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CURSO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

“PROJETO DE ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO DE


EDIFÍCIOS DE PEQUENO E MÉDIO PORTE”

ASSUNTO: RESERVATÓRIOS

Prof. Marcos Alberto Ferreira da Silva

Ribeirão Preto, 2011


RESERVATÓRIOS DE CONCRETO ARMADO
1. INTRODUÇÃO

Os reservatórios usuais dos edifícios têm a forma de um prisma e são formados por um
conjunto de placas, podendo ter uma ou mais células. A divisão do reservatório em células tem a
finalidade de permitir a limpeza do mesmo sem que ocorra uma interrupção no abastecimento de
água do prédio.
Geralmente, são projetados dois reservatórios: um reservatório inferior, abastecido
diretamente pela rede pública, e um reservatório superior, abastecido por bombas de recalque
instaladas no próprio edifício.
Todas as instalações de água fria devem ser projetadas e construídas de modo a preservar
a qualidade da água de abastecimento, evitando sua contaminação pela presença de insetos ou
outros animais, pela água da chuva ou do lençol freático, etc. Nesse sentido, a NBR 5626:1998
exige um afastamento mínimo de 60cm entre as paredes do reservatório inferior e qualquer
obstáculo lateral, bem como entre o fundo e o terreno. Quando esses reservatórios forem
construídos dentro de um poço, este deve ser drenado continuamente.
Desse modo, não é permitido o uso de reservatórios enterrados para o armazenamento de
água potável, como se fazia antigamente. Assim, os procedimentos de cálculo dos esforços nos
dois tipos de reservatório são análogos. Por esse motivo, apenas os reservatórios elevados serão
detalhados ao longo deste texto.
Quando o reservatório for destinado ao armazenamento de outros líquidos, que não seja
água potável, é possível projetar o reservatório enterrado. Nesses casos, devem-se considerar as
hipóteses de reservatório cheio e reservatório vazio, para levar em conta o empuxo de solo.
A localização do reservatório elevado na estrutura depende das disponibilidades criadas
pelo arranjo geral dos pilares. Freqüentemente são utilizados os pilares que formam a caixa de
escada para apoiar o reservatório elevado, deixando-se os pilares do poço dos elevadores para a
sustentação da casa de máquinas.
A altura desses reservatórios não deve ultrapassar cerca de 2,5m, para evitar esforços
solicitantes exagerados nas lajes, mesmo que isto obrigue que algumas paredes do reservatório
fiquem em balanço em relação aos pilares (ver figura 1).
Na laje da tampa dos reservatórios devem existir aberturas de inspeção independentes
para cada uma das células. As dimensões usuais dessas aberturas são de 60x60cm ou 70x70cm,
sendo cobertas por placas pré-moldadas apoiadas em reforços nas bordas, capazes de evitar a
entrada de água da chuva ou de animais. A laje de tampa do reservatório é concretada em uma
segunda etapa.
Na figura 1, indicam-se alguns detalhes típicos dos reservatórios dos edifícios.
Por se tratar de uma estrutura espacial constituída por placas, o cálculo dos esforços
solicitantes nos reservatórios prismáticos é extremamente complexo. Uma vez que soluções
analíticas exatas são inexistentes, deve-se recorrer a métodos numéricos (por exemplo, o método
dos elementos finitos) ou a métodos simplificados; os métodos numéricos exigem o emprego de
um programa de computador. Neste texto serão abordados métodos simplificados de análise dos
reservatórios, os quais permitem a realização de um cálculo manual; neste caso, os esforços
solicitantes são obtidos com o emprego de tabelas para cálculo de placas (tabelas práticas para
lajes maciças).

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Figura 1 – Detalhes típicos dos reservatórios

2. CARGAS NOS RESERVATÓRIOS

As lajes que compõem o reservatório estão submetidas a cargas perpendiculares ao seu


plano médio, bem como a cargas atuando no próprio plano da laje. Tem-se, desse modo, um
funcionamento simultâneo como placa (para as cargas normais ao plano da laje) e como viga ou
viga-parede (para as cargas aplicadas no plano da laje).
Na fig. 2, indicam-se as cargas perpendiculares ao plano médio das lajes em um corte
vertical.

Figura 2 – Cargas para funcionamento como placas

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A laje da tampa está submetida a uma carga uniforme P1 , composta pelo peso próprio,
pelo revestimento e por uma sobrecarga mínima. No fundo atua a carga uniforme P2 , composta
pelo peso próprio, pelo revestimento e pela pressão hidrostática. As paredes estão submetidas a
uma carga triangular, cuja ordenada máxima P3 é igual à pressão hidrostática.
Do cálculo como placas, obtêm-se os momentos fletores nos diversos pontos das lajes do
reservatório, bem como suas reações de apoio. Uma vez que cada laje se apoia nas lajes vizinhas,
suas reações de apoio são transmitidas às lajes vizinhas como cargas aplicadas no plano médio
das mesmas.
As reações de apoio não são uniformemente distribuídas, porém, os esforços normais de
tração tendem a se uniformizar em direção ao centro das lajes. Desse modo, pode-se considerar
que as cargas aplicadas no plano das lajes são uniformes.

3. MÉTODO SIMPLIFICADO DE ANÁLISE

Nesse método, é feita a separação das lajes que compõem o reservatório em diversas lajes
isoladas, engastadas ou simplesmente apoiadas em suas bordas. Essas condições de contorno são
definidas em função da tendência de giro relativo das diversas placas. A validade da condição de
contorno das bordas engastadas é reforçada pelas mísulas que são obrigatoriamente empregadas
para garantir a estanqueidade das arestas do reservatório e facilitar a concretagem.
Na figura 3 encontram-se representadas as diferentes lajes com suas condições de
contorno.

Figura 3 – Condições de contorno das lajes

Os momentos fletores e as reações de apoio das lajes do reservatório podem ser obtidos
com o emprego de tabelas para o cálculo de placas (tabelas práticas para cálculo de lajes
maciças).
Os momentos fletores positivos obtidos para a laje da tampa já são os valores finais, uma
vez que a tampa é considerada simplesmente apoiada sobre as paredes. Porém, nas arestas
comuns a duas paredes ou a uma parede e a laje de fundo, resultam dois valores distintos para os
momentos negativos. O valor correto do momento negativo nessas regiões pode ser obtido em
função da rigidez das placas, porém, como uma simplificação, considera-se que o valor correto
desse momento negativo seja igual ao valor médio encontrado para as placas isoladas.
Na figura 4, são indicados os momentos fletores positivos e negativos obtidos
considerando-se as lajes isoladas, para um reservatório de uma célula. Nessa figura, as paredes
são representadas no plano horizontal, juntamente com a laje de fundo. A tampa não é
representada, já que o seu cálculo como laje isolada é definitivo.

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Figura 4 – Momentos fletores resultantes do cálculo das lajes isoladas

No método simplificado, os momentos negativos para o dimensionamento das armaduras


de ligação das lajes são considerados com os seguintes valores:

- ligação parede-parede: X p  (X1  X 2 )/2

(Yf  Y1 )/2
- ligação fundo-parede 1 e fundo-parede 2: Y  
0,8  maior entre Yf e Y1

(X f  Y2 )/2
- ligação fundo-parede 3 e fundo-parede 4: X  
0,8  maior entre X f e Y2

O método simplificado é o único método compatível com o cálculo manual. Os eventuais


erros de cálculo são cobertos pelas armaduras mínimas e pela adoção de armaduras simétricas
nas paredes.

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4. EXEMPLO DE CÁLCULO DE RESERVATÓRIO DE CONCRETO ARMADO

Dados: Concreto: f ck  20 MPa ; Aço: CA-50; Cobrimento das armaduras: 2cm.

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a) Cálculo da laje da tampa

As cargas atuantes na laje são:

Peso próprio: 0,10  25 = 2,50 kN/m²


Revestimento: 1,00 kN/m² (valor adotado)  Total: 2,50 + 1,00 + 0,50 = 4,0 kN/m²
Sobrecarga: 0,50 kN/m² (NBR 6120:1980)

Os momentos atuantes na laje ficam:

y 4,90
λ   1,75  Laje tipo 1 (tabela 2.3a do anexo)  μ x  8,95 ; μ y  3,53
x 2,80
p   2x 4  2,80 2
Mx  μ x   8,95   2,81kN  m/m
100 100
p   2x 4  2,80 2
My  μy   3,53   1,11kN  m/m
100 100

As armaduras ficam:

– Armadura na direção x

Md 1,4  2,81
KMD    0,0430
b w d  fcd 1,0  0,08 2  20000
2

1,4
 KX  0,0758
 KZ  0,9697

KMD  0,05  Tabela  
εc  0,8205 00
0

εs  10 0 00
Md 1,4  2,81
Asx    1,17 cm2 / m
KZ  d  f yd 0,9697  0,08  50
1,15

– Armadura na direção y

Md 1,4 1,11
KMD    0,0170
b w d  fcd 1,0  0,08 2  20000
2

1,4
 KX  0,0298
 KZ  0,9881

KMD  0,02  Tabela  
εc  0,3068 00
0

εs  10 0 00

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Md 1,4 1,11
Asy    0,45 cm2 / m
KZ  d  f yd 0,9881  0,08 
50
1,15

A armadura mínima é:

As,min  0,15%  bw  h  0,15% 100 10  1,50 cm2 / m . Assim, deve-se usar a armadura
mínima nas duas direções da laje.

Adotando  = 6,3mm, o espaçamento entre barras fica:

A1barra 0,32cm2
t   0,21m  t  21cm  Adota-se  = 6,3mm c/20cm.
As 1,50cm2 /m

b) Momentos fletores na laje do fundo

As cargas atuantes na laje são:

Peso próprio: 0,15  25 = 3,75 kN/m²


Revestimento: 1,00 kN/m² (valor adotado)  Total: 3,75 + 1,00 + 22,50 = 27,25 kN/m²
Peso da água: 2,25  10 = 22,50 kN/m²

Os momentos atuantes na laje ficam:

y 4,90 μ x  3,88 ; μ'x  8,05


λ   1,75  Laje tipo 6 (tabela 2.3c do anexo) 
x 2,80 μ y  1,17 ; μ'y  5,72
p   2x 27,25  2,80 2
Mx  μ x   3,88   8,29kN  m/m
100 100
p   2x 27,25  2,80 2
X x  μ'x   8,05   17,20kN  m/m
100 100
p   2x 27,25  2,80 2
My  μ y   1,17   2,50kN  m/m
100 100
p   2x 27,25  2,80 2
X y  μ'y   5,72   12,22kN  m/m
100 100

c) Momentos fletores nas paredes

A carga atuante nas paredes do reservatório refere-se à pressão causada pela água (é uma
carga distribuída triangular):

Pressão no fundo: 2,25  10 = 22,50 kN/m²

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– Parede 1 = Parede 2

Os momentos atuantes na laje ficam:

 a 2,375 μ x  1,45 ; μ'x  4,47


λ   0,85  Laje tipo 16 (tabela 2.4b do anexo) 
b 2,80 μ y  1,24 ; μ'y  3,17
p  2 22,50  2,375 2
Mx  μ x   1,45   1,84kN  m/m
100 100
p  2 22,50  2,375 2
X x  μ'x   4,47   5,67 kN  m/m
100 100
p  2 22,50  2,375 2
My  μ y   1,24   1,57kN  m/m
100 100
p   2x 22,50  2,375 2
X y  μ'y   3,17   4,02 kN  m/m
100 100

– Parede 3 = Parede 4

Os momentos atuantes na laje ficam:

 a 2,375 μ x  2,59 ; μ'x  6,14


λ   0,50  Laje tipo 16 (tabela 2.4b do anexo) 
b 4,90 μ y  0,96 ; μ'y  3,60
p  2 22,50  2,375 2
Mx  μ x   2,59   3,29 kN  m/m
100 100
p  2 22,50  2,375 2
X x  μ'x   6,14   7,79 kN  m/m
100 100
p  2 22,50  2,375 2
My  μ y   0,96   1,22kN  m/m
100 100
p   2x 22,50  2,375 2
X y  μ'y   3,60   4,57 kN  m/m
100 100

d) Correção dos momentos fletores negativos na laje do fundo e nas paredes

– Na ligação parede- parede


4,02  4,57
Mfinal   4,30 kN  m/m
2

– Na ligação fundo-parede 1 e fundo-parede 2


12,22  5,67
  8,95kN  m/m
M final  2  Mfinal  9,78kN  m/m

0,8 12,22  9,78kN  m/m

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– Na ligação fundo-parede 3 e fundo-parede 4

17,20  7,79
  12,50 kN  m/m
M final  2  Mfinal  13,76 kN  m/m

0,8 17 ,20  13,76 kN  m/m

e) Cálculo das armaduras da laje do fundo

As armaduras ficam:

– Armadura positiva na direção x

Md 1,4  8,29
KMD    0,0480
b w d 2  fcd 1,0  0,132  20000
1,4
 KX  0,0758
 KZ  0,9697

KMD  0,05  Tabela  
εc  0,8205 00
0

εs  10 0 00
Md 1,4  8,29
Asx    2,12 cm2 / m
KZ  d  f yd 0,9697  0,13  50
1,15

A armadura mínima é:

As,min  0,15%  bw  h  0,15% 100 15  2,25 cm2 / m . Assim, deve-se usar a armadura
mínima.

Adotando  = 6,3mm, o espaçamento entre barras fica:

A1barra 0,32cm2
t   0,142 m  t  14,2cm  Adota-se  = 6,3mm c/14cm.
As 2,25cm2 /m

– Armadura positiva na direção y

O momento positivo nesta direção é 2,50kN  m/m , menor que o momento positivo na
direção x. Assim, deve-se usar armadura mínima nesta direção da laje. A exemplo do que foi
feito para a outra direção, adota-se  = 6,3mm c/14cm.

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– Armadura negativa na direção x

Md 1,4 13,76
KMD    0,08
b w d  fcd 1,0  0,132  20000
2

1,4
 KX  0,1238
 KZ  0,9505

KMD  0,08  Tabela  
εc  1,4126 00
0

εs  10 0 00
Md 1,4 13,76
Asx    3,59 cm2 / m > As,min  2,25 cm2 / m
KZ  d  f yd 0,9505  0,13  50
1,15
Adotando  = 8,0mm, o espaçamento entre barras fica:
A1barra 0,50cm2
t   0,14 m  t  14cm  Adota-se  = 8,0mm c/14cm.
As 3,59cm2 /m

– Armadura negativa na direção y

Md 1,4  9,78
KMD    0,057
b w d 2  fcd 1,0  0,132  20000
1,4
 KX  0,0916
 KZ  0,9634

KMD  0,06  Tabela  
εc  1,0083 00
0

εs  10 0 00
Md 1,4  9,78
Asx    2,52 cm2 / m > As,min  2,25 cm2 / m
KZ  d  f yd 0,9634  0,13  50
1,15
Adotando  = 6,3mm, o espaçamento entre barras fica:
A1barra 0,32cm2
t   0,127 m  t  12,7cm  Adota-se  = 6,3mm c/12cm.
As 2,52cm2 /m

f) Cálculo das armaduras das paredes

As armaduras de ligação das paredes com a laje do fundo já foram calculadas, resultando:
-  = 8,0mm c/14cm para ligação das paredes 3 e 4 com a laje do fundo
-  = 6,3mm c/12cm para ligação das paredes 1 e 2 com a laje do fundo

Para as demais armaduras, analisando os valores dos momentos fletores atuantes,


verifica-se que de-se usar o valor mínimo. Assim, adota-se  = 6,3mm c/14cm .

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118:2003. Projeto de


Estruturas de Concreto – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6120:1980. Cargas para o


Cálculo de Estruturas de Edificações. Rio de Janeiro: ABNT, 1980.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5626:1998. Instalação Predial


de Água Fria. Rio de Janeiro: ABNT, 1998.

PINHEIRO, L. M. Concreto Armado: Tabelas e Ábacos. São Carlos: EESC, 1993.

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