5 e 6 tenham sido de capaci-
paredes, na direção paralela às faces provas 3, 4, 5 e 6 (Fig. 11). dade de carga a altas temperaturas.
das mesmas, que podem ter sido O colapso dos corpos de provas
provocadas por momentos de flexão 3, 4, 5 e 6 foi brusco e repentino (Fig. 3.4 Resistência ao fogo e
parasíticos. Este tipo de ocorrência 11 a), com grandes deslocamentos capacidade de carga
foi verificada também nos trabalhos e perda imediata de carga no plano. das paredes
de investigação de Nguyen e Mef- Antes do colapso da parede foram
tah [6]. A existência de um pequeno ouvidos alguns sons resultantes da Na Tabela 3 apresentam-se os
entalhe a meio da largura do bloco, fissuração e destacamento de ma- tempos de falha para cada um dos
que é feito durante a produção dos terial. Isto deveu-se certamente aos critérios de resistência ao fogo, o
blocos, provoca uma zona frágil de maiores níveis de carregamento a que deslocamento máximo central para

u Tabela 3 – Resultados dos ensaios

Tempo de falha Carga última Deslocamento máximo central


Corpo I (min) E (min) R (min) no plano da
de prova parede Leitura Tempo
Temperatura Temperatura Perda de Colapso (mm) (min)
média máxima estanqueidade estrutural (kN)

1 80 72 – – – 5,52 74
2 73 67 – – – 5,80 79
3 – – – 83 – 9,52 80
4 – – – 40 – 10,74 40
5 – – – – 273 11,58 68
6 – – – – 421 11,14 66

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 93


fora do plano da parede e a carga de os ensaios tenham sido muito seme- u Em face dos resultados obtidos a
colapso nos ensaios de capacidade lhantes e ocorreram para instantes parede real da solução construtiva
de carga a altas temperaturas. muito próximos. estudada que terá uma espessura
Nos ensaios de resistência ao de 200mm deverá garantir facil-
fogo os corpos de provas 1 e 2 4. CONCLUSÕES mente uma resistência ao fogo de
perderam o isolamento térmico I Neste trabalho de investiga- 90 minutos.
(140 °C como temperatura média ção experimental podem-se reti- u Se pensássemos somente no cri-
ou 180 °C como temperatura má- rar as seguintes conclusões sobre tério de estabilidade R esta pare-
xima pontual em qualquer ponto o comportamento das paredes de de à escala natural deveria ter uma
da parede, segundo os critérios da alvenaria estrutural com blocos de resistência ao fogo superior a 120
EN 1365-1 [10]) ao fim de 72 e 67 concreto de três células sujeitas minutos, muito superior ao valor
minutos, respectivamente. Já os a incêndio: previsto pela EN 1996 – 1.2 [14]
corpos de provas 3 e 4 nunca per- u As paredes garantem um bom para paredes deste tipo.
deram o isolamento térmico (I) ou a isolamento térmico durante os u Assim, concluiu-se acima de tudo
estanquidade às chamas e gases primeiros 67 minutos. A EN 1996 que os critérios da EN 1996 – 1.2
quentes (E) antes do seu colapso es- – 1.2 [14] indica para que uma são demasiadamente conservativos.
trutural (R). É importante referir que parede de alvenaria de blocos u Verificou-se ainda que estas al-
os corpos de provas 1 e 2 estavam de concreto não estrutural, com venarias são muito heterogêneas
sujeitos a 30% e os corpos de provas funções de compartimentação, e daí a razão de se obterem re-
3 e 4 estavam sujeitos a 46% de re- tenha pelo menos uma resistên- sultados divergentes em termos
sistência à compressão das referidas cia ao fogo de 60 minutos, tem de tempo e cargas no plano da
alvenarias à temperatura ambiente. que ter uma espessura entre 70 a parede para situações idênticas.
Nos ensaios de capacidade de car- 100 mm. Já para uma parede de Há uma necessidade de se ga-
ga a altas temperaturas, os corpos de alvenaria de blocos estrutural de rantir uma boa execução destes
provas 5 e 6, registaram-se capacida- concreto, com funções de estabi- elementos resistentes, de forma
des de carga máximas diferentes, 273 e lidade e compartimentação, para a se conseguir a resistência ao
421 kN, respectivamente, embora os que tenha a mesma resistência ao fogo e capacidade de carga em
deslocamentos máximos verificados fogo, esta tem que ter uma espes- situação de incêndio definida
nestes dois corpos de prova durante sura entre 100 e 170 mm. em projeto.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Byrne, S.; - Fire resistance of load-bearing masonry walls, Fire Technology, vol. 15, no. 3, 1979, pp 180-188.
[2] Lawrence, S.; Gnanakrishnan, N. - The Fire Resistance of Masonry Walls - An Overview, First National Structural Engineering Conference 1987, Melbourne, Australia,
26-28 August 1987, pp 431-437
[3] Shields, T. J. et. al. - Thermal Bowing of a Model Brickwork Panel, 8th International Brick/Block Masonry Conference, Dublin, Ireland, 1988, pp 846-856
[4] Nadjai, A. et. al. - A numerical model for the behavior of masonry under elevated temperatures, Fire and Materials, vol. 27, no. 4, 2003, pp 163-182
[5] Al Nahhas, F et. al. - Resistance to fire of walls constituted by hollow blocks: Experiments and thermal modelling, Applied Thermal Engineering, vol. 27, no.1, 2007, pp 258-267
[6] Nguyen, T. D.; Meftah, F. - Behavior of clay hollow-brick masonry walls during fire. Part 1: Experimental analysis, Fire Safety Journal, vol. 52, 2012, pp 55-64
[7] Haach V. G. (2009). Development of a design method for reinforced masonry subjected to in-plane loading based on experimental and numerical analysis. PhD Thesis.
University of Minho, Portugal.
[8] EN 1996-1.1 (2005). Eurocode 6 – Design of masonry structures, Part 1.1: General rules for reinforced and unreinforced masonry structures, European Committee for
Standardization, Brussels, Belgium.
[9] Lopes Rúben. F. R. (2017). Comportamento ao fogo de paredes de alvenaria estrutural de blocos de betão com alvéolos verticais. MSc Thesis. University of Coimbra, Portugal.
[10] EN 1365-1 (2012). Fire resistance tests for loadbearing elements - Part 1: Walls. European Committee for Standardization, Brussels, Belgium.
[11] EN 1363-1 (1999). Fire resistance tests - Part 1: General Requirements. European Committee for Standardization, Brussels, Belgium.
[12] EN 998-2 (2010). Specification for mortar for masonry. Masonry mortar. European Committee for Standardization, Brussels, Belgium.
[13] ISO 834 (1999). Fire resistance tests: elements of building construction: part 1. General requirements. International Organization for Standardization, Geneve, Switzerland.
[14] EN 1996-1.2 (2005). Eurocode 6 – Design of masonry structures, Part 1.2: General Rules Structural Fire Design. European Committee for Standardization, Brussels, Belgium.

94 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


u pesquisa e desenvolvimento

Avaliação da contribuição
da alvenaria participante na
rigidez lateral de pórticos
pré-moldados de concreto
WALLISON ANGELIM MEDEIROS – Doutorando ROBERTO MÁRCIO DA SILVA – Professor Titular
GUILHERME ARIS PARSEKIAN – Professor Associado ALBA BRUNA CINTRA DE GRANDI – Doutoranda
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

1. INTRODUÇÃO diagonais em vários painéis de alvenaria volver fendas de separação nas interfa-

A
colaboração da alvenaria nos pisos 29 e 41 e deslocamentos me- ces do painel-pórtico, com exceção de
participante em resistir à nores que os previstos. Polyakov (1956) pequenas regiões onde as tensões de
ação lateral surgiu pela pri- analisou pórticos preenchidos submeti- compressão são transmitidas do pórtico
meira vez, quando Rathbun (1938) publi- dos a elevadas cargas e descreveu três para o painel, nos dois cantos diagonal-
cou pesquisa sobre a força do vento em estágios de comportamento. No primeiro mente opostos. O segundo estágio foi
edifícios altos, no qual foram constatadas, estágio, o painel de alvenaria e as bar- caracterizado por um encurtamento da
no Edifício Empire State, em New York, ras do pórtico estrutural se comportam diagonal comprimida e alongamento da
durante uma tempestade com rajadas de como uma unidade monolítica. Esta fase diagonal tracionada. Esta fase terminou
vento excedendo a 145 km/h, fissuras termina quando começam a se desen- com fissuras na alvenaria de preenchi-
mento ao longo da diagonal comprimida.
As fissuras geralmente aparecem de for-
ma escalonada nas juntas horizontais e
verticais. No terceiro estágio, o conjunto
estrutural continuou a resistir a uma carga
crescente, apesar das fissuras na diago-
nal comprimida, que continuaram a se
ampliar e novas fissuras apareceram. A
partir dessas observações, o autor pro-
põe o modelo de diagonal comprimida
(Figura 1).
Estruturas pré-moldadas tendem a
ser mais deslocáveis devido à necessi-
dade de ligações entre os elementos,
Fonte: adaptado Polyakov (1956)
o que a princípio torna a estrutura não
monolítica. Uma opção para minimizar
u Figura 1
esse efeito é a consideração da alve-
Modelo equivalente de diagonal comprida
naria participante. O painel preenchido

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 95


adquire maior rigidez lateral, contribuin-
do para a estabilidade global do prédio,
tendo assim menores deslocamentos
horizontais. Apesar da viabilidade técni-
ca, essa solução não é usual na cons-
trução civil brasileira.
Elliott e Jolly (2013) afirmam que
sempre que houver uma parede de
preenchimento construída solidamen-
te, mas não de forma monolítica, numa
estrutura flexível, sua resistência à ação
horizontal aumenta consideravelmente
Fonte: adaptado Elliott e Jolly, 2013
devido à ação composta com a estru-
tura (Figura 2). Também confirmam que
u Figura 2
o uso das paredes de alvenaria partici- Pórtico preenchido com pórtico rígido
pante em estruturas de concreto pré-
-moldado já é utilizado na Europa e que
a construção mista é, por definição, sibilidade da consideração de alvena- salhamento por escorregamento. Os
rentável, pois maximiza as vantagens ria estrutural em edifícios, atuando em elementos de pilar ou viga em contato
estruturais e arquitetônicas na utiliza- conjunto com pilares e vigas na solução com a alvenaria participante devem ser
ção de componentes de diferentes ma- do contraventamento. dimensionados, considerados os esfor-
teriais. Os manuais e boletins, Planning ços obtidos no modelo, considerando
and design handbook on precast buil- 2. PROPOSTA DO PROJETO DE a diagonal equivalente, majorados por
ding structures (The International Fede- NORMA ABNT/CE-002:13.010 um fator adicional igual a 1,1. Especial-
ration For Structural Concrete, 2013) e Várias normas internacionais, como mente a força cortante transferida da
Precast concrete in mixed construction a canadense (CSA S304-14), a neo- diagonal equivalente da alvenaria parti-
(The International Federation For Struc- zelandesa (NZS 4230-04) e americana cipante deve ser somada aos esforços
tural Concrete, 2002) contemplam que (TMS 402/602-16) fornecem prescri- dos pilares, devendo essa ser conside-
uma estrutura de concreto pré-molda- ções de projeto para o uso de alvenaria rada em posição intermediária na altura
do pode ser combinada com a alve- participante. Recentemente, a Comis- conforme Figura 3.
naria estrutural. Recentemente, a Co- são ABNT CE-002:123.010 – Comis- A largura da diagonal comprimida
missão CE-002:123.010 – Comissão são de Estudo de Alvenaria Estrutural (w) deve ser tomada das Equações 1,
de Estudo de Alvenaria Estrutural do do Comitê Brasileiro da Construção 2 e 3.
Comitê Brasileiro da Construção Civil Civil (ABNT/CB-002) trabalha em uma 1
(ABNT/CB-002) trabalha em uma pro- proposta de unificação e atualização
posta de unificação e atualização das das normas de alvenaria estrutural e Onde,
normas ABNT NBR 15812 – Alvenaria propõe capítulo sobre o tema. Este αH = comprimento de contato vertical
estrutural: blocos cerâmicos e ABNT item reproduz a sugestão do projeto de entre o pórtico e a diagonal comprimida;
NBR 15961 – Alvenaria estrutural: blo- norma em desenvolvimento. αL = comprimento de contato horizontal
cos de concreto. A nova norma trata da Seguindo a abordagem de Polyakov, entre o pórtico e a diagonal comprimida.
alvenaria estrutural independentemente a alvenaria participante é considerada
do material, além da unificação, vários utilizando-se do modelo de barra dia- 2
tópicos e conceitos foram agregados gonal comprimida equivalente. As pa-
à norma ou reformulado. Um desses redes participantes devem resistir aos
refere-se à consideração de Alvenaria esforços solicitantes. Especial atenção 3
Participante em pórticos, abrindo pos- deve ser dada para a resistência ao ci-

96 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


um quarto do comprimento da diagonal.
A rigidez da diagonal comprimida 6
efetiva utilizada nos cálculos dos esfor-
ços e deslocamentos é calculada pela A largura da diagonal comprimida
Equação 4. efetiva deve ser tomada:

4
7
Onde,
ls = o comprimento da diagonal Não podendo exceder um quarto
comprimida; do comprimento, ou seja, l/4.
u Figura 3
fst = fator a ter em conta a redução de
Posição sugerida da força
rigidez tomado como 0,5. 8
diagonal resultante para
dimensionamento dos pilares A altura efetiva da diagonal compri-
mida para efeitos de esbeltez deve ser Logo, este será o valor adotado.
Onde, considerada igual ao comprimento de
Ea, Ep = módulos de elasticidade da pa- projeto da diagonal, ls, diminuído de w/2. 3.1 Aumento da rigidez do pórtico
rede de alvenaria e pórtico; com alvenaria participante
H, L = altura e comprimento da parede 3. CONSIDERANDO A
de alvenaria participante; ALVENARIA PARTICIPANTE Considerando um programa de análi-
tap = duas vezes a soma da espessu- Para melhor compreender a pro- se estrutural de pórtico plano, levando em
ra das paredes longitudinais do bloco posta de norma, é apresentado, conta a diagonal birrotulada com largura de
vazado não totalmente grauteado ou a seguir, um exemplo de como se 125cm e espessura de 10cm, e as demais
a espessura da parede para o tijolo ou deve analisar a rigidez de um pór- propriedades das vigas e pilares e do mate-
bloco vazado totalmente grauteado; tico com alvenaria participante e o rial concreto e alvenaria, pode-se comparar
Ip, Iv = momentos de inércia do pilar e dimensionamento desta parede de a rigidez do pórtico com e sem a alvenaria
da viga do pórtico, respectivamente; preenchimento. O pórtico tem as di- participante (Figura 6). Os resultados dessa
θ = tan-1 (H/L), graus. mensões conforme a Figura 5, a pa- análise, para uma força horizontal no topo
Na Figura 4 pode-se identificar grafi- rede foi executada com blocos va- adotada igual a 10kN, são:
camente as incógnitas citadas. A largura zados de concreto de 19 x 39cm e u Pórtico não preenchido, dh =
da diagonal comprimida efetiva, wℯƒƒ, fbk = 8MPa, argamassa fa = 6MPa, 0,72mm, k = P/δ = 10/0,72 =
para o cálculo da resistência à compres- concreto fck = 25MPa. 13,88kN/mm;
são da diagonal comprimida, deve ser Primeiro, identifica-se as proprieda-
tomada como w/2 e não pode exceder des físicas e geométricas da parede e
pórtico:
H = 300 cm
L = 400 cm
Ea = 4800 MPa (considerando 800.fpk)
Ep = 28000 MPa
tap = 10 cm [2x(2,5+2,5)]
Ip, Iv = 20(40)3/12 = 106,67.103 cm4
θ = tan-1 (3/4) = 36,87º
Os comprimentos de contato horizontal
e vertical são calculados:
u Figura 4 Os comprimentos de contato hori- u Figura 5
Modelo da diagonal comprimida Pórtico com alvenaria
zontal e vertical são calculados. 5
em alvenaria participante participante (dimensões em cm)

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 97


9 Para

10 14
Obtendo-se: F = 10,3kN; tem-se
Fh = 8,2kN e Fv = 6,2kN. E

largura diagonal 15
3.3 Verificação da resistência
à compressão da diagonal Temos:

u Figura 6 comprimida
Representação do pórtico pelo
16
modelo de treliça Conforme o item 6.2.2.3 do projeto de
norma, no caso de alvenaria de blocos de
u Pórtico preenchido, dh = 0,12mm, 190mm de altura e junta de argamassa Para resultar nesse valor de com-
k = P/δ = 10/0,12 = 83,33kN/mm. de 10mm, esse valor pode ser estimado ponente diagonal, a força lateral, Vk,
Portanto, neste caso, pode-se per- como 70% da resistência característica de pode ser calculada por semelhança
ceber que a consideração da alvenaria compressão simples de prisma (fpk) de triângulos:
participante aumentou a rigidez do pór- Quando a compressão ocorrer em di-
17
tico em 6 vezes. reção paralela às juntas de assentamento,
a resistência característica na flexão pode
3.2 Decomposição das forças ser adotada como 50% da resistência à 3.4 Verificação do cisalhamento
compressão na direção perpendicular às na alvenaria
Com este mesmo programa, é pos- juntas de assentamento (Figura 8).
sível obter a força de compressão diago- No caso da alvenaria participante, a a. Cisalhamento por tração diagonal

nal do suporte, F, que se desenvolve no compressão ocorre na diagonal,na falta


preenchimento, formada pela força lateral de um parâmetro específico para essa A força de compressão diagonal
aplicada de 10kN (Figura 7). Esta força situação, será considerado a situação gera uma força de tração na diago-
age em um ângulo, θ, com o eixo horizon- mais crítica, ou seja, a compressão pa- nal oposta (Figura 9) e apesar de ha-
tal e pode ser resolvida em componentes ralela às juntas de assentamento. ver ensaio nacional normatizado para
verticais e horizontais (Equações 9 e 10). Assim sendo, utiliza-se a expres- medir empiricamente essa resistência
são simplificada da proposta de norma na proposta de norma, não há especi-
(Equação 11). ficação para verificação da resistência
ao cisalhamento por tração diagonal.
11
Entretanto, quando comparado com
Para a verificação da resistência à
compressão da diagonal, conforme a
proposta de norma, a altura efetiva para
fins de verificação da esbeltez da diago-
nal comprimida pode ser admitida igual a:

12

Portanto:

13

u Figura 7 A esbeltez hef/tef = 437,5/19 = 23cm


Força de compressão u Figura 8
< 24, portanto a alvenaria pode ser
na diagonal Representação das compressões
não armada.

98 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


tal, tal força será desprezada, confor-
me explicado no item anterior. Logo,
fvk = 350 + 0,5.0 = 350 . Assim:
u Figura 10
Escorregamento da junta
18
u Figura 9 mente planejado para a consideração
Tração provocada pela
da alvenaria participante. Dessa for-
compressão na diagonal
Considerando o menor dos limites: ma, os modelos foram realizados de
Vk = 95kN. acordo com o projeto existente, po-
normas internacionais, como a norma rém utilizando as ligações articuladas
canadense CSA S304-14, que realiza tal 4. ANÁLISE DA CONSIDERAÇÃO (a solução final do projeto contempla
verificação, ao se desprezar a pré-com- DA ALVENARIA PARTICIPANTE ligações semi-rígidas). São compara-
pressão gerada pela força horizontal, o EM UM EDIFÍCIO REAL EM dos os valores de gama Z para a es-
limitante no dimensionamento será o es- CONCRETO PRÉ-MOLDADO trutura completamente articulada com
corregamento da junta horizontal. Realizou-se um estudo de caso de e sem o preenchimento da alvenaria
um prédio real, construído com sistema participante de blocos de concreto
b. Escorregamento da junta horizontal pré-fabricado, porém será analisado a de 8MPa, além dos deslocamentos
consideração da alvenaria participante e esforços.
Para verificação do escorregamento para estabilidade global do edifício utili- Modelou-se a estrutura em três
da junta (Figura 10), de acordo com a zando os valores do parâmetro gama Z dimensões visando dar maior repre-
norma, fvk = 350 + 0,5σ ≤ 1700 kN/m2. como referência para análise. sentatividade para os resultados ob-
Mesmo existindo uma pré-compressão Trata-se da análise em edifício real tidos. Essas modelagens foram feitas
vertical (σ), gerada pela força horizon- que não foi estrutural e arquitetonica- utilizando o programa de elementos

Fonte: cedido por Leonardi Construção Industrializada

u Figura 11
Planta baixa do edifício com alvenaria participante em destaque

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 99


finitos SAP2000. É recomendado uma
distribuição simétrica das paredes de
alvenaria participante, pois elas contri-
buem para a rigidez lateral e sua dis-
tribuição assimétrica pode gerar torção
na estrutura pela alteração da distribui-
ção de esforços. Tentando minimizar
os problemas de torção e maximizar a
eficiência das paredes, considerou-se
as paredes da caixa de escada e eleva-
dores, que se encontram no centro da
edificação, não possuírem aberturas e
que comumente não sofrem alterações
no layout.
Em destaque na Figura 11, os pai-
néis que foram considerados como al-
venaria participante. Apesar de se tratar u Figura 12
da direção de menor influência do ven- Deslocamento horizontal – edifício sem preenchimento
to, optou-se por esses painéis devido a
arquitetura do prédio. de para uma maior segurança. Assim, Ip = 800(400)3/12 = 4266,67.106 mm4
Trata-se de um edifício comercial de foram identificadas as seguintes Iv = 400(800)3/12 = 17066,67.106 mm4
9 pavimentos mais ático, localizado na propriedades físicas e geométricas da θ = tan-1 (2,2/10) = 12,41o
região de Campinas (SP), com vigas de parede e pórtico: O comprimento de contato horizon-
40x80cm e 25x80cm, pilares externos H = 2200 mm (3,0m – 0,80m viga) tal e vertical são calculados a partir:
de 40x70cm e internos de 60x80cm e L = 10000 mm
19
30x80cm, sobrecarga de 5kN/m2, capa Ea = 2880 MPa
de concreto sobre laje de 5cm de es- Ep = 35417 MPa
pessura, laje tipo alveolar de 20cm de tap = 100 mm [2x(25+25)] 20
espessura e pé direito de 4m. A ação
do vento foi determinada conforme
orientação da ABNT NBR 6123:1988.
Para determinação da largura da
diagonal comprimida utilizou-se as re-
comendações do projeto de norma.
Para as paredes, as resistências fo-
ram estimadas a partir da resistência
do bloco (12MPa). Simplificadamente,
considerou-se a diminuição de 20% na
resistência à compressão, por admitir
argamassa apenas nas laterais, além
da relação de resistências entre pris-
ma/bloco de 0,75. O módulo de elas-
ticidade foi determinado com sendo
E = 800 fpk. Conforme recomendação
u Figura 13
do projeto de norma, diminui-se a rigi-
Detalhe de montagem das diagonais equivalentes
dez da parede participante pela meta-

100 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


Onde:
M1,tot,d é o momento de tombamento,
ou seja, a soma dos momentos de to-
das as forças horizontais da combina-
ção considerada, com seus valores de
cálculo, em relação à base da estrutura;
∆Mtot,d é a soma dos produtos de to-
das as forças verticais atuantes na es-
trutura, na combinação considerada,
com seus valores de cálculo, pelos
deslocamentos horizontais de seus
respectivos pontos de aplicação, ob-
tidos da análise de 1ª ordem.
a) Somatório dos produtos das forças
verticais atuantes na estrutura (∆Mtot,d)

u Figura 14 24
Deslocamentos encontrados no modelo com alvenaria participante
b) Momento de tombamento devido
A largura da diagonal comprimida pelo software SAP2000 foi realizada (Fi- ao vento (M1,tot,d)
efetiva deve ser tomada como: gura 12). Os deslocamentos horizontais
25
em cada pavimento foram utilizados
21
para calcular o gama Z da estrutura. Assim, tem-se,
Não podendo exceder um quarto do Na Tabela 1, apresenta-se os dados
comprimento dado pela Equação 22. encontrados para cálculo do gama Z. 26
O valor de γz para cada combinação de
22
carregamento é dado pela Equação 23. O valor do gama Z da estrutura sem
Sendo este o valor adotado na análise. alvenaria participante é -0,09 < 0, sig-
Com os dados das ações horizon- 23 nificando que seria uma estrutura total-
tais e o carregamento vertical, a análise mente instável.

u Tabela 1 – Dados para cálculo γz sem preenchimento

Pav. Hi (m) FHi,d (kN) FVi,d,pav (kN) δhi (cm) M1,tot,d (kN.m) ΔMtot,d (kN.m)
10 40 34,58 9.054,00 2,45 1.383,25 22.182,30
9 36 63,55 9.054,00 2,37 2.287,83 21.457,98
8 32 61,56 9.054,00 2,17 1.969,97 19.647,18
7 28 59,38 9.054,00 1,96 1.662,68 17.745,84
6 24 56,96 9.054,00 1,73 1.367,06 15.663,42
5 20 54,22 9.054,00 1,48 1.084,49 13.399,92
4 16 51,05 9.054,00 1,21 816,87 10.955,34
3 12 47,24 9.054,00 0,93 566,86 8.420,22
2 8 42,34 9.054,00 0,63 338,72 5.704,02
1 4 35,11 9.054,00 0,32 140,45 2.897,28
Σ 11.618,18 138.073,50

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 101


u Tabela 2 – Dados para cálculo do gama Z

Pav. Hi (m) FHi,d (kN) FVi,d,pav (kN) δhi (cm) M1,tot,d (kN.m) ΔMtot,d (kN.m)
10 40 34,58 9.054,00 1,37 1.383,25 124,04
9 36 63,55 9.054,00 1,47 2.287,83 133,09
8 32 61,56 9.054,00 1,50 1.969,97 135,81
7 28 59,38 9.054,00 1,49 1.662,68 134,90
6 24 56,96 9.054,00 1,46 1.367,06 132,19
5 20 54,22 9.054,00 1,37 1.084,49 124,04
4 16 51,05 9.054,00 1,20 816,87 108,65
3 12 47,24 9.054,00 0,98 566,86 88,73
2 8 42,34 9.054,00 0,73 338,72 66,09
1 4 35,11 9.054,00 0,42 140,45 38,03
Σ 11.618,18 1.085,57

De forma similar foi analisado a es- cipante foi observada a ocorrência de ma norma de alvenaria brasileira. Suas
trutura com a consideração de dois pai- torção, visto que as disposições das considerações são bastante conserva-
néis de alvenaria participante de blocos paredes não se encontravam simetri- doras e, mesmo com todas as limita-
de 12MPa. A Figura 13 indica como os camente distribuídas, entretanto, esse ções que ela impõe, a contribuição da
modelos foram montados com a con- efeito foi considerado nos deslocamen- alvenaria participante é inegável.
sideração das diagonais equivalentes. tos utilizados. No estudo de caso, apesar do pro-
A Figura 14 mostra os deslocamentos jeto estrutural e arquitetônico não ter
encontrados nessa análise e a Tabela 2, 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS levado em consideração a alvenaria
os parâmetros para cálculo do gama Z. A contribuição da alvenaria partici- participante, percebe-se que foi possí-
Nessa situação tem-se, pante no enrijecimento de estruturas vel contraventar, na direção analisada,
aporticadas é inquestionável. No en- a estrutura sem a necessidade de liga-
27 tanto, mesmo com constatações a res- ções mais rígidas.
peito da eficiência no uso de pórticos A consideração da alvenaria parti-
Verifica-se gama Z com o valor de preenchidos, a consideração em pro- cipante pode trazer ganhos significati-
1,1. A ABNT NBR 6118:2014 consi- jeto deste tipo de estrutura no Brasil vos para a construção civil, além de se
dera que a estrutura é de nós fixos, não é usual. mostrar uma solução simples para con-
se obedecer à condição de γz ≤ 1,1, A abordagem do método da diago- cepção de estruturas para garantir a
sendo possível desprezar os efeitos de nal equivalente é a mais utilizada pelas estabilidade lateral necessária e, even-
segunda ordem. normas e códigos internacionais e já tualmente, para execução de reforços
Nas análises com alvenaria parti- está proposta para adoção na próxi- em edificações existentes.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6123: Forças devidas ao vento em edificações. ABNT. Rio de Janeiro. 1988.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto - Procedimentos. ABNT. Rio de Janeiro. 2014.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9062: Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado. ABNT. Rio de Janeiro. 2017.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. PN 002:123.010-001/1 Alvenaria Estrutural – Parte 1: Projeto. ABNT. Rio de Janeiro. 2018.
[5] CANADIAN STARDARDS ASSOCIATION. S304 - Design of masonry structures. CSA. Ontario. 2014.
[6] ELLIOTT, K. S.; JOLLY, C. K. Multi-storey precast concrete framed structures. 2a. ed. Oxford: Wiley-Blackwell, 2013. 761 p.
[7] MEDEIROS, W. A.; Pórticos em concreto pré-moldado preenchidos com alvenaria participante. 2018. Dissertação (Mestrado em estruturas e construção civil) –
Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2018.
[8] POLYAKOV, S. V. Masonry in framed buildings. Moscow, 1956.
[9] RATHBUN, J. C. Wind forces on a tall building. Proceedings American Society of Civil Engineers, v. 64, p. 1335-1375, 1938.
[10] STARDARD ASSOCIATION OF NEW ZEALAND. 4320: Design of reinforced concrete masonry structures. NZS. 2004.
[11] THE INTERNATIONAL FEDERATION FOR STRUCTURAL CONCRETE. Precast Concrete in Mixed Construction. fib. Lausanne. 2002.
[12] THE INTERNATIONAL FEDERATION FOR STRUCTURAL CONCRETE. Planning and Design Handbook on Precast Build Structures. fib. 2013.
[13] THE MASONRY SOCIETY. 402/602: Building Code Requirements and Specification for Masonry Structures. TMS. 2016.

102 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


u pesquisa e desenvolvimento

Cuidados com os revestimentos


de argamassa aplicados sobre
blocos de concreto de alta
resistência e baixa absorção
HELENA CARASEK – Professora Doutora
Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Estruturas
e Construção Civil – PPG-GECON / EECA –
Universidade Federal de Goiás

1. INTRODUÇÃO fissuração (Figura 2). O descolamento,

G
eralmente a aderência identificado inicialmente pelo som cavo
entre argamassas de re- quando da percussão, começou a apa-
vestimento e blocos de recer cerca de 14 dias após a aplicação
concreto é alta. O estudo de Carasek dos revestimentos e continuou progre-
et al. (2017), onde foram analisados dindo durante cerca de 2 meses com
2.552 dados de arrancamento obtidos desplacamentos de grandes áreas.
em obras nas cidades de Goiânia e As fissuras apresentaram abertura
Brasília, mostrou que os maiores valo- entre 0,1 mm e 0,7 mm, mostrando-se
res de aderência são obtidos quando u Figura 1 em geral com uma fenda principal e ra-
os revestimentos são aplicados sobre Descolamento do revestimento mificações dela com ângulos próximos
evidenciando a falta de a 90.
blocos de concreto ao se comparar
aderência entre os materiais.
com resultados sobre alvenaria de blo- Em algumas regiões de som cavo
Após o descolamento
cos cerâmicos e estrutura de concreto observa-se um substrato liso, parte do revestimento foi retirada para
(com valores médios, respectivamente, praticamente sem vestígios do análise do substrato e da camada de
0,32 MPa; 0,22 MPa e 0,20 MPa). revestimento argamassa, além da observação do
No entanto, deve-se ter muito cui- grau de dificuldade com que se dava o
dado com generalizações. Recente- dele são traçadas, então, recomenda- processo de remoção. Foi notória a fa-
mente, têm sido observados alguns ções de cuidados que devem ser toma- cilidade de se retirar o revestimento das
problemas de descolamento sobre al- dos com a produção dos blocos, bem paredes em regiões de som cavo. A Fi-
venaria estrutural com blocos de con- como com a produção da argamassa e gura 3 ilustra o substrato praticamente
creto de alta resistência à compressão. sua aplicação. sem resquícios de partes aderidas do
Nesse sentido, o presente traba- revestimento sobre os blocos de con-
lho visa apresentar um estudo de caso 2. ESTUDO DE CASO creto de alta resistência.
com grave descolamento de revesti- A patologia observada em obra foi Com base nas inspeções, concluiu-
mentos de argamassa aplicados so- o descolamento dos revestimentos de -se que o problema de descolamen-
bre alvenaria estrutural de blocos de argamassa de paredes de alvenaria es- to e fissuração era generalizado nos
concreto de alta resistência, focando trutural em blocos de concreto de alta revestimentos de argamassa aplica-
na discussão do diagnóstico. A partir resistência (Figura 1), acompanhado de dos sobre as alvenarias com blocos

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 103


u Figura 3
Em local de som cavo foi
retirado o revestimento de
argamassa – aderência apenas
na região da junta de
assentamento da alvenaria

u Figura 2 verificar a absorção de água das pare-


Fissuração típica dos revestimentos
des de alvenaria após a remoção do
revestimento com problema e a reali-
estruturais sem chapisco. Procedeu-se absorção d’água inicial (sucção inicial) – zação de alguns tratamentos da base
a análise também de outros “sistemas” AAI, de acordo com uma adaptação da (lavagem e aplicação de chapisco). O
da mesma obra: paredes de blocos de ABNT NBR 15270-2: 2017 (Tabela 1). teste realizado foi o “cachimbo” (pres-
concreto de vedação sem chapisco e Nota-se que o valor de AAI do blo- crito pelo NIT 224 do CSTB - CENTRE
estruturas de concreto (vigas) com cha- co estrutural é muito baixo em relação SCIENTIFIQUE ET TÉCHNIQUE DE LA
pisco, ambas revestidas com a mesma ao bloco de vedação, mostrando que CONSTRUCTION), ilustrado na Figu-
argamassa utilizada no revestimento da o bloco estrutural apresenta uma bai- ra 5, que permite avaliar a absorção/
alvenaria estrutural. Em nenhuma des- xa sucção inicial de água. Além disso, permeabilidade de água em superfícies
sas duas situações foram identificadas observa-se uma alta variabilidade dos verticais. Por meio deste teste, foram
manifestações patológicas oriundas da resultados (CV = 50%). A título de com- analisadas as seguintes situações:
baixa aderência. paração, apresenta-se no gráfico da Fi- u Parede em que foi retirado o reves-
A resistência característica dos blo- gura 4 valores médios de AAI de blocos timento descolado – sem nenhum
cos – fbk da obra variou entre 17 e 25 de concreto utilizados em outras pes- tratamento posterior (PD);
MPa, com valores médios de resistên- quisas, em várias épocas diferentes.
cia à compressão na faixa de 25 MPa, Salienta-se que em todas as pesquisas
enquanto que a absorção de água citadas os blocos de concreto propicia- u Tabela 1 – Índice de absorção
média variou entre 3 e 5%. Isto deno-
d’água inicial dos blocos da obra
ram ótimas resistências de aderência
tou uma alta resistência à compressão com as argamassas de revestimento,
AAI
dos blocos, bem acima das médias a exceção do bloco indicado pela re- Coeficiente
Tipo de valor
de
convencionais. Esta alta resistência é ferência Girardi (2016), que resultou em bloco médio
variação
testado (g/minuto/
consequência da baixa porosidade do uma baixa aderência, da mesma forma (%)
193,5 cm²)
concreto (alta compacidade), que se que o bloco estrutural utilizado na obra
Estrutural
refletiu também em baixos valores de do estudo de caso. Observa-se que es- (com 23 50
absorção de água dos blocos. ses dois blocos têm em comum serem descolamento)
Outro ensaio realizado para a ca- estruturais e apresentarem valores de Vedação
(sem 59 20
racterização dos blocos de concreto sução de água muito baixos. descolamento)
(estrutural e vedação) foi o índice de Foi realizado também um teste para

104 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


cia adequada conforme testes realiza-
Taxa inicial de sucção de água de blocos de concreto
dos na obra.
100
90
AAI (g/minuto/193,5 cm²)

80 3. DIAGNÓSTICO – MECANISMO
70
DE DESCOLAMENTO
60
50
40 Com base em todas as informações
30
coletadas, chegou-se ao seguinte diag-
20
10 nóstico: a causa do descolamento é a
0 incompatibilidade da argamassa de re-
Estrutural Estrutural Vedação Estrutural Estrutural Vedação
vestimento com os blocos de concreto
Carasek, 1996 Paes, 2004 Scartezini, Girardi, 2016 Obra com Mesma
2002 problema obra de alta resistência. Os blocos estrutu-
Blocos ensaiados em diversas pesquisas
rais apresentavam sucção de água ini-
cial muito baixa (considerada atípica) e
u Figura 4
a argamassa de revestimento uma ele-
Comparação de valores de AAI de vários blocos de concreto
vada retenção de água.
A aderência da argamassa endu-
u Parede em que foi retirado o reves- testes do cachimbo estão apresenta- recida ao substrato é um fenômeno
timento e posteriormente foi lavada dos na Figura 6. essencialmente mecânico, devido, ba-
com água sob pressão, ensaiada Observa-se a baixa sucção de água sicamente, à penetração da pasta aglo-
após estar totalmente seca (PL); propiciada pelo bloco de concreto de merante ou da própria argamassa nos
u Parede em que foi retirado o reves- alta resistência estrutural. Ademais po- poros ou entre as rugosidades da base
timento, posteriormente lavada com de-se concluir que a lavagem da pare- de aplicação. Quando a argamassa
água sob pressão e chapiscada 7 de não melhorou esta situação, no en- no estado plástico entra em contato
dias após a lavagem; ensaiada seca tanto, a execução do chapisco permitiu com a superfície absorvente do subs-
(PLC). um aumento significativo da absorção trato, parte da água de amassamento,
Os resultados médios obtidos nos de água da base e resultou em aderên- que contém em dissolução ou estado

PL PLC PD

u Figura 5
Ensaio de absorção de água pelo método cachimbo

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 105


1,2

1,0
Absorção de água (ml)
0,8 altas tensões que não poderão ser ab-
sorvidas pela aderência bloco/argamas-
0,6 PL
sa, a qual é muito baixa desde o início.
PLC
0,4 A tensão de tração na argamassa
PD
oriunda da retração é função direta do
0,2 seu módulo de elasticidade, de sor-
te que argamassas ricas em cimento
0,0
0 5 10 15 20 sofrem notável influência da retração,
Tempo (minutos) estando mais sujeitas a tensões de tra-
ção, que causarão fissuras e possíveis
u Figura 6 descolamentos de sua base.
Valores médios de absorção de água pelo método cachimbo Assim, a explicação do mecanismo
de descolamento e fissuração obser-
coloidal os componentes do ligante, pe- em que: vado na obra está calcada na retração
netra pelos poros e pelas cavidades do tc = tensão de cisalhamento; dos revestimentos, associada à sua
substrato. No interior dos poros, ocor- E = módulo de elasticidade; baixa aderência ao substrato. A Figura
rem fenômenos de precipitação dos e = movimentação do revestimento; 7 ilustra o mecanismo proposto.
produtos de hidratação do cimento e, d = espessura do revestimento; A retração é produzida pela saída
transcorrido algum tempo, esses preci- A = área de contato. de água da camada do revestimento,
pitados intracapilares exercem ação de A aderência (ligação entre os mate- que se constitui em um elemento del-
ancoragem da argamassa à base (CA- riais) é que deverá se opor a estas ten- gado, de elevada relação área/volume
RASEK, 2017). Se o substrato (no caso, sões de cisalhamento. Logo, se a rigidez e significativa parte desta área exposta
bloco de concreto de alta resistência) da argamassa é alta, com as movimen- ao ambiente. Quando a ligação entre
não exerce sucção efetiva da pasta tações intrínsecas dos materiais (como o revestimento e o substrato é baixa,
aglomerante da argamassa (a qual tem a retração da argamassa) serão geradas como no caso em questão, pelo efeito
dificuldade de liberá-la devido à sua alta
capacidade de retenção de água), não
serão formados produtos de hidratação
no interior dos poros do substrato e,
portanto, a ligação será deficiente.
Após o início do endurecimento da
argamassa (cerca de 14 dias), quando
a retração já atingiu aproximadamente
80% do total, tendo em vista que a liga-
ção entre argamassa/bloco está muito
frágil, as movimentações geradas nos
materiais levam a ruptura dos poucos
pontos de ancoragem existentes.
Salienta-se que argamassas com
maior rigidez (módulo de elasticidade a b c
alto) apresentarão maiores tensões de
cisalhamento na interface para uma u Figura 7
mesma movimentação, quando com- Ilustração do mecanismo de descolamento/fissuração dos
paradas às argamassas de baixo mó- revestimentos devido à baixa aderência ao substrato e à retração.
dulo, conforme equação: Observação: o fenômeno foi exagerado na figura visando torná-lo
mais visível
1

106 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


da baixa sucção da base, a camada de 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS (redução do desgaste dos equipamen-
revestimento tende a se contrair pelo Com base nas discussões anteriores tos); à redução da aderência entre a
efeito de retração, conforme se vê na é possível tecer algumas recomendações camada superior de concreto e a peça
Figura 7(a); como a restrição a essa de cuidados a serem tomados para evi- de compressão dos blocos; à melhoria
contração é pequena, ou seja, a resis- tar manifestações patológicas de revesti- do acabamento superficial – textura –
tência de aderência ao cisalhamento é mentos relativas à produção dos blocos dos blocos; dentre outras vantagens
fraca, o revestimento tende a empolar, de concreto de alta resistência e relacio- na produção. Cabe, portanto, aos fa-
como se vê na Figura 7(b) e fissurar nadas à composição/formulação, bem bricantes verificarem se esses aditivos
(Figura 7(c)). Se porventura em alguma como ao processo de aplicação, das ar- não estão comprometendo o sistema
região do revestimento a resistência gamassas de revestimento. “parede estrutural com revestimento”,
de aderência ao cisalhamento superar se levarem a uma redução substancial
a resistência à tração do revestimento, 4.1 Produção dos blocos da aderência entre bloco e argamassa.
ocorrerá fissura, que, no entanto, se estruturais
produzirá em muito menor escala se 4.2 Composição da argamassa
comparada à situação de elevada ade- Além da elevada compacidade
rência do revestimento ao substrato. intrínseca dos blocos de alta resis- A argamassa de revestimento a
Ressalta-se que, quando não há fissu- tência, a baixa sucção de água pode ser aplicada sobre blocos de alta re-
ração incidente e nem empolamento estar relacionada com novos aditivos sistência pode ser industrializada (si-
visível, mesmo assim o descolamento que vem sendo utilizados na manu- tuação preferencial) ou preparada em
pode estar ocorrendo, o que é detec- fatura dos blocos de concreto de alta obra. Recomenda-se que essa arga-
tado através do som cavo produzido resistência. Esses aditivos químicos massa tenha:
quando o revestimento é percutido. visam: à melhoria do adensamento do a) Moderada retenção de água (clas­
Como este fenômeno se produz a in- concreto através da máquina de com- ses U2 a U4, da ABNT NBR
tervalos aproximadamente regulares, pactação (preenchimento mais rápido 13281:2005), como ilustrado na Fi-
isto pode resultar na ruína do reves- do molde); à otimização da produção gura 8(b). A retenção não deve ser
timento como um todo. A tendência é com menor tempo de compactação e alta (U5-U6), pois como o bloco es-
de ocorrer uma movimentação do re- rapidez de retirada das peças (gerando trutural de alta resistência apresenta
vestimento para fora (afastando-se do um menor ciclo de fabrico); à redução baixa sucção de água, a argamassa
substrato – empolamento). do atrito entre a fôrma e o concreto precisa liberar a pasta aglomerante
para o substrato com certa facilida-
de, de forma a garantir a ancora-
gem adequada;
b) Rigidez não muito elevada, ficando
na faixa de resistência à compres-
são entre P3 e P4 da ABNT NBR
13281:2005. Argamassas com alta
rigidez (alto módulo de elasticida-
de) apresentarão maiores tensões
de cisalhamento na interface para
uma mesma movimentação, quan-
a Alta retenção de água – U5 b Baixa retenção de água – U2 do comparadas às argamassas de
baixo módulo.
u Figura 8
Exemplo de argamassas com diferentes capacidades de retenção de 4.3 Execução do revestimento
água. Ensaio empírico de retenção – resultado após 8 minutos de
aplicação da argamassa sobre um papel filtro
Quanto à execução dos revesti-

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 107


mentos, cronologicamente, deve-se: leva a um aumento da sucção comprovadamente, obtém-se me-
a) Garantir a limpeza da base para de água da base, propiciando lhor aderência quando comparado
remoção de poeiras e outros ma- uma aderência adequada da ar- com a aplicação manual.
teriais que possam prejudicar a gamassa de reboco com a base Por fim, cabe salientar que a abor-
aderência; tratada; dagem dos problemas sempre deve
b) Aplicar chapisco (por exemplo: c) Aplicar a argamassa preferencial- ser sistêmica, considerando todos os
traço 1:3, cimento e areia, em mente por meio de projeção meca- elementos envolvidos, materiais e pro-
volume). Isto porque o chapisco nizada, processo este com o qual, cessos executivos.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] CARASEK, H. Aderência de argamassas à base de cimento Portland a substratos porosos: avaliação dos fatores intervenientes e contribuição ao estudo do
mecanismo da ligação. São Paulo, 1996. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica da USP. 285 p.
[2] CARASEK, H. Argamassas. In: Geraldo C. Isaia. (Org.). Materiais de Construção Civil e Princípios de Ciência e Engenharia de Materiais. 3ed. São Paulo: Instituto
Brasileiro do Concreto - IBRACON, 2017, v. 2, p. 922-969.
[3] CARASEK, H. MALAGONI, M., TERRA, V., GIRARDI, A., ARAÚJO, R. Análise de resultados de resistência de aderência de revestimentos de argamassa obtidos em
obras. In: Simpósio Brasileiro de Tecnologia das Argamassas, 12. Anais. São Paulo, ANTAC, 2017. 10 p.
[4] GIRARDI, A.C.C. Avaliação da substituição total de areia natural por RCD na produção de revestimentos de argamassa. 2016. 130 f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Civil), Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Estruturas e Construção Civil, Universidade Federal de Goiás, 2016.
[5] PAES, I. Avaliação do transporte de água em revestimentos de argamassa nos momentos iniciais pós-aplicação. Tese (doutorado). Brasília. Programa de Pós-
Graduação em Estruturas e Construção Civil – Universidade de Brasília, 2004.
[6] SCARTEZINI, L. M. Influência do tipo e preparo do substrato na aderência dos revestimentos de argamassa: estudo da evolução ao longo do tempo, influência da
cura e avaliação da perda de água da argamassa fresca. 262p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil), Curso de Mestrado em Engenharia Civil, Universidade
Federal de Goiás, 2002.

COMENTÁRIOS E EXEMPLOS DE
APLICAÇÃO DA ABNT NBR 6118:2014
A publicação traz comentários e exemplos de aplicação da nova norma
brasileira para projetos de estruturas de concreto - ABNT NBR
6118:2014, objetivando esclarecer os conceitos e exigências normativas
e, assim, facilitar seu uso pelos escritórios de projeto.

Fruto do trabalho do Comitê Técnico CT 301, comitê formado por


especialistas do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON) e da
Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (ABECE),
para normalizar o Concreto Estrutural, a obra é voltada para engenheiros
civis, arquitetos e tecnologistas.

DADOS TÉCNICOS
ISBN 9788598576244
Formato: 18,6 cm x 23,3 cm
Páginas: 484
AQUISIÇÃO:
Acabamento: Capa dura
www.ibracon.org.br
Ano da publicação: 2015
(Loja Virtual)

Patrocínio

108 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


u acontece nas regionais

IBRACON na Estrada Gaúcha

A Regional do IBRACON no Rio


Grande do Sul realiza série de se-
minários de atualização tecnológica
gia dos concretos especiais) e Prof.
Paulo Helene (Controle tecnológico
do concreto).
to armado em situação de incêndio) e
Prof. José Tadeu Balbo (Concreto per-
meáveis para pavimentação e mobili-
em várias cidades do estado. No dia Já, no dia 29 de maio, na Universi- dade urbana).
12 de abril, na Univates, em Lajeado, dade de Caxias do Sul, foi realizado o Estão previstos seminários em
aconteceu o primeiro seminário, com segundo seminário com presença do Santo Ângelo, em junho, Porto Alegre,
participação dos palestrantes Eng. Jo- Eng. Jefferson Bruschi da Silva (Avan- em julho, Passo Fundo, em agosto,
sué Augusto Arndt (Aditivos para con- ços na tecnologia de aditivos para São Leopoldo, em setembro, e Pelo-
creto – aplicações atuais e tendências indústria de concreto), Prof. Fabrício tas, em outubro. A entrada é um quilo
futuras), Prof. Roberto Christ (Tecnol- Longhi Bolina (Estruturas de concre- de alimento não perecível.

Workshop no Rio Grande do Norte

N o dia 30 de maio foi realizado o


III Workshop no Rio Grande do
Norte no auditório do Instituto Fede-
gia do Rio Grande do Norte (IFRN).
O evento discutiu as patologias cau-
sadas pela temperatura em concre-
José Martins Jr.) e a importância do
controle tecnológico do concreto
na construção civil (Eng. Raphael
ral de Educação, Ciência e Tecnolo- to de bases de aerogeradores (Eng. Holanda).

4º Encontro de Engenharia de Estruturas


discute normalização

R ealizado em 26 de abril, na Uni-


versidade Federal de São Carlos
(UFSCar), o 4º Encontro de Engenharia
de Estruturas Abece-UFSCar contou
com a participação de mais de 400
profissionais de escritórios de projeto,
construtoras, empresas de pré-fabrica-
ção e pesquisadores.
O objetivo do evento foi expor o
tema da atualização de normas para
projeto e execução de estruturas, discu-
tindo normas brasileiras, como a ABNT
NBR 7187 Pontes em Concreto Arma- e concreto reforçado com fibras. Engª Íria Doniak, diretora de publicações
do, ABNT NBR 9062 Estruturas Pré- “Foi oportunidade para que profis- técnicas do IBRACON, entidade que
-moldadas de Concreto e a ABNT NBR sionais e estudantes se atualizassem apoiou o evento, sendo representada
15270 e PN 002:123.010-001 Alvenaria quanto às normas mais recentemente pelo Diretor Regional, Guilherme Par-
Estrutural, e temas transversais, como publicadas, às normas em processo de sekian, e pelas Diretoras Gláucia Dalfre
cargas para o cálculo de estruturas in- revisão e as práticas recomendadas que e Fernanda Giannoti, todos docentes do
dependentemente do tipo de material servem de base para o desenvolvimen- Programa de Estruturas e Construção
e do sistema construtivo e fundações to da normalização no país”, avaliou a Civil da UFSCar/UFSCar.

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 109


Palestra no Rio de Janeiro

R ealizada gratuitamente em 18 de
abril no Clube de Engenharia do
Rio de Janeiro, a palestra “A importân-
to na construção civil”, ministrada pelo
Eng. Rafael Vieira de Carvalho Holanda,
diretor técnico da Holanda Engenharia,
le na obra e em laboratório, bem como
o fluxo de processos do planejamento
até a aceitação e a rastreabilidade das
cia do controle tecnológico do concre- discutiu os principais ensaios de contro- informações do concreto na estrutura.

Atividades na Regional de Santa Catarina

A lunos do curso de graduação da


Universidade Católica de Santa
Catarina visitaram em 27 de março
Engenheiros. Te-
mas, como “Ame-
aças à vida útil
a unidade de Joinville da Supermix de estruturas de
Concreto, acompanhados pelo geren- concreto arma-
te da empresa, Eng. Fábio Brümmer, do”, “resistência
e pelo diretor regional do IBRACON, à compressão do
Prof. Joélcio Luiz Stocco. Na ocasião concreto”, “ges-
conheceram o processo de dosagem tão tecnológica
do concreto na central, os tipos de de estruturas de
concreto produzidos e o processo concreto”, “ori-
de gestão ambiental desenvolvido gens das manifes-
pela empresa. tações patológicas nas construções’, O evento gratuito foi promovido
Com participação de 400 pessoas, “aspectos relevantes na inspeção de pelo IBRACON e pela Associação Bra-
foi realizado o Seminário de Patologia estruturas” e “utilização de ensaios na sileira de Patologia das Construções
das Construções de Santa Catarina avaliação e diagnóstico de estruturas (Alconpat Brasil), e patrocinado pela
(SEMPAT/SC) nos dias 27 e 28 de fe- de concreto armado”, foram apresen- ACE, Corr, PhD, Ad Fidúcia, Quality
vereiro, na Associação Catarinense de tados e discutidos. e IDD.

110 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


CBPAT 2018 é realizado em Mato Grosso do Sul

C lerca de 200 pessoas participa-


ram do Congresso Brasileiro de
Patologia das Construções, realizado
de 18 a 20 de abril no auditório do
CREA-MS.
A palestra de abertura foi feita pelo
pesquisador Leandro Sanchez sobre
a reação álcali-agregado (RAA). Ou-
tras seis palestras foram realizadas no
evento, inclusive pelo presidente do
IBRACON, Eng. Julio Timerman. Ao
todo foram apresentados 70 trabalhos
técnico-científicos sobre patologia,
diagnóstico e recuperação de estrutu-
ras de concreto. Foram ainda realiza-
dos quatro minicursos.
Realizado pela Alconpat, o evento foi
apoiado pela Regional IBRACON.

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 111


INSCRIÇÕES
ABERTAS

MAIOR E MAIS IMPORTANTE FÓRUM TÉCNICO NACIONAL SOBRE A


TECNOLOGIA DO CONCRETO E SEUS SISTEMAS CONSTRUTIVOS

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para divulgação, promoção
e relacionamento

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112 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


September, 17-21, 2018

COTAS DE PATROCÍNIO | SPONSOR SHIP QUOTAS

MOEDA DIAMANTE OURO RUBI PRATA BRONZE

VALORES R$ 200.000,00 75.000,00 70.000,00 35.000,00 30.000,00

CURRENCY DIAMOND GOLD RUBY SILVER BRONZE

VALUES US$ 60,000.00 22,500.00 21,000.00 10,500.00 9,000.00

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2 10 unid. = 90 m2 6 unid. = 54 m2 – 3 unid. = 27 m2 –
9 m Booth with Basic Assembly

Inscrições | Registrations 10 6 6 3 3

Palestra no “Seminário de Novas Tecnologias” 60 45 45 30 30


Lecture in “Seminar of New Technologies” minutos | minutes minutos | minutes minutos | minutes minutos | minutes minutos | minutes

PRESENÇA INSTITUCIONAL (LOGOMARCA):


INSTITUCIONAL PRESENCE (LOGO):

Site (link para sua página) | Site (link to your page) 1 1 1 1 1

Programa Final | Final Programm 1 1 1 1 1

Anais Eletrônicos | Electronic Proceedings 1 1 1 1 1

Newsletters 1 1 1 1 1

Sinalização Centro de Convenções e/ou Auditorios


1 1 1 1 1
Signalling of the Convention Center and/or Auditorium

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Proporção16:9 (JPG ou PDF) com 200 dpi 2 2 2 1 1


Dimension 16:9 (JPG or PDF) with 200 dpi páginas | pages páginas | pages páginas | pages página | page página | page

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MOEDA SÓCIO NÃO SÓCIO CURRENCY MEMBER NON-MEMBER

VALORES | VALUES (R$) 12.000,00 15.000,00 (US$) 3,600.00 4,500.00

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9 m2 Booth with Basic Assembly Unit 1 Unit 1
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Inscrições | Registrations 1 1 de adesão.

PRESENÇA INSTITUCIONAL (NOME) EM: COMMENTS


INSTITUCIONAL PRESENCE (NAME) IN:

Site (link para sua página) | Site ( link to your page) 1 1 The logos will be proportionately scaled the according to each category
of sponsorship. Selection of the booths will be by order of accession.
Anais Eletrônicos | Electronic Proceedings 1 1

CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 113


u agenda

Simpósio sobre Aditivos para Argamassas


e Concretos

à Data: 20 e 21 de Junho
à Local: Universidade Presbiteriana Mackenzie –
Campus Higienópolis
Third International Dam World Conference
à Realização: UPM

à Informações: goo.gl/XyWgRp

à Data: 17 a 21 de Setembro
à Local: Recanto Cataratas, Foz do Iguaçu, PR
à Realização: LNEC/IBRACON

3º Encontro Luso-Brasileiro de Degradação à Informações: www.ibracon.org.br/damworld2018

em Estruturas de Concreto

à Data: 22 a 24 de Agosto
à Local: Universidade Federal de São Carlos 21º ENECE – Encontro Nacional de
à Realização: UFSCar Engenharia e Consultoria Estrutural
à Informações: https://degrada2018.faiufscar.com/

à Data: 25 de Outubro
à Local: Milenium Centro de Convenções –
São Paulo
ConaEnd&IEV – Congresso Anual de à Realização: Abece

Ensaios Não Destrutivos e Inspeção à Informações: http://site.abece.com.br/index.php/enece

à Data: 27 a 29 de Agosto
à Local: Centro de Convenções Frei Caneca
São Paulo Encontro Nacional Betão Estrutural
à Realização: Abendi

à Informações: www.conaend.org.br
à Data: 7 a 9 de Novembro
à Local: LNEC, Lisboa, Portugal
à Realização: GPBE

à Informações: https://be2018.pt/
XIX COBRAMSEG – Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

à Data: 28 de Agosto a 1 de Setembro Sponsorship’ 3rd R. N. Raikar Memorial


à Local: Bahia Othon Palace Hotel, Salvador, Bahia International Conference and ‘Gettu - Kodur’
à Realização: ABMS/CBMR International Symposium
à Informações: www.cobramseg2018.com.br
à Data: 14 e 15 de Dezembro
à Local: Mumbai, Índia
à Realização: ACI

à Informações: http://rnrconf.icaci.com/

60º Congresso Brasileiro do Concreto

à Data: 17 a 21 de Setembro
à Local: Recanto Cataratas, Foz do Iguaçu, PR
à Realização: IBRACON

à Informações: www.ibracon.org.br/eventos/60cbc

114 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018


Instituto Brasileiro do Concreto
Organização técnico-científica nacional de defesa
e valorização da engenharia civil

Fundado em 1972, seu objetivo é promover e divulgar conhecimento sobre a tecnologia do concreto e de
seus sistemas construtivos para a cadeia produtiva do concreto, por meio de publicações técnicas, eventos
técnico-científicos, cursos de atualização profissional, certificação de pessoal, reuniões técnicas e premiações.

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publicações do American Concrete Institute intercambiando conhecimentos e fazendo valer
(ACI) suas opiniões técnicas

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CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 | 115


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tecnológico de Chicago
} Visita à Central de Concreto da Engemix: veja de perto a central misturadora, a central
dosadora e o laboratório de controle da Engemix e visite uma obra com concreto
fornecido pela empresa

LAS VEGAS
} Concrete in the Americas: oportunidade para apresentar cases de obras realizadas
no Brasil e conhecer obras realizadas em concreto no continente americano
} ACI Fall Convention*
– conheça as atividades dos Comitês Técnicos do American Concrete Institute para
normalização e especificação de projeto, construção, manutenção e reabilitação de
estruturas de concreto
– acompanhe as competições estudantis e torça para a equipe brasileira, vencedora
do APO 2017, que participa da competição internacional
– visite obras emblemáticas em Las Vegas
– estreite relacionamentos com sua participação garantida no coquetel oferecido pelo
presidente do ACI
* INSCRIÇÃO NÃO INCLUSA NO PACOTE

PACOTE INCLUI:
} Passagem aérea Guarulhos / Chicago / } Traslados hotel / aeroporto / hotel
Las Vegas / Guarulhos } Ônibus para visitas técnicas
} 2 noites no hotel W Lakeshore (Chicago) } Traslado Hotel Park MGM /
} 5 noites no hotel Park MGM (Las Vegas) Fall Convention / Hotel Park MGM
} Seguro-viagem } Tour Chicago Architecture River Cruise

* Associe-se para participar da Missão e garantir acesso aos outros benefícios dos associados do Instituto.

MISSÃO POSSÍVEL E EXCLUSIVA PARA VOCÊ. VAGAS LIMITADAS.


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Junte-se a Nós Nesta Missão!
Contate Tel.: 11 5087-4480
BRAZILUSA
116 | CONCRETO & Construções | Ed. 90 | Abr – Jun • 2018 e-mail: contato@brazilusa.com.br

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