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IBRACON
Adote concretamente
a revista
CONCRETO & Construções
u sumário
seções
& Construções & Construções
Ano XLV
(sistemas construtivos)
PUBLICIDADE E PROMOÇÃO à Evandro Duarte
à Arlene Regnier de Lima Ferreira (protendido)
arlene@ibracon.org.br à Frederico Falconi
(projeto de fundações)
PROJETO GRÁFICO E DTP à Guilherme Parsekian
à Gill Pereira
(alvenaria estrutural)
gill@ellementto-arte.com
à Hugo Rodrigues
ESTRUTURAS EM DETALHES ASSINATURA E ATENDIMENTO
(cimento e comunicação)
à Inês L. da Silva Battagin
office@ibracon.org.br
22
(normalização)
Resistência ao fogo das estruturas de concreto à Íria Lícia Oliva Doniak
GRÁFICA
Ipsis Gráfica e Editora (pré-fabricados)
à José Tadeu Balbo
29
Preço: R$ 12,00
Situação de incêndio no sistema construtivo (pavimentação)
paredes de concreto As ideias emitidas pelos entre- à Luiz Carlos Pinto da Silva Filho
(sistemas construtivos)
à Paulo Eduardo Campos
(arquitetura)
à Paulo Helene
INSPEÇÃO E MANUTENÇÃO © Copyright 2018 IBRACON
(concreto e reabilitação)
à Selmo Kuperman
44
Todos os direitos de reprodução
Estudo da microestrutura do concreto em situação reservados. Esta revista e suas
(barragens)
64
INSTITUTO BRASILEIRO DIRETOR DE EVENTOS
Avaliação experimental do concreto armado de alta DO CONCRETO César Daher
resistência submetido a elevadas temperaturas Fundado em 1972
Declarado de Utilidade Pública DIRETOR TÉCNICO
71
Estadual | Lei 2538 de 11/11/1980
Paulo Helene
Estudos experimentais sobre o fenômeno Declarado de Utilidade Pública Federal
Decreto 86871 de 25/01/1982
do desplacamento em estruturas de concreto DIRETOR DE RELAÇÕES
submetidas a elevadas temperaturas DIRETOR PRESIDENTE INSTITUCIONAIS
Julio Timerman Túlio Nogueira Bittencourt
84
DIRETOR 2º VICE-PRESIDENTE
Resistência ao fogo das estruturas pré-moldadas de Bernardo Tutikian
DIRETOR DE PESQUISA
concreto e as considerações da ABNT NBR 9062 DIRETOR 1º SECRETÁRIO E DESENVOLVIMENTO
89
Antonio D. de Figueiredo Leandro Mouta Trautwein
Comitês Técnicos: ações de fortalecimento da
normalização de concreto e estruturas DIRETOR 2º SECRETÁRIO
Carlos José Massucato
DIRETOR DE CURSOS
Enio José Pazini Figueiredo
Fundado em 1972, seu objetivo é promover e divulgar conhecimento sobre a tecnologia do concreto e de
seus sistemas construtivos para a cadeia produtiva do concreto, por meio de publicações técnicas, eventos
técnico-científicos, cursos de atualização profissional, certificação de pessoal, reuniões técnicas e premiações.
Receba gratuitamente as quatro edições anuais Descontos nos eventos promovidos e apoiados
da revista CONCRETO & Construções pelo IBRACON, inclusive o Congresso Brasileiro
Tenha descontos de até 50% nas publicações do Concreto
técnicas do IBRACON e de até 20% nas Oportunidade de participar de Comitês Técnicos,
publicações do American Concrete Institute intercambiando conhecimentos e fazendo valer
(ACI) suas opiniões técnicas
I
nicio este Editorial agradecendo o Conselho Diretor pelo “Student Competitions”,
voto de confiança a mim delegado, por este segundo man- que irá ocorrer na Fall
dato à frente do IIBRACON. Convention do ACI (Ame-
Além da grande honra de estar à frente de uma entidade rican Concrete Institute),
reconhecida internacionalmente, é também uma imensa em outubro de 2018, em
responsabilidade conduzir o IBRACON, ainda mais em uma Las Vegas, Estados Uni-
época como essa, cuja crise econômica que assola o nosso dos. Certamente, eu e uma significativa comitiva estaremos
país ainda castiga toda a cadeia produtiva do concreto. Mes- lá para torcer pelos nossos estudantes!!
mo notando-se alguns indícios de retomada da economia, Se o 59º CBC foi um sucesso, o próximo evento que irá ocor-
conversando com vários dirigentes da nossa comunidade rer em Foz do Iguaçu tende a alcançar um sucesso maior
técnica, nota-se ainda uma capacidade ociosa de várias ati- ainda, pelo fato de que o IBRACON irá promover um evento
vidades da Construção Civil girando em torno dos 50%!! conjunto com o LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia
Esta situação e os números ruins em nada desanimam o em- Civil, de Portugal) e CBDB (Comitê Brasileiro de Grandes
preendedor brasileiro. Nossa comunidade técnica aprendeu Barragens), o DAM World, agregando participantes interna-
a conviver com essas crises, aproveitando a situação atual cionais, que irão usufruir da hospitalidade brasileira, assim
para um aprimoramento nos seus processos produtivos e como terão o privilégio de conhecer uma das maiores obras
de seus profissionais, buscando atingir melhores resultados de engenharia mundial, a Usina de Itaipu, que, neste ano,
técnicos e econômicos, preparando-se para um ciclo vir- completa quarenta anos. Certamente este evento será um
tuoso, que teima a se iniciar, mas que certamente virá, mais marco inesquecível em nossa entidade.
cedo ou mais tarde!! Destaco novamente, assim como fiz no início da minha pri-
Com relação a nossa nova Diretoria, agradeço imensamente meira gestão, os tópicos principais que a irão nortear, cujos
a todos aqueles que aceitaram dividir comigo esta responsa- resultados positivos só serão alcançados mediante uma
bilidade e informo que ela já está em plena atividade, com re- sinergia de toda a nossa Diretoria e Conselho Diretor, que
uniões mensais, normalmente realizadas na sede da ABCP. tenho a certeza de poder contar (todos conhecem aquela
A boa receptividade da nova Diretoria demonstrou o quanto se máxima de que “uma andorinha só não faz o verão!!”):
quer fazer pelo desenvolvimento do concreto no Brasil, dando u Fortalecimento das Regionais do IBRACON, incentivan-
ênfase a todas as ações que beneficiem os nossos sócios. do-as a promover eventos e workshops, dando suporte
Outro fato digno de nota foi o sucesso alcançado no 59º técnico e material a esses eventos; devemos lembrar que
CBC (Congresso Brasileiro do Concreto), ocorrido em Ben- já está vigente um novo relacionamento com as Regio-
to Gonçalves/RS, fruto de um incessante trabalho conjunto nais, dando a elas autonomia necessária para atingir os
de toda a nossa Diretoria e, especialmente, o nosso Dire- objetivos acima consubstanciados, motivando-as a de-
tor de Eventos da gestão anterior, Prof. Bernardo Tutikian. senvolver essas ações e, assim, captar mais sócios ;
O número expressivo de graduandos e recém-formados u Manter, incentivar e promover uma nova estratégia de
neste evento, participando das competições estudan- Marketing de nossa instituição, que reconhecidamente é
tis, brilhantemente coordenada pela querida e dedicada a mais importante entidade técnica nacional voltada à ca-
Diretora de Atividades Estudantis, Engª Jéssika Pache- deia produtiva do concreto;
co, nos motivou a proporcionar a equipe vencedora des- u Fortalecer e ampliar os Comitês Técnicos, inserindo-os
sas competições os recursos para representar o Brasil no nos eventos do IBRACON e de entidades parceiras,
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Diretorias Regionais: o
braço forte do Instituto
H
istoricamente, o ser hu- O Diretor Presidente atual, Julio Ti-
mano se reúne em gru- merman, colocou à disposição de
pos de interesse. Pare- cada Diretor Regional um recurso de
ce que é na associação mil reais anuais, renováveis, mas não
com outros indivíduos cumulativos, e criou, na contabilida-
que fica mais fácil aflorar a capacida- de do Instituto, a figura do Centro de
de de evoluir e de construir uma so- Custo, ou seja, cada Regional pode,
ciedade melhor. com ética e probidade, “gerenciar”
Lógica semelhante se aplica ao mun- esse e outros recursos gerados local-
do dos negócios. Por meio de uma mente pelo seu grupo.
Associação, empresas, entidades e Dessa maneira as Diretorias Regionais
profissionais de vários calibres podem passaram a colaborar intensamente
se reunir para trocar experiências, para o crescimento do número de as-
buscar alternativas para a superação sociados do IBRACON e a promover
de desafios e explorar novas oportu- atividades técnico-científicas regula-
nidades, dentro da abrangência de res, como reuniões, palestras, confe-
seu campo de ação. rências, comitês técnicos e cursos.
Além da construção de uma pode- Mobilizaram, durante 2017, em plena
rosa rede de relacionamentos, o associativismo pode co- crise econômica e política no país, mais de 4 mil profissionais
laborar diretamente para amenizar os efeitos de uma crise através de eventos locais, alguns dos quais chegaram a su-
econômica por meio do conhecimento que gere desenvol- perar 600 participantes em um só seminário.
vimento tecnológico. Hoje há Regionais mais ativas, como as de Rio de Janeiro,
O Instituto Brasileiro do Concreto conta hoje com mais de Pernambuco, Campo Grande, Tocantins, Triângulo Mineiro,
mil e duzentos sócios profissionais e mais de 80 Empresas Bahia, Belém, Rio Grande do Sul, Paraná, e outras que che-
Mantenedores, com cerca de 25 Regionais que cobrem todo gam a organizar mais de 6 eventos por ano, um a cada 2
o país, praticamente um Diretor Regional para cada unidade meses, consolidando o IBRACON como fonte dinâmica do
da federação. saber técnico e científico na área de estruturas de concreto.
Considerando que cada Regional deve ser estruturada com Com o apoio da Diretoria nacional, através do Diretor de
no mínimo 3 membros, Diretor Regional, Diretor Administra- Relações Institucionais, as Regionais são estimuladas a
tivo e Diretor Técnico, as Regionais congregam hoje mais de juntar esforços com Entidades congêneres, tipo CREAs,
75 profissionais de alto nível engajados em levar a missão do SINDUSCONs, ADEMIs, ABECE, ABMS, ALCONPAT, AB-
IBRACON aos principais centros e polos econômicos do país. CIC, ABCP, ABESC, Clubes e Institutos de Engenharia,
Segundo o artigo 50 do Estatuto, as Regionais têm o mes- Universidades e Faculdades para dar maior amplitude e
mo objetivo e missão do IBRACON, ou seja, promover, de- alcance aos eventos. O IBRACON gostaria de liderar esses
senvolver e defender o bom uso do concreto. Diz também o encontros regionais, mas isso não impede as Regionais de
artigo 51 que o mandato do Diretor Regional termina com o apoiarem eventos liderados por outras Entidades. O im-
mandato do Diretor Presidente do IBRACON, podendo ser portante é estar contribuindo para o aumento do saber em
reconduzido somente uma vez mais em sequência. Essa engenharia de concreto.
cláusula assegura a renovação permanente dos voluntários A opção por um projeto, um empreendimento em concreto,
Diretores Regionais, de tal forma a proporcionar o salutar ro- advém do sólido conhecimento desse material e da exis-
dízio do poder e a preservação de todos os interesses locais. tência de suporte e capacitação técnica em toda a cadeia,
Com a aprovação pelo Conselho Diretor e Diretoria do Institu- passando pelos fornecedores de materiais e serviços, os
to do novo Regulamento das Regionais, ocorrido em setem- laboratórios de ensaio, os escritórios de projeto, os órgãos
bro de 2016, houve uma grande dinamização das atividades públicos, a normalização e as práticas recomendadas com
das Regionais. procedimentos corretos de execução e controle, assim
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PERGUNTAS TÉCNICAS Essas são recomendações de ordem A norma limita o valor máximo a
informativa. É necessário ainda reali- 0,7 x fbk, porém com fbk tomado na
Estou com uma dúvida com relação à resis- zar, pelo menos, o ensaio de prisma área líquida, que é aproximadamente
tência de argamassa para alvenaria estru- para se certificar do comportamen-
tural. Sigo sua recomendação, presente no igual a 2x o fbk padrão (na área bru-
to conjunto argamassa-bloco na
livro Comportamento e Dimensionamento de ta). Portanto, o limite máximo será
alvenaria.
Alvenaria Estrutural, de fa = 0,7 a 1,5 x fbk 0,7 x 2 = 1,4 ~1,5.
ou o item 6.12 da ABNT NBR 15961-1, que
Deixando claro o ponto acima: as
me foi apresentada por um cliente? duas informações, do livro e da nor-
GUILHERME RESENDE ma, são equivalentes. O livro re- GUILHERME PARSEKIAN,
Engenheiro Civil comenda entre 0,7 a 1,5 vezes fbk. PRESIDENTE DO COMITÊ EDITORIAL
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Carga
Curso Palestrantes Data Local Realização
horária
Rubens Curti IBRACON
Intensivo de Tecnologia Básica do Concreto 6 a 8 de março 18 horas Sede da ABCP – SP
Flávio André da Cunha Munhoz ABCP
Gestão de Planejamento Rubens Curti IBRACON
3 e 4 de abril 16 horas Sede da ABCP – SP
de Estruturas de Concreto Roberto Barella Filho ABCP
IBRACON
Tecnologia Básica das Paredes
Rubens Monge Silveira 10 de abril 8 horas Sede da ABCP – SP ABCP
de Concreto
ABESC
IBRACON
Execução de Edificações em Paredes
Hugo Pereira Ferraz 11 de abril 8 horas Sede da ABCP – SP ABCP
de Concreto
ABESC
IBRACON
Projeto Estrutural em Paredes
Marcio Corrêa 12 de abril 8 horas Sede da ABCP – SP ABCP
de Concreto
ABESC
Prof. Júlio Timerman
Inspetor I – Inspeção de Estruturas IBRACON
Prof. Paulo Helene Sinaenco
de Concreto Segundo a 26 a 28 de abril 28 horas IDD
Prof. Enio Pazini Recife – PE
ABNT NBR 16230:2013 ALCONPAT
Prof. Gilberto Giuzio
Prof. Júlio Timerman
Inspetor I – Inspeção de Estruturas IBRACON
Prof. Paulo Helene Nutec
de Concreto Segundo a 17 a 19 de maio 28 horas IDD
Prof. Enio Pazini Fortaleza – CE
ABNT NBR 16230:2013 ALCONPAT
Prof. Gilberto Giuzio
CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 15
u personalidade entrevistada
Valdir Pignatta
e Silva
V
aldir Pignatta e Silva é professor-
doutor do Departamento de
Estruturas e Geotecnia da Escola
Politécnica da Universidade de
São Paulo (Poli-USP), instituição
onde se graduou engenheiro civil
em 1975, mestre, em 1992, e doutor, em 1997,
além de ter sido coordenador do programa de pós-
graduação em engenharia civil de 2003 a 2005.
Especialista em estruturas em situação de incêndio,
assunto ao qual se dedica desde 1988, quando
era engenheiro civil na Companhia Siderúrgica
Paulista (Cosipa), o Prof. Valdir Pignatta lançou,
em 1999, uma disciplina pioneira sobre o tema
na pós-graduação brasileira, repetindo o feito na
graduação no ano seguinte.
Membro de mais de uma dezena de comissões Diretor da Associação Luso-Brasileira para a
de estudo da Associação Brasileira de Normas Segurança contra Incêndio (Albrasci) e revisor
Técnicas (ABNT), como a que elaborou (2004) de 21 revistas científicas, Pignatta publicou mais
e revisou (2012) a norma brasileira NBR 15200 de 250 artigos científicos, sendo autor do livro
Projeto de Estruturas de Concreto em Situação “Projeto de Estruturas de Concreto em Situação de
de Incêndio, e a NBR 14432:2001 Exigências de Incêndio” e de outros oito livros.
resistência ao fogo dos elementos construtivos Ele é coordenador do Grupo de Fomento à
das edificações. Segurança contra Incêndio (GSI/USP).
IBRACON – Como surgiu seu interesse Engenharia Civil, a das estruturas chamou um curso sobre o uso das estruturas
pela área de engenharia de estruturas, minha atenção. Achava fantástico como de aço e, para esse fim, fui designado
em especial a engenharia de estruturas desenhos, com elementos estruturais a estudar sobre aço em incêndio. Eu
em situação de incêndio? dimensionados por mim, poderiam se nada sabia sobre o assunto. Importei
Valdir Pignatta e Silva – Desde a transformar em obras reais. algumas publicações estrangeiras e
infância eu desejei ser engenheiro Finda a graduação, fui trabalhar na área comecei a compreender o tema. Aqui,
civil, alcançando meu objetivo em de projeto da Companhia Siderúrgica destaco dois aspectos. O primeiro
1971, quando iniciei o curso na Escola Paulista (Cosipa). Em 1988, a Cosipa é que logo entendi que se tratava
Politécnica da USP (Universidade de foi convidada pela Faculdade de de um tema afeito aos engenheiros
São Paulo). Cursando a Poli e mantendo Arquitetura da UFRJ (Universidade estruturistas, pois era possível calcular a
contato com as várias áreas da Federal do Rio de Janeiro) para dar resistência ao fogo das estruturas e não
de pós-graduação no Brasil sobre concreto em incêndio, realizados por evoluíram para recomendações de
estruturas em situação de incêndio. pesquisadores suecos. Finalmente, segurança contra incêndio e para
Em 2010, iniciei uma disciplina optativa na década de 1990, surge a primeira normas técnicas sobre o tema?
para a graduação, também pioneira no norma internacional sobre o tema, o Valdir Pignatta e Silva – Como disse,
Brasil. Nesta, quase todo o conteúdo é Eurocode. A minha preocupação em 1988 iniciei meus estudos sobre
voltado para o concreto. vem desde esse período, pois não o tema. Em 2004 surgiu a norma
havia normas brasileiras sobre o brasileira ABNT NBR 15200:2004. Foi
IBRACON – Quando surgiram as primeiras tema. Na década de 1990, surgiram um grande avanço. Entretanto, com o
preocupações com o comportamento os projetos de normas europeias. uso dessa norma, notou-se que havia
do concreto sob ação do fogo? O que Com base nelas, dediquei-me, necessidade de incrementá-la com
motivou essas primeiras investigações? prioritariamente, à norma sobre o aço outros procedimentos. Eu e minha
Quais foram seus resultados? e, em seguida, sobre o concreto. Há equipe passamos a nos dedicar ao
Valdir Pignatta e Silva – Em 1899, anos havia exigências de resistência concreto em incêndio quase em tempo
“
NA DÉCADA DE 1990 SURGE A PRIMEIRA
“
NORMA INTERNACIONAL SOBRE O TEMA
[CONCRETO EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO],
O EUROCODE
“
ESTRUTURAS DE CONCRETO EM INCÊNDIO] SÃO AS DIMENSÕES
MÍNIMAS DOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS E A DISTÂNCIA DO
CENTRO GEOMÉTRICO DAS ARMADURAS AO FOGO
integral. Elaboramos diversos trabalhos informações numéricas que, se um requisito fundamental para a
de mestrado, doutorado, livros e seguidas, a solução é aceita pelas segurança contra incêndio é que a
artigos científicos. Vários resultados autoridades. São métodos nem arquitetura seja projetada visando
interessantes foram atingidos, de sempre com base científica, mas, à segurança contra incêndio, em
forma a poder integrar a revisão de supõe-se, a favor da segurança, especial, a compartimentação
2012 da referida norma. portanto, geralmente não econômicas. vertical. Ou seja, se um incêndio se
A pesquisa internacional, bem como iniciar em um pavimento, ele não
IBRACON – Qual é a filosofia que a brasileira, vem se desenvolvendo a se propagará para o imediatamente
embasa atualmente a normalização procura de procedimentos, ao mesmo superior. Isso é fundamental, mas
internacional relacionada às estruturas tempo, mais realísticos e acessíveis. infelizmente nem sempre cumprido pelo
de concreto e aos componentes de projeto de arquitetura. Associando-
construção em situação de incêndio? IBRACON – Quais os principais se o bom projeto de arquitetura ao
Valdir Pignatta e Silva – Com o requisitos normativos para o dimensionamento normalizado, reduz-se
conhecimento atual, ainda não é dimensionamento de estruturas de a probabilidade de ruína da edificação a
possível dimensionar edifícios de concreto em situação de incêndio? valores adequados à segurança.
concreto para a situação real de O que esses requisitos garantem em
incêndio, mesmo empregando termos de segurança contra incêndio? IBRACON – Existem especificidades no
métodos computacionais avançados. Valdir Pignatta e Silva – Os principais dimensionamento de estruturas pré-
Então, a filosofia mundial, incluindo requisitos são as dimensões mínimas fabricadas e estruturas moldadas no local
nosso país, ainda se restringe ao dos elementos estruturais e a quanto à segurança contra incêndio?
uso de métodos prescritivos, ou distância do centro geométrico das Valdir Pignatta e Silva – Do ponto de
seja, as normas e códigos fornecem armaduras ao fogo. Respeitando essas vista conceitual, não há diferença.
recomendações, a estrutura terá um Como as pré-fabricadas têm
LABORATÓRIO DE SEGURANÇA AO FOGO E A EXPLOSÕES / IPT
estaduais. Entre outras vantagens, técnicas brasileiras dos procedimentos IBRACON – Como é a relação entre
os projetistas poderiam seguir uma adequados após o combate a um as normas brasileiras relativas à
só diretriz, ao invés de respeitar incêndio, eliminando o tradicional segurança contra incêndio em edificações
legislações diferentes para cada processo de rescaldo, que muitas e as instruções técnicas do Corpo de
estado. Felizmente, a maioria dos vezes traz consequências danosas às Bombeiros? Existe uma relação harmoniosa
estados brasileiros tem uma legislação estruturas de concreto? ou conflitiva entre essas instâncias
própria inspirada na do Estado de Valdir Pignatta e Silva – Tendo em normalizadoras? Não seria mais adequado
São Paulo, o que, pela semelhança, é vista que se trata de uma atividade que o assunto fosse da competência
uma vantagem. Seria interessante que de bombeiros, seria mais eficiente exclusiva dos engenheiros ou arquitetos?
os estados que não têm exigências se tais recomendações constassem Valdir Pignatta e Silva – As instruções
adequadas se alinhassem aos demais. em Instruções Técnicas do Corpo de técnicas (IT’s), elaboradas pelos
A ABNT NBR 15200:2012 se alinha às Bombeiros. Sabe-se, da prática, que bombeiros, fornecem as exigências
mais desenvolvidas do mundo. Como o choque térmico da água contra as de resistência ao fogo das estruturas
ponto positivo, destaco, novamente, que superfícies aquecidas do concreto formadas por qualquer material.
nossas normas já incluem resultados o fazem fissurar. No entanto, outras As Normas Brasileiras, elaboradas por
de pesquisa brasileira, ou seja, há consequências podem ocorrer. Esse representantes da nossa sociedade,
recomendações tendo como base é mais um estudo que deveria ser com forte participação de engenheiros,
“
PODERIA HAVER UM CÓDIGO
“
NACIONAL QUE FORNECESSE
RECOMENDAÇÕES BÁSICAS DE
SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO
“
RESISTÊNCIA AO FOGO DAS ESTRUTURAS. AS NORMAS
BRASILEIRAS INDICAM COMO DIMENSIONAR A ESTRUTURA
PARA RESPEITAR ESSAS EXIGÊNCIAS
indicam como dimensionar a estrutura obras de reformas também devem incêndio, devem ser analisadas pelos
para respeitar essas exigências. Não seguir a legislação vigente, ou seja, respectivos especialistas.
havendo superposição de escopo, pode- decretos estaduais sobre segurança
se dizer que a convivência é harmoniosa. contra incêndio e instruções técnicas. IBRACON – Quais lições podem ser
No entanto, em algumas normas e IT´s No entanto, cada caso é um caso. No aprendidas do recente incêndio num
há superposição de escopos. Posso exemplo de escadas, a que você se edifício residencial em Londres, a
comentar sobre a área de estruturas, referiu, parece-me de bom senso que o Grenfel Tower, ocorrido em junho do
em que a ABNT NBR 14432:2001 Corpo de Bombeiros dê outra solução ano passado? Quais foram as principais
e a IT8:2011 (de São Paulo) têm alternativa, adequada a cada caso. Seria razões para que o fogo se espalhasse
similaridade. De início, a IT8 era muito interessante que algumas soluções tão rapidamente, provocando dezenas
similar (não exatamente igual) à norma alternativas para esse caso, e outros de vítimas fatais? Como um projeto de
brasileira. Como o passar dos anos e mais frequentes, fossem estudadas e arquitetura bem feito poderia ter evitado
das revisões da IT8, ela se tornou mais incluídas nas Instruções Técnicas, a fim ou minimizado a propagação das chamas?
“
PROBLEMAS PARA FUTUROS MESTRANDOS
“
E DOUTORANDOS: DIMENSIONAR CAPITÉIS
DE LAJE LISA EM INCÊNDIO E EFEITO
DA DILATAÇÃO DE PISOS NOS PILARES
1. INTRODUÇÃO risco, como a natureza da construção subdivisão, que tem sido recomendada
A
complexidade da solução e a localização da edificação na ma- pelo IPT como sendo capaz de possibi-
do problema da segurança lha urbana e no lote, são apenas dois litar boas soluções de segurança con-
contra incêndio nas edifi- exemplos de situações importantes tra incêndio, tem oito elementos:
cações é definida pela diversidade de que se devem considerar. a) Precaução contra o início de incên-
parâmetros que estabelecem as situ- Frente a isto, a solução da segu- dio, composta por ações preven-
ações de risco e pelos objetivos que rança contra incêndio deve, inevitavel- tivas visando controlar o risco do
devem ser alcançados. O objetivo da mente, levar em conta uma abordagem início do incêndio;
segurança contra incêndio não se re- sistêmica, que se inicia no projeto e se b) Abandono seguro da edificação,
sume à segurança da vida humana e estende por toda a vida útil da edifica- composto por ações protetoras
os riscos manifestam- se não apenas ção, que faça frente a tal complexidade visando assegurar o abandono
em função da ocupação. Fatores de considerando a subdivisão do proble- rápido e seguro da população
ma geral em pro- do edifício;
blemas parciais. c) Limitação da ocorrência da infla-
Tal abordagem mação generalizada, composta por
deve permitir que ações protetoras visando controlar
cada um desses o risco de rápido crescimento de
problemas par- incêndio no ambiente de origem;
ciais seja solu- d) Extinção inicial do incêndio, com-
cionado de forma posta por ações protetoras visando
independente, garantir os meios para combate ao
assegurando-se incêndio em seus estágios iniciais;
que mantenham e) Limitação da propagação do in-
Foto 1 – Vista geral da ruína de estrutura de concreto pré-
moldado, decorrente de incêndio, no edifício de tecelagem Zêlo entre si intera- cêndio dentro da edificação, com-
ção e sinergia posta por ações protetoras visan-
suficientes para do controlar o risco de propagação
estabelecer, de do incêndio além do ambiente
maneira apropria- de origem;
da, a solução da f) Precaução contra a propagação
segurança contra do incêndio para edificações adja-
incêndio como centes, composta por ações prote-
um todo, aten- toras visando controlar o risco de
dendo aos objeti- propagação do incêndio para edifi-
vos propostos. cações adjacentes;
Uma proposta g) Precaução contra o colapso estrutu-
Foto 2 – Ruína da cobertura de concreto pré-moldado,
decorrente de incêndio, no edifício de tecelagem Zêlo razoável para tal ral, composta por ações protetoras
Foto 5 – Planta baixa dos edifícios Sede I e Sede II da CESP, põe, por exemplo, escritórios pode ser uma temeridade.
destacando porção que ruiu e posicionamento dos pórticos para edifícios de Apesar da obrigatória compartimen-
escritórios, valo- tação das fachadas, jamais dispensada
O TRRF é estabelecido empirica- res de TRRF na faixa de 30 min a 180 no Decreto Estadual nº 56.819 de 2011
mente, levando em conta a provável min. Para edifícios térreos e de até 6m do Corpo de Bombeiros do estado de
severidade do incêndio, as dificulda- de altura requer 30 minutos, acima de São Paulo, o incêndio tem grandes
des de controlar o avanço do incêndio 6 m até 23 m requer 60 min, acima de chances de se propagar pelo exterior,
e as consequências do colapso estru- 23 m até 30 m requer 90 min, acima de junto à fachada. Tal situação poderá ser
tural provocado pelo incêndio, quer 30 m até 120 m requer 120 min, acima contida por via do adicional resfriamen-
seja em termos de risco às equipes de de 120 m até 150 m requer 150 min e to executado pelo Corpo de Bombeiros
acima de 150 m até 250 m requer 180
min. Para esta classe de ocupação a
compartimentação vertical é requerida
apenas acima de 12 m de altura. Apesar
disso, o Decreto Estadual nº 56.819 de
2011 do Corpo de Bombeiros do estado
de São Paulo admite, para todas estas
alturas, que a compartimentação vertical
seja substituída por sistema de detec-
ção de incêndio e sistema de chuveiros
automáticos de supressão e controle
do incêndio para edificações com altura
acima de 12 m até 23 m e por esses
sistemas mais o sistema de controle de
fumaça para edificações com altura aci-
ma de 23 m.
É importante esclarecer que, tanto
Foto 6 – Parte frontal do edifício Foto 7 – Parte posterior do edifício
Sede II da CESP, remanescente da ruína a detecção de incêndio como o con- Sede II da CESP, remanescente da ruína
Situação de incêndio
no sistema construtivo
paredes de concreto
ARNOLDO WENDLER – Diretor
Wendler Projetos
A
segurança contra incêndios ticos, hidrantes, extintores, etc... Na metálicas (impacto de 20J) em situa-
tem como objetivo primor- segurança passiva tem-se a seguran- ção de incêndio. A ABNT NBR10636
dial minimizar o risco à vida, ça das estruturas, compartimentação estabelece que em qualquer caso a
tanto dos usuários como dos bombei- dos ambientes e rotas de saída, prin- deformação não deve ser excessiva
ros que lá estarão para combater e ex- cipalmente a escada de incêndio. (sem especificar um valor absoluto).
tinguir o fogo. Paralelamente ocorrerá As paredes de concreto encai- A ABNT NBR 14432: 2001 Exi-
a limitação dos danos físicos à cons- xam- se exatamente nesta proteção gências de resistência ao fogo de ele-
trução. São dois os principais proble- passiva, efetivada pelo isolamento mentos construtivos das edificações
mas que ocorrem em um incêndio: a térmico, estanqueidade e estabilida- estabelece, para cada tipo e altura de
produção de fumaça (tóxica ou não) e de das paredes. O isolamento térmico edificação, qual é o tempo requerido
a exposição ao calor intenso. Uma das consiste no limite de temperatura que de resistência ao fogo (TRRF) onde
principais condições para se evitar os a face não exposta ao fogo vai atingir. as paredes terão que suportar as
problemas gerados por um incêndio é No caso da ABNT NBR10636: 1989 condições acima.
a rápida desocupação do imóvel. Paredes divisórias sem função estru- Para edificações residenciais (gru-
As medidas de proteção podem tural – Determinação da resistência ao po A da tabela A1), tem-se :
ser divididas em ativas e passivas. Na fogo (métodos de ensaio de paredes u Edificações até 6 m de altura: TRRF
segurança ativa tem-se os detectores divisórias), a temperatura média admi- de 30 min;
tida nesta face é u Edificações de 6 a 12 m de altura
de 140ºC, com (aproximadamente T + 4 pavimen-
pontos isolados tos): TRRF de 30 min;
de 180 ºC. A es- u Edificações de 12 a 23 m de altura
tanqueidade é (aproximadamente T + 8 pavimen-
observada pela tos): TRRF de 60 min;
não inflamação u Edificações de 23 a 30 m de altura
de um chumaço (aproximadamente T + 11 pavimen-
de algodão co- tos): TRRF de 90 min;
locado de 1 a 3 u Edificações com mais de 30 m de
cm de eventuais altura: TRRF de 120 min.
fissuras. A esta-
bilidade pode ser 2. O SISTEMA PAREDES
verificada pelo DE CONCRETO
Foto 1 – Vista interna da fôrma de alumínio montada ensaio sob carga As paredes, dentro do sistema
1
O cobrimento das armaduras, previsto nas Normas Brasileiras de Projeto Estrutural em função da durabilidade pretendida, corresponde à distância da face da armadura
principal até a face exposta do elemento de concreto.
Essa dimensão está a favor da segurança em situação de incêndio, pois no método tabular da ABNT NBR 15200 a exigência
corresponde à distância medida do centro da armadura até a face exposta do elemento estrutural de concreto.
Foto 5 – Detalhe dos termopares para ensaio de incêndio e execução do ensaio de percurssão na parede
120
Temperatura (ºC)
100
4.4 Spalling
80
60
O spalling é o lascamento da su-
40 perfície da parede com perda de área
20 de concreto, causado pela pressão
interna de vapor de água ao evaporar
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 110 115 120 durante um incêndio. Em temperaturas
Tempo (min.) inferiores a 100 ºC, há perda de água
dos macroporos. Acima de 100ºC,
u Gráfico 2 inicia-se a perda de água capilar, dos
Evolução das temperaturas durante o ensaio poros mais finos, retida por adsorção.
O spalling pode ser explosivo, prin-
cipalmente nos concretos de maior re-
Sinos, chegou-se a uma temperatura que devem ter tela dupla segundo a sistência, que são mais compactos, difi-
de 96,22 ºC aos 120 min, bem abaixo ABNT NBR 16055: 2012 Parede de cultando a percolação de água. Para se
do limite de 140ºC, sem inflamação do concreto moldada no local para a evitar o spalling, recomenda-se que a
algodão colocado nas fissuras. construção de edificações – Requisi- umidade do concreto seja menor que 3%.
Veja na Tabela 2 e no Gráfico 3 tos e procedimentos, pode-se ado- Um interessante efeito colateral
a evolução dos fatos ocorridos e da tar o método tabular, com a tabela para este caso é a queima das fibras
temperatura. de espessuras e cobrimentos míni- têxteis colocadas para diminuir a retra-
mos da ABNT NBR15200 Projeto de ção. Com a queima, formam-se canalí-
4.3 Paredes com mais de 15 cm, estruturas de concreto em situação culos por onde o vapor de água esca-
com tela dupla nas duas faces de incêndio – Procedimento (Tabela pa sem provocar tensões na camada
3). Verificamos que em qualquer si- superficial da parede.
Para paredes com mais de 15 cm, tuação de incêndio em uma das fa-
ces, as paredes com mais de 15 cm 5. CONCLUSÃO
u Tabela 2 – Evolução dos fatos terão um TRRF de 120 min. O cui- Percebe-se que o sistema de pa-
ocorridos durante o ensaio dado a ser adotado é o aumento do redes de concreto moldada in loco é
cobrimento, passando para um valor muito eficiente para o desempenho
Parede 2 (14 cm) mínimo de c1 = 35 mm, conforme sob incêndio. Como é um material ex-
Tempo Descrição mostra a Tabela 3. tremamente estável e não combustível,
0:00 Início do ensaio
Foco de calor na parte central 120
13 min.
da amostra
Temperatura (ºC)
100
Amostra começa a liberar água
14 min.
da composição 80
Inicia-se um acréscimo de
60
26 min. calor no ponto onde aconteceu
a liberação de água
40
28 min. Formação da primeira fissura
20
Amostra continua a liberar
32 min. água da composição e gases 0
pela fissura formada 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 110 115 120
56 min. Não há mais liberação de água Tempo (min.)
Realização de ensaio de
117 min.
choque mecânico para 120 min. u Gráfico 3
120 min. Término do ensaio Evolução das temperaturas durante o ensaio
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] BOLINA, F. L. ;PRAGER, G. L.; RODRIGUES, E.; TUTIKIAN, B. F. Avaliação da resistência ao fogo de paredes maciças de concreto armado. Ambiente Construido,
Porto Alegre, v.15, n.4, p. m291-305, out/dez 2015
[2] FURNAS, CENTRAIS ELÉTRICAS - Relatório DCT.C.15.003.2006-R0, Setembro/2006 – Sistemas construtivos em concreto moldado in loco e tilt-up – avaliação
de desempenho
COMENTÁRIOS E EXEMPLOS DE
APLICAÇÃO DA ABNT NBR 6118:2014
A publicação traz comentários e exemplos de aplicação da nova norma
brasileira para projetos de estruturas de concreto - ABNT NBR
6118:2014, objetivando esclarecer os conceitos e exigências normativas
e, assim, facilitar seu uso pelos escritórios de projeto.
DADOS TÉCNICOS
ISBN 9788598576244
Formato: 18,6 cm x 23,3 cm
Páginas: 484
AQUISIÇÃO:
Acabamento: Capa dura
www.ibracon.org.br
Ano da publicação: 2015
(Loja Virtual)
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Verificação da segurança
de painéis tilt-up em
situação de incêndio
UIATAN AGUIAR NOGUEIRA – Engenheiro Civil
TIAGO SOUSA TAVARES – Engenheiro Civil
DANIEL DE LIMA ARAÚJO – Professor Associado
Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás (UFG)
1. INTRODUÇÃO 551 [5] e o Manual de Construção em -moldado cuja relação entre altura e
O
sistema construtivo Tilt-Up Tilt-Up da TCA [6]. espessura seja inferior a 32, valor que
consiste na utilização de O dimensionamento de painéis Tilt- normalmente é superado no sistema
painéis verticais de con- -Up em situação de incêndio encontra- Tilt-Up. Por essa razão, a norma ABNT
creto pré-moldados no local, aplica- -se ainda muito limitado devido à au- NBR 16475:2017 [9] não foi utilizada
dos conjuntamente como estrutura e sência de material bibliográfico e de neste artigo para efeito de comparação
vedação. Após adquirirem resistência modelagens matemáticas na área. Por com o modelo de paredes esbeltas.
suficiente, os painéis são içados por essa razão, este artigo busca mostrar Além disso, essa norma também não
um guindaste e conectados à fundação uma forma de verificação da capacidade apresenta modelos de dimensiona-
já realizada, conferindo ao método um resistente desses painéis em situação mento para paredes de concreto em
custo competitivo pela rapidez e pela de incêndio que possa ser aplicada na situação de incêndio.
mão de obra reduzida. prática de projetos. Para isso, são utili-
Entretanto, por se tratar de um mé- zadas recomendações de códigos inter- 2. MÉTODO DE DIMENSIONAMENTO
todo construtivo relativamente “recen- nacionais de projeto para avaliação da À TEMPERATURA AMBIENTE
te” no Brasil, as normatizações técni- capacidade resistente dos painéis Tilt- PARA PAINÉIS TILT-UP
cas brasileiras ainda não contemplam -Up a temperatura ambiente. Contudo, O método das paredes esbeltas
o dimensionamento de painéis Tilt-Up, como esses códigos não apresentam leva em conta os momentos de segun-
sobretudo quando submetidos a uma metodologia para avaliação da seguran- da ordem devido à deflexão do painel e
situação de incêndio, assunto que, por ça dos painéis em situação de incêndio, é recomendado pelos códigos de pro-
sua vez, também é recente no país. é sugerido o emprego do método das jeto ACI 551 [5] e Manual de Constru-
Sendo esses elementos estruturais isotermas de 500 C apresentado no
o
ção em Tilt-Up [6]. É utilizado para que
de concreto, sabe-se que sua utilização Eurocode 2 [7] para permitir a verifica- o dimensionamento atenda, sobretudo,
deve respeitar alguns limites impostos ção a incêndio de painéis Tilt-Up. aos estados limites de serviço. Contu-
pelas normas técnicas de estrutu- No Brasil, o projeto de paredes de do, neste artigo não serão apresenta-
ras de concreto, como a ABNT NBR concreto moldado no local é regido das as verificações de serviço, uma vez
6118:2014[1], a ABNT NBR 9062:2017 pela norma ABNT NBR 16055:2012 que a situação de incêndio se enquadra
[2] e a ABNT NBR 15200:2012 [3], [8], enquanto o projeto de paredes de como estado limite último excepcional.
mas para o correto dimensionamento à concreto pré-moldado é regido pela re- Para que este método seja utiliza-
temperatura ambiente, recomenda-se cente norma ABNT NBR 16475:2017 do, as seguintes condições precisam
buscar recomendações de códigos in- [9]. Contudo, esta norma é aplicada ser obedecidas segundo o Manual de
ternacionais, como o ACI 318 [4], o ACI apenas para paredes de concreto pré- Construção em Tilt-Up da TCA [6]:
u Tabela 2 – Valores dos coeficientes de redutores ks,θ, kEs,θ e kp,θ para aços de armadura passiva em função da temperatura
segundo a ABNT NBR 15200: 2012 [3] e o Eurocode 2 [7]
sistiria a um incêndio padrão com du- go, o painel dimensionado à temperatura Vale ressaltar que o perfil de tempe-
ração de 120 min (Mu = 5,891 kNm > ambiente pelo método das paredes es- ratura no painel Tilt-Up quando subme-
ΦMn = 3,141 kNm). beltas, quando exposto a um incêndio tido a incêndio em uma das faces, é um
padrão com duração de 60 minutos, não dado necessário para aplicação do mé-
6. CONCLUSÃO atendeu ao requisito de segurança em si- todo das isotermas de 500oC propos-
As normas brasileiras ainda precisam tuação de incêndio. O painel teve que ser to pelo Eurocode 2 [7]. Contudo, esse
preencher a lacuna existente referente ao redimensionado, o que gerou um aumen- perfil nem sempre está disponível. Por
dimensionamento de paredes de concre- to de 105% na armadura de flexão do isso, foi utilizado o perfil de temperatu-
to pré-moldado com grandes índices de mesmo para que o critério de segurança ra previsto no trabalho de Lim [16] para
esbeltez, como o caso dos painéis Tilt- fosse atendido. Quando o tempo de in- um incêndio padrão compartimentado.
-Up. O projeto segundo a norma ABNT cêndio é aumentado para 120 minutos, Isso pode tornar a verificação da segu-
NBR 16475:2017 [9] não pode ser apli- esse aumento de armadura de flexão não rança desses painéis demasiadamente
cado a esse sistema construtivo, tendo foi suficiente para garantir a segurança do conservadora quando empregados em
em vista que ele vale para paredes com painel em situação de incêndio. galpões industriais, uma vez que a cur-
esbeltez menor que 32. Para o caso es- Segundo o método tabular da nor- va de incêndio mais apropriada seria a
tudado neste artigo, por exemplo, o pai- ma ABNT NBR 9062, para que um pai- de um incêndio não compartimentado,
nel possuía uma esbeltez igual a 65. Nesta nel maciço de concreto atendesse a em que as temperaturas dos gases e,
situação, recomenda-se a utilização de um TRRF de 60 minutos, ele deveria ter consequentemente, a dos elementos
códigos de projeto específicos, como o uma espessura mínima de 90 mm. Por estruturais, não são tão altas quanto
Manual de Construção em Tilt-Up da TCA outro lado, um painel com 150 mm de a do incêndio padrão da norma ABNT
[6] e o ACI 551 [5]. Já, para a verificação espessura deveria atender a um TRRF NBR 15200:2012 [3].
da segurança dos painéis em situação de de, pelo menos, 120 minutos. Os resul-
incêndio, a aplicação desses métodos em tados do exemplo apresentado mos- 7. AGRADECIMENTOS
conjunto com o método das isotermas tram que essas espessuras mínimas Ao Engenheiro Civil João Alberto de
de 500oC, como proposto neste artigo, são pequenas para o caso de painéis Abreu Vendramini pela disponibilização
mostra-se como uma forma racional de se Tilt-Up, mostrando a necessidade de do projeto estrutural de um galpão in-
avaliar a segurança desses painéis, tendo melhorar as recomendações de proje- dustrial construído com a técnica Tilt-
em vista a lacuna ainda existente nas nor- to dessa norma para que ela possa ser -Up e que serviu de base para a propo-
mas para essa verificação. aplicada ao sistema construtivo com sição do caso de estudo apresentado
No exemplo apresentado neste arti- paredes de concreto esbeltas. neste artigo.
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de Estruturas de Concreto: Procedimento. – NBR 6118, Rio de Janeiro, 2014.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto e Execução de Estruturas de Concreto Pré–Moldado. – NBR 9062, Rio de Janeiro, 2017.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio. – NBR 15200, Rio de Janeiro, 2012.
[4] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. Building Code Requirements for Structural Concrete (ACI 318 R–14). American Concrete Institute. Farmington Hills. 2014.
[5] ACI Committee 551. Tilt–Up Concrete Structures (ACI 551 R–92). American Concrete Institute. Farmington Hills, 2003.
[6] TILT–UP CONCRETE ASSOCIATION. The Tilt–Up construction and Engineering manual: A comprehensive reference manual for Tilt–Up contractors and engineers. 6th Edition. 2004.
[7] EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. EN 1992–1–2: Eurocode 2: design of concrete structures – part 1.2: general rules – structural fire design.
Brusels: CEN, 2004.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de Estruturas de Concreto em Situação de Incêndio. – NBR 16055, Rio de Janeiro, 2012.
[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Painéis de parede de concreto pré–moldado – Requisitos e procedimentos. – NBR 16475, Rio de Janeiro, 2017.
[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Forças Devido ao Vento em Edificações. – NBR 6123, Rio de Janeiro, 1998.
[11] TAVARES, T. S.; NOGUEIRA, U.A.. Análise de painéis de concreto armado em situação de incêndio. 2016. 147p. Trabalho de conclusão de curso. Escola de Engenharia Civil
e Ambiental, Universidade Federal de Goiás, Goiânia. 2016.
[12] GOIÁS. Lei Estadual n.° 15802, de 11 de setembro de 2006. Institui o Código Estadual de Segurança contra Incêndio e Pânico e das outras providências. Diário Oficial do
Estado de Goiás, Goiás, 2006.
[13] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Exigências de resistência ao fogo de elementos construtivos de edificações – Procedimento – NBR 14432, Rio de
Janeiro, 2000.
[14] GOIÁS. Secretaria de Segurança Pública. Copo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás. Instrução Técnica n.° 14: Carga de incêndio nas edificações e áreas de risco. Goiás, 2014.
[15] GOIÁS. Secretaria de Segurança Pública. Copo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás. Instrução Técnica n.° 8: Resistência ao fogo dos elementos de construção.
Goiás, 2014.
[16] LIM, LINUS C. S. Stability of precast concrete tilt panels in fire. 2000. Fire Engineering Research Report No. 00/8. School Of Engineering – University of Canterbury.
Christchurch, New Zealand, 2000.
[17] INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (ISO). Fire–Resistance Tests – Elements of Building Construction – Part 1.1: General Requirements for Fire
Resistance Testing. ISO 834. Geneva: ISO/TC, 1990. [Revision of first edition (ISO 834:1975)]
[18] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Ações e segurança nas estruturas – procedimento. NBR 8681, Rio de Janeiro, 2003.
DURABILIDADE
DO CONCRETO
à Editores Jean-Pierre Ollivier e Angélique Vichot
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Estudo da microestrutura
do concreto em situação de
incêndio: um termômetro
da temperatura alcançada
ARNALDO FORTI BATTAGIN
ANA LÍVIA ZEITUNE DE P. SILVEIRA
Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)
E
m situação de incêndio, a pelo fogo geralmente começa com ins- máxima atingida pelo concreto na face
natureza não combustível e peção visual de mudanças de cor, pre- exposta ao fogo, bem como a profun-
não tóxica do concreto, bem sença de fissuras, spalling, etc., mas didade da degradação alcançada. O
como sua baixa condutividade térmica, raramente se recorre a ensaios de la- estudo da microestrutura reveste-se
colocam-no como vantajoso em relação boratório, além da determinação da re- de importância, pois em algumas si-
à maioria dos materiais de construção, sistência à compressão residual a partir tuações uma estrutura de concreto
funcionando até certo ponto como uma de testemunhos extraídos da estrutura pode ter sido consideravelmente afe-
barreira que previne a propagação do afetada e outros poucos procedimen- tada devido ao incêndio, mesmo que
calor e do próprio fogo. Nessas condi- tos. Entretanto, o estudo da microes- não haja danos visíveis durante uma
ções, as estruturas de concreto resistem trutura pode constituir ferramenta de inspeção de campo.
por mais tempo durante um incêndio grande importância para subsidiar as
descontrolado, fato que tem impacto medidas de recuperação. 2. OS DANOS CAUSADOS PELO
positivo no salvamento de vidas. As mudanças nas propriedades es- INCÊNDIO NA MICROESTRUTURA
Entretanto, quando o concreto é truturais do concreto não se revertem, DO CONCRETO
submetido a altas temperaturas por pois as transformações nas proprieda- A reação dos compostos anidros do
longo tempo, pode haver uma deterio- des físicas e químicas da pasta de ci- cimento com a água, como os silicatos
ração em suas propriedades, como de- mento e dos agregados causadas pe- e ferroaluminatos cálcicos, conduz à
créscimo da resistência à compressão, las altas temperaturas são irreversíveis. formação da pasta endurecida, forma-
decréscimo do módulo de deformação, Assim, tais mudanças podem ser usa- da pelos silicatos cálcicos hidratados
fissuração e perda da aderência entre das como indicadores de temperatu- (C-S-H), aluminatos de cálcio hidrata-
a pasta de cimento e os agregados. ras máximas de exposição, com base dos, hidróxido de cálcio e sulfoalumi-
Nessas condições, paradoxalmente, no exame pós-fogo da microestrutura natos de cálcio. Num estágio posterior,
a baixa condutividade térmica gera do concreto. Neste artigo apresenta- há formação de carbonato de cálcio,
gradientes de temperatura entre a su- -se a metodologia adotada nos labora- resultante dos fenômenos de carbo-
perfície exposta ao fogo e o interior do tórios da Associação Brasileira de Ci- natação da pasta. Esses produtos são
elemento estrutural, que pode resultar mento Portland (ABCP) para avaliação estáveis em determinada faixa de tem-
em lascamento superficial também co- dos danos causados na microestrutu- peratura, o que faz com que o aumento
nhecido por “spalling”. ra do concreto como ferramenta para desta, acima de 100o C, pode resultar
u Figura 6
Amostra de concreto coletada
u Figura 5 após incêndio e observada sob
Porção interna de amostra de MEV, com presença de cristais u Figura 7
concreto em relação a face fraturados de quartzo e Amostra de concreto coletada
exposta ao fogo, observada fraturas nas suas interfaces após incêndio, sob observação
em MEV, onde a presença de cristalinas oriundas de suas em MEV, onde a presença de
cristais aciculares de etringita transformações alotrópicas, portlandita na região central
indica que amostra não superou sugerindo que a temperatura indica que a temperatura não
100 ºC durante o incêndio foi superior a 570 ºC atingiu 480 ºC
30-120 ºC
(Perda de 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Identificação 120-400 ºC
água livre e/ 400-600 ºC 600-800 ºC Os ensaios da microestrutura do
da amostra (Decomposição
ou adsorvida e [Decomposição (Descarbonatação
dos aluminatos concreto possibilitam a identificação
decomposição do Ca(OH)2] do CaCO3)
hidratados)
dos silicatos da extensão dos danos causados
hidratados) por incêndio ao concreto, particulari-
prof. 0-2 cm 1,1 – – 9,2 zando regiões e espessuras de cada
prof. 2-4 cm 0,8 – – 9,0 elemento estrutural, permitindo ava-
prof. 4-8 cm 5,9 – 1,2 0,9 liar as partes de uma estrutura que
Acima devam ser recuperadas e facilitando
4,8 3,2 1,2 1,2
prof. 8 cm
a escolha das medidas corretivas
necessárias em cada caso, além de
CP III (cimento portland de alto forno) e função das temperaturas alcançadas identificar elementos estruturais que
quartzo, constituinte do agregado. Isso avaliadas em cerca de 300 ºC, con- devam ser substituídos.
indica que a microestrutura está íntegra forme a ausência de perda de massa As técnicas apresentadas e a corre-
e a temperatura não chegou a 100 ºC mostrada na Tabela 2 ta interpretação dos resultados obtidos
nessa região. Nas amostras retiradas desde a su- podem auxiliar na tomada de decisões
Nas regiões entre 4 cm e 8 cm da perfície até 2 cm de profundidade, não para o desenvolvimento de projetos de
superfície exposta, reconhecem-se foi identificada portlandita, nem alumi- recuperação que considerem o estado
os mesmos minerais identificados nas natos e silicatos hidratados, indicando real da estrutura e, portanto, favoreçam
regiões sãs, com exceção dos alumi- que a temperatura atingiu valores acima uma análise com base em segurança
natos hidratados, decompostos em de 480 ºC e abaixo de 800 ºC. A au- e economia.
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] KALIFA, Pierre; MENNETEAU, François-Dominique; QUENARD, Daniel. Spalling and Pore Pressure in HPC at High Temperatures. Cement and Concrete Research,
N° 30. Elsevier Science Ltd. Amsterdam, 2000
[2] NEVILLE, Adam Matthews. Propriedades do Concreto. 2ª Ed. PINI. São Paulo, 1997.
[3] BATTAGIN, AF; SILVEIRA, ALZ. Muito além do Controle Tecnológico Convencional do Concreto. Concreto & Construções N° 86. Instituto Brasileiro do Concreto, São
Paulo, abril-junho, 2017
1. INTRODUÇÃO envolvidos para sua produção. Essas ladas. No Brasil a expectativa para o
C
imento Portland é o ma- características únicas tornaram o pro- mesmo período está entre 130 e 150
terial artificial mais pro- duto essencial para a produção do milhões de toneladas (SCRIVENER;
duzido no mundo atual. A moderno ambiente construído, que JOHN; GARTNER, 2016) e um pouco
produção de cimento vem crescen- está relacionado à qualidade de vida menos, 117 milhões de toneladas, se-
do mais rapidamente que a popula- dos cidadãos. Nesse sentido, quanto gundo os resultados do Mapeamen-
ção (Figura 1), atingindo em torno de mais cimento é utilizado, melhor é a to Tecnológico do Cimento (ABCP,
575 kg.hab-1.ano-1 em 2015. Esse qualidade de vida. Somada a carên- SNIC, 2018).
crescimento decorre da capacidade cia de habitação e de infraestrutura Como a fabricação do clínquer
do cimento em transformar partícu- de qualidade com o esperado au- Portland exige a decomposição tér-
las em rochas de virtualmente qual- mento de população nos países em mica do calcário, não é possível pro-
quer forma e dimensão, bem como desenvolvimento, a produção mundial duzir cimento Portland sem liberar
da abundância dos recursos naturais de cimento deverá crescer, atingindo CO 2 para a atmosfera além daquele
em 2050 entre 5 e 6 bilhões de tone- emitido durante queima de combustí-
veis, que, no caso brasileiro é de 564
5000 8000 kg de CO 2 (CSI, 2016). A indústria de
4500 7000 cimento vem progressivamente redu-
4000 zindo as emissões de CO2, principal-
Produção de Materiais (Mt)
6000
3500 mente pela substituição do clínquer
População (M)
3000 5000
por materiais como escória granu-
2500 4000
lada de alto forno e cinzas volantes.
2000 3000
Em consequência, estima-se que,
1500
2000 em 2014, apenas 67% do cimento
1000
500 1000 brasileiro foi composto de clínquer,
0 0 sendo a média mundial superior a
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
75% (CSI, 2016). Assim, o uso de
adições combinado com o uso de
u Figura 1 combustíveis alternativos como bio-
Evolução da produção de cimento e aço comparada com o crescimento
massa, composta por produtos con-
da população (SCRIVENER; JOHN; GARTNER, 2016)
siderados neutros ou quase neutros
1
Assumindo o custo de produção do cimento típico de US$30/t e o custo da captura do CO2 entre US$40 e 80/t (SCRIVENER; JOHN; GARTNER, 2016, p. 6).
180
de sólidos em suspensão no cálculo.
160 Considerando a natureza bifásica
140 dos concretos, a mobilidade de suas
partículas decorrerá de ambas as fa-
120
ses, ou seja, dos agregados inseri-
100
dos na pasta (MPT) e das partículas
80 finas imersas na água (IPS). Essa
2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 conceituação é ilustrada para o caso
MPT (micra) de um cimento na Figura 8. A incor-
poração dos fíleres de performance
u Figura 7 (partículas menores que o clínquer)
Valores de abatimento (mm) em função do MPT (mícrons) calculado a
partir das informações de dosagem e das matérias-primas empregadas em quantidade adequada reduz os
vazios entre os grãos maiores, em
u Figura 10
Comparação de formulações de concreto com alto teor de fíleres e baixa demanda de água com um
benchmark global — (JOHN et al., 2017). As formulações com elevado teor de fíleres são representadas em
cores mais escuras. (a) Intensidade de ligante versus resistência à compressão; (b) intensidade de CO 2 versus
resistência à compressão; as linhas vermelhas identificam os limites do benchmark para concretos convencionais.
A linha verde em (b) identifica os limites inferiores da pegada de CO 2 de concretos feitos com clínquer puro
da área específica e a criação de for- binar maximização de MPT e IPS nor impacto ambiental. A Figura 10 (a)
ças repulsivas (aditivos dispersantes) com dispersão de partículas. Como apresenta um gráfico de intensidade de
são os aspectos críticos na redução resultado, é possível obter composi- ligantes versus resistência à compres-
do consumo de água na pasta. ções com reduzido teor de água para são, tornando evidente o potencial
O emprego dessa abordagem mi- a trabalhabilidade demandada, o que dessa abordagem. Os pontos abaixo da
croestrutural no estado fresco na for- resultará em sistemas com elevada linha vermelha se referem a formulações
mulação de concretos permite com- eficiência no uso do clínquer e me- eficientes em sua classe de resistência,
u Figura 11
Fotos da aplicação em uma obra-piloto de um concreto LEAP bombeável, produzido em central de concreto
3. TECNOLOGIA LEAP EM
CENTRAIS DE CONCRETO
A tecnologia LEAP é resultado de
um processo de racionalização e uso
de uma maior quantidade de informa-
ções no processo de formulação, mas u Figura 12
não depende de materiais especiais Intensidades de ligantes (IL) obtidas em concretos produzidos em
condições de variabilidade de matérias-primas encontradas em central
para ser implementada. A Figura 11 de concreto comercial
apresenta imagens de uma concreta-
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] ABCP, SNIC Mapeamento Tecnológico do Cimento - Brasil 2050. São Paulo, 2018 (em publicação)
[2] DAMINELI, B. L. Conceitos para formulação de concretos com baixo consumo de ligantes: controle reológico, empacotamento e dispersão de partículas. São
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[6] SCRIVENER, K.; JOHN, V. M.; GARTNER, E. Eco-efficient cements: Potential, economically viable, solutions for a low-CO2, cement-based materials industry.
Paris: UN Environment, 2016.
C
oncretos reforçados com interessante o estudo do comportamento de comportamento, devido à falta de es-
fibras (CRF) são, por defini- do CRF frente a vários aspectos, dentre tudos específicos sobre o assunto [1, 2].
ção, compósitos produzidos os quais deve-se destacar seu compor- A utilização de CRF no revestimento de
a partir de cimento hidráulico, agregados tamento frente ao fogo. Dependendo da túneis, por exemplo, apesar de prevista,
de diferentes dimensões e reforço fibroso intensidade do fogo, tanto o concreto tem recebido pouca atenção quanto à
(contínuo ou descontínuo). Hoje, a pers- quanto o reforço, têm suas propriedades avaliação do efeito do incêndio nas pro-
pectiva de aplicação deste “novo material mecânicas diminuídas, uma vez que a priedades mecânicas residuais (pós-in-
para estruturas”, definição dada pelo fib elevação da temperatura afeta a microes- cêndio) da estrutura [2].
Model Code 2010, se estende a diver- trutura de ambos os materiais. O desen- Este conjunto de fatos evidencia, por-
sos elementos estruturais, entre os quais volvimento das temperaturas no CRF, por tanto, a necessidade de trabalhos que
podem ser citados: pórticos, lajes, vigas, sua vez, dependerá do cenário de incên- tratem do comportamento mecânico de
pilares, estacas, aduelas de túneis, con- dio propiciado pela estrutura em questão. CRF distintos em situação de incêndio e
creto projetado, concreto pré-moldado, Frequentemente, curvas nominais de da elaboração e validação de modelos
entre outros. incêndio, representadas por equações de previsão de comportamento para este
Sabe-se que a garantia da segurança simplificadas, são utilizadas para padroni- tipo de estrutura. No presente trabalho,
estrutural e a preservação do bem social zar as temperaturas em testes reais de re- são apresentadas as principais alterações
são princípios básicos da engenharia. sistência ao fogo e simulações. Dentre as dos componentes do CRF que afetam o
principais curvas nominais presentes na comportamento global do compósito du-
bibliografia pode-se citar a curva-padrão rante e após sua exposição ao fogo.
(standard curve) para incêndio de mate-
riais celulósicos; a curva “H” (hydrocarbon 2. MATRIZ CIMENTÍCIA
curve) para incêndio em hidrocarbonetos; E AGREGADOS
e a curva de incêndio externo (external fire As características da matriz afetam
curve). A Figura 1 apresenta as diferenças o comportamento dos compósitos e,
entre as principais curvas de incêndio. portanto, podem gerar alterações signi-
Apesar da existência de testes de ficativas do comportamento do CRF. O
resistência ao fogo e curvas padrão de aumento da temperatura produz significa-
incêndio, as normas atuais carecem de tivas alterações na composição química e
critérios técnicos para a avaliação do microestrutura da pasta de cimento Por-
u Figura 1 comportamento dos CRF quando sub- tland endurecida. Conforme há o aumen-
Principais curvas de incêndio metidos a este tipo de condição. Além to da temperatura, a água livre presente
padronizadas existentes na disso, não abordam a implicação do in- no concreto é expelida até a temperatu-
literatura (Fonte: autores)
cêndio na segurança estrutural do CRF ra de cerca de 100°C. Em temperaturas
u Figura 2
Interface entre macrofibra sintética e matriz, sendo (a) temperatura ambiente e após aquecimento até 400°C
em diferentes zonas do CRMFS: (b) Zona 1 (c) Zona 2 (d) Zona 3 (adaptado de [6])
superiores, inicia-se a liberação da água matriz cimentícia e agregados, os quais [5]. Uma vez que o grau de cristalinidade
combinada dos produtos de hidratação afetam a integridade da estrutura. A maio- é afetado diretamente pelas cargas tér-
do cimento Portland, ocasionado sua de- ria dos agregados não silicosos, como o micas, a elevada temperatura também
composição, que se estendem até cerca calcário, é estável até os 600°C-650°C. afeta as propriedades das macrofibras
de 800°C, com a descarbonatação do Agregados especiais, como argilas ex- poliméricas. Por exemplo, a temperatura
carbonato de cálcio, geralmente sob a pandidas, vermiculitas, perlita expandida de fusão de fibras de polipropileno é de
forma de calcita. Os principais produtos e aluminas, em geral, apresentam coe- cerca de 160ºC [4]. Logo especial aten-
que desidratam são: etringita (~100°C), ficientes de expansão térmica mais pró- ção deve ser dada para concretos refor-
acompanhada do monossulfato (faixa ximos e até compatíveis com a pasta de çados com macrofibras de polipropileno,
extensa entre ~50°C e ~800°C), portlan- cimento. Isto faz com que a taxa de perda visto que a sua degradação, mesmo que
dita (~450°C) e o silicato de cálcio (C-S- de resistência residual (pós-incêndio) seja parcial, pode comprometer a capacida-
-H), que desidrata em uma longa faixa de menor em concretos contendo este tipo de resistente da estrutura em tempera-
temperaturas (50°C até 600°C ou mais) de agregados, em comparação a concre- turas inferiores ao que ocorre para fibras
devido à perda de água interlamelar e de- tos com agregados convencionais. de aço. Como o comportamento pós-
sidroxilação [3]. Como resultado dessas -fissuração é fortemente influenciado pe-
alterações químicas e microestruturais, 3. PROPRIEDADES DAS FIBRAS las propriedades mecânicas das fibras, é
o concreto de cimento Portland tem, em E DA INTERFACE FIBRA-MATRIZ importante parametrizar o grau de dano
geral, suas propriedades mecânicas im- As fibras mais comumente utilizadas a que as fibras estão sujeitas em função
pactadas negativamente. As principais no mercado são as fibras de aço e macro- de sua temperatura de exposição no in-
alterações experimentadas pela matriz fibras poliméricas. No caso das fibras de terior do concreto.
cimentícia após exposição ao fogo são: aço, o aço encruado tipicamente utiliza- Além disso, faz-se necessária a si-
fissuração, deformação excessiva, redu- do nas fibras A1 (ABNT NBR 15530:07), mulação dos mecanismos que envolvem
ção da resistência à compressão, desin- mais comuns no mercado, pode perder as fibras e sua interação com a matriz
tegração da pasta endurecida, perda de encruamento com a exposição a tem- cimentícia para caracterização da carga
aderência entre agregados e pasta, além peraturas acima de sua temperatura de de pico e processo de deslizamento-
de possível fragmentação explosiva. recristalização [4], ou seja, em torno de -arrancamento da fibra no CRF. Estas
O comportamento do concreto quan- 500°C. O processo de recristalização alterações podem vir a gerar alterações
do submetido a elevadas temperaturas é afeta diretamente as propriedades de re- significativas da resistência e energia de
altamente dependente do tipo de agrega- sistência e ductilidade da fibra, alterando arrancamento das fibras, culminando em
do presente em sua composição. Agre- suas propriedades e comportamento sob alterações no comportamento global do
gados silicosos (contendo quartzo) são esforços de tração. compósito. O ensaio mais utilizado para
muito comumente utilizados na constru- As macrofibras poliméricas são esta caracterização é o ensaio de arran-
ção civil. O quartzo, por sua vez, apresen- compostas majoritariamente por fases camento (pullout), que busca identificar
ta um aumento de volume devido à trans- amorfas somadas a certo grau de cris- alterações na interface fibra-matriz atra-
formação cristalina do α-quartzo (trigonal) talinidade conferido pelo processo pro- vés da determinação das cargas asso-
para β-quartzo (hexagonal) em torno de dutivo de extrusão e alongamento. Essa ciadas ao arrancamento. Os resultados
575°C. Esses processos de expansão- cristalinidade é responsável diretamente deste tipo de ensaio podem ser utilizados
-retração causam microfissurações na pelas propriedades mecânicas da fibra para refinar modelos computacionais de
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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exposure to high temperature. Construction and Building Materials, 2010, 24(10), 1967-1974.
A
s pesquisas de atividade di-
14,0 13,0
vulgadas ao longo de 2017 12,0
trouxeram boas notícias: a 10,0
8,0
economia brasileira voltou a crescer, 6,0 4,3
4,0
configurando o fim de uma das piores 2,0
1,7 0,9 1,0
0,3
recessões do país. 0,0
-2,0
Em março, o número anunciado -4,0
-6,0 -5,0
pelo IBGE para o PIB brasileiro de 2017 Agropecuária Ind. extrativas Ind. de Eletricidade e Construção Serviços PIB
confirmou o fim da crise ao apontar que transformação gás, água,
esgoto, ativ. de
o crescimento alcançou 1,0%. Pela óti- gestão de
resíduos
ca da oferta, dois setores econômicos
Fonte: IBGE
– Agropecuária e Serviços – tiveram ex-
pansão quando se compara com 2016,
u Figura 1
de 13,0% e 0,3%, nessa ordem e a In- PIB, taxa de crescimento acumulada em 2017 (%)
dústria, depois de três anos seguidos de
retração, manteve-se estável. tamente não é um cenário sustentável recuperação da atividade formal. O em-
O desempenho excepcional da agro- para a retomada do crescimento.Com a prego com carteira refletiu o cenário de
pecuária foi fundamental para permitir que queda de 5% em 2017, o setor da cons- declínio que afetou todos os segmentos.
a aceleração da atividade não pressionas- trução terá encolhido 20% em 4 anos! A despeito dos números acumula-
se a inflação, que encerrou 2017 abaixo É importante observar que a queda dos mostrarem um quadro muito negati-
de 3%, ou seja, no menor patamar desde PIB setorial em 2017 decorreu em maior vo no setor, alguns indicadores também
1998. Mas o setor de serviços, que repre- medida da redução da atividade formal, começaram a mudar para o segmento
senta mais de 60% do PIB brasileiro, ala- ou ainda, das obras realizadas pelas formal da construção no segundo se-
vancado pelo consumo das famílias, foi a empresas formalmente constituídas. As mestre, mostrando um movimento de
força determinante para o fim da recessão. obras e as pequenas reformas realiza- “despiora” na atividade.
Vale destacar que a estabilidade da das pelas próprias famílias ou por pe- De fato, a Sondagem da Constru-
indústria é resultado de um desempenho quenos empreiteiros foram favorecidas ção da FGV realizada com empresários
bastante desigual de seus segmentos: pelas medidas de estímulo ao consumo, de todo o país registrou uma melhora
enquanto a indústria extrativa teve au- como a liberação dos recursos das con- gradativa do ambiente de negócios das
mento de 4,3%, a construção registrou tas inativas do FGTS. A queda na taxa empresas ao longo do ano. O Índice de
queda de 5%. de inflação também favoreceu o consu- Confiança empresarial (ICST) teve alta de
mo. O aumento das vendas do comér- 9,2 pontos, retornando ao patamar do iní-
1. CONSTRUÇÃO CIVIL cio varejista de materiais de construção cio de 2015.
A construção foi a atividade eco- em 2017, que chegou a 9,2%, reflete a O índice tem dois componentes, o
nômica com pior desempenho no ano discrepância do desempenho entre as indicador que capta a percepção em re-
passado, e que “roubou” força da recu- duas partes do setor. lação ao ambiente corrente de negócios
peração. Em outras palavras, o aumento Por outro lado, as restrições na oferta (Índice de Situação Atual – ISA-CST) e o
do consumo das famílias não foi acom- do crédito imobiliário e a retração severa que capta a percepção em relação a de-
panhado pelo investimento, o que cer- do investimento público não permitiram a manda e tendência futura dos negócios
jun/15
jun/16
jun/17
ago/14
ago/15
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1
Projeção do Boletim Macro da FGV IBRE
Avaliação experimental do
concreto armado de alta
resistência submetido a
elevadas temperaturas
(parte complementar)
CARLOS BRITEZ – Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
Britez Consultoria | PhD Engenharia
1. INTRODUÇÃO E CONTEXTO
E
ste artigo apresenta e discu-
te os resultados obtidos em
diversos exames e ensaios
residuais (pós-simulação de incêndio),
sendo um complemento da primei-
ra parte da pesquisa, aqui publicada
em 2012, que abordou as avaliações
preliminares1 de um programa expe-
rimental pioneiro de simulação de in-
cêndio realizado no Brasil em um pilar
protótipo, concebido em concreto de
alta resistência, colorido, armado, com
idade de 8 anos e réplica do concreto
empregado em vários tramos de pila-
res do edifício e-Tower, localizado na
cidade de São Paulo.2 O pilar protótipo,
precedente ao programa experimental
térmico, bem como suas condições
a b
pós-simulação de incêndio, podem ser
observados na Fig. 1.
Britez3 destaca que o conheci- u Figura 1
(a) Pilar protótipo precedente à simulação;
mento do fato das propriedades se-
e (b) pilar protótipo pós-simulação de incêndio
rem modificadas quando o concreto
59 cm
u Figura 5
4.3 Propriedades mecânicas Redução da seção transversal em função da resistência mecânica
residuais do aço residual à compressão aferida posteriormente ao ensaio de simulação
de incêndio (situação hipotética)
No total, quatro amostras foram
extraídas manualmente com compri- referência. No caso do centro das faces principalmente, quando as amostras são
mentos úteis equivalentes a 60cm (para (armadura transversal ø 8mm), observa- “resfriadas ao ar”. O sumário de cores
cada amostra de barra de aço), através -se uma redução bem menor, da ordem da Fig. 7 indica o local das extrações
de prospecção superficial com auxílio de 10% na resistência à tração e da or- em comparação com as estimativas de
de marreta, ponteiro, talhadeira e disco dem de 25% no valor da tensão de esco- temperatura e as reduções de resistência
de corte especial para aço, sendo duas amento. Os resultados obtidos, possuem mecânica à tração do aço.
na região das arestas (longitudinais) e boa correlação com outros trabalhos Observa-se, também, que os pa-
duas na região das faces (estribos). Para experimentais5,6, que são unânimes em tamares de redução da tensão de
efeito comparativo, foi extraída também apontar que as propriedades residuais de escoamento das barras de aço amos-
a amostra de uma barra longitudinal da aços submetidos a temperaturas acima tradas, em virtude das altas temperatu-
região oposta ao fogo (protegida pela de aproximadamente 550ºC sofrem per- ras procedentes da exposição ao fogo,
alvenaria de fechamento do forno), a das irreversíveis e que a partir dos 700ºC acompanham os valores de redução
qual foi identificada como “amostra de essas se tornam bem mais evidentes, mecânica da resistência à tração, sendo
referência”. Exemplos de amostras ex- podendo superar perdas de 30%. Pes- válidas as mesmas observações referi-
traídas podem ser observados na Fig. 6. quisadores6 destacam, também, que das sobre os diâmetros das armaduras.
Os ensaios de tração nas amostras quanto menor o diâmetro da barra, me- Os patamares mais significativos da re-
de barras de aço extraídas foram reali- nor a magnitude de redução, sendo a dução da tensão de escoamento do aço,
zados no Laboratório de Equipamentos redução mecânica mais evidente para observados na Tabela 2 (da ordem 45%
Mecânicos e Estruturas (LEME) do IPT barras de aço com maiores diâmetros, para amostras de barras longitudinais
em uma Máquina Universal de Ensaios
tipo 03 (M.U.E. 03), fabricada pela Al-
fred J. Amsler & Co e os resultados po-
dem ser observados na Tabela 2.
De acordo com os dados obtidos
nos ensaios (Tabela 2) foi possível ob-
servar que as barras de aço longitudinais
(ø 16mm), alocadas nas arestas do pi-
lar, após resfriamento lento “ao ar”, so-
freram em média uma redução de sua
resistência à tração da ordem de 25%,
embora a tensão de escoamento tenha u Figura 6
Detalhe das amostras de barras de aço extraídas
reduzido em aproximadamente 45%,
(longitudinais e transversais)
quando comparadas com a amostra de
extraídas das arestas e de 25% para bar- ca por difratometria de raios X e análises lises térmicas, foram realizados pela
ras transversais extraídas dos centros das térmicas por ATD-TG (análises termodife- equipe do Laboratório de Mineralogia
faces) estão diretamente relacionados, rencial e termogravimétrica). Planejou-se da Associação Brasileira de Cimento
também, com as diferenças de tempe- que as caracterizações mineralógicas e Portland (ABCP). As cinco amostras de
ratura nessas regiões, sendo que esses as análises térmicas fossem procedidas concreto extraídas do pilar de concre-
valores registrados corroboram as obser- em quatro amostras extraídas em regi- to (precedentemente e posteriormente
vações apontadas em outros trabalhos5,7. ões estratégicas do pilar protótipo expe- à exposição ao fogo) foram analisadas
rimentado, bem como em uma amostra termicamente em um equipamento Ri-
4.4 Caracterização mineralógica extraída da parte remanescente que gaku modelo TAS 100.
e análises térmicas permaneceu no pátio do Laboratório de Nos resultados obtidos observou-se
Materiais de Construção da Escola Po- claramente a similaridade na composição
Tendo em vista a evidente diferença litécnica da Universidade de São Paulo, mineralógica das Amostras 01 e 02 (re-
de coloração na parte superficial e inter- totalizando-se ensaios em amostras se- manescente USP e centro da face tran-
na do pilar protótipo após a simulação lecionadas de cinco regiões. sição, cor vermelha), ambas com colo-
de incêndio, algumas amostras foram Todos os exames de caracteriza- ração vermelha. No entanto, destaca-se
extraídas para caracterização mineralógi- ção mineralógica, bem como as aná- que uma delas (Amostra 02) foi exposta
ao fogo e a outra não (Amostra 01). Nes-
se caso, as difrações de raios X realiza-
das permitiram inferir que, certamente, a
Resistência mecânica à tração (residual)
do aço na parte laranja: 75%. amostra exposta ao fogo que preservou
70 cm Temperatura aproximada 900 ºC (estimada).
Barra de aço Ø 16 mm. a coloração vermelha, similar à original,
manteve as mesmas propriedades, in-
clusive mecânicas, do pilar de concreto
Resistência mecânica à tração (residual) de alta resistência nas condições prece-
do aço na parte escura (negra): 90%.
Temperatura aproximada 600 ºC (aferida). dentes à exposição ao fogo. No caso da
Barra de aço Ø 8 mm. Amostra 03 (centro da face transição, cor
70 cm
negra), foi possível verificar a presença de
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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9. ROSENQVIST, T. Principles of extractive metallurgy. 2nd ed. Trondheim: Tapir Academic Press, c2004. 506p.
1. INTRODUÇÃO mente em suas propriedades mecâ- turas que, por sua vez, podem conduzir
O
estudo do comportamento nicas, que permitem o surgimento de ao colapso do elemento estrutural.
do concreto em elevadas fissuras e a ocorrência do fenômeno de Existem basicamente dois meca-
temperaturas tem conduzi- desplacamento, largamente conhecido nismos que podem desencadear o
do o setor da construção civil a avan- pelo termo em inglês “spalling”. desplacamento do concreto, conhe-
ços no que se refere à segurança con- O fenômeno de desplacamento é cidos como termomecânico e termo-
tra incêndios. Muito em função de sua caracterizado pelo desprendimento -hidráulico. A restrição de expansão e
elevada empregabilidade ao redor do das camadas superficiais de um ele- o gradiente de temperatura formado
mundo, o estudo do comportamento mento de concreto exposto a elevadas entre a superfície da estrutura exposta
de elementos de concreto em situação temperaturas. O rápido aquecimento ao fogo e o seu núcleo ainda resfriado
de incêndio tem fundamental importân- provoca o surgimento de tensões in- podem ocasionar tensões indiretas de
cia para garantir a segurança dos usu- ternas decorrentes da dilatação dife- tração, que podem conduzir ao despla-
ários e reduzir a perda patrimonial em rencial dos elementos constituintes do camento do concreto pelo mecanismo
casos de incêndio. material e de poropressões provenien- termomecânico. Por outro lado, parte
Pode-se considerar que o concre- tes das transformações físicas da água da água livre é dissipada pelo sistema
to apresenta um bom comportamento presente no interior do concreto. Essas de poros nas camadas superficiais,
quando submetido a altas temperatu- tensões, quando superam a resistência enquanto que o restante migra para
ras, devido às suas características in- à tração do material, ocasionam o fe- o interior do elemento, provocando o
combustíveis, sem propagar chamas, nômeno de desplacamento, que pode acúmulo de umidade e a formação de
liberar calor e fumaça, sendo ainda ca- ocorrer de forma suave ou severa, até uma camada saturada, que, ao entrar
paz de proporcionar isolamento térmico mesmo explosiva. Sua ocorrência pode em processo de evaporação, ocasiona
adequado. Entretanto, o aquecimento ocasionar a redução da seção transver- poropressões suficientes para desen-
provoca alterações consideráveis nas sal de um elemento e a exposição dire- cadear o desplacamento do concre-
propriedades do material, principal- ta das armaduras às elevadas tempera- to pelo mecanismo termo-hidráulico.
u Figura 4 u Figura 5
Protótipo de ensaio dos pilares Aspecto dos pilares após os ensaios de resistência ao fogo
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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(Mestrado em Engenharia Civil) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Unisinos, São Leopoldo. 2016.
O ensino de Engenharia
passado a limpo
CLAUDIO DE MOURA CASTRO – Assessor da Presidência
Grupo Positivo
C
omo é possível que uma
profissão cujo papel é
construir o novo mundo
possa ficar tão atrasada na prepara-
ção dos futuros engenheiros, a quem
caberá esta tarefa? Esse é o tema do
presente ensaio.
Revisitamos a evolução do ensino
da Engenharia, incluindo o Brasil. Em
seguida, considerando a inteligência
das mãos, pregamos um ensino mais
prático e literalmente, com a mão na
massa. Diante deste desafio, revisa-
mos as velhas e as novas maneiras de
se conduzir uma sala de aula. Final-
mente, tentamos alinhavar as novas
tendências no ensino, inauguradas
em algumas instituições de ponta.
Os médicos que conhecemos são prática, mas seu ensino se refugia na
1. NASCIMENTO E EVOLUÇÃO o produto de um cruzamento que se exposição de teorias e pseudoteorias.
DO ENSINO DE ENGENHARIA deu no século XIX. Intelectuais que De prática, quase nada.
O ensino para as carreiras cientí- nem sequer tocavam nos pacientes A Engenharia é um caso muito
ficas tem uma longa história e pouca fundiram-se com os barbeiros que mais convoluto. Faz pouco mais de
mudança. A maneira de se ensinar Fí- eram também cirurgiões. Surpreen- um século, muitos dos engenheiros
sica ou Biologia é mais ou menos a dentemente, conseguiu-se uma ex- não eram mais do que mecânicos
mesma que se observava em séculos celente harmonia entre o ensino das práticos. A grande revolução se dá ao
pretéritos. Simplificando, é aula teóri- teorias e a clínica médica. De fato, é início do século XIX, com a fundação
ca e laboratório. o único curso profissional em que os da École Polytechnique, que vai para
Mas certas carreiras profissionais, dois lados convivem bem. o extremo oposto, pois foi fundada
cujo ensino é mais recente, encon- Em que pese esta proeza do ensino por cientistas. Cria-se então um curso
tram uma escolha difícil de enfrentar, médico, a convivência do ensino das com muita ciência, muita Matemática,
pois têm um lado teórico distante de teorias com o desempenho na práti- atividades em laboratórios e quase
um outro prático. O que é rabiscado ca sempre foi o calcanhar de Aquiles nada de prática. Os polos da prática
no quadro negro é uma imagem es- do ensino das profissões. A Adminis- sem teoria e da teoria sem prática são
maecida do mundo real. É árduo o tração de Empresas é um caso clás- os casos extremos dos muitos mode-
desafio de combinar os dois? sico. Busca preparar pessoas para a los de engenharia atuais.
1
E também, pelo já clássico livro de D. Goldenberg e M. Sommervile, A whole new Engineer (Douglas: Treejoy: 2014)
MARCELO CUADRADO MARIN – Diretor Técnico, Diretor de Engenharia e Secretário da Comissão de Estudos ABNT NBR 9062
Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (ABCIC) – Leonardi
1. INTRODUÇÃO as, e, por fim, as questões relacionadas mente as solicitações impostas, fazendo
O
objetivo do presente artigo às ligações entre os elementos estrutu- com que a resistência do elemento seja
é apresentar os aspectos rais e o efeito do colapso progressivo. suficiente para evitar sua ruína. Porém,
referentes às estruturas Para tanto, se faz necessário o en- mesmo uma estrutura com resistência
pré-moldadas de concreto em situação tendimento de que as estruturas pré- admissível em situações de temperatu-
de incêndio, bem como os recentes es- -moldadas de concreto não se tratam de ra normal tem seu quadro alterado em
tudos internacionais monitorados pela elementos isolados, mas sim de uma so- situações de incêndio, pois, quando um
ABCIC (Associação Brasileira da Cons- lução estrutural, envolvendo a análise do elemento estrutural é submetido a altas
trução Industrializada de Concreto), por sistema estrutural como um todo. temperaturas, as suas características
sua participação na comissão 6 de pré- mecânicas sofrem alterações, podendo
-fabricação da fib (International Federa- 2. HISTÓRICO ocasionar danos estruturais com possível
tion for Structural Concrete) e por sua A industrialização da construção civil risco de colapso.
parceria com o PCI (Precast Concrete tornou-se um tópico recorrente quando Após estabelecido pela ABNT NBR
Institute). Não serão aprofundados os se trata de construções de grande porte 15200:2012 (Projeto de estruturas de
conceitos técnicos que envolvem a re- e que exigem o atendimento de prazos concreto em situação de incêndio) em
sistência ao fogo, objeto dos demais ousados, sem que haja o detrimento seu escopo que “Para estruturas ou
artigos desta edição da Revista CON- da qualidade e o desenvolvimento de elementos estruturais pré-moldados ou
CRETO & Construções. processos de execução que geram na- pré-fabricados de concreto aplicam-
Dentre os aspectos da matéria de turalmente soluções que atendam não -se os requisitos das Normas Brasilei-
suma importância, podem-se citar: o somente o desempenho, mas forma e ras específicas. Na ausência de normas
comportamento dos elementos estrutu- função. Neste cenário, a indústria do pré- específicas, aplicam-se as recomen-
rais frente ao sinistro, o efeito do “spalling” -moldado assimilou o conceito de quali- dações desta norma”, o tema da re-
nas peças de concreto armado e proten- dade e vem crescendo no decorrer dos sistência ao fogo foi abordado e con-
dido, questões relacionadas às melhorias anos, trazendo novos processos e tec- templado na recente publicação das
nos processos e produtos por meio de nologias em seus produtos. normas ABNT NBR 9062:2017 (Projeto e
pesquisas e prototipagem que servem Quanto ao dimensionamento estru- execução de estruturas de concreto pré-
como referência para melhorias contínu- tural, é necessário prever adequada- -moldado) e ABNT NBR 16475:2017
4. CENÁRIO BRASILEIRO
As referências obtidas no Manual
do PCI, bem como uma análise de nor-
mas europeias e estudos acadêmicos
diversos, como o projeto HOLCOFIRE,
formaram a base de discussões das
propostas para a Comissão de Estu-
Fonte: FIB, 2004 dos da ABNT (Associação Brasileira
de Normas Técnicas). Esse aporte de
u Figura 2
informações motivou um amplo debate
Sistema estrutural com painéis portantes e lajes alveolares protendidas
sobre o tema e resultou no acréscimo
u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] LANGE, D.; McNANEE, R. J. Modelling of hollow core concrete construction exposed to fire. Brandforsk, Estocolmo, 2016, 60 p.
[2] CHASTRE, C.; LÚCIO, V. Estruturas pré-moldadas no mundo. Aplicações e comportamento estrutural. Editora Parma, Ltda, 2012, 320 p.
[3] The Concrete Centre. Concrete and Fire Safety. How concrete contributes to safe and efficient structures. Camberley, 2008, 16 p.
[4] JANSZE, W.; ACKER, A. V.; BELLA, B. D.; HOLTE, R. K.; LINDSTROM, G.; PY, J. P.; SCALLIET, M.; NITSCH, A; BENHOFER, H. Structural behaviour of prestressed
concrete hollow core floors exposed to fire. ‘s-Hertogenbosch: Uitgeverij BOXPress, 2014. 226 p.
[5] MARIN, M.C. ABNT NBR 9062:2017 Projeto e Execução de Estruturas de Concreto Pré-moldado. CONCRETO & CONSTRUÇÕES, n.86, p. 37-44, 2017
[6] ZAGO, C. S. Análise comparativa dos métodos de dimensionamento de lajes alveolares em situação de incêndio. 2016. 189 p. Dissertação (Mestrado) –
Departamento de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2016.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9062: Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado - procedimento. Rio de Janeiro -
PROJETO DE REVISÃO, 2016. 57 p.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15200: Projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio. Rio de Janeiro, 2012. 48 p.
[9] FEDERATION INTERNATIONAL DU BETÓN, fib(CEB-FIP). Planning and Design Handbook on Precast Building Structures, 2nd edition, 2004.
N
ormalizar, em seu mais feito neste artigo um relato das con- mento, possibilitando reunir especia-
amplo sentido, é estabe- quistas obtidas. listas em torno de objetivos comuns,
lecer as bases técnicas visando a busca de soluções técni-
aceitas pela sociedade para ativida- 2. COMITÊS TÉCNICOS IBRACON cas viáveis para problemas específi-
des ou seus resultados. E ENTIDADES PARCEIRAS cos. Esse é basicamente o modelo
Esse entendimento, aceito in- Criar, divulgar e defender o cor- adotado por instituições técnicas em
ternacionalmente, aliado à força da reto conhecimento sobre materiais, todo o mundo e também no Brasil.
normalização técnica oficial nas eco- projeto, construção, uso e manuten- No caso específico do IBRACON,
nomias desenvolvidas e emergentes, ção de obras de concreto, desenvol- muito empenho foi dedicado à for-
há anos direciona a atuação de enti- vendo o seu mercado, articulando mação de Comitês Técnicos até o
dades setoriais na preparação e na seus agentes e agindo em benefício início dos anos 2000. No entanto,
difusão de documentos que possam dos consumidores e da sociedade, com raras exceções, verifica-se que
servir de base à aprovação de nor- em harmonia com o meio ambiente, não houve continuidade no desen-
mas nacionais e internacionais. são objetivos estatutários do Institu- volvimento desse trabalho.
No campo específico do con- to Brasileiro do Concreto. Uma nova abordagem em 2012
creto, seus materiais constituintes e Para cumpri-los, o Instituto orga- veio propor mudanças nesse pro-
aplicações, muitas são as referências niza atividades diversas, como cur- cesso, com a aprovação de um re-
internacionais que merecem citação. sos, congressos, seminários, publi- gulamento específico para os Comi-
No entanto, não cabe aqui enumerá- cações, concursos, palestras, entre tês Técnicos, o estabelecimento de
-las, mas apenas ressaltar casos de outras. Nesse contexto, a sociedade parcerias com entidades afins e a
avanços expressivos, obtidos com ora atua como autora ora como usu- criação do CTA – Comitê Técnico de
planejamento e trabalho continua- ária dos produtos oferecidos pelo Atividades, com a seguinte missão:
do, comparando-os com a realidade IBRACON e essa sinergia fortalece Promover a formação e o de-
nacional. tanto a entidade como o meio. senvolvimento de Comitês Téc-
Neste cenário, a atuação dos Co- Os Comitês Técnicos aparecem nicos em todas as áreas do co-
mitês Técnicos do IBRACON ganha nesse cenário como células de de- nhecimento ligadas ao concreto.
1
Mais informações sobre os Comitês Técnicos, sua composição e forma de trabalho podem ser obtidas no site do IBRACON.
2
Em 2016, com alteração do Estatuto do IBRACON, foi possível criar a Diretoria de Atividades Estudantis, a partir da experiência e do dinamismo atingidos pelo CT-801, sob a
Coordenação da Enga Jéssika Pacheco.
Coordenação
Título Comitê Técnico Formato Lançamento / publicação
e participantes
Coordenação:
CT 301 – Comitê
Estruturas de edifícios de Eng. Augusto Vasconcelos
IBRACON / ABECE –
nível 1 – Estruturas de Eng. Sérgio Mangini 1998
Projeto de Estruturas
pequeno porte Eng. José Zamarion Diniz
de Concreto
14 participantes
Caderno Impresso,
42 páginas
Coordenação:
CT 301 – Comitê 57º Congresso Brasileiro
Comentários e Exemplos Enga Suely Bueno
IBRACON/ABECE – do Concreto, realizado
de aplicação da ABNT Eng. Alio Kimura
Projeto de Estruturas em Bonito – MS
NBR 6118:2014 CTA: Eng. Eduardo Millen
de Concreto 2015
89 participantes
Livro impresso,
480 páginas
Coordenação:
57º Congresso Brasileiro
Eng. Bernardo Tutikian
CT 202 – Comitê IBRACON do Concreto, realizado
Concreto Autoadensável Eng. Roberto Christ
de Concreto Autoadensável em Bonito – MS
CTA: Enga Inês Battagin
2015
59 participantes
e-book,
56 páginas
CT 303 – Comitê
IBRACON/ABECE – Coordenação: 58º Congresso Brasileiro
Projeto de Estruturas
Materiais Não Convencio- Eng. Marco Carnio do Concreto, realizado em
de Concreto Reforçado
nais para Estruturas de CTA: Enga Sofia Diniz Belo Horizonte – MG
com Fibras
Concreto, Fibras e Concreto 44 participantes 2016
Reforçado com Fibras e-book,
39 páginas
Coordenação
Título Comitê Técnico Formato Lançamento / publicação
e participantes
Controle da Qualidade
do Concreto Reforçado
com Fibras
e-book,
31 páginas
Macrofibras poliméricas
para concreto destinado
a aplicações estruturais:
Definições, especificações
e conformidade
e-book,
37 páginas
Cumpre registrar ainda o trabalho Finalmente, merece destaque nes- cumentação exigida pela ISO (texto
do CT 201 – Comitê Técnico IBRACON te relato, o apoio do CT 301 – Comitê da norma brasileira traduzida para o
de Reação Álcali-Agregado, iniciado Técnico IBRACON/ABECE de Projeto idioma inglês, informações sobre suas
há cerca de dois anos e que deve ser de Estruturas de Concreto às ações referências normativas, e um resumo,
concluído e publicado em 2018 como realizadas no âmbito internacional, em formato de check-list, apontando
Prática Recomendada de aplicação da para registro da norma de Projeto de de que forma a ABNT NBR 6118 aten-
nova ABNT NBR 15577 Reação Álcali- estruturas de concreto, ABNT NBR de aos requisitos internacionais); além
-Agregado (sete partes), em fase final de 6118, na ISO, conforme os critérios da realização da apresentação desse
aprovação pela ABNT. Com mais essa estabelecidos pela norma ISO 19338 conteúdo em reunião plenária do Co-
Prática Recomendada do IBRACON, – Performance and assessment requi- mitê Técnico da ISO, de especialistas
certamente o meio técnico poderá con- rements for design standards on struc- do IBRACON representando a ABNT.
tar com importantes esclarecimentos tural concrete, em duas ocasiões:
sobre a aplicação da nova ABNT NBR u em 2008, quando foi realizado o 3. CONCRETO E ESTRUTURAS
15577, que em suas sete partes abrange registro inicial (reunião do ISO/ DE CONCRETO NO ÂMBITO
a avaliação do risco de uma estrutura de TC71 em Los Angeles, nos EUA); INTERNACIONAL
concreto vir a apresentar manifestações u em 2015, quando esse registro foi Com mais de 200 Comitês Téc-
patológicas que possam interferir em seu renovado (reunião do ISO/TC 71 nicos, atuando nas mais diversas
funcionamento, bem como procedimen- em Seoul, na Coréia do Sul). áreas3, a ISO, entidade que congre-
tos de coleta e ensaios de verificação, Esse trabalho compreendeu, mas ga atualmente 162 países, respon-
tanto dos agregados como do concreto. não se limitou, à preparação da do- sáveis por 98% da economia mundial,
3
A ISO desenvolve as Normas Internacionais, excluídas apenas as áreas elétrica, eletrotécnica e de telecomunicações.
u Tabela 3 – Textos-base de normalização elaborados pelos Comitês Técnicos do IBRACON e entidades parceiras
4
Detalhes sobre a normalização internacional ISO podem ser obtidos no site da entidade: www.iso.org.
5
Fonte: https://www.concrete.org/committees.aspx.
Por sua vez, a normalização eu- dades que a precederam e deram e Consultoria Estrutural e da ABCIC – As-
ropeia conta com a forte atuação origem (como a FIP – International sociação Brasileira da Construção Indus-
da fib – Federation Internationale du Federation for Prestressing e o CEB – trializada de Concreto. Recentemente, o
Béton, entidade que reúne 45 paí- Comité Européen du Béton) por meio IBRACON passou a fazer parte do grupo
ses e congrega grandes especialis- de seus dez Comitês Técnicos, que nacional, com a assinatura de convênio
tas na área do concreto, seus mate- respondem também pela organização entre as entidades em evento da fib re-
riais constituintes e aplicações. Com de diversos eventos internacionais. alizado no Brasil em setembro de 2017.
expressiva produção literária de al- Desde 2007, o Brasil participa dos Deve ser registrado o empe-
tíssima qualidade, a fib avança nos trabalhos da fib com a atuação da ABE- nho da ABCIC no fortalecimento da
temas da cultura herdada das enti- CE – Associação Brasileira de Engenharia normalização técnica brasileira de
6
Normas da Comunidade Europeia para o Projeto e a Execução de Estruturas.
7
Detalhes acerca da história da normalização brasileira podem ser obtidos no livro Concreto – Ciência e Tecnologia, publicado pelo IBRACON em 2011.
unicamente a satisfação por aqueles na medida em que as publicações nacional, sem desmerecer ou ignorar
que dele participaram e que perce- aproximam ainda mais o Instituto o contexto internacional. Vale aqui
bem a importância de vê-lo finalizado do meio técnico e constituem fonte uma reflexão, que deve ser estendida
e publicado. de recursos, sendo incentivo para para além de nossas fronteiras, relati-
Para o IBRACON e suas en- sua continuidade. va à participação efetiva das nossas
tidades parceiras, as conquistas Para o avanço dos trabalhos de instituições, representadas por seus
aqui apresentadas reafirmam o normalização técnica, por sua vez, especialistas, em todos os foros que
comprometimento com os objeti- são inestimáveis contribuições, que direta ou indiretamente têm interface
vos estatutários e agregam valor, possibilitam o registro da realidade com a nossa realidade.
8
Fonte: www.iso.org.br.
Patrocínio
DADOS TÉCNICOS
ISBN 9788598576237
Formato: 18,6 cm x 23,3 cm
Páginas: 195
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