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& Construções

Ano XXXVIII | # 57
Jan. • Fev. • Mar. | 2010
ISSN 1809-7197
www.ibracon.org.br
IBRACON
Instituto
Instituto Brasileiro
Brasileiro do
do Concreto
Concreto

 ACONTECE NAS REGIONAIS

ABNT NBR 15146 em


processo de revisão

 ENTIDADES PARCEIRAS

Vantagens da
Alvenaria Estrutural
Lições
 PESQUISA & DESENVOLVIMENTO
aprendidas
com acidentes
Impermeabilização e
Diagnóstico e prognóstico
Norma de Desempenho
|1|
de obras que falharam
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[Concreto & Contruções] |2|
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sumário

13 Gerenciamento de projetos 45 Inspeção técnica


Discussão dos aspectos Estudo de caso de um píer de atracação atacado
técnicos que levaram à por cloretos: fatores que podem ter levado ao
ruptura de cava de seu colapso
escavação e das prescrições
que poderiam ter evitado 58 Ensaio do potencial
o acidente de corrosão
Avaliação do método do
28 Prescrições normativas potencial de corrosão num
De que forma a impermeabilização contribui estudo de caso de estruturas
para atender os requisitos da norma de de concreto submetidas ao
desempenho – ABNT NBR 15575 forte intemperismo

40 Recuperação estrutural 71 Solucionando problemas


Análise e projeto de reforço Recuperação estrutural em edifício
e recuperação estrutural de de 14 pavimentos
cortina atirantada em
iminência de colapso

seções

5 Editorial
6 Converse com IBRACON
8 Personalidade Entrevistada – Marcelo Chamma
26 Acontece nas Regionais
Créditos Capa: 37 Mercado Nacional
Vista geral da ruptura da contenção
em cava de escavação a céu aberto em 56 Mantenedor
Curitiba e detalhe da ruptura 67 Entidades Parceiras
do paramento 80 Pesquisa Aplicada

Instituto Brasileiro do Concreto


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Declarado de Utilidade Pública Federal | Decreto 86871 de 25/01/1982
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IBRACON
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Tel. (11) 3735-0202

[Concreto & Contruções] |4|


editorial
editorial

Concreto: desafio e responsabilidade

Hoje a engenharia brasileira


vive um momen-
to especial, alavancado pelo
pontos de encontro e discussão para to-
dos os envolvidos.

crescimento econômico e so- Ou seja, cabe ao IBRACON aju-


cial do país. A crise de con- dar na criação de embasa-
fiança mundial teve con- mento para que o crescimen-
seqüências relativamente to seja possível, equilibrado
pequenas no Brasil, que por visão de sustentabilidade
já retornou a patamares socioambiental, com melho-
muito significativos de ex- ria de processos, diminuição
pansão econômica. de desperdícios e aumento
da durabilidade. Esta atuação
Este desenvolvimento gera deve abranger toda a cadeia
a necessidade de criação de produtiva do concreto, com emba-
infraestrutura adequada para seu samento técnico-científico consisten-
embasamento e concretização. Obras vi- te e com a presença de todos os agentes do
árias, portos, aeroportos, vias navegáveis, em- mercado de construção.
preendimentos hidráulicos para água e ener-
gia, novas fontes de energia são necessidades Portanto, o desafio do IBRACON continua enor-
urgentes, que utilizam largamente o concreto me, mas, sem dúvida, ele está preparado. As
para sua realização. diretorias anteriores foram imensamente feli-
zes, pois, hoje, dentro de suas atividades, des-
Neste contexto aumenta a responsabilidade tacam-se uma inserção na comunidade técnica
do IBRACON, cuja missão é criar, divulgar e muitíssimo relevante, saúde econômico-finan-
defender o correto conhecimento sobre mate- ceira, transparência de processos e realização
riais, projeto, construção, uso e manutenção contínua do maior evento de engenharia civil
de obras de concreto, desenvolvendo o seu do hemisfério sul.
mercado, articulando seus agentes e agindo
em benefício dos consumidores e da sociedade O momento é de união em prol do desenvol-
em harmonia com o meio ambiente. O Insti- vimento da cadeia produtiva do concreto,
tuto percola por todas as fases e agentes da de discussão responsável de suas interações
cadeia produtiva do concreto, com a caracte- com a sociedade organizada, considerando a
rística fundamental de abranger fornecedores, sustentabilidade socioambiental e, principal-
consumidores e a academia. mente, é hora de melhoria da atuação do Ins-
tituto. Para tal, precisa-se de conhecimento,
No novo panorama, o IBRACON deve estar planejamento e, sobretudo, ações firmes na
atento e fornecer soluções para a necessidade sociedade. Para sua legitimidade, este não
de mão-de-obra especializada e de qualidade, é um trabalho da diretoria do IBRACON, mas
de ferramentas que incorporem a sofisticação sim de todos seus associados, que, com cer-
que as novas pesquisas proporcionam, de nor- teza, saberão traçar os rumos que deixarão a
malização que permita um desenvolvimento comunidade do concreto atendida e a nação
sustentado da técnica, de publicações para brasileira satisfeita.
a difusão de avanços e processo de engenha-
ria, do fomento de novas pesquisas em todo o JOSÉ MARQUES FILHO
processo de utilização do concreto, e de criar Diretor Presidente – IBRACON n

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converse com o ibracon

Converse com o IBRACON


Considerações de interesse público maiores esclarecimentos e cooperar nas
sobre a segurança de barragens ações possíveis.
no Brasil Erton Carvalho – CBDB
Fernando Facciola Kertzman – ABGE
O Comitê Brasileiro de Barragens (CBDB), Francis Bogossian – CE-RJ
a Associação Brasileira de Mecânica dos Jarbas Milititsky – ABMS
Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS), José Marques Filho – IBRACON
a Associação Brasileira de Geologia de
Engenharia e Ambiental (ABGE), o Insti-
tuto Brasileiro do Concreto (IBRACON) e Publique seus trabalhos científicos
o Clube de Engenharia do Rio de Janeiro na RIEM!
(CE-RJ), como entidades representativas A Revista IBRACON de Estruturas e Mate-
de profissionais que militam na área de riais – RIEM foi lançada em 2008, resultado
projeto e construção de barragens, vêm da fusão da Revista IBRACON de Estruturas
cumprir o dever de informar aos mem- (RIEST) e da Revista IBRACON de Materiais
bros da Comissão de Infra-Estrutura do (RIMAT), publicações científicas online edi-
Senado Federal a importância da aprova- tadas pelo Instituto Brasileiro do Concre-
ção deste PLC-168 para a segurança das to. Seu objetivo é divulgar as pesquisas
barragens brasileiras. técnico-científicas sobre os mais variados
Com o objetivo de garantir a importância aspectos do concreto, material construtivo
estratégica das barragens e respectivos re- mais largamente empregado na construção
servatórios para o funcionamento dos sis- civil, além de notas técnicas e discussões
temas de abastecimento de água, de ge- sobre tais pesquisas e inovações.
ração de energia elétrica, de irrigação, de “A Revista tem o objetivo de promover a
prevenção de enchentes, de saneamento, difusão e a melhor compreensão do es-
de transportes hidroviários, de piscicultu- tado da arte da construção em concreto,
ra, de contenção de rejeitos industriais, tanto no que se refere a estruturas, como
e outros, cumpre aprovar uma legislação no que tange à tecnologia e aos materiais
específica para o setor. Esta deverá regu- que compõem o concreto. Assim, fornece
lar os procedimentos, uniformizando-os e subsídios para um fórum de debates entre
definindo a dimensão correta das medidas investigadores, produtores e usuários des-
essenciais a fim de assegurar a evolução ses materiais e estruturas, incentivando o
contínua das barragens com a segurança desenvolvimento da pesquisa científica e
necessária. construindo uma ponte que relaciona as-
Desse modo, consideramos que o parecer pectos da ciência de materiais, da teoria
do Senador Gilberto Goellner atende ple- das estruturas e do desempenho do con-
namente à demanda do setor e às solici- creto. A Revista visa promover o desenvol-
tações de suas entidades representativas. vimento do setor de Construção Civil, atra-
Portanto, solicitamos aos senhores Senado- vés da colaboração conjunta de cientistas,
res, membros desta ilustre Comissão, que engenheiros, projetistas, construtores, fa-
aprovem a referida lei (PLC-168/2009) em bricantes de materiais e usuários de estru-
caráter terminativo. turas de concreto”, lê-se em sua página no
Colocamo-nos à disposição das autorida- site www.ibracon.org.br.
des e do público em geral para prestar Qualificada no sistema QUALIS, da CA-

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PES, a RIEM é excelente veículo para a Restrições de conteúdo e espaço (tama-
divulgação de trabalhos acadêmicos e de nho) poderão ser impostas, conforme deci-
pesquisas tecnológicas sobre o concreto são do editor e revisores. As contribuições
e seus sistemas construtivos, uma vez são aceitas somente em inglês, ou em dois
que é dirigida a todos os profissionais dos idiomas, sendo um deles o inglês.
variados segmentos da cadeia construtiva
do concreto, no Brasil e no mundo. Quan- Artigo
do da publicação de suas edições – qua- Apenas artigos técnicos inéditos e originais,
tro por ano – uma newsletter é disparada que estejam de acordo com o escopo da
para os associados ao IBRACON, comu- Revista e apresentem qualidade de infor-
nicando a mais nova edição e os artigos mações e apresentação, são aceitos para
de destaque. A publicação é também ar- publicação. As diretrizes para a elaboração
mazenada no site do American Concrete e submissão dos artigos estão detalhadas
Institute – ACI, sendo diretamente aces- no Guia de Redação de Artigo, disponibili-
sada por seus filiados. Tanto a submissão zado no site da Revista.
de artigos como a leitura das edições da
RIEM podem ser feitas livremente, sem Comunicação técnica
quaisquer custos. A comunicação técnica é um trabalho su-
Todos estão convidados a participarem das cinto e tem o objetivo de apresentar as
edições, submetendo por meio eletrônico novidades em pesquisa, desenvolvimento
artigos para serem publicados. Para serem e aplicação tecnológica na área de mate-
aceitos, os artigos precisam necessaria- riais de construção civil. Os trabalhos não
mente ter uma versão em inglês, no caso precisam ser necessariamente conclusivos,
de terem sido escritos originalmente em pois têm a função de introduzir um novo
português ou espanhol. Essa condição de- tema na pauta de discussões. É um espaço
ve-se justamente ao caráter internacional reservado a indústrias, empresas, universi-
do periódico. dades, instituições de pesquisa, pesquisa-
Os artigos são recebidos pelos editores, que dores e profissionais que queiram divulgar
os reenviam a uma banca de avaliadores, os seus trabalhos e produtos ainda em fase
formada por especialistas nacionais e es- de desenvolvimento. Os procedimentos e
trangeiros, associados ao IBRACON e com formatos para submissão estão detalhados
reconhecida competência em sua área de no Guia de Redação de Comunicação, dis-
pesquisa e atuação. A banca faz comentá- ponibilizado no site da Revista.
rios, que devem ser acatados pelos autores,
para, só depois, serem liberados para pu- Discussão e Réplica
blicação. Todo o gerenciamento – desde a A Discussão será recebida, no máximo,
submissão de artigos até sua liberação para após três meses da publicação do Artigo ou
publicação – é feito por um sistema de ge- da Comunicação Técnica a que se refere.
renciamento de periódicos, de domínio pú- As Discussões e as Réplicas não devem ul-
blico, desenvolvido pelo Public Knowledge trapassar o limite de três páginas (incluin-
Project – PKP (http://pkp.sfu.ca/ojs/). do figuras, tabelas e referências bibliográ-
ficas) e devem seguir a Folha de Estilos de
Tipos de Contribuição Discussão e Réplica. A Discussão não deve
A Revista publica artigos técnico-científi- ser ofensiva e deve limitar-se ao escopo do
cos inéditos e originais, artigos de comu- trabalho a que se refere. Será concedido
nicação técnica, discussão e réplica dos o direito de réplica aos Autores. As Discus-
autores. No site da RIEM podem ser publi- sões e as Réplicas de um determinado Arti-
cados relatórios de conferências e de reu- go ou Comunicação Técnica são publicadas
niões relevantes e revisões de livros. Todas no número subseqüente da Revista.
as contribuições são revisadas e somente Mais informações: acesse Menu Publica-
publicadas com a aceitação do Editor e do ções/Revista IBRACON de Estruturas e Ma-
Conselho Editorial. teriais no site www.ibracon.org.br. n

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personalidade entrevistada

Marcelo Chamma
Engenheiro de Mineração pela
Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo, Marcelo Chamma fez
Administração em Marketing pela
Fundação Getúlio Vargas, MBA
Executivo pela Serta/Brasil e MBA
de Franchising pela Lousiana State
University/Estados Unidos.

Em sua carreira profissional, passou


por grandes empresas, tais como:
Grupo Bunge; Serrana SA Mineração;
Quimbrasil – Química Industrial
Brasileira SA; Cimpor - Cimentos de
Portugal. Atualmente, é Diretor
Comercial da Votorantim Cimentos,
sendo responsável pelas áreas de
marketing e vendas das unidades
nacionais de produção, planejamento
e operacionalização das atividades
comerciais, para toda a sua linha de
produtos (cimento, argamassas, cales e
calcário agrícola); e responsável pela
área de trading.

Chamma é o atual representante da Votorantim Cimentos no Conselho Diretor


do Instituto Brasileiro do Concreto – IBRACON.

I bracon – C onte- nos um pouco sobre a feita três anos depois, sendo que a ca-
história da V otorantim C imentos . S obre os pacidade do primeiro forno era de 250
desafios de se fundar uma fábrica de cimento toneladas/dia.
no B rasil. S obre o desenvolvimento da Havia obstáculos na década de 30, no
companhia , do ponto de vista comercial e sentido de instalar fábricas e também
tecnológico . de dominar processos. Naquela época, o
Marcelo C hamma – Em 1933, se iniciou a empresário José Ermírio de Moraes, con-
construção da fábrica de Santa Helena, tou com o apoio da engenharia estran-
em Sorocaba – primeira fábrica com ca- geira, entre elas a dinamarquesa, além
pital 100% nacional. A inauguração foi de equipes especializadas de fora do

[Concreto & Contruções] |8|


personalidade entrevistada
país. Foi ele também quem se deu conta cimento, concreto e agregados do mun-
do potencial de jazidas e condições de do. No Brasil, possui mais de 40 unida-
produção na região de Sorocaba. des de produção, além de 70 centros de
Após quase 10 anos, a Votorantim mar- distribuição e 90 centrais de concreto.
cava um período de expansão com a pri- Comercializa mais de 40 produtos, com
meira fábrica do Nordeste. Dessa região, destaque para as marcas Votoran, Itaú,
a Votorantim parte para novos empreen- Poty, Tocantins, Aratu, Votomassa, Ma-
dimentos no sul do País e vai se consoli- trix e Engemix.
dando em todo o território nacional. No exterior, opera seis fábricas e mais
Em 1979, os planos de expansão se con- de 120 unidades de concreto e agrega-
cretizaram, com uma outra fábrica da dos na América do Norte, uma fábrica
Santa Helena, próximo a Sorocaba, além na Bolívia e detém participações acio-
dos novos fornos em fábricas no Sul e nárias em empresas no Chile, Argentina,
Nordeste. Somando tudo, o Uruguai, Paraguai e Bolívia.
avanço do setor de cimento da Com 11 mil funcionários, a
Votorantim durante os anos empresa está entre as 150
70 foi muito significativo. Em melhores empresas para tra-
1980, o setor de cimento ini- balhar segundo o Guia Você
ciou a substituição de sua ma- S.A. / Exame 2009. Em 2008,
triz energética. obteve receita líquida de R$
Já, na década de 90, a 7,4 bilhões, geração lí-
indústria do cimento quida de caixa (EBITDA)
nacional sentiu os efei- A Votorantim Cimentos de R$ 2,2 bilhões e in-
tos da estabilização da planeja seus preços vestiu R$ 1,3 bilhão em
economia e do aumento em função dos seus projetos CAPEX (Capital
do poder aquisitivo da custos, procurando a Expenditure – capital
população. Segundos da- remuneração justa ao utilizada para adqui-
dos do SNIC, em 1995, negócio de cimentos e rir ou melhorar os bens
o setor ultrapassou as derivados, o que varia de físicos da empresa ). É
28 milhões de toneladas acordo com localização parte integrante do Gru-
produzidas. das fábricas, processos po Votorantim, um dos
A virada do século marca de produção e maiores conglomerados
na Votorantim o processo contingências logísticas. empresariais da Améri-
pioneiro de internacio- ca Latina, com atuação
nalização, puxado pelo destacada nas áreas in-
negócio cimentos em 2001. dustrial, serviços financeiros
Ao longo da primeira década e novos negócios.
de 2000 a empresa fez novas A Votorantim Cimentos tem
aquisições e reforçou seu po- 40% de participação no mer-
sicionamento estratégico nas cado brasileiro e uma capa-
Américas. cidade instalada de aproxi-
madamente 30 milhões de
I bracon – H oje a companhia toneladas/ano.
controla empresas que atuam na produção A Votorantim Cimentos planeja seus
de cimento , cal , argamassa e concreto . preços em função dos seus custos pro-
Quantas unidades compõem o grupo em cada curando a remuneração justa ao negócio
ramo de atuação ? Q ual seu market share de cimentos e derivados. É importan-
nesses ramos ? C apacidade de produção ? te ressaltar que a transparência é im-
V olume de vendas em cada ramo? N úmero de prescindível na precificação de nossos
funcionários ? produtos, o que varia de acordo com
Marcelo C hamma – A Votorantim Cimen- localização das fábricas, processos de
tos é uma das dez maiores empresas de produção e contingências logísticas.

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I bracon – Q uando e por que a Votorantim superior a R$ 2 bilhões. Parte disso já
Cimentos iniciou seu processo de foi aplicado ou está em andamento des-
internacionalização ? P ara aonde a empresa de 2007. Está em operação duas novas
pensa em investir nos próximos anos ? fábricas integradas, contempladas nesse
Marcelo C hamma – O primeiro passo para a plano - uma em Porto Velho (RO), com
internacionalização aconteceu em 2001, capacidade de produção de 750 mil to-
com a aquisição da St. Marys Cement, neladas; e outra em Xambioá (TO), com
em Ontário, Canadá. Foram compradas capacidade de 1 milhão de toneladas.
duas plantas de cimento, em Bowman- Também está em pleno funcionamento
ville e em St. Marys; e uma moagem de as fábricas recém-construídas em Aratu
cimento em Detroit (Michigan), assim (BA), Pecém (CE) e Barcarena (PA), além
como vários terminais de distribuição de outras unidades que foram reativa-
de cimento e instalações para concreto das, ampliadas e modernizadas em todo
e agregados. território nacional.
Em 2003, a companhia adqui- As fábricas que entraram em
riu 50% da Suwannee American operação em 2009 e as que
Cement, na Flórida, e o con- entrarão em 2010 vão gerar
trole da S&W Materials Inc., um aumento de 5,25 milhões
concreteira na região de Jack- de toneladas adicionais de ci-
sonville (Flórida) e que, pos- mento por ano.
teriormente, integrou-se
ao Anderson Group e pas- I bracon – Q uais os
sou a se chamar Trinity mais recentes avanços
Materials. As fábricas que tecnológicos implantados
Em 2005, a Votorantim entraram em nas fábricas da V otorantim
Cimentos adquiriu duas operação em 2009 e as Cimentos no país ?
plantas de cimentos e que entrarão M arcelo C hamma – Uma
terminais de distribuição em 2010 vão gerar um notória inovação no pro-
na região dos Grandes aumento de 5,25 milhões cesso de fabricação da
Lagos: Charveloix (Michi- de toneladas adicionais Votorantim Cimentos é a
gan) e Dixon-Marquette de cimento por ano. produção de pozolana a
(Illinois), ativos integra- partir de argila calcina-
dos à St. Marys. Em 2007, da em quatro unidades
comprou a concreteira da empresa – Cocalzinho
Prestige, sediada na Fló- (GO), Paulista (PE), No-
rida (EUA) e, mais recentemen- bres (MT) e Porto Velho (RO).
te, adquiriu a Prairie, líder em Nestas unidades, o percentu-
concreto e agregados no meio- al de uso da pozolana para a
oeste norte americano, com fabricação do cimento varia
sede em Chicago (Illinois). de 30% a 50%, dependendo da
A Votorantim Cimentos está necessidade de cada cliente.
presente na América do Nor- Os cimentos com adição de
te com 30% de participação de pozolana apresentam maior
mercado na região dos Grandes Lagos e resistência aos sulfatos, maior inibição
15% de participação de mercado no Es- da reação álcali/agregado, menor calor
tado da Flórida. de hidratação , maior impermeabilidade
e maior resistência mecânica.
I bracon – Q uais as previsões de investimentos Por esses motivos esses cimentos são
para os próximos anos no B rasil ? muito utilizados na construção de bar-
Marcelo Chamma – A Votorantim Cimentos ragens. Para construção das Usinas de
possui um plano de expansão definido Santo Antonio e Jirau , no Rio Madeira
até 2011, que engloba um investimento (RO), serão consumidos grandes volumes

[Concreto & Contruções] | 10 |


personalidade entrevistada
desse cimento e a fornecedora será a condições diferenciadas em relação à
Votorantim Cimentos. qualidade de seus processos industriais.

I bracon – C omo é o controle de qualidade do I bracon – O que a indústria cimenteira no


cimento nas fábricas da Votorantim antes de B rasil e no mundo tem feito para reduzir as
ser ensacado e ser vendido ? emissões de gases poluentes e para contribuir
M arcelo Chamma – A Votorantim Cimentos com a sustentabilidade do setor ?
tem um centro técnico em Curitiba, com Marcelo Chamma – A Votorantim Cimentos
inúmeros técnicos, mestres e doutores, sempre considerou a eficiência energéti-
laboratórios de ponta que têm a finali- ca e a gestão do carbono fatores rele-
dade de cuidar da qualidade de produtos vantes em sua estratégia empresarial.
e processos de fabricação do cimento. Prova disso é o pioneirismo da empresa
Em todas as fábricas, também existem no setor, com a publicação do seu inven-
técnicos experientes e labora- tário de gases de efeito estu-
tórios avançados para garantir fa, totalmente validado por
a qualidade do produto. auditorias externas. E também
uma das pioneiras no estabele-
I bracon – P or que o cimento e cimento de metas de redução
o concreto destacam - se como dos gases do efeito estufa.
materiais construtivos mais Em 2007, a empresa já havia
largamente empregados ? superado a meta esta-
Marcelo C hamma – Trata-se belecida para 2012, que
do segundo produto mais previa a diminuição de
consumido pelo homem, A Votorantim Cimentos
10% em relação às emis-
depois da água. O cimen- é uma das pioneiras
sões de CO2 geradas em
to está presente em pra- no estabelecimento de
1990, atingindo taxa de
ticamente 100% de todas metas de redução dos redução de 13,6%.
as construções existen- gases do efeito estufa; A Votorantim Cimentos
tes, seja de habitações, em 2007, a empresa já possui uma das menores
seja de infraestrutura. havia superado a meta emissões de CO2 bruto do
estabelecida para 2012. mundo, considerando as
I bracon – Q uais são os empresas integrantes do
parâmetros de qualidade CSI - Cement Sustainabi-
e produtividade da lity Initiative. Enquanto
Votorantim C imentos? a média global do setor
M arcelo C hamma – A Votoran- é de 657kg de emissão de CO 2
tim Cimentos realiza investi- por tonelada de cimento, a
mentos em diversos setores, Votorantim Cimentos Global
como tecnologia limpa; par- (que engloba Votorantim Ci-
que industrial moderno, com mentos Brasil e VCNA) emite
otimização de plantas; bus- 627kg.
ca permanente de eficiência Desde 2001, a Votorantim Ci-
energética a partir do uso de mentos é co-fundadora do CSI
combustíveis alternativos, como bio- – Cement Sustainability Initiative, enti-
massa e resíduos industriais; e uso cada dade que reúne as 18 maiores cimentei-
vez maior de novas matérias-primas ras mundiais e que busca alternativas
para serem adicionadas ao cimento, de viáveis para processo de produção que
forma a reduzir a participação do clín- proporcionem a redução das emissões
quer (matéria-prima básica formada a dos gases do efeito estufa.
partir do aquecimento do calcário e da A Votorantim Cimentos participa tam-
argila) na produção de cimentos. bém do WBCSD (World Business Council
Essas iniciativas colocam a empresa em for Sustainable Development - Conselho

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Empresarial Mundial para o Desenvolvi- empreiteiras, transformadores, reven-
mento Sustentável), buscando se alinhar das de materiais de construção e consu-
às melhores práticas ambientais. midores em geral.
O Conselho de Clientes, formado por 20
I bracon – A s especificações de cimentos clientes de cada região do Brasil, se re-
atuais atendem plenamente o mercado úne a cada dois meses para a troca de
construtivo nacional ? experiências. Com isso, a Votorantim
M arcelo C hamma – A variedade de cimen- Cimentos pode adotar novos processos e
tos acompanha a crescente sofisticação metodologias baseadas em informações
da construção civil, o que demonstra obtidas diretamente com o mercado.
uma significativa evolução. O parque Das melhorias mais simples às propostas
da Votorantim Cimentos, por exemplo, mais complexas, diversas idéias que sur-
compete em todos os aspectos com os gem das reuniões do Conselho têm sido
mais avançados do mundo (alta implementadas com sucesso.
tecnologia, inovação, uso de Para garantir a qualidade dos
recursos alternativos, moder- produtos e dos serviços ofere-
nidade nos processos, entre cidos, a Votorantim Cimentos
outros). investe no desenvolvimento
de pessoas e no aprimora-
I bracon – D os projetos nos quais mento das competências
a V otorantim participou ,
internas. O Canal do
qual considera exemplar
Conhecimento promo-
do ponto de vista do avanço
Recentemente, foi ve, além da integração
da tecnologia do concreto
criado pela Engemix entre os profissionais, a
no país ?
o projeto perda zero, disseminação da cultura
Marcelo Chamma – Foram que consiste em reduzir organizacional em todas
inúmeros. Recentemen- o volume de resíduos as regiões onde a empre-
te, foi criado pela Enge- gerados nas betoneiras sa atua. As informações
mix - negócio concreto e diminuir a quantidade estão dispostas em um
da Votorantim Cimentos de água usada nas único portal, garantin-
- o projeto perda zero, centrais dosadoras do que todos os funcio-
que consiste em reduzir de concreto.
o volume de resíduos ge- nários tenham acesso,
rados nas betoneiras e independentemente de
diminuir a quantidade de sua localização. Outra
água utilizada nas centrais do- vantagem desse forma-
sadoras de concreto. to é proporcionar a inclusão
digital em todos os níveis da
I bracon – Q uais pontos o senhor organização.
destaca em relação à gestão
empresarial na Votorantim I bracon – Q ual sua avaliação da

Cimentos? função e das ações do I nstituto

M arcelo Chamma – É importan- B rasileiro do C oncreto?


te ressaltar que, entre várias iniciati- M arcelo Chamma – O Instituto Brasileiro
vas pioneiras, a Votorantim Cimentos do Concreto tem um papel importante
também foi a responsável por iniciar em especial para o setor da construção
ações de relacionamento com clientes, civil.
mercado e comunidades. Com ações es- O conteúdo técnico gerado pelo instituto
pecíficas para cada público, a empresa possibilita um importante embasamen-
estimula o fortalecimento dos vínculos to para os profissionais da área, além
comerciais com todos os participantes dos interessantes encontros promovidos
de sua cadeia de valor: construtoras pelo órgão. n

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solucionando problemas
solucionando problemas
lições sobre gerenciamento de projetos

Discussão dos aspectos


técnicos contribuintes
à ruptura de uma
escavação a céu aberto
Eduardo Dell´Avanzi • Roberto Dalledone Machado
Centro de Estudos em Engenharia Civil – Universidade Federal do Paraná

José R. S. Quevedo – Diretor de Relações com o Mercado


EGEL Engenharia Geotécnica

Adhara Palácios Guizelini


Programa de Pós-Graduação em Construção Civil – Universidade Federal do Paraná

1. INTRODUÇÃO singular do potencial de perdas de vidas hu-

A
arte de projetar em Engenharia manas, qualquer obra de engenharia, mes-
relaciona diversos aspectos, tais mo as menores ou mais simples, deve ser
como: a adequação à concepção projetada e executada, observando-se os
arquitetônica; a segurança contra a ruína bons princípios da Engenharia ditados pelas
da edificação; a avaliação do desempenho normas técnicas competentes.
em serviço; a economia de materiais; o Neste artigo, pretendemos descrever
processo construtivo; e o respeito ao meio e discutir os sucessivos vícios de condução
ambiente. Todos esses fatores estão asso- de um projeto de engenharia de uma obra
ciados e não se pode admitir, atualmente, de múltiplos subsolos que culminaram com
algum projeto que não contemple cada um o colapso da cava de escavação em três
deles de maneira concreta e clara. frentes de serviço. Felizmente, os prejuí-
Independentemente do porte da obra, é zos ocorridos, além dos atrasos inevitáveis
fundamental que os seus projetistas respei- nos cronogramas, foram apenas econômi-
tem as abordagens técnicas que garantem cos. Mais do que informar, gostaríamos de
níveis adequados de segurança às soluções salientar alguns procedimentos de geren-
da Engenharia. Evitariam assim o empirismo ciamento de projeto que poderiam ter evi-
subjetivo, que, muitas vezes, apresenta so- tado todos os transtornos ocorridos.
luções dúbias com exposição exagerada ao
risco. É razoável esperar que obras de maior 2. DESCRIÇÃO DO
porte sejam tratadas com maior rigor, pois EMPREENDIMENTO
as possibilidades de colapso podem gerar O empreendimento em questão refe-
conseqüências graves em termos econô- re-se a um estabelecimento comercial de
micos e ambientais. Porém, sob o aspecto grande porte concebido para proporcio-

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nar ao cliente requinte, diversidade de cerca de 14m da linha de divisa do lote.
produtos e serviços, com facilidade de Ao longo do lado B, tem-se a presença
estacionamento. Para tanto, o projeto de um aterro de acesso a um importante
original previa a execução de três subso- viaduto distante 32m da crista da esca-
los, salão de vendas e estruturas anexas vação executada previamente no local.
para fins de administração e estocagem. Pelo acesso do lado C, existia a passagem
A concepção inicial estabelecia uma es- enterrada de uma rede de fibras óticas,
trutura de contenção autoportante inde- que era considerada uma importante in-
pendente da superestrutura. A superes- fovia da cidade.
trutura, por sua vez, foi concebida de A Figura 2 mostra esquematicamente
forma mista, onde os subsolos, salão de um corte parcial da estrutura, onde se
vendas, administração e estocagem se- podem observar os três pavimentos de
riam em concreto armado pré-moldado e subsolo. Nesta região, em especial, as
a cobertura em estrutura metálica apoia- profundidades de escavação variaram
da nos pilares pré-moldados de concreto. entre 12m e 13,5m, considerando-se,
A Figura 1 mostra esquematicamente o por último, as cotas das bases dos blo-
lay-out da obra, destacando-se em (A) o cos de fundação dos pilares próximos à
acesso frontal da obra, em (B) o acesso contenção.
lateral 1, em (C) o acesso lateral 2 e em Para executar uma obra desse por-
(D) o terreno vizinho. A área da constru- te, de maneira geral, pode-se dividir
ção corresponde a 38.500m2 aproxima- os sistemas de gerenciamento de um
damente, sendo o volume de escavação projeto de engenharia em dois grandes
igual a 103.000m3. A geometria do terre- grupos. O primeiro caracteriza-se por
no assemelha-se a um polígono irregular, empresas que possuem departamen-
com medidas de 87 metros de compri- tos de engenharia consolidados e estes
mentos (lados A e D) e larguras variando mesmos conduzem o gerenciamento dos
entre 110m e 97m (lados B e C). Ao longo trabalhos de arquitetura, de engenha-
dos lados A, B e C a edificação é acessível ria e de compatibilização dos projetos
por meio de três vias distintas enquanto complementares com critérios técnicos
que aos fundos, lado D, faz divisa com e econômicos concisos e claros. Uma
uma instituição privada que possui sede das vantagens desse tipo de sistema é
edificada de três pavimentos, distante a maior sinergia entre fornecedores e

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solucionando problemas
o cliente. Em contrapartida, os custos de cobertura e geotécnico (contenções e
financeiros para manutenção de um fundações). O balizamento da empresa
departamento de Engenharia são al- proprietária na contratação das soluções
tos, justificando-se, somente em casos de engenharia foi o custo de execução,
onde a empresa deverá executar diver- donde os custos com os projetos deve-
sas obras, ou quando o ramo de sua ati- riam ser arcados pelos respectivos forne-
vidade já possui um departamento com cedores. Ou seja, quem executa, proje-
tais características. O segundo grupo de ta. Dessas conversações, ficou acertado
gerenciamento caracteriza-se pela con- em comum acordo entre os projetistas
tratação, por parte do cliente, de uma de estruturas, o geotécnico (fundações
empresa para gerenciamento dos proje- e contenções) e a empresa proprietária
tos de engenharia. Essa empresa assume da obra que todos os empuxos horizontais
a responsabilidade pela elaboração e deveriam ser integralmente absorvidos
compatibilização dos projetos de enge- pelas estruturas de contenções, visan-
nharia e arquitetura necessários. Nesse do diminuir os custos da estrutura pré-
caso, é conveniente a contratação de moldada de concreto. Logo, as estruturas
serviços de auditoria de engenharia, pré-moldadas não foram projetadas nem
para garantir que os anseios do cliente executadas para suportar quaisquer es-
sejam atendidos pela contratada. forços decorrentes dos empuxos do ter-
No caso em questão, a empresa pro- reno. Esse fato mostrou-se crucial para
prietária da obra assumiu o encargo de as intervenções que se fizeram necessá-
gerenciamento do projeto, tomando-se rias posteriormente, devido aos proble-
para si o processo decisório das soluções mas ocorridos com as estruturas de con-
de engenharia. Carecendo de corpo técni- tenções e que serão discutidos adiante.
co habilitado para tal fim, a empresa pro- Tal fato induziu severas limitações para
prietária da obra conduziu conversações a recuperação estrutural da obra. Afinal
multilaterais visando contratar a execu- de contas, enquanto as escavações eram
ção de quatro projetos distintos, quais realizadas, as estruturas pré-moldadas
sejam: de arquitetura, estrutura pré- estavam sendo produzidas e já estavam
moldada de concreto, estrutura metálica disponíveis para a colocação em obra

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quando houve a necessidade de interven- tirantes, posicionada ao longo da viga
ção na mesma. de coroamento do paramento de conten-
ção, era composta por tirantes com in-
3. DESCRIÇÃO DO clinação de 45º, enquanto que a segunda
ACIDENTE OCORRIDO linha de tirantes, localizada à altura da
O local do empreendimento localiza-se laje de piso do 1 o subsolo, era composta
no bairro do Tarumã, cidade de Curitiba- por tirantes com inclinação vertical de-
PR, sobre uma formação geológica carac- finida a partir da horizontal igual a 10º.
terística da região, denominada de for- A terceira linha de tirantes, localizada
mação Guabirotuba. Essa formação possui aproximadamente ao nível das lajes do
por características um elevado estado de 2º subsolo, era constituída por tirantes
pré-adensamento do solo e a presença de com inclinação de 5º. Baseando-se em
argilominerais do grupo esmectita-mont- informações fornecidas pelos repre-
morilonita, altamente expansivos, quando sentantes da proprietária do empreen-
não confinados. dimento, os tirantes foram executados
O projeto original da contenção era com 8 m de comprimento total, incluin-
composto por um paramento em estacas do 3 m de trecho livre de ancoragem.
hélice contínuas monitoradas, com diâ- Em 2008, durante a execução das esca-
metros variando entre 30 cm e 40 cm, e vações, quando, em alguns pontos da obra,
executadas com espaçamentos entre ei- já se havia atingido a cota inferior mínima
xos longitudinais variando entre 60 cm de projeto, ocorreu a primeira perda de
e 68 cm, interligadas por uma viga de equilíbrio de uma das contenções executa-
coroamento em concreto armado. Com- das. O problema se deu ao longo da cortina
plementando o paramento, o projeto da atirantada do Lado C (Figura 1). Ao mesmo
estrutura de contenção previu a execu- tempo, foram observados significativos mo-
ção de três linhas de tirantes definitivos, vimentos das contenções nos Lados B e D,
distantes 1,9m horizontalmente entre sem, contudo, ocorrerem rupturas do talu-
si, alinhados tanto verticalmente quan- de. Como medida para contornar a questão,
to horizontalmente. A primeira linha de a empresa executora foi orientada a realizar

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solucionando problemas
uma segunda cortina de estacas com 50 cm saios de laboratório. A auditoria do pro-
de diâmetro a alguns metros para o lado de jeto original indicou que as plantas de
fora da estrutura que rompeu, isto é, para o detalhamento da estrutura de contenção
lado das vias de acesso. Poucos dias depois, continham somente detalhes esquemáti-
o problema se repetiu. Insistiu-se novamen- cos, sem indicação de seção transversal
te em uma terceira linha de estacas, agora tipo desenhada em escala. O potencial de
com 70cm de diâmetro, nos mesmos moldes erros com a adoção de tal procedimento
que as duas anteriores, quando a ruptura do é alto e sempre deve ser evitado.
talude ganhou maiores proporções. Nessa Como ação emergencial deliberada por
mesma ocasião, também ocorreram rupturas parte da equipe de auditores, foi requisi-
nos taludes dos lados B e D. As Figuras 3 e 4 tada a interrupção imediata do processo
mostram imagens das contenções rompidas executivo, recomendando-se a execução
ao longo dos lados C e D, respectivamente. de uma berma com solo adequado para fins
Foi nesse cenário que os autores do de conter as escavações nos lados C e D. O
presente artigo foram chamados para au- volume de terra necessário para essa ope-
ditar as causas do insucesso do projeto ração foi significativo, representando um
de contenção da cava de escavação. O re-trabalho de encher novamente parte
procedimento de auditoria consistiu na considerável da cava escavada.
reavaliação do projeto, incluindo a ve-
rificação das hipóteses e parâmetros de 4. AUDITORIA DO
projeto adotados. Para tanto, necessi- PROJETO ORIGINAL
tou-se da realização de uma campanha Cruzando-se as informações prove-
de prospecção do subsolo comprobatória, nientes das sondagens de campo com os
composta por novas sondagens e coleta comprimentos previstos das estacas de
de blocos indeformados de solo para en- fundação e contenção, observou-se que

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as profundidades das sondagens executa- do empreendimento, tanto na cota do
das não alcançavam a cota da ponta pre- fundo da escavação, como nas regiões ao
vista para as estacas de fundação do em- longo da crista da escavação
preendimento. Deste modo, decidiu-se É de conhecimento da Mecânica dos
pela realização de uma campanha com- Solos que os empuxos horizontais de terra
probatória de sondagens a percussão para são função do estado de pré-adensamento
reavaliação das espessuras das camadas do solo e da rigidez da estrutura de conten-
de solos do local, incluindo o posiciona- ção em permitir ou não deslocamentos da
mento do lençol freático. As informações massa de solo potencialmente mobilizada.
levantadas indicam que o subsolo do lo- Quanto mais rígida for a estrutura de con-
cal é constituído por uma camada de silte tenção, maior será a tendência em não per-
argiloso de coloração cinza-avermelhado mitir o desconfinamento da massa de solo e,
(formação Tinguís), de consistência va- por conseguinte, mais próximo do estado de
riando de média a rija, com espessura va- repouso (caracterizado por deformações ho-
riando entre 6m e 9m, sobreposto a uma rizontais nulas) será o estado de tensões do
camada de areia argilosa cinza-esverdea- solo atuando no paramento de contenção. A
da (formação Guabirotuba). Ambas as for- norma brasileira de segurança de escavação
mações são caracterizadas pela presença a céu aberto, NBR 9061, considera estes as-
de argilo-minerais do grupo esmectita. pectos quando da definição dos procedimen-
Tal característica indica que esses solos tos normativos de avaliação dos empuxos de
possuem um alto potencial de expansão terra. Para o caso em questão, consideran-
quando não confinados, o que pode ser do-se as características de expansibilidade
comprovado na Figura 3 pela perda de do solo e a solução do paramento de con-
solo entre as estacas de contenção. En- tenção, os empuxos de terra necessariamen-
saios de laboratório para a determinação te deveriam ter sido avaliados próximos ao
da pressão de expansão de amostras con- estado de repouso do solo. As formulações
finadas sob processo de umedecimento comumente utilizadas na Mecânica dos Solos
indicaram que o solo vermelho apresenta indicam que, quanto maior for a tensão de
pressões de expansão variando entre 120 pré-adensamento em relação a tensão ver-
kPa e 160 kPa. As sondagens indicaram tical atuante, maior será o coeficiente de
presença de nível d’água variando entre empuxo no repouso. Nesse caso, observou-se
1,5m de profundidade e 5m de profundi- que a razão de pré-adensamento variou en-
dade. Foram coletados blocos indefor- tre 8,81, próxima à superfície, a 2,28, a dez
mados dos solos característicos da região metros de profundidade. Isso significou que

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solucionando problemas
o coeficiente de empuxo no repouso variaria (ruptura por cisalhamento do solo). Consi-
entre 1,35, para profundidades próximas a derando-se as magnitudes de k 0 , pôde-se
superfície original do terreno, e 0,89, a dez estimar que as tensões horizontais atuan-
metros de profundidade. tes ao longo do paramento variariam en-
A estabilidade da estrutura de conten- tre 24,5 kPa, na superfície do terreno, a
ção foi avaliada considerando-se diagra- 175 kPa, na região do fundo da escavação.
mas trapezoidais de tensões (Figura 5). O Os cálculos indicaram que seria necessário
dimensionamento geotécnico verificou a adotar para a estrutura de contenção ao
estabilidade quanto a deslocamentos ho- longo da rua A comprimentos de fichas de
rizontais, tombamentos (Figura 6), rup- embutimento mínimas iguais a:
tura de fundação e estabilidade global n 9m de comprimento para cortes até
10m de profundidade;
n 7m de comprimento para cortes até
8m de profundidade;
n 6m de comprimento para
cortes até 6m de profundidade.
Já os comprimentos de ficha de embuti-
mento ao longo do acesso B deveriam pos-
suir comprimentos mínimos iguais a:
n 11m na região da escavação com
até 10m de profundidade;
n 9m na região da escavação com até
8m de profundidade;
n 7m na região da escavação com até
6m de profundidade.
O paramento de contenção localizado
no lado D deveria ter a sua ficha de em-
butimento aumentada para 10m de com-
primento para garantia da estabilidade da
cava de escavação.
Em todos os casos analisados, a esta-

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executado. Tal procedimento
visou estimar qual o diâmetro
de estaca e respectiva arma-
dura necessária para garantia
da estabilidade da escavação.
O dimensionamento do para-
mento de contenção obede-
ceu às prescrições normativas
da NBR-6118/03. Simulou-se
o processo gradativo de esca-
vação, de modo a verificar as
situações de esforços críticos
sobre a estrutura do paramen-
to, incluindo a remobilização
do empuxo do solo, devido à
deformação da estrutura de
contenção. Apresenta-se na
Tabela 1 um resumo dos esfor-
ços e deslocamentos máximos
previstos durante o processo
construtivo. Como ilustração,
apresentam-se nas Figuras 7 e
8 os diagramas de esforços e
momentos atuantes ao longo
de uma estaca do paramento
de contenção para a situação
bilidade global da estrutura de contenção anterior à instalação da 2ª linha de tiran-
somente seria garantida com a utilização tes e anterior à instalação da 6ª linha de
de tirantes ativos (protendidos) temporá- tirantes, respectivamente.
rios. Como exemplo, os resultados das aná- As análises indicaram a necessidade
lises de estabilidade indicaram que, inde- de adoção de estacas justapostas (sem
pendentemente da situação, a cortina de espaçamento entre elementos) com 70cm
estacas na região do corte de 10m neces- de diâmetro. A armadura longitudinal das
sitaria de seis linhas de tirantes, para ga- estacas do paramento de contenção foi
rantia da estabilidade global da estrutura calculada assumindo-se aço tipo CA-50A e
com fatores de segurança iguais ou acima concreto classe C20. A armadura longitudi-
do nível mínimo preconizado pelas normas nal necessária para garantia da integridade
NBR – 11682 (estabilidade de taludes) e estrutural do elemento deveria ser com-
NBR – 9064 (escavação a céu aberto). Os posta por 16 barras de 20mm de diâmetro
comprimentos livres de ancoragem teóri- de aço, enquanto que a armadura transver-
cos dos tirantes foram definidos conside- sal seria composta por 1 barra de 10mm de
rando-se as disposições normativas da NBR diâmetro, posicionada a cada 9cm.
5629/94 – Execução de Tirantes Ancorados Comparando-se o projeto original ao
no Terreno. Neste caso, os comprimentos necessário para garantia da estabilidade,
livres de ancoragem mínimos variaram de pode-se concluir que as tensões horizontais
12,5m para a 1ª linha de tirantes a 3m de foram subestimadas entre 50% (na base da
comprimento para a 6ª linha de tirantes. escavação) e 300% (próximo à superfície).
Os comprimentos mínimos de ancoragem A subestimativa das tensões horizontais
estimados variaram entre 8m para a 1ª li- atuantes sobre o paramento de contenção
nha de tirantes a 12m para as 4ª e 5ª li- induziu a um subdimensionamento estrutu-
nhas de tirantes. Adotou-se um paramen- ral deste, culminando com a ruptura por
to de contenção similar ao originalmente cisalhamento do paramento em uma das

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solucionando problemas
frentes de escavação (Figura
9). Observa-se na Figura 9 que
as barras de armadura longitu-
dinal não contribuíram para o
combate ao cisalhamento, pois
essas se deformaram pelo efei-
to de pino (NBR 6118/03).
Aliando-se à subestimativa
das tensões horizontais, o de-
sempenho do projeto original
foi profundamente prejudi-
cado pela inclinação equivo-
cada nas sucessivas linhas de
tirantes. O vício da inclinação
errônea dos tirantes foi iden-
tificado desenhando os deta-
lhes construtivos do projeto
original em escala. Apresenta-
se, na Figura 10, uma compa-
ração entre o desenho esque-
mático proposto pela empresa
de geotecnia (Figura 10-a) e o
respectivo desenho em escala
(Figura 10-b). Analisando-se
a Figura 10-b, pode-se observar que, pe- executada). Tal fato pôde facilmente ser
las inclinações indicadas para as 2ª e 3ª constatado em campo observando-se o
linhas de tirantes, há interferência dire- alinhamento vertical das linhas sucessivas
ta na 1ª linha de tirantes (previamente de ancoragens (Figura 11) e também con-

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forme indicado no projeto fornecido pela 12m, enquanto que os comprimentos das
empresa originalmente contratada. Tal in- 2ª e 3ª linhas deveriam ser, respectiva-
terferência induziu a uma perda substan- mente, superiores a 9m e 4m.
cial da eficiência do tirante devido a: (a) Um outro vício fundamental de con-
sobreposição dos bulbos de transferência cepção do projeto original de contenção
de carga do tirante para o solo; (b) dano foi a definição de execução das estacas
à barra do tirante da 1ª linha pela passa- do paramento afastadas cerca de 65cm
gem da sonda rotativa durante execução entre eixos longitudinais. Tal disposi-
da 2ª linha, não tendo sido improvável ção construtiva induziu a ocorrência de
o corte das barras da 1ª linha. Esse erro trechos sucessivos de solo não confina-
na concepção do projeto contribuiu deci- do com largura variando entre 30cm e
sivamente para a instabilidade da estru- 45cm. Devido à natureza expansiva do
tura de contenção. Da Figura 1, pode-se solo em questão (verificada nos ensaios
concluir que não foram respeitados os es- de laboratório), o detalhe construtivo de
paçamentos horizontais constantes entre afastamento das estacas do paramento
ancoragens de uma mesma linha. Aliado à contribuiu para ocorrência do efeito de
subestimativa das tensões atuantes e, por expansão do solo contido, observado no
conseguinte, das cargas de trabalho das campo por um desplacamento gradativo
ancoragens, os comprimentos livres de de porções do solo não confinado locali-
ancoragem adotados pela empresa origi- zado entre estacas. O efeito de perda de
nalmente contratada feriram os preceitos solo entre as estacas também contribuiu
normativos indicados pelas NBR 5629/96 para a instabilidade da cortina de conten-
e NBR 9061/96. O comprimento de anco- ção. A auditoria do projeto indicou que a
ragem da 1ª linha deveria ser superior a definição de espaçamento entre estacas

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solucionando problemas
do paramento de contenção deveria ter pré-adensamento do solo;
sido definida em conjunto com a neces- n c) Subestimou os carregamentos
sidade de fechamento das aberturas com atuantes, especialmente o empuxo
concreto estrutural. A ausência da in- do terreno;
formação explícita da necessidade deste n d) Não avaliou adequadamente o fluxo
procedimento no projeto de contenção de água percolando para dentro da
fornecido pela empresa originalmente escavação;
contratada viola as prescrições normati- n e) Não armou adequadamente as
vas definidas pela NBR 9061/96 para este
estacas da cortina, que sofreram
tipo de situação. Como agravamento do
ruptura por cisalhamento;
problema, o projeto original não consi-
n f) O espaçamento entre as estacas
derou o fluxo de água durante períodos
chuvosos. Análises de fluxo de água tri- foi superior ao necessário, permitindo
dimensional saturado/não saturado reali- a exposição do solo e a sua expansão.
zados pela equipe de auditoria indicaram
que, com o paramento permeável, a cava 5. PROJETO DE
de escavação tenderia a ficar alagada du- ESTABILIZAÇÃO
rante períodos de precipitação intensa. DA CAVA
Tal fato foi comprovado em campo (Fi- O projeto de estabilização da cava
gura 12). envolveu soluções particulares de en-
Assim, de maneira geral, pode-se genharia, uma vez que a estrutura pré-
afirmar que, entre outros fatores, o pro- moldada de concreto já tinha sido usi-
jeto de contenções original incorreu nos nada desconsiderando-se a absorção dos
seguintes erros: esforços advindos do empuxo de terra da
n a) Previu a execução de tirantes com contenção. O projeto de estabilização
inclinações inadequadas e no mesmo partiu, então, de duas premissas: (a)
alinhamento vertical; estabilização provisória da cortina de
n b) Desconsiderou os aspectos de contenção para possibilitar a abertura

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de frente de trabalho da superestrutura estrutura de contenção e de um plano
e recuperação das vias secundárias de de gerenciamento de risco. O projeto de
tráfego de veículos danificadas durante instrumentação contemplou o monitora-
a ruptura da contenção original; e (b) mento dos deslocamentos do paramento,
estabilização definitiva da contenção. as pressões de água na massa de solo e
O projeto necessariamente envolveu os possíveis deslocamentos na região da
a modelagem do processo construtivo ficha de embutimento do paramento. O
da contenção definitiva, uma vez que a plano de gerenciamento de risco guiou
execução desta obrigatoriamente esta- as equipes de campo na comparação do
ria ligada à demolição da cortina rom- desempenho observado (aferido a partir
pida. A estabilização provisória da con- dos deslocamentos da face do paramento
tenção foi executada com seis linhas de medidos por topografia) ao desempenho
tirantes com cargas de trabalho varian- previsto (conforme indicado na Tabela
do entre 200kN e 600kN. A estabilização 1). O plano de gerenciamento do risco da
definitiva da obra envolveu a construção obra definiu três níveis de desempenho
de contrafortes em concreto armado ao denominados de normalidade, de atenção
longo dos lados B e C, e de uma grelha e de colapso iminente. O nível de norma-
metálica ao longo do lado D da cava de lidade foi definido para deslocamentos
escavação, que foi absorvida por uma iguais ou menores que os deslocamentos
estrutura de concreto armado moldada estimados no projeto. O nível de atenção
in loco. O processo de estabilização de- foi definido para deslocamentos superio-
finitiva envolveu também a elaboração res aos deslocamentos de projeto, mas
de um plano de descarregamento grada- inferiores aos deslocamentos estimados
tivo dos tirantes provisórios e monito- para o paramento, considerando-se a si-
ramento da transferência de carga aos tuação anterior à instalação de uma linha
contrafortes. de tirantes. O nível de colapso iminente
Devido às especifidades do projeto de foi definido caso ocorressem deslocamen-
estabilização, a sua implementação en- tos iguais ou superiores aos deslocamen-
volveu, obrigatoriamente, a elaboração tos previstos para a situação anterior à
de um projeto de instrumentação para instalação de uma linha de tirantes. Para
monitoramento do desempenho real da facilitar o entendimento do risco por par-

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solucionando problemas
te das equipes de campo, cada nível de desempenho de uma solução de
desempenho foi identificado pelas cores engenharia devem sempre prevalecer
verde, amarelo e vermelho. Ao final da sobre os critérios econômicos de
escavação, observou-se que os desloca- implementação da solução;
mentos do paramento sempre estiveram n Quando da necessidade de contratação
dentro da normalidade. Como exemplo, de um serviço especializado, deve-se
quando da escavação dos 10m de profun- procurar evitar contratar a execução de
didade, a instrumentação indicou deslo- serviços especializados com inclusão
camentos da base do paramento de con- do fornecimento da solução. Tal
tenção iguais a 3,17cm, contra os 3,31cm procedimento contribui para evitar
previstos na Tabela 1. vícios de uma solução “técnica”
voltada apenas à facilidade da execução
6. CONCLUSÕES ou aos interesses do construtor, em
Foram apresentados os aspectos técni- detrimento da qualidade necessária
cos que contribuíram para a instabilidade ao projeto. A regra básica deveria ser
de uma escavação a céu aberto e ruptura da “quem projeta não executa, quem
cortina de contenção na cidade de Curitiba/ executa não projeta”. Caso não seja
PR. A escavação, com profundidades varian- possível executar esta regra, dever-se-ia
do entre 8m e 12m, visava à construção de contratar uma auditoria independente
três subsolos para servirem de área de esta- de engenharia para avaliação da
cionamento de um centro comercial. A au- solução proposta. Uma auditoria de
ditoria do projeto original indicou a existên- engenharia visa prevenir erros e vícios
cia de vários vícios de projeto, tais como: na concepção do projeto de engenharia.
cruzamento de tirantes; subestimativa das A auditoria não é obrigatoriamente
forças de empuxo dos solos; e subdimensio- restrita a grandes projetos de engenharia,
namento do paramento de contenção, den- mas concerne à complexidade e à
tre outros. O projeto de estabilização da singularidade de cada projeto de
cava de escavação necessitou de soluções engenharia. Os resultados de uma
não triviais de contenção, uma vez que a auditoria fornecem subsídios para
estrutura dos subsolos não foi dimensiona- aumento da segurança e minimização
da originalmente para suportar as cargas de do risco de falha de projetos de
empuxo do solo. De todo o ocorrido pode-se engenharia, possibilitando a
tirar as seguintes lições: minimização de custos com retrabalhos,
n Os princípios técnicos que regem o reforços e indenizações.

Referências Bibliográficas
[01] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11682 Estabilidade de
taludes, 1991
[02] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5629 Execução de tirantes
ancorados no terreno, 1996
[03] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118 Projeto de estruturas
de concreto armado, 2003
[04] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122 Fundações – projeto
e execução, 1996
[05] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9061 Segurança de escavação
a céu aberto, 1985
[06] DELL’ AVANZI, E.; MACHADO, R. D.; QUEVEDO, J.R.S.; GUIZELINI, A.P., COLLE NETO,
S. - Discussão sobre os Aspectos Geotécnicos Contribuintes à Ruptura de
Uma Escavação a Céu Aberto em Curitiba, PR. Anais do 5º Congresso Internacional
sobre Patologia e Reabilitação de Estruturas, CINPAR 2009, Junho / 2009 n

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acontece nas regionais

ABNT NBR 15146:2004


em processo de revisão
A
s propostas de alteração da Nor- que reativou a Comissão nos quadros da
ma Brasileira ABNT NBR 15146 ABNT. “Estamos no momento certo de re-
– Controle Tecnológico do Con- visar a norma, pois ela acaba de completar
creto – Qualificação de Pessoal foram cinco anos”, completa.
apresentadas e discutidas no último dia 1º Um dos requisitos a serem reavaliados
de março, na sede da Associação Brasilei- é o que se relaciona com as categorias
ra de Cimento Portland – ABCP. Estiveram profissionais que fazem o controle tecno-
presentes representantes dos laboratórios lógico do concreto: auxiliar de laborató-
Carlos Campos, Concremat, Daher Tecno- rio, laboratorista, tecnologista e inspetor.
logia, EPT e Falcão Bauer, do Instituto de “A Comissão procurará rever o conteúdo
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São normativo de cada uma dessas catego-
Paulo – IPT, da Anchortec, da Constru- rias, estipulando, por exemplo, o grau de
tora Andrade Gutierrez, da Construtora escolaridade e a experiência profissional
Odebrecht, da Petrobras, da Universida- necessária”, aponta o professor Simão
de Mackenzie, e das entidades Associa- Priszkulnik, coordenador dos trabalhos na
ção Brasileira das Empresas de Serviço de Comissão de Estudos.
Concretagem – ABESC, Associação Brasi- O IBRACON toca um Programa de Qua-
leira de Normas Técnicas – ABNT, Núcleo lificação e Certificação de Pessoal que já
de Qualificação e Certificação de Pessoal certificou três turmas de profissionais de
– NQCP e Instituto Brasileiro do Concreto controle tecnológico do concreto e tem,
– IBRACON. assim, interesse em revisar a ABNT NBR
Formada em fevereiro último, a Comis- 15146 para intensificar esse processo de
são de Estudos de Controle Tecnológico do qualificação dos profissionais da cadeia
Concreto - Qualificação de Pessoal está em produtiva do concreto.
pleno processo de revisão da norma bra-
sileira ABNT NBR 15146. Um cronograma Consulta Nacional
de reuniões estabelece que a Comissão vai Durante os próximos seis meses, a Co-
se reunir toda primeira segunda-feira do missão de Estudos estará empenhada em
mês, na ABCP. Todos estão convidados a elaborar um texto-base de atualização da
participar das discussões e dos trabalhos ABNT NBR 15146. A partir do texto-base,
da Comissão. a Comissão de Estudos deve discutir e
“O texto da norma vigente precisa ser chegar ao consenso quanto às modifica-
atualizado, porque diversos ensaios previs- ções necessárias na Norma, aprovando o
tos na ABNT NBR 15146 foram revisados, Projeto para que seja submetido à Con-
gerando necessidade de adequação e ajus- sulta Nacional; processo realizado por
tes nos procedimentos previstos e também meio eletrônico, com duração mínima de
a reavaliação de alguns de seus requisi- 60 dias corridos, que possibilita que qual-
tos”, explica a engenheira Inês Battagin, quer pessoa acesse o texto e encaminhe
superintendente do Comitê Brasileiro de seu voto e seus comentários ao Projeto da
Cimentos, Concretos e Agregados da ABNT, Norma via site da ABNT.

[Concreto & Contruções] | 26 |


acontece nas regionais
Após esse processo, as sugestões rece- “Acredito que, até o final de 2010, já
bidas são analisadas pela Comissão de Estu- teremos uma nova norma publicada”, pre-
dos, para serem implementadas ao Projeto vê Battagin.
da Norma. Se este for aprovado, é, então, Para mais informações sobre a Comis-
encaminhado para homologação e publica- são de Estudos, acesse:
ção como Norma Brasileira, substituindo a IBRACON: www.ibracon.org.br
norma até o momento vigente. ABNT: www.abnt.org.br

Programe-se para obter a Certificação


Profissional de Controle Tecnológico
do Concreto

J
á está disponível o calendário de quanto aos aspectos positivos e negativos
exames 2010 do Programa de Qua- em seu processo de avaliação.
lificação e Certificação de Pessoal
vinculado ao Instituto Brasileiro do Concre- Centros de Exames de Qualificação
to – IBRACON. ABCP
Acreditado pelo Instituto Nacional de Associação Brasileira de Cimento Portand – Unidade São Paulo
Metrologia, Normalização e Qualificação Av. Torres de Oliveira, 76 - Jaguaré - São Paulo - SP
Industrial - INMETRO, o IBRACON, através
de seu Núcleo de Qualificação e Certifica- Alphageos Tecnologia Aplicada  S.A.
ção de Pessoal (NQCP), programou para o Rua João Ferreira de Camargo, 703 – Tamboré - Barueri - SP
ano corrente um conjunto de exames para
certificação dos profissionais de controle EPT - Engenharia e Pesquisas Tecnológicas
Av. São José, 450 - Ayrosa - Osasco - SP
tecnológico do concreto (veja tabela).
Os interessados devem inscrever-se
Escola SENAI - SP “ORLANDO LAVIERO FERRAIUOLO”
no Programa, acessando o site
R. Teixeira de Melo, 106 - Tatuapé – São Paulo – SP
www.ibracon.org.br, preenchendo a ficha
de inscrição e entregando ao NQCP os do- ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica
cumentos pessoais, o comprovante de ex- Praça Marechal Eduardo Gomes, 50 –São José dos Campos – SP
periência profissional e o exame de acuida-
de visual requeridos para a certificação. SEQUI – Gerência de Certificação, Qualificação
Para obter o certificado, emitido pelo e Inspeção de Engenharia
Conselho de Certificação, o candidato pre- Petrobras – Petróleo Brasileiro SA
cisa obter de 70 a 80% de aprovação nos
exames teórico geral (avaliação dos conhe- TECOMAT - Tecnologia da Construção e Materiais LTDA
cimentos nas áreas de matemática e cál- R. Serra da Canastra, 391 - Cordeiro – Recife - PE
culo; segurança do trabalho; calibração de
equipamentos; comportamento em labora- Mais informações sobre o Pro-
tório; manuseio de instrumentos; e norma- grama podem ser obtidas no site
lização), teórico específico (avaliação dos www.ibracon.org.br, tais como: Manual do
conhecimentos relativos às normas técnicas Candidato; Bibliografia técnica; Documen-
específicas para cada categoria profissional), tação; e Investimentos. n
e exame prático (avaliação do
desempenho do profissional
na prática, nos laboratórios
conveniados, simulando uma
situação típica do cotidiano
de trabalho do profissional).
Por fim, passa ainda por uma
entrevista de caráter técnico-
pedagógico, onde é orientado

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pesquisa e desenvolvimento
a impermeabilização e a norma de desempenho

Impermeabilização
versus nbr 15.575 –
norma de desempenho
Marcos Storte – Gerente de Negócios
Viapol Ltda

1. Introdução uso, e não na prescrição de como os tipos

N
ormas de desempenho são esta- de impermeabilização são aplicados.
belecidas buscando atender exi- A forma de estabelecimento do de-
gências dos usuários, que, inde- sempenho é comum e internacionalmente
pendentemente dos materiais constituintes pensada por meio da definição de requisi-
e do sistema construtivo utilizado, têm o tos (qualitativos), critérios (quantitativos
foco nas exigências da impermeabilização, ou premissas) e métodos de avaliação, os
ou de maneira mais ampla, da estanquei- quais sempre permitem a mensuração cla-
dade, quanto ao seu comportamento em ra do seu cumprimento.
As normas, assim elaboradas, visam, de

Figura 1 - Aplicação de manta asfáltica com maçarico em laje

[Concreto & Contruções] | 28 |


pesquisa e desenvolvimento
Figura 2 - Etapa do processo construtivo do Viaduto Ferroviário sobre a Rodovia SP 330,
que usou manta asfáltica na impermeabilização do tabuleiro

um lado, incentivar e balizar o desenvolvi- normas estão identificadas entre aspas (“) e
mento tecnológico e, de outro, orientar a meus comentários em texto corrente.
avaliação da eficiência técnica e econômi- Na NBR 15.575, temos inúmeras defini-
ca das inovações tecnológicas. ções e entre elas considero relevante co-
Normas de desempenho traduzem as mentar algumas, conforme segue:
exigências dos usuários em requisitos e n Durabilidade - “Capacidade do edifício
critérios, e não substituem as normas ati- ou de seus sistemas de desempenhar
nentes à impermeabilização; todavia são suas funções, ao longo do tempo e sob
complementares a estas últimas. condições de uso e manutenção
Por sua vez, as normas sobre imper- especificadas, até um estado limite
meabilização estabelecem requisitos de utilização.”
com base no uso consagrado de produtos Como podemos ter durabilidade em uma
ou procedimentos, buscando o atendi- estrutura de concreto sem estanqueidade,
mento às exigências dos usuários de for- se a passagem de água acarreta corrosão
ma indireta. nas armaduras e deterioração do concreto?
A abordagem deste artigo explora con- n Manutenção - “Conjunto de atividades
ceitos que, muitas vezes, não são conside- a serem realizadas e respectivos recursos
rados em normas prescritivas específicas para conservar ou recuperar a capacida
como, por exemplo, a durabilidade dos ti- de funcional da edificação e de seus
pos de impermeabilização, a manutenabili- sistemas constituintes de atender as
dade da edificação, o conforto do usuário e necessidades e segurança dos seus
a integridade estrutural da edificação. usuários.”
Em caso de infiltração, não podemos
1.1 Histórico usar as áreas afetadas, alterando a capa-
Para estabelecermos uma visão sistê- cidade funcional da edificação, bem como
mica, vamos verificar as interfaces da NBR temos conseqüências, tais como: refa-
9574 e NBR 9575, normas de Impermeabi- zimento de pinturas; troca de carpetes;
lização, com a NBR 15.575, norma de de- danos a equipamentos e veículos; riscos à
sempenho das edificações. As referências às instalação elétrica.

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Figura 3 - Manta asfáltica aplicada em laje

n Manutenabilidade - “Grau de facilidade dade ou molhagem exige uma impermeabi-


de um sistema, elemento ou componente lização adequada.
em ser mantido ou recolocado no “O conceito se repete nas exigências do
estado no qual pode executar suas usuário relativas à sustentabilidade quan-
funções requeridas, sob condições de do se fala de durabilidade.”
uso especificadas, quando a manutenção Como podemos ter durabilidade com
é executada sob condições determinadas, ausência de estanqueidade em uma estru-
procedimentos e meios prescritos.” tura de concreto?
Se tivermos uma área impermeabilizada Como podemos atender à sustentabili-
com proteção mecânica, somos obrigados dade se tivermos que demolir e refazer a
a demolir, remover o acabamento do piso mesma área diversas vezes, para manter a
e paredes, proteção e impermeabilização estanqueidade, dentro da expectativa de
existentes, impedindo o uso dos locais e, vida útil da edificação?
com isso, aumentando o grau de dificulda- O objetivo é termos uma edificação
de para solução ao caso. onde a impermeabilização, em seu papel
“Na Parte 1, item 4 – Exigências dos de garantir estanqueidade, é muito im-
usuários relativas à segurança é expressa portante, pois impacta no uso, na manu-
por vários fatores, sendo o primeiro deles tenabilidade, na durabilidade, na funcio-
a segurança estrutural.” nalidade, nos custos de refazimento, no
Certamente, instalado um processo de incremento do desgaste da relação usuá-
deterioração do concreto e corrosão das rio/edificador, na sustentabilidade e res-
armaduras, provocados por infiltrações, peito ao meio ambiente.
temos o comprometimento da segurança Nesta fase, é importante observarmos
estrutural. na NBR 15.575 - Parte 1, item 6.6 - Relação
“O mesmo ocorre com as exigências do entre Normas:
usuário relativas à habitabilidade onde um “Quando uma norma brasileira prescri-
dos principais fatores é a estanqueidade.” tiva contiver exigências suplementares à
Podemos tê-la de várias maneiras, mas presente Norma, elas devem ser integral-
uma área sujeita a contato com água, umi- mente cumpridas”.

[Concreto & Contruções] | 30 |


pesquisa e desenvolvimento
Vamos explorar as normas referentes à n “Projeto básico de impermeabilização
impermeabilização na ABNT: – Conjunto de informações gráficas e
n A “NBR 9574:2008 – Execução de descritivas que definem as soluções
Impermeabilização estabelece em seu de impermeabilização a serem
escopo as exigências e recomendações adotadas numa dada construção,
relativas à execução de impermeabilização de forma a atender às exigências
para que sejam atendidas as condições de desempenho em relação à
mínimas de proteção da construção estanqueidade dos elementos
contra a passagem de fluidos, bem construtivos e à durabilidade frente
como a salubridade, segurança e à ação de fluidos, vapores e umidade.”
conforto do usuário, de forma a ser “O projeto básico deve compatibilizar
garantida a estanqueidade das partes os demais projetos da construção, de modo
construtivas que a requeiram.” a equacionar adequadamente as interferên-
“A NBR 9574 se aplica às edificações e cias existentes entre todos os elementos e
construções em geral, em execução ou su- componentes construtivos. Pela sua carac-
jeitas a acréscimo ou reconstrução, ou ainda terística, deve ser feito durante a etapa de
àquelas submetidas a reformas ou reparos.” coordenação geral das atividades de proje-
n A “NBR 9575:2003 – Impermeabilização to e deve compor os documentos do proje-
– Seleção e projeto, estabelece as to básico de arquitetura, definido na NBR
exigências e recomendações relativas 13532 ou, na ausência desse, deve compor
à seleção e projeto de impermeabilização, o projeto executivo de arquitetura.”
para que sejam atendidas as condições Ainda, na NBR 9575, define-se, no item
mínimas de proteção da construção Seleção, o seguinte:
contra a passagem de fluidos, bem “O tipo adequado de impermeabiliza-
como a salubridade, segurança e ção a ser empregado na construção civil
conforto do usuário, de forma a ser deve ser determinado segundo a solicita-
garantida a estanqueidade das partes ção imposta pelo fluido nas partes cons-
construtivas que a requeiram.” trutivas que requeiram estanqueidade. A
“A NBR 9575 se aplica às edificações solicitação pode ocorrer de quatro formas
e construções em geral, em execução ou distintas, conforme a seguir:
sujeitas a acréscimo ou reconstrução, ou n a) imposta pela água de percolação;
ainda àquelas submetidas a pequenas re- n b) imposta pela água de condensação;
formas ou reparos e podem estar integra- n c) imposta pela umidade do solo;
dos ou não a outros sistemas construtivos n d) imposta pelo fluido sob pressão
que garantam a estanqueidade das partes unilateral ou bilateral.”
construtivas, devendo, para tanto, ser ob- As normas citadas buscam o mesmo con-
servadas normas específicas que atendam ceito - estanqueidade - e isso significa que a
a esta finalidade.” norma NBR 15.575 deve ser entendida e apli-
Na NBR 9575, temos inúmeras defini- cada, mas sem desconhecermos às exigências
ções e entre elas considero relevante co- existentes nas normas de impermeabilização,
mentar algumas, conforme segue: onde devemos discutir e estabelecer as solu-
n “Estanque – Elemento (ou conjunto de ções e procedimentos necessários a este fim.
componentes) que não se deixa Parece uma narrativa elíptica, mas,
atravessar por fluidos.” para entendermos melhor as interfaces,
n “Estanqueidade – Propriedade de um voltamos a NBR 15.575, Parte 1, onde en-
elemento (ou de um conjunto de contramos as mesmas preocupações evi-
componentes) de impedir a penetração denciadas em definições e requisitos, con-
ou passagem de fluidos através de si. forme segue:
A sua determinação está associada a n Estanqueidade
uma pressão limite de utilização (a que Em 10.1 – Generalidades.
se relaciona com as condições de “A exposição à água de chuva, à umida-
exposição do elemento).” de proveniente do solo e àquela provenien-

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te do uso do edifício habitacional, inclusive n c) impermeabilização (3.23) de
quanto à condensação, devem ser conside- fundações e pisos em contato com
radas em projeto, pois a umidade acelera o solo;
os mecanismos de deterioração e acarreta n d) ligação entre os diversos elementos
a perda das condições de habitabilidade e da construção (como paredes e
de higiene do ambiente construído.” estrutura, telhado e paredes,
Em 10.2 - Requisito de estanqueidade a corpo principal e pisos ou calçadas
fontes de umidade externas à edificação. laterais).”
“Assegurar estanqueidade às fontes de Em 10.3 - Requisito de estanqueidade a
umidades externas ao sistema.” fontes de umidade internas à edificação.
Em 10.2.1 - Critério de estanqueidade “Assegurar a estanqueidade à água uti-
à água de chuva e à umidade do solo e do lizada na operação e manutenção do imó-
lençol freático. vel em condições normais de uso.”
“Atendimento aos requisitos especifica- Observamos que a estanqueidade é im-
dos nas Partes 2 a 5 desta Norma.” portante e necessária para cumprir com a
Em 10.2.2 - Método de avaliação. NBR 15.575 - Parte 1, item 4 – Exigências dos
“Análise do projeto e métodos de en- usuários.Mais claro isto tudo fica, quando en-
saio especificados nas Partes 2 a 5 desta tramos na discussão do Anexo C, nas Consi-
Norma.” derações sobre durabilidade e vida útil.
Em 10.2.3 - Premissas de projeto. n A vida útil de projeto (VUP) é
“Devem ser previstos nos projetos a basicamente uma expressão de caráter
prevenção de infiltração da água de chuva econômico de uma exigência do usuário.
e da umidade do solo nas habitações por Isso significa avaliarmos os riscos ineren-
meio dos detalhes indicados a seguir: tes a manutenabilidade e o impacto da im-
n a) condições de implantação dos permeabilização, que fica evidente na clas-
conjuntos habitacionais, de forma a sificação das tabelas, C.1; C.3, C.4 e C.7.
drenar adequadamente a água de chuva É visível a importância da impermeabili-
incidente em ruas internas, lotes zação nas edificações, pois, ao conferirmos
vizinhos ou mesmo no entorno próximo as normas, observamos que a habitabilida-
ao conjunto; de, a segurança da estrutura, a funciona-
n b) impermeabilização de porões e lidade da edificação, a manutenabilidade,
sub-solos, jardins contíguos às depende da estanqueidade.
fachadas e quaisquer paredes em O custo de uma impermeabilização cor-
contato com o solo; ou pelo reta gira entre 1% e 3% do custo da obra,
direcionamento das águas, sem prejuízo mas sabemos que uma intervenção pós-
da utilização do ambiente e dos obra eleva este custo a cerca de 10%, sem
sistemas correlatos e sem comprometer contar o desgaste inevitável da relação
a segurança estrutural; usuário/incorporador ou construtora.

[Concreto & Contruções] | 32 |


pesquisa e desenvolvimento
Em uma palestra de 2009 do Eng. Prof. busca soluções de impermeabilização a
Dr. Enrique Gonzalez Valle, intitulada “A serem adotadas numa dada construção,
patologia das estruturas de concreto: suas de forma a atender às exigências de de-
origens e evolução”, ele expôs uma pes- sempenho em relação à estanqueidade
quisa da Espanha com a origem dos erros, dos elementos construtivos e à durabi-
conforme segue: lidade frente à ação de fluidos, vapores
e umidade; e mais: que possamos ter as
interfaces com a norma 15.575, usadas
corretamente.
Se a maior origem de erros está nos
projetos, podemos imaginar as conseqüên-
cias do desconhecimento das normas que
nos orientam e disciplinam esta fase.
E se não tivermos os projetos, como va-
Fica claro a importância de termos mos saber onde erramos? Na conceituação?
um projeto de Impermeabilização que Na execução?

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Como vamos evitar a reincidência dos presença de umidade comprometem todos
mesmos erros? requisitos demandados.
Como efetuar reparos ou manutenção? O código de ética profissional do CON-
FEA, Resolução 1002/2002, no Artigo 9º,
2. Incumbências dos estabelece que, no exercício da profissão,
intervenientes são deveres do profissional adequar sua for-
ma de expressão técnica às necessidades
2.1 Projetistas do cliente e às normas vigentes aplicáveis.
Vemos uma grande oportunidade de A palavra chave é Especificação.
expansão do trabalho dos projetistas,
que terão que “projetar” diferente e 2.2 Fabricantes
cumprir com análise de projetos de ou- O fornecedor ou prestador de serviços
tras áreas, onde a habitabilidade, fun- deve cumprir com as normas técnicas dos
cionalidade e segurança no uso e ope- produtos ou serviços estabelecidas pelo CB 22
ração da edificação serão os requisitos – Comitê Brasileiro de Impermeabilização.
mais demandados. Como as normas prescrevem técnicas e
O projetista da impermeabilização tem requisitos para que um produto ou serviço
essas responsabilidades, cumprindo com as seja de boa qualidade, o fornecedor tem
normas existentes, especificando adequa- obrigação de cumpri-las, conforme esta-
damente, detalhando a execução, anali- belecido Código de Defesa do Consumidor,
sando os ensaios, pois uma infiltração ou a Art. 20, § 2º, impróprio.

[Concreto & Contruções] | 34 |


pesquisa e desenvolvimento
O CDC estabelece ainda no Art. 39º: “É ve- o objetivo de atender as necessidades dos
dado ao fornecedor de produtos e serviços: usuários de imóveis, dentro de determi-
Alínea VIII – colocar, no mercado de nadas condições de exposição, ao longo
consumo, qualquer produto ou serviço em de uma vida útil de projeto e no contex-
desacordo com as normas expedidas pelos to do ambiente regulatório, econômico e
órgãos oficiais competentes ou, se normas social brasileiro.
específicas não existirem, pela Associação Esta norma é uma ferramenta para o
Brasileira de Normas Técnicas ou outra en- usuário estabelecer programas de manu-
tidade credenciada pelo Conselho Nacional tenção corretiva e preventiva.
de Metrologia,Normalização e Qualidade Quem define a VUP deve também esta-
Industrial – CONMETRO.” belecer as ações de manutenção que devem
Já o Código Civil estabelece, no art. 615, ser realizadas para garantir o atendimento
conseqüências para o não cumprimento: à VUP. É necessário salientar a importância
“Concluída a obra de acordo com o ajus- da realização integral das ações de manu-
te, ou o costume do lugar, o dono é obriga- tenção pelo usuário, sem o que se corre o
do a recebê-la. Poderá, porém, rejeitá-la, risco de a VUP não ser atingida.
se o empreiteiro se afastou das instruções Por exemplo, uma impermeabilização
recebidas e dos planos dados, ou das regras exposta ao intemperismo em coberturas não
técnicas em trabalhos de tal natureza.” transitáveis pode ser projetada para uma
Este é um desafio constante aos fabri- VUP de 12 anos, desde que a sua espessura
cantes, que precisam responder à deman- seja recomposta a cada 5 anos, no máximo.
da de produtos cada vez mais adequados Se o usuário não realizar a manutenção pre-
à relação Custo/Resultado e não à relação vista, a VU real da impermeabilização pode
Custo/Benefício, face às exigências da ser seriamente comprometida.
NBR 15.575. Por conseqüência, as eventuais patolo-
A palavra chave é Inovação. gias resultantes podem ter origem no uso
inadequado e não em uma construção falha.
2.3 Construtoras O usuário de uma edificação tem li-
Entre outras leituras, a NBR 15.575 serve mitações econômicas no momento de sua
para referenciar a responsabilidade dos cons- aquisição, mas pode não tê-las no futuro.
trutores, pois estabelece requisitos de qua- Então, em princípio, pode optar por uma
lidade e referências temporais de vida útil menor VU em troca de um menor inves-
que é diferente dos prazos das garantias. timento inicial, mas esta escolha tem um
O construtor é o primeiro responsável e limite inferior, abaixo do qual não é acei-
solidário pelas falhas dos elos anteceden- tável do ponto de vista social, pois esta si-
tes de todos os serviços e produtos usados tuação impõe custos exagerados de reposi-
na edificação, tais como, projetistas, for- ção no futuro para a toda a sociedade.
necedores de produtos e serviços, como Aspectos legais também estão envolvi-
estabelece o CDC, no artigo 25: dos no caso de negligência da manutenção
“§ 1º - Havendo mais de um responsável das estruturas.
pela causação do dano, todos responderão Além das características legais que a le-
solidariamente pela reparação prevista gislação municipal de centros urbanos exige
nesta e nas Seções anteriores. de suas autoridades constituídas, estas têm
§ 2º - Sendo o dano causado por com- o dever de alertar aos proprietários ou ges-
ponente ou peça incorporada ao produto tores de edificações sobre suas responsabi-
ou serviço, são responsáveis solidários seu lidades frente ao Código Civil Brasileiro, ar-
fabricante, construtor, importador que re- tigo n.º 937 da lei n.º 10406 de 10/01/2002.
alizou a incorporação.” Este documento registra expressamente:
A palavra chave é Sustentabilidade. “O dono do edifício ou construção res-
ponde pelos danos que resultarem de sua
2.4 Consumidor ruína, se esta provier de falta de reparos,
Podemos entender a NBR 15.575 com cuja necessidade fosse manifesta.”

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Assim, os gestores de edifícios são res- tivas dos produtos, abrange também requisi-
ponsáveis, civil e criminalmente, por even- tos postulados nas normas de elaboração de
tuais falhas estruturais, descuidos e suas projetos e de desempenho das edificações,
conseqüências. E, por isso, devem ter co- que espelha a expectativa do usuário.
nhecimento de procedimentos a tomar na Isto significa a necessidade de pensar-
contratação de equipes para avaliação e mos profundamente no desempenho da
conforme o caso, para recuperação e im- impermeabilização e das edificações, pois
permeabilização das estruturas. temos um paradigma de sustentabilida-
A palavra chave é Responsabilidade. de ambiental implícito.A construção civil,
(kerorguen-2005) é responsável por 40% de
3. Considerações toda emissão mundial de CO², pela extra-
finais ção de 40% de todos os recursos naturais e
Quando discutimos expectativa de vida pela produção de 40% de todos os rejeitos
útil de uma impermeabilização na edifica- produzidos no planeta.
ção, no âmbito técnico, pensamos sempre Considerando que os edifícios duran-
em especificações, custos, tempo de exe- te seus 50 anos de vida útil média, cons-
cução, mão de obra qualificada, garantias, trução, manutenção e demolição, conso-
pós-obra. mem segundo (Adam-2001), 50% de toda
Estamos começando a pensar em susten- energia global, pode-se afirmar categori-
tabilidade como um contexto mais amplo, camente que esta indústria representa a
onde uma impermeabilização eficiente e efi- atividade humana de maior impacto so-
caz, como estabelecido nas normas prescri- bre o meio ambiente.

Referências Bibliográficas
[01] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15.575 – Edifícios habitacionais
de até cinco pavimentos – Desempenho. Parte 1: Requisitos gerais. São Paulo – SP, 2007.

[02] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9575 – Impermeabilização – Seleção


e projeto. São Paulo – SP, 2003

[03] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9574 – Execução


da Impermeabilização, São Paulo – SP, 2008.

[04] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13532 - Elaboração de projetos


de edificações - Arquitetura – Procedimento. São Paulo – SP, 1995

[05] ANAIS DO 3º Seminário de Normas Técnicas – Foco nas normas de desempenho -


Secovi/Sinduscon. São Paulo – SP, 2008.

[06] KERORGUEN, Y. La construction durable devient um enjeu stratégique pour les entreprises.
Paris; La Tribune, 2005.

[07] ADAM, R. S. Princípios do ecoedíficio; integração entre ecologia, consciência e edifício.


São Paulo - SP; Aguariana, 2001

[08] VALLE, G. E. A patologia das estruturas de concreto: suas origens e evolução.


São Paulo – SP, curso de Patologia nas obras civis, 2009.

[09] CONSELHO FEDERAL DE ENGENHARIA E ARQUITETURA. Código de ética profissional -


Resolução 1002. Brasília – DF, 2002

[10] LEI 8078. Código de Defesa do Consumidor. Brasília – DF, 1990

[11] LEI 10.406. Código Civil Brasileiro. Brasília – DF, 2002 n

[Concreto & Contruções] | 36 |


mercado nacional
mercado nacional

Desempenho recente
do setor da Construção
e perspectivas para
os próximos anos
Paulo Macena – Analista Setorial
AllConsulting

O
ano de 2009 começou em Contudo, ainda nos primeiros meses
meio a uma crise financeira do ano, o governo lançou um plano de in-
mundial que trouxe uma série centivo à construção de moradias popu-
de complicações à maioria dos setores lares e criou medidas como a redução de
econômicos no país. Nesse período, o impostos sobre o preço dos materiais de
setor de construção civil sentiu uma de- construção. Essas ações beneficiaram di-
saceleração na atividade, uma vez que retamente a construção civil, que voltou
havia incerteza no mercado. a intensificar seus investimentos.

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A criação do programa habitacional pelo fato de se tratar de ano eleitoral,
“Minha Casa, Minha Vida” deu novo ânimo período em que, historicamente, o go-
ao mercado imobiliário e impulsionou as verno realiza maiores investimentos em
vendas de imóveis nos meses seguintes. obras públicas.
A recuperação da economia do país, Cabe destacar, no entanto, que o
que foi sentida de maneira mais inten- foco das construtoras deverá ser o pri-
sa a partir do segundo semestre do ano meiro semestre do ano, visto que, em
passado, foi muito importante para a ano de eleições presidenciais, um clima
retomada do setor, através da recupe- de incerteza provoca queda na deman-
ração do nível de emprego e do aumento da e na tomada de financiamentos de
da renda da população, pois contribuiu longo prazo.
para aumentar a confiança do trabalha- Além disso, como forma de evitar
dor e, com isso, melhorar os ânimos na aumento de inflação, o governo já de-
construção civil de uma maneira geral, monstrou que a taxa Selic irá subir, o
impulsionando as vendas do setor e as que naturalmente impacta negativa-
contratações de mão-de-obra. mente a venda de imóveis.
Neste último ano, a construção ci- O ganho de participação no mercado
vil apresentou consecutivas melhoras e a conquista de melhores resultados
no nível de emprego. De acordo com o não irão depender apenas do cenário
SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da macro, mas, principalmente, das estra-
Construção Civil do Estado de São Pau- tégias de cada construtora, do estoque
lo) e FGV (Fundação Getulio Vargas), de terrenos que possui e das oportuni-
no acumulado até o mês de novembro, dades que poderá tirar proveito.
o setor apresentou um total de 2,35 De uma maneira geral, podemos in-
milhões de empregados, o que já re- ferir que existirá forte demanda por
presenta um crescimento de 12,8% em serviços de construção no país, po-
relação ao número de empregados ao rém ocorrerá de maneira segmenta-
término de 2008. da e pulverizada no mercado, não se
restringindo apenas ao Sudeste. Obras
Perspectivas para escolares, em hospitais (públicos e pri-
o setor em 2010 vados), em estádios de futebol, refor-
Após encerrar 2009 em alta, a ex- ma e construção de fábricas e hotéis,
pectativa é de que a construção civil construção de espaços culturais, entre
seja o destaque entre os setores que outros, são apenas alguns exemplos
irão gerar vagas em 2010. As contrata- que contribuirão para o aquecimento
ções deverão se manter aquecidas em do setor em 2010.
todos os níveis, desde os primeiros me- Vale frisar que investidores estran-
ses do ano. As perspectivas são de que geiros já estão de olho no país e nas
aproximadamente 200 mil vagas sejam oportunidades que estão surgindo. Mui-
criadas no ano. tos investimentos já estão saindo do
Além da continuidade na contrata- papel. Porém, é essencial que as cons-
ção de funcionários, estima-se também trutoras se antecipem e deem aten-
para o ano de 2010 que o setor deverá ção às demandas que estão nascendo,
apresentar um bom desempenho em re- caso contrário, poderão correr o risco
lação a novos empreendimentos. O mo- do acirramento da concorrência com a
mento favorável se dará em decorrência chegada de novas construtoras ao mer-
dos programas de moradia e também cado, provenientes do exterior.

[Concreto & Contruções] | 38 |


mercado nacional
Copa 2014 e dades como nas imediações, no intuito
Olimpíadas 2016 de oferecer infraestrutura adequada e
Alguns outros fatores devem aquecer condições de receber o contingente de
a construção civil este ano, dentre eles turistas e atletas de todo o mundo.
podemos citar: as obras do programa Nesse contexto, tanto os órgãos pú-
“Minha Casa, Minha Vida”; e os inves- blicos como as redes hoteleiras serão
timentos em infraestrutura necessários os principais contratantes dos serviços
para a realização da Copa de 2014 e da de construção.
Olimpíada de 2016 no Brasil. Em resumo, podemos concluir que com
Na atual conjuntura e mediante os a proximidade da realização dos grandes
dois eventos esportivos que o País irá eventos no país, a demanda por serviços
sediar nos próximos anos, podemos do setor deverá crescer gradativamente,
identificar como uma grande oportu- de modo a estimular também os segmen-
nidade para as construtoras o foco em tos que compõem essa cadeia, princi-
instalações desportivas e infraestrutura palmente o de materiais de construção.
(não pesada). Além disso, a expansão tende a ocorrer
O Rio de Janeiro será um grande foco de uma maneira menos concentrada, ou
de investimentos na preparação do mu- seja, abrangendo praticamente todas as
nicípio para os jogos olímpicos de 2016. regiões do país, o que beneficiará consi-
No país como um todo, em 12 capi- deravelmente as empresas do setor. De
tais, ocorrerão os jogos da Copa do Mun- uma maneira geral, as perspectivas são
do de 2014, que demandarão elevados bastante positivas para o mercado da
investimentos em obras tanto nessas ci- construção nos próximos meses. n

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Figura 1 - Corrosão dos tirantes da cortina Figura 2 - Parede da cortina com perda de seção
apresentando perda de seção das armaduras com indicação de presença de
cloretos (cor marrom, após aspersão de nitrato
de prata)

melhores práticas
análise e recuperação estrutural

Análise estrutural de
cortina atirantada em
iminência de colapso
devido à corrosão
de armaduras
Fábio Sérgio da Costa Pereira - Diretor
Engecal - Engenharia e Cálculos Ltda

1. Introdução gem constantes, estando inserida no nível de

A
Cortina em questão, situada na Av. agressividade IV de acordo com a NB-1, ou
Governador Silvio Pedroza, Praia seja, uma agressividade muito forte com risco
de Areia Preta,Via Costeira, possui de deterioração elevado(agressividade mais
um extensão de aproximadamente 240 m e severa existente). Após nove anos da reali-
encontra-se em contato direto e permanen- zação da última intervenção reparadora em
te com a água do mar e seus respingos, sen- suas estruturas, após vistoria, evidenciou-se
do submetida a ciclos de molhagem e seca- um estado de iminência de colapso estrutu-

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melhores práticas
Figura 3 - Corrosão com perda de seção das Figura 4- Corrosão com perda de seção das
armaduras de viga com indicação da não armaduras de viga com indicação da presença
penetração do gás carbônico na estrutura (cor de cloretos na estrutura (cor marrom, após a
rosa, após a aspersão da fenolftaleína) aspersão do nitrato de prata)

ral, devido à grande perda de seção produzi- postos ortogonalmente, fixados em pilares de
da em suas armaduras, partindo-se, então, de sustentação, que recebem amarração de uma
imediato, para a realização de uma avaliação viga corrida. A estrutura da avenida é compos-
completa de suas estruturas, com execução ta de uma viga corrida de maiores dimensões
de ensaios e elaboração de projetos de re- (40 x 70 cm), localizada sob o pavimento, que
cuperação e reforço de suas estruturas com recebe os engastes, tanto na viga em balanço
descrição das metodologias executivas a se- quanto na laje da faixa de rolamento. No topo
rem realizadas, visando, primeiramente, a da cortina há outra viga, denominada viga de
garantia da estabilidade global da estrutura crista, com dimensões de (40 x 50 cm), que
da Cortina e, em segundo lugar, o aumento da possui a função de amarração dos pilares da
vida útil da mesma cortina e sustentação do passeio público, exe-
cutado em laje maciça. Há, ainda, na extre-
2. DESCRIÇÃO midade externa das vigas em balanço, outra
DA CORTINA viga, também corrida, chamada viga de bordo
A estrutura da cortina atirantada consiste com dimensões de (25 x 40 cm), que serve
em uma cortina de 240 m de extensão e 4m de de apoio à laje do passeio. Ao longo da viga
altura, sustentada por pares de tirantes, dis- de bordo existem guarda-corpos em concre-

Figura 5 - Declividade do calçadão Figura 6 - Ensaios de cloretos e carbonatação


representando a movimentação da cortina em laje com corrosão, com perda de seção das
armaduras, evidenciando a presença de cloretos
no concreto e a não penetração do gás carbônico

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Figura 7 - Vigas em balanço com corrosão, Figura 8 - Viga com corrosão, com perda
com perda de seção das armaduras de seção das armaduras

to armado, protegidos por tubos de PVC com de prata(aspersão), indicando presença de


diâmetros de 100 e 150 mm. Os tirantes da manchas brancas e marrons nas superfícies
cortina têm um diâmetro de 32 mm. aspergidas,ou seja, presença de íons clo-
reto nas superfícies do concreto.
3. ANÁLISE ESTRUTURAL
Foram realizados ensaios na estrutura 3.4 Porosidade
da Cortina,visando obter informações so- Foram extraídas amostras de concreto
bre o estado de corrosão das armaduras e em sete pontos, sendo levadas ao labo-
das estruturas de concreto armado. ratório da UFRN para análise, conforme
a NBR-9778, apresentando resultados
3.1 Probabilidade de corrosão inferiores a 10% indicando, conforme a
Foram medidos doze pontos diferentes norma, concreto de boa qualidade e bem
da estrutura (vigas,pilares e lajes), utilizan- compacto (8,77%,7,33%,9,64%,9,32%,8,4
do o eletrodo de Cobre/Sulfato de Cobre 4%,8,33%,7,23%).
segundo a norma ASTM-C 876. Os valores
deram todos acima de –350mv, significando 3.5 Resistência à compressão
uma probabilidade de corrosão de 95% nas Foram extraídas seis amostras de cor-
armaduras analisadas (-476mv,-410mv,- pos-de-prova (10x20cm), que foram en-
452mv,-365mv,-388mv,-434mv,-412mv,- caminhadas para o rompimento no labo-
637mv,-354mv,-533mv,-456mv,-424mv). ratório da UFRN, apresentando em todos
os resultados valores satisfatórios supe-
3.2 Profundidade de carbonatação riores à resistência de 25 Mpa, prevista
e ph do concreto em projeto (25,44,26,84,26,75,31,22,26,
Foram medidos vários pontos da estru- 31,27,98).
tura pelos indicadores fenolftaleína e lápis Na vistoria realizada foram identifica-
medidor de ph observando-se que as estru- das fissuras da ordem de 0,2 a 0,4 mm de
turas não apresentaram carbonatação com espessura, medidas pelo fissurômetro nas
profundidade de 1 a 2 cm, com ph=8. paredes da cortina, evidenciando a movi-
mentação da cortina em virtude da acele-
3.3 Teor de cloretos rada corrosão das armaduras das vigas em
Foram extraídas amostras(pó) de seis balanço e dos tirantes ativos, com apre-
pontos na estrutura; os ensaios foram sentação, em alguns casos, de perda de
feitos por titulação pelo Método de Mohr seção das armaduras e, na maioria das es-
no laboratório da Universidade Federal truturas, a inexistência de armaduras pela
do Rio Grande do Norte (UFRN), apresen- ação dos cloretos. Essa movimentação da
tando valores acima do limite de 0,4% da cortina produziu uma grande declividade
massa do cimento indicado pelas normas em parte da calçada da orla marítima. Na
(0,42%,0,43%,0,47%,0,434%,0,43%,0,44%). documentação fotográfica estes detalhes
Foram feitas ainda medidas com o nitrato serão evidenciados.

[Concreto & Contruções] | 42 |


melhores práticas
Figura 9 - Viga em balanço com corrosão, Figura 10 - Viga com corrosão, com perda
com perda de seção das armaduras de seção das armaduras

4. Recuperação e projetarem camadas de concreto


reforço estrutural projetado de 5 cm de espessura e de
Após a análise dos resultados dos en- argamassa polimérica de 1 cm.
saios realizados, descritos anteriormente, n Nas vigas, também devido ao intenso
e exame visual in loco, realizou-se o pro- desgaste das armaduras com corrosão com
jeto de recuperação e reforço estrutural perda de seção quase total, optou-se pela
da Cortina, com a definição das seguintes ancoragem de novas armaduras principais e
metodologias executivas: estribos (12.5 mm e 5.0) em toda extensão
n Nas paredes, lajes e escadaria, devido das peças, com adesivo estrutural com furos
ao intenso desgaste das armaduras com de 10 e 5 cm de profundidade, com
corrosão com 50 % de perda de seção, brocas de 13 mm e 6 mm, respectivamente;
optou-se pela ancoragem de novas e aplicação de uma tela de zinco
armaduras principais e estribos (12.5 mm grampeada nas vigas de concreto,
e 5.0) em toda extensão das peças, com anteriormente ao hidrojateamento.
adesivo estrutural com furos de 10 e 5 cm Após o hidrojateamento de areia, será
de profundidade, com brocas 13 mm e aplicada a pintura anti-corrosiva de zinco
6 mm,respectivamente; e aplicação de nas armaduras antigas.
uma tela de zinco grampeada ao concreto n Visando o aumento de durabilidade das
em toda a extensão das lajes e escadaria, estruturas de concreto armado,
anteriormente ao hidrojateamento. resolveu-se aplicar também um aumento
Após o hidrojateamento de areia, será nas seções das vigas, com aplicação de
aplicada a pintura anti-corrosiva de zinco concreto projetado com aditivos, com
nas armaduras antigas, para, em seguida, 5 cm de espessura, e de argamassa

Figura 11 - Vigas em balanço com corrosão, com Figura 12 - Detalhe de viga em balanço com
perda de seção das armaduras corrosão, com perda de seção das armaduras

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polimérica com 1 cm. Com aplicação da tal falta de manutenção dos órgãos públicos
proteção catódica galvânica(tela de e a falta de consideração dos mesmos pelos
zinco) e a argamassa polimérica, a vida cidadãos que podem a qualquer momento
útil da estrutura da cortina terá um serem vítimas de um colapso estrutural, ao
significativo ganho de durabilidade. passarem em cima do calçadão da cortina.
n A resistência especificada para o A análise estrutural realizada concluiu que a
concreto projetado foi de 35 MPa. intervenção de recuperação e reforço estru-
n Os tirantes sem perda de seção, serão tural é urgente e inadiável, visando restabele-
submetidos à limpeza da corrosão, cer as condições da segurança global da corti-
através de hidrojateamento de areia na e também de proporcionar um aumento de
e posterior aplicação de pintura vida útil das estruturas de concreto armado,
anti-corrosiva de zinco, com proteção sem que isso retire a imperiosa necessidade
através de grout expansivo com de, ao longo dos anos, se realizarem manu-
recobrimento de 5 cm (formas). tenções periódicas por parte dos órgãos pú-
n Os tirantes com perda de seção, serão blicos, principalmente pela região altamente
substituídos por novos tirantes com o agressiva em que a obra está inserida.
mesmo diâmetro e mesma profundidade, Em se tratando de Brasil, onde não
com execução de nova protensão. se tem a prática de manutenções (nem
n As fissuras apresentadas na cortina preventivas,muito menos periódicas) pelos
receberão injeção de epóxi a cada 20 cm, órgãos públicos, espera-se que não se faça
em toda sua extensão, com furos de mais uma ação paliativa, e sim uma ação
10 cm de profundidade, com broca de mais duradoura, como foi proposto na aná-
diâmetro de 12.5 mm. lise estrutural realizada, para que se tenha
pelo menos um período com as estruturas
5. Conclusão que compõem a cortina em perfeito estado
O grau de deterioração em que se encon- de conservação, após a realização dos servi-
tram as estruturas da cortina, retratam a to- ços de recuperação e reforço estrutural. n

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solucionando problemas
solucionando problemas
lições aprendidas com inspeção de píer

Inspeção técnica do píer


de atracação de Tambaú
Antonio Nereu Cavalcanti – Engenheiro Civil
Guilherme Augusto D’Araújo Cavalcanti – Engenheiro Civil
Tecncon – Tecnologia do Concreto e Engenharia Ltda

1. Introdução do concreto que possam assegurar a du-

O
momento atual da Engenharia rabilidade das armaduras frente aos me-
Civil, no Brasil e no mundo, canismos de deterioração mais comuns.
tem se caracterizado por uma Essa nova visão foi também incorporada
grande preocupação com a qualidade e na revisão da NBR 12655:2006 – Concreto
a durabilidade das edificações e obras de Cimento Portland: preparo, controle
em geral, com vistas a contribuir para o e recebimento.
Desenvolvimento Sustentável. A durabili- Ainda com respeito às estruturas de
dade dos edifícios em concreto armado concreto armado, há a necessidade de
só pode ser alcançada se atendido um melhorar e avançar em critérios de pro-
conjunto de requisitos nas etapas de pro- jeto, execução e controle tecnológico
jeto, execução e manutenção. Em cada dessas estruturas; como também em
uma, há propriedades específicas a serem tecnologias de manutenção preventiva
atendidas pelos concretos de cimento e corretiva. O comportamento indese-
Portland, enquanto material estrutural jado, a perda de durabilidade, o sur-
envolvente e de proteção das armaduras gimento de anomalias prematuras e a
de aço carbono, de forma exclusiva, em diminuição do desempenho das estrutu-
concreto aparente, ou integrado a um ras, de uma maneira geral, preocupam,
revestimento espesso de proteção final, devido aos altos custos de restaurações
que é o caso mais comum. ou reparos.
Os avanços conseguidos no Brasil na A qualidade do concreto depende,
qualidade das estruturas de concreto ar- principalmente, da relação água/cimen-
mado aconteceram em função da utiliza- to, da cura e do grau de hidratação, sen-
ção de normas técnicas de projeto, exe- do esses os principais fatores que contro-
cução e produção mais atualizadas; dos lam as propriedades de absorção capilar
documentos de idoneidade técnica e selos de água, permeabilidade, migração de
de qualidade. íons e de difusividade de água ou gases;
A partir da NBR 6118:2003 – Proje- e das propriedades mecânicas, como re-
tos de Estruturas de Concreto e da NBR sistência à compressão, à tração, módulo
14931:2003 – Execução de Estruturas de de elasticidade, dentre outras, e, conse-
Concreto – Procedimento, a questão da qüentemente, a durabilidade das estru-
durabilidade das estruturas passou a ser turas (HELENE, 1998).
tratada de maneira sistêmica, como ne- Tem crescido o número de estruturas de
cessário, e deu ênfase a características concreto armado com manifestações patológi-

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cas, principalmente com problemas de corro- certo limite em relação à concentração de
são de armaduras, como resultado do envelhe- hidroxilas, despassivam a superfície do aço
cimento precoce das construções existentes. carbono e dá inicio ao processo corrosivo.
A resistência da estrutura de concreto à ação A corrosão da superfície das armaduras se
do meio ambiente é muito influenciada pela manifesta pelo aparecimento de manchas,
resistência do concreto aos agentes agressi- fissuras, destacamento de pedaços de con-
vos e pela espessura de cobrimento (HELENE, creto, promovendo a ruína da estrutura.
1998). De acordo com ANDRADE (1997), este As fontes de cloretos nos concretos e
crescimento acontece devido a práticas ina- argamassas podem ser os agregados, a água
dequadas de planejamento, materiais, exe- ou o solo contaminados, o aditivo acele-
cução, utilização, manutenção e pelo efeito rador de pega à base desses íons, os sais
combinado da agressividade ambiental com de degelo, a atmosfera marinha ou a ação
problemas estruturais. direta da água, sendo que a maior incidên-
A corrosão de armaduras no concreto cia de cloretos nas estruturas de concre-
pode ser essencialmente por dois motivos to ocorre em regiões litorâneas. A maioria
principais: fenômeno da diminuição da al- dos problemas gerados pelos íons cloretos
calinidade do concreto, ocasionado pela são provocados pelos íons provenientes do
carbonatação do concreto; e devido à pre- meio ambiente (HELENE, 1993).
sença de cloretos livres no concreto. “A formação do aerosol marinho e o
seu transporte na direção do continente
2. Agentes agressivos representam o início de todo o processo
As manifestações patológicas no con- agressivo frente às estruturas de concreto
creto armado têm na corrosão das armadu- armado no que se refere à ação dos clore-
ras um dos seus principais fatores, que, por tos na região da costa” (MEIRA, 2004).
sua vez, está correlacionado com a ação SWAMMY et al. (1994) citado por MEIRA
dos agentes ambientais, tais como: CO2 e (2004) segmentaram o ambiente marinho
cloretos. Neste trabalho será dada mais em cinco zonas: zona submersa, zona de
ênfase nos íons cloretos, por estarem mais flutuação de maré, zona de respingo, zona
relacionados com o tema do trabalho. de interface solo/respingo e zona de solo,
como pode ser visto na Figura 1.
2.1 Cloretos Os íons cloretos podem ser encontrados
Os cloretos são um dos responsáveis na matriz de concretos ou argamassas de duas
pela despassivação das armaduras, sendo formas: livres na água dos poros e/ou com-
capazes de despassivá-las mesmo em pH binados com o C3A e C4AF do cimento, for-
extremamente elevado. Os cloretos pe- mando os cloroaluminatos e cloroferratos. O
netram no concreto por meio de difusão, somatório de cloretos livres e cloretos com-
impregnação ou absorção capilar de águas binados é denominado de cloretos totais. É
contendo teores de cloreto que, ao supe- consenso geral que apenas os cloretos livres
rarem na solução dos poros do concreto são os agentes nocivos à armadura. Porém,

[Concreto & Contruções] | 46 |


os cloretos combinados na forma de cloro- das embarcações e também passeio públi-
aluminatos e cloroferratos podem tornar-se co. O píer de atracação da cidade de João

solucionando problemas
livres, através de reações deletérias, como Pessoa-PB está localizado na praia de Tam-
a carbonatação e a elevação da temperatura baú. Esta estrutura foi construída no ano
do concreto. de 1994, com o objetivo de incrementar
A corrosão causada por íons cloretos é as atividades turísticas da cidade de João
a mais danosa à armadura no que diz res- Pessoa-PB.
peito ao período de iniciação quanto ao O píer é uma estrutura de concreto
de propagação. De acordo com CASCUDO armado com 3,0 metros de largura, que
(1997), os cloretos aumentam a conduti- adentra ao mar numa extensão de 100
vidade elétrica do eletrólito, acelerando metros. Em Dezembro de 2007, os dois
o processo de corrosão e participando da primeiros vãos da estrutura do píer entra-
formação dos produtos de corrosão. Os ram em colapso e ruíram, após 14 anos
mesmos são responsáveis pela corrosão por de sua construção. Na Foto 1, a estrutura
pites (corrosão localizada pontualmente), pode ser vista antes e após ruína.
a qual apresenta grande risco do ponto de
vista das estruturas de concreto. 3.1 Dados da estrutura
O mecanismo de penetração dos íons
cloreto através do concreto, para que cer- 3.1.1 Infraestrutura
ta quantidade chegue até as armaduras, A infraestrutura é constituída por
na forma de cloretos livres, depende de estacas circulares de 30 centímetros
uma série de fatores relacionados, entre de diâmetro, pré-moldadas de concreto
os quais pode-se citar: o tipo de cátion armado, cravadas a 4,0 metros de pro-
associado aos cloretos; o tipo de acesso ao fundidade do leito do oceano e, sacando
concreto; a presença de outro ânion como acima dessa cota, um comprimento de
o sulfato; o tipo de cimento utilizado no arranque variável até alcançar a cota do
concreto, a relação água/cimento, o esta- bloco de coroamento. Para cada bloco de
do de carbonatação do concreto; as con- coroamento existem três estacas, sendo
dições de produção e cura do concreto; a duas laterais inclinadas e a central na
umidade ambiental (condição de satura- posição vertical. Os detalhes podem ser
ção dos poros); e o consumo de cimento. melhor observados nas Figuras 2 e 3.

3. Estudo de caso: 3.1.2 Superestrutura


Píer de atracação A superestrutura é constituída pelos se-
Tambaú guintes elementos estruturais:
Píer de atracação é uma estrutura
construída à beira-mar e para dentro do n Blocode coroamento
mesmo, com a finalidade de atracação Os blocos de coroamento, apoiados

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no topo das estacas, distantes do solo 3.2 Agressividade ambiental
do oceano de alturas variáveis, possuem A agressividade do meio ambiente está
as seguintes dimensões: relacionada às ações físicas e químicas que
Comprimento – 3,0 m; atuam sobre as estruturas de concreto, inde-
Largura – 0,6 m pendente das ações mecânicas, das variações
Altura – 0,7 m volumétricas de origem térmica, da hidrata-
ção e outras previstas no dimensionamento
n Estrutura do tabuleiro das estruturas de concreto (NBR 6118:2003).
O tabuleiro é uma estrutura retangular O píer de atracação da cidade de João
com dimensões de (3,00x10,0)m. Pessoa foi construído sob os preceitos e re-
A estrutura do tabuleiro é constituída comendações da antiga norma de projetos
de duas vigas longarinas biapoiadas de estruturas de concreto a NBR 6118:1978,
de 10,0 metros de vão e seção de no que diz respeito à durabilidade da es-
(20x70) cm, moldadas in-loco, trutura (proteção às armaduras e especi-
extremidades apoiadas nos blocos de ficação da espessura de cobrimento). Essa
coroamento, através de chapas versão da norma fazia poucas recomenda-
de neoprene. ções à durabilidade.
A laje do tabuleiro possui 15 cm de Levando em conta as recomendações
espessura e dimensão de (3,0x10,0)m, da NBR 6118:2003, a estrutura do píer de-
apoiadas nas longarinas nos lados veria ser classificada na classe de agressi-
maiores e com bordo livre nos lados
menores.
A geometria da estrutura e seus
detalhes podem ser melhor observados na
Figura 4 e nas Fotos 2 e 3.

[Concreto & Contruções] | 48 |


solucionando problemas
vidade IV – agressividade muito forte, com do. Na falta deste e devido à existência de
risco de deterioração muito forte, devido uma forte correspondência entre a relação
à estrutura estar exposta à variação e res- água/cimento, a resistência à compressão
pingos da maré. do concreto e sua durabilidade, adotam-se
O cobrimento das armaduras estava os requisitos expressos nas NBR 6118:2003 e
de acordo com as recomendações da nor- NBR 12655:2006.
ma vigente na época, a NBR 6118:1978. O Os dados relativos à dosagem do concre-
cobrimento especificado das armaduras no to utilizado na estrutura do píer estão apre-
projeto era de 4,0 cm, porém o cobrimento sentados a seguir na Tabela 1. A estrutura
encontrado em muitos locais da estrutura foi moldada in-loco, com o concreto sendo
variava de 2,0 a 6,0 cm, em muitos ca- fornecido por central dosadora local.
sos fora das recomendações da atual NBR Para se enquadrar nos requisitos de du-
6118:2003, como apresentado na Foto 4. rabilidade da NBR 6118:2003, a estrutura
do píer deveria ter relação água/cimento
3.3 Concreto utilizado na execução de, no máximo, 0,45 e pertencer à classe
da estrutura de concreto C40.
Ensaios comprobatórios de desempenho A escolha do tipo de cimento a ser apli-
da durabilidade da estrutura frente ao tipo cado numa estrutura de concreto deve le-
e nível de agressividade previsto em projeto var em consideração o ambiente onde será
devem estabelecer os parâmetros mínimos a construída esta estrutura. De acordo com
serem atendidos no desenvolvimento de um HELENE (1993), deve-se ter preferência por
projeto de uma estrutura de concreto arma- certos tipos de cimento Portland e por adi-

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ções e aditivos que o da estrutura em
sejam adequados estudo. Porém, na
para resistir à agres- época da constru-
sividade ambiental. ção, esse tipo de
Portanto, para re- cimento era muito
duzir a penetração utilizado na região
de cloretos, são pre- e também não se ti-
feríveis os cimentos nha o conhecimento
com adições tipo CP dos requisitos de
III e CP IV. durabilidade hoje
O tipo de ci- existentes.
mento utilizado não
é o recomendado 3.4 Inspeção
para um ambiente e diagnóstico
marinho altamen- Em Dezembro
te agressivo como de 2007, as vigas

[Concreto & Contruções] | 50 |


solucionando problemas
longitudinais e bi-apoiadas de dois mó- fissuras e destacamento do concreto de
dulos da estrutura de concreto armado cobrimento no fundo e lateral das vigas,
do píer de atracação Tambaú ruíram no devido ao avançado estado de corrosão
meio do vão, devido ao avançado estado das armaduras. Pode-se verificar, cla-
de corrosão de suas armaduras e defor- ramente, em quase todos os vãos, nas
mações nas vigas. Deve-se ressaltar que faces externas das vigas, extensa fissura
essas estruturas ruíram num momento em horizontal na região de ligação da laje
que não havia pessoas sobre as suas lajes, com as vigas e também no fundo das
num final de tarde de mar calmo e sereno. vigas, apresentando também sinais de
Assim, o único carregamento existente so- corrosão de armadura. O fundo das lajes
bre a estrutura era o seu peso próprio, o de todos os módulos também apresentou
que reforça a hipótese que a ruína ocor- fissuras e destacamento do concreto de
reu devido ao avançado estado de corro- cobrimento das armaduras, denotando o
são das armaduras de suas vigas. Na Foto avançado estado de corrosão de suas ar-
5 pode ser vista a manchete do Jornal lo- maduras positivas. Como pode ser visto
cal, o momento após rompimento da viga nas Fotos 6 e 7.
e como ficou a estrutura do píer. Foi também visível, em todos os mó-
A inspeção visual mostrou a existên- dulos, uma acentuada deformação das
cia generalizada de inúmeras manifes- vigas longarinas, que apresentam flechas
tações patológicas em todas as peças elevadas na região central do vão das vi-
e todos os dez (10) módulos que cons- gas. Essa constatação realça a necessida-
tituem a super-estrutura do píer. São de de nova análise estrutural dessas vigas

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para verificar se as mesmas apresentam mesmas desmanchavam com um simples
inércia suficiente para um comporta- toque de alicate. O concreto apresentava
mento adequado quanto às deformações. manchas causadas pelos produtos da cor-
Pode-se deduzir que essas deformações rosão, característico da corrosão causada
exageradas existentes nas vigas de 10,0 por cloretos (Foto 10).
m de vão criaram fissuras no concreto, Para identificar as causas prováveis e
que aceleraram responsáveis pelo
a penetração de surgimento do
agentes externos problema patoló-
agressivos, contri- gico existente na
buindo para a pre- estrutura, vários
coce corrosão das ensaios foram pre-
armaduras nessas vistos e realizados
regiões (Fotos 8 e para aprofundar e
9). embasar as con-
As barras de aço clusões de um lau-
não mais apresen- do amplo e com-
tavam à seção de pleto das causas
origem, não exis- dos problemas pa-
tindo mais aderên- tológicos. Na Foto
cia entre a armadu- 11, pode ser visto
ra e o concreto, as parte da inspeção.

[Concreto & Contruções] | 52 |


solucionando problemas
Partindo da avaliação visual, foi decidida fcm é a resistência média à compressão a
a realização dos seguintes ensaios: 28 dias;
n Carbonatação por aspersão de βcc (t) é o coeficiente que depende da idade;
indicador de pH (fenolftaleína); t é a idade do concreto;
n Perda de seção das barras de aço; t1 = 1dia;
n Extração de testemunhos para s é um coeficiente que depende do tipo de
ensaios de resistência à compressão, cimento empregado, sendo adotado, para
à tração por compressão diametral e o caso em questão, o valor de 0,25 (cimen-
absorção de água total; to de pega normal).
n Perfil de cloretos por aspersão de Aplicando a expressão acima para a
nitrato de prata. idade de 14 anos, isto é, aproximadamen-
Na estrutura do píer, o ensaio de pe- te 5110 dias, e utilizando o coeficiente s
netração de CO 2 foi realizado no bloco de 0,25, será obtido um coeficiente de
de coroamento e nas vigas, resultando crescimento de 1,25. A Tabela 2 mostra
no concreto de cobrimento totalmente as resistências prováveis dos testemunhos
carbonatado. O ensaio de penetração extraídos do concreto caso fossem ensaia-
de cloretos por aspersão de nitrato de dos aos 28 dias de idade. Apesar da pe-
prata comprovou que os íons cloretos ul- quena amostragem, os resultados indicam
trapassaram a espessura do concreto de que a resistência à compressão dos blocos
cobrimento, atingindo as armaduras e de coroamento, aos 28 dias, apresentava-
provocando a despassivação das mesmas se inferior ao fck de projeto, a qual a es-
(Foto 12). trutura foi dimensionada.
O CEB-FIP Model Code (1990) recomen-
da a adoção das seguintes expressões para
a estimativa da resistência à compressão
do concreto com o tempo.

onde,
Fcm(t) é a resistência média à compressão
a idade t dias;

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4. Conclusão não era o recomendado para uma
Após todas as considerações e análises estrutura em ambiente com alta
apresentadas nos itens anteriores sobre a agressividade. Seria mais recomendável
estrutura do píer Tambaú, onde se mos- o uso de um cimento com maior
trou, através de fotos e ensaios, o estado porcentagem de adições minerais,
avançado de impregnação de cloretos no tipo CP III e CPIV, para fixar os cloretos;
concreto e de corrosão de suas armadu- n O fator água/cimento do concreto

ras, necessário se faz enumerar os prin- de 0.52 é um valor muito alto para
cipais fatores que levaram essa estrutura produzir um concreto impermeável,
capaz de garantir a durabilidade
de concreto armado, precocemente, a
da estrutura;
tão elevado grau de deterioração e até
n A baixa qualidade do concreto, já que
de ruína.
a resistência à compressão aos 28 dias,
As fissuras encontradas em todos os
simulada pelo CEB – FIP Model Code
vãos das vigas, originadas pela deformação
(1990), não atendeu ao fck especificado
acentuadas das mesmas, foram prepon-
em projeto, comprometeu a
derantes para a penetração dos agentes durabilidade da estrutura.
agressivos e, conseqüentemente, para o A falta de manutenção da estrutura foi
colapso da estrutura. Uma análise estrutu- muito importante para a deterioração pre-
ral mais detalhada não foi possível ser rea- coce da mesma.
lizada devido à perda do projeto estrutural A recuperação da super-estrutura não
pelos responsáveis da construção. é recomendado, pelo elevado custo de
Pode-se destacar, também, para a pene- substituir todas as armaduras com corro-
tração de cloreto e a deterioração precoce são e o concreto carbonatado, bem como
da estrutura, a falta de critérios e requisitos a difícil execução, já que a estrutura está
de durabilidade da norma vigente na época dentro do mar.
da elaboração do projeto estrutural. Com A solução recomendada é a recons-
uma visão mais atualizada da tecnologia dos trução da estrutura, aproveitando a
concretos, pode-se enumerar alguns fatores infraestrutura (estacas), após uma ins-
que podem ter contribuído para a precoce peção detalhada que comprove a capa-
deterioração da estrutura: cidade portante das mesmas e o estado
n O tipo de cimento utilizado, o CP II, de conservação.

[Concreto & Contruções] | 54 |


Referências Bibliográficas

solucionando problemas
[01] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projetos de Estruturas de Concreto –
Procedimento. NBR 6118 (2003). Rio de Janeiro, 2004.
[02] ANDRADE, J.J.O. Durabilidade das estruturas de concreto armado: análise das manifestações
patológicas nas estruturas no Estado de Pernambuco. Porto Alegre, 1997. Dissertação
(Mestrado) – Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.
[03] CASCUDO, O. O controle da corrosão de armaduras de concreto: inspeção e
técnicas eletroquímicas. São Paulo, Pini, 1997.
[04] HELENE, P. R. L. Controle de Qualidade do Concreto. São Paulo, 1981. Dissertação (Mestrado)
- Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Departamento de Engenharia Civil.
________. Corrosão em armaduras para concreto armado. São Paulo, 1986. PINI: Instituto
de Pesquisas Tecnológicas, 1986. 46p.
[05] ________. Contribuição ao estudo da corrosão em armaduras de concreto armado.São Paulo, 1993.
Tese (Livre Docente) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Departamento de
Engenharia Civil.
[06] ________. Introdução a Prevenção da Corrosão das Armaduras no Projeto das Estruturas
de Concreto – Avanços e Recuos. Simpósio sobre Durabilidade do Concreto. São Paulo, 1998.
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
[07] JUCÁ, T. R. P. Avaliação de cloretos livres em concretos e argamassas de cimento portland
pelo método de aspersão de solução de nitrato de prata. Goiânia, 2002. Dissertação
(Mestrado) – Universidade Federal de Goiás.
[08] MEHTA, P. K. & MONTEIRO, P.J.M. Concreto: Estrutura, Propriedades e Materiais, Pini, 1994.
[09] MEIRA, G. R. Agressividade por cloretos em zona de atmosfera marinha frente ao problema
da corrosão de em estruturas de concreto armado. Santa Catarina, 2004. Tese (Doutorado)
– Universidade Federal de Santa Catarina.
[10] TUUTTI, K. (1982). “Corrosion of steel in concrete”. Swedish Cement and Concrete Research
Institute, Stockholm, 469p. n

Programa IBRACON de Qualificação


e Certificação de Pessoal IBRACON

Entidade foi acreditada pelo INMETRO para


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Ele nasce na região pré-andina da Co- a navegação de embarcações de grande
lômbia e corre até o rio Solimões para, porte.
depois de um percurso de mais de 1.700 A TECOMAT está presente nesta obra
km, formar o Amazonas. O Rio Negro, um desde seu início, nos primeiros meses de
dos três maiores do mundo, chama aten- 2008, fazendo o controle tecnológico do
ção por sua magnitude, com característi- concreto e prestando consultoria técni-
cas singulares, como a de possuir mais de ca em toda execução de mais de 150 mil
mil ilhas agrupadas nos dois maiores ar- m3 de concreto, junto ao Consórcio Rio
quipélagos fluviais do planeta: Anavilha- Negro, formado pela Camargo Corrêa e
nas e Mariuá, e de abrigar em sua bacia as Construbase.
florestas mais A atuação
preservadas e da empresa
despovoadas da inclui desde o
Amazônia. gerenciamen-
É nesse ce- to da equipe
nário, em que a operacional do
natureza mos- laboratório do
tra toda a sua Consórcio até a
exuberância, elaboração das
que surge tam- dosagens de
Detalhe da concreto utili-
execução da ponte zadas em toda
sobre o Rio Negro
a obra. “Dis-
ponibilizamos,
também, uma
equipe qualificada de laboratoris-
tas, técnicos de laboratório, en-
carregados e engenheiros, em dois
turnos, além de fazermos visitas
mensais à obra através de um con-
Vista da ponte sultor especialista em concreto”,
em sua fase atual afirma o engenheiro da Tecomat,
de execução
Thiago Botelho, engenheiro res-
ponsável pelo laboratório instala-
do na obra.
bém um projeto arquitetônico arrojado. Segundo ele, uma das maiores dificul-
Uma ponte de concreto estaiada com dades da construção foi a implantação das
3595 metros de extensão, que ligará as fundações da ponte, com estacas escava-
cidades de Manaus e Iranduba, no trecho das de grande diâmetro (2,2m e 2,5m).
mais estreito do Rio Negro, cuja torre “São 246 estacas desse tipo vencendo a
central terá formato de diamante (o pri- profundidade do Rio Negro, com volumes
meiro a ser construído no Brasil) e vão até 470 m3, a unidade”, revela. O empre-
central de quase 200 m, para permitir endimento está previsto para ser entregue

[Concreto & Contruções] | 56 |


mantenedor
Outro desafio vencido na obra está
sendo a confecção das vigas longari-
Dados técnicos nas (pré-moldadas e protendidas) da
margem direita, já que a usina de con-
n Comprimento creto localiza-se na margem oposta ao
3.595m pátio de fabricação. Foi necessária a
utilização de balsas para transportar o
n Largura do trecho corrente concreto durante um período de, em
20,70m, com duas pistas de média, quatro horas. “Tivemos que
rolamento em cada sentido confeccionar um concreto com um re-
tardo de pega razoável a fim de aten-
n Quantidade de vãos der o tempo de transporte, mas que em
do trecho corrente 24 horas depois já obtivesse 20 MPA de
71 vãos de 45 m resistência para a devida protensão”,
explica o engenheiro.
n Quantidade de vãos Outra providência tomada pela TECO-
do trecho estaiado MAT no controle tecnológico do concreto
2 vãos de 200 m tem sido a especificação do uso do gelo
em escamas no lugar da água de amassa-
n Largura do trecho estaiado mento, bem como de água gelada a 5ºC
22,60 m para manter o concreto trabalhável e
evitar fissuração em peças com elevado
n Altura do vão central volume, devido às altas temperaturas do
55 m a partir do nível máximo cimento e do ambiente local, próximo
do rio aos 40ºC. n
n Altura da torre (pilar) central
103 m a partir da pista

n Quantidade de vigas
pré-moldadas
213 vigas

no final deste ano.


Na fase inicial da obra, outro desafio
encontrado foi manter o concreto tra-
balhável durante 12 horas, com os aditi-
vos, insumos e as tecnologias disponíveis
na região. De acordo com o engenheiro
da TECOMAT, outra particularidade é
que em todos os blocos de coroamento
das estacas foram utilizados concre-
tos pré-refrigerados, com seu devido
controle e medição de temperaturas,
com o concreto fresco e endurecido. O
bloco de coroamento do pilar central
teve um volume de, aproximadamente,
5 mil m 3 de concreto. Isso corresponde,
por exemplo, ao volume necessário para
a construção de um prédio com cerca de
25 andares.

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pesquisa e desenvolvimento
método de avaliação do potencial de corrosão

Inspeção em prédios
no Rio de Janeiro:
corrosão em pilares
M. H. F. Medeiros – Professor Doutor
G. B. Balbinot – Aluno de Iniciação Científica
Departamento de Construção Civil, Universidade Federal do Paraná

Paulo Helene – Professor Titular


Departamento de Construção Civil, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo

1. Introdução com velocidade de corrosão, é atualmente

O
emprego do método de avaliar o o mais recomendável para o monitoramen-
potencial de corrosão para inspeção to da durabilidade das armaduras de estru-
em estruturas de concreto armado turas de concreto armado.
iniciou-se nos EUA por volta da década de 70, O presente trabalho tem como objetivo
passando a ser muito utilizada tanto neste analisar as medidas de potencial de corro-
país como na Europa nos últimos anos. Uma são relativas ao eletrodo de cobre/sulfato
boa utilidade desse método é o mapeamento de cobre obtidas no trabalho de inspeção
dos valores de potencial de corrosão, pois tais de 4 edifícios residenciais localizados na
mapas possibilitam a identificação de zonas Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. A avalia-
comprometidas e com aço despassivado. ção visa mais especificamente investigar a
O potencial de corrosão pode identificar influência da posição da leitura nos valores
os locais com as condições termodinâmicas de potencial de corrosão.
que viabilizam o início do fenômeno de cor-
rosão eletroquímica das armaduras no con- 2. Detalhamento
creto armado, ainda que esta corrosão não do método
esteja manifestada de forma aparente na O método de avaliação do potencial de
superfície da peça de concreto armado. corrosão compreende o uso de um eletrodo
Atualmente, existem outros métodos de referência acoplado a um voltímetro de
com fundamento eletroquímico que possi- alta impedância, como ilustra a Figura 1. O
bilitam não apenas a identificação dessas ensaio geralmente é realizado em corpos-de-
zonas, mas que também fornecem dados prova ou em estruturas de concreto armado
quantitativos sobre a cinética do processo para o monitoramento ou avaliação pontual,
corrosivo, como, por exemplo, o método no caso de uma inspeção em que não se dis-
de avaliação da velocidade de corrosão por ponha de tempo para o acompanhamento da
impedância eletroquímica ou por resistên- variação das leituras ao longo do tempo.
cia de polarização linear. Dessa forma, é necessário que se tenha
Esse procedimento, que alia a interpre- um eletrodo de referência (geralmente de
tação de valores de potencial de corrosão cobre/sulfato de cobre) em relação aos quais

[Concreto & Contruções] | 58 |


pesquisa e desenvolvimento
os potenciais são referenciados. As leituras e, portanto, depende da existência de
de potencial de corrosão obtidas fornecem um eletrólito, ou seja, grau de
indícios dos riscos de corrosão, como indica- umidade suficiente para haver uma
do na Tabela 1. solução nos poros capilares do
A rigor, o que se tem é o registro, em concreto. Portanto, somente vai haver
determinados pontos da estrutura, de uma corrosão quando houver um mínimo de
diferença de potencial (ddp) entre um ele- umidade e quanto maior esta, até a
trólito instável (sistema aço/concreto) e saturação, maior a mobilidade dos íons
outro estável, que é o eletrodo de referên- que participam do processo eletroquímico.
cia. Quando se aplica o dispositivo, forma- Portanto, recomenda-se,
se uma pilha eletroquímica constituída pe- preferencialmente, saturar ou umidecer
las duas partes previamente mencionadas. bem o concreto antes de iniciar as
Em geral, o que se observa nas medi- leituras de potencial. Observe-se,
das de potencial de eletrodo em concreto ainda, que o ideal seria saturar
é um fluxo que vai desde a armadura até o previamente (pelo menos uma hora
eletrodo de referência, com o fechamento antes para assegurar “regime” de
do circuito entre as duas partes ocorrendo processo) antes de iniciar as leituras
de forma iônica através de uma interface (HELENE, 1993).
altamente condutiva.
Como o potencial do eletrodo de refe- n Aeração (acesso de oxigênio) – Para
rência de cobre/sulfato de cobre é mais haver corrosão eletroquímica com
nobre (valores mais positivos) do que o formação de produtos ferruginosos e
potencial do sistema aço/concreto, nor- expansivos (ferrugem), é necessário
malmente os valores obtidos são negativos haver acesso de oxigênio que também
independente do estado da armadura. participa da reação formando óxidos/
O eletrodo de referência pode ser movido hidróxidos de ferro, porosos e
sobre a superfície do concreto para se desen- expansivos. Estes produtos da
volver um mapa de potencial que mostra os corrosão podem apresentar cores tão
possíveis locais de corrosão ativa na estrutura. variadas quanto preta, verde,
Esta ferramenta tem sido amplamente avermelhada e marrom “ferrugem”,
aplicada em campo, pois o método fornece que denotam diferentes disponibilidades
um meio rápido e de baixo custo para a de oxigênio, sendo a cor preta a inicial
identificação de zonas de aço despassivado do processo e instável e a cor marrom
que necessitam análise ou reparos. No en- a final do processo e estável ao
tanto, os resultados do ensaio podem ser ambiente com acesso normal de
afetados pelos seguintes fatores: oxigênio. Portanto, pode ocorrer
n Grau de Umidade no concreto – O potenciais mais negativos no caso de
processo de corrosão das armaduras no pouca disponibilidade de oxigênio
concreto é um processo eletroquímico (antes da fissuração e concreto úmido),

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cloretos atuam melhorando o movimento
iônico na solução dos poros do concreto,
fundamental num processo de corrosão
eletroquímica.
Por essas razões, a ASTM C 876 especi-
fica que os critérios da Tabela 1 devem ser
tomados com restrições, quando o concreto
estiver muito seco, profundamente carbona-
tado, que tenha uma pintura ou revestimen-
to de filme/película superficial, ou quando
a armadura tiver um revestimento metálico
tipo galvanização ou pintura com epóxi. Em-
bora esse método de potencial de meia-cé-
lula seja muito aplicado, deve-se reconhecer
que não é quantitativo, uma vez que a taxa
de corrosão não é determinada.
A Figura 2 mostra um esquema geral da
seqüência de atividades que compõem o mé-
todo de avaliação do potencial de corrosão.

3. Metodologia
Um trabalho de inspeção é algo muito
mais amplo do que realizar leituras de po-
comparativamente a regiões fissuradas tencial de corrosão. Contudo, este estudo
ou com concreto destacado, ou seja, na tem como foco a avaliação deste método em
fase final do processo (HELENE, 1993). 4 edificações residenciais onde o trabalho de
n Microfissuras – A corrosão eletroquímica inspeção foi realizado de forma completa.
localizada pode ser acelerada ou Na Tabela 2 constam as edificações que
facilitada por microfissuras que também fizeram parte deste trabalho.
reduzem a resistividade iônica do Todos estes edifícios estão localizados
concreto, afetando a medição do na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, e se po-
potencial de corrosão. sicionam a cerca de 700m de distância do
n Frente de penetração de Cloretos – mar. O ambiente onde estão inseridos to-
Segundo Browne et al. (1993), uma dos os quatro edifícios é classificado como
pequena frente de cloretos nas de agressividade forte, de acordo com a
camadas superficiais do concreto pode NBR 6118:2003, classe III.
alterar os valores de potencial para As determinações de potencial de corro-
índices mais negativos, uma vez que os são foram conduzidas nos pilares das edifica-

[Concreto & Contruções] | 60 |


pesquisa e desenvolvimento
de umedecimento foi realizado a partir do
fornecimento de água constantemente na
superfície dos pilares, de modo que a água
penetrou no concreto pelo mecanismo de
absorção por sucção capilar de água.
Em cada pilar analisado, as leituras
foram realizadas na base dos pilares e na
altura de 1,5m da laje de piso, como está
ilustrado na Figura 3.

4. Resultados

4.1 Edifício 1
ções inspecionadas e o local de cada leitura A Figura 4 apresenta os resultados ob-
foi previamente saturado. O procedimento tidos para cada pilar e andar em que as

| 61 | [www.ibracon.org.br]
[Concreto & Contruções] | 62 |
pesquisa e desenvolvimento
base dos pilares (A2) e o percentual com
os valores mais negativos na região central
pilares (A1). Neste caso ficou demonstra-
do que, em 75% dos casos, os valores mais
negativos de potencial de corrosão encon-
tram-se na base dos pilares.

4.2 Edifício 2
A Figura 6 apresenta os resultados
obtidos para cada um dos 45 pilares
amostrados ao longo dos andares em que
as leituras de potencial de corrosão fo-
ram registradas no Edifício 2. A partir
dela é fácil perceber que este edifício
apresentou uma tendência de resultados
contrária ao obtido para o edifício 1. A
Figura 7 mostra uma visão geral destes
leituras de potencial de corrosão foram resultados evidenciando que, nesta edi-
registradas no Edifício 1. A partir dela é ficação, em 59% dos pilares, os valores
fácil perceber que existe uma tendência de potencial de corrosão mais negati-
de existência de valores de potencial de vos se concentram no meio dos pilares
corrosão mais negativos na base dos pila- (1,5 m de altura).
res desta edificação. Isso fica mais eviden-
te a partir da verificação da Figura 5, que 4.3 Edifício 3
mostra o percentual de pilares com valores As Figuras 8 e 9 indicam mesma ten-
de potencial de corrosão mais negativos na dência de resultados do edifício 1. É im-

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tendência dos resultados dos edifícios
1 e 3, como mostram as Figuras 10 e
11, onde os resultados individuais para
cada pilar inspecionado e o resultado
global deste estudo de caso estão apre-
sentados, respectivamente. Vale desta-
car que para o Edifício 4, a Figura 11
evidencia que em 75% dos casos os valo-
res mais negativos se localizam na base
dos pilares.

5. Discussão
dos Resultados
A Figura 12 apresenta os dados globais
de todas os quatro edifícios avaliados, in-
dicando que 77% de todos os 120 pilares
portante notar que, neste caso, o valor
avaliados ao longo dos quatro trabalhos
de potencial de corrosão na base do pi-
lar é mais negativo do que a leitura rea- de inspeção apresentam valores mais ne-
lizada a meia altura dos pilares em 100% gativos de potencial de corrosão na base
dos pilares inspecionados. dos pilares. Isto é uma parcela bastante
relevante, indicando a alta predominân-
4.4 Edifício 4 cia desta ocorrência no espaço amostral
Finalmente, o Edifício 4 indica a mesma aqui apresentado.

[Concreto & Contruções] | 64 |


pesquisa e desenvolvimento
Além disso, a Figura 13 mostra que em
75% dos edifícios inspecionados a tendên-
cia de potencial de corrosão na base dos
pilares foi validada.
Conforme demonstrado, na grande
maioria dos casos, o potencial de corrosão
na base dos pilares é mais eletronegativo
do que na região central dos mesmos. A se-
guir são apresentadas algumas teorias para
explicar essa tendência.
n 1. Lançamento do concreto – É consenso
que o lançamento do concreto, a partir
de uma certa altura, sem cuidados
extras, pode conduzir à sua segregação
e que isso tende a ocorrer,
principalmente, na base dos pilares.
O resultado do fenômeno citado é a
menor concentração de pasta e,
conseqüentemente, maior concentração
de agregados nesta região. Isso leva ao
surgimento de uma região com concreto
mais pobre e outra com concreto mais
rico em cimento. A região mais pobre é
justamente a base do pilar e é onde
existe a tendência de valores de
potencial de corrosão mais negativos.
n 2. Grande densidade de armadura –
A base dos pilares consiste em uma
região onde a densidade de armaduras
é mais elevada, já que é neste local
que se faz o traspasse das armaduras.
Este fato pode dificultar o adensamento
do concreto lançado na base dos pilares
e também pode ser um fator de
influência dos valores de potencial
de corrosão.
n 3. Permanência de umidade – Pensando
em um pilar exposto ao ambiente, é
fácil imaginar que, por gravidade,
a água tende a se acumular por mais
tempo na base dos pilares. Desse modo,
imaginando um pilar úmido, sabe-se
que o concreto mais próximo da laje
de cobertura seca mais rápido do que
o concreto que está próximo da laje
de piso. Isso também explica os valores
de potencial de corrosão mais negativos
na base dos pilares.

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n 4. Sinergia entre 1, 2 e 3 – A influência que ficaram com sua estrutura exposta
do meio ambiente com o efeito ao intemperismo direto durante mais de
sinérgico dos fatores citados 5 anos.
anteriormente também serve para Com o que foi apresentado nos itens
explicar a tendência dos resultados anteriores, é possível concluir que é in-
encontrados. Se o concreto da base discutível a forte tendência existente
dos pilares apresenta uma maior para existência de valores de potencial
tendência a ser mais poroso pela de corrosão mais negativos na base dos
segregação e dificuldade de adensamento pilares.
devido a alta concentração de Neste trabalho foram montadas algu-
armaduras, é fácil concluir que esta
mas teorias para explicar esta tendên-
será uma região com tendência a
cia, mas uma pesquisa científica com
sofrer mais com a contaminação
a fixação de variáveis não possíveis de
por íons cloretos e pelo dióxido de
serem controladas em campo seria de
carbono. A conseqüência disso é que
grande valia para produzir constatações
estas regiões tendem a sofrer
despassivação do aço mais rapidamente. definitivas nesta área.
Como já foi defendido, esta é também O método de avaliação do potencial
uma região com tendência a maior de corrosão se mostrou um importante
permanência de umidade, o que meio de detectar mudanças no estado
favorece ao desenvolvimento de do aço, ajudando a perceber quando a
corrosão de armaduras. armadura muda do estado passivo para
o estado de corrosão ativa e vice-versa,
6. Conclusões reafirmando este método como uma fer-
Os dados apresentados neste traba- ramenta útil nos serviços de inspeção e
lho são resultado de trabalhos de inspe- avaliação da durabilidade de estruturas
ção de estruturas de concreto armado de concreto armado.

Referências Bibliográficas
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[02] HELENE, Paulo R.L. Contribuição ao estudo da corrosão de armaduras nas estruturas
de concreto armado. São Paulo, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, Brasil,
1993. (tese de livre-docência)

[03] MATOS, O. C.; HELENE, P. R. L., Avaliação experimental da corrosão de armaduras


em concreto utilizando a técnica de medida dos potenciais de eletrodo.
Boletim Técnico da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992.

[04] MONTEIRO, P.J.M.; MORRISON, F.; Non-destructive measurement of corrosion state


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[05] MEDEIROS, M. H. F.; Contribuição ao estudo da durabilidade de concretos com proteção


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[06] RINCÓN, O. T.; CARRUYO, A. R.; ANDRADE, C.; HELENE, P. R. L.; DÍAZ, I.; Manual de
inspeccion, evaluacion y diagnostico de corrosion en estructuras de hormigon armado.
RED IBEROAMERICANA XV.B., Rio de Janeiro, 1998. n

[Concreto & Contruções] | 66 |


entidades parceiras
entidades parceiras

Alvenaria estrutural:
vantagens para
o construtor
e a sociedade
Carlos Alberto Tauil – Secretário Executivo
Bloco Brasil (Associação Brasileira da Indústria de Blocos de Concreto)

A
alvenaria estrutural com blocos bilidade, qualidade garantida por normas,
de concreto apresenta vantagens ensaios e pelo Selo da Qualidade, custos
muito superiores aos novos con- competitivos e benefícios à sociedade.
correntes no mercado, tais como confia- O extraordinário crescimento do

Execução de
alvenaria
no topo
de um dos
edifícios

| 67 | [www.ibracon.org.br]
Vista de um
mercado imobiliário nos últi- dos edifícios também essa tecnologia é en-
mos três anos tem induzido ao xergada por muitos como uma
correspondente aumento na de- solução. Por isso, é importante
manda por sistemas construtivos que fazer um comparativo em relação a um
aliem economia e qualidade técnica, sistema já bastante desenvolvido no
sempre de olho na equação final clien- Brasil, em todos os sentidos: de nor-
tes satisfeitos e aumento das margens mas técnicas, aperfeiçoamento tec-
de lucro apertadas. Afinal, empreendi- nológico, capacitação de mão de obra
mentos como os desenvolvidos para o e, fundamentalmente, que oferece a
programa Minha Casa, Minha Vida, lan- melhor relação custo/benefício entre
çado pelo governo federal no ano passa- todos, de acordo com pesquisadores de
do e que se propõe a construir 1 milhão universidades e institutos de pesquisa,
de moradias num prazo relativamente técnicos e profissionais da construção ci-
curto exigem controle preciso de todos vil. Esse sistema vem sendo aprimorado
os componentes da planilha de custo e, desde a década de 1970 e chama-se alve-
fundamentalmente, a industrialização naria estrutural com blocos de concreto.
da construção Esse sistema construtivo, que uti-
Nesses momentos de euforia do liza a alvenaria estrutural com blocos
mercado da construção, sempre costu- de concreto, oferece solução eficaz,
mam aparecer “soluções milagrosas”, testada em empreendimentos públi-
que prometem o melhor dos mundos. cos e privados há mais de três décadas
Porém, é importante que construtores e que, ao longo desse tempo, evoluiu
e incorporadores lembrem-se do ve- extraordinariamente. Hoje, grandes
lho ditado que diz que “não há bônus construtoras e incorporadoras, como
sem ônus”. É preciso, portanto, muita Cyrela-Living,  MRV  , Tibério, Tenda-
cautela e avaliação objetiva dos prós Gafisa, Cyrela, Even, CCDI-Camargo
e contras dos sistemas, especialmente Corrêa Desenvolvimento Imobiliário,
daqueles que ou não foram suficiente- Goldztein, entre diversas outras, de
mente testados, ou não têm tradição pequeno, médio e grande porte, recor-
na cultura construtiva brasileira. Assim rem ao sistema construtivo de alvena-
como aconteceu no auge do chamado ria estrutural com blocos de concreto
“Milagre Brasileiro”, nos anos 1970 e para imprimir métodos produtivos in-
1980, com sistemas de fôrmas metá- dustrializados, diminuir cronograma,
licas como o francês Outinord, agora garantir custos e qualidade.

[Concreto & Contruções] | 68 |


entidades parceiras
Detalhe do
assentamento
de blocos
de concreto
estruturais

Flexibilidade, modularidade, com- muito simples a colocação de esquadrias


ponentes industrializados, normaliza- pela construção com vãos nas medidas-
ção completa e custos extremamente padrão desses elementos. Há ainda ma-
competitivos caracterizam a alvenaria teriais específicos de acabamento, como
estrutural com blocos de concreto. Ela argamassas prontas, instalações hidros-
hoje tem elevada qualidade e ótima re- sanitárias modulares e padronizadas,
lação custo-benefício, que começam já escadas e outros elementos pré-fabrica-
no projeto arquitetônico, de dimensio- dos e equipamentos racionalizadores da
namento estrutural e de instalações, construção, como carrinhos para descar-
específicos para esse sistema. A alve- regar blocos, carrinho porta-argamassa,
naria estrutural com blocos de concre- gabarito para requadramento dos vãos,
to, como o próprio nome diz, dispensa cantoneira para cantos internos e exter-
a necessidade de executar pilares e vi- nos, entre outros, que fornecem agilida-
gas - os blocos já compõem a estrutu- de no cronograma e elevada qualidade
ra de uma casa ou de um prédio. Sua aos imóveis.
flexibilidade permite o emprego tanto A somatória desses elementos mon-
na construção de moradias supereconô- tou o alicerce para o enorme salto téc-
micas como de prédios de alto padrão nico-econômico no sistema construtivo
– cerca de 99% dos empreendimentos de alvenaria estrutural com blocos de
das companhias habitacionais o utilizam concreto. Estudos realizados por espe-
e também lançamentos paulistanos de cialistas em construção com alvenaria
alto padrão. O desenvolvimento técnico de renomadas universidades brasilei-
do sistema inclui completa normalização ras, como a Politécnica da USP, Univer-
dos materiais (blocos), produzidos com sidade Federal de São Carlos-SP, Fede-
garantia de resistência e uniformidade, ral do Rio Grande do Sul, entre outras,
por exemplo, e dos serviços envolvidos comprovam que a alvenaria estrutural
(projeto, construção da estrutura, exe- com blocos de concreto permite reduzir
cução de instalações e acabamento). o custo das obras em até 30% (em torres
Os blocos são fabricados em dimensões de até quatro pavimentos) e 15% (em
modulares que permitem erguer paredes torres com 20 pavimentos), com ganhos
com instalações já previstas e tornam ambientais, por praticamente não gerar

| 69 | [www.ibracon.org.br]
rejeitos de canteiro e quase não utili- tual da arrecadação desse imposto vai
zar fôrmas e escoras de madeira. obrigatoriamente para financiar os con-
Além disso, o sistema de alvenaria juntos habitacionais desenvolvidos pela
estrutural com blocos de concreto tem Companhia de Desenvolvimento Habita-
vantagens comparativas importantes, cional e Urbano (CDHU). No total, mais
em relação ao sistema de fôrmas. Ao de 400 mil unidades já foram construí-
contrário deste, que exige elevado in- das, desde 1986, com esses recursos.
vestimento inicial para compra de todo E, fundamentalmente, a construção
o sistema, com o construtor correndo o civil brasileira tem hoje fornecedores de
risco de subutilização, posteriormente, blocos de concreto qualificados, avaliza-
a aquisição dos blocos de concreto é sob dos por instrumentos como o Selo de Qua-
demanda e a custo imensamente mais lidade, fornecido sob critérios rigorosos
baixo. A compra de blocos, assim, pode de inspeção pela Associação Brasileira de
ser programada e interrompida, em caso Cimento Portland, e que vêm investindo
de necessidade. O sistema de alvenaria cada vez mais na ampliação da produção,
estrutural com blocos de concreto tam- com a construção de novas fábricas nas
bém é forte gerador de emprego, por diversas regiões do país. Assim, a alvena-
utilizar mão de obra intensiva, e contri- ria estrutural com blocos de concreto é
bui para a formação de fundos governa- a melhor alternativa – para construtores
mentais específicos para a construção e incorporadores, para seus clientes, que
de moradias populares, como o do go- compram qualidade a custos menores, e
verno paulista, porque paga ICMS – no para a sociedade, pelo seu potencial de
Estado de São Paulo, um ponto percen- emprego e geração de renda. n

Detalhe da execução da Limitador


alvenaria estrutural de janela
[Concreto & Contruções] | 70 |
solucionando problemas
solucionando problemas
lições aprendidas sobre recalques em fundações

Recuperação de
problemas estruturais
gerados no projeto
de fundações em um
edifício de 14 pavimentos
Silvio Edmundo Pilz • Marcelo Fabiano Costella • Cláudio Alcides Jacoski
Mauro Leandro Menegotto • Roberto Carlos Pavan
Rodnny Jesus Mendoza Fakhye – Professores
Área de Ciências Exatas e Ambientais - Unochapecó

1. Introdução n longos, desgastantes e caros litígios


Dentre os inúmeros problemas patológi- para identificação das causas e
cos que afetam os edifícios, um dos mais responsabilidades;
graves é o de recalques diferenciais em fun- n necessidade de evacuação dos prédios;
dações, principalmente, quando esses cau- n interdição da estruturas, entre outros.
sam eventuais instabilidades para a estrutu- A causa mais freqüente geradora de
ra, comprometendo a segurança. Torna-se, problemas nas fundações relaciona-se com
então, necessária uma intervenção que, por a investigação do subsolo, seja pela au-
vezes, além de ocorrer na infra-estrutura, sência, insuficiência ou má qualidade das
pode ser imprescindível também na superes- investigações geotécnicas ou pela má in-
trutura e na alvenaria e revestimentos. Essa terpretação dos resultados da investigação
intervenção, quando realizada, representa geotécnica.
um custo muito elevado quando comparado Ao contrário da maioria das atividades
ao custo inicial necessário e ao investimen- da construção civil, no caso da geotecnia
to em projeto e investigação do subsolo. e, em especial, das fundações, a atividade
Considerando-se que o custo usual de produtiva desenvolve-se sobre um material
uma fundação varia entre 3 a 6% do custo preexistente, não escolhido e, inclusive,
da obra, tratando-se de casos usuais, pode- não passível de adequada identificação.
se afirmar que a ocorrência de patologia e Por mais perfeitas que sejam executadas
a necessidade de reforço de fundação im- as investigações e obtidas amostragens de
plicam, além de custos que podem chegar boa qualidade, sempre há a possibilidade
a valores muitas vezes superiores ao custo de “surpresas geológicas” de comporta-
inicial, estigmas para obra, tais como: mento não previsto e de variabilidades não
n abalo da imagem dos profissionais totalmente mensuráveis “a priori”. Portan-
envolvidos; to, no caso de deficiência das informações

| 71 | [www.ibracon.org.br]
recebidas, ou da expectativa de inconfor- solução viável pode se dar com as chama-
midades, o projetista de fundações deve das estacas injetadas (estacas raiz), já que
solicitar informações geotécnicas comple- esses equipamentos caracterizam-se por
mentares para que sua análise possa ser suas pequenas dimensões, permitindo o
baseada em informações mais fidedignas. acesso a locais com limitações de altura,
Além de um bom projeto de fundações, a como, por exemplo, subsolos de prédios.
análise e previsão do comportamento estru- Este trabalho apresenta as causas que
tural, principalmente quando as fundações levaram quase ao colapso um edifício de
estão apoiadas em solos distintos, deve ser 14 pavimentos, que apresentou recalques
objeto de estudo do projetista da estrutura, totais e diferenciais elevados, e o método
com o uso de técnicas adequadas. Pode-se de recuperação empregado.
citar: a utilização de juntas, que se fazem re-
comendadas em edifícios longos; e também 2. Caracterização
em edifícios com fundações em cotas dife- da obra e do solo
rentes. Além disso, as estruturas devem ter
a verificação do seu comportamento de um 2.1 Características da obra
modo geral, e não somente das peças estrutu- O prédio em que ocorreram as mani-
rais tomadas isoladamente. Um bom critério festações patológicas é dividido por uma
para a verificação da deformação são os valo- junta de dilatação, sendo que, no bloco 2,
res das distorções angulares e a realização de onde ocorreram os recalques, a edificação
análises de interação tem 14 pavimentos.
solo-estrutura. No outro bloco (1),
Constatado o com 13 pavimen-
problema em funda- tos, não ocorreram
ções de uma obra, recalques. O pavi-
deve-se proceder mento a mais no
sua recuperação bloco 2 , destinado
ou reforço. Os re- a vagas de gara-
forços de fundação gens, foi projeta-
representam uma do após terem sido
intervenção no sis- executadas as esta-
tema solo-fundação cas Franki (estaca
existente, visando moldada in loco,
modificar seu de- que consiste na cra-
sempenho. vação de um tubo no solo com o impacto de
O diagnóstico é fundamental para per- queda um pilão numa bucha – tampão – de
mitir uma diretriz adequada na decisão concreto seco) da obra. Este prédio estava
do reforço da fundação. Para chegar a um em fase final de pintura e de início de ocu-
bom diagnóstico, são aconselháveis: pação, quando apresentou problemas nas
n a) inventariar os danos ocorridos para fundações.
quantificar o direcionamento dos Nas regiões onde as cargas nas funda-
movimentos; ções, devido ao pavimento extra, ultra-
n b) executar novas sondagens e/ou passariam a capacidade da estaca ou do
novos ensaios; conjunto de estacas, segundo o projeto de
n c) instrumentar a obra para avaliar fundações, foram previstos pilares adicio-
a magnitude e velocidade das nais, como no exemplo da figura 01, onde
deformações. foi criado o pilar P27A, próximo ao pilar
A solução de reforço de fundação a ser P27. Nesses pilares, a fundação foi execu-
adotada para uma obra poderá ser o refor- tada em perfis metálicos, já que o equipa-
ço das fundações existentes ou execução mento de estaca Franki não se encontrava
de novas fundações, desprezando-se as mais na obra e não haveria disponibilida-
existentes como elemento resistente. Uma de do equipamento por várias semanas.

[Concreto & Contruções] | 72 |


solucionando problemas
Devido à pequena distância entre esses furos, sendo o furo 1 significativo e loca-
pilares,ao fato de que os pilares com esta- lizado na região dos recalques (figura 3).
cas metálicas não sofreram recalques, e ao Este tipo de investigação do subsolo é
recalque de 9cm do pilar P27, a viga VY4 prática rotineira na região, sendo consi-
teve uma distorção angular de 1/25 (equa- derada suficiente na grande maioria dos
ção 1), conforme veremos adiante. casos, não tendo sido realizado nenhum
outro tipo de investigação complemen-
tar. Esta é uma situação predominante na
prática de Engenharia de Fundações no
Brasil. Porém, para as características do
Para os pilares P9 e P19, em função da solo, o mais correto seria a realização de
existência de uma galeria pluvial, conforme uma sondagem mista, onde a sondagem
indica a figura 2, foi necessária a execução SPT deveria ser complementada com son-
de um misto de bloco de coroamento/viga dagem rotativa(consiste na amostragem
de equilíbrio. Para o pilar P19, o recalque do solo, através de um conjunto moto-
diferencial elevado entre as estacas deste mecanizado, para obtenção de amostras
bloco/viga acabou por ocasionar a sua rup- de materiais rochoso) para verificação da
tura parcial por esforços de flexo-torção. integridade da camada suporte.
De posse das cargas atuantes nas funda-
2.2 Características do solo de fundação ções e da sondagem, a construtora e incor-
e da fundação poradora, proprietária da obra, contratou
Para investigação do subsolo (terreno) uma empresa especializada, que realizou
foram realizadas sondagens SPT (Standard os estudos, projetos de fundação e, poste-
Penetration Test ou sondagem a percus- riormente, a execução das estacas Franki.
são é um procedimento geotécnico de Uma breve análise do furo 1 revela a
amostragem do subsolo), num total de 06 presença de argila mole a muito mole, sem

| 73 | [www.ibracon.org.br]
presença de argila principal da edifica-
orgânica. Isso leva- ção ser suportado
ria a uma fundação, por somente uma
que, se em estacas, estaca Franki, citan-
atuaria somente com do como exemplo
capacidade de carga os pilares P10, P17,
de ponta, sendo pra- P23 e P27 (figura 3),
ticamente desprezí- que, mesmo a es-
vel a capacidade de taca tendo um diâ-
carga lateral das es- metro considerável
tacas. (Ø 52cm), maximiza
Numa análise a possibilidade de
da sondagem foi que um erro execu-
verificado, poste- tivo em uma destas
riormente, que a estacas, tal como o
capacidade total apoio de base estar
admissível de uma sobre um matacão
estaca Franki com ou em falso topo ro-
Ø 52cm seria de, no choso (como de fato
máximo, 450kN. Porém, considerando as ocorreu), ocasione recalques ou até ruptura
cargas atuantes nas fundações dos princi- das fundações.
pais pilares envolvidos nas manifestações
patológicas, há várias estacas com carga 3. A ocorrência
atuante de mais de 1300kN e até 1500kN. dos recalques e
Os carregamentos verticais atuantes manifestações
nas fundações, em alguns pilares, estavam patológicas
assim distribuídos: Vinte dias antes da manifestação prin-
P09 = 2135 kN P10 = 1475 kN P17 = 1375 kN cipal ocorrer, foi verificada pelos enge-
P18 = 3330 kN P19 = 2630 kN P23 = 1355 kN nheiros da empresa construtora a pre-
P27 = 1650 kN P30 = 3345 kN P31 = 2220 kN sença de pequenas fissuras em algumas
Outra constatação, que, se não é um paredes dos apartamentos. Em presença
erro, mas uma temeridade, foi o fato de ha- do projetista da estrutura, um breve diag-
ver um grande número de pilares do corpo nóstico foi o de que essas fissuras muito

[Concreto & Contruções] | 74 |


solucionando problemas
provavelmente se deviam a recalques di- va nas figuras 6, 7 e 8. Saliente-se que o
ferenciais nas fundações e que a constru- escoramento da estrutura, iniciado logo
tora deveria efetuar o monitoramento das após o primeiro dia, mas somente comple-
fissuras, para verificar se estavam ativas e tado, de forma efetiva, no terceiro dia,
se ocorreriam novas fissuras. pela dificuldade de mão-de-obra e mate-
Então, num domingo à noite, enquan- rial, em função de se tratar de feriado de
to ainda se monito- carnaval.
ravam as fis­suras, Nos pilares, no
ocorreram recalques primeiro dia, ne-
significativos e que nhum deles apresen-
levaram a fissuras tava fissuras visíveis.
elevadas (rachadu- Somente observou-
ras) nas alvenarias, se no contrapiso a
conforme figuras 4 ocorrência dos re-
e 5. calques, conforme
Observou-se fis- figura 9. No 2º dia,
suras em várias vigas surgiram rachadu-
e, em especial, na ras consideráveis no
VY4, que, em fun- pilar P19, confor-
ção de estar entre me figura 10, sen-
o P27 e P27A, gerou do que a rachadura
uma distorção an- vertical é devido a
gular significativa. um shaft (poço ou
Como os recalques compartimento para
nos três primeiros passagem de tubu-
dias foram progre- lações verticais) ao
dindo, a rachadura lado deste pilar. Ao
na VY4 progrediu, final dos recalques,
conforme se obser- o pilar P19, quando

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já se iniciaram os procedimentos de recu- do bloco de fundação em função do recal-
peração emergencial do mesmo, apresen- que diferencial entre as estacas do mesmo
tava fissuras indicativas de ruptura pelos bloco (figura 11 e figura 12). Observa-se
esforços combinados de compressão, fle- nesta figura que as barras de contenção se
xão e torção, esta originada pela rotação deformaram, devido a continuidade da
ocorrência dos recalques.
Ao final do terceiro dia, quando foi fina-
lizado o escoramento em dois andares do
bloco 2, os recalques se estabilizaram.

[Concreto & Contruções] | 76 |


solucionando problemas
Estas estacas raízes penetraram na ro-
cha de 2,5 metros a 3,0 metros.

4.2 Recuperação das fundações


4. Recuperação A figura 14 demonstra a situação exem-
da fundação e plo de recuperação, onde foram executa-
da estrutura das estacas raiz junto aos blocos de co-
roamento, com posterior execução do um
4.1 Análise inicial do problema
novo bloco de coroamento, integrando-o
Ao início da recuperação das funda- ao existente.
Devido à dificuldade executiva e do
ções, realizaram-se sondagens mistas
risco envolvido, optou-se por não haver
para caracterizar adequadamente o solo
armaduras passando por baixo do bloco
de fundação. Verificou-se, então, que
existente. Portanto, devido a essas li-
havia a presença de argila orgânica, fato
mitações, definiu-se que seria efetuada
que não havia sido informado na sonda-
uma armação em todo o contorno do blo-
gem inicial, e constatou-se a presença
co existente e, quando possível, na parte
de falso topo rochoso, com uma camada superior deste bloco. Constituíram-se ar-
de silte argiloso, com espessuras de 20 a maduras de suspensão, que foram chum-
50cm, sob este falso topo rochoso (figura badas ao bloco existente, tanto lateral-
13). Foi exatamente neste falso topo ro- mente quando na parte superior, com
choso que se apoiaram as estacas Franki adesivo epóxi. A ligação concreto fresco
que romperam com a atuação das cargas com concreto endurecido foi efetuada
nas estacas e que iniciaram o processo de com apicoamento e limpeza das faces do
recalque na edificação. bloco existente, sem adesivo epóxi, con-
Em função das novas sondagens, o forme figura 15 e 16.
critério adotado foi o de execução de Após a recuperação das fundações,
estacas raiz, com capacidade de 400 a houve monitoramento durante 06 meses
500kN ao lado dos blocos existentes; dos recalques, a partir de referência ex-
desconsideração das estacas existentes terna à obra, fixa em terreno vizinho, e
como elemento resistente; e novo bloco não se verificou nenhum recalque adicio-
de coroamento, integrado ao existente. nal significativo.

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sidade de armadura de reforço. A espes-
sura deste reforço foi de 10 cm em todas
4.3 Recuperação do pilar P19 as faces e o concreto utilizado teve re-
A recuperação do pilar P19 foi execu- sistência de 60 MPa(figura 17).
tada em duas etapas: uma antes da exe- A segunda etapa de reforço também
cução dos reforços de fundações pelo risco se constituiu de laminas de aço soldados,
do colapso estrutural do mesmo; e outra para combater os esforços de torção, e
posterior ao reforço das fundações. ferragens longitudinais e transversais adi-
Na primeira etapa de reforço foram
colocadas barras de aço soldados (figura
11), para combater os esforços de tor-
ção, e pré-cintamento do pilar, com-
plementadas com ferragens adicionais
longitudinais armadas e nova armadura
de cintamento. A concretagem do pilar
foi efetuada com microconcreto de alta
fluidez, para que pudesse penetrar nas
fendas e falhas do pilar, e devido à den-

[Concreto & Contruções] | 78 |


solucionando problemas
cionais, com capa de concreto 50 MPa na O controle da execução de fundações
espessura de 10 cm, conforme se observa é outra etapa importante, pois os dados
na figura 18. colhidos podem informar se os estudos
iniciais e informações recebidas sobre
5. Considerações o solo estão sendo confirmados e, em
finais caso contrário, verificar junto ao pro-
Do estudo de caso, verificou-se que a jetista a necessidade de novas investi-
qualidade de uma obra de fundações ini- gações do solo.
cia-se com uma completa e correta inves- Observou-se que os custos do reforço
tigação do subsolo, através de sondagens de fundações de uma obra, muitas vezes,
adequadas e, se necessário, complemen- são maiores que o custo inicial das fun-
tadas com outros ensaios. Neste caso, a dações da obra, ainda mais se conside-
sondagem SPT se mostrou insuficiente, rados os custos indiretos não facilmente
por não identificar uma camada de solo mensuráveis, tais como: depreciação do
de baixa capacidade abaixo do limite do preço de venda da obra; custos devido
impenetrável. ao atraso da entrega da obra; e desgas-
Também houve erro no projeto de te da imagem das empresas envolvidas;
fundação quanto ao cálculo da capaci- entre outros. Nesta obra os custos totais
dade de carga. Este erro poderia ter sido envolvidos na recuperação das fundações
evitado com uma breve auditoria do pro- representaram 450% do custo inicial das
jeto de fundações, haja visto se tratar fundações, incluindo estacas e blocos de
de uma etapa onde há muitas variáveis coroamento, além dos demais custos di-
envolvidas. retos e indiretos envolvidos. n

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pesquisa aplicada
ensaio acelerado brasileiro

Reação álcali-agregado
– Método Acelerado
Brasileiro de Prismas
de Concreto (ABCPT)
Leandro Sanchez – MSc – Doutorando
Université Laval

Selmo Kuperman – Diretor


Desek

Paulo Helene – Professor Titular


Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

Resumo seis agregados (granito de Embu das Artes,

M
uitos são os métodos de ensaio de seixo de quartzo de Três Lagoas, basalto
laboratório que vêm sendo atual- de Americana, basalto de Birigui, milonito
mente utilizados na prevenção de Recife e calcário de Spratt, Canadá). Os
da reação álcali-agregado (RAA). Dentre agregados foram testados pelos métodos AB-
estes, destacam-se: a análise petrográfica, CPT e CPT e, após a confecção dos ensaios,
preconizada pela NBR-15577-3 ou ASTM C uma análise comparativa entre os métodos
295; o método acelerado de barras de arga- foi realizada. Paralelamente aos ensaios de
massa (AMBT), preconizado pela NBR 15577- expansão, foi feita a análise petrográfica
4 ou ASTM C 1260; e o método de prismas das amostras. Os resultados indicam que
de concreto (CPT), preconizado pela NBR o ABCPT demonstra grande potencial para
15577-6 ou ASTM C 1293. Entretanto, ainda utilização na análise e classificação de agre-
não existe um ensaio que seja consenso no gados em obras correntes de engenharia,
meio técnico/científico no que diz respeito apresentando grande correlação com o mé-
à sua confiabilidade e eficiência. Este tra- todo CPT (método mais confiável existente
balho apresenta a tentativa de desenvolvi- na atualidade). No entanto, para a sua real
mento de um novo método de ensaio acele- comprovação, torna-se muito importante a
rado denominado ABCPT (método acelerado realização do ensaio com um maior número
brasileiro de prismas de concreto), com o de amostras de diferentes litologias.
intuito de que este possa, de maneira confi-
ável e em apenas trinta dias, analisar e clas- Palavras-chave: Reação álcali-agregado,
sificar agregados mediante a sua potencial métodos de ensaio, método de prismas de
reatividade em laboratório. Para o desen- concreto (CPT), método acelerado brasi-
volvimento desta pesquisa, foram utilizados leiro de prismas de concreto (ABCPT).

[Concreto & Contruções] | 80 |


pesquisa aplicada
Abstract agregados e da combinação cimento/agre-
There are many test methods that have gados em laboratório. No entanto, muitos
been carried out in the laboratory to prevent dos principais métodos utilizados pelo meio
alkali-aggregate reaction (AAR). The main técnico/científico têm se mostrado não to-
test methods are the petrographic analysis talmente confiáveis, apresentando alguns
according to NBR 15577-3 or ASTM C 295, resultados contraditórios entre o laborató-
the accelerated mortar bar test (AMBT) ac- rio e o campo (SWAMY, 1992).
cording to NBR 15577-4 or ASTM C 1260, and Dentre os métodos normatizados e atu-
the concrete prism test (CPT) according to almente utilizados, podem ser citados a
NBR 15577-6 or ASTM C 1293. However, up análise petrográfica, o método acelerado
to now, there is no consensus if they are re- de barras de argamassa (AMBT) e o método
liable and efficient. This work presents the de prismas de concreto (CPT).
development of a new and accelerated con- A análise petrográfica fornece impor-
crete prism test called ABCPT (accelerate tantes informações através de análise vi-
Brazilian concrete prism test) as an attempt sual, microscopia estereoscópica e micros-
to create a reliable test that can analyze copia ótica. Esta análise pode ser realizada
and classify in only thirty days the potential em agregados e concretos e, apesar de ser
reactivity of aggregates in the laboratory. uma análise bastante necessária em ambos
For this research, six aggregates (granite os casos, apenas a sua utilização para a ca-
from Embu das Artes, quartz cobstone from racterização da potencialidade reativa de
Tres Lagoas, two basalts from Americana um agregado não é suficiente, já que exis-
and Birigui, milonite from Recife and Spratt tem diversos fatores que podem influenciar
limestone, from Canada) were used. The na reação (Oberholster, 1985).
methods CPT and ABCPT were carried out O método AMBT analisa a potencialida-
with all the aggregates and a comparative de deletéria de agregados e de combina-
analysis between both tests was performed. ções cimento/agregado através da análise
Petrographic analysis was carried out as das porcentagens de expansão de barras de
well. The ABCPT seems to have a great po- argamassa. Embora altamente rápido e de
tential to analyze and classify aggregates in fácil execução, este método de ensaio vem
the laboratory. Its correlation with CPT re- apresentando resultados denominados fal-
sults at one year was quite good. However so-negativos (agregados classificados como
the ABCPT needs further testing with other inócuos pelo ensaio e que demonstram
lithologies to be confirmed as feasible. comportamento reativo em campo) e fal-
so-positivos (agregados classificados como
Keywords: Alkali-aggregate reaction, test reativos pelo ensaio e que demonstram
methods, concrete prism test (CPT), accele- comportamento inócuo em campo). Esses
rated Brazilian concrete prism test (ABCPT). resultados vêm gerando inconfiabilidade
na utilização deste método de ensaio.
1. Panorama dos O método de prismas de concreto (CPT)
métodos de ensaio é o método mais confiável e que represen-
na prevenção da RAA ta, de maneira mais fiel, as condições que
Sabe-se, atualmente, que a melhor solu- o agregado irá encontrar em campo. Até
ção técnico/econômica para se combater a agora não foram encontradas distorções de
reação álcali-agregado (RAA) é a prevenção comportamento laboratório/campo para
e, sendo assim, torna-se necessário o desen- um mesmo agregado. No entanto, seu tem-
volvimento e o aprimoramento de métodos po de duração (1 ano) inviabiliza quase que
de ensaio de laboratório que consigam de- totalmente sua utilização pelo mercado.
tectar a potencial reatividade de agregados Este panorama de não consenso na utili-
de maneira prévia a sua utilização. zação de um método de ensaio rápido e efi-
Diversos métodos de ensaio foram pes- ciente faz com que diversos pesquisadores se
quisados e desenvolvidos através dos anos concentrem no estudo e desenvolvimento de
para testar a potencial reatividade de métodos de ensaio na prevenção da RAA.

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2. Desenvolvimento de n A diluição dos íons alcalinos dos
métodos acelerados prismas de concreto imersos em água
de prismas de concreto faz com que suas expansões sejam
menores do que às dos prismas
Muitos pesquisadores tentaram desen- imersos em solução (tanto de NaOH
volver ensaios acelerados em concreto, quanto de NaCl) e dos prismas
através do aumento de temperatura do en- submetidos à 100% de umidade relativa
saio de prismas de concreto convencional em qualquer idade analisada. Portanto,
(CPT). No entanto, a lixiviação ocorrida a imersão em água não é uma forma
nestes ensaios, devido ao ambiente de ar- eficiente de acelerar o ensaio;
mazenamento proposto pela norma ASTM C n Prismas de concreto imersos em NaCl
1293, distorcia a resposta dos mesmos. podem gerar formação de cloroaluminatos
Por acreditar que ensaios realizados (mecanismo expansivo), que, por sua
em concreto representam de maneira mais vez, podem superestimar suas expan
fiel as condições que um agregado normal- sões, distorcendo a resposta do ensaio.
mente encontra em campo e, tentando LEE, LIU & WANG (2004) desenvolveram
combater o fenômeno da lixiviação, alguns um método acelerado de prismas de con-
pesquisadores decidiram testar imersões creto imersos em solução a 80°C (ACPST).
de prismas de concreto (semelhantes aos Neste ensaio, os corpos-de-prova são dosa-
utilizados no método CPT) em soluções de dos de acordo com o método CPT (ASTM C
NaOH, NaCl ou, ainda, em água a 80oC (BE- 1293), no entanto, o ambiente de armaze-
RUBÉ, FRENETTE, 2003). namento e o procedimento operacional são
Shayan et al. desenvolveram um ensaio realizados de acordo com o método AMBT
acelerado a 80°C onde os corpos-de-prova (ASTM C 1260).
são confeccionados de maneira similar ao No desenvolvimento deste ensaio, fo-
CPT, (tendo um equivalente alcalino supe- ram testados 22 agregados que se encon-
rior - 1,35% de Na2Oe), sendo desmoldados tram na China e seus resultados foram
após 24 horas e curados em câmara úmi- comparados com o método CPT. Os pesqui-
da durante três dias. Após este período, sadores concluíram que a correlação entre
os prismas são imersos em uma solução de os métodos CPT e ACPST aos 3 meses é ex-
NaOH-1N. Os autores adotaram o período celente (0,90), muito embora a correlação
de 14 dias para análise das expansões dos a 1 mês já seja satisfatória (0,89).
prismas e o limite de 0,062% foi escolhido Embora o ensaio tenha sido bastante
para a classificação da potencial reativida- inovador, segundo os próprios autores, este
de dos agregados. Segundo os idealizadores vem se mostrando um pouco severo quando
do ensaio, a correlação de seus resultados comparado com o CPT, assim como com o
com o método CPT e com o desempenho desempenho em campo de concretos con-
em campo de concretos confeccionados feccionados com um mesmo agregado.
com um mesmo agregado não foi satisfató-
ria (LEE, LIU & WANG 2004). 3. Método acelerado
BERUBÉ & FRENETTE (2003) estudaram brasileiro de prismas
prismas de concreto similares ao CPT imer- de concreto (ABCPT)
sos, a 80o C, em soluções de NaCl e NaOH O método ABCPT, proposto pelos auto-
(com diversas concentrações); imersos res deste trabalho, foi desenvolvido devido
em água; e expostos à umidade relativa à necessidade da análise e classificação da
(100%). Após análise dos resultados, os au- potencial reatividade de agregados em la-
tores concluíram que: boratório de maneira rápida e eficiente.
n Em 1 mês, prismas de concreto imersos Baseando-se nos trabalhos previamente
em NaOH já podem ser avaliados e, descritos, pôde-se perceber que a imersão
sendo assim, os agregados já podem ser de prismas de concreto em soluções extre-
classificados mediante a sua potencial mamente alcalinas em altas temperaturas
reatividade; pode, em determinados casos, gerar re-

[Concreto & Contruções] | 82 |


pesquisa aplicada
sultados não condizentes com a realidade. agregados (quando comparado com o método
Por outro lado, imergir corpos-de-prova em CPT), o limite de expansão escolhido pelos au-
água pode acarretar a diluição dos íons al- tores para caracterizar efeitos deletérios pro-
calinos presentes nos corpos-de-prova de venientes da RAA foi de 0,04% a 1 mês.
concreto, fazendo com que os mesmos não
tenham um comportamento condizente 4. Programa
com o seu desempenho em campo. experimental
Tentando minimizar o problema da
“agressividade ambiente” e da diluição dos 4.1 Amostras
íons alcalinos, o método ABCPT tem como Para o desenvolvimento desta pesquisa,
conceito básico a não ocorrência, ou a me- foram utilizados os seis seguintes agregados:
nor ocorrência possível de difusão entre o
meio interno e externo dos corpos-de-pro- Granito | Embu das Artes
va, e, sendo assim, o ensaio é acelerado O granito de Embu das Artes foi utiliza-
basicamente pela temperatura (80ºC). do como agregado padrão, pois através de
Para que a difusão seja mínima, a con- análise prévia pelo método AMBT (preco-
centração alcalina equivalente Na2Oei (in- nizado pela ASTM C 1260), foi classificado
terna) tem que ser igual ou muito próxima como inócuo.
à concentração alcalina Na2Oee (externa).
Como os prismas possuem em seu in- Basaltos | Americana e Birigui
terior 1,25% de Na2Oe, a solução deve ter Os basaltos de Americana e Birigui fo-
também um total de 1,25% de equivalente ram escolhidos devido ao fato de, geral-
alcalino (para que não ocorra difusão). mente, acusarem reatividade nos ensaios
Portanto em: com barras de argamassa.

Seixo de quartzo | Três Lagoas


O seixo de quartzo é tido como um agre-
gado altamente reativo, segundo resulta-
Logo, em um litro, há 12,5 gramas de dos do laboratório da CESP de Ilha Solteira,
NaOH. tendo sido utilizado em testes prévios à
Sendo a valência da hidroxila igual a 1 construção da UHE Jupiá.
(OH-1), o hidróxido de sódio tem a “molari-
dade” igual a “normalidade”. Milonito | Recife
O milonito foi escolhido devido ao da-
noso desempenho em campo demonstrado
em obras (particularmente em blocos de
concreto) na cidade do Recife.

Os corpos-de-prova são moldados de Calcário | Spratt, Canadá


acordo com o método CPT (ASTM C 1293) e O calcário de Spratt foi escolhido devido
permanecem em câmara úmida durante as ao danoso desempenho em campo demons-
primeiras 24 horas. Após a desmoldagem, é trado em obras de infra-estrutura (pontes,
feita a leitura de referência e eles são imer- túneis, muro, barreiras de concreto, etc)
sos em água por mais 24 horas a 80º C. Após na cidade de Quebec – Canadá, além de ser
este período, os prismas são imersos em so- o agregado padrão, ou seja, de desempe-
lução alcalina de 0,3125 N a 80ºC durante 1 nho conhecido, utilizado na calibração de
mês. Leituras semanais (preferencialmente ensaios de laboratório daquele país.
no mesmo horário) são feitas e as respostas
são dadas como porcentagens de expansão. 4.2 Ensaios realizados
Como a proposta do ABCPT é acelerar o Foram realizados os ensaios CPT, ABCPT
ensaio apenas pela elevação da temperatura, e análise petrográfica com os seis agrega-
não alterando o comportamento expansivo dos dos citados anteriormente.

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Análise petrográfica dos de acordo com a dosagem do método CPT
A análise petrográfica foi realizada de (ASTM C 1293). Após a confecção, os prismas
acordo com a norma NBR 15577-3. foram armazenados por 24 horas em câmara
úmida, sendo então desformados e imersos em
Método CPT solução de NaOH - 0,3125 N a 80°C. Os prismas
O método CPT foi realizado de acordo permaneceram imersos em solução durante 28
com a norma NBR 15577-6. A resposta do dias. Leituras semanais foram realizadas.
ensaio em uma idade considerada é dada
pela expansão média de três corpos-de- 5. Resultados
prova de concreto.
5.1 Análise petrográfica
Método ABCPT
Foram confeccionados dois corpos-de-pro- A Tabela 1 mostra os resultados da análise
va de 7,5 x 7,5 x 28,5 cm com os seis agrega- petrográfica de acordo com a NBR 15577-3.

[Concreto & Contruções] | 84 |


pesquisa aplicada
Método CPT já seria possível a análise e classificação
A Figura 1 apresenta a expansão média dos agregados estudados mediante este
ao longo do tempo dos prismas confeccio- método. No entanto, levar o ensaio até os
nados com os agregados em estudo através 28 dias (do ponto de vista de segurança)
do método CPT. torna-se mais confiável.
Uma tabela resumo pode ser feita con-
tendo a reatividade dos agregados em rela- 6. Análise
ção ao período de análise (1 ano). comparativa
Para a realização da análise compa-
Método ABCPT rativa entre métodos, foi elaborado um
A Figura 2 apresenta a expansão média gráfico de quatro quadrantes (onde o
ao longo do tempo dos prismas confeccio- eixo das abscissas representa um primei-
nados com os agregados em estudo através ro método e o eixo das ordenadas repre-
do método ABCPT. senta um segundo método). Implemen-
É possível visualizar que, aos 21 dias, tando os respectivos limites dos métodos

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(“um” e “dois”) de maneira perpendicu- parativa entre os métodos CPT e ABCPT
lar aos seus eixos, divide-se o gráfico em (28 dias).
quatro quadrantes. O primeiro e tercei- Pode-se perceber que todos os agrega-
ro quadrantes são regiões de discórdia dos seriam classificados da mesma maneira,
de classificação de agregados mediante se a classificação fosse feita através do CPT
dois métodos, ou seja, caso um agrega- e ABCPT, respectivamente a 1 ano e 1 mês
do se encontre nestas regiões significa (28 dias), mostrando este último bastante
que os dois ensaios que o testaram não potencial. O coeficiente de correlação (R2)
o classificam da mesma maneira. Caso o entre ensaios pode ser considerado bastan-
agregado permaneça no segundo ou no te razoável (0,89 ou 89%), principalmente
quarto quadrante, existe boa correla- em se tratando de ensaios acelerados.
ção entre dois métodos analisados, ou Como o método de ensaio é extremamen-
seja, o agregado foi classificado equi- te recente, sugere-se que este seja testado
valentemente mediante os dois ensaios. com mais agregados para sua futura confir-
A Figura 3 apresenta uma análise com- mação. A Tabela 4 mostra a classificação geral

[Concreto & Contruções] | 86 |


pesquisa aplicada
dos agregados mediante todos os ensaios, as- potencial de agregados em laboratório e
sim como o seu comportamento em campo. classificou todos os agregados testados
de maneira equivalente ao CPT (método
7. Conclusões mais confiável existente);
n O coeficiente de correlação entre os mé
Após as análises, pode-se concluir que:
todos ABCPT e CPT (respectivamente a
n A análisepetrográfica não é conclusiva
1 ano e 28 dias) foi de 89% (0,89), o que
(quantitativa), sendo apenas indicativa pode ser considerado muito bom em
(qualitativa). Esta deve ser sempre se tratando de um ensaio acelerado;
complementada com outro método n Para a real comprovação da eficiência do
de ensaio; método ABCPT, torna-se necessária a
n O método ABCPT mostrou ter bastante realização de uma maior quantidade
potencial para a análise da reatividade de ensaios.

Referências Bibliográficas
[1] SHAYAN, A; XU, A. Effects of cement composition and temperature of curing on AAR and DEF
expansion in steam-cured concrete. 12a ICAAR – International Conference on Alkali-
Aggregate Reaction, p.773-788. Beijing, 2004.
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Reactivity of Siliceous Aggregates. Cement and Concrete Research, vol. 16, pp. 181-189,
1986.
[3] BERUBÉ, M.A.; FRENETTE, J. Testing Concrete for AAR in NaOH and NaCl solutions at 38oC
and 80oC. Cement and Concrete Composites, vol.16, pp. 189-198, 2003.
[4] SWAMY, R.N; HAMADA, H; TANIKAWA, S; LAIW, J.C. Influence of Protective Surface Coating
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12a ICARR – International Conference on Alkali-Aggregate Reaction, p.1235-1243. Beijing,
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the Alkali-Reactivity of Aggregates. 12th International Conference on Alkali-Aggregate
Reaction in Concrete. Beijing, China, 2004.
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prismas de concreto). Congresso Brasileiro do Concreto (IBRACON), Salvador, Brasil,
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[7] SANCHEZ, L.F.M., KUPERMAN, S.C., HELENE, P.R.L., KIHARA, Y. Trials to correlate the
accelerated mortar bar test, the standard and the accelerated concrete prism tests. 13th
Congresso Internacional de Reação Álcali-Agregado em Concreto (ICAAR), Noruega, Junho,
2008. n

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13 a 17 de outubro de 2010

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uma organização técnico-científica de defesa e 1 – Gestão e Normalização
valorização da engenharia. Seu objetivo é (Management and Standardization)
proporcionar aos profissionais e empresas da 2 – Materiais e Propriedades
(Materials and Properties)
cadeia de produção do concreto e de seus
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materiais constituintes conhecimentos e
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tecnológicas.
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