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& Construções

CONCRETO EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

SEGURANÇA E DIMENSIONAMENTO Instituto Brasileiro do Concreto

DAS ESTRUTURAS, METODOLOGIAS Ano XLV

EXPERIMENTAIS PARA AVALIAÇÃO 89


JAN-MAR

DE DANOS E NORMALIZAÇÃO 2018


ISSN 1809-7197
www.ibracon.org.br

PERSONALIDADE ENTREVISTADA MANTENEDOR MERCADO NACIONAL

VALDIR PIGNATTA E SILVA: CONCRETOS DE BAIXA PEGADA PERSPECTIVA DE


DIMENSIONAMENTO DA DE CO2 COM CONTROLE CRESCIMENTO DO SETOR
RESISTÊNCIA AO FOGO AVANÇADO DE DESEMPENHO CONSTRUTIVO BRASILEIRO
Esta edição é um oferecimento das
seguintes Entidades e Empresas

IBRACON

Adote concretamente
a revista
CONCRETO & Construções
u sumário

seções
& Construções & Construções

CONCRETO EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO 7 Editorial CONCRETO EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO

SEGURANÇA E DIMENSIONAMENTO SEGURANÇA


REVISTA OFICIAL DO IBRACONE DIMENSIONAMENTO
PRESIDENTE DO
DAS ESTRUTURAS, METODOLOGIAS
Instituto Brasileiro do Concreto

9 Coluna Institucional DAS ESTRUTURAS, METODOLOGIAS


Instituto Brasileiro do Concreto

Ano XLV

89 Revista de caráter científico, tec- COMITÊ EDITORIAL


89
Ano XLV

EXPERIMENTAIS PARA AVALIAÇÃO EXPERIMENTAIS PARA AVALIAÇÃO


DE DANOS E NORMALIZAÇÃO
JAN-MAR
2018 11 Converse com o IBRACON nológico e informativo
DE DANOSpara o se- à Guilherme Parsekian
E NORMALIZAÇÃO 2018
JAN-MAR

tor produtivo da construção civil,


ISSN 1809-7197 ISSN 1809-7197
www.ibracon.org.br www.ibracon.org.br

13 Encontros e Notícias para o ensino e para a pesquisa COMITÊ EDITORIAL – MEMBROS


em concreto.
16 Personalidade Entrevistada: à Alio Kimura

(informática no cálculo estrutural)


Valdir Pignatta e Silva ISSN 1809-7197
à Arnaldo Forti Battagin
CRÉDITOS Tiragem desta edição:
CAPA 49 Mantenedor 5.000 exemplares
(cimento & sustentabilidade)
à Bernardo Tutikian
Painéis pré-fabricados 62 Mercado Nacional Publicação trimestral distribuida
de concreto armado gratuitamente aos associados (tecnologia)
após ensaio de 79 Seção Especial: Ensino e à Eduardo Barros Millen

resistência ao fogo. JORNALISTA RESPONSÁVEL (pré-moldado)


PERSONALIDADE ENTREVISTADA MANTENEDOR MERCADO NACIONAL
Aprendizado na Engenharia Civil PERSONALIDADE ENTREVISTADA MANTENEDOR MERCADO NACIONAL

à Enio Pazini Figueiredo


Créditos: Acervo do itt VALDIR PIGNATTA E SILVA:
DIMENSIONAMENTO DA
CONCRETOS DE BAIXA PEGADA
DE CO2 COM CONTROLE
PERSPECTIVA DE
CRESCIMENTO DO SETOR à Fábio Luís Pedroso
VALDIR PIGNATTA E SILVA:
DIMENSIONAMENTO DA
CONCRETOS DE BAIXA PEGADA
DE CO2 COM CONTROLE
PERSPECTIVA DE
CRESCIMENTO DO SETOR

Acontece nas Regionais


RESISTÊNCIA AO FOGO AVANÇADO DE DESEMPENHO CONSTRUTIVO BRASILEIRO RESISTÊNCIA AO FOGO AVANÇADO DE DESEMPENHO CONSTRUTIVO BRASILEIRO

Performance / Unisinos. 98 MTB 41.728/SP (durabilidade)


fabio@ibracon.org.br à Ercio Thomas

(sistemas construtivos)
PUBLICIDADE E PROMOÇÃO à Evandro Duarte
à Arlene Regnier de Lima Ferreira (protendido)
arlene@ibracon.org.br à Frederico Falconi

(projeto de fundações)
PROJETO GRÁFICO E DTP à Guilherme Parsekian
à Gill Pereira
(alvenaria estrutural)
gill@ellementto-arte.com
à Hugo Rodrigues
ESTRUTURAS EM DETALHES ASSINATURA E ATENDIMENTO
(cimento e comunicação)
à Inês L. da Silva Battagin
office@ibracon.org.br

22
(normalização)
Resistência ao fogo das estruturas de concreto à Íria Lícia Oliva Doniak
GRÁFICA
Ipsis Gráfica e Editora (pré-fabricados)
à José Tadeu Balbo

29
Preço: R$ 12,00
Situação de incêndio no sistema construtivo (pavimentação)
paredes de concreto As ideias emitidas pelos entre- à Luiz Carlos Pinto da Silva Filho

vistados ou em artigos assina- (ensino)

35 Verificação da segurança de painéis “tilt-up”


em situação de incêndio
dos são de responsabilidade de
seus autores e não expressam,
necessariamente, a opinião do
Instituto.
à Mário Rocha

(sistemas construtivos)
à Paulo Eduardo Campos

(arquitetura)
à Paulo Helene
INSPEÇÃO E MANUTENÇÃO © Copyright 2018 IBRACON
(concreto e reabilitação)
à Selmo Kuperman

44
Todos os direitos de reprodução
Estudo da microestrutura do concreto em situação reservados. Esta revista e suas
(barragens)

de incêndio partes não podem ser reproduzidas


nem copiadas, em nenhuma forma IBRACON
de impressão mecânica, eletrônica, Rua Julieta Espírito Santo
ou qualquer outra, sem o consen- Pinheiro, 68 – CEP 05542-120
Jardim Olímpia – São Paulo – SP
ENTENDENDO O CONCRETO timento por escrito dos autores
e editores. Tel. (11) 3735-0202

58 Concreto reforçado com fibras em situação


de incêndio

PESQUISA E DESENVOLVIMENTO Instituto Brasileiro do Concreto

64
INSTITUTO BRASILEIRO DIRETOR DE EVENTOS
Avaliação experimental do concreto armado de alta DO CONCRETO César Daher
resistência submetido a elevadas temperaturas Fundado em 1972
Declarado de Utilidade Pública DIRETOR TÉCNICO

71
Estadual | Lei 2538 de 11/11/1980
Paulo Helene
Estudos experimentais sobre o fenômeno Declarado de Utilidade Pública Federal
Decreto 86871 de 25/01/1982
do desplacamento em estruturas de concreto DIRETOR DE RELAÇÕES
submetidas a elevadas temperaturas DIRETOR PRESIDENTE INSTITUCIONAIS
Julio Timerman Túlio Nogueira Bittencourt

DIRETOR 1º VICE-PRESIDENTE DIRETORA DE PUBLICAÇÕES


Luiz Prado Vieira Júnior
NORMALIZAÇÃO TÉCNICA E DIVULGAÇÃO TÉCNICA
Íria Lícia Oliva Doniak

84
DIRETOR 2º VICE-PRESIDENTE
Resistência ao fogo das estruturas pré-moldadas de Bernardo Tutikian
DIRETOR DE PESQUISA
concreto e as considerações da ABNT NBR 9062 DIRETOR 1º SECRETÁRIO E DESENVOLVIMENTO

89
Antonio D. de Figueiredo Leandro Mouta Trautwein
Comitês Técnicos: ações de fortalecimento da
normalização de concreto e estruturas DIRETOR 2º SECRETÁRIO
Carlos José Massucato
DIRETOR DE CURSOS
Enio José Pazini Figueiredo

DIRETOR 1º TESOUREIRO DIRETOR DE CERTIFICAÇÃO


Claudio Sbrighi Neto
DE MÃO DE OBRA
Gilberto Antônio Giuzio
DIRETOR 2º TESOUREIRO
Nelson Covas
DIRETORA DE ATIVIDADES
DIRETOR DE MARKETING ESTUDANTIS
Hugo Rodrigues Jéssika Pacheco

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 5


Instituto Brasileiro do Concreto
Organização técnico-científica nacional de defesa
e valorização da engenharia civil

Fundado em 1972, seu objetivo é promover e divulgar conhecimento sobre a tecnologia do concreto e de
seus sistemas construtivos para a cadeia produtiva do concreto, por meio de publicações técnicas, eventos
técnico-científicos, cursos de atualização profissional, certificação de pessoal, reuniões técnicas e premiações.

Associe-se ao IBRACON! Mantenha-se atualizado!

 Receba gratuitamente as quatro edições anuais  Descontos nos eventos promovidos e apoiados
da revista CONCRETO & Construções pelo IBRACON, inclusive o Congresso Brasileiro
 Tenha descontos de até 50% nas publicações do Concreto
técnicas do IBRACON e de até 20% nas  Oportunidade de participar de Comitês Técnicos,
publicações do American Concrete Institute intercambiando conhecimentos e fazendo valer
(ACI) suas opiniões técnicas

Fique bem informado!


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6 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


u editorial

Planos da nova gestão


do IBRACON
Caro leitor,

I
nicio este Editorial agradecendo o Conselho Diretor pelo “Student Competitions”,
voto de confiança a mim delegado, por este segundo man- que irá ocorrer na Fall
dato à frente do IIBRACON. Convention do ACI (Ame-
Além da grande honra de estar à frente de uma entidade rican Concrete Institute),
reconhecida internacionalmente, é também uma imensa em outubro de 2018, em
responsabilidade conduzir o IBRACON, ainda mais em uma Las Vegas, Estados Uni-
época como essa, cuja crise econômica que assola o nosso dos. Certamente, eu e uma significativa comitiva estaremos
país ainda castiga toda a cadeia produtiva do concreto. Mes- lá para torcer pelos nossos estudantes!!
mo notando-se alguns indícios de retomada da economia, Se o 59º CBC foi um sucesso, o próximo evento que irá ocor-
conversando com vários dirigentes da nossa comunidade rer em Foz do Iguaçu tende a alcançar um sucesso maior
técnica, nota-se ainda uma capacidade ociosa de várias ati- ainda, pelo fato de que o IBRACON irá promover um evento
vidades da Construção Civil girando em torno dos 50%!! conjunto com o LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia
Esta situação e os números ruins em nada desanimam o em- Civil, de Portugal) e CBDB (Comitê Brasileiro de Grandes
preendedor brasileiro. Nossa comunidade técnica aprendeu Barragens), o DAM World, agregando participantes interna-
a conviver com essas crises, aproveitando a situação atual cionais, que irão usufruir da hospitalidade brasileira, assim
para um aprimoramento nos seus processos produtivos e como terão o privilégio de conhecer uma das maiores obras
de seus profissionais, buscando atingir melhores resultados de engenharia mundial, a Usina de Itaipu, que, neste ano,
técnicos e econômicos, preparando-se para um ciclo vir- completa quarenta anos. Certamente este evento será um
tuoso, que teima a se iniciar, mas que certamente virá, mais marco inesquecível em nossa entidade.
cedo ou mais tarde!! Destaco novamente, assim como fiz no início da minha pri-
Com relação a nossa nova Diretoria, agradeço imensamente meira gestão, os tópicos principais que a irão nortear, cujos
a todos aqueles que aceitaram dividir comigo esta responsa- resultados positivos só serão alcançados mediante uma
bilidade e informo que ela já está em plena atividade, com re- sinergia de toda a nossa Diretoria e Conselho Diretor, que
uniões mensais, normalmente realizadas na sede da ABCP. tenho a certeza de poder contar (todos conhecem aquela
A boa receptividade da nova Diretoria demonstrou o quanto se máxima de que “uma andorinha só não faz o verão!!”):
quer fazer pelo desenvolvimento do concreto no Brasil, dando u Fortalecimento das Regionais do IBRACON, incentivan-
ênfase a todas as ações que beneficiem os nossos sócios. do-as a promover eventos e workshops, dando suporte
Outro fato digno de nota foi o sucesso alcançado no 59º técnico e material a esses eventos; devemos lembrar que
CBC (Congresso Brasileiro do Concreto), ocorrido em Ben- já está vigente um novo relacionamento com as Regio-
to Gonçalves/RS, fruto de um incessante trabalho conjunto nais, dando a elas autonomia necessária para atingir os
de toda a nossa Diretoria e, especialmente, o nosso Dire- objetivos acima consubstanciados, motivando-as a de-
tor de Eventos da gestão anterior, Prof. Bernardo Tutikian. senvolver essas ações e, assim, captar mais sócios ;
O número expressivo de graduandos e recém-formados u Manter, incentivar e promover uma nova estratégia de
neste evento, participando das competições estudan- Marketing de nossa instituição, que reconhecidamente é
tis, brilhantemente coordenada pela querida e dedicada a mais importante entidade técnica nacional voltada à ca-
Diretora de Atividades Estudantis, Engª Jéssika Pache- deia produtiva do concreto;
co, nos motivou a proporcionar a equipe vencedora des- u Fortalecer e ampliar os Comitês Técnicos, inserindo-os
sas competições os recursos para representar o Brasil no nos eventos do IBRACON e de entidades parceiras,

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 7


promovendo ainda workshops no sentido de apresentar Devemos ressaltar também que, desde 01 de janeiro de
os resultados obtidos; 2018, o IBRACON se integrou ao Grupo Brasileiro que re-
u Estreitar e aumentar o relacionamento com entidades presenta nossa nação junto a FIB (International Federation for
parceiras; já estamos viabilizando isto, junto a entidades, Structural Concrete) , juntamente com a ABECE e a ABCIC
como ABESC, ABCP, ABCIC, ABECE, ABENDI, SINDUS- Finalizando, esta edição de nº 89 da Revista CONCRETO &
CON, etc...; Construções discorre sobre Construções de Concreto em
u Não obstante o nosso evento anual já ter reconhecimento situação de Incêndio, apresentando vários artigos e entre-
da comunidade técnica, pretende-se colocar na sua gra- vista, de renomados profissionais e experts, evidenciando
de sessões técnicas com temas práticos e de interesse o excelente comportamento do Concreto frente a sinistros
de construtoras, atraindo novamente este importante par- desta natureza.
ticipante da cadeia produtiva do concreto; Despeço-me, desejando a todos uma ótima leitura e reite-
u Viabilizar, técnica e economicamente, o processo de Cer- rando que o IBRACON continuará trabalhando e sempre se
tificação, mediante sua reestruturação, e iniciando, pela renovando para atingir a tão sonhada meta que norteou a
Diretoria de Cursos, o treinamento de potenciais candida- comunidade técnica:
tos ao processo de Certificação; Avanço Concreto – Hoje e Sempre!!!!
u Manter, promover e incentivar o lançamento de livros,
publicações e periódicos, que tanto interesse atraem em Boa leitura.
nossos associados; JÚLIO TIMERMAN
u Dinamizar a nossa diretoria de cursos, no sentido de oferecer Presidente do Ibracon
um aprimoramento contínuo dos associados do IBRACON. Instituto Brasileiro do Concreto

PRÁTICA RECOMENDADA IBRACON/ABECE


Controle da qualidade do concreto reforçado com bras
Elaborada pelo CT 303 – Comitê Técnico IBRACON/ABECE sobre Uso de
Materiais não Convencionais para Estruturas de Concreto, Fibras e Concreto
Reforçado com Fibras, a Prática Recomendada “Controle da qualidade do
concreto reforçado com fibras” indica métodos de ensaios para o controle
da qualidade do CRF utilizado em estruturas de concreto reforçado com
fibras e estruturas de concreto reforçado com fibras em conjunto com
armaduras. DADOS TÉCNICOS
A Prática Recomendada aplica-se
tanto a estruturas de placas ISBN: 978-85-98576-30-5
Edição: 1ª edição
apoiadas em meio elástico
Formato: eletrônico
quanto a estruturas sem
Páginas: 31
interação com o meio elástico. Acabamento: digital
AQUISIÇÃO Ano da publicação: 2017
Coordenador: Eng. Marco Antonio Carnio
www.ibracon.org.br (Loja Virtual)

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8 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


u coluna institucional

Diretorias Regionais: o
braço forte do Instituto

H
istoricamente, o ser hu- O Diretor Presidente atual, Julio Ti-
mano se reúne em gru- merman, colocou à disposição de
pos de interesse. Pare- cada Diretor Regional um recurso de
ce que é na associação mil reais anuais, renováveis, mas não
com outros indivíduos cumulativos, e criou, na contabilida-
que fica mais fácil aflorar a capacida- de do Instituto, a figura do Centro de
de de evoluir e de construir uma so- Custo, ou seja, cada Regional pode,
ciedade melhor. com ética e probidade, “gerenciar”
Lógica semelhante se aplica ao mun- esse e outros recursos gerados local-
do dos negócios. Por meio de uma mente pelo seu grupo.
Associação, empresas, entidades e Dessa maneira as Diretorias Regionais
profissionais de vários calibres podem passaram a colaborar intensamente
se reunir para trocar experiências, para o crescimento do número de as-
buscar alternativas para a superação sociados do IBRACON e a promover
de desafios e explorar novas oportu- atividades técnico-científicas regula-
nidades, dentro da abrangência de res, como reuniões, palestras, confe-
seu campo de ação. rências, comitês técnicos e cursos.
Além da construção de uma pode- Mobilizaram, durante 2017, em plena
rosa rede de relacionamentos, o associativismo pode co- crise econômica e política no país, mais de 4 mil profissionais
laborar diretamente para amenizar os efeitos de uma crise através de eventos locais, alguns dos quais chegaram a su-
econômica por meio do conhecimento que gere desenvol- perar 600 participantes em um só seminário.
vimento tecnológico. Hoje há Regionais mais ativas, como as de Rio de Janeiro,
O Instituto Brasileiro do Concreto conta hoje com mais de Pernambuco, Campo Grande, Tocantins, Triângulo Mineiro,
mil e duzentos sócios profissionais e mais de 80 Empresas Bahia, Belém, Rio Grande do Sul, Paraná, e outras que che-
Mantenedores, com cerca de 25 Regionais que cobrem todo gam a organizar mais de 6 eventos por ano, um a cada 2
o país, praticamente um Diretor Regional para cada unidade meses, consolidando o IBRACON como fonte dinâmica do
da federação. saber técnico e científico na área de estruturas de concreto.
Considerando que cada Regional deve ser estruturada com Com o apoio da Diretoria nacional, através do Diretor de
no mínimo 3 membros, Diretor Regional, Diretor Administra- Relações Institucionais, as Regionais são estimuladas a
tivo e Diretor Técnico, as Regionais congregam hoje mais de juntar esforços com Entidades congêneres, tipo CREAs,
75 profissionais de alto nível engajados em levar a missão do SINDUSCONs, ADEMIs, ABECE, ABMS, ALCONPAT, AB-
IBRACON aos principais centros e polos econômicos do país. CIC, ABCP, ABESC, Clubes e Institutos de Engenharia,
Segundo o artigo 50 do Estatuto, as Regionais têm o mes- Universidades e Faculdades para dar maior amplitude e
mo objetivo e missão do IBRACON, ou seja, promover, de- alcance aos eventos. O IBRACON gostaria de liderar esses
senvolver e defender o bom uso do concreto. Diz também o encontros regionais, mas isso não impede as Regionais de
artigo 51 que o mandato do Diretor Regional termina com o apoiarem eventos liderados por outras Entidades. O im-
mandato do Diretor Presidente do IBRACON, podendo ser portante é estar contribuindo para o aumento do saber em
reconduzido somente uma vez mais em sequência. Essa engenharia de concreto.
cláusula assegura a renovação permanente dos voluntários A opção por um projeto, um empreendimento em concreto,
Diretores Regionais, de tal forma a proporcionar o salutar ro- advém do sólido conhecimento desse material e da exis-
dízio do poder e a preservação de todos os interesses locais. tência de suporte e capacitação técnica em toda a cadeia,
Com a aprovação pelo Conselho Diretor e Diretoria do Institu- passando pelos fornecedores de materiais e serviços, os
to do novo Regulamento das Regionais, ocorrido em setem- laboratórios de ensaio, os escritórios de projeto, os órgãos
bro de 2016, houve uma grande dinamização das atividades públicos, a normalização e as práticas recomendadas com
das Regionais. procedimentos corretos de execução e controle, assim

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 9


como literatura farta e de fácil acesso dos Professores e dos Alunos envolvidos. por outras Entidades. Esses protoco-
para correção de eventuais manifesta- Cabe registrar que todas essas ativi- los diferenciam corretamente os apoios
ções patológicas. dades das Regionais estão disponíveis a eventos comerciais dos apoios a
Fica evidente a importância das Regio- e arquivadas no site remodelado das eventos acadêmicos ou institucionais,
nais no sentido de levar o conhecimen- Regionais dentro da website do IBRA- promovidos por entidades sem fins
to atual até os empreendedores locais, CON (www.ibracon.org.br/regionais), lucrativos. Os protocolos deixam bem
assim como motivar a inteligência local que hoje contêm: O Estatuto do Ins- claro a necessidade de contrapartidas
a levar suas dúvidas e contribuições ao tituto; o Regulamento das Regionais; para assegurar o salutar princípio da
Congresso anual e aos Comitês Técni- a apresentação Institucional do IBRA- reciprocidade, sempre valorizando em
cos do IBRACON. Outro papel funda- CON em power point; o power point primeiro lugar as Empresas associadas
mental das Regionais tem sido o de es- de divulgação dos Concursos Estu- mantenedoras e coletivas.
timular os estudantes a participar dos dantis; a lista completa dos Diretores As Regionais e seus voluntariosos e
fantásticos Concursos Estudantis. Regionais; mensalmente a Regional competentes Diretores elevam a auto-
Anualmente são mais de 400 enge- em Destaque; as notícias de todas as estima dos engenheiros de concreto no
nheirandos pertencentes a cerca de 60 Regionais; o plano de atividades para país e mantêm o IBRACON no posto
grupos participantes e provenientes de 2018 e o plano/relatório de atividades de principal instrumento de desenvol-
Escolas de Engenharia do Brasil todo, de anos anteriores. vimento sustentável do setor... nossos
públicas e privadas, na mais demo- Foi criado também, no âmbito da Di- reconhecimentos a elas!
crática competição técnica do setor, retoria de Relações Institucionais, e Vamos em frente...
com direito a prêmios expressivos em aprovado na reunião do Conselho e
dinheiro. Cada grupo participante é úni- Diretoria do Instituto, os protocolos de PROF. PAULO HELENE
co e uma demonstração de excelência procedimento Institucional de apoio e Diretor de Relações Institucionais
e competência do grupo, da Escola, colaboração com eventos promovidos biênio 2015-2017

PRÁTICA RECOMENDADA IBRACON/ABECE


Macro bras poliméricas para concreto destinado a aplicações
estruturais: de nições, especi cações e conformidade
Elaborada pelo CT 303 – Comitê Técnico IBRACON/ABECE sobre Uso de
Materiais não Convencionais para Estruturas de Concreto, Fibras e Concreto
Reforçado com Fibras, a Prática Recomendada especifica os requisitos
técnicos das macrofibras poliméricas para uso em concreto estrutural.
A Prática Recomendada abrange
macrofibras para uso em todos DADOS TÉCNICOS
os tipos de concreto, incluindo
ISBN: 978-85-98576-29-9
concreto projetado, para
Edição: 1ª edição
pavimentos, pré-moldados, Formato: eletrônico
moldados no local e concretos Páginas: 37
de reparo. Acabamento: digital
AQUISIÇÃO Ano da publicação: 2017
Coordenador: Eng. Marco Antonio Carnio
www.ibracon.org.br (Loja Virtual)

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10 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


u converse com o ibracon

ENVIE SUA PERGUNTA OU NOTA PARA O E-MAIL: fabio@ibracon.org.br

PERGUNTAS TÉCNICAS Essas são recomendações de ordem A norma limita o valor máximo a
informativa. É necessário ainda reali- 0,7 x fbk, porém com fbk tomado na
Estou com uma dúvida com relação à resis- zar, pelo menos, o ensaio de prisma área líquida, que é aproximadamente
tência de argamassa para alvenaria estru- para se certificar do comportamen-
tural. Sigo sua recomendação, presente no igual a 2x o fbk padrão (na área bru-
to conjunto argamassa-bloco na
livro Comportamento e Dimensionamento de ta). Portanto, o limite máximo será
alvenaria.
Alvenaria Estrutural, de fa = 0,7 a 1,5 x fbk 0,7 x 2 = 1,4 ~1,5.
ou o item 6.12 da ABNT NBR 15961-1, que
Deixando claro o ponto acima: as
me foi apresentada por um cliente? duas informações, do livro e da nor-
GUILHERME RESENDE ma, são equivalentes. O livro re- GUILHERME PARSEKIAN,
Engenheiro Civil comenda entre 0,7 a 1,5 vezes fbk. PRESIDENTE DO COMITÊ EDITORIAL

Manifestação do IBRACON sobre o lamentável


acidente na Capital Federal

A engenharia brasileira encontra


no concreto de cimento por-
tland seu grande parceiro e material de
tório do Tribunal
de Contas
Distrito
do
Federal
construção para edificar qualidade de de 2012, que
vida nas cidades, sabe – por intermé- elencou o viadu-
dio de seus excepcionais profissionais to entre as obras
e suas empresas de excelência – que públicas da capi-
todas as edificações, pontes e viadu- tal brasileira com
tos necessitam de cuidados desde necessidade de
o primeiro momento que são postas reparo e manu-
em uso. tenção urgentes.
Projetos e execuções da mais alta A Campanha
qualidade exigem cuidados ao longo pela Manuten-
de toda vida útil da obra, que se ma- ção do Ambiente Construído, lançada Viaduto General Olímpio da Silveira e
terializam em rotineiras inspeções e em 2005 pelo Sinaenco, fez inspeções Ponte da Frequesia do Ó), entre as 75
manutenções que ampliem o prazo de visuais em 22 cidades brasileiras, anali- avaliadas pelo Sinaenco no primeiro se-
serviço e utilização das mesmas. sando as condições de operação e ma- mestre de 2017.
O episódio do desabamento de par- nutenção de pontes, viadutos, estra- “O tema deve ganhar maior con-
te do viaduto da Galeria dos Estados, das, galerias pluviais, praças, parques sideração das autoridades públicas”,
no Eixão Sul de Brasília, foi previsto e e edificações públicas. Cada inspeção reconheceu o governador do Distrito
anunciado. apontou para o envelhecimento do Federal, Rodrigo Rollemberg.
Em 2011, estudo do Sindicato patrimônio construído, sem o devido Desde 1972, ano de sua criação, o
Nacional das Empresas de Arquite- cuidado dos órgãos governamentais Instituto Brasileiro do Concreto, asso-
tura e Engenharia Consultiva (Sina- com a inspeção e manutenção desses ciação técnica nacional, formada por
enco) já alertava para o agravamento bens públicos. profissionais e empresas do segmento
dos problemas de uso do viaduto Recentemente o programa “Fantás- construtivo em concreto, dedica-se,
constatados em inspeção visual feita tico” veiculou matéria sobre o estado dentre outros inúmeros temas, à ques-
em 2009, conclamando as autorida- de manutenção de pontes e viadutos tão da durabilidade do concreto.
des públicas para a intervenção ur- da cidade de São Paulo. A reportagem Seus congressos, cuja 60ª edição terá
gente de manutenção. mostrou os problemas de três obras lugar no próximo mês de setembro no sul
Esse alerta foi reforçado pelo Rela- de arte urbanas (Ponte Jânio Quadros, do país, sempre abordaram o tema, com

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 11


a apresentação de artigos sobre a vida de profissionais para a realização de administração pública para que o pa-
útil do concreto, bem como sobre as téc- inspeção, diagnóstico e prognóstico trimônio público tenha qualidade e vida
nicas de inspeção, diagnóstico e recupe- de pontes e viadutos, atendendo aos longa e, assim, preste à sociedade os
ração das estruturas de concreto. requisitos exigidos do profissional pela serviços a que se dispõe.
Por ocasião do desabamento do norma brasileira ABNT NBR 16230 Essas são algumas das contribuições
Edifício Areia Branca, em 2004, em Ja- Inspeção de estruturas de concreto – técnicas do Instituto Brasileiro do Con-
boatão dos Guararapes, o IBRACON Qualificação e certificação de pesso- creto para que lamentáveis ocorrências
promoveu palestras e seminários para al – Requisitos, objetivando qualificar não se repitam e deixem definitivamente
discutir as causas do desabamento, profissionais, não só da iniciativa priva- de frequentar o noticiário nacional.
lançando na ocasião um Manifesto da, mas também dos órgãos públicos,
Público, no qual alertou a sociedade para os trabalhos de inspeção. INSTITUTO BRASILEIRO DO CONCRETO
e as autoridades em geral sobre a im- Esse cabedal de informações – cujo IBRACON
portância da realização da inspeção e objetivo é solidificar o conhecimento
manutenção periódica nas estruturas e a aplicação criteriosa e da mais alta
Errata
de concreto. qualidade do concreto nas obras brasi-
Não bastasse toda essa atenção leiras, principalmente em um país hege- No campo “Referências Bibliográfi-
cas” do artigo “A construção da UHE
ao assunto, o Instituto somou ao seu monicamente construído em concreto de Itaipu: um registro fotográfico”
portfólio de ativos, o curso “Inspetor I – – e quadro associativo do IBRACON, houve um erro de digitação na se-
Inspeção em estruturas de concreto”, composto pelos mais renomados pro- gunda referência. O correto é: Itai-
com vistas a atender uma demanda do fissionais e empresas do setor, encon- pu Binacional: Os primeiros dez
anos: 1974-1984.
mercado pela formação e capacitação tram-se sempre à disposição de toda

PRÁTICA RECOMENDADA IBRACON/ABECE


Macro bras de vidro álcali resistentes (AR) para concreto destinado
a aplicações estruturais: de nições, especi cações e conformidade
Elaborada pelo CT 303 – Comitê Técnico IBRACON/ABECE sobre Uso de
Materiais não Convencionais para Estruturas de Concreto, Fibras e Concreto
Reforçado com Fibras, a Prática Recomendada especifica os requisitos
técnicos das macrofibras de vidro álcali resistentes para uso estrutural
em concreto.
A Prática Recomendada abrange
DADOS TÉCNICOS
macrofibras para uso em todos os
tipos de concreto, incluindo concreto ISBN: 978-85-98576-28-2
projetado, para pavimentos, pré- Edição: 1ª edição
Formato: eletrônico
moldados, moldados no local e
Páginas: 26
concretos de reparo.
Acabamento: digital
AQUISIÇÃO Ano da publicação: 2017
Coordenador: Eng. Marco Antonio Carnio
www.ibracon.org.br (Loja Virtual)

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12 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


u encontros e notícias | EVENTOS

Dam World 2018 recebe trabalhos técnico-científicos


A 3ª Conferência Internacional sobre
Barragens (Dam World 2018) será
realizada em Foz do Iguaçu, de 17 a
abilitação do concreto de barragens
e vertedouros”, “Pequenas barragens”
e “Barragens de rejeitos”, além de um
21 de setembro, juntamente com o 60º workshop sobre segurança de barra-
Congresso Brasileiro do Concreto.
gens e uma visita técnica à Usina Hidre-
Organizada pelo IBRACON e pelo La-
létrica de Itaipu.
boratório Nacional de Engenharia Civil
(LNEC), o evento vai discutir os aspec- O evento recebe trabalhos técnico-cien-
tos políticos, econômicos, ambientais e tíficos até 13 de março.
técnicos relacionados com a construção Durante a Conferência serão realiza- à Mais informações:
e manutenção de barragens. dos os cursos “Análise estrutural e re- www.damworld2018.org

Congresso Brasileiro de Patologia das Construções


A Associação Brasileira de Patologia
das Construções (Alconpat Brasil)
realiza de 18 a 20 de abril, em Campo
qualidade de obras, patologia e recupe-
ração de estruturas, o evento vai divulgar
as pesquisas científicas e tecnológicas
densável; e Ensaios não destrutivos em
concreto com tecnologia phased array,
campo magnético e georadar wide band.
Grande, no campus da Universidade Fe- sobre esses temas e áreas correlatas. As inscrições com preços promocionais
deral de Mato Grosso do Sul, a terceira Durante o evento serão realizados os mi- vão até 12 de março.
edição do Congresso Brasileiro de Pato- nicursos: Monitorização da integridade
logia das Construções (CBPAT 2018). das estruturas históricas através de siste- à Mais informações:
Fórum de debates sobre o controle de mas sensoriais wireless; Concreto autoa- https://alconpat.org.br/cbpat2018/

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 13


u encontros e notícias | LIVROS

Materiais de Construção Civil e Princípios


de Ciência e Engenharia de Materiais
C ompêndio de artigos técnico-
-científicos sobre os materiais de
construção civil, referenciados nas nor-
Princípios de Ciência e Engenharia de
Materiais” ganhou no final de 2017 sua
terceira edição, amplamente revisada
composta pelas seções: introdução, prin-
cípio de ciência dos materiais, rochas e
solos, materiais cerâmicos, aglomerantes
mas brasileiras vigentes e nas práticas e atualizada. minerais, materiais compósitos de aglo-
nacionais exemplares da engenharia Dividida em dois volumes, com 52 capí- merantes minerais, metais, madeiras, po-
civil, o livro “Materiais de Construção e tulos escritos por 86 autores, a obra é límeros, materiais compósitos de políme-
ros, materiais sustentáveis e materiais de
construção avançados.
A coordenação da terceira edição coube
ao Prof. Geraldo Cechella Isaia, professor
da Universidade Federal de Santa Maria,
editor das duas edições anteriores.
O livro é voltado aos estudantes de enge-
nharia civil, arquitetura e tecnologia, dos
cursos técnicos, de graduação e pós-
-graduação, bem como aos profissionais
em geral do setor de construção civil.
Garanta seus exemplares!
Acesse a Loja Virtual do IBRACON no site
www.ibracon.org.br .

14 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


u encontros e notícias | CURSOS

Curso Inspetor I – Inspeção em estruturas


de concreto segundo a ABNT NBR 16230
O curso tem como objetivo apresen-
tar e discutir conteúdos relativos
à formação de Inspetores I de Estru-
Com aulas teóri-
cas e práticas, o
curso abordará
turas de Concreto. Seguindo a ABNT as manifesta-
NBR 16230:2013, visa o capacitar pro- ções patológicas
fissionais para o estabelecimento de em estruturas
diagnóstico e prognóstico do estado de concreto, a
de conservação de estruturas de con- programação da
creto – principalmente as Obras de Arte inspeção, o pro-
Especiais (OAE) – de forma a manter jeto de recupe-
ou restabelecer seus requisitos de se- ração ou reforço,
gurança estrutural, de funcionalidade e a inspeção e os
de durabilidade. métodos de ensaio.
Estão previstas duas turmas no primeiro O curso é voltado aos profissionais com é uma realização do IBRACON, integran-
semestre. De 26 a 28 de abril, na sede do graduação ou nível técnico na área de cons- do seu Programa Master PEC, programa
Sindicato da Arquitetura e Engenharia (Si- trução civil, bem como aos profissionais de educação continuada do IBRACON.
naenco), em Recife, Pernambuco. De 17 com nível médio com experiência na ativi- Para informações sobre os instrutores e
a 19 de maio, no Núcleo de Tecnologia dade de inspeção, recuperação e reforço. conteúdo programático, acesse:
Industrial (NUTEC), em Fortaleza, Ceará. Com carga horária de 28 horas, o curso à www.idd.edu.br/instituto/extensao

uuencontros e notícias | CURSOS


Programação de Cursos Master PEC

Carga
Curso Palestrantes Data Local Realização
horária
Rubens Curti IBRACON
Intensivo de Tecnologia Básica do Concreto 6 a 8 de março 18 horas Sede da ABCP – SP
Flávio André da Cunha Munhoz ABCP
Gestão de Planejamento Rubens Curti IBRACON
3 e 4 de abril 16 horas Sede da ABCP – SP
de Estruturas de Concreto Roberto Barella Filho ABCP
IBRACON
Tecnologia Básica das Paredes
Rubens Monge Silveira 10 de abril 8 horas Sede da ABCP – SP ABCP
de Concreto
ABESC
IBRACON
Execução de Edificações em Paredes
Hugo Pereira Ferraz 11 de abril 8 horas Sede da ABCP – SP ABCP
de Concreto
ABESC
IBRACON
Projeto Estrutural em Paredes
Marcio Corrêa 12 de abril 8 horas Sede da ABCP – SP ABCP
de Concreto
ABESC
Prof. Júlio Timerman
Inspetor I – Inspeção de Estruturas IBRACON
Prof. Paulo Helene Sinaenco
de Concreto Segundo a 26 a 28 de abril 28 horas IDD
Prof. Enio Pazini Recife – PE
ABNT NBR 16230:2013 ALCONPAT
Prof. Gilberto Giuzio
Prof. Júlio Timerman
Inspetor I – Inspeção de Estruturas IBRACON
Prof. Paulo Helene Nutec
de Concreto Segundo a 17 a 19 de maio 28 horas IDD
Prof. Enio Pazini Fortaleza – CE
ABNT NBR 16230:2013 ALCONPAT
Prof. Gilberto Giuzio
CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 15
u personalidade entrevistada

Valdir Pignatta
e Silva
V
aldir Pignatta e Silva é professor-
doutor do Departamento de
Estruturas e Geotecnia da Escola
Politécnica da Universidade de
São Paulo (Poli-USP), instituição
onde se graduou engenheiro civil
em 1975, mestre, em 1992, e doutor, em 1997,
além de ter sido coordenador do programa de pós-
graduação em engenharia civil de 2003 a 2005.
Especialista em estruturas em situação de incêndio,
assunto ao qual se dedica desde 1988, quando
era engenheiro civil na Companhia Siderúrgica
Paulista (Cosipa), o Prof. Valdir Pignatta lançou,
em 1999, uma disciplina pioneira sobre o tema
na pós-graduação brasileira, repetindo o feito na
graduação no ano seguinte.
Membro de mais de uma dezena de comissões Diretor da Associação Luso-Brasileira para a
de estudo da Associação Brasileira de Normas Segurança contra Incêndio (Albrasci) e revisor
Técnicas (ABNT), como a que elaborou (2004) de 21 revistas científicas, Pignatta publicou mais
e revisou (2012) a norma brasileira NBR 15200 de 250 artigos científicos, sendo autor do livro
Projeto de Estruturas de Concreto em Situação “Projeto de Estruturas de Concreto em Situação de
de Incêndio, e a NBR 14432:2001 Exigências de Incêndio” e de outros oito livros.
resistência ao fogo dos elementos construtivos Ele é coordenador do Grupo de Fomento à
das edificações. Segurança contra Incêndio (GSI/USP).

IBRACON – Como surgiu seu interesse Engenharia Civil, a das estruturas chamou um curso sobre o uso das estruturas
pela área de engenharia de estruturas, minha atenção. Achava fantástico como de aço e, para esse fim, fui designado
em especial a engenharia de estruturas desenhos, com elementos estruturais a estudar sobre aço em incêndio. Eu
em situação de incêndio? dimensionados por mim, poderiam se nada sabia sobre o assunto. Importei
Valdir Pignatta e Silva – Desde a transformar em obras reais. algumas publicações estrangeiras e
infância eu desejei ser engenheiro Finda a graduação, fui trabalhar na área comecei a compreender o tema. Aqui,
civil, alcançando meu objetivo em de projeto da Companhia Siderúrgica destaco dois aspectos. O primeiro
1971, quando iniciei o curso na Escola Paulista (Cosipa). Em 1988, a Cosipa é que logo entendi que se tratava
Politécnica da USP (Universidade de foi convidada pela Faculdade de de um tema afeito aos engenheiros
São Paulo). Cursando a Poli e mantendo Arquitetura da UFRJ (Universidade estruturistas, pois era possível calcular a
contato com as várias áreas da Federal do Rio de Janeiro) para dar resistência ao fogo das estruturas e não

16 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


apenas empregar métodos prescritivos, Freitag publicou

LABORATÓRIO DE SEGURANÇA AO FOGO E A EXPLOSÕES / IPT


sem muita base científica. O segundo o resultado de
é que o interesse internacional não uma série de
era somente sobre o aço. Concreto ensaios sobre aço
e madeira também eram alvos de e concreto a altas
estudos no exterior. A partir de então temperaturas.
me interessei em pesquisar o assunto Ele observou
para vários materiais. a redução de
Pela Cosipa, proferia palestras e resistência
elaborava alguns textos sobre aço e do concreto,
aço em incêndio. Achei que deveria me porém, como o
especializar mais e comecei a cursar concreto naquela
o Mestrado na Poli. Aproximei-me época não era
novamente da Escola em que havia empregado
me graduado. Depois de algum tempo, em estruturas
com enorme felicidade, entrei para o importantes, o
quadro docente da USP, em 1994. Já, assunto não foi Ensaio de resistência ao fogo em parede de concreto
professor da Poli, fiz meu doutorado na considerado. realizado no IPT
área de estruturas de aço em incêndio. Em 1948, Morch
A partir de 2004, dediquei-me mais escreve interessante artigo alertando ao fogo das estruturas de concreto,
ao concreto em incêndio, no intuito para a necessidade de verificação no entanto, não havia normas ou
de elaborar o projeto básico da norma de estruturas de concreto armado livros brasileiros para auxiliar o
brasileira ABNT NBR 15200 e divulgar em incêndio, associando-a apenas à projetista a cumprir a legislação.
o tema, por meio de livros, publicações armadura no seu interior. Na década
científicas, cursos e palestras. de 1960, começaram experiências IBRACON – Como e quando essas
Em 1999, iniciei a primeira disciplina e estudos, ainda que simples, sobre preocupações e resultados de estudos

de pós-graduação no Brasil sobre concreto em incêndio, realizados por evoluíram para recomendações de

estruturas em situação de incêndio. pesquisadores suecos. Finalmente, segurança contra incêndio e para

Em 2010, iniciei uma disciplina optativa na década de 1990, surge a primeira normas técnicas sobre o tema?

para a graduação, também pioneira no norma internacional sobre o tema, o Valdir Pignatta e Silva – Como disse,
Brasil. Nesta, quase todo o conteúdo é Eurocode. A minha preocupação em 1988 iniciei meus estudos sobre
voltado para o concreto. vem desde esse período, pois não o tema. Em 2004 surgiu a norma
havia normas brasileiras sobre o brasileira ABNT NBR 15200:2004. Foi
IBRACON – Quando surgiram as primeiras tema. Na década de 1990, surgiram um grande avanço. Entretanto, com o
preocupações com o comportamento os projetos de normas europeias. uso dessa norma, notou-se que havia
do concreto sob ação do fogo? O que Com base nelas, dediquei-me, necessidade de incrementá-la com
motivou essas primeiras investigações? prioritariamente, à norma sobre o aço outros procedimentos. Eu e minha
Quais foram seus resultados? e, em seguida, sobre o concreto. Há equipe passamos a nos dedicar ao
Valdir Pignatta e Silva – Em 1899, anos havia exigências de resistência concreto em incêndio quase em tempo


NA DÉCADA DE 1990 SURGE A PRIMEIRA


NORMA INTERNACIONAL SOBRE O TEMA
[CONCRETO EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO],
O EUROCODE

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 17



OS PRINCIPAIS REQUISITOS [PARA DIMENSIONAMENTO DE


ESTRUTURAS DE CONCRETO EM INCÊNDIO] SÃO AS DIMENSÕES
MÍNIMAS DOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS E A DISTÂNCIA DO
CENTRO GEOMÉTRICO DAS ARMADURAS AO FOGO

integral. Elaboramos diversos trabalhos informações numéricas que, se um requisito fundamental para a
de mestrado, doutorado, livros e seguidas, a solução é aceita pelas segurança contra incêndio é que a
artigos científicos. Vários resultados autoridades. São métodos nem arquitetura seja projetada visando
interessantes foram atingidos, de sempre com base científica, mas, à segurança contra incêndio, em
forma a poder integrar a revisão de supõe-se, a favor da segurança, especial, a compartimentação
2012 da referida norma. portanto, geralmente não econômicas. vertical. Ou seja, se um incêndio se
A pesquisa internacional, bem como iniciar em um pavimento, ele não
IBRACON – Qual é a filosofia que a brasileira, vem se desenvolvendo a se propagará para o imediatamente
embasa atualmente a normalização procura de procedimentos, ao mesmo superior. Isso é fundamental, mas
internacional relacionada às estruturas tempo, mais realísticos e acessíveis. infelizmente nem sempre cumprido pelo
de concreto e aos componentes de projeto de arquitetura. Associando-
construção em situação de incêndio? IBRACON – Quais os principais se o bom projeto de arquitetura ao
Valdir Pignatta e Silva – Com o requisitos normativos para o dimensionamento normalizado, reduz-se
conhecimento atual, ainda não é dimensionamento de estruturas de a probabilidade de ruína da edificação a
possível dimensionar edifícios de concreto em situação de incêndio? valores adequados à segurança.
concreto para a situação real de O que esses requisitos garantem em
incêndio, mesmo empregando termos de segurança contra incêndio? IBRACON – Existem especificidades no
métodos computacionais avançados. Valdir Pignatta e Silva – Os principais dimensionamento de estruturas pré-

Então, a filosofia mundial, incluindo requisitos são as dimensões mínimas fabricadas e estruturas moldadas no local

nosso país, ainda se restringe ao dos elementos estruturais e a quanto à segurança contra incêndio?

uso de métodos prescritivos, ou distância do centro geométrico das Valdir Pignatta e Silva – Do ponto de
seja, as normas e códigos fornecem armaduras ao fogo. Respeitando essas vista conceitual, não há diferença.
recomendações, a estrutura terá um Como as pré-fabricadas têm
LABORATÓRIO DE SEGURANÇA AO FOGO E A EXPLOSÕES / IPT

tempo de resistência ao fogo igual ou geometria padronizada, algumas


superior àquele requerido pelos códigos. recomendações de como se empregar
Entre os elementos estruturais, de forma mais fácil a ABNT NBR
quero destacar as lajes, que devem 15200:2012 poderiam ser estudadas.
ser projetadas com uma espessura Foi publicada recentemente a
mínima, de forma a impedir que o ABNT NBR 9062, na qual são
calor passe através de sua espessura, apresentadas recomendações sobre
ignizando fogo no pavimento o dimensionamento de pré-moldados
superior e, portanto, quebrando a em situação de incêndio.
compartimentação vertical. Ressalto
que essa dimensão mínima não visa IBRACON – Qual é sua avaliação da
apenas à segurança estrutural, mas normalização brasileira frente às normas

evitar a quebra de compartimentação mais avançadas nesse tema? O que você


vertical, importante medida de destacaria de positivo na normatização

segurança contra incêndio. brasileira? O que precisa ainda avançar?


Colapso de parede de concreto durante
o ensaio de resistência ao fogo no IPT Além do dimensionamento em si, Quais são as principais carências da

18 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


normalização nacional neste tema? Por nossa tradição na

ACERVO DO itt PERFORMANCE / UNISINOS


que até hoje não foi implementado e construção civil.
quais as dificuldades para se estabelecer No entanto, ainda
um “Código Nacional de Segurança há necessidade
contra Incêndios”? de se resolver
Valdir Pignatta e Silva – São duas algumas situações
coisas diferentes: normas brasileiras pontuais, por
e código nacional. Começando exemplo, punção,
pelo último, sei que os bombeiros consolos,
brasileiros estão tentando fazer um esforços indiretos
código nacional, mas um problema provocados por
é que a legislação sobre segurança restrições de
contra incêndio é estadualizada e deformações Parede de concreto armado com instalação de sistemas de
barramentos após ensaio de resistência ao fogo no
não se pode retirá-la dos estados. térmicas etc. O itt Performance/Unisinos
No meu ponto de vista, poderia haver Brasil precisa de
um código nacional que fornecesse mais pesquisadores na área de concreto feito tanto por bombeiros quanto
recomendações básicas de segurança em incêndio, que se voltem para as engenheiros. Não conheço normas ou
contra incêndio. Os estados decidiriam necessidades de projeto. códigos internacionais que contenham
se seguiriam ou fariam seus próprios tais indicações, mas, sem dúvida,
códigos. Seria interessante haver IBRACON – Em sua opinião, seria seriam relevantes.
convergência de todas as legislações eficaz o estabelecimento em normas

estaduais. Entre outras vantagens, técnicas brasileiras dos procedimentos IBRACON – Como é a relação entre
os projetistas poderiam seguir uma adequados após o combate a um as normas brasileiras relativas à

só diretriz, ao invés de respeitar incêndio, eliminando o tradicional segurança contra incêndio em edificações

legislações diferentes para cada processo de rescaldo, que muitas e as instruções técnicas do Corpo de
estado. Felizmente, a maioria dos vezes traz consequências danosas às Bombeiros? Existe uma relação harmoniosa
estados brasileiros tem uma legislação estruturas de concreto? ou conflitiva entre essas instâncias

própria inspirada na do Estado de Valdir Pignatta e Silva – Tendo em normalizadoras? Não seria mais adequado
São Paulo, o que, pela semelhança, é vista que se trata de uma atividade que o assunto fosse da competência

uma vantagem. Seria interessante que de bombeiros, seria mais eficiente exclusiva dos engenheiros ou arquitetos?

os estados que não têm exigências se tais recomendações constassem Valdir Pignatta e Silva – As instruções
adequadas se alinhassem aos demais. em Instruções Técnicas do Corpo de técnicas (IT’s), elaboradas pelos
A ABNT NBR 15200:2012 se alinha às Bombeiros. Sabe-se, da prática, que bombeiros, fornecem as exigências
mais desenvolvidas do mundo. Como o choque térmico da água contra as de resistência ao fogo das estruturas
ponto positivo, destaco, novamente, que superfícies aquecidas do concreto formadas por qualquer material.
nossas normas já incluem resultados o fazem fissurar. No entanto, outras As Normas Brasileiras, elaboradas por
de pesquisa brasileira, ou seja, há consequências podem ocorrer. Esse representantes da nossa sociedade,
recomendações tendo como base é mais um estudo que deveria ser com forte participação de engenheiros,


PODERIA HAVER UM CÓDIGO


NACIONAL QUE FORNECESSE
RECOMENDAÇÕES BÁSICAS DE
SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 19



AS INSTRUÇÕES TÉCNICAS FORNECEM AS EXIGÊNCIAS DE


RESISTÊNCIA AO FOGO DAS ESTRUTURAS. AS NORMAS
BRASILEIRAS INDICAM COMO DIMENSIONAR A ESTRUTURA
PARA RESPEITAR ESSAS EXIGÊNCIAS

indicam como dimensionar a estrutura obras de reformas também devem incêndio, devem ser analisadas pelos
para respeitar essas exigências. Não seguir a legislação vigente, ou seja, respectivos especialistas.
havendo superposição de escopo, pode- decretos estaduais sobre segurança
se dizer que a convivência é harmoniosa. contra incêndio e instruções técnicas. IBRACON – Quais lições podem ser
No entanto, em algumas normas e IT´s No entanto, cada caso é um caso. No aprendidas do recente incêndio num

há superposição de escopos. Posso exemplo de escadas, a que você se edifício residencial em Londres, a
comentar sobre a área de estruturas, referiu, parece-me de bom senso que o Grenfel Tower, ocorrido em junho do
em que a ABNT NBR 14432:2001 Corpo de Bombeiros dê outra solução ano passado? Quais foram as principais
e a IT8:2011 (de São Paulo) têm alternativa, adequada a cada caso. Seria razões para que o fogo se espalhasse

similaridade. De início, a IT8 era muito interessante que algumas soluções tão rapidamente, provocando dezenas

similar (não exatamente igual) à norma alternativas para esse caso, e outros de vítimas fatais? Como um projeto de
brasileira. Como o passar dos anos e mais frequentes, fossem estudadas e arquitetura bem feito poderia ter evitado

das revisões da IT8, ela se tornou mais incluídas nas Instruções Técnicas, a fim ou minimizado a propagação das chamas?

atualizada do que a norma. de direcionar os projetistas. As edificações no Brasil correm riscos


A área da segurança contra incêndio semelhantes a do Grenfel Tower?
IBRACON – Atualmente as obras de é multidisciplinar. O projeto de Valdir Pignatta e Silva – A principal
retrofit têm sido bastante comuns. edificações envolve arquitetura, lição é a de que sempre temos o que
Há normas ou instruções técnicas do engenharia de estruturas e engenharia aprender e devemos ficar vigilantes.
Corpo de Bombeiros vigentes para esses de instalações, incluindo subáreas O revestimento usado na fachada
casos? Como resolver, por exemplo, dessas grandes áreas. Ao se pensar não era adequado e proporcionava
uma escada que não possui a largura em segurança contra incêndio como vazios pelos quais o fogo e a fumaça
em conformidade com as instruções um todo, mais áreas podem colaborar, passaram para os pavimentos
vigentes? Há bom senso? O que engenharia mecânica e elétrica, superiores. Notem que isso aconteceu
prevalece nesses casos? química, matemática, física e até em um país que tem um dos códigos
Valdir Pignatta e Silva – Por enquanto, medicina e psicologia. As soluções mais exigentes de segurança contra
não são todas de incêndio. Um projeto arquitetônico
conhecimento bem feito impediria a tragédia,
de uma só área. porém, tratou-se de uma reforma
Por exemplo, eu com a fachada alterada em relação
não me atrevo à original. Recomendo que seja feita
a responder de uma pesquisa para se conhecer se
forma detalhada os mesmos problemas poderiam
à sua pergunta, acontecer em nosso país. Deve
pois é da área ser feito um levantamento das
de arquitetura. soluções de fachada empregadas
Essa, como aqui e analisá-las. Sei que é uma
outras tantas tarefa hercúlea, mas deve ser feita,
dúvidas na área de a fim de se evitar que novamente
Incêndio no Grenffel Tower (The Sun, Reino Unido) segurança contra aconteça uma tragédia. Os síndicos

20 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


poderiam analisar as soluções de engenharia e arquitetura? Como tem

ACERVO DO itt PERFORMANCE / UNISINOS


suas edificações. sido a formação dos engenheiros e

arquitetos neste tema no país?

IBRACON – Como inspecionar Valdir Pignatta e Silva – Até o


estruturas de concreto incendiadas? momento, eu diria que muito pequena
Quando e que medidas podem ser ou nenhuma. Eu ministro uma disciplina
tomadas para sua reabilitação? sobre estruturas em situação de
Valdir Pignatta e Silva – Tomar incêndio, com ênfase no concreto,
ciência da severidade do incêndio e para os alunos da Escola Politécnica,
do estado dos elementos estruturais. mas é optativa. Ou seja, a maioria de
Verificar a redução de resistência dos nossos alunos forma-se sem o devido
materiais (concreto e aço) de elementos conhecimento. No Brasil, estão surgindo
atingidos pelo fogo, por comparação alguns cursos de especialização que
com elementos reconhecidamente não procuram reduzir a falta de informações
atingidos. Se necessário, deverão ser na graduação. Espero que, em 2019,
feitos ensaios. Deve-se lembrar que a Escola Politécnica lance um curso Equipe do itt Performance/Unisinos
realizando inspeção na estrutura de
o concreto, geralmente, não recupera de atualização em proteção passiva na concreto armado de uma edificação
a resistência após o resfriamento, segurança contra incêndio. após a ocorrência de um incêndio
enquanto o aço pode recuperar (se
não atingir uma temperatura de cerca IBRACON – Que papel podem na compartimentação em projeto, é
de 740ºC) ou não (se ultrapassar tal desempenhar as entidades técnicas, desafiador encontrar, entre métodos
temperatura). Se necessário, deve ser como o IBRACON, para disseminação simplificados, algo que se possa
feita análise metalográfica do aço para do conhecimento sobre segurança empregar para resolver os problemas. A
determinar se o aço passou ou não da contra incêndio em edificações? utilização de métodos mais avançados,
temperatura citada (função da alteração V aldir Pignatta e Silva – O embora desejável, leva mais tempo
da posição relativa dos átomos). Como IBRACON poderia fomentar o e, normalmente, não se consegue
veem são algumas decisões a serem desenvolvimento da área, quer aplicá-lo. Então, o que faço é guardar
tomadas em função da severidade do na divulgação a projetistas, o problema para futuros mestrados ou
incêndio, por isso recomenda-se que quer no incentivo à pesquisa. doutorados. Cito dois deles: dimensionar
se consulte um especialistas nessa área Cursos, palestras, reuniões entre capitéis de laje lisa em incêndio e efeito
e depois um engenheiro estruturista pesquisadores seriam bem-vindas. da dilatação de pisos nos pilares.
para verificar a estrutura. A reabilitação
é similar ao que se faz para estruturas IBRACON – Entre projetos de novas IBRACON – Quais seus hobbies?
danificadas à temperatura ambiente. construções, de reabilitação e de Valdir Pignatta e Silva – De fato,
retrofit, quais foram os mais relevantes não os tenho. Talvez possa citar
IBRACON – Como esse assunto e desafiadores que participou? assistir a filmes. De resto, dedico-me
da segurança contra incêndio em Valdir Pignatta e Silva – Não tenho às atividades acadêmicas,
edificações vem sendo tratado nos atuado em reabilitações, mas nas atualmente, quase restritas à
cursos nacionais de graduação em novas construções, em vista de falhas segurança contra incêndio.


PROBLEMAS PARA FUTUROS MESTRANDOS


E DOUTORANDOS: DIMENSIONAR CAPITÉIS
DE LAJE LISA EM INCÊNDIO E EFEITO
DA DILATAÇÃO DE PISOS NOS PILARES

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 21


u estruturas
encontros eem
notícias
detalhes
| CURSOS

Resistência ao fogo das


estruturas de concreto
ANTONIO FERNANDO BERTO • CARLOS ROBERTO METZKER DE OLIVEIRA – Pesquisadores do Laboratório de Segurança ao Fogo e a Explosões
Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT)

1. INTRODUÇÃO risco, como a natureza da construção subdivisão, que tem sido recomendada

A
complexidade da solução e a localização da edificação na ma- pelo IPT como sendo capaz de possibi-
do problema da segurança lha urbana e no lote, são apenas dois litar boas soluções de segurança con-
contra incêndio nas edifi- exemplos de situações importantes tra incêndio, tem oito elementos:
cações é definida pela diversidade de que se devem considerar. a) Precaução contra o início de incên-
parâmetros que estabelecem as situ- Frente a isto, a solução da segu- dio, composta por ações preven-
ações de risco e pelos objetivos que rança contra incêndio deve, inevitavel- tivas visando controlar o risco do
devem ser alcançados. O objetivo da mente, levar em conta uma abordagem início do incêndio;
segurança contra incêndio não se re- sistêmica, que se inicia no projeto e se b) Abandono seguro da edificação,
sume à segurança da vida humana e estende por toda a vida útil da edifica- composto por ações protetoras
os riscos manifestam- se não apenas ção, que faça frente a tal complexidade visando assegurar o abandono
em função da ocupação. Fatores de considerando a subdivisão do proble- rápido e seguro da população
ma geral em pro- do edifício;
blemas parciais. c) Limitação da ocorrência da infla-
Tal abordagem mação generalizada, composta por
deve permitir que ações protetoras visando controlar
cada um desses o risco de rápido crescimento de
problemas par- incêndio no ambiente de origem;
ciais seja solu- d) Extinção inicial do incêndio, com-
cionado de forma posta por ações protetoras visando
independente, garantir os meios para combate ao
assegurando-se incêndio em seus estágios iniciais;
que mantenham e) Limitação da propagação do in-
Foto 1 – Vista geral da ruína de estrutura de concreto pré-
moldado, decorrente de incêndio, no edifício de tecelagem Zêlo entre si intera- cêndio dentro da edificação, com-
ção e sinergia posta por ações protetoras visan-
suficientes para do controlar o risco de propagação
estabelecer, de do incêndio além do ambiente
maneira apropria- de origem;
da, a solução da f) Precaução contra a propagação
segurança contra do incêndio para edificações adja-
incêndio como centes, composta por ações prote-
um todo, aten- toras visando controlar o risco de
dendo aos objeti- propagação do incêndio para edifi-
vos propostos. cações adjacentes;
Uma proposta g) Precaução contra o colapso estrutu-
Foto 2 – Ruína da cobertura de concreto pré-moldado,
decorrente de incêndio, no edifício de tecelagem Zêlo razoável para tal ral, composta por ações protetoras

22 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


visando controlar o risco de ruína ou componentes
total ou parcial da edificação afetada construtivos sem
pelo incêndio; função estrutu-
h) Facilitação das operações de ral, como pare-
combate e resgate, composta por des de vedação,
ações protetoras visando garantir portas, dampers,
rapidez e eficiência das operações selagens, etc.
de combate. O incêndio
As ações protetoras dividem-se que atingiu a in-
em ativas e passivas. As primeiras, flamação gene-
Foto 3 – Escorregamento de painel de laje em estrutura de
com as quais a maioria das pessoas ralizada no am- concreto pré-moldado, decorrente de incêndio, no edifício de
está familiarizada, correspondem aos biente de origem tecelagem Zêlo
sistemas prediais de proteção contra tem capacidade
incêndio, envolvendo hidrantes, sprink- de promover o
lers, detecção e alarme etc. As ações colapso estrutu-
passivas, que compõem a porção da ral da edificação.
proteção contra incêndio associada ao Esta capacida-
maior número de elementos da aborda- de amplia-se na
gem sistêmica mencionada, abrangem medida em que
o controle das características de rea- maiores porções
ção ao fogo dos materiais empregados da estrutura são
nas edificações, a compartimentação afetadas por sua
horizontal e vertical, a resistência ao ação, ou seja, na Foto 4 – Deformação de pilar e deslocamento de painel de
fogo dos elementos estruturais etc. e medida em que laje, decorrentes de incêndio, no edifício de tecelagem Zêlo

condicionam especialmente as solu- o incêndio se


ções dos elementos: abandono seguro propague para outros ambientes. Os nº 08 está colocado como sendo o de
da edificação; limitação da ocorrência projetos estruturais desses elementos estabelecer condições a serem aten-
da inflamação generalizada; limitação construtivos devem necessariamente didas pelos elementos estruturais e
da propagação do incêndio dentro da considerar a resolução da resistên- de compartimentação das edificações
edificação; precaução contra a propa- cia ao fogo. Atualmente, no Brasil, quanto aos tempos requeridos de re-
gação do incêndio para edificações ad- existem regulamentações estaduais e sistência ao fogo (TRRF) para que,
jacentes; precaução contra o colapso normas referentes a esse quesito, que em situação de incêndio, seja evitado
estrutural; e facilitação das operações exigem seu atendimento no desen- o colapso estrutural, possibilitando a
de combate e resgate. volvimento do projeto. Como referên- saída segura das pessoas e o acesso
A questão da resistência ao fogo cia pode-se citar o Decreto Estadual para as operações do Corpo de Bom-
dos elementos estruturais também nº 56.819 de 2011 do Corpo de Bom- beiros. Deve-se ter claro que o TRRF
está vinculada à compartimentação beiros do estado de São Paulo, no qual é um parâmetro de projeto e não re-
horizontal e vertical, afinal as lajes e estão inseridas a Instrução Técnica nº presenta o tempo de duração do in-
vigas associadas sempre integram a 08 – Resistência ao fogo de elementos cêndio, tempo de evacuação da edi-
compartimentação vertical e as pare- da construção e a Instrução Técnica ficação ou mesmo tempo de resposta
des com função de compartimentação nº 09 – Compartimentação horizontal do Corpo de Bombeiros para o início
horizontal devem contar com elemen- e vertical. do combate ao incêndio. Tal instru-
tos estruturais, incorporados ou não à ção estabelece o TRRF de elementos
estrutura principal da edificação. Des- 2. TEMPO REQUERIDO DE construtivos estruturais e de compar-
taque-se aqui que o conceito da resis- RESISTÊNCIA AO FOGO timentação em função da ocupação e
tência também se aplica a elementos O objetivo da Instrução Técnica da altura da edificação.

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 23


combate, quer trole de fumaça, não desempenham
seja em termos diretamente papel de conter a propa-
de ocorrência de gação vertical do incêndio. O sistema
ruína, conside- de chuveiros automáticos de supressão
rando a gravida- e controle do incêndio pode fazer isto
de crescente de- na medida em que contenha o desen-
corrente da altura volvimento do incêndio em seu local
da edificação: a de origem. Caso este sistema falhe, ou
ruína de uma edi- não conte com as necessárias ações de
ficação térrea, de apoio, o incêndio pode se propagar ver-
modo geral, trará ticalmente na edificação. De modo geral
consequências no Brasil, esses três sistemas apresen-
significativamen- tam baixa confiabilidade em razão de
te menores que a deficiências de projeto, de instalação,
ruína de um edifí- de operação e de manutenção. Diante
cio alto. desta situação, pode-se considerar que
A Instrução a dispensa da compartimentação ver-
Técnica nº 08 pro- tical no projeto de grandes edifícios de

Foto 5 – Planta baixa dos edifícios Sede I e Sede II da CESP, põe, por exemplo, escritórios pode ser uma temeridade.
destacando porção que ruiu e posicionamento dos pórticos para edifícios de Apesar da obrigatória compartimen-
escritórios, valo- tação das fachadas, jamais dispensada
O TRRF é estabelecido empirica- res de TRRF na faixa de 30 min a 180 no Decreto Estadual nº 56.819 de 2011
mente, levando em conta a provável min. Para edifícios térreos e de até 6m do Corpo de Bombeiros do estado de
severidade do incêndio, as dificulda- de altura requer 30 minutos, acima de São Paulo, o incêndio tem grandes
des de controlar o avanço do incêndio 6 m até 23 m requer 60 min, acima de chances de se propagar pelo exterior,
e as consequências do colapso estru- 23 m até 30 m requer 90 min, acima de junto à fachada. Tal situação poderá ser
tural provocado pelo incêndio, quer 30 m até 120 m requer 120 min, acima contida por via do adicional resfriamen-
seja em termos de risco às equipes de de 120 m até 150 m requer 150 min e to executado pelo Corpo de Bombeiros
acima de 150 m até 250 m requer 180
min. Para esta classe de ocupação a
compartimentação vertical é requerida
apenas acima de 12 m de altura. Apesar
disso, o Decreto Estadual nº 56.819 de
2011 do Corpo de Bombeiros do estado
de São Paulo admite, para todas estas
alturas, que a compartimentação vertical
seja substituída por sistema de detec-
ção de incêndio e sistema de chuveiros
automáticos de supressão e controle
do incêndio para edificações com altura
acima de 12 m até 23 m e por esses
sistemas mais o sistema de controle de
fumaça para edificações com altura aci-
ma de 23 m.
É importante esclarecer que, tanto
Foto 6 – Parte frontal do edifício Foto 7 – Parte posterior do edifício
Sede II da CESP, remanescente da ruína a detecção de incêndio como o con- Sede II da CESP, remanescente da ruína

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Pode-se con- proteção são obrigatórias e já foram
siderar, tendo em levadas em conta para abolir a neces-
conta os valo- sidade de compartimentação vertical,
res propostos de aspecto crucial para limitar a extensão
TRRF, e as cargas da porção da estrutura que pode ser
de incêndio típi- atacada pelo incêndio. No caso de
cas para edifícios edifícios de escritórios, tomado como
de escritório (700 exemplo, a aceitação de tempo equi-
MJ/m², segundo valente ao TRRF de 15 min para edifi-
a Instrução Téc- cações com altura até 6 m e de 30 min
nica nº 14), entre para edificações com altura até 23 m,
outros fatores, que supera o que seria razoável.
60 min seja o valor
básico necessário 3. QUESTÕES RELATIVAS AO
para a estrutura DIMENSIONAMENTO DA
suportar a ação RESISTÊNCIA AO FOGO DE
do incêndio. O va- ESTRUTURAS DE CONCRETO
Foto 8 – Detalhe da ruína na parte posterior do edifício
Sede II da CESP lor de 30 min seria Da mesma forma que a Instrução
um abrandamento Técnica nº 08, a norma ABNT NBR
nos pavimentos acima daquele onde o para edifícios de menor porte e os valores 14432 – Exigências de resistência ao
incêndio se desenvolve. Caso o edifício de 90 min, 120 min, 150 min e 180 min fogo de elementos construtivos de edi-
não seja dotado da devida compartimen- corresponderiam a agravamentos conside- ficações – Procedimento estabelece
tação vertical em seu interior, o Corpo rando, além do que se colocou até aqui, o os tempos de resistência ao fogo em fun-
de Bombeiros terá pouquíssimo tem- risco de porções da estrutura associadas ção da ocupação e altura das edificações
po e grande dificuldade para executar a pavimentos subsequentes estarem sub- e propõe os métodos de dimensiona-
esta ação. metidos concomitantemente a incêndios mento para atendimento das exigências.
de severidades condizentes ao
TRRF de 60 min.
Apesar disto, a Instru-
ção Técnica nº 08 concede
benefícios de abrandamen-
to das exigências relativas
ao TRRF. Trata-se do caso
do Anexo D que permite a
redução do TRRF em 30
minutos por meio de um
cálculo de tempo equivalen-
te, que leva em conta (entre
outros fatores) a existência
de sistema de chuveiros
automáticos de supressão
e controle do incêndio, bri-
gada de incêndio e sistema
de detecção automática.
Foto 9 – Danos sofridos por pilar Em muitas situações consi-
de concreto localizado no pódio do Foto 10 – Lascamento explosivo da estrutura de
edifício Grande Avenida deradas, essas medidas de concreto do edifício Grande Avenida

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 25


– Procedimento de incêndio, considerando a adoção
e, para o dimen- das normas ABNT NBR 14432 e NBR
sionamento, o 15200, e apresenta detalhes específi-
atendimento da cos para o dimensionamento de lajes
norma ABNT NBR alveolares, por não estarem previstas
15200 – Projeto na ABNT NBR 15200.
de estruturas de A crença de que as estruturas de
concreto em situ- concreto não sofrem extensamente
ação de incêndio, danos em situação de incêndio ou, ain-
Foto 11 – Lascamento explosivo e cisalhamento da cabeça de
pilar no pódio do edifício Grande Avenida que estabelece da, de que o incêndio é um fenômeno
critérios e méto- extremamente raro que nunca afetará
A norma ABNT NBR 15575 – dos de dimensionamento de estruturas a estrutura que está sendo projetada
Edificações habitacionais – Desempe- de concretos consideradas normais, ou e que, mesmo no caso de “por azar
nho, especificamente na parte 1 – Re- seja, com massa específica seca varian- extremo”, se isto vir a acontecer, não
quisitos gerais e na parte 2 – Requisitos do de 2.000 a 2.800 kg/m³, do grupo I se tentará associar uma eventual ruí-
para os sistemas estruturais também de resistência conforme classificação da na a deficiências de projeto, tudo isso,
trata da questão do dimensionamento ABNT NBR 8953 – Concreto para fins associado ao fato dos processos de
de estruturas em situação de incên- estruturais – Classificação pela massa fiscalização não incluírem a verificação
dio. Com o objetivo de proteger a vida específica, por grupos de resistência e do dimensionamento das estruturas em
humana, evitar o colapso estrutural da consistência. Para concretos do gru- situação de incêndio, conduz ao não
edificação, propiciar a saída segura po II, o Eurocode 2, parte 1.2, pode atendimento das regulamentações e
dos ocupantes e dar condições ade- ser empregado. normas que impõem como obrigatório
quadas de combate aos Corpos de Com relação às estruturas de con- a resolução desta questão. Agregue-se
Bombeiros, essa norma propõe o projeto creto pré-moldado, a versão de 2017 a isto o sentimento, muitas vezes de-
e construção dos elementos estruturais da norma ABNT NBR 9062 – Projeto terminante, de que o dimensionamento
atendendo a norma ABNT NBR 14432 e execução de estruturas de concre- de estruturas de concreto em situação
– Exigências de resistência ao fogo de to pré-moldado estabelece critérios de incêndio seja uma penalização des-
elementos construtivos de edificações para o dimensionamento em situação necessária, pois conduz à adoção de
seções mais amplas e a maiores reco-
brimentos das armaduras longitudinais.
De fato, a necessidade de adoção
de seções e recobrimentos mais amplos
se aplica a algumas situações, mas não
é tudo, pois outros aspectos interferem
no comportamento das estruturas de
concreto em situação de incêndio: o
lascamento explosivo do concreto em
situação de incêndio e o grau de hipe-
restaticidade da estrutura são aspectos
cruciais. As estruturas pré-moldadas são
mais susceptíveis ao incêndio, pois a for-
mação de um único nó plástico em uma
peça pode provocar a ruína de parte ou
u Figura 1 de toda a edificação ou, ainda, as defor-
Gráfico de ensaio de resistência ao fogo em um corpo de prova com
mações dessas estruturas em situação
TRRF pretendido de 120 min
de incêndio, decorrentes de esforços de

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dilatação térmica, podem promover a ex- tural à elevação de temperatura conforme
centricidade de cargas ou ainda o deslo- indicado na Figura 1 (a linha pontilhada
camento de apoios, que levam à ruina de representa a curva de elevação padroni-
parte ou de toda a edificação. Esta última zada de temperatura, a linha vermelha,
questão também afeta estruturas molda- a temperatura interna no equipamento
das in loco, provocando especialmente o – forno – e as linhas verdes, as tempe-
cisalhamento de pilares. raturas na face não exposta do corpo de
O caso da ruína do edifício da te- prova). Ao longo do tempo de ensaio é
celagem Zêlo, em incêndio ocorrido em verificado o atendimento aos critérios
Barueri (SP), em 12 de maio de 1995, de estabilidade, integridade e isolamen-
afetando estrutura de concreto pré- to térmico; estes dois últimos aplicados
-moldada, exemplifica perfeitamente as apenas a elementos estruturais que acu- Foto 12 – Parede de concreto com
questões levantadas e são mostradas mulam a função de compartimentação. perda de integridade decorrente de um
“lascamento” instantâneo
através das fotos 1, 2, 3 e 4. Por meio desses ensaios, frequen-
Outro caso exemplar correspondeu temente realizados no Laboratório de tratar de um material incombustível, ou
ao edifício da CESP (edifício Sede II), em Segurança ao Fogo e a Explosões (LS- seja, que não contribui com o aumento
maio de 1987 (Fotos 5 e 6). Tratava-se FEx) do IPT, tem sido possível observar, da carga de incêndio, pode dar margem
de uma grande estrutura moldada in sob condições controladas, o fenômeno a interpretações que confundam con-
loco composta por pórticos múltiplos, do lascamento explosivo, que definitiva- ceitos distintos relacionados à proteção
ligados entre si (praticamente) apenas mente deve ser considerado na concep- passiva. O material, de fato, não contri-
por meio das lajes, nos quais os pila- ção e dimensionamento das estruturas bui com a liberação de fumaça, a propa-
res localizavam-se junto a fachadas de concreto. Tal fenômeno em situa- gação das chamas e o desenvolvimento
paralelas, mantendo vãos de, aproxi- ções extremas pode comprometer ins- de calor no incêndio, mas isso não signi-
madamente, 12 m, vencidos por vigas tantaneamente a integridade/estabilida- fica que o elemento construtivo de con-
de grande seção. Os esforços de dila- de do elemento estrutural (Foto 12). Em creto seja resistente ao fogo e que não
tação das vigas cisalharam as colunas, outras situações este fenômeno se ma- seja particularmente susceptível a danos
promovendo o colapso de um pórtico, nifesta de maneira continuada, por meio maiores causados por um incêndio. Tal
e parte considerável da estrutura, inca- de pequenos lascamentos sucessivos, característica depende de muitos outros
paz de promover a redistribuição de que promovem a redução gradual da aspectos envolvidos para suportar efei-
esforços, ruiu (Fotos 7 e 8). seção do elemento estrutural e expõem tos completamente adversos, já discuti-
Outro caso interessante e de grande a armadura à ação direta do calor (Foto dos anteriormente.
repercussão, entre tantos, corresponde 13). Tal situação, no desenvolvimento
ao incêndio do edifício Grande Avenida, do incêndio, pode definir as condições
ocorrido em São Paulo nos idos de 1981. necessárias para o colapso estrutural.
Ali o lascamento explosivo do concreto e A combinação dessas duas formas de
os esforços decorrentes da dilatação de lascamento explosivo também ocorre
parte da estrutura submetida ao calor do de maneira frequente (Fotos 14 e 15).
incêndio provocaram o colapso de parte
da estrutura, felizmente não associada à 4. CONCLUSÃO
Torre da edificação, mas apenas ao seu A possibilidade de colapso de ele-
pódio frontal. mentos estruturais de concreto em situ-
Os ensaios definidos na norma ABNT ação de incêndio, verificado através de
NBR 5628 – Componentes construtivos sinistros ocorridos e por análises labo-
estruturais – Determinação da resistência ratoriais, comprova a necessidade de Foto 13 – Lascamentos contínuos
elaborar projetos levando em conside- em parede de concreto com diminuição
ao fogo indicam a exposição de corpo de
da seção transversal e exposição
prova representativo do elemento estru- ração a sua resistência ao fogo. Por se da armadura

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 27


O concreto e o aço, assim gados, tem demonstrado ser fator
como outros materiais que determinante para isto.
compõem as estruturas das Quaisquer análises estruturais
edificações, sofrem em situação dos elementos de concreto em
de incêndio alterações na inten- situação de incêndio, que ignore
sidade das forças de ligação na tais fenômenos, poderão produzir
micro e macroestrutura, em de- resultados errôneos. Ainda, a falha
corrência da elevação de tem- do concreto estrutural no fogo de-
peratura, modificando suas pro- pende da severidade do incêndio,
priedades físicas e mecânicas. da forma como o elemento está
No caso de elementos de con- exposto ao calor do incêndio, do
creto armado, adicionalmente a carregamento e do tipo e função
isto, o material em si está sujeito do elemento considerado e do sis-
à redução da seção transversal tema estrutural adotado. Sempre
e, consequentemente, de sua será essencial que as estruturas
capacidade portante, além de de concreto sejam projetadas para
expor as armaduras diretamen- garantir, conjuntamente com uma
te às altas temperaturas alcan- série de outras ações de proteção
çadas em um incêndio. O traço ao fogo, a segurança contra incên-
do concreto, incluindo o fator dio de modo a compatibilizar riscos
Fotos 14 e 15 – Colapso de parede estrutural em
decorrência do lascamento explosivo água-cimento e aditivos empre- e objetivos.

Prática Recomendada IBRACON/ABECE


Projeto de Estruturas de Concreto Reforçado com Fibra

Elaborada pelo CT 303 – Comitê Té cnico IBRACON/ABECE sobre Uso de


Materiais Nã o Convencionais para Estruturas de Concreto, Fibras e Concreto
Reforçado com Fibras, a Prática Recomendada é um trabalho pioneiro no
Brasil, que traz as diretrizes para o desenvolvimento do projeto de
estruturas de concreto reforçado com fibras.

Baseada no fib Mode Code 2010, a Prática Recomendada estabelece os


requisitos mıń imos de desempenho mecâ nico do CRF para substituiçã o
parcial ou total das armaduras convencionais nos elementos estruturais e
indica os ensaios para a avaliaçã o do comportamento mecâ nico do CRF.

Aquisição DADOS TÉCNICOS


www.ibracon.org.br ISBN: 978-85-98576-26-8
(loja virtual)
Edição: 1ª edição
Formato: Eletrônico
Páginas: 39
Patrocínio
Acabamento: Digital
Belgo Bekaert Arames

Ano da publicação: 2016


Coordenador: Eng. Marco Antonio Carnio

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Pode confiar
u estruturas em detalhes

Situação de incêndio
no sistema construtivo
paredes de concreto
ARNOLDO WENDLER – Diretor
Wendler Projetos

1. INTRODUÇÃO de calor e fumaça, chuveiros automá- ou por choques mecânicos de esferas

A
segurança contra incêndios ticos, hidrantes, extintores, etc... Na metálicas (impacto de 20J) em situa-
tem como objetivo primor- segurança passiva tem-se a seguran- ção de incêndio. A ABNT NBR10636
dial minimizar o risco à vida, ça das estruturas, compartimentação estabelece que em qualquer caso a
tanto dos usuários como dos bombei- dos ambientes e rotas de saída, prin- deformação não deve ser excessiva
ros que lá estarão para combater e ex- cipalmente a escada de incêndio. (sem especificar um valor absoluto).
tinguir o fogo. Paralelamente ocorrerá As paredes de concreto encai- A ABNT NBR 14432: 2001 Exi-
a limitação dos danos físicos à cons- xam- se exatamente nesta proteção gências de resistência ao fogo de ele-
trução. São dois os principais proble- passiva, efetivada pelo isolamento mentos construtivos das edificações
mas que ocorrem em um incêndio: a térmico, estanqueidade e estabilida- estabelece, para cada tipo e altura de
produção de fumaça (tóxica ou não) e de das paredes. O isolamento térmico edificação, qual é o tempo requerido
a exposição ao calor intenso. Uma das consiste no limite de temperatura que de resistência ao fogo (TRRF) onde
principais condições para se evitar os a face não exposta ao fogo vai atingir. as paredes terão que suportar as
problemas gerados por um incêndio é No caso da ABNT NBR10636: 1989 condições acima.
a rápida desocupação do imóvel. Paredes divisórias sem função estru- Para edificações residenciais (gru-
As medidas de proteção podem tural – Determinação da resistência ao po A da tabela A1), tem-se :
ser divididas em ativas e passivas. Na fogo (métodos de ensaio de paredes u Edificações até 6 m de altura: TRRF
segurança ativa tem-se os detectores divisórias), a temperatura média admi- de 30 min;
tida nesta face é u Edificações de 6 a 12 m de altura
de 140ºC, com (aproximadamente T + 4 pavimen-
pontos isolados tos): TRRF de 30 min;
de 180 ºC. A es- u Edificações de 12 a 23 m de altura
tanqueidade é (aproximadamente T + 8 pavimen-
observada pela tos): TRRF de 60 min;
não inflamação u Edificações de 23 a 30 m de altura
de um chumaço (aproximadamente T + 11 pavimen-
de algodão co- tos): TRRF de 90 min;
locado de 1 a 3 u Edificações com mais de 30 m de
cm de eventuais altura: TRRF de 120 min.
fissuras. A esta-
bilidade pode ser 2. O SISTEMA PAREDES
verificada pelo DE CONCRETO
Foto 1 – Vista interna da fôrma de alumínio montada ensaio sob carga As paredes, dentro do sistema

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 29


construtivo de paredes de concreto cas específicas para o sistema. As insta- 3. PRINCIPAIS NORMAS
moldadas no local, caracterizam-se lações hidráulicas, sanitárias, de incêndio PERTINENTES
por ter as funções de estrutura e ve- e gás devem ser colocadas fora da pa- A norma ABNT NBR 15575-1: 2013
dação. Essas paredes são moldadas rede, para garantir
no local por meio de sistemas de fôr- o desempenho de
mas. Atualmente são mais utilizadas as manutenabilidade.
fôrmas manoportáveis de alumínio, de Com todo o
fácil montagem e desmontagem, per- sistema monta-
mitindo um ciclo de produção de ape- do, fôrma, arma-
nas um dia. A utilização dessas formas ção, elétrica e
garante a boa produtividade e desem- sistemas, proce-
penho de acabamento, que propor- de-se à concre-
cionam a viabilidade técnico-financeira tagem utilizando
do sistema. um concreto au-
Adota-se como armação a tela toadensável, já
soldada, que, para espessura de pa- estudado e en-
redes até 15 cm, é posicionada no saiado na fase
centro da parede. Para paredes com de caracterização Foto 2 – Armações das paredes em telas montadas
mais de 15 cm, adota-se malha du- do material. Esse
pla, com cobrimentos especificados concreto terá
em norma. Em diferentes pontos, como aditivos os
como vãos de portas e janelas, têm- superplastifican-
-se reforços de telas ou barras de tes e os modifi-
armadura convencional. No caso de cadores de vis-
edifícios mais altos, sujeitos à tração cosidade e como
devido ao efeito do vento, têm-se adições os su-
ainda barras verticais nas extremida- perfinos e fibras
des das paredes. plásticas para
As paredes ainda terão embutida toda atuar na redução
a instalação elétrica e de sistemas. Tanto da retração inicial
as armaduras como as instalações são e do fenômeno
presas e posicionadas com peças plásti- do spalling. Foto 3 – Acessórios de plástico específicos para paredes
de concreto

Foto 4 – Slump-flow de concreto autoadensável com detalhe da borda sem exsudação

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ao fogo: o ensaio realizado em Furnas
em 2008 e o realizado na Universidade
Vale do Rio dos Sinos em 2015. Deve-
-se lembrar que as paredes de con-
creto com espessura igual ou menor
que 15 cm utilizam uma tela centrada
e têm, portanto, um cobrimento bas-
tante grande, bem acima dos mínimos
recomendados na ABNT NBR 6118:
2014 Projeto de estruturas de concreto
– Procedimento, acrescidos dos valores
u Gráfico 1 recomendados pela ABNT NBR15200:
Evolução das temperaturas durante o ensaio de incêndio 2012 Projeto de estruturas de concre-
to em situação de incêndio. No caso
das paredes de 10 cm tem-se um co-
Edificações Habitacionais – Desempe- os critérios de isolamento, estanquei- brimento da ordem de 4,7 cm, mais do
nho, parte 1, Requisitos Gerais impõe dade e estabilidade. que suficiente para promover a proteção
uma série de requisitos específicos A Norma ABNT NBR 14432:2001 da armadura em situação de incêndio1.
para a Segurança contra incêndio (ca- Exigências de resistência ao fogo de
pítulo 8). Estão discriminados os se- elementos construtivos de edifica- 4.1.1 Ensaio de Furnas
guintes requisitos: ções - Procedimento define os TRRF
u Dificultar o princípio de incêndio, ou para cada grupo e cada classe de uma O relatório do ensaio realiza-
seja, utilizar materiais incombustí- grande variedade de edificações, as- do em Furnas Centrais Hidrelétri-
veis (o concreto é um material ex- sim como as cargas de incêndio a se- cas, de maio de 2008 é o Relatório
tremamente estável em relação às rem adotadas em projeto. DCT.C.15.003.2006-R1. O ensaio foi
altas temperaturas de um incêndio); A Norma ABNT NBR 15200: 2012 realizado segundo a norma ABNT NBR
u Dificultar a inflamação generali- Projeto de estruturas de concreto em 5628:2001 Componentes construtivos
zada (atendido pelo critério da situação de incêndio – Procedimen- estruturais – Determinação da resistên-
estanqueidade); to define os parâmetros de projeto e cia ao fogo, que determina a exposição
u Dificultar a propagação de incêndio as propriedades dos materiais em si- do corpo de prova, sob carregamento
(os elementos que fazem a compar- tuação de incêndio. Especifica ainda típico, a um programa padronizado de
timentação devem ter isolamento); diferentes métodos de cálculo, desde elevação de temperatura, verificando-
u Segurança Estrutural: Minimizar o o tabular até os métodos simplificado, -se três requisitos: resistência mecâni-
risco de colapso da edificação (aten- geral e experimental ca e deformações, isolamento térmico
dido pelo critério da estabilidade). e estanqueidade a gases quentes e
A Norma ABNT NBR 10636 – Pa- 4. COMPORTAMENTO DAS chamas. O concreto utilizado tinha re-
redes divisórias sem função estrutural PAREDES DE CONCRETO sistência especificada de 20 MPa.
– Determinação da resistência ao fogo Para determinação da resistência
define a curva padrão tempo x tempe- 4.1 Paredes de 10 cm ao fogo do sistema construtivo em
ratura que deverá ser utilizada nos en- concreto estrutural foi construída uma
saios, assim como a maneira de medir Para as paredes com 10 cm de es- amostra formada por duas placas de
as temperaturas nos termopares na pessura, temos dois ensaios mostran- concreto medindo 2,02m x 2,95m x
face não exposta ao fogo. Define ainda do o atendimento ao seu desempenho 0,10m, montadas no pórtico de ensaio

1
O cobrimento das armaduras, previsto nas Normas Brasileiras de Projeto Estrutural em função da durabilidade pretendida, corresponde à distância da face da armadura
principal até a face exposta do elemento de concreto.
Essa dimensão está a favor da segurança em situação de incêndio, pois no método tabular da ABNT NBR 15200 a exigência
corresponde à distância medida do centro da armadura até a face exposta do elemento estrutural de concreto.

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 31


u Tabela 1 – Evolução dos fatos
ocorridos durante o ensaio

Parede 1 (10 cm)


pelo sistema tilt-up, unidas verticalmen- elementos construtivos de edificações –
te na região central com argamassa de Procedimento e da legislação local quan- Tempo Descrição
cimento e areia, e vedadas com ade- to ao tempo requerido para a estrutura e 0:00 Início do ensaio
sivo selante à base de poliuretano. A para as paredes como fachadas, poço Amostra começa a liberar água
14 min.
da composição
parede assim formada foi submeti- de elevador, escadas de emergência e
Inicia-se um acréscimo de
da a uma tensão de 1 MPa, corres- outras (que depende do tipo de ocupa-
17 min. calor no ponto onde aconteceu
pondendo a um carregamento de 10 ção e da altura da edificação). a liberação de água
tf/m, compatível com prédios de 4 a 20 min. Formação da primeira fissura
5 pavimentos. 4.1.2 Ensaio Vale do Rio dos Sinos Acréscimo de calor
35 min.
A partir dos resultados apresenta- generalizado na amostra
dos pelo corpo de prova no ensaio para A Universidade do Vale do Rio dos Amostra continua a liberar
46 min.
água da composição
“Determinação da resistência ao fogo de Sinos ensaiou duas paredes de 3,15 m
Pontos generalizados de
componentes construtivos estruturais”, x 3,00 m em forno vertical, sendo uma 66 min.
irradiação de calor
a amostra foi classificada como resis- com espessura de 10 cm e outra com
81 min. Não há mais liberação de água
tente ao fogo por 125 minutos. Durante espessura de 14 cm, ambas com con-
Realização de ensaio de
117 min.
esse tempo, o corpo de prova manteve creto de resistência fck = 25 MPa. A choque mecânico para 120 min.
as qualidades de resistência mecânica e previsão do ensaio era verificar as con- 120 min. Término do ensaio
de estanqueidade a chamas, atingindo dições de desempenho ao fogo até
a temperatura limite de 140ºC + T0, na 120 min. A avaliação das temperaturas menor que o limite estabelecido de
média dos 9 pontos da face não expos- na face não exposta foi realizada com 140ºC. Não houve inflamação do algo-
ta, decorridos 125 minutos do início do 7 termopares e a avaliação da estabi- dão colocado nas fissuras.
ensaio, não apresentando qualquer tipo lidade, com o impacto de 3 esferas de Veja na Tabela 1 e no Gráfico 2 a
de ocorrência quando da reaplicação aço em 3 pontos da parede. A curva de evolução dos fatos ocorridos e das
do carregamento, 24 h após o término aquecimento utilizada foi a estabeleci- temperaturas praticadas no ensaio.
do aquecimento. da pela ABNT NBR 10636-- Paredes
O tempo de 125 minutos deverá divisórias sem função estrutural – De- 4.2 Parede de 14 cm
ser utilizado pelo projetista, verificando terminação da resistência ao fogo.
as exigências da ABNT NBR 14432 – Na amostra de 10 cm, a tempera- Na amostra de 14 cm do ensaio
Exigências de resistência ao fogo de tura máxima atingida foi de 117,2 ºC, na Universidade do Vale do Rio dos

Foto 5 – Detalhe dos termopares para ensaio de incêndio e execução do ensaio de percurssão na parede

32 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


140

120
Temperatura (ºC)
100
4.4 Spalling
80

60
O spalling é o lascamento da su-
40 perfície da parede com perda de área
20 de concreto, causado pela pressão
interna de vapor de água ao evaporar
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 110 115 120 durante um incêndio. Em temperaturas
Tempo (min.) inferiores a 100 ºC, há perda de água
dos macroporos. Acima de 100ºC,
u Gráfico 2 inicia-se a perda de água capilar, dos
Evolução das temperaturas durante o ensaio poros mais finos, retida por adsorção.
O spalling pode ser explosivo, prin-
cipalmente nos concretos de maior re-
Sinos, chegou-se a uma temperatura que devem ter tela dupla segundo a sistência, que são mais compactos, difi-
de 96,22 ºC aos 120 min, bem abaixo ABNT NBR 16055: 2012 Parede de cultando a percolação de água. Para se
do limite de 140ºC, sem inflamação do concreto moldada no local para a evitar o spalling, recomenda-se que a
algodão colocado nas fissuras. construção de edificações – Requisi- umidade do concreto seja menor que 3%.
Veja na Tabela 2 e no Gráfico 3 tos e procedimentos, pode-se ado- Um interessante efeito colateral
a evolução dos fatos ocorridos e da tar o método tabular, com a tabela para este caso é a queima das fibras
temperatura. de espessuras e cobrimentos míni- têxteis colocadas para diminuir a retra-
mos da ABNT NBR15200 Projeto de ção. Com a queima, formam-se canalí-
4.3 Paredes com mais de 15 cm, estruturas de concreto em situação culos por onde o vapor de água esca-
com tela dupla nas duas faces de incêndio – Procedimento (Tabela pa sem provocar tensões na camada
3). Verificamos que em qualquer si- superficial da parede.
Para paredes com mais de 15 cm, tuação de incêndio em uma das fa-
ces, as paredes com mais de 15 cm 5. CONCLUSÃO
u Tabela 2 – Evolução dos fatos terão um TRRF de 120 min. O cui- Percebe-se que o sistema de pa-
ocorridos durante o ensaio dado a ser adotado é o aumento do redes de concreto moldada in loco é
cobrimento, passando para um valor muito eficiente para o desempenho
Parede 2 (14 cm) mínimo de c1 = 35 mm, conforme sob incêndio. Como é um material ex-
Tempo Descrição mostra a Tabela 3. tremamente estável e não combustível,
0:00 Início do ensaio
Foco de calor na parte central 120
13 min.
da amostra
Temperatura (ºC)

100
Amostra começa a liberar água
14 min.
da composição 80
Inicia-se um acréscimo de
60
26 min. calor no ponto onde aconteceu
a liberação de água
40
28 min. Formação da primeira fissura
20
Amostra continua a liberar
32 min. água da composição e gases 0
pela fissura formada 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100 105 110 115 120
56 min. Não há mais liberação de água Tempo (min.)
Realização de ensaio de
117 min.
choque mecânico para 120 min. u Gráfico 3
120 min. Término do ensaio Evolução das temperaturas durante o ensaio

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 33


o concreto proporciona alta segurança
em todos os aspectos considerados u Tabela 3 – Dimensões mínimas para pilares-paredes
nas diferentes normas brasileiras sobre
Combinações de bmin / C1
o assunto.
mfi = 0,35 mfi = 0,7
O uso de fibras têxteis tem um efei- TRRF
to colateral positivo na prevenção de min. Uma face Duas faces Uma face Duas faces
exposta expostas exposta expostas
spalling a altas temperaturas, uma vez
1 2 3 4
que sua queima forma canais de esca-
30 100/10 120/10 120/10 120/10
pe para água adsorvida no concreto.
Os ensaios classificam as paredes 60 110/10 120/10 130/10 140/10

de concreto, de 10 ou de 14 cm, com 90 120/20 140/10 140/25 170/25


TRRF de 120 min, adequadas para 120 140/25 160/25 160/35 220/35
edifícios residenciais com mais de Nota: mfi é a relação entre o esforço normal de cálculo na situação de incêndio e o esforço resistente normal de cálculo do pilar
em questão em situação de temperatura normal.
30 m de altura.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] BOLINA, F. L. ;PRAGER, G. L.; RODRIGUES, E.; TUTIKIAN, B. F. Avaliação da resistência ao fogo de paredes maciças de concreto armado. Ambiente Construido,
Porto Alegre, v.15, n.4, p. m291-305, out/dez 2015
[2] FURNAS, CENTRAIS ELÉTRICAS - Relatório DCT.C.15.003.2006-R0, Setembro/2006 – Sistemas construtivos em concreto moldado in loco e tilt-up – avaliação
de desempenho

COMENTÁRIOS E EXEMPLOS DE
APLICAÇÃO DA ABNT NBR 6118:2014
A publicação traz comentários e exemplos de aplicação da nova norma
brasileira para projetos de estruturas de concreto - ABNT NBR
6118:2014, objetivando esclarecer os conceitos e exigências normativas
e, assim, facilitar seu uso pelos escritórios de projeto.

Fruto do trabalho do Comitê Técnico CT 301, comitê formado por


especialistas do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON) e da
Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural (ABECE),
para normalizar o Concreto Estrutural, a obra é voltada para engenheiros
civis, arquitetos e tecnologistas.

DADOS TÉCNICOS
ISBN 9788598576244
Formato: 18,6 cm x 23,3 cm
Páginas: 484
AQUISIÇÃO:
Acabamento: Capa dura
www.ibracon.org.br
Ano da publicação: 2015
(Loja Virtual)

Patrocínio

34 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


u estruturas em detalhes

Verificação da segurança
de painéis tilt-up em
situação de incêndio
UIATAN AGUIAR NOGUEIRA – Engenheiro Civil
TIAGO SOUSA TAVARES – Engenheiro Civil
DANIEL DE LIMA ARAÚJO – Professor Associado
Escola de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Goiás (UFG)

1. INTRODUÇÃO 551 [5] e o Manual de Construção em -moldado cuja relação entre altura e

O
sistema construtivo Tilt-Up Tilt-Up da TCA [6]. espessura seja inferior a 32, valor que
consiste na utilização de O dimensionamento de painéis Tilt- normalmente é superado no sistema
painéis verticais de con- -Up em situação de incêndio encontra- Tilt-Up. Por essa razão, a norma ABNT
creto pré-moldados no local, aplica- -se ainda muito limitado devido à au- NBR 16475:2017 [9] não foi utilizada
dos conjuntamente como estrutura e sência de material bibliográfico e de neste artigo para efeito de comparação
vedação. Após adquirirem resistência modelagens matemáticas na área. Por com o modelo de paredes esbeltas.
suficiente, os painéis são içados por essa razão, este artigo busca mostrar Além disso, essa norma também não
um guindaste e conectados à fundação uma forma de verificação da capacidade apresenta modelos de dimensiona-
já realizada, conferindo ao método um resistente desses painéis em situação mento para paredes de concreto em
custo competitivo pela rapidez e pela de incêndio que possa ser aplicada na situação de incêndio.
mão de obra reduzida. prática de projetos. Para isso, são utili-
Entretanto, por se tratar de um mé- zadas recomendações de códigos inter- 2. MÉTODO DE DIMENSIONAMENTO
todo construtivo relativamente “recen- nacionais de projeto para avaliação da À TEMPERATURA AMBIENTE
te” no Brasil, as normatizações técni- capacidade resistente dos painéis Tilt- PARA PAINÉIS TILT-UP
cas brasileiras ainda não contemplam -Up a temperatura ambiente. Contudo, O método das paredes esbeltas
o dimensionamento de painéis Tilt-Up, como esses códigos não apresentam leva em conta os momentos de segun-
sobretudo quando submetidos a uma metodologia para avaliação da seguran- da ordem devido à deflexão do painel e
situação de incêndio, assunto que, por ça dos painéis em situação de incêndio, é recomendado pelos códigos de pro-
sua vez, também é recente no país. é sugerido o emprego do método das jeto ACI 551 [5] e Manual de Constru-
Sendo esses elementos estruturais isotermas de 500 C apresentado no
o
ção em Tilt-Up [6]. É utilizado para que
de concreto, sabe-se que sua utilização Eurocode 2 [7] para permitir a verifica- o dimensionamento atenda, sobretudo,
deve respeitar alguns limites impostos ção a incêndio de painéis Tilt-Up. aos estados limites de serviço. Contu-
pelas normas técnicas de estrutu- No Brasil, o projeto de paredes de do, neste artigo não serão apresenta-
ras de concreto, como a ABNT NBR concreto moldado no local é regido das as verificações de serviço, uma vez
6118:2014[1], a ABNT NBR 9062:2017 pela norma ABNT NBR 16055:2012 que a situação de incêndio se enquadra
[2] e a ABNT NBR 15200:2012 [3], [8], enquanto o projeto de paredes de como estado limite último excepcional.
mas para o correto dimensionamento à concreto pré-moldado é regido pela re- Para que este método seja utiliza-
temperatura ambiente, recomenda-se cente norma ABNT NBR 16475:2017 do, as seguintes condições precisam
buscar recomendações de códigos in- [9]. Contudo, esta norma é aplicada ser obedecidas segundo o Manual de
ternacionais, como o ACI 318 [4], o ACI apenas para paredes de concreto pré- Construção em Tilt-Up da TCA [6]:

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 35


u O segmento de parede tem seu para um metro de comprimento de pa- e = distância entre o centro do painel e
maior vão na vertical e está apoiado rede [m²]; sua face comprimida [m].
lateralmente, na base e no topo; Pd’ = força vertical de cálculo aplicada à A deflexão do painel à meia altura,
u As tensões geradas pela flexão con- meia altura do painel para um metro de devido aos efeitos de segunda ordem,
trolam o dimensionamento; comprimento de parede [N]; pode ser estimada pela Equação 7, que
u A tensão axial de serviço no ponto fy = tensão de escoamento do aço [N/m²]. leva em conta o momento de inércia da
de máximo momento não pode ex- A altura da linha neutra da seção seção fissurada do concreto.
ceder em 0,04 vezes a resistência de concreto plastificada a, é dada pela
característica do concreto (fck); Equação 3. 7
u O momento de fissuração deve ser
menor que o momento resistente de 3 Onde:
cálculo (Mn) minorado de um coefi- Ec = módulo de elasticidade do concre-
ciente Φ, calculado pela Equação 9; Onde: to [N/m²];
u A deflexão de serviço, ∆s, não deve fck = resistência característica à com- Icr = momento de inércia da seção fissu-
exceder H/150, sendo H a altura li- pressão do concreto [N/m²]; rada do painel de concreto [m4], dado
vre do painel; b = largura do segmento de parede em pela Equação 8.
u Admite-se que as cargas concen- questão, considerado sempre para a 8
tradas se espalham verticalmente faixa de um metro.
em uma razão de 2:1 entre vertical O momento resistente, Mn, é dado Onde:
e horizontal. pela Equação 4. n = relação entre o módulo de elastici-
O dimensionamento segundo este dade do aço e do concreto.
4
método começa com o cálculo de uma c=
armadura vertical estimada, As, posi- Onde: O momento último de cálculo, Mu,
cionada no centro da seção do painel, d = distância do centro da armadura à deve ser menor que o momento re-
dada pela Equação 1: face comprimida [m]. sistente, Mn, minorado de um fator Φ,
O momento último de cálculo, Mu, é dado pela Equação 9.
1 dado pela soma do momento último de
primeira ordem com o momento de se- 9
Onde: gunda ordem, devido ao desvio do eixo
As = armadura vertical estimada [m²/m] vertical do painel, conforme Equação 5.
Wu = força lateral aplicada sobre a su- 3. MÉTODO DAS ISOTERMAS DE
5
perfície do painel [N/m²]; 500 OC PARA DIMENSIONAMENTO
H = altura livre do painel, em metros; Onde: EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO
t = espessura do painel, em metros. M1u = momento último de primeira or- A norma ABNT NBR 16475:2017
Posteriormente, mantendo-se a al- dem [Nm]; [9] para o dimensionamento de paredes
tura do painel fixa, calcula-se o momen- ∆ = deflexão do painel à meia altura de- de concreto pré-moldado não apresen-
to último resistente da parede para um vido aos efeitos de segunda ordem [m]. ta uma metodologia para projeto dos
metro linear de comprimento de painel. O momento último de primeira or- painéis em situação de incêndio. Já, a
Primeiro, calcula-se a área efetiva de dem, por sua vez, é estimado por meio norma ABNT NBR 9062:2017 [2], no seu
armadura que irá resistir às tensões de da Equação 6. item 5.3.1.5, apresenta um método para
tração, Ase, dada pela Equação 2. projeto de painéis maciços de concreto
6 pré-moldado em situação de incêndio,
2 que se baseia, unicamente, na especifi-
Onde: cação da espessura mínima dos painéis
Onde: Pu = carregamento vertical aplicado no em função do Tempo Requerido de Re-
Ase = área efetiva de armadura vertical painel [N/m]; sistência ao Fogo (TRRF) da edificação.

36 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


NBR 9062:2017 [2], para concretos
u Tabela 1 – Espessura mínima da seção transversal para o uso do método das com agregados silicosos. Nota-se
isotermas de 500 ºC segundo o Eurocode 2 [7] e valores especificados pela
que as espessuras mínimas da NBR
norma ABNT NBR 9062:2017 [2] para concretos com agregados silicosos
9062:2017 são menores que os valores
especificados pelo Eurocode 2.
TRRF (min) Eurocode 2 (mm) NBR 9062:2017 (mm)
O método das isotermas de 500 oC
60 90 90
consiste na redução da seção trans-
90 120 110
versal do concreto, na qual a região da
120 160 130
seção com temperaturas superiores a
180 200 160
500 oC é desprezada, numa tentativa
240 280 180
de simular a perda de resistência do
concreto quando submetido a elevadas
Por se tratar de estruturas de con- Dessa forma, para a verificação do temperaturas. Para a seção residual de
creto, o projeto dos painéis Tilt-Up de- painel Tilt-Up em situação de incên- concreto, interna à isoterma de 500 oC,
veria seguir o estabelecido na norma dio, adotou-se neste artigo o método considera-se que a resistência à com-
ABNT NBR 15200:2012 [3]. Contudo, das isotermas de 500 C descrito pelo
o pressão do concreto é a mesma do
essa norma apresenta métodos tabula- Eurocode 2 [7]. Para que este méto- concreto à temperatura ambiente.
res de verificação à situação de incên- do seja aplicado, a seção transversal Por outro lado, caso as armaduras
dio apenas para vigas e pilares, apesar do elemento em situação de incêndio fiquem fora da seção transversal resi-
de o Eurocode 2 [7] apresentar um deve possuir a espessura mínima indi- dual, devem-se aplicar os coeficientes
método tabular específico que avalia o cada na Tabela 1. Nessa Tabela tam- redutores da resistência do aço para
tempo de resistência ao fogo de pare- bém é mostrada a espessura mínima a temperatura em questão, de forma
des de concreto baseado na espessura para painéis maciços em função do a minorar a resistência do aço para a
da parede. TRRF especificado pela norma ABNT situação de incêndio. Essa minoração

u Tabela 2 – Valores dos coeficientes de redutores ks,θ, kEs,θ e kp,θ para aços de armadura passiva em função da temperatura
segundo a ABNT NBR 15200: 2012 [3] e o Eurocode 2 [7]

ks,θ = fyk,θ / fyk kEs,θ = Es,θ / Es kp,θ = fpk,θ / fyk


Temperatura
Tração Compressão
do Aço (ºC) CA-50 CA-60 CA-50 CA-60
CA-50 CA-60 CA-50 ou CA-60
1 2 3 4 5 6 – –
20 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00
100 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00 0,96
200 1,00 1,00 0,89 0,90 0,87 0,81 0,92
300 1,00 1,00 0,78 0,80 0,72 0,61 0,81
400 1,00 0,94 0,67 0,70 0,56 0,42 0,63
500 0,78 0,67 0,56 0,60 0,40 0,36 0,44
600 0,47 0,40 0,33 0,31 0,24 0,18 0,26
700 0,23 0,12 0,10 0,13 0,08 0,07 0,08
800 0,11 0,11 0,08 0,09 0,06 0,05 0,06
900 0,06 0,08 0,06 0,07 0,05 0,04 0,05
1000 0,04 0,05 0,04 0,04 0,03 0,02 0,04
1100 0,02 0,03 0,02 0,02 0,02 0,01 0,02
1200 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 37


é feita de acordo com a Equação 10.
u Tabela 3 – Dimensões geométricas do galpão
10
Área de Área de aberturas
fyk,θ = resistência característica do aço à Largura Comprimento Altura
paredes verticais
tração à temperatura elevada θ [MPa]; 73,50 m 72,70 m 9,70 m 2736,28 m² 171,44 m²
ks,θ = coeficiente de redução da resis-
tência à tração do aço em função da
de Goiás. A edificação é composta por NBR 6118:2014 [1].
temperatura θ, segundo a Tabela 2.
58 painéis de concreto armado execu- Os valores de carregamento adota-
[adimensional];
tados pelo processo de Tilt-Up, com dos para o dimensionamento do painel
fyk = resistência característica do aço à
espessura uniforme, mas com altura e Tilt-Up sem aberturas do galpão indus-
tração em temperatura ambiente [MPa].
largura variáveis. trial em questão constam na Tabela 5.
Caso a armadura fique interna à
Não há aberturas para ventilação O valor da força vertical de cálculo apli-
seção, com temperaturas inferiores a
no piso nem no teto. Entretanto, as cada à meia altura do painel equivale a
500 oC, não se considera sua perda
dimensões das aberturas verticais nas soma do peso próprio do painel à meia
de resistência.
paredes, isto é, portas e janelas, variam altura com o carregamento do telhado
entre os painéis. As dimensões do gal- aplicado em cada painel. Maiores deta-
4. DESCRIÇÃO DO CASO ESTUDADO
pão usado no dimensionamento são lhes sobre o cálculo do carregamento
Esse artigo adota como caso de
resumidas na Tabela 3. podem ser obtidos na referência [11].
estudo um galpão industrial hipotético,
Para a verificação, foi considerado
utilizado como depósito para equipa-
um painel típico da edificação, sem 5. VERIFICAÇÃO DO PAINEL TILT-UP
mentos eletrodomésticos e eletroele-
aberturas. Os painéis são considera- Neste item é apresentado o di-
trônicos, situado no interior do estado
dos biapoiados, pois, além do apoio na mensionamento do painel Tilt-Up pelo
base, eles são contraventados na ex- método das paredes esbeltas, com
tremidade superior pelas tesouras nas posterior verificação de resistência à
quais a cobertura se apoia. exposição a um incêndio padrão em
O pé-direito do galpão, e conse- uma de suas faces.
quentemente a altura dos painéis-tipo,
apresenta duas dimensões diferentes. 5.1 Dimensionamento à
Sendo assim, optou-se por usar uma temperatura ambiente
altura média para definir o painel-tipo
sem aberturas. Todos os painéis apre- Adotou-se um painel com resistên-
sentam espessura constante e igual a cia característica à compressão (fck) de
15 cm. As dimensões do painel usado 25 MPa e reforçado em aço CA-50.
no dimensionamento são ilustradas na Suas propriedades mecânicas estão
Figura 1 e resumidas na Tabela 4. mostradas na Tabela 6 para valores se-
O carregamento de vento nas pa- gundo o SI.
redes foi calculado de acordo com A combinação limite última para os
as recomendações da ABNT NBR carregamentos segundo o ACI 318 [4] é
6123:1988 [10], enquanto foi adotado
para o carregamento permanente e u Tabela 4 – Dimensões geométricas
acidental da cobertura os valores indi- do painel médio sem aberturas
cados no Manual de Construção em
Tilt-Up da TCA [6]. Para o peso próprio Altura livre Comprimento Espessura
u Figura 1
(H) (L) (t)
Painel Tipo sem aberturas do painel, utilizou-se o valor padrão do
(dimensões em m) 9,70 m 4,85 m 0,15 m
peso específico estabelecido na ABNT

38 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


ra (P’d = 32,508 kN) pela deflexão do
u Tabela 5 – Carregamento utilizado para o dimensionamento do painel painel, também à meia altura, avalia-
à temperatura ambiente
da pela Eq. (7), e que neste caso vale
∆= 39,573 cm. Logo, o momento fletor
Tipo de carregamento Por painel
solicitante, de cálculo, à meia altura do
Permanente (vertical) – D 0,401 kN
painel vale 4,243 kNm.
Acidental (vertical) – L 0,697 kN
Como o momento resistente é maior
Vento (horizontal) – W 20,370 kN
que o momento solicitante, a armadura
Peso próprio à meia altura 92,223 kN
estimada é suficiente para o dimensio-
Carregamento vertical do telhado (Pu) 65,436 kN
namento do painel à temperatura am-
Força vertical de cálculo (P’d) 157,664 kN
biente. Todos os valores calculados são
apresentados na Tabela 7.
dada por U = 0,75(1,4D + 1,7L + 1,7W), A altura da linha neutra da seção
em que U é o carregamento último de de concreto plastificada, a, é dada pela 5.2 Verificação do painel
cálculo, D o carregamento permanente, Eq. (3). Por sua vez, o momento de em situação de incêndio
L o carregamento acidental e W o car- inércia da seção fissurada do painel de
regamento de vento. concreto é calculado pela Eq. (7), sen- Como mencionado, não há critérios
O Comitê 551 do ACI [4] recomen- do igual a 464,098 cm4. de projeto definidos em norma nacional
da a utilização de uma excentricidade A resistência à flexão do painel, na se- para a verificação do painel Tilt-Up em
mínima que varia de 0,333 a 0,5 vezes ção à meia altura, pode ser estimada por situação de incêndio. Dessa forma, foi
o valor da espessura do painel. Assim, meio da Eq. (4). Para isso, é mostrado na adotado o método das isotermas de
a favor da segurança, adotou-se uma Tabela 4 as propriedades do painel em es- 500 oC recomendado pelo Eurocode
excentricidade igual à metade da es- tudo, das quais se obtém um momento 2 [7] para verificação da segurança do
pessura do painel, isto é, 7,5 cm. resistente de 5,249 kNm. Ao multiplicá-lo painel em situação de incêndio.
A área de aço necessária para o pai- pelo fator de minoração (Φ), obtido pela Inicialmente, é necessário determi-
nel pode ser estimada pela Eq. (1). Com Eq. (9), tem-se o momento resistente de nar o tempo requerido de resistência
os valores informados nas Tabelas 4 e 5, cálculo minorado (ΦMn) igual a 4,635 kNm. ao fogo dos elementos estruturais, o
obtém-se uma área de 3,259 cm²/m a ser O momento solicitante de cálculo, qual pode ser obtido por meio de mé-
colocada no meio do painel. Portanto, ado- Mu, por sua vez, é estimado por meio todos tabulares. As tabelas fornecidas
ta-se o uso de barras de aço de 12,7 mm da Eq. (5). Neste caso, o momento de pelo Corpo de Bombeiros Militares do
de diâmetro com espaçamento de 30 cm, primeira ordem, M1u, é avaliado pela Estado de Goiás [12] e a ABNT NBR
resultando em uma área de aço de 4,233 Eq.(6), sendo Pu igual a 13,492 kN/m e 14432:2000 [13] apresentam valores
cm²/m. A área efetiva de armadura efetiva M1u igual a 0,322 kNm. semelhantes para o Tempo Requerido
(Ase), por sua vez, é obtida pelo emprego Já o momento de segunda ordem de Resistência ao Fogo de diversas
dos valores das Tabelas 5 e 6 na Eq. (2), é obtido pela multiplicação do carre- edificações. No caso de depósito de
sendo equivalente a 1,490 cm². gamento vertical no painel à meia altu- aparelhos eletroeletrônicos, o Anexo B
da SSPGO NT 14:2014 [14] indica uma
u Tabela 6 – Propriedades mecânicas do concreto armado e do aço CA-50 carga de incêndio de 1800 MJ/m².
utilizados no painel Utilizando esse valor e consideran-
do o galpão como um depósito em que
Resistência à Resistência à Módulo de a altura da edificação está no interva-
Material
compressão (MPa) tração* (MPa ) elasticidade **
lo entre 6 e 12 metros, a Tabela A da
Concreto 25 3,11 28.000
SSPGO NT 08:2014 [15] e a Tabela A.1
Aço CA-50 500 500 210.000
da ABNT NBR 14432:2000 [13] esta-
*O valor da resistência à tração do concreto foi obtido pela fórmula: , descrita no ACI 318 [4]. ** valor obtido da
belecem um Tempo Requerido de Re-
NBR 6118:2017 [1] com αe =1 para o concreto.
sistência ao Fogo de 60 minutos.

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 39


Para a utilização do método das
isotermas de 500 o
C, é necessário u Tabela 7 – Dimensionamento pelo método das paredes esbeltas do painel com
armadura de 12,7 mm à temperatura ambiente
conhecer o perfil da temperatura ao
longo da espessura do painel quando
Resultados à temperatura ambiente Unidade S.I.
exposto ao incêndio. Esse perfil, contu-
Área de armadura estimada (As) 3,259 cm²/m
do, não é fornecido no Eurocode 2 [7].
Área de armadura com barras de 12,7 mm 4,233 cm²/m
Sendo assim, foi utilizado o trabalho de
Fator de minoração para o momento resistente Φ 0,883
Lim [16], que realizou uma modelagem
Área efetiva de armadura vertical (Ase) 1,490 cm²
computacional para obter o perfil de
Linha neutra da seção plastificada (a) 1,151 cm
temperatura de uma parede de um gal-
c 1,354 cm
pão com 15 cm de espessura quando
n 7,50
exposta ao incêndio padrão definido na
Momento de inércia da seção fissurada Icr 464,098 cm4
ISO 834:1990 [17] em uma de suas fa-
Momento resistente (Mn) 5,249 kNm
ces. Este perfil é mostrado na Figura 2.
Momento resistente de cálculo minorado ΦMn 4,635 kNm
O mesmo pode ser utilizado neste caso
Momento último de primeira ordem (M1u) 0,322 kNm
devido ao fato da curva de incêndio pa-
Deflexão do painel (∆) 39,573 cm
drão da norma ABNT NBR 15200:2012
Momento último de cálculo (Mu) 4,243 kNm
[3] ser a mesma da ISO 834:1990 [17].
Ressalta-se que este perfil de dis-
tribuição de temperatura ao longo da concreto ocorre na situação mais crítica e a distância entre o centro da arma-
espessura da parede não seria ideal de resistência, isto é, na face comprimi- dura até a fibra mais comprimida é de
para o caso de galpões industriais, uma da do painel, diminuindo a resistência à d = 7,5 – 2 = 5,5 cm.
vez que a curva de incêndio mais ade- compressão da seção transversal. Des- Para o cálculo da solicitação em situ-
quada para esses casos seria a de um ta forma, a seção residual do concre- ação excepcional de incêndio, nem o ACI
incêndio não compartimentado. Contu- to fica com uma espessura de 13 cm 318 [4] nem o ACI 551 [5] fornecem uma
do, devido à ausência de uma curva de
incêndio não compartimentado na nor-
ma ABNT NBR 15200:2012 [3], optou-
-se por realizar a verificação com esta
curva por ser a utilizada em projetos de
estruturas de concreto.
Pela Figura 2, conclui-se que a iso-
terma de 500oC está localizada a, aproxi-
madamente, 20 mm da face exposta ao
incêndio para um tempo de exposição
de 60 min. Isso implica numa redução
de 20 mm da espessura da seção, uma
vez que as temperaturas para distâncias
menores que 20 mm são maiores que
500oC. Como a armadura longitudinal do
painel está localizada no centro da seção
transversal, a uma distância de 75 mm da
face exposta, não há a necessidade de u Figura 2
minoração da resistência à tração do aço. Distribuição de temperatura em uma parede de concreto de agregado
silicoso quando exposta ao incêndio padrão da ISO 834:1990 em uma
Para o cálculo do momento resis-
de suas faces [16]
tente, considerou-se que a perda de

40 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


combinação de cálculo específica. Desta Sendo FQk as ações decorrentes calculados para a situação de incêndio
forma, adotou-se a combinação última da sobrecarga na edificação. Assim, são apresentados na Tabela 9.
excepcional para situação de incêndio no caso de um galpão industrial en- Observa-se da Tabela 9 que, ao
fornecida pela ABNT NBR 8681:2003 quadrado como depósito, adota-se se utilizar a mesma taxa de armadura
[18], conforme a Equação 11. 0,7 ψ2 = 0,42, conforme Tabela 6 da determinada para o painel em tempera-
ABNT NBR 8681:2003 [18]. tura ambiente, isto é, 12,7 mm a cada
A introdução de coeficientes de pon- 30 cm, chega-se que Mu > ΦMn, ou
11 deração diferentes na ação excepcional seja, o painel dimensionado à tempera-
de incêndio altera o peso próprio do pai- tura ambiente não resiste à exposição
nel, o carregamento do telhado (Pu) e, do incêndio padrão com duração de
Onde: consequentemente, a força vertical (P’d) 60 min em uma de suas faces. Sendo
Fd,fi – valor de cálculo da ação na com- de cálculo mostrada na Tabela 5 e utili- assim, foi escolhida uma nova taxa de
binação excepcional; zada no dimensionamento à temperatu- armadura para o painel, constituída por
FGi,k– valor característico da ação per- ra ambiente. Assim, os novos valores do barras de 16 mm a cada 23 cm, posi-
manente i; carregamento na situação de incêndio cionadas no centro do painel, resultan-
FQ,fi– valor representativo da ação térmi- são apresentados na Tabela 8. do em As = 8,678 cm²/m.
ca (ação excepcional); Adotou-se para o coeficiente n Por não estarem relacionados com a
γg,fi – coeficiente de ponderação das usado na Eq. (8) o mesmo valor mos- área efetiva de armadura vertical, o fator
ações permanentes em incêndio (com- trado na Tabela 7 para a temperatura de minoração para o momento resisten-
binação excepcional) conforme a Tabe- ambiente, isto é, admitiu-se que não te (Φ) e o momento último de primeira
la 1 da ABNT NBR 8681:2003 [18] ; houve alteração na relação entre os ordem, M1u, não são alterados com o
γq,fi – coeficiente de ponderação das módulos de elasticidade do aço e do aumento da taxa de armadura no painel.
ações variáveis em incêndio (combina- concreto. Isso é razoável neste caso, Assim, recalculando o momento resis-
ção excepcional) conforme a Tabela 1 tendo em vista que o aço apresentou tente para essa nova taxa de armadura,
da ABNT NBR 8681:2003 [18]; pouco aumento de temperatura e que constata-se que o painel resiste à situa-
ψ2 – fator de combinação utilizado para boa parte da seção transversal do pai- ção de incêndio. Entretanto, houve um
determinação dos valores reduzidos nel apresentou temperatura inferior a aumento percentual de armadura em
das ações variáveis conforme a Tabe- 500 C. Utilizou-se, também, o mesmo
o
relação ao dimensionamento em tem-
la 6 da ABNT NBR 8681:2003 [18]. A valor da área de aço estimada (As), peratura ambiente de 105%.
norma ABNT NBR 15200:2012 [3] re- mostrada na Tabela 7, para o projeto Analisando-se o mesmo painel
comenda que na situação de incêndio em temperatura ambiente. quando exposto em uma de suas fa-
o valor de ψ2 seja reduzido para 0,7 ψ2. Feitos esses ajustes no método, se- ces a um incêndio padrão com dura-
No caso de edificações em situação gue-se o mesmo roteiro de cálculo do ção de 120 min, conclui-se da Figu-
de incêndio e admitindo-se γg,fi = 1,2, item 5.1, ou seja, do dimensionamento ra 2 que há uma redução de 40 mm
γq,fi = 1,0 e ψ2,vento = 0, a Equação 11 à temperatura ambiente, porém com os da espessura do painel. Portanto, a
pode ser simplificada pela Equação 12. dados da Tabela 5 substituídos pelos espessura do painel é reduzida para
valores da Tabela 8. Todos os valores 11 cm e a distância entre o centro da
12
armadura até a fibra mais comprimida
é de 3,5 cm. Com essa redução de
u Tabela 8 – Carregamento utilizado para o dimensionamento do painel em
seção, a armadura longitudinal ainda
um incêndio com TRRF de 60 minutos pelo método das paredes esbeltas
não foi afetada, de tal forma que ain-
da não há minoração da resistência do
Carregamento Por painel
aço. Aplicando-se o mesmo roteiro de
Peso próprio à meia altura (vertical) 105,399 kN
verificação ao painel com uma barra
Carregamento vertical do telhado (Pu) 38,662 kN
de 16 mm a cada 23 cm, no centro
Força vertical de cálculo (P’d) 144,061 kN
do painel, constata-se que ele não re-

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 41


u Tabela 9 – Dimensionamento pelo método das paredes esbeltas de painel com armaduras de 12,7 mm e 16 mm exposto
a um incêndio padrão por 60 minutos

Resultados para um incêndio de 60 minutos Armadura de 12,7 mm Armadura de 16 mm


Fator de minoração para o momento resistente Φ 0,882 0,882
Área efetiva de armadura vertical (Ase) 1,471 cm² 2,826 cm²
Linha neutra da seção plastificada (a) 1,135 cm 2,182 cm
c 1,336 cm 2,568 cm
Momento de inércia da seção fissurada Icr 226,846 cm4 369,614 cm4
Momento resistente (Mn) 3,716 kNm 6,401 kNm
Momento resistente de cálculo minorado ΦMn 3,277 kNm 5,646 kNm
Momento último de primeira ordem (M1u) 0,093 kNm 0,093 kNm
Deflexão do painel (∆) 57,33 cm 60,630 cm
Momento último de cálculo (Mu) 5,283 kNm 5,581 kNm

sistiria a um incêndio padrão com du- go, o painel dimensionado à temperatura Vale ressaltar que o perfil de tempe-
ração de 120 min (Mu = 5,891 kNm > ambiente pelo método das paredes es- ratura no painel Tilt-Up quando subme-
ΦMn = 3,141 kNm). beltas, quando exposto a um incêndio tido a incêndio em uma das faces, é um
padrão com duração de 60 minutos, não dado necessário para aplicação do mé-
6. CONCLUSÃO atendeu ao requisito de segurança em si- todo das isotermas de 500oC propos-
As normas brasileiras ainda precisam tuação de incêndio. O painel teve que ser to pelo Eurocode 2 [7]. Contudo, esse
preencher a lacuna existente referente ao redimensionado, o que gerou um aumen- perfil nem sempre está disponível. Por
dimensionamento de paredes de concre- to de 105% na armadura de flexão do isso, foi utilizado o perfil de temperatu-
to pré-moldado com grandes índices de mesmo para que o critério de segurança ra previsto no trabalho de Lim [16] para
esbeltez, como o caso dos painéis Tilt- fosse atendido. Quando o tempo de in- um incêndio padrão compartimentado.
-Up. O projeto segundo a norma ABNT cêndio é aumentado para 120 minutos, Isso pode tornar a verificação da segu-
NBR 16475:2017 [9] não pode ser apli- esse aumento de armadura de flexão não rança desses painéis demasiadamente
cado a esse sistema construtivo, tendo foi suficiente para garantir a segurança do conservadora quando empregados em
em vista que ele vale para paredes com painel em situação de incêndio. galpões industriais, uma vez que a cur-
esbeltez menor que 32. Para o caso es- Segundo o método tabular da nor- va de incêndio mais apropriada seria a
tudado neste artigo, por exemplo, o pai- ma ABNT NBR 9062, para que um pai- de um incêndio não compartimentado,
nel possuía uma esbeltez igual a 65. Nesta nel maciço de concreto atendesse a em que as temperaturas dos gases e,
situação, recomenda-se a utilização de um TRRF de 60 minutos, ele deveria ter consequentemente, a dos elementos
códigos de projeto específicos, como o uma espessura mínima de 90 mm. Por estruturais, não são tão altas quanto
Manual de Construção em Tilt-Up da TCA outro lado, um painel com 150 mm de a do incêndio padrão da norma ABNT
[6] e o ACI 551 [5]. Já, para a verificação espessura deveria atender a um TRRF NBR 15200:2012 [3].
da segurança dos painéis em situação de de, pelo menos, 120 minutos. Os resul-
incêndio, a aplicação desses métodos em tados do exemplo apresentado mos- 7. AGRADECIMENTOS
conjunto com o método das isotermas tram que essas espessuras mínimas Ao Engenheiro Civil João Alberto de
de 500oC, como proposto neste artigo, são pequenas para o caso de painéis Abreu Vendramini pela disponibilização
mostra-se como uma forma racional de se Tilt-Up, mostrando a necessidade de do projeto estrutural de um galpão in-
avaliar a segurança desses painéis, tendo melhorar as recomendações de proje- dustrial construído com a técnica Tilt-
em vista a lacuna ainda existente nas nor- to dessa norma para que ela possa ser -Up e que serviu de base para a propo-
mas para essa verificação. aplicada ao sistema construtivo com sição do caso de estudo apresentado
No exemplo apresentado neste arti- paredes de concreto esbeltas. neste artigo.

42 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de Estruturas de Concreto: Procedimento. – NBR 6118, Rio de Janeiro, 2014.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto e Execução de Estruturas de Concreto Pré–Moldado. – NBR 9062, Rio de Janeiro, 2017.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio. – NBR 15200, Rio de Janeiro, 2012.
[4] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. Building Code Requirements for Structural Concrete (ACI 318 R–14). American Concrete Institute. Farmington Hills. 2014.
[5] ACI Committee 551. Tilt–Up Concrete Structures (ACI 551 R–92). American Concrete Institute. Farmington Hills, 2003.
[6] TILT–UP CONCRETE ASSOCIATION. The Tilt–Up construction and Engineering manual: A comprehensive reference manual for Tilt–Up contractors and engineers. 6th Edition. 2004.
[7] EUROPEAN COMMITTEE FOR STANDARDIZATION. EN 1992–1–2: Eurocode 2: design of concrete structures – part 1.2: general rules – structural fire design.
Brusels: CEN, 2004.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de Estruturas de Concreto em Situação de Incêndio. – NBR 16055, Rio de Janeiro, 2012.
[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Painéis de parede de concreto pré–moldado – Requisitos e procedimentos. – NBR 16475, Rio de Janeiro, 2017.
[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Forças Devido ao Vento em Edificações. – NBR 6123, Rio de Janeiro, 1998.
[11] TAVARES, T. S.; NOGUEIRA, U.A.. Análise de painéis de concreto armado em situação de incêndio. 2016. 147p. Trabalho de conclusão de curso. Escola de Engenharia Civil
e Ambiental, Universidade Federal de Goiás, Goiânia. 2016.
[12] GOIÁS. Lei Estadual n.° 15802, de 11 de setembro de 2006. Institui o Código Estadual de Segurança contra Incêndio e Pânico e das outras providências. Diário Oficial do
Estado de Goiás, Goiás, 2006.
[13] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Exigências de resistência ao fogo de elementos construtivos de edificações – Procedimento – NBR 14432, Rio de
Janeiro, 2000.
[14] GOIÁS. Secretaria de Segurança Pública. Copo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás. Instrução Técnica n.° 14: Carga de incêndio nas edificações e áreas de risco. Goiás, 2014.
[15] GOIÁS. Secretaria de Segurança Pública. Copo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás. Instrução Técnica n.° 8: Resistência ao fogo dos elementos de construção.
Goiás, 2014.
[16] LIM, LINUS C. S. Stability of precast concrete tilt panels in fire. 2000. Fire Engineering Research Report No. 00/8. School Of Engineering – University of Canterbury.
Christchurch, New Zealand, 2000.
[17] INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (ISO). Fire–Resistance Tests – Elements of Building Construction – Part 1.1: General Requirements for Fire
Resistance Testing. ISO 834. Geneva: ISO/TC, 1990. [Revision of first edition (ISO 834:1975)]
[18] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Ações e segurança nas estruturas – procedimento. NBR 8681, Rio de Janeiro, 2003.

DURABILIDADE
DO CONCRETO
à Editores Jean-Pierre Ollivier e Angélique Vichot

à Editora francesa Presses de l'École Nationale des Ponts


et Chaussées – França
à Coordenadores da Oswaldo Cascudo e Helena Carasek (UFG)
edição em português

à Editora brasileira IBRACON

Esforço conjunto de 30 autores franceses, coordenados pelos DADOS TÉCNICOS


professores Jean-Pierre Ollivier e Angélique Vichot, o livro
ISBN: 978-85-98576-22-0
"Durabilidade do Concreto: bases científicas para a formulação de
Edição: 1ª edição
concretos duráveis de acordo com o ambiente" condensa um vasto
Formato: 18,6 x 23,3cm
conteúdo que reúne, de forma atualizada, o conhecimento e a
Páginas: 615
experiência de parte importante de membros da comunidade científica
Acabamento: Capa dura
europeia que trabalha com o tema da durabilidade do concreto.
Ano da publicação: 2014
A edição brasileira da obra foi enriquecida com o trabalho de
tradução para a língua portuguesa e sua adaptação à realidade
técnica e profissional nacional.
à Informações: www.ibracon.org.br

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CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 43


u inspeção
encontrose emanutenção
notícias | CURSOS

Estudo da microestrutura
do concreto em situação de
incêndio: um termômetro
da temperatura alcançada
ARNALDO FORTI BATTAGIN
ANA LÍVIA ZEITUNE DE P. SILVEIRA
Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)

1. INTRODUÇÃO A avaliação do concreto danificado indicar a estimativa da temperatura

E
m situação de incêndio, a pelo fogo geralmente começa com ins- máxima atingida pelo concreto na face
natureza não combustível e peção visual de mudanças de cor, pre- exposta ao fogo, bem como a profun-
não tóxica do concreto, bem sença de fissuras, spalling, etc., mas didade da degradação alcançada. O
como sua baixa condutividade térmica, raramente se recorre a ensaios de la- estudo da microestrutura reveste-se
colocam-no como vantajoso em relação boratório, além da determinação da re- de importância, pois em algumas si-
à maioria dos materiais de construção, sistência à compressão residual a partir tuações uma estrutura de concreto
funcionando até certo ponto como uma de testemunhos extraídos da estrutura pode ter sido consideravelmente afe-
barreira que previne a propagação do afetada e outros poucos procedimen- tada devido ao incêndio, mesmo que
calor e do próprio fogo. Nessas condi- tos. Entretanto, o estudo da microes- não haja danos visíveis durante uma
ções, as estruturas de concreto resistem trutura pode constituir ferramenta de inspeção de campo.
por mais tempo durante um incêndio grande importância para subsidiar as
descontrolado, fato que tem impacto medidas de recuperação. 2. OS DANOS CAUSADOS PELO
positivo no salvamento de vidas. As mudanças nas propriedades es- INCÊNDIO NA MICROESTRUTURA
Entretanto, quando o concreto é truturais do concreto não se revertem, DO CONCRETO
submetido a altas temperaturas por pois as transformações nas proprieda- A reação dos compostos anidros do
longo tempo, pode haver uma deterio- des físicas e químicas da pasta de ci- cimento com a água, como os silicatos
ração em suas propriedades, como de- mento e dos agregados causadas pe- e ferroaluminatos cálcicos, conduz à
créscimo da resistência à compressão, las altas temperaturas são irreversíveis. formação da pasta endurecida, forma-
decréscimo do módulo de deformação, Assim, tais mudanças podem ser usa- da pelos silicatos cálcicos hidratados
fissuração e perda da aderência entre das como indicadores de temperatu- (C-S-H), aluminatos de cálcio hidrata-
a pasta de cimento e os agregados. ras máximas de exposição, com base dos, hidróxido de cálcio e sulfoalumi-
Nessas condições, paradoxalmente, no exame pós-fogo da microestrutura natos de cálcio. Num estágio posterior,
a baixa condutividade térmica gera do concreto. Neste artigo apresenta- há formação de carbonato de cálcio,
gradientes de temperatura entre a su- -se a metodologia adotada nos labora- resultante dos fenômenos de carbo-
perfície exposta ao fogo e o interior do tórios da Associação Brasileira de Ci- natação da pasta. Esses produtos são
elemento estrutural, que pode resultar mento Portland (ABCP) para avaliação estáveis em determinada faixa de tem-
em lascamento superficial também co- dos danos causados na microestrutu- peratura, o que faz com que o aumento
nhecido por “spalling”. ra do concreto como ferramenta para desta, acima de 100o C, pode resultar

44 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


na decomposição da pasta, com perda pois ocorre o fenômeno de transforma- quência, há formação de wollastonita
das propriedades ligantes. ção alotrópica do quartzo α em quart- (silicato de cálcio), a partir do C-S-H
Aliado a esse fato, as pressões origi- zo β, que embora reversível, leva a um original, e de anidrita (sulfato de cálcio
nadas pela formação de vapor de água aumento de volume de 0,8%, com forte anidro), a partir da etringita original. Pela
nos poros e as tensões originadas pelos repercussão nas propriedades físicas perda das propriedades hidráulicas,
gradientes de temperatura, dependentes do agregado. Por volta de 800 C, é que
0
ocorrem esfarelamento e desagregação
das taxas de aquecimento do incêndio, se inicia a descarbonatação dos agre- total do concreto do elemento estrutural.
levam à deterioração do concreto, mani- gados calcários, explicando o melhor
festada por desagregação ou esfarela- comportamento ao fogo dos concretos 3. OS MÉTODOS ANALÍTICOS DE
mentos da sua superfície, com despren- com esse tipo litológico de agregado em ESTUDO DA MICROESTRUTURA
dimento de camadas superficiais pouco relação aos agregados de composição
espessas, mas de longa extensão, co- granítica (NEVILLE, 1997). Uma forte 3.1 Análises Termodiferencial e
nhecidas por delaminação, ou até a porosidade pela perda completa do CO2 Termogravimétrica (ATD/ATG)
lascamentos, de ocorrência localizada, do agregado calcário somente ocorre a
algumas vezes explosivos (spalling, geral- partir de 10000C. Já, os principais mine- As análises termodiferencial e ter-
mente entre 250 C e 400 C), de forma-
o o
rais do granito (quartzo, feldspato e mica) mogravimétrica constituem procedi-
ção instantânea e com geração de gran- se comportam de maneira diferenciada mentos analíticos que permitem es-
des cavidades no concreto (KALIFA et al, frente ao aumento de temperatura, per- tudar o comportamento térmico de
2000). Mas, o que ocorre propriamente dendo a coesão entre 800 C e 1000 C,
0 0
determinada amostra sob uma taxa
com os constituintes da pasta endureci- sofrendo forte retração, que leva à fissu- de aquecimento, isto é, determinar a
da quando em situação de incêndio? A ração generalizada do agregado. A partir presença e/ou teores dos constituin-
Figura 1 correlaciona os aspectos ma- de 11000C, a pasta de cimento começa tes suscetíveis a reações químicas
croscópicos e as transformações dos a se tornar vitrificada pelo aparecimento ou fenômenos físicos em função do
constituintes da pasta de cimento. das ligações cerâmicas em detrimento aumento da temperatura. Os resulta-
De fato, sob condições de aumento das ligações hidráulicas. Como conse- dos das análises podem ser observados
de temperatura, a partir de 800C, embo-
ra visualmente não se observe nenhuma
alteração na estrutura do concreto, em
escala microscópica começa o fenô-
meno de desidratação das acículas de
etringita cristalizada que, por volta de
1000C, se transforma em etringita amor-
fa. Por volta de 2000C, com a perda da
fase líquida dos poros, começam a ser
identificadas feições superficiais de mi-
crofissuração, que, no elemento estru-
tural, fica visível a olho nu por volta de
3000C. Nessa temperatura ocorre a de-
composição dos aluminatos hidratados
da pasta. Entre 4800C e 5500C, ocorre
a desidroxilação da portlandita, que se
transforma em cal livre, e a fissuração no
elemento estrutural deixa de ser superfi-
cial para se tornar mais profunda . Por u Figura 1
Transformações na microestrutura do concreto com o aumento da temperatura
volta de 5700C, verifica-se o início da
e sua relação com efeitos visuais a olho nu
fissuração dos agregados quartzosos,

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 45


munhos com serra de disco diamantada,
porém, a depender do estado de degra-
dação, mais frequentemente essa coleta
é feita por meio de uma furadeira, que,
com o seu impacto, cominuio concreto,
gerando um pó. Esse material é coleta-
do e separado para análise e, a partir de
seus resultados, consegue-se identificar
até que profundidade o concreto foi afe-
u Figura 2
tado pelo fogo, tornando possível avaliar
Termograma com as curvas de ATD/TG de amostra de concreto
a temperatura atingida.
A Figura 3 ilustra o procedimento
a partir de termogramas, que registram quartzo constituinte do agregado por de amostragem.
as transformações dos constituintes suas transformações alotrópicas pelo No laboratório da ABCP, para a rea-
das amostras por meio de picos de re- aumento da temperatura, como tam- lização das análises térmicas, emprega-
ação endotérmicas ou exotérmicas, em bém de substâncias orgânicas, como -se um aparelho de Labsys Evo, marca
relação a uma referência, detectadas os aditivos redutores de água. A Figura Setaram (Figura 4), dotado de forno de
por diferenças de temperatura entre a 2 apresenta as curvas de termograma alta temperatura (até 1600 ºC), em geral
amostra e a referência, picos esses as- clássico de uma amostra de concreto nas seguintes condições analíticas:
sociados ou não à perda de massa. endurecido, mostrando seu comporta- u taxa de aquecimento: 10 ºC/min;
Nos concretos, os compostos pas- mento com aumento da temperatura, u faixa de análise: 30 ºC a 1000 ºC;
síveis dessas transformações são, em isto é, as reações de desidratação e de- u inerte utilizado: coríndon (Al2O3);
geral, aqueles presentes na pasta endu- composição das fases da pasta hidrata- u termopar: platina ródio;
recida decorrentes da hidratação/carbo- da (ATD) e as perdas de massa associa- u cadinho: platina ródio;
natação do cimento, e, eventualmente, das a essas reações (TG). u capacidade do cadinho: 0,05cm3;
adições, como fíler calcário, escória ou Em concretos afetados por incêndio, u massa das amostras: 30mg ± 0,1 mg.
certos materiais pozolânicos. Além dis- a depender da temperatura alcançada,
so, é possível detectar a presença de espera-se, portanto, a ausência ou di- 3.2 Microscopia Eletrônica
minuição da intensidade dos picos de- de Varredura (MEV)
correntes dos hidratados de cimento,
refletindo a destruição total ou parcial ou A análise por MEV conduz ao re-
transformação destes materiais como conhecimento das feições microestru-
consequência das altas temperaturas. turais e especialmente a distribuição
Uma amostra de concreto não é
afetada de maneira homogênea sob as
condições de incêndio, sendo verificado
que a superfície da estrutura com face
voltada ao fogo é a mais atingida e, a de-
pender das condições, tempo e tempe-
ratura do incêndio, os danos no interior
são menores ou mesmo insignificantes
do ponto de vista da microestrutura. Por
u Figura 3 isso, a metodologia de análise consiste
Imagem ilustrativa da u Figura 4
na amostragem a partir de diversas pro-
preparação da amostra Vista geral do aparelho de
fundidades em relação à superfície. Essa
para análise ATD/TG do laboratório da ABCP
metodologia abrange o corte dos teste-

46 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


e morfologia das fases, presença de suas interfaces cristalinas é indicati- 4. ESTUDO DE CASO
fissuras, avaliação da compacidade e va de transformações alotrópicas do Os resultados das análises térmicas
segregações. Quando acoplada com quartzo, significando que a temperatu- de uma amostra de concreto extraída da
EDS (Energy Dispersive Spectroscopy), ra foi superior a 570 ºC (Figura 6). estrutura de um hospital da cidade de
a MEV permite identificar a composição Quando o MEV mostra cal livre na Santo Andre (SP) permitiram determi-
química, apontando elementos quími- pasta, geralmente com morfologia simi- nar os danos provocados por incêndio
cos na área na qual se encontra o com- lar a rosáceas, a melhor interpretação em distintas profundidades em relação
posto mineralógico, tornando possível é a desidratação da portlandita, com à face voltada ao incêndio. As tabelas 1
seu diagnóstico. A técnica foi detalhada recristalização, que ocorre entre 480 e 2 resumem esses resultados.
no artigo dos mesmos autores, publica- e 550 ºC, sugerindo que a temperatu- As análises realizadas em porções
do na edição 86 (abril – junho de 2017) ra do incêndio superou essa faixa. Já, representativas da amostra, conforme
desta Revista, com o título Muito além quando a presença de portlandita é procedimento ilustrado na Figura 3,
do controle tecnológico convencional notável (Figura 7), esse fato indica que em diferentes profundidades dos cor-
do concreto (BATTAGIN e SILVEIRA, a temperatura não atingiu 480 ºC, que pos de prova, isto é, desde a porção
2017). Muitas das feições observadas é quando ocorre a perda da água de mais exposta ao fogo até a porção mais
nos permitem deduzir a temperatura al- cristalização desse composto. protegida, revelaram alterações na mi-
cançada. Assim, ao se reconhecer por Amostras apresentando aspecto vi- croestrutura decorrentes da calcinação
MEV, numa amostra de concreto, a pre- trificado, com presença de wollastonita causada pelo incêndio.
sença de cristais aciculares de etringita, e anidrita superficial, indicam temperatu- Na porção mais interna do testemu-
isso significa que amostra não superou ras da ordem de 1100ºC. Por fim, cabe nho (acima de 8 cm a partir da super-
100ºC (Figura 5), pois a etringita ficaria registrar que a ausência de determina- fície exposta), com base nas Tabelas 1
amorfa acima dessa temperatura, e a das fases hidratadas esperadas para e 2 foram identificados os compostos
ausência de microfissuração é também uma pasta de concreto em condições calcita, portlandita, aluminatos hidrata-
um fator indicativo de que não se ultra- ordinárias de temperatura é um fator in- dos, escória de alto forno parcialmente
passou esse patamar de temperatura. dicativo que a amostra foi submetida a anidra, provavelmente devido ao uso de
Por outro lado, a presença de cristais temperaturas acima da faixa de estabili- cimento tipo CP II – E (cimento portland
fraturados de quartzo e de fraturas nas dade das fases hidratadas usuais. composto com escória de alto forno) ou

u Figura 6
Amostra de concreto coletada
u Figura 5 após incêndio e observada sob
Porção interna de amostra de MEV, com presença de cristais u Figura 7
concreto em relação a face fraturados de quartzo e Amostra de concreto coletada
exposta ao fogo, observada fraturas nas suas interfaces após incêndio, sob observação
em MEV, onde a presença de cristalinas oriundas de suas em MEV, onde a presença de
cristais aciculares de etringita transformações alotrópicas, portlandita na região central
indica que amostra não superou sugerindo que a temperatura indica que a temperatura não
100 ºC durante o incêndio foi superior a 570 ºC atingiu 480 ºC

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 47


sência de portlandita pode ser atribuída
u Tabela 1 – Identificação das reações também à sua carbonatação, ou seja, à
geração de carbonato de cálcio a partir
Temperatura
Natureza da reação Interpretação da reação do hidróxido de cálcio (por-
do pico (ºC)
Perda de água livre e/ou adsorvida e decomposição tlandita) com o CO2 presente na atmos-
30-110 Endotérmica
dos silicatos hidratados fera. Esta inferência é corroborada pe-
Decomposição dos aluminatos los teores de carbonato de cálcio mais
155 Endotérmica
da pasta de cimento hidratada
elevados nestas porções da amostra,
444-450 Endotérmica Decomposição do hidróxido de cálcio
comparativamente ao determinado nas
555-565 Endotérmica Transformação do quartzo a em quartzo b
amostras mais internas. Em suma, as
650-695 Endotérmica Descarbonatação do carbonato de cálcio (CaCO3)
temperaturas mais altas ficaram restritas
875 Exotérmica Provável devitrificação da escória
as partes mais superficiais, estando o
concreto completamente íntegro a cerca
de 8 cm, informação que, aliada a outras
u Tabela 2 – Perdas de massa determinadas nas amostras analisadas
informações de inspeção de campo, foi
Perdas de massa nas diferentes temperaturas de análise (%) útil nas ações de recuperação.

30-120 ºC
(Perda de 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Identificação 120-400 ºC
água livre e/ 400-600 ºC 600-800 ºC Os ensaios da microestrutura do
da amostra (Decomposição
ou adsorvida e [Decomposição (Descarbonatação
dos aluminatos concreto possibilitam a identificação
decomposição do Ca(OH)2] do CaCO3)
hidratados)
dos silicatos da extensão dos danos causados
hidratados) por incêndio ao concreto, particulari-
prof. 0-2 cm 1,1 – – 9,2 zando regiões e espessuras de cada
prof. 2-4 cm 0,8 – – 9,0 elemento estrutural, permitindo ava-
prof. 4-8 cm 5,9 – 1,2 0,9 liar as partes de uma estrutura que
Acima devam ser recuperadas e facilitando
4,8 3,2 1,2 1,2
prof. 8 cm
a escolha das medidas corretivas
necessárias em cada caso, além de
CP III (cimento portland de alto forno) e função das temperaturas alcançadas identificar elementos estruturais que
quartzo, constituinte do agregado. Isso avaliadas em cerca de 300 ºC, con- devam ser substituídos.
indica que a microestrutura está íntegra forme a ausência de perda de massa As técnicas apresentadas e a corre-
e a temperatura não chegou a 100 ºC mostrada na Tabela 2 ta interpretação dos resultados obtidos
nessa região. Nas amostras retiradas desde a su- podem auxiliar na tomada de decisões
Nas regiões entre 4 cm e 8 cm da perfície até 2 cm de profundidade, não para o desenvolvimento de projetos de
superfície exposta, reconhecem-se foi identificada portlandita, nem alumi- recuperação que considerem o estado
os mesmos minerais identificados nas natos e silicatos hidratados, indicando real da estrutura e, portanto, favoreçam
regiões sãs, com exceção dos alumi- que a temperatura atingiu valores acima uma análise com base em segurança
natos hidratados, decompostos em de 480 ºC e abaixo de 800 ºC. A au- e economia.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] KALIFA, Pierre; MENNETEAU, François-Dominique; QUENARD, Daniel. Spalling and Pore Pressure in HPC at High Temperatures. Cement and Concrete Research,
N° 30. Elsevier Science Ltd. Amsterdam, 2000
[2] NEVILLE, Adam Matthews. Propriedades do Concreto. 2ª Ed. PINI. São Paulo, 1997.
[3] BATTAGIN, AF; SILVEIRA, ALZ. Muito além do Controle Tecnológico Convencional do Concreto. Concreto & Construções N° 86. Instituto Brasileiro do Concreto, São
Paulo, abril-junho, 2017

48 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


u mantenedor
encontros e notícias | CURSOS

LEAP : Concretos de baixa


pegada de CO2 com controle
avançado de desempenho
RAFAEL G. PILEGGI • VANDERLEY M. JOHN • MARKUS S. REBMANN
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP)

JÚLIA SILVA RAUCCI • MARIANA FIGUEIRA MENEZES • CARLOS JOSÉ MASSUCATO


InterCement

1. INTRODUÇÃO envolvidos para sua produção. Essas ladas. No Brasil a expectativa para o

C
imento Portland é o ma- características únicas tornaram o pro- mesmo período está entre 130 e 150
terial artificial mais pro- duto essencial para a produção do milhões de toneladas (SCRIVENER;
duzido no mundo atual. A moderno ambiente construído, que JOHN; GARTNER, 2016) e um pouco
produção de cimento vem crescen- está relacionado à qualidade de vida menos, 117 milhões de toneladas, se-
do mais rapidamente que a popula- dos cidadãos. Nesse sentido, quanto gundo os resultados do Mapeamen-
ção (Figura 1), atingindo em torno de mais cimento é utilizado, melhor é a to Tecnológico do Cimento (ABCP,
575 kg.hab-1.ano-1 em 2015. Esse qualidade de vida. Somada a carên- SNIC, 2018).
crescimento decorre da capacidade cia de habitação e de infraestrutura Como a fabricação do clínquer
do cimento em transformar partícu- de qualidade com o esperado au- Portland exige a decomposição tér-
las em rochas de virtualmente qual- mento de população nos países em mica do calcário, não é possível pro-
quer forma e dimensão, bem como desenvolvimento, a produção mundial duzir cimento Portland sem liberar
da abundância dos recursos naturais de cimento deverá crescer, atingindo CO 2 para a atmosfera além daquele
em 2050 entre 5 e 6 bilhões de tone- emitido durante queima de combustí-
veis, que, no caso brasileiro é de 564
5000 8000 kg de CO 2 (CSI, 2016). A indústria de
4500 7000 cimento vem progressivamente redu-
4000 zindo as emissões de CO2, principal-
Produção de Materiais (Mt)

6000
3500 mente pela substituição do clínquer
População (M)

3000 5000
por materiais como escória granu-
2500 4000
lada de alto forno e cinzas volantes.
2000 3000
Em consequência, estima-se que,
1500
2000 em 2014, apenas 67% do cimento
1000
500 1000 brasileiro foi composto de clínquer,
0 0 sendo a média mundial superior a
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020
75% (CSI, 2016). Assim, o uso de
adições combinado com o uso de
u Figura 1 combustíveis alternativos como bio-
Evolução da produção de cimento e aço comparada com o crescimento
massa, composta por produtos con-
da população (SCRIVENER; JOHN; GARTNER, 2016)
siderados neutros ou quase neutros

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 49


em carbono, levou o cimento brasi-
1000
leiro a apresentar um dos menores
Meta de mitigação total
fatores de emissão específica de CO 2 Filer
800
do mundo.

Potencial de mitigação de CO2 (Mt)


No entanto, a oferta de escória
600
de alto forno e cinzas volantes é li- Meta para Captura de Carbono
mitada, tanto globalmente como no
400
Brasil. A geração dessa escória, ex- Argila
Cinza Calcinada + Filer
pressa como fração da produção do CCSC
volante AA
200
cimento, vem caindo (ver Figura 1),
sendo que, em 2013, representava BFY
0
menos de 9% da produção global de
Argila Calcinada AA
cimento e por volta de 13% da brasi-
leira. A disponibilidade global de cin- -200
0 10 20 30 40 50 60
zas volantes é de aproximadamente Taxa de substituição (%, em 2050)
20% da produção do cimento, sendo
a maior parte de baixa qualidade, e u Figura 2
sua geração já começou a diminuir Potencial de mitigação de CO 2 em âmbito mundial das principais
em termos absolutos, chegando a tecnologias identificadas como competitivas em função da sua taxa de
substituição em 2050 (SCRIVENER; JOHN; GARTNER, 2016)
cerca de 4% da produção do cimen-
to no Brasil. De forma geral, escó-
rias, incluindo as de outras origens, emissões do ano 2006 (SCRIVE- CO 2 que ultrapassa as metas do se-
e cinzas volantes devem representar NER; JOHN; GARTNER, 2016). Para tor. As duas tecnologias escaláveis
algo em torno de 20% da produção viabilizar uma redução absoluta das de maior potencial de mitigação fo-
mundial de cimento em 2050 (SCRI- emissões do CO2 será necessário ram a substituição de clínquer Por-
VENER; JOHN; GARTNER, 2016) e capturar cerca de 600 Mt de CO 2 em tland por fíler e por misturas de fíler
ainda menos no Brasil, cerca de 15% 2050, o que exigiria um investimen- e pozolana de argila calcinada, com
(ABCP,SNIC,2018). to em torno de US$500 bilhões, au- a vantagem adicional de preservarem
Mantidas as práticas atuais, a mentando o custo do cimento entre investimentos em fábricas equivalen-
combinação do aumento da de- 15 e 30%1. tes a cerca de meio trilhão de dóla-
manda por cimento com redução Um estudo sistemático de estra- res. O potencial de novos cimentos
progressiva da disponibilidade dos tégias de mitigação alternativas à que não Portland, foi considerado li-
tradicionais substitutos do clínquer, captura de carbono, que sejam eco- mitado dada a necessidade de inves-
o baixo potencial de maiores ganhos eficientes, com baixo custo, baixo timentos elevados, limitação de ma-
com eficiência energética e o custo impacto ambiental e escaláveis foi térias primas – como cinzas volantes
e limitações de disponibilidade de conduzido pelo grupo de trabalho e silicatos de sódio e bauxita (BYF),
combustíveis neutros em CO2, es- do Programa do Meio Ambiente das limitações a mercados de pré-fabri-
pera-se em âmbito mundial um forte Nações Unidas entre 2015 e 2016 cados (no caso da cura térmica de
crescimento das emissões de CO2 (SCRIVENER; JOHN; GARTNER, cinzas volantes e argilas calcinadas
do setor no futuro. No entanto, os 2016), reunindo 23 cientistas de 20 com ativação alcalina e dos cimentos
acordos do clima estabelecem para países. O estudo concluiu que exis- que endurecem por carbonatação
2050 metas de redução dos valores tem soluções técnicas que, se forem acelerada – CCSC – em vasos de
absolutos das emissões de gases do introduzidas por investimentos em pressão) ou por custo elevado (BYF,
efeito estufa equivalentes a 18% das P&D, têm potencial de mitigação de cinzas volantes com ativação alcalina

1
Assumindo o custo de produção do cimento típico de US$30/t e o custo da captura do CO2 entre US$40 e 80/t (SCRIVENER; JOHN; GARTNER, 2016, p. 6).

50 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


e possivelmente CCSC). A pesquisa no início dos anos 90 e permanece menor (1/3 do europeu) (CSI, 2016).
que embasa o Mapeamento Tecno- até hoje. A normalização brasileira Esses dados revelam ainda uma limi-
lógico da Indústria de Cimento Bra- introduziu fíler nos cimentos no iní- tação do uso potencial da tecnologia
sileira, em fase final de elaboração, cio dos anos 1990, com um limite corrente de substituição de ligantes
também concluiu que, dadas as limi- máximo de 10% para o cimento CP por fíleres, particularmente em merca-
tações futuras de oferta de escória e II e de 5% para os demais, valores dos onde o principal uso do cimento
cinzas volantes, um aumento na adi- mantidos até a data de hoje. Recen- é industrial. A realização do poten-
ção de fíler é a solução com o maior temente outros países, como África cial de mitigação previsto na Figura 2
potencial de mitigação (ABCP, SNIC, do Sul e México, adotaram os limites exige uma nova estratégia de adição
2018) (Figura 2). Europeus (Figura 3). de fíleres.
Fíleres são materiais moídos que A adição de até 35% de fíleres
dispensam a etapa de calcinação, a calcários ao cimento é uma tecnolo- 2.2 Fíleres em cimentos,
qual é responsável por pelo menos gia consolidada, contando com larga argamassas e
90% do consumo de energia e da experiência internacional. A norma- concretos LEAP
emissão de CO2 na produção de ci- lização europeia permite utilizar em
mento. Como os fíleres são materiais estruturas cimentos CEM II/B-LL, que Do ponto de vista do uso do ci-
de baixo impacto ambiental, com possuem até 35% de fíler, exceto em mento em produtos, os fíleres co-
pegada de CO 2 abaixo de 20 kg/t alguns ambientes agressivos. Atual- laboram com uma das funções es-
(cimentos convencionais possuem mente a quantidade de fíler utilizada senciais do cimento: formar uma
pegada de 200-870 kg/t), a sua in- pela indústria cimenteira mundial é de pasta que preenche o espaço entre
trodução permite uma substancial 7%, sendo superior à de escória (5%) os grãos de agregados, dando coe-
redução da pegada de CO 2 dos ma- e cinzas volantes (4%). O teor médio são e fluidez ao sistema. Tem, por-
teriais cimentícios. de fíler no mercado europeu é de 6%, tanto, potencial para aumentar a efi-
Este trabalho pretende discutir valor similar ao Brasil, apesar do limi- ciência do uso do cimento, reduzindo
os fundamentos da tecnologia LEAP te máximo de substituição ser bem a quantidade de material reativo e de
(Low-Emission Advanced Perfor-
mance), que substitui ligantes por
fíleres, permitindo a mitigação de 40
CO2 na cadeia do cimento a baixo
35
custo e, simultaneamente, otimi-
Europa
Teor máximo de fíler calcário (%)

zando o desempenho dos produtos 30 Espanha


cimentícios.
Alemanha
25
Canada
2. FÍLERES E A TECNOLOGIA LEAP Brasil
20
Estados Unidos
2.1 Experiência de cimentos 15
com fíler
10

É provável que a Espanha, a 5


França e a Alemanha tenham sido as
pioneiras em introduzir o uso siste- 0
1960 1970 1980 1990 2000 2010
mático de fíleres na década de 1960
e 1970. Durante a crise do petróleo
nos anos 70, a Alemanha elevou o li- u Figura 3
Evolução do teor máximo de fíler calcário na normalização de países e
mite de 20% para 35%, valor que foi regiões selecionadas – (JOHN et al., 2017)
adotado pela normalização europeia

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 51


alto impacto ambiental necessária
100
para formular produtos.

Resistência à Compressão (MPa)


Avanços no conhecimento sobre 80
empacotamento, novas tecnologias
60
de caracterização de partículas para
seleção de materiais mais adequa- 40
dos e o surgimento de dispersan-
20
tes e outros aditivos, permitem uma
redução de até 50% na quantidade 0
0 20 40 60 80 100
de água necessária, mantendo pro-
Fíler (%, em massa)
priedades reológicas adequadas,
quando comparada à tecnologia tra- u Figura 4
dicional. A porosidade final de um Influência do teor de fíler na resistência à compressão de concretos
produto cimentício endurecido é em (SCRIVENER; JOHN; GARTNER, 2016)
grande parte associada ao volume
de água no estado fresco para obter não é uma estratégia nova. Contudo, Do ponto de vista industrial, para
a trabalhabilidade desejada, descon- sistemas cimentícios com menores tornar essa abordagem uma realida-
tada a água fixada na hidratação. teores de água tendem a ter compor- de prática, é necessário rever como
Dependendo do projeto de gra- tamento reológico mais complexo, são feitos os controles de qualidade,
nulometrias, das propriedades das algo que é acentuado em processos tanto em termos dos ensaios que são
matérias-primas e da eficiência na de produção e aplicação de produ- usados como controle quanto as to-
dispersão, é possível reduzir a quan- tos cimentícios. lerâncias permissíveis, e o desenho
tidade de água a ponto de compen-
sar a diluição do clínquer ocasionada
pela introdução de fíleres. Isso de-
corre do fato da resistência final de
um produto cimentício ser em grande
parte associada à sua porosidade no
MPT = –
2 –1 –
[ (
1
VSAg x VSg – 1 – Pofg ([
estado endurecido. Por esta razão, MPT é a distância de separação entre
partículas grossas (agregados): VSAg é a
não existe qualquer correlação di- área superficial volumétrica da fração
reta entre o teor de substituição de grossa; Pofg é a porosidade da
distribuição das partículas grossas e VSg
ligantes por fíler e a resistência do é a concentração volumétrica dos
grossos no concreto.
concreto (Figura 4). Caso a taxa de
redução de água seja superior à taxa
de redução de ligantes, a resistência
deverá crescer, apesar da redução
IPS = –
2 1
– – 1
[ (
VSA x VS – 1 – Pof ([
do teor de ligantes totais (DAMINELI, IPS é a distância de separação interpartículas (mm): VSA é a área superficial
volumétrica (m2/cm3), calculada a partir do produto entre a área específica
2013; JOHN et al., 2017).
medida (m2/g) e a densidade do sólido (g/cm3); VS é a fração volumétrica de
A tecnologia LEAP envolve a oti- sólidos na mistura e Pof é a fração de poros no sistema, quando todas as
partículas estão em contato na condição de máximo empacotamento.
mização de formulações na escala
pasta e agregados, para garantir a
u Figura 5
desejável fluidez com o mínimo teor Modelo microestrutural de uma suspensão cimentícia, como o
de água e ligantes, mantendo os re- concreto, por exemplo, incluindo suas equações de cálculo de distância
quisitos de resistência mecânica e de separação (ROMANO; CARDOSO; PILEGGI, 2011): MPT entre os
agregados (partículas > 100mm); IPS entre os finos
durabilidade. Essa otimização utili- (partículas < 100mm)
zando conceitos de empacotamento

52 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


sob domínio de forças mássicas, en-
quanto as menores se movimentam
na água sob ação de forças de su-
perfície. Quanto maior a distância de
separação entre as partículas dentro
de sua fase, maior a mobilidade das
mesmas em suspensão. A distância
entre os agregados, denominada “Ma-
ximum Paste Thickness – MPT”, e a
distância entre os finos, “Interparticle
Separation Distance – IPS” podem
ser calculadas por equações específi-
u Figura 6 cas (ROMANO; CARDOSO; PILEGGI,
Ilustração das etapas de preenchimento de vazios, recobrimento de 2011), permitindo estabelecer o po-
superfícies e afastamento das partículas grossas (agregados) e o
esperado impacto no abatimento dos concretos tencial de mobilidade das suspensões.
A ideia de formular concretos pre-
vendo seu abatimento por meio do
de produtos cimentícios usando em- considerar o modelo microestrutural cálculo da espessura da camada de
pacotamento de partículas, conside- no estado fresco, incorporando to- pasta ao redor dos agregados (MPT)
rando desde a fabricação de cimento das as partículas presentes na mistu- não é nova (Figura 6), sendo adota-
até o desempenho em uso dos ra. Conceitualmente essas partículas da por Powers na década de 1960
produtos. podem ser entendidas como suspen- (POWERS, 1968), sabendo-se que
sões bifásicas, onde os agregados quanto maior o MPT, mais fluido o
2.3 Modelo bifásico (>100mm) estão imersos em uma pasta concreto (Figura 7). O equaciona-
dos concretos constituída pelas partículas pequenas mento de Powers calcula a espes-
(< 100mm) e o líquido (água), como sura de pasta baseando-se somente
Ao se aplicar esses conceitos aos ilustrado na Figura 5. As partículas em granulometria, desprezando as
produtos cimentícios é importante maiores se movimentam na pasta outras propriedades das partículas.
A equação mais recente de MPT
constitui um avanço por incorporar
220 os efeitos da área específica e da
200 densidade, além da porosidade pre-
vista pelo empacotamento e do teor
Abatimento (mm)

180
de sólidos em suspensão no cálculo.
160 Considerando a natureza bifásica
140 dos concretos, a mobilidade de suas
partículas decorrerá de ambas as fa-
120
ses, ou seja, dos agregados inseri-
100
dos na pasta (MPT) e das partículas
80 finas imersas na água (IPS). Essa
2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 conceituação é ilustrada para o caso
MPT (micra) de um cimento na Figura 8. A incor-
poração dos fíleres de performance
u Figura 7 (partículas menores que o clínquer)
Valores de abatimento (mm) em função do MPT (mícrons) calculado a
partir das informações de dosagem e das matérias-primas empregadas em quantidade adequada reduz os
vazios entre os grãos maiores, em

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 53


sistemas dispersos. Diminui-se, as-
sim, a demanda por água para obter
as consistências desejadas, desde
que o benefício da redução de poro-
sidade não seja prejudicado pelo au-
mento na área específica devido aos
finos, como equacionado no cálculo a b c
do IPS. Dessa maneira, resistências
maiores são possíveis, abrindo es-
paço para substituição de parte do
clínquer por fíleres de diluição (gra-
nulometria equivalente ao clínquer).
O conceito central para formula-
d e
ção de pastas cimentícias com na-
tureza LEAP baseia-se, portanto,
u Figura 8
na obtenção de elevados valores
Distintos cenários de combinação cimento-fíler: (a) Partículas de
de IPS com reduzido teor de água. clínquer com granulometria não otimizada e alta porosidade; (b) o
Essa abordagem abre espaço para clínquer é parcialmente substituído por fíler de diluição e de
incorporação sistemática de maté- performance ultrafino dispersos, resultando em empacotamento
otimizado e consequente redução na porosidade e na demanda de
rias-primas alternativas às misturas
água; (c) o excesso de fíleres de performance ultrafinos prejudicam o
cimentícias, acentuando ainda seu empacotamento e elevam a área específica, aumentando a demanda de
potencial de ecoeficiência. água; (d) o ex cesso de fíler de diluição e a falta de clínquer e de fíler de
performance resulta em alta porosidade e menor resistência; (e) sem
aditivos dispersantes, a aglomeração prejudica a estrutura de
2.4 Opções de fíleres e
empacotamento e a mobilidade relativa entre as partículas,
eficiência em composições aumentando a demanda de água
cimentícias

Do ponto de vista técnico, qual- 100


quer produto inorgânico pode cum-
90
prir papel de fíler. A literatura reporta
80
experiências com fíleres de calcário,
Resistência à Compressão (MPa)

quartzo (embora ofereçam conhe- 70


Cristobalita
cidos riscos à saúde), rutilo, dolo- 60 Nefenila
mito, granito, cristobalita, nefelina, 50 Calcário
wollastonita, entre outros. A Figura 9 Quartzo
40
Dolomito
apresenta resultados de resistência
30 Granito
mecânica de pastas de cimento Por- Cimento
20
tland com diferentes tipos de fíleres.
No experimento (Damineli, 2013), o 10

ajuste de mobilidade das pastas ci- 0


Cr1
NS1
C3
C4
Q2
Q1
C2
C1
D1
D2
D3
G1
G2
G3
G4
Cem1

mentícias dispersas possibilitou a


substituição de grande parcela de
clínquer (50%), obtendo grandes u Figura 9
benefícios em resistência mecânica. Influência da mineralogia dos fíleres na resistência à compressão de
pastas cimentícias aos 28 dias (relação água / ligante = 0,5)
Em resumo, eficiência no empaco-
(DAMINELI, 2013)
tamento das partículas, minimização

54 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


a b

u Figura 10
Comparação de formulações de concreto com alto teor de fíleres e baixa demanda de água com um
benchmark global — (JOHN et al., 2017). As formulações com elevado teor de fíleres são representadas em
cores mais escuras. (a) Intensidade de ligante versus resistência à compressão; (b) intensidade de CO 2 versus
resistência à compressão; as linhas vermelhas identificam os limites do benchmark para concretos convencionais.
A linha verde em (b) identifica os limites inferiores da pegada de CO 2 de concretos feitos com clínquer puro

da área específica e a criação de for- binar maximização de MPT e IPS nor impacto ambiental. A Figura 10 (a)
ças repulsivas (aditivos dispersantes) com dispersão de partículas. Como apresenta um gráfico de intensidade de
são os aspectos críticos na redução resultado, é possível obter composi- ligantes versus resistência à compres-
do consumo de água na pasta. ções com reduzido teor de água para são, tornando evidente o potencial
O emprego dessa abordagem mi- a trabalhabilidade demandada, o que dessa abordagem. Os pontos abaixo da
croestrutural no estado fresco na for- resultará em sistemas com elevada linha vermelha se referem a formulações
mulação de concretos permite com- eficiência no uso do clínquer e me- eficientes em sua classe de resistência,

u Figura 11
Fotos da aplicação em uma obra-piloto de um concreto LEAP bombeável, produzido em central de concreto

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 55


as quais adotam o conceito de mobili- gem de um concreto LEAP bombeá- centrais dosadoras existentes no país.
dade em sua concepção. Os impactos vel, formulado com materiais comuns
em emissões de CO2 dessas formula- de uma central de concretos em São 4. DESAFIOS DA TECNOLOGIA
ções são apresentados na Figura 10 (b), Paulo, acrescido de um fíler transpor- A tecnologia LEAP está em desen-
em função da resistência à compressão tado em caminhão betoneira e lançado volvimento e os benefícios econômi-
das composições. em uma obra na mesma cidade. Toda cos e ambientais dela dependem da
Essa tecnologia deverá permitir a operação foi tratada como um teste superação de barreiras tecnológicas
não apenas a formulação de con- de campo que, obrigatoriamente, se e de mercado. Do ponto de vista da
cretos com baixas emissões de CO2 utilizaria de toda a tecnologia conven- pesquisa, os desafios estão relacio-
associadas ao seu ciclo de vida, mas cional. O projeto de granulometria, a nados a uma melhor compreensão de
também um controle muito avançado seleção do tipo e do teor do fíler e a como controlar e projetar formulações
do desempenho do produto, razão estratégia de dispersão foram imple- considerando o desempenho global ao
do acrônimo LEAP “Low-Emission mentados na lógica de maximização longo da vida útil. O desenvolvimento
Advanced Performance”. O teor de de IPS, visando obter um concreto de técnicas de caracterização de li-
fíler influência a porosidade do con- convencional LEAP. A formulação gantes, fíleres e agregados que sejam
creto, e por consequência, a retra- atendeu à ABNT NBR 6118 e ABNT mais completas e diretamente relacio-
ção por secagem e a fluência para NBR 12655, atingindo o valor de 4,5 nadas com o desempenho durante
um mesmo volume de pasta. O mó- kg.m-3.MPa-1 como índice de ligantes. a aplicação e o uso é também funda-
dulo de elasticidade se torna menos O emprego da abordagem microes- mental. Observa-se aqui que muitas
dependente da resistência mecâni- trutural por meio do controle de MPT e das técnicas de controle de qualidade
ca, pois é possível manter o volume IPS associados à garantia de dispersão utilizadas são centenárias, particular-
de agregados constante e elevado. nos finos responde pela robustez dos mente em agregados. Técnicas de
Apesar da redução do teor de ligante concretos LEAP em escala comercial, processamento têm sido tradicional-
afetar a reserva alcalina, o que ten- zelando por sua eficiência ambiental. A mente negligenciadas pela comunida-
de a acelerar a carbonatação, esses Figura 12 apresenta os valores do índi- de, mas têm um grande potencial em
concretos apresentam menor porosi- ce de ligantes de uma classe de con- trazer ainda mais benefícios. No campo
dade total, mantida a resistência, e cretos, produzidos com lotes diferentes do controle reológico, por exemplo, a
menor volume de pasta, o que tende de materiais, conforme empregados aplicação de reometria rotacional em
a compensar a redução da reserva em uma central dosadora. Compa- pastas e concretos (Figura 13) é um
alcalina. Em aplicações nas quais rando-se com a Figura 10(a), todos os avanço substancial, embora ainda não
não existe necessidade de proteção lotes apresentaram excelente grau de esgote a necessidade de caracteriza-
de armaduras, a maior velocidade de ecoeficiência, demonstrando a com- ção mais global da trabalhabilidade.
carbonatação é uma vantagem, pois patibilidade dessa tecnologia com as Do ponto de vista do mercado,
os produtos capturam CO 2 atmosfé-
rico, colaborando com a mitigação
de emissão de CO2.

3. TECNOLOGIA LEAP EM
CENTRAIS DE CONCRETO
A tecnologia LEAP é resultado de
um processo de racionalização e uso
de uma maior quantidade de informa-
ções no processo de formulação, mas u Figura 12
não depende de materiais especiais Intensidades de ligantes (IL) obtidas em concretos produzidos em
condições de variabilidade de matérias-primas encontradas em central
para ser implementada. A Figura 11 de concreto comercial
apresenta imagens de uma concreta-

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u Figura 13
Equipamentos para controle reológico avançado: reômetros para pastas (esquerda) e concreto (direita)

um grande desafio é a formação incompatibilidades com aditivos, a LEAP. O desenvolvimento de um


de recursos humanos para melhor que ainda hoje ocasionam variações conjunto de normas baseadas em
explorar a tecnologia. Técnicas de de qualidade. desempenho é um caminho que pre-
monitoramento de processos, com Finalmente, para que todo o po- cisa ser buscado.
suporte de sistemas de inteligên- tencial possa ser explorado, será ne-
cia artificial, podem trazer grandes cessário aperfeiçoar a normalização 5. AGRADECIMENTOS
benefícios ao controle de mate- de insumos e produtos, em especial Esta pesquisa foi apoiada pela
riais. Outro desafio é resolver os as normas prescritivas que limitam InterCement e FAPESP processo
problemas que levam a eventuais a introdução de tecnologias como n° 2016/05278-5.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] ABCP, SNIC Mapeamento Tecnológico do Cimento - Brasil 2050. São Paulo, 2018 (em publicação)
[2] DAMINELI, B. L. Conceitos para formulação de concretos com baixo consumo de ligantes: controle reológico, empacotamento e dispersão de partículas. São
Paulo: Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2013.
[3] JOHN, V. M.; DAMINELI, B. L.; QUATTRONE, M.; PILEGGI, R. G. Fílers in cementitious materials — Experience, recent advances and future potential. Cement
and Concrete Research, 2017.
[4] POWERS, T. C. The properties of fresh concrete. New York: Wiley, 1968.
[5] ROMANO, R.; CARDOSO, F. A.; PILEGGI, R. G. Propriedades do concreto no estado fresco. In: Concreto: ciência e tecnologia. 1. ed. São Paulo: IBRACON,
2011. v. 1.
[6] SCRIVENER, K.; JOHN, V. M.; GARTNER, E. Eco-efficient cements: Potential, economically viable, solutions for a low-CO2, cement-based materials industry.
Paris: UN Environment, 2016.

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 57


u entendendo o concreto

Concreto reforçado com fibras


em situação de incêndio
RAMOEL SERAFINI – Engenheiro Civil, Mestrando
DIMAS ALAN STRAUSS RAMBO – Engenheiro Civil, Professor na Universidade São Judas Tadeu e Pesquisador de Pós-doutorado
ANTONIO DOMINGUES DE FIGUEIREDO – Engenheiro Civil, Professor Associado
Departamento de Engenharia Civil - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo

1. INTRODUÇÃO Neste contexto, torna-se particularmente nem apresentam modelos de previsão

C
oncretos reforçados com interessante o estudo do comportamento de comportamento, devido à falta de es-
fibras (CRF) são, por defini- do CRF frente a vários aspectos, dentre tudos específicos sobre o assunto [1, 2].
ção, compósitos produzidos os quais deve-se destacar seu compor- A utilização de CRF no revestimento de
a partir de cimento hidráulico, agregados tamento frente ao fogo. Dependendo da túneis, por exemplo, apesar de prevista,
de diferentes dimensões e reforço fibroso intensidade do fogo, tanto o concreto tem recebido pouca atenção quanto à
(contínuo ou descontínuo). Hoje, a pers- quanto o reforço, têm suas propriedades avaliação do efeito do incêndio nas pro-
pectiva de aplicação deste “novo material mecânicas diminuídas, uma vez que a priedades mecânicas residuais (pós-in-
para estruturas”, definição dada pelo fib elevação da temperatura afeta a microes- cêndio) da estrutura [2].
Model Code 2010, se estende a diver- trutura de ambos os materiais. O desen- Este conjunto de fatos evidencia, por-
sos elementos estruturais, entre os quais volvimento das temperaturas no CRF, por tanto, a necessidade de trabalhos que
podem ser citados: pórticos, lajes, vigas, sua vez, dependerá do cenário de incên- tratem do comportamento mecânico de
pilares, estacas, aduelas de túneis, con- dio propiciado pela estrutura em questão. CRF distintos em situação de incêndio e
creto projetado, concreto pré-moldado, Frequentemente, curvas nominais de da elaboração e validação de modelos
entre outros. incêndio, representadas por equações de previsão de comportamento para este
Sabe-se que a garantia da segurança simplificadas, são utilizadas para padroni- tipo de estrutura. No presente trabalho,
estrutural e a preservação do bem social zar as temperaturas em testes reais de re- são apresentadas as principais alterações
são princípios básicos da engenharia. sistência ao fogo e simulações. Dentre as dos componentes do CRF que afetam o
principais curvas nominais presentes na comportamento global do compósito du-
bibliografia pode-se citar a curva-padrão rante e após sua exposição ao fogo.
(standard curve) para incêndio de mate-
riais celulósicos; a curva “H” (hydrocarbon 2. MATRIZ CIMENTÍCIA
curve) para incêndio em hidrocarbonetos; E AGREGADOS
e a curva de incêndio externo (external fire As características da matriz afetam
curve). A Figura 1 apresenta as diferenças o comportamento dos compósitos e,
entre as principais curvas de incêndio. portanto, podem gerar alterações signi-
Apesar da existência de testes de ficativas do comportamento do CRF. O
resistência ao fogo e curvas padrão de aumento da temperatura produz significa-
incêndio, as normas atuais carecem de tivas alterações na composição química e
critérios técnicos para a avaliação do microestrutura da pasta de cimento Por-
u Figura 1 comportamento dos CRF quando sub- tland endurecida. Conforme há o aumen-
Principais curvas de incêndio metidos a este tipo de condição. Além to da temperatura, a água livre presente
padronizadas existentes na disso, não abordam a implicação do in- no concreto é expelida até a temperatu-
literatura (Fonte: autores)
cêndio na segurança estrutural do CRF ra de cerca de 100°C. Em temperaturas

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a b c d

u Figura 2
Interface entre macrofibra sintética e matriz, sendo (a) temperatura ambiente e após aquecimento até 400°C
em diferentes zonas do CRMFS: (b) Zona 1 (c) Zona 2 (d) Zona 3 (adaptado de [6])

superiores, inicia-se a liberação da água matriz cimentícia e agregados, os quais [5]. Uma vez que o grau de cristalinidade
combinada dos produtos de hidratação afetam a integridade da estrutura. A maio- é afetado diretamente pelas cargas tér-
do cimento Portland, ocasionado sua de- ria dos agregados não silicosos, como o micas, a elevada temperatura também
composição, que se estendem até cerca calcário, é estável até os 600°C-650°C. afeta as propriedades das macrofibras
de 800°C, com a descarbonatação do Agregados especiais, como argilas ex- poliméricas. Por exemplo, a temperatura
carbonato de cálcio, geralmente sob a pandidas, vermiculitas, perlita expandida de fusão de fibras de polipropileno é de
forma de calcita. Os principais produtos e aluminas, em geral, apresentam coe- cerca de 160ºC [4]. Logo especial aten-
que desidratam são: etringita (~100°C), ficientes de expansão térmica mais pró- ção deve ser dada para concretos refor-
acompanhada do monossulfato (faixa ximos e até compatíveis com a pasta de çados com macrofibras de polipropileno,
extensa entre ~50°C e ~800°C), portlan- cimento. Isto faz com que a taxa de perda visto que a sua degradação, mesmo que
dita (~450°C) e o silicato de cálcio (C-S- de resistência residual (pós-incêndio) seja parcial, pode comprometer a capacida-
-H), que desidrata em uma longa faixa de menor em concretos contendo este tipo de resistente da estrutura em tempera-
temperaturas (50°C até 600°C ou mais) de agregados, em comparação a concre- turas inferiores ao que ocorre para fibras
devido à perda de água interlamelar e de- tos com agregados convencionais. de aço. Como o comportamento pós-
sidroxilação [3]. Como resultado dessas -fissuração é fortemente influenciado pe-
alterações químicas e microestruturais, 3. PROPRIEDADES DAS FIBRAS las propriedades mecânicas das fibras, é
o concreto de cimento Portland tem, em E DA INTERFACE FIBRA-MATRIZ importante parametrizar o grau de dano
geral, suas propriedades mecânicas im- As fibras mais comumente utilizadas a que as fibras estão sujeitas em função
pactadas negativamente. As principais no mercado são as fibras de aço e macro- de sua temperatura de exposição no in-
alterações experimentadas pela matriz fibras poliméricas. No caso das fibras de terior do concreto.
cimentícia após exposição ao fogo são: aço, o aço encruado tipicamente utiliza- Além disso, faz-se necessária a si-
fissuração, deformação excessiva, redu- do nas fibras A1 (ABNT NBR 15530:07), mulação dos mecanismos que envolvem
ção da resistência à compressão, desin- mais comuns no mercado, pode perder as fibras e sua interação com a matriz
tegração da pasta endurecida, perda de encruamento com a exposição a tem- cimentícia para caracterização da carga
aderência entre agregados e pasta, além peraturas acima de sua temperatura de de pico e processo de deslizamento-
de possível fragmentação explosiva. recristalização [4], ou seja, em torno de -arrancamento da fibra no CRF. Estas
O comportamento do concreto quan- 500°C. O processo de recristalização alterações podem vir a gerar alterações
do submetido a elevadas temperaturas é afeta diretamente as propriedades de re- significativas da resistência e energia de
altamente dependente do tipo de agrega- sistência e ductilidade da fibra, alterando arrancamento das fibras, culminando em
do presente em sua composição. Agre- suas propriedades e comportamento sob alterações no comportamento global do
gados silicosos (contendo quartzo) são esforços de tração. compósito. O ensaio mais utilizado para
muito comumente utilizados na constru- As macrofibras poliméricas são esta caracterização é o ensaio de arran-
ção civil. O quartzo, por sua vez, apresen- compostas majoritariamente por fases camento (pullout), que busca identificar
ta um aumento de volume devido à trans- amorfas somadas a certo grau de cris- alterações na interface fibra-matriz atra-
formação cristalina do α-quartzo (trigonal) talinidade conferido pelo processo pro- vés da determinação das cargas asso-
para β-quartzo (hexagonal) em torno de dutivo de extrusão e alongamento. Essa ciadas ao arrancamento. Os resultados
575°C. Esses processos de expansão- cristalinidade é responsável diretamente deste tipo de ensaio podem ser utilizados
-retração causam microfissurações na pelas propriedades mecânicas da fibra para refinar modelos computacionais de

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 59


previsão de comportamento do CRF. Es- trata sobre a parametrização das carac- 600°C, quando comparadas à tempera-
tudos em todo o mundo buscam avaliar a terísticas de concretos com fibra de aço. tura ambiente [9]. Já, para concretos re-
influência de parâmetros, tais como: tipo Trabalhos utilizando macrofibras poliméri- forçados com macrofibras poliméricas e
da fibra, tipo da matriz, inclinação e com- cas, por exemplo, tendem a ser mais es- similar resistência da matriz, as reduções
primento embebido na dinâmica de inte- cassos, porém não menos importantes, foram da mesma ordem de grandeza em
ração fibra-matriz. Entretanto, esta carac- uma vez que as macrofibras poliméricas testes similares: 34,6% para a tempera-
terização tem se restringido a concretos são degradadas em temperaturas mais tura de 400°C e 64,9% para a tempera-
em condições normais de temperatura, baixas, diminuindo o volume de reforço tura de 600°C [6]. O módulo de elastici-
evidenciando a lacuna técnico-científica do elemento e podendo comprometer a dade também é reduzido rapidamente
nesta área do conhecimento. Já avalia- segurança do elemento estrutural. com o aumento da temperatura [6-8] e
ções qualitativas da interface entre fibra e As principais propriedades de interes- este processo tem relação direta com a
matriz cimentícia através de imagens de se do CRF que são afetadas pelas ele- redução de volume de sólidos da pasta
microscopia podem ser encontradas na vadas temperaturas são: a resistência à de cimento. A ordem de grandeza dessas
literatura [6]. A Figura 2 apresenta avalia- compressão; a resistência à tração; o mó- reduções é da ordem de 80% para tem-
ção por microscopia eletrônica de varre- dulo de elasticidade; e a capacidade de peratura de 400°C e 95% para tempera-
dura da interface entre macrofibras sin- absorção de energia, tanto antes quanto tura de 600°C [6,8]. Quando a temperatu-
téticas e matriz cimentícia em condições depois do incêndio. ra excede os 600°C, a perda do módulo
normais e após o aquecimento a 400ºC A resistência à compressão começa a de elasticidade do compósito desacelera
para a superfície do corpo de prova (Zona ser fortemente afetada a partir dos 300°C com o aumento da temperatura [8]. A Fi-
1) e dois pontos internos ao espécime [6-8]. Em temperaturas desta magnitude gura 3 apresenta, em forma de gráficos,
(Zona 2 e Zona 3). são reportadas reduções acentuadas nos as reduções de resistência à compressão
valores de resistência. Ao atingir tempera- e módulo de elasticidade.
4. PROPRIEDADES DO CONCRETO turas acima de 500°C, a taxa de perda de A resposta pós-fissuração dos CRF
REFORÇADO COM FIBRAS resistência à compressão residual tende a é fundamental para seu comporta-
O estudo das propriedades e do com- decrescer [7]. Para exemplificar as ordens mento estrutural. Quando os CRF são
portamento do concreto reforçado com de grandeza desta redução, pode-se expostos a elevadas temperaturas, o
fibras de aço e macrofibras poliméricas tomar como exemplo compósitos refor- comportamento pós-fissuração é afe-
frente às elevadas temperaturas é um as- çados com fibras de aço, com reduções tado por três fatores: a temperatura
sunto ainda em desenvolvimento [6-9]. A que chegam a 41% para a temperatura de exposição, o tipo de fibra utilizada e
grande maioria dos trabalhos publicados de 400°C e a 69% para a temperatura de o tempo de exposição. Para todas as
temperaturas, a resposta do compósi-
to em termos de carga pós-fissuração
e tenacidade é dependente do tipo de
fibra. Entretanto, para temperaturas
acima de 400°C, concretos reforçados
com fibra de aço apresentam menores
perdas na resposta pós-pico, enquanto
concretos reforçados com macrofibras
poliméricas apresentam um acentua-
do grau de degradação das fibras [10].
Isto é evidenciado nos gráficos apre-
sentados na Figura 4, onde se torna
perceptível a queda de capacidade re-
u Figura 3 sistente residual para os concretos re-
Redução da resistência à compressão e módulo de elasticidade em
forçados com macrofibras poliméricas
concretos reforçados com macrofibras poliméricas (adaptado de [6])
já a 400ºC. Isto demonstra claramente

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que estruturas reforçadas com macro- u Fibras de aço encruado podem
fibras poliméricas devem ser avaliadas perder encruamento com a exposi-
com maior rigor para a condição de in- ção a elevadas temperaturas, afe-
cêndio, como seria o caso de uma laje tando diretamente as propriedades
elevada de edifício, por exemplo. de resistência e ductilidade da fibra,
e alterando as propriedades e o
5. CONCLUSÕES comportamento do compósito;
Neste artigo foram apresentados u Macrofibras poliméricas são afe-
os principais efeitos da temperatura tadas com maior intensidade pe- u Figura 4
em concretos reforçados com fibras las elevadas temperaturas, uma Curvas médias de carga por
deslocamentos obtidos no
de aço e macrofibras poliméricas. Os vez que o grau de cristalinidade é
ensaio de duplo puncionamento
efeitos da temperatura na matriz ci- afetado diretamente pelas cargas (ensaio Barcelona) do concreto
mentícia, nos agregados, no reforço térmicas, além de estarem sujeitas reforçado com macrofibras
fibroso e interface com a matriz, e, por à fusão e degradação em baixas poliméricas a distintos níveis de
fim, no compósito como um todo. As temperaturas, podendo compro- temperatura (adaptado de [6])
principais conclusões que podem ser meter o reforço estrutural; no caso
verificadas neste artigo são: de concretos reforçados com ma- tem se restringido a concretos em
u O aumento da temperatura produz crofibras poliméricas, a capacidade condições normais de temperatura,
significativas alterações na compo- do CRF de suportar esforços de evidenciando a lacuna técnico-cien-
sição química e microestrutura da compressão, tração e, principal- tífica nesta área do conhecimento;
pasta de cimento Portland endu- mente, a resistência pós-fissuração u Após a exposição à elevada tempe-
recida; além disso, processos de são consideravelmente reduzidas ratura, concretos reforçados com
transição cristalina de alguns mine- acima dos 400°C; fibra de aço apresentam menores
rais presentes nos agregados (ex: u Avaliações qualitativas da interface perdas na resposta pós-pico, con-
quartzo), associados com even- entre fibra e matriz cimentícia atra- cretos reforçados com macrofibras
tos de expansão-retração, podem vés de imagens de microscopia po- poliméricas apresentam um acen-
causar microfissuração na matriz dem ser encontradas na literatura; tuado grau de degradação das fi-
cimentícia e no próprio agregado, entretanto, a dinâmica de interação bras, gerando grandes perdas na
afetando, assim, as propriedades fibra-matriz quanto à carga de ar- resposta carga-deformação quan-
mecânicas globais do compósito; rancamento e energia absorvida do solicitado à flexão.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] DEHN, F.; HERRMANN, A. Concreto reforçado com fibra de aço (SFRC) em situação de incêndio – requisitos normativos, pré-normativos e código-modelo. Concreto
& Construções, 2017, p. 108-112.
[2] INTERNATIONAL TUNNELING AND UNDERGROUND SPACE ASSOCIATION (ITA). ITAtech Design guidance for Precast Fibre Reinforced Concrete Segments.2016.
ITAtech Report no. 7, vol. 1, France, 2016.
[3] TAYLOR, H. F.W. Cement chemistry. Thomas Telford, 1997.
[4] SHACKELFORD, J. F. Ciência dos materiais. Pearson. 6ª. Edição. 2008. 556p.
[5] MADDAH, H. A. Polypropylene as a Promising Plastic: a review. American Journal of Polymer Science. 2016, p. 1-11.
[6] RAMBO, D. A. S.; BLANCO, A.; DE FIGUEIREDO, A. D.; DOS SANTOS, E. R. F.; TOLEDO, R. D.; GOMES, O. D. F. M. Study of temperature effect on macro-synthetic
fiber reinforced concretes by means of Barcelona tests: An approach focused on tunnels assessment. Construction and Building Materials, 2018, 158, 443-453.
[7] POON, C. S.; SHUI, Z. H.; LAM, L. Compressive behavior of fiber reinforced high-performance concrete subjected to elevated temperatures. Cement and Concrete
Research, 2004, 34(12), 2215-2222.
[8] TAI, Y. S.; PAN, H. H.; KUNG, Y. N. Mechanical properties of steel fiber reinforced reactive powder concrete following exposure to high temperature reaching 800 C.
Nuclear Engineering and Design, 2011, 241(7), 2416-2424.
[9] CHEN, G. M.; HE, Y. H.; YANG, H.; CHEN, J. F.; GUO, Y. C. Compressive behavior of steel fiber reinforced recycled aggregate concrete after exposure to elevated
temperatures. Construction and Building Materials, 2014, 71, 1-15.
[10] SUKONTASUKKUL, P.; POMCHIENGPIN, W.; SONGPIRIYAKIJ, S. Post-crack (or post-peak) flexural response and toughness of fiber reinforced concrete after
exposure to high temperature. Construction and Building Materials, 2010, 24(10), 1967-1974.

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 61


u mercado
encontrosnacional
e notícias | CURSOS

Construção: o pior ficou para trás


ANA MARIA CASTELO – Coordenadora de Projetos
Fundação Getúlio Vargas | Instituto Brasileiro de Economia (FGV/IBRE)

A
s pesquisas de atividade di-
14,0 13,0
vulgadas ao longo de 2017 12,0
trouxeram boas notícias: a 10,0
8,0
economia brasileira voltou a crescer, 6,0 4,3
4,0
configurando o fim de uma das piores 2,0
1,7 0,9 1,0
0,3
recessões do país. 0,0
-2,0
Em março, o número anunciado -4,0
-6,0 -5,0
pelo IBGE para o PIB brasileiro de 2017 Agropecuária Ind. extrativas Ind. de Eletricidade e Construção Serviços PIB
confirmou o fim da crise ao apontar que transformação gás, água,
esgoto, ativ. de
o crescimento alcançou 1,0%. Pela óti- gestão de
resíduos
ca da oferta, dois setores econômicos
Fonte: IBGE
– Agropecuária e Serviços – tiveram ex-
pansão quando se compara com 2016,
u Figura 1
de 13,0% e 0,3%, nessa ordem e a In- PIB, taxa de crescimento acumulada em 2017 (%)
dústria, depois de três anos seguidos de
retração, manteve-se estável. tamente não é um cenário sustentável recuperação da atividade formal. O em-
O desempenho excepcional da agro- para a retomada do crescimento.Com a prego com carteira refletiu o cenário de
pecuária foi fundamental para permitir que queda de 5% em 2017, o setor da cons- declínio que afetou todos os segmentos.
a aceleração da atividade não pressionas- trução terá encolhido 20% em 4 anos! A despeito dos números acumula-
se a inflação, que encerrou 2017 abaixo É importante observar que a queda dos mostrarem um quadro muito negati-
de 3%, ou seja, no menor patamar desde PIB setorial em 2017 decorreu em maior vo no setor, alguns indicadores também
1998. Mas o setor de serviços, que repre- medida da redução da atividade formal, começaram a mudar para o segmento
senta mais de 60% do PIB brasileiro, ala- ou ainda, das obras realizadas pelas formal da construção no segundo se-
vancado pelo consumo das famílias, foi a empresas formalmente constituídas. As mestre, mostrando um movimento de
força determinante para o fim da recessão. obras e as pequenas reformas realiza- “despiora” na atividade.
Vale destacar que a estabilidade da das pelas próprias famílias ou por pe- De fato, a Sondagem da Constru-
indústria é resultado de um desempenho quenos empreiteiros foram favorecidas ção da FGV realizada com empresários
bastante desigual de seus segmentos: pelas medidas de estímulo ao consumo, de todo o país registrou uma melhora
enquanto a indústria extrativa teve au- como a liberação dos recursos das con- gradativa do ambiente de negócios das
mento de 4,3%, a construção registrou tas inativas do FGTS. A queda na taxa empresas ao longo do ano. O Índice de
queda de 5%. de inflação também favoreceu o consu- Confiança empresarial (ICST) teve alta de
mo. O aumento das vendas do comér- 9,2 pontos, retornando ao patamar do iní-
1. CONSTRUÇÃO CIVIL cio varejista de materiais de construção cio de 2015.
A construção foi a atividade eco- em 2017, que chegou a 9,2%, reflete a O índice tem dois componentes, o
nômica com pior desempenho no ano discrepância do desempenho entre as indicador que capta a percepção em re-
passado, e que “roubou” força da recu- duas partes do setor. lação ao ambiente corrente de negócios
peração. Em outras palavras, o aumento Por outro lado, as restrições na oferta (Índice de Situação Atual – ISA-CST) e o
do consumo das famílias não foi acom- do crédito imobiliário e a retração severa que capta a percepção em relação a de-
panhado pelo investimento, o que cer- do investimento público não permitiram a manda e tendência futura dos negócios

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-5,7% Serviços de engenharia

-7,8% Incorporação de imóveis

-8,6% Obras de instalação


(Índice de Expectativas – IE-CST). Tanto
-8,9% Infraestrutura
o IE quanto o ISA tiveram elevação, mas
-9,3% Outros serviços
em ritmos diferentes. Na verdade, as ex-
pectativas avançaram muito mais. O ISA -10,2% Preparação de terrenos

não acompanhou. Isso significa que a -10,5% Total

perspectiva de melhora da atividade não -11,4% Obras de acabamento

ocorreu como esperado pelos empresá- -13,8% Imobiliário


rios. A Figura 3 mostra a “boca de jacaré” -16,0% -14,0% -12,0% -10,0% -8,0% -6,0% -4,0% -2,0% 0,0%
– diferença entre a evolução dos dois índi-
Fonte: MTE/Caged, SindusCon-SP – FGV
ces - aumentando no ano passado.
O pior momento da atividade ocorreu u Figura 2
em maio de 2016. Entre dezembro de Emprego com carteira na construção, Brasil – Taxa acumulada em 2017
2012 e maio de 2016, o ISA caiu mais de
40 pontos. Assim, o aumento observado de um crescimento maior da economia senha, embora longe do período de “cres-
no ano passado parece irrelevante, mas em 2018, de 2,9% – projeção fortale- 1
cimento chinês” observado entre 2007 e
ele aponta uma percepção dominante de cida pelos resultados do último trimes- 2013, permite uma projeção positiva para
que o pior ficou para trás. Pode-se notar tre de 2017 – também contribui positi- o PIB da construção em 2018 de 1,1%.
como nos últimos meses de 2017, o ISA vamente sobre o ânimo do empresário O resultado sequer recupera a retração
começou a avançar em ritmo mais forte. da construção. Por outro lado, não se de 2017. Na verdade, nesse ritmo, o setor
Diversos fatores podem explicar essa pode subestimar o efeito das incertezas levará mais de quinze anos para voltar ao
percepção mais positiva da atividade. As no plano político, que continuam eleva- patamar anterior à crise. Enfim, as indefini-
contratações realizadas pelo Minha Casa das, e da questão fiscal não resolvida, ções e incertezas não permitem assegurar
Minha Vida, por exemplo, ganharam ve- impedindo a retomada de muitos planos o início de um novo ciclo de crescimento,
locidade no segundo semestre de 2017. de investimentos. no entanto, o ano começa, definitivamen-
O mercado imobiliário voltado para a mé- Assim, no todo, o cenário que se de- te de forma mais promissora!
dia renda também registrou aumento das
vendas e dos lançamentos. Mas quando
105,0
essa melhora irá repercutir efetivamente
100,0
nos indicadores de emprego?
95,0
A construção tem um ciclo próprio,
90,0
mais longo, que determina que o efeito 85,0
sobre o emprego seja mais demorado. 80,0
No entanto, a Sondagem de janeiro mos- 75,0
trou que a proporção de empresas rela- 70,0
tando diminuição do quadro de pessoal 65,0
nos meses seguintes caiu de 26,2%, em 60,0
jun/14

jun/15

jun/16

jun/17
ago/14

ago/15

ago/16
dez/13
fev/14

out/14

ago/17
abr/14

dez/14
fev/15

out/15
abr/15

dez/15
fev/16

out/16
abr/16

dez/16
fev/17

out/17
abr/17

dez/17

dezembro, para 18,8%; enquanto isso, a


parcela das que reportaram projeção de
aumento passou de 14,2% para 18,3%. ISA-CST IE-CST
Assim, o saldo chegou ao melhor patamar Fonte: Sondagem da Construção, FGV/IBRE
desde agosto de 2014 (2,8 pontos). Sem
dúvida, um sinal inequívoco de melhora do u Figura 3
Setor da construção – dados dessazonalizados – indicadores
ambiente de negócios das empresas.
padronizados (em pontos)
É importante notar que a perspectiva

1
Projeção do Boletim Macro da FGV IBRE

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 63


u pesquisa
encontrose edesenvolvimento
notícias | CURSOS

Avaliação experimental do
concreto armado de alta
resistência submetido a
elevadas temperaturas
(parte complementar)
CARLOS BRITEZ – Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
Britez Consultoria | PhD Engenharia

PAULO HELENE – Professor Titular da Universidade de São Paulo


PhD Engenharia

1. INTRODUÇÃO E CONTEXTO

E
ste artigo apresenta e discu-
te os resultados obtidos em
diversos exames e ensaios
residuais (pós-simulação de incêndio),
sendo um complemento da primei-
ra parte da pesquisa, aqui publicada
em 2012, que abordou as avaliações
preliminares1 de um programa expe-
rimental pioneiro de simulação de in-
cêndio realizado no Brasil em um pilar
protótipo, concebido em concreto de
alta resistência, colorido, armado, com
idade de 8 anos e réplica do concreto
empregado em vários tramos de pila-
res do edifício e-Tower, localizado na
cidade de São Paulo.2 O pilar protótipo,
precedente ao programa experimental
térmico, bem como suas condições
a b
pós-simulação de incêndio, podem ser
observados na Fig. 1.
Britez3 destaca que o conheci- u Figura 1
(a) Pilar protótipo precedente à simulação;
mento do fato das propriedades se-
e (b) pilar protótipo pós-simulação de incêndio
rem modificadas quando o concreto

64 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


é exposto ao calor já está bem con-
solidado no meio técnico. Pesquisas
precursoras já alertam que os concre-
tos sofrem altos gradientes térmicos
quando expostos ao fogo e há uma
forte tendência das camadas quentes
da superfície se separarem das cama-
das mais frias do interior do elemento
por desplacamento (spalling). No en-
tanto, esse mecanismo de falha por
u Figura 2
desplacamento explosivo, no caso do Índice colorimétrico promovido no interior do pilar devido à
concreto de alta resistência, não deve transformação química de redução, ocorrida com o calor, do óxido de
ser equivocadamente generalizado no ferro (Fe 2O 3): escura no interior do centro das faces e alaranjada na
superfície das faces e profundidade das arestas
meio técnico, pois depende de alguns
fatores intrínsecos, principalmente re-
lacionados ao programa experimental incêndio, através da mudança de cor 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
e às amostras envolvidas nas pesqui- do concreto colorido (pigmentado). (PROPRIEDADE RESIDUAIS)
sas. Quando em elevadas temperatu-
ras, a anisotropia e a heterogeneidade 3. RESUMO DO PROGRAMA 4.1 Indicador colorimétrico
do material concreto se tornam cada EXPERIMENTAL (pigmentação inorgânica
vez mais evidentes e, em elementos As informações detalhadas do com uso de óxido de ferro)
estruturais do tipo pilar, por exemplo, programa experimental e da amostra
o comportamento não pode ser con- (pilar protótipo) submetida ao experi- Devido ao uso de pigmentação inor-
siderado uniforme para toda seção mento de simulação de incêndio es- gânica à base de óxido de ferro sinté-
transversal. Na realidade somente tão contidas na primeira parte desse tico (Fe2O3), incorporada na dosagem
poucos centímetros do concreto ex- artigo1, que trata das avaliações pre- do concreto colorido de alta resistência
posto diretamente ao fogo sofre com liminares. Em resumo, o programa (4% em relação à massa de cimento),
as elevadas temperaturas .4 experimental foi realizado no forno do foi possível avaliar mudanças de colo-
Laboratório de Segurança ao Fogo e ração ao longo (no interior) da seção
2. RELEVÂNCIA DA PESQUISA a Explosões do Instituto de Pesquisas transversal e na superfície do pilar pós-
Ressalta-se como interessante Tecnológicas (IPT) do Estado de São -simulação de incêndio. Constatou-se
neste artigo a diversidade de ensaios Paulo, o qual possui um forno com di- que aproximadamente 55mm de pro-
residuais procedidos no pilar protóti- mensões compatíveis com o progra- fundidade da amostra apresentou colo-
po pós-simulação de incêndio, bem ma térmico planejado. Na oportunida- ração mais escura (ou negra), no meio
como outras características intrínse- de, foi estabelecido que o tempo de das faces, e que também essa alteração
cas à própria amostra, como a idade exposição ao fogo do pilar protótipo de cor não foi tão evidente na superfície
avançada do concreto envelhecido seria de 180min (3h), com ensaio de do pilar e na profundidade das arestas,
naturalmente ao ambiente agressivo simulação de incêndio caracterizada onde a coloração se apresentou menos
local (8 anos) e a natureza litológica pela curva padrão de aquecimento escura e somente um pouco “desbota-
do agregado graúdo (basalto). Além ISO 834. O pilar protótipo foi ensaia- da” (tipo alaranjada). Com base nesses
disso, este artigo também discute a do sem carregamento e com exposi- indicadores observados, procedeu-se
importante contribuição da pigmenta- ção de três faces ao fogo, o que pro- com diversas extrações de amostras, a
ção inorgânica do concreto, com uso piciou que uma das faces (onde os fim de verificar a correlação da cor com
de óxido de ferro (Fe2O3), como recur- termopares estavam instalados) per- as diferentes temperaturas obtidas no
so útil na interpretação dos resultados manecesse de livre acesso durante a interior do elemento e as prováveis va-
obtidos na avaliação do concreto após simulação de incêndio. riações nas propriedades mecânicas,

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 65


térmicas e mineralógicas do concreto de
alta resistência nessas regiões (Fig. 2).

4.2 Propriedades mecânicas


residuais do concreto

Diversos testemunhos foram ex-


traídos na direção ortogonal à seção
transversal (óculos da Fig. 3), sendo
essas extrações realizadas nas regiões
u Figura 3
coincidentes com as diferentes profun-
Detalhe de algumas perfurações realizadas na extremidade do pilar e
detalhe de um dos testemunhos extraídos (com ø 75mm) para posterior didades dos termopares [distribuídos
ensaio de ruptura à compressão ao longo da seção transversal, vide
em Britez (2012) a locação dos termo-
pares], exceto para os termopares na
região do cobrimento médio (25mm),
70 cm
que teve sua resistência à compressão
Resistência mecânica na parte desprezada nessa região, em função
laranja (0% ou desprezível)
da existência de concreto friável (cor
escura). As extrações dos testemunhos
foram realizadas pela equipe do Labo-
ratório de Materiais de Construção Ci-
Resistência mecânica na parte
70 cm escura (0% ou desprezível) vil do IPT com uma perfuratriz elétrica
provida de coroa diamantada, fabrica-
da pela Tyrolit do Brasil, modelo HCCB
Resistência mecânica na parte
6 Hydrostress, sendo as respectivas
vermelha (da ordem de 100%)
rupturas realizadas em uma prensa hi-
dráulica, marca Mohr & Federhaff – AG,
com capacidade de 200t e resolução
u Figura 4 de 100kgf.
Resistências mecânicas residuais à compressão do concreto, Os resultados obtidos demonstra-
pós- simulação de incêndio (situação hipotética)
ram que a região escura (negra) não
possui resistência mecânica significati-
va (considerada desprezível: concreto
friável) e que a parte que preservou a
u Tabela 1 – Resultados obtidos nos ensaios de resistência à compressão cor avermelhada original (imediatamen-
(residuais, pós-simulação de incêndio) te após a coloração escura, distante or-
togonalmente 55mm da face) manteve
Pós-fogo (cor vermelha, laranja e negra) Pré-fogo (cor vermelha)
resistência mecânica residual muito si-
Localização do eixo Resistência à compressão Resistência à compressão
da extração (MPa) (MPa)
milar à do núcleo do pilar, ou seja, a re-

3 mm da face (cor laranja) desprezada (0,0%)


sistência mecânica original (precedente

25 mm da face (cor negra) desprezada (0,0%)


a simulação de incêndio, fck = 140MPa),
conforme Tabela 1 e sumário de cores
100 mm da face (cor vermelha) 139,0 (98,8%) 140,7 (100%)
da Fig. 4 (situação hipotética).
200 mm da face (cor vermelha) 124,5 (88,5%)
350 mm da face (cor vermelha) 136,1 (96,7%)
O sumário de cores da Fig. 4 possui
uma boa correlação com a pesquisa

66 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


70 cm

59 cm

precursora desenvolvida por Ander-


berg (1978b) apud Purkiss (1996)5, po-
pularmente conhecida como “Método 70 cm 59 cm

dos 500ºC”, especificamente com as


premissas adotadas na aplicação do
método, concernente ao desprezo (ex-
clusão) de regiões periféricas da seção
transversal (Fig. 5).

u Figura 5
4.3 Propriedades mecânicas Redução da seção transversal em função da resistência mecânica
residuais do aço residual à compressão aferida posteriormente ao ensaio de simulação
de incêndio (situação hipotética)
No total, quatro amostras foram
extraídas manualmente com compri- referência. No caso do centro das faces principalmente, quando as amostras são
mentos úteis equivalentes a 60cm (para (armadura transversal ø 8mm), observa- “resfriadas ao ar”. O sumário de cores
cada amostra de barra de aço), através -se uma redução bem menor, da ordem da Fig. 7 indica o local das extrações
de prospecção superficial com auxílio de 10% na resistência à tração e da or- em comparação com as estimativas de
de marreta, ponteiro, talhadeira e disco dem de 25% no valor da tensão de esco- temperatura e as reduções de resistência
de corte especial para aço, sendo duas amento. Os resultados obtidos, possuem mecânica à tração do aço.
na região das arestas (longitudinais) e boa correlação com outros trabalhos Observa-se, também, que os pa-
duas na região das faces (estribos). Para experimentais5,6, que são unânimes em tamares de redução da tensão de
efeito comparativo, foi extraída também apontar que as propriedades residuais de escoamento das barras de aço amos-
a amostra de uma barra longitudinal da aços submetidos a temperaturas acima tradas, em virtude das altas temperatu-
região oposta ao fogo (protegida pela de aproximadamente 550ºC sofrem per- ras procedentes da exposição ao fogo,
alvenaria de fechamento do forno), a das irreversíveis e que a partir dos 700ºC acompanham os valores de redução
qual foi identificada como “amostra de essas se tornam bem mais evidentes, mecânica da resistência à tração, sendo
referência”. Exemplos de amostras ex- podendo superar perdas de 30%. Pes- válidas as mesmas observações referi-
traídas podem ser observados na Fig. 6. quisadores6 destacam, também, que das sobre os diâmetros das armaduras.
Os ensaios de tração nas amostras quanto menor o diâmetro da barra, me- Os patamares mais significativos da re-
de barras de aço extraídas foram reali- nor a magnitude de redução, sendo a dução da tensão de escoamento do aço,
zados no Laboratório de Equipamentos redução mecânica mais evidente para observados na Tabela 2 (da ordem 45%
Mecânicos e Estruturas (LEME) do IPT barras de aço com maiores diâmetros, para amostras de barras longitudinais
em uma Máquina Universal de Ensaios
tipo 03 (M.U.E. 03), fabricada pela Al-
fred J. Amsler & Co e os resultados po-
dem ser observados na Tabela 2.
De acordo com os dados obtidos
nos ensaios (Tabela 2) foi possível ob-
servar que as barras de aço longitudinais
(ø 16mm), alocadas nas arestas do pi-
lar, após resfriamento lento “ao ar”, so-
freram em média uma redução de sua
resistência à tração da ordem de 25%,
embora a tensão de escoamento tenha u Figura 6
Detalhe das amostras de barras de aço extraídas
reduzido em aproximadamente 45%,
(longitudinais e transversais)
quando comparadas com a amostra de

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 67


u Tabela 2 – Resultados obtidos nos ensaios realizados nas amostras de aço (armadura do pilar) comparados com a amostra
de referência

Amostras expostas ao fogo Amostra de referência


Amostra não exposta ao fogo
Arestas expostas ao fogo Faces expostas ao fogo
(concreto cor vermelha /
(concreto cor laranja / temperatura bem (concreto cor negra / temperatura
temperatura ambiente de
acima de 600ºC) máxima inferior a 570ºC)
aproximadamente 25ºC)
Barras longitudinais ø 16mm Estribos ø 8mm
Identificação “referência / original”
A B C D
Tensão de escoamento 354,0 ± 3 343,0 ± 3 464,0 ± 8 460,0 ± 9 623,0 ± 4
(MPa) (56,8%) (55,1%) (74,5%) (73,8%) (100%)
Resistência à tração 562,0 ± 4 556,0 ± 4 652,0 ± 10 698,0 ± 11 751,0 ± 4
(MPa) (74,8%) (74,0%) (86,8%) (92,9%) (100%)

extraídas das arestas e de 25% para bar- ca por difratometria de raios X e análises lises térmicas, foram realizados pela
ras transversais extraídas dos centros das térmicas por ATD-TG (análises termodife- equipe do Laboratório de Mineralogia
faces) estão diretamente relacionados, rencial e termogravimétrica). Planejou-se da Associação Brasileira de Cimento
também, com as diferenças de tempe- que as caracterizações mineralógicas e Portland (ABCP). As cinco amostras de
ratura nessas regiões, sendo que esses as análises térmicas fossem procedidas concreto extraídas do pilar de concre-
valores registrados corroboram as obser- em quatro amostras extraídas em regi- to (precedentemente e posteriormente
vações apontadas em outros trabalhos5,7. ões estratégicas do pilar protótipo expe- à exposição ao fogo) foram analisadas
rimentado, bem como em uma amostra termicamente em um equipamento Ri-
4.4 Caracterização mineralógica extraída da parte remanescente que gaku modelo TAS 100.
e análises térmicas permaneceu no pátio do Laboratório de Nos resultados obtidos observou-se
Materiais de Construção da Escola Po- claramente a similaridade na composição
Tendo em vista a evidente diferença litécnica da Universidade de São Paulo, mineralógica das Amostras 01 e 02 (re-
de coloração na parte superficial e inter- totalizando-se ensaios em amostras se- manescente USP e centro da face tran-
na do pilar protótipo após a simulação lecionadas de cinco regiões. sição, cor vermelha), ambas com colo-
de incêndio, algumas amostras foram Todos os exames de caracteriza- ração vermelha. No entanto, destaca-se
extraídas para caracterização mineralógi- ção mineralógica, bem como as aná- que uma delas (Amostra 02) foi exposta
ao fogo e a outra não (Amostra 01). Nes-
se caso, as difrações de raios X realiza-
das permitiram inferir que, certamente, a
Resistência mecânica à tração (residual)
do aço na parte laranja: 75%. amostra exposta ao fogo que preservou
70 cm Temperatura aproximada 900 ºC (estimada).
Barra de aço Ø 16 mm. a coloração vermelha, similar à original,
manteve as mesmas propriedades, in-
clusive mecânicas, do pilar de concreto
Resistência mecânica à tração (residual) de alta resistência nas condições prece-
do aço na parte escura (negra): 90%.
Temperatura aproximada 600 ºC (aferida). dentes à exposição ao fogo. No caso da
Barra de aço Ø 8 mm. Amostra 03 (centro da face transição, cor
70 cm
negra), foi possível verificar a presença de

Resistência mecânica à tração na parte


magnetita (Fe3O4), em substituição a he-
vermelha: 100% (amostra de referência). matita (Fe2O3), procedente da reação quí-
Temperatura ambiente 27 ºC.
Barra de aço 16 mm. mica de redução do óxido de ferro, a qual
foi induzida por uma atmosfera levemen-
te redutora na câmara do forno (carac-
u Figura 7 terizada pela combustão incompleta do
Resistências mecânicas à tração do aço, posteriormente à simulação
gás natural), pelas altas temperaturas e
de incêndio
pelo tempo da de simulação de incêndio.

68 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


u Figura 8
Difratogramas das amostras 4 e 5: aresta intacta e película superficial – região alaranjada
(com exposição ao fogo)

As Amostras 04 e 05 (aresta intac- total de somente 0,67%. Os teores de 5. CONCLUSÕES


ta e película superficial), ambas com portlandita também sofreram reduções 1. Independentemente dos ensaios
coloração laranja, se destacaram por significativas nessas regiões, sendo nu- para determinação da resistência
possuir uma mineralogia diferenciada, los no caso das amostras extraídas da mecânica à compressão dos teste-
principalmente, por sintéticos neofor- região das arestas (coloração laranja) e munhos extraídos, já seria possível
mados similares aos minerais akerma- de 3% na região escura. Como base inferir, somente pelo índice colori-
nita e wollastonita (Fig. 8). Observa-se comparativa, a amostra extraída da métrico, que a região do pilar onde
que a presença desses compostos parte que manteve a coloração verme- conservou sua coloração averme-
sintéticos, formados por sinterização, lha teve uma perda de massa total da lhada original praticamente não
na região mais exposta ao fogo (cor ordem de 12% e um teor identificado sofreu alterações significativas em
alaranjada), pode indicar a presença de portlandita da ordem de 9% (mesmo suas propriedades mecânicas;
de elevadas temperaturas, superiores teor encontrado na amostra remanes- 2. No caso da resistência mecânica
a 900ºC, necessárias para promover cente de referência que não foi exposta residual à compressão do concreto
o surgimento desses minerais anidros ao fogo), o que indicou a presença de exposto ao fogo, nota-se uma ex-
a partir dos compostos hidratados8,9. compostos ainda hidratados nessas re- celente correlação com as tempera-
Nessas amostras nota-se, também, giões (Fig. 9). turas mensuradas pelos termopares,
a presença de magnetita (Fe3O4), em
substituição a hematita (Fe2O3). 70 cm
Por sua vez, percebeu-se que as
Perda de massa na parte laranja: 0,67%.
análises térmicas contribuíram poten- Teor de portlandita identificado: 0% (nulo)
cialmente para indicar a real extensão
da degradação do concreto, que foi Perda de massa na parte
muito mais evidente através da verifica- escura (negra): 6%.
Teor de portlandita identificado: 3%
ção da perda de massa nas amostras. 70 cm

Foi possível constatar que as amostras


Perda de massa na parte
situadas na parte mais periférica do vermelha (referência): 12%.
pilar protótipo perderam valores bem Teor de portlandita identificado: 9%

menos significativos de massa em re-


lação à parte que manteve a coloração
vermelha original. Na parte escura (ne-
u Figura 9
gra) obteve-se uma perda de massa
Perdas de massa constatadas nas análises térmicas residuais e teores
total da ordem de 6% e na parte laranja de portlandita
(região da aresta) uma perda de massa

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 69


as quais, por sua vez, também, pos- dio). O caso mais expressivo deste ca-se que essas regiões degradadas
suem boa correlação com as diferen- fenômeno está relacionado com as também coincidem com os índices
tes mudanças colorimétricas, oca- armaduras de aço que estão no inte- colorimétricos e, por conseguinte,
sionadas pela presença do pigmento rior do elemento de concreto arma- com as mais altas temperaturas.
inorgânico base óxido de ferro. O pilar do: durante o incêndio, dependendo
protótipo teve um bom desempenho do posicionamento e da temperatu- 6. AGRADECIMENTOS
quando exposto 180min (3h) ao fogo, ra, podem perder da ordem de 75% Os autores agradecem especialmen-
mantendo sua integridade original ou mais de sua resistência mecânica te ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas
preservada em uma seção trans- à tração, a qual pode ser quase in- (IPT) pelo apoio nos ensaios de simulação
versal aproximada de 59cm x 59cm tegralmente recuperada dependen- de incêndio e principalmente nos ensaios
(dimensão original de 70cm x 70cm), do do método de resfriamento e da residuais do concreto e aço; às associa-
onde a coloração vermelha se mante- temperatura máxima atingida; ções e institutos nacionais ABCP (Asso-
ve (vide Fig. 5); 4. Quanto aos resultados obtidos nos ciação Brasileira de Cimento Portland),
3. A redução das propriedades mecâ- ensaios residuais, observa-se que ABECE (Associação Brasileira de Enge-
nicas residuais do aço foi mais signi- o emprego de exames de caracte- nharia e Consultoria Estrutural), ABESC
ficativa quanto maior a temperatura rização mineralógica e de análises (Associação Brasileira das Empresas de
e quanto maior o diâmetro da barra térmicas pode contribuir potencial- Serviços de Concretagem) e IBTS (Insti-
de aço. Sendo mais evidente ain- mente para avaliação de estruturas tuto Brasileiro de Telas Soldadas), pelo
da, devido ao processo de têmpera que sofreram intensa ação do calor, apoio profissional e financeiro; às empre-
empregado em sua fabricação, se o procedente de um cenário de incên- sas BASF, ENGEMIX, TECNUM, GCP,
tipo de resfriamento da amostra for dio, com a ressalva da interpretação VIAPOL, FRANÇA & ASSOCIADOS, RM
do tipo “ao ar”, sem uso de jatos correta dos resultados, no que tan- SOLUÇÕES, EKIPE-C e PhD ENGE-
de água. Observou-se também que ge principalmente a contaminação NHARIA, pelo fornecimento de materiais,
os resultados obtidos nos ensaios de água nas amostras extraídas. Foi equipamentos especiais, mão de obra
de propriedades residuais não po- possível constatar uma mineralogia e suporte financeiro para o desenvolvi-
dem ser considerados diretamente diferenciada, além de uma redu- mento e a realização de todo o programa
na avaliação do comportamento do ção menos significativa de massa, experimental; e finalmente agradecem
material durante o evento de simula- as quais foram condizentes com as ao ilustre Dr. Venkatesh Kodur, que, em
ção de incêndio, pois parte de suas partes mais degradadas do concre- passagem pelo Brasil, acompanhou a
propriedades é de fato recuperada to, na região da periferia da seção pesquisa e trocou valiosas informações
na etapa de resfriamento (pós-incên- transversal do pilar protótipo. Desta- com estes pesquisadores.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. BRITEZ, C. A.; HELENE, P.; BILESKY, P.; BERTO, A. Avaliação experimental do concreto armado de alta resistência submetido a elevadas temperaturas. Concreto
& Construção, v. 67, p. 90-99, 2012.
2. HELENE, P.R.L.; HARTMANN, C.T. HPCC in Brazilian office tower. Concrete International, v.25, n.12, p. 64-68, Dec. 2003.
3. BRITEZ, C. A. Avaliação de pilares de concreto armado colorido de alta resistência, submetidos a elevadas temperaturas. São Paulo: USP, 2011. 252 f. Tese
(Doutorado em Engenharia), Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011.
4. FÉDÉRATION INTERNATIONALE DU BÉTON (fib). Fire design of concrete structures – materials, structures and modeling – State-of-art report. Lausanne, fib 2007.
97p. (Bulletin d’information; 38).
5. PURKISS, J. A. Fire safety engineering design of structures. Oxford: Butterworth-Heinemann, 1996. 369p.
6. CABRITA NEVES, I.; RODRIGUES, J. P. C.; LOUREIRO, A. P. Mechanical properties of reinforcing and prestressing steels after heating. Journal of Materials in Civil
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7. SUPRENANT, B. Evaluating fire-damaged concrete: concrete and reinforcing steel properties can be compromised at elevated temperatures, Fire Safety of
Concrete Structures, ACI SP-80. Michigan: American Concrete Institute, 1983.
8. JACOB, C. J. Bureau de Recherche Géologiques et Minières. Synthesis of wollastonite from natural materials without fusion. USA. US 3966884. 20 jun. 1974,
29 jun. 1976. United States Patent, 1976. Disponível em: <http://www.freepatentsonline.com/3966884.pdf> Acesso em: 25 nov.2010.
9. ROSENQVIST, T. Principles of extractive metallurgy. 2nd ed. Trondheim: Tapir Academic Press, c2004. 506p.

70 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


u pesquisa e desenvolvimento

Estudos experimentais sobre


o fenômeno de desplacamento
em estruturas de concreto
submetidas a elevadas
temperaturas
AUGUSTO GIL – Analista de projetos / mestrando BRUNO FERNANDES – Mestrando
FABRÍCIO BOLINA – Professor pesquisador / doutorando Universidade de Campinas (UNICAMP)
MICHAEL MOREIRA – Relações com o mercado / doutorando
BERNARDO TUTIKIAN – Professor
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos)

1. INTRODUÇÃO mente em suas propriedades mecâ- turas que, por sua vez, podem conduzir

O
estudo do comportamento nicas, que permitem o surgimento de ao colapso do elemento estrutural.
do concreto em elevadas fissuras e a ocorrência do fenômeno de Existem basicamente dois meca-
temperaturas tem conduzi- desplacamento, largamente conhecido nismos que podem desencadear o
do o setor da construção civil a avan- pelo termo em inglês “spalling”. desplacamento do concreto, conhe-
ços no que se refere à segurança con- O fenômeno de desplacamento é cidos como termomecânico e termo-
tra incêndios. Muito em função de sua caracterizado pelo desprendimento -hidráulico. A restrição de expansão e
elevada empregabilidade ao redor do das camadas superficiais de um ele- o gradiente de temperatura formado
mundo, o estudo do comportamento mento de concreto exposto a elevadas entre a superfície da estrutura exposta
de elementos de concreto em situação temperaturas. O rápido aquecimento ao fogo e o seu núcleo ainda resfriado
de incêndio tem fundamental importân- provoca o surgimento de tensões in- podem ocasionar tensões indiretas de
cia para garantir a segurança dos usu- ternas decorrentes da dilatação dife- tração, que podem conduzir ao despla-
ários e reduzir a perda patrimonial em rencial dos elementos constituintes do camento do concreto pelo mecanismo
casos de incêndio. material e de poropressões provenien- termomecânico. Por outro lado, parte
Pode-se considerar que o concre- tes das transformações físicas da água da água livre é dissipada pelo sistema
to apresenta um bom comportamento presente no interior do concreto. Essas de poros nas camadas superficiais,
quando submetido a altas temperatu- tensões, quando superam a resistência enquanto que o restante migra para
ras, devido às suas características in- à tração do material, ocasionam o fe- o interior do elemento, provocando o
combustíveis, sem propagar chamas, nômeno de desplacamento, que pode acúmulo de umidade e a formação de
liberar calor e fumaça, sendo ainda ca- ocorrer de forma suave ou severa, até uma camada saturada, que, ao entrar
paz de proporcionar isolamento térmico mesmo explosiva. Sua ocorrência pode em processo de evaporação, ocasiona
adequado. Entretanto, o aquecimento ocasionar a redução da seção transver- poropressões suficientes para desen-
provoca alterações consideráveis nas sal de um elemento e a exposição dire- cadear o desplacamento do concre-
propriedades do material, principal- ta das armaduras às elevadas tempera- to pelo mecanismo termo-hidráulico.

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 71


Apesar de esses mecanismos funcio- versidades e centros de pesquisa. Vi- relação entre os fatores que ocasionam
narem de forma independente, a pre- sando contribuir para esta demanda, o desplacamento, o que limita o de-
ponderância de cada um é discutível e criou-se em 2015 um núcleo de pes- senvolvimento de modelos de previsão
alguns autores defendem que a ação quisa sobre o tema no itt Performance fidedignos quanto ao comportamento
combinada desses dois mecanismos é – Instituto Tecnológico em Desempe- das estruturas de concreto em situação
a forma mais comum de ocorrência do nho e Construção Civil da Unisinos. O de incêndio. Por estar atrelado a vários
fenômeno (Figura 1). presente artigo apresenta resultados fatores, muitos deles combinados entre
A ocorrência do fenômeno do des- experimentais obtidos no âmbito deste si, os resultados de estudos têm levado
placamento pode se dar de diversas projeto, onde foi estudado o compor- a divergências entre os pesquisadores
formas e geralmente é dividido em seis tamento de elementos estruturais em acerca da caracterização dos parâme-
categorias: desplacamento de agrega- escala real (pilares e painéis pré-fabri- tros que são indutores do fenômeno
do; desplacamento de aresta; despla- cados) submetidos a ensaios de resis- do desplacamento.
camento de superfície; desplacamento tência ao fogo. A maior parte desses estudos tem
explosivo; desplacamento por delami- sido realizada em muflas elétricas, em
nação; e desplacamento pós-resfria- 2. ESTUDOS EXPERIMENTAIS corpos de prova de concreto sem ne-
mento. Cada uma dessas formas pode Considera-se que, mesmo após nhum tipo de reforço, expostos a ta-
apresentar diferentes características e décadas de pesquisas, ainda não foi xas de aquecimento constantes. Uma
fatores de influência e o fato de estarem possível compreender com precisão a das principais limitações deste tipo de
inter-relacionados aumenta a complexi-
dade na definição dos parâmetros para
predição de sua ocorrência. Os princi-
pais fatores estão relacionados com a
composição do concreto, característi-
cas do elemento estrutural e sua forma
de exposição. Destaca-se a resistência
e a idade do concreto, o tipo e tama-
nho dos agregados, teor de umidade e
permeabilidade do material, tempera-
tura máxima e a taxa de aquecimento,
forma e tamanho da seção transversal,
configuração das armaduras, presença
de fibras e a forma e a intensidade de
carregamento do elemento estrutural.
A descoberta do spalling não é re-
cente e entrou em maior evidência de-
vido a incêndios ocorridos em túneis
na década de 1990, principalmente no
Great Belt Tunnel (1994), no Channel
Tunnel (1996) e no Mont Blanc Tunnel
(1999). No entanto, a compreensão to-
tal dos parâmetros que desencadeiam
o fenômeno ainda é uma lacuna na
Fonte: Klingsch (2014, p. 31)
área, visto a natureza estocástica do
problema. No Brasil, o tema também
u Figura 1
tem despertado interesse e discussão
Mecanismos de desenvolvimento do fenômeno de desplacamento
entre pesquisadores em diversas uni-

72 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


ras e diferentes traços de concreto. A
influência do tempo de cura foi avaliada
em painéis de concreto pré-fabricados,
além do tipo de reforço empregado, de
acordo com os procedimentos apre-
sentados a seguir.

2.1 Procedimento de ensaio

A avaliação da resistência ao fogo


de sistemas construtivos é realizada
por meio do procedimento estabeleci-
do pela norma ISO 834-1 (ISO, 2014),
que serviu de base para os procedi-
mentos das normas brasileiras NBR
u Figura 2 5628 (ABNT, 2001) e NBR 10636
Curva padrão de incêndio em edificações (ABNT, 1989) para ensaios de elemen-
tos estruturais e ensaios de paredes
avaliação se refere às condições dos estrutura de concreto real, como as di- de vedação, respectivamente. Apesar
corpos de prova, uma vez que o pro- mensões da seção transversal de um dessas normas possuírem algumas
grama de aquecimento padronizado elemento, presença e configuração de diferenças em seus procedimentos, o
para ensaios de resistência ao fogo é armaduras, condições de vinculação e programa de aquecimento (Figura 2)
difícil de ser executado pela necessi- carregamento, que governam a distri- e requisitos exigidos na determinação
dade de equipamentos com alto poder buição de temperaturas e o estado in- do tempo de resistência ao fogo são
calorífico. Por outro lado, estudos rea- terno de tensões do elemento. os mesmos: estabilidade, estanquei-
lizados em corpos de prova não con- Obviamente que estudos realizados dade e isolamento térmico.
templam as diversas variáveis de uma em corpos de prova permitem obter Os ensaios de resistência ao fogo
uma ideia de padrão de comportamen- foram realizados em um forno vertical
to e são importantes para o desenvolvi- aquecido por quatro queimadores com
mento de estudos prévios. No entanto, gás liquefeito de petróleo, localizados
a influência do comportamento de um nas paredes laterais da câmara interna
elemento estrutural na resistência ao do forno, que possui 2,5 m de altura,
fogo será conhecida apenas pela rea- 2,5 m de largura e 1,0 m de profundi-
lização de ensaios que representem a dade. O forno é controlado por pressão
realidade. Mesmo assim, a variabilida- diferencial, com potência de aqueci-
de nos resultados poderá ser elevada, mento total de 654 kcal/h, sendo 396
visto a sensibilidade do material à ocor- kcal/h na parte inferior e 258 kcal/h na
rência de tal fenômeno. parte superior, programado para reali-
A seguir serão apresentados os zar o aquecimento automático de acor-
resultados de estudos realizados em do com a curva padrão.
elementos de concreto para verificar a Neste trabalho são apresentados os
influência que fatores exercem na ocor- resultados da avaliação dos elementos
rência do fenômeno de desplacamento. após sua exposição ao programa tér-
u Figura 3 Sendo assim, foram avaliados pilares mico, por meio da inspeção visual e da
Forno vertical empregado na
de concreto armado com diferentes es- determinação da perda de seção trans-
realização dos ensaios
pessuras de cobrimento das armadu- versal, quando possível.

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 73


2.2 Estudo em pilares de
concreto armado – influência
do traço de concreto e da
espessura de cobrimento

Este estudo teve como objetivo


avaliar a influência que a relação a/c
da composição do concreto, a espes-
sura de cobrimento e o diâmetro das
barras das armaduras principais exer-
cem sobre a ocorrência do fenômeno
de desplacamento. Para tanto, foram
avaliados 12 pilares de concreto arma-
Cob.: 25 mm Cob.: 30 mm Cob.: 40 mm Cob.: 50 mm
do pré-fabricados em escala real, pro-
Traço 1
jetados a partir da relação entre quatro
espessuras de cobrimento e três com-
posições de concreto. Os pilares pos-
suíam 300 cm de altura e seção trans-
versal quadrada com 25 cm de lado
(BOLINA, 2016).
A configuração de armaduras em-
pregada em todos os pilares é a mes-
ma, variando-se apenas a espessura
de cobrimento (25 mm, 30 mm, 40 mm
e 50 mm). Na face dos pilares exposta
ao aquecimento, foram adotados dois
diâmetros de armadura longitudinal co-
mumente empregados neste tipo de Cob.: 25 mm Cob.: 30 mm Cob.: 40 mm Cob.: 50 mm
Traço 2
elemento estrutural: 10 mm e 16 mm.
A armadura longitudinal na face não
exposta ao aquecimento foi constituída

Cob.: 25 mm Cob.: 30 mm Cob.: 40 mm Cob.: 50 mm


Traço 3

u Figura 4 u Figura 5
Protótipo de ensaio dos pilares Aspecto dos pilares após os ensaios de resistência ao fogo

74 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


por duas barras com diâmetro de 8 mm. dos comportamentos distintos entre as de cobrimento utilizada. Observou-se,
Os estribos, barras de diâmetro 6,3 mm amostras, principalmente no que se re- nas condições do estudo, tendência
e espaçados a cada 15 cm, foram amar- fere à liberação de água pelos pilares e ao aumento do desplacamento com o
rados com gancho de amarração em aos ruídos que pudessem caracterizar a aumento da resistência à compressão
ângulo reto. Todas as armaduras foram ocorrência do desplacamento do concre- axial do concreto até valores da ordem
constituídas por aço CA-50. to no interior do forno. A duração dessas de 60,0 MPa. Para valores de resistên-
As misturas foram produzidas com manifestações não ultrapassou 35 minu- cia à compressão superiores a 60,0
os mesmos materiais: cimento CPV- tos do ensaio e foram acompanhados MPa, o grau de desplacamento come-
-ARI, areia quartzosa, agregado graú- por liberação de água e vapor pela su- çou a diminuir.
do basáltico e aditivo plastificante. O perfície não exposta às altas tempera- O menor grau de desplacamento
teor de argamassa e o abatimento dos turas. O aspecto dos 12 pilares após os em concretos com valores de resis-
concretos foram fixados em 52% e 100 ensaios é apresentado na Figura 5. tência inferiores a 60,0 MPa pode ser
mm, respectivamente, variando o con- É possível verificar que a ocorrência explicado pelo fato de esses concretos
sumo de cimento e a relação a/c. Os do desplacamento do concreto se deu serem mais permeáveis e terem uma
resultados de resistência à compressão predominantemente nas arestas dos menor resistência à tração, reduzindo
potenciais foram 47,9 MPa, 61,9 MPa pilares e, em alguns pontos, alcançou a pressão no interior dos poros cau-
e 75,6 MPa, representativos dos traços toda a seção transversal exposta ou a sada pelo processo de evaporação da
1, 2 e 3, respectivamente. exposição da armadura. Após os en- água. Por outro lado, o menor grau de
O sistema desenvolvido para o en- saios, foi possível verificar que pedaços desplacamento para valores de resis-
saio consistiu em dois pilares embuti- de concreto ficaram presos no revesti- tência superiores a 60,0 MPa pode ser
dos em uma parede de alvenaria sobre mento interno do forno, o que carac- explicado por sua maior resistência à
uma estrutura metálica acoplável ao teriza a ocorrência do fenômeno de tração e, portanto, por sua capacidade
forno vertical, de modo que um lado e desplacamento do tipo explosivo em de absorver as tensões que provocam
dois cantos dos pilares fossem expos- alguns ensaios. A Figura 6 apresenta a o desplacamento do concreto. Sendo
tos às elevadas temperaturas (Figura relação entre os valores de resistência assim, pode-se afirmar que, para as
4). Todos os pilares foram expostos por à compressão axial e a perda de seção condições estudadas, há um valor de
240 minutos, sendo realizadas medi- transversal média. resistência à compressão crítico para
ções de temperatura na amostra e mo- Verifica-se que, nas condições des- a ocorrência do fenômeno de despla-
nitorados ruídos que pudessem carac- te estudo, o grau de ocorrência do fe- camento, sendo, neste caso, na ordem
terizar a ocorrência de desplacamento, nômeno de desplacamento pôde ser de 60,0 MPa.
principalmente do tipo explosivo. previsto por uma curva onde existem Um trabalho mais detalhado sobre
Durante a realização dos ensaios valores críticos de resistência à com- este estudo, abordando resultados de
de resistência ao fogo foram observa- pressão, de acordo com a espessura medições de temperatura e outras aná-
lises, já foi aceito para ser publicado
nas próximas edições da Revista Ibra-
con de Estruturas e Materiais.

2.3 Estudo em painéis de


concreto – influência do tipo
de reforço

Buscando-se comparar a influência


do tipo de reforço estrutural na resis-
tência ao fogo de painéis de concreto,
u Figura 6
foram realizados três tipos de painéis:
Influência da resistência à compressão no desplacamento
com reforço em armadura convencional,

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com armadura protendida e reforça- integridade por 240 minutos. No en- rém sem prejudicar o comportamento e
do com fibras de polipropileno (GIL et tanto, a amostra falhou no critério de o desempenho dos sistemas.
al., 2017). Os painéis com dimensões isolamento térmico 140 minutos após
315x100x10cm foram justapostos o início do teste. O desplacamento do 2.4 Estudo em painéis de concreto
para preencher um vão com largura concreto foi registrado em pontos isola- armado – influência do tempo
de 315 cm e altura de 300 cm, todos dos e no nível mais baixo. de cura
empregando o mesmo traço de con- A liberação de água e ruídos por
creto, com resistência característica desplacamento dos painéis armado Visando comparar a influência do
à compressão de 30 MPa. Os painéis e protendido ocorreram cerca de 20 teor de umidade na resistência ao
de concreto reforçados com fibras de minutos após o início do ensaio, con- fogo de painéis de concreto, foram en-
polipropileno tinham como armadura forme caracterizado pela literatura para saiadas amostras com 7, 14, 28, 56
convencional uma malha de aço com ocorrência do fenômeno. Contudo, e 84 dias de cura, submetidas à cura
espessura de cobrimento de 20 cm em observou-se que o uso de reforço (com ambiente (MOREIRA, 2016). Cada
sua face exposta ao fogo e espessura e sem tensão) e a presença de fibras amostra consistiu em três painéis com
de cobrimento de 25 mm em sua face de polipropileno tiveram uma influência dimensões de 100 x 315 x 10 cm, uni-
não exposta ao fogo. Foram adiciona- significativa na ocorrência do desplaca- das e seladas com selante resistente
das 3 kg/m³ de fibra de polipropileno mento do concreto. Os painéis reforça- ao fogo. O concreto utilizado possuía
na mistura de concreto. Cada placa dos com fibras não apresentaram des- resistência à compressão de 37,8 MPa
de concreto protendido foi produzida placamento do concreto, atendendo aos 7 dias; 43,5 MPa aos 14 dias; 59,9
com 6 barras de diâmetro 12.5 mm, aos critérios normativos por um perío- MPa aos 28 dias; 70,8 MPa aos 56
distribuídas no sentido de maior com- do mais longo, determinado pelo crité- dias e 75 MPa aos 84 dias. O reforço
primento da placa. As amostras foram rio de isolamento térmico. Verificou-se dos painéis foi composto de barras de
submetidas ao programa térmico pa- ainda que o selante elastomérico usado diâmetro de 5 mm e 8 mm, com cobri-
dronizado aos 28 dias de idade pelo para selar as juntas deteriorou-se, po- mento de 46 mm.
período 4 horas e o aspecto final de
cada tipo de painel pode ser verificado
u Tabela 1 – Verificação da influência do tipo de reforço na resistência ao fogo
na Tabela 1. de painéis de concreto
Os painéis em concreto protendido
exibiram menor desempenho quando Tipo de painel
expostos a altas temperaturas, porque Painel de concreto armado
Painel de concreto
não cumpriram o requisito mínimo de Painel de concreto armado reforçado com fibras
protendido
poliméricas
estabilidade. O desplacamento do con-
creto em toda a seção transversal foi
observado 18 minutos após o início do
teste. Os painéis de concreto armado
convencional atingiram requisitos ade-
quados de estabilidade e integridade
durante 240 minutos, falhando no cri-
tério de isolação térmica aos 210 minu-
tos. O desplacamento do concreto foi
registrado uniformemente na superfície
do painel inferior. Os painéis reforçados
com fibras de polipropileno mantiveram
sua integridade, conforme apresenta-
do na literatura. A amostra analisada
alcançou requisitos de estabilidade e

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O aspecto final das amostras, con- nas duas primeiras amostras, foi possí- dendo esta propriedade aos 72 minutos.
juntamente com imagens termográficas vel identificar estalos já nos primeiros 10 As demais cumpriram o requisito pela du-
registradas aos 90 minutos, pode ser minutos de ensaio. Também se verificou ração completa do ensaio. Por fim, o iso-
verificado na Tabela 2. maior perda de água nestas amostras, o lamento térmico foi o fator determinante
É possível verificar que o tempo de que ocorreu de forma mais reduzida na para o desempenho das amostras, sendo
cura afeta significativamente o compor- amostra com 84 dias de cura. a perda desta propriedade associada dire-
tamento dos painéis. As duas primeiras A influência do tempo de cura tam- tamente ao tempo de cura. A amostra de
amostras, de 7 e 14 dias, apresentaram bém afetou o tempo de resistência ao 84 dias apresentou o melhor desempenho
alto grau de desplacamento em suas fogo das amostras. Em relação à estabi- de todos, perdendo seu isolamento térmi-
placas constituintes. Com o acréscimo lidade, todas as amostras apresentaram co apenas aos 156,9 minutos.
de tempo de cura, a área desplacada comportamento satisfatório. Em relação à
reduziu, sendo nula na amostra com 84 estanqueidade, a amostra de 7 dias apre- 3. CONCLUSÃO
dias de tempo de cura. Ressalta-se que, sentou desempenho insatisfatório, per- O fenômeno do desplacamento do
concreto é um processo complexo, que
envolve diversas variáveis e parâmetros
u Tabela 2 – Verificação da influência do tempo de cura na resistência ao fogo
intervenientes. O presente artigo apre-
de painéis de concreto
sentou um panorama geral dos progra-
7 dias 14 dias 28 dias mas experimentais desenvolvidos no itt
Performance/Unisinos. Como caracte-
rística, ressalta-se o ineditismo das pes-
quisas realizadas, principalmente por se
tratar de amostras em escala real en-
saiadas em forno vertical normalizado.
Em relação aos ensaios de pilares,
foram avaliadas diferentes composições
do concreto, espessuras de cobrimen-
to e diâmetros das barras. Verificou-se
maior tendência ao desplacamento nos
pilares com maiores espessuras de co-
brimento e valores de resistência inter-
mediários, na ordem de 60 MPa. Esse
comportamento pode ser explicado pela
maior porosidade e permeabilidade des-
56 dias 84 dias tes concretos que permitem o alívio das
pressões causadas pela vaporização da
água, enquanto concretos com resistên-
cia maior do que 60,0MPa apresentam
maior resistência à tração, capazes de
absorver as tensões provocadas.
Quanto aos painéis, a pesquisa desen-
volvida avaliou três tipos de painéis pré-fa-
bricados: de concreto armado, de concreto
armado com fibras poliméricas e de con-
creto protendido. Em termos de desplaca-
mento, os painéis com fibras apresentaram
o melhor desempenho, enquanto os pai-
néis de concreto protendido apresentaram
o fenômeno na forma explosiva.
Outro estudo buscou avaliar a

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 77


influência do tempo de cura no desem- De maneira geral, verificou-se ex- projetistas a prever o comportamento do
penho de painéis pré-fabricados de con- perimentalmente a complexidade e a concreto em situação de incêndio, incre-
creto armado. Verificou-se que o tempo variabilidade do fenômeno em questão. mentando a segurança das estruturas e
de cura, e por consequência, o teor de Pode-se perceber que este está atrelado dos usuários em casos de sinistros.
umidade, influencia diretamente no grau não apenas às propriedades do concre-
de desplacamento do concreto, sendo to, mas também a condições de cura, 4. AGRADECIMENTOS
observado desplacamento intenso nas formas geométricas e tipo de reforço Ao Instituto Tecnológico em Desem-
amostras de 7 dias e 14 dias de tempo de utilizado. Ressalta-se que estudos ex- penho e Construção Civil – itt Perfor-
cura. Por sua vez, o fenômeno não foi ob- perimentais como estes, em larga esca- mance/UNISINOS pelo apoio financeiro
servado na amostra com 84 dias de cura. la, próximas a condições reais, auxiliam para realização destas pesquisas.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] KLINGSCH, E. W. H. Explosive spalling of concrete in fire. 2014. 252 f. Dissertation (Doctor of Sciences) -- Eidgenössische Technische Hochschule Zürich (ETHZ), Zürich, 2014.
[2] INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION (ISO). ISO 834: fire resistance tests – Elements of building construction. Geneva, 2014.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 5628: Componentes construtivos estruturais - Determinação da resistência ao fogo. Rio de Janeiro, 2001.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 10636: Paredes divisórias sem função estrutural - Determinação da resistência ao fogo - Método de ensaio.
Rio de Janeiro, 1989.
[5] BOLINA, Fabricio Longhi. Avaliação experimental da influência dos requisitos de durabilidade na segurança contra incêndio de protótipos de pilares pré-fabricados de concreto
armado. 2016. Dissertação de Mestrado. Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), São Leopoldo, 2016.
[6] GIL, A.; PACHECO, F.; CHRIST, R.; BOLINA, F.; KHAYAT, K.; TUTIKIAN, B. Comparative Study of Concrete Panels’ Fire Resistance. ACI Materials Journal, v. 114, n. 5,
p. 755-762, 2017.
[7] MOREIRA, M. A. B. Estudo da influência do teor de umidade na resistência ao fogo de placas maciças pré-fabricadas de concreto. São Leopoldo, 2016. 127 f. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Unisinos, São Leopoldo. 2016.

78 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


u seção
encontros
especial:
e notícias
ensino
| CURSOS
e aprendizado na engenharia civil

O ensino de Engenharia
passado a limpo
CLAUDIO DE MOURA CASTRO – Assessor da Presidência
Grupo Positivo

C
omo é possível que uma
profissão cujo papel é
construir o novo mundo
possa ficar tão atrasada na prepara-
ção dos futuros engenheiros, a quem
caberá esta tarefa? Esse é o tema do
presente ensaio.
Revisitamos a evolução do ensino
da Engenharia, incluindo o Brasil. Em
seguida, considerando a inteligência
das mãos, pregamos um ensino mais
prático e literalmente, com a mão na
massa. Diante deste desafio, revisa-
mos as velhas e as novas maneiras de
se conduzir uma sala de aula. Final-
mente, tentamos alinhavar as novas
tendências no ensino, inauguradas
em algumas instituições de ponta.
Os médicos que conhecemos são prática, mas seu ensino se refugia na
1. NASCIMENTO E EVOLUÇÃO o produto de um cruzamento que se exposição de teorias e pseudoteorias.
DO ENSINO DE ENGENHARIA deu no século XIX. Intelectuais que De prática, quase nada.
O ensino para as carreiras cientí- nem sequer tocavam nos pacientes A Engenharia é um caso muito
ficas tem uma longa história e pouca fundiram-se com os barbeiros que mais convoluto. Faz pouco mais de
mudança. A maneira de se ensinar Fí- eram também cirurgiões. Surpreen- um século, muitos dos engenheiros
sica ou Biologia é mais ou menos a dentemente, conseguiu-se uma ex- não eram mais do que mecânicos
mesma que se observava em séculos celente harmonia entre o ensino das práticos. A grande revolução se dá ao
pretéritos. Simplificando, é aula teóri- teorias e a clínica médica. De fato, é início do século XIX, com a fundação
ca e laboratório. o único curso profissional em que os da École Polytechnique, que vai para
Mas certas carreiras profissionais, dois lados convivem bem. o extremo oposto, pois foi fundada
cujo ensino é mais recente, encon- Em que pese esta proeza do ensino por cientistas. Cria-se então um curso
tram uma escolha difícil de enfrentar, médico, a convivência do ensino das com muita ciência, muita Matemática,
pois têm um lado teórico distante de teorias com o desempenho na práti- atividades em laboratórios e quase
um outro prático. O que é rabiscado ca sempre foi o calcanhar de Aquiles nada de prática. Os polos da prática
no quadro negro é uma imagem es- do ensino das profissões. A Adminis- sem teoria e da teoria sem prática são
maecida do mundo real. É árduo o tração de Empresas é um caso clás- os casos extremos dos muitos mode-
desafio de combinar os dois? sico. Busca preparar pessoas para a los de engenharia atuais.

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 79


Curiosamente, a Polytechnique foi Note-se, mesmo na França, trata- nólogos, pois seu número é ínfimo.
a fonte de inspiração para uma radical -se de um modelo elitista, voltado E mandando em todo mundo, está
mudança de rumo do ensino america- para os poucos candidatos de exce- um engenheiro que quase nada sabe
no. Não deve ser coincidência, mas lente preparação, o que não é mais dos processos sob a sua supervisão.
a École Polytechnique é uma escola o caso entre nós. De fato, sendo um Ou seja, há um vácuo profissional en-
militar e a americana que primeiro a modelo único para todos, chegam tre o peão e o nosso “polytechnicien”.
copiou foi West Point, que além de às nossas engenharias alunos sem O resultado bem conhecemos, um
ensinar Engenharia, é a academia mi- a base científica e de Matemática deles sendo a perda de 30% de ma-
litar do Exército Americano. O modelo requerida. teriais na obra. Poucos discordam de
foi progressivamente adotado pelas Mas, o que é pior: não temos a que estamos diante de um modelo
demais escolas de engenharia que se solução dupla da França e Alemanha. amplamente disfuncional. Em outros
formavam ou se transformavam. O tecnólogo deveria cumprir esse pa- ramos da Engenharia, os proble-
Sua escola de engenharia combi- pel. Mas nem em quantidade e nem mas podem ser menores, mas não
nou a “overdose” de teoria francesa em qualidade consegue dar conta estão ausentes.
com a sólida índole prática de tudo do recado.
que se faz naquele país. Ademais, Pensemos na construção civil. O 3. A INTELIGÊNCIA DAS
manteve no currículo um substancial nosso peão é tão analfabeto quan- MÃOS E A ENGENHARIA
conteúdo de Humanidades – inexis- to o argelino que carrega tijolos na Na transformação para Homo sa-
tentes na tradição francesa das esco- obra francesa. Mas acima dele há um piens, deixando de ser um primata
las puramente profissionais. francês com um Certificat d’Aptitude irrelevante, duas mudanças chamam
Aparte esse casos polares, o mun- Professionel (equivalente ao SENAI). a atenção. A primeira é o polegar,
do tendeu para soluções paralelas. No patamar seguinte está o graduado que cresce, tornando a mão uma fer-
Na Alemanha, forma-se o Ingenieur, de um Lycée Technique (equivalente ramenta muito mais versátil e pode-
mais teórico, em paralelo aos técni- ao nosso técnico). Ainda mais alto rosa. A segunda é o cérebro, que se
cos formados nas Fachhochschu- está o graduado da IUT. E no topo, o desenvolve, passando de 300 para
len. Com as variantes esperadas, o soberbo “polytechnicien”. Ou seja, há 1300 gramas. Mas essas não são
modelo duplo se reproduziu em boa gente com o perfil requerido em todos evoluções independentes. O cérebro
parte do mundo. Na própria França, os níveis da hierarquia da obra. cresce para permitir à mão façanhas
em contraponto à Engenharia teóri- Dentre nós, acima do peão há o antes impossíveis. E a mão estimu-
ca da Polytechnique, foram criados encarregado, um ex-peão, cuja for- la o cérebro a crescer, por abrir as
os Institutes Universitaires de Tech- mação é improvisada e cheia de limi- portas para manipulações cada vez
nologie (IUT), versões mais práticas tações. Não há técnicos e nem tec- mais ambiciosas.
da Engenharia.

2. COMO O BRASIL CRIOU


A SUA ENGENHARIA
Em grande medida, até a metade
do século XX, nossa Educação se ins-
pirou na França. Dada a forte influên-
cia cultural deste país, optamos por
copiar a École Polytechnique. Assim
sendo, há muita Matemática e mui-
ta teoria. Mas como as cópias ten-
dem agravar as fraquezas do copia-
do, temos pouco laboratório e ainda
menos prática.

80 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


Como isso acontece simultaneamen- conhecimento mora na cabeça, mas Como na Medicina, a didática da
te, as conexões neuronais das mãos entra pelas mãos”. Ao construir o que Engenharia deveria ser mais do que
se localizam nos campos mais novos quer que seja, as mãos aprendem e óbvia. Uma profissão em que se fa-
do cérebro, responsáveis pelo raciocí- ensinam para o cérebro. zem coisas só pode se aprender fa-
nio analítico – que avançava também Com esses comentários, passa- zendo. Mas nos cursos não se pra-
nesta etapa. Assim sendo, a mão e a mos a examinar os equívocos da di- tica, apenas se ouve falar de prática.
inteligência estão fisicamente conecta- dática predominante nos cursos de Lembremo-nos, tecnologia se apren-
das. Dizendo de outra forma, há uma Engenharia – que aliás, neste particu- de fazendo e não vendo a foto da má-
inteligência da mão. Vejamos o que di- lar, não é muito diferente das outras quina no livro.
zem autores acima de qualquer suspeita: carreiras. Em seguida, falamos de sua Esses são os problemas, sérios
u “Por ter mãos, o homem é o mais evolução recente. e muito bem conhecidos. De fato, a
inteligente dos animais” educação acontece na sala de aula e
(Anaxágoras) 4. ERROS E ACERTOS sem uma aula eficaz não há salvação.
u “O que temos que aprender, NA SALA DE AULA O lado bom é que conhecemos tam-
aprendemos fazendo” O ensino de Engenharia compar- bém os caminhos certos.
(Aristóteles) tilha com quase todos os outros cur- A primeira lição importante é que
u “A mão é a janela da mente” sos os mesmos problemas de uma só se aprende quando se aplica. O
(Kant) pedagogia velha e equivocada. Mas professor dá uma aula brilhante. O
u “A Inteligência da mão existe” isso não é um grande consolo. aluno fica admirado e acredita que
(Charles Bell) Apenas ouvir o professor jamais foi aprendeu. Mas se for proposta uma
u “Fazer coisas e fazê-las melhores uma boa maneira de aprender. Tam- aplicação, verá que não havia apren-
está na essência da humanidade” pouco é encher o quadro negro e obri- dido. Tem então que lutar bravamen-
(Piaget) gar os estudantes a copiar e memo- te com o assunto novo, até conseguir
u “Quando a mão e a cabeça se se- rizar o que lá está. Ensinar assuntos entender. Mas na volúpia dos currícu-
param, o resultado é uma disfun- cuja utilidade os alunos não percebem los frondosos e exagerados, raramen-
ção mental” é uma péssima ideia. Entupir os alunos te se aplica o ensinado. Fica então o
(R. Sennet) com mais matéria do que conseguem aluno na ilusão de que sabe, talvez
Se aprendemos com as mãos, digerir é outro erro contumaz, pois se quebrada no dia da prova – se esta
uma profissão cujo leit motiv é fazer não dá tempo para entender, o jeito pedir aplicação. Se isso não aconte-
não deveria jamais perder a ajuda das é decorar. Ouvir falar de tudo e não cer, é na obra ou na fábrica que vai
mãos ao ser estudada. Como diz uma aprender nada em profundidade é o tomar conhecimento das profundezas
corporação de ofício francesa: “O resultado dessa pedagogia. da sua ignorância.
É preciso entender claramente o
que é aplicação. Se a resposta está
no livro ou foi mencionada pelo pro-
fessor, não é aplicação, mas um mero
exercício de memória. Aplicar é ser
capaz de resolver um problema que
não foi proposto, que não é o mesmo
da aula. No fundo, é testar a portabili-
dade do conhecimento.
Em uma área aplicada como a En-
genharia, a prática não é simplesmen-
te aplicar mecanicamente números
a um algoritmo. A teoria não explica
tudo, não prevê tudo. É necessário

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 81


experimentar e, por via de conse-
quência, errar. E errar muito não é
má ideia. É a chance de entender
em maior profundidade. A tolerância
diante do erro faz parte da profissão.
Obviamente, não é na construção da
imensa ponte que se defende o direito
de errar. É no processo de aprender.
Outro princípio mais do que cen-
tral no aprendizado é a contextuali-
zação. De uma forma ou de outra, os
bons professores sempre mostraram
as ideias novas no bojo de outras já
familiares aos alunos. Esta boa prática
foi confirmada por ampla pesquisa, de-
monstrando que quando se aproxima a
ideia nova do que o aluno já conhece,
o nível de aprendizado é bem superior. cesa. Tudo começa com um pro- cepcional de figurantes. A Universida-
Uma coisa é decorar uma fór- blema real. de de Illinois adotou o modelo do Olin
mula. Outra coisa é entender o que 2 – Aplicação antes de aprender a e imagina-se que Olin será imitado
realmente ela quer dizer, como for- teoria. O problema real desperta múltiplas vezes, pois foi criado com
mulação sintética de uma teoria re- interesse e a busca de uma solu- esta intenção. As grandes universida-
lacionando algumas variáveis. Há ção, ainda que trôpega, prepara des americanas experimentam tam-
inúmeras maneiras de contextualizar, a cabeça para entender a teoria. bém em outras linhas. A Inglaterra se
para que a lei seja realmente apren- 3 – O que se ensina será contextu- revela talvez como o maior laboratório
dida e não apenas memorizada. Por alizado. Como já foi dito, o novo de experimentos em novos modelos
exemplo, contando histórias, usando precisa ser mostrado em uma si- de cursos de Engenharia.
metáforas, analogias ou através de tuação real e familiar para o aluno. No Brasil, ainda que tardiamente,
problemas e projetos. 4 – Mão na massa! instituições como a Politécnica da
Um dos fracassos mais conhe- Obviamente, o dito acima não pas- USP, o ITA e o IME formulam progra-
cidos nos cursos de Engenharia é sa de um resumo curto das falhas e mas ambiciosos de reformulação dos
a altíssima reprovação na disciplina das boas práticas no ensino de Enge- seus cursos. E resta lembrar o Insper
de Cálculo I. De fato, pode chegar a nharia. Mas pelo menos, dá uma ideia que criou um curso com assessoria
50%. Mas a razão é simples, o cálculo dos principais culpados pelos maus direta de Olin. Diante deste início de
não é contextualizado. Os professo- resultados, bem como aponta para movimentação, outras instituições co­
res não explicam para que serve cada novos rumos e estratégias de ensino. meçam a repensar seus cursos. O mo-
conceito ou como pode ser aplicado mento é interessante.
no mundo real. 5. REPENSANDO A ENGENHARIA Vale a pena tentar rascunhar os
Felizmente, há bons exemplos de E SEUS CURSOS novos rumos pensados para o ensino
inovação por aí. Devemos considerar Grandes cabeças estão hoje ten- da Engenharia. O que está dito adian-
quatro direções que está tomando o tando repensar os cursos de Enge- te foi fortemente inspirado por um en-
novo ensino de engenharia. nharia. O exemplo mais destacado é contro no ITA, no qual grandes figuras
1 – O uso do método indutivo, subs- o Olin Institute, cujo curso foi criado do ensino da Engenharia, brasileiros
tituindo a tradição dedutiva fran- do zero e concebido por um time ex- e estrangeiros, discutiram o assunto1.

1
E também, pelo já clássico livro de D. Goldenberg e M. Sommervile, A whole new Engineer (Douglas: Treejoy: 2014)

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Como foi claramente dito no Olin segue a tradição america- nômica. É da natureza da profissão
evento citado, a Ciência busca en- na de oferecer um ciclo de educa- que sem o lado econômico não é
tender o mundo. Já a Engenharia ção geral dentro dos quatro anos Engenharia, mas sim alguma forma
usa a Ciência para construir ou mu- de graduação (em contraste com a de diletantismo. Ou o cliente paga
dar o mundo. Mas a esse legado chamada Escola Napoleônica fran- a conta ou não se sai da miragem.
científico, soma milênios de expe- cesa, adotada no Brasil, na qual o E também se deve entender que
riência de fazer. Dito de outra for- ensino superior é puramente profis- sempre paira o risco de que os con-
ma, engenharia é combinar ciência sional). Não obstante, vai um pouco correntes consigam fazer melhor ou
com “fazeção”. Também é preci- mais longe, insistindo nas Humani- mais barato. A competição é parte
so entender, Engenharia não é um dades, nas leituras e na redação. Ou do cotidiano de um engenheiro.
corpo estático de conhecimentos, seja, o objetivo é formar um aluno Engenharia é integrar a inovação
mas um processo de usar ciência que enxerga além das equações e com o negócio. Tudo começa com
e experiência para fazer o que quer das oficinas. um bom diagnóstico: onde estamos,
que seja. Há também uma preocupação o que não funciona bem, o que po-
A Engenharia combina a beleza de instilar valores, tais como o cul- deria mudar, o que pode ser melho-
da ciência com a solução de pro- tivo da cultura da inovação e da rado? Mas note-se que, nesta eta-
blemas reais. Um dos seus grandes percepção da beleza nas obras. pa, é mais ciência do que técnica. É
atrativos é estar sempre com um Além disso, o aluno deve aprender na hora de encontrar e escolher so-
pé em cada lado desta dualidade a trabalhar em equipe. Tem também luções que se entra no seu âmago.
teoria/“fazeção”. que entender que o engenheiro im- Voltamos a insistir, a Engenharia
No modelo Olin, há sempre a provisa e que tudo pode ser melho- não é movida pela curiosidade, mas
preocupação de começar com um rado. Como já se disse, o bom en- pelo negócio. Fazer é só o início.
problema, ou melhor, um mistério. genheiro é quem faz com um dólar Alguém precisa comprar. Portanto,
Por que o viaduto caiu? Por que a o que qualquer idiota gasta dois. E vender pode até ser mais crítico ou
cozinha explodiu? Por que o aci- para tais empreendimentos, convive difícil do que criar um produto novo.
dente com o avião? Tenta-se dar ao sempre com o risco e a incerteza. Há muitos exemplos mostrando
curso uma índole de decifrar misté- Seja em Olin, seja nas grandes que uma tecnologia mais ou menos,
rios e enfrentar desafios. escolas de engenharia que se rein- porém bem vendida, faz mais vanta-
Fala-se sempre em resolver pro- ventam nos dias de hoje, há uma gem do que outra perfeita, mas que
blemas como o objetivo de um bom visão clara de que a missão do en- não se impôs no mercado. O exem-
curso de Engenharia. Mas em Olin, genheiro é criar um mundo novo, di- plo clássico é o VHS que desbancou
isso é pouco, considera-se essen- ferente e melhor. O engenheiro deve o Betamax, apesar de ser uma solu-
cial descobrir onde está o problema sempre estar se perguntando: o que ção tecnicamente inferior.
e não apenas encontrar soluções está mal, como posso melhorar, Resumindo, os grandes centros
para os problemas propostos. como posso consertar ou revolucio- de ensino de engenharia borbulham
Ao longo do curso, espera-se nar alguma coisa? O desafio da cria- com propostas de mudança. Já
que os alunos criem empresas de ção e da invenção é permanente. passaram da fase de serem apenas
verdade. Com efeito, está disponí- Mas ao mesmo tempo, os pés cogitações de professores idealistas
vel a cada aluno um crédito de 50 precisam estar solidamente no ou irrequietos. Há muitos experi-
mil dólares para iniciar a empresa chão. Só há inovação quando al- mentos bem sucedidos de trans-
concebida. guém compra. Engenharia é a fusão formação dos cursos. Mesmo no
Outra característica interessante da ciência com o negócio. Brasil, alguns dos melhores cursos
do curso é a presença próxima das Tudo tem custo e tudo pode ser estão planejando mudanças muito
empresas, não apenas colaborando, feito de diferentes maneiras. O de- significativas, seja no como, seja no
mas discutindo o que deve e o que safio é combinar uma boa solução que ensinar.
não deve ser ensinado. técnica com a sua viabilidade eco- Assim sendo, é hora de embarcar.

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 83


u normalização
encontros e notícias
técnica| CURSOS

Resistência ao fogo das


estruturas pré-moldadas de
concreto e as considerações
da ABNT NBR 9062:2017
CASSIANO DA SILVA ZAGO – Engenheiro Estrutural e Mestre em estruturas ÍRIA LÍCIA OLIVA DONIAK – Presidente Executiva
Leonardi – Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (ABCIC)

MARCELO CUADRADO MARIN – Diretor Técnico, Diretor de Engenharia e Secretário da Comissão de Estudos ABNT NBR 9062
Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto (ABCIC) – Leonardi

1. INTRODUÇÃO as, e, por fim, as questões relacionadas mente as solicitações impostas, fazendo

O
objetivo do presente artigo às ligações entre os elementos estrutu- com que a resistência do elemento seja
é apresentar os aspectos rais e o efeito do colapso progressivo. suficiente para evitar sua ruína. Porém,
referentes às estruturas Para tanto, se faz necessário o en- mesmo uma estrutura com resistência
pré-moldadas de concreto em situação tendimento de que as estruturas pré- admissível em situações de temperatu-
de incêndio, bem como os recentes es- -moldadas de concreto não se tratam de ra normal tem seu quadro alterado em
tudos internacionais monitorados pela elementos isolados, mas sim de uma so- situações de incêndio, pois, quando um
ABCIC (Associação Brasileira da Cons- lução estrutural, envolvendo a análise do elemento estrutural é submetido a altas
trução Industrializada de Concreto), por sistema estrutural como um todo. temperaturas, as suas características
sua participação na comissão 6 de pré- mecânicas sofrem alterações, podendo
-fabricação da fib (International Federa- 2. HISTÓRICO ocasionar danos estruturais com possível
tion for Structural Concrete) e por sua A industrialização da construção civil risco de colapso.
parceria com o PCI (Precast Concrete tornou-se um tópico recorrente quando Após estabelecido pela ABNT NBR
Institute). Não serão aprofundados os se trata de construções de grande porte 15200:2012 (Projeto de estruturas de
conceitos técnicos que envolvem a re- e que exigem o atendimento de prazos concreto em situação de incêndio) em
sistência ao fogo, objeto dos demais ousados, sem que haja o detrimento seu escopo que “Para estruturas ou
artigos desta edição da Revista CON- da qualidade e o desenvolvimento de elementos estruturais pré-moldados ou
CRETO & Construções. processos de execução que geram na- pré-fabricados de concreto aplicam-
Dentre os aspectos da matéria de turalmente soluções que atendam não -se os requisitos das Normas Brasilei-
suma importância, podem-se citar: o somente o desempenho, mas forma e ras específicas. Na ausência de normas
comportamento dos elementos estrutu- função. Neste cenário, a indústria do pré- específicas, aplicam-se as recomen-
rais frente ao sinistro, o efeito do “spalling” -moldado assimilou o conceito de quali- dações desta norma”, o tema da re-
nas peças de concreto armado e proten- dade e vem crescendo no decorrer dos sistência ao fogo foi abordado e con-
dido, questões relacionadas às melhorias anos, trazendo novos processos e tec- templado na recente publicação das
nos processos e produtos por meio de nologias em seus produtos. normas ABNT NBR 9062:2017 (Projeto e
pesquisas e prototipagem que servem Quanto ao dimensionamento estru- execução de estruturas de concreto pré-
como referência para melhorias contínu- tural, é necessário prever adequada- -moldado) e ABNT NBR 16475:2017

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(Painéis de parede de concreto pré-mol- placas portantes estruturais, localizado ser utilizadas. Para as outras que não
dado - Requisitos e procedimentos). em Londres, ocorreu o colapso pro- tiveram esse destino, poderiam ter so-
Nesse contexto, é necessário eviden- gressivo de parte da estrutura devido a frido algum tipo de reforço estrutural,
ciar o papel do projetista da estrutura e uma explosão de gás, causando assim porém, por motivos diversos, foram de-
a sua responsabilidade em projetar uma a morte de quatro pessoas e ferindo molidas. Por fim, quase sem exceção,
estrutura pré-moldada para suportar as mais dezessete. as estruturas funcionaram bem durante
ações e as alterações nas propriedades A notória ruína, causada por uma e após o incêndio.
mecânicas ocasionadas pelo aqueci- solução de baixa redundância, levou Na Europa, recentemente foi reali-
mento a altas temperaturas. Tanto é ver- a uma perda de confiança pública em zado um amplo estudo sobre a questão
dade que historicamente há exemplos de edifícios residenciais de grande porte da resistência ao fogo em um dos pro-
estruturas que sofreram tais solicitações que utilizam essa tipologia estrutural, dutos pré-fabricados considerado mais
e que, apesar dos prejuízos materiais e resultando dessa forma em grandes crítico. Nele, destaca-se que a laje
humanos, deixaram um legado no âmbi- mudanças nos regulamentos de cons- alveolar, utilizada em edifícios de mul-
to da segurança contra o incêndio. trução do Reino Unido. tipavimentos de grandes proporções,
Na cidade de Rotterdam, na Ho- Apesar dessa ruptura não ter sido especialmente na Bélgica e Holanda,
landa, ocorreu em 2007 um incêndio ocasionada diretamente por um incên- apresenta características que devem
nas garagens de um edifício de multi- dio, e sim por uma explosão, não deixa ser avaliadas com grande critério. Sua
pavimentos, localizado sob um com- de ser um exemplo real de uma es- geometria, sua armação ser composta
plexo de apartamentos. Logo após o trutura pré-moldada que merecia uma apenas por armadura ativa e, em algu-
início do incêndio, ocorreu o colapso atenção especial com relação às ações mas situações, a utilização de concreto
de parte do piso composto por placas excepcionais. Van Acker, em contri- de alto desempenho, tendo como ca-
alveolares protendidas. Apesar de não buição para o livro de Chastre e Lúcio, racterísticas principais a elevada resis-
ter sido um colapso completo, esta fa- apresenta soluções para o problema tência e o baixo índice de absorção,
lha não foi bem vista pela comunidade do colapso progressivo [2]. são exemplos de características impor-
técnica, ocasionando assim a necessi- tantes a serem avaliadas.
dade de se realizar um estudo abran- 3. CENÁRIO INTERNACIONAL Este estudo integra um projeto de-
gente para averiguar se este elemento Tendo em vista os casos descritos, nominado HOLCOFIRE (Hollow Core
estrutural teria sido capaz de resistir às lições podem ser aprendidas com base Fire Resistance), que consiste no esta-
solicitações impostas pela combinação no desempenho de edifícios que so- do da arte sobre o assunto e foi base-
da ação térmica e das cargas perma- freram incêndios reais. De acordo com ado em testes de laboratório que con-
nentes sobre as placas. a publicação do texto “Concrete and duziram a uma análise estatística com
Alguns desses trabalhos foram pu- Fire Safety” pela The Concrete Centre 162 resultados de ensaios, simulações
blicados em revistas especializadas e [3], diferentes tipologias de estruturas com métodos de elementos finitos em
outros resultados foram resumidos em de concreto danificadas pelo fogo no diferentes situações de projeto e meto-
uma carta aberta da BFBN (Federação Reino Unido foram investigadas. Nesta dologias revisadas. Envolvendo toda a
dos fabricantes de produtos de concreto investigação foram reunidas informa- indústria europeia, seu escopo foi defi-
na Holanda), nos Países Baixos, em no- ções sobre o desempenho, avaliação nido na Bélgica em 2009 e apresentado
vembro de 2009 e depois em uma carta e reparação de mais de 100 estrutu- em maio de 2010 na Holanda. Por fim,
atualizada em junho de 2011, incluindo ras, incluindo edificações residenciais, foi finalizado em 2013, após exausti-
as conclusões encontradas pelos auto- escritórios, armazéns, fábricas e esta- vos trabalhos realizados nos labora-
res [1]. Esses trabalhos contribuíram de cionamentos. As tipologias estruturais tórios mais renomados da Europa em
forma significativa para a compreensão examinadas incluíam pisos planos, condições de ensaiar não apenas ele-
da resposta mecânica das lajes alveola- vigas e pilares, tanto pré-moldadas mentos isolados, mas o sistema estru-
res quando submetidas a tal ação. quanto de concreto moldado “in loco”. tural como um todo.
No caso do edifício Ronan Point, de Foi concluído que a maioria das es- Os dados foram publicados em um
21 andares, com tipologia estrutural em truturas foram reparadas e voltaram a livro em 2014, pela BIBM (Federação

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 85


tes tipologias. Na Bélgica, com estrutura
tipo esqueleto com núcleo rígido molda-
do “in loco” (Figura 1) e, na Holanda, com
painéis autoportantes (Figura 2). A primei-
ra missão técnica da ABCIC realizada em
2008 visitou, acompanhada do projetista
Arnold Van Acker, um dos idealizadores
destes edifícios, a fábrica produtora dos
elementos e também as obras em fase
Fonte: FIB, 2004
de montagem.
Uma das obras visitadas foi o Edi-
u Figura 1
Sistema estrutural em esqueleto com núcleo rígido (central) fício North Galaxy, em Bruxelas, con-
cluído em 2009, com 28 pavimentos e
107 metros de altura (Figura 3). Neste
das associações de estruturas pré- te ocorrido em Rotterdam, concluiu que empreendimento foi utilizada a solução
-fabricadas da Europa), que coordenou os sistemas de lajes alveolares atendem em pré-moldados, por apresentar uma
as atividades definidas neste projeto a todos os regulamentos de segurança, resistência ao fogo superior a duas ho-
e organizou as reuniões do grupo de qualidade e requisitos de resistência ao ras sem necessidade de proteção com-
trabalho, reunindo os mais renomados fogo. Além disso, o estudo salientou que plementar e por manter a rapidez de
experts e pelo IPHA (International Pres- as lajes alveolares apresentam desempe- execução característica dos processos
tressed Hollowcore Association). O título nho adequado quando expostas ao fogo, industrializados, com comprovado de-
do livro em tradução livre é “O compor- e que, portanto, a sociedade pode conti- sempenho térmico e acústico.
tamento estrutural das lajes alveolares nuar a confiar no desempenho deste tipo Mais recentemente na missão técnica
protendidas expostas ao fogo”. de solução [4]. de 2016, foi realizada uma visita, na Di-
O estudo, registrando que existe na Na Bélgica e Holanda, a solução com namarca, a um hotel 100% pré-fabricado
Europa milhões e milhões de metros pré-fabricados de concreto tem sido am- em sistema de painéis com lajes alveola-
quadrados de lajes alveolares já instala- plamente utilizada em edifícios de múlti- res (Figura 4), composto por duas torres
das, com base numa infinidade de testes plos pavimentos, de altura considerável de 23 andares, 76,5 metros de altura, in-
realizados e nas conclusões do aciden- de até 60 andares, porém, com diferen- clinação de 15 graus em direções opos-
tas e cujo case foi apresentado por seu
projetista no ENECE (Encontro Nacional
de Engenharia e Consultoria Estrutural)
em 2015, e publicado na íntegra na revis-
ta “Industrializar em Concreto”.

4. CENÁRIO BRASILEIRO
As referências obtidas no Manual
do PCI, bem como uma análise de nor-
mas europeias e estudos acadêmicos
diversos, como o projeto HOLCOFIRE,
formaram a base de discussões das
propostas para a Comissão de Estu-
Fonte: FIB, 2004 dos da ABNT (Associação Brasileira
de Normas Técnicas). Esse aporte de
u Figura 2
informações motivou um amplo debate
Sistema estrutural com painéis portantes e lajes alveolares protendidas
sobre o tema e resultou no acréscimo

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considerável de diretrizes para o di-
mensionamento e formulação da pro-
posta que culminou com a aprovação
e a publicação da norma ABNT NBR
9062:2017, atendendo ao disposto no
escopo da ABNT NBR 15200.
O tema de projeto de estrutura em
situação de incêndio foi, na versão de
2006, abordado em apenas 4 linhas e
referenciava a norma ABNT NBR 15200.
Havia uma lacuna na abordagem de
alguns elementos em concreto pré-
-moldados (lajes alveolares e painéis ma-
u Figura 3
ciços de concreto). A revisão da norma
Edifício North Galaxy, em Bruxelas, em construção
em 2017 permitiu estabelecer critérios
e parâmetros de dimensionamento para
os elementos citados. Esse grupo de tra- cortante, foram estabelecidas relações no gradiente de temperatura; as perdas
balho teve a colaboração do professor de redução, conforme Tabela 1. de protensão e o efeito do spalling, que
Fernando Stucchi, da POLI/USP (Escola Os critérios para avaliação dos pai- é o lascamento explosivo que ocorre nas
Politécnica da Universidade de São Pau- néis maciços em situação de incêndio faces do elemento de concreto exposto a
lo), que conduziu uma avaliação baseada correlacionam a espessura do painel, o altas temperaturas. Além disso, uma aná-
nos Eurocódigos e normas europeias es- tipo de agregado empregado na sua pro- lise térmica computacional é apresentada
pecíficas, como a espanhola, e debateu dução e o TRRF (Conforme tabela 2). buscando simular o gradiente de tempe-
o tema com especialistas no âmbito da Para o dimensionamento dos pilares ratura na seção transversal das lajes.
fib (International federation for structural e vigas em concreto pré-moldado, a nor-
concrete) [5]. Como resultado deste tra- ma especifica que a estrutura como um
balho e dos debates ocorridos na Comis- todo deve ser projetada atendendo aos
são de Estudos da ABNT, a ABNT NBR requisitos das ABNT NBR 14432 e ABNT
9062:2017 apresenta no seu texto indi- NBR 15200, bem como da ABNT NBR
cações de verificação com relação ao in- 8681, quanto às combinações de ações
cêndio como se descreve na sequência. a serem consideradas.
Para as lajes alveolares foram con- Na área acadêmica, atualmente pou-
sideradas três condições de contorno cos trabalhos são publicados no Brasil
para dimensionamento à flexão: lajes envolvendo o tema do pré-moldado em
biapoiadas, lajes biapoiadas confinadas situação de incêndio. Com destaque,
e lajes contínuas confinadas. A defini- pode-se citar Zago [6], que apresenta as
ção da distância da face do elemento principais questões em um dimensiona-
estrutural ao eixo da armadura (c1) de- mento de lajes alveolares em situação
pende de três fatores: de incêndio. Os tópicos abordados pelo
u Condição de contorno; autor são: o comportamento quanto à
u Msd incêndio
: Esforço solicitante de pro- flexão; o comportamento quanto ao ci-
jeto para combinação de ações na salhamento; a aderência da armadura
situação de incêndio; protendida no concreto; o efeito do con-
u TRRF: Tempo requerido de resistên- finamento da laje por meio da capa es- u Figura 4
Edifício Bella Sky,
cia ao fogo. trutural de concreto armado; a influência
em Copenhagen
Para avaliação da capacidade à força das características geométricas da seção

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 87


u Tabela 1 – Relação de redução de cortante

Espessura das lajes (com ou sem capa)


(mm)
dados pelos documentos normativos
TRRF ≤ 210 220 - 350 > 350
brasileiros e internacionais são suficientes
VRd incêndio / (VRd) em % para determinar a capacidade de supor-
30 100 100 100 te do elemento estrutural em situação de
60 80 75 70 incêndio. No entanto, por ser um tema
90 75 70 65 pouco abordado nacionalmente, estudos
120 70 60 55 complementares são necessários para
180 50 45 45 dar continuidade ao seu trabalho.
Onde: VRd é o esforço cortante resistente de cálculo em temperatura ambiente e o VRd incêndio é o esforço cortante resistente de
cálculo em situação de incêndio
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista os tópicos abor-
u Tabela 2 – Espessura mínima do painel maciço em função do TRRF e tipo dados neste artigo, fica evidenciada a
de agregado aplicabilidade do sistema estrutural em
pré-moldado para todas as solicitações
Espessura efetiva em função da resistência ao fogo impostas, ou seja, fazendo um bom uso
(mm) das normas e dos conceitos técnicos é
Tipo de agregado
1h 1,5 h 2h 3h 4h possível tornar a estrutura segura e confi-
(60 min) (90 min) (120 min) (180 min) (240 min)
ável, obtendo assim sucesso em um pro-
Argila expandida, vermiculita
65 80 90 115 130 jeto mesmo em situações de incêndio.
ou ardósia expandida
Pedras calcárias 75 90 110 135 160 Vale salientar que os acidentes
Pedras silicosas (quartzos, ocorridos no passado não podem ser
80 100 120 150 175
granitos ou basaltos) esquecidos nem negligenciados, pois
eles são exemplos reais e que, ape-
O efeito do spalling é tratado no o efeito do lascamento explosivo não sar dos prejuízos materiais e humanos,
trabalho do autor, e é comentado que oferece grande prejuízo, uma vez que deixaram um legado no âmbito da se-
os requisitos para a prevenção do este elemento possui um baixo teor de gurança contra o incêndio. Nesse con-
spalling nos elementos estruturais são umidade. No entanto, o autor adverte texto a norma ABNT NBR 9062:2017,
apresentados no Eurocode, que reco- que, para os casos em que se observa alinhada com o panorama internacio-
menda um teor de umidade no concre- um teor de umidade elevado (U > 3%), nal, onde há uma efetiva participação
to abaixo de 3%. Abaixo desse valor, é necessário que medidas corretivas brasileira, apresenta uma resposta no
portanto, considera-se que existe pou- sejam adotadas. sentido evolutivo da tecnologia e na-
ca probabilidade de ocorrência desse Como conclusão, o autor defende turalmente na contribuição acerca das
efeito. Para o caso de lajes alveolares, que os modelos matemáticos recomen- lições aprendidas.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] LANGE, D.; McNANEE, R. J. Modelling of hollow core concrete construction exposed to fire. Brandforsk, Estocolmo, 2016, 60 p.
[2] CHASTRE, C.; LÚCIO, V. Estruturas pré-moldadas no mundo. Aplicações e comportamento estrutural. Editora Parma, Ltda, 2012, 320 p.
[3] The Concrete Centre. Concrete and Fire Safety. How concrete contributes to safe and efficient structures. Camberley, 2008, 16 p.
[4] JANSZE, W.; ACKER, A. V.; BELLA, B. D.; HOLTE, R. K.; LINDSTROM, G.; PY, J. P.; SCALLIET, M.; NITSCH, A; BENHOFER, H. Structural behaviour of prestressed
concrete hollow core floors exposed to fire. ‘s-Hertogenbosch: Uitgeverij BOXPress, 2014. 226 p.
[5] MARIN, M.C. ABNT NBR 9062:2017 Projeto e Execução de Estruturas de Concreto Pré-moldado. CONCRETO & CONSTRUÇÕES, n.86, p. 37-44, 2017
[6] ZAGO, C. S. Análise comparativa dos métodos de dimensionamento de lajes alveolares em situação de incêndio. 2016. 189 p. Dissertação (Mestrado) –
Departamento de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2016.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9062: Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado - procedimento. Rio de Janeiro -
PROJETO DE REVISÃO, 2016. 57 p.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15200: Projeto de estruturas de concreto em situação de incêndio. Rio de Janeiro, 2012. 48 p.
[9] FEDERATION INTERNATIONAL DU BETÓN, fib(CEB-FIP). Planning and Design Handbook on Precast Building Structures, 2nd edition, 2004.

88 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


u normalização técnica

Comitês Técnicos do IBRACON


e entidades parceiras –
ações de fortalecimento da
normalização de concreto
e estruturas
INÊS LARANJEIRA DA SILVA BATTAGIN – Engenheira Civil, Superintendente do ABNT/CB-018
Assessora da Presidência – IBRACON

1. INTRODUÇÃO expressão nos últimos anos, sendo senvolvimento e registro do conheci-

N
ormalizar, em seu mais feito neste artigo um relato das con- mento, possibilitando reunir especia-
amplo sentido, é estabe- quistas obtidas. listas em torno de objetivos comuns,
lecer as bases técnicas visando a busca de soluções técni-
aceitas pela sociedade para ativida- 2. COMITÊS TÉCNICOS IBRACON cas viáveis para problemas específi-
des ou seus resultados. E ENTIDADES PARCEIRAS cos. Esse é basicamente o modelo
Esse entendimento, aceito in- Criar, divulgar e defender o cor- adotado por instituições técnicas em
ternacionalmente, aliado à força da reto conhecimento sobre materiais, todo o mundo e também no Brasil.
normalização técnica oficial nas eco- projeto, construção, uso e manuten- No caso específico do IBRACON,
nomias desenvolvidas e emergentes, ção de obras de concreto, desenvol- muito empenho foi dedicado à for-
há anos direciona a atuação de enti- vendo o seu mercado, articulando mação de Comitês Técnicos até o
dades setoriais na preparação e na seus agentes e agindo em benefício início dos anos 2000. No entanto,
difusão de documentos que possam dos consumidores e da sociedade, com raras exceções, verifica-se que
servir de base à aprovação de nor- em harmonia com o meio ambiente, não houve continuidade no desen-
mas nacionais e internacionais. são objetivos estatutários do Institu- volvimento desse trabalho.
No campo específico do con- to Brasileiro do Concreto. Uma nova abordagem em 2012
creto, seus materiais constituintes e Para cumpri-los, o Instituto orga- veio propor mudanças nesse pro-
aplicações, muitas são as referências niza atividades diversas, como cur- cesso, com a aprovação de um re-
internacionais que merecem citação. sos, congressos, seminários, publi- gulamento específico para os Comi-
No entanto, não cabe aqui enumerá- cações, concursos, palestras, entre tês Técnicos, o estabelecimento de
-las, mas apenas ressaltar casos de outras. Nesse contexto, a sociedade parcerias com entidades afins e a
avanços expressivos, obtidos com ora atua como autora ora como usu- criação do CTA – Comitê Técnico de
planejamento e trabalho continua- ária dos produtos oferecidos pelo Atividades, com a seguinte missão:
do, comparando-os com a realidade IBRACON e essa sinergia fortalece Promover a formação e o de-
nacional. tanto a entidade como o meio. senvolvimento de Comitês Téc-
Neste cenário, a atuação dos Co- Os Comitês Técnicos aparecem nicos em todas as áreas do co-
mitês Técnicos do IBRACON ganha nesse cenário como células de de- nhecimento ligadas ao concreto.

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 89


Atuar de forma a direcionar e a com missões claramente estabelecidas. contribuição prestada à engenharia
dar suporte ao planejamento e ao Mais de trezentos profissionais nacional.
desenvolvimento das atividades se dedicaram ao desenvolvimento Para não deixar de citar o im-
desses Comitês, em consonân- dos trabalhos desses Comitês Téc- portante trabalho realizado em anos
cia com os trabalhos nacionais nicos nos últimos cinco anos e os anteriores, as Tabelas 2 e 3 mos-
e internacionais de normalização resultados obtidos estão consoli- tram também as Práticas Recomen-
técnica. dados nas Tabelas 2 a 4. A cada dadas publicadas pelo IBRACON
Avanços interessantes foram cons- um desses profissionais dedico um antes de 2012 e o texto-base ela-
tatados desde então, iniciando pela sincero agradecimento, pela for- borado pelo Comitê de Projeto de
constituição e instalação dos Comitês ma ética com que sempre concilia- Estruturas de Concreto (CT 301),
Técnicos relacionados na Tabela 1, ram suas diferenças e pela valiosa em apoio à normalização nessa área.

u Tabela 1 – Comitê Técnicos IBRACON e entidades parceiras 1

Comitê Técnico Missão


CT 101 – Comitê Técnico IBRACON Contribuir para a construção de sociedades sustentáveis por meio de ações voltadas para adoção de gestão,
de Gestão Ambiental de Concreto e planejamento e gerenciamento com a finalidade de minimizar a utilização de recursos naturais e energia,
Estruturas de Concreto conservar o meio ambiente e melhorar a qualidade de vida.
Reunir o corpo técnico com o propósito de ampliar o conhecimento sobre a reação álcali-agregado e, dentro
CT 201 – Comitê Técnico IBRACON
desse escopo, promover o desenvolvimento de documentos que auxiliem no direcionamento técnico visando
de Reação Álcali-Agregado
à durabilidade das estruturas.
CT 202 – Comitê Técnico IBRACON Promover a integração dos diversos setores envolvidos na produção do concreto autoadensável, fortalecendo
de Concreto Autoadensável o desenvolvimento dessa tecnologia e o seu uso.
CT 301 – Comitê IBRACON/ABECE – Promover a integração dos diversos setores envolvidos no Projeto de Estruturas de Concreto, fortalecendo
Projeto de Estruturas de Concreto o desenvolvimento desse setor e a tradição brasileira de construir em concreto.
CT 302 – Comitê Técnico IBRACON Integrar o meio técnico no estudo e no fortalecimento de ações visando a durabilidade do concreto e das
de Durabilidade e Vida Útil estruturas de concreto, de forma a ampliar o conhecimento sobre as técnicas de avaliação da vida útil dessas
de Estruturas de Concreto estruturas e dos processos construtivos, para utilizar todo o potencial do concreto.
CT 303 – Comitê Técnico IBRACON/
Promover a integração dos diversos setores na utilização de materiais não convencionais para reforço
ABECE de Materiais não convencionais
de estruturas de concreto (reforço estrutural, armaduras não metálicas e concreto reforçado com fibras),
para Estruturas de Concreto, Fibras e
visando a integração do setor de projetos e materiais.
Concreto Reforçado com Fibras
CT 304 – Comitê Técnico IBRACON/ Fortalecer o desenvolvimento das soluções industrializadas em concreto no país, promovendo a integração
ABCIC de Pré-Fabricados de Concreto dos setores de projeto, produção, controle da qualidade e montagem de estruturas pré-fabricadas.
CT 401 – Comitê Técnico IBRACON Reunir o corpo técnico com o propósito de melhorar as metodologias de comprovação das características
de Ensaios de Concreto e propriedades do concreto e seus materiais constituintes.
Direcionar esforços para elaborar documentos que contribuam à ordenação, informação, disseminação do
CT 402 – Comitê Técnico
conhecimento, desenvolvimento técnico e normalização no setor de concreto e construção civil, no campo
de Ensaios Não Destrutivos
dos ensaios não destrutivos.
CT 701 – Comitê Técnico IBRACON de Promover a convergência dos profissionais envolvidos com o tema, de forma a estabelecer as bases
Inspeção de Estruturas de Concreto para o desenvolvimento de inspeções em estruturas de concreto.
Promover e organizar concursos e outras atividades estudantis correlatas, estimulando a competição sadia
CT 801 – Comitê Técnico IBRACON
entre alunos e instituições de ensino, despertando no futuro profissional o interesse pelo concreto e suas
de Atividades Estudantis2
estruturas, introduzindo conceitos firmes de qualidade, durabilidade, sustentabilidade e resistência.
CT 802 – Comitê Técnico IBRACON/ Integrar o meio técnico no estudo e no fortalecimento de ações visando a manutenção e a reabilitação das
ALCONPAT de Manutenção e estruturas de concreto, de forma a ampliar o conhecimento sobre Especificação, Controle Tecnológico e
Reabilitação de Estruturas de Concreto Aplicação de Produtos e Sistemas para Recuperação de Estruturas de Concreto.

1
Mais informações sobre os Comitês Técnicos, sua composição e forma de trabalho podem ser obtidas no site do IBRACON.
2
Em 2016, com alteração do Estatuto do IBRACON, foi possível criar a Diretoria de Atividades Estudantis, a partir da experiência e do dinamismo atingidos pelo CT-801, sob a
Coordenação da Enga Jéssika Pacheco.

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u Tabela 2 – Práticas Recomendadas elaboradas pelos Comitês Técnicos e lançadas pelo IBRACON

Coordenação
Título Comitê Técnico Formato Lançamento / publicação
e participantes

Coordenação:
CT 301 – Comitê
Estruturas de edifícios de Eng. Augusto Vasconcelos
IBRACON / ABECE –
nível 1 – Estruturas de Eng. Sérgio Mangini 1998
Projeto de Estruturas
pequeno porte Eng. José Zamarion Diniz
de Concreto
14 participantes
Caderno Impresso,
42 páginas

Comentários Técnicos NB1 CT 301 – Comitê Coordenação:


(NBR 6118:2003 Projeto IBRACON/ABECE – Eng. Fernando Stucchi
Junho de 2003
de estruturas de concreto – Projeto de Estruturas Eng. Ricardo França
Procedimento) de Concreto 48 participantes
Caderno Impresso,
68 páginas

CT 301 – Comitê Coordenação:


Comentários e Exemplos
IBRACON/ABECE – Eng. Fernando Stucchi
de Aplicação da ABNT Junho de 2006
Projeto de Estruturas Eng. Ricardo França
NBR 6118:2014
de Concreto 48 participantes
Caderno Impresso,
260 páginas

Coordenação:
CT 301 – Comitê 57º Congresso Brasileiro
Comentários e Exemplos Enga Suely Bueno
IBRACON/ABECE – do Concreto, realizado
de aplicação da ABNT Eng. Alio Kimura
Projeto de Estruturas em Bonito – MS
NBR 6118:2014 CTA: Eng. Eduardo Millen
de Concreto 2015
89 participantes
Livro impresso,
480 páginas

Coordenação:
57º Congresso Brasileiro
Eng. Bernardo Tutikian
CT 202 – Comitê IBRACON do Concreto, realizado
Concreto Autoadensável Eng. Roberto Christ
de Concreto Autoadensável em Bonito – MS
CTA: Enga Inês Battagin
2015
59 participantes
e-book,
56 páginas

CT 303 – Comitê
IBRACON/ABECE – Coordenação: 58º Congresso Brasileiro
Projeto de Estruturas
Materiais Não Convencio- Eng. Marco Carnio do Concreto, realizado em
de Concreto Reforçado
nais para Estruturas de CTA: Enga Sofia Diniz Belo Horizonte – MG
com Fibras
Concreto, Fibras e Concreto 44 participantes 2016
Reforçado com Fibras e-book,
39 páginas

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 91


u Tabela 2 – Práticas Recomendadas lançadas elaboradas pelos Comitês Técnicos e lançadas pelo IBRACON (continuação)

Coordenação
Título Comitê Técnico Formato Lançamento / publicação
e participantes

Controle da Qualidade
do Concreto Reforçado
com Fibras
e-book,
31 páginas

Macrofibras de vidro álcali CT 303 - Comitê


resistentes (AR) para IBRACON/ABECE – Coordenação: 59º Congresso Brasileiro
concreto destinado a aplica- Materiais Não Convencio- Eng. Marco Carnio do Concreto, realizado
ções estruturais: nais para Estruturas de CTA: Enga Sofia Diniz em Bento Gonçalves – RS
Definições, especificações Concreto, Fibras e Concreto 29 participantes 2017
e conformidade Reforçado com Fibras e-book,
26 páginas

Macrofibras poliméricas
para concreto destinado
a aplicações estruturais:
Definições, especificações
e conformidade
e-book,
37 páginas

Cumpre registrar ainda o trabalho Finalmente, merece destaque nes- cumentação exigida pela ISO (texto
do CT 201 – Comitê Técnico IBRACON te relato, o apoio do CT 301 – Comitê da norma brasileira traduzida para o
de Reação Álcali-Agregado, iniciado Técnico IBRACON/ABECE de Projeto idioma inglês, informações sobre suas
há cerca de dois anos e que deve ser de Estruturas de Concreto às ações referências normativas, e um resumo,
concluído e publicado em 2018 como realizadas no âmbito internacional, em formato de check-list, apontando
Prática Recomendada de aplicação da para registro da norma de Projeto de de que forma a ABNT NBR 6118 aten-
nova ABNT NBR 15577 Reação Álcali- estruturas de concreto, ABNT NBR de aos requisitos internacionais); além
-Agregado (sete partes), em fase final de 6118, na ISO, conforme os critérios da realização da apresentação desse
aprovação pela ABNT. Com mais essa estabelecidos pela norma ISO 19338 conteúdo em reunião plenária do Co-
Prática Recomendada do IBRACON, – Performance and assessment requi- mitê Técnico da ISO, de especialistas
certamente o meio técnico poderá con- rements for design standards on struc- do IBRACON representando a ABNT.
tar com importantes esclarecimentos tural concrete, em duas ocasiões:
sobre a aplicação da nova ABNT NBR u em 2008, quando foi realizado o 3. CONCRETO E ESTRUTURAS
15577, que em suas sete partes abrange registro inicial (reunião do ISO/ DE CONCRETO NO ÂMBITO
a avaliação do risco de uma estrutura de TC71 em Los Angeles, nos EUA); INTERNACIONAL
concreto vir a apresentar manifestações u em 2015, quando esse registro foi Com mais de 200 Comitês Téc-
patológicas que possam interferir em seu renovado (reunião do ISO/TC 71 nicos, atuando nas mais diversas
funcionamento, bem como procedimen- em Seoul, na Coréia do Sul). áreas3, a ISO, entidade que congre-
tos de coleta e ensaios de verificação, Esse trabalho compreendeu, mas ga atualmente 162 países, respon-
tanto dos agregados como do concreto. não se limitou, à preparação da do- sáveis por 98% da economia mundial,

3
A ISO desenvolve as Normas Internacionais, excluídas apenas as áreas elétrica, eletrotécnica e de telecomunicações.

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desenvolve as normas internacionais Técnica geral passou a ser exercida pelo Coréia do Sul e dois pelo Japão), con-
por consenso entre seus membros ACI – American Concrete Institute em tando com 51 normas publicadas e 24
(Organismos Nacionais dos Países Mem- 1993, por delegação da ANSI – Ameri- projetos em desenvolvimento.
bros), contando atualmente com mais can National Standards Institute (repre- O envolvimento desses e de outros
de 24.000 documentos publicados e sentante oficial dos Estados Unidos na países e a celeridade dada à aprovação
em vigor. 4
ISO). Esse Comitê Técnico Internacional dos projetos de norma, demostra o in-
Concreto simples, concreto armado conta atualmente com sete subcomitês teresse na normalização técnica inter-
e concreto protendido são tratados no (secretariados respectivamente por Isra- nacional, que é reconhecida pela OMC
âmbito do ISO/TC71, cuja Secretaria el, Noruega, Estados Unidos, Colômbia, – Organização Mundial do Comércio.

u Tabela 3 – Textos-base de normalização elaborados pelos Comitês Técnicos do IBRACON e entidades parceiras

Coordenação do CT Ano de entrega dos


Título Comitê Técnico Situação atual*
e participantes* textos-base para a ABNT
CT 301 – Comitê Coordenação:
ABNT NBR 6118
IBRACON/ABECE – Eng. Fernando Stucchi Norma publicada
Projeto de estruturas 2001
Projeto de Estruturas Eng. Ricardo França pela ABNT em 2003
de concreto
de Concreto 48 participantes
Coordenação:
CT 301 – Comitê
ABNT NBR 6118 Enga Suely Bueno
IBRACON/ABECE – Norma publicada
Projeto de estruturas Eng. Alio Kimura 2012
Projeto de Estruturas pela ABNT em 2014
de concreto CTA: Eng. Eduardo Millen
de Concreto
89 participantes
ABNT NBR 9452 Coordenação:
CT 701 – Comitê IBRACON
Inspeção de pontes, Enga. Adriana Rivera Norma publicada
de Inspeção de Estruturas 2014
viadutos e passarelas de CTA: Eng. Júlio Timerman pela ABNT em 2016
de Concreto
concreto – Procedimento 8 participantes
Coordenação:
ABNT NBR 15823 Eng. Bernardo Tutikian
CT 202 – Comitê IBRACON Norma publicada
Concreto Autoadensável Eng. Roberto Christ 2016
de Concreto Autoadensável pela ABNT em 2017
(seis partes) CTA: Enga Inês Battagin
59 participantes
Coordenação:
ABNT NBR 15577 CT 701 – Comitê IBRACON
Enga Adriana Rivera Projeto em Consulta
Reação Álcali-Agregado de Inspeção de Estruturas 2016
CTA: Eng. Júlio Timerman Nacional pela ABNT
(sete partes) de Concreto
8 participantes
Coordenação:
ABNT NBR 9607 Prova de CT 701 – Comitê IBRACON
Enga Adriana Rivera Projeto em Consulta
carga em estruturas de de Inspeção de Estruturas 2016
CTA: Eng. Júlio Timerman Nacional pela ABNT
concreto armado e protendido de Concreto
8 participantes
ABNT NBR 8802 Coordenação:
Concreto endurecido – Eng. Rodrigo Moyses Costa
CT 402 – Comitê IBRACON Projeto em Comissão
Determinação da velocidade Enga Juliana F. Fernandes 2016
de Ensaios Não Destrutivos de Estudo da ABNT
de propagação de onda CTA: Enga Inês Battagin
ultrassônica 8 participantes
ABNT NBR 7584 Coordenação:
Concreto endurecido – Eng. Rodrigo Moyses Costa
CT 402 – Comitê IBRACON Projeto em Consulta
Avaliação da dureza Enga Juliana F. Fernandes 2016
de Ensaios Não Destrutivos Nacional pela ABNT
superficial pelo CTA: Enga Inês Battagin
esclerômetro de reflexão 8 participantes
* As informações desta tabela se referem ao trabalho realizado pelos Comitês Técnicos do IBRACON e entidades parceiras. A menção à situação dos trabalhos de normalização no âmbito da ABNT
(última coluna da direita desta tabela) serve apenas para mostrar que houve continuidade nas ações propostas e efetividade no cumprimento das metas estabelecidas.

4
Detalhes sobre a normalização internacional ISO podem ser obtidos no site da entidade: www.iso.org.

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 93


A título de ilustração merece des- ração de publicações e do desenvolvi- do ISO/TC71 é explicada pelo acordo
taque o trabalho realizado pelo ACI – mento de eventos diversos, é dar supor- existente entre a ISO e o CEN – Comi-
American Concrete Institute, que conta te às atividades de normalização técnica tê Europeu de Normalização, desde o
atualmente com mais de 3.000 especia- nacional e, no âmbito internacional, à início dos anos 2000, tendo em vista a
listas voluntários, atuando em cerca de atuação do ACI como secretaria técnica adoção das normas da comunidade eu-
120 comitês ativos, nas áreas relativas do ISO/TC71. 5
ropeia (EN) como base para os trabalhos
a concreto e estruturas de concreto. A A aparente distância dos países eu- de normalização internacional, sempre
atuação desses comitês, além da elabo- ropeus dos trabalhos de normalização que não houver referência melhor.

u Tabela 4 – Eventos realizados com a participação dos Comitês Técnicos

Evento Ação Comitê Técnico Ano


54º Congresso Brasileiro Reunião dos Comitês Técnicos para
Geral 2012
do Concreto (Maceió – AL) Formalização da Nova Estrutura
CT 201 – Reação Álcali-Agregado
CT 301 – Projeto de Estruturas de Concreto
Instalação de cinco
CT 302 – Durabilidade e Vida Útil 2013
Comitês Técnicos
CT 401 – Ensaios de Concreto
55º Congresso Brasileiro CT 701 – Inspeção de Estruturas de Concreto
do Concreto (Gramado – RS)
Mesa-Redonda: projeto, produção,
uso, manutenção e inspeção para CT 701 – Comitê IBRACON de Inspeção
2013
redução de riscos e aumento de de Estruturas de Concreto
vida útil de estruturas de concreto
Apresentação do estágio de
desenvolvimento do trabalho Todos
dos Comitês Técnicos
CT 101 – Gestão Ambiental de Concreto e Estruturas
56º Congresso Brasileiro
Instalação de três novos Comitês CT 801 – Atividades Estudantis 2014
do Concreto (Natal – RN)
CT 402 – Ensaios Não-Destrutivos
Realização dos Concursos
Estudantis (APO, COCAR, CT 801 – Comitê IBRACON de Atividades Estudantis
CONCREBOL e OUSADIA)
Apresentação dos Comitês Técnicos Todos
CT 202 – Concreto Autoadensável
CT 303 – Materiais Não Convencionais para
Instalação de dois novos Comitês
Reforço de Estruturas de Concreto, Fibras
e Concreto Reforçado com Fibras
Lançamento da Prática Recomenda-
CT 301 – Comitê IBRACON/ABECE
57º Congresso Brasileiro da com Comentários e Exemplos de
de Projeto de Estruturas de Concreto 2015
do Concreto (Bonito – MS) Aplicação da ABNT NBR 6118
Lançamento da Prática
Recomendada de Concreto CT 202 – Comitê IBRACON de Concreto Autoadensável
Autoadensável
Realização dos Concursos
Estudantis (APO, COCAR, CT 801 – Comitê IBRACON de Atividades Estudantis
CONCREBOL e OUSADIA)
1º Workshop Internacional Realização do Workshop com
CT 303 – Comitê IBRACON/ABECE de Materiais Não
do CT 303 palestrantes internacionais e
Convencionais para Reforço de Estruturas de Concreto, 2016
(USP – São Paulo – SP, nacionais de renome (participação
Fibras e Concreto Reforçado com Fibras
08-04-2016) de mais de cem expectadores)

5
Fonte: https://www.concrete.org/committees.aspx.

94 | CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018


u Tabela 4 – Eventos realizados com a participação dos Comitês Técnicos (continuação)

Evento Ação Comitê Técnico Ano


Apresentação do estágio de
desenvolvimento do trabalho Todos
dos Comitês Técnicos
Lançamento da Prática
CT 303 – Comitê IBRACON/ABECE de Materiais Não
Recomendada de Projeto
Convencionais para Reforço de Estruturas de Concreto,
58º Congresso Brasileiro de Estruturas de Concreto
Fibras e Concreto Reforçado com Fibras 2016
do Concreto (Belo Horizonte – MG) Reforçado com Fibras
III Seminário sobre Pesquisas e
CT 202 – Comitê IBRACON de Concreto Autoadensável
Obras em Concreto Autoadensável
Realização dos Concursos
Estudantis (APO, COCAR, CT 801 – Comitê IBRACON de Atividades Estudantis
CONCREBOL e OUSADIA)
15º ICAAR – International
Participação na organização e na
Conference on CT 201 – Comitê Técnico IBRACON
realização do evento realizado no 2016
Alkali-Aggregate Reaction de Reação Álcali-Agregado
período de 3 a 7 de julho de 2016
(São Paulo – SP)
Apresentação do estágio de
desenvolvimento do trabalho Todos
dos Comitês Técnicos
CT 304 – Comitê IBRACON/ABCIC de Pré-Fabricados
Instalação de dois Comitês Técnicos CT 802 – Comitê IBRACON/ALCONPAT de Manutenção
e Reabilitação de Estruturas de Concreto
III Simpósio de Durabilidade CT 802 – Comitê IBRACON/ALCONPAT de Manutenção
das Estruturas de Concreto e Reabilitação de Estruturas de Concreto
Lançamento das Práticas
59º Congresso Brasileiro Recomendadas a seguir:
do Concreto • Controle da qualidade do 2017
(Bento Gonçalves – RS) concreto reforçado com fibras
• Macrofibras de vidro álcali-
-resistentes (AR) para concreto CT 303 – Comitê IBRACON/ABECE de Materiais
destinado a aplicações estruturais Não Convencionais para Reforço de Estruturas de
• Macrofibras poliméricas para Concreto, Fibras e Concreto Reforçado com Fibras
concreto destinado a aplicações
estruturais
II Simpósio de Concreto
Reforçado com Fibras
IV Seminário de Concreto
CT 202 – Comitê IBRACON de Concreto Autoadensável
Autoadensável

Por sua vez, a normalização eu- dades que a precederam e deram e Consultoria Estrutural e da ABCIC – As-
ropeia conta com a forte atuação origem (como a FIP – International sociação Brasileira da Construção Indus-
da fib – Federation Internationale du Federation for Prestressing e o CEB – trializada de Concreto. Recentemente, o
Béton, entidade que reúne 45 paí- Comité Européen du Béton) por meio IBRACON passou a fazer parte do grupo
ses e congrega grandes especialis- de seus dez Comitês Técnicos, que nacional, com a assinatura de convênio
tas na área do concreto, seus mate- respondem também pela organização entre as entidades em evento da fib re-
riais constituintes e aplicações. Com de diversos eventos internacionais. alizado no Brasil em setembro de 2017.
expressiva produção literária de al- Desde 2007, o Brasil participa dos Deve ser registrado o empe-
tíssima qualidade, a fib avança nos trabalhos da fib com a atuação da ABE- nho da ABCIC no fortalecimento da
temas da cultura herdada das enti- CE – Associação Brasileira de Engenharia normalização técnica brasileira de

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 95


estruturas e elementos pré-moldados
de concreto, que conta com especia-
listas na Comissão 6 da fib (Pré-fa-
bricados), tendo finalizado o ano de
2017 com todas as normas brasileiras
atualizadas e em grau de conteú-
do técnico compatível com as mais
avançadas do mundo. O CT 304 –
Comitê IBRACON/ABCIC de Pré-Fa-
bricados, instalado no 59º Congresso Telas da apresentação sobre a normalização técnica brasileira de concreto
estrutural, realizada pela autora, no evento da fib, em setembro/2017
Brasileiro do Concreto, em 2017, tem
já uma agenda de trabalho encabeça-
da por uma Prática Recomendada de consecução dos objetivos propostos já do da Europa e recebido em barris de
Comentários e Exemplos de aplicação está estruturado em bases sólidas. madeira nos portos brasileiros). Entida-
da ABNT NBR 9062:2017 – Projeto e Não há divergências entre a nor- des como ABCP – Associação Brasileira
execução de estruturas pré-moldadas malização técnica brasileira e a inter- de Cimento Portland, INT – Instituto Na-
de concreto; iniciativa a ser desenvol- nacional, mas particularidades que cional de Tecnologia e IPT – Instituto de
vida numa parceria entre as três enti- expressam a singularidade regional Pesquisas Tecnológicas foram responsá-
dades brasileiras que integram a fib, e que devem ser necessariamente veis pelas primeiras Reuniões de Labora-
ABCIC, IBRACON e ABECE. consideradas. tórios de Ensaios de Materiais, cujo gru-
Os Comitês da fib possibilitam um po de especialistas responde pelo início
intercâmbio de conhecimentos interes- 4. CRESCER É MAIS DO QUE das atividades de normalização técnica
sante, pois congregam diferentes paí- UMA NECESSIDADE no país.7
ses com realidades próprias. A elabora- É indiscutível a força das entidades Nos anos que se seguiram, a pu-
ção dos Códigos Modelo fib, lançados na consecução de objetivos setoriais, blicação de normas técnicas brasi-
periodicamente como base para os que podem gerar importantes avanços leiras superou as expectativas e a
Eurocódigos de Estruturas de Con-
6
nos campos técnico e social, ultrapas- ABNT tornou-se reconhecida na-
creto, reúne os maiores especialistas sando até mesmo seus ideais ou metas cional e internacionalmente, tendo
do mundo em cada um dos temas tra- previamente estabelecidas. participado da fundação da ISO –
tados e é provavelmente a publicação Para contextualizar essa afirmativa, International Organization for Standar-
mais conhecida da entidade. vale lembrar alguns fatos que marca- dization, em 1947.
O recente interesse por estender o ram a história da normalização brasi- Diversos fatores contribuem para o
Código Modelo de 2020 (fib MC2020) leira, como a publicação das primeiras sucesso de iniciativas como as apre-
para os países em desenvolvimento, normas da ABNT e sua fundação, que sentadas, onde se incluem os trabalhos
considerando sua cultura e as dificulda- tiveram origem na necessidade da so- dos Comitês Técnicos já mencionados.
des em implementar tecnologias mais ciedade técnica do início do século 20 Dentre esses fatores cumpre salientar:
avançadas ou de maior custo, tem de estabelecer padrões para comparar u tradição/cultura do país (ou
levado representantes da fib a várias diferentes produtos e avançar no de- região);
regiões do globo e possibilitou a reali- senvolvimento de tecnologias próprias. u percepção da importância do valor
zação de evento da entidade em São Notadamente nas questões de segu- a longo prazo;
Paulo, em setembro de 2017. rança, faltavam regras para os processos u envolvimento de pessoas, empre-
Das conclusões desse evento de- construtivos e metodologias de ensaios sas, entidades e outros.
preende-se que há muito trabalho a ser que possibilitassem avaliar os materiais Trata-se de trabalho não remunera-
desenvolvido, mas o caminho para a empregados (como o cimento, importa- do, que tem como resultado imediato

6
Normas da Comunidade Europeia para o Projeto e a Execução de Estruturas.
7
Detalhes acerca da história da normalização brasileira podem ser obtidos no livro Concreto – Ciência e Tecnologia, publicado pelo IBRACON em 2011.

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Foto comemorativa dos 70 anos da ISO8. O Brasil foi representado pelo Eng. Francisco de Assis Basílio,
presidente da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) à época.

unicamente a satisfação por aqueles na medida em que as publicações nacional, sem desmerecer ou ignorar
que dele participaram e que perce- aproximam ainda mais o Instituto o contexto internacional. Vale aqui
bem a importância de vê-lo finalizado do meio técnico e constituem fonte uma reflexão, que deve ser estendida
e publicado. de recursos, sendo incentivo para para além de nossas fronteiras, relati-
Para o IBRACON e suas en- sua continuidade. va à participação efetiva das nossas
tidades parceiras, as conquistas Para o avanço dos trabalhos de instituições, representadas por seus
aqui apresentadas reafirmam o normalização técnica, por sua vez, especialistas, em todos os foros que
comprometimento com os objeti- são inestimáveis contribuições, que direta ou indiretamente têm interface
vos estatutários e agregam valor, possibilitam o registro da realidade com a nossa realidade.

8
Fonte: www.iso.org.br.

SISTEMAS DE FÔRMAS PARA


EDIFÍCIOS: RECOMENDAÇÕES
PARA A MELHORIA DA QUALIDADE
E DA PRODUTIVIDADE COM
REDUÇÃO DE CUSTOS

Autor: Antonio Carlos Zorzi

O livro propõe diretrizes para a racionalização de sistemas


de fôrmas empregados na execução de estruturas de
concreto armado e que utilizam o molde em madeira

As propostas foram embasadas na vasta experiência do


autor, diretor de engenharia da Cyrela, sendo retiradas de
sua dissertação de mestrado sobre o tema.

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DADOS TÉCNICOS
ISBN 9788598576237
Formato: 18,6 cm x 23,3 cm
Páginas: 195
Acabamento: Capa dura Aquisição:
Ano da publicação: 2015 www.ibracon.org.br
(Loja Virtual)

CONCRETO & Construções | Ed. 89 | Jan – Mar • 2018 | 97


u acontece nas regionais

Plano de atividades das Regionais do IBRACON


A s Regionais do IBRACON divulga-
ram seu plano de atividades para
2018. As informações detalhadas po-
u II Seminário de Engenharia Estrutural do
Estado da Bahia
com o primeiro a ser realizado dia 12 de
abril, no auditório 11 da Univates,
u II Congresso de Concreto do Recôncavo em Lajeado
dem ser acessadas na editoria “Regio- da Bahia SÃO CARLOS
nais” no site www.ibracon.org.br. MATO GROSSO DO SUL u Apoiar a organização do Degrada 2018
Confira a seguir os eventos programados: u CBPAT 2018 u Apoiar a organização do 4º Encontro
u Projeto de extensão IBRACON/UFMS/Senai ABECE-UFSCar de Engenharia de
AMAZONAS u Cursos de pós-graduação em convênio com IDD Estruturas
u Visitas técnicas às centrais dosadoras PARANÁ u Organizar Minicursos
de concreto u Organização do 60º Congresso Brasileiro
u Realizar Concurso Regional para
u Palestras em universidades e no Sindicato do Concreto
estudantes na área de Concreto,
dos Engenheiros do Estado do Amazonas u Palestras em instituições de ensino e
sugestão Sistemas Estruturais:
(Senge-AM) associações de engenheiros
Viga de Concreto Simples
u Semana de Engenharia da Universidade u Concurso estudantil regional
do Amazonas u Curso de extensão TOCANTINS
u Semana da Construção Civil do Instituto RIO DE JANEIRO u 1ª Mesa-Redonda sobre
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia u Elaboração do Glossário de Tecnologia Patologias em Estruturas
do Amazonas (IFAM) do Concreto de Concreto no Estado
BAHIA u Palestras técnicas de Tocantins
u 2º Seminário de Durabilidade, Manutenção RIO GRANDE DO SUL u V Campeonato de Resistência
e Desempenho de Estruturas de u IBRACON na Estrada Gaúcha: série de à Compressão da Faculdade Católica
Concreto Armado seminários de atualização tecnológica, u Palestras técnicas

27-29
agosto | 2018
SESSÃO ESPECIAL SOBRE CONSTRUÇÃO Centro de Convenções Frei Caneca
São Paulo/SP

CIVIL SERÁ TEMA NO CONAEND 2018 conaend.org.br


Chamada de Trabalhos Técnicos está aberta:
Contribua, com a sua experiência e formação,
para a diversificação e temas do Conaend&IEV 2018.

Envie seu trabalho técnico completo até 20 de abril


Associados IBRACON têm desconto na inscrição.
Mande e-mail para eventos@abendi.org.br e peça sua inscrição com desconto

Realização Apoio

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INSCRIÇÕES
ABERTAS

MAIOR E MAIS IMPORTANTE FÓRUM TÉCNICO NACIONAL SOBRE A


TECNOLOGIA DO CONCRETO E SEUS SISTEMAS CONSTRUTIVOS

Cotas de Patrocínio e Exposição

{ Excelentes oportunidades
para divulgação, promoção
e relacionamento

{ Espaços comerciais na XIV FEIBRACON


Feira Brasileira das Construções
em Concreto (veja na contracapa)
BRAZIL Foz do Iguaçu September 17-21, 2018
{ Palestras técnico-comerciais no
Seminário de Novas Tecnologias CONCURSOS
{ Inscrições gratuitas no evento { Conheça os regulamentos dos
concursos estudantis APO,
{ TELEFONE COCAR, CONCREBOL,OUSADIA e
(11) 3735-0202 CONCRETO – Quem sabe faz ao vivo
{ E-MAIL
{ Veja o regulamento do novo
arlene@ibracon.org.br
concurso “O ARTIGO DO ANO”

REALIZAÇÃO

Rua Julieta do Espírito Santo Pinheiro, nº 68 – Jardim Olimpia | CEP 05542-120 www.ibracon.org.br twitter.com/ibraconOffice
São Paulo – SP – Brasil | Telefone (11) 3735-0202 | Fax (11) 3733-2190 facebook.com/ibraconOffice

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September, 17-21, 2018

COTAS DE PATROCÍNIO | SPONSOR SHIP QUOTAS

MOEDA DIAMANTE OURO RUBI PRATA BRONZE

VALORES R$ 200.000,00 75.000,00 70.000,00 35.000,00 30.000,00

CURRENCY DIAMOND GOLD RUBY SILVER BRONZE

VALUES US$ 60,000.00 22,500.00 21,000.00 10,500.00 9,000.00

BENEFÍCIOS/BENEFITS

Estandes de 9 m2 com Montagem Básica


2 10 unid. = 90 m2 6 unid. = 54 m2 – 3 unid. = 27 m2 –
9 m Booth with Basic Assembly

Inscrições | Registrations 10 6 6 3 3

Palestra no “Seminário de Novas Tecnologias” 60 45 45 30 30


Lecture in “Seminar of New Technologies” minutos | minutes minutos | minutes minutos | minutes minutos | minutes minutos | minutes

PRESENÇA INSTITUCIONAL (LOGOMARCA):


INSTITUCIONAL PRESENCE (LOGO):

Site (link para sua página) | Site (link to your page) 1 1 1 1 1

Programa Final | Final Programm 1 1 1 1 1

Anais Eletrônicos | Electronic Proceedings 1 1 1 1 1

Newsletters 1 1 1 1 1

Sinalização Centro de Convenções e/ou Auditorios


1 1 1 1 1
Signalling of the Convention Center and/or Auditorium

Anuncio nos Anais no Formato Widescreen


1 1 1 1 1
Ad in the Proceedings in Widescreen Format

Proporção16:9 (JPG ou PDF) com 200 dpi 2 2 2 1 1


Dimension 16:9 (JPG or PDF) with 200 dpi páginas | pages páginas | pages páginas | pages página | page página | page

EXPOSITOR/ EXHIBITOR

MOEDA SÓCIO NÃO SÓCIO CURRENCY MEMBER NON-MEMBER

VALORES | VALUES (R$) 12.000,00 15.000,00 (US$) 3,600.00 4,500.00

BENEFÍCIOS | BENEFITS OBSERVAÇÕES


2
Estande de 9 m com Montagem Básica 1 unidade 1 unidade
As logomarcas serão dimensionadas proporcionalmente de acordo com
9 m2 Booth with Basic Assembly Unit 1 Unit 1
cada categoria de patrocínio. As escolhas de estandes serão por ordem
Inscrições | Registrations 1 1 de adesão.

PRESENÇA INSTITUCIONAL (NOME) EM: COMMENTS


INSTITUCIONAL PRESENCE (NAME) IN:

Site (link para sua página) | Site ( link to your page) 1 1 The logos will be proportionately scaled the according to each category
of sponsorship. Selection of the booths will be by order of accession.
Anais Eletrônicos | Electronic Proceedings 1 1

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