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Hölderlin
É errada a visão que considera inexistir nos pré-socráticos uma reflexão sobre o ser
humano.Entretanto, a maior dificuldade para a reconstrução dessa visão que eles possuíam
do homem repousa na escassez de fontes. Poucos escritos dos pré-socráticos chegaram até
nós. Sabe-se, por exemplo, que Demócrito , o atomista, teria escrito bem mais que
Platão!Todavia, apenas fragmentos nos chegaram.
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Texto elaborado pelo Profº.
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A filosofia, sustentam Deleuze e Guattari, nasceu um pouco mais tarde.A filosofia
surgiu após já ter nascido o filósofo. Enquanto este apareceu às margens da Grécia, a filosofia
é fruto genuíno de Atenas, o coração do Ocidente. Para a filosofia emergir, foi preciso que o
filósofo perdesse essa aura poética e mística,foi necessário que ele deixasse de ser um
sábio:foi preciso que ele desse as costas para o Oriente místico.
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homens, nascendo assim questões pedagógicas e políticas, a condição de “amante” o liga ao
divino que imortaliza sua alma, fazendo-a conhecer e viver a união amorosa com o Celeste.
- Principais pré-socráticos
Os primeiros pré-socráticos estão ainda muito próximos da poesia. Há neles uma visão
do caráter divino da natureza. Em grego, natureza é “physis”, palavra esta cujo sentido se
reporta ao processo de “nascer” ou “brotar”. Mais do que se pautarem pela abstração dos
conceitos, eles ainda se apóiam em imagens, apesar de já se fazer presente a exigência de
racionalização comandada pelo Logos.
Tales de Mileto dizia que “tudo é água”. A água seria a arqué da qual tudo nasceu.
Como ele chegou a essa posição?Após a chuva, ele percebia que a natureza se renovava ou
renascia. Quando estão saudáveis, os olhos estão sempre umedecidos. Do mar vêm vários
seres vivos. A placenta, que é o primeiro berço de todo ser vivo, é um reservatório de água. As
fontes trazem vida aos desertos. Assim, onde está a água se encontra a vida. Por outro lado,
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Tales constatou que tudo o que morre e definha vai perdendo água e secando. A terra sem
umidade se torna estéril. Enfim, Tales intuiu que a água é o princípio da vida. Então, existe a
água visível em suas mais variadas formas. Mas existe ainda a água enquanto arqué ou causa
de tudo o que existe. Esta água universal não tem um aspecto particular, e só o logos intuitivo
a pode apreender. Ela não é doce ou salgada: ela é simplesmente água, a pura água que
apenas o pensamento pode intuir e conceber.
Heráclito, por sua vez, afirma que o fogo é a arqué ou o Um do qual tudo é feito. Este
Um, no entanto, reúne nele o múltiplo, de tal modo que este Um é idêntico ao movimento, ao
devir. O fogo nunca fica imóvel, e é por isso que ele também é a imagem do tempo. E é isso
que diz o célebre fragmento de Heráclito: “Nós não podemos entrar duas vezes no mesmo
rio”. Quando saímos do rio e retornarmos para entrar nele, suas águas já passaram, assim
como nós mesmos já somos “outro”. Muda o rio e mudamos nós.Nada é, tudo devém,pensava
Heráclito. “Devir” significa: “vir de novo”. Cada “momento” do devir é uma repetição, um re-
venir. Cada momento do devir é uma repetição dele mesmo, que sempre se repete diferente,
pois nunca ele é o mesmo, assim como as águas do rio do tempo.Segundo dirá Platão,
ninguém mais que Heráclito compreendeu tão perfeitamente o mundo sensível, que sempre é
regido pela mudança. Hegel, Nietzsche, Bérgson e Deleuze foram muito influenciados por essa
intuição heraclítica do devir.
Mas por que as coisas mudam? Heráclito dirá: “não existe um porquê”( Aristóteles ,
por sua vez, responderá a Heráclito afirmando que as coisas mudam para realizar um fim: a
forma). Heráclito dizia que há no devir uma “inocência” pela qual o devir constrói e destrói, tal
como crianças que brincam de construir e destruir castelos de areia. Não raro, Heráclito era
visto observando crianças brincando e jogando. E a muitos ele dizia que aprendia mais com
elas do que com os doutos. Para muitos, um obscuro. Para outros, o primeiro dos pensadores
trágicos. Com Heráclito teria nascido o primeiro pensamento da imanência. “Imanência”
provém de “i-manare”. “Manancial” se origina de manare. Manancial é a mesma coisa que
“fluxo”. Assim, imanência é, literalmente, o que existe interior ao fluxo, ao devir, ao tempo.
Por oposição, temos o vocábulo “transcendência”. “Transcendência” é: “ir para além dos
entes” ( no núcleo da palavra transcendência existe o termo “ens”, “ente”).
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se combinam para gerar tudo o que existe, uma vez que tudo o que existe seria a união da
água, da terra, do fogo e do ar. O ódio, por sua vez, é o princípio que dissolve o ser organizado
e faz as quatro raízes voltarem a existir separadas. O ódio faz as raízes existirem sós.O ódio é
a solidão.O ódio não destrói as quatro raízes, ele apenas desfaz os seres que nascem de sua
união e composição. Além de realidades meramente físicas, Empédocles introduz Afetos
(Amor e Ódio) na gênese do mundo. Estes afetos não estariam apenas no homem, eles não
seriam tão somente subjetivos. Tais afetos seriam também cósmicos e presidiriam, ao mesmo
tempo, a vida dos homens e a vida do universo.
Por fim, existiu Parmênides.Para este filósofo , a arqué não é mais nada físico,
tampouco a combinação de coisas físicas.A arqué também não é, para ele, algo que se
assemelhe a afetos humanos. A arqué, porém, também não seria o infinito, o que carece de
fins. Para Parmênides, a arqué, a causa de tudo, seria o Ser. E o que é o Ser?A resposta de
Parmênides é seca,lacônica, e já anuncia,firmemente, o princípio fundante da lógica: o Ser é o
Ser. O Ser é idêntico a ele mesmo. O Ser não devém. Quando a água devém nuvem, ela deixa
de ser água para se transformar em outra coisa. Como pode algo deixar de ser?Aceitar o devir
é aceitar um paradoxo:afirmar que o não ser é.Assim, pensava Parmênides, o Ser não se move,
ele não muda: ele simplesmente É. Os sentidos nos enganam: eles não nos mostram o Ser, eles
nos mostram apenas as aparências. Desse modo, existiriam dois caminhos: o da Verdade,
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caminho este que apenas a alma pode trilhar, e o da opinião,que é o caminho no qual reinam
as aparências e ilusões nascidas de vivermos apenas a vida do corpo. O caminho da Verdade é
o do Ser,ao passo que o da opinião é o caminho da mera aparência, isto é, do não ser. Com
Parmênides são esboçadas as primeiras exigências de um pensamento lógico, que
posteriormente será desenvolvido por Aristóteles;em Parmênides também se dá início à
célebre distinção entre Essência e aparência, tema este que merecerá especial atenção de
Platão, e que marcará, até hoje, o vocabulário da filosofia.
- O nascimento da pólis
A arte pode ser também um espelho que reflete não apenas a personalidade daquele
que a criou. Ela também pode ir mais além, e expressar a sociedade e a época em que ela foi
produzida. Daí a função pedagógica da arte,a sua “Paidéia”2,que ensina não apenas sobre a
sua especificidade enquanto obra de arte, como também sobre o mundo do qual ela foi uma
expressão.
O centro da pólis era designado como “ágora”. Esta era a praça pública. “Ágora”
procede de “agon” , que significa “disputa”. A ágora era um local onde se travavam disputas. O
instrumento de tais disputas não eram lanças ou espadas, mas a palavra. A palavra dialogada
era a base do exercício do poder na democracia nascente. Havia uma condição para que se
pudesse usar tal instrumento: que o homem que a empregasse fosse livre e proprietário. Em
grego,”propriedade” procede de “oikonomia” ( “oikos” é “casa), de onde nasce economia.
Desse modo, emergem a política e a economia como espaços que deveriam ser, no entanto,
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Para saber mais sobre o assunto: WERNER, Jaerger. Paidéia: a formação do Homem Grego. São Paulo:
Martins Fontes,2001.
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A esse respeito: VERNANT, Jean-Pierre. “O universo espiritual da pólis”, As origens do pensamento
Grego.Rio de Janeiro: Difel, 2002.
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mantidos separadamente: o politikos não deveria buscar o poder político para obter
favorecimentos em sua esfera privada e econômica. A palavra dita em praça pública, e da qual
nasciam as leis, deveria ser expressão de sua vontade em agir pelo bem comum.Tal palavra
não poderia ser mero instrumento de interesses econômicos particulares. A palavra também
não poderia ser veículo da passionalidade,uma vez que a palavra deveria servir à razão. Uma
razão política, nascida do esforço para domar a contingência.
Mas quando surgiu exatamente este homo politikus?Este homem difere daquele que
viveu à época mitológica. O homem do período mitológico viveu em um período no qual
imperavam reis e triunfavam guerreiros , enquanto muitos viviam a condição de escravos,
submetendo-se àqueles. Inexistia o homem livre, tal como o concebemos. Isto porque não
havia ainda, àquela época, a democracia. O centro da vida de então era o castelo onde morava
o déspota, e não a praça pública do povo.Além disso, não havia ainda uma clara delimitação , e
separação, entre o universo humano e o dos deuses.Mesmo o guerreiro justificava suas ações
pela influência de alguma divindade.
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Em termos estritos, a doutrina das faculdades humanas somente pôde estabelecer-se quando a
filosofia se debruçou sobre o Sujeito, fato este que caracteriza a Filosofia Moderna. No entanto, em
termo lato , amplo, já existe desde os gregos , ainda que em esboço, uma tematização de que o homem
é dotado de determinadas atividades, que posteriormente serão conhecidas como “faculdades”. O
principal texto a esse respeito é: VERNANT, Jean-Pierre. “Esboços da vontade na tragédia grega”. In:
Mito e tragédia na Grécia antiga. Tradução Anna Lia A. de Almeida Prado, Filomena Yoshie Hirata
Garcia e Maria da Conceição M. Cavalcanti. São Paulo: Perspectiva, 1999.
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- Os sofistas: o homem como o metron de todas as coisas
-Sócrates
Ao surgir, Sócrates teria sido confundido como mais um sofista. Inclusive, alguns
inimigos de Sócrates, que são os mesmos inimigos da democracia, fizeram de tudo para
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manterem essa confusão até o fim , para assim tirarem proveito e condená-lo à morte,como
de fato o fizeram.Mas os que se acercavam com sinceridade de Sócrates, e o ouviam falar e
questionar, estes de imediato percebiam, não sem admirado espanto, que o grande dom da
palavra que Sócrates possuía servia a outros fins, embora o próprio Sócrates dissesse que
“apenas sabia que nada sabia”.
Entre aqueles que dele se aproximaram, havia um jovem que até então admirava os
sofistas e pensava em seguir a carreira de autor de teatro. Esse jovem ainda se chamava
Aristocles, mas passará à história com outro nome:Platão. Sob o impacto do contato com
Sócrates, o jovem Platão rasga seus poemas e decide se dedicar exclusivamente à filosofia
(embora, até onde se sabe, nunca o velho Sócrates teria exigido que o jovem discípulo
rasgasse poemas...).
Ao conhecer Sócrates, o jovem Platão descobre seu caminho. Entre as muitas lições
que ouviu de Sócrates, e que depois reproduzirá ( nem sempre fielmente...) em seus célebres
Diálogos, uma delas merece destaque, pois essa lição também a aprenderá Aristóteles, e esta
lição muito o influenciou na invenção da Lógica Dialética. A referida lição é a seguinte: “Para
lutarmos contra a palavra mentirosa só temos uma arma: a palavra verdadeira”. A mera força
bruta pode fazer calar a palavra mentirosa, mas não extirpa sua raiz da alma. Apenas a palavra
que traz a verdade pode derrotar a palavra mentirosa . E a palavra verdadeira deve vencer a
mentira à luz do dia, uma vez que a palavra mentirosa teme a luz. Ela vive da ardilosidade, da
intriga e da dissimulação, uma vez que a movem interesses que vivem à sombra da
razão.Assim, aquele que defende a verdade deve saber usar a palavra, pois aqueles que
defendem a mentira só sabem usar a palavra, uma vez que carecem de ideias e virtudes. São
as ideias e as virtudes que dão força à palavra que traz a verdade.Ou seja, o que torna as
palavras verdadeiras vivamente poderosas é que elas não são apenas palavras ( flatus vocis).
Um fato marcante acerca de Sócrates é que ele dizia ouvir “uma voz interior”. Nele
existiam ouvidos para ouvir essa voz que não era humana. Tomando de empréstimo uma
expressão que já fazia parte da cultura grega, mas dando a ela outros fins, Sócrates chamava
essa voz interior como sendo a voz de um Daimon. Contextualizando esse termo com outro de
nós mais próximo, a voz do Daimon seria a “voz da consciência”, a “voz da interioridade”.
Sócrates ouvia essa voz e a fazia de autoridade: era ela que pautava a sua conduta,e não os
valores ( ou a falta deles...) dominantes. Essa interioridade que Sócrates descobre não era uma
interioridade meramente psicológica. De forma mais profunda, ela era uma interioridade que
o ligava ao Bem. É pelo interior que se alcança, alçando-se, o Bem.
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Sócrates evocava a duplicidade de sentidos presente no termo “soma”. De “soma”
nasce “somático”. “Soma” significa “corpo”.Mas “soma” também significa, em grego,
“túmulo”. Sócrates explorava essa duplicidade do termo soma para indicar que o corpo era o
túmulo da alma: quanto mais a alma vive apenas a vida do corpo, mais ela está como que
“morta”, morta em vida, morta para a vida do pensamento e para todos os frutos que ele pode
conceber, como o fruto das virtudes; ao contrário, quanto mais a alma busca a vida que é dela
própria,mais ela se percebe eterna e ao Bem busca se unir.
Referências:
Filme sugerido:
Sócrates, de Rossellini.
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