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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA VARA

CRIMINAL DE CATANDUVAS - ESTADO DO PARANÁ.

Processo n° 0002644-35.2016.8.16.0065

ELIZABETE DOMINGUES DA ROCHA, já qualificada nos autos


da ação em epígrafe, por meio de seu procurador nomeado (mov. 95.1), endereço eletrônico
silveiraecomiran@outlook.com.br, vêm, respeitosamente, perante Vossa Excelência, com
fundamento no artigo 396, 396-A e seguintes do Código de Processo Penal apresentar sua

RESPOSTA À ACUSAÇÃO

nos termos que passa, a expor, provar e ao final, requerer o que é de


Direito e Justiça.

DOS FATOS

A acusada era convivente com a vítima, JOSÉ ANTONIO DOS


SANTOS, Manoel Silva. Porém era constantemente agredida, física e moralmente, pelo marido
que costuma chegar em casa embriagado. No dia fato especificamente, a situação de
embriaguez xingamentos, e demais importunações (algumas inclusive de ordem sexual), já se
estendia por 3 ou 4 dias.
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A afirmação, da também vítima, ora acusada, são corroboradas pelo
depoimento da testemunha MARIA CALIDIR BUENO, vizinha dos envolvidos e que conhecia
a conduta do de JOSÉ ANTONIO, disse ela:

“[...] a vítima era boa pessoa quando não estava embriagada, mas
quando se embriagava era muito impertinente.”

Aduz-se dos autos que no dia do fato, diferentemente das outras vezes
que suportou as atitudes violentas, a ré se cansa das permanentes agressões e resolve procurar a
Delegacia da Mulher para narrar o que estava a ocorrer e pediu proteção.

Ao ter a negativa de relação sexual com a acusada, inconformada, a


vítima tentou estuprá-la, conforme se denota do depoimento da mesma, bem como a
investigação preliminar, assim descrito (mov. 21.5):

“ A declarante estava preparando o almoço, pois ainda não tinham


almoçado; QUE: ele veio SÓ DE CUECA E QUERIA “BICA”; que a
interrogada se recusou, pois ele estava embriagado, que ele empurrou
para cima do fogão, que a interrogada inda foi para o quarto, mas ele
veio atrás e impediu que fechasse a porta, que ele a empurrou e a
interrogada caiu e o mesmo veio com tudo para cima dela, que ele
tentou estupra-la, que a interrogada se livrou e foi porá a cozinha.
Momento em que ele lhe desferiu um golpe na cabeça, que a declarante
não viu com o que ele lhe bateu, que voltou para a cozinha e pegou a
faca, de novo ele veio para cima e a interrogada com o braço para
lhe desferir um tapa, que a interrogada foi agredida com um pedaço de
pau, momento em que caiu; que de novo ele veio para cima e
então ela deferiu a primeira facada”

“... que estava convivendo com a vítima a mais ou menos um ano e


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constantemente era agredida, mas sempre relevava”

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Ora excelência, o que não é isso se não um típico e perfeito exemplo de
excludente de ilicitude difundido nas primeiras aulas de direito penal?

A acusada, a qual insisto: verdadeira vítima, por diversas vezes tentou


evadir-se das agressões e da tentativa de estupro, e acabou se utilizando dos recursos que
dispunha no momento para evitar a injusta agressão.

É verdade que seu interrogatório encontra perfeita consonância com os


fatos, inclusive no que tange as agressões por ela sofrida segundo apurou a investigação
(relatório final mov. 21.27, f. 4), não havendo razão ou caminho diferente que não seja aduzir
pela incidência do artigo 23, II, do Código Penal. Contudo equivoca-se a autoridade policial em
achar que houve excesso, pois o próprio laudo cadavérico (mov. 88.1) aponta que houve apenas
2 (dois) golpes de faca relevantes de interesse médico.

Ademais cumpre ressaltar que o indivíduo percorreu quase mil metros


andando, o que não seria possível casa a acusada tivesse esgotado todos os meios de execução.
Ressalta-se; a acusada apenas usou os meios que dispunha para se livrar da injusta agressão!

Todo os eventos de violência foram assistidos pelos vizinhos, que


também sabiam do comportamento agressivo da vítima.

A acusada foi presa em flagrante delito e apresentou a versão em sede


policial, que também tomou depoimento dos três vizinhos, todos confirmando a fala da ré.

O Promotor de Justiça, entretanto, ofereceu denúncia por prática de


homicídio qualificado (art. 121, § 2°, inciso IV do CP), ou seja, qualificado por ser cometido;
“à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossivel
a defesa do ofendido”.

Isso mesmo após estar claro que a acusada tentou por diversas vezes
fugir das investidas da vítima. Vale frisar Excelência: nenhum ser humano merece ser
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violentado, seja homem, seja mulher, mas não há como não reconhecer a constante incidência

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desse crime bárbaro com as mulheres, elevada ainda a gravidade pela idade da mesma, motivo
pelo qual a denúncia não merece prosperar!

DO DIREITO

Preliminarmente

A respeitável denúncia não merece prosperar, pois a ré agiu em legítima


defesa, onde não se poderia esperar comportamento diverso, causa esta excludente de
antijuricidade, conforme prescreve os artigos 23, II, e 25, do Código Penal.

“Art. 23. Não há crime quando o agente pratica o fato:

(...) II. Em legítima defesa

(...)”

“Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando


moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual
ou iminente, a direito seu ou de outrem.”

No caso em tela, a acusada já havia sofrido violência por diversas vezes,


contudo sempre relevou.

Porém, a vítima não se conformou, e ao não ter sua lascívia


correspondida e não pensou duas vezes e partiu para cima da ré com a intenção de estupra-la,
inclusive todos na vizinhança já conhecem e sabem da personalidade agressiva da vítima.

Portanto pode-se notar Excelência que a ré não pode ser culpada de uma
conduta que teve como único propósito repelir o ataque da vítima, algo que, como já dito,
amolda-se perfeitamente ao instituto da legitima defesa.
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Alias, vale lembrar aqui as lições de Claus Roxin, que estrutura tal
instituto em dois princípios: o princípio da proteção individual referido ao direito de proteção
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de seus próprios interesses; e o princípio da prevalência do direito (sic), posto ser desejável
que o direito se afirme em face de agressões contra interesses individuais. É que as justificações
são permissões para que o sujeito afirme seu próprio direito, afirma Paulo César Busato citando
Roxin.1

Estando portanto plenamente justificada a conduta da acusada não há


outra razão para desde logo não reconhecer a absolvição sumária prevista no art. 397, I do
Código de Processo Penal, uma vez que o caso encontrou perfeita consonância com a
excludente de ilicitude; qual seja; agressão foi injusta, a reação dentro dos limites pré-
estabelecidos de autorização e a situação era de extrema urgência que justificou a atitude.
Sendo assim, impõem-se a absolvição sumária da acusada.

DOS PEDIDOS

Requer que seja aplicado o art. 386, VI do Código de Processo


Penal que prevê que o juiz absolverá o réu desde que conheça a existência de circunstancias que
excluam o crime ou isentem o réu da pena (inciso VI) e consequentemente a aplicação do
art. 397, I, CPP.

Não sendo esse o entendimento, requer que seja feita a oitiva das
mesmas testemunhas arroladas pela acusação, bem como que seja arrolado o investigador
responsável pela investigação (rol em anexo).

Nestes Termos,
Pede Deferimento.
Cascavel/PR, 01 de novembro de 2018.

ALISSON SILVEIRA DA LUZ


OAB/PR 89.669
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1
BUSATO, Paulo César. Direito Penal: parte geral: volume 1/ 4 ed., ver. Atual. e ampl.- São Paulo: Atlas, 2018, p.
462.
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ROL DE TESTEMUNHAS
- FABRICÍO SOARES MONTE BRANCO, investigador de polícia lotado na delegacia de
Catanduvas-PR.

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