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ALVENARIA ESTRUTURAL 90
ABR-JUN
IBRACON
Adote concretamente
a revista
CONCRETO & Construções
u sumário
seções
7 Editorial
REVISTA OFICIAL DO IBRACON PRESIDENTE DO
8 Coluna Institucional Revista de caráter científico, tec- COMITÊ EDITORIAL
nológico e informativo para o se-
10 Converse com o IBRACON à Guilherme Parsekian
tor produtivo da construção civil,
11 Encontros e Notícias para o ensino e para a pesquisa COMITÊ EDITORIAL – MEMBROS
em concreto. à Alio Kimura
14 Personalidade Entrevistada: (informática no cálculo estrutural)
ISSN 1809-7197
CRÉDITOS Vahan Agopyan Tiragem desta edição:
à Arnaldo Forti Battagin
(sistemas construtivos)
PUBLICIDADE E PROMOÇÃO à Evandro Duarte
à Arlene Regnier de Lima Ferreira (protendido)
arlene@ibracon.org.br à Frederico Falconi
(projeto de fundações)
PROJETO GRÁFICO E DTP
INDUSTRIALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO à Gill Pereira
à Guilherme Parsekian
(alvenaria estrutural)
21
gill@ellementto-arte.com
à Hugo Rodrigues
Três sistemas construtivos em empreendimento (cimento e comunicação)
residencial econômico ASSINATURA E ATENDIMENTO
office@ibracon.org.br
à Inês L. da Silva Battagin
26
(normalização)
Alvenaria estrutural em edifício de 24 pavimentos GRÁFICA à Íria Lícia Oliva Doniak
38
dos são de responsabilidade de à Mário Rocha
Parede de concreto: como ter uma obra sem seus autores e não expressam, (sistemas construtivos)
manifestações patológicas necessariamente, a opinião do à Paulo Eduardo Campos
Instituto. (arquitetura)
à Paulo Helene
© Copyright 2018 IBRACON
(concreto e reabilitação)
ESTRUTURAS EM DETALHES Todos os direitos de reprodução
à Selmo Kuperman
(barragens)
47
reservados. Esta revista e suas
Paredes moldadas no local em concreto reforçado partes não podem ser reproduzidas
com fibras nem copiadas, em nenhuma forma IBRACON
de impressão mecânica, eletrônica, Rua Julieta Espírito Santo
NORMALIZAÇÃO TÉCNICA
DIRETOR DE EVENTOS
DIRETOR TÉCNICO
Paulo Helene
Declarado de Utilidade Pública Federal
Decreto 86871 de 25/01/1982
DIRETOR DE RELAÇÕES
DIRETOR PRESIDENTE INSTITUCIONAIS
86
Luiz Prado Vieira Júnior
Análise experimental de parede de alvenaria E DIVULGAÇÃO TÉCNICA
Íria Lícia Oliva Doniak
estrutural em situação de incêndio DIRETOR 2º VICE-PRESIDENTE
Bernardo Tutikian
DIRETOR DE PESQUISA
103
DIRETOR 2º SECRETÁRIO DIRETOR DE CURSOS
Cuidados com revestimentos de argamassa Carlos José Massucato Enio José Pazini Figueiredo
sobre blocos de concreto de alta resistência DIRETOR 1º TESOUREIRO
e baixa absorção Claudio Sbrighi Neto
DIRETOR DE CERTIFICAÇÃO
DE MÃO DE OBRA
Gilberto Antônio Giuzio
DIRETOR 2º TESOUREIRO
Nelson Covas
DIRETORA DE ATIVIDADES
DIRETOR DE MARKETING ESTUDANTIS
Hugo Rodrigues Jéssika Pacheco
Qualidade e conhecimento:
aspectos imprescindíveis
para o desenvolvimento
Caro leitor,
C
olocamos em suas mãos mais uma edição congresso anual, prover
da revista CONCRETO & Construções. A conhecimento qualifica-
Resistência ao Fogo nas Estruturas de do à comunidade técni-
Concreto foi tema da edição anterior, ex- ca e ao setor da construção civil, pois possui em seu
tensamente debatido internamente, espe- conselho, diretoria e quadro associativo profissionais de
cialmente porque sabemos das condições inadequadas referência na engenharia do concreto no âmbito nacional
de manutenção e uso de considerável percentual das e internacional. Quero destacar em especial as revistas
edificações em nosso país. Exemplo disso foi a recen- CONCRETO & Construções e a RIEM (Revista IBRACON
te fatalidade do incêndio, seguido por desabamento, do de Estruturas e Materiais), que, com propósitos distin-
edifício Wilton Paes de Almeida. tos (a primeira voltada para a cadeia produtiva com foco
Qualidade é tema que sempre pautou o escopo dos tra- técnico-profissional, e a segunda com viés técnico-cien-
balhos que desenvolvi ao longo da minha carreira, quan- tífico) vem cumprindo suas funções perante a sociedade.
do atuei diretamente na indústria e em obras. Lembro de Este exemplar que chega até você, caro leitor, tem por
um conceito que chamou minha atenção na leitura da tema principal o Concreto e Habitação. Gostaria de des-
filosofia de grandes gurus, como Juran, Deming e Crosby tacar a excelente e didática entrevista concedida pelo
“Qualidade é adequação ao uso”. O uso das estruturas, reitor da USP, Prof. Vahan Agopyan, que nos leva a re-
independente do material com o qual tenham sido pro- fletir, mais uma vez, sobre a importância do conheci-
jetadas, deve se restringir à finalidade para a qual foram mento, do estudo e da educação. Outros destaques são
idealizadas, sendo que adequações pertinentes devem os dados mercadológicos, industrialização e normaliza-
ser feitas se houver alteração ao longo de sua vida útil ção, temas presentes nas nossas edições, promoven-
quanto ao uso. do a engenharia do concreto, em suas diferentes formas
Deming, em seu livro “Qualidade: A revolução da Admi- de utilização.
nistração”, cuja leitura recomendo a todos, inicia um dos Gostaria de incentivá-los a utilizar a seção “Converse com
capítulos com o versículo “O meu povo perece porque lhe o IBRACON” para se comunicar conosco e esclarecer
falta o conhecimento” (Oséias 4:6). A falta de conheci- suas dúvidas. E externar nosso sincero agradecimento aos
mento e na sequência de sabedoria, que é a aplicação do oferecedores e anunciantes, que viabilizam este trabalho.
conhecimento, gera sofrimento, sendo isto uma preocu- Por fim, gerar a expectativa em relação às próximas edi-
pação desde os tempos bíblicos e que permeia a história ções da CONCRETO & Construções, que já estão sendo
da humanidade até os dias atuais. estruturadas: Inspeção, Manutenção e Reabilitação de Es-
Não precisamos evidentemente conhecer tudo, porém truturas de Concreto; e Certificação de Qualidade.
devemos saber onde buscar o conhecimento quando
necessitamos de algo específico. O IBRACON (Insti- Boa leitura!
tuto Brasileiro do Concreto) tem se dedicado por meio ÍRIA LÍCIA OLIVA DONIAK
de seus veículos de comunicação e de outros canais, D iretora de P ublicações Técnicas
como Práticas Recomendadas, cursos, eventos e seu Instituto Brasileiro do Concreto
P
ara responder a esta racterização e ministrou um curso
pergunta, basta olhar- expresso de orientação às equipes
mos o ambiente cons-
de inspeção e vistoria da Prefeitura
truído no qual estamos
Municipal, devidamente organizado
inseridos. Qual é o ma-
em menos de uma semana sob soli-
terial estrutural mais abundante?
Com certeza, o concreto. citação do Secretário de Infraestru-
concreto segundo a ABNT NBR 16230:2013, com tur- ao longo dos anos, contando ainda com a participação
mas realizadas em Recife, Fortaleza e Brasília neste ano. de equipes estrangeiras. Em 2017, foram 606 alunos ins-
Para colaborar com as discussões com vistas à normali- critos de 19 estados brasileiros, crescimento de 17% em
zação técnica nacional e internacional, o Instututo agre-
relação ao ano anterior. Para este ano, a expectativa é
ga os maiores especialistas de cada tema da cadeia do
ainda maior, visto que os concursos estarão inseridos
concreto em seus Comitês Técnicos, para elaboração
num evento conjunto entre o 60º Congresso Brasileiro
de Práticas Recomendadas, que detalham os assuntos
de forma mais leve e didática, auxiliando a compreensão do Concreto e o 3 rd Dam Word, conferência mundial de
cisalhamento em amarração indireta, deve- transferência de esforço vertical entre Por exemplo, no caso em que o pavimen-
-se realizar o dimensionamento conside- paredes sem amarração direta, porém to de transição de concreto armado é si-
rando que existe amarração direta entre com armadura detalhada. Ocorre que mulado em modelo separado da torre de
as paredes e, caso elas “passem”, deve- em alguns casos, a transferência de es- alvenaria, não vejo sentido em considerar
-se detalhar os grampos? Sendo assim, a forços na ligação só ocorreu após ex- os parâmetros gz e alfa como se ele não
premissa de cálculo de que essas paredes pressivo deslocamento relativo entre as estivesse ligado a uma torre. Tem algum
participam do mesmo grupo fica garanti- paredes amarradas. Para transmitir, es- estudo ou recomendação a respeito?
da? Estou trabalhando com grampos de sas barras deveriam ser rígidas. Existe MARCIO SANTOS FARIA
6,3 a cada duas fiadas para edifícios de, um formato internacional padrão para Arq. Est. Consultoria e Projetos
no máximo cinco pavimentos. Está ade- esse fim em formato em um Z (veja as
quado? No “Parâmetros de Proje-
livro figuras), com maior rigidez, espessura Não faz sentido calcular o gz apenas do
to de Alvenaria Estrutural com Blocos pequena e proteção contra corrosão. pavimento de transição isolado: o mo-
de Concreto”, o item 9.2 indica grampos Para barras convencionais de CA50, mento de 1ª ordem (M1) estará incorre-
de 8,0mm, mas o desenho da figura 28 eu não usaria o critério de mesmo gru- to e o de 2ª ordem (M2) vai ser calcu-
indica grampos de 6,3mm. Por que isto? po diretamente, e faria a envoltória de lado com o deslocamento horizontal do
SANDRO KATAYAMA esforços para ambas hipóteses (100% pilotis e o peso total do prédio, portanto
Projetista de Estruturas da Grifa Engenharia separada ou 100% unida). Sobre o di- também estimado incorretamente. En-
âmetro dos grampos, o usual é 8 mm tendo que pode manualmente estimar
1 – Sobre a questão do deslocamento (recomendado), porém a normalização o valor do gz da torre + pilotis. Verifique
horizontal do edifício, as atuais normas atual indica no máximo 6,3 mm na jun- quais são as forças laterais de vento em
de alvenaria não têm um critério claro. ta, por isso a confusão no livro. Na revi- cada pavimento da torre e no pilotis. A
A proposta de revisão de norma de al- são de norma, isto foi alterado, indican- partir desses valores calcule o M1. Veri-
venaria estrutural unificada, ABNT PN do máximo de 6,3 mm apenas quando fique quais são os deslocamentos hori-
002:123.010-001, propõe os mesmos as barras de armadura são dispostas zontais e peso de cada pavimento e do
critérios da ABNT NBR 6118. ao longo de cordões de argamassa em pilotis, obtidos nos processamento da
2 – Para a amarração não existe um cri- juntas de assentamento. Então, o me- torre e do pilotis. O M2 será o somató-
tério definido sobre a consideração da lhor é 8 mm no caso de se querer fazer rio de carga vertical de cada pavimento
interação entre paredes. Se for projetar esse detalhe. Finalmente destaco que (somar o peso do ático no último pavi-
com amarração indireta de paredes, o usual no Brasil é a amarração dire- mento) multiplicado pelo deslocamento
a sugestão é detalhar com barras de ta, simples de executar e eficiente, não horizontal de cada pavimento. A partir
ligação, mas verificar o dimensiona- havendo justificativa para amarração desses, pode calcular o gz mais próxi-
mento como se não houvesse ligação. indireta na grande maioria das constru- mo do real do prédio = 1/(1-M2/M1).
Estudos realizados em mais de uma ções, sendo esse detalhe de uso muito Geralmente o valor do gz da torre de al-
universidade brasileira indicam que há limitado. Talvez por isso o detalhe de venaria estrutural é baixo, que também
barra-Z, provavelmente mais deve ser baixo para torre+pilotis. Pela
eficiente para amarração indi- proposta de revisão de norma esse não
reta, não esteja disponível no pode ser maior que 1,10. Deve-se veri-
Brasil. ficar também o deslocamento horizon-
tal do prédio e entre cada pavimento.
GUILHERME PARSEKIAN, A proposta de revisão de normas de
PRESIDENTE DO COMITÊ EDITORIAL alvenaria estrutural unificada, ABNT PN
002:123.010-001, traz recomendações
Posso verificar a estabilidade para essas verificações.
global de um pavimento de tran-
sição pelo parâmetro gz? Per- GUILHERME PARSEKIAN,
gunto isso em função da reco- PRESIDENTE DO COMITÊ EDITORIAL
Patrocínio
Vahan
Agopyan
A
rmênio naturalizado
CECÍLIA BASTOS
brasileiro, o Prof. Vahan
Agopyan é o 27º reitor da
maior universidade pública
brasileira, a Universidade de
São Paulo (USP), posto que
assumiu em 25 de janeiro último.
Graduado em Engenharia Civil pela Escola
Politécnica (Poli) da USP em 1974, o Prof.
Vahan muito cedo se decidiu pela carreira
acadêmica, fazendo o mestrado na Poli e o
doutorado na University of London King’s
College. Os cargos administrativos foram
decorrência de uma trajetória de reconhecida
atuação universitária. Chefe do Departamento
de Engenharia de Construção Civil
(1990-1998), vice-diretor e diretor da Poli
(2002-2006), o Prof. Agopyan foi ainda
pró-reitor de pós-graduação (2010-2014)
e vice-reitor da USP (2014-2018).
É professor titular de materiais e
componentes de construção civil, atuando
principalmente nas áreas de materiais
reforçados com fibras, qualidade e
sustentabilidade da construção civil.
IBRACON – O que o motivou a pela engenharia civil, por me sentir disciplinas, em particular a do meu
escolher a engenharia civil, seguir bem neste ambiente. Logicamente então futuro orientador, o Prof. Eládio
a carreira acadêmica e assumir que, como qualquer estudante Petrucci, tinha sido o melhor aluno
cargos administrativos em sua vida de engenharia, não conhecia a da turma. Por isso, fui convidado
universitária? profissão de maneira adequada. A a dar aula na área de materiais
Vahan Agopyan – Tinha curiosidade compreensão só se deu plenamente de construção em tempo parcial.
pelas atividades de criação e de no ambiente da faculdade. Isto aumentou meu interesse pela
desenvolvimento da engenharia. Por A carreira acadêmica e, pesquisa, de modo que decidi seguir
isso, ingressei em 1970 no curso de posteriormente, a administrativa, carreira acadêmica. Fiz mestrado na
engenharia da Escola Politécnica da são decorrentes uma da outra. Eu Poli entre 1974 e 1978. Larguei a
USP. Ao final do primeiro ano, optei era aluno médio, mas, em algumas construtora onde trabalhava e onde
MARCOS SANTOS
usina de concreto. Em seguida,
com 27 anos, resolvi fazer doutorado
no exterior.
Fiz carreira acadêmica. Cheguei
a professor titular em 1994.
Nesta época, não existiam muitos
professores titulares na Poli, que
normalmente ocupavam cargos de
chefia de departamento. Quando o
Prof. Antonio Massola se candidatou
a diretor da Escola, em 1998, ele
pediu para eu me candidatar a vice-
diretor. Ele ganhou para diretor e eu
ganhei para vice, em um período no
qual as eleições eram separadas.
Espaço de convivência na Escola Politécnica da USP
E, a partir daí, comecei a exercer
cargos administrativos
na universidade. teóricas, sem muito espaço para sua Dois anos depois de formado, eu
aplicação a questões práticas. Você trabalhava com materiais fibrosos,
IBRACON – Que marca de gestão concorda com essa avaliação? que era um tema que não fazia parte
espera ver deixada por um engenheiro Vahan Agopyan – Sim, eu concordo do currículo do curso. Isto porque
na reitoria da USP? com essa avaliação. Mas tem que os materiais de construção variam.
Vahan Agopyan – Procurarei fazer ser assim. O ensino superior é de Não adianta ensinar uma infinidade
uma gestão para aumentar seus formação, não é para habilitação e de materiais para o aluno - porque
aspectos de produção, execução informação, como se faz na escola essa é uma área em constante
e organização, para que seja técnica. O aluno tem que saber a atualização. O concreto da década
proativa, e não apenas reativa. base do conhecimento. A parte de 1970 não tinha nada a ver com
No momento, ainda há restrições prática ele faz fora da universidade. o concreto da década de 1980.
de recursos financeiros e quanto Isto tem que ser bem compreendido. Por isso, o embasamento teórico é
à contratação de pessoal. Como Os médicos entendem muito bem muito importante na formação dos
engenheiro, encaro essa dificuldade esse processo de formação. Eles se engenheiros, pois o aluno aprende
como desafio, isto é, conseguir, com formam médicos e desenvolvem a a parte prática fora da universidade.
poucos recursos financeiros, atingir parte prática durante as residências. A universidade não é como uma
os objetivos dos projetos a executar. Engenheiros em vários países, para escola técnica para ensinar a operar
entrar na corporação, são obrigados um equipamento. A universidade
IBRACON – Uma crítica muito a trabalhar de dois a três anos antes é para formar o profissional
ouvida de alunos é que as aulas nas de serem aceitos como engenheiros. capaz de operar qualquer tipo
Faculdades de Engenharia são muito Eu me formei na década de 1970. de equipamento.
“
O ENSINO SUPERIOR É DE
FORMAÇÃO, NÃO É PARA
“
HABILITAÇÃO E INFORMAÇÃO,
COMO SE FAZ NA ESCOLA TÉCNICA
“
E FORMADOS PARA PODER ABSORVER, ASSIMILAR
E, MAIS AINDA, DESENVOLVER NOVAS
METODOLOGIAS DE TRABALHO
IBRACON – Mas tal crítica parece conheço são oferecidos bons esse cenário. Na Poli, aprendi os
destacar o fato do aluno não embasamentos. Os engenheiros métodos de cálculo de pórticos, que
conseguir aplicar os conceitos brasileiros das boas escolas têm eram tradicionais na engenharia.
teóricos ensinados. uma formação muito sólida, em Com o advento dos pequenos
Vahan Agopyan – É importante que o comparação com as congêneres computadores, esses métodos
aluno entenda o conceito teórico. Por internacionais. Por exemplo, entre deixaram de ser adequados. Mas,
exemplo: não adianta treinar o aluno os alunos da Poli, 20% fazem como eu tinha sido preparado para
para fazer dosagem de concreto hoje intercâmbio no exterior, tendo entender a lógica de como se faz
porque ao se formar, certamente, desempenho acima da média dos o cálculo, a lógica do método de
as metodologias de dosagem serão alunos estrangeiros. Cross, me adequei facilmente ao
outras. O que importa é ensinar cálculo com outro método numérico.
qual é a lógica da dosagem do IBRACON – O que pretende fazer Nossos engenheiros têm de ser
concreto, mostrar a importância da para impulsionar a modernização dos preparados e formados para poder
porosidade na resistência e para a cursos de graduação na USP? absorver, assimilar e, mais ainda,
viscosidade do material. Explicando Vahan Agopyan – Todas as boas desenvolver novas metodologias
os conceitos ao aluno, mesmo escolas de engenharia no mundo de trabalho.
modificando a metodologia, ele vai estão continuamente revendo seus
entender a lógica do funcionamento currículos e suas metodologias. IBRACON – Qual é o futuro
da dosagem. O problema é quando Essa é uma tarefa contínua. O dos cursos de Engenharia Civil,
o aluno não entende a razão de estar grande desafio é prever como considerando o mercado de trabalho
estudando porosidade do concreto. serão as tendências futuras e oscilante por conta de crises
Nos cursos de engenharia que como preparar os jovens para econômicas periódicas e da tendência
brasileiro?
programas de dupla-formação,
como o implantado pelo senhor formação, mas os conselhos não que vão fazer desenvolvimento.
quando diretor da Escola Politécnica reconhecem. Ele recebe o diploma Formamos profissionais capazes
da USP? de sua escola de origem e tem de desenvolver a área. A pesquisa
Vahan Agopyan – Esses programas uma apostila dizendo que tem da pós-graduação, para ser
têm como objetivo a integração todas as competências da outra relevante, tem que estar junto com
das equipes. Havia problemas de profissão. Como as competências as empresas. Deve haver esse
comunicação entre engenheiros são muito similares, não exercer a incentivo. Vou dar um exemplo.
civis e arquitetos nas equipes outra profissão não afeta muito o As fibras de vidro no gesso, tema
multidisciplinares. O melhor jeito profissional. Mas ele não tem os dois de meu doutorado, ganhou o
para facilitar a comunicação diplomas. O engenheiro é registrado interesse de um empresário, dez
era ter um engenheiro civil que no CREA e o arquiteto no Conselho anos após minha defesa, durante
entendesse a linguagem do arquiteto de Arquitetura e Urbanismo. um evento em que eu participava.
e um arquiteto que entendesse a Esse empresário contratou um
linguagem do engenheiro civil. Esses IBRACON – O que pretende fazer instituto de pesquisas tecnológicas
alunos com dupla formação fazem para que o conhecimento gerado na da região e adequou meus estudos
esse meio de campo. pós-graduação tenha maior impacto e à produção. Quando a empresa
relevância social? participa do desenvolvimento do
IBRACON – A pessoa não se forma Vahan Agopyan – Um ponto projeto de pesquisa, basta depositar
engenheiro civil e arquiteto? importante é entender que a pós- a patente para o produto estar no
Vahan Agopyan – Ela tem a graduação é a formação das pessoas mercado no dia seguinte. Com isso,
“
A PESQUISA DA
“
PÓS-GRADUAÇÃO, PARA SER
RELEVANTE, TEM QUE ESTAR
JUNTO COM AS EMPRESAS
“
EM SI AJUDA A INTEGRAÇÃO COM A EMPRESA, MAS É PRECISO
TER UM PLANEJAMENTO PARA O EMPRESÁRIO TER A SEGURANÇA
PARA FAZER O INVESTIMENTO NA INOVAÇÃO
se consegue rapidamente passar do incentivo efetivo. É preciso ter um Com isso, a estrutura de um novo
conhecimento à prática, porque se planejamento para o empresário ter a prédio é muito mais esbelta do que
trabalha junto com a empresa. segurança para fazer o investimento a estrutura de um antigo. Na área
na inovação. de rodovias, por exemplo, veja a
IBRACON – Quais políticas são Imigrantes ‘velha’ e a Imigrantes
necessárias para que a produção IBRACON – Você concorda com a ‘nova’. Na área de materiais, uma
acadêmica chegue ao mercado e à tese de que a engenharia civil é a área revolução total. O concreto mudou
sociedade? que menos emprega tecnologia dentre violentamente. Antes, um concreto
Vahan Agopyan – A política as engenharias? com 15MPa era de alta resistência.
de inovação recentemente Vahan Agopyan – Não, porque a Hoje, qualquer usina produz concreto
regulamentada é muito boa. Seria engenharia civil utiliza muitos materiais, de 50MPa. Evoluímos muito também
suficiente se houvesse, da parte com muita tecnologia embutida. em execução. Como falar hoje para
do governo, um planejamento A engenharia civil não é apenas o um engenheiro jovem que, até 35
econômico de médio e longo prazos. que se faz no canteiro de obras. anos atrás, não reaproveitávamos a
O Brasil não tem um planejamento Minha geração assistiu a verdadeiras forma de concreto. Então, mudamos
de ações há muito tempo. Enquanto revoluções na engenharia civil. A área conceitos de projeto, os materiais e
isso não acontecer, as empresas de projetos foi revolucionada com a a própria execução. Suponha que
continuarão se sentindo inseguras mudança nas diretrizes de projeto. um engenheiro ficasse trinta anos
para investir. Investimento em Antes todo projeto levava em conta sem entrar em um canteiro de obras.
inovação é pesado. O marco embasamentos empíricos. Hoje, os Certamente, hoje, ele não reconheceria
regulatório em si ajuda a integração projetos de engenharia civil levam em uma bomba de concreto.
com a empresa, mas precisa ter um conta uma abordagem probabilística.
IBRACON – Na sua gestão na Pró-
CECÍLIA BASTOS
mestrado tradicional?
porque envolve pesquisa e produz outros meios. Quem trabalhou de pesquisas é o da sustentabilidade na
conhecimento. O aluno pode fazer forma integrada com a sociedade, construção. Quais trabalhos você
doutorado depois. Analisando governos, empresas e organizações vê como promissores nesta temática?
friamente, percebe-se que a maioria não governamentais conseguiu Por quê? A USP tem integrado esses
tem a visão profissional. A maioria Preocupante é o fato que, com o Vahan Agopyan – Ponto marcante
das dissertações de mestrado desmantelamento de um grupo de nesta questão da sustentabilidade foi
na área de engenharia, mesmo pesquisa, sua remontagem não é a redução de resíduos, não apenas
sendo acadêmicas, têm essa visão instantânea. Nas universidades do entulhos, mas os incorporados
de problemas práticos pontuais. exterior, quando uma nova equipe na construção, como espessuras
Então, o mestrado profissional é é montada, as engrenagens exageradas de revestimentos para
um mestrado de fato stricto sensu, demoram alguns anos para acertar prumo, ou enchimentos
procurando estar mais próximo dos entrarem nos eixos. desnecessários em lajes, quebra de
problemas da sociedade. componentes por falta de modulação
IBRACON – No âmbito de São Paulo e a ausência de reaproveitamento
IBRACON – O Brasil investe muito e da USP, o senhor pretende adotar de resíduos para a produção
pouco em pesquisa científica, ainda alguma política de maior aproximação de materiais. Segundo aspecto
mais no cenário econômico atual de entre faculdades e institutos? importante foi a redução de energia
recente saída de crise econômica. Vahan Agopyan – Esse intercâmbio para a produção de materiais e a
Quais suas propostas para que as já existe, variando conforme a otimização em torno dos projetos
pesquisas na universidade tenham posição e as necessidades. Nosso para evitar quebras, cortes etc.
maior autonomia e não sejam intercâmbio com o Instituto Butantan, Hoje, o foco é utilizar os conceitos
descontinuadas? por exemplo, foi ampliado nos de economia circular. Essa é uma
Vahan Agopyan – Houve, do meu últimos anos graças às parcerias tendência nova na construção civil.
ponto de vista, falta de planejamento de pesquisadores nos estudos Isso significa que o resíduo de um
e distorções, na qual o Programa de doenças como dengue e as é a matéria-prima de outro. É a
Ciência sem Fronteiras drenou decorrentes do zika vírus. Os últimos economia circular: se reaproveita
recursos que deveriam ter ido diretores do Butantan eram todos tudo e, assim, se diminui a geração
para a pesquisa. Eu diria que as da USP, como também os do IPT de resíduos em geral. Esta é a
universidades sediadas no Estado e do IPEN. Oferecemos, inclusive, indústria que mais utiliza matéria-
de São Paulo não tiveram redução programas de pós-graduação prima, a que mais interfere no meio
significativa em suas atividades conjuntos. E essa integração ambiente, porém também é aquela
de pesquisa porque temos uma tende a aumentar, visto que há a que pode melhorar os desmandos
situação privilegiada com a Fapesp. necessidade de as universidades da natureza. Sustentabilidade é
Sentiu-se um pouco, porque os e os institutos estarem cada vez um conceito que incorpora, além
recursos federais, principalmente da mais preparados e integrados para do meio ambiente, as questões
Capes, são muito importantes para atenderem às demandas econômicas e sociais. Portanto,
a manutenção da pós-graduação. da sociedade. é um tripé importante que precisa
“
HOJE, O FOCO É UTILIZAR OS CONCEITOS DE ECONOMIA
“
CIRCULAR. ESSA É UMA TENDÊNCIA NOVA NA
CONSTRUÇÃO CIVIL. ISSO SIGNIFICA QUE O RESÍDUO
DE UM É A MATÉRIA-PRIMA DE OUTRO
“
DIZER SER MAIS AMIGÁVEL COM O MEIO
AMBIENTE, ATENDER AOS ANSEIOS DA
SOCIEDADE E SER ECONOMICAMENTE VIÁVEL
ser analisado. A construção civil metro cúbico de concreto. A norma IBRACON – Na sua avaliação qual
sustentável quer dizer ser mais especificava o uso mínimo de 300 é o papel de instituições técnicas,
amigável com o meio ambiente, quilos por metro cúbico de concreto. como o IBRACON, em relação às
atender aos anseios da sociedade Hoje se faz concreto estrutural com pesquisas científicas e tecnológicas
e ser economicamente viável. menos de 180 quilos de cimento por desenvolvidas nas universidades?
Este é o norte dos trabalhos da metro cúbico. Isto representa uma Vahan Agopyan – A função dessas
Poli: a otimização dos processos indústria cimenteira mais amigável, instituições é de difusão. Não
construtivos, das perdas e dos com redução do consumo de clínquer, se pode imaginar que todos os
materiais. Todo o desenvolvimento que é a parte que tem emissão de engenheiros civis e arquitetos
de novos materiais e projetos tem CO2, e com redução do próprio teor tenham tempo de fazer cursos de
essa finalidade. de cimento. Então, a melhoria atinge especialização, que possam fazer
todas as frentes possíveis. Isto faz com atualização. Uma entidade como o
IBRACON – Que papel desempenhará que a indústria de concreto não seja IBRACON, fazendo seus eventos
o cimento, o concreto e os substituída pela indústria de outros anuais, com grande repercussão,
materiais à base de cimento para a materiais, por exemplo, de metais ou mantendo suas revistas, está
sustentabilidade do setor construtivo, de polímeros reforçados. Eu acredito contribuindo para a difusão de
considerando o dilema entre a que a indústria cimenteira e a de novas ideias. O IBRACON começou
necessidade de crescimento da concreto já assumiu esse papel desde assim. Nas reuniões da entidade
demanda por esses materiais nos países o fim do século passado, modificando na década de 1970 já se debatiam
em desenvolvimento e a urgência em totalmente sua postura, o que fez com as novidades, como os novos
minimizar o uso de recursos materiais e que não perecesse e continuasse processos de dosagem, as novas
energéticos, e as emissões de CO2, na ativa. Hoje, os grandes pesquisadores abordagens e metodologias para o
sua produção? de redução de consumo de cimento concreto, os novos tipos de adições,
Vahan Agopyan – A indústria estão nas indústrias cimenteiras, entre outros temas. Os Congressos
cimenteira e de concreto, em geral, porque, com isso, elas sabem que do IBRACON foram e continuam
tem trabalhado nisso nas últimas conseguem subsistir. sendo muito marcantes. Hoje, essas
décadas. Já atingimos os melhores instituições existem e subsistem por
valores possíveis quanto à otimização IBRACON – Qual impacto causa desse papel de difusores
da produção de cimentos, porque poderá ter a industrialização da do conhecimento.
estequiometricamente se produz construção nesse cenário futuro
CO2, não tem jeito! É reação de sustentabilidade no setor IBRACON – O que gosta de fazer em
na produção de cimento, com Vahan Agopyan – Temos que Vahan Agopyan – Embora eu esteja
redução no consumo de energia e encarar a construção como indústria com o tempo cada vez menos livre,
nas emissões. O consumo de clínquer desde já. A industrialização é uma eu gosto de ler e ir ao cinema.
nos aglomerantes, nos cimentos, realidade. O canteiro de obras é uma Também gosto muito de andar. Eu
também está sendo reduzido e está planta industrial. Com isso, se reduz e minha esposa, quando viajamos,
atingindo valores mínimos. Outra desperdícios e o retrabalho e se não pegamos táxi para passear,
vertente é a redução de cimento por otimiza o consumo de materiais. gostamos de caminhar.
1. INTRODUÇÃO
O
Grand Reserva Paulista
será um complexo habita-
cional dotado de 25 con-
domínios residenciais, que totalizam
exatos 7296 apartamentos com vagas
de garagens. São 51 torres, sendo a
maioria com 144 unidades autônomas,
com 18 pavimentos cada (Fotos 1 e 2).
O empreendimento da MRV Engenha-
ria situa-se no bairro de Pirituba, região
oeste de São Paulo, e contará com
três centros comerciais, um centro de
educação infantil, duas praças públi-
Foto 1 –Perspectiva aérea do canteiro de obras dos empreendimentos
cas com projeto paisagístico, equipa- Grand Reserva Paulista e Spazio San Valentin
mentos para exercícios físicos, abas-
tecimento elétrico de áreas comuns via dando emprego à aproximadamente ma de de estruturas pré-fabricadas
energia fotovoltaica e Wi-Fi gratuito por 3500 pessoas de forma direta e indi- de concreto, este último usado exclu-
dez anos. reta. Todos esses materiais e mão de sivamente nos prédios-garagem dos
A obra começou a ser erguida em obra irão compor os condomínios do empreendimentos.
março de 2017, onde funcionava a an- Grand Reserva Paulista juntamente
tiga sede do Núcleo de Administração com o condomínio Spazio San Valen- 2. EVOLUÇÃO DOS
e Serviços do Banespa S/A (NASBE). tin, um outro empreendimento MRV SISTEMAS CONSTRUTIVOS
O empreendimento contempla uma que ocupa o mesmo terreno e também Até o ano de 2009, a alvenaria es-
área com cerca de 180 mil m² e pre- irá desfrutar dos benefícios do mega- trutural era unanimidade nas obras da
cisou movimentar 211 mil metros cúbi- empreendimento. MRV, mas, aos poucos, vem sendo
cos de solo na fase de terraplanagem. Os prédios do Grand Reserva substituída por outros sistemas constru-
A previsão de conclusão das obras é Paulista e Spazio San Valentin têm tivos, especialmente no caso do Grand
de até cinco anos e este megaempre- projetos contemplando três sistemas Reserva Paulista, onde não é o princi-
endimento deve utilizar mais de 200 construtivos. A clássica alvenaria pal sistema utilizado nas torres do em-
mil metros cúbicos de concreto e cer- estrutural, o sistema de paredes de preendimento. No local, apenas o Spa-
ca de seis milhões de quilos de aço, concreto moldada no local e o siste- zio San Valentin está sendo totalmente
Alvenaria estrutural em
edifício de 24 pavimentos
FABIO FREIRE – Arquiteto
PAULO PUGLIESI FILHO – Arquiteto
NAIARA ALBESSÚ – Engenheira
DHF Construtora e Incorporadora
A
alvenaria como estrutura Hunnicutt&Freire Arquitetos, e o projeto
é provavelmente um dos estrutural foi desenvolvido pela Engeap.
sistemas construtivos mais
antigos do mundo, existente desde as 3. MOTIVOS DA ESCOLHA DO
primeiras civilizações quando se busca- USO DA ALVENARIA
va uma forma de organizar blocos de ESTRUTURAL NO PROJETO
pedras e criar abrigos. Hoje, trata-se de A escolha da Alvenaria Estrutu-
um sistema complexo que agrega cál- ral como sistema construtivo levou em
culos específicos, blocos industrializa- consideração aspectos que vão desde
dos com grande resistência e precisão a cultura do mercado consumidor até a
geométrica, modularidade, racionaliza- execução, analisando fornecedores de
ção e planejamento. material, mão de obra local, disponibilida-
No Brasil, é hoje um sistema bem de de equipamentos, projeto, experiência
consolidado, com investimentos em anterior da construtora, dentre outros.
materiais e equipamentos específicos, Em relação ao projeto, o sistema
u Figura 1
e normas técnicas atualizadas, sendo de alvenaria estrutural já havia sido es-
Projeto do Residencial Sky
referência no mercado mundial. colhido para o empreendimento desde
No entanto, até a década de 80, a sua concepção inicial. Dessa forma, os
alvenaria estrutural era vista com des- 2. DESCRIÇÃO DO aspectos relacionados à modularidade,
confiança e tratada como sinônimo de EMPREENDIMENTO interferência com instalações hidráuli-
construção popular devido ao grande O Residencial Sky é um edifício de cas e elétricas, esbeltez do edifício (que
número de conjuntos habitacionais que 24 pavimentos, que está sendo cons- está diretamente relacionada à taxa de
utilizavam este sistema. truído em alvenaria estrutural. É consti- armação), dimensão de vãos, limitação
Com a migração do sistema para o tuído por 132 apartamentos, sendo 126 de lajes em balanço, detalhes constru-
médio e alto padrão, investiu-se em tecno- unidades de 58m², com 02 dormitórios, tivos, dentre outros, foram definidos
logias, fazendo com que se consolidasse e 06 unidades duplex de 116m², com previamente, a fim de favorecer a apli-
como opção viável, trazendo velocidade, 03 dormitórios, totalizando uma área de cação do sistema. Esse processo de
racionalização, produtividade e economia. 10.500m². Possui térreo com pilotis em concepção de projeto exclui ainda as
A possibilidade de se construir com concreto armado e 23 pavimentos em tomadas de decisão e ajustes do can-
menores custos fez com que o setor re- alvenaria estrutural. teiro de obras, garantindo maior produ-
descobrisse o sistema, somando novas A incorporação e construção do tividade e racionalização ao processo.
práticas, tornando-o moderno e focado empreendimento é da DHF Construto- Por se tratar de um edifício bastan-
na modularidade e racionalização. ra e Incorporadora, o projeto de arqui- te alto para os padrões da alvenaria
6. ESPECIFICAÇÃO DE MATERIAIS
E COMPONENTES
Para a execução do edifício foram
especificados blocos de concreto fa-
bricados. Quanto à forma geométri-
ca, foram utilizados 16 tipos, sendo
06 de blocos, 06 de canaletas, 02 de
compensadores e 02 de vedação. Na
Figura 8 podemos visualizar as tipolo-
gias aplicadas.
Para assentamento e grauteamento
dos blocos optou-se pela utilização de
argamassa e graute industrializados es-
pecíficos para assentamento de blocos
de concreto.
u Figura 5
A resistência dos blocos, argamas-
Detalhe da modulação dos diferentes tipos de blocos
sa e graute foi definida pelo calculista
u Figura 6
Detalhe da modulação dos diferentes tipos de blocos com a locação das
caixas de elétrica
u Figura 7
Vista de uma das paredes, contendo a locação dos pontos de elétrica, u Figura 8
as janelas de inspeção de graute e os pontos de graute Tipologias aplicadas no projeto
9. EQUIPES DE TRABALHO E
FORMA DE RELACIONAMENTO
ENTRE A EXECUÇÃO
DAS TAREFAS
A execução da alvenaria, a fabrica-
ção da argamasse e do graute, e os
controles da sua produção ocorrem
conforme determina a norma ABNT
NBR 15961-2 – Alvenaria Estrutural:
Blocos de concreto – Parte 2: Execu-
ção e controle de obras.
Para a correta execução dos servi-
ços, foram desenvolvidos Procedimen-
tos de Execução de Serviço e Fichas
de Verificação de Serviço, dentre eles,
para a execução da alvenaria e produ-
u Figura 9 ção da argamassa e do graute, funcio-
Detalhe das armações do graute vertical nários da produção foram treinados e
verificações constantes durante a exe-
cução dos serviços são feitas, de modo
a garantir a sua aderência aos projetos
e a qualidade construtiva.
A marcação da 1ª fiada ficou sob
responsabilidade do encarregado da
construtora, sendo conferida posterior-
mente pelo engenheiro da obra.
O serviço de limpeza do fundo dos
blocos que receberão graute, a coloca-
ção das barras de ferro verticais, coloca-
ção de grampos de amarração, assen-
tamento das fiadas até o respaldo das
paredes, colocação do graute em seus
respectivos pontos indicados em projeto,
limpeza do andar no final do dia, coloca-
ção de forma metálica e com ferragem
u Figura 10
da escada de todos os pavimentos fica-
Ferramentas para execução
ram por conta da empresa terceirizada.
10. PROCEDIMENTO DE
PRODUÇÃO DA ALVENARIA
A sequência de produção emprega-
da consiste:
u Colocação da proteção na periferia a Furação de bloco com extrusora b Bloco com caixinhas instaladas
do edifício;
u Colocação de ponto de energia e u Figura 11
água no andar para o misturador
Máquina extrusora e cortes realizados para elétrica
elétrico;
u Marcação da 1ª fiada (blocos com
as janelas de inspeção previamente
furados no térreo, onde serão grau-
teados posteriormente);
u Conferência da marcação, checan-
do medidas dos cômodos, esqua-
dro em ângulos retos, lados de as-
sentamento dos blocos (o bloco de
34 pode ser assentado do lado er-
rado, fazendo que não concorde a
fiada de cima com alinhamento e di-
mensões do bloco da próxima fiada)
e desalinhamentos com as fiadas
do andar de baixo (este momento
é primordial, pois se a 1ª fiada está
bem feita, a probabilidade do ser-
viço ser realizado com qualidade é
muito grande, no que diz respeito a u Figura 12
sequência de modulação); Etapa prévia de concretagem da laje de um pavimento-tipo, com as
u Limpeza das bases dos blocos onde ferragens de espera dos pontos de graute
serão grauteados, removendo toda a
massa de assentamento da 1ª fiada; alvenaria de vedação, e ferramentas canaletas das contravergas das ja-
u Colocação de materiais no pavimen- para execução; nelas e peitoris de áreas de serviço
to (blocos, sacos com argamassa, u Assentamento dos blocos até a 7ª (o eletricista acompanha esta etapa,
grampos de amarração, barras de fiada, com respectivos grampos (in- pois vai inserindo os corrugados por
aço), para posterior amarração de dicados em projeto), enchendo as dentro dos blocos);
História da alvenaria
estrutural no Brasil
CARLOS ALBERTO TAUIL – Arquiteto
Sócio-Diretor da Métrica Ass.e Cons. Arq. e Const. Civil e Assessor técnico
da Associação Brasileira da Indústria de Blocos de Concreto – “BlocoBrasil”
1. INTRODUÇÃO
A
Alvenaria Estrutural tem
sido usada há séculos pelo
mundo afora. Entretanto, al-
venaria Estrutural com Blocos de Con-
creto é uma inovação relativamente re-
cente. Em meados do século passado,
máquinas manuais produziam os blo-
cos, mas, a partir dos anos 1960, com
a construção de usinas hidrelétricas no
Brasil e, portanto, a necessidade de
se construir uma vila para os milhares
de trabalhadores, a construtora impor-
tou dos Estados Unidos máquinas do
tipo vibroprensa, mecânicas e de alta
capacidade de produção de blocos de Operários executando a construção de edificação em alvenaria estrutural
concreto, para serem usados nas al-
venarias estruturais de casas, escolas, grama de construção de moradias por da junto a uma pedreira em Guarulhos,
hospitais etc., que, após a conclusão meio da fundação do Banco Nacional com máquinas trazidas da obra da
da usina, viraram cidades, como Jupiá de Habitação (BNH) e de um sistema construção das casas da vila das usi-
e Ilha Solteira, no oeste do estado de de crédito e financiamento para permitir nas hidrelétricas citadas, passa a ser a
São Paulo. a construção de milhares de moradias primeira fornecedora de blocos estrutu-
financiadas a essa leva de novos mora- rais de concreto para AE em São Paulo.
2. CONSTRUÇÃO DE MORADIAS dores das cidades. Os diretores dessa indústria observa-
A industrialização no Brasil após a Com esse modelo de crédito e fi- ram então o grande potencial de mer-
Segunda Guerra Mundial levou a que nanciamento, em 1968 é construído cado para a comercialização de blocos
grande massa de trabalhadores do no bairro da Lapa, em São Paulo, o pri- estruturais na construção de edifícios
campo migrasse para as cidades à meiro conjunto de prédios residenciais habitacionais, cujos projetos induziam
procura de empregos de melhor quali- em Alvenaria Estrutural (AE) de blocos à construção de paredes repetitivas e
dade, fazendo com que a rápida urba- de concreto. Na época, o meio técni- moduladas em 20 cm, com blocos es-
nização demandasse a construção de co chamava esse tipo de estrutura de truturais 19x19x39 cm.
moradias para atender essa população Alvenaria Armada. No começo, eram O eng. Cid Luiz Racca, um dos
recém-instalada nas áreas urbanas. erguidos prédios de quatro andares e, diretores dessa indústria, apresenta
Somente em 1965, já no governo posteriormente, de até doze andares. no 1° Encontro Nacional da Constru-
militar, decide-se criar um grande pro- Nessa época, uma indústria instala- ção (Enco), em 1972, um manual de
O
sistema parede de concre- Uma das grandes preocupações do perda de água quando já endurecido.
to é um sistema construtivo sistema é a possibilidade de fissuração. Por isso, deve-se dar muita atenção
industrializado. Sua carac- O sistema parede de concreto apresen- a todo o processo desde o seu plane-
terística básica é permitir uma obra de ta uma estrutura muito rígida, com alta jamento, passando por um bom projeto
grande velocidade e repetitividade, com restrição à variação volumétrica. É uma e execução, com especial atenção ao
uso intenso de fôrmas manoportáveis, estrutura que gera altas tensões quan- concreto. É necessário uma boa especi-
que permitem a execução de duas a do submetida à imposição de deforma- ficação do material nos projetos, com es-
quatro unidades habitacionais por dia. ções, como a retração. tudos de dosagem detalhado e ensaios
Com esta velocidade construtiva, é A retração é um fenômeno intrínse- de pré-caracterização para confirmar o
fundamental uma obra bem planejada e co ao material concreto. Ela tem dife- recebimento e uso do material idealizado.
executada, pois não há tempo para se rentes causas: Exemplo de especificação de concreto
pensar em soluções pontuais para pro- u Retração plástica inicial, por perda pode ser encontrado no Quadro 1.
blemas localizados ou modificar o pro- de água com o concreto ainda não
cesso construtivo durante a execução. endurecido; 3. POR QUE OCORREM RETRAÇÕES
Tudo precisa funcionar perfeitamente, u Retração química, pelo menor volu- Quando não são tomados todos
evitando qualquer desvio que origine me dos cristais formados na reação os cuidados necessários, pode ocorrer
reparos e retrabalhos. do cimento; uma retração acima do normal causada
pelos seguintes fatores:
u Quadro 1 – Especificação do concreto “parede-laje” u Concreto autoadensável mal di-
mensionado, com poucos finos e
Classe de agressividade II
muita água. É extremamente impor-
Resistência característica fck = 25 MPa
tante um estudo do traço do concre-
Módulo de deformação Ec (tangente) ≥ 28 GPa
to por profissional especializado, seja
Coeficiente de retração menor que 0,035%, curado nas mesmas condições da obra,
ele da concreteira, laboratório de en-
segundo a norma ASTM C 157
saios ou consultor independente, e
Resistência de desforma fck = 3 MPa
a consulta à ABN TNBR 15823 para
Espalhamento (Slump-flow) 600 ± 50 mm
obter o concreto autoadensável ade-
Relação Água-Cimento a/c ≤ 0,60
quado à utilização.
Consumo mínimo de cimento + fíler inerte = 370 kg/m3
Sendo fíler o material inerte com finura entre 0,075 mm (peneira 200) e 0,106 mm (peneira 150) u Falta de cura, causando grande
Utilizar compensador de retração e/ou fibras têxteis para evitar retração (mínimo 300 g/m3) perda de água inicial. Pela rapidez
Material: polipropileno – tipo: multifilamento do processo construtivo, há muitas
Massa específica: 0,90 ± 0,05 g/cm3
paredes sendo curadas simultanea-
Comprimento mínimo: 20 mm
mente, o que, em princípio, inviabiliza
Dimensão máxima do agregado: 12,5 mm
uma cura úmida bem feita. O ideal é
u Figura 1 4. PLANEJAMENTO
Composição esquemática do concreto, sem e com a presença Nas obras com paredes de concre-
de agregados finos to, um cuidado especial deve ser dado
ao planejamento, com estudos sobre a
trabalhar com a cura química, obser- u Existência de vibrações no terreno logística a ser empregada, treinamento
vando sempre se há resíduo do pro- nos primeiros dias, causadas, por de mão de obra de montadores, plano
duto nas paredes, para não influen- exemplo, por impactos nas paredes de ataque e plano de controle da qua-
ciar na aderência do revestimento. ou terraplanagem com rolo vibratório. lidade. Com a velocidade da obra, esta
Ainda há mais duas causas mecânicas Os pontos preferenciais para o apa- organização da produção é essencial.
para o aparecimento de fissuras. São elas: recimento dessas fissuras são: Baseados nos projetos já devida-
u Desforma com muito impacto, pro- u Paredes muito longas, sem junta mente concluídos e compatibilizados,
vocada pelo uso deficiente do des- de controle; deve-se montar um plano de produção
moldante ou pela utilização de ferra- u Cantos de portas e janelas; detalhado e completo. Nesse momento,
mentas inadequadas para a retirada u Posição de eletrodutos (eletrodutos é de grande ajuda que os projetos já te-
das fôrmas, principalmente nos can- mal posicionados, com poucos es- nham sido feitos em BIM, facilitando a
tos de janela e linha de espaçadores paçadores, entre tela/eletroduto ou visualização simultânea, em 3D, de di-
(faquetas, gravatas ou cones); tela/fôrma); ferentes sistemas e suas interferências.
u Juntas frias (horizontal entre pavi-
mentos, vertical entre concretagens
de dias consecutivos e inclinadas
entre concretagens de caminhões
sucessivos com intervalo após o iní-
cio de pega);
u Fissuras no primeiro pavimento de-
vido à restrição de movimentação
imposta pela fundação;
u Fissuras no último pavimento de-
vido à dilatação térmica da laje
de cobertura.
O ponto fundamental para diminuir a
fissuração é estudar o traço do concre-
to, com um consumo de finos maior e
u Figura 2 uma relação a/c menor. Adicionalmente, u Figura 3
Aplicação de cura química Eletroduto com espaçador
deve-se cuidar dos processos de cura
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] ABNT NBR 16055:2012 – Parede de concreto moldada no local para a construção de edificações – Requisitos e procedimentos
[2] ABNT NBR 15575:2013 – Edificações habitacionais – Desempenho
[3] ABNT NBR 15873:2010 – Coordenação modular para as edificações
[4] ABNT NBR 12655 – Concreto de cimento Portland – Preparo, controle, recebimento e aceitação
A construção de um
sistema de sucesso
RUBENS MONGE ARCINDO VAQUERO Y MAYOR JOÃO BATISTA R. SILVA
ABCP ABESC IBTS
1. INTRODUÇÃO alinhada com as necessidades do país. da no final, mas houve muito trabalho
O
déficit habitacional brasilei- Vale lembrar que o MCMV, embora nesse percurso.
ro representa um desafio suscetível a críticas, ocupa um lugar de
crônico para os administra- destaque no enfrentamento da ques- 2. SURGE O GRUPO PAREDE
dores públicos. A necessidade de no- tão habitacional e é também o principal DE CONCRETO (GPC)
vas moradias acompanha não apenas avalista do sucesso do sistema parede Em 2007, o mercado imobiliário
o constante crescimento populacional, de concreto. Em um estudo apresen- (em especial os segmentos de média
mas também os novos arranjos fami- tado em maio de 2017 no IV Encontro e baixa rendas), liderado pelas empre-
liares e o permanente reordenamento Brasileiro de Administração Pública, sas privadas, encontrava-se aquecido
urbano das cidades brasileiras. Por em João Pessoa/PB, pesquisadores diante do maior poder aquisitivo da po-
isso, encontrar soluções técnicas e da Universidade Federal de Viçosa1 pulação. Mas, para dar sustentação fi-
políticas para esse problema é um ob- computaram a contratação recorde, nanceira aos negócios, as construtoras
jetivo permanente de todo o setor da entre 2009 e 2016, de mais de 4,5 mi- precisavam de sistemas construtivos
construção civil. lhões de unidades habitacionais, nas mais ágeis e competitivos.
O desenvolvimento de um sistema três faixas de financiamento do MCMV Diante da alta demanda, entidades
construtivo capaz de atender à deman- oferecidas à época (ainda não existia como ABCP (Associação Brasileira de
da habitacional com qualidade, rapidez a Faixa 1,5). Ainda segundo o estudo, Cimento Portland), ABESC (Associação
e custo adequado é uma ação prioritá- o MCMV cobre 96,1% do território na- Brasileira das Empresas de Serviços de
ria nesse cenário. Pode-se afirmar que cional, com presença em 5.530 dos Concretagem) e IBTS (Instituto Brasilei-
o sistema parede de concreto moldada 5.570 municípios brasileiros. O uso ro de Telas Soldadas) decidiram buscar
in loco vem cumprindo muito bem esse da parede de concreto nesse universo métodos mais racionalizados de cons-
objetivo. Embora existam exemplos tem sido crescente. trução. Lideraram então visitas técnicas
dessa tecnologia já nos anos 70/80, Mas como o setor de construção ao Chile, Colômbia (Figura 1) e México,
o sistema ganhou corpo no Brasil, de civil se aculturou tão rapidamente países onde o sistema parede de con-
fato, em meados dos anos 2000, ini- para absorver essa nova tecnologia e creto moldada in loco é utilizado em di-
cialmente para atender ao aquecido atender a essa gigantesca necessida- versos segmentos habitacionais.
mercado imobiliário; depois, como uma de de moradias? A resposta está, em As visitas revelaram as vantagens
das principais soluções técnicas ado- parte, ligada a uma iniciativa tomada da solução: eliminação de etapas
tadas no programa Minha Casa Minha em 2007, quando três entidades as- construtivas, redução de ciclos de
Vida (MCMV), a partir de 2009. Estima- sociativas do setor (ABCP, ABESC e execução e prazos; otimização da
-se que, em 2014, a parede de con- IBTS) decidiram unir esforços e bus- mão de obra; maior qualidade; e dis-
creto já estava presente em 36% das car, no exterior, tecnologias industria- ponibilidade de materiais locais. A tec-
unidades produzidas pelo programa, lizadas para a crescente demanda de nologia era mais que adequada para
apresentando-se como solução técnica mercado. A iniciativa foi recompensa- um mercado aquecido.
1
“Minha Casa Minha Vida em Números: Quais conclusões podemos extrair?” (Vinicius de Souza Moreira, Suely de Fátima Ramos Silveira e Fillipe Maciel Euclydes)
Figura 4 – Pesquisa sobre adoção da tecnologia nas obras brasileiras creto atenda à NBR 15.575. Isso é impor-
tante para garantir a qualidade no uso do
de 24 andares) e MaxHaus Morumbi aspectos. A publicação da norma (Figura sistema, evitar erros de interpretação da
(124 apartamentos distribuídos em qua- 5) aumentou a segurança e encurtou o norma e consolidar o uso da tecnologia.
tro torres de térreo + 8 pavimentos), am- caminho para os empreendedores, dis- Na área de subsistemas, o objetivo
bos construídos em parede de concreto pensados a partir de então de seguir as é promover workshops dos subsiste-
pela MaxCasa. diretrizes SINAT para obter crédito para mas que compõem a tecnologia: Fôr-
A necessidade de conhecer melhor seus empreendimentos. mas, Esquadrias, Concreto e Químicos
o usuário e suas necessidades deman- (cura, impermeabilização, desmoldante
dou a promoção de uma ampla pesqui- 7. DISSEMINAÇÃO etc.). A ideia é criar um canal de comu-
sa de campo, que buscou identificar os DO CONHECIMENTO nicação entre fornecedores e constru-
principais critérios de adoção do siste- A difusão de informações acompa- toras, para melhorar o diálogo, a fim de
ma pelas construtoras e indicar even- nha todo o desenvolvimento tecnoló- desenvolver o sistema, gerando produ-
tuais gargalos para desenvolvimento da gico da parede de concreto. Além da tos específicos para ele.
cadeia produtiva do sistema (Figura 4). elaboração de material bibliográfico, Em relação à divulgação, o GPC pro-
ferramentas e simuladores, contam-se move ou participa de diversos seminá-
6. NORMA TÉCNICA DE PAREDE dezenas de seminários, palestras, me- rios, palestras e workshops. Apenas em
DE CONCRETO sas-redondas e workshops realizados. 2017 foram 36 eventos para 2.500 par-
Em maio de 2012, o mercado bra- Para que o método siga evoluindo, ticipantes. Além disso, oferece cursos
sileiro ganhou uma norma técnica es- o GPC atua sob quatro grandes fren- (básico, execução e projetos) e material
pecífica para edificações construídas tes, que são: sustentabilidade, norma/ didático para capacitar arquitetos, pro-
com o sistema parede de concreto. A capacitação, subsistemas/divulgação jetistas estruturais e de instalações. São,
publicação da ABNT NBR 16055:2012 e informação. em média, 14 cursos e 500 profissionais
- Parede de concreto moldada no lo- Em relação à sustentabilidade, a in- atendidos por ano. Em decorrência da
cal para a construção de edificações
— Requisitos e Procedimentos coroou
cinco anos de trabalho do GPC, que
reuniu entidades setoriais, órgãos de
pesquisa e empresas, num total de 39
organizações integrantes à época.
O texto normativo, que fixou requisitos
para a construção de edifícios de qualquer
altura, aborda critérios para a qualidade da
parede, projeto, materiais, análise estrutu-
ral, dimensionamento e procedimentos
para a fabricação da parede, entre outros Figura 5 – Reunião da Comissão de Norma de Parede de Concreto
Patrocínio
DADOS TÉCNICOS
ISBN 9788598576237
Formato: 18,6 cm x 23,3 cm
Páginas: 195
Acabamento: Capa dura Aquisição:
Ano da publicação: 2015 www.ibracon.org.br
(Loja Virtual)
O
sistema construtivo de proporcionada pelo reforço das fibras. Limite Último e no Estado Limite de
paredes de concreto mol- Outros casos, como controle de fis- Serviços de vários tipos de elementos
dadas no local utilizando suras em baixas idades ou contribui- estruturais. No caso específico das
o concreto reforçado com fibras (CRF) ção para manutenção da capacidade paredes de concreto, pode-se tratar
pode ser utilizado como alternativa ao resistente das seções em situação de o elemento estrutural como painéis
sistema em que se utilizam telas sol- incêndio, são considerados como uso (chapas), cujo esforço solicitante pre-
dadas como armadura. Neste caso, não estrutural do CRF. dominante é de compressão.
somente nas paredes as armaduras No caso das paredes de concreto Recentemente um primeiro passo
podem ser substituídas pelas fibras. moldadas no local com CRF, pode-se para a utilização do CRF em paredes
Cabe ainda ressaltar que deve ser to- pensar na utilização das macrofibras de concreto foi dado com a publicação
mado o cuidado para o uso correto de vidro álcali-resistentes, nas fibras da Diretriz SINAT 001 – Revisão 3, que
das fibras, uma vez que essas fibras de aço galvanizadas e nas macrofi- trouxe a possibilidade de utilização do
devem ser adequadas para atuarem bras sintéticas álcali-resistentes, uma Concreto Reforçado com Fibras de
como reforço no concreto. Segundo vez que todas essas fibras propor- Vidro (CRFV) no sistema construtivo
a Prática Recomendada IBRACON/ cionam reforço estrutural e garantem de paredes de concreto moldadas no
ABECE “Projeto de estruturas de con- resistência residual pós-fissuração local, sendo sua aplicação limitada às
creto reforçado com fibras”, a aplica- da matriz cimentícia. Dessa forma, casas térreas unifamiliares, aos sobra-
ção do CRF para fins estruturais im- considerando a resistência residual dos unifamiliares, às casas sobrepos-
plica no uso de parâmetros de projeto pós-fissuração da matriz cimentícia, tas e às edificações multifamiliares de
que consideram a resistência residual é possível tirar proveito estrutural do até cinco pavimentos.
Este artigo tem como objetivo
abordar os aspectos gerais dessa
aplicação, apresentando o que esta-
belece a Diretriz SINAT 001 – Revisão
3 no que diz respeito aos parâmetros
de projeto para o CRFV, concepção
de projeto das paredes de CRFV e
controle tecnológico do CRFV.
2. PARÂMETROS DE PROJETO
PARA O CONCRETO
REFORÇADO COM FIBRAS
u Figura 1 DE VIDRO
Ensaio de flexão em 3 pontos
Tendo como referência a Prática
onde:
u H tot – altura total do edifício até
a laje de cobertura (sem consi-
derar ático e reservatórios);
u L x – menor dimensão em planta
do edifício.
Estabelecendo-se que as pa-
redes estruturais não devem apre-
sentar fissuras ou destacamentos,
o projeto estrutural deve prever
reforços com armaduras conven-
cionais em seções onde ocorre
natural concentração de tensões,
considerando-se, por exemplo, en-
contros entre paredes de fachada,
contornos de aberturas de portas
e janelas, trechos estreitos entre
vãos de portas e janelas ou outros.
u Figura 3 Considerando os efeitos de de-
Molde para corpos de prova 500x500x50 mm destinados à formações impostas (movimenta-
determinação da resistência à tração na flexão na direção do ções higrotérmicas, recalques de
lançamento do concreto e na direção transversal
fundação etc), e visando a mitigar
Valor da
resistência
Amarrações nominal mínima
à tração
kN/m
Transversais 20 . ℓ1
Longitudinais 20
Periféricas 10 . ℓ ≤ 701
Verticais 44
1
Em painéis periféricos, ℓ é o comprimento do vão
(em metros) da laje adjacente. em painéis de parede
internos, o valor de ℓ é a média dos vãos adjacentes.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Patrocínio
Colmatação em
pavimentos permeáveis
EMILLY O. S. SANTANA • GABRIEL A. A. DE SOUZA • LUCILA G. ALVAREZ • NATHALIA M. S. DE ABREU
Universidade São Judas Tadeu
A
o desenvolver a urbani- mais um problema no modelo de de- mesmo considerando-se o processo
zação e cobrir mais áreas senvolvimento urbano em quase todo de colmatação. Estudos mostram
com revestimentos imper- o mundo. Neste contexto, a pavimen- que a colmatação dos pavimentos
meáveis, sejam estradas, ruas, calça- tação permeável apresenta-se como permeáveis pode ocorrer entre 5 e 10
das ou edificações, o processo natu- uma opção de projeto para a drena- anos após sua construção, depen-
ral de infiltração de águas das chuvas gem urbana de forma efetivamente dendo de fontes de poluição, pon-
foi desviado e diminuído. A diminui- sustentável. Pavimentos permeáveis tuais ou difusas, que possam chegar
ção da taxa de infiltração provoca são uma alternativa às tradicionais ao revestimento do pavimento. Deste
redução na recarga dos lençóis sub- superfícies de asfalto ou concreto, modo, parte da colmatação à qual o
terrâneos que, de modo geral, são que podem ajudar a aliviar algumas pavimento estará exposto poderá ser
os responsáveis pelas formações de dessas questões. evitada, ainda na fase de projeto, au-
áreas de abastecimento à população. Em áreas com solos de perme- mentando a vida útil deste.
Além disso, a impermeabilização abilidade adequada, os pavimentos
dos centros urbanos torna essas re- permeáveis permitem que as águas 2. PAVIMENTO PERMEÁVEL
giões mais suscetíveis a inundações, pluviais se infiltrem no solo, repro-
visto a incapacidade da drenagem su- duzindo o ciclo hidrológico natural, A construção de pavimentos per-
perficial de suportar os crescentes vo- recarregando os lençóis de águas meáveis surgiu devido a grande ne-
lumes de chuva nesses locais, devido subterrâneas. Mesmo não ocorrendo cessidade advinda da drenagem
às alterações do microclima da região. esta infiltração direta no solo, o pavi- urbana. Tratando-se de um disposi-
mento permeável contribui com a re- tivo de infiltração, atua como técnica
tirada da água superficial, criando um alternativa para infiltração de água
retardamento de sua chegada aos no solo, tornando-se assim uma fer-
cursos d’água através dos canais de ramenta de drenagem importante
drenagem, minimizando a ocorrência (Virgiliis, 2009).
de enchentes, além de permitirem o O pavimento permeável é uma estru-
aumento da evaporação da superfí- tura que permite a passagem de água
cie, o que proporciona aumento da e ar através de suas camadas. A água,
umidade relativa no local e a minimi- quando captada pelo pavimento, pode
u Figura 1 zação da temperatura superficial, re- ser conduzida para um reservatório,
Escoamento superficial da água duzindo o efeito de ilha de calor. permitindo seu reuso, ou ser infiltrada
em revestimento impermeável
Um ponto relevante na adoção do através do subsolo, dependendo de sua
(GNCSC, 1996)
pavimento permeável é a sua durabili- capacidade permeável. Nos revestimen-
3. COLMATAÇÃO
Os pavimentos permeáveis consti-
tuem uma importante alternativa como
u Figura 6 u Figura 7 dispositivo hidráulico e de suporte me-
Placas de concreto poroso. Concreto poroso moldado no cânico, porém esses pavimentos cer-
Percolação pelas placas local. Percolação pelo concreto tamente irão ter seus poros obstruídos
por detritos, reduzindo gradativamen-
te a taxa de infiltração e, consequen-
Água superficial
temente, sua contribuição hidráulica
como dispositivo de drenagem.
No trabalho apresentado por AMIR-
Camada de
revestimento JANI (2010), demonstra-se que a colma-
Camada de
rejuntamento tação dos pavimentos porosos ocorre
entre 5 e 10 anos após a construção, de-
pendendo das condições de contorno.
Camada de
A causa da obstrução dos poros
assentamento
tem sido muito estudada e possui uma
Geotêxtil definição amplamente aceita, em que
não tecido Base / Sub-base
os materiais de entupimento ou sóli-
(opcional)
dos de sedimentação, incluindo solo,
Sub-leito
rocha, folhas e outros detritos, podem
ser trazidos pelo vento ou, mais comu-
mente, pelas águas pluviais. Esses se
infiltram nos espaços vazios levados
Camada Peças de concreto pela água e diminuem a função hidráu-
de rejunte
lica, devido à redução gradual da per-
meabilidade e capacidade de armaze-
Camada de
assentamento namento deste sistema.
Com esta capacidade hidráulica
Base reduzida, a infiltração diminui pouco a
pouco até formar uma matriz relativa-
Sub-base
mente impermeável. O desenvolvimen-
to da colmatação é, portanto, caracte-
Tubulação
de drenagem rizado pelo aumento da quantidade de
(quando necessário) materiais retidos na superfície e pelo
aumento do escoamento superficial.
Sub-leito Conforme descrito por Van BO-
CHOVE e Von GORKEN (1997), os fa-
tores dos quais dependem a colmata-
u Figura 8
ção de um pavimento permeável são:
Sistema construtivo de pavimentos permeáveis
u Quantidade e fontes de poluição;
60 Com tratamento
50 Sem tratamento d’água entre 10 mm e 15 mm da su-
40 perfície do pavimento, o que ajuda a
30 regular a velocidade de aplicação da
20 massa de água no restante do ensaio.
10
Dependendo do tempo de infiltração
durante a pré-molhagem, a norma es-
0
0 1 2 3 tabelece as massas de água a serem
Idade do Pavimento (anos) utilizadas posteriormente na determina-
ção do coeficiente de permeabilidade,
u Figura 12 conforme Tabela 1.
Evolução da colmatação entre pavimentos com limpeza periódica anual
O ensaio de determinação do co-
e sem manutenção (RAZ, 1997)
eficiente de permeabilidade deve ser
mai/16 961
1.000
jun/17 864
812 793 superfície limpa;
781
800 705 u Amostra 2: Peças porosas com
(L/min)
571
600
470 aplicação de 0,4 kg de pó de bri-
400 ta (material passante na peneira
225
176 152 131 1,4 mm e retida na peneira 1,16
200 112
mm), previamente diluído em 2 litros
0
Junta alarg. Junta alarg. Peça porosa Peça porosa Placa porosa Vazado com Vazado com de água;
A B 10x20 20x20 40x40 grama pedrisco u Amostra 3: Peças porosas com
Tipo de revestimento
aplicação de 1 kg de areia de quart-
zo (material passante na peneira
u Figura 15
Ensaios realizados em campo: resultados de coeficiente de 4,8 mm), previamente diluída em 2
permeabilidade em função do tipo de revestimento. Medições litros de água.
realizadas no início de liberação do tráfego ao término da obra e após As amostras de referência (su-
14 meses de uso
perfície limpa) e as duas amostras
Tempo de pré-molhagem
3,6 Kg de água
Amostra Tempo (s)
Amostra 1 6,19
Amostra 2 16,43
Amostra 3 21,31 u Figura 16
Simulador da seção de um pavimento permeável
u Figura 17
Amostras de peças de concreto poroso (10x20 cm) ensaiadas para simular a colmatação acelerada
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] ABNT. Pavimentos permeáveis de concreto – Requisitos e procedimentos, NBR 16416. Rio de Janeiro, ABNT, 2015.
[2] ACIOLI, A. Laura. Estudo Experimental de Pavimentos Permeáveis para o Controle do Escoamento Superficial na Fonte. Porto Alegre, 2005.
Dissertação de Pós-Graduação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005.
[3] AMIRJANI, Mahsa. Clogging of permeable pavements in semi-arid áreas. Holanda, 2010. Tese de mestrado, Delft University of Technology,
2010.
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MEZCLAS DRENANTES, 1997, Madrid. 1997. p. 249-269
[5] GNCSC – Group National des Caractéristiques de Surface des Chaussées: Note D’Information – Qualités d’Usage des Revêtements Routiers en Présence d’Eau,
SETRA, Bagneux, França. 1996.
[6] HASELBACH, L. The Potential for Clay Clogging of Pervious Concrete under Extreme Conditions. Journal of Hydrologic Engineering, 15(1), 67-69, 2010.
[7] PORTO, H. G. Pavimentos Drenantes. São Paulo: D e Z Computação Gráfica e Editora. 1999. 105 p.
[8] RAZ, R. T. Conservación de la Permeabilidad en las Mezclas Porosas. In: CONGRESSO EUROPEO DE MEZCLAS DRENANTES, 1997, Madrid. 1997. p. 661-677.
[9] TONG, B. Clogging effects of portland cement pervious concrete. A Thesis. Iowa State University, Ames, Iowa, USA, 2011.
[10] VIRGILIIS, L. C., Afonso. Procedimentos de Projeto e Execução de Pavimentos Permeáveis Visando Retenção e Amortecimento de Picos de Cheias. São Paulo,
2009. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, 2009.
O comportamento do
mercado de cimento
PAULO CAMILLO VARGAS PENNA
ABCP – SNIC
O
cimento é um produto
imprescindível na cons- PAULO CAMILLO VARGAS PENNA
trução de moradias e Graduado em Ciências Jurídicas e
de obras de infraestrutura, e é parte Sociais pela PUC-MG, é Presidente
Executivo do Sindicato Nacional da
fundamental na cadeia produtiva da
Indústria do Cimento (SNIC) e da
indústria da construção. O setor é de Associação Brasileira de Cimento
importância estratégica para o cres- Portland (ABCP). Possui vivência
cimento econômico e para a geração de mais de 30 anos em altos
cargos executivos no setor público,
de emprego no país.
empresas e entidades nacionais
Segundo estimativas do Constru- representativas de diversos
Business (Congresso Brasileiro da segmentos, tais como: Presidente
Construção, promovido pela Federa- da Fundação TV Minas – Cultural
e Educativa de Minas Gerais,
ção das Indústrias do Estado de São
Diretor da Associação Brasileira de
Paulo – FIESP), o setor de cimento Supermercados (ABRAS), Diretor
no país gerou PIB de R$ 5,8 bilhões Executivo da Associação Brasileira
em 2016, equivalente a quase 10% dos Fabricantes de Latas de Alta
Reciclabilidade (ABRALATAS),
do PIB da indústria da construção
Diretor e, posteriormente, Vice-
(indústria de máquinas e equipamen- Presidente do Sindicato Nacional
tos para a construção). Além disso, da Indústria da Extração do Ferro e Metais Básicos (SINFERBASE),
o setor empregou 28,4 mil pessoas, Presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM) e Vice-Presidente
do Grupo AES Brasil. Integrante de conselhos e fóruns empresariais no
equivalente a 3,3% da população
País e no exterior como membro titular do Conselho de Infraestrutura
ocupada na indústria da construção.
(COINFRA) e do Conselho de Assuntos Legislativos (COAL) da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), membro convidado do World
1. MILAGRE ECONÔMICO Economic Forum (WEF), membro titular do Departamento da Indústria
Durante o período de crescimento da Construção da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
(DECONCIC), entre outros. Eleito Diretor da FIESP para o triênio 2018 -
econômico ocorrido no Brasil na dé-
2020. Tem ativa participação na mídia nacional e internacional.
cada de 1970, houve grande expan-
são da atividade da construção civil
no país. Os programas habitacionais Paralelamente, grandes obras de de 9,8 milhões de toneladas por ano
desenvolvidos pelo BNH (Banco Na- infraestrutura foram realizadas pelo para 27,2 milhões de toneladas no
cional de Habitação), com recursos governo, como a construção de es- início dos anos 1980, aumento de
do FGTS (Fundo de Garantia por tradas, barragens, hidrelétricas e 177% (Gráfico 1). Isso motivou o
Tempo de Serviço), a lei do inquilina- obras de desenvolvimento urbano. investimento na expansão do par-
to e as novas fontes de financiamen- Nessa década, a produção/con- que industrial cimenteiro, feito não
to provocaram uma grande expansão sumo brasileiro de cimento cresceu só pelos grupos que já operavam,
da construção habitacional. intensamente, partindo do patamar mas também por dez novos grupos
1. INTRODUÇÃO
D
iante da crise econômica
e do déficit habitacional do
Brasil, o setor da construção
civil vem buscando processos construti-
vos racionalizados e a opção por painéis
de parede estruturais pré-moldados se
apresenta como uma boa alternativa.
Isso se deve principalmente pelas
duas funções, estrutural e de vedação,
reunidas em um único elemento, agili-
zando o processo, agregando qualida-
de, precisão executiva e viabilizando
economicamente as construções.
Importante destacar que a aplica-
ção de painéis pré-moldados não se u Figura 1
Edifício com painéis pré-moldados – Bélgica, 1955 (VOORDE, 2015)
restringe a edificações residenciais. Por
serem elementos com alta rigidez em
seu plano, os painéis de parede são pré-moldados foram usados para re- truídas no Brasil apresentam 12 pavimen-
utilizados em edificações altas como construir cidades destruídas durante as tos (Figura 3). Nesses prédios, o avanço
elementos de contraventamento, inclu- guerras mundiais. A Figura 1 ilustra um da tecnologia dos materiais e das liga-
sive em núcleos rígidos. edifício construído na Bélgica em 1955. ções proporcionou rigidez suficiente para
No Brasil, em 1982, foi construído o a estabilidade dos edifícios, mesmo com
2. PAINÉIS DE PAREDE primeiro prédio com painéis de parede painéis de espessuras reduzidas. Nesse
ESTRUTURAIS NO BRASIL estruturais pré-moldados (Figura 2-a), caso, a espessura máxima determinada
E NO MUNDO com 4 pavimentos e 4150m² de área para os painéis foi de apenas 13cm.
O sistema construtivo com painéis construída. Em 1991, o sistema já havia Processos de dimensionamento e
de parede pré-moldados não é novida- atingido os 9 andares (Figura 2-b). facilidade de acesso às experiências
de na engenharia. Na Europa, painéis Hoje, as edificações mais altas cons- internacionais contribuíram com o avanço
u Figura 4
Edifício Strijkijzer Building, Reino Unido, 2007 (FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, 2010)
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE, Building code requirements for structural concrete, ACI 318, Farmington Hills, 2011.
[2] ABNT, Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado, ABNT NBR 9062, Rio de Janeiro, 2017.
[3] ABNT, Parede de concreto moldada no local para construção de edificações – Requisitos e Procedimentos, ABNT NBR 16055, Rio de Janeiro, 2012.
[4] ABNT, Painéis de parede de concreto pré-moldado – Requisitos e procedimentos, ABNT NBR 16475, Rio de Janeiro, 2017.
[5] Eurocode 2: Design of concrete structures – part 1: General rules and rule for buildings, British Standards Institution, London, 1992.
[6] FÉDÉRATION INTERNATIONALE DU BÉTON. Structural connections for precast concrete buildings. Bulletin 43, FIB, Lausanne, 2008.
[7] FERNÁNDEZ-ORDÓÑEZ, D. Precast High Rise Buildings. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA E CONSULTORIA ESTRUTURAL, 13. 2010, São Paulo: ABECE,
2010. Disponível em: < http://www.abece.com.br/web/download/pdf/enece2010/PALESTRA%202%20DAVID.pdf >. Acesso em: 10 de maio de 2017.
[8] TOMO. F. C. (2013). Critérios para projeto de estruturas de paredes portantes pré-fabricadas de concreto armado. São Carlos. Dissertação (Mestrado) – Escola de
Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo. São Carlos, 2013.
[9] VOORDE, S. V. et al. Post-war building materials. [on line] Disponível na internet via WWW. URL: http://postwarbuildingmaterials.be/material/precast-concrete-
facade-panels/. Bruxelas, 2015. Arquivo capturado em 10 de maio de 2017.
Patrocínio
Desempenho de
pisos cimentícios
ERCIO THOMAZ
Instituto de Pesquisas Tecnológicas
do Estado de São Paulo
1. INTRODUÇÃO sos podotáteis, pisos acústicos, pisos tencial desempenho com as exigências
D
os tradicionais pisos em ci- drenantes e outros. na norma NBR 15575:2013 - Edifica-
mento queimado, evolui-se No presente artigo discorre-se so- ções habitacionais – Desempenho –
hoje para uma variedade bre os pisos cimentícios mais usuais, Parte 3: Requisitos para os sistemas de
muito grande de sistemas de pisos ci- analisando-se de forma qualitativa suas pisos. Embora tenha aplicação restrita
mentícios, incluindo pisos elevados, pi- características e confrontando seu po- a edificações habitacionais, a grande
maioria das exigências de desempenho
da NBR 15575 podem ser extrapola-
u Tabela 1 – Requisitos de desempenho para pisos das para escolas, escritórios, prédios
(adaptado da NBR 15575:2013) comerciais e outros.
Existe uma gama muito vasta de
Disciplina Requisitos Critérios exemplificativos sistemas de pisos que não serão aqui
– resistência a cargas concentradas abordados, podendo-se citar asso-
Estabilidade e resistência – resistência a cargas distribuídas
alhos e tacos de madeira natural ou
estrutural – limitação de fissuras
Desempenho – limitação de deslocamentos reconstituída (MDF, HDF), pisos em
estrutural
Cargas de ocupação/ – limitação de vibrações mantas plásticas ou borracha sintéti-
desempenho – resistência a impactos de corpo mole ca, pisos cerâmicos (pastilhas, placas,
antropodinâmico – resistência a impactos de corpo duro
porcelanatos etc), pisos em rochas or-
– compartimentação entre pavimentos
Resistência ao fogo namentais, pisos metálicos, pisos em
– selagem corta-fogo / firestop
Segurança ao fogo – combustibilidade placas de vidro, carpetes e forrações,
Reação ao fogo / dificultar
– propagação superficial de chamas pisos constituídos por agregados mi-
a inflamação generalizada
– densidade óptica de fumaça nerais aglomerados com resinas sinté-
– coeficiente de atrito dinâmico / rugosidade ticas, pisos autonivelantes formulados
Segurança no uso
Segurança na circulação – limitação de desníveis abruptos
e na operação com resinas sintéticas, pisos drenantes
– limitação de frestas
– umidade ascendente (piso-grama / concretos permeáveis),
Estanqueidade à água – estanqueidade áreas molhadas pisos intertravados, pisos aquecidos,
– estanqueidade áreas molháveis
pisos podotáteis e outros.
100
Habitabilidade – isolação aos sons aéreos
Desempenho acústico De forma resumida, com a finalida-
– isolação aos ruídos de impacto
95
de de orientar o desenvolvimento do
Desempenho térmico/ – sensação de conforto no contato c/ o piso
75 conforto tátil – pisos aquecidos artigo, apresentam-se na Tabela 1 as
– resistência à umidade principais exigências de desempenho
Durabilidade – resistência a agentes químicos que constam na norma 15575, que es-
Durabilidade e – resistência ao desgaste por abrasão
25 manutenibilidade tabelece como parâmetro para a vida
– facilidade de limpeza
Manutenibilidade útil de projeto – VUP dos pisos internos
5 – facilidade de reparos / reposição
o prazo mínimo de 13 anos (17 anos
0
3. PISOS DE CONCRETO
Pisos de concreto vêm sendo uti-
lizados há muito tempo em subsolos
de prédios, centros de distribuição,
u Figura 1 u Figura 2
entrepostos comerciais, indústrias, es-
Aspecto final de piso cimentado, Microfissuras de retração em
acabamento com resina piso cimentado (inadequação do tacionamentos de veículos e outros. A
(Foto AECWeb) traço / ausência de cura) tecnologia ganhou avanço muito signi-
ficativo nos últimos anos com o adven-
to dos concretos de alto desempenho,
para o nível intermediário, 20 anos para os devidos cuidados invariavelmente aditivos polifuncionais, fibras metálicas,
o nível superior de desempenho). Além desenvolvem microfissuras, conforme fibras de vidro álcali-resistentes, micro-
dos aspectos estéticos e de custos, ilustrado na Figura 2. Para que sejam fibras ou macrofibras de polipropileno
que não serão tratados no presente ar- evitadas, há necessidade de correta (Figura 4), juntas serradas, barras de
tigo, os fatores técnicos listados na re- seleção dos materiais (areia com bai- transferência de cargas, sistemas de
ferida tabela são balizadores bastante xíssimos teores de finos, argila ou silte protensão com cordoalhas engraxadas
úteis na escolha do tipo de piso. etc.), tipo adequado de cimento (pre- e outros recursos. O avanço contou
ferivelmente CPI, CPIIF ou CPIIE), do- ainda com o desenvolvimento de nor-
2. PISOS EM CIMENTO QUEIMADO sagem adequada (por exemplo, traço malização para controle da planicidade
Os “pisos cimentados” constituem composto com aditivos plastificantes e e nivelamento (F-Numbers, de acordo
talvez o mais tradicional sistema de pi- retentores de água), introdução de jun- com a norma ASTM E 1155) e de di-
sos do Brasil, sendo constituídos por tas e/ou execução no formato de “da- versos equipamentos para execução
argamassa de cimento e areia, e acaba- mas” e, mais do que tudo isso, proces- dos pisos, incluindo distribuidoras de
mento com polvilhamento e alisamen- so adequado de cura úmida por sete concreto com nivelamento automático
to/queima de mistura de cimento com ou oito dias. Saliente-se que este último (Figura 3), acabadoras de superfície au-
óxidos de ferro, geralmente na cor ver- fator é determinante na formação ou topropelidas simples e duplas (“helicóp-
melha ou amarela. Apresentam como não das microfissuras de retração. tero” ou “bambolê”), rodos de corte,
propriedades fundamentais a incombus-
tibilidade, característica comum a todos
os pisos cimentícios, adequada resis-
tência a cargas de ocupação (impactos,
cargas concentradas, etc.), estanquei-
dade à água, adequado coeficiente de
atrito e vida útil bastante extensa, além
da facilidade de limpeza e manutenção.
Com possibilidade de acabamen-
to na própria cor do cimento empre-
gado (branco ou cinza – Figura 1), ou
u Figura 3 u Figura 4
dos óxidos de ferro nas mais variadas
Distribuidora de concreto com Concreto dosado com
cores, desde o amarelo até o marrom,
autorregulagem de nivelamento microfibras de polipropileno
os pisos cimentados executados sem
Desenvolvimento e controle
tecnológico do concreto
autoadensável para produção
de aduelas pré-moldadas
para torres eólicas
FÁBIO DE MELO LEONEL – Gerente de Qualidade e Tecnologia CARLOS EDUARDO S. DE MELO – Assessor Técnico
CARLOS J. DE RESENDE – Coordenador Técnico FABRÍCIO CARLOS FRANÇA – Assessor Técnico
LafargeHolcim (Brasil) – Divisão Concreto LafargeHolcim (Brasil) – Divisão Cimento
JOSÉ VANDERLEI DE ABREU – Gerente de Assessoria Técnica, Qualidade e Oil & Gas
RODRIGO MENEGAZ MULLER – Head of Ductal® Brasil / LATAM
LafargeHolcim (Brasil)
1. INTRODUÇÃO efetiva e a capacidade total de ge- tura da torre, pode-se gerar entre
O
mercado de energia eóli- ração de energia) dos parques eóli- 0,5% a 1% a mais de energia eóli-
ca no Brasil está pujan- cos brasileiros é em média de 50%, ca. O recorde mundial de altura foi
te e chegando a 13 GW contra 30% nos demais parques ao alcançado na Alemanha em 2017,
de capacidade produtiva no mês de redor do mundo. Isto significa que, com 178 metros de torre, e altura
fevereiro de 2018, com 518 parques para cada GW/hora de potência ins- total de 246,5 metros (até a extremi-
em operação. Marca importante para talada no mundo, o Brasil gera 200 dade das pás).
nosso país, que nos coloca na lide- MW/hora adicionais, em relação a No Brasil, os principais parques
rança deste mercado na América La- média mundial. eólicos estão situados na região Nor-
tina e como um dos líderes do mer- Com o crescimento do merca- deste, localidade com maior disponi-
cado global (8º colocado no Ranking do de geração de energia, cresce bilidade de ventos do país. Face aos
Global – Tabela 1). Com os 4,8 GW também a altura das torres. Essa benefícios da maior altura das torres,
de projetos em construção e con- busca por torres cada vez mais altas o processo construtivo com concreto
tratados, brevemente a geração de está ligada à melhoria da qualidade armado ou protendido apresenta al-
energia por meio do vento irá atingir do vento, ou seja, ao poder de ge- gumas vantagens em relação às tor-
a mesma capacidade produtiva da rar mais energia. Quanto mais alta res em aço, entre essas:
Usina Hidrelétrica de Itaipu, ou seja, a torre, menor a turbulência e maior u disponibilidade de material: o
aproximadamente 19 GW. Ainda a velocidade do vento. Consequen- concreto está disponível em pra-
pode-se considerar que o potencial temente, maior o aproveitamento do ticamente todas as regiões do
estimado para a geração no Brasil é aerogerador e maiores os ganhos Brasil;
de 500 GW e que o fator de capa- financeiros. Estudos apontam que u capacidade do concreto para
cidade (proporção entre a produção para cada 1 metro adicionado à al- atingir grandes alturas e suportar
Parâmetro Requisito
Resistência à compressão 28 dias ≥ 60 MPa
Resistência à compressão 12 horas ≥ 25 MPa
Módulo de elasticidade secante (0,4 fc) ≥ 28 GPa
Slump flow 750 ± 50 mm
Funil V - viscosidade aparente ≤9s
Anel J – habilidade passante < 50 mm
u Figura 3
Caixa L – habilidade passante em fluxo confinado ≥ 80 Lançamento do CAA através da
Resistência a segregação ≤ 10% janela de aplicação na fôrma
aplicação do CAA. Essas aduelas perplastificantes, que não interferis- piciar retardo de pega ao concreto
são consolidadas in loco com o em- sem no tempo de pega do concreto, e, obrigatoriamente precisaria ter
prego de grautes de alta resistên- uma vez que o projeto não conside- alta compatibilidade com cimento
cia. Após montadas, as torres va- rou a utilização de cura térmica para empregado. O cimento definido pela
riavam entre 7 a 10 metros em seu obtenção do desempenho mecânico equipe de tecnologistas foi o CPV
diâmetro podendo superar aos 100m inicial do CAA. A obtenção de con- ARI PLUS, produzido na unidade
de altura, dependendo de cada cretos com baixa viscosidade, sem da LafargeHolcim de Caaporã (PB),
projeto unitário. a necessidade do consumo elevado produto utilizado basicamente para
de água, garantiu o consumo ade- o segmento de pré-moldados e ar-
3. DESENVOLVIMENTO quado de cimento, evitando-se pa- tefatos de concreto. Esse cimento
TECNOLÓGICO DO CAA tologias no concreto e elevação dos em particular, tem características de
custos. resistência inicial elevada e superfí-
3.1 Seleção dos materiais Quando da seleção dos aditivos, cie específica (Blaine) relativamente
um fator fundamental considerado baixa, o que propiciou ao CAA uma
Por se tratar de um concreto foi a resistência requerida em pro- menor demanda de água por m 3 de
especial, a seleção dos materiais jeto a baixa idade para o CAA, ou concreto, adequando-se às especi-
constituintes do CAA é um item que seja: 25 MPa a 12 horas de idade. ficações do concreto empregado.
requereu especial atenção, sobretu- Como não havia cura térmica, o adi- Uma vez estabelecidos os crité-
do quando da seleção do cimento tivo a ser utilizado não poderia pro- rios básicos para a dosagem, o maior
Portland e dos aditivos químicos,
que requereram atenção redobra-
da dos tecnologistas, em função
das condições ambientais da obra
(temperaturas de aproximadamente
30ºC) e das propriedades requeridas
do concreto especificado: elevadas
resistências mecânicas no estado
endurecido e baixa viscosidade no
estado plástico. Para obter elevada
resistência à compressão axial (ini-
cial e final), a relação água/cimento u Figuras 4 e 5
Vista externa e interna - consolidação das aduelas com groute
foi mantida baixa. Para obter eleva-
de alta resistência
da fluidez, fez-se uso de aditivos su-
60
Temperatura (°C)
30
De modo geral a metodologia de
formulação da dosagem para esse tipo
15
de projeto é resumida nas respostas da 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48
u Figura 7 u Figura 8
Slump flow do CAA Evolução dos resultados do Slump flow e Funil V ao longo do tempo
4.3 Caixa L
Ensaio Quant. amostra Unidade Valores médios Valores mínimos Valores máximos sd
Slump flow 3421 mm 756,1 640,0 825,0 19,5
Funil V 3421 s 6,94 2,20 15,00 0,86
Anel J 3421 mm 18,13 0,0 80,0 12,57
Caixa L 660 cm 0,932 0,85 0,99 0,02
Segregação 18 % 3,84 0,62 7,01 1,99
R desforma 659 MPa 41,07 23,60 70,90 7,59
R 28 dias 592 MPa 70,69 60,04 87,29 4,72
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O elevado grau de complexidade
u Figura 11
deste projeto em todas as etapas re-
Relação entre Funil V e Slump flow
sultou em uma analise criteriosa por
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEolica). Brasil sobe mais uma posição no Ranking mundial de capacidade instalada de energia eólica. São Paulo,
2017. Disponível em: < http://www.abeeolica.org.br/noticias/brasil-sobe-mais-uma-posicao-no-ranking-mundial-de-capacidade-instalada-de-energia-eolica/>.
Acesso em: 11 abr. 2018
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR15823/2010: Concreto auto–adensável: parte 1 a 5: Classificação, controle e aceitação no estado
fresco. Rio de Janeiro, 2017.
[3] PRÁTICA Recomendada Ibracon: Concreto Auto adensável. Instituo Brasileiro do Concreto (Org.) São Paulo: Ibracon, 2015. 88 p. Disponível em:
<http://www.ibracon.org.br/ebook_praticas/>. Acesso em: 11 abr. 2018.
A
s alvenarias têm sido usa- sua resistência ao fogo. Foi também ponto de aplicação da carga verti-
das ao longo dos séculos verificado que o tempo até ao colap- cal em relação ao centro da parede.
em paredes estruturais ou so estrutural é maior para menores Shields et. al. [3] estudaram também
simples de compartimentação. Nos esbeltezes das paredes. a curvatura de origem térmica em
últimos 50 anos, houve algumas in- Em 1970 e 1980, Lawrance e paredes de alvenaria e a influência
vestigações para avaliar a resistência Gnanakrishnan [2] realizaram uma do aquecimento diferencial nelas.
ao fogo de paredes de alvenaria de campanha de ensaios de resistência Esse estudo foi realizado com blo-
diversos materiais, sendo um deles o ao fogo em 146 paredes resistentes cos silico-calcários maciços em es-
concreto. Em 1970, Byrne [1] realizou à escala natural, com unidades de cala reduzida, não estando a parede
14 ensaios de resistência ao fogo em alvenaria de diferentes materiais e restringida axialmente no seu topo e
paredes estruturais de tijolo cerâmi- espessuras. Os resultados dessa in- lateralmente. Os autores concluíram
co maciço, variando a altura e a car- vestigação comprovaram as conclu- que existem dois tipos de curvatura
ga aplicada na parede e mantendo sões das investigações de Byrne [1]. térmica, restringida e não restringi-
constante o comprimento e a espes- Estes autores afirmaram que são ne- da, que condicionam o seu compor-
sura da parede. Nessa investigação cessários mais estudos sobre o com- tamento em situação de incêndio.
verificou-se que a esbeltez (relação portamento de paredes de alvenaria Estes dois tipos de curvatura atuam
altura/espessura) e o nível de carre- em situação de incêndio, nomeada- independentemente uma da outra
gamento aplicado têm uma grande mente sobre os efeitos do nível de na parede de alvenaria, sendo que a
influência na capacidade resistente carregamento no tempo de colapso curvatura restringida originou defor-
da parede sujeita a ações verticais e estrutural das paredes expostas ao mações permanentes enquanto que
em situação de incêndio. As paredes incêndio. a não restringida apenas originou de-
menos esbeltas, com esbeltez igual A curvatura de origem térmica foi formações reversíveis após arrefeci-
ou inferior a 20, apresentaram uma também um fenômeno estudado por mento dos corpos de prova.
resistência ao fogo de pelo menos Byrne [1] e Lawrence e Gnanakrish- Os trabalhos experimentais de-
sessenta minutos, para qualquer ní- nan [2]. Este fenômeno foi conside- senvolvidos por Byrne [1], Lawrence
vel de carregamento. Já o aumento rado uma das principais razões para e Gnanakrishnan [2] e Shields et. al.
do valor da esbeltez das paredes re- o colapso das paredes em caso de [3] permitiram o desenvolvimento de
u Figura 2
Unidades de alvenaria: a) foto dos blocos à escala reduzida; b) desenho do bloco; c) desenho do meio-bloco
(Haach 2009)
utilizando transdutores de desloca- 2.2 Corpos de prova tes ensaios as unidades de alvenaria
mento (LVDT) e termopares do tipo tinham dimensões à escala 1:2, de-
K. A distribuição dos pontos de me- O programa experimental foi vido às limitações de carga máxima
dição de temperatura máxima é defi- composto por seis paredes de alve- do sistema de aplicação de cargas
nida na norma, de forma a obter os naria estrutural de concreto, cons- existente no laboratório. Um esque-
valores de temperatura nas singula- truídas de acordo com a EN 1365-1 ma e foto dessas alvenarias encon-
ridades do corpo de prova, como o [10] e EN 1363-1 [11]. Estas normas tra-se na Figura 2 e as suas dimen-
topo do corpo de prova (pontos a), indicam que os corpos de prova sões apresentadas na Tabela 1. De
juntas de assentamento (pontos e e devem ser representativos dos ele- acordo com a classificação proposta
f), ou laterais (pontos d). É também mentos construtivos reais, tanto nos pela EN 1996-1.1 [8], essas unida-
medida a temperatura média do cor- materiais como no método constru- des de alvenaria pertencem ao grupo
po de prova, usando para esse efei- tivo. Os corpos de prova devem ser 2, devido à percentagem, dimensão
to 5 termopares, dispostos em X em normalmente ensaiados em tamanho e orientação dos alvéolos.
relação aos cantos do corpo de prova, natural, mas caso não se consiga Os corpos de prova eram com-
tendo sempre em atenção que área de ensaiar nessas dimensões, o siste- postos por 7 unidades em compri-
influência de cada um destes termopa- ma de ensaio deve ser adaptado à mento (total de 1,40 m) e 10 fiadas
res tem de ser inferior a 1 m . Os des-
2
dimensão dos corpos de prova. em altura, com juntas horizontais
locamentos verticais foram medidos na As unidades de alvenaria usa- de argamassa de 7 mm (altura to-
viga de distribuição de carga colocada das nesta investigação foram as de tal de 1,00 m) (Fig. 3). A argamas-
por cima do corpo de prova, a 50 mm três células em concreto similares às sa utilizada nas juntas horizontais
dos seus extremos. usadas por Haach [7] (Fig. 2). Nes- era comercial do tipo M10, da Secil
deslocamento lateral
u Figura 3
Dimensões do corpo de prova, pontos de leitura de temperatura e de deslocamentos laterais
Argamassas, fabricada de acordo massa das juntas de assentamento de carga a altas temperaturas (Tabela 2).
com a EN 998-2 [12]. horizontais. Os ensaios dos corpos de pro-
Os corpos de prova foram cons- va 1 a 4 foram de resistência ao fogo
truídos entre os banzos de um per- 2.3 Programa experimental seguindo a EN 1363-1 [11]. Nestes
fil metálico UPN 160, para facilitar o e procedimento de ensaio ensaios os corpos de prova com uma
posterior transporte e fixação deles carga constante, que pretendia simular
no sistema de ensaio. O espaço en- O programa experimental foi a carga de serviço dos mesmos, foram
tre o perfil e as unidades de alvenaria constituído por ensaios de resistên- sujeitos a uma ação térmica segundo a
foi preenchido com a mesma arga- cia ao fogo e ensaios de capacidade curva ISO 834 [13] até ao seu colapso.
a b c
u Figura 10
Corpo de prova 2 – a) fissuração na face não exposta; b) destacamento na face exposta ao incêndio;
c) fissuras verticais no meio do bloco e destacamento na face exposta (lado direito)
u Figura 11
Corpo de prova 4 – a) ruptura abrupta da parede durante o ensaio; b) fissuração vertical dos blocos em ambas
as direções; c) bloco fissurado
incêndio, mas este não atravessou toda ruptura no bloco e leva, sucessiva- estes corpos de provas estiveram su-
a espessura do septo vertical do bloco. mente, ao corte do mesmo nesse jeitos, ainda que os ensaios 3 e 4 te-
Foi também possível observar fis- ponto. Essas fissuras verticais foram nham sido de resistência ao fogo e os
suras verticais (Fig. 10 c) no meio das claramente visíveis nos corpos de ensaios 5 e 6 tenham sido de capaci-
paredes, na direção paralela às faces provas 3, 4, 5 e 6 (Fig. 11). dade de carga a altas temperaturas.
das mesmas, que podem ter sido O colapso dos corpos de provas
provocadas por momentos de flexão 3, 4, 5 e 6 foi brusco e repentino (Fig. 3.4 Resistência ao fogo e
parasíticos. Este tipo de ocorrência 11 a), com grandes deslocamentos capacidade de carga
foi verificada também nos trabalhos e perda imediata de carga no plano. das paredes
de investigação de Nguyen e Mef- Antes do colapso da parede foram
tah [6]. A existência de um pequeno ouvidos alguns sons resultantes da Na Tabela 3 apresentam-se os
entalhe a meio da largura do bloco, fissuração e destacamento de ma- tempos de falha para cada um dos
que é feito durante a produção dos terial. Isto deveu-se certamente aos critérios de resistência ao fogo, o
blocos, provoca uma zona frágil de maiores níveis de carregamento a que deslocamento máximo central para
1 80 72 – – – 5,52 74
2 73 67 – – – 5,80 79
3 – – – 83 – 9,52 80
4 – – – 40 – 10,74 40
5 – – – – 273 11,58 68
6 – – – – 421 11,14 66
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Byrne, S.; - Fire resistance of load-bearing masonry walls, Fire Technology, vol. 15, no. 3, 1979, pp 180-188.
[2] Lawrence, S.; Gnanakrishnan, N. - The Fire Resistance of Masonry Walls - An Overview, First National Structural Engineering Conference 1987, Melbourne, Australia,
26-28 August 1987, pp 431-437
[3] Shields, T. J. et. al. - Thermal Bowing of a Model Brickwork Panel, 8th International Brick/Block Masonry Conference, Dublin, Ireland, 1988, pp 846-856
[4] Nadjai, A. et. al. - A numerical model for the behavior of masonry under elevated temperatures, Fire and Materials, vol. 27, no. 4, 2003, pp 163-182
[5] Al Nahhas, F et. al. - Resistance to fire of walls constituted by hollow blocks: Experiments and thermal modelling, Applied Thermal Engineering, vol. 27, no.1, 2007, pp 258-267
[6] Nguyen, T. D.; Meftah, F. - Behavior of clay hollow-brick masonry walls during fire. Part 1: Experimental analysis, Fire Safety Journal, vol. 52, 2012, pp 55-64
[7] Haach V. G. (2009). Development of a design method for reinforced masonry subjected to in-plane loading based on experimental and numerical analysis. PhD Thesis.
University of Minho, Portugal.
[8] EN 1996-1.1 (2005). Eurocode 6 – Design of masonry structures, Part 1.1: General rules for reinforced and unreinforced masonry structures, European Committee for
Standardization, Brussels, Belgium.
[9] Lopes Rúben. F. R. (2017). Comportamento ao fogo de paredes de alvenaria estrutural de blocos de betão com alvéolos verticais. MSc Thesis. University of Coimbra, Portugal.
[10] EN 1365-1 (2012). Fire resistance tests for loadbearing elements - Part 1: Walls. European Committee for Standardization, Brussels, Belgium.
[11] EN 1363-1 (1999). Fire resistance tests - Part 1: General Requirements. European Committee for Standardization, Brussels, Belgium.
[12] EN 998-2 (2010). Specification for mortar for masonry. Masonry mortar. European Committee for Standardization, Brussels, Belgium.
[13] ISO 834 (1999). Fire resistance tests: elements of building construction: part 1. General requirements. International Organization for Standardization, Geneve, Switzerland.
[14] EN 1996-1.2 (2005). Eurocode 6 – Design of masonry structures, Part 1.2: General Rules Structural Fire Design. European Committee for Standardization, Brussels, Belgium.
Avaliação da contribuição
da alvenaria participante na
rigidez lateral de pórticos
pré-moldados de concreto
WALLISON ANGELIM MEDEIROS – Doutorando ROBERTO MÁRCIO DA SILVA – Professor Titular
GUILHERME ARIS PARSEKIAN – Professor Associado ALBA BRUNA CINTRA DE GRANDI – Doutoranda
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
1. INTRODUÇÃO diagonais em vários painéis de alvenaria volver fendas de separação nas interfa-
A
colaboração da alvenaria nos pisos 29 e 41 e deslocamentos me- ces do painel-pórtico, com exceção de
participante em resistir à nores que os previstos. Polyakov (1956) pequenas regiões onde as tensões de
ação lateral surgiu pela pri- analisou pórticos preenchidos submeti- compressão são transmitidas do pórtico
meira vez, quando Rathbun (1938) publi- dos a elevadas cargas e descreveu três para o painel, nos dois cantos diagonal-
cou pesquisa sobre a força do vento em estágios de comportamento. No primeiro mente opostos. O segundo estágio foi
edifícios altos, no qual foram constatadas, estágio, o painel de alvenaria e as bar- caracterizado por um encurtamento da
no Edifício Empire State, em New York, ras do pórtico estrutural se comportam diagonal comprimida e alongamento da
durante uma tempestade com rajadas de como uma unidade monolítica. Esta fase diagonal tracionada. Esta fase terminou
vento excedendo a 145 km/h, fissuras termina quando começam a se desen- com fissuras na alvenaria de preenchi-
mento ao longo da diagonal comprimida.
As fissuras geralmente aparecem de for-
ma escalonada nas juntas horizontais e
verticais. No terceiro estágio, o conjunto
estrutural continuou a resistir a uma carga
crescente, apesar das fissuras na diago-
nal comprimida, que continuaram a se
ampliar e novas fissuras apareceram. A
partir dessas observações, o autor pro-
põe o modelo de diagonal comprimida
(Figura 1).
Estruturas pré-moldadas tendem a
ser mais deslocáveis devido à necessi-
dade de ligações entre os elementos,
Fonte: adaptado Polyakov (1956)
o que a princípio torna a estrutura não
monolítica. Uma opção para minimizar
u Figura 1
esse efeito é a consideração da alve-
Modelo equivalente de diagonal comprida
naria participante. O painel preenchido
4
7
Onde,
ls = o comprimento da diagonal Não podendo exceder um quarto
comprimida; do comprimento, ou seja, l/4.
u Figura 3
fst = fator a ter em conta a redução de
Posição sugerida da força
rigidez tomado como 0,5. 8
diagonal resultante para
dimensionamento dos pilares A altura efetiva da diagonal compri-
mida para efeitos de esbeltez deve ser Logo, este será o valor adotado.
Onde, considerada igual ao comprimento de
Ea, Ep = módulos de elasticidade da pa- projeto da diagonal, ls, diminuído de w/2. 3.1 Aumento da rigidez do pórtico
rede de alvenaria e pórtico; com alvenaria participante
H, L = altura e comprimento da parede 3. CONSIDERANDO A
de alvenaria participante; ALVENARIA PARTICIPANTE Considerando um programa de análi-
tap = duas vezes a soma da espessu- Para melhor compreender a pro- se estrutural de pórtico plano, levando em
ra das paredes longitudinais do bloco posta de norma, é apresentado, conta a diagonal birrotulada com largura de
vazado não totalmente grauteado ou a seguir, um exemplo de como se 125cm e espessura de 10cm, e as demais
a espessura da parede para o tijolo ou deve analisar a rigidez de um pór- propriedades das vigas e pilares e do mate-
bloco vazado totalmente grauteado; tico com alvenaria participante e o rial concreto e alvenaria, pode-se comparar
Ip, Iv = momentos de inércia do pilar e dimensionamento desta parede de a rigidez do pórtico com e sem a alvenaria
da viga do pórtico, respectivamente; preenchimento. O pórtico tem as di- participante (Figura 6). Os resultados dessa
θ = tan-1 (H/L), graus. mensões conforme a Figura 5, a pa- análise, para uma força horizontal no topo
Na Figura 4 pode-se identificar grafi- rede foi executada com blocos va- adotada igual a 10kN, são:
camente as incógnitas citadas. A largura zados de concreto de 19 x 39cm e u Pórtico não preenchido, dh =
da diagonal comprimida efetiva, wℯƒƒ, fbk = 8MPa, argamassa fa = 6MPa, 0,72mm, k = P/δ = 10/0,72 =
para o cálculo da resistência à compres- concreto fck = 25MPa. 13,88kN/mm;
são da diagonal comprimida, deve ser Primeiro, identifica-se as proprieda-
tomada como w/2 e não pode exceder des físicas e geométricas da parede e
pórtico:
H = 300 cm
L = 400 cm
Ea = 4800 MPa (considerando 800.fpk)
Ep = 28000 MPa
tap = 10 cm [2x(2,5+2,5)]
Ip, Iv = 20(40)3/12 = 106,67.103 cm4
θ = tan-1 (3/4) = 36,87º
Os comprimentos de contato horizontal
e vertical são calculados:
u Figura 4 Os comprimentos de contato hori- u Figura 5
Modelo da diagonal comprimida Pórtico com alvenaria
zontal e vertical são calculados. 5
em alvenaria participante participante (dimensões em cm)
10 14
Obtendo-se: F = 10,3kN; tem-se
Fh = 8,2kN e Fv = 6,2kN. E
largura diagonal 15
3.3 Verificação da resistência
à compressão da diagonal Temos:
u Figura 6 comprimida
Representação do pórtico pelo
16
modelo de treliça Conforme o item 6.2.2.3 do projeto de
norma, no caso de alvenaria de blocos de
u Pórtico preenchido, dh = 0,12mm, 190mm de altura e junta de argamassa Para resultar nesse valor de com-
k = P/δ = 10/0,12 = 83,33kN/mm. de 10mm, esse valor pode ser estimado ponente diagonal, a força lateral, Vk,
Portanto, neste caso, pode-se per- como 70% da resistência característica de pode ser calculada por semelhança
ceber que a consideração da alvenaria compressão simples de prisma (fpk) de triângulos:
participante aumentou a rigidez do pór- Quando a compressão ocorrer em di-
17
tico em 6 vezes. reção paralela às juntas de assentamento,
a resistência característica na flexão pode
3.2 Decomposição das forças ser adotada como 50% da resistência à 3.4 Verificação do cisalhamento
compressão na direção perpendicular às na alvenaria
Com este mesmo programa, é pos- juntas de assentamento (Figura 8).
sível obter a força de compressão diago- No caso da alvenaria participante, a a. Cisalhamento por tração diagonal
12
Portanto:
13
u Figura 11
Planta baixa do edifício com alvenaria participante em destaque
u Figura 14 24
Deslocamentos encontrados no modelo com alvenaria participante
b) Momento de tombamento devido
A largura da diagonal comprimida pelo software SAP2000 foi realizada (Fi- ao vento (M1,tot,d)
efetiva deve ser tomada como: gura 12). Os deslocamentos horizontais
25
em cada pavimento foram utilizados
21
para calcular o gama Z da estrutura. Assim, tem-se,
Não podendo exceder um quarto do Na Tabela 1, apresenta-se os dados
comprimento dado pela Equação 22. encontrados para cálculo do gama Z. 26
O valor de γz para cada combinação de
22
carregamento é dado pela Equação 23. O valor do gama Z da estrutura sem
Sendo este o valor adotado na análise. alvenaria participante é -0,09 < 0, sig-
Com os dados das ações horizon- 23 nificando que seria uma estrutura total-
tais e o carregamento vertical, a análise mente instável.
Pav. Hi (m) FHi,d (kN) FVi,d,pav (kN) δhi (cm) M1,tot,d (kN.m) ΔMtot,d (kN.m)
10 40 34,58 9.054,00 2,45 1.383,25 22.182,30
9 36 63,55 9.054,00 2,37 2.287,83 21.457,98
8 32 61,56 9.054,00 2,17 1.969,97 19.647,18
7 28 59,38 9.054,00 1,96 1.662,68 17.745,84
6 24 56,96 9.054,00 1,73 1.367,06 15.663,42
5 20 54,22 9.054,00 1,48 1.084,49 13.399,92
4 16 51,05 9.054,00 1,21 816,87 10.955,34
3 12 47,24 9.054,00 0,93 566,86 8.420,22
2 8 42,34 9.054,00 0,63 338,72 5.704,02
1 4 35,11 9.054,00 0,32 140,45 2.897,28
Σ 11.618,18 138.073,50
Pav. Hi (m) FHi,d (kN) FVi,d,pav (kN) δhi (cm) M1,tot,d (kN.m) ΔMtot,d (kN.m)
10 40 34,58 9.054,00 1,37 1.383,25 124,04
9 36 63,55 9.054,00 1,47 2.287,83 133,09
8 32 61,56 9.054,00 1,50 1.969,97 135,81
7 28 59,38 9.054,00 1,49 1.662,68 134,90
6 24 56,96 9.054,00 1,46 1.367,06 132,19
5 20 54,22 9.054,00 1,37 1.084,49 124,04
4 16 51,05 9.054,00 1,20 816,87 108,65
3 12 47,24 9.054,00 0,98 566,86 88,73
2 8 42,34 9.054,00 0,73 338,72 66,09
1 4 35,11 9.054,00 0,42 140,45 38,03
Σ 11.618,18 1.085,57
De forma similar foi analisado a es- cipante foi observada a ocorrência de ma norma de alvenaria brasileira. Suas
trutura com a consideração de dois pai- torção, visto que as disposições das considerações são bastante conserva-
néis de alvenaria participante de blocos paredes não se encontravam simetri- doras e, mesmo com todas as limita-
de 12MPa. A Figura 13 indica como os camente distribuídas, entretanto, esse ções que ela impõe, a contribuição da
modelos foram montados com a con- efeito foi considerado nos deslocamen- alvenaria participante é inegável.
sideração das diagonais equivalentes. tos utilizados. No estudo de caso, apesar do pro-
A Figura 14 mostra os deslocamentos jeto estrutural e arquitetônico não ter
encontrados nessa análise e a Tabela 2, 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS levado em consideração a alvenaria
os parâmetros para cálculo do gama Z. A contribuição da alvenaria partici- participante, percebe-se que foi possí-
Nessa situação tem-se, pante no enrijecimento de estruturas vel contraventar, na direção analisada,
aporticadas é inquestionável. No en- a estrutura sem a necessidade de liga-
27 tanto, mesmo com constatações a res- ções mais rígidas.
peito da eficiência no uso de pórticos A consideração da alvenaria parti-
Verifica-se gama Z com o valor de preenchidos, a consideração em pro- cipante pode trazer ganhos significati-
1,1. A ABNT NBR 6118:2014 consi- jeto deste tipo de estrutura no Brasil vos para a construção civil, além de se
dera que a estrutura é de nós fixos, não é usual. mostrar uma solução simples para con-
se obedecer à condição de γz ≤ 1,1, A abordagem do método da diago- cepção de estruturas para garantir a
sendo possível desprezar os efeitos de nal equivalente é a mais utilizada pelas estabilidade lateral necessária e, even-
segunda ordem. normas e códigos internacionais e já tualmente, para execução de reforços
Nas análises com alvenaria parti- está proposta para adoção na próxi- em edificações existentes.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6123: Forças devidas ao vento em edificações. ABNT. Rio de Janeiro. 1988.
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[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. PN 002:123.010-001/1 Alvenaria Estrutural – Parte 1: Projeto. ABNT. Rio de Janeiro. 2018.
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[7] MEDEIROS, W. A.; Pórticos em concreto pré-moldado preenchidos com alvenaria participante. 2018. Dissertação (Mestrado em estruturas e construção civil) –
Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2018.
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[13] THE MASONRY SOCIETY. 402/602: Building Code Requirements and Specification for Masonry Structures. TMS. 2016.
G
eralmente a aderência identificado inicialmente pelo som cavo
entre argamassas de re- quando da percussão, começou a apa-
vestimento e blocos de recer cerca de 14 dias após a aplicação
concreto é alta. O estudo de Carasek dos revestimentos e continuou progre-
et al. (2017), onde foram analisados dindo durante cerca de 2 meses com
2.552 dados de arrancamento obtidos desplacamentos de grandes áreas.
em obras nas cidades de Goiânia e As fissuras apresentaram abertura
Brasília, mostrou que os maiores valo- entre 0,1 mm e 0,7 mm, mostrando-se
res de aderência são obtidos quando u Figura 1 em geral com uma fenda principal e ra-
os revestimentos são aplicados sobre Descolamento do revestimento mificações dela com ângulos próximos
evidenciando a falta de a 90.
blocos de concreto ao se comparar
aderência entre os materiais.
com resultados sobre alvenaria de blo- Em algumas regiões de som cavo
Após o descolamento
cos cerâmicos e estrutura de concreto observa-se um substrato liso, parte do revestimento foi retirada para
(com valores médios, respectivamente, praticamente sem vestígios do análise do substrato e da camada de
0,32 MPa; 0,22 MPa e 0,20 MPa). revestimento argamassa, além da observação do
No entanto, deve-se ter muito cui- grau de dificuldade com que se dava o
dado com generalizações. Recente- dele são traçadas, então, recomenda- processo de remoção. Foi notória a fa-
mente, têm sido observados alguns ções de cuidados que devem ser toma- cilidade de se retirar o revestimento das
problemas de descolamento sobre al- dos com a produção dos blocos, bem paredes em regiões de som cavo. A Fi-
venaria estrutural com blocos de con- como com a produção da argamassa e gura 3 ilustra o substrato praticamente
creto de alta resistência à compressão. sua aplicação. sem resquícios de partes aderidas do
Nesse sentido, o presente traba- revestimento sobre os blocos de con-
lho visa apresentar um estudo de caso 2. ESTUDO DE CASO creto de alta resistência.
com grave descolamento de revesti- A patologia observada em obra foi Com base nas inspeções, concluiu-
mentos de argamassa aplicados so- o descolamento dos revestimentos de -se que o problema de descolamen-
bre alvenaria estrutural de blocos de argamassa de paredes de alvenaria es- to e fissuração era generalizado nos
concreto de alta resistência, focando trutural em blocos de concreto de alta revestimentos de argamassa aplica-
na discussão do diagnóstico. A partir resistência (Figura 1), acompanhado de dos sobre as alvenarias com blocos
80 3. DIAGNÓSTICO – MECANISMO
70
DE DESCOLAMENTO
60
50
40 Com base em todas as informações
30
coletadas, chegou-se ao seguinte diag-
20
10 nóstico: a causa do descolamento é a
0 incompatibilidade da argamassa de re-
Estrutural Estrutural Vedação Estrutural Estrutural Vedação
vestimento com os blocos de concreto
Carasek, 1996 Paes, 2004 Scartezini, Girardi, 2016 Obra com Mesma
2002 problema obra de alta resistência. Os blocos estrutu-
Blocos ensaiados em diversas pesquisas
rais apresentavam sucção de água ini-
cial muito baixa (considerada atípica) e
u Figura 4
a argamassa de revestimento uma ele-
Comparação de valores de AAI de vários blocos de concreto
vada retenção de água.
A aderência da argamassa endu-
u Parede em que foi retirado o reves- testes do cachimbo estão apresenta- recida ao substrato é um fenômeno
timento e posteriormente foi lavada dos na Figura 6. essencialmente mecânico, devido, ba-
com água sob pressão, ensaiada Observa-se a baixa sucção de água sicamente, à penetração da pasta aglo-
após estar totalmente seca (PL); propiciada pelo bloco de concreto de merante ou da própria argamassa nos
u Parede em que foi retirado o reves- alta resistência estrutural. Ademais po- poros ou entre as rugosidades da base
timento, posteriormente lavada com de-se concluir que a lavagem da pare- de aplicação. Quando a argamassa
água sob pressão e chapiscada 7 de não melhorou esta situação, no en- no estado plástico entra em contato
dias após a lavagem; ensaiada seca tanto, a execução do chapisco permitiu com a superfície absorvente do subs-
(PLC). um aumento significativo da absorção trato, parte da água de amassamento,
Os resultados médios obtidos nos de água da base e resultou em aderên- que contém em dissolução ou estado
PL PLC PD
u Figura 5
Ensaio de absorção de água pelo método cachimbo
1,0
Absorção de água (ml)
0,8 altas tensões que não poderão ser ab-
sorvidas pela aderência bloco/argamas-
0,6 PL
sa, a qual é muito baixa desde o início.
PLC
0,4 A tensão de tração na argamassa
PD
oriunda da retração é função direta do
0,2 seu módulo de elasticidade, de sor-
te que argamassas ricas em cimento
0,0
0 5 10 15 20 sofrem notável influência da retração,
Tempo (minutos) estando mais sujeitas a tensões de tra-
ção, que causarão fissuras e possíveis
u Figura 6 descolamentos de sua base.
Valores médios de absorção de água pelo método cachimbo Assim, a explicação do mecanismo
de descolamento e fissuração obser-
coloidal os componentes do ligante, pe- em que: vado na obra está calcada na retração
netra pelos poros e pelas cavidades do tc = tensão de cisalhamento; dos revestimentos, associada à sua
substrato. No interior dos poros, ocor- E = módulo de elasticidade; baixa aderência ao substrato. A Figura
rem fenômenos de precipitação dos e = movimentação do revestimento; 7 ilustra o mecanismo proposto.
produtos de hidratação do cimento e, d = espessura do revestimento; A retração é produzida pela saída
transcorrido algum tempo, esses preci- A = área de contato. de água da camada do revestimento,
pitados intracapilares exercem ação de A aderência (ligação entre os mate- que se constitui em um elemento del-
ancoragem da argamassa à base (CA- riais) é que deverá se opor a estas ten- gado, de elevada relação área/volume
RASEK, 2017). Se o substrato (no caso, sões de cisalhamento. Logo, se a rigidez e significativa parte desta área exposta
bloco de concreto de alta resistência) da argamassa é alta, com as movimen- ao ambiente. Quando a ligação entre
não exerce sucção efetiva da pasta tações intrínsecas dos materiais (como o revestimento e o substrato é baixa,
aglomerante da argamassa (a qual tem a retração da argamassa) serão geradas como no caso em questão, pelo efeito
dificuldade de liberá-la devido à sua alta
capacidade de retenção de água), não
serão formados produtos de hidratação
no interior dos poros do substrato e,
portanto, a ligação será deficiente.
Após o início do endurecimento da
argamassa (cerca de 14 dias), quando
a retração já atingiu aproximadamente
80% do total, tendo em vista que a liga-
ção entre argamassa/bloco está muito
frágil, as movimentações geradas nos
materiais levam a ruptura dos poucos
pontos de ancoragem existentes.
Salienta-se que argamassas com
maior rigidez (módulo de elasticidade a b c
alto) apresentarão maiores tensões de
cisalhamento na interface para uma u Figura 7
mesma movimentação, quando com- Ilustração do mecanismo de descolamento/fissuração dos
paradas às argamassas de baixo mó- revestimentos devido à baixa aderência ao substrato e à retração.
dulo, conforme equação: Observação: o fenômeno foi exagerado na figura visando torná-lo
mais visível
1
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] CARASEK, H. Aderência de argamassas à base de cimento Portland a substratos porosos: avaliação dos fatores intervenientes e contribuição ao estudo do
mecanismo da ligação. São Paulo, 1996. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica da USP. 285 p.
[2] CARASEK, H. Argamassas. In: Geraldo C. Isaia. (Org.). Materiais de Construção Civil e Princípios de Ciência e Engenharia de Materiais. 3ed. São Paulo: Instituto
Brasileiro do Concreto - IBRACON, 2017, v. 2, p. 922-969.
[3] CARASEK, H. MALAGONI, M., TERRA, V., GIRARDI, A., ARAÚJO, R. Análise de resultados de resistência de aderência de revestimentos de argamassa obtidos em
obras. In: Simpósio Brasileiro de Tecnologia das Argamassas, 12. Anais. São Paulo, ANTAC, 2017. 10 p.
[4] GIRARDI, A.C.C. Avaliação da substituição total de areia natural por RCD na produção de revestimentos de argamassa. 2016. 130 f. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Civil), Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Estruturas e Construção Civil, Universidade Federal de Goiás, 2016.
[5] PAES, I. Avaliação do transporte de água em revestimentos de argamassa nos momentos iniciais pós-aplicação. Tese (doutorado). Brasília. Programa de Pós-
Graduação em Estruturas e Construção Civil – Universidade de Brasília, 2004.
[6] SCARTEZINI, L. M. Influência do tipo e preparo do substrato na aderência dos revestimentos de argamassa: estudo da evolução ao longo do tempo, influência da
cura e avaliação da perda de água da argamassa fresca. 262p. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil), Curso de Mestrado em Engenharia Civil, Universidade
Federal de Goiás, 2002.
COMENTÁRIOS E EXEMPLOS DE
APLICAÇÃO DA ABNT NBR 6118:2014
A publicação traz comentários e exemplos de aplicação da nova norma
brasileira para projetos de estruturas de concreto - ABNT NBR
6118:2014, objetivando esclarecer os conceitos e exigências normativas
e, assim, facilitar seu uso pelos escritórios de projeto.
DADOS TÉCNICOS
ISBN 9788598576244
Formato: 18,6 cm x 23,3 cm
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